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PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM GESTÃO DE PROJETOS E PROGRAMAS SOCIAIS GERCINO GARCIA SOBRINHO O PAPEL DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NOS PROJETOS SOCIAIS: ENTRE METODOLOGIAS ATIVAS E IMPACTO SOCIAL Colorado do Oeste-RO 2025 GERCINO GARCIA SOBRINHO O PAPEL DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NOS PROJETOS SOCIAIS: ENTRE METODOLOGIAS ATIVAS E IMPACTO SOCIAL Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização em Pós-Graduação Lato Sensu em Gestão de Projetos e Programas Sociais, apresentado ao Instituto Facprisma EAD de Coronel Fabriciano – MG, como requisito parcial para a obtenção de nota do TCC. Orientadora: Maria Eduarda Oliveira de Souza Colorado do Oeste-RO 2025 RESUMO Este trabalho analisa o papel da inovação tecnológica na qualificação de projetos sociais, com ênfase na aplicação de metodologias ativas e na busca por impactos sociais significativos, éticos e sustentáveis. Diante de uma transformação digital acelerada, do agravamento das desigualdades sociais e da crescente demanda por respostas públicas mais eficazes, torna-se essencial repensar os métodos tradicionais de planejamento, execução e avaliação das ações sociais. O uso estratégico das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), de plataformas educacionais, da gamificação e de ferramentas colaborativas pode ampliar o alcance, a eficácia e a participação nos projetos sociais, especialmente entre públicos em situação de vulnerabilidade. A pesquisa é de natureza qualitativa, com abordagem teórica e exploratória, fundamentada em revisão bibliográfica e enriquecida por entrevista semiestruturada com profissional atuante na gestão pública educacional. A análise estrutura-se em quatro eixos: a tecnologia como vetor de transformação social; o protagonismo das metodologias ativas na educação popular; os desafios da inclusão digital e as barreiras técnicas ao acesso à inovação; e a avaliação de experiências e percepções no campo, com base em dados empíricos e análise interpretativa. Os resultados apontam que, quando integradas de forma ética, crítica e contextualizada, as tecnologias podem potencializar o empoderamento comunitário, a aprendizagem significativa e a corresponsabilidade social. Contudo, persistem desafios estruturais e culturais relacionados à infraestrutura digital, à qualificação das equipes e à formulação de políticas públicas voltadas à inovação inclusiva. O trabalho conclui que a inovação nos projetos sociais deve ser compreendida como um processo contínuo, colaborativo e socialmente engajado, sustentado por princípios de equidade, justiça social e participação cidadã. Palavras-chave: Inovação tecnológica. Projetos sociais. Metodologias ativas. Inclusão digital. Transformação social ABSTRACT This paper analyzes the role of technological innovation in the qualification of social projects, with an emphasis on the application of active methodologies and the pursuit of significant, ethical, and sustainable social impacts. In a context marked by accelerated digital transformation, the worsening of social inequalities, and the growing demand for more effective public responses, it becomes essential to rethink traditional methods of planning, implementation, and evaluation of social actions. The strategic use of Information and Communication Technologies (ICTs), educational platforms, gamification, and collaborative tools can enhance the reach, effectiveness, and participation in social projects, especially among vulnerable populations. This is a qualitative, theoretical, and exploratory study, based on bibliographic review and enriched by a semi-structured interview with a professional working in public educational management. The analysis is structured around four main axes: technology as a vector of social transformation; the protagonism of active methodologies in popular education; the challenges of digital inclusion and technical barriers to innovation access; and the evaluation of practical experiences and field perceptions, supported by empirical data and interpretative analysis. The results indicate that, when integrated ethically, critically, and contextually, technologies can foster community empowerment, meaningful learning, and shared social responsibility. However, structural and cultural challenges persist, especially related to digital infrastructure, staff training, and the development of inclusive innovation policies. The study concludes that innovation in social projects should be understood as a continuous, collaborative, and socially engaged process, sustained by principles of equity, social justice, and citizen participation. Keywords: Technological innovation. Social projects. Active methodologies. Digital inclusion. Social transformation SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 6 2. DESENVOLVIMENTO.............................................................................................................. 7 2.1 Fundamentação Teórica ...................................................................................................... 7 2.1.1 Inovação Tecnológica e Transformação Social ........................................................... 7 2.1.2 Metodologias Ativas na Educação Social ................................................................... 7 2.1.3 Inclusão Digital e Desigualdades Tecnológicas .......................................................... 8 2.2 Experiências e Análise ......................................................................................................... 8 2.2.1 Estudos de Caso ........................................................................................................ 8 2.2.2 Tecnologias em Saúde e Assistência Social ................................................................ 8 2.2.3 Barreiras e Limitações ............................................................................................... 9 2.2.4 Considerações Éticas ................................................................................................ 9 2.2.5 Resultados das Entrevistas ........................................................................................ 9 2.2.6 Análise das Respostas ............................................................................................. 10 3. METODOLOGIA ................................................................................................................... 11 4. RECOMENDAÇÕES PARA A GESTÃO DE PROJETOS SOCIAIS TECNOLÓGICOS ........................ 12 4.1 Realizar diagnóstico digital prévio ..................................................................................... 12 4.2 Utilizar plataformas acessíveis e compatíveis .................................................................... 12 4.3 Investir na formação continuada das equipes .................................................................... 12 4.4 Incorporar metodologias participativas ............................................................................. 13 4.5 Garantir acessibilidade e inclusão ...................................................................................... 13 4.6 Estabelecer políticas de proteção de dados ....................................................................... 13 4.7 Avaliar impactos com indicadores participativos ............................................................... 13 4.8 Promover articulação intersetorial .................................................................................... 13 4.9 Valorizar os saberes e contextos locais .............................................................................. 13 4.10 Defender políticas públicas permanentes ........................................................................14 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................................... 14 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 15 6 1. INTRODUÇÃO A sociedade contemporânea vive um momento de profundas transformações tecnológicas, sociais e econômicas. A presença crescente da tecnologia em todas as esferas da vida impõe novos desafios e possibilidades para a gestão de projetos sociais. Torna-se especialmente urgente repensar os modos tradicionais de planejar, executar e avaliar essas iniciativas, considerando as inovações digitais e a crescente demanda por participação cidadã. Neste contexto, este trabalho busca analisar como a inovação tecnológica, articulada às metodologias ativas de aprendizagem, pode ampliar o impacto social dos projetos. O tema é relevante diante da necessidade de enfrentar desigualdades sociais históricas e construir práticas sociais mais inclusivas, eficazes e sustentáveis. Com a expansão do uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) em programas sociais, surgem novas oportunidades de articulação entre comunidades, agentes públicos e redes colaborativas. As soluções tecnológicas, quando bem aplicadas, podem gerar maior eficiência, engajamento dos beneficiários e transparência nos resultados. Além disso, a incorporação dessas ferramentas permite maior personalização das ações, adaptando-as aos contextos locais e promovendo a autonomia dos sujeitos envolvidos. A mediação tecnológica, portanto, não substitui a dimensão humana da intervenção social, mas pode potencializá- la, desde que seja integrada com responsabilidade e escuta ativa. O problema que orienta a investigação é: como a inovação tecnológica, associada a metodologias ativas, pode contribuir para o impacto social efetivo dos projetos sociais? O objetivo geral é compreender essa relação e oferecer diretrizes para sua aplicação prática. Os objetivos específicos são: (i) identificar tecnologias utilizadas nos projetos sociais contemporâneos; (ii) analisar as contribuições das metodologias ativas no contexto social; e (iii) discutir os limites e desafios da implementação tecnológica em territórios vulneráveis. A pesquisa tem caráter qualitativo e exploratório, com base em revisão bibliográfica e entrevistas ilustrativas. O trabalho está estruturado em seis seções: introdução; fundamentação teórica; análise de experiências; metodologia; recomendações práticas; e considerações finais. 7 2. DESENVOLVIMENTO 2.1 Fundamentação Teórica 2.1.1 Inovação Tecnológica e Transformação Social A inovação tecnológica deixou de ser um fenômeno restrito ao setor econômico e passou a ocupar espaço central nas políticas sociais, culturais e educacionais. Além do uso de ferramentas digitais, a inovação implica novas formas de organizar processos, dialogar com o público e produzir resultados sustentáveis. Segundo Castells (2000), a sociedade em rede exige novas formas de organização baseadas na colaboração, flexibilidade e circulação de saberes. No campo social, a inovação tecnológica pode ampliar o alcance das iniciativas, otimizar recursos, oferecer monitoramento em tempo real e promover a inclusão de públicos historicamente marginalizados. Entretanto, seu uso requer sensibilidade social e compromisso ético para evitar que a tecnologia se transforme em mais um fator de exclusão. 2.1.2 Metodologias Ativas na Educação Social As metodologias ativas propõem uma inversão na lógica tradicional de ensino- aprendizagem. Em vez da transmissão unilateral de conteúdo, valorizam o protagonismo do aprendiz, o diálogo, a resolução de problemas reais e a articulação entre teoria e prática. No contexto dos projetos sociais, essas abordagens se mostram eficazes para envolver os beneficiários no processo de transformação social. Inspiradas em autores como Paulo Freire (1996) e John Dewey (1938), as metodologias ativas promovem o desenvolvimento do pensamento crítico, da autonomia e da corresponsabilidade. Sua aplicação em contextos comunitários fortalece vínculos sociais, estimula o protagonismo dos participantes e fomenta a construção coletiva de soluções para os problemas enfrentados pelas populações atendidas, promovendo maior engajamento e pertencimento. Essas práticas também facilitam o diálogo intergeracional e a valorização de saberes locais, promovendo a escuta ativa e o reconhecimento das diferentes realidades sociais. Dessa forma, os projetos sociais tornam-se mais inclusivos, sensíveis às especificidades culturais e com maior potencial transformador. 8 2.1.3 Inclusão Digital e Desigualdades Tecnológicas O avanço tecnológico não é acompanhado, em muitos casos, por sua democratização. A exclusão digital é uma realidade que limita a eficácia das estratégias baseadas em TICs. Segundo o CGI.br (2023), milhões de brasileiros ainda não têm acesso estável à internet, e a maioria dos que têm acesso depende exclusivamente de dispositivos móveis com limitações de conectividade. Além do acesso físico, a inclusão digital requer letramento tecnológico, apropriação crítica e capacidade de produzir conteúdos. Sem essas condições, mesmo os projetos mais inovadores correm o risco de aprofundar desigualdades já existentes. 2.2 Experiências e Análise 2.2.1 Estudos de Caso Projetos como o Recode e o EducafroTech são exemplos emblemáticos da aplicação da inovação tecnológica em iniciativas sociais. O Recode atua na formação de jovens para o uso crítico e transformador das tecnologias, promovendo cursos online gratuitos sobre pensamento computacional, cidadania digital e empreendedorismo. Já o EducafroTech oferece formação em programação e tecnologia para jovens negros e periféricos, aliando inclusão produtiva e representatividade. Ambos os projetos utilizam plataformas digitais, trilhas formativas gamificadas, mentorias e comunidades virtuais. As metodologias empregadas colocam o participante como protagonista do próprio aprendizado, em sintonia com os princípios da educação popular e do desenvolvimento local sustentável. 2.2.2 Tecnologias em Saúde e Assistência Social Além do campo educacional, a inovação tecnológica também tem gerado impactos significativos na saúde e na assistência social. Aplicativos móveis têm sido utilizados para o mapeamento de famílias vulneráveis, a orientação sobre direitos sociais, o acompanhamento remoto de gestantes e pacientes crônicos, e até o atendimento psicossocial por meio de plataformas seguras. A integração de dados entre órgãos públicos e ONGs também permite otimizar recursos e evitar duplicidades no atendimento, embora ainda haja muitos desafios quanto à interoperabilidade, à segurança das informações e ao acesso universal. 9 2.2.3 Barreiras e Limitações Apesar dos avanços e das possibilidades abertas pela inovação tecnológica nos projetos sociais, ainda são numerosos os obstáculos que dificultam sua efetiva implementação em territórios vulneráveis. Entre as barreiras mais recorrentes, destacam-se a precariedade da infraestrutura de conectividade, o acesso limitado a equipamentos digitais por parte dos beneficiários e a insuficiência de qualificação técnica das equipes envolvidas. Outro ponto crítico identificado nas experiências analisadas é a ausência de políticas públicas integradas e contínuas, que garantam financiamento, apoio técnico e articulação entre os diferentes níveis de governo e instituições parceiras. Sem esse suporte estruturante, muitas iniciativas tornam-se pontuais ou dependentes de recursos esporádicos, o que compromete sua continuidade e impacto a longo prazo. Além disso, observa-se uma resistência cultural à mudança em algumas organizações e redes públicas, o que exige ações formativas que promovam não apenas o usotécnico das ferramentas, mas também uma compreensão crítica do papel da tecnologia como agente de inclusão social. 2.2.4 Considerações Éticas O uso da tecnologia em projetos sociais deve ser guiado por princípios éticos claros, como a proteção de dados sensíveis, o consentimento informado, a acessibilidade, o respeito à diversidade cultural e a garantia da autonomia dos sujeitos. A ausência de uma cultura de proteção de dados e a baixa regulamentação ainda constituem obstáculos significativos a serem enfrentados pelas organizações. 2.2.5 Resultados das Entrevistas Com o objetivo de enriquecer a discussão teórica com experiências práticas, foi realizada uma entrevista com Luzia Dorado Guilherme, pedagoga, mestre em Educação e atual gerente de Gestão, Informação e Documentação Educacional da Superintendência Regional de Educação de Vilhena/SEDUC-RO. A escolha dessa interlocutora deve-se à sua atuação estratégica na gestão de tecnologias educacionais e políticas de formação docente no estado de Rondônia, o que a torna uma fonte qualificada para refletir sobre inovação em contextos públicos e sociais. A entrevista abordou os seguintes eixos: o uso de tecnologias educacionais, os impactos observados, as dificuldades enfrentadas, as metodologias ativas aplicadas na formação 10 docente e as formas de avaliação do impacto das ações de gestão educacional. Entre os principais pontos destacados por Luzia, estão: a importância das plataformas digitais e dos sistemas integrados na formação e no acompanhamento de professores; a melhoria nos processos decisórios a partir da análise de dados escolares em tempo real; as barreiras de conectividade em áreas rurais e a necessidade de formação continuada para a superação da resistência ao uso das tecnologias; o fortalecimento da participação dos educadores na construção dos planos pedagógicos; a contribuição da tecnologia para garantir agilidade, transparência e sustentabilidade na gestão pública da educação. A partir das respostas, observa-se uma convergência com os fundamentos discutidos neste trabalho: a tecnologia é percebida como uma aliada no processo de transformação social e pedagógica, desde que utilizada com critério, investimento em formação e participação ativa dos profissionais da ponta. A experiência compartilhada contribui para demonstrar que a inovação nos projetos sociais e públicos depende de planejamento estratégico, políticas articuladas e valorização das pessoas que fazem a gestão acontecer. 2.2.6 Análise das Respostas A entrevista realizada com a profissional Luzia Dorado Guilherme reforça os principais eixos discutidos ao longo da fundamentação teórica deste trabalho. Sua fala evidencia que a inovação tecnológica, embora poderosa, só gera resultados concretos quando articulada a metodologias participativas, à escuta ativa dos educadores e ao investimento contínuo na formação dos profissionais que atuam diretamente nas comunidades. As limitações identificadas, como a conectividade precária em regiões rurais e a resistência de parte do corpo docente ao uso de ferramentas digitais, demonstram que a inclusão tecnológica ainda enfrenta obstáculos estruturais e culturais. Esses desafios refletem a desigualdade no acesso à tecnologia e à informação, evidenciando a necessidade de políticas públicas comprometidas com a equidade digital. Por outro lado, a experiência da entrevistada também aponta caminhos promissores: o uso de plataformas digitais para formação docente, a construção coletiva de planos 11 pedagógicos e o monitoramento educacional com base em dados qualificados são estratégias que ampliam a eficácia e a transparência da gestão pública. A valorização da participação dos profissionais, por meio de práticas dialógicas e colaborativas, fortalece o sentimento de pertencimento e de corresponsabilidade. Assim, a análise das respostas permite concluir que o impacto da inovação nos projetos sociais não se limita ao uso das ferramentas tecnológicas, mas depende da capacidade institucional de integrá-las de maneira ética, contextualizada e inclusiva. A escuta, a formação e o compromisso político com a transformação social são os elementos-chave que definem o real alcance da tecnologia como instrumento de cidadania e justiça social. 3. METODOLOGIA Este trabalho constitui uma pesquisa de natureza qualitativa e caráter exploratório, voltada à análise do papel da inovação tecnológica na gestão de projetos sociais. A abordagem qualitativa foi escolhida por possibilitar uma compreensão aprofundada dos fenômenos sociais, com base em experiências, percepções e contextos específicos, ultrapassando a mera análise de dados estatísticos. A principal estratégia metodológica adotada foi a revisão bibliográfica, baseada em obras clássicas e contemporâneas das áreas de educação, gestão pública, inovação social e tecnologias da informação. Essa etapa permitiu estabelecer os fundamentos teóricos que sustentam a discussão sobre metodologias ativas, inclusão digital e transformação social mediada por tecnologias. Como recurso complementar, o estudo incorporou uma entrevista semiestruturada com a pedagoga Luzia Dorado Guilherme, mestre em Educação e gerente de Gestão, Informação e Documentação Educacional na SEDUC/RO. A entrevista serviu como fonte de aprofundamento qualitativo, ilustrando a aplicação prática dos conceitos discutidos na literatura e contextualizando os desafios enfrentados na implementação de inovações tecnológicas no setor público educacional. A análise dos dados seguiu uma lógica interpretativa, voltada à identificação de categorias de significado relacionadas à gestão de projetos, aos impactos das TICs, ao engajamento dos beneficiários e à sustentabilidade das ações. Além disso, buscou-se observar como as tecnologias emergentes vêm sendo incorporadas às práticas pedagógicas e administrativas em projetos sociais voltados à educação. Essa integração entre dados 12 teóricos e empíricos contribuiu para ampliar a compreensão crítica sobre os limites e as possibilidades da inovação na gestão pública. Embora o foco não tenha sido estatístico, a entrevista ofereceu subsídios valiosos para fortalecer a articulação entre teoria e prática. Dessa forma, a metodologia adotada respeita os critérios de rigor científico exigidos em trabalhos acadêmicos de natureza aplicada, promovendo o diálogo entre autores relevantes e experiências reais do campo da gestão social. 4. RECOMENDAÇÕES PARA A GESTÃO DE PROJETOS SOCIAIS TECNOLÓGICOS Com base na análise teórica e na experiência relatada pela entrevistada, este capítulo apresenta um conjunto de recomendações para a qualificação da gestão de projetos sociais que integram inovação tecnológica. As diretrizes aqui listadas buscam orientar gestores públicos, coordenadores de ONGs e demais profissionais da área na adoção de estratégias mais eficazes, éticas e inclusivas. 4.1 Realizar diagnóstico digital prévio Antes da implantação de qualquer solução tecnológica, é fundamental levantar dados sobre o acesso à internet, tipos de dispositivos disponíveis e níveis de letramento digital da comunidade atendida. Esse diagnóstico permite identificar as reais necessidades e evitar investimentos inadequados ou ineficazes. 4.2 Utilizar plataformas acessíveis e compatíveis A escolha das ferramentas digitais deve considerar sua acessibilidade, gratuidade e compatibilidade com dispositivos amplamente utilizados pela população (como smartphones de entrada). O uso de softwares livres ou versões educacionais deve ser priorizado, sempre que possível. 4.3 Investir na formação continuada das equipes Profissionais que atuam na ponta, especialmente educadores e agentes sociais, precisam de capacitação contínua para o uso pedagógico e social das tecnologias. A formação deve ir além da capacitação técnicae contemplar também os aspectos éticos, críticos e metodológicos. É importante que os processos formativos sejam também participativos, contextualizados e voltados para a realidade das comunidades atendidas, favorecendo a autonomia e a criatividade dos profissionais. 13 4.4 Incorporar metodologias participativas Projetos que integram inovação com metodologias ativas tendem a apresentar melhores resultados. A escuta da comunidade, a coautoria de conteúdos e a corresponsabilidade nos processos fortalecem o engajamento dos beneficiários. Além disso, essas metodologias promovem maior alinhamento entre as ações desenvolvidas e as necessidades reais dos grupos atendidos, tornando as intervenções mais eficazes e sustentáveis. 4.5 Garantir acessibilidade e inclusão A tecnologia deve atender a todas as pessoas, incluindo aquelas com deficiência, idosos, moradores de áreas remotas e populações marginalizadas. Isso exige investimentos em acessibilidade digital, como leitores de tela, legendas, conteúdos em Libras e design universal. 4.6 Estabelecer políticas de proteção de dados A coleta e o armazenamento de informações pessoais devem seguir princípios de segurança, privacidade e consentimento informado. Projetos sociais que utilizam dados digitais devem adotar protocolos transparentes e seguros. É igualmente fundamental capacitar as equipes envolvidas quanto às boas práticas de proteção de dados e assegurar que os beneficiários compreendam como suas informações serão utilizadas. 4.7 Avaliar impactos com indicadores participativos A mensuração dos resultados deve envolver os beneficiários e considerar indicadores de transformação social, não apenas quantitativos. A avaliação participativa contribui para a melhoria contínua e para a legitimação das ações. Essa abordagem também permite captar percepções locais sobre os efeitos do projeto, fortalecendo o vínculo entre a gestão e a comunidade. 4.8 Promover articulação intersetorial Parcerias com universidades, empresas de tecnologia e órgãos públicos potencializam os resultados dos projetos e ampliam o acesso ao conhecimento técnico, ao financiamento e às redes de apoio. 4.9 Valorizar os saberes e contextos locais As tecnologias devem ser adaptadas às realidades locais e utilizadas como instrumentos de valorização cultural, fortalecimento da identidade comunitária e promoção de narrativas próprias, evitando soluções genéricas ou padronizadas. 14 4.10 Defender políticas públicas permanentes Para garantir a sustentabilidade da inovação tecnológica em projetos sociais, é essencial atuar na formulação de políticas públicas que assegurem conectividade gratuita, infraestrutura digital e financiamento contínuo às iniciativas do terceiro setor. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta pesquisa teve como objetivo analisar o papel da inovação tecnológica na qualificação de projetos sociais, destacando a importância da integração entre as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), as metodologias ativas e a gestão participativa para alcançar impactos sociais relevantes, éticos e sustentáveis. A partir da revisão bibliográfica, da análise de experiências práticas e da entrevista com uma gestora pública atuante na área da educação, conclui-se que a tecnologia, quando utilizada de forma estratégica, crítica e contextualizada, pode ser uma ferramenta eficaz para promover inclusão, autonomia e transformação social. No entanto, sua efetividade depende de fatores estruturantes, como infraestrutura adequada, formação continuada das equipes, acessibilidade universal e compromisso político com a equidade digital. A entrevista com a pedagoga e gestora Luzia Dorado Guilherme reforçou os achados teóricos ao demonstrar, na prática, como a inovação pode ser aplicada na rede pública de ensino com foco em formação docente, uso de plataformas digitais e articulação intersetorial. Sua contribuição também evidenciou os desafios enfrentados, como a resistência à mudança, a exclusão digital em regiões periféricas e a fragilidade de políticas públicas permanentes no campo da inovação social. Destaca-se que a simples adoção de tecnologias não assegura, por si só, resultados positivos. A inovação deve estar acompanhada de metodologias participativas, escuta ativa das comunidades, respeito à diversidade e práticas de avaliação contínua. Assim, a tecnologia deixa de ser um fim em si mesma e passa a ocupar o lugar de meio, capaz de ampliar o alcance das ações sociais e democratizar o acesso aos direitos. A elaboração de projetos sociais mais eficientes, inclusivos e sustentáveis exige não apenas o uso de ferramentas modernas, mas também uma profunda reflexão ética sobre os caminhos a serem trilhados em busca da equidade social e da inclusão tecnológica. Nesse contexto, a inovação não deve ser encarada como um fim em si mesma, mas como um meio capaz de fortalecer o protagonismo comunitário, ampliar o acesso aos direitos 15 sociais e contribuir para a construção de políticas públicas mais participativas e sensíveis às realidades locais. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei nº 14.133, de 1º de abril de 2021. Institui a nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, 1 abr. 2021. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019- 2022/2021/lei/L14133.htm. Acesso em: 01 maio 2025. CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 6. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000. (A era da informação: economia, sociedade e cultura; v. 1). DEWEY, John. 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