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Trabalho - Responsabilidade Civil de Hospitais Psquiátricos

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5º Relatório: Responsabilidade Civil: Hospital Psiquiátrico Pedro II - RJ (Programa Via Legal CJF)
	O caso narrado retrata uma situação de responsabilidade objetiva do Estado, posto que o homicídio ocorreu em um hospital psiquiátrico e em razão de uma conduta omissiva do Estado, o qual faltou com o seu dever de vigilância e de preservação da incolumidade física dos pacientes internados. Não se verifica, in casu, excludentes do nexo de causalidade, pelas razões seguintes.
	A responsabilidade objetiva implica na responsabilização civil do agente pela relação de causalidade entre a sua conduta e o fato danoso, independentemente de ter agido ou não com culpa (lato sensu). No caso da Administração Pública, a aplicação dessa teoria tem como objetivo a divisão equânime do ônus da atividade administrativa entre a sociedade, a fim de evitar que apenas alguns particulares acabem arcando com as consequências das falhas de uma atividade exercida em prol da coletividade.
	Neste sentido posiciona-se o ilustre administrativista Celso A. B. de Mello�:
o fundamento da responsabilidade estatal é garantir uma equânime repartição dos ônus provenientes de atos ou efeitos lesivos, evitando que alguns suportem prejuízos ocorridos por ocasião ou por causa de atividades desempenhadas no interesse de todos. De consequente, seu fundamento é o princípio da igualdade, noção básica do Estado de Direito.
	O ordenamento jurídico brasileiro vem acolhendo expressamente a teoria da responsabilidade objetiva da Administração Pública desde o começo do século XX (Decreto 2681/1912), e, atualmente, ela encontra-se disciplinada no §6º do art. 37 da Constituição de 1988: “As pessoas jurídicas de Direito Público e as de Direito Privado prestadores de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa”.
	Deve-se ressaltar que, embora dispense a prova da culpa da Administração, a responsabilidade objetiva do Estado não prescinde da existência de um nexo causal entre o ato (comissivo ou omissivo) e o dano causado a um particular. Neste sentido, sempre que se restar comprovada a exclusão do nexo causal, deverá ser afastada a responsabilidade estatal.
	Aponta-se como causas de exclusão do nexo de causalidade da atividade administrativa o fato exclusivo da vítima, o caso fortuito, a força maior e o fato exclusivo de terceiro.
	Voltando ao caso em análise, é de se reconhecer a existência do nexo de causalidade entre a situação de risco criada pela Administração e o evento danoso. Não há que se falar em culpa exclusiva da vítima, pois esta encontrava-se sob os cuidados do Estado, o responsável, portanto, por colocá-la em situação de risco. Tampouco fala-se aqui de força maior, caso fortuito, ou fato exclusivo de terceiro, pois o dano não decorreu de uma força externa da natureza, de um fato impassível de previsão, muito menos da ação exclusiva de um terceiro; mas da conduta de uma paciente sob os cuidados do Estado, e cuja periculosidade era do conhecimento do hospital.
	Verifica-se, portanto, que houve, de fato, falha na prestação do serviço hospitalar prestado à vítima, visto que a Administração Pública tinha pleno conhecimento da periculosidade da paciente que praticou o delito e de sua facilidade de soltar-se das amarras. Deixou, portanto, de tomar todas as precauções necessárias para preservar a integridade física de uma paciente internada sob seus cuidados, faltando, assim, com o seu dever de vigilância e de diligência.
	A responsabilidade objetiva do Estado tem como fundamento a teoria do risco administrativo. Essa teoria pode ser assim formulada:
a Administração Pública gera risco para os administrados, entendendo-se como tal a possibilidade de dano que os membros da comunidade podem sofrer em decorrência da normal ou anormal atividade do Estado. Tendo em vista que essa atividade é exercida em favor de todos, seus ônus devem ser também suportados por todos, e não apenas por alguns. Consequentemente, deve o Estado, que a todos representa, suportar o ônus de sua atividade, independentemente de culpa de seus agentes�.
	No caso narrado, o risco administrativo é evidente. Ao prestar um serviço público de saúde, o Estado deve tomar todas as providências necessárias para que a integridade física dos pacientes seja preservada. Descumprido esse dever de vigilância, cria-se uma situação de risco para o particular, exsurgindo, assim a responsabilidade objetiva da Administração e o dever de indenizar.
	A indenização, por sua vez, destina-se a múltiplas finalidades. Em primeiro lugar, à compensação dos prejuízos causados ao particular, sejam eles morais ou materiais. Mais importante, porém, é o papel ao mesmo tempo educativo e punitivo que ela exerce. Afinal, há um interesse coletivo na melhoria do serviço prestado pela Administração Pública, e, a menos que o Erário sinta o impacto de uma indenização sofrida pela falha no serviço prestado, o Estado não se sentirá coagido a corrigi-lo.
	Daí a razão do valor indenizatório estipulado para o caso narrado. É inócuo o argumento de que o pagamento dessa indenização acarretaria um prejuízo à sociedade, visto que o fundamento da responsabilidade objetiva do Estado é justamente repartir entre a sociedade os ônus decorrentes das falhas ou efeitos lesivos da atividade administrativa, como mencionado anteriormente.
	Por fim, é de se reconhecer que a tese sobre causalidade potencialmente aplicável ao caso concreto é a da causalidade adequada. Segundo esta teoria, a questão da responsabilidade consistiria em um exame da probabilidade, em que, dentre as condutas antecedentes ao dano, há de se destacar aquela de quem tinha as melhores condições de tê-lo evitado. 
	Observa-se, portanto, que a causa adequada não é necessariamente, em termos temporais, a imediatamente anterior ao dano, mas aquela que, de forma direta, produziu-lhe. 
	No caso em análise, o evento danoso não teria ocorrido se o Estado houvesse agido com a necessária diligência. Se tivesse cumprido com seu dever de vigilância, uma paciente de alta periculosidade, que já havia sido internada por homicídio, e que, no mesmo dia do ato delituoso em questão, já havia atentado contra os enfermeiros do hospital, não teria sido colocada em contato com outras pacientes, e, portanto, não teria atacado e assassinado a vítima em questão.
�	BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 18ª ed. São Paulo: Malheiros, 2005. p. 866.
�	CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. 10ª ed. São Paulo: Atlas, 2012. p. 257.

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