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Atualidades 11-05.259

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005
ALUNO:
TEMA: DESIGUALDADE
ATUALIDADES
DATA: 11/05/15
TURMA:
Como um aluno de doutorado colocou contra a parede 
Thomas Piketty, que ganhou status de popstar ao lançar o 
livro O Capital no Século 21, um marco no debate sobre a 
distribuição da riqueza.
Matthew Rognlie, estudante do MIT que lançou trabalho 
questionando análise de Piketty.
Em 30 de março, o americano matthew Rognlie, de 26 anos, 
deixou de ser um número. Até aquele momento, ele era só 
mais um entre cerca de 600 000 estudantes de pós-gradua-
ção dos Estados Unidos. Apenas um dos 129 alunos do cur-
so de doutorado em economia do Instituto de Tecnologia de 
Massachusetts, conhecido pela sigla em inglês MIT.
Naquela sexta-feira, Rognlie ganhou luz própria ao dar uma 
palestra na Brookings Institution, um dos centros de pesqui-
sa de maior prestígio de Washington. Foi a primeira vez que 
um aluno de Ph.D. em economia apresentou um trabalho no 
lugar onde costumam se reunir chefes de Estado, ministros e 
grandes nomes do meio acadêmico. 
Como acontece em várias áreas da vida, na economia tam-
bém é possível medir o sucesso de alguém pelas pessoas que 
param para ouvi-lo. Na seleta plateia reunida por Rognlie es-
tavam Robert Solow, ganhador do Prêmio Nobel de Econo-
mia em 1987 e considerado o pai da teoria do crescimento 
econômico; George Akerlof, ganhador do Nobel em 2001 e 
marido de Janet Yellen, atual presidente do Fed, o banco cen-
tral americano; e Olivier Blanchard, o respeitado economis-
ta-chefe do Fundo Monetário Internacional.
“Fiquei um pouco tenso no início, achando que não conse-
guiria dizer tudo no tempo que tinha, mas, no fim, saiu tudo 
como o planejado”, diz Rognlie. Aquele era o grande dia de 
Rognlie, mas todos estavam lá porque sua palestra era uma 
feroz — e elegante — crítica ao trabalho de um economista 
que não estava presente: o francês Thomas Piketty.
Professor e pesquisador da Paris School of Economics, Piket-
ty conquistou fama global no ano passado ao publicar nos 
Estados Unidos O Capital no Século 21, um calhamaço de 
quase 700 páginas sobre o tema da desigualdade social. Con-
tra todas as expectativas, o livro virou um sucesso de vendas, 
foi lançado em cerca de 30 países e pautou, desde então, o 
debate sobre as dinâmicas que movimentam o acúmulo e a 
distribuição das riquezas.
Piketty coletou e padronizou dados inéditos em inúmeros pa-
íses ao longo de várias décadas — principalmente na França, 
na Grã-Bretanha, na Alemanha e nos Estados Unidos. Algu-
mas séries históricas voltam mais de 100 anos.
Ao analisar esses dados, o economista francês disse encontrar, 
com uma certa regularidade, um mesmo padrão: o retorno 
sobre o capital — o que inclui propriedades, investimentos, 
terras e máquinas — tende a ser maior do que o crescimento 
da economia. Em outras palavras, Piketty sugere que haveria 
uma força concentradora de riquezas inerente ao capitalismo. 
Assim como tudo o que é lançado ao ar tende a cair, a vanta-
gem dos donos do capital sobre os demais só faz aumentar.
De forma polêmica, Piketty colocou o tema da desigualdade 
no centro das atenções, um feito nada desprezível. Escreveu 
um best-seller e virou assunto obrigatório no meio acadêmi-
co, duas coisas que não costumam acontecer ao mesmo tem-
po. No MIT, onde Rognlie estuda, não foi diferente.
Rognlie ficou sabendo da existência de O Capital no Século 
21 por um colega que tinha uma versão em francês — o livro 
foi primeiro lançado na França, em 2013, sem chamar muita 
atenção. Quando saiu no mercado americano em março de 
2014, Rognlie correu para comprá-lo.
“Li antes que virasse um grande estrondo editorial, e minha 
primeira impressão foi que os dados e a ambição de Piketty 
eram incríveis, mas que o arcabouço criado por ele para in-
terpretar os dados era de alguma forma fraco e muito vago.” 
Começava ali uma reflexão que, um ano mais tarde, o levaria 
para o centro do debate global sobre desigualdade.
Ainda no começo do ano passado, Rognlie leu uma resenha 
sobre O Capital no Século 21, escrita por Paul Krugman, ga-
nhador do Nobel de Economia em 2008 e colunista do jor-
nal americano The New York Times. Achou que tinha algo 
a acrescentar e escreveu um post no blog especializado em 
economia Marginal Revolution, organizado por dois profes-
sores de economia americanos.
O comentário virou um sucesso, Rognlie se motivou a escre-
ver um ensaio sobre o assunto, colocou o texto em seu blog 
pessoal e, no fim de 2014, já havia recebido o convite para 
escrever uma versão mais longa e apresentá-la na Brookings 
Institution em março.
LÍQUIDO E CERTO?
Em seu ataque, Rognlie tenta desfazer a ideia segundo a qual o 
retorno sobre o capital tende a ser constante e alto. Para sus-
tentar sua tese, percorre dois caminhos. Ele argumenta que, 
numa situação em que o volume de capital de uma economia 
está crescendo, não é razoável achar que a taxa de retorno 
desse capital vai estar sempre constante, como diz Piketty.
Em algum momento ela vai começar a cair. Piketty argu-
menta que somente em situações extremas, como guerras, 
isso acontece. Rognlie diz que oscilações na taxa de retorno 
fazem parte do jogo.
Outro ponto discutido por Rognlie é o fato de Piketty usar 
o conceito de retorno bruto sobre o capital. Parece um 
detalhe qualquer, mas tem uma grande implicação. O cál-
culo bruto não considera a depreciação de propriedades, 
investimentos, terras e máquinas. Ao utilizá-lo, Piketty es-
taria inflando artificialmente o retorno do capital e che-
gando a uma conclusão errada sobre a principal causa do 
aumento da desigualdade.
“Alguns pontos citados por Rognlie já tinham sido falados por 
alto antes, mas ninguém organizou e embasou essas ideias 
como ele. É a melhor crítica feita até agora”, afirma a econo-
mista Monica Baumgarten de Bolle, tradutora para o portu-
guês de O Capital no Século 21 e pesquisadora do Peterson 
Institute for International Economics, um importante centro 
de pesquisa localizado em Washington.
Também ouvido por EXAME, Piketty pegou leve com Rognlie: 
“Para ser honesto, acho que não há nada de novo na crítica 
que ele me faz. Fico contente de ver que o debate sobre de-
sigualdade continua bem vivo. Isso deve explicar o interesse 
por trabalhos como esse”.
Com base na reação da seleta plateia de ganhadores de No-
bel e economistas renomados durante a apresentação na 
Brookings, não se chega a um veredito. “Muitos comentários 
foram bem elogiosos ao trabalho de Rognlie”, relembra Ste-
ve Cicala, professor de políticas públicas da Universidade de 
Chicago e um dos presentes no auditório. Mas ouviram-se 
críticas também.
Ainda que tudo isso possa parecer uma discussão estéril de 
especialistas, o que está em jogo é a busca do conhecimento 
sobre as causas da desigualdade social, uma questão que an-
dou por muito tempo fora do debate público.
Conclusões apressadas e imprecisas sobre suas causas po-
dem levar governos a adotar políticas equivocadas — uma 
boa reflexão para o Brasil no momento que o governo de Dil-
ma Rousseff pensa na taxação de fortunas e no aumento do 
imposto sobre heranças como solução.
Na disputa acadêmica sobre a acumulação de riquezas, a 
bola da vez está com Piketty. É ele quem precisa digerir o 
que foi dito na Brookings e apresentar uma resposta robusta. 
Para Rognlie, o relógio já bateu as 12 badaladas. Depois da 
palestra, levou uma bronca do professor do MIT que o orien-
ta, para evitar o assédio da imprensa e tratar de acabar logo 
sua tese de doutorado.
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