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APST_FILOSOFIA DO DIREITO (DAMÁSIO)

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___________________________________________________________________ 
 
CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MÓDULO I 
 
FORMAÇÃO HUMANÍSTICA 
 
Filosofia do Direito 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
__________________________________________________________________ 
Rua da Glória, 195 – Liberdade – São Paulo – SP – CEP 01510-001 
Tel./Fax: (11) 3164-6624 – www.damasio.com.br 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 3 
SUMÁRIO 
1. FILOSOFIA E DIREITO NA GRÉCIA ARCAICA ............................... 5 
1.1. Introdução ................................................................................ 5 
1.2. Justiça: origem ......................................................................... 6 
1.3. Hesíodo e justiça ...................................................................... 6 
1.3.1. Justiça e trabalho ............................................................. 7 
1.3.2. Diké e Hybris .................................................................... 8 
1.3.3. Mito das raças .................................................................. 8 
1.3.3.1. Raça de ferro ..................................................... 10 
2. SÍMBOLO E DIREITO .................................................................... 10 
3. FILOSOFIA E DIREITO NA GRÉCIA CLÁSSICA: OS SOFISTAS E 
SÓCRATES .................................................................................. 12 
3.1. Os sofistas .............................................................................. 12 
3.1.1. Arte retórica ................................................................... 13 
3.1.2. Retórica dos sofistas ...................................................... 13 
3.1.3. Divergências insuperáveis ............................................. 14 
3.2. Sócrates (470-399 a. C.) ........................................................ 15 
3.2.1. Ironia socrática ............................................................... 16 
3.2.2. Autonomia da razão ....................................................... 17 
3.2.3 Lei e dever ...................................................................... 18 
Exercícios ............................................................................................. 19 
 
 4 
 
 5 
FORMAÇÃO HUMANÍSTICA 
Filosofia do Direito 
Vitor Frederico Kümpel 
 
1. FILOSOFIA E DIREITO NA GRÉCIA ARCAICA 
1.1. Introdução 
O Direito, como diz Ferraz Jr. (1995, p. 21), nos introduz em um mundo 
misterioso e fantástico de piedade e impiedade, de sublimação e de perversão, pois o 
Direito pode ser sentido como uma prática virtuosa que serve ao bom julgamento, mas 
também usado para propósitos ocultos ou inconfessáveis. O Direito contém, ao mesmo 
tempo, as filosofias da obediência e da revolta, serve para expressar e produzir a 
aceitação da situação existente, mas aparece também como sustentação moral da 
indignação e da rebelião. 
Compreender o Direito é compreender uma parte de nós mesmos. É saber por que 
obedecemos, por que mandamos, por que nos indignamos, por que aspiramos mudar em 
nome de ideais, por que, em nome de ideais, conservamos as coisas como estão. Ser livre 
é estar no Direito e, no entanto, o Direito também nos oprime e nos tira a liberdade. O 
Direito, assim, de um lado, nos protege do poder arbitrário exercido à margem de toda 
regulamentação, dá oportunidades iguais e ampara os desfavorecidos. Por outro lado, é 
também um instrumento manipulável que frustra as aspirações dos menos privilegiados e 
permite o uso de técnicas de controle e dominação que, pela sua complexidade, são 
acessíveis apenas a uns poucos especialistas. 
O Direito nos introduz num mundo de piedade e impiedade, de sublimação e de 
perversão. Entre os gregos, a existência humana encontra-se inserida nesse mundo 
misterioso de trevas e de luz simbolizado pelos deuses mitológicos Apolo e Dionísio ou 
Diké e Hybris. Apolo (Diké) e Dionísio (Hybris) simbolizam duas forças ou impulsos 
antitéticos, aos quais corresponde a dupla face da experiência grega no mundo. Apolo e 
Diké simbolizam a justa medida, a temperança, a prudência, a precisão dos limites. 
Dionísio e Hybris simbolizam a desmedida, o tenebroso, a transgressão de todos os 
limites. 
Enfim, o Direito é um mistério, o mistério do princípio e do fim da sociabilidade 
humana, que se encontra inserida nesse mundo fantástico do monstruoso (dionisíaco) e 
do sublime (apolíneo). É esse mistério que os primeiros filósofos têm a pretensão de 
desvendar. 
 
 
 
 
 6 
1.2. Justiça: origem 
Ao longo do período homérico e nos primeiros tempos do período arcaico 
vigorava, na sociedade grega, um Direito de caráter divino, cujas leis (costumes) teriam 
sido reveladas pelos deuses aos antepassados que as transferiram para as gerações 
seguintes. Homero fala desse Direito quando diz que Zeus dava aos senhores patriarcais 
“cetro e themis”. Themis etimologicamente significa “lei”. Os senhores patriarcais 
julgavam de acordo com a lei, proveniente de Zeus. Themis personificava um Direito que 
justificava tanto as relações de poder, que os senhores patriarcais exerciam em seus 
domínios, como as regras costumeiras estabelecidas pelos antepassados e que se 
consolidaram com as gerações seguintes. 
Sófocles também fala desse Direito divino, por meio da personagem Antígona, na 
peça teatral (tragédia) que leva o mesmo nome. É nesse Direito que Antígona fundamenta 
sua pretensão, quando diz que dar sepultura ao irmão é um dever sagrado, fixado “nas 
leis não escritas e imutáveis dos deuses”. Do mesmo modo, no diálogo com sua irmã 
Ismênia, afirma que é preciso “respeitar o costume sagrado”, “não desprezar as leis 
divinas”, para não ser “acusada de não cumprir o piedoso dever”. A tragédia escrita por 
Sófocles desenvolve-se contrapondo, de um lado, Antígona, que quer dar sepultura ao 
irmão com fundamento no dever sagrado da piedade, estampado “nas leis não escritas e 
imutáveis dos deuses” e, de outro lado, Creonte, o tirano, que exige “obediência total às 
normas do seu decreto, sejam elas justas ou não”. 
A tragédia expõe o princípio dionisíaco, o dilaceramento, o lado cruel e sombrio 
dos humanos, a luta sem trégua dos contrários. A filosofia expõe o princípio apolíneo, a 
luminosidade, o lado sereno e perfeito dos humanos, a harmonia dos contrários. Para 
Nietzsche (apud Chauí, 1998, p. 23-25), enquanto os filósofos pré-socráticos colocam em 
destaque essa dualidade ou antítese insuperável entre o dionisíaco (a fúria dos contrários 
e da desordem) e o apolíneo (o desejo de harmonia e ordem), os filósofos Sócrates, Platão 
e Aristóteles aniquilam essa dualidade ao colocar em destaque apenas o princípio 
apolíneo. 
Alguns historiadores da filosofia reconhecem a existência de uma continuidade 
entre mito e filosofia. Os poemas de Hesíodo representariam essa passagem do 
pensamento mitológico para o pensamento racional, porque neles se encontra o modelo 
geral que será seguido pelos filósofos pré-socráticos. 
 
1.3. Hesíodo e justiça 
Hesíodo (século VIII a.C.) relata, no poema O trabalho e os dias, a disputa 
jurídica entre ele e seu irmão Perses e as atividades dos Juízes, os senhores aristocráticos 
de sua própria comunidade (demos) que arbitravam as pequenas disputas do povo da 
região e aceitavam suborno para favorecer uma das partes. Procura convencer seu irmão 
de que Zeus ampara a justiça, ainda que os Juízes a espezinhem. Faz sérias advertências 
sobre os perigos da desmedida e suas consequênciasdesastrosas, não só para o indivíduo 
 
 7 
mas para toda comunidade. Essa ousada inovação estabelece a luta pelos próprios direitos 
contra as usurpações e a venalidade dos aristocratas que decidem as disputas jurídicas. 
Hesíodo acredita que a justiça divina não permitirá que o mal triunfe sobre o bem. 
Assim, assistindo à momentânea vitória da injustiça, o poeta crê na intervenção de Zeus a 
favor da justiça: 
Agora que então nem eu próprio seja um justo entre os homens, nem o meu 
filho, pois que é mal ser um homem justo se o que é mais injusto tem maior justiça. 
Mas eu ainda não creio que Zeus de sábios conselhos há de permitir isso (Erga, v. 
270-273 apud Barros, 1999, p. 42). 
 
1.3.1. Justiça e trabalho 
Hesíodo elege o trabalho e a justiça como pilares da virtude do homem, que não é 
aristocrata e tem sua expressão numa posse moderada de bens. O trabalho é celebrado 
como o único caminho, ainda que difícil, para alcançar a virtude. Para conferir sentido à 
sua proposta de justiça, apresenta uma descrição do seu mundo, especialmente a vida dos 
pequenos agricultores. Com isso, revela uma esfera social, totalmente diversa da do 
mundo dos heróis e da nobreza aristocrática, estampada nos poemas de Homero. Para 
Hesíodo, a vida dos pequenos agricultores consiste em trabalhar, motivo pelo qual 
confere ao trabalho um valor inestimável, tanto que o título Os trabalhos e os dias, dado 
pela posterioridade ao seu poema os Erga, exprime isso perfeitamente. 
Segundo Jaeger (1995, p. 87), o tema exterior do poema de Hesíodo é o processo 
que lhe é movido pelo seu irmão Perses que, depois de ter dilapidado a sua parte da 
herança paterna, insiste em novo pleito. Da primeira vez, conquistou a boa vontade do 
Juiz por meio de suborno, e com essa atitude levou ampla vantagem na partilha dos bens. 
Esse fato motivou Hesíodo a denominar os juízes de “devoradores de presentes”, 
senhores aristocráticos que aceitam subornos para proferir sentenças distorcidas. Com 
isso, aponta a ambição e o abuso brutal do poder por parte da aristocracia local. A luta 
entre a força e o Direito que se manifesta no processo não é, evidentemente, um assunto 
meramente pessoal do poeta. Hesíodo enxerga mais longe, percebe a insatisfação das 
classes desfavorecidas e expressa essa insatisfação por meio do seu poema. 
Perses simboliza o agricultor desencaminhado, personagem de um mundo sombrio 
totalmente dominado pela desmedida. O contraste de Perses é o próprio Hesíodo, que 
simboliza a imagem do agricultor submisso à justiça e dirigindo-se a Perses, procura 
inculcar no irmão os princípios que dão ao trabalho o mais alto valor: 
Procura um prazer justo, dando-te ao trabalho numa medida equilibrada. Os 
teus celeiros se encherão, assim, com as provisões que cada ano te proporcionar. 
O trabalho não é vergonhoso; a ociosidade, sim, essa o é. Se labutares, o ocioso 
te respeitará pelos teus ganhos, aos quais se seguem respeito e consideração. O 
trabalho é a única coisa justa na tua condição; basta desviares a atenção da 
 
 8 
cobiça dos bens alheios e dirigi-la para o teu próprio trabalho, cuidando de o 
manter, como te aconselho (apud Jaeger, 1995, p. 101-102). 
Hesíodo vê a sua época (idade de ferro) como um mundo confuso e ambíguo, 
definido pela coexistência dos seus contrários; nele, todo bem tem o seu mal em 
contrapartida. É um mundo em que coexistem lado a lado, mas em que se opõem: o 
Direito e a força, a ordem e a desordem, o justo e o injusto. Diké e Hybris, presentes lado 
a lado, oferecem ao homem duas opções igualmente possíveis, entre as quais lhe é 
necessário escolher. 
 
1.3.2. Diké e Hybris 
Diké, no poema, é a deusa que se encarrega de trazer o Direito do céu para a Terra. 
Sua tarefa, entretanto, é perturbada por Hybris. Para Vernant (1977, p. 11), o poema, 
especificamente na parte que trata do mito das raças, aponta dois tipos de existência 
humana, rigorosamente opostos, num dos quais se situa Diké, e em outro apenas Hybris. 
A narrativa do mito das raças implica um ensinamento que é dirigido mais 
especificamente a Perses, mas que vale também para os senhores aristocráticos, aqueles 
cuja função é regulamentar as querelas por arbitragem, e que se reduz à seguinte fórmula: 
escuta a justiça (diké), não deixes aumentar a desmedida (hybris). 
A etimologia da palavra diké é originária da linguagem processual antiga e contém 
uma matriz de igualdade que permanece no pensamento grego através dos tempos. No 
processo antigo, diz-se que as partes contenciosas dão e recebem diké. O culpado dá diké, 
uma reparação, indenização ou compensação. O lesado, cujo direito é reconhecido pelo 
julgamento, recebe diké e o juiz reparte diké. Assim, o conceito de justiça (diké) passa a 
ser fixado na expressão “dar a cada um o que lhe é devido”. Significa, ao mesmo tempo, 
o processo, a decisão e a reparação. O significado evolui no sentido de expressar o 
princípio que garante essa exigência e no qual se pode apoiar quem for prejudicado pela 
hybris que corresponde à ação contrária ao Direito (Jaeger, 1995, p. 135). 
Hybris é tudo que ultrapassa a medida, é o excesso, a desmedida e a desordem. 
Nas pessoas, hybris provoca insolência, soberba, impiedade e presunção. Diké representa 
o equilíbrio, a medida justa capaz de conter o desequilíbrio provocado pela desmedida e 
pelo excesso. A oposição diké-hybris constitui o tema central do mito das raças. 
 
1.3.3. Mito das raças 
Segundo Vernant (1973, p. 11-35), o mito das raças narrado por Hesíodo contém 
um ensinamento que é repassado a seu irmão e aos nobres e se resume na fórmula: escuta 
a justiça, não deixes aumentar a desmedida. 
O mito das raças conta a história de cinco raças de homens (raça de ouro, de prata, 
de bronze, dos heróis, de ferro), sendo que cada raça aparece e depois desaparece em 
 
 9 
determinado período ou idade do mundo (idade do ouro, da prata, do bronze, dos heróis, 
do ferro). A história começa com os tempos dourados (idade do ouro) até chegar, em 
linha descendente, aos duros tempos da idade do ferro, quando ocorre a subversão total 
do Direito. Assim, o mito parece querer opor a um mundo divino (idade do ouro), em que 
a ordem é imutavelmente fixada por Zeus, um mundo humano (idade do ferro) no qual a 
desordem se instala e que deve acabar tomando, inteiramente, a direção da injustiça. 
A história da antiga idade do ouro e da sua crescente degenerescência, nos tempos 
subsequentes, procura mostrar que os homens apresentavam, originariamente, um 
comportamento quase perfeito, e viviam sem trabalho nem dor. Na idade do ferro, em 
que o poeta lamenta ser forçado a viver, domina apenas o direito do mais forte e nela só 
prosperam malfeitores e corruptos. Esse quadro de uma humanidade destinada a uma 
queda fatal e irreversível, provocada por suas próprias ações, deveria ser apropriado para 
convencer os pequenos agricultores (personificados no seu irmão Perses) e os nobres 
aristocratas (personificados naqueles que arbitram as disputas judiciais), sobre as virtudes 
da Diké e os perigos da Hybris. 
Da idade do ouro para a idade da prata, a decadência ocorre no momento em que o 
homem esquece ser descendente de Zeus e, sem temer os deuses, trai a função 
simbolizada pelo seu cetro ao se afastar dos caminhos retos da justiça. Na idade da prata, 
o homem abandona todos os sentimentos religiosos, jurídicos e morais e se deixa 
dominar pela louca desmedida. Sob o domínio de Hybris, a cidade conhece apenas 
calamidade, destruição e fome. A soberania piedosa da idade do ouro é substituída pela 
soberania ímpia da idade da prata, ou seja, à figura do rei respeitoso opõe-se a do rei 
entregue à corrupção. Essa noção se projeta nos demaisplanos das demais raças. 
O que caracteriza e arruína o homem da idade de prata é a sua louca desmedida. 
Esta o leva a renegar os deveres jurídicos e religiosos, motivo pelo qual a raça de prata é 
a única cujos erros excitam a ira divina e que Zeus aniquila como castigo pela sua 
impiedade. 
Após a raça de prata surge a raça de bronze, constituída por guerreiros e dominada 
por uma hybris exclusivamente militar. Hesíodo passa do plano jurídico-religioso ao das 
manifestações da violência, da força bruta e do terror que a personagem do guerreiro 
inspira. Os homens da raça de bronze são dedicados apenas à guerra, motivo pelo qual 
Hesíodo não faz menção à justiça (sentenças certas ou erradas) nem ao culto em honra 
dos deuses (piedade ou impiedade). Os homens da raça de bronze não são aniquilados por 
Zeus, mas sucumbem à guerra, uns sob os golpes dos outros. Esses guerreiros não 
recebem nenhuma honraria, se perdem no anonimato da morte. O mito dos homens da 
idade de bronze mostra que os homens não devem apelar jamais para o Direito do mais 
forte. 
Após a raça de bronze, surge a raça dos heróis, também constituída por guerreiros. 
Mas, diferentemente dos homens da raça de bronze, os homens da raça dos heróis são 
mais justos e ao mesmo tempo mais valorosos militarmente. A Diké dos heróis se situa 
no mesmo plano militar que a hybris dos homens de bronze. À desmedida (hybris) do 
guerreiro da raça de bronze, opõe-se o guerreiro justo que, reconhecendo os seus limites, 
aceita submeter-se à ordem superior da justiça (diké). Pelo favor de Zeus os heróis, 
 
 10 
guerreiros justos, são transportados para um lugar, onde levam por toda a eternidade uma 
vida semelhante à dos deuses. 
 
1.3.3.1. Raça de ferro 
A principal característica dos homens da raça de ferro é a de serem constrangidos 
a trabalhar a terra para produzir alimentos. A idade de ferro é também o mundo das 
doenças, da velhice e da morte. 
O mito, tanto de Prometeu como de Pandora, relata a mesma história: a miséria 
humana na idade do ferro. O homem é compelido não apenas a se cansar no trabalho da 
terra para obter alimento, mas também a sofrer a cada dia angústia e, ao mesmo tempo, 
ter alguma esperança na expectativa de um amanhã incerto. Na idade do ferro, o bem e o 
mal estão, não apenas misturados, mas solidários, indissolúveis. A raça de ferro conhece, 
assim, uma existência ambígua e ambivalente. Hesíodo indica que Pandora é a origem de 
todos os sofrimentos que os homens de ferro suportam: fadiga, miséria, enfermidades, 
angústias. Se a mulher não tivesse erguido a tampa do jarro em que estavam encerrados 
os males do mundo, os homens teriam continuado a viver, como antes, ao abrigo dos 
sofrimentos, do labor penoso e das doenças dolorosas que trazem a morte. Mas os males 
se dispersaram pelo mundo, entretanto subsiste a esperança, pois a vida não é totalmente 
sombria e os homens encontram ainda o bem misturado ao mal. 
Hesíodo colocou a justiça numa posição de destaque, fez do direito o núcleo de 
suas preocupações. Isso certamente ocorreu em virtude dos novos problemas 
apresentados ao pequeno agricultor daquela época, e que o incitaram a repensar no 
conteúdo dos velhos mitos para um rejuvenescer dos sentidos. 
 
2. SÍMBOLO E DIREITO 
Ferraz Jr. (1995, p. 32) anota que o Direito sempre teve como grande símbolo uma 
balança, com dois pratos colocados no mesmo nível, em posição perfeita, tanto na 
horizontal quanto na vertical. No símbolo grego, a balança é segurada pela deusa Diké. 
Na mão esquerda de Diké está a balança com os dois pratos, sem o fiel no meio; 
na mão direita, a deusa segura uma espada e com os olhos abertos, declara existir o justo 
quando os pratos estiverem em equilíbrio (íson, donde vem a palavra isonomia). O justo 
significa o que é visto como igual. A ideia de justiça na cultura grega adquire a 
concepção de fonte de igualdade. 
Ao contrário da deusa romana (Iustitia) que tem os olhos vendados, Diké mantém 
os olhos bem abertos. Esse fato tem um significado simbólico. Para os antigos, os dois 
sentidos mais intelectuais são a visão e a audição. A visão simboliza a contemplação e a 
especulação, o saber puro; a audição implica o valorativo, as coisas práticas, o saber agir, 
a prudência. Diké com os olhos abertos aponta para uma concepção mais abstrata, que 
 
 11 
precede em importância o saber prático. Além disso, o fato de Diké carregar uma espada 
mostra que os gregos conectam o conhecimento do direito com a força (bia) necessária 
para executá-lo. O equilíbrio e a harmonia necessários entre Direito (diké) e força (bia) 
deve prevalecer na cidade. 
Os símbolos (balança e espada) simbolizam algo mais que os próprios símbolos, 
pois fornecem um relato do mundo e as regras para atuar nele, porque: 
a) simboliza a justiça como igualdade e retidão; 
b) relata a existência de um poder (Diké) que diz o Direito e está acima das 
partes para executá-lo; e 
c) estabelece que justiça é igualdade, reciprocidade e também ordem pacificadora 
(pratos em equilíbrio) e, ainda, vingança e castigo (espada na mão). 
 
A balança e a espada simbolizam dois modelos de retribuição ou de reparação do 
status quo violado: 
a) a balança simboliza um modelo horizontal: visa à equiparação de uma 
pretensão e de uma contraprestação; e 
b) a espada simboliza um modelo vertical: uma hierarquia a ser protegida e 
mantida, retribui agressivamente uma ameaça agressiva. Esses dois modelos 
podem aparecer numa mesma regra. Nesse sentido, diz Chilon, um dos Sete 
Sábios: “concilia-te com quem te infringiu um dano, vinga-te de quem te 
ofendeu”. 
 
Hesíodo, sem abdicar do elemento religioso (Diké), constrói um modelo jurídico 
em que estabelece que as desgraças e os conflitos que atingem a cidade são 
consequências advindas do comportamento dos homens e não dos deuses. A partir de 
Hesíodo começa a ser traçado, em contraste com a hybris do rico, o ideal de temperança, 
de proporção e de justa medida. Nada em excesso passa a ser a fórmula de uma nova 
sabedoria. O homem virtuoso é prudente, justo e moderado, sabe controlar seus impulsos 
e paixões. Passando a ser o ideal ético do homem que pratica a phrónesis, que constitui a 
mais alta qualidade moral a se opor aos excessos e à desmedida. 
Em todos os planos da vida social, ocorre uma transformação decisiva que marca a 
história do Direito da polis: a desmedida perverte os homens nas suas relações recíprocas. 
Chega um momento em que a cidade rejeita as atitudes tendentes a exaltar o prestígio 
mediante a riqueza. Com as reformas legislativas de Sólon são tidos como 
descomedimento: a ostentação, o luxo, a suntuosidade. Por isso, essas práticas são 
rejeitadas porque, acusando as desigualdades sociais e o sentimento de distância entre os 
indivíduos, suscitam a inveja e colocam em risco a cidade, dividindo-a contra si mesma. 
 
 12 
Assim, o esforço de renovação atua nos planos jurídico, econômico e político, 
sempre visando restringir e fixar um limite à ambição, mediante regras gerais que possam 
ser aplicadas igualmente a todos os cidadãos. Contribui nesse esforço uma norma 
superior, diké, que aspira a igualdade e a harmonia de uma cidade unida. 
 
3. FILOSOFIA E DIREITO NA GRÉCIA CLÁSSICA: OS SOFISTAS E 
SÓCRATES 
3.1. Os sofistas 
Os sofistas (Jaeger, 1995, p. 335; Chauí, 1998, p. 122; Hadot, 1999) são mestres 
que ensinam uma arte e as suas respectivas técnicas. São eruditos, possuem um saber 
enciclopédico em relação ao objeto do seu ensinamento; além disso, sabem escolher e 
apresentar seus temas de maneira atraente. Entendem que não é apenas a técnica do 
discurso que persuade, mas também o seu conteúdo que seduz um auditório; porisso se 
interessam pela cultura geral. Ensinam as “artes úteis aos homens”, utilizando uma arte 
especial, a retórica, que permite obter a atenção e a benevolência do auditório ao qual se 
dirigem. Ensinam a arte de argumentar e persuadir, decisiva para o exercício da cidadania 
política numa ordem democrática. 
A arte ou técnica de argumentar e persuadir surge e se desenvolve na polis, uma 
organização política onde as questões de interesse geral são submetidas e resolvidas na 
conclusão de um debate, um combate de argumentos cujo teatro é a praça pública 
(ágora), lugar de reunião antes de ser um mercado. Nessa sociedade, os que se medem 
pela palavra formam um grupo de iguais. Conforme Vernant (1977, p. 33), o que implica 
o sistema da polis é a preeminência da palavra sobre todos os outros instrumentos de 
poder. A palavra ou discurso torna-se o instrumento político por excelência, a chave de 
toda a autoridade, o meio de comando e de domínio sobre outrem. 
Na polis democrática os discursos e argumentos dos cidadãos passam a ter um 
caráter nitidamente persuasivo, na medida em que apelam para uma escolha, uma decisão 
deliberada. A virtude (areté) não se sustenta mais na tradição, mas na atuação política, 
que consiste em exprimir publicamente o pensamento, e em participar de debates que 
requerem decisões aprovadas pela maioria. A virtude política passa a ser vista, sobretudo, 
como aptidão intelectual para a oratória. Essa situação favorece os filósofos sofistas, 
tornando-os responsáveis pela formação da elite política na arte de persuadir. 
Os sofistas aparecem para atender às necessidades de uma nova educação política, 
que consiste na formação de homens para atuar na polis democrática. O ideal de 
excelência e mérito passa a ser o cidadão como bom orador. Nesse sentido os sofistas dão 
uma valiosa contribuição ao fixar a arte retórica e suas técnicas persuasivas (oratória e 
eloquência) como fundamentais para a formação educacional da juventude. A retórica e 
suas técnicas de argumentar e persuadir está voltada para o discurso dirigido a um 
público numeroso e por isso os seus instrumentos técnicos são apropriados aos discursos 
longos e contínuos que não preveem a interrupção dos ouvintes. Discursos desse tipo são 
os discursos políticos e jurídicos. 
 
 13 
3.1.1. Arte retórica 
Perelman e Tyteca (1996, p. 1-16) confirmam que a retórica antiga tinha como 
objeto, acima de tudo, a arte de falar em público de modo persuasivo; refere-se, pois, ao 
uso da linguagem falada, do discurso perante um grupo, com o intuito de obter ou 
aumentar a adesão deste às teses apresentadas. 
Segundo esses autores, argumentação opõe-se à demonstração. A teoria da 
demonstração utiliza sistemas axiomáticos com deduções coercivas, funda-se, portanto, 
na ideia de evidência, concebida como força ou prova diante da qual todo o pensamento 
contrário tem de ceder. Contra a evidência, dizem, não há argumentos. A demonstração 
liga-se aos raciocínios lógico-formais, como são os raciocínios matemáticos. Em 
contraposição, a teoria da argumentação desenvolve-se a partir da ideia segundo a qual 
nem toda prova é concebível como redução à evidência, mas requer técnicas capazes de 
provocar ou acrescer a adesão dos espíritos às teses que se apresentam ao seu descortínio. 
A argumentação refere-se a raciocínios persuasivos, como são os raciocínios jurídicos, 
cuja validade é restrita a auditórios particulares, não pretendendo adquirir a 
universalidade da demonstração. 
O campo da argumentação, donde sobressai a retórica, é o do verossímil, do 
plausível, do provável que escapa à certeza do cálculo. Já no âmbito da demonstração não 
haveria necessidade da retórica tendo em vista que não se delibera diante do necessário e 
não se argumenta contra a evidência. 
 
3.1.2. Retórica dos sofistas 
Guthrie (apud Chauí, 1998, p. 128) faz o seguinte comentário a respeito da retórica 
dos sofistas: “A retórica ensina, em primeiro lugar, que o que conta não é o fato em si, 
mas o que dele aparece, aquilo que pode persuadir os homens. É a arte do logos que não é 
somente discurso e raciocínio, mas também aparência ou opinião, na medida em que 
estas se opõem aos fatos, e sua finalidade é a persuasão”. 
Nessa trilha, os sofistas procuraram mostrar o poder da técnica retórica no terreno 
filosófico, induzindo o auditório a ver que aquele que domina a palavra é capaz de fazer 
plausíveis afirmações paradoxais. “O discurso, para os sofistas, era, por isso, um jogo. 
Descobriram a dificuldade de se estabelecer uma linha divisória entre verdade (alethéia) 
e opinião (doxa), e proclamaram a divergência insuperável das opiniões” (Ferraz JR., 
1995, p. 324). 
A retórica sofística não tem, portanto, a pretensão de apreender o objeto como ele 
é em si mesmo ou por natureza, simplesmente seleciona argumentos e definições que não 
leva em conta essa pretensão, mas que se fundamenta no objeto como ele aparece e como 
ele pode ser útil. Como se trata da arte de persuadir, a retórica opera com opiniões 
contrárias, servindo-se ou apoiando-se na dialética, a arte da discussão. Os sofistas são os 
primeiros a sistematizar a técnica dos discursos duplos, isto é, o método de enxergar as 
coisas “pelos dois lados”, quer para atacá-las, quer para defendê-las. Por isso insistem no 
 
 14 
conflito que opõe a natureza (physis) às convenções humanas (nomos). Desse modo 
imprimem mais vigor na arte de discutir, aproximando a retórica da dialética. 
Na discussão para persuadir, o fundamental é a aptidão para proferir palavras 
decisivas e bem fundamentadas. Numa democracia como a ateniense, cujo destino 
dependia em grande parte da atuação de oradores, a arte da persuasão por meio da 
palavra manipulada com eficácia, usando recursos retóricos, era fator imprescindível para 
o desempenho relevante na polis. Assim, a educação dos que pretendiam projetar-se na 
política era baseada nas técnicas da arte retórica: oratória e eloquência. 
No tempo dos sofistas, e graças a eles, os debates judiciais (agon), que são uma 
espécie de luta entre rivais que se medem pela palavra, ganham novas dimensões, posto 
que a argumentação lógica da prova, introduzida pela retórica, vai substituindo, na 
oratória jurídica, as antigas provas jurídicas de testemunhas, juramentos e torturas. Aliás, 
Aristóteles e depois Crisipo, quando tratam da retórica, destacam três tipos de discursos 
retóricos, dentre eles o discurso judiciário, que recebe o mesmo destaque conferido ao 
discurso deliberativo. 
 
3.1.3. Divergências insuperáveis 
Conforme Jaeger (1995, p. 376), Eurípides, em As fenícias, fundamenta o 
princípio da igualdade no domínio de uma lei que se manifesta constantemente na 
natureza e à qual nem o próprio homem consegue escapar. Contudo, aqueles que criticam 
o princípio da igualdade recorrem aos mesmos fundamentos para demonstrar que a 
natureza não é regida pela isonomia, mas pela lei do mais forte. Nos diálogos platônicos, 
essa possibilidade de retirar da natureza concepções contrárias ou contraditórias aparece 
de forma muito límpida e indubitável nas falas dos personagens sofistas. 
No Górgias, por exemplo, Calicles, um discípulo dos sofistas, diz: 
Desde a meninice que tratamos como leões os melhores e mais poderosos de 
nós: oprimimo-los, enganamo-los e subjugamo-los, ao dizer-lhes que devem 
contentar-se em ser iguais aos outros e que é isto o nobre e o justo. Quando, 
porém, surge um homem de natureza realmente poderosa, sacode tudo isto, rompe 
as cadeias e liberta-se, calcando aos pés todo o nosso amontoado de letras e 
sortilégios, as nossas artes mágicas e as nossas leis contra a natureza; ele, o 
escravo, levanta-se e aparece como senhor nosso: é entãoque brilha em todo o 
seu esplendor o direito da natureza (Platão apud Jaeger, 1995, p. 378). 
 
Temos assim, de um lado, o direito natural (physis) dos mais fortes; e, de outro 
lado, a convenção (nomos) dos mais fracos. Os mais fracos criam nomos com o claro 
sentido de delimitar o direito natural dos mais fortes. Calicles aponta a desigualdade 
natural dos homens e a contrapõe à igualdade dos homens na convenção. 
 
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No diálogo Protágoras, o sofista Hípias de Élis, diz: “Senhores, todos quantos 
aqui estais presentes, sois a meus olhos semelhantes, parentes e concidadãos, não pela lei, 
mas pela natureza. Segundo a natureza, o semelhante é parente do semelhante; mas a lei, 
tirano dos homens, força a muitas coisas contra a natureza” (Platão apud Jaeger, 1995, p. 
378). Aqui a situação é outra. Hípias aponta a igualdade natural dos homens e a 
contrapõe à desigualdade dos homens na convenção. 
Essas duas passagens mostram a contraposição entre o “justo por natureza” e o 
“justo por convenção”. Os sofistas, pelo que se pode perceber nesses trechos dos diálogos 
platônicos, não são exatamente contrários ao Direito Natural, simplesmente demonstram 
que as leis da polis são fruto de convenções humanas, podendo ser ou não conforme a 
natureza. Se as leis são por convenção, elas são o resultado de opiniões (doxa) que se 
impõem a partir de um debate, daí a vantagem das técnicas ou artes persuasivas, que são 
objeto do ensino dos sofistas. 
Com os sofistas, a lei por natureza, um direito transcendente ao homem (Themis, 
Diké), é posta em dúvida. Afinal, como anuncia Protágoras, “o homem é a medida de 
todas as coisas”; “dos deuses, não sei se existem ou não existem; pois grandes são os 
obstáculos a esse conhecimento, tanto a obscuridade da coisa, quanto a brevidade da vida 
humana”. A polis e suas leis, na concepção dos sofistas, não passam de uma convenção 
(nomos), fruto do resultado da discussão e deliberação dos cidadãos, por isso mesmo, 
variável no tempo e no espaço, porque sempre é possível opor persuasivamente a um 
argumento qualquer um argumento contrário ou tornar mais forte a razão mais fraca 
(Ferraz Jr., 1995, p. 325). 
Segundo Perelman (1999, p. 552), existem dois limites para a aplicação da 
retórica. Um diz respeito à ausência de liberdade política, que: “é aquele em que a tese, 
apresentando-se como arbitrária e não invocando razão alguma em seu favor, reclama a 
submissão a um poder coercivo, que se impõe pela força bruta, sem buscar a adesão das 
mentes”. Outro diz respeito à ausência de liberdade da vontade: que é aquele em que a 
tese se impõe pela evidência e não necessita argumentar. Assim, quando “a verdade se 
impõe de uma maneira coerciva ou quando a evidência não deixa liberdade alguma à 
vontade, é supérflua qualquer retórica”. 
 
3.2. Sócrates (470-399 a. C.) 
Não há escritos de Sócrates, sua filosofia é exposta pelos discípulos, especialmente 
Platão e Xenofante. Em virtude disso, há muitas discussões a respeito do seu verdadeiro 
pensamento ou da interpretação mais correta da sua filosofia. Conforme anotações de 
Chauí (1994, p. 138), na obra de Xenofonte, As Memoráveis, percebe-se que Sócrates 
preocupa-se com três coisas: 
a) com a virtude identificada ao saber: só o ignorante é injusto ou vicioso; 
b) com a utilidade do bem: o bem é a justiça; e

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