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Gramática_Histórica_aula.04

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4.Gramática Histórica
Socorro Brandão
COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de Gramática Histórica. Rio de Janeiro: Ao livro Técnico, 2005.
TEYSSIER, Paul. História da língua portuguesa.Lisboa: Sá da Costa, 1985.
http://www.ebah.com.br/content/ABAAAfI84AC/paul-teyssier-historia-lingua-portuguesa-pdf-rev#ixzz21O5eWdh0
63. A língua portuguesa proveio do latim vulgar que os romanos introduziram na Lusitânia, região situada ao ocidente da Península Ibérica. 
Pode-se afirmar, com mais propriedade, que o português é o próprio latim modificado. É lícito concluir, portanto, que o idioma falado pelo povo romano não morreu, como erradamente se assevera, mas continua a viver, transformado no grupo de línguas românicas ou novilatinas.
As circunstâncias históricas, em que se criou e desenvolveu o nosso idioma, estão intimamente ligadas a fatos que pertencem à história geral da Península. 
Vários povos antes dos romanos nela se haviam fixado. Se depois do estabelecimento destes na região é fácil acompanhar os acontecimentos que aí se desenrolaram, o mesmo não acontece no período precedente. 
64. Com efeito, é bastante confusa a história da Península antes da conquista romana. As investigações feitas através da arqueologia, etnologia e linguística levam-nos a concluir que dois povos primitivamente habitaram o solo peninsular: um cânlabro-pirenaico e o outro mediterrâneo. Destes dois povos se teriam originado respectivamente o basco e o ibero. Coube a este último papel mais importante na história da Península. É de seu nome que os historiadores gregos chamaram à região Ibéria. 
N o sul de Portugal e na baixa Andaluzia, haviam-se estabelecido os turdelanos ou tarléssios, que se supunha estarem etnicamente ligados aos iberos, mas cujo parentesco não foi até hoje comprovado
Acerca das grandes riquezas minerais do território, há informações em Heródoto e na Bíblia. Segundo este historiado.r, um rei dos tarléssios forneceu aos focenses prata em tão grande quantidade que chegou para construir um muro, que lhes serviu algum tempo de defesa contra os ata­ques de Ciro
Reza a Sagrada Escritura que as naus de Salomão iam até Tarsis (Tarlessos), de onde retomavam carregadas de ouro, prata e marfim. Essas riquezas despertaram a cobiça de outros povos. Com efeito, fenícios e gregos se disputaram encarniçadamente a posse da região. 
O resultado da luta entre eles foi a derrota dos gregos, cujas colônias entraram logo em decadência, arrastando consigo a ruína da própria Tarlessos.
65. Com a expulsão dos gregos, fixaram-se os fenícios na costa meridional da Península, no ano de 1100 a.C., e aí fundaram Gadir, hoje Cádiz. Novas colônias fenícias foram estabelecidas em outros locais da costa, como Málaga e Abdera, hoje Abdra. Mas o fenício não foi um povo colonizador. Vivia da navegação e do comércio, por isso não penetrava no interior das terras. Quando o seu poderio marítimo se enfraqueceu, as colônias entregues à própria sorte não puderam manter a sua independência e desapareceram absorvidas pela grande massa das populações indígenas. 
66. Os gregos, entretanto, não desistiram da empresa. Batidos no sul, estabeleceram-se no levante, onde fundaram prósperas feitorias, de que são remanescentes atuais Alicante (Lucentum), Denia (Hemeroscopion), Rosas (Rhodes) e Ampúrias (Emporion). 
O contacto das duas civilizações foi salutar ao povo da Península, que se aproveitou da experiência de ambos para o desenvolvimento de , de sua arte, que foi verdadeiramente notável. 
O contacto das duas civilizações foi salutar ao povo da Península, que se aproveitou da experiência de ambos para o desenvolvimento de , sua arte, que foi verdadeiramente notável.
67. Não se delineia com as mesmas perspectivas a situação do norte e oeste da Ibéria. Parece que povos procedentes de outras zonas européias se sobrepuseram às populações nativas. Não está afastada mesmo a hipótese de que os lígures tenham estendido os seus domínios até a região hispânica. Atestam este fato os autores gregos e a toponímia regional. Encontram-se aí, com efeito, nomes de lugares perfeitamente iguais aos do Piemonte e da Lombardia, que, de outro modo, se não poderiam explicar. Há dúvida sobre se eram os lígures indo-europeus, mas a verdade é que, se não o eram, haviam sofrido poderosa influência indoeuropéia através dos ilírios ou ambrones.
68: Em época posterior (séc. V a.C.) deu-se a penetração dos celas, pertencentes à grande família árica, que procediam do sul da Alemanha, e se haviam já apoderado do território da Gália. Fixaram-se principalmente·na Galécia e nas regiões altas do centro de Portugal. É possível que hajam chegado até o sul deste país. Mas não parece ter sido esta a única incursão dos celtas na Península. Crê-se, com bastante probabilidade, que outra invasão se verificou no século III a.C. O domínio céltico não se exerceu pacificamente. A esta conclusão nos leva o hábito de viverem em cidades fortificadas. A coabitação de celtas e iberos no solo hispânico teve como consequência a sua fusão, de que resultou um grupo importante de povos conhecidos pelos antigos como céltiberos.
69. A influência fenícia teria desaparecido de todo da região peninsular, se não fosse trazida pelo cartaginês, da mesma raça, e que falava um dialeto fenício - o púnico. 
70. Roma não contemplava com bons olhos o assustador progresso de Cartago. O grande poder que esta república rapidamente adquirira, no mar e em terra, ali, fronteira ao Lácio, na costa africana, trazia-a em constante sobressalto de vir um dia a perder a ambicionada coroa do Mediterrâneo. 
 Declarada a guerra, inevitável entre as duas potências rivais, guerra que se prolongou de 264 a 146 a.C., coube a vitória às legiões romanas. A consequência lógica deste fato foi, e não podia ser outra, passar a Hispânia à condição de vassala de Roma. 
 Embora tenham os romanos penetrado na Península no séc. III a.C., a sua anexação, como província, só se deu no ano de 197 a.C. Os lusitanos do sul aparecem em luta com os romanos desde o ano de 193 a.C. No ano de 25 a.C., já estava conquistada toda a faixa ocidental da Ibéria (1). 
 Podemos distinguir duas épocas principais na história da romanização da Ibéria. A primeira vai desde as guerras púnicas, no tempo da República, até o estabelecimento do Império. É uma fase predominante­mente guerreira. A segunda começa com o advento de Augusto e abrange todo o período imperial. É uma época de paz e de assimilação .. \ 
 No tempo de Augusto, foi a Península dividida em três províncias: a Tarraconense, a Bélica e a Lusilânia. Embora o território compreendido por esta não coincidisse então exatamente com o atual da nação portuguesa, não menos verdade é que uma boa parte ficaria nele compreendida depois. É a primeira manifestação que se nota, da parte do poder público, para separar os destinos da faixa ocidental da Europa, onde se constituiu mais tarde Portugal, do resto da Hispânia.
71. A obra de assimilação, que se verifica, como foi dito, na segunda época, teria sido mais difícil, se não fosse o parentesco lingüístico existente entre o latim e o celta. Ela começou pelas cidades ou centros mais povoados, passando depois às aldeias e finalmente aos campos. 
Os peninsulares acostumaram-se a ver nos conquistadores um povo mais forte e civilizado e, depois de uma resistência mais ou menos séria, quebrada afinal pela bravura e constância dos soldados romanos, adotaram finalmente a língua e os costumes dos vencedores, numa palavra romanizaram-se. 
Mas houve um povo da Península que não aceitou o latim como língua, antes continuou a falar o próprio idioma: o basco. 
Convém ressaltar que não houve coação dos vencedores. O latim, levado pelos legionários, colonos, comerciantes e funcionários públicos romanos, impôs-se pela força das próprias circunstâncias: tinha o prestígio de língua oficial, servia de veículo a uma cultura superior, era o idioma da escola.
Para a romanização das populações nativas, concorreram poderosamente vários fatores. Assim, o recrutamento militar dos jovens provincianosque, depois de prestado o serviço ao exército, volviam ao seio da família; o excelente sistema rodoviário romano, que permitia fácil intercâmbio com a metrópole; o direito de cidadania concedido às urbes hispânicas pelos imperadores (1), por último, o cristianismo pregado pelos padres num latim muito acessível, o qual fez desaparecer as diferenças sociais, unindo a todos, aristocratas e plebeus, romanos e estrangeiros, no mesmo ideal de amor e fraternidade. 
A unidade do grande Império, não obstante a diversidade de povos que o compunham, arrancou do poeta Rutílio Namaciano esta exclamação: "Fizeste uma cidade única, de diversas nações; fizeste uma cidade que antes era um mundo" (2). 
Tão perfeita foi a romanização da Península Ibérica que Estrabão, geógrafo grego, falecido no século I da Era Cristã, já afirmava: "os turdetanos, e mormente os ribeirinhos do Bétis, adotaram de lodo os costumes romanos, e até nem já se lembram da própria língua"(3) 
A romanização da Península Ibérica é também atestada por Sto. Agostinho: "Trabalharam para que a altiva Roma não só impusesse o seu jugo aos povos vencidos, mas até a sua língua depois de associados pela paz" (4). 
Ainda quando não houvesse testemunhos tão explícitos deste fato, restariam as obras e monumentos valiosos, levados a efeito pelo romanos no solo conquistado, para demonstrar o seu esforço no sentido da civilização do povo vencido. 
Com relação a Portugal, diz Leite de Vasconcelos que são abundantes tais obras e monumentos: "em Brácara, um templo fontanário e inscrições latinas; em Conímbriga (Condeixa), muralhas, mosaicos e esculturas; em CoUipo (Leil'ia), também mosaicos, um deles conservado no ;\Iuscu Etno­lógico .. -, outro levado para fora de Portugal; em Scállabis (Santarém), esculturas e inscrições; em Olisippo, notícia de um teatro e de duas termas' em Ébora, um belo templo, que é um dos monumentos mais notáveis d~ Península naquela época, um arco, e muitíssimos objetos no Museu Eborense; em Pax Julia (Beja), outro arco, e além disso capitéis, cerâmica insc;ições no l\luseu Municipal; em Ossonoba (Faro), umas notávei~ termas que o vandalismo dos visitantes vai porém destruindo; em Balsa (Tavira), esculturas, lápides epigráficas, cerâmica, vidros e bronzes" (1).
A última notícia acerca da existência das línguas indígenas da Pe­nínsula é-nos transmitida por Tácito, nos seus preciosos Anais. Narra este historiador que, no século I d. C., certo camponês da Tarraconense acusado da morte de um pretor, respondeu, na língua própria, recusando-se a confessar os seus cúmplices: "em alta voz, clamou, no idioma pátrio, que em vão era interrogado" (2) .• 
.
 O latim que se vulgarizou no territótio ibérico foi o do povo inculto o sermo vulgaris, plebeius ou rusticus, de que nos dão notícia os gramático~ latinos. 
A outra modalidade, denominada sermo urbanus, eruditus ou perpoli­tus, em que escreveram suas obras imortais Cícero, César, Vergílio Ho­rácio e Ovídio, foi aí também conhecida, sim, mas nas escolas: o que é atestado pela existência de alguns célebres escritores hispânicos, como Seneca, Marcial, Lucano e Quintiliano (J). Mais tarde são os conventos ou mosteiros que guardam as tradições da boa latinidade. 
24
Instrumento diário de comunicação entre indivíduos que habitam um vasto solo, uma língua falada não pode ficar estacionária. É a lição que .nos dá a .experiência. Mais rápidas são as modificações a que está sujeita, se vaflam as condições ambientes
Foi o que sucedeu com o latim falado pelo povo. 
Transplantado para a Hispânia, não demorou muito que se modificasse na boca dos habitantes da terra. E a sua evolução já se ia processando normalmente, quando elementos estranhos a vieram perturbar. 
72. É que, no século V, os bárbaros invadiram a Península. Eram estes povos de origem germânica e achavam-se localizados nas costas do Báltico, à exceção dos alanos, vindos do oriente, que pouca influência exerceram. Compreendiam várias nações, cada uma com o seu dialeto particular: vândalos, suevos, visigodos. 
Os primeiros dentre estes, chegados ao território ibérico, foram os vândalos, que se fixaram na Galécia e na Bética, a qual de seu nome se ficou chamando Andaluzia.
A convite de Bonifácio, rebelado contra o poder imperial, passaram eles, sob o comando de Genserico (429), à Africa, onde fundaram uma vasta monarquia, que floresceu durante um século. 
Depois dos vândalos, surgiram os suevos, que se estabeleceram na Galécia e na Lusitânia. Por habitar a região, onde mais tarde se desenvolveu a nação portuguesa, merece este povo bárbaro especial consideração na história da nossa língua. 
Só mais tarde é que apareceram os visigodos ou godos do ocidente, comandados por Ataulfo. 
Estes absorveram os suevos (século VI) e erigiram o mais forte e duradouro reino bárbaro, de que se tem memória, na região aquém-pirenaica, escolhendo para capital Toledo. 
Povos rudes, afeitos aos exercícios guerreiros, os germanos, embora v encedores, não tiveram dúvida em admitir a civilização romana e, com ela, o próprio latim, já sensivelmente alterado.
Fácil é concluir que não pequenas foram as transformações a que o sujeitaram, adotando-o por língua própria. 
A isso acresce a supressão das escolas e o desaparecimento da nobreza romana, em cujo seio se cultivavam os primores da linguagem. 
"Estancados assim, diz Carneiro Ribeiro, os mananciais donde vertiam os tesouros preciosos, com que se enriqueciam as ciências, as artes e as letras, a língua, tão sólida e custosamente implantada na Península, foi-FI ainda mais abastardando e corrompendo" (1). 
Da dominação germânica, quase tricentenária, há vestígios indeléveis em mais de duzentas palavras, que ficaram incorporadas ao nosso patrimônio léxico. 
São vocábulos referentes aos seus usos e costumes, na maioria designativos de armas, vestes, insígnias guerreiras, etc. Alguns também se conservaram na onomástica.
73.. No século VIII, surgem os árabes, que após avassalarem todo o norte da Africa, comandados por Tárique e Musa, atravessam as Colunas de Hércules, hoje estreito de Gibraltar (Djebal Tarik, montanha de Tárique), e precipitam-se sobre o solo peninsular. 
Este, pela sua situação geográfica privilegiada, na extremidade ocidental da Europa, próximo da África, estava destinado, por sua natureza, a ser o primeiro ponto europeu atingido pela invasão muçulmana. 
O combate das hostes invasoras com os visigodos verificou-se às margens do Rio Críssus ou Guadalete, no ano de 711. Nele foi vencido o último rei godo, Rodrigo, ficando os mouros senhores absolutos do grande reino visigótico. 
Embora fatores vários como a raça, a língua, a religião e os costumes extremassem vencidos e vencedores, muitos hispano-godos, seduzidos pela civilização árabe, adotaram os costumes e, com eles, não raro a própria língua árabe, esquecendo o romance que falavam. São os moçárabes. 
É mister assinalar que eram os árabes portadores de uma civilização incomparavelmente superior à da Península. Os califas protegiam as artes e as letras. A ciência estava muito difundida entre eles. A medicina, a filosofia, a matemática, a história, contavam com grandes cultores. Foram dois cientistas árabes, Avicena e Averroés, que vulgarizaram a doutrina de Aristóteles na Europa, traduzindo-lhes as obras e comentando-as. Em seus palácios, os califas organizavam valiosas bibliotecas. 
Durante o seu domínio no território ibérico, floresceram também agricultura, o comércio e a indústria. Plantas desconhecidas na Europa foram por eles transportadas do Oriente e aí aclimatadas. Ricas tapeçarias e os objetos de adorno mais requintados enfeitavam os palácios dos califas. O luxo invadiu a alta sociedade. Depois extravasou-se pelas outras camadas sociais. Córdova se transformou no centro mais importante da civilização islâmica. 
Como língua oficial, adotou-se o árabe, mas o povo subjugado continuou a falar o romance, ou seja, o Latim vulgar modificado. 
35
Apesar de serem árabes tolerantes, uma parte da população cristã não querendo submeter-se ao seu domínio,chefiada pelo nobre Pelágio, refugiou-se nas montanhas das Astúrias, que se tornaram desde então o baluarte da reconquista. 
Os seus sucessores foram abatendo a pouco e pouco o poder do Islame, até que, em 1492, as armas vitoriosas dos reis católicos Fernando e Isabel, apoderando-se de Granada, último reduto mouro, puseram fim para sempre à dominação semítica na Espanha. 
A influência do idioma árabe não foi tão grande, como era de esperar, apesar do seu longo uso a par do romance. Exerceu-se quase exclusivamente no domínio do vocabulário. 
Os termos desta procedência, incorporados ao léxico peninsular, são quase todos nomes de plantas, instrumentos, ofícios, medidas, etc. Não pequeno também foi o contingente de vocábulos com que o árabe contribuiu para a geografia regional. 
74. Durante a dominação muçulmana, costumavam os cristãos organizar cruzadas, com o fim de libertarem o território ibérico. Para maior estímulo, os papas concediam-lhes as mesmas indulgências que aos que iam combater no Oriente pela conquista ou defesa dos Santos Lugares. 
Graças à eficiência dessas cruzadas é que se constituíram os reinos de Leão, Castela e Aragão, com terrenos conquistados aos mouros. 
Entre os fidalgos que foram à Península ajudar a combater os árabes, deve-se ressaltar a pessoa de D. Henrique, conde de Borgonha.
75. Tão assinalados serviços prestou a causa da coroa e da religião neste particular, que D. 
Afonso VI, rei de Leão e Castela, em sinal de gratidão, lhe deu em casamento sua filha natural D. Tareja e lhe fez outorga do Condado Porlucalense (1), território desmembrado da Galiza, compreendido, a princípio, entre o Minho e o Vouga. A partir de 1095, os domínios do conde D. Henrique se estendem do Minho ao Tejo (2). 
A nacionalidade portuguesa, porém, só começa com D. Afonso Henriques, filho do precedente, que, depois da batalha de Ourique (1139), 1 sacudiu a suserania de Castela e se fez proclamar rei de Portugal, em 1143. 
O falar da faixa ocidental da Hispânia sempre se distinguiu do falar ou falares das outras regiões.
Não é desarrazoado afirmar que o tratamento diferente que teve o latim nessa região, ao menos quanto à parte setentrional e central, se justifica por ter sido ocupado pelos celtas e suevos, e haver constituído um feudo, que mais tarde se tornou independente 
 
Do romance aí falado veio a constituir-se, ao norte, o dialeto galeziano ou Galaico-português; 
ao sul, provavelmente outro, inçado de palavras árabes, do qual nenhum documento possuímos, a não ser escassas indicações 
geográficas.
Diferenciação do Português
Com as conquistas, o galeziano ou galaico-português estendeu-se progressivamente sobre a parte meridional, absorvendo o romance que aí existia, ou identificando-se com ele, e penetrou no Algarve, no reinado de Afonso III (1250). 
Dada a independência política de Portugal, deveria necessariamente resultar o que de feito resultou, - a diferenciação entre o português e o galego.
A princípio pequena, foi-se acentuando no correr do tempo, até que o português se tornou idioma completamente autônomo do galego. 
Em documentos do latim bárbaro do século IX, já se encontram algumas formas vulgares vernáculas. Isto nos leva a crer que o português, ou mais propriamente, o galego-português, já existia nesse tempo. No entanto, só no século XII é que aparecem textos inteiramente nele redigidos. 
A criação dos Estudos Gerais ou Universidade, em 1290, contribuiu amente para que, de par com as ciências, se desenvolvessem também as letras. 
A primeira forma literária cultivada é a poesia. São os que despertam nos portugueses o gosto da trova. As composições dessa época acham-se coligidas nos Cancioneiros. 
O próprio D. Dinis, com o seu exemplo, incita os mais tímidos ao cultivo da "gaia ciência". 
No século XV, fazem-se muitas traduções de obras latinas, francesas e espanholas. D. Duarte consagra, no seu Leal Conselheiro, um capítulo à arte de bem traduzir em vernáculo, ou melhor, para usar de suas próprias palavras, "da maneira pera bem tomar alg~ua leitura ê nossa linguagem" (1). 
Literatura portuguesa - séc. XVI
76. O século XVI apresenta-se como o verdadeiro século de ouro da Literatura portuguesa. 
É que aparecem nele os maiores escritores que Portugal tem possuído 
 Os vários gêneros literários encontram então cultores desveladíssimos. 
Surge também a gramática disciplinando a língua.
Basta citar, na história João de Barros, Diogo do Couto e Damião de Góis; na tragédia, Antônio Ferreira; na comédia, o mesmo Ferreira, Sá de Miranda, Jorge de Vasconcelos e o imortal Camões; nos autos, Gil Vicente, Antônio Ribeiro Chiado e Antônio Prestes; nas viagens, Fernão Mendes Pinto; em assuntos morais e piedosos, fr. Amador Arrais, fr. Heitôr Pinto e fr. Tomé de Jesus; no romance, Bernardim Ribeiro e Francisco de Morais; na gramática, Fernão de Oliveira e o já citado João de Barros; na poesia lírica, Sá de Miranda, mencionado acima, Bernardim Ribeiro e Diogo Bernardes; na poesia épica, o maior gênio da nacionalidade portuguesa - Luís de Camões, e Jerônimo Côrte Real. 
A Renascença, que dera frutos opimos por toda parte, acorda as energias latentes da raça lusa, abrindo a Portugal o caminho glorioso das letras e dos mares. E, em qualquer dos dois domínios, o pequeno Portugal foi verdadeiramente grande. 
,
Expansão
Com os descobrimentos marítimos, começa, para a língua portuguesa, a sua fase de expansão. Espalha-se pelas Ihas do Atlântico, atinge as costas da Ásia e da África, e chega, nas veleiras naus de Cabral, à Terra de Santa Cruz. 
O que mais se deve admirar em tudo isso é o enorme poder de resistência que o idioma tem demonstrado. 
"Vigorosa língua, exclama Lei te de Vasconcelos, que no decurso de cinco séculos tem resistido, mais ou menos, ao embate de outras, e servido para exprimir as crenças, as paixões, as idéias das mais desencontradas nações da terra!" (1). 
77. Leite de Vasconcelos divide a história da língua portuguesa em três grandes épocas: pré-histórica, proto-histórica e histórica (2). 
78. A pré-histórica começa com as origens da língua e se prolonga até o século IX, em que surgem os primeiros documentos latino-portugueses. É reduzido o material lingüístico desta época, constante de escassas inscrições. Só por conjetura é que se pode formar uma idéia do romance então falado. 
79. A proto-histórica estende-se do século IX ao XII. Os textos, que então aparecem, são todos redigidos em latim bárbaro. Neles, porém, de queando em quando, se encontram palavras portuguesas, o que prova à evidência que o dialeto galaico-português já existia nesse tempo. 
80. A histórica inicia-se no século XII, em que os textos ou documentos aparecem inteiramente redigidos em português. Anteriormente , a língua era apenas falada.
81. A época histórica comporta uma divisão em duas fases: a arcaica (do século XII ao XVI) e a moderna (do século XVI para cá
Domínio da Língua Portuguesa
 Quase no limiar da época moderna, como a extremá-la da arcaica o fato literário de maior importância é a publicação dos Lusíadas (1572) por Luís de Camões. Constitui esta obra a verdadeira epopeia nacional portuguesa. Nela se acham retratados o espírito de aventura, a resistência no sofrimento, as qualidades guerreiras, o heroísmo, numa palavra, todas as grandes virtudes da nação portuguesa. Não é Vasco da Gama o herói do poema (1).
Domínio da Língua Portuguesa
 A descoberta do caminho marítimo para a Índia foi apenas o pretexto para Camões escrever o seu imortal poema. O assunto é a história de Portugal, rica de episódios e de lances dramáticos. O seu herói é o próprio povo português.
82. O século XVI reservou a Portugal um papel saliente na história dos descobrimentos marítimos e das conquistas territoriais. 
A língua portuguesa, que servia, nessa época, de instrumento a uma culta e rica literatura, espalhou-se rapidamente pelas novas terras recém descobertas, avassalando continentes e ilhas. Nenhum povo foi jamais tão longe através dos mares, como o lusitano, cujas naus percorriam oceanosem todos os sentidos e cuja bandeira tremulava em todas as cinco partes do mundo, porque em todas elas Portugal possuía colônias.
Transportado para terras tão distantes, em que o clima, a topografia, os costumes, as crenças, as instituições sociais, os hábitos linguísticos eram os mais diversos, o português não pôde manter aspecto rigidamente uniforme, mas fracionou-se numa porção de dialetos. 
De que se falou, nas regiões conquistadas, um idioma muito semelhante ao da metrópole, testemunha Duarte Nunes do Leão: “A qual (refere-se à língua) tam puramente se fala em muitas cidades de África, que ao nosso jugo são subjectas, como no mesmo Portugal, e em muitas províncias da Etiópia, da Pérsia e da Índia, onde temos cidades e colônias nos Sionitas, nos Malaios, nos Maluqueses, Léqueos, e nos Brasis, e nas muitas e grandes ilhas do mar Oceano, e tantas outras partes, que com razão se pode dizer por os Portugueses o que diz o Salmista: “In omnem terram exvit sonus eorum,et in fines orbis terrae verba eorum” (1).
A área territorial do português é muito dilatada. Poucas línguas do mundo lhe levam vantagem neste ponto. 
83. Leite de Vasconcelos, traçando o mapa dialetológico do idioma português, classifica-lhe os dialetos em três grandes grupos: 
1)	CONTINENTAIS, os existentes no continente europeu: 
1)	interamnense (Entre-Douro-e-Minho); 
2)	transmontano (Trás-os-Montes); 
3)	beirão (Beira-Alta 	Beira-Baixa);
4) meridional (sul de Portugal).

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