Buscar

RESUMO + FARMACOLOGIA

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 28 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 28 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 28 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

ECM FARMACOLOGIA CLÍNICA 
 
 
Página 1 
 
 ECM 
FARMACOLOGIA CLÍNICA 
 
O PROCESSO DA PRESCRIÇÃO RACIONAL DE MEDICAMENTOS (os seis passos) 
 
Passo 1 - DEFINIR O PROBLEMA DO PACIENTE. 
 
Passo 2 - ESPECIFICAR O OBJETIVO TERAPÊUTICO. Definir qual será o objetivo terapêutico (vai tratar para quê?). 
 
Passo 3 - VERIFICAR SE O SEU TRATAMENTO É ADEQUADO PARA O PACIENTE EM QUESTÃO. Inventário das 
estratégias terapêuticas (não medicamentosas X medicamentosas); seleção de grupos de medicamentos mais 
utilizados no tratamento específico; conhecer os medicamentos mais escolhidos e efeitos colaterais mais freqüentes 
de cada medicamento. Os critérios devem ser EFICÁCIA, SEGURANÇA, CONVENIÊNCIA / APLICABILIDADE, CUSTO. 
 
Passo 4 - FAZER A PRESCRIÇÃO. Deve constar nome do medicamento escolhido (da sua escolha; dê preferência a um 
medicamento genérico); nome genérico; forma farmacêutica; via de administração; esquema de administração. 
A PRESCRIÇÃO DEVE SER CLARA, LEGÍVEL E INDICANDO COM PRECISÃO O QUE DEVE SER FORNECIDO AO PACIENTE. 
 
Passo 5 - FORNECER INFORMAÇÕES, INSTRUÇÕES E RECOMENDAÇÕES. Você deverá fornecer informações e 
recomendações ao paciente. Para melhorar a adesão ao tratamento você deverá: prescrever um tratamento 
adequado; criar uma boa relação médico-paciente; gastar um tempo da consulta para fornecer informações, 
instruções e recomendações. 
Os seis pontos abaixo deveriam orientar a informação a ser fornecida aos seus pacientes: 
 Efeitos do medicamento. Por que o medicamento é necessário; quais sintomas desaparecerão; qual a 
importância de tomar o medicamento, o que acontece se não o tomar; 
 Efeitos colaterais: Quais efeitos colaterais podem ocorrer; como reconhecê-los; por quanto tempo durarão; o 
que fazer se eles ocorrerem; qual a seriedade deles; 
 Instruções: Quando e como tomar; como guardar; por quanto tempo o tratamento deve continuar; o que fazer 
em caso de problemas; 
 Avisos: O que não fazer (dirigir, operar máquinas, se for o caso); dose máxima (intoxicação); 
 Próxima consulta: Quando voltar (ou não); o que fazer com as sobras de medicamento; 
 Tudo claro? Tudo foi compreendido; repetir informação; alguma outra pergunta. 
 
Passo 6 - MONITORIZAR (INTERROMPER?) O TRATAMENTO. 
 
 
ECM FARMACOLOGIA CLÍNICA 
 
 
Página 2 
 
 ECM 
I. HIPOGLICEMIANTES ORAIS E TERAPIA 
DO DIABETES MELLITUS TIPO 2: 
 
1. Fisiopatologia e Introdução ao Tratamento do 
Diabetes Mellitus Tipo 2: 
 
PASSO 1 - DEFINIR O PROBLEMA DO PACIENTE 
 
O Diabetes Mellitus Tipo 2 (DM2) é 
caracterizado por um hipoinsulinismo relativo, ou 
seja, presença de níveis séricos de insulina 
significativos, algumas vezes elevados, porém menores 
que o necessário para um adequado controle 
glicêmico. 
É uma doença geralmente diagnosticada em 
indivíduos com mais de 40 anos, sendo 80% deles 
obesos. A fisiopatologia da doença é marcada por 
graus variados e sobrepostos de dois fatores: 
o Resistência periférica à insulina; 
o Disfunção das células β pancreáticas. 
 
Os níveis de insulina podem estar até elevados, 
no entanto, são menores que os esperados para o grau 
de resistência insulínica e hiperglicemia. Postula-se que 
a doença seja marcada por uma disfunção lenta e 
progressiva das células β. A fisiopatologia da doença 
resume-se pela figura 1, e progride segundo a figura 2. 
 
 
 
Figura 1 – Fisiopatologia do DM2 
 
 
Figura 2 – Progressão do DM2 
 
ECM FARMACOLOGIA CLÍNICA 
 
 
Página 3 
 
 ECM 
A progressão da doença (figura 2) é 
fisiopatologicamente marcada pela constante 
resistência insulínica com progressiva redução da 
secreção de insulina pelo pâncreas, sendo este fator o 
responsável pelo agravo do quadro (demonstrado pela 
diminuição da função da célula β). 
A própria hiperglicemia acentuada pode inibir a 
capacidade de secretar insulina da célula β (efeito 
glicotóxico), assim como o aumento dos ácidos graxos 
livres (efeito lipotóxico). A reversão destes distúrbios, 
portanto, pode retardar a progressão da doença em 
sua fase inicial. 
Definido o problema do paciente, podemos 
proceder ao passo 2. 
 
PASSO 2 - ESPECIFICAR O OBJETIVO TERAPÊUTICO 
 
Os objetivos terapêuticos são: 
o Tratar precocemente. Para isto o diagnóstico 
também precisa ser precoce. 
o Estimular desde o início as mudanças de estilo 
de vida para reduzir a resistência insulínica. 
o Poupar a função da célula β na fase de 
intolerância à glicose. 
o Prevenir a aterogênese reduzindo a glicemia 
pós-prandial. 
o Corrigir outras anormalidades metabólicas que 
favorecem complicações. 
 
 
Figura 3 – Alvo Terapêutico *HbA1c<7% 
 
O paciente com DM2 apresenta um grupo de 
fatores de risco para doença cardiovascular 
aterosclerótica, como: hipertensão arterial, 
dislipidemia e obesidade; o que configura a chamada 
síndrome metabólica. Portanto, a estratégia 
terapêutica destes pacientes visa justamente o 
controle destes fatores de risco. Os alvos terapêuticos 
seguem na figura 3. 
Estabelecidos nossos objetivos terapêuticos, 
seguiremos para o próximo passo. 
 
PASSO 3 - VERIFICAR SE O SEU TRATAMENTO É 
ADEQUADO PARA O PACIENTE EM QUESTÃO 
 
A adequação do tratamento passa, 
primeiramente, pelo conhecimento do inventário de 
estratégias terapêuticas farmacológicas e não-
farmacológicas, e, a seguir, a determinação de qual 
estratégia trará maior benefício para o paciente, 
estando ciente dos riscos de cada tipo de tratamento. 
Vale destacar que a estratégia terapêutica deve variar 
também segundo a gravidade do quadro e o estágio de 
progressão da doença, como apresentado na figura 4. 
 
 
Figura 4 – Intensificação do tratamento em resposta à 
progressão natural do DM2 
 
As mudanças no estilo de vida, como mostrado 
na figura 4, devem ser incentivadas ao longo de todo o 
tratamento e podem ser a única estratégia terapêutica 
no início do quadro. 
O uso de hipoglicemiantes orais estaria indicado, 
portanto, para pacientes que não atingiram seu alvo 
glicêmico com dieta e exercício físico regular após 2-3 
meses. Alguns autores preconizam a prescrição dessas 
drogas já na primeira consulta em pacientes com 
glicemia de jejum superior a 160-180 mg/dl, e 
principalmente para indivíduos obesos. 
Vale lembrar que o médico tem total autonomia 
na prescrição e, independente das diretrizes, pode 
tentar adequar seu tratamento ao perfil do paciente. 
 
PASSOS 4 E 5 - FAZER A PRESCRIÇÃO E FORNECER 
INFORMAÇÕES, INSTRUÇÕES E RECOMENDAÇÕES 
 
Para proceder à prescrição e ao aconselhamento 
do paciente quanto ao tratamento a ser empregado, 
seus riscos e benefícios, mecanismos de ação, efeitos 
colaterais e orientações de administração, o médico 
deve conhecer as classes farmacológicas a serem 
ECM FARMACOLOGIA CLÍNICA 
 
 
Página 4 
 
 ECM 
empregadas, bem como suas indicações e 
características. Seguimos, portanto, com o estudo das 
classes farmacológicas de hipoglicemiantes orais. 
Veja na figura 5 as principais classes 
farmacológicas de hipoglicemiantes orais e seus 
mecanismos de ação, a serem estudados 
detalhadamente a seguir. 
 
 
Figura 5 – Hipoglicemiantes Orais e Mecanismos de Ação 
 
2. Sulfoniluréias: 
 
Mecanismo de Ação: Aumentam a secreção basal de 
insulina pela célula β pancreática (Efeito Secretagogo). 
Atuam bloqueando os canais de K+ dependentes de 
ATP, o que promove o influxo de Ca+2 e, 
consequentemente, maior liberação de insulina. 
 
Análogos de 1ª geração: 
o Tolbutamida; 
o Clorpropamida; 
Análogos de 2ª geração: 
o Glibenclamida: Mais barata e mais usada, 
porém com menor tempo de meia-vida e, 
portanto, menor comodidade posológica; 
o Glimepirida: Ação prolongada, apresentando 
maior tempo de meia-vida e maior comodidade 
posológica, porém é mais cara; 
o Gliclazida: Também apresenta ação prolongada; 
o Glipizida. 
 
Farmacocinética: 
o Absorção: Boa absorção por via oral; 
o Distribuição: 90% de ligação a proteínas 
plasmáticas; 
o Metabolismo: Metabolismo hepático, com 
meia-vida rápida (3-5 h), mas efeito prolongado;o Excreção: Urinária. 
 
Efeitos adversos: 
o HIPOGLICEMIA* (EFEITO DE CLASSE) (risco 
aumenta com omissão ou menor ingesta de 
alimentos, uso de álcool, desnutrição; 
transtornos hepáticos ou renais e por interação 
com outras drogas que também se ligam a 
proteínas plasmáticas); 
o GANHO DE PESO (EFEITO DE CLASSE); 
o Hipersensibilidade: Alergia, fotossensibilidade e 
rash cutâneo; 
o Manifestações gastrintestinais: gosto metálico, 
náuseas, vômitos, diarréia; 
o Intolerância alcoólica (pp. clorpropamida): 
podendo precipitar hipoglicemia; 
o Distúrbios hematológicos: depressão da medula 
óssea com leucopenia, anemia e 
trombocitopenia, e anemia hemolítica; 
o Distúrbios hepáticos: anormalidade da função 
hepática, hepatite alérgica e icterícia; 
o Distúrbios hidroeletrolíticos: Hiponatremia e 
intoxicação hídrica (pp. clorpropamida). 
 
*Obs.: É aconselhável o uso das sulfoniluréias 
próximo a uma grande refeição, para diminuir o risco 
de hipoglicemia. 
Redução da
Hiperglicemia
 secreção
de insulina
Sulfoniluréias
Repaglinida
Nateglinida
 absorção de
carboidratos
Acarbose
 produção
de glicose
Metformina
 resistência
periférica à
insulina
Tiazolidinedionas
 Secreção 
de glucagon
GLP1
ECM FARMACOLOGIA CLÍNICA 
 
 
Página 5 
 
 ECM 
 
Contra-indicações: 
o Gravidez e lactação; 
o Hipersensibilidade prévia a uma sulfonamida ou 
a uma sulfoniluréia; 
o Insuficiência renal; 
o Insuficiência hepática; 
o Contra-indicações relativas: cirurgias e 
intercorrências clínicas de maior gravidade 
(substituir por insulina). 
 
Eficácia terapêutica: 
o DM2 (em monoterapia ou em associação): São 
as drogas preferidas em pacientes DM2 não-
obesos com glicemia de jejum entre 160-270 
mg/dl (aqueles em que predomina a disfunção 
de célula β em relação à resistência periférica à 
insulina); 
o São (junto com a metformina) os antidiabéticos 
orais de maior eficácia, reduzindo em 1-2% a 
HbA1c e em 60-70 mg/dl a glicemia de jejum 
(reduzem em até 20% o valor de base); 
o Reduzem significativamente a incidência de 
complicações microvasculares (retinopatia, 
nefropatia e neuropatia), porém não reduzem 
significativamente a incidência de complicações 
macrovasculares (IAM, AVE). 
 
3. Glinidas: 
 
Medicamentos: 
o Repaglinida; 
o Nateglinida. 
 
Mecanismo de Ação: Aumentam a secreção basal de 
insulina pela célula β pancreática (Efeito Secretagogo). 
Também diminuem a condutância ao K+, atuando em 
outro receptor diferente da sulfoniluréia, o que 
promove o influxo de Ca+2 e, consequentemente, 
maior liberação de insulina. 
 
Obs.: Apresentam ação mais rápida porém menos 
sustentada que as sulfoniluréias (ótimo efeito sobre a 
glicemia pós-prandial), devendo ser administradas 10 
minutos antes das refeições. Devido a sua ação 
menos sustentada, apresenta menor risco de 
hipoglicemia. 
 
Farmacocinética: 
o Absorção: Rápida pelo TGI; 
o Metabolismo: Hepático (maior parte) e renal. 
Apresenta meia-vida curta (1 h). 
 
Efeitos adversos (semelhantes a sulfoniluréias): 
o HIPOGLICEMIA (EFEITO DE CLASSE); 
o GANHO DE PESO (EFEITO DE CLASSE). 
 
Eficácia terapêutica: 
o São muito eficazes no controle da glicemia pós-
prandial; 
o Podem ser utilizadas como alternativa a 
sulfoniluréias em pacientes alérgicos e idosos. 
No entanto são de maior custo; 
o Podem ser utilizados como profilaxia para DM2. 
 
4. Biguanidas (Metformina): 
 
A metformina é a única biguanida liberada para 
uso clínico. Seu mecanismo bioquímico de ação é ainda 
desconhecido. 
 
Mecanismo de Ação: 
o Diminui a resistência periférica à insulina, 
aumentando a sensibilidade a esta nos tecidos 
muscular e adiposo; 
o Diminui a gliconeogênese hepática; 
o Estimula a glicólise anaeróbica (↑lactato). 
 
Obs.: Por não aumentar a secreção de insulina (não 
apresentar efeito secretagogo), a metformina não 
apresenta ação hipoglicemiante, na verdade 
apresenta ação anti-hiperglicemiante. 
 
Farmacocinética: 
o Absorção: Boa absorção por via oral, sendo 
absorvida no intestino delgado; 
o Distribuição: Não se liga a proteínas 
plasmáticas, apresentando tempo de meia-vida 
curto; 
o Metabolismo: Não é metabolizada no 
organismo; 
o Excreção: Urinária, sem alteração metabólica. 
 
Obs.: A metformina deve ser administrada 2-3x/dia, 
junto com as refeições. 
 
Efeitos adversos: 
o ACIDOSE LÁCTICA: Raro (uso inadequado), mas 
com alta taxa de mortalidade (35-50%); 
o Distúrbios gastrintestinais (5 a 20%): Náuseas, 
vômitos, diarréia, anorexia e gosto metálico. 
Podem ser minimizados com administração. 
durante ou após as refeições, ou reduzindo a 
dose, tornando a aumentá-la conforme a 
necessidade. Menor tolerância do que as 
sulfoniluréias; 
o Prejuízo da absorção intestinal da vitamina B12 
e folato: Pode ser revertida com a administração 
suplementos de cálcio; 
o Anorexia e perda ponderal; 
o NÃO CAUSA HIPOGLICEMIA. 
 
ECM FARMACOLOGIA CLÍNICA 
 
 
Página 6 
 
 ECM 
Contra-indicações (risco de acidose láctica): 
o Insuficiência renal ou em uso de medicamentos 
que possam causar IRA; 
o Doença cardíaca grave (ICC); 
o Doença respiratória crônica (DPOC) e estados de 
hipóxia; 
o Insuficiência hepática e alcoolismo; 
o Gravidez. 
 
Eficácia terapêutica: 
o DM2 (em monoterapia ou em associação): São 
as drogas preferidas em pacientes DM2 obesos 
com glicemia de jejum entre 110-270 mg/dl 
(aqueles em que predomina a resistência 
periférica à insulina em relação à disfunção de 
célula β); 
o São (junto com as sulfoniluréias) os 
antidiabéticos orais de maior eficácia, reduzindo 
em 1-2% a HbA1c e em 60-70 mg/dl a glicemia 
de jejum; 
o Única medicação que reduz significativamente a 
incidência de complicações macrovasculares 
(IAM, AVE) em obesos; 
o Efeito cardioprotetor: Redução dos 
triglicerídeos em 15-20% e em menor grau do 
LDL; 
o Diminui peso corporal. 
 
5. Glitazonas (Tiazolidinedionas): 
 
Medicamentos: 
o Pioglitazona; 
o Rosiglitazona. 
 
Mecanismo de Ação: As glitazonas são potentes 
sensibilizadores periféricos da insulina, exibindo ação 
análoga à metformina. Porém com ação muito maior 
na diminuição da resistência periferia à insulina do que 
na diminuição da produção hepática de glicose. 
Atuam ativando o receptor PPAR-γ (receptor 
nuclear do fator ativado de proliferação de 
peroxissomos gama), o que aumenta a expressão de 
canais periféricos de glicose sensíveis à insulina 
(GLUT4). 
No tecido adiposo, a ativação do PPAR-γ leva a 
um aumento da produção de adiponectina, o que 
diminui a resistência periférica à glicose e diminui a 
gliconeogênese hepática. A ativação do PPAR-γ ainda 
promove a transformação de pré-adipócitos em 
adipócitos menores (mais sensíveis à insulina), 
reduzindo os níveis de ácidos graxos livres e 
triglicerídeos (efeito cardioprotetor). 
Assim como a metformina, sua ação é 
classificada como anti-hiperglicemiante, não havendo 
risco de hipoglicemia quando em monoterapia ou em 
associação com metformina. 
 
Efeitos Adversos: 
o Ganho de peso, cerca de 3,5 a 4kg nas doses 
máximas, mas atenuado em 50% com uso prévio 
de metformina; 
o Anemia dilucional, com pequena redução da 
hemoglobina e hematócrito (especialmente nas 
4 a 8 semanas iniciais de tratamento, 
permanecendo estável a seguir); 
o Edema (retenção de sódio) mais comum na 
associação com Insulina; 
o Hepatopatia (poucos relatos); 
o Risco de fraturas apendiculares espontâneas 
(rosiglitazona); 
o Insuficiência Cardíaca Congestiva 
(rosiglitazona), decorrente da retenção hídrica; 
o Cefaléia. 
 
Contra-indicações: 
o Gravidez e lactação; 
o Insuficiência renal; 
o Insuficiência hepática; 
o Insuficiência cardíaca. 
 
6. Inibidores da α-glicosidase: 
 
Medicamentos: 
o Acarbose; 
o Miglitol. 
 
Mecanismo de Ação: Inibem as enzimas α-glicosidases 
intestinais, responsáveis pela quebra de 
polissacarídeos complexos (amido) em 
monossacarídeos (glicose), retardando, assim, a 
absorção intestinal de glicose, o que diminui a 
hiperglicemia pós-prandial. Apresenta tambémefeito 
cardioprotetor por diminuir a relação LDL/HDL. Como 
apenas retarda a absorção (não a diminui), não altera o 
peso corporal. 
 
Efeitos adversos: 
o DISTÚRBIOS GASTRINTESTINAIS: meteorismo, 
flatulência, distensão abdominal; diarréia; 
o Elevação das enzimas hepáticas em doses 
superiores a 600mg/dia; 
o Anemia. 
 
Contra-indicações: 
o Gravidez e lactação; 
o Pacientes com transtornos crônicos da digestão 
e absorção intestinal, úlceras de intestino grosso 
e doença inflamatória intestinal. 
 
Eficácia terapêutica: 
o Muito eficaz no controle da glicemia pós-
prandial em pacientes DM2. 
ECM FARMACOLOGIA CLÍNICA 
 
 
Página 7 
 
 ECM 
 
7. Incretinomiméticos: 
 
As incretinas são hormônios produzidos no 
intestino após ingestão alimentar, cuja principal função 
é estimular produção de insulina pelas células β de 
forma glicose-dependente e suprimir a produção de 
glucagon pelas células α pancreáticas. 
As incretinas fisiológicas envolvidas na 
homeostase da glicose são: 
o GLP-1 (glucagon-like peptide 1): produzida pelo 
íleo; 
o GIP (glucose-dependent insulinotropic peptide): 
produzida pelo jejuno. 
 
As ações das incretinas nos diversos tecidos 
periféricos estão relacionadas na figura 6. 
Os incretinomiméticos são fármacos que 
simulam os efeitos das incretinas fisiológicas. Existem 
duas classes de incretinomiméticos: 
o Análogos da GLP-1: São agonistas de GLP-1, 
ligando-se a seus receptores e determinando os 
mesmos efeitos que a GLP-1 fisiológica. Ex.: 
Exenatida (injetável – SC); 
o Inibidores da DPP-IV: Inibem a enzima 
responsável pela degradação das incretinas 
(GLP-1 e GIP), aumentando o tempo de ação 
desses hormônios. Ex.: Sitagliptina e 
Vildagliptina. 
 
Farmacocinética: 
o Absorção: Rápida e sem alterações com a 
alimentação e o jejum; 
o Metabolismo: Metabolizados por hidrólise 
plasmática e seus metabólitos são inativos; 
o Excreção: Renal (contra-indicados em 
insuficiência renal). 
 
Efeitos adversos: 
o Nasofaringite e outras infecções; 
o Cefaléia; 
o Hipoglicemia; 
o Náuseas (análogo GLP-1). 
 
 
 
Figura 6 – Ação periférica das incretinas 
 
8. Conclusão: 
 
A escolha do fármaco deve levar em conta: 
o Os valores das glicemias de jejum e pós-prandial 
e da HbA1c; 
o O peso e a idade do paciente; 
o A presença de complicações, outros transtornos 
metabólicos e doenças associadas; 
o As possíveis interações com outros 
medicamentos, reações adversas e as contra-
indicações. 
Segue, na figura 7, tabela comparativa dos 
antidiabéticos orais, e, na figura 8, uma correlação 
entre o estágio do DM2 e os medicamentos mais 
adequados para o tratamento. 
 
PASSO 6 - MONITORIZAR (INTERROMPER?) O 
TRATAMENTO 
O médico prescritor deve estar atento quanto ao 
sucesso do tratamento empregado em seus pacientes, 
e deve ter em mente alternativas terapêuticas em 
casos de insucesso ou insatisfação do paciente quanto 
aos efeitos adversos. 
ECM FARMACOLOGIA CLÍNICA 
 
 
Página 8 
 
 ECM 
 
 
Figura 7 – Tabela comparativa de antidiabéticos orais 
 
 
Figura 8 – Algoritmo terapêutico para manejo do DM2 segundo a fase de evolução da doença 
 
 
ECM FARMACOLOGIA CLÍNICA 
 
 
Página 9 
 
 ECM 
II. INSULINOTERAPIA: 
 
1. Princípios da Insulinoterapia: 
 
A insulina é a base do tratamento do DM1, não 
havendo outro medicamento capaz de reduzir a 
glicemia nesses pacientes. É importante, também, no 
tratamento do DM2 avançado, em que a função da 
célula β já se encontra bastante diminuída. Neste 
último caso, a insulinoterapia pode ser acompanhada 
pelo uso de um sensibilizador de insulina, como a 
metformina ou as glitazonas. 
Os princípios posológicos da insulinoterapia 
tentam seguir a secreção fisiológica diária de insulina, 
exibida na figura 9. Observe que os picos de insulina 
acompanham os picos de glicemia e correspondem 
justamente aos períodos pós-prandiais diários. 
Portanto, uma terapia que simule a secreção fisiológica 
de insulina deve apresentar picos pós-prandiais de 
insulinemia com manutenção de níveis basais entre os 
picos. Para obter tal efeito é utilizado uma combinação 
de insulinas exógenas, que diferem entre si apenas 
quanto a farmacocinética, vide figura 10. 
 
 
Figura 9 – Secreção fisiológica de insulina 
 
Preparação Início 
(h) 
Pico (h) Duração 
(h) 
Ação Rápida 
o Regular 0,5 – 1 2 - 4 6 - 8 
o Lispro 0,25 1 3 - 4 
o Aspart 0,25 1 3 - 4 
o Glulisina 0,25 1 3 - 4 
Ação 
Intermediária 
 
o NPH 1-3 6-8 12-16 
Ação Prolongada 
o Detemir 1 3-9 6-23 
o Glargina 1 Não 24 
Figura 10 – Tipos de insulina exógena 
 
 
Figura 11 – Perfis de ação das insulinas 
 
Início da Insulinoterapia no DM1: O início da terapia 
em pacientes recém diagnosticados com DM1 deve ser 
feito com doses menores que as usuais (em torno de 
0,2-0,4 U/Kg/dia), pois o pâncreas ainda mantém certa 
secreção de insulina, não sendo necessária a dose 
plena de insulina diária (0,5-1,0 U/kg/dia). Esse 
pequeno intervalo entre o diagnóstico e a adoção de 
doses plenas de insulinoterapia é conhecido como 
“período de lua-de-mel”, e corresponde ao período 
final de destruição das ilhotas pancreáticas no DM1. 
 
Início da Insulinoterapia no DM2: Como já discutido 
na história natural do DM2, a disfunção da célula β 
chega a tal ponto em que é necessária a introdução de 
insulina no tratamento. Quando se introduz insulina no 
tratamento do DM2 (em geral NPH ao deitar), é 
melhor conservar os hipoglicemiantes orais ao invés de 
simplesmente trocá-los por insulina. Pois, comparada à 
monoterapia com insulina, a associação com 
medicação oral: 
o melhora o perfil glicêmico; 
o reduz a incidência de hipoglicemias e o ganho 
de peso; 
o diminui as necessidades de insulina e serve de 
transição para a insulinoterapia intensiva. 
 
2. Insulinoterapia Intensiva: 
 
A insulinoterapia intensiva corresponde à 
reposição plena da secreção endógena de insulina por 
reposição exógena. Como já discutido, o esquema de 
insulinoterapia intensiva deve simular o mais próximo 
possível a secreção basal de insulina, e, para tal, são 
utilizados vários tipos diferentes de insulina com 
diferentes farmacocinéticas, segundo esquemas 
específicos. 
A simulação da secreção fisiológica de insulina é 
feita com uma insulina de ação prolongada ou 
intermediária, substituindo a liberação basal, e uma 
ECM FARMACOLOGIA CLÍNICA 
 
 Página 
10 
 
 ECM 
insulina de ação rápida ou ultrarápida, simulando o 
pico pós-prandial, vide figura 10. Apresentaremos, a 
seguir, os esquemas mais utilizados na prática clínica. 
 
Esquema em duas aplicações (figura 12): Neste 
esquema, recomenda-se fazer 2/3 da dose pela manhã 
(antes do café) e 1/3 da dose pela noite (antes do 
jantar). A proporção de insulina NPH (basal) /regular 
(rápida) deve ser de 70%/30% pela manhã e 50%/50% 
pela noite. 
A adoção deste esquema apresenta algumas 
desvantagens: 
o Período matinal antes da aplicação da insulina 
relativamente “desprotegido”: Este período 
corresponde ao pico circadiano de GH, um 
hormônio hiperglicemiante, portanto, a 
hipoinsulinemia neste período (visto que o nível 
de NPH já se encontra bastante diminuído) 
somada ao efeito do GH podem causar 
hiperglicemia matinal (“Fenômeno do 
alvorecer”); 
o Altas doses de NPH antes do jantar podem 
causar hipoglicemia de madrugada e, 
consequentemente, hiperglicemia reativa pela 
manhã (pelo pico de hormônios 
contrarreguladores), sendo este fenômeno 
conhecido como “Efeito Somogyi”; 
o A NPH administrada pela manhã pode ser 
insuficiente para controlar o pico glicêmico pós-
almoço; 
o O paciente não pode variar o tempo de suas 
refeições ou exercício físico. 
 
Obs.: A insulina regular exige uma aplicação 30-45 
minutos antes da refeição, a troca por insulina 
ultrarápida (Lispro ou Aspart) permite que aplicação 
na hora da refeição, o que é muito mais cômodo para 
o paciente. 
 
Esquema em três aplicações (figura 13): Este esquema 
visa diminuir os efeitos da hiperinsulinemianoturna e 
hiperglicemia matinal, referentes à administração de 
NPH antes do jantar. Para tal, administra-se a insulina 
regular normalmente (antes do jantar) e administra-se 
a NPH antes de dormir (seguindo a mesma proporção 
de 50%/50%). 
 
Esquema em quatro aplicações (figura 14): É o 
esquema mais fisiológico, mas de maior custo pois 
exige o uso de insulinas de ação prolongada (Glargina 
ou Detemir). É realizado com a administração matinal 
de insulina de ação prolongada e a administração de 
insula regular ou ultrarápida (Lispro ou Aspart) antes 
de cada refeição (café, almoço e jantar). Este esquema 
apresenta ainda a vantagem da possibilidade de ajuste 
da dose de insulina rápida baseada na glicemia capilar 
1 hora antes da refeição. 
 
 
Figura 12 – Esquema em duas aplicações 
 
 
Figura 13 – Esquema em três aplicações 
 
 
Figura 14 – Esquema em quatro aplicações 
 
Infusão Contínua: Segundo esse esquema, a insulina 
basal (60% da dose diária) é bombeada continuamente 
através de uma agulha instalada no subcutâneo. E os 
40% restantes são administrados com insulina rápida 
antes de cada refeição. 
ECM FARMACOLOGIA CLÍNICA 
 
 Página 
11 
 
 ECM 
 
Efeitos Adversos: 
o Hipoglicemia: por dosagem errada, ausência de 
alimentação ou exercício prolongado; 
o Reações alérgicas; 
o Lipodistrofia; 
o Resistência à insulina. 
 
ECM FARMACOLOGIA CLÍNICA 
 
 Página 
12 
 
 ECM 
III. HIPOLIPEMIANTES: 
 
1. Fisiopatologia e Introdução ao Tratamento das 
Dislipidemias: 
 
PASSO 1 - DEFINIR O PROBLEMA DO PACIENTE 
 
Dislipidemias: Designam-se dislipidemias as alterações 
metabólicas lipídicas decorrentes de distúrbios em 
qualquer fase do metabolismo lipídico, que ocasionem 
repercussão nos níveis séricos das lipoproteínas. 
 
Metabolismo das Lipoproteínas: 
Seguem, na figura 15, as vias metabólicas 
exógena e endógena das lipoproteínas, e, na figura 16, 
o metabolismo do HDL e o transporte reverso de 
colesterol, dos tecidos para o fígado. 
 
 
Figura 15 – Vias metabólicas exógena e endógena das 
lipoproteínas 
 
 
Figura 16 – Metabolismo das HDL e transporte reverso de 
colesterol 
 
Classificação Fenotípica das Dislipidemias: 
o Hipercolesterolemia isolada: Aumento do 
colesterol total (CT) e/ou LDL-C; 
o Hipertrigliceridemia isolada: Aumento dos 
triglicerídeos (TGL); 
o Hiperlipidemia Mista: Aumento do CT e dos 
TGL; 
o Diminuição isolada do HDL-colesterol (HDL-C) 
ou associada a aumento dos TGL ou LDL-C. 
Os valores de referência para diagnóstico em 
adultos, segue na figura 17. 
 
 
Figura 17 – Valores de referência para dislipidemia 
 
Classificação Etiológica: 
o Dislipidemias Primárias: Origem genética: 
hipercolesterolemia familiar (HF), dislipidemia 
familiar combinada (DFC), hipercolesterolemia 
poligênica, hipertrigliceridemia familiar e 
síndrome da quilomicronemia; 
o Dislipidemias Secundárias: Causadas por outras 
doenças ou uso de medicamentos: 
- Hipotireoidismo; 
- Diabetes mellitus; 
- Síndrome nefrótica; 
- Insuficiência renal crônica; 
- Obesidade; 
- Alcoolismo; 
- Icterícia obstrutiva; 
- LES; 
- Medicamentos: anticoncepcionais; diuréticos; 
corticóides; anabolizantes; betabloqueadores. 
 
Avaliação Laboratorial das Dislipidemias: 
o O perfil lipídico é definido pelas determinações 
do CT, HDL-C, TGL e, quando possível, do LDL-C* 
após jejum de 12 horas. 
* Fórmula de Friedewald: LDL-C = CT – HDL-C – TG/5 
(válida se TG < 400 mg/dL). 
 
PASSO 2 - ESPECIFICAR O OBJETIVO TERAPÊUTICO 
 
ECM FARMACOLOGIA CLÍNICA 
 
 Página 
13 
 
 ECM 
Para especificar o objetivo terapêutico do 
tratamento da dislipidemia, procede-se à estratificação 
do risco de aterosclerose. 
O LDL-C é considerado fator causal e 
independente de aterosclerose e sobre o qual 
devemos agir para diminuir a morbimortalidade. O 
poder preditor de risco e a meta lipídica adotada para 
prevenção irão variar dependendo da associação com 
outros fatores de risco. Os principais fatores de risco 
para aterosclerose são: 
o Fumo 
o Hipertensão arterial sistêmica (PA ≥ 140 / 
90mmHg); 
o HDL-C* < 40mg/dL; 
o Diabetes mellitus (são considerados como 
portadores de aterosclerose); 
o Idade (≥45 anos homens e ≥55 anos mulheres); 
o História familiar precoce de aterosclerose 
(parentes de 1º grau <55 anos homens e <65 
anos mulheres); 
o *HDL-C >60mg/dL são considerados um fator 
protetor devendo ser descontado um fator de 
risco da soma. 
 
AS RECOMENDAÇÕES PROPOSTAS SÃO AS 
SEGUINTES: 
 
Baixo risco: 
o Risco absoluto de eventos menor que 10% em 
dez anos. Geralmente são indivíduos com 1 FR 
(excetuando DM) além do colesterol (LDL-C > 
160 mg/dL). 
o Prevenção Primária Meta: LDL-C < 130 mg/dL, 
entretanto, tolera-se LDL-C até 160 mg/dL; 
o Perfil desejado: CT <200 mg/dL, HDL-C > 40 
mg/dL e TG< 150 mg/dL. 
 
Médio risco: 
o Risco de evento maior que 10%, porém menor 
do que 20% em 10 anos. Geralmente indivíduos 
com 2 FR (excetuando DM), além do colesterol 
(LDL-C > 160 mg/dL). 
o Prevenção Primária Meta: LDL-C < 130 mg/dL; 
o Perfil desejado: CT <200 mg/dL, HDL-C > 40 
mg/dL e TG< 150 mg/dL. 
 
Alto risco: 
o Risco de evento maior ou igual a 20% em 10 
anos ou acima de 20% extrapolando-se a idade 
para os 60 anos de vida. Geralmente mais de 2 
FR (excetuando DM) além do colesterol (LDL-C 
> 160 mg/dL), principalmente homens com 
idade acima dos 55 anos e outros FR 
associados. Nessa categoria também se incluem 
diabéticos e portadores de doença 
aterosclerótica coronária ou não. 
o Prevenção Primária de Alto Risco ou Prevenção 
Secundária Meta: LDL < 100 mg/dL; 
o Perfil desejado: CT <200 mg/dL, HDL-C > 40 
mg/dL (HDL-C > 45 mg/dL em diabéticos) e TG < 
150 mg/dL. 
 
Note que, independente da estratificação do 
risco, o perfil lipídico desejado é sempre o mesmo: CT 
<200 mg/dL, HDL-C > 40 mg/dL e TG< 150 mg/dL. O 
que varia na meta terapêutica é o controle no LDL-C, 
que deve ser tão menor quanto mais grave for o risco 
cardiovascular: Baixo risco (LDL-C < 130-160 mg/dL); 
médio risco (LDL-C < 130 mg/dL); alto risco (LDL-C < 
100 mg/dL). 
 
PASSO 3 - VERIFICAR SE O SEU TRATAMENTO É 
ADEQUADO PARA O PACIENTE EM QUESTÃO 
 
A adequação do tratamento passa, 
primeiramente, pelo conhecimento do inventário de 
estratégias terapêuticas farmacológicas e não-
farmacológicas, e, a seguir, a determinação de qual 
estratégia trará maior benefício para o paciente, 
estando ciente dos riscos de cada tipo de tratamento. 
A diretriz recomenda para todos os níveis de 
risco modificações no estilo de vida (MEV). A 
instituição do tratamento farmacológico dependerá do 
nível de risco, dos níveis do LDL-C, e da eficácia ou não 
das MEV em controlar o LDL-C. Mais uma vez, a diretriz 
determina que quanto maior o risco mais rigoroso 
deve ser o controle e mais “pesada” deve ser a 
terapêutica. Vide figura 18. 
 
PASSOS 4 E 5 - FAZER A PRESCRIÇÃO E FORNECER 
INFORMAÇÕES, INSTRUÇÕES E RECOMENDAÇÕES 
 
Para proceder à prescrição e ao aconselhamento 
do paciente quanto ao tratamento a ser empregado, 
seus riscos e benefícios, mecanismos de ação, efeitos 
colaterais e orientações de administração, o médico 
deve conhecer as classes farmacológicas a serem 
empregadas, bem como suas indicações e 
características. 
 
Classes de agentes hipolipemiantes: 
o AÇÃO NO METABOLISMO ENDÓGENO: 
- Estatinas; 
o AÇÃO NO METABOLISMO EXÓGENO: 
- Resinas sequestrantes de ácidos biliares; 
- Inibidores de absorção intestinal: Orlistat; 
Fitosteróis e Fitostanóis; Ezetimiba; 
o REDUTORES DE TRIGLICERÍDEOS: 
- Derivados do ácido fíbrico; 
- Niacina ou ácido nicotínico; 
- Ácidos graxos Ω-3. 
ECM FARMACOLOGIA CLÍNICA 
 
 Página 
14 
 
 ECM 
Seguimos, portanto, com o estudo dessas classes 
farmacológicas de hipolipemiantes. 
 
 
 
 
 
Figura 18 – Meta terapêutica de prevenção de aterosclerose e estratégias de intervenção segundo risco 
 
2. Estatinas: 
 
Mecanismo de Ação: Inibem a enzima HMG-Coa 
Redutase, inibindo, portanto, a síntese de colesterol 
endógeno. Por diminuírema concentração de 
colesterol livre, aumentam a síntese de receptores de 
LDL no fígado, diminuindo o LDL circulante. 
 
Medicamentos: 
o Sinvastatina: Não é alterada pela alimentação; 
o Atorvastatina: Apresenta maior tempo de meia-
vida; 
o Rosuvastatina: Maior eficácia na diminuição do 
LDL (38-58%); 
o Lovastatina; 
o Pravastatina: Eliminação predominantemente 
renal e menor ligação a proteínas plasmáticas. 
 
Farmacocinética: 
o Absorção: Boa absorção por via oral. 
Alimentação pode variar a biodisponibilidade 
aumentando ou diminuindo a mesma 
dependendo da estatina em questão; apenas a 
sinvastatina não é alterada pela alimentação; 
o Distribuição: Ampla ligação com proteínas 
plasmáticas, com exceção da pravastatina; 
o Metabolismo: Em geral são metabolizadas pelo 
fígado, apresentando meia-vida de 1-3 horas, 
dependendo da estatina, exceto atorvastatina 
que apresenta meia-vida de 14 horas; 
o Eliminação: Em geral, eliminação hepática maior 
que a renal, exceto para a pravastatina. 
 
Obs.: O uso das estatinas deve ser contínuo e 
preferencialmente à noite, devido à maior síntese de 
colesterol neste período. 
 
Cuidados no tratamento com estatinas (PASSO 6 – 
MONITORIZAR TRATAMENTO): 
o ATENÇÂO PARA DORES MUSCULARES: As 
estatinas devem ser suspensas em todos os 
pacientes que tiverem dor muscular de causa 
desconhecida (principalmente em panturrilhas), 
observa-se aumento progressivo da CK nesses 
casos; 
- Risco de rabdomiólise em interações 
medicamentosas: Estatina + Genfibrozila / 
Sinvastatina + Amiodarona. 
ECM FARMACOLOGIA CLÍNICA 
 
 Página 
15 
 
 ECM 
o ATENÇÂO PARA FUNÇÃO HEPÁTICA: As 
estatinas devem ser suspensas em pacientes 
com alteração de TGO/TGP maior que 3x o 
normal, ou manifestações como: icterícia e 
hepatomegalia. 
 
Eficácia terapêutica: 
o As estatinas são a principal estratégia 
farmacológica de diminuição do LDL-C. Sendo 
que seu efeito varia quanto o tipo de estatina e 
dose empregada (vide figura 19); 
o Duplicar a dose de estatina diminui em 
aproximadamente 6% o LDL-C; 
o Em pacientes em que se necessita redução 
agressiva do LDL-C, pode-se associar o uso de 
estatinas com outros medicamentos 
hipolipemiantes, como: ezetimiba, resinas, 
ácido nicotínico e fibratos; havendo 
potencialização de efeitos sobre o LDL-C. 
 
 
Figura 19 – Efeito das estatinas sobre o LDL-C 
 
3. Fármacos com Ação no Metabolismo Exógeno: 
 
Os fármacos com ação no metabolismo exógeno 
dos lipídeos atuam na luz intestinal, inibindo a 
absorção de lipídeos (↓absorção de colesterol 
exógeno) ou inibindo a reabsorção de ácidos biliares 
(↑eliminação de colesterol endógeno). Seus efeitos 
adversos, em geral, estão ligados a manifestações 
gastrintestinais e hipovitaminose ADEK (vitaminas que 
dependem da absorção de lipídeos para serem 
absorvidas). 
 
Resinas sequestrantes de ácidos biliares 
(Colestiramina): 
o Mecanismo de Ação: Atuam no intestino, 
retendo os sais biliares e promovendo sua 
eliminação nas fezes, logo, aumentam a 
eliminação fecal de colesterol, e, indiretamente, 
aumentam a remoção de LDL circulante pelo 
fígado; 
o Vantagens: Segurança hepática e muscular, com 
possibilidade de uso em crianças e gestantes; 
o Desvantagens (Efeitos adversos): Manifestações 
gastrintestinais (constipação, plenitude gástrica, 
náuseas e meteorismo, agrava hemorróidas); 
hipovitaminose ADEK e deficiência na absorção 
de folato; diminui a absorção de outras drogas. 
 
Orlistat: 
o Mecanismo de ação: Inibe as lipases no 
intestino, especialmente a lipase pancreática, 
diminuindo, assim, a absorção intestinal de 
gorduras; 
o Desvantagem: Pode causar hipovitaminose 
ADEK. 
 
Fitosteróis e Fitostanóis: 
o Mecanismo de ação: Inibem competitivamente 
a absorção de colesterol exógeno pelo intestino, 
reduzindo os níveis circulantes de colesterol; 
o Desvantagem: Pode causar hipovitaminose 
ADEK. 
 
Ezetimiba: 
o Mecanismo de ação: Inibidor de absorção do 
colesterol que atua na borda em escova das 
células intestinais inibindo a ação da proteína 
transportadora do colesterol; 
o Eficácia terapêutica: Usada isoladamente, reduz 
cerca de 20 % o LDL-C; aumenta em 20% a 
redução do LDL-C quando em associação com 
estatinas; 
o Vantagens: NÃO APRESENTA RISCO DE 
HIPOVITAMINOSE ADEK; sem ações sistêmicas 
importantes. 
 
4. Fármacos Redutores de Triglicerídeos: 
 
Ácidos graxos Ω-3: Derivados do óleo de peixes de 
águas frias e profundas; 
o Mecanismo de ação: Reduzem a síntese 
hepática dos triglicerídeos (↓TGL e ↑HDL). 
Podem, entretanto, aumentar o LDL; 
o Em portadores de doença arterial coronária, a 
suplementação de 1g /dia, em cápsulas, diminui 
em 10% os eventos cardiovasculares (morte 
súbita, IAM, AVC); 
o Conclusão: São terapias adjuvantes na 
hipertrigliceridemia ou em substituição a 
fibratos, niacina ou estatinas em pacientes 
intolerantes. 
 
Ácido Nicotínico (Niacina): 
o Mecanismo de ação: O ácido nicotínico reduz a 
ação da lipase tecidual nos adipócitos, levando a 
menor liberação de ácidos graxos livres para a 
corrente sangüínea, consequentemente, reduz-
se a síntese de TG pelos hepatócitos, diminuindo 
LDL e aumentando HDL; 
ECM FARMACOLOGIA CLÍNICA 
 
 Página 
16 
 
 ECM 
o Eficácia terapêutica: Reduz o LDL-C em 5% a 
25%, aumenta o HDL-C em 15 a 35% e diminui os 
triglicerídeos em 20 a 50%; 
o Efeitos colaterais: prurido; rubor; hiperglicemia; 
disfunção hepática; hiperuricemia; 
manifestações gastrintestinais; miopatias. 
 
Fibratos (derivados do ácido fíbrico): 
o Mecanismo de ação: Estimula os receptores 
nucleares denominados “receptores alfa 
ativados de proliferação dos peroxissomos” 
(PPAR-α). Esse estímulo leva a um aumento da 
produção e ação da lipase lipoprotéica (LPL), 
responsável pela hidrólise intravascular dos TG, 
e redução da Apo CIII, responsável pela inibição 
da LPL. O estímulo do PPAR- α pelos fibratos 
também leva a maior síntese da Apo AI, e 
conseqüentemente, de HDL. O menor influxo de 
ácidos graxos livres para o fígado acaba por 
diminuir a síntese de VLDL; 
o Farmacocinética: 
- Absorção: Boa absorção pelo TGI; 
- Distribuição: Alto grau de ligação à albumina; 
- Metabolismo: Hepático, via citocromo P450, 
interagindo com outras drogas que utilizam essa 
mesma via metabólica; 
- Excreção: Renal, após conjugação hepática 
com glicuronato; 
o Efeitos adversos (incomuns): distúrbios 
gastrintestinais; mialgia; astenia; litíase biliar 
(mais comum com clofibrato); Diminuição de 
libido; erupção cutânea e prurido; cefaléia; 
perturbação do sono; raramente, ↑de TGO/TGP 
e/ou CPK (reversível); teratogenicidade 
(proscrito em gestantes); 
o Interações medicamentosas: CUIDADO! 
Genfibrozila + estatinas; ajuste de dose em 
pacientes em uso de anticoagulante oral; 
o Eficácia terapêutica: Reduzem os níveis de 
triglicerídeos de 30 a 60%. No entanto, a 
redução será mais pronunciada quanto maior o 
valor basal da trigliceridemia. Aumentam o HDL-
C de 7 a 11%. Sua ação sobre o LDL-C é variável, 
podendo diminuí-lo, não modificá-lo ou até 
aumentá-lo. Vide figura 20. 
 
 
Figura 20 - Efeito dos fibratos sobre o HDL e os TGL 
 
ECM FARMACOLOGIA CLÍNICA 
 
 Página 
17 
 
 ECM 
IV. ANTIINFLAMATÓRIOS NÃO-
ESTERÓIDES (AINE): 
 
Os AINE são antiinflamatórios de amplo uso na 
prática clínica no tratamento de queixas músculo-
esqueléticas e articulares, e comumente tomados sem 
prescrição para dores de menor importância. No 
estudo dos AINE, primeiramente discutiremos seu 
mecanismo de ação, propriedades terapêuticas e 
efeitos adversos, e, a seguir, especificaremos os 
principais tipos de AINE utilizados na prática clínica. 
 
1. Mecanismo de Ação e Propriedades Terapêuticas 
dos AINE: 
 
Mecanismo de ação: Inibem a enzima araquidonato 
ciclooxigenase (COX). A COX é uma enzima bifuncional 
que exibe uma ação principal de ciclooxigenase, 
produzindo prostaglandinas (e tromboxanos) a partir 
do ácido araquidônico, e uma ação secundária de 
peroxidase, na conversão de prostaglandinas (PGG2em 
PGH2). 
O mecanismo molecular de inibição ainda está 
sendo elucidado, mas, com exceção do AAS que é 
inibidor irreversível da enzima, os demais AINE não 
inibem irreversivelmente a enzima. Vide figura 21. 
 
 
Figura 21 – Mecanismo de ação dos AINE 
 
Ações farmacológicas: 
Os AINE, em geral, apresentam três ações 
terapêuticas diferentes, todas determinadas, direta ou 
indiretamente, pela inibição de produção de 
prostaglandinas: 
o Efeito antipirético: inibe a elevação da 
temperatura; 
o Efeito analgésico: reduz certos tipos de dor; 
o Efeito antiinflamatório: modula a resposta 
inflamatória. 
Existem dois tipos de COX: COX-1, que é uma 
enzima constitutiva presente na maioria dos tecidos; e 
COX-2, cuja síntese é induzida por células inflamatórias 
ativadas. Portanto, a ação farmacológica 
antiinflamatória dos AINE é proporcionada pela 
inibição de COX-2, enquanto seus efeitos adversos são, 
principalmente, decorrentes da inibição de COX-1. 
Logo, fármacos mais seletivos para COX-2 costumam 
apresentar menores efeitos colaterais que os 
fármacos não-seletivos ou seletivos para COX-1. 
 
Efeito antipirético: 
O efeito antipirético dos AINE está relacionado à 
inibição da COX hipotalâmica produtora de PGE2 em 
resposta a pirógenos (IL-1 e TNF-α). Portanto, não 
diminui a temperatura em pacientes com temperatura 
normal, apenas previne o aumento de temperatura 
ou reverte este aumento provocado pela produção de 
PGE2 no termostato hipotalâmico. 
 
Efeito analgésico: 
São úteis no alívio da dor associada à 
inflamação ou à lesão tecidual, visto que diminuem a 
produção de prostaglandinas e mediadores 
inflamatórios que sensibilizam os nociceptores. São, 
portanto, eficazes em artrites, bursites, dismenorréia, 
miosites, vasculites e dor de dente; no entanto, não 
alteram a progressão da lesão patológica. 
Em combinação com opióides, os AINE podem 
ser úteis no manejo dar dor no pós-operatório, 
reduzindo a necessidade de opióides. 
O alívio da cefaléia parece estar relacionado com 
a abolição do efeito vasodilatador proporcionado pelas 
prostaglandinas sobre a vasculatura cerebral. 
 
Efeito antiinflamatório: 
Os AINE diminuem os componentes da resposta 
inflamatória e imune dependentes da ação da COX-2, 
ou seja, diminuem: vasodilatação; edema e dor. No 
entanto, não alteram o aporte de células 
inflamatórias para o sítio de inflamação e não 
modificam a história natural da lesão. 
 
“SÃO MEDICAMENTOS SINTOMÁTICOS, 
INESPECÍFICOS, NÃO INTERFERINDO NA 
HISTÓRIA NATURAL DAS DOENÇAS 
INFLAMATÓRIAS.” 
(Farmacologia Clínica. Fuchs e col. 2004) 
 
2. Efeitos Adversos do uso de AINE: 
 
Como já discutido anteriormente, o uso dos 
AINE, principalmente em altas doses e continuamente, 
promove o aparecimento de efeitos indesejáveis, 
principalmente relacionados à inibição da enzima 
ECM FARMACOLOGIA CLÍNICA 
 
 Página 
18 
 
 ECM 
constitutiva COX-1. Os efeitos adversos do uso de AINE 
podem ser classificados em: 
o Distúrbios gastrintestinais; 
o Lesões cutâneas; 
o Distúrbios renais; 
o Outros. 
 
Distúrbios gastrintestinais: 
Os distúrbios gastrintestinais são os efeitos 
indesejáveis mais comuns da terapia com AINE. São 
causados pela inibição da enzima constitutiva COX-1, 
que, no estômago, promove inibição da secreção 
ácida, ação protetora sobre a mucosa e modula o fluxo 
sanguíneo local. As manifetações mais comuns são: 
dispepsia; diarréia ou constipação; náuseas e 
vômitos. O uso crônico ainda pode levar à lesão 
gástrica com hemorragias e perfuração. 
 
Lesões cutâneas: 
As lesões cutâneas correspondem ao segundo 
efeito indesejável mais comum. São caracterizadas 
por: erupções leves; urticária; reações de 
fotossensibilidade. 
AINE mais associados: ácido mefenâmico; 
sulindaco. 
 
Distúrbios renais: 
Em indivíduos sem doença renal, a 
administração de AINE pouco ameaça a função renal. 
No entanto, pacientes suscetíveis (idosos e 
diabéticos) podem apresentar insuficiência renal 
aguda, decorrente da inibição de PGE2 e PGI2 
envolvidos na manutenção da dinâmica sanguínea 
renal. 
O uso crônico de AINE, principalmente o 
paracetamol, está associado a nefrite crônica e 
necrose papilar renal, configurando o quadro de 
nefropatia por analgésicos. 
 
Outros efeitos indesejáveis: 
o Distúrbios hepáticos; 
o Depressão de medula óssea (principalmente 
dipirona); 
o Equilíbrio hidroeletrolítico: Retenção de sódio e 
água, reduzindo ação de antihipertensivos; 
hipercalemia; 
o Broncoespasmo em asmáticos (sensíveis ao 
AAS). 
 
3. Propriedades dos principais AINE: 
 
Existe pouca diferença na eficácia dos AINE na 
população geral, de maneira que a principal diferença 
entre eles é a presença de efeitos indesejáveis. Para 
minimizar os efeitos indesejáveis do uso de AINE, 
pode-se adotar fármacos mais seletivos para a COX-2, 
como: Nimesulida; celecoxib; rofecoxib (vide figura 
22). 
 
 
Figura 22 – Seletividade dos COX2/COX1 dos AINE 
 
 
ECM FARMACOLOGIA CLÍNICA 
 
 Página 
19 
 
 ECM 
Ácido acetilsalicílico (AAS): 
o Inibidor irreversível não-seletivo da COX; 
o Utilizado também por sua ação antiagregante 
plaquetária em baixas doses; 
o Dose analgésica: 500 mg até de 6 em 6 horas; 
o Dose antiinflamatória muito elevada (> 4 g/dia): 
Acima da dose máxima segura, havendo alto 
risco de toxicidade; 
o Efeitos adversos: 
- Distúrbios gastrintestinais (inclusive 
hemorragia): Mesmo em dose terapêutica; 
- Broncoespasmo em asmáticos sensíveis; 
- Erupções cutâneas; 
- ↑ Tempo de Sangramento (2x em até 7 dias): 
Em doses ≥ 650 mg/dia; 
- ↓ Ferro sérico e sobrevida da hemácia; 
- Doses Altas: Salicilismo*1; 
- Doses Tóxicas: Distúrbios ácido-básicos*2; 
- Síndrome de Reye*3; 
- Interação com varfarina (potencializa efeito 
anticoagulante, o que aumenta risco de 
sangramento). 
 
*1Salicilismo: Síndrome que consiste em zumbido, 
vertigem, perda auditiva, náuseas e vômitos; 
decorrente da ingestão de altas doses de AAS. 
 
*2Distúrbios ácido-básicos: Os salicilatos em doses 
tóxicas desacoplam a fosforilação oxidativa 
(principalmente nos músculos), aumentando o 
consumo de O2 e a produção de CO2, causando 
hiperventilação. A hiperventilação, tanto por acúmulo 
de CO2 quanto por ação direta dos salicilatos no 
centro respiratório, provoca alcalose respiratória, que, 
devido aos mecanismos de compensação renal, torna-
se alcalose respiratória compensada. Doses ainda 
maiores podem causar depressão do centro 
respiratório, verificando-se acidose respiratória, que 
pode se complicar com acidose metabólica (devido ao 
acúmulo ácido de piruvato, lactato, acetoacetato e do 
próprio salicilato). O distúrbio mais comum em 
adultos é a alcalose respiratória, enquanto que nas 
crianças é a acidose metabólica (por provável 
imaturidade hepática). 
 
*3 Síndrome de Reye: Distúrbio hepático e 
encefalopatia observados em crianças com gripe ou 
varicela em uso de salicilatos. 
 
Paracetamol (Acetaminofeno): 
o Excelente efeito analgésico e antipirético. No 
entanto, apresenta baixo efeito 
antiinflamatório; 
o Doses: 500 e 750mg. Dose máxima: 4 g/dia; 
o Metabolismo: Hepático, conjugação com sulfato 
e glicuronídio; 
o Efeitos adversos: 
- Dose terapêutica (raros): reações cutâneas 
alérgicas; 
- Dose alta: Em uso regular, aumenta risco de 
lesão renal (nefropatia por analgésicos); 
- Dose tóxica*4 (2-3x dose terapêutica): 
distúrbios gastrintestinais iniciais (náuseas, 
vômitos, anorexia e dor abdominal); 
Hepatotoxicidade e nefrotoxicidade (efeitos 
tardios do acúmulo de metabólito tóxico). 
 
*4 Intoxicação por paracetamol: A intoxicação ocorre 
quando as enzimas hepáticas responsáveis pela 
conjugação do paracetamol estão saturadas, fazendo 
com que o excesso de fármaco seja metabolizado pelas 
oxidases de função mista, cujo metabólito resultante 
(n-acetil-p-benzoquinona imina) é tóxico e deve ser 
inativado por conjugação com glutation. Na deficiência 
de glutation, o metabólito tóxico se acumula e causa 
necrose no fígado e nos túbulos renais. 
o Tratamento:Reposição dos estoques de 
glutation com n-acetilcisteína; lavagem gástrica 
com carvão ativado. 
 
 
Figura 23 – Metabolismo hepático do paracetamol 
 
Dipirona: 
o Excelente efeito analgésico e antipirético. No 
entanto, apresenta baixo efeito 
antiinflamatório; 
o Grupo: Derivado de Pirazolona; 
o Doses: 500 mg até de 6 em 6 horas; 
o Reações adversas: Alergia; depressão da 
medula óssea (leucopenia isolada ou associada 
a plaquetopenia). 
 
ECM FARMACOLOGIA CLÍNICA 
 
 Página 
20 
 
 ECM 
Ibuprofeno: 
o Potente antiinflamatório pouco seletivo para 
COX-1; 
o Doses: 200 a 400 mg a cada 4 ou 6 horas. Dose 
máxima: 1200 mg/dia; 
o Metabolismo: Hepático; 
o Reações adversas: Inerentes a todos os AINE, 
mas principalmente distúrbios gastrintestinais 
(náuseas, dor epigástrica, pirose, cólica 
abdominal, vômitos) e lesões cutâneas (rash 
cutâneo e prurido). 
 
Perguntas frequentes: 
o São os AINE mais eficazes analgésicos que 
paracetamol? 
R: Não há evidência de que AINE sejam mais 
eficazes que paracetamol em síndromes 
dolorosas agudas músculo-esqueléticas. 
o Há diferenças de eficácia antiinflamatória entre 
AINE? 
R: Não há diferença de eficácia entre AINE. 
o Uso de altas doses determina aumento de 
eficácia antiinflamatória? 
R: Altas doses não determinam maior resposta 
terapêutica, pois há efeito teto para a eficácia. 
o Uso de dois AINE aumenta o efeito 
antiinflamatório? 
R: Interações entre AINE não determinam maior 
eficácia. 
o AINE tópicos têm eficácias similares a dos AINE 
sistêmicos? 
R: O real benefício da administração tópica 
permanece incerto. 
 
ECM FARMACOLOGIA CLÍNICA 
 
 Página 
21 
 
 ECM 
V. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DA 
GOTA: 
 
1. Fisiopatologia e Introdução ao Tratamento da Gota: 
 
PASSO 1 - DEFINIR O PROBLEMA DO PACIENTE 
 
A gota é uma doença metabólica caracterizada 
por um distúrbio no metabolismo das purinas, 
havendo acúmulo de ácido úrico no organismo. 
Manifesta-se clinicamente por crises intermitentes de 
artrite aguda, provocadas pela deposição de cristais de 
urato de sódio no tecido sinovial das articulações, o 
que desencadeia inflamação local. 
Locais mais frequentemente acometidos: 
o Sinóvia; 
o Cartilagem das articulações periféricas; 
o Bursa olecraneana; 
o Hélice da orelha. 
 
Hiperuricemia: Presença de altos níveis de ácido úrico 
no sangue (homens  6,8 mg/dL – mulheres > 6 
mg/dL). 
o Praticamente todos os pacientes com gota têm 
hiperuricemia, mas nem todos os pacientes com 
hiperuricemia têm gota, o que evidencia a 
necessidade de outros fatores na gênese da 
doença. 
 
Ácido Úrico: Produto de degradação de compostos de 
purina. Apresenta solubilidade de aproximadamente 7 
mg/dL a 37ºC. 
o Excreção: Renal; principal forma de eliminação 
(cerca de 2/3) – 250 a 750 mg/24 h; 
o Tem sua produção associada à alimentação. 
 
 
Figura 24 – Metabolismo das Purinas 
 
Formas Clínicas: 
o Hiperuricemia assintomática (fator de risco 
para gota); 
o Artrite aguda: Geralmente em uma articulação 
dos membros inferiores. Costuma se resolver em 
alguns dias mesmo sem tratamento; 
o Gota crônica: Envolvimento poliarticular 
destrutivo e deformante, e com formação de 
tofos. 
 
Fatores de risco: 
o Hiperuricemia; 
o Drogas; 
o Obesidade; 
o Hipertensão arterial sistêmica; 
o Hipertrigliceridemia; 
o Hiperglicemia; 
o Consumo de álcool; 
o Polimorfismos em genes familiares. 
 
Causas: 
o Primária; 
o Secundárias: 
- Uso de medicamentos; 
- Intoxicação por chumbo; 
ECM FARMACOLOGIA CLÍNICA 
 
 Página 
22 
 
 ECM 
- Excreção renal diminuída (doença renal 
crônica, hipotireoidismo, hipertensão, 
hiperparatireoidismo); 
- Erros inatos do metabolismo; 
- Neoplasias mieloproliferativas e 
linfoproliferativas. 
 
PASSOS 2 E 3 - ESPECIFICAR O OBJETIVO 
TERAPÊUTICO E VERIFICAR SE O SEU TRATAMENTO É 
ADEQUADO PARA O PACIENTE EM QUESTÃO 
 
O objetivo terapêutico depende da forma clínica 
apresentada pelo paciente. Para todos os pacientes, no 
entanto, devem ser incentivadas mudanças no estilo 
de vida (com dieta e exercícios físicos moderados). Na 
gota de causa secundária, quando possível, deve ser 
feito também o tratamento da causa de base. 
 
Hiperuricemia assintomática: Não deve ser tratada, 
exceto: 
o Pacientes em tratamento por malignidade; 
o Pacientes com hiperuricemia > 13 mg/dL com 
altas taxas de excreção de urato (risco de 
nefrolitíase). 
 
Artrite aguda: O tratamento da artrite aguda é 
sintomático, e não altera a história natural da doença: 
o Medidas gerais (repouso relativo; elevação do 
membro afetado; aplicação de gelo local); 
o AINE; 
o Colchicina; 
o Corticoterapia. 
 
Gota crônica: O tratamento da gota crônica visa a 
prevenção de recorrências, a partir de uma terapia que 
objetiva reduzir a concentração sérica de urato para 
um nível abaixo do ponto de saturação (7 mg/dL  300 
µmol/L – ideal seria < 6 mg/dL). O tratamento 
farmacológico estará indicado em caso de: 
o Doença recorrente (>2 crises por ano); 
o Artropatia crônica; 
o Gota tofácea; 
o Cálculos de ácido úrico ou doença renal. 
Os fármacos utilizados para o tratamento 
crônico são: 
o Alopurinol; 
o Agentes uricosúricos (probenecida; 
sulfimpirazona; benzobromarona). 
o SALICILATOS NÃO DEVEM SER UTILIZADOS 
(suas doses uricosúricas são muito elevadas e 
pouco seguras). 
 
*Obs.: A profilaxia secundária (e tratamento da gota 
crônica) deve ser iniciada 1 a 2 semanas após a 
resolução da crise aguda. O tratamento com AINE ou 
colchicina deve permanercer por 3 a 6 meses após a 
resolução da crise aguda para evitar novas crises. 
Eventuais crises durante o tratamento crônico devem 
ser normalmente tratadas sem a descontinuação da 
medicação redutora de urato. 
 
2. Fármacos utilizados no tratamento da artrite aguda: 
 
PASSOS 4 E 5 - FAZER A PRESCRIÇÃO E FORNECER 
INFORMAÇÕES, INSTRUÇÕES E RECOMENDAÇÕES 
 
Para proceder à prescrição e ao aconselhamento 
do paciente quanto ao tratamento a ser empregado, 
seus riscos e benefícios, mecanismos de ação, efeitos 
colaterais e orientações de administração, o médico 
deve conhecer as classes farmacológicas a serem 
empregadas, bem como suas indicações e 
características. 
 
Antiinflamatórios não-esteroidais (AINE): Os AINE são 
altamente eficazes no tratamento da crise aguda por 
suas propriedades analgésicas e antiinflamatórias. 
o O tratamento deve ser iniciado imediatamente; 
o Os AINE mais indicados são: indometacina; 
naproxeno; sulindaco; celecoxibe e etoricoxibe 
(sendo este dois últimos seletivos para COX-2); 
o OS SALICILATOS EM BAIXA DOSE CAUSAM 
RETENÇÃO DE URATO, E NÃO DEVEM SER 
UTILIZADOS. 
 
Colchicina: Apresenta efeito específico na artrite 
gotosa, por inibir a migração dos neutrófilos para a 
articulação. Também pode ter aplicação em profilaxia 
secundária, no entanto, seu uso contínuo deve ser 
evitado devido a sua toxicidade. 
o Mecanismo de ação: Liga-se à tubulina, 
resultando na despolimerização de microtúbulos 
e interferindo na motilidade celular de 
neutrófilos, que passam a assumir “andar de 
bêbado”; 
o Farmacocinética: É bem absorvida por via oral. É 
excretada predominantemente por via biliar, e 
em parte pela urina (10-20%); 
o Efeitos adversos: distúrbios gastrintestinais 
(náuseas, vômitos, dor abdominal e diarréia); 
redução da temperatura corporal; depressão do 
centro respiratório; estimulação vasomotora 
central (induz hipertensão). 
 
Corticoterapia: 
o Apresenta eficácia semelhante aos AINE, no 
entanto são necessárias altas doses. Os 
corticóides de escolha são a prednisona e a 
metilprednisolona; 
o A injeção intra-articular de corticóides tem 
melhor efeito na crise monoarticular de grandes 
ECM FARMACOLOGIA CLÍNICA 
 
 Página 
23 
 
 ECM 
articulações quando comparada com 
indometacina. 
 
3. Fármacos utilizados no tratamento crônico: 
 
Os fármacos utilizados no tratamento crônico da 
gota atuam diretamente diminuindo a hiperuricemia: 
o Inibindo a síntese de ácido úrico (alopurinol); 
o Aumentandoa excreção de ácido úrico (agentes 
uricosúricos: probenecida, sulfimpirazona, 
benzobromarona). 
 
Alopurinol: 
o Mecanismo de Ação: Inibidor competitivo da 
enzima Xantina oxidase (XO) em baixas doses, e 
não competitivo em altas doses, inibindo a 
síntese de ácido úrico, e promovendo acúmulo 
de xantina e hipoxantina, produtos mais solúveis 
e mais excretados na urina. Vide fig. 24. Seu 
metabólito, oxipurinol, também apresenta 
atividade inibitória; 
o Farmacocinética: Apresenta boa absorção por 
via oral; não se liga a proteínas plasmáticas e 
apresenta meia-vida curta, mas seus efeitos são 
prolongados por seu metabólito ativo 
(oxipurinol) de meia-vida mais longa, o que 
permite prescrição com dose única diária; 
apresenta excreção pela urina com reabsorção 
tubular sensível à probenecida; 
o Efeitos adversos: distúrbios gastrintestinais; 
reações alérgicas; pequeno risco de cálculos por 
xantina; 
o Interações medicamentosas: Inibe a ativação da 
mercaptopurina e azatioprina pela XO; inibe o 
metabolismo hepático da varfarina, aumentando 
seu efeito anticoagulante; 
o É o tratamento de primeira linha contra 
hiperuricemia!! A dose deve ser aumentada 
progressivamente. 
 
Agentes Uricosúricos: Os agentes uricosúricos são 
fármacos que aumentam a excreção de ácido úrico 
através da inibição da reabsorção tubular de urato. 
o Indicação: Estão indicados para pacientes com 
uricosúria < 700 mg/24h; 
o Benefícios: Regressão no tamanho dos tofos, e 
prevenção da formação de novos tofos; 
Os três exemplos clássicos são: Probenecida; 
sulfimpirazona; e benzobromarona: 
o Probenecida: Droga relativamente bem 
tolerada, podendo causar leve irritação 
gastrintestinal, sendo necessária certa cautela 
em pacientes com úlcera péptica. É ineficaz no 
tratamento em pacientes com insuficiência renal 
(clearance de creztinina < 50 ml/min); 
o Sulfimpirazona: Também ineficaz em pacientes 
com insuficiência renal, e ainda mais irritativo da 
mucosa gastrintestinal; interfere no 
metabolismo das sulfoniluréias e varfarina; inibe 
função plaquetária; liga-se à albumina e desloca 
outros fármacos; 
o Benzobromarona: Isoladamente é o mais eficaz 
(inclusive em comparação com o alopurinol); 
apresenta eliminação biliar, sendo o mais seguro 
em pacientes com insuficiência renal, no 
entanto, pode apresentar hepatotoxicidade. 
Apresenta melhor comodidade posológica, 
podendo ser prescrito com dose diária única (os 
demais são prescritos em 2 doses diárias). 
 
Dieta na Hiperuricemia (SBR, 2009): 
Há muitos mitos a respeito de dieta e gota. 
Eis os fatos: 
1. A obesidade pode estar ligada a altos níveis 
de ácido úrico no sangue. Se você estiver acima do 
peso, estabeleça com seu médico um programa de 
perda de peso. Não permaneça em jejum, nem tente 
fazer dieta muito restritiva, pois isso pode aumentar 
seus níveis de ácido úrico e piorar a gota. Se não 
estiver acima do peso, monitore cuidadosamente sua 
dieta a fim de evitar ganho de peso. 
2. Em geral você pode comer o que quiser com 
moderação. Se tiver cálculos renais devido ao ácido 
úrico, pode ser necessário evitar ou limitar alimentos 
que aumentem os níveis de ácido úrico, como os 
enumerados abaixo. Converse com seu médico ou 
com o nutricionista a respeito dos alimentos a serem 
evitados. 
3. Você pode tomar café e chá, mas deve limitar 
a quantidade de álcool que ingere. O álcool em 
excesso, especialmente a cerveja, o vinho e outros 
podem aumentar seus níveis de ácido úrico e 
desencadear um episódio de gota, por isso, caso você 
beba, não deixe de comunicar ao seu médico. 
4. Tome pelo menos 10 a 12 copos de 250 
mililitros de líquido não-alcoólico por dia, 
especialmente se tiver cálculos renais. Isso vai ajudar 
a eliminar os cristais de ácido úrico do seu organismo. 
 
Certos alimentos podem aumentar os níveis de 
ácido úrico. Para balancear sua dieta, consulte o 
nutricionista. Pode ser necessário reduzir as 
quantidades ingeridas dos seguintes alimentos: 
• Sardinhas, anchovas e frutos do mar 
• Aves domésticas e carnes 
• Miúdos (rim, fígado) 
• Legumes (feijão, soja, ervilha) 
 
 
ECM FARMACOLOGIA CLÍNICA 
 
 Página 
24 
 
 ECM 
VI. CORTICOTERAPIA: 
 
1. Fisiologia do Córtex Adrenal e Ação dos 
Glicocorticóides: 
 
Para melhor compreensão de suas propriedades 
terapêuticas e de seus efeitos indesejáveis, deve-se 
conhecer a fisiologia normal de regulação da síntese, 
transporte e ação dos glicocorticóides. 
 
Síntese e liberação de glicocorticóides pela adrenal: 
Os glicocorticóides são hormônios endógenos 
sintetizados e liberados continuamente (sem 
armazenamento), principalmente, em resposta ao 
hormônio corticotrópico hipofisário (ACTH). A secreção 
de ACTH, por sua vez, é regulada, em parte, pelo fator 
de liberação de corticotropina hipotalâmico (CRF), e 
em parte, pelo nível de glicocorticóides no sangue 
(feedback negativo). 
 
 
Figura 25 – Eixo Hipotálamo-hipófise-adrenal 
 
A concentração sanguínea de glicocorticóides 
endógenos apresenta um ritmo circadiano, com 
maiores níveis pela manhã (por volta de 8 horas) e 
menores níveis pela noite (por volta de meia-noite), 
seguindo também o ritmo de liberação hipofisário de 
ACTH. 
 
 
Figura 26 – Ritmo circadiano de secreção de ACTH e 
glicocorticóides 
 
Vale destacar que outros fatores também 
regulam a secreção de glicocorticóides, e estimulam 
sua liberação, como: emoções, excesso de calor e frio, 
lesões e infecções; que, em conjunto, podem ser 
traduzidos como estresse fisiológico. 
 
Transporte: 
Os glicocorticóides endógenos são transportados 
no plasma ligados reversivelmente à CBG 
(transcortina) e à albumina. A CBG possui alta 
afinidade de ligação para os glicocorticóides 
endógenos, porém exibe baixa capacidade de ligação 
total, e não se liga aos corticóides sintéticos. Já a 
albumina liga-se tanto a corticóides endógenos quanto 
exógenos, apresenta menor afinidade de ligação, 
porém maior capacidade total de ligação (por sua alta 
concentração plasmática). 
Vale destacar que os corticóides ligados a 
proteínas plasmáticas, embora estejam em equilíbrio 
químico com a fração livre, não apresentam atividade 
biológica. 
 
Mecanismo de Ação: 
Para determinar seus efeitos, os glicocorticóides 
precisam atingir seus receptores no citoplasma celular. 
Por serem pequenas moléculas lipofílicas, apresentam 
alta capacidade de difusão passiva pela membrana 
celular. No citoplasma, interagem com receptores 
citoplasmáticos, formando o complexo esteróide-
receptor que segue em direção ao núcleo em pares 
(dímero) para alterar a expressão gênica, induzindo a 
síntese de determinadas proteínas e inibindo a síntese 
de outras. Os principais efeitos dos glicocorticóides são 
explicados pela alteração na síntese protéica. 
 
Ações dos glicocorticóides: 
o Efeitos metabólicos e sistêmicos; 
o Efeitos antiinflamatórios e imunossupressores; 
o Efeito de retroalimentação negativa. 
 
Efeitos metabólicos e sistêmicos: 
Os efeitos metabólicos são produzidos por 
estímulo gênico a síntese de proteínas diversas, a 
maioria relacionada com a quinase de AMPc (PKA), 
determinando ações, principalmente, no metabolismo 
intermediário: 
o Metabolismo dos carboidratos: Diminui a 
captação e utilização de glicose e estimula a 
gliconeogênese, levando à hiperglicemia. 
Estimula ainda a glicogênese hepática (efeito 
mediado pela insulina secretada em resposta à 
hiperglicemia); 
o Metabolismo das proteínas: Reduz a síntese 
protéica e estimula sua degradação, 
principalmente muscular, fornecendo 
aminoácidos para a gliconeogênese; 
ECM FARMACOLOGIA CLÍNICA 
 
 Página 
25 
 
 ECM 
o Metabolismo dos lipídios: Apresenta ação 
permissiva sobre o efeito lipolítico das 
catecolaminas e GH, havendo lipólise com 
liberação de ácidos graxos (AG) e glicerol, 
substrato para a gliconeogênese. Os adipócitos 
de cada região reagem de forma diferente aos 
glicocorticóides e à insulina, sendo que os 
periféricos são mais sensíveis aos 
glicocorticóides e os dotronco são mais 
sensíveis à insulina. Altas doses por tempo 
prolongado, portanto, promovem redistribuição 
da gordura, caracterizando a obesidade central e 
gibosidade; 
o Ação mineralocorticóide (EHE): Em níveis supra-
fisiológicos, ocupam também os receptores 
mineralocorticóides, promovendo retenção de 
Na+ e perda de K+; 
o Metabolismo Ósseo: Diminui a absorção 
intestinal de Ca+2 (antagoniza a ação da vitamina 
D3) e aumenta sua excreção renal (favorecendo 
a osteoporose); 
o Outros: 
- Estimula a produção gástrica de ácido e 
pepsina; 
- Aumenta o número de hemácias e plaquetas; 
- Estimula a síntese de surfactante pulmonar, 
estimulando a maturação pulmonar fetal. 
 
Efeitos antiinflamatórios e imunossupressores: 
Os efeitos antiinflamatórios e 
imunossupressores dos glicocorticóides decorrem de 
sua ação inibitória sobre a síntese de proteínas 
inflamatórias, como: COX-2; citocinas inflamatórias; 
moléculas de adesão celular; sintetase do óxido nítrico. 
Importante ação antiinflamatória também é creditada 
à produção de lipocortina-1, estimulada pelos 
corticóides, que inibe a fosfolipase A2, responsável pela 
síntese de ácido araquidônico (precursor de 
prostaglandinas e leucotrienos inflamatórios). Suas 
ações resumem-se a: 
o Vasoconstrição e redução da permeabilidade 
vascular; 
o Diminuição do aporte de células inflamatórias 
para sítios de inflamação; 
o Diminuição da ação e proliferação de células T; 
o Diminuição da função de fibroblastos na 
cicatrização e reparo tecidual; 
o Produção diminuída de prostanóides (inibição da 
síntese de COX-2 e inibição da fosfolipase A2, via 
lipocortina-1); 
o Redução na síntese de citocinas inflamatórias; 
o Redução na concentração plasmática de 
componentes do sistema complemento; 
o Redução na síntese de óxido nítrico induzido; 
o Redução na liberação de histamina por basófilos; 
o Produção diminuída de IgG. 
Fisiologicamente, essas ações apresentam 
importância nas respostas agudas a infecções, traumas 
e inflamação sistêmica, limitando as respostas de 
defesa do organismo que poderiam ameaçar a 
homeostasia. 
A poderosa ação dos glicocorticóides como 
antiinflamatórios e imunossupressores corresponde a 
sua principal importância farmacológica a ser estudada 
posteriormente. 
 
Efeitos de retroalimentação negativa: 
Os glicocorticóides, tanto endógenos quanto 
exógenos, exercem efeito inibitório sobre a secreção 
de CRF e ACTH, correspondendo, respectivamente, às 
alças longa e curta de feedback negativo, que limitam 
sua secreção. Este efeito inibitório apresenta grande 
importância farmacológica, pois a supressão do eixo 
hipotálamo-hipófise-adrenal, provocado por longas 
terapias com altas doses, pode necessitar de meses 
pós-terapia para a recuperação da capacidade de 
síntese endógena de glicocorticóides. 
 
2. Farmacologia dos Glicocorticóides: 
 
Os glicocorticóides apresentam importância 
clínica notavelmente por suas propriedades 
antiinflamatórias e imunossupressoras, e na terapia de 
reposição hormonal, em pacientes com deficiência de 
cortisol, como na insuficiência adrenal e hiperplasia 
adrenal congênita. 
 
Vias de administração: 
Os glicocorticóides podem ser administrados 
através de diversas vias: 
o Via oral; 
o Via parenteral (IV ou IM); 
o Via tópica: Associada a efeitos adversos 
ausentes ou muito menores (exceto a atrofia 
cutânea em uso contínuo de corticóide tópico). 
 
 Corticoterapia sistêmica: 
 
O alvo de estudo, a partir de agora será a 
corticoterapia sistêmica (por VO ou parenteral), devido 
a importância clínica do conhecimento de seus 
princípios farmacológicos. 
 
Critérios para o início da terapia sistêmica crônica 
com glicocorticóide: 
o Iniciar somente se existem evidências clínicas 
estabelecidas na literatura do seu benefício 
terapêutico (vide lista abaixo); 
o Utilizar somente frente à falência de outras 
terapias específicas; 
o Identificar um objetivo terapêutico específico; 
o Utilizar critérios de resposta objetivos; 
ECM FARMACOLOGIA CLÍNICA 
 
 Página 
26 
 
 ECM 
o Administrar as menores doses possíveis no 
menor tempo possível para obter a resposta 
desejada. 
 
Indicações do uso de corticoterapia sistêmica 
segundo nível de evidência: 
- Benefício definido: 
o Meningite bacteriana inespecífica (redução da 
perda auditiva); 
o Lesão medular aguda (redução de sequelas 
neurológicas); 
o Asma aguda (diminuição de hospitalização e de 
exacerbações agudas); 
o Extubação de recém-nascidos (menor 
necessidade de reintubações); 
o Tratamento agudo do crupe (melhora nos 
escores de gravidade); 
o Pneumonia por P. jirovecii (menor gravidade); 
o Curso único de corticóide em doença da 
membrana hialina (redução de morte, síndrome 
da angústia respiratória, hemorragia 
intraventricular, enterocolite necrosante, 
hiperbilirrubinemia neonatal); 
o Síndrome nefrótica com lesões mínimas em 
crianças (menor número de recaídas); 
- Benefício provável: 
o Polimialgia reumática e arterite temporal; 
o Hepatite auto-imune; 
o Púrpura trombocitopênica auto-imune; 
o Paralisia de Bell; 
o Exacerbação aguda de doença pulmonar 
obstrutiva crônica; 
o Hepatite crônica ativa; 
o Nefropatia IgA; 
o Anafilaxia e reações alérgicas graves; 
o Transplante de fígado; 
o Artrite gotosa aguda; 
- Benefício desconhecido: 
o Traumatismo craniano e edema cerebral; 
- Avaliação risco/benefício: 
o Artrite reumatóide; 
o Sarcoidose pulmonar; 
o Meningite tuberculosa; 
o Doença da membrana hialina (múltiplas doses 
de corticóide); 
o Ruptura prematura de placenta; 
o Doença de Crohn; 
o Dermatite atópica; 
- Sugerida ineficácia (maior risco que benefício): 
o Síndrome da angústia respiratória do adulto; 
o Otite média com perda de audição; 
o Nefropatia membranosa idiopática; 
o Síndrome da fadiga crônica; 
o Piodermite gangrenosa. 
 
Considerações a serem feitas antes do início da 
corticoterapia sistêmica: 
o Qual a gravidade da doença de base? 
o Para quanto tempo está previsto o tratamento? 
o Qual a preparação do glicocorticóide a ser 
empregada? 
o Qual a dose terapêutica mínima efetiva? 
o Existe predisposição para efeitos adversos? 
o Há como associar outras drogas, visando reduzir 
a dose do glicocorticóide e, consequentemente, 
seus efeitos indesejáveis? 
o O esquema pode ser usado em dias 
alternados*1? 
 *1. A terapia em dias alternados reduz os efeitos 
indesejáveis da corticoterapia sistêmica. 
 
 
Escolha do corticóide sistêmico: 
 
Fármaco Potência 
Antiinflamatória 
Potência 
Mineralocorticóide 
Meia-vida 
biológica 
(horas) 
Duração da 
ação 
terapêutica 
Dose 
Equivalente 
Cortisol (HC) 1 1 8 – 12 Curta 20 
Cortisona 0,8 0,8 8 – 12 Curta 25 
Prednisona 4 0,8 12 - 36 Intermediária 5 
Prednisolona 4 0,8 12 – 36 Intermediária 5 
Metilprednisolona 5 Mínima 12 – 36 Intermediária 4 
Triamcinolona 5 Nenhuma 12 – 36 Intermediária 4 
Betametasona 20-30 Desprezível 24 – 72 Prolongada 0,75 
Dexametasona 20-30 Mínima 24 – 72 Prolongada 0,75 
Tabela – Principais corticóides sistêmicos de uso clínico 
 
Efeitos adversos: 
Quando utilizados como antiinflamatórios e 
imunossupressores, todos os seus efeitos metabólicos 
passam a ser tratados como efeitos adversos, visto que 
o objetivo terapêutico é exclusivamente a inibição da 
resposta inflamatória, e não existem glicocorticóides 
ECM FARMACOLOGIA CLÍNICA 
 
 Página 
27 
 
 ECM 
seletivos para tal ação. Segue abaixo extensa lista de 
efeitos adversos, muitos destes já foram discutidos a 
cerca da ação fisiológica dos glicocorticóides. Os mais 
frequentes e importantes serão discutidos com 
maiores detalhes: 
- Cardiovasculares e renais (decorrentes da ação 
mineralocorticóide): 
o Hipertensão arterial; 
o Insuficiência cardíaca congestiva; 
- Gastrintestinais: 
o Esofagite, gastrite, dispepsia, úlcera péptica; 
o Hemorragia gástrica; 
o Perfuração intestinal; 
o Pancreatite; 
- Neuropsiquiátricos: 
o Alterações psiquiátricas; 
o Pseudotumor cerebral; 
o Hipertensão intracraniana; 
-Oculares: 
o Glaucoma; 
o Catarata subcapsular posterior; 
o Infecções; 
- Músculoesqueléticos: 
o Osteoporose e fraturas; 
o Necrose óssea asséptica (cabeça do fêmur); 
o Miopatias e cãibras; 
- Endocrinometabólicos: 
o Indução de diabetes; 
o Hiperlipidemia; 
o Coma cetônico hiperosmolar; 
o Retenção de sódio e hipocalemia; 
o Alcalose; 
o Balanço negativo de cálcio e nitrogênio; 
o Hirsutismo; 
o Inibição do crescimento; 
o Alterações menstruais, amenorréia secundária, 
menopausa precoce; 
o Impotência; 
o Inibição do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal; 
o Insuficiência adrenal secundária; 
o Síndrome de Cushing iatrogênica; 
o Obesidade central; 
- Alterações imunológicas: 
o Supressão ou diminuição da resposta 
inflamatória da hipersensibilidade tardia; 
o Neutrofilia, linfocitopenia e monocitopenia; 
o Maior suscetibilidade às infecções; 
o Recidivar tuberculose e estrongiloidíase graves; 
- Cutâneos: 
o Retardo na cicatrização; 
o Atrofia do subcutâneo; 
o Estrias; 
o Púrpura; 
o Equimoses; 
o Petéquias; 
o Paniculites; 
o Acne; 
o Pletora; 
- Vasculares: 
o Vasculites; 
o Tromboembolismo; 
o Aceleração da aterosclerose; 
- Pseudo-reumatismo cortisônico. 
 
Síndrome de Cushing Iatrogênica: 
O excesso prolongado de glicocorticóides pode 
levar ao quadro de síndrome de Cushing, caracterizado 
pela exacerbação dos efeitos fisiológicos do hormônio. 
Vide figura 27. 
 
 
Figura 27 – Síndrome de Cushing 
 
Osteoporose: 
Os glicocorticóides inibem a indução dos genes 
induzidos pela vitamina D3, diminuindo a absorção 
intestinal de Ca+2 e aumentando sua excreção renal. 
Além disso, inibe a ativação dos osteoblastos como 
sintetizadores da matriz óssea e sua síntese de 
colágeno, e estimulam, indiretamente, a atividade dos 
osteoclastos (por aumento da secreção de 
paratormônio em resposta a hipocalcemia). O efeito 
final é o estímulo a um processo de degradação da 
matriz óssea (osteoporose), podendo ser causa de 
fraturas, principalmente em idosos. 
 
 
ECM FARMACOLOGIA CLÍNICA 
 
 Página 
28 
 
 ECM 
Insuficiência adrenal aguda e supressão do eixo: 
A suspensão abrupta de uma corticoterapia 
pode levar a insuficiência adrenal aguda, devido à 
supressão do eixo durante o tratamento prolongado, o 
que determina pouca ou nenhuma resposta da adrenal 
após a suspensão da droga. A resposta adrenal é 
especialmente importante em situações de estresse, e, 
portanto, o paciente pode precisar de suplementação 
de glicocorticóides nessas situações. 
A crise aguda de insuficiência suprarenal 
manifesta-se por: 
o Hipotensão e choque; 
o Hipertermia; 
o Desidratação; 
o Taquicardia; 
o Náuseas e vômitos; 
o Anorexia; 
o Fraqueza e apatia; 
o Hipoglicemia; 
o Confusão mental; 
o Desorientação. 
O tratamento desta condição deve ser a 
reposição de corticóide e medidas gerais de 
tratamento sintomático. Para evitar a ocorrência do 
quadro, é aconselhável a retirada gradual do 
medicamento (desmame). 
 
Fatores que influenciam na supressão do eixo*1: 
o Dose total a ser usada: Baixa x Alta; 
o Tempo de tratamento: Curto x Prolongado; 
o Fracionamento da dose: Única x Múltipla; 
o Horário da administração: Manhã x Noite; 
o Frequência: Dias Alternados x Diária; 
o Duração da ação: Curta x Intermediária x Longa. 
*1. Os valores sublinhados correspondem ao ideal 
terapêutico para prevenção da supressão do eixo. 
 
Considerações gerais quanto ao manuseio dos 
Corticosteróides: 
- Tomando como base a Prednisona: 
o Doses equivalentes a 40 mg/dia (8x o nível 
fisiológico), por mais de uma semana, resultam 
em supressão do eixo HHA; 
o Doses < 20 mg/dia promovem supressão do 
eixo somente após 30 dias de uso; 
- Sobre o tempo de recuperação do eixo HHA: 
o Pode variar de 2 meses a 1 ano, se usadas doses 
≥ 40 mg/dia, por períodos > 3 meses; 
o Não está bem estabelecido, se usadas doses < 
20 mg/dia, por períodos de 2 a 4 semanas.

Outros materiais