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Aula 4 - Julgadores, vítimas e instituições de exclusão (1)

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Julgadores, vítimas e instituições de exclusão
Os julgadores
Julgam:
Juízes e jurados
Os que acusam e os que defendem
Os que opinam
Todos trabalham mais com a realidade dos relatos do que com os fatos
Julgam a partir de seus filtros sensoriais e cognitivos, impregnados de valores e conceitos, experiências, expectativas e zeitgeist
O desafio de julgar
O examinar compreende um confrontamento de linguagens e pensamentos entre o que pergunta e o que responde
Para o que pergunta, exigem-se conhecimentos sobre técnicas de entrevista:
Dominar os procedimentos de entrevistas
Estabelecer sintonia emocional com o entrevistado
Um não prescinde do outro
O desafio de julgar
Quando existe sintonia emocional, o entrevistador:
Percebe e interpreta sinais de tensão do indivíduo e efeitos que possam ocasionar em seu comportamento
Identifica as informações relevantes para entender o percurso histórico dos acontecimentos
Ajusta a linguagem, para torna-la compreensível pelo entrevistado
Identifica esquemas de pensamento do entrevistado, ajusta o questionamento, elimina ambiguidades
Compreende a idade mental do desenvolvimento do indivíduo
Sintonia emocional contribui para estabelecer um clima de atenção concentrada entre julgados e julgadores
O desafio de julgar
Entrevistador deve estar atento a fatores que contribuem para desviar a atenção:
Cansaço físico
Mecanismos psicológicos de defesa
Perda de atenção
Atenção seletiva
Discriminação de determinados detalhes
Esquecimento ou desconsideração de detalhes
Pensamentos automáticos
Crenças arraigadas
Ex: imagem de marginal que a sociedade faz de determinadas vítimas
Ex: fanatismo em relação a determinado conceito ou ideia (política, religiosa, sexual, etc)
Esquemas de pensamento
A influência da emoção
Reconhecer e controlar as próprias emoções é essencial
O desafio é emocionar-se sem se contaminar pelas emoções próprias e dos participantes
A contaminação pela emoção pode impedir o exercício da neutralidade
O raciocínio vale para bons e maus sentimentos
Deixar-se dominar pela emoção significa comprometer percepção, atenção, pensamento e memória
Efeitos do social
Os valores sociais exercem forte influência sobre as pessoas
Ex: complacência com agressores, especialmente quando a vítima é mulher
Ex: duas suspeitas de infanticídio de classes sociais diferentes
O grande desafio de quem julga consiste em se abstrair do social
Todo julgar é relativo e realiza-se dentro de um contexto
Conteúdos intrapsíquicos
O profissionalismo, a orientação recebida, a prática, a disposição para atuar com isenção e desprendimento não tornam as pessoas imunes às forças intrapsíquicas
Entre os conteúdos conscientes, destacam-se os objetivos pessoais dos indivíduos e as filosofias que abraçam
O julgador pode perceber a conduta criminosa de três maneiras:
Anormal, em que o conflito e seu contexto perdem relevância (criminologia tradicional)
Derivada dos conflitos interpessoais e processos sociais, porém, responsabilizando cada indivíduo por seus comportamentos (criminologia moderna)
Derivada da sociedade, cabendo a esta a assunção da responsabilidade pela conduta criminosa, incluindo-se aí a identificação de formas de reinserção do indivíduo no tecido social (criminologia crítica)
Conteúdos intrapsíquicos
Ao adotar ou pender para uma ou outra filosofia, o julgador estabelece critérios próprios de avaliar os fatos e estabelecer a própria conduta em relação a eles
Esse conjunto de conteúdos transfere, para o julgador, o ônus do autoconhecimento, para que ele consiga, continuamente, conhecer a maneira como reage aos estímulos que recebe do meio
O testemunho
A emoção constitui fator-chave nas percepções das testemunhas
Estudos apontam que as pessoas enxergam mais as falhas de comportamento dos inimigos
Nos eventos traumáticos, uma fisiologia da percepção distorce a ação dos sentidos: ampliam-se muitos detalhes e ignoram-se outros; a emoção desencadeia mecanismos de defesa
Essa situação favorece o surgimento de esquemas de pensamento e pensamentos automáticos sobre os acontecimentos, propiciando distorções; pessoas veem o que acreditam que devem
O testemunho
Testemunhas levam ao hospital sua bagagem socioemocional, com a qual respondem aos interrogatórios e opinam
Entrevistador defronta-se com o desafio de separar os efeitos dos preconceitos, crenças arraigadas, visões distorcidas, para deduzir o que é “real”
O testemunho obtido por interrogação é resultado do conflito entre o que o sujeito sabe e o que as perguntas que lhe dirigem tendem a fazer-lhe saber
A pergunta pode questionar a respeito de fatos esquecidos, lacunas, que o sujeito procurará, inconscientemente, preencher (confabulação)
O testemunho
O interrogatório também pode induzir respostas preferenciais; o indivíduo escolhe uma delas por falta de opção ou por identificá-la como a mais adequada
Outro aspecto emocional do interrogatório consiste no desenvolvimento de sentimentos de inferioridade no interrogado, provenientes do medo de dar resposta considerada tola
Inexatidão de depoimento por tendência afetiva:
Identificação emocional da testemunha com a vítima ou com o réu
Valores e princípios presentes no julgamento e que se sobrepõem à questão em si (justiça, verdade)
Preconceitos originados da condição social, do comportamento, da aparência de uma ou outra parte, capazes de provocar distorções no pensamento (demonstração de riqueza, beleza, cor, sexualidade, etc)
Falsas crenças em relação ao que a vítima ou réu praticam (“todo político é ladrão”)
O testemunho
A inexatidão de depoimentos também acontece por motivos técnicos: deficiências nos sentidos, desconhecimento no assunto (achar que ouviu um grito)
São valiosos os depoimentos de especialistas
Limitações físicas e fisiológicas de testemunhas são influenciadas pela idade e experiências de vida
Crianças e idosos
Músico e pintor
Conhecimento do funcionamento das funções superiores é sempre de grande utilidade para quem interroga (temporalidade)
A vítima – Vitimologia 
A vítima sofre, com frequência, um severo impacto psicológico que se acrescenta ao dano material ou físico provocado pelo delito
Vitimologia é a ciência que estuda a vítima sob os pontos de vista psicológico e social, na busca do diagnóstico e da terapêutica do crime, bem como da proteção individual e geral da vítima
Vitimologia
Interesses da vitimologia:
Prevenção do delito, destacando-se o estudo:
Do comportamento do delinquente em relação à vítima
Do comportamento da vítima em relação ao delinquente
Da influência do comportamento da vítima para a ocorrência do evento criminoso
Dos fatores que levam a vítima reagir ou não contra aquele ou aqueles que a vitimizam ou, até mesmo, a acentuar essa relação de desequilíbrio
Desenvolvimento metodológico-instrumental
Formulação de propostas de criação e reformulação de políticas sociais
Desenvolvimento continuado do modelo de justiça penal
Tipologia
Classificação vitimológica:
Vítima completamente inocente
Vítima menos culpada que o delinquente
Vítima tão culpada quanto o delinquente
Vítima mais culpada que o delinquente
Vítima unicamente culpada
Afinal, vítima por quê?
O que leva a vítima a se expor?
Investigação de ganhos secundários: recompensas, reais ou imaginárias, às custas de sofrimentos também reais ou imaginários
Alinha-se com o conceito de mecanismos psicológicos de defesa de Freud
Glorificação do sofrimento/Irmandade na dor
Culpas que serão expiadas por meio das ações de imolação
Crenças arraigadas
Descrença de que algo pode ser feito
Emoção do perigo
As vítimas eternas
Constante litígio pode ser instrumento de manter união 
Comportamentos condicionados
Vítimas eternas encontram, no que as prejudica, a motivação para seguir em frente
O conflito faz parte de sua maneira de ser e constitui eficaz mecanismo psicológico de defesa contra outros dramas do psiquismo que, sem eles, se tornariam insuportáveis
(torna-se figura)
Violência conjugal
Permanece encoberta na maior parte dos casos, possivelmente por desconhecimento por um ou ambos os cônjuges de que determinados comportamentos configuram violência conjugal
Quando a violência física faz parte do contexto familiar, possivelmente será detectada na escola, no trabalho, locais em que terceiros notam sinais que a denunciam
Já a violência psicológica dificilmente será percebida por terceiros
Ainda que a vítima tenha consciência, é fato corriqueiro que não deixe o lar
Violência conjugal
A vítima crônica constitui um exemplo de pessoa com baixa autoestima
Ganho secundário: manter espécie de controle sobre o agressor, encarado como troféu
Ganho secundário se acentua quando o agressor manifesta sentimentos de culpa por seus comportamentos e promove momentos de reconciliação e expiação
Em geral o homem é classificado como agressor, mas muitas vezes é vítima, especialmente de violência psicológica
Violência conjugal
A violência conjugal estritamente psicológica é de difícil identificação porque:
Não tem início repentino, dificilmente se inicia por um evento isolado
Vai sendo apreendida pouco a pouco pelos participantes, um ou outro pode não se dar conta de que ela acontece
Com o passar do tempo, há duplo condicionamento: tanto do dar como do receber a violência psicológica; ritual de sarcasmos, ofensas e desprezo mútuo
Não é incomum que os filhos se tornem a munição dessa troca de fogo emocional
Violência sexual
Violação física e psíquica das mais severas, suas consequências agravam-se pelo fato de trazer implicações que ultrapassam os limites do indivíduo para incluir o grupo social
Consequências:
Dificuldades de adaptação afetiva
Dificuldades para estabelecimento de relacionamento interpessoal
Impedimento ao exercício saudável da sexualidade
Vítimas de incesto
Vítimas de pedofilia
Violência sexual
A difícil recuperação da vítima
Incesto: ruptura com o agressor?
Permanência em instituições grandes e fechadas não é recomendável
Necessidade de suporte psicoterapêutico especializado
Vitimização
Vitimização
Processo complexo pelo qual alguém se torna ou é eleito a tornar-se um objeto-alvo da violência por parte de outrem
Implica uma rede de ações e/ou omissões, interligadas por interesses, ideologias e motivações conscientes ou inconscientes
Exemplos de vitimização:
Pais, em nome da educação, acabam por estabelecer limites excessivos para os filhos
A família elege um integrante como a “ovelha negra”; sobre ele recai a culpa e pouco a pouco assume o papel de vítima
Determinado grupo é apontado como ovelha negra e passa a ser o depositário de toda a culpa social
Vitimização
Mais presente em crianças e idosos
Pode ser predominantemente física ou psicológica
Vitimização física: negligência e maus tratos, podendo instalar-se paulatinamente
Negligência em alimentação
Negligência em higiene
Maus tratos: castigos e agressões, que provoca ferimentos como fraturas, hematomas, queimaduras
Perda gradativa de discriminação para o sofrimento e suas consequências
Vitimização psicológica: pessoa depreciada do ponto de vista afetivo, por negligência ou rejeição
Síndrome de Estocolmo
Vitimização sexual
Vitimização sexual:
Pessoa desempenha papel de objeto de gratificação sexual do adulto
Jogo perverso, baseado em relação de poder
Combina aspectos físicos e psicológicos
Os procedimentos podem seguir um crescente de aproveitamento da vítima
Coisificação da vítima
As famílias apresentam nítida dificuldade de identificar o que acontece; ignoram os sinais
Ocultação dos sinais
Negar o significado; barganhar: o pedido para não contar a ninguém para evitar retaliações
Com o enfraquecimento do elo entre crianças e progenitores, em muitas situações o incesto ocupa papel de estabilizador nas famílias
Coisificação da vítima
O drama de quem recebe a falsa acusação de violência sexual, ficando sujeito a transtornos:
Psicológicos: raiva, ansiedade, estado depressivo, redução da autoestima, transtornos de sono e outros
Sociais: manifestação de comportamentos evitativos; rejeição pelos amigos e conhecidos
Familiares: afastamento da criança, de outros filhos, do cônjuge; proibição legal de realizar visitas
Após a ocorrência
Insensibilidade e falta de cuidados de muitos médicos no exame de corpo de delito
Despreparo de médicos, psiquiatras e psicólogos: conversam com a vítima sem considerar a angústia em que se encontram
Autoestima diminuída: recomenda-se acompanhamento psicológico e multidisciplinar
Mídia e vítima
Meios de comunicação muitas vezes criam ou reforçam a percepção que a população tem do crime e o papel que a sociedade atribui à vítima
Em geral o espaço dedicado ao criminoso é maior do que o da vítima
Divulgação sensacionalista contribui para a banalização do crime e da vítima
Revitimização pela mídia
As instituições de exclusão
São aquelas criadas, mantidas e desenvolvidas para separar, da sociedade maior, grupos de indivíduos cujos comportamentos possíveis ou manifestos não condizem com as normas predominantes
Em geral esses indivíduos são incorporados a elas de maneira compulsória
Prisões, entidades para aplicação de medidas socioeducativas, as que acolhem crianças e adolescentes abandonados ou recolhidos nas ruas, hospitais psiquiátricos
Diferenciam-se de acordo com a população recolhida e outros aspectos
As instituições de exclusão
Instituições totais: aquelas onde os indivíduos devem realizar todas as suas atividades e com a qual, de certa forma, criam uma relação de dependência
Nas instituições, ocorre gradativamente a perda do eu, com profundas modificações na carreira moral e nas crenças relativas a si mesmo. Características que contribuem para isto:
Realização de todas as atividades dos condenados segundo um esquema obrigatório
Processo de admissão na instituição pautado por uma codificação própria do sistema (ex. números)
Despojamento dos bens pessoais
Participação em atividades cujas consequências simbólicas são incompatíveis com sua concepção de eu
Arquitetura própria do lugar, sem direito à privacidade
Exposição a companhia forçada
Submissão a exames e vistorias em seus pertences e no próprio corpo
Um breve olhar social
O crime produz sentimentos de vingança pública
A lei surge para dirigir, limitar: ao mesmo tempo em que castiga, poupa o criminoso da cegueira que o ódio impõe
Estrutura das instituições reforça o círculo vicioso da criminalidade
Por meio delas, a sociedade coloca fora de si e trata esses indivíduos como se não lhe pertencessem; indivíduo vê-se condenado a incorporar-se a um grupo novo e até então estranho
Sociedade percebe tais instituições de diversas formas: piedade, raiva, medo, indignação, curiosidade, aversão
A arquitetura e o espírito
Linguagem: a recriação do indivíduo
O novo campo de forças: o poder do grupo
As antigas fronteiras: limitações às trocas
Valores, crenças e esquemas de pensamento

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