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Julgadores, vítimas e instituições de exclusão Os julgadores Julgam: Juízes e jurados Os que acusam e os que defendem Os que opinam Todos trabalham mais com a realidade dos relatos do que com os fatos Julgam a partir de seus filtros sensoriais e cognitivos, impregnados de valores e conceitos, experiências, expectativas e zeitgeist O desafio de julgar O examinar compreende um confrontamento de linguagens e pensamentos entre o que pergunta e o que responde Para o que pergunta, exigem-se conhecimentos sobre técnicas de entrevista: Dominar os procedimentos de entrevistas Estabelecer sintonia emocional com o entrevistado Um não prescinde do outro O desafio de julgar Quando existe sintonia emocional, o entrevistador: Percebe e interpreta sinais de tensão do indivíduo e efeitos que possam ocasionar em seu comportamento Identifica as informações relevantes para entender o percurso histórico dos acontecimentos Ajusta a linguagem, para torna-la compreensível pelo entrevistado Identifica esquemas de pensamento do entrevistado, ajusta o questionamento, elimina ambiguidades Compreende a idade mental do desenvolvimento do indivíduo Sintonia emocional contribui para estabelecer um clima de atenção concentrada entre julgados e julgadores O desafio de julgar Entrevistador deve estar atento a fatores que contribuem para desviar a atenção: Cansaço físico Mecanismos psicológicos de defesa Perda de atenção Atenção seletiva Discriminação de determinados detalhes Esquecimento ou desconsideração de detalhes Pensamentos automáticos Crenças arraigadas Ex: imagem de marginal que a sociedade faz de determinadas vítimas Ex: fanatismo em relação a determinado conceito ou ideia (política, religiosa, sexual, etc) Esquemas de pensamento A influência da emoção Reconhecer e controlar as próprias emoções é essencial O desafio é emocionar-se sem se contaminar pelas emoções próprias e dos participantes A contaminação pela emoção pode impedir o exercício da neutralidade O raciocínio vale para bons e maus sentimentos Deixar-se dominar pela emoção significa comprometer percepção, atenção, pensamento e memória Efeitos do social Os valores sociais exercem forte influência sobre as pessoas Ex: complacência com agressores, especialmente quando a vítima é mulher Ex: duas suspeitas de infanticídio de classes sociais diferentes O grande desafio de quem julga consiste em se abstrair do social Todo julgar é relativo e realiza-se dentro de um contexto Conteúdos intrapsíquicos O profissionalismo, a orientação recebida, a prática, a disposição para atuar com isenção e desprendimento não tornam as pessoas imunes às forças intrapsíquicas Entre os conteúdos conscientes, destacam-se os objetivos pessoais dos indivíduos e as filosofias que abraçam O julgador pode perceber a conduta criminosa de três maneiras: Anormal, em que o conflito e seu contexto perdem relevância (criminologia tradicional) Derivada dos conflitos interpessoais e processos sociais, porém, responsabilizando cada indivíduo por seus comportamentos (criminologia moderna) Derivada da sociedade, cabendo a esta a assunção da responsabilidade pela conduta criminosa, incluindo-se aí a identificação de formas de reinserção do indivíduo no tecido social (criminologia crítica) Conteúdos intrapsíquicos Ao adotar ou pender para uma ou outra filosofia, o julgador estabelece critérios próprios de avaliar os fatos e estabelecer a própria conduta em relação a eles Esse conjunto de conteúdos transfere, para o julgador, o ônus do autoconhecimento, para que ele consiga, continuamente, conhecer a maneira como reage aos estímulos que recebe do meio O testemunho A emoção constitui fator-chave nas percepções das testemunhas Estudos apontam que as pessoas enxergam mais as falhas de comportamento dos inimigos Nos eventos traumáticos, uma fisiologia da percepção distorce a ação dos sentidos: ampliam-se muitos detalhes e ignoram-se outros; a emoção desencadeia mecanismos de defesa Essa situação favorece o surgimento de esquemas de pensamento e pensamentos automáticos sobre os acontecimentos, propiciando distorções; pessoas veem o que acreditam que devem O testemunho Testemunhas levam ao hospital sua bagagem socioemocional, com a qual respondem aos interrogatórios e opinam Entrevistador defronta-se com o desafio de separar os efeitos dos preconceitos, crenças arraigadas, visões distorcidas, para deduzir o que é “real” O testemunho obtido por interrogação é resultado do conflito entre o que o sujeito sabe e o que as perguntas que lhe dirigem tendem a fazer-lhe saber A pergunta pode questionar a respeito de fatos esquecidos, lacunas, que o sujeito procurará, inconscientemente, preencher (confabulação) O testemunho O interrogatório também pode induzir respostas preferenciais; o indivíduo escolhe uma delas por falta de opção ou por identificá-la como a mais adequada Outro aspecto emocional do interrogatório consiste no desenvolvimento de sentimentos de inferioridade no interrogado, provenientes do medo de dar resposta considerada tola Inexatidão de depoimento por tendência afetiva: Identificação emocional da testemunha com a vítima ou com o réu Valores e princípios presentes no julgamento e que se sobrepõem à questão em si (justiça, verdade) Preconceitos originados da condição social, do comportamento, da aparência de uma ou outra parte, capazes de provocar distorções no pensamento (demonstração de riqueza, beleza, cor, sexualidade, etc) Falsas crenças em relação ao que a vítima ou réu praticam (“todo político é ladrão”) O testemunho A inexatidão de depoimentos também acontece por motivos técnicos: deficiências nos sentidos, desconhecimento no assunto (achar que ouviu um grito) São valiosos os depoimentos de especialistas Limitações físicas e fisiológicas de testemunhas são influenciadas pela idade e experiências de vida Crianças e idosos Músico e pintor Conhecimento do funcionamento das funções superiores é sempre de grande utilidade para quem interroga (temporalidade) A vítima – Vitimologia A vítima sofre, com frequência, um severo impacto psicológico que se acrescenta ao dano material ou físico provocado pelo delito Vitimologia é a ciência que estuda a vítima sob os pontos de vista psicológico e social, na busca do diagnóstico e da terapêutica do crime, bem como da proteção individual e geral da vítima Vitimologia Interesses da vitimologia: Prevenção do delito, destacando-se o estudo: Do comportamento do delinquente em relação à vítima Do comportamento da vítima em relação ao delinquente Da influência do comportamento da vítima para a ocorrência do evento criminoso Dos fatores que levam a vítima reagir ou não contra aquele ou aqueles que a vitimizam ou, até mesmo, a acentuar essa relação de desequilíbrio Desenvolvimento metodológico-instrumental Formulação de propostas de criação e reformulação de políticas sociais Desenvolvimento continuado do modelo de justiça penal Tipologia Classificação vitimológica: Vítima completamente inocente Vítima menos culpada que o delinquente Vítima tão culpada quanto o delinquente Vítima mais culpada que o delinquente Vítima unicamente culpada Afinal, vítima por quê? O que leva a vítima a se expor? Investigação de ganhos secundários: recompensas, reais ou imaginárias, às custas de sofrimentos também reais ou imaginários Alinha-se com o conceito de mecanismos psicológicos de defesa de Freud Glorificação do sofrimento/Irmandade na dor Culpas que serão expiadas por meio das ações de imolação Crenças arraigadas Descrença de que algo pode ser feito Emoção do perigo As vítimas eternas Constante litígio pode ser instrumento de manter união Comportamentos condicionados Vítimas eternas encontram, no que as prejudica, a motivação para seguir em frente O conflito faz parte de sua maneira de ser e constitui eficaz mecanismo psicológico de defesa contra outros dramas do psiquismo que, sem eles, se tornariam insuportáveis (torna-se figura) Violência conjugal Permanece encoberta na maior parte dos casos, possivelmente por desconhecimento por um ou ambos os cônjuges de que determinados comportamentos configuram violência conjugal Quando a violência física faz parte do contexto familiar, possivelmente será detectada na escola, no trabalho, locais em que terceiros notam sinais que a denunciam Já a violência psicológica dificilmente será percebida por terceiros Ainda que a vítima tenha consciência, é fato corriqueiro que não deixe o lar Violência conjugal A vítima crônica constitui um exemplo de pessoa com baixa autoestima Ganho secundário: manter espécie de controle sobre o agressor, encarado como troféu Ganho secundário se acentua quando o agressor manifesta sentimentos de culpa por seus comportamentos e promove momentos de reconciliação e expiação Em geral o homem é classificado como agressor, mas muitas vezes é vítima, especialmente de violência psicológica Violência conjugal A violência conjugal estritamente psicológica é de difícil identificação porque: Não tem início repentino, dificilmente se inicia por um evento isolado Vai sendo apreendida pouco a pouco pelos participantes, um ou outro pode não se dar conta de que ela acontece Com o passar do tempo, há duplo condicionamento: tanto do dar como do receber a violência psicológica; ritual de sarcasmos, ofensas e desprezo mútuo Não é incomum que os filhos se tornem a munição dessa troca de fogo emocional Violência sexual Violação física e psíquica das mais severas, suas consequências agravam-se pelo fato de trazer implicações que ultrapassam os limites do indivíduo para incluir o grupo social Consequências: Dificuldades de adaptação afetiva Dificuldades para estabelecimento de relacionamento interpessoal Impedimento ao exercício saudável da sexualidade Vítimas de incesto Vítimas de pedofilia Violência sexual A difícil recuperação da vítima Incesto: ruptura com o agressor? Permanência em instituições grandes e fechadas não é recomendável Necessidade de suporte psicoterapêutico especializado Vitimização Vitimização Processo complexo pelo qual alguém se torna ou é eleito a tornar-se um objeto-alvo da violência por parte de outrem Implica uma rede de ações e/ou omissões, interligadas por interesses, ideologias e motivações conscientes ou inconscientes Exemplos de vitimização: Pais, em nome da educação, acabam por estabelecer limites excessivos para os filhos A família elege um integrante como a “ovelha negra”; sobre ele recai a culpa e pouco a pouco assume o papel de vítima Determinado grupo é apontado como ovelha negra e passa a ser o depositário de toda a culpa social Vitimização Mais presente em crianças e idosos Pode ser predominantemente física ou psicológica Vitimização física: negligência e maus tratos, podendo instalar-se paulatinamente Negligência em alimentação Negligência em higiene Maus tratos: castigos e agressões, que provoca ferimentos como fraturas, hematomas, queimaduras Perda gradativa de discriminação para o sofrimento e suas consequências Vitimização psicológica: pessoa depreciada do ponto de vista afetivo, por negligência ou rejeição Síndrome de Estocolmo Vitimização sexual Vitimização sexual: Pessoa desempenha papel de objeto de gratificação sexual do adulto Jogo perverso, baseado em relação de poder Combina aspectos físicos e psicológicos Os procedimentos podem seguir um crescente de aproveitamento da vítima Coisificação da vítima As famílias apresentam nítida dificuldade de identificar o que acontece; ignoram os sinais Ocultação dos sinais Negar o significado; barganhar: o pedido para não contar a ninguém para evitar retaliações Com o enfraquecimento do elo entre crianças e progenitores, em muitas situações o incesto ocupa papel de estabilizador nas famílias Coisificação da vítima O drama de quem recebe a falsa acusação de violência sexual, ficando sujeito a transtornos: Psicológicos: raiva, ansiedade, estado depressivo, redução da autoestima, transtornos de sono e outros Sociais: manifestação de comportamentos evitativos; rejeição pelos amigos e conhecidos Familiares: afastamento da criança, de outros filhos, do cônjuge; proibição legal de realizar visitas Após a ocorrência Insensibilidade e falta de cuidados de muitos médicos no exame de corpo de delito Despreparo de médicos, psiquiatras e psicólogos: conversam com a vítima sem considerar a angústia em que se encontram Autoestima diminuída: recomenda-se acompanhamento psicológico e multidisciplinar Mídia e vítima Meios de comunicação muitas vezes criam ou reforçam a percepção que a população tem do crime e o papel que a sociedade atribui à vítima Em geral o espaço dedicado ao criminoso é maior do que o da vítima Divulgação sensacionalista contribui para a banalização do crime e da vítima Revitimização pela mídia As instituições de exclusão São aquelas criadas, mantidas e desenvolvidas para separar, da sociedade maior, grupos de indivíduos cujos comportamentos possíveis ou manifestos não condizem com as normas predominantes Em geral esses indivíduos são incorporados a elas de maneira compulsória Prisões, entidades para aplicação de medidas socioeducativas, as que acolhem crianças e adolescentes abandonados ou recolhidos nas ruas, hospitais psiquiátricos Diferenciam-se de acordo com a população recolhida e outros aspectos As instituições de exclusão Instituições totais: aquelas onde os indivíduos devem realizar todas as suas atividades e com a qual, de certa forma, criam uma relação de dependência Nas instituições, ocorre gradativamente a perda do eu, com profundas modificações na carreira moral e nas crenças relativas a si mesmo. Características que contribuem para isto: Realização de todas as atividades dos condenados segundo um esquema obrigatório Processo de admissão na instituição pautado por uma codificação própria do sistema (ex. números) Despojamento dos bens pessoais Participação em atividades cujas consequências simbólicas são incompatíveis com sua concepção de eu Arquitetura própria do lugar, sem direito à privacidade Exposição a companhia forçada Submissão a exames e vistorias em seus pertences e no próprio corpo Um breve olhar social O crime produz sentimentos de vingança pública A lei surge para dirigir, limitar: ao mesmo tempo em que castiga, poupa o criminoso da cegueira que o ódio impõe Estrutura das instituições reforça o círculo vicioso da criminalidade Por meio delas, a sociedade coloca fora de si e trata esses indivíduos como se não lhe pertencessem; indivíduo vê-se condenado a incorporar-se a um grupo novo e até então estranho Sociedade percebe tais instituições de diversas formas: piedade, raiva, medo, indignação, curiosidade, aversão A arquitetura e o espírito Linguagem: a recriação do indivíduo O novo campo de forças: o poder do grupo As antigas fronteiras: limitações às trocas Valores, crenças e esquemas de pensamento
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