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TJDFT - PONTOS RESUMIDOS - PROVA ORAL

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PONTO 9 
NOÇÕES GERAIS DE DIREITO E FORMAÇÃO HUMANÍSTICA 
- O conceito de Justiça. Sentido lato de Justiça, como valor universal. Sentido estrito de Justiça, como valor jurídico-político. Divergências sobre o conteúdo do conceito. 
Qual a diferença entre sentido lato e sentido estrito? Sentido lato quer dizer "em sentindo amplo" e “stricto senso” que dizer " em sentido restrito".
O primeiro ponto a relembrar que é que a filosofia é anti-dogmática. Se tudo problematiza, então esta atitude é anti-dogmática, não aceitando verdades absolutas. A atitude filosófica consiste em saber que o conhecimento é um processo sempre em construção, em que o mais importante são as questões, pois impulsionam o Homem na busca de respostas. Grave essa informação: anti-dogmática. 
Aí está o problema inicial quando o operador do direito começa o estudo da filosofia. Ele sempre busca dogmas dentro da filosofia e classificações aceitas por todos, isso porque o direito precisa de dogmas para ter segurança jurídica e poder se estabelecer. A filosofia não. A filosofia aceita que cada um apresente seu conceito ou sua classificação sobre determinado assunto, pois é um respeito e celebração à sua atitude filosófica. 
Nesse contexto, em ponto de partida pelo menos para termos um conceito mínimo, o termo justiça (do latim iustitia, por via semi-erudita), de maneira simples, diz respeito à igualdade de todos os cidadãos. É o principio básico de um acordo que objetiva manter a ordem social através da preservação dos direitos em sua forma legal (constitucionalidade das leis) ou na sua aplicação a casos específicos da sociedade (litígio).
Em um sentido mais amplo pode ser considerado como um termo abstrato que designa o respeito pelo direito de terceiros, a aplicação ou reposição do seu direito por ser maior em virtude moral ou material. Justo é aquilo que é equitativo ou consensual, adequado e legítimo (aplicar o direito nas suas próprias fontes - as pessoas - em igualitariedade). 
Sua ordem máxima, representada em Roma por uma estátua, com olhos vendados, visa seus valores máximos onde "todos são iguais perante a lei" e "todos têm iguais garantias legais", ou ainda, "todos têm iguais direitos". A justiça deve buscar a igualdade entre os cidadãos.
Os tipos de justiça. 
Existe a justiça em sentido geral, acima mencionada, que é aquela que ataca excelência e a deficiência moral em seu todo em relação ao próximo. Pode ser resumida na seguinte frase: “a justiça, em sentido lato, significa o conjunto das virtudes que regulam as relações entre os homens” (André Franco Montoro). Virtudes seria a própria justiça, temperança, prudência, coragem. É um valor universal, uma vez que é aceito em todos os povos. 
Já a justiça em sentido estrito se divide, primeiramente, em distributiva e corretiva. 
Além disso, temos a justiça política que em parte é legal, em parte natural, e que nos leva à classificação da justiça particular e universal. 
Sentido estrito de Justiça, como valor jurídico-político.
Justiça distributiva ou condecorativa – é aquela que busca premiar, condecorar alguém, que, de algum modo, tenha se mostrado virtuoso dentro da polis. Exemplo: o concurso público que você está passando!!! É uma retribuição por seu esforço conferida pelo Estado. 
Justiça comutativa ou corretiva. Também chamada de equiparadora ou sinalagmática. Divide-se em corretiva voluntária ou corretiva involuntária. Na voluntária, um particular dá a outro particular o bem que lhe é devido (ex. uma casa em ação reivindicatória). 
Na corretiva involuntária, que também alguns chamam de vindicativa, cuida-se do direito público, que exige a punição dos culpados (ex. aplicar pena ao réu). 
A doutrina ainda aponta as principais características do sentido estrito de justiça:
Alteridade (alteritas) – respeito ao direito do outro.
Devido (debitum) – a obrigação legal deve ser exigível.
Igualdade (equalitas). A finalidade da justiça é estabelecer a igualdade entre as partes.
Divergências sobre o conteúdo do conceito. Essas divergências se apresentam justamente porque a filosofia, inclusive a filosofia do direito, é anti-dogmática. Para se ter ideia da salada de conceitos de justiça e como é difícil conceituá-la, seguem alguns exemplos.
Na antiga Grécia, Sócrates perguntou a seus colegas no mercado ateniense, Cefalus, Trasimacus, Glaucon, Polemarcus e Cleitofon: “O que é justiça?”.O problema é que havia pelo menos duas palavras gregas empregadas como ‘justiça’. De um lado, ‘to eson’ ou ‘isotes’ significando ‘igualdade’, e de outro, ‘dikaiosune’ que mais propriamente significa ‘retidão’.
Mas Platão e Aristóteles defendiam uma visão de justiça de desigualdade aos desiguais. Na sua Ética a Nicômaco, a doutrina e classificação de Aristóteles continua atual. Trata de vários aspectos da Justiça: 1) como um estado de caráter; 2) como legalidade e razoabilidade; 3) a justiça geral em contraste com a especial; 4) a justiça distributiva e o princípio da proporcionalidade ou da igualdade proporcional; 5) justiça retributiva ou retificadora e o papel do juiz; 6) a justiça política (ou o politicamente justo); 7) a justiça natural e a legal.
Sobre o direito, justiça, equidade e sociedade, todos agrupados ou integrados em uma só idéia, disse Ronald Dworkin que a sociedade é vista como uma comunidade de princípios, que exige que as normas públicas da comunidade sejam criadas e vistas, na medida do possível, de modo a expressar um sistema único e coerente de justiça e equidade.
Michel Sandel defende que os princípios da justiça são produtos de escolha; só o indivíduo ou um grupo deles pode decidir, por reflexão racional, o que constitui o seu bem, que sistema de finalidades é racional para eles perseguirem, e por antecipação como tal sistema irá regular suas pretensões, uns contra os outros.
Para Hume a justiça decorre da falta de amor. Disse ele que nós precisamos da justiça porque não amamos uns aos outros suficientemente.
Bibliografia. 1) concurso da magistratura. Noções Gerais de Direito e Formação Hum. (Editora Saraiva); 2) Vade Mecum Humanístico, 2ª edição, Ed. RT; Mota, Mauricio.Por que estudar filosofia do direito?: Brasília : ENFAM, 2011.
- Código de Ética da Magistratura Nacional. 
CÓDIGO DE ÉTICA DA MAGISTRATURA NACIONAL
O CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, no exercício da competência que lhe atribuíram a Constituição Federal(art. 103-B, § 4º, I e II), a Lei Orgânica da Magistratura Nacional (art. 60 da LC nº 35 /79) e seu Regimento Interno (art. 19, incisos I e II);
Considerando que a adoção de Código de Ética da Magistratura é instrumento essencial para os juízes incrementarem a confiança da sociedade em sua autoridade moral;
Considerando que o Código de Ética da Magistratura traduz compromisso institucional com a excelência na prestação do serviço público de distribuir Justiça e, assim, mecanismo para fortalecer a legitimidade do Poder Judiciário;
Considerando que é fundamental para a magistratura brasileira cultivar princípios éticos, pois lhe cabe também função educativa e exemplar de cidadania em face dos demais grupos sociais;
Considerando que a Lei veda ao magistrado "procedimento incompatível com a dignidade, a honra e o decoro de suas funções" e comete-lhe o dever de "manter conduta irrepreensível na vida pública e particular" (LC nº 35 /79, arts. 35 , inciso VIII , e 56 , inciso II); e
Considerando a necessidade de minudenciar os princípios erigidos nas aludidas normas jurídicas;
RESOLVE aprovar e editar o presente CÓDIGO DE ÉTICA DA MAGISTRATURA NACIONAL, exortando todos os juízes brasileiros à sua fiel observância.
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
O que o exercício da magistratura exige?
Art. 1º O exercício da magistratura exige conduta compatível com os preceitos deste Código e do Estatuto da Magistratura, norteando-se pelos princípios da independência, da imparcialidade, do conhecimento e capacitação, da cortesia, da transparência,do segredo profissional, da prudência, da diligência, da integridade profissional e pessoal, da dignidade, da honra e do decoro.
O que o magistrado deve buscar primeiramente?
Art. 2º Ao magistrado impõe-se primar pelo respeito à Constituição da República e às leis do País, buscando o fortalecimento das instituições e a plena realização dos valores democráticos.
Como a atividade judicial deve desenvolver-se?
Art. 3º A atividade judicial deve desenvolver-se de modo a garantir e fomentar a dignidade da pessoa humana, objetivando assegurar e promover a solidariedade e a justiça na relação entre as pessoas.
CAPÍTULO II
INDEPENDÊNCIA
Quanto à independência, o que se exige do magistrado?
Art. 4º Exige-se do magistrado que seja eticamente independente e que não interfira, de qualquer modo, na atuação jurisdicional de outro colega, exceto em respeito às normas legais.
O magistrado pode receber indevidas influências externas e estranhas à justa convicção?
Art. 5º Impõe-se ao magistrado pautar-se no desempenho de suas atividades sem receber indevidas influências externas e estranhas à justa convicção que deve formar para a solução dos casos que lhe sejam submetidos.
O magistrado pode denunciar alguma influência indevida?
Art. 6º É dever do magistrado denunciar qualquer interferência que vise a limitar sua independência.
Por gozar de direitos políticos, é permitido ao magistrado participar de atividade político-partidária?
Art. 7º A independência judicial implica que ao magistrado é vedado participar de atividade político-partidária.
CAPÍTULO III
IMPARCIALIDADE
Qual o conceito de magistrado imparcial?
Art. 8º O magistrado imparcial é aquele que busca nas provas a verdade dos fatos, com objetividade e fundamento, mantendo ao longo de todo o processo uma distância equivalente das partes, e evita todo o tipo de comportamento que possa refletir favoritismo, predisposição ou preconceito.
Como o magistrado deve tratar as partes?
Art. 9º Ao magistrado, no desempenho de sua atividade, cumpre dispensar às partes igualdade de tratamento, vedada qualquer espécie de injustificada discriminação.
Parágrafo único. Não se considera tratamento discriminatório injustificado:
I - a audiência concedida a apenas uma das partes ou seu advogado, contanto que se assegure igual direito à parte contrária, caso seja solicitado; II - o tratamento diferenciado resultante de lei.
CAPÍTULO IV
TRANSPARÊNCIA
Como deve ser a atuação do magistrado quanto à transparência?
Art. 10. A atuação do magistrado deve ser transparente, documentando-se seus atos, sempre que possível, mesmo quando não legalmente previsto, de modo a favorecer sua publicidade, exceto nos casos de sigilo contemplado em lei.
Art. 11. O magistrado, obedecido o segredo de justiça, tem o dever de informar ou mandar informar aos interessados acerca dos processos sob sua responsabilidade, de forma útil, compreensível e clara.
Se Vossa Excelência for entrevistado na TV como magistrado, qual deverá ser seu comportamento?
Art. 12. Cumpre ao magistrado, na sua relação com os meios de comunicação social, comportar-se de forma prudente e eqüitativa, e cuidar especialmente:
I - para que não sejam prejudicados direitos e interesses legítimos de partes e seus procuradores; II - de abster-se de emitir opinião sobre processo pendente de julgamento, seu ou de outrem, ou juízo depreciativo sobre despachos, votos, sentenças ou acórdãos, de órgãos judiciais, ressalvada a crítica nos autos, doutrinária ou no exercício do magistério.
Art. 13. O magistrado deve evitar comportamentos que impliquem a busca injustificada e desmesurada por reconhecimento social, mormente a autopromoção em publicação de qualquer natureza.
Art. 14. Cumpre ao magistrado ostentar conduta positiva e de colaboração para com os órgãos de controle e de aferição de seu desempenho profissional.
CAPÍTULO V
INTEGRIDADE PESSOAL E PROFISSIONAL
É importante a conduta do magistrado fora do âmbito da atividade jurisdicional?
Art. 15. A integridade de conduta do magistrado fora do âmbito estrito da atividade jurisdicional contribui para uma fundada confiança dos cidadãos na judicatura.
Como o magistrado deve ser comportar na vida privada?
Art. 16. O magistrado deve comportar-se na vida privada de modo a dignificar a função, cônscio de que o exercício da atividade jurisdicional impõe restrições e exigências pessoais distintas das acometidas aos cidadãos em geral.
Art. 17. É dever do magistrado recusar benefícios ou vantagens de ente público, de empresa privada ou de pessoa física que possam comprometer sua independência funcional.
Art. 18. Ao magistrado é vedado usar para fins privados, sem autorização, os bens públicos ou os meios disponibilizados para o exercício de suas funções.
Art. 19. Cumpre ao magistrado adotar as medidas necessárias para evitar que possa surgir qualquer dúvida razoável sobre a legitimidade de suas receitas e de sua situação econômico-patrimonial.
CAPÍTULO VI
DILIGÊNCIA E DEDICAÇAO
Art. 20. Cumpre ao magistrado velar para que os atos processuais se celebrem com a máxima pontualidade e para que os processos a seu cargo sejam solucionados em um prazo razoável, reprimindo toda e qualquer iniciativa dilatória ou atentatória à boa-fé processual.
Art. 21. O magistrado não deve assumir encargos ou contrair obrigações que perturbem ou impeçam o cumprimento apropriado de suas funções específicas, ressalvadas as acumulações permitidas constitucionalmente. § 1º O magistrado que acumular, de conformidade com a Constituição Federal , o exercício da judicatura com o magistério deve sempre priorizar a atividade judicial, dispensando-lhe efetiva disponibilidade e dedicação.
§ 2º O magistrado, no exercício do magistério, deve observar conduta adequada à sua condição de juiz, tendo em vista que, aos olhos de alunos e da sociedade, o magistério e a magistratura são indissociáveis, e faltas éticas na área do ensino refletirão necessariamente no respeito à função judicial.
CAPÍTULO VII
CORTESIA
O magistrado deve ser cortês com todos?
Art. 22. O magistrado tem o dever de cortesia para com os colegas, os membros do Ministério Público, os advogados, os servidores, as partes, as testemunhas e todos quantos se relacionem com a administração da Justiça.
Como deve ser a linguagem do magistrado?
Parágrafo único. Impõe-se ao magistrado a utilização de linguagem escorreita, polida, respeitosa e compreensível.
Art. 23. A atividade disciplinar, de correição e de fiscalização serão exercidas sem infringência ao devido respeito e consideração pelos correicionados.
CAPÍTULO VIII
PRUDÊNCIA
O magistrado deve meditar sobre os processos?
Art. 24. O magistrado prudente é o que busca adotar comportamentos e decisões que sejam o resultado de juízo justificado racionalmente, após haver meditado e valorado os argumentos e contra-argumentos disponíveis, à luz do Direito aplicável.
O que é o consequencionalismo na atividade jurisdicional?
Art. 25. Especialmente ao proferir decisões, incumbe ao magistrado atuar de forma cautelosa, atento às conseqüências que pode provocar.
Art. 26. O magistrado deve manter atitude aberta e paciente para receber argumentos ou críticas lançados de forma cortês e respeitosa, podendo confirmar ou retificar posições anteriormente assumidas nos processos em que atua.
CAPÍTULO Ix
SIGILO PROFISSIONAL
Art. 27. O magistrado tem o dever de guardar absoluta reserva, na vida pública e privada, sobre dados ou fatos pessoais de que haja tomado conhecimento no exercício de sua atividade.
Art. 28. Aos juízes integrantes de órgãos colegiados impõe-se preservar o sigilo de votos que ainda não hajam sido proferidos e daqueles de cujo teor tomem conhecimento, eventualmente, antes do julgamento.
CAPÍTULO X
conhecimento e capacitação
Art. 29. A exigência de conhecimento e decapacitação permanente dos magistrados tem como fundamento o direito dos jurisdicionados e da sociedade em geral à obtenção de um serviço de qualidade na administração de Justiça.
Art. 30. O magistrado bem formado é o que conhece o Direito vigente e desenvolveu as capacidades técnicas e as atitudes éticas adequadas para aplicá-lo corretamente.
Art. 31. A obrigação de formação contínua dos magistrados estende-se tanto às matérias especificamente jurídicas quanto no que se refere aos conhecimentos e técnicas que possam favorecer o melhor cumprimento das funções judiciais.
Art. 32. O conhecimento e a capacitação dos magistrados adquirem uma intensidade especial no que se relaciona com as matérias, as técnicas e as atitudes que levem à máxima proteção dos direitos humanos e ao desenvolvimento dos valores constitucionais.
Art. 33. O magistrado deve facilitar e promover, na medida do possível, a formação dos outros membros do órgão judicial.
Art. 34. O magistrado deve manter uma atitude de colaboração ativa em todas as atividades que conduzem à formação judicial.
Art. 35. O magistrado deve esforçar-se para contribuir com os seus conhecimentos teóricos e práticos ao melhor desenvolvimento do Direito e à administração da Justiça.
Art. 36. É dever do magistrado atuar no sentido de que a instituição de que faz parte ofereça os meios para que sua formação seja permanente.
CAPÍTULO XI
DIGNIDADE, HONRA E DECORO
Art. 37. Ao magistrado é vedado procedimento incompatível com a dignidade, a honra e o decoro de suas funções.
Art. 38. O magistrado não deve exercer atividade empresarial, exceto na condição de acionista ou cotista e desde que não exerça o controle ou gerência.
Art. 39. É atentatório à dignidade do cargo qualquer ato ou comportamento do magistrado, no exercício profissional, que implique discriminação injusta ou arbitrária de qualquer pessoa ou instituição.
CAPÍTULO xII
DISPOSIÇÕES FINAIS
Art. 40. Os preceitos do presente Código complementam os deveres funcionais dos juízes que emanam da Constituição Federal , do Estatuto da Magistratura e das demais disposições legais.
Art. 41. Os Tribunais brasileiros, por ocasião da posse de todo Juiz, entregar-lhe-ão um exemplar do Código de Ética da Magistratura Nacional, para fiel observância durante todo o tempo de exercício da judicatura.
Art. 42. Este Código entra em vigor, em todo o território nacional, na data de sua publicação, cabendo ao Conselho Nacional de Justiça promover-lhe ampla divulgação.
DIREITO CIVIL / DIREITO PROCESSUAL CIVIL / DIREITO DO CONSUMIDOR 
- Modalidades das obrigações. Direitos reais. Registros públicos. 
- Partes. Procuradores. Ministério Público. Juiz. Auxiliares da Justiça. Procedimento sumário. Os processos na Lei de Locações (Lei nº 8.245/91). O processo nos tribunais. Uso de fac-símile (Lei nº 9.800/1999). 
- Vícios dos produtos e serviços: incidentes de consumo. Obrigações do fornecedor de produtos ou serviços com vícios. Distinção entre incidentes e acidentes de consumo. Teoria dos vícios redibitórios. Art. 18 do CDC. Prazo para conserto e opções de resolução dos problemas pelo consumidor. Vícios de quantidade.
PONTO 09 DE DIREITO CIVIL
Ponto 09. Modalidade das obrigações. Direitos reais. Registros Públicos.
QUAL A CLASSIFICAÇÃO BÁSICA DAS OBRIGAÇÕES?
.
As obrigações, apreciadas segundo a prestação que as integra, poderão ser:
OBRIGAÇÃO 1. POSITIVA ( A) DE DAR ( COISA CERTA
					 COISA INCERTA
		 	 ( B) DE FAZER
	 	2. NEGATIVA ( DE NÃO FAZER
Essa é a classificação básica das obrigações, que, inspirada no Direito Romano (dare, facere, non facere), foi adotada pela legislação brasileira desde o esboço de Teixeira de Freitas.
OBRIGAÇÃO DE DAR
As obrigações de dar, que têm por objeto prestações de coisas, consistem na atividade de dar (transferindo-se a propriedade da coisa), entregar (transferindo-se a posse ou a detenção da coisa) ou restituir (quando o credor recupera a posse ou a detenção da coisa entregue ao devedor).
Subdividem-se, todavia, em obrigações de dar coisa certa e obrigações de dar coisa incerta.
OBRIGAÇÕES DE DAR COISA CERTA
Nesta modalidade de obrigação, o devedor obriga-se a dar, entregar ou restituir coisa específica, determinada, certa. Logo, se a obrigação consiste em dar coisa certa, não poderá o credor ser constrangido a receber outra senão aquela descrita no título da obrigação. Nesse sentido, clara é a dicção do art. 313 do CC: “O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa”. Contudo, caso consinta em receber prestação diversa em substituição à originária, estará praticando um modo extintivo da obrigação – a dação em pagamento (art. 356).
Aplica-se também para as obrigações de dar coisa certa, o princípio jurídico de que o acessório segue o principal. Dessa forma, não resultando o contrário do título ou das circunstâncias do caso, o devedor não poderá se negar a dar ao credor aqueles bens que, sem integrar a coisa principal, secundam-na por acessoriedade (art. 233).
Quanto ao risco de perecimento ou deterioração do objeto, há que se invocar a milenar regra do res perit domino suo. (essa regra, cuja raiz assenta-se no Código de Hamurabi, significa que, em caso de perda ou deterioração da coisa, por caso fortuito ou força maior, suportará o prejuízo o seu proprietário).
Em caso de perda ou perecimento (prejuízo total), duas situações diversas podem acontecer:
se a coisa se perder, sem culpa do devedor, antes da tradição, ou pendente condição suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes, suportando o prejuízo o proprietário da coisa que ainda não a havia alienado (art.234);
se a coisa se perder, com culpa do devedor, responderá este pelo equivalente (valor da coisa), mais perdas e danos. Entenda-se por perdas e danos apenas a expectativa patrimonial frustrada – lucros cessantes -, pois os danos emergentes, evidentemente, compensam-se na devolução dos valores pagos. Invariavelmente, haverá uma presunção de culpa do devedor inadimplente quanto ao fato que gerou a perda do objeto, tendo ele o ônus probatório de desconstituí-la.
Em caso de deterioração (prejuízo parcial), também duas hipóteses são previstas em lei:
se a coisa se deteriora sem culpa do devedor, poderá o credor, a seu critério, resolver a obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu (art. 235);
se a coisa se deteriora por culpa do devedor, poderá o credor exigir o equivalente, ou aceitar a coisa no estado em que se acha, com direito a reclamar, em um ou outro caso, a indenização por perdas e danos.
As obrigações de restituir, por sua vez, mereceram tratamento específico. Nesta modalidade de obrigação, a prestação consiste na devolução da coisa recebida pelo devedor, a exemplo daquela imposta ao depositário (devedor), que deve restituir ao depositário (credor) aquilo que recebeu para guardar e conservar.
O CC prevê em seu art. 238 que “se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, sem culpa do devedor, se perder (total) antes da tradição, sofrerá o credor a perda, e a obrigação se resolverá, ressalvados os seus direitos até o dia da perda”. De qualquer forma, subsiste a regra de que a coisa perece para o dono (credor), que suportará o prejuízo, sem direito à indenização, considerando-se a ausência de culpa do devedor.
Em caso de simples deterioração, o art. 240 estipula que: “se a coisa restituível se deteriorar (parcial) sem culpa do devedor, recebê-la-á o credor, tal qual se ache, sem direito a indenização; se por culpa do devedor, observar-se-á o disposto no art. 239”.
Por sua vez, se a coisa se perde ou se deteriora por culpa do devedor, o art. 239 dispõe que: “se a coisa se perder por culpa do devedor, responderá este pelo equivalente, mais perdas e danos”.
Ocorre lembrar que, se o interessado na restituição da coisaestiver em mora para recebê-la, mesmo nas hipóteses de perda acidental pelo depositário, culminará por ser responsabilizado a ponto de efetuar o pagamento, conforme se depreende do art. 492, §2°, do CC. Em sentido inverso, se o atraso for debitado àquele a quem incumbia a entrega da coisa, mesmo que a sua perda resulte de caso fortuito/força maior (art. 399), recairá contra o devedor a condenação em perdas e danos. De fato, a mora gera uma expansão da responsabilidade do devedor, alcançando mesmo as situações de perda ou deterioração da coisa alheia aos seus cuidados normais. Excepcionalmente, o devedor isentará a sua responsabilidade se demonstrar que, mesmo se a entrega fosse tempestiva, o evento ainda assim ocorreria.
Por fim, cumpre fazer referência aos melhoramentos, acréscimos e frutos experimentados pela coisa, nas obrigações de restituir.
Se tais benefícios se agregaram à coisa principal, sem concurso de vontade ou despesa para o devedor, lucrará o credor, desobrigado da indenização (art. 241).
Se, todavia, tais melhoramentos exigiram concurso de vontade ou despesa para o devedor, o CC determina que sejam aplicadas as regras atinentes aos efeitos da posse, quanto às benfeitorias realizadas (art. 242; 1219 a1222). Quanto aos frutos(arts. 1.214, 1.216), aplicam-se também as regras previstas pelo legislador ao tratar dos efeitos da posse.
BENFEITORIAS - boa-fé: necessárias,úteis(indenização pelo valorautale direito de retenção)
 voluptuárias: levantá-las
 - má-fé : necessárias (indenização pelo valor atual ou custo)
FRUTOS - boa-fé: ficar com os percebidos; restituir os colhidos por antecipação e os pendentes, deduzidas as despesas da produção e custeio.
- má-fé:responde por todos os frutos colhidos e percebidos,bem como, por culpa sua,eixou de perceber;tem direito às despesas de custeio e produção.
OBRIGAÇÕES DE DAR DINHEIRO (OBRIGAÇÕES PECUNIÁRIAS)
Segundo Álvaro Villaça Azevedo, “o pagamento em dinheiro consiste, assim, na modalidade de execução obrigacional que importa a entrega de uma quantia de dinheiro pelo devedor ao credor, com liberação daquele. É um modo de pagamento que deve realizar-se, em princípio, em moeda corrente, no lugar do cumprimento da obrigação, onde esta deverá cumprir-se, segundo ao art. 315 do CC”.
O art. 315 dispõe que: “as dívidas em dinheiro deverão ser pagas no vencimento, em moeda corrente e pelo valor nominal, salvo o disposto nos artigos subseqüentes”. Consoante se depreende dessa regra legal, é o princípio do nominalismo que regula as denominadas dívidas de dinheiro. Por força dessa regra, assevera Carlos Roberto Gonçalves, considera-se “como valor da moeda o valor nominal que lhe atribui o Estado, no ato de emissão ou cunhagem. De acordo com o referido princípio, o devedor de uma quantia em dinheiro libera-se entregando a quantidade de moeda mencionada no contrato ou no título da dívida, e em curso no lugar do pagamento, ainda que desvalorizada pela inflação, ou seja, mesmo que a referida quantidade não seja suficiente para a compra dos mesmos bens que podiam ser adquiridos, quando contraída a obrigação”. Nada impede, outrossim, a adoção de cláusulas de escala móvel, para que se realize a atualização monetária da soma devida, segundo critérios escolhidos pelas próprias partes.
Entretanto, ao lado das dívidas de dinheiro, a doutrina, influenciada pela instabilidade de nossa economia, elaborou o conceito das chamadas dívidas de valor. Estas não teriam por objeto o dinheiro em si, mas o próprio valor econômico (aquisitivo) expresso pela moeda.
OBRIGAÇÕES DE DAR COISA INCERTA
Ao lado das obrigações de dar coisa certa, figuram as obrigações de dar coisa incerta, cuja prestação consiste na entrega de coisa especificada apenas pela espécie e quantidade. Trata-se das chamadas obrigações genéricas. Nesse sentido, clara é a norma do art. 243 do CC: “a coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade”. Ressalte-se, entretanto, que essa indeterminabilidade do objeto há que ser meramente relativa.
A operação, por meio da qual se especifica a prestação, convertendo a obrigação genérica em determinada, denomina-se “concentração do débito” ou “concentração da prestação devida”.
A escolha, por princípio, cabe ao devedor, uma vez que o CC, em quase todas as suas normas, prefere o devedor, quando a vontade das partes não houver estipulado a quem assiste determinado direito. Essa liberdade de escolha, contudo, não é absoluta, eis que o devedor não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a dar a melhor (art. 244: “nas coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade, a escolha pertence ao devedor, se o contrário não resultar do título da obrigação; mas não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a prestar a melhor”). Por óbvio, se nas obrigações de dar coisa incerta a prestação é inicialmente indeterminada, não poderá o devedor, antes de efetuada a sua escolha, alegar perda ou deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito (art. 246). O gênero, segundo tradicional entendimento, não perece jamais.
Entretanto, se o Projeto de Lei n. 6960/02 (projeto que se encontra arquivado em 31/01/2007, mas ainda pode ser desarquivado) converter-se em lei, essa regra será relativizada, nos seguintes termos: “antes de cientificado da escolha o credor, não poderá o devedor alegar perda ou deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito, salvo se se tratar de dívida genérica limitada e se extinguir toda a espécie dentro da qual a prestação está compreendida”.
Contudo, para Nelson Rosenvald, “se a obrigação referir-se à entrega de coisas genéricas, porém previamente indicadas e localizadas, há de falar-se em prestação de dar coisa certa, aplicando-se as regras dessa modalidade. Exemplificando: contrato para a entrega de arroz situado em um depósito ou dos cavalos que se encontram em um estábulo. É o que a doutrina chama de dívida de gênero limitado”.
Feita a escolha, as regras que passarão a ser aplicadas serão aquelas previstas para as obrigações de dar coisa certa.
 OBRIGAÇÕES DE FAZER
Nas obrigações de fazer, interessa ao credor a própria atividade do devedor. Pretende o credor a prestação de um fato, e não o bem que eventualmente dele resulte. Em tais casos, a depender da possibilidade ou não de o serviço ser prestado por terceiro, a prestação do fato poderá ser fungível ou infungível.
A obrigação de fazer será fungível quando não houver restrição negocial no sentido de que o serviço seja realizado por outrem. Atento a isso, o CC admite a possibilidade de o fato ser executado por terceiro, havendo recusa ou mora do devedor. Nos termos do seu art. 249: “se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor mandá-lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuízo da indenização cabível”.
A grande novidade do CC, no que tange às obrigações de fazer, é a possibilidade de deferir-se ao credor o exercício da auto-executoriedade, em caso de urgência na obtenção da obrigação de fazer fungível (art. 249, parágrafo único). Cuida-se de evidente aplicação do paradigma da operabilidade.
Comentando esse dispositivo, SÍLVIO VENOSA pontifica: “é interessante notar que, no parágrafo único, a novel lei introduz a possibilidade de procedimento de justiça de mão própria, no que andou muito bem”. Assim, poderá o credor, independentemente de autorização judicial, contratar terceiro para executar a tarefa, pleiteando, depois, a devida indenização, o que, se já era possível no sistema anterior por construção doutrinária, agora se torna norma expressa.
Por outro lado, se ficar estipulado que apenas o devedor indicado no título da obrigação possa satisfazê-la, estaremos diante de uma obrigação infungível. Trata-se das chamadas obrigações personalíssimas (intuitu personae), cujo adimplemento não poderá ser realizado por qualquer pessoa, em atenção às qualidades especiais daquele que se contratou. Taispessoas não poderão, sem prévia anuência do credor, indicar substitutos, sob pena de descumprirem a obrigação personalíssima pactuada.
Poderá a prestação de fazer ser naturalmente infungível, com base nas qualidades pessoais do devedor -, v.g., pintura de tela por artista; será ainda contratualmente infungível, caso o credor queira impor natureza personalíssima a uma obrigação em tese fungível. Aliás, o art. 247 refere-se a ambas as modalidades de obrigações infungíveis (“incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que recusar a prestação a ele só imposta –infungível por convenção, ou só por ele exeqüível – infungível por natureza”).
Impende observar que, em algumas situações intermediárias – sobremodo aquelas em que da atividade resulte uma obra ou um objeto – poderá o intérprete ter alguma dificuldade em determinar uma obrigação como de dar ou de fazer. Assim, se A prometer entregar um imóvel a B, a obrigação será de fazer, caso a atividade seja a própria construção da coisa; consistirá, porém, em obrigação de dar coisa certa, se o imóvel já estiver pronto e acabado ao tempo da contratação. Em suma, nas obrigações de dar, o credor procura um objeto já existente ao tempo do nascimento da obrigação. Se, porventura, houver incidência conjunta de prestações de coisas e atividades pessoais, há de buscar-se a tipificação da obrigação pelo critério da preponderância.
A execução é o momento apropriado para se definir o tipo de ressarcimento ao autor, se mediante obrigação de fazer (art. 632 do CPC), para conta ativa, ou obrigação de pagar (art. 652 do CPC), no caso de conta inativa. (REsp 906325 DJ 16.03.2007 e REsp 835668 DJ 28.09.2006)
A esse respeito, foi editado o enunciado de n.160 na III Jornada de Direito Civil: “a obrigação de creditar dinheiro em conta vincula da de FGTS é obrigação de dar, obrigação pecuniária, não afetando a natureza da obrigação a circunstância de a disponibilidade do dinheiro depender da ocorrência de uma das hipóteses previstas no art. 20 da Lei n. 8.036/90”.
Vale ressaltar que as obrigações de fazer podem ainda ser classificadas em duradouras ou instantâneas. As instantâneas aperfeiçoam-se em um único momento; nas duradouras, a execução da obrigação protrai-se no tempo de forma continuada, ou de modo periódico, mediante trato sucessivo.
Interessa, ainda, a análise da modalidade de obrigação de fazer que envolve a promessa de fato de terceiro (art. 439). Pelo princípio da relatividade contratual, as avenças realizam-se res inter alios acta. Assim, em princípio, o terceiro é um estranho à relação obrigacional, sendo a sua conduta objeto da prestação. Porém, o objeto da obrigação em si é a promessa do próprio devedor; isto justifica o seu sancionamento. Mas se o terceiro aceitar a prestação, exonera-se o devedor de responsabilidade, já que a promessa foi cumprida e o terceiro assumiu o contrato, vinculando-se aos seus termos.
Finalmente, cumpre analisar as conseqüências do descumprimento de uma obrigação de fazer.
Se a prestação do fato se torna impossível sem culpa do devedor, resolve-se a obrigação, sem que haja a conseqüente obrigação de indenizar. Entretanto, se a impossibilidade decorrer de culpa do devedor, este poderá ser condenado a indenizar a outra parte pelo prejuízo causado. Nesse sentido, dispõe o art. 248: “se a prestação do fato tornar-se impossível sem culpa do devedor, resolver-se-á a obrigação; se por culpa dele, responderá por perdas e danos”.
Estudando essa regra, cumpre advertir que o tratamento dispensado pelo CC a descumprimento das obrigações de fazer não foi o mais adequado, apresentando-se de forma extremamente lacunosa. De fato, a moderna doutrina processual ensina que, ao lado da pretensão indenizatória, existem outros meios de tutela jurídica colocados à disposição do credor, consoante abordagem a ser realizada no tópico da tutela processual das obrigações de dar, fazer e não fazer.
OBRIGAÇÕES DE NÃO FAZER
A obrigação de não fazer tem por objeto uma prestação negativa, um comportamento omissivo do devedor. Implica uma abstenção, impedindo que o devedor pratique um ato que normalmente não lhe seria vedado, tolere ato que normalmente não admitiria ou, mesmo, abstenha-se de praticar um ato jurídico que em princípio ser-lhe-ia lícito.
Depreende-se ter sempre a natureza infungível, haja vista que toda omissão é uma atitude pessoal e intransferível do devedor. Difere, portanto, da obrigação de fazer que pode comumente ser satisfeita por terceiros, na base da fungibilidade.
Dividem-se as obrigações negativas em obrigações de não fazer instantâneas – posto impossível o desfazimento da nova situação com restituição ao estado originário; e permanentes -, quando, mesmo após o descumprimento, admitem a recomposição ao status quo ante. O art. 251 refere-se às obrigações permanentes, posto passíveis de desfazimento (“Praticado pelo devedor o ato, a cuja abstenção se obrigara, o credor pode exigir dele que o desfaça, sob pena de se desfazer à sua custa, ressarcindo o culpado perdas e danos”).
As relações jurídicas que criam obrigações de não fazer são aquelas que mais cerceiam a liberdade do contratante. Assim, poderá haver uma deliberação judicial no sentido de restringir o conteúdo de tais prestações, quando ofensivas à ordem econômica ou a direitos fundamentais do ser humano.
TUTELA PROCESSUAL DAS OBRIGAÇÕES DE DAR
2.1. Nas obrigações de dar coisa certa, a execução seguia o rito dos arts. 621/628 do CPC, fosse ela proveniente de título executivo judicial ou extrajudicial. Com a recente reforma imprimida pela Lei 10.444/02, desloca-se a execução da sentença condenatória das referidas obrigações para o livro do processo de conhecimento.
Com efeito, com a redação do art. 461-A, permite-se que a sentença de procedência no processo de conhecimento ostente eficácia executiva lato sensu, sendo suficiente que o magistrado estipule na sentença um prazo para cumprimento espontâneo da obrigação de dar coisa certa, com previsão de expedição, em prol do autor, de mandado de busca e apreensão da coisa móvel ou imissão na posse da coisa imóvel, em caso de recusa ao cumprimento pelo réu no prazo fixado no decisório.
A outro lado, para os títulos executivos extrajudiciais, com obrigação líquida, certa e exigível de entregar coisa (art. 585 do CPC), mantém-se a tutela erigida pelo art. 621 do CPC, mediante o ajuizamento de ação de execução, capaz de propiciar ao credor a imissão na posse do bem imóvel ou a busca e apreensão do bem móvel desejado, caso o réu recuse-se a entregar voluntariamente a coisa no prazo de 10 dias contados da citação.
Outra novidade da L 10444/02 concerne ao parágrafo único do art. 621, que permite ao juiz a fixação de multa por dia de atraso no cumprimento da obrigação. As astreintes possuem finalidade coativa, constrangendo o devedor a cumprir a tutela específica. Pela nova sistemática, resta superada a necessidade de caracterizar o tipo de obrigação para a aplicação da multa cominatória. Agora, para qualquer hipótese de infungibilidade da prestação – casos em que só o devedor poderá cumpri-la – a lei admite a imposição de multa diária ao réu, até a satisfação da obrigação determinada.
Pela nova sistemática introduzida pela Lei n. 11.382/2006, portanto, o executado será citado para, em dez dias, entregar a coisa ao exeqüente. Feita a entrega, extingue-se a execução. É facultado ao executado depositar a coisa em juízo nesse mesmo prazo de dez dias, a fim de escapar da multa que pode ser fixada pelo juiz no momento em que despachar a inicial da execução (art. 621, parágrafo único). Já os embargos, cuja interposição independe do depósito, poderá ser interposto no prazo de 15 dias, contados da juntada aos autos do mandado de citação (art. 738). Rejeitados os embargos, essa sentença desafia o recurso de apelação com efeito suspensivo, podendo ser deferida a entrega da coisa ao exeqüente mediante caução (art. 475-O, III). Também está sujeita a caução a entrega da coisa ao exeqüentequando os embargos fossem recebidos com efeito suspensivo (art. 739-A, § 1°).
Importante mencionar a divergência doutrinária, destacada por Alexandre Freitas Câmara, quanto ao acerto ou não do quanto disposto no art. 587: “É definitiva a execução fundada em título extrajudicial; é provisória enquanto pendente apelação da sentença de improcedência dos embargos do executado, quando recebidos com efeito suspensivo (art. 739)”. Para ele (Alexandre Freitas Câmara e Barbosa Moreira), a execução, nessa segunda hipótese, ainda seria definitiva, apesar de sujeita a caução, porquanto execução provisória seria apenas aquela em que o título executivo é sentença condenatória ainda não transitada em julgado (sujeita a recurso com efeito suspensivo), e qualquer outro título daria origem à execução definitiva, como trazia a anterior redação do referido artigo (587). Ele mesmo aponta Humberto Theodoro Jr. como defensor da tese abraçada pela Lei 11.382/2006.
2.2. Havendo obrigação de dar coisa incerta, enfatiza-se a mesma distinção operada quanto à forma de execução das obrigações de dar coisa certa. Na recente reforma, a execução de título judicial dar-se-á nos moldes do art. 461-A, §1°. Tratando-se de dívida de gênero baseada em título executivo extrajudicial, a execução impõe-se na forma dos arts. 629/631 do CPC, sendo indispensável o incidente de individualização do objeto da prestação, destinado à concentração da obrigação. Enfatize-se que a incerteza da obrigação é relativa, já que a coisa a ser entregue está delimitada, no título, ao menos pelo gênero e quantidade (arts. 461-A e 629). Além disso, a certeza (ainda que relativa) é requisito do título executivo. O título deve indicar a quem cabe o direito de escolha e, se omisso, caberá ao devedor. Segundo a norma contida no art. 244 do CC/2002, nem o devedor poderá escolher a pior, nem o credor escolher a melhor das opções. Em razão disso, prevê o art. 630 do CPC o incidente de impugnação da escolha, que deverá ser suscitado no prazo de 48 (quarenta e oito horas), podendo o juiz decidir de plano ou, se necessário, ouvir perito de sua nomeação. 
Feita a escolha (após eventual impugnação), segue-se o procedimento já examinado para execução de obrigação de entregar coisa certa.
2.3. Caberá ainda a execução por quantia certa (art. 646 do CPC), restrita às obrigações pecuniárias. Diversamente das demais modalidades de execuções de obrigações de dar, a decorrente de dívida por quantia certa é conhecida como execução genérica, pois o credor detém livre acesso a qualquer um dos bens que compõem o patrimônio do devedor, visando a convertê-los em dinheiro (exproriação: adjudicação, alienação particular ou hasta pública e usufruto). Já nas modalidades de dar coisa certa e incerta, fala-se de execuções específicas, eis que o credor circulará restritamente pelo patrimônio do devedor, sendo-lhe apenas facultado buscar os bens voluntariamente recusados.
A execução por quantia certa é igualmente oportunizada quando restar frustrada a execução específica – consistente na busca da prestação in natura -, por haver o objeto da obrigação sido extraviado ou danificado.
TUTELA PROCESSUAL DAS OBRIGAÇÕES DE FAZER E NÃO FAZER
A visão tradicional do direito das obrigações, pelo seu cunho intrinsecamente patrimonialista, sempre defendeu que seria uma violência à liberdade individual da pessoa a prestação coercitiva de condutas, ainda que decorrentes de disposições legais e contratuais. Na concepção civilística do pacta sunt servanda, o magistrado apenas asseguraria à parte lesada a recomposição dos danos conseqüentes ao descumprimento contratual. Jamais lhe seria facultado penetrar nas relações privadas, que seriam leis entre particulares.
Assim, pela convicção de que a liberdade humana é o valor maior na sociedade, a resolução em perdas e danos seria a única conseqüência para o descumprimento das obrigações de fazer e não fazer.
Hodiernamente, contudo, o vigente ordenamento jurídico brasileiro reconhece que a incoercibilidade da vontade humana não é um dogma inafastável, desde que respeitados os direitos fundamentais.
Agora, o legislador procura antecipar-se à ocorrência dos danos, impondo meios hábeis a impedir (tutelas inibitórias) ou remover(tutela de remoção) o próprio ilícito legal ou contratual, enfatizando a tutela inibitória das obrigações, em detrimento da tutela ressarcitória.
O art. 461 do CPC (art. 84 do CDC) permite ao juiz impor ao devedor a observância estrita do que foi objeto da convenção entre as partes, concedendo ao credor duas formas alternativas de implementação da tutela inibitória. Primeiramente, a tutela específica da situação a que originariamente o autor faria jus. Sendo materialmente impossível o cumprimento da prestação originária, ou entendendo o magistrado que outra medida poderá atender ao credor, porém de maneira menos gravosa ao devedor, conceder-se-á resultado prático equivalente ao autor da ação, por meio da tutela assecuratória (inespecífica), mediante providências alternativas exigidas ao réu.
As tutelas específica e assecuratória serão alcançadas pela imposição de meios coercitivos indiretos, sobremaneira pelas astreintes.
Em arrimo à prestigiada tutela inibitória, não se olvide ainda da letra dada ao art. 287 do CPC que permite a imposição de sanção pecuniária para o eventual descumprimento da sentença ou da decisão antecipatória de tutela.
A tutela inibitória não é a única conquista em matéria de efetividade das obrigações de fazer e não fazer. Paralelamente a ela foi instituída a denominada tutela de remoção do ilícito (art. 461, §5°), também conhecida como medidas de apoio. Trata-se de demanda executiva lato sensu, verdadeiro meio de coerção direta promovido em sub-rogação ao demandado.
Vale ainda mencionar que, quanto às obrigações de não fazer, caso expressa em título executivo extrajudicial, a execução se processará pela execução de execução de obrigação de fazer e ou de obrigação por quantia certa relativamente às perdas e danos. Isso porque se estará diante de uma situação de descumprimento da obrigação (de não fazer), cujas opções serão a de retornar ao estado anterior (desfazendo o que foi feito, que importa em um fazer) mais indenização por perdas e danos; ou simplesmente perdas e danos quando não for possível o desfazimento (ditas instantâneas, como no caso de obrigação de não divulgar determinado segredo). Note-se, ainda, que, na execução de obrigação de não fazer, não se está diante de uma alternativa, mas de uma cumulação. O exeqüente obterá o desfazimento (quando possível: assim consideradas as obrigações de não fazer permanentes) por terceiro à custa do executado e, além disso, receberá as perdas e danos.
A obrigação de emitir declaração de vontade é uma espécie de obrigação de fazer, mas que recebeu do legislador tratamento diferenciado. Cuida-se de obrigação juridicamente infungível, ou seja, a infungibilidade decorre de algum princípio jurídico, mas nada impede que o ordenamento preveja alguma forma de se alcançar resultado prático equivalente. Tal conceito se opõe ao das naturalmente infungíveis, que decorrem de alguma característica pessoal do devedor, como, por exemplo, na obrigação de um pintor famoso pintar um quadro encomendado. Assim, para essa modalidade de obrigação (de emitir declaração de vontade), pede-se que o juiz profira uma sentença que produza os meios que seriam produzidos pela declaração de vontade devida e não emitida. Controverte-se sobre a natureza jurídica dessa sentença substitutiva da declaração de vontade: se ela seria condenatória, executiva latu sensu ou constitutiva, ou ainda um ato de execução forçada. 
Enfim, torna-se a exceção as perdas e danos, razão pela qual faz-se mister propugnar por uma interpretação mais consentânea e lógica do art. 248 do CC, ou seja, tal regra somente pode ser aplicada quando não é mais possível o cumprimento da obrigação ou, não tendo o credor mais interesse na sua realização – ante o inadimplemento do devedor -,o autor da ação assim o pretender. Obviamente, a busca da tutela específica não exclui a indenização pelas perdas e danos ocorridos até a data da realização concreta da obrigação de fazer submetida à apreciação judicial.
CLASSIFICAÇÃO ESPECIAL DAS OBRIGAÇÕES
Considerando o elemento subjetivo, as obrigações poderão ser:
fracionárias;
conjuntas;
disjuntivas;
solidárias.
Considerando o elemento objetivo (a prestação) – além da classificação básica, que também utiliza esse critério (prestações de dar, fazer e não fazer) -, podemos apontar a existência de modalidades especiais de obrigações, a saber:
alternativas;
facultativas;
cumulativas;
divisíveis e indivisíveis;
líquidas e ilíquidas.
Quanto ao elemento acidental, encontramos:
obrigação condicional;
obrigação a termo;
obrigação modal.
Finalmente, quanto ao conteúdo, classificam-se as obrigações em:
obrigações de meio;
obrigações de resultado;
obrigações de garantia.
4.1. CLASSIFICAÇÃO ESPECIAL QUANTO AO ELEMENTO SUBJETIVO (SUJEITOS)
4.1.1. Obrigações fracionárias
Nas obrigações fracionárias, concorre uma pluralidade de devedores ou credores, de forma que cada um deles responde apenas por parte da dívida ou tem direito apenas a uma proporcionalidade do crédito. Fracionárias diz respeito a fração. 
As dívidas de dinheiro, por exemplo, são, em princípio, fracionárias (ex: art. 1371). Tais obrigações, por óbvio, pressupõem a divisibilidade da prestação.
A respeito das obrigações fracionárias, ORLANDO GOMES enuncia regras básicas que defluem de sua próprias estrutura:
a) cada credor não pode exigir mais do que a parte que lhe corresponde, e cada devedor não está obrigado senão à fração que lhe cumpre pagar;
b)para os efeitos da prescrição, pagamento de juros moratórios ou nulidade da obrigação e cumprimento de cláusula penal, as obrigações são consideradas autônomas, não influindo a conduta de um dos sujeitos, em princípio, sobre o direito ou dever dos outros.
4.1.2. Obrigações conjuntas
Também chamadas de unitárias ou de mão comum. Nesse caso, concorre uma pluralidade de devedores ou credores, impondo-se a todos o pagamento conjunto de toda a dívida, não se autorizando a um dos credores exigi-la individualmente. São exigidas em conjunto .
4.1.3 Obrigações disjuntivas
Nesta modalidade de obrigação, existem devedores que se obrigam alternativamente ao pagamento da dívida. Vale dizer, desde que um dos devedores seja escolhido para cumprir a obrigação, os outros estarão conseqüentemente exonerados, cabendo, portanto, ao credor a escolha do demandado.
Diferem das obrigações solidárias por lhes faltar a relação interna que é própria do mecanismo da solidariedade, justificando, nesta última, o direito regressivo do devedor que paga.
4.1.4 Obrigações solidárias
4.1.4.1 A solidariedade
Existe solidariedade quando, na mesma obrigação, concorre uma pluralidade de credores, cada um com direito à dívida toda (solidariedade ativa), ou uma pluralidade de devedores, cada um obrigado à dívida por inteiro (solidariedade passiva). Nada impede que se fale também em solidariedade mista, ainda que não haja previsão legal específica.
Principais postulados:
a solidariedade só se manifesta nas relações externas, eis que cada credor poderá exigir o pagamento de qualquer devedor no todo, como se fosse o único existente, assim como o devedor poderá exonerar-se pagando o total a qualquer credor. Já nas relações internas, prevalece o direito apenas fracionário de reembolso dos co-credores que não receberam suas partes e o direito de regresso do devedor que pagou o preço em face dos co-devedores;
observe-se que existe unidade objetiva da obrigação (o objeto é único), embora concorram mais de um credor ou devedor, cada um deles com direito ou obrigado a toda a dívida;
a solidariedade não se presume (art. 265 do CC). Nasce em virtude de convenção das partes ou imposição legal (arts. 932 e 942, parágrafo único, CC e art. 2°, §2°, CLT).
Finalmente, não se deve confundir as obrigações solidárias com as obrigações in solidum. Nessas últimas, posto concorram vários devedores, os liames que os unem ao credor são totalmente distintos, embora decorram de um único fato (ex: suponhamos um caso de incêndio de uma propriedade segurada, causada por culpa de terceiro. Tanto a seguradora como o autor do incêndio devem à vítima indenização pelo prejuízo, porém não existe uma origem comum na obrigação).
4.1.4.2 Solidariedade ativa
Traduz um concurso de credores na mesma obrigação, cada um com direito a exigir a dívida por inteiro (art. 267 do CC). É instituto pouco utilizado, pelo risco de os co-credores não obterem ressarcimento daquela que recebeu o pagamento, seja por incorrer em insolvência ou simples desonestidade. Muitos credores optam pela outorga de mandato, eis que os mandatários agem em nome alheio e em caráter revogável.
Vencida a dívida, poderá o devedor oferecer o pagamento a qualquer um dos credores, desonerando-se da prestação (art. 269 do CC). Todavia, se um dos credores antecipar-se, acionando o devedor, surge o fenômeno da prevenção judicial (art. 268 do CC). Conseqüentemente, este só poderá obter liberação pagando ao autor da ação, não lhe sendo lícito exigir o litisconsórcio ativo entre os demais credores, sob pena de desvirtuamento do instituto.
Poderá ocorrer, todavia, que um dos credores solidários, em vez de exigir a soma devida, haja perdoado a dívida (art. 272 do CC). Nesse caso, assim como ocorre quando recebe o pagamento, o credor remitente responderá perante os demais credores pela parte que lhes caiba. Contudo, se a remissão for motivo suficiente para o credor remitente cair em insolvência, não podendo ressarci-los, poderão ajuizar a ação revocatória ou pauliana (art. 158 do CC).
Finalmente, inovou o CC ao prever regras inéditas atinentes à defesa do devedor e ao julgamento da lide assentada em solidariedade ativa.
O art. 273 dispõe que: “a um dos credores solidários não pode o devedor opor as exceções pessoais oponíveis aos outros”. Exceção, aqui, significa defesa. Assim, se apenas um dos credores atuou dolosamente quando da celebração do contrato, estando todos os demais de boa-fé, a exceção não poderá ser oposta contra todos. 
Aliás, questões diversas resultam da solidariedade no tocante ao instituto da prescrição. Há de se ressaltar que as causas suspensivas – de caráter personalíssimo – não se comunicam aos co-credores, exceto se o objeto da obrigação foi indivisível (art. 201, CC). A outro turno, quando se operam causas interruptivas em prol de um dos credores, o benefício incorpora-se aos co-credores (art. 204, §4°, CC).
Por fim, o inusitado art. 274 do CC penetra na esfera do processo civil para compatibilizar os limites subjetivos da coisa julgada na solidariedade ativa. Estabelece que: “o julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais; o julgamento favorável aproveita-lhes, a menos que se funde em exceção pessoal ao credor que o obteve”.
Hipótese corriqueira de solidariedade ativa surge em contratos bancários de conta conjunta. Também há casos(raros) de solidariedade ativa por força de lei, a exemplo dos arts. 2° da Lei 8245/91 e 12 da Lei 209/48.
4.1.4.3 Solidariedade passiva
Existe solidariedade passiva quando, em determinada obrigação, concorre uma pluralidade de devedores, cada um deles obrigado ao pagamento de toda a dívida. (art. 275: “O credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum; se o pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo resto. Parágrafo único. Não importará renúncia da solidariedade a propositura de ação pelo credor contra um ou alguns dos devedores”). Observe-se que não se cogita de concentração do débito o fato de o credor optar preferencialmente por um dos devedores, por tratar-se de litisconsórcio passivo facultativo.
Assim como ocorre na solidariedadeativa, na passiva a pluralidade de devedores encontra-se internamente vinculada, de forma que aquele que pagou integralmente a dívida terá ação regressiva contra os demais (art. 283).
O devedor que for demandado poderá opor ao credor as exceções que lhe forem pessoais e, bem assim, as defesas que forem comuns a todos os devedores. Não lhe aproveita, contudo, as defesas pessoais a outro devedor.
Saliente-se ainda que se o credor aceitar o pagamento parcial de um dos devedores, os demais só estarão obrigados a pagar o saldo remanescente. Da mesma forma, se o credor perdoar a dívida em relação a um dos devedores solidários, os demais permanecerão vinculados ao pagamento da dívida, abatida, por óbvio, a quantia relevada (art. 277). Destaque-se que a hipótese é de remissão ou pagamento de parte da dívida, e não simplesmente de exclusão do devedor solidário, pelo seu não-acionamento, o que é, em última análise, direito potestativo do credor (processualmente, esta última afirmação é relativizada pela figura do chamamento ao processo).
Quanto à responsabilidade dos devedores solidários, se a prestação se impossibilitar por dolo ou culpa de um dos devedores, todos permanecerão solidariamente obrigados ao pagamento do valor pelo equivalente. Entretanto, pelas perdas e danos só responderá o culpado (art. 279).
Não se deve esquecer que, apesar de as obrigações solidárias estarem dirigidas à satisfação do mesmo interesse, são obrigações distintas, no sentido que cada uma delas pode ser apreciada isoladamente no tocante aos requisitos de existência, validade e eficácia.
Nítida autonomia das obrigações dos devedores solidários é evidenciada no parágrafo único do art. 333 do CC, ao afastar-se o vencimento antecipado do débito dos co-devedores solventes na hipótese de insolvência de um deles.
Além da tradicional solidariedade derivada de negócio jurídico, várias situações de co-responsabilidade resultam de disposição expressa em lei, como, v.g., o disposto nos art. 942 do CC (Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à reparação do dano causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão solidariamente pela reparação.). Outra hipótese contemporânea de solidariedade legal é contemplada no CDC (art. 7°, parágrafo único).
O art. 285 (“Se a dívida solidária interessar exclusivamente a um dos devedores, responderá este por toda ela para com aquele que pagar”) enquadra-se perfeitamente na lógica da divisão dos elementos da obrigação no débito (schuld) e responsabilidade (haftung). Situação, por exemplo, do avalista em título de crédito.
4.1.4.4 Subsidiariedade
A responsabilidade subsidiária é uma forma especial de solidariedade, com benefício ou preferência de excussão de bens de um dos obrigados.
Na responsabilidade subsidiária, temos que uma das pessoas tem o débito originário e a outra tem apenas a responsabilidade por esse débito. Por isso, existe uma preferência, dada pela lei, na ordem de excussão. Vale lembrar que a expressão “subsidiária” se refere a tudo que vem “em reforço de...”. Assim, não podemos afirmar que existe, a priori, uma obrigação subsidiária, mas sim apenas uma responsabilidade subsidiária.
4.2 CLASSIFICAÇÃO ESPECIAL QUANTO AO ELEMENTO OBJETIVO (PRESTAÇÃO)
4.2.1 Obrigações alternativas
As obrigações alternativas ou disjuntivas são aquelas que têm por objeto duas ou mais prestações, sendo que o devedor se exonera cumprindo apenas uma delas. São, portanto, prestações de objeto múltiplo ou composto.
Teoricamente, é possível fazer a distinção entre obrigações genéricas e alternativas. As obrigações genéricas são determinadas pelo gênero, e somente são individualizadas no momento em que se cumpre a obrigação; já as obrigações alternativas, por sua vez, têm por objeto prestações específicas, excludentes entre si. Desse modo (excludentes) o operador lógico mais adequado seria “ou... ou...” (“ou uma prestação ou outra”), contudo a doutrina costuma apontar o operador “ou” (“uma prestação ou outra”) apenas.
Como regra geral, o direito de escolha cabe ao devedor, se o contrário não houver sido estipulado no título da obrigação. (art. 252: “Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa não se estipulou”). Entretanto, essa regra geral sofre alguns temperamentos, consoante deflui da análise dos parágrafos do art. 252:
        “§ 1° Não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em outra (princípio da indivisibilidade do objeto). 
        § 2° Quando a obrigação for de prestações periódicas, a faculdade de opção poderá ser exercida em cada período.
        § 3° No caso de pluralidade de optantes, não havendo acordo unânime entre eles, decidirá o juiz, findo o prazo por este assinado para a deliberação.
        § 4° Se o título deferir a opção a terceiro, e este não quiser, ou não puder exercê-la, caberá ao juiz a escolha se não houver acordo entre as partes”.
Interessante notar que o CC não cuidou de estabelecer prazo para o exercício do direito de escolha. Por isso, a despeito da omissão do CC, o CPC, em seu art. 571, dispõe que: “Nas obrigações alternativas, quando a escolha couber ao devedor, este será citado para exercer a opção e realizar a prestação dentro em 10 (dez) dias, se outro prazo não lhe foi determinado em lei, no contrato, ou na sentença.
        § 1o  Devolver-se-á ao credor a opção, se o devedor não a exercitou no prazo marcado.
        § 2o  Se a escolha couber ao credor, este a indicará na petição inicial da execução”.
Hoje, com a nova sistemática de cumprimento de sentença, instituída pela Lei n. 11.382/2006, surgiu, quanto aos casos de título executivo judicial, controvérsia sobre qual o momento adequado para que o credor faça sua opção. Para uns (entre eles Alexandre Freitas Câmara) seria a petição inicial do processo (da fase de conhecimento), uma vez que não há mais processo de execução (mas apenas fase executiva), não havendo portanto petição inicial da execução. Há, entretanto, os que entendem que caberia ao autor manifestar sua opção na petição com a qual requer a fase executiva (Dinamarco e José Cruz e Tucci). 
Quanto à impossibilidade de cumprimento das obrigações alternativas, cumpre consignar o seguinte:
impossibilidade total (todas as prestações alternativas):
a) sem culpa do devedor – extingue-se a obrigação (art. 256);
b) com culpa do devedor 
– se a escolha cabe o devedor: deverá pagar o valor da prestação que por último se impossibilitou mais perdas e danos (art. 254);
– se a escolha cabe ao credor: poderá exigir o valor de qualquer das prestações, mais perdas e danos (art.255).
impossibilidade parcial (de uma das prestações alternativas):
a) sem culpa do devedor – concentração do débito na prestação subsistente (art. 253);
b) com culpa do devedor 
– se a escolha cabe o devedor: concentração do débito na prestação subsistente (art. 253);
– se a escolha cabe ao credor: poderá exigir a prestação remanescente ou o valor da que se impossibilitou, mais perdas e danos (art. 255).
Por fim, impende salientar que é possível a retratação do devedor, desde que prove que incorreu em erro substancial, ignorando que a prestação era alternativa. A retratação só é possível se demonstrar vício de consentimento (que, na realidade, não se cuida de retratação, mas de anulação da “opção” manifestada, nos termos do art. 171, II, do CC/2002). 
4.2.2 Obrigações facultativas
O CC não cuidou dessa espécie obrigacional, também denominada obrigação com faculdade alternativa ou obrigação com faculdade de substituição.
A obrigação é considerada facultativa quando, tendo um único objeto, o devedor tem a faculdade de substituir a prestação devida por outra de natureza diversa (facultativa), prevista subsidiariamente.
Orlando Gomes reconhecia os seguintes efeitos às obrigações facultativas:
o credor não pode exigir o cumprimento da prestação facultativa;
a impossibilidadede cumprimento da prestação devida extingue a obrigação;
somente a existência de defeito na prestação devida pode invalidar a obrigação.
4.2.3 Obrigações cumulativas
As obrigações cumulativas ou conjuntivas são as que têm por objeto uma pluralidade de prestações, que devem ser cumpridas simultaneamente. Note-se que as prestações, mesmo diversas, são cumpridas como se fossem uma só, e encontram-se vinculadas pela partícula conjuntiva “e”.
4.2.4 Obrigações divisíveis e indivisíveis
As obrigações divisíveis são aquelas que admitem o cumprimento fracionado ou parcial da prestação; as indivisíveis, por sua vez, só podem ser cumpridas por inteiro.
À vista desses conceitos, vale mencionar que a divisibilidade ou indivisibilidade das obrigações só oferece interesse jurídico havendo pluralidade de credores ou devedores. Isso porque nem o credor é obrigado a receber pagamentos parciais, nem o devedor a fazê-los, se outra coisa foi estipulada. O pagamento, pois, em princípio, deverá ser sempre feito em sua integralidade (art. 314).
O CC trata das obrigações divisíveis em seu art. 257 (“Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigação divisível, esta presume-se dividida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos os credores ou devedores”).
Já o art. 258 trata das obrigações indivisíveis (“a obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa ou um fato não suscetíveis de divisão, por sua natureza, por motivo de ordem econômica, ou dada a razão determinante do negócio jurídico”).
A indivisibilidade poderá ser: a) natural (material) – quando decorre da própria natureza da prestação; b) legal – indivisibilidade do lote urbano de 125m2; c) contratual ou convencional – quando decorre da vontade das próprias partes, que estipulam a indivisibilidade no próprio título da obrigação. Vale frisar que o “motivo de ordem econômica” e a “razão determinante do negócio jurídico” são expressões utilizadas pelo art. 258 para caracterizar outras formas de indivisibilidade que tanto pode ser legal ou convencional.
Evidentemente, qualquer que seja a natureza da indivisibilidade, se concorrerem dois ou mais devedores, cada um deles estará obrigado pela dívida toda. Note-se, todavia, que o dever imposto a cada devedor de pagar a dívida toda não significa que exista solidariedade entre eles, uma vez que é o objeto da própria obrigação que determina o cumprimento integral do débito. Como a entrega de um animal vivo, por exemplo, que não pode ser feita em partes. 
O efeito disso, porém, é muito semelhante à solidariedade, uma vez que o devedor que paga integralmente a dívida sub-roga-se nos direitos do credor em relação aos outros coobrigados.
Por outro lado, se a pluralidade for de credores, poderá qualquer deles exigir a dívida inteira. O devedor se desobrigará em duas hipóteses:
a) pagando a todos os credores conjuntamente
b) pagando a um, dando este caução de ratificação dos outros credores.
Recebendo a dívida por inteiro, o credor deverá repassar aos outros, em dinheiro, as partes que lhes caibam no total (art. 261). Essa regra se justifica pelo fato de que a coligação entre os credores decorreu da própria impossibilidade de fracionamento da prestação, e, se assim foi, os outros deverão se contentar com as suas parcelas em dinheiro.
Finalmente, por força do que dispõe o art. 263 do CC, perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas e danos.
Como decorrência da indivisibilidade da prestação, em matéria de prescrição, a sua declaração aproveita a todos os devedores, mesmo que haja sido reconhecida em face de apenas um, assim como a suspensão ou interrupção interfere na situação jurídica de todos.
Em conclusão, convém traçar a diferença existente entre obrigações solidárias e as obrigações indivisíveis. Nesse sentido, tem-se que:
	SOLIDARIEDADE
	INDIVISIBILIDADE
	a causa da solidariedade é o título
	a causa é a natureza da obrigação
	cada devedor paga por inteiro, porque deve integralmente
	solve a totalidade, em razão da impossibilidade jurídica de se repartir em quotas a coisa devida;
	é uma relação subjetiva, visa a facilitar a satisfação do crédito
	É uma relação objetiva,assegura a unidade da prestação
	é sempre de origem técnica, resultando da lei ou da vontade das partes
	justifica-se com a própria natureza da prestação, quando o objeto é em si mesmo insuscetível de fracionamento
	cessa com a morte dos devedores
	subsiste enquanto a prestação suportar
	Não se converte em perdas e danos
	termina quando a obrigação se converte em perdas e danos
4.2.5 Obrigações líquidas e ilíquidas
Líquida é a obrigação certa quanto à sua existência e determinada quanto ao seu objeto. A obrigação ilíquida, por sua vez, carece de especificação do seu quantum, para que possa ser cumprida. A apuração processual se dá por meio do procedimento de liquidação previsto a partir do art. 603 do CPC. Processualmente, considera-se líquida a obrigação quando o título já traz todos os fatores necessários para a determinação do quantum debeatur. Cabe lembrar que, caso a obrigação seja ilíquida, o título que a representa não pode ser considerado título executivo, pois todo título executivo é por natureza líquido.
4.3 CLASSIFICAÇÃO ESPECIAL QUANTO AO ELEMENTO ACIDENTAL
4.3.1 Obrigações condicionais
Trata-se de obrigações condicionadas a evento futuro e incerto. Lembre-se que a condição é a determinação acessória que faz a eficácia da vontade declarada dependente de algum acontecimento futuro e incerto. Nesses casos, a aposição de cláusula dessa natureza no ato negocial subordina não apenas a sua eficácia jurídica, mas, principalmente, os direitos e deveres decorrentes do negócio jurídico, de tal sorte que enquanto não se implementar a condição, não poderá o credor exigir o cumprimento da dívida.
4.3.2 Obrigações a termo
Se a obrigação subordinar a sua exigibilidade ou a sua resolução, outrossim, a evento futuro e certo, estaremos diante de uma obrigação a termo. Em regra, nas obrigações a termo, poderá o devedor antecipar o pagamento, sem que isso caracteriza enriquecimento sem causa do credor, eis que apenas a exigibilidade está suspensa.
4.3.3 Obrigações modais
As obrigações modais são aquelas oneradas com encargo imposto a uma das partes que experimentará um benefício.
Finalmente, se a obrigação não for condicional, a termo ou modal, diz-se que a obrigação é pura.
4.4 CLASSIFICAÇÃO ESPECIAL QUANTO AO CONTEÚDO
4.4.1 Obrigações de meio
A obrigação de meio é aquela em que o devedor se obriga a empreender sua atividade, sem garantir, todavia, o resultado esperado.
4.4.2 Obrigação de resultado
Nesta modalidade obrigacional, o devedor se obriga não apenas a empreender a sua atividade, mas, principalmente, a produzir o resultado esperado pelo credor.
4.4.3 Obrigações de garantia
Por fim, parte da doutrina ainda lembra da existência, na classificação das obrigações quanto ao conteúdo, das chamadas “obrigações de garantia”, que não se enquadram perfeitamente em nenhuma das duas anteriores.
De fato, tais obrigações têm por conteúdo eliminar riscos que pesam sobre o credor, reparando suas conseqüências. A eliminação do risco representa bem suscetível de aferição econômica.
4.5 OBRIGAÇÃO NATURAL
As obrigações classificam-se em civis e naturais, na medida em que sejam exigíveis ou apenas pagáveis (desprovidas de exigibilidade jurídica).
A obrigação natural é, portanto, um debitum em que não se pode exigir judicialmente a responsabilização patrimonial (obligatio).
Tal inexigibilidade é derivada de algum óbice legal com finalidade de preservação da segurança e da estabilidade jurídica. Não obstante, uma vez cumprida espontaneamente, dá-se a irrepetibilidade do pagamento.
Vale salientar que a obrigação natural não se identifica com o mero dever moral, pois representa uma dívida efetiva, proveniente de uma causa precisa. O objetode sua prestação pertence, do ponto de vista ideal, ao patrimônio do credor, de modo que, não cumprida a obrigação, sofre ele um prejuízo patrimonial, o que não se verifica quando há o descumprimento de um dever moral.
As obrigações naturais classificam-se da seguinte forma: 
a) quanto à tipicidade em típicas e atípicas, na medida em que é prevista em texto legal como relação obrigacional inexigível; 
b) quanto à origem em originária (dívida de jogo) e derivada ou degenerada (prescrita) conforme o momento em que se torna inexigível; 
c) quanto aos efeitos produzidos, pode ser comum ou limitada.
Vale salientar que o ordenamento jurídico pátrio não dispensou tratamento à matéria. Contudo, é possível uma sistematização acerca do tema. De fato, estabelece o art. 882 do CC: “não se pode repetir o que se pagou para solver dívida prescrita, ou cumprir obrigação judicialmente inexigível”. Nessa mesma linha, no que se refere às dívidas de jogo ou aposta, preceitua o art. 814 do CC: “As dívidas de jogo ou de aposta não obrigam a pagamento; mas não se pode recobrar a quantia, que voluntariamente se pagou, salvo se foi ganha por dolo, ou se o perdente é menor ou interdito”.
        § 1° Estende-se esta disposição a qualquer contrato que encubra ou envolva reconhecimento, novação ou fiança de dívida de jogo; mas a nulidade resultante não pode ser oposta ao terceiro de boa-fé.
        § 2° O preceito contido neste artigo tem aplicação, ainda que se trate de jogo não proibido, só se excetuando os jogos e apostas legalmente permitidos.
        § 3° Excetuam-se, igualmente, os prêmios oferecidos ou prometidos para o vencedor em competição de natureza esportiva, intelectual ou artística, desde que os interessados se submetam às prescrições legais e regulamentares”.
4.6 OBRIGAÇÕES AMBULATÓRIAS, MISTAS (também chamadas de DEAMBULATÓRIAS, REAIS, IN REM, OB REM ou PROPTER REM) E COM EFICÁCIA REAL
Sempre que a indeterminabilidade do credor ou do devedor participar do destino natural dos direitos oriundos da relação, ou seja, for da própria essência da obrigação examinada – a exemplo da decorrente de título ao portador ou da obrigação propter rem, estaremos diante do que se convencionou chamar de obrigação ambulatória.
As obrigações propter rem, ônus reais e as com eficácia real pertencem à categoria das obrigações híbridas.
As obrigações propter rem decorrem de um direito real sobre determinada coisa, aderindo a essa e, por isso, acompanhando as modificações de seu titular (exemplos: art. 1.315, 1.297) Cuida-se de uma relação obrigacional que decorre de um direito real. A nota distintiva é se constituir em um direito pessoal vinculado a um direito real.
Por isso, transferem-se com mudança da propriedade da coisa.
Cuida-se de uma relação obrigacional que decorre de um direito real.A nota distintiva é se constituir em um direito pessoal vinculado a um direito real.
“O proprietário de unidade condominial é obrigado a participar no rateio das despesas condominiais só pelo fato de ser proprietário, e por sua quota responde ainda que não tenha recebido a posse de sua unidade.”(Apelação Cível nº 2004.000743-4, 1ª Turma Cível do TJMS, Campo Grande, Rel. Des. Jorge Eustácio da Silva Frias. j. 25.10.2005, unânime).
Por sua vez, as obrigações com eficácia real se caracterizam pela oponibilidade a terceiros, quando houver a anotação preventiva no registro imobiliário, sem perder, contudo, seu caráter de direito a uma prestação (ex: art. 8° da Lei 8.245/91).
Em nosso ordenamento, destacamos que algumas relações originariamente obrigacionais obtêm eficácia real, mediante registro imobiliário autorizado por lei. O contrato de promessa de compra e venda de imóvel é um desses exemplos, pois, quando não se pactua o arrependimento e o instrumento é registrado no Cartório de Registro de Imóveis, o promitente comprador adquire o direito real de aquisição do imóvel e de adjudicação compulsória (arts. 1.417 e 1.418 do CC/2002).
Outro exemplo é o contido no art. 576 do CC/2002 (Se a coisa for alienada durante a locação, o adquirente não ficará obrigado a respeitar o contrato, se nele não for consignada a cláusula da sua vigência no caso de alienação, e não constar de registro.), pois a locação pode ser oposta ao adquirente da coisa se constar do registro.
BIBLIOGRAFIA
GAGLIANO, Pablo Stolze & PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil, São Paulo: Saraiva, 2002, vol. II.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito das Obrigações - Parte Geral - Sinopses Jurídicas 5. São Paulo: Saraiva, 2002.
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil, v. 2. Rio de Janeiro: Forense, 1998.
RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil, v. 2. São Paulo: Saraiva, 2002.
ROSENVALD, Nelson. Direito das Obrigações, Rio de Janeiro: Ìmpetus, 2004.
Direitos reais.
NOÇÕES GERAIS
- RELAÇÃO DAS PESSOAS COM AS COISAS
Bem é tudo que nos proporciona utilidade, tudo que tem valor pecuniário ou axiológico. Bem é espécie de coisa�. O direito das coisas estuda precipuamente essa relação de senhoria, de poder, de titularidade, esse direito subjetivo que liga a pessoa às coisas. Regula o poder dos homens, no aspecto jurídico, sobre a natureza física, nas suas variadas manifestações, mais precisamente sobre os bens e os modos de sua utilização econômica (Lafayette Rodrigues Pereira). 
Segundo Clóvis Beviláqua: “É o complexo das normas reguladoras das relações jurídicas referentes às coisas suscetíveis de apropriação pelo homem”.
- DIREITOS REAIS E DIREITOS PESSOAIS
	Direitos reais (ius in re)
	Direitos pessoais – (ius ad rem)
	Recai diretamente sobre a coisa – relação imediata entre sujeito e objeto da relação (titular e coisa)
	Recai sobre relações humanas e depende do concurso de terceiro para ser exercido – relação mediata entre sujeito e objeto da relação (o acesso do credor à prestação é intermediado pelo devedor)
	Direito absoluto – erga omnes, ou seja, oponível a todos os não-donos
	Direito relativo – só pode ser exigido do devedor, daquele que participa do negócio jurídico.Resolvem-se em perdas e danos.
	Direito atributivo – atribui titularidade – estabelece uma situação jurídica de dominialidade
	Direito cooperativo – implica uma atividade pessoal do devedor em favor do credor
	Natureza permanente (preponderantemente) 
	Natureza transitória – não se tolera vínculo de subordinação credor/devedor em caráter permanente
	Confere direito de seqüela 
	Não há direito a seqüela
	Direitos reais são numerus clausus, a fim de garantir a segurança no comércio jurídico, pois como eles vinculam a todos, as pessoas têm condição de saber o que é ou não é direito real, não havendo campo para a autonomia privada criar novos direitos desta natureza
	Apresentam-se em número indeterminado (numerus apertus), pois é facultado às pessoas criarem negócios jurídicos atípicos, desde que não ofendam à ordem pública e aos bons costumes
	Gozam de preferência no concurso de credores, respeitados créditos acidentários e trabalhista até certo limite.
	Só têm preferência os direitos obrigacionais entre si, de acordo com os regramentos relativos aos privilégios creditórios; mas todos aqueles que não são extra-concursais não gozam de qualquer tipo de preferência no concurso de credores
- PRINCÍPIOS DOS DIREITOS REAIS
Princípio da aderência (especialização ou inerência): o direito estabelece um vínculo entre o sujeito e a coisa, não dependendo da colaboração de nenhum sujeito passivo para existir�. A aderência do direito real à coisa não é senão a constatação do fato de que este permanece incidindo sobre o bem, ainda que este circule de mão em mão e se transmita a terceiros, pois o referido segue a coisa (jus persequendi), em poder de quem quer que com ela se encontre.
Princípio do absolutismo: os direitos reais exercem-se erga omnes, ou seja, em face de todos os outros indivíduos que não ostentam a condição de titular do direito, surgindo daí o direito de seqüela ou jus

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