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Relato de Caso: Depressão Prof. Paula Cordeiro Nome da paciente: Lu* Informação de identificação: Lu está com 25 anos, sexo feminino, possui nível superior incompleto, dois irmãos do sexo masculino, é órfã de seu pai e mora com tias e primos. Queixa atual: Reclamações de depressão, ansiedade, retração social, agressividade, apatia geral. Teve pelo menos uma crise de pânico desde o início do tratamento. História: Segunda filha de três que seus pais tiveram, sendo os outros dois do sexo masculino (24, 25 e 26 anos). Não tem um bom ciclo social. Apresenta baixo nível de assertividade, alta agressividade e baixa tolerância a frustrações. Pouca persistência na emissão de seus comportamentos quando quer conseguir algum objetivo. Não estuda no momento. Relata ter abandonado a faculdade de Administração. Gostaria de ter um emprego, mas apresenta poucos “comportamentos de iniciativa” para consegui-lo. A paciente está fazendo exames cardiovasculares para se certificar de que o que foi inicialmente diagnosticado como uma crise de pânico não teve causas orgânicas. História prévia de depressão maior. Relacionamentos: Pai faleceu há 12 anos. Ele realizava todas as suas vontades. Culpa a mãe pela morte do pai (que começou a beber depois da separação) forma de manipulação. Escolheu morar com as tias por não se dar bem com a mãe. Relata que as tias tinham preferência pelos primos (filhos delas). Relata ter alguns momentos de respostas agressivas. Quando são direcionadas a mãe, recebe o que deseja (Reforçamento positivo e/ou negativo). Essa relação não é constante com outras pessoas. A mãe não vem mais reforçando o comportamento agressivo de Lu Raiva da mãe. Possibilidade da mãe não ser sua mãe. Hipótese levantada por uma tia. Último relacionamento durou 2 anos (terminou há 6 meses). Não sabe o que aconteceu “ele perdeu o interesse”. Desconfia de uma traição Raiva do ex. Seu ex companheiro parecia ser sua única fonte de reforçadores, por isso queria ficar com ele o dia todo ele tinha uma vida profissional e social bem ativa. Seu primeiro relacionamento foi semelhante (ele passava menos tempo com ela do que ela gostaria) terminou quando descobriu uma traição. Hoje passa muito tempo com um primo por quem tem muito afeto. Ele lhe incentiva a fazer os tratamentos e dedica muito tempo a ela. Eventos significativos e traumas A separação dos pais; Morte do pai. - Afirma ter sido criada sob um regime “machista”, sobretudo por parte de sua mãe, dando mais direitos a seus irmãos (ambos do sexo masculino); - A traição do ex-namorado (há cerca de 5 anos) que teve um filho com outra mulher enquanto mantinham relacionamento, que resultou no fim do mesmo; O afastamento do seu último namorado sem lhe dizer nenhum porquê incomoda (revolta) a paciente até o presente momento. Para discutir o caso: A cliente não sofre de depressão no sentido de que o que se passa com ela vem sendo causado pela depressão. A cliente sofre de contingências ineptas, incapacitantes e adversas atuais, bem como daquelas de sua história de vida, isto é, da história de contingências a que foi exposta durante seu desenvolvimento. Foram elas que deram origem às funções dos eventoscomportamento e dos eventos-ambiente, as quais se mantêm até hoje. O tratamento, portanto, não deve se basear (embora possa incluir) no uso de remédios. A história de contingências da cliente deve ser cuidadosamente vasculhada Discussão: A primeira imagem que me ocorre ao ler o relato é a da história da Gata Borralheira. No caso da cliente a história adquire características próprias. Assim: 1. A nossa Gata Borralheira tem duas madrastas: a própria mãe – que ela considera como madrasta; a tia - que ela escolhe como madrasta 2. Ela está em busca de uma fada madrinha que a transforme, sem nenhum esforço dela, em princesa. Princesa neste caso simboliza aquela que tem tudo: poder, riqueza, status, admiração, amor (do príncipe) pelo que ela é; não pelo que ela faz Fada madrinha 1: O pai. Será que ele realmente era assim, ou ela repetiu tanto algo que ouviu que se tornou realidade? Ela não tem repertório comportamental para produzir reforçadores positivos não tem autoconfiança. Não foi seu comportamento que produziu seus reforçadores, e sim seu pai. É possível que ela tenha sido modelada para emitir comportamentos que tem reforçadores mediados por outras pessoas (o pai, por exemplo) dependência do outro. Assim, aprendeu que reforçadores vem do outro (fada madrinha) e não de seus próprios comportamentos. sabe que sua mãe não é fada madrinha. A mãe a coloca sob extinção ou punição. tenta fazer, sem sucesso, com que a tia seja a fada madrinha. tenta fazer, sem sucesso, com que os remédios sejam a fada madrinha. Tenta fazer com que um primo seja a fada madrinha. Tem conseguido, mas ela apenas repete a relação com o pai. Deve ser interrompida pelas razões apontadas. Tenta fazer com que o terapeuta seja a fada madrinha. Ele pode ser, num sentido bem especial. O condão mágico, que transforma abóboras em carruagem; e que a coloca em contato com bailes, palácio e príncipe (símbolos de reforços positivos) o terapeuta tem. O que o terapeuta deve fazer? Ensinar as leis do comportamento e a instrumentar com procedimentos que animam, dão vida e existência concreta para tais leis. A solução mágica se resume na frase Comportar-se é preciso nos dois sentidos: exato e necessário. Ensiná-la a ser sua própria fada madrinha!
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