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Resenha raizes de um paradigma indiciário

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Universidade Federal Fluminense
Curso: Estudos de Mídia
Aluno: Gabriel Gallindo Pacheco
Disciplina: Metodologia de Pesquisa		Prof.: Marco Roxo
Resenha dos textos:
GINZBURG, Carlo. Sinais, raízes de um paradigma indiciário. In: Mitos, emblemas e sinais. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. p. 143-179
GINZBURG, Carlo. Introdução. In: História noturna: decifrando o sabá. São Paulo: Companhia das Letras, 1991. p. 9-37.
Paradigma indiciário: da fundamentação à prática
Como se aprofundar em um modo de vida, ou melhor, na cultura de um grupo disperso em localidade e que não tem sequer literatura própria? Talvez essa pergunta seja o que motivou Ginzburg a escrever “Sinais: raízes de um paradigma indiciário”. Ele carecia de um método apropriado de estudo científico para um objeto, os praticantes do sabá exposto em “História Noturna: Decifrando o Sabá”, que em seu primeiro ponto (após uma breve introdução do assunto) questiona: “Como e por que se cristalizou o sabá? Que se esconde por trás disso?”. Logo a seguir é exposto que a pesquisa a qual gerou o “História Noturna” (sendo esse uma retomada e aprofundamento do Andarilhos do bem de 1966) visava conhecer as crenças de tais homens e mulheres acusados de bruxarias por volta do século XV e XVII.
A introdução do texto “Sinais: raízes de um paradigma indiciário”, revela qual o objeto de estudo, a saber, um modelo epistemológico ao qual ainda não se deu a devida atenção e que: “talvez possa ajudar a sair dos incômodos da contraposição entre ‘racionalismo’ e ‘irracionalismo’”. Por se tratar textos do mesmo autor e por terem sido escritos durante o mesmo período, não há como não correlacioná-los e perceber que em uma obra, Ginzburg defende a validade de um método, ou paradigma, e em outra, aplica tal padrão de pesquisa.
	Os textos são organizados de maneira semelhante, valendo-se de marcadores numéricos para separar tópicos dentro dos textos. Em “ Sinais: raízes de um paradigma indiciário” há três pontos chaves que fundamentam a exposição de um paradigma indiciário, que são: Análise do método de Giovanni Morelli e suas correlações; Exposição sobre os saberes venatório e divinatório e, por fim, as relações do que foi dito no decorrer do texto levantando questões sobre o paradigma indiciário. Essa divisão facilita o entendimento dos pontos fundamentais, mas nem sempre o assunto é encerrado dentro das subdivisões, tornando o indiciamento de temas difícil dentro dessas subdivisões dos marcadores numéricos.
 No primeiro ponto (e em suas subdivisões) é exposto o método de Giovanni Morelli, médico, para diferenciar quadros originais de cópias. Decorrem, então, comparações que unem Morelli e o personagem Sherlock Holmes de Conan Doyle. Ainda buscando validar o método de Morelli e provar as influências de seus feitos, Ginzburg cita textos em que Freud declara ter sofrido influencias de Morelli antes de estudar psicanálise. Faz, ainda, uma analogia entre Freud, Morelli e Conan Doyle pelo fato de todos serem médicos; o que nos leva a crer que Ginzburg considera a semiótica médica um tipo de precursor do paradigma indiciário. 
Partindo para o segundo ponto, agora é exposto o saber venatório, próprio de caçadores, e o divinatório, de adivinhos e videntes mesopotâmios, partindo de uma fábula oriental na qual dois irmãos conseguem descrever um camelo que nunca viram através de indícios percebidos na fala dos donos do camelo. 
Ainda no segundo ponto, mas em outros sub tópicos, Ginzburg discorre sobre a evolução dos estudos científicos e depara-se com outro médico, Mancini, que tinha um método de diferenciação de obras literárias e tentava usar esse método linguístico na diferenciação de obras de pintura. Mancini esbarrava num ponto que dificultava tratar como método cientifico o seu saber indiciário: “Quanto mais os traços individuais eram considerados pertinentes, tanto mais se esvaía a possibilidade de um conhecimento científico rigoroso”. Mancini, então, declara as opções de método que se põe em seu horizonte: “Sacrificar o conhecimento do elemento individual à generalização (...) ou procurar elaborar um paradigma diferente, fundado no conhecimento cientifico (...) do individual”. 
Para Ginzburg, a literatura (principalmente os romances policiais) e disciplinas como arqueologia, geologia, astronomia física e a paleontologia se voltaram para o paradigma indiciário, pois “Quando as causas não são reproduzíveis, só resta inferi-las a partir dos efeitos”. Com essa declaração ele sintetiza toda a fundamentação teórica feita para o paradigma indiciário até aqui e podemos exemplificar com o filme “O nome da Rosa” de Jean-Jacques Annaud baseado no romance homônimo de Umberto Eco.
No filme, o personagem principal, vivido por Sean Connery, é um monge franciscano que através de seu saber indiciário, semelhante ao do detetive ficcional Sherlock Holmes, desvenda uma série de assassinatos ocorridos em um mosteiro que, a princípio, eram atribuídos à forças “sobrenaturais” demoníacas. Utilizando as variadas pistas, o personagem narra toda a trajetória das mortes ocorridas no local, mesmo não tendo presenciado nenhuma delas. Sendo assim podemos dizer que o personagem de Sean Connery utiliza um paradigma indiciário para montar o seu discurso baseado em seu saber venatório. 
Ginzburg faz uma comparação da exposição feita, em seu trabalho, com um tapete em que a cada ângulo que se olhe é possível enxergar uma lógica do discurso. “O tapete é o paradigma que chamamos a cada vez, conforme os contextos, de venatório, divinatório, indiciário ou semiótico”. Afirma ainda que todas as “ciências humanas” se referem direta, ou indiretamente, à medicina: “As ciências humanas acabaram por assumir sempre mais (...) o paradigma da semiótica. E aqui reencontramos a tríade Morelli-Freud-Conan Doyle da qual partimos”. Com essa declaração, podemos confirmar que Ginzburg defende uma estreita ligação entre os fundamentos da semiótica médica e do paradigma indiciário.
Ginzburg questiona, também, a necessidade do rigor em um paradigma indiciário. Afirma que o rigor é inatingível e indesejável para um saber baseado no cotidiano, contudo, se a exigência de superestimar coisas mínimas for considerado rigor, então, o rigor é necessário. Assim sendo, pode-se assumir um caráter mais pessoal (no sentido de valer-se de conhecimentos puramente internos) na aplicação de um paradigma indiciário. 
Na aplicação desse paradigma em “História Noturna: Decifrando o Sabá” trabalha-se com análise antropológica, recortes geográficos bem organizados e, a maior parte do tempo, procura-se descobrir as origens dos elementos que, convergidos, criaram os estereótipos da suposta reunião de bruxas, e não o que era feito em tais reuniões.
A análise de aspectos culturais, de diversas civilizações, lugares e épocas distintas, que se convergem e denotam extratos culturais de tempos remotos é coerente e, apesar de admitir a impossibilidade de certas perguntas virem a ser respondidas, as suposições feitas por Ginzburg parecem fazer sentido devido ao constante embasamento teórico no tratamento das questões, como quando defende a origem da imagem dos praticantes do sabá criada por juízes e inquisidores, ou quando trata de assuntos menos observáveis ainda como depoimentos sobre a saída da alma do corpo para batalhas noturnas ou procissões. Uma, e a principal, das justificativas vem de Wittgenstein quando afirma que a explicação histórica é um modo de desenvolvimento, mas não a única, e que é possível ver os dados em suas relações sem ter um encadeamento cronológico para se ver as conexões. “Daí a importância de se encontrar elos intermediários”, que no caso de Ginzburg foram elos narrativos vindo de fontes, países, épocas e culturas diversas.

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