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Por uma Justiça Restaurativa ‘real e possível’1 Pedro Scuro Neto Escola Superior da Magistratura (RS). PRÓXIMO CONGRESSO DA ONU sobre prevenção de criminalidade vai analisar a intensificação do debate acerca da administração da Justiça, e, como testar e viabilizar novas formas e métodos de torná-la mais eficiente e menos injusta, mais igual para todos [ISPAC, 2004]. Essa preocupação não diz respeito somente ao Brasil, mas também a países em que “sobram” recursos e, por isso, não deveria haver impunidade – admitindo, é lógico, que justiça seja o mesmo que ‘punição’, isto é, que ao infrator é “dado ou feito algo que tenha valor igual ou proporcional” ao sofrimento que infligiu, ao valor que subtraiu, ao que é ou ao que merece. Assim, quando digo, “quero justiça”, espero que a sociedade faça alguma coisa proporcional ao valor que me foi arrebatado [Telles Júnior, 2001: 357]. Contudo, do ponto de vista dos próprios operadores do Direito no Brasil o sistema está, notadamente no Estado de São Paulo, “a um passo do colapso, em vias de parar”. Efetivamente, em agosto de 2004 na segunda instância dos tribunais estaduais, à espera de distribuição acumulavam-se 450 mil recursos. Na Justiça Federal da 3ª Região havia mais de 1,25 milhão de processos em tramitação – o dobro em relação a 1997. “Ao final de 2001, a primeira instância apresentava um estoque de 14 milhões de processos. A cada ano, são protocolados quatro milhões de novos processos e os juízes do Estado conseguem sentenciar dois milhões de casos no mesmo período – o infinito é o limite. Para o país, a morosidade do Judiciário custa, estima- se, US$ 10 bilhões ao ano”. Enquanto isso, “juízes e serventuários – em número notoriamente insuficiente – vêem- se desmotivados pelas acusações de outros Poderes da República, até com apoio a inspeções internacionais no Judiciário, como se as causas do problema fossem desconhecidas. Também são vítimas da ameaça de perdas de benefícios que, longe de ser privilégios, funcionam como garantia da sua independência. Vêem-se, ainda, sob a pressão dos meios de comunicação, que protestam e cobram resultados sem ver os impedimentos ou apresentar soluções”.2 1 Versão revista e ampliada da contribuição ao seminário internacional ‘Justiça Restaurativa. Um Caminho para os Direitos Humanos?’ Instituto de Acesso à Justiça (Brasil)/ Justice (Inglaterra). Porto Alegre, 29-30 outubro 2004. 2 Ricardo Tosto e Zanon de Paula Barros, Consultor Jurídico, 13 out. 2004. O 2 Intelectuais e professores de Direito, por sua vez, procuram ir mais fundo, encaram o sistema de Justiça como se fosse um paciente sofrendo de “crise de identidade” causada pelas “próprias contradições da cultura jurídica nacional” – fundada na “racionalidade técnico- dogmática”, em procedimentos lógico-formais e na “retórica da neutralidade”. Daí a proverbial incapacidade da Justiça brasileira de “acompanhar o ritmo das transformações sociais e a especificidade cotidiana dos novos conflitos coletivos”. Para esses pensadores o sistema – em particular, o Judiciário – é “uma instância de decisão submissa e dependente da estrutura de poder dominante”, um “órgão burocrático do Estado, desatualizado e inerte, de perfil fortemente conservador e de pouca eficácia na solução rápida e global de questões emergenciais vinculadas, quer às reivindicações dos múltiplos movimentos sociais, quer aos interesses das maiorias carentes de justiça e da população privada de seus direitos”. Não admira, pois, que de modo incessante a crise do sistema reproduza “inoperacionalidade, lentidão, ritualização burocrática, comprometimento com os ‘donos do poder’ e falta de meios materiais e humanos” – sintoma de “um fenômeno mais abrangente”: a própria “falência da ordem jurídica estatal”, de sua cultura positivista e dogmática, e de um Judiciário desprovido de “postura independente, criativa e avançada em relação aos graves problemas de ordem política e social”. Longe disso: o Judiciário é “elitista”, um órgão de Estado que se esconde por detrás do “pseudoneutralismo” e do “formalismo pomposo”, que age com “demasiada submissão aos ditames da ordem dominante” e que se move por meio de “mecanismos burocrático- procedimentais onerosos, inviabilizando, pelos seus custos, o acesso da imensa maioria da população de baixa renda”. [Wolkmer, 2004] 1. JUSTIÇA: EFICIÊNCIA E EFETIVIDADE Com efeito, a cada dia todos nos preocupamos mais e mais com o desempenho da Justiça, e temos razões de sobra para isso. O governo brasileiro, por exemplo, recentemente desembolsou cem mil reais para saber o que está errado. Concluiu que o sistema é “muito complexo, fragmentado, pouco uniforme e pouco conhecido” até mesmo pelos operadores do Direito, cada qual conhecedor do “seu universo de atuação profissional”, mas ignorante acerca do “todo e suas peculiaridades”. Por conta disso, a gigantesca máquina pública colocada a serviço da justiça é ineficiente e “traz enormes prejuízos ao País”, tornando “inaccessível a prestação jurisdicional para grande parte da população”, transformando “a vida daqueles que tem acesso ao Judiciário numa luta 3 sem fim pelo reconhecimento de direitos”, dificultando “o exercício profissional dos operadores do Direito”, penalizando “injustamente os magistrados na sua missão de fazer justiça”, e, ainda, inflacionando o nefasto “custo Brasil” [Ministério da Justiça, 2004: 4, 6-7]. Aos olhos de Brasília a requisito básico para a melhoria do desempenho da Justiça é a eficiência do sistema, expressa pela medida do modo e da produtividade dos operadores do Direito – principalmente juízes – na utilização dos recursos colocados a sua disposição. Os magistrados, por sua vez, abordam a mesma questão igualmente de uma perspectiva gerencial, acentuando, contudo, não os custos, mas a efetividade da Justiça, isto é, se os objetivos desta são adequados e em que medida são atingidos. Os juízes não acham, assim, que o verdadeiro problema seja implantar uma Justiça rápida e barata, mas (pro)ativa e eficaz – o que envolve mais que simples e fragmentadas mudanças de caráter constitucional ou gerencial, mas prestar atenção no que “a experiência internacional tem indicado”: o êxito de qualquer reforma depende de certos pressupostos mínimos. A saber: 1. Definir explicitamente a mudança que se quer, com as conseqüentes políticas públicas a serem adotadas; 2. Promover mudança de modo integral a. englobando todos os âmbitos do sistema, tais como o aperfeiçoamento da legislação infraconstitucional, a estrutura e a competência organizacional, as relações e os fluxos do Judiciário com outros subsistemas congêneres (Ministério Público, Advocacia da União e dos estados, Defensoria Pública e advocacia) ou com os quais a relação é subsidiária (polícia judiciária, polícia ostensiva e perícia técnica); b. envolvendo todas as áreas funcionais (recursos humanos, organização e métodos, estatística, compartilhamento e uniformização de dados e de informações, etc.); c. prevendo e estimando o impacto e as interconexões das mudanças a serem promovidas terão nas relações e nos fluxos entre os diferentes subsistemas; 3. Por fim, de acordo com a experiência internacional e o bom senso, fomentar mudanças na base de participação e consenso envolvendo os membros do sistema, instituições congêneres e indiretamente relacionadas, tudo concatenado a partir de programas de curto, médio e longo prazo, resultado de uma estratégia global previamente definida [AMB, 2004: 9-10]. 4 A preocupação do governo e dos magistrados em entender a Justiça como um sistema decorre da pretensão de incrementar a capacidade do Estado de intervir no processo de controle das crises e de aprender com ele [Scuro, 2004: 82]. Daí a tendência a formular estratégias, posicionar-se em um jogo político que envolve leituras diferenciadas da realidade, utilizando múltiplosrecursos e buscando conscientizar, mobilizar amplamente na consecução de objetivos comuns definidos a partir perspectivas privilegiadas. 2. JUSTIÇA DIRIGIDA POR VALORES Os especialistas da ONU, por seu turno, procuram encarar os grandes desafios da Justiça Criminal sob uma ótica diferente: a das vítimas e dos infratores, em especial vítimas e infratores dos segmentos menos favorecidos da sociedade, com pouco ou nenhum acesso à Justiça. “Depois de um processo em que não pode participar ativamente, a vítima tende a sentir que foi agredida novamente. Os infratores, por seu turno, ‘pagam’ pelo que fizeram sem se importar com reabilitação. Os juízes cada vez pressentem que estão sendo pressionados a ‘inventar condenações’ na hora de prolatar sentenças. Os custos judiciais crescem à medida que os processos tornam-se mais longos e complicados. O processo retributivo de justiça [receber da sociedade tratamento equivalente ao que foi tirado ou feito], tradicionalmente centrado no infrator e no Estado, tornou-se um anacronismo, não admitindo sanções que não sejam de caráter tutelar” [ISPAC, op.cit.]. Nessa conjuntura são propostas e implementadas as reformas do Judiciário, no Brasil e em outras partes do mundo. Reformas, porém, que não mudam a abordagem basicamente retributiva do sistema. Reformas que se limitam a dar nomes originais a velhas instituições, a redefinir jurisdições e competências, sem abalar os modos convencionais de fazer justiça – deixam o sistema em desarmonia, virtualmente incapacitado por conta da inconsistência entre os princípios que o norteiam (‘prevenção’, ‘pena’, ‘privação’, ‘reabilitação’), confundindo a ação de seus integrantes. Princípios incongruentes explicam por que políticas e programas de segurança oscilam entre a impunidade e o rigor desmedido. Espera-se, por exemplo, a polícia a atuar preventivamente, a fazer parcerias com a comunidade, e que os juízes sejam lenientes e criativos na hora de aplicar penalidades em casos de infrações de menor poder ofensivo. No entanto, sob pressão da opinião pública, o sistema repentinamente se endurece, condutas perigosas são incriminadas, qualificadas de hediondas e submetidas a medidas extremas. 5 Em verdade, mudar significa alterar a essência da abordagem do sistema, adotar agendas mais ambiciosas, ousadas, delineadas explicitamente para promover mudanças – primeiramente, no foco do sistema, nas formas tradicionais de responder ao crime e aos múltiplos problemas decorrentes. Exige dar lugar à adequada capacitação da sociedade para responder a malfeitos e conflitos, reparar danos infligidos, reintegrar vítimas e infratores, e, estabelecer as bases de uma segurança pública sustentável. Mudar exige, em segundo lugar, alterar a missão do sistema, para que este seja conduzido não mais por políticas ou reformas, mas por prioridades fundamentadas em valores. Finalmente, mudar quer dizer alterar o modo corrente de interação no seio do sistema e deste com os usuários e a população em geral – diminuir a dependência em relação à lógica burocrática e confiar cada vez mais em consenso e participação [Bazemore & Walgrave, 1999: 65-66] transformando profundamente a experiência de todos e cada um com o sistema de justiça. A esta agenda corresponde uma nova visão de comunidade, que emerge de uma ordem social decomposta, de um lado, entre o realismo fundado no poder e na tutela, e, de outro, o liberalismo baseado na lei e no empoderamento. Na esteira da ‘crise’ do sistema de justiça, assim como à face da complexidade cada vez maior do comércio, das finanças, das comunicações, da saúde, do ambiente, dos direitos humanos, da violência, desordem e criminalidade, torna-se cada vez mais urgente um controle social efetivo baseado em inovação normativa e institucional [Etzioni, 2004]. 3. MODOS DE JUSTIÇA Nesse contexto o movimento restaurativo desponta internacionalmente como uma rede informal e descentralizada, dedicada à divulgação e à implementação dos valores e procedimentos de um modo de justiça que foi deixado em estado de dormência durante todo o transcorrer do mundo moderno, mas que agora parece estar reemergindo. • Justiça retributiva (ou comutativa) – atua segundo a máxima punitur quia peccatum, ou seja, impondo pena proporcional ao mal praticado, adaptada à lógica do mercado característica do capitalismo; • Justiça distributiva (ou justiça pelo mérito) – não atribuída a todos igualmente, mas segundo a situação jurídica e social da conduta do infrator, a quem são destinados serviços e benefícios para recuperá-lo e reintegrá-lo à sociedade3; 3 O Código Penal brasileiro não considera que penalidade seja ‘castigo’, mas condição para a “devolução da liberdade”, a ser conquistada progressivamente “pelo mérito” e orientada à “presumida adaptabilidade 6 • Justiça restaurativa (ou justiça do reconhecimento), que visando a correspondência entre a sentença judicial e o sentimento de justiça dos atores afetados pela infração. TABELA 1 – Modos convencionais de Justiça: “recados” MODO DE JUSTIÇA Retributiva Distributiva Restaurativa SANÇÃO Pena Tratamento Compromisso INFRATOR Você não presta, preferiu cometer uma infração, e será punido na proporção do que fez. Você é um coitado, pessoa problemática que não tem toda a culpa pelo que fez. Vamos cuidar de você, para o seu próprio bem. O que fez teve conseqüências e causou prejuízos. Você é responsável e capaz de reparar o que fez. VÍTIMA Ao fazer justiça punimos o infrator e beneficiamos você também. As necessidades do infrator e da Justiça, não as suas, são a nossa maior preocupação. Precisa fazer o possível para que o infrator repare o dano que causou. COMUNIDADE Intimidar é a melhor forma de obrigar o infrator a entender que seu ato é inadmissível e a controlar sua conduta. O infrator deve ser, na medida do possível, reabilitado por especialistas. A comunidade deve contribuir para que as partes assumam e cumpram o compromisso. Fonte: Scuro, 2004b: 275. Dos três modos de justiça, o restaurativo é precisamente o que melhor atende ao imperativo psicológico básico da sociedade moderna: o desejo de reconhecimento [Fukuyama, 1992]. Diferentemente dos demais, que são motivados por interesses e gratificações hedonistas, por expectativas de dor ou prazer (‘eu quero justiça”) essencialmente dissociadas da estrutura do sistema social, o reconhecimento assume a mais ampla variedade de formas e estabelecer um vínculo jurídico permanente entre a satisfação racional do sentimento de justiça e as garantias básicas de cidadania democrática. social” do infrator. Isso faculta ao juiz a aplicação de penas restritivas de direitos e substitutivas da pena de prisão a delitos dolosos cuja pena, concretamente aplicada, seja inferior a um ano e aos delitos culposos em geral. 7 4. VALORES RESTAURATIVOS Os valores da justiça restaurativa acarretam, em primeiro lugar, inclusão das partes envolvidas – por meio de convite, reconhecimento de interesses, aceitação de pontos de vista alternativos – em um processo sistemático e controlado que promove o encontro (reunião, narrativa, expressão de emoção, compreensão, acordo) e propicia aos próprios atores a chance de determinar o grau apropriado de reparação (desculpas, mudanças de comportamento, restituição, generosidade). Envolvem, igualmente, um processo de reintegração (respeito, apoio e direcionamento material, moral e espiritual). Um sistema de justiça com todos esses valores pode ser qualificado como sendo inteiramente restaurativo. No entanto, nenhum sistema pode ser considerado minimamente restaurativo sem queos atores diretamente envolvidos sejam convidados a participar, se os seus interesses não são levados em conta, se abordagens alternativas não são criadas para propiciar total participação na busca desses interesses. O elemento de inclusão é indispensável, mas a incorporação dos outros três valores torna o sistema de justiça ‘mais restaurativo’. Assim, mesmo que o princípio fundamental da JR seja justiça dirigida à restauração do que foi prejudicado ou destruído, não é absolutamente essencial que essa restauração seja feita pelo infrator – se este não estiver presente, porque não for apanhado, por exemplo, a restauração pode vir por meio do apoio material, material e espiritual ativada por outros atores durante o processo de reintegração. Do mesmo modo, encontro também é importante, porém não essencial, caso haja oportunidade de participar e de restaurar o dano – como dissemos, se um agressor não for identificado, o processo de restauração pode ser realizado por outras pessoas. Finalmente, mesmo a própria reintegração não é essencial, na medida que vítima e infrator sejam incluídos e, em um grau substancial, combinem entre si o modo de reparação. Em suma, os valores que devem impulsionar o processo de mudança da Justiça, e renovar a energias do sistema são: Inclusão: oportunidade de “envolvimento direto e completo de cada uma das partes” [Van Ness and Strong, 2002: 126] – o que representa muito mais do que tem sido proposto no Brasil para a “democratização do acesso” e “maior envolvimento e participação dos cidadãos” [Sousa Santos, 1994: 56] em processos judiciais que podem continuar sendo essencialmente tutelares, focalizados no desrespeito do infrator à legislação e no exclusivo interesse do Estado de impor retribuição; Reparação: chance de reparar o malfeito por meio de desculpa, mudança de comportamento, restituição e generosidade, como forma de as partes assumirem responsabilidades, reparar e oferecem alternativas para que isso seja realizado; 8 Encontro: oferta de contextos e momentos em que as partes podem encarar um ao outro, e decidir o que é relevante na discussão de um problema – o sistema de Justiça Penal convencional, por sua vez, “separa as partes, limita seu contato, reduzindo o conflito a uma escolha binária de culpado/ inocente, considerando irrelevante toda informação que não prove ou confirme diretamente os elementos legais de uma acusação” [Van Ness and Strong, op. cit., p. 77]; Reintegração: dar a vítimas, infratores e comunidades opções para evitar estigmatização e outros problemas – por meio de concreta afirmação de valores pessoais e coletivos, maneiras de encarar desafios, satisfazer necessidades imediatas e orientação moral e espiritual aliada a esperança – fortalecendo os indivíduos e reforçando os valores e a capacidade de resistência da comunidade [Van Ness and Strong, op. cit., p. 121]. 5. TEOR RESTAURATIVO Na prática se pode, ademais, avaliar o teor restaurativo de um sistema ou rede de Justiça, na medida pela qual seus integrantes direcionam vítimas, infratores e comunidade à restauração, protegendo-os e os distanciando de danos\ riscos. Isso quer dizer, em primeiro lugar, que operadores e gestores do sistema • entendem e agem tendo em vista a realização de atividades e objetivos de caráter restaurativo; • procuram identificar e contemplar as contribuições restaurativas de todos os envolvidos; • usam procedimentos que buscam realizar objetivos restaurativos; • convidam vítimas e infratores e permitem a sua participação de forma irrestrita; • propiciam a participação das comunidades; • protegem as vítimas mais vulneráveis; • promovem e dão espaço e dignidade às vítimas; • evitam a desumanização dos infratores; • reconheçam e contabilizam as necessidades legítimas de segurança das comunidades. Em segundo lugar, o teor restaurativo da Justiça será maior se operadores e gestores • apoiarem as vítimas; • identificarem danos e oferecerem m modos tangíveis de restauração às vítimas; • favorecerem e encorajarem infratores a se responsabilizar por suas ações; 9 • assistirem e apoiarem vítimas e infratores em seus processos de reintegração; • engajarem as comunidades na identificação de suas necessidades e papéis; • contribuírem para a segurança e coesão das comunidades; • estabelecerem e perseguirem objetivos diretamente relacionados aos propósitos restaurativos dos projetos\programas\políticas implementados; • avaliarem informações de modo a estabelecer uma imagem sincera e honesta da natureza e das atividades dos projetos\programas e políticas restaurativas; • proporcionarem informações a todos que desejam promover a JR Em terceiro lugar, operadores e gestores devem convida todos os atores a participar, mesmo quando alguns não quiserem ou não possam. Isso acarreta • permitir a completa participação de vítimas, infratores e comunidades; • oferecer alternativas para compensar falta (ou limitação) de participação, enquanto se busca objetivos restaurativos. Em quarto lugar, operadores e gestores devem promover envolvimento voluntário – ou seja, de modo que a oferta de participação não seja coercitiva, e que a aplicação dos controles sociais, quando necessária, não interfira minimamente na restauração dos atores. Finalmente, tendo em vista a harmonização do papel da Justiça na preservação da ordem com o papel da comunidade na consecução de uma paz social justa, operadores e gestores devem • facilitar, efetivamente, a cooperação entre Justiça e comunidade; • coordenar, de modo efetivo, recursos públicos e privados; • manter a perspectiva restaurativa diante de pressões políticas e institucionais; • criar e utilizar mecanismos para reconhecer e corrigir injustiças e desequilíbrios, sempre que surgirem. 10 TABELA 2 – Justiça retributiva e Justiça restaurativa: pressupostos JUSTIÇA RETRIBUTIVA JUSTIÇA RESTAURATIVA Infração: noção abstrata, violação da lei, ato contra o Estado. Infração: ato contra pessoas, grupos e comunidades. Controle: Justiça penal Controle: Justiça, atores, comunidade. Compromisso do infrator: pagar multa ou cumprir pena. Compromisso do infrator: assumir responsabilidades e compensar o dano. Infração: ato e responsabilidade exclusivamente individuais. Infração: ato e responsabilidade com dimensões individuais e sociais. Pena eficaz: a ameaça de castigo altera condutas e coíbe a criminalidade. Castigo somente não muda condutas, além de prejudicar a harmonia social e a qualidade dos relacionamentos. Vítima: elemento periférico no processo legal. Vítima: vital para o encaminhamento do processo judicial e a solução de conflitos. Infrator: definido em termos de suas deficiências. Infrator definido por sua capacidade de reparar danos. Preocupação principal: estabelecer culpa por eventos passados (Você fez ou não fez?). Preocupação principal: resolver o conflito, enfatizando deveres e obrigações futuras. (Que precisa ser feito agora?). Ênfase: relações formais, adversativas, adjudicatórias e dispositivas. Ênfase: diálogo e negociação. Impor sofrimento para punir e coibir. Restituir para compensar as partes e reconciliar. Comunidade: marginalizada, representada pelo Estado. Comunidade: viabiliza o processo restaurativo. Fonte: Scuro, 2004b: 277. 6. JUSTIÇA RESTAURATIVA: PRÁTICAS E MODELOS Não é raro confundir-se o modo restaurativo de Justiça como um todo com seus procedimentos ou práticas, principalmente a mediação infrator\vítima, e as câmaras restaurativas (além de círculos restaurativos, painéis de impacto, e os conhecidos – porém com 11 limitado teor restaurativo – programas de assistência a vítimas, assistência a ex-infratores, restituição, e prestação de serviço à comunidade). Mediação infrator\vítima. Autorizaas partes a resolver o conflito por si mesmas, em atmosfera de informalidade estruturada. Mediação é diferente de arbitragem, em que um tertius ouve os dois lados e emite um juízo. Na mediação busca-se uma solução concertada pelos próprios envolvidos: o mediador não impõe um resultado; seu papel é capacitar os participantes, promover diálogo e um acordo visto como justo por ambas as partes e que conduza à solução do problema. Nesse sentido a mediação segue o roteiro restaurativo básico – discussão dos fatos, expressão de sentimentos; reparação negociada, e comportamento futuro alterado – transformando a relação infrator/vítima de uma maneira não previsível nos quadros convencionais de resolução de conflitos, e nem mesmo pelos mediadores profissionais. Na mediação promove-se um encontro entre as partes envolvidas em um conflito, visando um acordo que pode incluir reparação dos danos causados. Os interlocutores devem construir, a partir de suas próprias percepções, uma abordagem para atingir um resultado ‘justo’ sob as circunstâncias concretas. Esse tipo de prática tem obtido altos índices de participação e satisfação por parte dos queixosos, bem como de restituição e redução de infrações, da sensação de insegurança ou de impunidade. Os envolvidos exprimem sentimentos e percepções acerca do ocorrido, contribuindo para dissipar juízos previamente formados; a participação é voluntária, sendo que o infrator deve reconhecer que a sua presença no encontro pode ajudar a evitar sanções mais rigorosas. A função do mediador é informar as partes, preparar o encontro, registrar e tomar providências para que haja um acordo entre as partes. Geralmente recorre-se à mediação somente após o réu ter sido condenado ou admitido a culpa, mas há casos em que, na tentativa de evitar a abertura de um processo civil ou criminal, a mediação serve de ‘recurso diversório’ – á diferença de práticas que dependem, por exemplo, da decisão de um árbitro ou juiz, o sucesso da mediação repousa no desempenho do mediador, na forma como este consegue facilitar a interação entre as partes e ajudá-las a assumir uma postura proativa. O mediador contata vítima e infrator, assegurando que ambos estejam aptos a se submeter ao procedimento, atentando para as condições de cada um, de modo a fazer da mediação uma experiência construtiva – ou seja, sem expor os interlocutores a novos malefícios e garantindo o caráter voluntário de sua participação. 12 Infrator e vítima encontram-se para retificar, endireitar as coisas, cada um apresentando sua versão dos acontecimentos e circunstâncias que deram ensejo ao incidente – a vítima fala de suas perdas, enquanto o infrator aproveita para se explicar e exprimir arrependimento. O objetivo é chegar a um acordo por escrito, sobre a natureza e a extensão dos prejuízos materiais e morais, definindo o que pode ser feito para reparar os males causados à vítima, bem como estabelecer uma ordem de prioridade ou cronograma para restaurar o que foi perdido, destruído ou danificado. Câmaras restaurativas. Primordialmente um procedimento civil, a mediação é um diálogo facilitado em que interlocutores “moralmente equivalentes” negociam um compromisso, ao passo que aos casos de vitimização grave e criminosa aplicam-se melhor as câmaras restaurativas, que, para regulamentar comportamentos lançam mão do efeito normativo dos processos grupais. Em casos de violência doméstica, por exemplo, onde os resultados obtidos através de mediação são decepcionantes, as câmaras ajudam a estabelecer equilíbrio incluindo novos participantes (gente da família e “outros significativos”), com a mediação de coordenadores (geralmente assistentes sociais, mas também policiais treinados). O que anima as câmaras – e justifica o esforço de desviar conflitos que normalmente teriam por destino o sistema de justiça – é a filosofia da restauração e da transformação da comunidade. A versão judicial surgiu com a promulgação, em 1989, do “ECA neozelandês” (Children, Young Persons and Their Families Act), e com o estabelecimento de novas posturas sobre a conveniência de se conferir às famílias e às comunidades autoridade suficiente para decidir o que fazer com seus jovens infratores, contando para isso com a participação das vítimas e de grupos de apoio4. O procedimento foi adotado também na Austrália, Inglaterra, País de Gales, Canadá e Estados Unidos, países em que as câmaras têm proporcionado elevados índices de satisfação dos participantes e de restituição (entre 90% e 95%), resultados devidamente comprovados através de pesquisa científica, além de desenvolvimento de empatia entre infrator e vítima, mudança de comportamentos inadequados, melhoria no relacionamento entre famílias, comunidades e autoridades, sucesso de medidas socioeducativos, bem como alívio da demanda sobre o sistema de justiça. 4 Existem diferentes concepções (ou “modelos”) de câmaras restaurativas: “quase-judicial” ou comunitário (australiano), empregado também na América do Norte; “judicial”: socio-assistencial (neozelandês), centrado nas necessidades de infrator e vítimas; e o procedimento que está sendo gestado, de início no Rio Grande do Sul, voltado às condições específicas da sociedade brasileira e seu ordenamento jurídico. 13 A idéia da versão judicial é justamente envolver famílias e comunidades na resolução de problemas causados pelo comportamento de jovens infratores. Justamente por isso as câmaras reúnem-se no dia e lugar mais conveniente para os participantes (infrator, vítima, outros significativos, advogados e autoridades). Um coordenador atua como facilitador e mediador, trabalhando os participantes na consecução de um “plano de reparação” que represente um compromisso visto como justo por todos. O processo pode ser detido a qualquer momento, em particular quando o infrator mostra preferência pelo rito judicial convencional – ao qual também se recorre quando, por qualquer razão, se acordo não for cumprido. Existem modalidades “especializadas” de câmaras, voltadas a problemas como violência familiar e dirigir alcoolizado, além da vertente assistencial, aplicada para autorizar as famílias, isto é, colocá-las em um nível superior de intervenção, compatível com as autoridades e outros profissionais, visando um plano de ação específico, para casos em que crianças e adolescentes precisam de proteção ou demonstrem problemas de conduta – nesses casos as câmaras concentram-se nas pontos fortes da família, envolvendo-a com os profissionais e autoridades, e engajando os outros significativos no processo. Os objetivos são (1) elevar o grau de consciência e envolvimento em casos de abusos vitimando crianças e adolescentes, (2) aumentar a responsabilidade e a transparência de todos os envolvidos, e (3) minimizar a dependência em relação a profissionais e serviços públicos. Infrator Vítima Juizado Coordenador 14 CÂMARAS RESTAURATIVAS Que são? Reunião de pessoas afetadas por conduta causadora de dano grave (perda de propriedade, lesão corporal, clima de insegurança). Foro onde infratores, vítimas e as pessoas que, de alguma forma, lhes dão apoio, encontram meios de reparar os prejuízos e evitar a repetição da conduta negativa. Quem vai? O infrator, a vítima, seus respectivos apoios e as autoridades que investigam o incidente, sob os auspícios de um mediador devidamente treinado para (1) decidir se e quando uma câmara deve ser convocada; (2) selecionar, contatar e convocar os participantes;. (3) preparar e dirigir os trabalhos; (4) redigir um acordo entre as partes; (5) avaliar os resultados, acompanhar os participantes, disseminar e reproduzir conhecimentos. O que acontece? Os participantes têm chance de relatar os acontecimentos a partir do seu próprio ponto de vista, bem como dizer o que aconteceu desde então. Todosadquirem claro entendimento acerca das conseqüências do comportamento em questão, tomam consciência do que deve ser feito para que os danos físicos e emocionais de algum modo sejam reparados, bem como minimizar efeitos negativos futuros. Um termo deve ser lavrado e assinado por cada um dos participantes, que recebem cópia do acordo. Quais são os resultados? Os termos do acordo podem incluir pedido formal de desculpas, garantia que o comportamento prejudicial não voltará a ocorrer, ressarcimento dos danos (em dinheiro, quando apropriado), reparação de danos materiais, serviço comunitário, compromisso de assumir comportamento adequado. Os resultados dependem da capacidade do grupo de realizar os termos do acordo. Quanto dura? Depende da complexidade e das circunstâncias do incidente, do número de pessoas envolvidas ou interessadas em tomar parte. A duração média esperada é de 90 minutos. Quais são as vantagens? As vítimas têm oportunidade e um foro seguro para dizer como foram afetadas. Desempenham papel importante na decisão sobre a melhor maneira de reparar o dano sofrido e minimizar conseqüências futuras. As famílias e as pessoas que dão sustentação também 15 comentam o incidente e os seus efeitos. Os infratores, em vez de esquivar-se e distanciar-se das pessoas que prejudicaram, confrontam as conseqüências do seu comportamento e assumem total responsabilidade. A câmara restaurativa lhes oferece a oportunidade de retornar ao convívio da comunidade. Todos aprendem muito no decorrer do processo e depois dele. 7. JUSTIÇA RESTAURATIVA AGORA Percebe-se, do que acima foi dito, a tendência a identificar tanto os fatores de sucesso (‘best practices’) quanto os principais obstáculos a reformas nos sistemas de Justiça no sentido restaurativo. Em nível internacional discute-se, portanto, a viabilidade de estimular pesquisas baseadas em evidências científicas sobre a eficácia de novas estruturas e procedimentos, assim como a viabilidade de cooperação, troca de informações, treinamento, assistência e acompanhamento técnico. Enquanto isso, a perspectiva de mudança segue sendo medida exclusivamente em termos do engajamento dos gestores com reformas restritas a determinadas áreas (família, infância e juventude) e a crimes de menor potencial ofensivo. Nesse sentido, o esforço reformador tem se pautado atualmente pela busca de ‘interseções’ no sistema5, bem como a problemas ou circunstâncias que os modos convencionais de Justiça (retributivo e distributivo) normalmente não conseguem conduzir ou resolver a contento – sempre em linha com singelas intenções de facilitar o acesso dos desprivilegiados aos serviços da Justiça. Assim, por mais de duas décadas associações de magistrados brasileiros têm incentivado a criação de centros de mediação. Ao mesmo tempo, no Brasil e no exterior os governos tentam “humanizar’ o trabalho da polícia, aproximando-a da população – na intenção de reafirmar o poder estatal e encontrar meios para compensar um generalizado desencanto em relação à capacidade da Justiça de resolver problemas de modo adequado, rápido, e de um jeito que as pessoas comuns possam entender. Enquanto isso, de um modo bem mais modesto, por meio de experimentos ou projetos piloto alguns buscam interseções ‘externas’ ao sistema, contando, porém, com algum feedback de juizados em casos de crime, violência e desordem em escolas, por exemplo [Scuro 2000]. Uma terceira interseção surgiu quando ousados magistrados gaúchos identificaram no processo legal estágios ou situações de decisão que podem recepcionar procedimentos da Justiça Restaurativa. Foi o caso dos ‘júris restaurativos’ promovidos por João Abílio Rosa na década de 1990, a partir de um modelo aplicado por juizados na Holanda, e dos pioneiros ensaios 16 diversórios de Leoberto Brancher, baseados no Estatuto da Criança e do Adolescente, mas com sentido restaurativo. Mais recentemente, também no Rio Grande do Sul, um seminário promovido pela Escola Superior da Magistratura, e coordenado pela Drª. Beatriz Aguinsky, da Pontifícia Universidade Católica, propôs que se confiasse a busca de interseções a técnicos e gestores da Justiça da Infância e Juventude familiarizados com os princípios da JR, aptos a aplicar seus procedimentos e avaliar sua implementação. De um modo geral, visto globalmente, o progresso da Justiça Restaurativa em países em que os sistemas jurídicos são muito centralizados e firmemente estabelecidos em disposições estatutárias – como é o caso não somente do Brasil, mas também da América Latina e da Europa, o grande desafio da JR pode não ser mostrar desempenho superior, mas adaptar-se às demandas do sistema existente, em especial o tremendo crescimento da demanda que paralisa a Justiça e dá ao sistema uma imagem assaz negativa. Conseqüentemente, o verdadeiro campo de batalha para a JR contra o crime e o desrespeito à lei no Brasil pode ser os juizados especiais, originalmente conhecidos como de ‘pequenas causas’, orientados a soluções por conciliação de controvérsias e conflitos. Essas instituições foram lançadas inicialmente no Rio Grande do Sul (1982); hoje em dia há 169 delas em todo o Estado, tentando dar conta de um enorme acréscimo de demanda (foram, dois mil no primeiro ano, e hoje são 200 mil) – os juizados especiais criminais, em particular, enfrentam uma polêmica: a troca da pena por outras medidas e retributivas tem gerado a sensação de impunidade. Contudo, nas palavras de Ricardo Schmidt, magistrado que coordena os juizados especiais gaúchos, eles são a “única alternativa que a nossa geração construiu de uma Justiça diferente, rápida e eficaz para o cidadão comum”. Como tal – assim como europeus, norte- americanos e todos os outros povos ao redor do mundo, sentem em relação a seus próprios sistemas de justiça – é preciso fazer um upgrade, ou seja, os juizados especiais são uma alternativa que “precisa ser aperfeiçoada, embora não seja solução para todos os problemas”6. A introdução de práticas certificadas de Justiça Restaurativa pode ser justamente o que os juizados especiais estão precisando – e o que a própria JR precisa para funcionar sob supervisão competente e garantida, e contribuir para restaurar a imagem da Justiça no Brasil e dar feição definitiva ao progresso dos direitos humanos sob o estado de Direito e a democracia. 5 Conjunturas de decisão que podem recepcionar procedimentos restaurativos – no contexto do sistema de Justiça, isto é, o “fluxo ordenado de decisões ou atos administrativos que se inicia com a atuação da polícia e termina com a reintegração do infrator à sociedade” [Scuro, 2004b: 203]. 17 BIBLIOGRAFIA AMB – Associação dos Magistrados Brasileiros. 2004 Campanha pela efetividade da Justiça. Propostas da Comissão para a efetividade da Justiça da AMB (Caderno 1). Brasília. Bazemore, Gordon & Lode Walgrave. 1999 Restorative Juvenile Justice: In Search of Fundamentals and an Outline for Systemic Reform. In: Restorative Juvenile Justice: Repairing the Harm of Youth Crime (Bazemore & Walgrave, org.). Monsey, NY: Criminal Justice Press. Etzioni, Amitai. 2004 From Empire to Community: A New Approach to International Relations. Nova York: Palgrave Macmillan. Fukuyama, Francis. 1992 Capitalism and democracy: the missing link. In: Journal of Democracy. ISPAC – Conselho internacional de consultores científicos e profissionais do programa da ONU sobre justiça criminal e prevenção de criminalidade. 2004 XI Congresso. Bangkok, 18-25 abril – http://www.ispac-italy.org Ministério da Justiça. 2004 Diagnóstico do Poder Judiciário. Brasília. Telles Júnior, Goffredo. 2001 Iniciação na Ciência do Direito. São Paulo: Saraiva. Scuro Neto, Pedro. 2000 Câmaras restaurativas: a Justiça como instrumento de transformação de conflitos.In: Encontros pela Justiça na Educação (Afonso A. Konzen, org.). Brasília, DF: Fundescola, p. 601-645. 2004 Sociologia ativa e didática. Um convite ao estudo da ciência do mundo moderno. São Paulo: Saraiva. 2004b Sociologia Geral e Jurídica. Manual dos cursos de Direito. São Paulo: Saraiva. Sousa Santos, Boaventura de. 1994 Introdução à Sociologia da administração da Justiça. In: Direito e Justiça. A função social do Judiciário (José E. Faria, org.). São Paulo: Ática. Van Ness, Daniel W. & Karen H. Strong. 2002 Restoring Justice. Cincinnati: Anderson. Wolkmer, Antonio Carlos. 2004 Pluralismo jurídico. Fundamentos de uma nova cultura no Direito. São Paulo: Alfaômega. 6 Zero Hora, 19 ago. 2004.