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INTERNACIONAL.docx 2

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1 NOÇÕES DE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO
1.1 Denominações
Em 1780 surge a expressão Direito Internacional (International Law) com Jeremias Bentham, utilizada em oposição ao Direito Nacional (national law) ou Direito Municipal (municipal law). Para alguns juristas, o mais correto seria falar em Direito Interestatal, mas a expressão já está consagrada e não se justifica modificá-la.
A palavra “Público” foi acrescentada para distinguir a matéria de Direito Internacional Privado.
Muitos autores ainda empregam a expressão Direito das Gentes (Law of Nations), utilizada por Richard Zouch (1650). Essa expressão tem, contudo, o inconveniente de criar confusão com o direito das gentes, do Direito romano.
Clóvis Beviláqua adota a expressão Direito Público Internacional, com o objetivo de salientar o primado do Direito público sobre o privado.
1.2 Definições
As definições do Direito Internacional Público dependem das teorias defendidas pelos diversos estudiosos dessa área, principalmente quanto ao seu fundamento, fontes e evolução histórica.
Para Jorge Americano, “o objeto do DI é o estabelecimento de segurança entre as nações, sobre princípios de justiça para que dentro delas cada homem possa ter paz, trabalho, liberdade de pensamento e de crença”.[2]
Para Antônio de Vasconcellos Menezes de Drummond (1867). “o DI é o complexo dos direitos individuais e recíprocos entre as mesmas nações”.[3]
Para Nicolas Politis, DI é o “conjunto de regras que governam as relações dos homens, pertencentes aos vários grupos nacionais”.[4]
E para ACIOLLY (2002, p.4) o DI é o “conjunto de normas jurídicas que regulam as relações mútuas dos Estados e, subsidiariamente, as das demais pessoas internacionais, como determinadas organizações, e dos indivíduos”.
Entretanto, MAZZUOLI (2009, p.66 e 67) observa que os Estados deixaram de ser os únicos atores da cena internacional. Daí o entendimento contemporâneo de ser o Direito Internacional Público aquele ramo do Direito capaz de regular as relações interestatais, bem como as relações envolvendo as organizações internacionais e também os indivíduos, ainda que a atuação desses últimos seja mais limitada no cenário internacional.
1.3 Divisão
Como bem salienta o renomado professor Associado de Direito Internacional da Faculdade de Direito da USP, Dr. Paulo Borba Casella, o Direito como um todo se subdivide em direito interno e Direito Internacional, onde temos o primeiro se tratando das relações jurídicas no interior do sistema jurídico nacional e o segundo, as relações entre diferentes sistemas internacionais.
Cada Estado possui o seu direito interno regulando a vida no seu interior, enquanto que tratados e convenções internacionais regulam a convivência destes Estados. Matérias como as que discorrem sobre nacionalidade ou que se preocupam com os direitos humanos, têm um campo quase que comum. Por estes motivos, fica difícil muitas vezes diferenciar onde começa um e termina o outro.
1.4 Fundamento
O estudo do fundamento do Direito Internacional Público visa determinar o motivo pelo qual as normas internacionais são obrigatórias. Há duas teorias: a voluntarista e a objetivista.
O voluntarismo é uma corrente doutrinária cujo elemento central é a vontade dos sujeitos de Direito Internacional. Para o voluntarismo os Estados e organizações internacionais devem observar as normas internacionais porque expressaram livremente a concordância em fazê-lo. Repousa, portanto, no consentimento dos Estados, na vontade dos Estados. É também chamado de “corrente positivista”.
Deve-se destacar que o principal fundamento dos tratados vem a ser um dos princípios da sociedade internacional: o Pacta Sunt Servanda, que poderíamos definir como aquilo que foi pactuado deve ser cumprido.Segue o artigo 26 da Convenção de Viena: “Artigo 26 – Todo tratado em vigor vincula as Partes e deve ser por elas cumprido de boa fé”.
O objetivismo sustenta que a obrigatoriedade do Direito Internacional decorre da existência de valores, princípios ou regras que se revestem de uma importância tal que delas podem depender o bom desenvolvimento e a própria existência da sociedade internacional. Nesse sentido, tais normas, que surgem a partir da própria dinâmica da sociedade internacional e que existem independente da vontade dos sujeitos de Direito Internacional, colocam-se acima da vontade dos Estados e devem, portanto, pautar as relações internacionais, devendo ser respeitadas por todos.
1.5 Sanções
O Direito Internacional também compreende a possibilidade de imposição de sanções contra Estados que violem as normas internacionais. De fato os tratados podem fixar consequências jurídicas para os atos ilícitos dos entes obrigados a observar os preceitos de Direito das Gentes e criar órgãos internacionais para fazer valer as normas acordadas pelos Estados.
Parte das críticas ao Direito Internacional refere-se à relativa dificuldade de aplicar sanções aos Estados que descumprem as normas internacionais.
Efetivamente, a convivência internacional ainda é marcada por conflitos armados e inúmeros diferendos[5], bem como pela aparente prevalência do poder e do interesse, em detrimento do Direito. A percepção de que o Direito Internacional é ineficiente para conter essa dinâmica pode aumentar ainda mais no mundo moderno, em que os recursos tecnológicos permitem uma maior e mais rápida difusão das informações, possibilitando a formação de uma opinião pública internacional que pode claramente perceber as contínuas violações das normas de Direito das Gentes.
As dificuldades para impor sanções no Direito Internacional podem estar relacionadas à ausência de órgãos internacionais centrais encarregados da tarefa, assim como ao fato de que a aplicação dessas sanções normalmente depende da articulação dos Estados, o que pode não ocorrer dentro de determinado contexto.
Em todo o caso, o Direito Internacional dispõe de instrumentos de sanções. Para MAZZUOLI (2009, p. 613), "normalmente são duas as formas de punição impostas pelas organizações internacionais ao Estado faltoso: asuspensão de direitos e a exclusão do Estado dos quadros da organização"[6]
A Carta das Nações Unidas, no seu artigo 5º, fala da suspensão:
"O Estado contra o qual for levada a efeito ação preventiva ou coercitiva por parte do Conselho de Segurança poderá ser suspenso do exercício dos direitos e privilégios de membros pela Assembleia Geral, mediante recomendação do Conselho de Segurança". (grifo nosso).
E, o 6º da mesma Carta, trata da sanção da expulsão:
"O membro das Nações Unidas que houver violado persistentemente os princípios contidos na presente Carta, poderá ser expulso da Organização pela Assembleia Geral mediante recomendação do Conselho de Segurança". (grifo nosso).
Mas temos também outros exemplos, como são o envio de tropas da ONU para regiões em que esteja sendo violada a proibição do uso da força armada, a expulsão de diplomatas que abusem de suas imunidades (declaração de persona não grata), reparações financeiras, retaliações comerciais, etc. Ademais, quando as normas internacionais forem aplicadas internamente, empregam-se os mecanismos de sanção do ordenamento interno.
2.2 Fontes
Segundo ACCIOLY (2002, p.24 e 25), por fontes do DI entendemos os documentos ou pronunciamentos dos quais emanam direitos e deveres das pessoas internacionais, configurando os modos formais de constatação do Direito Internacional. Convém destacar o artigo 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça, que trás uma relação das fontes:
a) as convenções internacionais, quer gerais, quer especiais, que estabeleçam regras expressamente reconhecidas pelos Estados litigantes;
b) o costume internacional, como prova de prática geral aceita como sendo expressao de direito;
c) os princípios gerais de direito, reconhecidos pelas nações civilizadas;
d) e, excepcionalmente, as decisões judiciárias e a doutrina dos publicistas mais qualificados.
2.3 Usos e costumes
Para AMARAL (2014), o chamado direito costumeiro ou consuetudinário é uma das importantesfontes do Direito Internacional. Os usos comerciais derivam da adoção voluntária e repetida dos mesmos procedimentos por parte da generalidade dos operadores comerciais econômicos. Inúmeras organizações representativas das comunidades comerciais dedicam-se ao trabalho de uniformizar os procedimento comerciais, elaborando ordenamentos, que incorporam com a mesma eficácia da normatividade formal, como é o caso, entre outros dosIncoterms[10], das Regras Uniformes sobre Garantias Contratuais e dos Créditos Documentários.
2.4 Tratados e convenções
Tratados Internacionais são acordos formais, de livre vontade entre Estados ou entre Organização Internacionais, são as fontes mais importantes no Direito Internacional Público.
Todavia será de suma importância à conceituação de Tratado pela Convenção de Viena de 1969, in verbis:
"Artigo 2º [...] 1. Para os fins da presente Convenção: a) "tratado" significa um acordo internacional concluído por escrito entre Estados e regido pelo Direito Internacional, quer conste de um instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja sua denominação específica". [...]
Para REZEK (2007, p.14), o conceito é mais amplo: “Tratado é todo acordo formal concluído entre pessoas jurídicas de direito internacional público, e destinados a produzir efeitos jurídicos”.
MELLO (2000, p.200) define Tratado e Convenção como sendo: “Tratado é utilizado para os acordos solenes, por exemplo, tratado de Paz”; e “Convenção é o tratado que cria normas gerais, por exemplo, convenção sobre mar territorial”.
3 CONCEITO DE PESSOA INTERNACIONAL
Segundo HUSEK (2007, p.49), pessoas internacionais são os entes destinatários das normas jurídicas internacionais e têm atuação e competência delimitadas por estas.
MAZZUOLI (2009, p. 404) diz que para o direito das gentes a pessoa internacional é o Estado, ainda que em alguns países se lhe atribua outras denominações não técnincas. Os Estados, a ONU, a Santa Sé e o próprio indivíduo são exemplos de pessoas.
3.1 Homem
A acepção tradicional considerava os Estados como sendo os únicos sujeitos do Direito Internacional Público. Após a Primeira Guerra (1914-1918), a Liga das Nações[11] criou uma convenção (1920) em que os Estados se comprometiam a assegurar condições justas e dignas para homens, mulheres e crianças. Os dispositivos dessa convenção representaram um limite à concepção de soberania Estatal, colocando os indivíduos em uma posição de "sujeitos do Direito Internacional". Assim, numa visão moderna, tanto as organizações internacionais como os próprios homens podem ser sujeitos de Direito Internacional.
3.2 Estados
O Estado é o sujeito por excelência do Direito Internacional. De acordo com ACCIOLY (2002, p.83), “pode-se definir o Estado como sendo um agrupamento humano, estabelecido permanentemente num território determinado e  sob um governo independente”. Ainda com ACCIOLY, são quatro os elementos constitutivos do Estado: a) população permanente; b) território determinado; c) governo; e d) capacidade de entrar em relação com os demais Estados.
3.3 Santa Sé
Segundo SOARES (2014), a personalidade da Santa Sé é reconhecida pela quase unanimidade dos Estados da atualidade,  de maioria de católicos e não católicos, e portanto, tem a Santa Sé o poder de firmar tratados internacionais (denominados “concordatas”), de enviar representantes diplomáticos (não porém consulares), denominados “Núncios Apostólicos”, tanto frente a Estados como a organizações intergovernamentais, além de ter um “locus standi” nos procedimentos de soluções pacíficas de litígios[12], em especial, de ser parte nos procedimentos perante tribunais internacionais, nos polos ativo e passivo.
3.4 Organismos internacionais
Em HUSEK (2007, p.59), os organismos internacionais são entes formados pela iniciativa de outros sujeitos internacionais – em regra, os Estados. Representam a cooperação entre eles, porque, sozinhos, não podem realizar seus objetivos.
São criados por meio de tratados e passam a ter personalidade internacional independentemente de seus membros. Possuem um estatuto interno, órgãos internos e funcionam na forma estabelecida pelo tratado de criação, sendo, pois, passíveis de responsabilidade internacional.
Como exemplo, citamos a ONU (Organização das Nações Unidas),  FMI (Fundo Monetário Internacional), BIRD (Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento, ou simplesmente Banco Mundial), OIT (Organização Internacional do Trabalho), OMC (Organização Mundial do Comércio), entre outras.[13]
3.5 Outras coletividades
Além das já citadas, temos:
a) Beligerantes: são revoltosos internos de um Estado que possuem o controle de parte do território desse. Um exemplo recente foi o de 1979 quando os países do Pacto Andino reconheceram os sandinistas na Nicarágua como Beligerantes;
b) Soberana Ordem de Malta: com sede atual em Roma, dedica-se a fins filantrópicos, mantendo relações diplomáticas junto a diversos Estados;
c) Comitê Internacional da Cruz Vermelha: foi criada para dar assistência aos feridos nos campos de batalha. Sua sede localiza-se em Genebra e sua bandeira é uma cruz vermelha em fundo branco, o inverso da bandeira da Suíça.
d) Sociedades comerciais: consideradas aquelas que, por seu poderio econômico, acabam por influenciar a política dos Estados e até chegam a ameaçar a soberania de alguns. A ONU elabora um código de conduta para tais empresas.
e) ONG’s - Organizações Não-Governamentais: até 1997 existiam mais de 38.000 ONG’s reconhecidas e atuantes no mundo. A face do mundo está mudada pela atividade do ser humano nessas e em outras organizações.
3.6 Doutrinas Monista e Dualista
A relação existente entre Direito Internacional e Direito interno pauta-se numa linha ainda não muito clara de entendimento. Quando o conflito de normas das duas esferas ocorre, a solução é buscada no dualismo ou no monismo, teorias que explicam a prevalência de um ou de outro Direito.
3.6.1 Monismo
O monismo sustenta que o Direito Internacional e o Direito nacional são dois ramos de um único sistema, defendendo uns o primado do primeiro, e outros a primazia do segundo.
Os monistas partem do princípio de que todos os Direitos emanam de uma só fonte, daí ser a consciência jurídica uma só.
3.6.2 Dualismo
O dualismo permite uma divisão radical entre a ordem interna e a ordem internacional, pondo-as em patamares equivalentes, incomunicáveis.
O Direito Interno é elaborado pela vontade soberana do Estado e o Direito Internacional na acomodação dessas vontades; além do que, a ordem interna obedece a um sistema de subordinação, e a internacional, de coordenação. Em outras palavras, não há conflito entre as ordens.
CONCLUSÃO
O Direito Internacional Público está em franca expansão, sem qualquer paralelo com os tempos passados da história das relações internacionais. Multiplicaram-se as suas fontes, cresceram o número de tratados sobre os mais variados temas e houve uma grande proliferação de organizações intragovernamentais. Atualmente o Direito Internacional Público é um instrumento social, político, econômico, e cultural de grande valor para todos os Estados.
Dessa forma, o presente artigo não apenas dá uma noção do assunto, como também demonstra a sua importância como disciplina jurídica autônoma, hoje universalmente reconhecida.

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