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03 28 (Lista de Classicismo)

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Profª. Cristiane 
 Literatura 
 
Página 1 de 20 
Classicismo em Portugual 
 
1. Renascimento cultural 
 
Leonardo da Vinci, O homem vitruviano. 1490, lápis 
e tinta sobre papel, 34x24 cm, Gallerie dell’ 
Accademia 
O crescimento das cidades e o surgimento do 
homem livre, o burguês, durante a Baixa Idade 
Média, assim como o Mercantilismo que começava 
a aflorar, modificaram definidamente a estrutura da 
sociedade ocidental europeia. Um ambiente mais 
agitado, colorido, saboroso e cheiroso que 
começava a surgir – pense nas feiras como exemplo 
– foi um aspecto definitivo para a transformação da 
percepção do homem que, mais sensorial, passou a 
desejar viver intensamente a própria vida, 
preocupando-se, consequentemente, menos do que 
no período medieval, com o post-mortem. O 
individualismo burguês toma gradativamente o lugar 
do coletivismo medieval e, somado ao 
desenvolvimento científico e tecnológico, modificaria 
a sociedade como em poucos outros momentos da 
história. Não é à toa que o século XVI viu o 
heliocentrismo de Nicolau Copérnico, a expansão 
marítima, a Reforma Protestante de Martinho Lutero 
e a invenção da imprensa por Gutenberg. Sobre 
esse momento peculiar, comenta Massaud Moisés: 
Foi no ímpeto revolucionário da Renascença, e 
como desenvolvimento natural do Humanismo, que 
o Classicismo se difundiu amplamente, por 
corresponder, no plano literário, ao geral e efêmero 
complexo de superioridade histórica. Ao 
teocentrismo medieval opõe-se uma concepção 
antropocêntrica de mundo, em que “o homem é a 
medida de todas as coisas”, no redivivo dizer de 
Protágoras. Ao teologismo de antes contrapõe-se o 
paganismo, fruto duma sensação de pleno gozo da 
existência, provocada pela vitória do homem sobre a 
Natureza e seus “assombramentos”: não mais a 
volúpia de ascender para as alturas, mas sim de 
estender o olhar até os confins da Terra. O saber 
concreto, “científico”, e objetivo, tende a valorizar-se 
em detrimento do abstrato; notável avanço opera-se 
no campo das ciências experimentais; a mitologia 
greco-latina, esvaziada de sentido religioso ou ético, 
passa a funcionar apenas como símbolo ou 
ornamento; em suma: o humano prevalece ao 
divino. (Massaud Moisés. A literatura portuguesa. 33 
ed, São Paulo: Cultrix, p. 50) 
Para as artes também é um momento marcante. 
Durante o período medieval, os artistas plásticos não 
tinham a pretensão de buscar realidade para as 
imagens, poderiam até mesmo mudar o tamanho 
das formas para fazê-las caber no espaço. Não 
havia trabalho pcom a espacialidade, com a 
proporcionalidade; a preocupação era meramente 
mostrar as figuras. A partir do século XIII, os artistas 
passam a imitar a realidade a partir dos 
conhecimentos técnicos desenvolvidos. A Itália é o 
berço do Renascimento nas artes plásticas. Giotto 
(1267-1337), pintor florentino, é um exemplar dessa 
transição nas artes plásticas da Idade Média para o 
Classicismo. Influenciado pelos grandes mestres 
bizantinos e pela pintura gótica, tenta se aproximar 
ao máximo de como os acontecimentos bíblicos 
poderiam ter sido. Sua genialidade fez com que 
fosse reconhecido e admirado por sua arte e 
habilidade numa época em que isso ainda não era 
comum. Para ele, a pintura é mais que uma 
substituta da linguagem escrita. Repare como ele 
trabalha a composição da cena e os gestos das 
pessoas, em busca de transmitir-nos a sensação de 
que estamos testemunhando uma cena real. 
 
Giotto di Bondone, Adoração dos Reis Magos. 1302 
– 1306, Capela degli Scrovegni – Pádua (Itália) 
A descoberta da perspectiva e o estudo da 
natureza trouxeram novos ares para a pintura. 
Passa a ser temática recorrente, por exemplo, a 
mitologia greco-latina em detrimento das passagens 
bíblicas, marca do antropocentrismo renascentista. 
Note, porém, como as grandes obras de arte inovam 
em muitos aspectos. No fim do século XV, o também 
florentino Sandro Botticelli (1446-1510) foge ao 
estrito realismo clássico de artistas como Leonardo 
da Vinci e Rafael Sanzio. Em O nascimento de 
Vênus, a deusa emerge das águas em uma concha 
(na Antiguidade Clássica, símbolo do órgão genital 
feminino) já como uma mulher adulta, como aparece 
 
 Profª. Cristiane 
 Literatura 
 
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na mitologia romana, e é empurrada para a margem 
pelos Ventos D’oeste, símbolos das paixões 
espirituais. Recebe da Hora1 representativa da 
Primavera um manto bordado de flores. Numa época 
em que ainda a maioria das pinturas utilizavam-se 
de temas cristãos, essa sobressai com um efeito de 
paganismo. Perceba que nem tudo nessa obra imita 
objetivamente a realidade: o pescoço da deusa é 
irrealisticamente longo e o ombro esquerdo está 
posicionado em posição anatomicamente 
improvável – seriam já esses presságios do 
Maneirismo, período de transição entre o 
Classicismo e o Barroco? 
 
Sandro Botticelli, O Nascimento de Vênus, 1483, 
têmpera sobre tela, 172,5 x 278,5 cm, Galleria degli 
Uffizi (Florença). 
2. Classicismo (1527-1580) 
Existem alguns sentidos possíveis para o termo 
Classicismo. Do latim, classis significa frota; 
classicis eram os ricos que pagavam impostos pela 
rota. Um escritor classicus, portanto, era aquele que 
escrevia para essa categoria mais afortunada da 
sociedade. Posteriormente, o vocábulo passou a ter 
um valor ético, estético e didático: uma obra clássica 
era aquela que poderia ser considerada digna de ser 
estudada nas “classes” das escolas. Ainda hoje o 
termo é usado como sinônimo de cânone. Assim, 
José de Alencar, apesar de ser romântico, pode ser 
considerado como um clássico da literatura 
brasileira. Aqui, porém, utilizaremos o termo sob um 
outro ângulo. Durante o Renascimento, houve a 
revalorização das produções intelectuais e artísticas 
da Antiguidade greco-latina (ou, como passou a 
chamar-se, clássica). O reencontro e consequente 
tradução direta do grego de autores consagrados 
como Aristóteles, somado ao clima empreendedor 
 
1 As Horas eram as deusas das estações 
2 “A arte, segundo Aristóteles, por um lado, possui 
a facilidade de representar o não visto e a verdade 
mais profunda. Eticamente, o interesse de beleza 
não é identificado, ao menos totalmente, nem com 
as aspirações morais, nem tampouco apenas com 
as sensuais. Através do belo, esteticamente, 
explicitam-se os acontecimentos da vida em sua 
ligação essencial, cujas raízes estão fincadas no 
de um ocidente mercantilista e científico, tornou 
dominante a concepção de que os princípios 
fundamentais da prática e da teoria helênicas 
constituíam os cânones imutáveis daquilo eu seria 
considerado obra de arte. O surto criativo que 
ocorreu na Europa no século XVI deu origem a 
trabalhos notáveis nas mais diversas áreas 
artísticas; seria o período “clássico” europeu, que se 
espalhou inclusive sob a forma de um 
neoclassicismo durante o século XVIII, o século do 
racionalismo ilustrado. 
Comentam Anatol Rosenfel e J, Guinsburg a 
respeito da estética classicista: 
[...] O classicismo se distingue 
fundamentalmente por elementos como o equilíbrio, 
a ordem, a harmonia, a objetividade, a ponderação, 
a proporção, a serenidade, a disciplina, o desenho 
sapiente, o caráter apolíneo, secular, lúcido e 
luminoso. É o domínio do diurno. Avesso ao 
elemento noturno, o classicismo quer ser 
transparente e claro, racional. E com tudo isso se 
exprime, evidentemente, uma fé profunda na 
harmonia universal. A natureza é concebida 
essencialmente em termos de razão, regida por leis, 
e a obra de arte reflete tal harmonia. A obra de arte 
é imitação da natureza e, imitando-a, imita seu 
concerto harmônico, sua racionalidade profunda, as 
leis do universo2. 
Outro aspecto relevante é o disciplinamento dos 
impulsos subjetivos. O escritor clássico domina os 
ímpetos da interioridade e não lhes dá pleno cursoexpressivo. De certo modo, pode-se considerar que 
ele se define precisamente por essa contenção. 
Anatol Rosenfeld e J. Guinsburg. Um conceito 
de classicismo in O classicismo. Org. J. Guinsburg. 
São Paulo: Perspectiva, 1999. p.374 
O valor estético, agora, portanto, reside na obra 
de arte e, por trás dela, deve desaparecer a figura 
do artista, que passa a ser um mero artesão: segue 
as regras pré-estabelecidas às quais se conforma e 
se ajusta. É bem verdade que existe uma certa 
autolimitação... O desejo manifesto do autor é ser 
objetivo, mas não podemos descartar a 
individualidade do artista. Ainda assim, segundo a 
visão classicista, a obra será tanto mais realizada 
quanto maior o seu poder de veicular, através da 
forma, ensinamentos e verdades que elevem o 
conhecimento e contribuam para o aperfeiçoamento 
do gênero humano.3 O racionalismo clássico não 
significa ausência de emoção, mas uma 
caráter humano. Por outro lado, a arte que realiza 
a beleza é definida como mimesis, o que faz 
Aristóteles compreender o movimento da natureza 
orgânica que se encaminha para o melhor, para um 
acabamento mais perfeito, inserindo ainda a arte 
no espaço não apenas de uma ética, mas também 
da metafísica.” (Vera Lúcio Felício. A razão clássica 
in Anatol Rosenfeld e J. Guinsburg. op. cit., p. 27) 
3 Anatol Rosenfeld e J. Guinsburg. op. cit, p. 375 
 
 Profª. Cristiane 
 Literatura 
 
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sobreposição da Razão (da inteligência) aos 
sentimentos, para evitar que eles “transbordem”. 
Deseja-se criar uma arte equilibrada, impessoal e 
universal e, para tanto, o homem busca o Belo, o 
Bom e o Verdadeiro, concepção absolutista e 
idealista de arte. 
Em Portugal, o Classicismo inicia-se em 1527, 
quando o poeta luso Sá de Miranda (1481 – 1558), 
principal divulgador das ideias clássicas, retorna de 
uma viagem de seis anos pela Itália, onde teve 
contato com grandes intelectuais impregnados de 
novas ideias. Colaborou para a introdução em seu 
país da chamada “medida nova”, o decassílabo, em 
contraposição à medida dos versos mais 
comumente usada na Idade Média, os redondilhas, 
agora chamados “medida velha”. Também levou 
para a sua terra natal o soneto, o terceto, a elegia, a 
ode, a oitava e a comédia clássica. Aprecie um dos 
grandes sonetos desse poeta. 
O sol é grande, caem coa calma as aves, 
do tempo em tal sazão, que sói ser fria; 
esta água que d’alto cai acordar-m’ia 
de sono não, mas de cuidados graves. 
 
Ó cousas, todas vãs, todas mudaves, 
qual é tal coração qu’em vós confia? 
Passam os tempos vai dia trás dia, 
incertos muito mais que ao vento as naves. 
 
Eu vira já aqui sombras, vira flores, 
vi tantas águas, vi tanta verdura, 
as aves todas cantavam d’amores. 
 
Tudo é seco e mudo; e, de mistura, 
também mudando-m’ eu fiz doutras cores: 
e tudo o mais renova, isto é sem cura! 
Sá de Miranda in Massaud Moisés. A literatura 
portuguesa através dos textos. 25 ed, São Paulo: 
Cultrix, 1998, p. 109-110 
3. Épica de Camões: Os Lusíadas 
 
4 narrativa heróica escrita em versos com 
temática universal e tom de celebração 
nacional. 
 
 
Bico Bauer, A Partida de Vasco da Gama para 
Índia em 1497. 1897-1900, 9x13 cm, Lisboa 
Iniciaremos nossos estudos sobre um dos 
maiores escritores em língua portuguesa, Luís Vaz 
de Camões (1524 ou 1525 – 1580), pela sua obra 
épica. O autor também cultivou a lírica, tema da 
próxima aula, e o gênero dramático – parte de sua 
obra que não alcança a genialidade das demais e, 
portanto, não estudaremos aqui. 
O grande exemplar da épica de Camões são Os 
Lusíadas (1572), epopeia4 cujo tema é a viagem de 
Vasco da Gama até às Índias. Para entendemos 
melhor esse tipo de texto, vejamos o que comenta o 
professor Ivan Teixeira a respeito das epopeias 
clássicas: 
A epopeia era a forma poética mais importante nos 
tempos heroicos da Grécia homérica, mais ou 
menos entre o século XII e o século VIII antes de 
Cristo. Nesse período, ouvir um trecho da Ilíada ou 
da Odisseia era algo tão espontâneo quanto hoje 
assistir a um filme sobre a Segunda Guerra Mundial 
ou sobre a Guerra do Vietnã. Assim como todos 
sabemos algo da atmosfera geral desses conflitos, 
os gregos da Antiguidade conheciam o espírito e as 
linhas gerais das aventuras de Ulisses em sua 
viagem de retorno à Ítaca ou da ira de Aquiles contra 
o parceiro Agamenon ou contra o inimigo Heitor. 
Tais coisas faziam parte do repertório coletivo. Por 
isso, todos gostavam de relembrar essas proezas, 
nas quais os deuses tinham intensa participação. 
(...) Os cantos homéricos exaltavam a astúcia, a 
força, a coragem, a amizade, a hospitalidade, a 
obediência aos deuses e a fidelidade aos reis. Nos 
combates ou aventuras, venciam as pessoas de 
coração mais forte, porque estas eram as preferidas 
dos deuses. (...) Os cantos homéricos são 
considerados (epopeias) naturais, por serem 
espontâneos e anônimos. Entendem-se como 
manifestação primitiva do impulso artístico de um 
povo que ainda não atingira com nitidez a distinção 
entre as forças da natureza e as abstrações da 
cultura. A Eneida5, ao contrário, é considerada, sem 
5 Epopeia encomendada por Otávio Augusto, 
imperador romano, a Virgílio, grande poeta latino 
ao lado de Horácio e Ovídio; narra as aventuras do 
herói troiano Enéias que, depois da destruição de 
 
 Profª. Cristiane 
 Literatura 
 
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nenhuma conotação pejorativa, epopeia artificial ou 
de imitação, não só por possuir autor específico que 
reelabora os esquemas consagrados pela tradição 
homérica, mas também por resultar de encomenda 
com propósitos políticos, o que implica a 
incorporação de um ideário pré-existente.(...) De 
fato, a Eneida surgiu sob a diretriz do Estado, a 
quem convinha organizar artisticamente sua história 
e seus mitos. 
Ivan Teixeira, Primeiros Passos para a Leitura de 
Os Lusíadas in Os Lusíadas, Luís de Camões. 
Cotia: Ateliê Editorial, 1999, p. 15-20 
 Assim como a Eneida, Os Lusíadas 
também são uma epopeia artificial, pois foram 
escritos por um autor específico para atender a um 
propósito político determinado: legitimar pela língua 
recém-portuguesa6 a história da sua nação, desde 
suas origens míticas na Idade Média até a expansão 
mercantilista no Renascimento. É notório o fato de o 
poeta fazer uso do discurso dominante da época, 
sua obra preencheu as necessidades culturais dos 
setores expansionistas. Por ser a história metrificada 
de Portugal, exaltou o Feudalismo em seu ideal 
guerreiro cristão medieval ao mesmo tempo em que 
elogiou o Mercantilismo expansionista burguês. 
Estrutura d’Os Lusíadas 
 A obra-prima de Camões foi composta, 
como não poderia deixar de ser para um autor 
clássico, segundo o modelo das epopeias antigas. É 
dividida em cinco partes: 
1. Proposição – as primeiras três estrofes da obra 
são destinadas a expor o assunto de que tratarão. 
Porém, Camões não apenas imita os antigos, busca 
também o princípio da emulação, ou seja, pretende 
rivalizar com os autores clássicos e, até mesmo, 
superá-los em qualidade7. 
As armas e os barões8 assinalados9 
Que da Ocidental praia Lusitana10, 
Por mares nunca dantes navegados 
Passaram ainda além da Taprobana11, 
Em perigos e guerras esforçados12 
Mais do que prometia a força humana 
 
sua cidade pelos gregos, imigra para a região do 
Lácio, na Itália, onde cria raízes e lança os 
fundamentos para o grande esplendor de Roma. 
6 É Camões que inaugura a língua portuguesa 
como conhecemos hoje. 
7 Basearemo-nos na seguinte edição d’ Os 
Lusíadas para a elaboração das notas de 
rodapé destas aulas: Os Lusíadas, Luís de 
Camões. Apresentação e notas: Ivan Teixeira. Cotia: 
Ateliê Editorial, 1999. 
8 Armase os barões: barões armados, nobres 
destinados à guerra 
9 Distintos, ilustres 
E entre gente remota edificaram 
Novo Reino, que tanto sublimaram13; 
E também as memórias gloriosas 
Daqueles Reis que foram dilatando14 
A Fé, o Império, e as terras viciosas15 
De África e de Ásia andaram devastando, 
E aqueles que por obras valerosas 
Se vão da lei da Morte libertando 
Cantando espalharei por toda a parte 
Se a tanto me ajudar o engenho e arte. 
Cessem do sábio grego e do troiano 
As navegações grandes que fizeram; 
Cale−se de Alexandro e de Trajano 
A fama das vitórias que tiveram; 
Que16 eu canto o peito ilustre Lusitano17, 
A quem Neptuno e Marte obedeceram. 
Cesse tudo o que a Musa antígua canta, 
Que outro valor mais alto se alevanta. 
 Aqui, afirma-se que o poema consagrará os 
reis e sua elite guerreira na expansão e na 
manutenção da fé e do império. A terceira estrofe 
exalta o povo português por meio de uma 
comparação com os maiores navegantes e 
guerreiros de toda a Antiguidade. Deve-se ressaltar 
que devemos entender como “povo português” não 
os marinheiros ou os humildes guerreiros, mas a 
aristocracia responsável pelo comando do país. A 
visão de Camões é, portanto, aristocrática e 
nobiliárquica. 
2. Invocação – a quarta e a quinta estrofes pedem 
inspiração para que a obra seja grandiosa como o 
assunto de que trata. Assim como os antigos 
invocavam as Musas18, Camões clama às Tágides, 
entidades portuguesas que habitariam as águas do 
rio Tejo. Aqui fica claro o tom épico da obra: a 
celebração da guerra e da aventureira viagem. 
E vós, Tágides minhas, pois criado 
Tendes em mim um novo engenho ardente, 
Se sempre em verso humilde19 celebrado 
Foi de mim vosso rio alegremente, 
Dai-me agora um som alto20 e sublimado21, 
10 Portugal 
11 Extremo Oriente, atual Sri Lanka 
12 Refere-se a barões 
13 elevaram 
14 divulgando 
15 Infiés, terras que não são cristãs 
16 porque 
17 Povo português 
18 Entidades gregas responsáveis pelo entusiasmo 
dos poetas. 
19 Poesia lírica 
20 grandiloquente 
21 elevado 
 
 Profª. Cristiane 
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Um estilo grandíloco e corrente, 
Porque de vossas águas, Febo22 ordene 
Que não tenham inveja às de Hipocrene23. 
3.Dedicatória – as treze próximas estrofes dirigem-
se a D. Sebastião, rei de Portugal no período do 
pioneirismo marítimo, para solicitar atenção 
intelectual e, indiretamente, apoio à publicação da 
obra. 
Vós, poderoso Rei24, cujo alto Império 
O Sol, logo em nascendo, vê primeiro, 
Vê-o também no meio do Hemisfério, 
E quando desce o deixa derradeiro; 
Vós, que esperamos jugo25 e vitupério26 
Do torpe27 Ismaelita cavaleiro, 
Do Turco Oriental e do Gentio28 
Que inda bebe o licor do santo Rio29: 
 
Inclinai por um pouco a majestade 
Que nesse tenro gesto vos contemplo, 
Que já se mostra qual na inteira idade, 
Quando subindo ireis ao eterno Templo; 
Os olhos da real benignidade 
Ponde no chão: vereis um novo exemplo 
De amor dos pátrios feitos valerosos30, 
Em versos divulgado numerosos. 
4. Narração – apenas aqui começa a narrativa 
propriamente dita: a viagem de Vasco da 
Gama até às Índias. 
 
22 Deus Apolo, responsável pela poesia e pela 
música 
23 Referência à fonte de Hipocrene, de cuja água 
bebeu Homero e outros poetas da Antiguidade 
24 D. Sebastião 
25 opressão 
26 Afronta, injúria, insulto 
27 Infame, aquele em que há maldade e 
desonestidade 
28 Termo pejorativo que designa aquele que não é 
cristão 
29 Referência aos povos orientais, infiéis 
30 valorosos 
31 D. Inês de Castro era filha de D. Pedro Fernandes 
de Castro, mordomo-mor do rei D. Afonso XI de 
Castela, e de uma dama portuguesa, Aldonça 
Lourenço de Valadares. O seu pai, neto por via 
ilegítima de D. Sancho IV de Leão e Castela, era um 
dos fidalgos mais poderosos do Reino de Castela. 
Em 24 de Agosto de 1339 teve lugar, na Sé de 
Lisboa, o casamento do Infante Pedro I de Portugal, 
herdeiro do trono português, com D. Constança 
Manuel, filha de D. João Manuel de 
Castela, príncipe de Vilhena e 
 
Interessante notar que, apesar de o famoso 
navegante assumir papel preponderante na 
história – em alguns momentos chega até 
mesmo a narrador, ele não é o herói d’Os 
Lusíadas como Eneias o é na Eneida. O 
protagonista da obra, como já revela o título, é 
o povo português; tem-se pela primeira vez na 
história das epopeias um herói coletivo. Com 
isso, Camões demonstra o seu nacionalismo, 
ao exaltar toda a população componente da sua 
nação. Diversas passagens são notáveis e 
muitas mereceriam o nosso destaque. Porém, a 
crítica atual ressalta determinados episódios, no 
geral aqueles que se desviam de alguma forma 
do ideário oficial da expansão ultramarítima. O 
episódio de Inês de Castro é um bom exemplo, 
já que é um trecho da obra em que os gêneros 
épico e lírico se confundem. É a história de uma 
moça (Inês) que fora assassinada por ordem do 
próprio sogro, o qual colocou os interesses 
políticos acima dos sentimentos de seu filho31. 
Escalona, duque de Penafiel, tutor de Afonso XI de 
Castela, «poderoso e esforçado magnate de 
Castela»,[1] e neto do rei Fernando III de Castela. 
Todavia seria por uma das aias de D. Constança, D. 
Inês de Castro, que D. Pedro viria a apaixonar-se. 
Este romance notório começou a ser comentado e 
a ser mal aceite, mais pela corte, que temia a 
influência castelhana sobre o infante Pedro, que 
pelo povo. Visto que o seu relacionamento era mal 
aceite, passaram a encontrar-se às escondidas na 
antiga Vila do Jarmelo na Guarda. 
Sob o pretexto da moralidade, D. Afonso IV não 
aprovava esta relação, não só por motivos 
de diplomacia com João Manuel de Castela, mas 
também devido à amizade estreita de D. Pedro com 
os irmãos de D. Inês - D. Fernando de Castro e D. 
Álvaro Perez de Castro. Assim, em 1344, o rei 
mandou exilar D. Inês no castelo de Albuquerque, 
na fronteira castelhana, onde tinha sido criada por 
sua tia, D. Teresa, mulher de um meio irmão de D. 
Afonso IV. No entanto, a distância não teria 
apagado o amor entre Pedro e Inês, que se 
correspondiam com frequência. 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_Fernandes_de_Castro
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_Fernandes_de_Castro
https://pt.wikipedia.org/wiki/Afonso_XI_de_Castela
https://pt.wikipedia.org/wiki/Afonso_XI_de_Castela
https://pt.wikipedia.org/wiki/Sancho_IV_de_Le%C3%A3o_e_Castela
https://pt.wikipedia.org/wiki/Fidalgo
https://pt.wikipedia.org/wiki/Reino_de_Castela
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_I_de_Portugal
https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_reis_de_Portugal
https://pt.wikipedia.org/wiki/Constan%C3%A7a_Manuel
https://pt.wikipedia.org/wiki/Constan%C3%A7a_Manuel
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Manuel_de_Castela
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Manuel_de_Castela
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pr%C3%ADncipe
https://pt.wikipedia.org/wiki/Duque
https://pt.wikipedia.org/wiki/Penafiel
https://pt.wikipedia.org/wiki/Afonso_XI_de_Castela
https://pt.wikipedia.org/wiki/Afonso_XI_de_Castela
https://pt.wikipedia.org/wiki/In%C3%AAs_de_Castro#cite_note-NobPt1-2
https://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_III_de_Castela
https://pt.wikipedia.org/wiki/Aia
https://pt.wikipedia.org/wiki/Corte_(realeza)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Povo
https://pt.wikipedia.org/wiki/Moral
https://pt.wikipedia.org/wiki/Afonso_IV_de_Portugal
https://pt.wikipedia.org/wiki/Diplomacia
https://pt.wikipedia.org/wiki/1344
https://pt.wikipedia.org/wiki/Castelo
https://pt.wikipedia.org/wiki/Alburquerque
 
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Em Outubro do ano seguinte D. Constança morreu 
ao dar à luz o futuro rei, D. Fernando I de Portugal. 
Viúvo, D. Pedro, contra a vontade do pai, mandou 
D. Inês regressar do exílio e uniu-sea ela, 
provocando algum escândalo na corte e desgosto 
para El-Rei, seu pai. Começou então uma desavença 
entre o rei e o infante. 
D. Afonso IV tentou remediar a situação casando o 
seu filho com uma dama de sangue real. Mas D. 
Pedro rejeitou este projeto, alegando que sentia 
ainda muito a perda de sua mulher, D. Constança, e 
que não conseguia ainda pensar num 
novo casamento. No entanto, D. Inês foi tendo 
filhos de D. Pedro: Afonso em 1346 (que morreu 
pouco depois de 
nascer), João em 1349, Dinis em 1354 e Beatriz em
 1347. O nascimento destes veio agudizar a situação 
porque, durante o reinado de D. Dinis, o seu filho e 
herdeiro D. Afonso IV sentira-se em risco de ser 
preterido na sucessão ao trono por um dos 
filhos bastardos do seu pai. Agora 
circulavam boatos de que os Castros conspiravam 
para assassinar o infante D. Fernando, legítimo 
herdeiro de D. Pedro, para o trono português 
passar para o filho mais velho de D. Inês de Castro. 
Não passavam de boatos plantados pelos fidalgos 
da corte portuguesa, vez que D. Fernando I assumiu 
o trono, como previamente esperado. 
Depois de alguns anos no Norte de Portugal, Pedro 
e Inês tinham regressado a Coimbra e instalaram-se 
no Paço de Santa Clara. Mandado construir pela avó 
de D. Pedro, a Rainha Santa Isabel, foi neste paço 
que esta Rainha vivera os últimos anos, deixando 
expresso o desejo que se tornasse na habitação 
exclusiva de reis e príncipes seus descendentes, 
com as suas esposas legítimas. 
Havia boatos de que o Príncipe se tinha casado 
secretamente com D. Inês, facto confirmado por D. 
Pedro I na famosa Declaração de Cantanhede. Na 
Família Real um incidente deste tipo assumia graves 
implicações políticas. Sentindo-se ameaçados pelos 
irmãos Castro, os fidalgos da corte portuguesa 
pressionavam o rei D. Afonso IV para afastar esta 
influência do seu herdeiro. O rei D. Afonso IV 
decidiu que a melhor solução seria matar a dama 
galega. Na tentativa de saber a verdade, o Rei 
ordenou a dois conselheiros seus que dissessem a 
D. Pedro que ele se podia casar livremente com D. 
Inês se assim o pretendesse. D. Pedro percebeu que 
se tratava de uma cilada e respondeu que não 
pensava casar-se nunca com D. Inês. 
A 7 de Janeiro de 1355, houve uma denuncia por 
parte de um dos carrascos, que era habitante da 
Vila do Jarmelo, alegando que se encontravam às 
escondidas. O rei, aproveitando a ausência de D. 
Pedro, foi com Pero Coelho, Álvaro 
Gonçalves, Diogo Lopes Pacheco e outros para 
executarem Inês de Castro em Santa Clara, 
conforme fora decidido em conselho. Segundo 
a lenda, as lágrimas derramadas no rio 
Mondego pela morte de Inês teriam criado a Fonte 
das Lágrimas da Quinta das Lágrimas, e 
algumas algas avermelhadas que ali crescem 
seriam o seu sangue derramado. 
A morte de D. Inês provocou a revolta de D. Pedro 
contra D. Afonso IV. Após meses de conflito, a 
Rainha D. Beatriz conseguiu intervir e fez selar a 
paz, em Agosto de 1355. 
D. Pedro tornou-se no oitavo rei de Portugal como 
D. Pedro I em 1357. Em Junho de 1360 fez 
a declaração de Cantanhede, legitimando os filhos 
ao afirmar que se tinha casado secretamente com 
D. Inês, em 1354, em Bragança. A palavra do rei, do 
seu capelão e de um seu criado foram as provas 
necessárias para legalizar esse casamento. 
De seguida perseguiu os assassinos de D. Inês, que 
tinham fugido para o Reino de Castela e mandou 
destruir a Vila do Jarmelo. Pêro Coelho e Álvaro 
Gonçalvesforam apanhados e executados em 
Santarém (segundo a lenda o Rei mandou arrancar 
o coração de um pelo peito e o do outro pelas 
costas, assistindo à execução enquanto se 
banqueteava, o que é confirmado por Fernão 
Lopes, com a ressalva de que o carrasco o teria 
dissuadido da ideia pela dificuldade encontrada 
nesta forma de execução). Diogo Lopes 
Pacheco conseguiu escapar para a França e, 
posteriormente, seria perdoado pelo Rei no seu 
leito de morte. 
D. Pedro mandou construir os dois esplêndidos 
túmulos de D. Pedro I e de D. Inês de Castro 
no mosteiro de Alcobaça, para onde trasladou o 
corpo da sua amada Inês, em 1361 ou 1362. Juntar-
se-ia a ela em 1367. A posição primeira dos túmulos 
foi lado a lado, de pés virados a nascente, em frente 
da primeira capela do transepto sul, então dedicada 
a São Bento. Na década de 1780 os túmulos foram 
mudados para o recém-construído panteão real, 
onde foram colocados frente a frente. 
Em 1956 foram mudados para a sua actual posição, 
D. Pedro no transepto sul e D. Inês no transepto 
norte, frente a frente. Quando os túmulos, 
no século XVIII, foram colocados frente a frente 
apareceu a lenda que assim estavam para que D. 
Pedro e D. Inês «possam olhar-se nos olhos quando 
despertarem no dia do juízo final». 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Constan%C3%A7a_Manuel
https://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_I_de_Portugal
https://pt.wikipedia.org/wiki/Infante
https://pt.wikipedia.org/wiki/Afonso_IV_de_Portugal
https://pt.wikipedia.org/wiki/Casamento
https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Afonso_de_Portugal_(1346)&action=edit&redlink=1
https://pt.wikipedia.org/wiki/1346
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_de_Portugal,_Duque_de_Val%C3%AAncia_de_Campos
https://pt.wikipedia.org/wiki/1349
https://pt.wikipedia.org/wiki/Dinis_de_Portugal,_Senhor_de_Cifuentes
https://pt.wikipedia.org/wiki/1354
https://pt.wikipedia.org/wiki/Beatriz_de_Portugal,_Condessa_de_Alburquerque
https://pt.wikipedia.org/wiki/1347
https://pt.wikipedia.org/wiki/Dinis_I_de_Portugal
https://pt.wikipedia.org/wiki/Bastardo
https://pt.wikipedia.org/wiki/Boato
https://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_I_de_Portugal
https://pt.wikipedia.org/wiki/Regi%C3%A3o_do_Norte_(Portugal)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Coimbra
https://pt.wikipedia.org/wiki/Mosteiro_de_Santa_Clara-a-Velha
https://pt.wikipedia.org/wiki/Santa_Isabel_de_Arag%C3%A3o,_Rainha_de_Portugal
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pero_Coelho
https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81lvaro_Gon%C3%A7alves
https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81lvaro_Gon%C3%A7alves
https://pt.wikipedia.org/wiki/Diogo_Lopes_Pacheco
https://pt.wikipedia.org/wiki/Lenda
https://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Mondego
https://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Mondego
https://pt.wikipedia.org/wiki/Quinta_das_L%C3%A1grimas
https://pt.wikipedia.org/wiki/Algas
https://pt.wikipedia.org/wiki/Sangue
https://pt.wikipedia.org/wiki/Beatriz_de_Castela_(1293%E2%80%931359)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_reis_de_Portugal
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_I_de_Portugal
https://pt.wikipedia.org/wiki/Declara%C3%A7%C3%A3o_de_Cantanhede_(1360)
https://pt.wikipedia.org/wiki/1354
https://pt.wikipedia.org/wiki/Capel%C3%A3o
https://pt.wikipedia.org/wiki/Reino_de_Castela
https://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%AAro_Coelho
https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81lvaro_Gon%C3%A7alves
https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81lvaro_Gon%C3%A7alves
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pena_de_morte
https://pt.wikipedia.org/wiki/Cora%C3%A7%C3%A3o
https://pt.wikipedia.org/wiki/Fern%C3%A3o_Lopes
https://pt.wikipedia.org/wiki/Fern%C3%A3o_Lopes
https://pt.wikipedia.org/wiki/Diogo_Lopes_Pacheco
https://pt.wikipedia.org/wiki/Diogo_Lopes_Pacheco
https://pt.wikipedia.org/wiki/Fran%C3%A7a
https://pt.wikipedia.org/wiki/Mosteiro_de_Alcoba%C3%A7a
https://pt.wikipedia.org/wiki/1367
https://pt.wikipedia.org/wiki/D%C3%A9cada_de_1780
https://pt.wikipedia.org/wiki/1956
https://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9culo_XVIII
 
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Drama de Inês de Castro (c. 1901-04), 
por Columbano Bordalo Pinheiro, no Museu Militar 
de Lisboa 
Vejamos trechos dessa lírica passagem 
d’Os Lusíadas. 
Passada esta tão próspera vitória, 
Tornado Afonso à Lusitana Terra32, 
A se lograr33 da paz com tanta glória 
Quanta soube ganhar na dura guerra, 
O caso triste e dino34 da memória, 
Que do sepulcro os homens desenterra, 
Aconteceu da mísera e mesquinha35 
Que despois de ser morta foi Rainha. 
 
Tu, só tu, puroamor, com força crua36, 
Que os corações humanos tanto obriga37, 
Deste causa à molesta morte sua, 
Como se fora38 pérfida inimiga. 
Se dizem, fero39 Amor, que a sede tua 
Nem com lágrimas tristes se mitiga40, 
É porque queres, áspero e tirano, 
Tuas aras banhar em sangue humano. 
 
 
Estavas, linda Inês, posta em sossego41, 
De teus anos colhendo doce fruito42, 
Naquele engano da alma, ledo43 e cego, 
Que a Fortuna não deixa durar muito, 
Nos saudosos campos do Mondego, 
 
A tétrica cerimónia da coroação e do beija mão à 
Rainha D. Inês, já morta, que D. Pedro 
pretensamente teria imposto à sua corte e que se 
tornaria numa das imagens mais vívidas no 
imaginário popular, terá sido inserida pela primeira 
vez nas narrativas espanholas do final do século 
XVI. 
 
32 Portugal 
33 gabar 
34 digno 
35 Pobre coitada 
36 cruel 
37 Que tanto força os corações humanos 
38 fosse 
39 feroz 
40 Se acalma, se contenta 
De teus fermosos44 olhos nunca enxuito, 
Aos montes insinando e às ervinhas 
O nome que no peito escrito tinhas45. 
Há outros episódios que também merecem 
destaque: O Gigante Adamastor, a Ilha dos Amores, 
a Máquina do Mundo e o Velho do Restelo, episódio 
em que, por meio da voz de um velho representante 
do povo e, simbolicamente, de uma nobreza 
tradicional cristã, Camões critica a ambição do 
projeto expansionista português. Na roda de leitura 
desta aula você poderá conferir excertos dessa 
belíssima passagem. 
5. Epílogo – últimas estrofes do poema, 
equivale à conclusão da obra. Expõe um 
poeta decepcionado com o desempenho 
da pátria, o qual relativiza, agora, o ideário 
nacionalista do poema 
No mais, Musa, no mais46, que a Lira47 tenho 
Destemperada e a voz enrouquecida, 
E não do canto48, mas de ver que venho 
Cantar a gente49 surda e endurecida. 
O favor50 com que mais se acende o engenho 
Não no dá51 a pátria, não, que está metida52 
No gosto da cobiça e na rudeza 
Dhüa austera, apagada e vil tristeza. 
 Outro aspecto notável é a regularidade das 
estrofes, harmonia característica de obra classicista. 
Os Lusíadas dividem-se em 10 cantos53, os quais se 
subdividem em estrofes compostas por versos 
decassílabos sáficos e heroicos. Ao todo, são 1102 
estrofes e 8816 versos. Essas estrofes são 
chamadas de oitavas-rimas, já que são formadas por 
rimas alternadas nos seis primeiros versos e, nos 
dois últimos, emparelhadas (ABABABCC). 
 Há diversos narradores na obra. O mais 
importante deles é a persona, a personagem épica 
que nos conta a história sem dela participar. Vasco 
da Gama, como já dissemos, também assume a 
função de narrador quando, ao aportar em Melinde, 
41 morta 
42 Doce fruto dos anos: juventude 
43 alegre 
44 formosos 
45 O nome que tinha cravado no peito era Pedro 
46 Não cantarei mais, Musa, não cantarei mais 
47 Instrumento musical associado à poesia, daí o 
termo “lírico” 
48 A voz está enrouquecida, mas não é por causa 
do canto 
49 Os portugueses 
50 Apoio dos nobre aos poetas 
51 Não me concede 
52 perdida 
53 Canto é o nome que se dá para cada parte de 
uma epopeia. Da mesma maneira que um 
romance é dividido em capítulos e uma peça 
teatral em atos, as epopeias dividem-se em cantos. 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Drama_de_In%C3%AAs_de_Castro_(Columbano)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Columbano_Bordalo_Pinheiro
https://pt.wikipedia.org/wiki/Museu_Militar_de_Lisboa
https://pt.wikipedia.org/wiki/Museu_Militar_de_Lisboa
https://pt.wikipedia.org/wiki/Beija_m%C3%A3o
https://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9culo_XVI
https://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9culo_XVI
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Ines_de_castro.jpg
 
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conta para o rei dessa terra toda a história de 
Portugal, desde a fundação até a partida da sua 
armada. O irmão de Vasco, Paulo da Gama, 
integrante da armada, também assume a voz 
narrativa posteriormente. Quando chegam às Índias, 
Vasco estabelece relações pacíficas com o monarca 
Samorim e é para ele que Paulo narra diversos 
episódios da Idade Média portuguesa. 
 Podemos considerar que existem três 
tempos diferentes que integram a obra. 1572, data 
de sua publicação, tempo da persona, marca a 
proposição, a invocação, a dedicatória e o epílogo. 
Na narração propriamente dita, há dois tempos: 
1498, data da viagem de Vasco e um flash-back 
referente à história portuguesa – quando Vasco e 
Paulo tornam-se narradores. Os espaços, 
logicamente, são múltiplos. Portugal, África, Oceano 
Atlântico e Oceano Índico 
 Para concluirmos, é importante lembrar que 
dois planos perpassam Os Lusíadas: o histórico e o 
mítico. A respeito disso, comenta o professor Ivan 
Teixeira: 
 [...] Os dois planos se interpenetram e se 
complementam na estrutura do poema, sendo certo 
que a mitologia agencia a maior parte do encanto 
poético da obra. Além disso, há interferência dos 
mitos católicos, dos quais o exemplo mais 
consagrado é a Batalha de Ourique, no qual o 
próprio Cristo teria auxiliado Áfono Henriques a deter 
os árabes em seu avanço contra as terras cristãs. 
Ivan Teixeira. Op.cit. p. 66 
 Agora, é só usufruir da obra. Boa leitura! 
Leitura complementar 
Aqui, encontram-se algumas estrofes do 
episódio do Velho do Restelo para a sua apreciação. 
Mas um velho, de aspeito54 venerando55, 
Que ficava nas praias, entre a gente56, 
 
54 aspecto 
55 Venerável, respeitoso 
56 No meio do povo. O poeta insinua que a figura 
do velho representa a opinião popular sobre as 
navegações 
57 Movendo a cabeça em sinal de reprovação 
58 Voz carregada, própria da pessoa idosa 
59 O saber do velho vem de suas experiências, 
saber empírico; não é uma pessoa erudita 
60 experiente 
61 Prazer de dominar 
62 Enganoso prazer 
63 prestígio 
64 Culto da aparência e da ambição 
65 Que enorme castigo. Fazer castigo = castigar; 
fazer justiça = punir 
Postos em nós os olhos, meneando57 
Três vezes a cabeça, descontente, 
A voz pesada58 um pouco alevantando, 
Que nós no mar ouvimos claramente, 
Cum saber só de experiências feito59, 
Tais palavras tirou do experto60 peito: 
 
"Ó glória de mandar!61 Ó vã cobiça 
Desta vaidade, a quem chamamos Fama! 
Ó fraudulento gosto62, que se atiça 
C’uma aura63 popular, que honra64 se chama! 
Que castigo tamanho65 e que justiça 
Fazes no peito vão66 que muito te ama! 
Que mortes, que perigos, que tormentas, 
Que crueldades neles67 exprimentas! 
 
"Dura inquietação d'alma e da vida68, 
Fonte69 de desemparos e adultérios, 
Sagaz consumidora conhecida 
De fazendas, de reinos e de impérios! 
Chamam-te ilustre, chamam-te subida70, 
Sendo dina71 de infames vitupérios72; 
Chamam-te Fama e Glória soberana, 
Nomes com quem se o povo néscio73 engana; 
 
"A que novos desastres determinas 
De levar estes Reinos e esta gente? 
Que perigos, que mortes lhe74 destinas, 
Debaixo dalgum nome preminente75? 
Que promessas de reinos e de minas 
De ouro, que lhe farás tão facilmente ? 
Que famas lhe prometerás? Que histórias? 
Que triunfos? Que palmas? Que vitórias76? 
 
"Mas, ó tu, geração77 daquele insano78 
Cujo pecado e desobediência 
Não somente do Reino soberano79 
Te pôs neste desterro e triste ausência, 
Mas inda doutro estado, mais que humano, 
Da quieta e da simples inocência, 
Idade de ouro, tanto te privou, 
Que na de ferro e de armas te deitou80: 
 
"Já que nesta gostosa vaidade 
66 Homens de peito vazio, sem coração, 
gananciosos 
67 Nos homens de peito vazio 
68 A glória de mandar é motivo de inquietação 
espiritual e física 
69 Origem 
70 sublime 
71 digna 
72 castigos 
73 ignorante 
74 Refere-se a “peito vão” 
75 Proeminente, com aparência de importante 
76 Sequência de sinônimos 
77 Dirige-se a D. Manuel e á humanidade em geral 
78 Adão 
79 Éden, paraíso 
80 lançou 
 
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Tanto enlevas a leve Fantasia81, 
Já que à bruta82 crueza83 e feridade84 
Puseste nome85, esforço86 e valentia, 
Já que prezas87 em tanta quantidade 
O desprezo da vida, que devia 
De ser sempre estimada, pois que já 
Temeu tanto perdê-la Quem a dá88: 
 
"Não tens junto contigo o Ismaelita89, 
Com quem sempre terás guerras sobejas90? 
Não segue ele do Arábio a Lei maldita91, 
Se tu pola92 de Cristo só pelejas93? 
Não tem94 cidades mil, terra infinita, 
Se terras e riqueza mais desejas? 
Não é ele por armas esforçado95, 
Se queres por vitórias ser louvado? 
 
"Deixas96 criar às portas o inimigo97, 
Por ires98 buscar outro de tão longe, 
Por quem se despovoe o Reino antigo99, 
Se enfraqueça e se vá deitando a longe100! 
Buscas o incerto e incógnito perigo 
Por que a Fama te exalte e te lisonje101 
Chamando-te senhor com larga cópia102, 
Da Índia, Pérsia, Arábia e de Etiópia. 
 
"Oh! Maldito o primeiro que, no mundo, 
Nas ondas vela pôs em seco lenho103! 
Dino104 da eterna pena do Profundo105, 
Se é justa a justa 106Lei que sigo e tenho! 
Nunca juízo algum, alto e profundo, 
Nem cítara sonora107 ou vivo engenho108, 
Te dê por isso109 fama nem memória, 
 
81 Extasiar a leviana imaginação 
82 grosseira 
83 crueldade 
84 ferocidade 
85 nomeaste 
86 Coragem, bravura 
87 valorizas 
88 Cristo, aquele que dá a vida. 
89 Mouro, mulçumano 
90 Numerosas guerras 
91 Religião maldita de Maomé, referência ao 
islamismo 
92 pela 
93 lutas 
94 Sujeito: ismaelita 
95 destemido 
96 Sujeito elíptico: tu, glória de mandar 
97 Os espanhóis 
98 Para ires 
99 Portugal 
100 Vai se perdendo 
101 lisonjeie 
102 Com grande abundância 
103 Maldito o primeiro homem no mundo que pôs 
vela em lenho seco nas ondas 
104 digno 
105 Inferno 
Mas contigo se acabe o nome e glória110! 
 
"Trouxe o filho de Jápeto111 do Céu 
O fogo que ajuntou ao peito humano, 
Fogo que o mundo em armas acendeu, 
Em mortes, em desonras (grande engano!)112. 
Quanto melhor nos fora, Prometeu, 
E quanto pera o mundo menos dano, 
Que a tua estátua ilustre113 não tivera114 
Fogo de altos desejos que a movera115! 
 
"Não cometera o moço miserando116 
O carro alto do pai, nem o ar vazio 
O grande arquitector117 c’o filho, dando, 
Um, nome ao mar118, e o outro, fama ao rio119. 
Nenhum cometimento alto e nefando120 
Por fogo, ferro, água, calma e frio, 
Deixa intentado121 a humana geração. 
Mísera sorte! Estranha condição!122" 
Exercícios 
1. (FUVEST) Leia os textos que seguem. 
 
Texto I - Mar português 
 
Ó mar salgado, quanto do teu sal 
São lágrimas de Portugal! 
Por te cruzarmos, quantas mães 
choraram, 
Quantos filhos em vão rezaram! 
Quantas noivas ficaram por casar 
Para que fosses nosso, ó mar! 
106 O segundo “justa” pode ser entendido como 
“santa”; Lei sagrada, a Bíblia 
107 Instrumento relativo á poesia 
108 inspiração 
109 Por esse motivo, o invento da navegação 
110 Nome e glória: fama 
111 Prometeu, um dos titãs que se revoltaram 
contra os domínio de Júpter e roubou o fogo dos 
deuses para levá-lo aos homens 
112 Para o Velho, levar o fogo dos deuses aos 
homens fez com que acendesse nestes a ambição, 
a ganância 
113 O homem 
114 tivesse 
115 movesse 
116 Fateonte, aquele que dirige o carro do sol 
117 Dédalo, pai de Ícaro, o qual construiu asas de 
cera para tentar voar. Por conta da altitude, as 
asas derreteram e ambos caíram, um no rio e 
outro, no mar 
118 Mar Icário, mar Egeu 
119 Rio Pado, na Itália 
120 Alto e nefando = digno de louvor ou de censura 
121 intacto 
122 A maior força do homem é também a sua maior 
fraqueza. 
 
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Valeu a pena? Tudo vale a pena 
Se a alma não é pequena. 
Quem quer passar além do Bojador 
Tem que passar além da dor. 
Deus ao mar o perigo e o abismo deu, 
Mas nele é que espelhou o céu. 
 
Fernando Pessoa 
 
Texto II 
 
Em tão longo caminho e duvidoso 
Por perdidos as gentes nos julgavam, 
As mulheres co’um choro piedoso, 
Os homens com suspiros que arrancavam. 
Mães, esposas, irmãs, que o temeroso 
Amor mais desconfia, acrescentavam 
A desesperação e frio medo 
De já nos não tornar a ver tão cedo. 
 
Camões 
 
A partir dos trechos e de seus 
conhecimentos de Os Lusíadas, assinale a 
alternativa incorreta. 
 
a) O texto II pertence ao episódio “O velho 
do Restelo”, de Os Lusíadas, em que 
Camões indica uma crítica às pretensões 
expansionistas de Portugal, nos séculos 
XV e XVI. 
b) Apesar das diferenças de estilo, tanto o 
texto de Camões quanto o de Fernando 
Pessoa indicam uma mesma idéia: a de 
que o caráter heróico das descobertas 
marítimas exige e justifica riscos e 
sofrimentos. 
c) O fato de Camões, em Os Lusíadas, 
lançar dúvidas sobre a adequação das 
conquistas ultramarinas – o assunto 
principal do poema – contrapõe-se ao 
modelo clássico da epopéia. 
d) Ainda que abordem uma mesma 
circunstância histórica e ressaltem as 
mesmas reações humanas, o texto de 
Fernando Pessoa e o episódio “O velho do 
Restelo” chegam a conclusões diferentes 
sobre a validade das navegações 
portuguesas. 
e) Os dois textos referem-se aos 
sofrimentos que a expansão marítima 
portuguesa provocou 
2. (FUVEST) 
No mais, Musa, no mais, que a Lira tenho 
Destemperada e a voz enrouquecida, 
E não do canto, mas de ver que venho 
Cantar a gente surda e endurecida. 
O favor com que mais se acende o engenho 
Não no dá a pátria, não, que está metida 
No gosto da cobiça e na rudeza 
Duma austera, apagada e vil tristeza. 
Os versos acima pertencem a que parte de Os 
Lusíadas? 
a) Proposição 
b) Invocação 
c) Dedicatória 
d) Narração 
e) Epílogo 
 
As próximas duas questões tomam por base o 
seguinte texto: 
Cessem do sábio grego e do troiano 
As navegações grandes que fizeram; 
Cale−se de Alexandro e de Trajano 
A fama das vitórias que tiveram; 
Que eu canto o peito ilustre Lusitano, 
A quem Neptuno e Marte obedeceram. 
Cesse tudo o que a Musa antiga canta, 
Que outro valor mais alto se alevanta. 
3. (Vunesp) A oitava acima constitui a terceira 
estrofe de Os Lusíadas, De Luís de 
Camões, poema épico publicado em 1572, 
obra máxima do Classicismo português. O 
tipo de verso que Camões empregou é de 
origem italiana e fora introduzido na 
literatura portuguesa algumas décadas 
antes, por Sá de Miranda. Quanto ao 
conteúdo, o poema Os Lusíadas toma 
como ponto de referência um episódio da 
história de Portugal. Baseado nestes 
comentários e em seus próprios 
conhecimentos, releia a estrofe citada e 
indique: 
a) O tipo de verso utilizado (pode mencionar 
simplesmente o número de sílabas 
métricas). 
b) O episódio da história de Portugal que 
serve de núcleo narrativo ao poema. 
4. (Vunesp) Uma leitura atenta da estrofe 
citada revela que o conteúdo dos primeiros 
seis versos é retomado e sintetizado nos 
últimos dois versos. Interprete a estrofe de 
acordo com esta observação. 
5. (FUVEST – SP) 
No mar, tanta tormenta e tanto dano, 
Tantas vezes a morte apercebida; 
Na terra, tanta guerra, tanto engano, 
Tanta necessidade aborrecida 
Onde pode acolher-se um fraco humano, 
Onde terá segura a curta vida, 
 
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Que não se arme e se indigne o céu sereno 
Contra um bicho da terra tão pequeno? 
Nessa estrofe, Camões: 
 
a) exalta a coragem dos homens que enfrentam os 
perigos do mar e da terra. 
b) considera quanto deve o homem confiar na 
providência divina que o ampara nos riscos e 
adversidades. 
c) lamenta a condição humana ante os perigos, 
sofrimentos e incertezas da vida. 
d) propõe uma explicação a respeito do destino do 
homem 
e) classifica o homem como um bicho da terra, dada 
a sua agressividade. 
6. (Fuvest) Leia os versos transcritos de Os 
Lusíadas, de Camões,para responder ao 
teste. 
 
Tu, só tu, puro Amor, com força crua, 
Que os corações humanos tanto obriga, 
Deste causa à molesta morte sua, 
Como se fora pérfida inimiga. 
Se dizem, fero Amor, que a sede tua 
Nem com lágrimas tristes se mitiga, 
É porque queres, áspero e tirano, 
Tuas aras banhar em sangue humano. 
 
Assinale a afirmação incorreta em relação 
aos versos transcritos: 
 
a) A apóstrofe inicial da estrofe introduz 
um discurso dissertativo a respeito da 
natureza do sentimento amoroso. 
b) O amor é compreendido como uma 
força brutal contra a qual o ser humano 
não pode oferecer resistências. 
c) A causa da morte de Inês é atribuída ao 
amor desmedido que subjugou 
completamente a jovem 
d) A expressão "se dizem" indica ser 
senso comum a idéia que brutalidade faz 
parte do sentimento amoroso. 
e) Os versos associam a causa da morte 
de Inês não só à força cruel do amor, mas 
também aos perigosos riscos que a jovem 
inimiga representava para o rei. 
7. (UFSCar) A questão seguinte baseia-se no 
poema épico Os Lusíadas, de Luís Vaz de 
Camões, do qual se reproduzem, a seguir, 
três estrofes. 
Mas um velho, de aspeito123 venerando, 
 
123 aspecto 
Que ficava nas praias, entre a gente, 
Postos em nós os olhos, meneando 
Três vezes a cabeça, descontente, 
A voz pesada um pouco alevantando, 
Que nós no mar ouvimos claramente, 
C’um saber só de experiências feito, 
Tais palavras tirou do experto peito: 
 
“Ó glória de mandar, ó vã cobiça 
Desta vaidade a quem chamamos Fama! 
Ó fraudulento gosto, que se atiça 
C’uma aura popular, que honra se chama! 
Que castigo tamanho e que justiça 
Fazes no peito vão que muito te ama! 
Que mortes, que perigos, que tormentas, 
Que crueldades neles experimentas! 
 
Dura inquietação d’alma e da vida 
Fonte de desamparos e adultérios, 
Sagaz consumidora conhecida 
De fazendas, de reinos e de impérios! 
Chamam-te ilustre, chamam-te subida, 
Sendo digna de infames vitupérios; 
Chamam-te Fama e Glória soberana, 
Nomes com quem se o povo néscio 
engana.” 
 
Os versos de Camões foram retirados da 
passagem conhecida como “O Velho do 
Restelo”. Nela, o velho 
a) abençoa os marinheiros portugueses 
que vão atravessar os mares à procura de 
uma vida melhor. 
b) critica as navegações portuguesas por 
considerar que elas se baseiam na cobiça 
e busca de fama. 
 
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c) emociona-se com a saída dos 
portugueses que vão atravessar os mares 
até chegar às Índias. 
d) destrata os marinheiros por não o terem 
convidado a participar de tão importante 
empresa. 
e) adverte os marinheiros portugueses dos 
perigos que eles podem encontrar para 
buscar fama em outras terras. 
 
8. (FUVEST) Considere as seguintes 
afirmações sobre a fala do velho do 
Restelo, em Os Lusíadas: 
I - No seu teor de crítica às navegações e 
conquistas, encontra-se refletida e 
sintetizada a experiência das perdas que 
causaram, experiência esta já acumulada 
na época em que o poema foi escrito. 
II - As críticas aí dirigidas às grandes 
navegações e às conquistas são 
relativizadas pelo pouco crédito atribuído a 
seu emissor, já velho e com um “saber só 
de experiências feito”. 
III - A condenação enfática que aí se faz à 
empresa das navegações e conquistas 
revela que Camões teve duas atitudes em 
relação a ela: tanto criticou o feito quanto o 
exaltou. 
Está correto apenas o que se afirma em 
a) I. 
b) II. 
c) III. 
d) I e II. 
e) I e III. 
 
9. (PUC) Os Lusíadas, obra de Camões, 
exemplificam o gênero épico na poesia 
portuguesa, entretanto oferecem 
momentos em que o lirismo se expande, 
humanizando os versos. O episódio de 
“Inês de Castro” é considerado o ponto alto 
do lirismo camoniano inserido em sua 
narrativa épica. Desse episódio, como um 
todo, pode afirmar-se que seu núcleo 
central 
 
a) personifica e exalta o Amor, mais forte 
que as conveniências e causa da tragédia 
de Inês. 
b) celebra os amores secretos de Inês e de 
D. Pedro e o casamento solene e festivo de 
ambos. 
c) tem como tema básico a vida simples de 
Inês de Castro, legítima herdeira do trono 
de Portugal. 
d) retrata a beleza de Inês, posta em 
sossego, ensinando aos montes o nome 
que no peito escrito tinha. 
e) relata em versos livres a paixão de Inês 
pela natureza e pelos filhos e sua elevação 
ao trono português. 
 
10. (UEL) A próxima questão refere-se ao 
Canto V de Os Lusíadas (1572), de Luís 
Vaz de Camões (1524/5?- 1580). 
 
XXXVII 
 
Porém já cinco sóis eram passados 
Que dali nos partíramos, cortando 
Os mares nunca de outrem navegados, 
Prosperamente os ventos assoprando, 
Quando ua noite, estando descuidados 
Na cortadora proa vigiando, 
Ua nuvem, que os ares escurece, 
Sobre nossas cabeças aparece. 
 
XXXVIII 
Tão temerosa vinha e carregada, 
Que pôs nos corações um grande medo. 
Bramindo, o negro mar de longe brada, 
Como se desse em vão nalgum rochedo 
- “Ó Potestade - disse - sublimada, 
Que ameaço divino ou que segredo 
Este clima e este mar nos apresenta, 
Que mor cousa parece que tormenta?” 
(CAMÕES, Luís Vaz de. Os Lusíadas. 4ª. 
ed. Porto: Editorial Domingos Barreira, s.d. 
p. 332.) 
 
Há, na passagem selecionada, o registro 
de mudança no cenário. Trata-se do 
prenúncio de agouros a serem efetivados: 
 
a) Pelo velho do Restelo, encolerizado 
frente à excessiva vaidade do povo 
português. b) Pelos mouros, 
inconformados com as sucessivas 
conquistas dos portugueses. 
c) Pelo velho do Restelo, irritado diante de 
tantas glórias relatadas por Vasco da 
Gama. 
d) Pelo gigante Adamastor, irritado com o 
atrevimento do povo português a navegar 
seus mares. 
e) Pelo promontório Adamastor, 
maravilhado com a tecnologia náutica dos 
portugueses. 
______________________________ 
Gabarito 
1. B 
2. E 
3. 
a) O tipo de verso utilizado em todo o poema é o 
decassílabo (versos de dez sílabas poéticas). 
b) O episódio é a viagem de Vasco da Gama às 
Índias. 
4. Nessa estrofe, Camões busca emular os grandes 
poetas da Antiguidade Clássica. A persona épica, 
com uma voz enfurecida, exige que se pare de 
cantar os feitos de Ulisses (“sábio grego”) e de 
Eneias (“troiano”), assim como as guerras de 
 
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Alexandre Magno e de Trajano. O assunto agora 
superior seria as viagens de Vasco da Gama às 
Índias e a guerra dos portugueses contra os árabes 
e os espanhóis. A poesia do passado (“Musa 
antiga”) deveria ceder espaço para os feitos 
grandiosos do povo português. Essa ideia também 
se encontra nos últimos versos do poema, quando 
se refere a Alexandre, o Grande e Aquiles, herói da 
Odisseia: “De sorte que Alexandro em vós se veja, / 
Sem à dita de Aquiles ter enveja”. 
5. C 
6. E 
7. B 
8. E 
9. A 
10. D 
 
Lírica de Camões 
 Dedicaremos esta aula ao estudo da poesia 
lírica de Camões. Para tanto, é necessário 
pensarmos também no estilo da lírica portuguesa 
dentre os contemporâneos desse grandioso poeta. 
Já dissemos que os autores clássicos tinham como 
princípio a imitação e que buscavam o equilíbrio e a 
sobriedade. Assim, o diálogo entre poetas do século 
XVI era intenso e a temática de sua poesia deveras 
semelhante. Muitos temas são recorrentes nesses 
poetas: 
[...] elogio de damas de alta e baixa classe, 
críticas pessoais, comentários sobre os costumes e 
os problemas sociais e políticos, adulação do padre 
responsável pela censura dos livros, elogios mútuos 
entre poetas, pedidos de mecenato, pedidos 
prosaicos (como o envio de cães de caça), pedidos 
de ajuda financeira ou de soltura da prisão, permuta 
de poemas por facas, tecidos ou galinhas. 
Discutiam-se em versos questões pessoais, sociais 
e nacionais, em epístolas,sátiras, odes, elegias, 
trovas, epigramas e sonetos. Foi uma época de 
muitos (bons e maus) poetas. 
Sheila Moura Hue, Introdução in Antologia 
de Poesia Portuguesa – século XVI – Camões 
entre seus contemporâneos. Rio de Janeiro: 7 
Letras, 2004, p. 11 
 
 
 
É necessário ressaltar, porém, que o ideário 
medieval ainda aparece na lírica do século XVI: 
[...] O século XVI português constitui época 
bifronte, justamente pela coexistência e não raro 
interinfluência das duas formas de cultura, a 
medieval e a clássica. Do ângulo da expressão 
poética, a primeira seria a “medida velha” e a 
segunda, a “medida nova”. Tal dicotomia, lugar-
comum nos escritores quinhentistas portugueses, é 
indispensável à compreensão das aparentes 
ambivalências de sua proposta estética. 
Explica-se a dualidade quinhentista do 
seguinte modo: para alguns homens, moldados 
conforme os padrões medievais ainda vigentes, não 
era fácil aceitar de pronto e integralmente a nova 
moda. Em consequência, só lhes estava a tentativa 
de assimilar o novo ao velho, formando um rosto de 
dupla face: uma, olha para o passado medieval, 
outra, para o clássico, fundindo-o com a atmosfera 
trazida pelas descobertas e pelas invenções. Doutro 
modo, não se compreende como a novela de 
cavalaria, medieval por excelência, tenha alcançado 
o ápice e tivesse sido cultivada com apaixonante 
interesse precisamente no século XVI. Massaud 
Moisés. A Literatura Portuguesa. 33 ed, São Paulo: 
Cultrix, ?, p. 52 
 Apesar dessa dualidade, o período 
renascentista na literatura portuguesa é de tamanho 
racionalismo que até mesmo o sentimento amoroso 
é entendido sob uma lógica por meio da qual se 
busca uma verdade universal. É notória a influência 
de Petrarca, poeta italiano, nos clássicos 
portugueses. A imitação em Camões, porém, de seu 
grande influenciador, ainda quando feita 
deliberadamente, deixava margem para a expressão 
pessoal. Diferente do florentino, o poeta português 
nega o aristocratismo da poesia italiana e acolhe 
também os moldes populares. Abaixo, um soneto 
camoniano inspirado em Petrarca: 
Eu cantarei de amor tão docemente, 
por uns termos em si tão concertados, 
que dous mil acidentes namorados 
faça sentir ao peito que não sente. 
 
Farei que amor a todos avivente, 
pintando mil segredos delicados, 
brandas iras, suspiros namorados, 
temerosa ousadia e pena ausente. 
 
Também, Senhora, do desprezo honesto 
de vossa vista branda e rigorosa, 
contentar-me-ei dizendo a menos parte. 
 
Porém, para cantar de vosso gesto 
 
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a composição alta e milagrosa, 
aqui falta saber, engenho e arte124. 
(Luís de Camões, Lírica. Notas de Aires da Mata 
Machado, Belo Horizonte: Itatiaia, 1982, p. 14) 
 
Esse outro soneto também tem influência de 
Petrarca: 
 
Quem diz que Amor é falso ou enganoso, 
ligeiro, ingrato, vão desconhecido, 
sem falta lhe terá bem merecido 
que lhe seja cruel ou rigoroso. 
 
Amor é brando, doce e é piedoso. 
Quem o contrário diz não seja crido, 
seja por cego e apaixonado tido, 
e aos homens, e inda os deuses, odioso. 
 
Se males faz Amor, em mim se vêm; 
em mim mostrando todo o seu rigor, 
ao mundo quis mostrar quanto podia. 
 
Mas todas suas iras são de amor; 
todos estes males são um bem, 
que eu por todo outro bem não trocaria. 
(Luís de Camões in Izeti Fragata Torralvo e Carlos 
Cortez MInchillo, A Lírica de Camões. 3 ed, Cotia: 
Ateliê Editorial, 1998, p. 21) 
Note que o eu lírico tenta conceituar o amor 
chegando à conclusão de que, para aqueles que 
amam, mesmo o sofrimento é um bem. Ao analisar 
a essência do sofrer, reforça-se o compromisso com 
a especulação racional, marca do homem 
renascentista. 
 
124 Arte = eloquência; engenho = talento. A 
primeira sem a segunda resulta num trabalho 
artesanal destituído de inspiração. 
125 Daí o termo “ideal”. 
1. Influência da filosofia grega na lírica 
camoniana 
Como vimos, a literatura classicista retoma 
normas e gêneros eruditos da Antiguidade. Mas não 
é só. É notória a influência também dos filósofos 
clássicos na obra de Camões, sobretudo na lírica. 
Para entendermos um pouco mais sobre esse tema, 
vejamos o que comentam Izeti Fragata Torralvo e 
Carlos Cortez Minchillo sobre a filosofia antiga na 
lírica renascentista: 
A dimensão filosófica da literatura do 
Renascimento também vem de correntes 
desenvolvida na Grécia antiga. Especialmente o 
Platonismo influenciou a visão de mundo observável 
nas obras do período. Platão havia proposto um 
modelo de universo bipartido: a realidade terrena 
seria uma grande ilusão, enquanto num plano 
transcendental se encontrariam as Ideias125 
perfeitas. Em outras palavras, aquilo que nos cerca 
e que se conhece através dos sentidos é entendido 
como um “engano”, uma cópia imperfeita de 
modelos intangíveis126. Essa teoria propõe, no 
entanto, um outro problema: se as formas idéias não 
podem ser conhecidas diretamente através dos 
sentidos, como o homem poderia conhecê-las? O 
próprio Platão soluciona a questão. Para o filósofo 
grego, a alma humana é imortal e já teria vivenciado 
uma dimensão superior, na qual pode contemplar 
essas formas perfeitas. O nascimento acarretaria o 
aprisionamento da alma, cujas lembranças do 
mundo ideal estariam adormecidas. Dessa teoria 
deriva a noção de que tudo que se conhece no plano 
terreno, tudo que se experimenta na vida é falso, 
insatisfatório: o amor consumado vale menos que o 
amor distante e improvável; a beleza da mulher que 
se deixa ver é menos interessante que a 
sensualidade da mulher com quem não se pode 
encontrar; as conquistas já realizadas não têm a 
força dos desejos não satisfeitos. 
(Izeti Fragata Torralvo e Carlos Cortez 
Minchillo, A Lírica de Camões. 3 ed, Cotia: Ateliê 
Editorial, 1998, p. 15-17) 
Agora, leia esse soneto e pense: em que 
medida o poema apresenta a visão de mundo 
platônica? 
Transforma-se o amador na cousa amada, 
por virtude127 do muito imaginar; 
não tenho, logo128, mais que desejar, 
pois tenho em mim a parte desejada. 
 
126 inalcançáveis 
127 em consequência 
128 portanto 
 
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Se nela está minh’alma transformada, 
que mais deseja o corpo de alcançar? 
em si somente pode descansar, 
pois consigo tal alma está ligada. 
 
Mas esta linda e pura semideia129 
que, como um acidente em seu sujeito, 
assi com a alma minha se conforma, 
 
está no pensamento como ideia; 
o vivo e puro amor de que sou feito, 
como a matéria simples, busca a forma. 
Izeti Fragata Torralvo e Carlos Cortez Minchillo, op. 
cit., p. 15-17 
2. Poemas líricos Camonianos 
Em 1595 publicam-se pela primeira vez as 
Rimas de Camões; obra póstuma, portanto, já que o 
poeta morre em 1580 – fato que marca o fim do 
Classicismo em Portugal. Alguns temas fazem-se 
frequentes: instabilidade dos sentimentos e da 
realidade, ideal de perfeição física e moral, 
desconcerto do mundo, amor platônico, perda da 
amada, a própria atividade poética. Devido às 
contradições, aos dilemas humanos e à sensação de 
impotência diante do destino presentes em sua obra, 
cria-se um universo de incertezas e desestabilidade, 
marcas de um poeta melancólico e pessimista, que 
busca entender opostos inconciliáveis – justiça e 
injustiça, eterno e efêmero, incerto e previsível – o 
que se manifesta também numa linguagem repleta 
de antíteses e paradoxos. É por essas tensões 
existenciais que o poeta se aproxima do estilo 
maneirista, visão dos últimos tempos do 
Renascimento que contrastava com a tendência e 
equilíbrio emocional e racionalismo do mundo 
clássico, já prefigurando o Barroco (assunto que 
trabalharemos em breve). 
Agora que já conhecemosum pouco da obra de 
Camões, seguem alguns poemas para você ler, 
interpretar e refletir. 
I 
 
129 semideusa 
130 Versos que servem de tema para o 
desenvolvimento do poema 
131 formosa 
132 Glosa, composição poética que desenvolve o 
mote 
MOTE130 
 
Descalça vai pera a fonte 
Lianor, pela verdura; 
vai fermosa131 e não segura. 
 
VOLTA132 
 
Leva na cabeça o pote, 
o testo133 nas mãos de prata, 
cinta de fina escarlata, 
sainho de chamalote134; 
traz a vasquinha de cote135, 
mais branca que a neve pura; 
vai fermosa e não segura. 
 
Descobre a touca a garganta, 
cabelos d' ouro o trançado, 
fita de cor d' encarnado... 
Tão linda que o mundo espanta! 
Chove nela graça tanta 
que dá graça à fermosura; 
vai fermosa, e não segura. 
II 
Os bons vi sempre passar 
no mundo graves tormentos; 
e, para mais m’espantar, 
os maus vi sempre nadar 
em mar de contentamentos. 
Cuidando alcançar assim 
o bem tal mal ordenado, 
fui mal; mas fui castigado. 
Assim que só para mim 
Anda o mundo concertado. 
 
III 
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, 
muda-se o ser, muda-se a confiança; 
todo o mundo é composto de mudança, 
tomando sempre novas qualidades. 
133 Tampa para vasilhas 
134 Casaco de lã trançada com seda que cobre até a 
altura dos joelhos 
135 Saia com muitas pregas usada cotidianamente 
 
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Continuamente vemos novidades, 
diferentes136 em tudo da esperança137; 
do mal ficam as mágoas na lembrança, 
e do bem – se algum houve—, as saudades. 
 
O tempo cobre o chão de verde manto, 
que já coberto foi de neve fria, 
e enfim converte em choro o doce canto. 
 
E afora este mudar-se cada dia, 
outra mudança faz de mor espanto: 
que não se muda já como soía138. 
 
IV 
Busque Amor novas artes, novo engenho, 
para matar-me, e novas esquivanças; 
que não pode tirar-me as esperanças, 
que mal me tirará o que eu não tenho. 
 
Olhai de que esperanças me mantenho! 
Vede que perigosas seguranças! 
Que não temo contrastes nem mudanças, 
andando em bravo mar, perdido o lenho. 
 
Mas, conquanto não pode haver desgosto 
onde esperanças falta, lá me esconde 
Amor um mal, que mata e não se vê. 
 
Que dias há que na alma me tem posto 
 
136 Cria-se um efeito interessante de contrastes, 
característica também bastante marcante na 
poesia camoniana, entre “continuamente” 
(permanência) e “diferentes” (mudança) 
137 esperado 
um não sei quê, que nasce não sei onde, 
vem não sei como, e dói não sei porquê. 
 
V 
Tanto de meu estado me acho incerto, 
que em vivo ardor tremendo estou de frio; 
sem causa, juntamente choro e rio, 
o mundo todo abarco e nada aperto. 
É tudo quanto sinto, um desconcerto; 
da alma um fogo me sai, da vista um rio; 
agora espero, agora desconfio, 
agora desvario, agora acerto. 
Estando em terra, chego ao Céu voando, 
numa hora acho mil anos, e é de jeito 
que em mil anos não posso achar uma hora. 
Se me pergunta alguém porque assi ando, 
respondo que não sei; porém suspeito 
que só porque vos vi, minha Senhora. 139 
Exercícios 
1. (UM-SP) Sobre a lírica camoniana, é 
incorreto afirmar que: 
a) Boa parte de sua realização se encontra na 
poesia de inspiração clássica 
b) Sua temática é variada, encontrando-se 
desde temas abstratos até tradicionais 
c) No aspecto formal, é toda construída em 
versos decassílabos em oitava rima 
d) Sonda o sombrio mundo do “eu”, da 
mulher, da pátria e de Deus 
e) Muitas vezes, o poeta procura conceituar o 
amor, lançando mão de antíteses e 
paradoxos. 
Texto para as próximas duas questões. 
Busque Amor novas artes, novo engenho 
Pera matar-me, e novas esquivanças, 
Que não pode tirar-me as esperanças, 
Que mal me tirará o que eu não tenho. 
Olhai de que esperanças me mantenho! 
Vede que perigosas seguranças! 
138 costumava 
139 Todos os poemas foram retirados da mesma 
edição: Izeti Fragata Torralvo e Carlos Cortez 
Minchillo, op. cit.. 
 
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Que não temo contrastes nem mudanças, 
Andando em bravo mar, perdido o lenho. 
Mas, enquanto não pode haver desgosto 
Onde esperança falta, lá me esconde 
Amor um mal, que mata e não se vê, 
Que dias há que na alma me tem posto 
Um não sei quê, que nasce não sei onde, 
Vem não sei como e dói não sei porquê. 
Fonte: www.bibvirt.futuro.usp.br 
2. (FGV-SP) Neste poema é possível 
reconhecer que uma dialética amorosa 
trabalha a oposição entre: 
a) O bem e o mal 
b) A proximidade e a distância 
c) O desejo e a idealização 
d) A razão e o sentimento 
e) O mistério e a realidade 
3. (FGV-SP) Uma imagem de forte 
expressividade deixa implícita uma 
comparação com o arriscado jogo do amor. 
Assinalar a alternativa que contém essa 
imagem. 
a) O engenho do amor 
b) O perigo da segurança 
c) Naufrágio em bravo mar 
d) Mar tempestuoso 
e) Um não sei quê 
 
4. (Fuvest) Na Lírica de Camões: 
a) O metro usado para a composição dos 
sonetos é a redondilha maior 
b) Encontram-se sonetos, odes, sátiras e 
autos 
c) Cantar a pátria é o centro das 
preocupações 
d) Encontra-se uma fonte de inspiração de 
muitos poetas brasileiros do século XX 
e) A mulher é vista em seus aspectos físicos, 
despojada de espiritualidade. 
(MACK) Textos para as próximas três questões. 
 
Texto I 
 
Tanto de meu estado me acho incerto 
que em vivo ardor tremendo estou de frio; 
sem causa, juntamente choro e rio; 
o mundo todo abarco e nada aperto. 
 
[...] 
 
Se me pergunta alguém por que assim 
ando, 
respondo que não sei; porém suspeito 
que só porque vos vi, minha Senhora. 
Camões 
 
Texto II 
 
Metassoneto ou o computador irritado 
 
abba 
 baab 
cdc 
dcc 
[...] 
blablablablablablablablablablablablablabla
bla 
José Paulo Paes 
 
5. O texto I corresponde à primeira e última 
estrofes de conhecido soneto camoniano. 
Depreende-se de sua leitura que 
 
a) o poeta, ao usar o vocativo minha 
Senhora, explicita o fato de ter como 
interlocutora uma mulher já madura e 
experiente, capaz, portanto, de lhe aliviar a 
dor. 
b) um antigo envolvimento amoroso é 
agora relembrado com alegria, provocando 
no poeta prazerosas e variadas sensações. 
c) o poeta, ao manifestar à Senhora seu 
estado de espírito, faz indiretamente uma 
declaração amorosa. 
d) a insegurança do poeta se deve ao fato 
de ter sido rejeitado, conforme se explicita 
no verso que só porque vos vi, minha 
Senhora (última estrofe). 
e) o poeta, ao dizer respondo que não sei; 
porém suspeito revela uma contradição 
(“não saber/suspeitar”), pois não está em 
condições de descrever o momento que 
vive. 
 
 
6. Assinale a alternativa correta acerca do 
texto I. 
 
a) O fragmento exemplifica traço estilístico 
característico da estética barroca que, de 
certa forma, já está latente na lírica 
camoniana: a linguagem marcada por 
paradoxos. 
b) Nesses versos, o poeta, embora 
renascentista, afasta-se dos cânones 
estéticos da época, como, por exemplo, o 
ideal de beleza artística associado à 
harmonia da composição. 
 
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c) Observa-se nas estrofes a retomada de 
alguns expedientes retóricos típicos da 
Idade Média, como, por exemplo, o 
confessionalismo amoroso em linguagem 
ostensivamente emotiva. 
d) O texto é exemplo eloquente de que 
Camões inovou a lírica portuguesa ao 
tematizar o platonismo amoroso, 
caracterizado pela “coita de amor” e 
ausência de contato direto entre amante e 
amada. 
e) Nos versos confirma-se a tese de que, 
na obra camoniana, o amor é concebido 
como graçadivina, apesar de ser 
representado como uma intensa 
experiência erótica 
 
7. Assinale a alternativa correta a respeito do 
texto II. 
a) O primeiro e o quarto versos da primeira 
estrofe aludem ao esquema rímico das 
estrofes do texto I. 
b) O último verso acentua a crítica a uma 
concepção de poesia que valoriza apenas 
o fazer técnico consagrado pelos cânones 
estéticos. 
c) O título Metassoneto, vocábulo 
composto por derivação, apresenta prefixo 
que, no contexto, dá à palavra o sentido de 
“soneto excepcional”, “supersoneto”. 
d) O sentido depreciativo, associado ao 
processo de repetição usado no último 
verso, opõe-se ao tom grave e solene 
impresso na primeira estrofe. 
e) A expressão computador irritado 
explicita a incompatibilidade, denunciada 
pelo texto, entre qualidade artística e 
progresso científico. 
 
8. (UNICAMP) Leia o soneto abaixo, de Luís de 
Camões. 
Enquanto quis Fortuna que tivesse 
esperança de algum contentamento, 
o gosto de um suave pensamento 
me fez que seus efeitos escrevesse. 
 
Porém, temendo Amor que aviso desse 
minha escritura a algum juízo isento, 
escureceu-me o engenho com tormento, 
para que seus enganos não dissesse. 
 
Ó vós, que Amor obriga a ser sujeitos 
a diversas vontades! Quando lerdes 
num breve livro casos tão diversos, 
 
verdades puras são, e não defeitos... 
E sabei que, segundo o amor tiverdes, 
Tereis o entendimento de meus versos! 
 (Disponível em 
http://www.dominiopublico.gov.br/download/ 
texto/bv000164.pdf. Acessado em 02/08/2016.) 
a) Nos dois quartetos do soneto acima, duas 
divindades são contrapostas por exercerem um 
poder sobre o eu lírico. Identifique as duas 
divindades e explique o poder que elas exercem 
sobre a experiência amorosa do eu lírico. 
b) Um soneto é uma composição poética 
composta de 14 versos. Sua forma é fixa e seus 
últimos versos encerram o núcleo temático ou a 
ideia principal do poema. Qual é a ideia 
formulada nos dois últimos versos desse soneto 
de Camões, levando-se em consideração o 
conjunto do poema? 
9. (UNICAMP) Leia o soneto abaixo, de Luís de 
Camões: 
 
Cá nesta Babilônia, donde mana 
matéria a quanto mal o mundo cria; 
 cá donde o puro Amor não tem valia, 
que a Mãe, que manda mais, tudo profana; 
 
cá, onde o mal se afina e o bem se dana, 
e pode mais que a honra a tirania; 
cá, onde a errada e cega Monarquia 
cuida que um nome vão a desengana; 
 
cá, neste labirinto, onde a nobreza, 
com esforço e saber pedindo vão 
às portas da cobiça e da vileza; 
 
cá neste escuro caos de confusão, 
cumprindo o curso estou da natureza. 
Vê se me esquecerei de ti, Sião! 
 
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(Disponível em 
http://www.dominiopublico.gov.br/download/tex
to/bv000164.pdf. Acessado em 08/09/2015.) 
a) Uma oposição espacial configura o tema e o 
significado desse poema de Camões. 
Identifique essa oposição, indicando o seu 
significado para o conjunto dos versos. 
b) Identifique nos tercetos duas expressões que 
contemplam a noção de desconcerto, 
fundamental para a compreensão do tema do 
soneto e da lírica camoniana. 
10. (UNICAMP) Leia o seguinte soneto de Camões: 
Oh! Como se me alonga, de ano em ano, 
a peregrinação cansada minha. 
Como se encurta, e como ao fim caminha 
este meu breve e vão discurso humano. 
 
Vai-se gastando a idade e cresce o dano; 
perde-se-me um remédio, que inda tinha. 
Se por experiência se adivinha, 
qualquer grande esperança é grande engano. 
 
Corro após este bem que não se alcança; 
no meio do caminho me falece, 
mil vezes caio, e perco a confiança. 
 
Quando ele foge, eu tardo; e, na tardança, 
se os olhos ergo a ver se inda parece, 
da vista se me perde e da esperança. 
 
a) Na primeira estrofe, há uma contraposição 
expressa pelos verbos alongar e encurtar. A qual 
deles está associado o cansaço da vida e qual deles 
se associa à proximidade da morte? 
b) Por que se pode afirmar que existe também uma 
contraposição no interior do primeiro verso da 
segunda estrofe? 
c) A que termo se refere o pronome “ele” da última 
estrofe? 
_____________________________________ 
Gabarito 
1. C 
2. D 
3. D 
4. D 
5. C 
6. A 
7. B 
8. 
a) A primeira divindade é a Fortuna, que ajuda o eu 
lírico a escrever, isto é, a fazer um registro de sua 
experiência amorosa. A segunda divindade é o 
Amor, que dificulta o engenho do poeta, produz 
enganos e sujeita aquele que ama. Portanto, o 
soneto elabora a tensão entre o ato de criação 
poética, marcado por certo contentamento e “o gosto 
de um suave pensamento” e os efeitos contraditórios 
que o Amor produz na experiência criativa e 
amorosa do eu lírico. 
b) A tese defendida é a de que o entendimento dos 
versos é possível na medida em que o leitor 
experimente o amor. Por conseguinte, a escrita do 
poema é produção dotada de sentido com lastro na 
experiência e compreensível em um grau 
proporcional à experiência existencial do possível 
leitor da obra lírica. 
9. 
a) Trata-se da oposição entre Babilônia e Sião. Se 
Babilônia representa alegoricamente o mal, ao 
evocar a situação de exílio e privação do eu lírico, e 
também por tudo que simboliza na tradição judaico-
cristã (como, por exemplo, a tirania, o amor impuro, 
os desenganos e a vida errática), Sião encarna as 
ideias de liberdade, verdade e amor puro. Babilônia 
é o local do desconcerto do mundo, ao passo que 
Sião indica a pátria verdadeira, local da justa 
proporção e da possível harmonia entre os valores 
espirituais do eu lírico e a sua realidade social e 
material. 
b) No primeiro terceto, a expressão “neste labirinto,” 
capta um dos traços fundamentais da noção de 
desconcerto, a saber, o deslocamento errático do eu 
lírico em um mundo marcado pela cobiça e pela 
vileza, em suma, pelo pecado. No segundo terceto, 
a expressão “neste escuro caos de confusão” sugere 
as ideias de desordem e desorientação desse eu 
lírico. Tais expressões do desconcerto são antítese 
das ideias de proporção, equilíbrio e beleza, que 
compõem o campo semântico do conceito de 
concerto, encarnado na forma lógica e rigorosa do 
soneto e na própria visão de mundo do homem 
renascentista. 
10. 
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000164.pdf.%20Acessado%20em%2008/09/2015
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000164.pdf.%20Acessado%20em%2008/09/2015
 
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a) O verbo "alongar" associa-se a cansaço da vida. 
O "encurtar" relaciona-se à proximidade da morte. 
b) Há no primeiro verso da segunda estrofe uma 
oposição entre "gastando" e "cresce". Quanto mais 
a idade avança, mais o eu lírico aproxima-se do fim 
da vida. 
c) O pronome "ele" refere-se ao vocábulo "bem". 
Leitura complementar 
Um dos poemas mais conhecidos em 
língua portuguesa sobre o amor é da autoria de 
Camões. Muitos poetas e compositores utilizaram-
se dele para criar novos textos. Abaixo, aprecie o 
soneto camoniano e a canção Monte Castelo, da 
Legião Urbana Note a intertextualidade com o 
poema camoniano e com trechos bíblicos. 
Amor é fogo que arde sem se ver, 
é ferida que dói, e não se sente; 
é um contentamento descontente, 
é dor que desatina sem doer. 
É um não querer mais que bem querer; 
é um andar solitário entre a gente; 
é nunca contentar-se de contente; 
é um cuidar que ganha em se perder. 
É querer estar preso por vontade; 
é servir a quem vence, o vencedor; 
é ter com quem nos mata, lealdade. 
Mas como causar pode seu favor 
nos corações humanos amizade, 
se tão contrário a si é o mesmo Amor? 
 Luís de Camões 
Monte Castelo 
Legião Urbana 
Composição: Renato Russo (recortes do Apóstolo 
Paulo e de Camões) 
 
Ainda que eu falasse 
A língua dos homens 
E falasse

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