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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES Prof. Esp. Flávia de Freitas Cunha NOÇÕES INTRODUTÓRIAS A obrigação no sentido que vamos estudar, é uma relação de natureza pessoal na qual uma pessoa se compromete a uma prestação, positiva ou negativa, em favor de outra, visando à satisfação de interesses e respondendo com o seu patrimônio, inclusive com execução forçada pelo Poder Judiciário. Conceito de Direito das Obrigações É o ramo do direito que regula o complexo das relações de direito patrimonial e que têm por objetivo fatos ou prestações de uma pessoa em relação à outra (credor e devedor). Podemos dizer ainda que, Direito das Obrigações é o conjunto de normas que regula as relações jurídicas pessoais entre credor e devedor, cabendo a este último o dever principal de cumprir uma prestação de dar, fazer ou não fazer. Esboço Histórico A noção de obrigação surgiu com o caráter coletivo, quando todo grupo empreendeu negociações e estabeleceu o comércio. O desenvolvimento de tal prática passou da obrigação coletiva para a individual, mas sempre tendo um caráter punitivo na hipótese de descumprimento do avençado. No Direito Romano, em razão da vinculação das pessoas, o devedor respondia com o próprio corpo pelo cumprimento da obrigação. Com o surgimento da Lex Poetelia Papiria, de 428 a.C., foi abolida a execução sobre a pessoa do devedor, deslocando-a para os seus bens. Idade Média: imperava o Direito Canônico e a obrigação tinha a mesma estrutura que no direito romano. Sacramentalização da obrigação. Pacta sunt servanta. Nessa evolução, o Direito Obrigacional passou por diversas transformações, acompanhando a expansão da economia, o desenvolvimento do comércio, a Revolução Industrial, a mais recente evolução tecnológica a aplicação de direitos fundamentais as relações cíveis. Podemos dividir os direitos subjetivos em: Direitos não patrimoniais - Referentes à pessoa humana. Como direito ao nome, à liberdade e à vida. Direitos Patrimoniais - Referentes a valor econômico, os quais se dividem em: Direitos Reais Direitos Obrigacionais, pessoais ou de crédito Direitos Reais Direitos Obrigacionais Absoluto (eficácia erga omnes) Relativo (Eficácia inter partes) Atributivo (um só sujeito) Cooperativo (Conjunto de sujeitos) Imediatividade Mediatividade Permanente Transitório Direito de Sequela Apenas tem o patrimônio do devedor como garantia Numerus Clausus Numerus Apertus Jus in re (direito à coisa) Jus ad rem (direito a uma coisa) Objeto: A coisa Objeto: A prestação DIREITOS PATRIMONIAIS DIREITOS REAIS DIREITOS OBRIGACIONAIS ou pessoais Objeto de estudo do direito das coisas. Objeto de estudo do direito das obrigações. Incide sobre a coisa direta e imediatamente ligando-a ao seu titular. Confere ao titular o jus persequendi (direito de seqüela) e o jus praeferendi (direito de preferência). Pode ser exercido erga omnes (contra todos). Dá ao credor o direito de exigir do devedor o cumprimento de determinada prestação. Recai sobre uma COISA. Recai sobre uma PRESTAÇÃO. O sujeito passivo é indeterminado (todas as pessoas). O sujeito passivo é determinado ou determinável. São perpétuos e não se extinguem pela falta de uso, com exceção dos casos previstos em lei (desapropriação, usucapião). São transitórios e são extintos pelo cumprimento da prestação ou por outras formas. São criados pela lei e regulados pela lei, e só por esta. Possuem um número limitado. São criados pela vontade das partes. Não possuem número limitado (infinitos tipos de contrato) São exercidos diretamente sobre a coisa, não havendo a necessidade de um sujeito passivo. Exige-se um sujeito passivo, o devedor. A ação pode ser dirigida a qualquer pessoa que detenha a coisa A ação é dirigida exclusivamente ao sujeito passivo da relação jurídica (que podem ser vários) Distinção entre Direito Obrigacional (Pessoal) e Direito Real. Direitos reais: definem-se como o poder jurídico, direto e imediato do titular sobre a coisa, com exclusividade e contra todos. O sujeito passivo do direito real é toda a coletividade que deve abster-se de violá-lo, sendo de caráter erga omnes. Direitos obrigacionais (pessoais): Relação jurídica pela qual o sujeito ativo pode exigir do sujeito passivo determinada prestação. No direito das obrigações somente se vinculam aqueles que fizeram parte do que contrataram e anuíram para comprometer-se a prestar ou exigir algo. Relação Jurídica Obrigacional: Sujeito Ativo (credor) ----- relação jurídica obrigacional ------ Sujeito Passivo (devedor) Relação Jurídica Real: Titular do Direito Real ------------relação jurídica real ------------- Bem/Coisa Direito Pessoal ou Obrigacional Direito Real Vincula somente pessoas Estabelece relação entre o titular e a coisa É direito relativo É direito absoluto (erga omnes) Tem dois sujeitos (ativo e passivo) e a prestação (objeto de relação) Um só titular, que exerce seu poder sobre a coisa objeto de seu direito de forma direta e imediata Concede direito a uma ou mais prestações efetuadas por uma pessoa Concede o gozo e a fruição de bens Caráter transitório Tem um sentido de inconsumibilidade, de permanência Tem apenas garantia geral do patrimônio do devedor (execução), não podendo escolher em quais bens recairão a satisfação de seu crédito. Possui direito de sequela São ilimitadas, se indeterminado apresentam com um número São numerus clausus, só os considerados na lei. Direitos da Personalidade Os direitos obrigacionais e os da personalidade são espécies do gênero direitos pessoais. Porém, os da personalidade possuem características jurídicas próprias, são oponíveis erga omnes, vitalícios, relativamente indisponíveis, enquanto os obrigacionais são inter partes, transmissíveis, patrimonializados e temporários, já que se resolvem pelo próprio adimplemento da prestação, em regra. Conceito de Obrigação “A obrigação é a relação jurídica, de caráter transitório, estabelecida entre devedor e credor e cujo objeto consiste numa prestação pessoal econômica, positiva ou negativa, devida pelo primeiro ao segundo, garantindo-lhe o adimplemento através de seu patrimônio.” (Washington de Barros Monteiro). “Obrigação é a relação transitória de direito, que nos constrange a dar, a fazer ou não fazer alguma coisa economicamente apreciável em proveito de alguém, que, por ato nosso ou de alguém conosco juridicamente relacionado, ou em virtude de lei, adquiriu o direito de exigir de nós essa ação ou omissão.” (Clóvis Beviláqua) “Obrigação caracteriza-se como o vínculo jurídico transitório entre credor e devedor cujo objeto consiste numa prestação patrimônial de dar, fazer ou não fazer.” (Wikipédia) O conceito de obrigação se dá de duas formas. Um conceito clássico ou estático, e um conceito moderno, dinâmico baseado na teoria dualista ou binária da obrigação civil. Conceito clássico: Obrigação é a relação jurídica que dá ao credor o direito de obrigar o devedor a cumprir determinada prestação. Obrigação é o vínculo jurídico que confere ao credor (sujeito ativo) o direito de exigir do devedor (sujeito passivo) o cumprimento de determinada prestação. Corresponde a uma relação de natureza pessoal, de crédito e débito, de caráter transitório (extingue-se pelo cumprimento), cujo objeto consiste numa prestação economicamente aferível. É o patrimônio do devedor que responde por suas obrigações. Constitui ele, pois, a garantia do adimplemento com que pode contar o credor. Carlos Roberto Gonçalves. Conceito moderno: O conceito moderno de obrigação encontra seu fundamento na TEORIA DUALISTA OU BINÁRIA DA OBRIGAÇÃO CIVIL. Para entendê-la melhor necessário se faz uma anterior explicação sobre a classificaçãodas obrigações quanto as suas fontes, ou a sua natureza. A obrigação pode ser MORAL ou CIVIL. A obrigação MORAL é aquela que provém da consciência humana, e apenas nela gera consequências. Ex.: Não trair o cônjuge. Já a obrigação CIVIL é aquela que encontra respaldo no ordenamento jurídico, podendo assim ser cobrada em juízo. A que aqui trataremos será a obrigação CIVIL. Para a TEORIA DUALISTA OU BINÁRIA DA OBRIGAÇÃO CIVIL, proveniente da Alemanha, a obrigação civil cria dois vínculos: o dever principal, que é o dever jurídico de cumprir espontaneamente determinada prestação de dar, fazer ou não fazer (SCHULD); e a responsabilidade civil, que é a consequência jurídica e patrimonial do descumprimento da obrigação (HAFTUNG), é a criadora da “pretensão”, da possibilidade de se cobrar judicialmente uma pretensão, que pode ser o exato cumprimento da prestação e/ou a reparação por perdas e danos. Para os alemães a responsabilidade civil não está separada da obrigação civil, nem é seu sinônimo. Na verdade aquela faz parte desta, mas não são a mesma coisa, tanto que uma pode existir sem a outra. Teoria Dualista ou Binária da Obrigação Civil Dever Jurídico de dar, fazer ou não fazer (SCHULD) Responsabilidade civil – Pretensão (HAFTUNG) 2 Características da PRESTAÇÃO A PRESTAÇÃO, elemento objetivo, objeto da relação obrigacional, há de ser: - Lícita - Possível - Determinada, ou ao menos, determinável. A patrimonialidade era considerada característica indispensável da prestação, mas já não é mais. O patrimônio não consiste mais no núcleo base do direito civil. A patrimonialidade segue como regra geral, mas podem haver inúmeras prestações não patrimoniais. Ex.: Cláusula testamentária determinando local do enterro. FONTE DAS OBRIGAÇÕES São fatos jurídicos que dão margem à criação, ao surgimento das obrigações. Diferentemente das fontes do direito, de onde nascem os preceitos e as normas gerais e abstratas que regem a vida de todos na sociedade, as fontes das obrigações surgem de relações concretas que dizem respeito ao sujeito ativo e passivo dessas relações, constituindo o fato que dá origem à obrigação e podem ser divididas em fontes mediatas (condição determinante do nascimento das obrigações) e imediatas (lei como causa eficiente das obrigações). São fontes de obrigações: Contrato Atos unilaterais (Promessa de Recompensa, Gestão de Negócios, Pagamento Indevido, Testamento) Ato ilícito (Responsabilidade Civil) Lei ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA RELAÇÃO OBRIGACIONAL As partes na relação obrigatória (sujeitos - elemento pessoal ou subjetivo) A prestação (objeto - elemento material) O vínculo jurídico CC, Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz; II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto; III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito; IV - não revestir a forma prescrita em lei; V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade; VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa; VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção. 3 As Partes Elemento subjetivo da obrigação. Sujeito ativo – credor ou accipiens – pode exigir o cumprimento da obrigação ou a execução – art. 331 CC. Sujeito passivo – devedor ou solvens – tem um dever perante o credor. Características do elemento subjetivo: Duplicidade ou dualidade Transmissibilidade ou Mudança subjetiva (ou seja, os sujeitos originais da obrigação podem mudar). Determinabilidade (partes determinadas ou determináveis) Sinalagma: direitos e deveres para ambas as partes – equilíbrio. Exceções: - Obrigações personalíssimas - O sujeito (ativo ou passivo) pode ser indeterminado quando da constituição da obrigação ou no momento do pagamento – art. 335 CC Auxiliares: não tem a condição de sujeitos, mas cooperam ajudando-os. São eles: I - Os representantes II - Os mensageiros III - Os auxiliares executivos Objeto * Imediato ou direito – a prestação * Mediato ou remoto – é o bem material que se insere dentro da prestação (Venosa) Características do elemento objetivo (prestação): Licitude (104 e 166, II, CC). Possibilidade física ou material (166, II, CC). Possibilidade jurídica (CC, art. 426). Determinado ou Determinável Patrimonialidade - a obrigação tem que ter valor econômico. Vínculo jurídico Consiste no dever do sujeito passivo de satisfazer a prestação e o correlato direito do credor de exigir judicialmente o seu cumprimento, investindo contra o patrimônio do devedor, visto que o mesmo fato gerador do débito produz a responsabilidade. Teoria monista – o vínculo era um elo simples, um exigia o cumprimento e o outro devia pagamento. Teoria dualista da obrigação – o vínculo se subdivide em dois elementos (em duas fases). Elementos que compõem seu conceito: 1. Dívida (debitum - shuld) 2. Responsabilidade (obligatio – haftung) Obrigação X Responsabilidade Existem dois elementos que compõem a obrigação: o débito (schuld) e a responsabilidade (haftung). Aquele é a prestação que deve ser espontaneamente cumprida pelo devedor. Esta é a obrigação que surge ao devedor pelo inadimplemento daquele e recai sobre o patrimônio do devedor, não sobre sua pessoa. A RESPONSABILIDADE É SEMPRE UMA OBRIGAÇÃO DERIVADA, já que surge apenas quando a obrigação não for adimplida no prazo. O devedor responderá, havendo a responsabilidade, com todo o seu patrimônio para o cumprimento da obrigação, ressalvadas as restrições legais dos bens de família, bens absolutamente impenhoráveis e inalienáveis etc. Logo, como a execução não recai sobre a pessoa e sim sobre o patrimônio do próprio devedor, há que se dizer que ela é real. Somente existe execução pessoal no caso de recusa de alimentos e no direito penal. Responsabilidade patrimonial: CC, Art. 391. Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens do devedor. * O Supremo Tribunal Federal (STF) editou, em 16 de dezembro de 2009, a Súmula Vinculante nº 25, que traduz: “É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito”. 4 CPC, Art. 789. O devedor responde com todos os seus bens presentes e futuros para o cumprimento de suas obrigações, salvo as restrições estabelecidas em lei. “Embora os dois conceitos – obrigação e responsabilidade – estejam normalmente ligados, nada impede que haja uma obrigação sem responsabilidade ou uma responsabilidade sem obrigação”. (Arnoldo Wald) Débito sem responsabilidade: dívida prescrita e dívida de jogo – Ob. Natural Responsabilidade sem débito: fiança, aval, direitos reais de garantia prestados por terceiros. “Schuld” e “Haftung”: Em alemão, “Schuld” pode significar culpa ou débito. “Haftung”, por sua vez traduzem responsabilidade. Novos paradigmas aplicáveis às Obrigações I. A Teoria dos Interesses: Na clássica acepção de obrigação, mesmo após a superação da filosofia positivista oitocentista, ainda prevalece hodiernamente a ideia de que esse instituto civilista tem lastro no poder do credor perante o devedor, numa relação de subordinação. Ainda que as cláusulas gerais da boa fé objetiva e da função social tenham mitigado um pouco essa concepção, tal não ocorreu de forma suficientemente ampla para arraigar na sociedade uma visão mais humana do significado de obrigação. SEGUNDO A TEORIA DOS INTERESSES, A OBRIGAÇÃO NÃO TERIA LASTRO NO PODER, MAS NO INTERESSE, QUE É UM VALOR PRIVADO TUTELADO PELO ORDENAMENTO JURÍDICO . Sendo o interesse o norte das obrigações, não se pode admitir que um conjunto de valores privados de certa pessoa seja tido como superior ao da outra, visto que são elas iguais no plano civil. O interesse tutelado pelodireito é aquele que promove o ser humano, que aprofunda os laços sociais e a solidariedade. Nessa linha de pensamento, o homem não se tornaria satisfeito em detrimento do outro, mas cresceria culturalmente com o concurso positivo de seu semelhante (síntese axiológica). Os interesses diferenciados, quando justapostos, se completam mutuamente, promovendo a conquista de outros valores em projeção infinita. II. Princípio da Socialidade: A socialidade serve para harmonizar os princípios da autonomia da vontade e da solidariedade social, já que, por ser ela o fim do direito subjetivo obrigacional, deverá ser mantida uma relação de cooperação entre os partícipes da relação obrigacional – e entre eles e a sociedade – a fim de que seja possível a consecução do fim comum. A finalidade do princípio da socialidade é afastar a mera aplicação do Direito Civil às relações dos particulares, eis que esses vínculos, em diversas oportunidades, podem interessar à sociedade como um todo, autorizando, por conseguinte, a intervenção estatal. Em suma: o princípio da socialidade objetiva afastar a visão individualista, egoística e privatística do Código Civil de 1916, influenciado pela visão oitocentista de primeira dimensão civilista. III. Princípio da Eticidade: Hoje, as obrigações devem ser pautadas por um comportamento ético, de mútua cooperação, observando-se as cláusulas gerais de boa fé, função social, abuso de direito, equidade e bons costumes. O princípio da eticidade tem por escopo valorizar o ser humano na sociedade, o que se dá mediante a efetivação dos princípios constitucionais, mormente o da dignidade da pessoa humana. Carlyle Popp enfatiza que a dignidade da pessoa humana "significa a superioridade do homem sobre todas as demais coisas que o cercam; é o homem como protagonista da vida social. Representa, então, a subordinação do objeto ao sujeito de direito". Tu Quoque, Supressio, Surrectio, Venire Contra Factum Proprium, Stoppel: tipos de atos cujas presenças são repudiadas pelo Direito, sendo práticas abusivas. Tu quoque: proibição de que o torpe se aproveite de sua própria torpeza. Venire contra factum proprium ou Teoria dos Atos Próprios, que proíbe o comportamento contraditório. Isso porque ninguém pode voltar atrás, unilateralmente, numa postura que tenha criado uma legítima expectativa na outra parte. São pressupostos para a aplicação do venire: a) Conduta inicial (factum proprium); b) Legítima confiança da outra parte na conservação do sentido objetivo desta primeira conduta; c) Um comportamento contraditório e violador da confiança; d) Um dano efetivo ou potencial daí resultante. 5 Supressio1 e surrectio: Pela primeira, constata-se que o não exercício de um direito durante longo tempo poderá significar a extinção desse direito, ou ao menos o impedimento de seu exercício, quando contrariar o princípio da boa fé por se demonstrar abusiva a inatividade de seu titular, gerando uma expectativa legítima na outra parte. Logo, são seus elementos: a) Omissão no exercício do direito; b) Transcurso de determinado período, geralmente variável; c) Indícios objetivos de que esse direito não mais seria exercido2. Como diferenciar o venire da supressio? O principal diferencial está no fator temporal. No venire, importam as condutas contraditórias em si mesmas consideradas, ainda que pouco tempo tenha se passado. Na supressio, imperioso decorrer determinado lapso temporal para configurar a hipótese de perda do direito. Ambos são, no entanto, decorrentes da violação da cláusula geral da boa fé objetiva3. Já a surrectio seria o nascimento de um direito, a contraface da supressio. CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES QUANTO À ÁREA JURÍDICA Obrigações civis e obrigações comerciais O atual Código Civil unificou as obrigações civis com as obrigações comerciais, passando ambas a integrar em seu texto assuntos pertinentes as duas matérias. OBRIGAÇÕES CONSIDERADAS EM SI MESMAS a) Em relação ao seu vínculo: Obrigação moral, obrigação civil e obrigação natural b) De natureza mista Propter rem c) Quanto à natureza de seu objeto: - Positivas: obrigação de dar e obrigação de fazer - Negativas: obrigação de não fazer d) Em atenção à sua liquidez: Obrigação líquida e obrigação ilíquida e) Quanto ao modo de execução: Obrigação simples, cumulativa ou conjuntiva; obrigação alternativa e obrigação facultativa f) Quanto ao tempo de adimplemento: Obrigação momentânea, instantânea, transitória ou transeunte e obrigação de execução continuada, contínua, periódica, duradoura ou de trato sucessivo. g) Quanto aos elementos acidentais: Pura e simples, condicional, modal e a termo h) Em relação à pluralidade ou não de sujeitos: Fracionárias, conjuntas, disjuntivas, divisíveis, indivisíveis e solidárias i) Quanto ao fim ou conteúdo: Obrigações de meio; de resultado e de garantia 1 Mencionado no STJ, REsp 207.509/SP. 2 Muitas decisões de Cortes nacionais colocaram como requisito, também, a necessidade de que a supressio promova o equilíbrio contratual, ou seja, de que o seu não reconhecimento cause desequilíbrios entre o benefício e o prejuízo suportado pelas partes. 3 Há, no entanto, quem considere a supressio como uma específica modalidade de venire. 6 OBRIGAÇÕES RECIPROCAMENTE CONSIDERADAS Obrigação principal e acessória OBRIGAÇÕES CONSIDERADAS EM SI MESMAS Em relação ao seu vínculo: - Características Não é obrigação moral Não há ação que garanta o direito Se for cumprida espontaneamente por pessoa capaz, ter-se-á a validade do pagamento O credor natural pode reter o pagamento - Natureza Jurídica As obrigações naturais são DEVERES MORAIS ou SOCIAIS JURIDICAMENTE RELEVANTES. De natureza mista ou híbrida - OBRIGAÇÕES “PROPTER REM” Também chamada de “ob rem” ou simplesmente “in rem”. Conceito: trata-se de uma obrigação acessória, de natureza mista, originária e unida a um direito real, acompanhando-o e transmitindo-se com este. OBS: não se confunde obrigação propter rem com obrigação de eficácia real. Esta última traduz uma prestação com oponibilidade erga omnes (ex: locação registrada no cartório de imóveis - art. 8º da Lei nº 8.245/91). - Natureza Jurídica Acessória mista de direito real e direito pessoal, de fisionomia autônoma. - Exposição dos pontos pacíficos pelos doutrinadores: Maria Helena Diniz Sílvio Rodrigues Sílvio Venosa " vinculação a um direito real, ou seja, a determinada coisa de que o devedor é proprietário ou possuidor"; - "ela prende o titular de um direito real, seja ele quem for, em virtude de sua condição de proprietário ou possuidor"; - "trata-se de relação obrigacional que se caracteriza por sua vinculação à coisa"; - "possibilidade de exoneração do devedor pelo abandono do direito real, renunciando o direito sobre a coisa"; - "o devedor se livra da obrigação pelo abandono do direito real"; - "o nascimento, a transmissão e a extinção da obrigação propter rem seguem o direito real, com uma vinculação de acessoriedade"; - "transmissibilidade por meio de negócios jurídicos, caso em que a obrigação recairá sobre o adquirente". - "a obrigação se transmite aos sucessores a título singular do devedor". - "sua eficácia perante os sucessores singulares do devedor confere estabilidade ao conteúdo do direito". 7 - Aplicação Art. 1315 do Código Civil Art. 1297, § 1º do Código Civil Art. 1383 do Código Civil Art. 1280 do Código Civil Arts. 1277 e 1313 do Código Civil (D. Vizinhança) Jurisprudência Quanto à natureza de seu objeto: Positivas: - OBRIGAÇÃO DE DAR Consiste na obrigação de entregar alguma coisa. Divide-se em obrigação de dar coisa certa (caracteriza-se por se referir a um objeto perfeitamente determinado, quese considera em sua individualidade) e obrigação de dar coisa incerta (caracteriza-se por ter objeto indeterminado, mas determinável, que deve, ao menos, ser indicado pelo gênero e quantidade). A distinção entre obrigação de dar coisa certa ou incerta, entretanto, é de duração limitada. A obrigação de dar ainda se divide, em obrigação de dar propriamente dita (a entrega da coisa visa à transferência do domínio ou de outros direitos reais sobre a coisa) e obrigação de restituir (envolve uma devolução, eis que o devedor, tendo recebido coisa alheia, encontra-se obrigado a restituí-la, pois o credor é o proprietário do bem). I - Regras pertinentes à obrigação de dar coisa certa: a) O credor de coisa certa não está obrigado a receber outra, ainda que mais valiosa. (Art. 313) b) Abrangência dos acessórios (Art. 233 do CC) c) Perda da coisa (Art. 234 do CC) d) Deterioração da coisa (Arts. 235 e 236 do CC) e) Melhoramentos e acrescidos sobrevindos à coisa antes da tradição (Art. 237 do CC) f) Perda da coisa, na obrigação de restituir coisa certa (Art. 238 e 239 do CC) g) Deterioração da coisa, na obrigação de restituir coisa certa (Art. 240 do CC) Obs.: A atribuição dos riscos, pela perda ou deterioração da coisa, nas obrigações de dar coisa certa, resolve-se pela aplicação da regra res perit domino, ou seja, o dono é quem sofre os prejuízos pela perda ou deterioração da coisa. Isto, quando não for o devedor o culpado pela deterioração ou perda. h) Melhoramentos e acréscimos sobrevindos à coisa restituível (Art. 241 do CC) i) Melhoramentos e acrescidos (cômodos) sobrevindos à coisa restituível (Art. 242 do CC) j) Frutos, no caso de obrigação de restituir coisa certa (Art. 242 do CC) 8 II - Regras pertinentes à obrigação de dar coisa incerta: a) Riscos pelo perecimento ou deterioração (Arts. 246 do CC) b) Individualização da coisa c) A quem compete fazer a escolha (Arts. 244, 342 do CC) d) Como se deve fazer a escolha (Arts. 244, do CC) - OBRIGAÇÃO DE FAZER “É a que vincula o devedor a prestação de um serviço ou ato positivo, material ou imaterial, seu ou de terceiro, em beneficio do credor ou de terceira pessoa" (MHD). Divide-se em obrigação de fazer fungível (a prestação pode ser realizada indiferentemente pelo devedor ou por terceira pessoa) e obrigação de fazer infungível (a prestação somente pode ser realizada pelo devedor, eis que é intuitu personae). Conseqüências do inadimplemento: I - Impossibilidade da prestação II - Inadimplemento voluntário (CC art. 249, parágrafo único). III - Da obrigação de emitir declaração de vontade (CPC art. 501) Negativas: - OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER “É aquela em que o devedor assume o compromisso de se abster de um fato, que poderia praticar, não fosse o vinculo que o prende" (Silvio Rodrigues). - Inadimplemento da obrigação de não fazer - Art. 251, parágrafo único do CC Tutela específica: CPC Art. 497. Na ação que tenha por objeto a prestação de fazer ou de não fazer, o juiz, se procedente o pedido, concederá a tutela específica ou determinará providências que assegurem a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente. Parágrafo único. Para a concessão da tutela específica destinada a inibir a prática, a reiteração ou a continuação de um ilícito, ou a sua remoção, é irrelevante a demonstração da ocorrência de dano ou da existência de culpa ou dolo. Art. 498. Na ação que tenha por objeto a entrega de coisa, o juiz, ao conceder a tutela específica, fixará o prazo para o cumprimento da obrigação. Parágrafo único. Tratando-se de entrega de coisa determinada pelo gênero e pela quantidade, o autor individualizá-la-á na petição inicial, se lhe couber a escolha, ou, se a escolha couber ao réu, este a entregará individualizada, no prazo fixado pelo juiz. Art. 499. A obrigação somente será convertida em perdas e danos se o autor o requerer ou se impossível a tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente. Art. 500. A indenização por perdas e danos dar-se-á sem prejuízo da multa fixada periodicamente para compelir o réu ao cumprimento específico da obrigação. Art. 501. Na ação que tenha por objeto a emissão de declaração de vontade, a sentença que julgar procedente o pedido, uma vez transitada em julgado, produzirá todos os efeitos da declaração não emitida. 9 Em atenção à sua liquidez: - OBRIGAÇÃO LÍQUIDA Considera-se líquida a obrigação certa, quanto a sua existência, e determinada, quanto ao seu objeto. - OBRIGAÇÃO ILÍQUIDA Considera-se ilíquida aquela obrigação incerta quanto a sua quantidade e que se torna certa pela liquidação. 10 Quanto ao modo de execução: - SIMPLES - Obrigações simples são as coexistentes numa só prestação, recaem somente sobre uma coisa. Libera-se o devedor entregando o objeto devido art. 313 CC art. 356 CC Silvio de Sávio Venosa afirma que quanto ao objeto a obrigação é simples quando a prestação importar em um único ato ou numa só coisa. - CUMULATIVA OU CONJUNTIVA A obrigação é cumulativa ou conjuntiva quando mais de uma prestação é devida conjuntamente. Nessas obrigações, há duas ou mais prestações que deverão ser realizadas totalmente. - OBRIGAÇÃO ALTERNATIVA (DISJUNTIVA) a) Conceito: Obrigação alternativa é aquela que fica cumprida com a execução de qualquer das prestações que formam seu objeto. O objeto é ligado pela partícula “ou”. Ex. Art. 534. Pelo contrato estimatório, o consignante entrega bens móveis ao consignatário, que fica autorizado a vendê-los, pagando àquele o preço ajustado, salvo se preferir, no prazo estabelecido, restituir-lhe a coisa consignada. b) Características Seu objeto é plural ou composto, pluralidade de prestações As prestações são independentes entre si Concedem um direito de opção, pode estar a cargo do devedor, do credor ou de um 3º Feita a escolha, a obrigação se concentra na prestação escolhida Exoneração do devedor mediante realização de uma única prestação. c) Concentração O ato da escolha não se reveste de forma especial (art. 107 CC). Concentração normal Concentração extraordinária d) Efeito da escolha O princípio dominante nas obrigações alternativas é que a escolha é irrevogável e indivisível. Art. 252, § 1º CC Art. 314 CC - OBRIGAÇÃO FACULTATIVA É aquela que tem por objeto uma única prestação (ob. principal), mas confere somente ao devedor a faculdade de substituir essa prestação por outra, prevista na avença com caráter subsidiário. Art. 1234 do CC Regem-se pelos mesmos dispositivos concernentes as obrigações simples. DIFERENÇA COM OUTROS INSTITUTOS DAÇÃO EM PAGAMENTO (datio insolutum) OBRIGAÇÃO FACULTATIVA É imprescindível a concordância do credor A faculdade é do devedor a substituição do objeto do pagamento ocorre posteriormente ao nascimento da obrigação Possibilidade de substituição participada na raiz do contrato 11 Obrigação facultativa Obrigação alternativa Há uma prestação principal e outra acessória. Se a obrigação principal é nula, fica Sem efeito a obrigação acessória. As duas ou mais prestações estão no mesmo nível. Desaparecendo uma prestação, não extingue a obrigação. Há exercício de uma opção. Há concentração. Unidade de objetos ao contrair a obrigação Pluralidade de objetos ao contrair a obrigação. A escolha é sempre do Devedor. Ex: obrigo-me a entregar açúcar, sendo que se me convier, poderei substituí-la por café A Escolha é do devedor, do credor, ou de Terceiro. EX: Devo milho Ou Feijão, o Devedor Realiza A Obrigação elegendo uma das duas Obrigações. É a prestação principal que determina a natureza do contrato. Quanto ao tempo de adimplemento: Classificam-se estas obrigações em: a) Instantânea: a obrigação se aperfeiçoa num único momento do tempo, como é comum na compra e venda.b) Diferida: prestação se aperfeiçoa num único momento do tempo, mas a ser realizada futuramente. c) De forma continuada: prestação se protrai no tempo, como ocorre no contrato de prestação de serviço de transporte, em geral. d) De trato sucessivo: aquelas que renascem continuamente, a cada prestação vencida, não se extinguindo com o pagamento, o qual apenas tem o efeito de solver o débito referente a cada período. Exemplo seria o contrato de fornecimento de bens entre um produtor de carne e um supermercado. Aquele se obriga a entregar, todo mês, duas toneladas de carne ao supermercado. A prestação de cada mês é adimplida no próprio mês, nascendo e findando uma nova obrigação em cada período. Outro exemplo é a prestação previdenciária. e) De cumprimento diferido no tempo: a prestação é feita em várias parcelas4 que se sucedem continuamente no tempo e fazem o objeto prestacional ser continuamente exaurido, até a extinção da obrigação. Exemplo é a compra e venda de um imóvel de forma parcelada. A prestação do comprador é única, apenas pagar o preço; o parcelamento não cria prestações autônomas. Quanto aos elementos acidentais: - PURA E SIMPLES Aquela que não se encontra sujeita a condição, termo ou encargo. 4 Em direito das obrigações, prestação e parcela não se confundem. A primeira é o objeto da obrigação; a segunda, forma de pagamento de uma mesma obrigação. 12 - CONDICIONAL Se sua eficácia estiver sujeita a condição. Arts. 121 a 130 do CC - A TERMO Se seus efeitos estiverem sujeitos a termo. Arts. 131 a 135 do CC - MODAL Se estiver sujeita a encargo. Arts. 136 e 137 do CC Em relação à pluralidade ou não de sujeitos: - DIVISÍVEIS (Fracionárias ou Parciais) "Obrigação divisível é aquela cuja prestação é suscetível de cumprimento parcial, sem prejuízo de sua substância e de seu valor" (Maria Helena Diniz). Art. 257 do CC Art. 87 e 88 do CC - INDIVISÍVEIS (Conjuntas ou Unitárias ou de Mão Comum) "Obrigação indivisível é aquela cuja prestação só pode ser cumprida por inteiro, não comportando sua cisão em várias obrigações parceladas distintas, pois, uma vez cumprida parcialmente a prestação, o credor não obtém nenhuma utilidade ou obtém a que não representa a parte exata da que resultaria do adimplemento integral" (Maria Helena Diniz). Arts. 258 a 263 do CC - SOLIDÁRIAS5 "Obrigações solidárias são aquelas com pluralidade de credores ou devedores, cada um com direito ou obrigado ao total, como se houvesse um só credor ou devedor" (Arnoldo Wald). Art. 264 do CC Solidariedade ativa, passiva e mista ou recíproca. - Características: a) pluralidade de sujeitos ativos e/ou passivos; b) multiplicidade de vínculos; c) unidade de prestação; d) co-responsabilidade dos interessados. - Regras gerais: a) Não presunção da solidariedade (art. 265 do CC) b) Variabilidade do modo de ser da obrigação na solidariedade (art. 266 do CC) Obs: alguns autores, como Silvio Venosa e Guilhermo Borda, diferenciam obrigação solidaria de obrigações in solidum. Esta última é aquela em que os devedores encontram-se vinculados pelo mesmo fato, não havendo necessária solidariedade entre eles. Ex: Incendiário e a seguradora. - Solidariedade ativa Arts. 267 a 274 do CC Ex: de solidariedade ativa convencional é a que se estabelece entre os correntistas em conta corrente conjunta (REsp. 708. 612/RO). 5 Não se deve confundir as obrigações solidárias com as obrigações in solidum. Nestas últimas, posto concorram vários devedores, os liames que os unem ao credor são totalmente distintos, embora decorram de um único fato (ex: suponhamos um caso de incêndio de uma propriedade segurada, causada por culpa de terceiro. Tanto a seguradora como o autor do incêndio deve m à vítima indenização pelo prejuízo, porém não existe uma origem comum na obrigação. A obrigação daquela decorre de contrato; deste, da responsabilidade civil). 13 - Solidariedade passiva Arts. 275 a 285 do CC existe entendimento no STJ (REsp 577.902/DF) no sentido de que há solidariedade entre o proprietário e o condutor do veículo pelo fato da coisa. não se pode confundir remissão com renúncia à solidariedade (art. 277 e 282 do CCB). Enunciado 349 da IV JDC 349 – “Art. 282. Com a renúncia da solidariedade quanto a apenas um dos devedores solidários, o credor só poderá cobrar do beneficiado a sua quota na dívida; permanecendo a solidariedade quanto aos demais devedores, abatida do débito a parte correspondente aos beneficiados pela renúncia.” Diferenças Existentes entre Obrigações Solidárias e as Obrigações Indivisíveis a) A causa da solidariedade é o título (decorrente da lei ou vontade das partes), e a da indivisibilidade é, normalmente, a natureza da obrigação; b) Na solidariedade, cada devedor paga por inteiro, porque deve integralmente (motivação subjetiva), enquanto na indivisibilidade ele solve a totalidade em razão da impossibilidade jurídica de se repartir em quotas a coisa devida (motivação objetiva); c) A solidariedade é uma relação subjetiva, e a indivisibilidade objetiva; d) Enquanto a indivisibilidade assegura a unidade da prestação, a solidariedade visa a facilitar a satisfação do crédito/aumentar a garantia do credor; e) A indivisibilidade justifica-se com a própria natureza da prestação, quando o objeto é em si mesmo insuscetível de fracionamento, enquanto a solidariedade é sempre de origem técnica, resultando da lei ou da vontade das partes, nunca se presumindo; f) A solidariedade cessa com a morte dos devedores, enquanto a indivisibilidade subsiste enquanto a prestação suportar; g) A indivisibilidade termina quando a obrigação se converte em perdas e danos, enquanto a solidariedade conserva este atributo mesmo com a conversão. Quanto ao fim ou conteúdo: - DE MEIO Aquela em que o devedor se compromete apenas em atuar com diligência e zelo normais na prestação de serviço, a fim de alcançar determinado resultado, sem se vincular a obtê-lo. RECURSO ESPECIAL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - DANOS MORAIS - ERRO MÉDICO - MORTE DE PACIENTE DECORRENTE DE COMPLICAÇÃO CIRÚRGICA - OBRIGAÇÃO DE MEIO - RESPONSABILIDADE SUBJETIVA DO MÉDICO - ACÓRDÃO RECORRIDO CONCLUSIVO NO SENTIDO DA AUSÊNCIA DE CULPA E DE NEXO DE CAUSALIDADE - FUNDAMENTO SUFICIENTE PARA AFASTAR A CONDENAÇÃO DO PROFISSIONAL DA SAÚDE - TEORIA DA PERDA DA CHANCE - APLICAÇÃO NOS CASOS DE PROBABILIDADE DE DANO REAL, ATUAL E CERTO, INOCORRENTE NO CASO DOS AUTOS, PAUTADO EM MERO JUÍZO DE POSSIBILIDADE - RECURSO ESPECIAL PROVIDO. I - A relação entre médico e paciente é contratual e encerra, de modo geral (salvo cirurgias plásticas embelezadoras), obrigação de meio, sendo imprescindível para a responsabilização do referido profissional a demonstração de culpa e de nexo de causalidade entre a sua conduta e o dano causado, tratando-se de responsabilidade subjetiva; II - O Tribunal de origem reconheceu a inexistência de culpa e de nexo de causalidade entre a conduta do médico e a morte da paciente, o que constitui fundamento suficiente para o afastamento da condenação do profissional da saúde; III - A chamada "teoria da perda da chance", de inspiração francesa e citada em matéria de responsabilidade civil, aplica-se aos casos em que o dano seja real, atual e certo, dentro de um juízo de probabilidade, e não de mera possibilidade, porquanto o dano potencial ou incerto, no âmbito da responsabilidade civil, em regra, não é indenizável; IV - In casu, o v. acórdão recorrido concluiu haver mera possibilidade de o resultado morte ter sido evitado caso a paciente tivesse acompanhamento prévio e contínuo do médico no período pós - operatório, sendo inadmissível, pois, a responsabilização do médico com base na aplicação da "teoria da perda da chance"; V - Recurso especial provido. (STJ, REsp 1104665/RS, Rel. Ministro MASSAMIUYEDA, TERCEIRA TURMA, julgado em 09/06/2009, DJe 04/08/2009) 14 - DE RESULTADO Aquela em que o credor tem a faculdade de exigir determinado resultado do devedor, sem o que ocorrerá o inadimplemento da obrigação. OBS: - O cirurgião plástico reparador assume obrigação de meio; ao passo que o estético de resultado. RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ERRO MÉDICO. ART. 14 DO CDC. CIRURGIA PLÁSTICA. OBRIGAÇÃO DE RESULTADO. CASO FORTUITO. EXCLUDENTE DE RESPONSABILIDADE. 1. Os procedimentos cirúrgicos de fins meramente estéticos caracterizam verdadeira obrigação de resultado, pois neles o cirurgião assume verdadeiro compromisso pelo efeito embelezador prometido. 2. Nas obrigações de resultado, A RESPONSABILIDADE DO PROFISSIONAL DA MEDICINA PERMANECE SUBJETIVA. Cumpre ao médico, contudo, demonstrar que os eventos danosos decorreram de fatores externos e alheios à sua atuação durante a cirurgia. 3. Apesar de não prevista expressamente no CDC, a eximente de caso fortuito possui força liberatória e exclui a responsabilidade do cirurgião plástico, pois rompe o nexo de causalidade entre o dano apontado pelo paciente e o serviço prestado pelo profissional. 4. Age com cautela e conforme os ditames da boa fé objetiva o médico que colhe a assinatura do paciente em “termo de consentimento informado”, de maneira a alertá-lo acerca de eventuais problemas que possam surgir durante o pós-operatório. RECURSO ESPECIAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. (STJ, REsp 1180815/MG, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 19/08/2010, DJe 26/08/2010) - A maioria da jurisprudência entende que a cirurgia de miopia a laser é obrigação de meio, e não de resultado (TJMG AP. Civil, 1070701044481-8/001) - DE GARANTIA Visa à eliminação de risco, que pesa sobre o credor. OBRIGAÇÕES RECIPROCAMENTE CONSIDERADAS - PRINCIPAL É a obrigação que tem vida própria e independente de qualquer outra. Art. 92 do CC Art. 184 do CC Art. 233 do CC. - ACESSÓRIA É aquela cuja existência supõe a da principal – P. Da Gravitação Jurídica
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