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Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB Departamento de Estudos Linguísticos e Literários – DELL Área de Teoria e Literatura – ATL Prof. Dr. Cássio Roberto Borges da Silva Aluno: Evangeline Ferraz Cabral de Araújo Tópicos de História da Literatura Brasileira I (Letras Modernas 2012.1) ANÁLISE DE UM SONETO O trabalho aqui desenvolvido analisa o soneto 131, “De quantas graças tinha, a Natureza”, retirado do livro “Lírica Luís de Camões”, 5ª edição. Este soneto aborda um lugar-comum: o louvor de uma senhora. É um soneto cuja temática corresponde à Ode, pois é um canto laudatório que expressavam sentimentos em alguns eventos festivos. Algumas das informações aqui contidas foram pautadas por Faria y Sousa em Rimas Várias de Luís de Camões, ano de 1685. De quantas graças tinha, a Natureza Fez um belo, e riquíssimo tesouro E com rubis e rosas, neve e ouro Formou sublime e angélica beleza Primeiramente, é imprescindível esclarecer quais são as “graças” ou Cárites (do Grego Cáris) citadas por Camões no primeiro verso, “De quantas graças tinha, a Natureza [...]”, do primeiro quarteto. Elas são as três graças da mitologia grega: Aglaia, deusa do esplendor, Tália, deusa do desabrochar e Eufrosina, deusa da alegria. Há dúvidas sobre os seus ancestrais. Há quem diga que elas são filhas de Zeus e Hera ou de Zeus e Eurínome. Elas eram tão belas, que eram comparadas à Afrodite, deusa do amor. Seguindo a análise, no segundo, terceiro e quarto versos, Camões faz a descrição da mulher através de análogos naturais. Uma beleza perfeita que foi formada a partir de elementos raros, dignos de riqueza e pureza. O poeta faz a analogia utilizando os melhores elementos naturais, que por serem tão estimados geraram um anjo. O tesouro citado no segundo verso, de acordo com Faria y Sousa, é muito utilizado por Camões em outros sonetos, sendo que, nesse, o tesouro se refere à senhora gerada pela natureza. Para referir-se a esse objeto o poeta, às vezes, não utiliza a palavra tesouro propriamente dita, refere-se a ela indiretamente usando de elementos naturais valiosos, como os citados ao longo do soneto: os rubis, o ouro, a rosa com sua delicadeza e a neve pura. Pôs na boca os rubis, e na pureza Do belo rostro as rosas, por quem mouro; No cabelo o valor do metal louro: No peito a neve em que a alma tenho acesa. É perceptível, durante todo o segundo quarteto, que o autor elabora uma série de analogias que expõem cada parte do corpo da mulher que o atrai, igualando-as a um objeto valioso. Na boca são postos os rubis, vermelhos e sedutores assim como os lábios. No rosto exibe uma rosa, perfumada e delicada que o mata de desejo. É interessante ressaltar que, de acordo com o dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, a palavra “Mouro” (Do lat. Mauru) citada no segundo verso desse mesmo quarteto, “Do belo rostro as rosas, por quem mouro;”, significa, como substantivo, “Indivíduo dos mouros, povos que habitavam a Mauritânia (África); mauritano, mauro, sarraceno [...]”, e como adjetivo, “Relativo ou pertencente a, ou próprio de mouros; mauro; mauresco, mauriense, mouresco, mourisco [...]”. Ao analisar esse quarteto, nota-se que no contexto usado por Camões, o vocábulo, aqui evidenciado, não está significando “descendente dos Mouros”, mas se refere ao verbo intransitivo Morrer. Sendo assim, a possível tradução literal do trecho seria “Por quem morro”. O análogo do cabelo, é o ouro, objeto valioso e brilhante, que tem como cor o “louro” ou amarelo. O correlato do peito é a neve. Nesse caso, a analogia usada causa, por antítese, um desejo ardente. Mas nos olhos mostrou quanto podia, E fez deles um sol, onde se apura A luz mais clara que a do claro dia. No primeiro terceto ocorre o ápice da analogia. Camões mostra quanto poder a mulher tem nos olhos. Ao serem comparados ao sol, eles superam o paralelo natural, sendo assim, capazes de produzir um brilho maior que a própria luz do claro dia. Enfim, Senhora, em vossa compostura Ela a apurar chegou quanto sabia De ouro, rosas, rubis, neve e luz pura. No último terceto, o conjunto dos itens que se procedem do principal gênero análogo, a natureza, se aprimora na compostura dessa senhora, que se torna o principal objeto do encômio. Nesse soneto fica claro que, Camões utilizou a brevidade e a clareza ao compô-lo, tornando-o assim uma composição nítida e de fácil entendimento. Vale ressaltar que, a brevidade e a clareza merecem um cuidado especial, pois o seu uso indevido, às vezes, pode tornar a obra um elemento de acesso ao público vulgo. Referências CAMÕES, Luís de. Váris Rimas de Luis de Camões. Fária y Sousa. Theotonio Dámaso de Mello.1685 HOLANDA, Aurélio B. (2004) Novo dicionário eletrônico Aurélio da Língua Portuguesa. CD.Room. Versão 5.0 CAMÕES, Luís de. Líricas. Massaud Moisés. 5ª ed. São Paulo. Cultrix, 1977 GRAÇAS. In: WIKIPEDIA, a enciclopédia livre. San Francisco (CA): Wikimedia Foundation, s.d. Disponível em http//:PT.wikipedia.org /wiki/Gil_Vicente (acesso em 21 agos 2012) CEIA, Carlos. Ode. In: E-Dicionário de Termos Literários, [S.l]. Disponível em: http//: edtl.com.pt/índex.php (acesso 16 ago 2012)
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