Buscar

RESOLUÇÃO-DE-CONFLITOS-1

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3 
2 CONFLITO E NEGOCIAÇÃO ..................................................................... 4 
2.1 A origem dos Conflitos ......................................................................... 5 
2.2 As Partes de um Conflito ...................................................................... 6 
2.3 A Natureza dos Conflitos ...................................................................... 7 
3 A AGRESSIVIDADE COMO TENDÊNCIA DE RESOLUÇÃO DE 
CONFLITOS INTERPESSOAIS .................................................................................. 8 
3.1 Variáveis desencadeadoras ................................................................. 9 
3.2 Aspectos Cognitivos e Afetivos Envolvidos na Agressão ................... 11 
3.3 Atitudes e valores ............................................................................... 12 
3.4 Condutas não Agressivas e Resolução de Conflitos Interpessoais .... 14 
4 NEGOCIAÇÃO E O MÉTODO DE HARVARD ......................................... 15 
4.1 Os 4 elementos do método negociação de Harvard .......................... 16 
4.2 O Melhor Alternativa Para um Acordo Negociado .............................. 18 
5 O ESTADO E A RESOLUÇÃO DE CONFLITOS ...................................... 19 
6 ACESSO À JUSTIÇA ................................................................................ 22 
7 MEIOS CONSENSUAIS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS ........................ 24 
7.1 Classificação e diferenças .................................................................. 25 
8 IDENTIFICAÇÃO DOS MEIOS CONSENSUAIS DE RESOLUÇÃO DE 
CONFLITOS COMO PRÁTICAS DEMOCRÁTICAS ................................................. 27 
9 OS MEIOS DE SOLUÇÃO DE LITÍGIOS .................................................. 29 
10 MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO............................................................... 32 
11 A ARBITRAGEM .................................................................................... 35 
12 POLÍTICA PÚBLICA DE TRATAMENTO ADEQUADO DE CONFLITOS
 ................................................................................................................37 
 
2 
 
13 A RESOLUÇÃO DE CONFLITOS E O Código de Processo Civil de 2015
 ................................................................................................................38 
13.1 A conciliação e mediação como pacificação de conflitos ................ 40 
14 AS MEDIDAS INCENTIVADAS PELO CNJ E AS POSITIVADAS 
PELO NOVO CPC ..................................................................................................... 41 
15 A RESOLUÇÃO DOS CONFLITOS POR MEIO ELETRÔNICO............ 43 
16 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 48 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
 
 
 O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um 
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
 
 Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora 
que lhe convier para isso. 
 
 A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
2 CONFLITO E NEGOCIAÇÃO 
 
Fonte: gp4us.com.br 
O homem é um ser conflitivo por natureza. As relações interpessoais, já 
carregam consigo a existência de conflitos. 
Na grande maioria das vezes, as negociações surgem para buscar a resolução 
de conflitos existentes. Mas o que vem a ser um conflito? Um conflito consiste em um 
embate, uma discussão, uma luta; pode ainda simbolizar elementos de oposição em 
um jogo de forças, mas ele é, primeiramente, uma relação interpessoal, que consiste 
em uma forma de interação social. 
O conflito surge, geralmente, de questões de discordância de objetivos, de 
opiniões ou mesmo por oposição e incompatibilidade entre as partes envolvidas no 
mesmo. 
Todavia, há que se ressaltar que um conflito é considerado como tal, a partir 
do momento em que uma das partes desenvolve uma ação efetiva sobre a outra, 
tornando-se necessária a sua reação, ou seja, o “conflito só existe a partir de um 
movimento de ação e reação”. (SILVA, 2006. p.16 apud Costa, 2015, p. 4). 
 
5 
 
Ainda especificando o que é um conflito, vale destacar Hamptom (1991, p.126, 
apud Costa, 2015, p. 4) que diz que “conflito é o processo que começa quando uma 
parte percebe que a outra parte frustrou ou vai frustrar seus interesses”. 
2.1 A origem dos Conflitos 
Uma forte característica da origem dos conflitos é a existência de grupos ou 
mesmo de partes oponentes. A qual vejamos: 
As organizações constituem-se em verdadeiras arenas para conflitos 
individuais ou grupais, nos quais os participantes lutam por recursos 
limitados, possibilidades de progresso na carreira, privilégios e outras 
recompensas que possam ser proporcionadas pela empresa. Os conflitos 
entre grupos são muito comuns, tanto dentro quanto fora das organizações. 
Segundo Hampton, (1991, p.297) o conflito pode surgir da experiência de 
frustração de uma ou ambas as partes, de sua incapacidade de atingir uma 
ou mais metas. A seguir, a parte frustrada interpreta a situação projetando 
suas consequências, passando a comportasse à luz da situação imaginada. 
A outra parte envolvida reage a este comportamento, com base em suas 
próprias percepções e conceituações da situação, que podem ser bem 
diferentes daquelas imaginadas pela outra parte. Tem-se então, os resultados 
do conflito, que podem ser de natureza completamente diversa para cada um 
dos negociadores, ou seja, um ciclo de frustrações ocorre em virtude da má 
interpretação ou incompreensão dos interesses ou necessidades das partes, 
fazendo com que cada um interprete a situação a seu modo. (MARTINELLI 
E ALMEIDA, p.47, apud Costa, 2015, p. 5). 
Podemos então afirmar que, um conflito irá surgira quando das divergências 
e/ou metas entre grupos ou partes diferentes, existindo a necessidade de uma ação e 
reação, ou seja, se a parte A possui um objetivo diferente da parte B, mas a parte B 
não se sentir afetada, nesse caso não haverá um conflito entre eles. 
 
Sendo assim, as causas das origens dos conflitos podem ser: 
- Competição por recursos limitados; 
- Choque de valores e culturas diferentes; 
- Definir responsabilidades indesejáveis a quem irá executá-las; 
- Mudanças que geram medo e desconfiança. 
 
 
6 
 
2.2 As Partes de um Conflito 
Costa adverte que para se reconhecer a melhor forma de resolução, o objeto 
central do conflito e planejar a negociação, é importante caracterizar as partes 
envolvidas no mesmo. 
De acordo com Silva (2005, p.21, apud Costa, 2015, p.6), as partes de um 
conflito são: 
 
Primeira Parte: é aquela que inicia um conflito e o institui em termos legais. 
 
Segunda Parte: é a oponente da primeira. Consiste na parte afetada. É a 
segunda parte que estabelece a existência de um conflito, ao assumir suas 
implicações, considerando as ações da primeira parte. 
 
Terceira Parte: são aqueles que estão fora do processo de formação do 
conflito entre a primeirae a segunda parte, mas que de alguma forma estarão 
envolvidos em algum momento no processo de resolução de conflitos. Geralmente 
consistem em gestores, ou árbitros e mediadores. 
 
Parte Intermediária Direta: faz parte do conflito e muitas vezes constituem a 
equipe técnica, ou seja, é composta por aqueles que buscam e geram as informações 
para constituir a resolução dos conflitos. 
 
Parte Intermediária Indireta: não faz parte do conflito, mas é afetada 
indiretamente através dos resultados da negociação. 
 
Temos como exemplo uma empresa que produziu um sofisticado software 
destinado ao gerenciamento de grandes eventos e congressos. Depois de efetuada a 
venda a um cliente, o mesmo reclamou de mau funcionamento do produto. 
Todavia, a empresa antes de colocar o produto a venda, constatou que o 
mesmo não possuía as falhas que o cliente estava alegando ter. O gerente de 
desenvolvimento do produto irá testá-lo novamente e entrar em contato com o cliente 
para resolverem o assunto. 
 
 
7 
 
Objeto do Conflito: Falha no software para eventos. 
Primeira Parte: Empresa que desenvolveu o software. 
Segunda Parte: Cliente que adquiriu o produto. 
Parte Intermediária Direta: O gerente do produto que irá buscar a causa e a 
solução do conflito. 
Parte Intermediária Indireta: Os funcionários da empresa que desenvolveram o 
software e os participantes do evento no qual o produto deveria estar funcionando. 
 
2.3 A Natureza dos Conflitos 
Inicialmente é importante destacar que a natureza dos conflitos é diferente de 
sua origem, isso porque um conflito se origina da contraposição de objetivos, ideais 
ou metas. A natureza consiste em definir quais seriam esses objetivos ou metas, que 
geraram o conflito. 
Costa, 2015, assim define a natureza dos conflitos: 
 
- Quanto aos Comportamentos: observe que há influência direta do 
comportamento das partes que geram um conflito, podendo se estabelecer através do 
comportamento os conflitos de interesse, os conflitos de opinião e até mesmo falhas 
comportamentais conflitantes (como quando alguém extremamente agitado fica 
irritado com o calmo comportamento de seu oponente); 
- Quanto aos Contrários: os contrários simbolizam diretamente os conflitos 
individuais, hierárquicos, raciais; entre instituições e organizações, estabelecendo por 
vezes uma relação de força e poder entre as partes; 
- Quanto aos Momentos de Ação: os momentos de ação são gerados 
diretamente sobre os fatos, as causas, os meios e os valores que predominam como 
objetivos entre as partes. 
 
O conflito, portanto, o resultado das diferenças de ações, atitudes, crenças, 
pensamentos e ainda da diversidade de sistemas e estruturas sociais. 
 
 
 
8 
 
3 A AGRESSIVIDADE COMO TENDÊNCIA DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS 
INTERPESSOAIS 
 
Fonte: targetteal.com 
Conforme atesta Leme, 2004, p.368, a agressividade é a tendência de 
resolução de conflitos interpessoais mais estudada na literatura, provavelmente por 
envolver maior risco para os envolvidos nos possíveis confrontos que enseja. É, ainda, 
a que mais apresenta dificuldades como objeto de investigação porque, o 
comportamento dela resultante, a agressão, é uma conduta que, além de episódica, 
não é facilmente definível, assumindo diferentes formas de manifestação, cuja 
evolução é também variável, e também, porque está sujeita à influência de variáveis, 
tanto biológicas como sociais. 
No que diz respeito ao problema da definição, pode-se constatar que vários 
tipos de comportamentos são considerados agressivos, variando do exemplo extremo, 
ataque físico a formas mais veladas, como a maledicência. O que pode ser identificado 
de comum nestes comportamentos é a intenção de causar prejuízo ao outro, aliada à 
 
9 
 
expectativa de que tal objetivo será atingido (Edmunds & Kendrick, 1980; Geen, 1990; 
Loeber & Stouthamer-Loeber, 1998, apud Leme 2004, p.368). 
 
Entretanto, também a atribuição de intencionalidade pode apresentar 
problemas como critério definidor, por estar sujeita à contaminação do juízo moral do 
observador (Tremblay, 2000, apud Leme 2004, p.368). A frustração intensa, por 
exemplo, pode desencadear comportamento muito violento que, aparentemente, não 
é motivado pelo desejo de causar dano. Outro aspecto que deve ser lembrado, ligado, 
diretamente, à questão da intencionalidade envolvida na agressão, é que, muitas 
vezes, um ato não é julgado agressivo, pois não provoca danos, como, por exemplo, 
quando uma criança pequena, cuja força ainda é insignificante, joga um objeto em 
alguém. 
 
3.1 Variáveis desencadeadoras 
 
Com relação às variáveis que influem sobre o surgimento e manutenção da 
agressão, verificamos que, apesar das indicações da existência de um componente 
biológico, de função adaptativa, podem ser apontados muitos outros fatores que 
intervêm sobre o processo: variáveis pessoais como personalidade, experiências 
anteriores, expectativas socioculturais, que formam o potencial individual de agressão, 
dirigindo o comportamento. Dentre estas últimas, variáveis como cultura familiar e 
exposição à mídia violenta também influem, no sentido de seu incremento ou 
diminuição, por meio da aprendizagem (Geen, 1990, apud Leme 2004, p.368). Por 
outro lado, intervêm também no processo variáveis situacionais, como frustração, 
ataque, conflito, violações da norma e elementos ambientais estressantes, como 
calor, ruído, que influem no sentido de ativar o indivíduo, predispondo-o para o 
comportamento agressivo. Lemos ressalta, porém, que este comportamento é 
desencadeado após um processo de avaliação complexo, no qual interagem as 
variáveis pessoais e situacionais citadas, que aumentam ou diminuem o nível de 
ativação necessário para impulsionar a conduta agressiva. 
 
10 
 
Verifica-se que a exposição à violência tem como consequência o aumento da 
probabilidade de que sejam mantidos ativos na memória scripts, também violentos, 
redundando, possivelmente, em uma maior ativação, que pode influir sobre o 
processo de avaliação de situações complexas, novas ou ambíguas. Vez que todas 
as emoções passam por um processo de avaliação cognitiva, bastante complexo e 
universal, das várias dimensões envolvidas na situação desencadeadora. Essa 
avaliação inclui valência, isto é, se o evento eliciador é positivo ou negativo, análise 
da agência causadora da emoção, intenção da mesma, adequação às normas sociais 
do evento eliciador e da própria emoção resultante, grau de incerteza sobre as 
consequências envolvidas na situação, grau de controle, e, finalmente, esforço a ser 
despendido no lidar com a situação. 
Importante destacar que a avaliação é dinâmica, ou seja, à medida que 
transcorre o tempo em que novas informações são incorporadas, as dimensões são 
reavaliadas, reordenadas, resultando, às vezes, em mudança na própria emoção 
experimentada. Embora estas dimensões sejam provavelmente universais, na medida 
em que fazem parte de situações comuns à vida de qualquer indivíduo, em qualquer 
sociedade, como ataque, perda, surpresa etc., elas, também variam, no sentido em 
que cada cultura estabelece normas sobre o que consiste em novidade, ameaça, etc. 
Outro aspecto importante diz respeito à incorporação gradual de tais normas 
no sistema de crenças e valores do indivíduo, à medida em que se processa a sua 
socialização em uma dada cultura (Ellsworth, 1994, apud Leme 2004, p.369). A 
tendência do sistema cognitivo é a organização, abstração e retenção destas 
experiências recorrentes em esquemas de situações típicas, os chamados scripts, 
muitas vezes como instanciação da própria norma. 
É neste sentido, portanto, que a exposição à violência representa grande risco, 
principalmente no início da vida: os esquemas de interação social que estariam se 
formando e organizando nesta fase, para a solução de problemas do tipo conflito 
interpessoal, teriam maior probabilidade de ser de naturezamais violenta também, 
ocasionado distorções na interpretação de intenções, estreitando o espectro de 
opções de resolução, etc. 
 
 
11 
 
3.2 Aspectos Cognitivos e Afetivos Envolvidos na Agressão 
Uma outra polêmica entre os pesquisadores e de interesse para a presente 
pesquisa é se as diferentes formas de agressão, furtiva e explícita, partilham as 
mesmas causas. No que tange à afetividade, verifica-se o envolvimento de emoções 
diferentes: a raiva geralmente acompanha a explícita, enquanto a furtiva é 
acompanhada por afetos mais neutros, exceto pelo dano à propriedade alheia, que é 
voltado para prejudicar o outro (Loeber & Stouthamer-Loeber, 1998, apud Leme 2004, 
p.369). 
Acerca dos aspectos cognitivos, observam-se diferenças marcantes: na 
explícita é verificada dificuldade em encontrar soluções não agressivas para conflitos 
interpessoais e um viés nas inferências sobre as intenções alheias (Astor, 1994; 
Deluty, 1995; Loeber & Hay, 1997, apud Leme 2004, p.369). Os aspectos cognitivos 
dos perpetradores da agressão furtiva são menos conhecidos, mas supõe-se que as 
dificuldades mencionadas não se aplicam. Pelo contrário, este tipo de agressão exige 
habilidades cognitivas mais sofisticadas, como planejamento, preocupação com 
consumo, propriedade e mentira para escapar à punição. 
Leme afirma que alguns estudos localizaram causas na família para este tipo 
de transgressão: castigos físicos muito severos induzem a um comportamento furtivo, 
mais típico da agressão como roubo etc., assim como ausência de explicitação de 
valores como honestidade e respeito à propriedade alheia por parte dos pais no 
processo de socialização. 
Por outro lado, punições sofridas na infância, tão severas que caracterizam 
violência doméstica, aumentam as chances das vítimas se tornarem futuros 
agressores de seus familiares (Azevedo & Guerra, 1995, apud Leme 2004, p.369). 
A posição familiar também é importante, pois crianças com irmãos mais 
velhos são mais desenvolvidos na habilidade cognitiva social, a chamada 
teoria da mente, do que filhos únicos, e inferem melhor as intenções alheias. 
Outro fator a ser destacado é o gênero, nem sempre considerado por todos 
pesquisadores como determinante. Talvez, mais importante que esta 
questão, seja a suposição decorrente de que meninos e meninas seguem a 
mesma trajetória. Ao que tudo indica, fatores ligados à socialização têm um 
peso não desprezível, pois não se constatou diferença significativa quanto a 
este aspecto na primeira infância, o que se aplica, também, a outras emoções 
(Ellsworth, 1994, apud Leme 2004, p.369). 
No período pré-escolar, já começam a se manifestar, uma vez que os meninos 
começam a mostrar maior tendência do que meninas a agredir fisicamente em 
 
12 
 
determinados contextos. Além disso, as meninas, quando transgridem neste aspecto, 
iniciam mais tarde, geralmente na adolescência. 
3.3 Atitudes e valores 
Muito se tem divergido com relação à associação da agressão a atitudes 
positivas frente à violência. Ao que tudo indica, explica Leme, a associação entre 
atitudes favoráveis à violência e agressão aumenta com a idade, assim como a 
estabilidade, e também, a previsibilidade mútua, da atitude prever comportamento, e 
este último prever a primeira. 
Com relação ao aspecto da transferência do comportamento, pode se verificar 
a variação de acordo com o contexto: nem todos aqueles que agridem em casa irão 
agredir na escola, e vice-versa. É possível, porém, generalizar de um contexto para 
outro, sendo mais provável de casa para a escola do que o inverso. Quanto à 
interveniência destes fatores sobre a interrupção do comportamento agressivo, e 
também, sobre a sua estimulação, verifica-se que esta é uma área negligenciada 
pelas pesquisas, que têm se concentrado mais na delinquência (Loeber & Hay, 1997, 
apud Leme 2004, p.369). As principais causas apontadas para a desistência são a 
construção de ligações fortes com instituições adultas como família, trabalho e 
comunidade. Ao que tudo indica, a desistência ocorre na adolescência e está 
diretamente relacionada à gravidade dos atos cometidos, sendo ainda, função da 
percepção do perpetrador das consequências do seu ato e da probabilidade de 
ocorrência de sanção social para os mesmos. Esta percepção é fruto de uma mudança 
do poder das sanções externas para a transgressão, como, por exemplo, disciplina 
dos pais, para uma regulação interna do comportamento. Ë muito provável que a 
habilidade de regular emoções negativas, como raiva e impaciência, desempenhe um 
papel importante na interrupção da agressão e da violência. A desistência é, 
possivelmente, resultado da adoção de valores e padrões de conduta não violentos. 
Tal mudança precisa, todavia, ser mais investigada, principalmente entre jovens do 
sexo masculino, para verificar se adotaram mesmo valores contrários à violência, ou 
se simplesmente, passaram a praticar violência doméstica contra a esposa e os filhos 
para uma inserção social no mundo do trabalho e da comunidade. Concluindo, os 
fatores protetores e de risco foram bastante investigados, mas poucos resultados 
 
13 
 
sólidos encontrados, exceto que as meninas são mais vulneráveis a problemas 
familiares graves. 
Finalmente, um resultado importante relacionado ao aspecto anterior: a 
agressividade responde bem a programas de intervenção, que infelizmente, são 
realizados mais frequentemente na idade escolar, quando a agressão já pode ter 
surgido e se instalado, sem que a criança tenha aprendido a regulação da mesma 
(Tremblay, 2000, apud Leme 2004, p.369). 
Assim resume Leme, acerca do que foi examinado acima: a agressão é um 
comportamento que apresenta dificuldades para ser investigado em função: 
1) da grande amplitude de condutas consideradas agressivas manifestas e 
encobertas; 
2) da dependência de critérios subjetivos, como os valores de quem observa o 
comportamento e emite um juízo; 
3) é causado por vários fatores, cujo peso varia de acordo com a idade e gênero 
dos envolvidos; 
4) seu surgimento e evolução também variam. 
Porém, um dado animador neste cenário complexo é a sua permeabilidade à 
aprendizagem, e consequentemente, à intervenção. 
 
A despeito destas dificuldades, algumas hipóteses podem ser levantadas a 
partir do que foi examinado acima: 
1) é provável que se encontre diferença nesta tendência de resolução de 
conflitos, ligada a gênero, dado que as pesquisas constatam que a agressividade é 
mais comum entre meninos do que entre meninas; 
2) é também provável, que em função da evolução ordenada, independente do 
tipo e da trajetória, sejam encontrados índices mais baixos deste tipo de tendência 
nas faixas etárias anteriores aos 10 anos; 
3) é razoável esperar que as tendências agressivas decaiam a partir dos 10 
anos, após ter atingido ali o seu ápice, pela incorporação de atitudes e valores 
contrários à violência que passarão a regular a conduta. 
 
14 
 
3.4 Condutas não Agressivas e Resolução de Conflitos Interpessoais 
Como já observado, verifica-se, na revisão da literatura, maior atenção ao 
comportamento agressivo por parte das pesquisas, do que as formas alternativas e 
não violentas de resolução de conflitos interpessoais: a submissão e a assertividade. 
O comportamento assertivo caracteriza-se, como o agressivo, pelo 
enfrentamento da situação de conflito, evidenciado em comportamentos explícitos de 
defesa dos próprios direitos e opiniões, sem, porém, apelar para qualquer forma de 
coerção, como violência ou desrespeito ao direito e opinião alheios (Deluty, 1981, 
apud Leme 2004, p.371). Além disso, envolve também expressão de pensamentos e 
sentimentos positivos, como, por exemplo, elogiar e concordar com opiniões dos 
outros. Neste sentido, é o mais desejável dos comportamentos em situações de 
conflito, embora nem sempre seja o mais aconselhável, como, por exemplo, em uma 
situação que envolverisco físico, ou quando ceder pode representar o fortalecimento 
de um vínculo. 
O comportamento submisso envolve, assim como o assertivo, a consideração 
dos direitos e sentimentos dos outros, só que em detrimento dos próprios. Caracteriza-
se, assim, pelo não enfrentamento de uma situação, por meio de fuga ou esquiva da 
mesma. É muitas vezes acompanhado pela negação da ocorrência de um conflito, 
valendo-se de argumentos defensivos como percepção de ausência de dano, de 
ameaça à autoestima, etc. O comportamento submisso é mais frequente que o 
assertivo, por ser visto, erroneamente, como mais adaptativo, ou desejável 
socialmente, por não envolver confronto (Del Prette & Del Prette, 2002, apud Leme 
2004, p.371). Deve ser lembrado, porém, que o aspecto de não enfrentamento da 
situação nem sempre é motivado pelo que é considerado socialmente desejável. 
Muitas vezes, o comportamento submisso é motivado, simplesmente, pelo medo do 
confronto, constituindo, assim, o verso da agressividade (Deluty, 1979, apud Leme 
2004, p.371). Em outras palavras, muitos indivíduos se comportariam de modo 
agressivo em muitas situações, caso sentissem condições de obter sucesso com isso. 
É interessante observar a este respeito, que desde cedo, aos 5 anos em média, 
crianças são capazes de detectar o poder inibidor do sentimento de medo, pois 
crianças agressivas são percebidas por seus pares não só como agressivas, mas 
também como mais medrosas do que outras (Morais & cols., 2001, apud Leme 2004, 
p.371). 
 
15 
 
Inicialmente acreditava-se, que, tanto os comportamentos agressivos como os 
submissos, seriam mais frequentes do que os assertivos, pela inabilidade de muitas 
crianças em avaliar a inadequação de um comportamento naquela situação. Porém, 
as pesquisas têm revelado que crianças agressivas e submissas sabem que seus 
comportamentos são inadequados na resolução de conflitos interpessoais, entretanto, 
têm dificuldade em considerar respostas não agressivas ou não submissas para 
resolver este tipo de problema, como se as soluções possíveis se resumissem a luta 
ou fuga, sem outras alternativas entre os dois extremos. Além disso, verificou-se que, 
mesmo quando são capazes de pensar nestas alternativas, algumas acham que se 
beneficiarão mais apresentando um comportamento agressivo ou submisso 
(Deluty,1995, apud Leme 2004, p.371). 
 
4 NEGOCIAÇÃO E O MÉTODO DE HARVARD 
 
Fonte: widoox.com.br 
Cada negociação é própria, isto é, as pessoas e interesses envolvidos podem 
ser diferentes ou o contexto é diferente ou os objetivos são diferentes ou, até o seu 
 
16 
 
próprio lugar, no espaço e no tempo, é diferente. Entretanto, os elementos básicos 
não mudam. 
Desta feita, querer generalizar e padronizar o processo de negociação é, em 
primeira instância, uma temeridade, no entanto, ter uma metodologia, ou várias, para 
desenvolver o processo não só é saudável como indispensável. Existem vários 
métodos e enfoques para conduzir e facilitar processos de negociação. Um dos mais 
famosos é o Método de Harvard, divulgado no livro “Getting a Yes”, ou, com o título 
em português, “Como Chegar ao Sim”, de Roger Fisher, William Ury e Bruce Patton. 
No método desenvolvido no programa de negociação de Harvard tem como 
premissa de que a negociação deve ser baseada em princípios, onde cada negociador 
deve focar no núcleo da questão e nos critérios objetivos e procurar soluções que 
atendam às necessidades todas as partes envolvidas. Se baseia tal método em quatro 
pontos fundamentais: 
 
1 – Separe as pessoas do problema; 
2 – Concentre-se em interesses, não em posições; 
3 – Invente múltiplas opções, em busca de ganhos mútuos, antes de decidir; 
4 – Insista em que o resultado tenha por base algum critério objetivo. 
 
4.1 Os 4 elementos do método negociação de Harvard 
Gouvêa Neto, 2017, assim explica os quatro pontos relevantes desta 
negociação: 
 
“Separar as pessoas do problema. ” 
 
Quando temos um problema nossas emoções nos levam a ver o outro como 
parte do problema e não como uma parte em uma negociação na qual devemos 
buscar a colaboração. Por isso, os autores defendem que é importante manter o foco 
nas questões que devem ser tratadas e não nas pessoas envolvidas. Dessa forma, 
podemos ver o outro como um colaborador na busca de uma solução. Em uma 
mediação, o mediador deve encorajar as partes tratarem do problema e criar um 
https://freitasgouvea.jusbrasil.com.br/
 
17 
 
ambiente onde as pessoas possam expressar os seus sentimentos. Recomenda-se 
ser duro com relação ao problema e afável com as pessoas para que fique claro que 
o problema não são os indivíduos nem as possíveis diferenças entre eles, mas sim a 
questão que deve ser resolvida com a participação de ambos. 
 
“Concentre-se em interesses, não em posições. ” 
 
As partes devem superar a falha de se concentrar nas posições, pois o objetivo 
da negociação é satisfazer os interesses dos envolvidos. As posições obscurecem os 
reais interesses das pessoas e por isso devem ser deixadas de lado ao longo da 
negociação. O conflito em uma negociação não é de posições, mas de necessidades, 
desejos, preocupações e temores. São estes que devem ser explorados e explicitados 
em um procedimento de mediação. Provavelmente, se descobrirá que existem muitos 
interesses em comum e compatíveis. Uma boa dica para descobrir os interesses por 
trás das posições é utilizar a pergunta “Por que? ”. A partir da resposta é possível 
descobrir os verdadeiros motivos para a pessoa ter adotado determinada posição. Da 
mesma forma, é importante transmitir aos outros nossos interesses com relação ao 
problema. A escuta ativa exerce um papel importante neste ponto. 
 
“Invente múltiplas opções, em busca de ganhos mútuos, antes de 
decidir”. 
 
Para poder chegar em um acordo é necessário criar diferentes opções e usar 
a nossa criatividade para criá-las. Os obstáculos para fazer isso de uma forma 
eficiente podem ser o julgamento prematuro, a busca por uma resposta única, a 
pressuposição de um bolo fixo e pensar que os problemas do outro lado são de 
responsabilidade deles. Assim, para inventar opções criativas, os autores 
recomendam: separar o ato de inventar opções de julgá-las, devemos primeiro buscar 
todas opções possíveis sem inicialmente avaliá-las (o uso de um brainstorm pode 
ajudar nisso); buscar ampliar o número de opções possíveis e para isso não se deve 
achar que existe apenas uma resposta para o problema (consultar outras pessoas ou 
especialistas podem contribuir para gerar outras opções); buscar obter ganhos 
mútuos, por meio da identificação de interesses compartilhados e a harmonização de 
 
18 
 
interesses discrepantes (neste ponto pode ajudar fazer um rol de todos os interesses 
e necessidades apresentados pelas pessoas para clarificar quais são os compatíveis); 
e facilitar a decisão da outra parte criando opções que levem em conta as 
necessidades deles (um exercício de se colocar no lugar do outro pode contribuir para 
isso). 
 
“Insista em que o resultado tenha por base algum critério objetivo”. 
 
É necessário buscar critérios objetivos para que a solução possa ser 
considerada justa pelas partes. Utilizar algum padrão aceitável para ambas as partes 
facilita na escolha da solução. Pode-se usar, por exemplo, uma tabela de preço, a 
legislação, os usos e costumes, a avaliação de um perito, etc. O importante é que os 
critérios sejam sempre objeto de debate, argumentados e contra argumentados, e não 
é necessário que apenas um seja usado, mas eles podem contribuir muito na hora de 
se chegar a um acordo. 
 
4.2 O Melhor Alternativa Para um Acordo Negociado 
Os autores também argumentam que muitas vezes não é possível negociar e 
por isso sempre é importante ter uma alternativa à negociação. É o que eles chamam 
de BATNA ou MAPAN, a melhor alternativa para um acordo negociado. 
Dessa forma, se devesempre conhecer o nosso BATNA, ou seja, quais são 
as alternativas existentes no caso da negociação fracassar, não ser possível que 
nossos interesses sejam atendidos ou até mesmo não existir a possibilidade de se 
estabelecer uma negociação. Descobrindo o BATNA podemos saber até que ponto 
podemos ir em uma negociação e o que acontecerá caso ela não chegue à um 
resultado satisfatório. 
Jamais se deve entrar em uma negociação sem conhecer as todas as 
alternativas. A razão da negociação é buscar um resultado melhor do que se não 
houvesse ela. Para conhecer e melhorar as alternativas, os autores recomendam 
inventar uma lista de ações que podem ser adotadas caso não se chegue em um 
acordo, aperfeiçoar algumas dessas ideias convertendo-as em alternativas práticas e 
 
19 
 
selecionar provisoriamente a que seja melhor (para saber o ponto de retirada da 
negociação). 
Também é se faz necessário conhecer qual é o BATNA da outra parte, visto 
que sabendo qual é a melhor alternativa deles se pode prever com eficiência o que 
esperar da negociação. Igualmente, em uma negociação podemos ajudar a outra 
parte avaliar melhor as suas alternativas, pois muitas vezes elas são superestimadas. 
Na mediação cabe ao mediador ajudar as pessoas descobrirem, aperfeiçoarem e 
avaliarem o seu BATNA (É como pintar as linhas em um campo de futebol para saber 
onde que o jogo pode ser jogado). 
 
5 O ESTADO E A RESOLUÇÃO DE CONFLITOS 
 
Fonte: cnbsp.org.br 
Ao garantir o a cesso à justiça, na Constituição Federal de 1988, o Estado, por 
meio do Poder Judiciário, avocou para si a responsabilidade de resolver os conflitos 
da sociedade, aplicando o direito com seu poder de mando na busca da justiça (CA 
CHAPUZ; SUTER, 2015, apud GIMENEZ e BERNASCONI, 2016, p. 61). 
 
20 
 
Paralelamente, a sociedade evolui com inúmeras transformações e o direito 
deve acompanhar os anseios desta coletividade em constantes mudanças, buscando 
a justiça social e preservando a paz como arrimo de um Estado Democrático de 
Direito, afinal a busca pela paz social é a razão de existência do Poder Judiciário 
(BACELLAR, 2004, apud GIMENEZ e BERNASCONI, 2016, p. 61). 
Entretanto é notória a morosidade do Estado-Juiz para efetivar a tutela 
jurisdicional e isso causa, a cada dia, mais angústias e sofrimentos para as pessoas 
que estão à mercê de eficaz e célere solução de suas demandas. O excesso de 
formalismos dos processos judiciais, além da grande variedade de vias de 
impugnação às decisões proferidas durante o seu curso, são algumas causas da 
lentidão observada na resolução dos conflitos entregues ao judiciário. 
A dificuldade do Estado na administração da Justiça é foco de estudo de 
doutrinadores, juristas e sociólogos. Na seara das ciências sociais, Tatiana Robles 
(2009, p.22, apud GIMENEZ e BERNASCONI, 2016, p. 61) leciona que: 
O direito, que deveria assegurar as garantias mínimas da população e 
promover a pacificação dos conflitos sociais, não consegue por causa de um 
Judiciário vagaroso. Atravessamos, atualmente, uma profunda crise que gera 
a desestruturação do Estado e da sociedade. O Poder Judiciário acaba 
acumulando processos, gastando o dinheiro público e não solucionando, de 
maneira eficaz, as demandas sociais. 
 
Assegurou ainda a autora que “a falta de agilidade e ineficiência do Judiciário 
põem em risco o acesso à Justiça, assegurado pela Constituição”, fazendo com que 
o Estado não consiga atender às necessidades da sociedade, não cumprindo com o 
seu papel que é promover a Justiça. 
Também se faz necessário pontuar que os hipossuficientes são os que mais 
sofrem com as consequências da longa tramitação dos processos, porque além de 
aumentar custos para as partes a demora pode pressionar os economicamente 
limitados a trocarem o ideal de suas causas por acordos com valores abaixo do que 
teriam direito. 
A Convenção Europeia para Proteção dos Direitos Humanos e Liberdades 
Fundamentais reconhece explicitamente, no artigo 6º, parágrafo 1º, que a 
Justiça que não cumpre suas funções dentro de “um prazo razoável” é, para 
muitas pessoas, uma Justiça inacessível. (Mauro Cappelletti e Bryant 
Garth1988, p. 20-21, apud GIMENEZ e BERNASCONI, 2016, p. 62) 
 
 
21 
 
Jasson Ayres Torres (2005, apud GIMENEZ e BERNASCONI, 2016, p. 62), 
neste mesmo raciocínio, ensina que a justiça, ao oferecer a resolução tardia para a 
demanda, acaba por gerar problemas irreparáveis às partes envolvidas, atingindo o 
âmago do indivíduo, e que por isso seria correto afirmar que não ter acesso ao Poder 
Judiciário ou tê-lo e não alcançar com a agilidade desejada a reposição do direito 
pleiteado e no tempo exigido, representa a própria negação da justiça. 
Neste caminho, o Poder Judiciário não consegue suprir todos os anseios da 
sociedade litigante e consequentemente não restabelece a devida relação social entre 
as partes envolvidas no conflito, mas sim, a imposição de um direito por meio das 
sentenças proferidas pelos juízes. Joel Dias Figueira Junior (1999, p.129, apud 
GIMENEZ e BERNASCONI, 2016, p. 62), assevera: 
A sentença ou a decisão arbitral que acolhe ou rejeita o pedido formulado 
inicialmente pelo postulante não solucionam o conflito sociológico, mas 
simplesmente compõem a lide processual que, por sua vez, significa nada 
mais do que a parcela do litígio que foi levado ao conhecimento do juiz ou 
árbitro. 
Não há, portanto, um cuidado com a efetiva paz social, mas sim o equilíbrio 
jurídico que nem sempre estarão lado a lado, pois é sabido que há um número 
acentuado de interposição de recursos, além de um número exagerado de sentenças 
que não são cumpridas voluntariamente. 
Consciente do problema de alta complexidade o próprio Poder Judiciário 
Brasileiro procura, há tempos, novas alternativas para obtenção de respostas, 
procedendo à legitimação de meios consensuais de resolução de conflitos para 
viabilizar o acesso à justiça, especialmente, a mediação e a conciliação. 
 
 
22 
 
6 ACESSO À JUSTIÇA 
 
Fonte: guimaraes-adv.com/wp 
Hans Kelsen (1998, apud GIMENEZ e BERNASCONI, 2016, p. 62) ensina que 
a justiça se manifesta pela liberdade, paz, democracia e pela tolerância nas relações 
sociais. Assim sendo, o que torna a justiça algo inexplicável é o ser humano, uma vez 
que ela está diretamente ligada a ele. A delimitação do conceito de justiça é difícil ser 
feita. Discorre ainda KELSEN: “(...) não sei e não posso dizer o que significa justiça, 
a justiça absoluta, esse belo sonho da humanidade”. Para ele, a justiça é um conceito 
relativo, que cada um faz conforme sua concepção e seus princípios de vida. 
Nesse sentido, difícil se faz conceituar o acesso à justiça, já que possui relação 
com o sistema pelo qual pessoas, com direitos e deveres, querem reivindicá-los. 
Assim, num modelo ideal, esse sistema de justiça deve ser acessível a todos os 
cidadãos, fazendo o devido uso do mesmo para resolver seus litígios (CAPPELLETTI; 
GARTH, 1988, apud GIMENEZ e BERNASCONI, 2016, p. 63). 
Portanto, a disponibilização da solução para a resolução de conflitos deve se 
efetivar através do acesso à justiça: “sem acesso à justiça, é impossível gozar de 
qualquer outro direito – seja ele civil, político ou econômico – ou assegurar sua 
 
23 
 
realização” (Nlerum S. Okogbule, 2005, p.102, apud GIMENEZ e BERNASCONI, 
2016, p. 63). 
Assim, no processo democrático, o acesso à justiça se torna um exercício de 
cidadania. 
O cerne do acesso à justiça não é possibilitar que todos possam ir à corte, 
mas sim que a justiça possa ser realizada no contexto em que se inserem as 
partes, com a salvaguarda da imparcialidade da decisão e da igualdade 
efetiva das partes. (Fernanda Tartuce, 2015, p.77, apud GIMENEZ e 
BERNASCONI, 2016, p. 63) 
 
Com isso, denota-se que o propósito do acesso à justiça não é apenas 
conseguir ter acesso ao Poder Judiciário, mas principalmente, ter acesso à ordem 
jurídica justa, obtendoassim uma justiça substancial. 
Conclui-se, desta feita, que o acesso à justiça deve ser muito mais do que 
garantir o acesso à justiça propriamente dito, deve assegurar o acesso à resposta 
esperada e efetiva obtida por meio do Poder Judiciário, objetivado através da eleição 
de uma adequada resolução do litígio. 
Nesse mesmo viés de pensamento, Luiz Guilherme Marinoni (1999, p.28, apud 
GIMENEZ e BERNASCONI, 2016, p. 63) apregoa que: 
(...) quer dizer acesso a um processo justo, a garantia a uma justiça imparcial, 
que não só possibilite a participação efetiva e adequada das partes no 
processo jurisdicional, mas que também permita a efetividade da tutela dos 
direitos, consideradas as diferentes posições sociais e as específicas 
situações de direito substancial. Acesso à justiça significa, ainda, acesso à 
informação e à orientação jurídica e a todos os meios alternativos de 
composição de conflitos. 
Todavia, o acesso à justiça precisa ser aperfeiçoado, proporcionando aos 
cidadãos maior segurança nas demandas que necessitam chegar a uma solução. A 
utilização dos meios consensuais de resolução de conflitos como a mediação e a 
conciliação, podem ser meios eficazes de se efetivar o acesso à justiça e a paz social. 
 
 
24 
 
7 MEIOS CONSENSUAIS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS 
 
Fonte: estadodedireito.com.br 
O conflito faz parte do cotidiano das pessoas, devendo ser interpretado como 
algo necessário ao aprimoramento das relações interpessoais e sociais. Aponta-se 
assim a necessidade de que as controvérsias sejam resolvidas de forma adequada, 
permitindo um sentimento de satisfação e de contemplação às pessoas envolvidas. A 
importância da adequação do meio de solução ao tipo de conflito aponta para uma 
diversidade de mecanismos de solução como também para a percepção de que se 
faz necessário avaliar o tipo de conflito vivido para que se possa encontrar um 
mecanismo de solução que se encaixe à necessidade. 
Nesse contexto é importante se desapegar da visão de que só é possível a 
resolução de um conflito por um caminho exclusivo ou quando houver intervenção 
estatal e passar a construir a ideia de que um sistema de resolução de conflitos é 
eficiente quando conta com instituições e procedimentos que procuram prevenir e 
resolver controvérsias a partir das necessidades e dos interesses das partes. Bolzan 
de Morais (1999, p. 115, apud Sales e Rabelo, 2016) sobre o tema discorre: 
Trata-se da exigência de garantias e meios concretos rumo à democratização 
do acesso à Justiça – à solução de conflitos –, princípio basilar do Estado 
Democrático de Direito e, consequentemente, de um repensar os modos de 
 
25 
 
tratamento dos conflitos, com o objetivo de implementar mecanismos de 
pacificação social mais eficientes, que não desvirtuem os ideais de verdade 
e justiça social do processo, proporcionem a desobstrução da Justiça e 
assegurem as garantias sociais conquistadas. 
Esses mecanismos possíveis, entre os quais citam-se a negociação, a 
conciliação, a mediação e a arbitragem, colocam-se ao lado da tradicional jurisdição 
como uma opção que visa vincular o tipo de conflito ao meio de solução apropriado, 
se apresentando também como mecanismos de inclusão social, na medida em que 
as partes se tornam corresponsáveis pela construção de uma resolução mais 
adequada para suas contendas, e, ainda, de pacificação social, já que um dos 
objetivos dos mesmos é que as partes aprendam a administrar seus conflitos por meio 
do diálogo. 
 
7.1 Classificação e diferenças 
Sales e Rabelo lecionam que se pode estabelecer classificações e diferenças 
entre os meios de solução de conflitos sob várias perspectivas, entre as quais: 
referência à jurisdição e ao poder decisório. 
A partir da referência jurisdicional, em dois grupos: o judicial, também 
denominado modelo tradicional triádico, em que o conflito é dirimido por um juiz 
togado, que declara de quem é o Direito, e o extrajudicial, que pode ser subdividido 
em negociação, conciliação, mediação e arbitragem. Outros mecanismos ainda 
podem ser citados, apesar de não serem utilizados no Brasil; é o caso do mini-trial, 
avaliador neutro, med-arb. 
A classificação também pode-se dar sob dois outros enfoques, dependendo de 
quem tem poder decisório para a resolução do conflito: pode ser uma solução 
heterônoma, em que um terceiro decide a questão, enquadrando-se nesse enfoque a 
jurisdição e a arbitragem; ou autônoma (modelo consensual) em que as próprias 
partes procuram solucionar o conflito, não havendo, portanto, a delegação do poder 
de resposta, já que a mesma é construída. São exemplos desse modelo a negociação, 
conciliação e mediação, mecanismos que serão estudados neste artigo. 
No modelo triádico, o Direito propõe tradicionalmente o recurso ao Judiciário, 
estruturado como poder de Estado encarregado de dirimi-los. Para tanto, os sistemas 
 
26 
 
judiciários estatais, no interior do Estado de Direito, são os responsáveis pela 
pacificação social mediante imposição das soluções normativas previamente 
expostas por meio de uma estrutura normativa escalonada e hierarquizada, tal como 
pensada por Kelsen (1986). 
Dessa forma, está diante de um dos maiores paradigmas da sociedade atual: 
levar ao Judiciário todos os conflitos para que este defina quem tem razão, ou seja, a 
imposição da decisão como a única solução. Esse modelo é em grande parte 
caracterizado pela oposição de interesses entre as partes, geralmente identificadas 
como indivíduos isolados, e atribuição de um ganhador e um perdedor, em que um 
terceiro imparcial, representando o Estado, é chamado a dizer a quem pertence o 
Direito, impondo uma decisão – “paz” por meio de sua imposição. 
O crescimento da utilização desses mecanismos tem-se mostrado em diversos 
países, dadas a percepção da necessidade de adequação das soluções ao tipo de 
conflito, as dificuldades do formalismo judicial estatal e sua pouca aspiração diante do 
dinamismo exigido pelas diversas áreas do inter-relacionamento afetivo, profissional 
ou comercial entre pessoas físicas e jurídicas, e as consequências da má 
administração desses problemas. Nos mecanismos consensuais, há uma apropriação 
pelos envolvidos do poder de gerir os conflitos, caracterizando-se pela proximidade, 
oralidade, diminuição de custos e maior possibilidade de discussão de todos os 
aspectos inerentes ao conflito (não se restringindo apenas àqueles dados descritos 
nas peças processuais). Os mecanismos consensuais, assim, foram ganhando 
espaço nas sociedades em função, especialmente, da necessidade de se perceber o 
conflito, avaliá-lo e de encontrar caminhos para uma solução pacífica e construída, 
não apenas uma solução imposta. Buscou-se fortalecer os indivíduos que vivenciam 
o conflito, a partir do reconhecimento de suas responsabilidades como protagonistas 
desses processos de solução Os métodos alternativos/consensuais/ adequados de 
resolução de conflitos não foram criados ou aprimorados para substituir o modelo 
tradicional de utilização do sistema judicial, nem para descongestioná-lo (não 
havendo, inclusive, qualquer relação de hierarquia entre o Poder Judiciário e os 
mecanismos consensuais), mas sim para propiciar opções viáveis, alternativas para 
as pessoas que buscam soluções diferenciadas, específicas, e, talvez, especializadas 
para suas distintas inter-relações. A questão, portanto, é de adequação e não de 
 
27 
 
hierarquia. O fundamental é que cada mecanismo de solução seja adequado ao tipo 
de conflito, a depender da especialidade fática de cada questão. 
 
8 IDENTIFICAÇÃO DOS MEIOS CONSENSUAIS DE RESOLUÇÃO DE 
CONFLITOS COMO PRÁTICAS DEMOCRÁTICAS 
 
Fonte: genjuridico.com.br 
A natureza democrática desses institutos se demonstra através de suas 
características. A mediação, a conciliação e a negociação são procedimentos que 
procuram resolver os conflitos de maneira ativa, participativa, pacífica e inclusiva,por 
meio da valorização do diálogo, do respeito às partes, da formação de parcerias e 
com ativa participação e responsabilidade das pessoas. 
Os pontos de contato entre os institutos e a democracia se revelam nas 
questões como o acesso à justiça, participação, inclusão social, o exercício da 
cidadania, o respeito aos direitos fundamentais e o resgate da dignidade humana, 
pois, como afirma Dynair Daldegan (1999, p.114, apud Sales e Rabelo, 2016): 
 
28 
 
Seu fundamento básico tem sido o reconhecimento dos direitos humanos e 
da dignidade dos indivíduos, bem como a consciência da necessidade de 
participação democrática em todos os níveis, e a crença de que cada 
indivíduo pode e deve participar e ter o controle das decisões que dizem 
respeito a sua vida, a prevalência dos valores éticos que devem nortear os 
acordos particulares, e uma maior tolerância às diversidades 
caracterizadoras da cultura moderna-contemporânea. 
Esses institutos, por estimularem a participação das pessoas envolvidas numa 
contenda, considerando que elas sejam capazes de encontrar as soluções mais 
adequadas para o conflito, contribuem para uma nova visão de cidadania, na qual o 
indivíduo se torna protagonista e responsável por suas escolhas. 
Assim, existe uma estreita vinculação entre uma democracia de qualidade e a 
prática cidadã. Quanto mais democratizada a participação dos cidadãos nas decisões 
políticas, com a disponibilização tanto de mecanismos de intervenção popular 
(referendo, plebiscito, etc.) quanto de espaços e oportunidades para uma participação 
efetiva, com o respeito às diferenças e a procura da construção de consensos, maior 
será a noção de cidadania ali observada. 
Nesse sentido, a mediação, a conciliação e a negociação se aproximam da 
visão ampliada de prática cidadã, já que colaboram no sentido de conscientizar as 
pessoas com relação a seus direitos (participar, ser ouvido, opinar), assim como de 
seu papel como agente de transformação da realidade, como sujeito de um novo 
processo de transformação social. São, portanto, práticas que fomentam a 
democracia. 
O processo democrático, enquanto processo, construção, se encontra 
intimamente vinculado ao exercício da cidadania, se desenvolvendo de forma circular, 
na medida em que a efetividade da prática cidadã possibilita a construção de uma 
democracia forte, que, por sua vez, irá estimular a atuação de um maior número de 
cidadãos conscientes de sua tarefa, gerando uma vida democrática mais rica e intensa 
(FAZOULI, 2002, p. 63, apud Sales e Rabelo, 2016). 
Os referidos institutos são mecanismos que se encaixam nesse processo de 
construção democrática, no momento em que estimulam a participação ativa, 
consciente e responsável, e busca valorizar o ser humano, que, por sua vez, passa a 
se sentir incluído. São instrumentos que contribuem, então, para o fomento da 
cidadania e da participação, uma vez que possuem como um de seus requisitos 
fundamentais a participação ativa das pessoas na construção das alternativas e 
decisão da melhor solução do conflito. 
 
29 
 
Baseados na autonomia e partindo da premissa de que as pessoas são 
capazes de realizar uma comunicação eficaz, com foco no diálogo, a mediação e a 
conciliação incentivam o reconhecimento, pelas próprias partes, de seu papel de 
cidadão, não aquele identificado como povo destinatário das ações e prestações do 
Estado, mas do povo enquanto ator político e apto a tomar parte nos debates relativos 
aos assuntos tanto individuais quanto coletivos. 
 
9 OS MEIOS DE SOLUÇÃO DE LITÍGIOS 
 
Fonte: centrodemediadores.com 
Existem várias formas de solução de conflitos, sendo o método 
heterocompositivo da jurisdição a alternativa popularmente mais conhecida e 
difundida em nossa sociedade. Por ser o meio mais familiar e juntamente com a 
cultura do adversário impregnada no país, o Judiciário se vê abarrotado de processos. 
De acordo com o Relatório Justiça em Números 2017, pesquisa anual realizada pelo 
Conselho Nacional de Justiça que traz o detalhamento da estrutura e litigiosidade do 
Poder Judiciário, “O Poder Judiciário brasileiro finalizou o ano de 2016 com 79,7 
milhões de processos em tramitação”. A pesquisa mostra também que houve um 
 
30 
 
aumento no número de demandas judiciais em relação ao ano de 2015, corroborando 
com o costume litigioso do brasileiro. 
Neste contexto, afirma a Justiça em Números 2017 que, “Ingressaram 29,4 
milhões de processos, crescimento de 5,6% em relação a 2015”. Do mesmo modo 
indica que “Em média, a cada grupo de 100 mil habitantes, 12,907 mil ingressaram 
com uma ação judicial ao longo de 2016”. 
A quantidade exagerada de demandas judiciais no país faz com que o trâmite 
processual seja demasiadamente lento e custoso para os todos os envolvidos, sejam 
eles os indivíduos conflitantes ou o próprio Poder Judiciário. De mais a mais, uma 
causa judicial pode ser, igualmente, bastante traumática para as partes, vez que o 
campo por vezes rixoso do âmbito processual pode aflorar outras desavenças, 
perpetuando litígio e gerando um sentimento de descrença em relação ao Poder 
Judiciário. E essa cultura adversarial do “tudo ou nada” também compromete a 
conciliação dentro do processo judicial. 
Desse modo, o Código de Processo Civil 2015 busca incentivar todas as partes 
envolvidas a se utilizarem de métodos para solução consensual, como a conciliação 
ou a mediação, no intuito de transformar a cultura do litígio instaurada e alcançar uma 
saída satisfatória aos envolvidos. Ao versar sobre a inafastabilidade da jurisdição, 
ressalta o artigo 3º, § 3º do CPC que: 
“A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de 
conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e 
membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial”. 
Nesse sentido, o artigo 139, V, explana que: 
 “O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-
lhe: [...] V- promover a qualquer tempo a autocomposição, preferencialmente com o 
auxílio de conciliadores e mediadores judiciais”. 
A jurisdição não pode ser considerada o instituto mais adequado e eficaz para 
solucionar todos os tipos de conflitos, visto que há métodos de solução de conflitos 
que podem e devem ser utilizados a fim de sanar os litígios. 
Outrossim, consagrado no artigo 5º XXXV da Constituição Federal de 1988, 
quando o indivíduo exerce o seu direito de acesso à justiça, a finalidade é de que se 
alcance a solução pacífica da sua demanda, entretanto, cabe ao judiciário não apenas 
atingir essa finalidade, mas que o indivíduo obtenha verdadeiramente desfecho justo. 
 
31 
 
O fim maior do Poder Judiciário deve ser a pacificação social e, assim, 
independentemente do processo e do procedimento desenvolvido para a resolução 
dos conflitos no âmbito do que se denomina monopólio jurisdicional, cabe também ao 
Judiciário incentivar mecanismos e técnicas que mais se aproximem o cidadão da 
verdadeira Justiça. 
Os meios alternativos de solução de conflitos são técnicas diferenciadas de 
tratamento do conflito como alternativas à solução judicial. Cabe ressaltar que estes 
meios alternativos nasceram com o objetivo de ofertar à sociedade métodos diferentes 
de solução de conflitos sem haver necessidade de percorrer todas as etapas 
processuais até que se alcance a sentença. 
Como exemplos de meios alternativos de solução de conflitos podemos citar a 
autocomposição, a heterocomposição e a autotutela. Analisando a autocomposição, 
teremos a conciliação, mediação, negociação, renúncia, submissão e a transação. Em 
relação à heterocomposição, esta constitui-se pela jurisdição e pela arbitragem. 
Sobre a autotutela, esta se define como um mecanismo de imposição de 
vontade de uma das partes à outra, sem intervenção de um terceiro, na qual a parte 
mais forte se consagra como vencedora. O seu surgimento se deu muito emrazão da 
ausência de um Estado soberano ou pela inexistência de leis gerais que garantissem 
o cumprimento do direito. Tal método era empregado pelas primeiras civilizações. 
A autotutela é, portanto, a solução de conflitos em que ocorre a imposição do 
sacrifício do interesse de uma das partes pela outra, sendo conduzida pela ameaça, 
uso da força, perspicácia ou esperteza, que acarretam no descontrole social e a 
prevalência da violência. 
No campo da autocomposição, a negociação é o instituto em que as partes 
conflitantes dialogam diretamente entre si, sem a intervenção de um terceiro, 
reconhecem os interesses divergentes e buscam encontrar uma saída para satisfazer 
os interesses em comum. Em síntese, a renúncia ocorre quando uma das partes abre 
mão de seu direito unilateralmente. O titular do direito abdica dele, que desaparece 
juntamente com o conflito. 
Sobre a transação, esta se caracteriza pelo consentimento entre as partes que 
resulta em um acordo, mediante concessões recíprocas. 
 
32 
 
A submissão irá ocorrer quando uma das partes, além de renunciar a sua 
pretensão, também aceitar a vontade da parte contrária sem qualquer exigência para 
tanto. 
Daniel Assunção Amorim Neves, apud Paz, 2018, apresenta um bom e 
esclarecedor exemplo dos meios autocompositivos em seus livros: 
Marina pretende obter 10, mas Aline só está disposta a pagar 5. Havendo um 
sacrifício recíproco, as partes podem se autocompor por qualquer valor entre 
5 e 10 (transação). Marina, por outro lado, pode abdicar do direito de crédito 
de 10 (renúncia). Finalmente, Aline poderia, mesmo acreditando ser devedora 
de apenas 5, pagar a Marina os 10 cobrados (submissão). 
Os métodos autocompositivos mais usais e conhecidos são: a conciliação, a 
mediação e a arbitragem. 
 
10 MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO 
 
Fonte: targetdialogos.com.br 
Conforme já mencionado, mediação e conciliação são métodos de Resolução 
de Conflitos, ou Resolução Adequadas de Disputas (RADs), em que um terceiro 
imparcial conduz ou estimula as partes interessadas a encontrar soluções facilitadas. 
 
33 
 
Não obstante esses dois institutos apresentarem algumas semelhanças, eles 
se distinguem em diversos pontos. Assim, necessário se faz conhecer cada um e suas 
peculiaridades, a fim de se adotar o meio mais adequado para solucionar determinado 
conflito. 
(...) a resolução do método de resolução mais indicado para determinada 
disputa precisa levar em consideração características e aspectos de cada 
processo, tais como: custo financeiro, celeridade, sigilo, manutenção de 
relacionamentos, flexibilidade procedimental, exequibilidade da solução, 
custos emocionais na composição, da disputa, adimplemento espontâneo do 
resultado e recorribilidade. Assim, havendo uma disputa na qual as partes 
sabem que continuarão a ter contato uma com a outra (e.g. disputa entre 
vizinhos), em regra, recomenda-se algum processo que assegure elevado 
índices de manutenção de relacionamentos, tal como a mediação. Por outro 
lado, se uma das partes tiver interesse em abrir um precedente ou assegurar 
grande publicidade a uma decisão (e.g. disputa relativa a direitos individuais 
homogêneos referentes a consumidores), recomenda-se um processo que 
promova elevada recorribilidade, necessária para a criação de precedente em 
tribunal superior, e que público ou ao menos sigiloso (e.g. processo judicial). 
(BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. AZEVEDO, André Gomma 
P. 20) 
 
Uma das principais diferenças entre conciliação e mediação recai justamente 
na atuação dos conciliadores e mediadores. Ambos se assemelham por serem 
terceiros imparciais que auxiliam as partes a alcançarem uma solução pacífica para 
a controvérsia. 
O conciliador deverá ser um terceiro imparcial, ou seja, sem privilegiar 
nenhum dos envolvidos, colaborando para que as partes cheguem a uma solução 
satisfatória para o conflito. Apesar dessa delegação de protagonismo às partes, o 
conciliador tem a importante tarefa de facilitar a comunicação entre elas, para que 
cheguem a um denominador comum. 
Paz, 2018, pontua ser ponderoso esclarecer que não se deve confundir a 
facilitação do diálogo com interferência tendenciosa. Não cabendo ao conciliador 
emitir julgamentos ou opiniões pessoais, uma vez que a decisão final caberá às 
partes. 
O Novo Código de Processo Civil, nesse sentido assim estabelece: 
 
Art. 165. Os tribunais criarão centros judiciários de solução consensual de conflitos, 
responsáveis pela realização de sessões e audiências de conciliação e mediação e 
 
34 
 
pelo desenvolvimento de programas destinados a auxiliar, orientar e estimular a 
autocomposição. 
§ 2o O conciliador, que atuará preferencialmente nos casos em que não houver 
vínculo anterior entre as partes, poderá sugerir soluções para o litígio, sendo vedada 
a utilização de qualquer tipo de constrangimento ou intimidação para que as partes 
conciliem. 
 
O conciliador deve, assim, estar sempre atento ao desenrolar do conflito com o 
propósito de oferecer um leque de soluções pertinentes e criativas a fim de que as 
partes se interessem pela solução mais atraente ou que desperte nelas outras ideias 
para resolver o litígio. 
Com relação a figura do mediador, este também se trata de um terceiro 
imparcial, sem interesse na demanda, com a finalidade de facilitar o diálogo para que 
as partes cheguem a um entendimento. Conforme disposição do artigo 4º do Código 
de Processo Civil de 2015, “o mediador será designado pelo tribunal ou escolhido 
pelas partes”. 
Desta forma prevê o § 3º do artigo 165 da mesma lei: 
 
O mediador, que atuará preferencialmente nos casos em que houver vínculo 
anterior entre as partes, auxiliará aos interessados a compreender as questões e os 
interesses em conflito, de modo que eles possam, pelo restabelecimento da 
comunicação, identificar, por si próprios, soluções consensuais que gerem benefícios 
mútuos. 
Importante também destacar as distinções entre o mediador judicial e o 
mediador extrajudicial. Para atuar como mediador extrajudicial basta que seja pessoa 
capaz e que detenha confiança das partes, sendo desnecessário integrar conselho, 
entidade de classe ou associação. Entretanto, para ser mediador judicial, a lei exige 
ser pessoa capaz, bem como, graduada em curso de ensino superior, há no mínimo 
dois anos, em instituição reconhecida pelo Ministério da Educação, além da devida 
capacitação em escola de formação de mediadores, reconhecida pela ENFAM (Escola 
Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados) ou por tribunais (arts. 9º e 
11 da Lei de Mediação). 
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/28896515/artigo-4-da-lei-n-13105-de-16-de-marco-de-2015
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/174276278/lei-13105-15
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/174276278/lei-13105-15
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/28895114/par%C3%A1grafo-3-artigo-165-da-lei-n-13105-de-16-de-marco-de-2015
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/28895120/artigo-165-da-lei-n-13105-de-16-de-marco-de-2015
 
35 
 
É perceptível, destaca Paz, 2018, uma maior rigidez para se tornar apto a atuar 
como mediador judicial. A semelhança que a lei observa é a necessidade de em 
ambos os casos os mediadores serem pessoas capazes. No mais, a escolha para 
mediador extrajudicial é bastante livre, enquanto o mediador judicial precisa preencher 
os requisitos que a lei determina. 
O § 1º do artigo 167 do CPC/15, estabelece como requisito para atuação na 
condução da mediação ou da conciliação, que tanto os mediadores quanto os 
conciliadores, deverão realizar um curso de capacitação para estarem aptos a realizar 
tais funções. 
Por fim, cumpre ressaltar que quando o conciliador ou mediador tenha atuado 
assessorando, representando ou patrocinando qualquer das partes envolvidas, fica o 
mesmo impedido de atuar no procedimento com a parte mencionada por um prazo de 
um ano a contar do término da última audiência em queatuaram assessorando, 
representando ou patrocinando-a. 
 
11 A ARBITRAGEM 
 
Fonte: dcomercio.com.br 
A arbitragem é um método heterocompositivo de solução de conflitos. Dentre 
todos os métodos de resolução de conflitos, este é o instituto mais próximo da 
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/28895100/par%C3%A1grafo-1-artigo-167-da-lei-n-13105-de-16-de-marco-de-2015
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/28895102/artigo-167-da-lei-n-13105-de-16-de-marco-de-2015
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/174276278/lei-13105-15
 
36 
 
jurisdição. Nele, ensina Paz, 2018, as partes elegem um árbitro em comum acordo, 
que vai intermediar a procedimento e ao final irá proferir uma sentença arbitral. 
Este instituto, ao lado da jurisdição estatal, representa uma forma 
heterocompositiva de solução de conflitos. As partes capazes, em comum acordo, 
diante de um litígio, ou por meio de uma cláusula contratual, estabelecem que um 
terceiro ou colegiado, terá poderes para solucionar a controvérsia, sem a intervenção 
estatal, sendo que a decisão terá mesma eficácia que uma sentença judicial. 
A Lei nº 9.307/96 (Lei de Arbitragem), estabelece no caput do art. 13: “pode 
ser árbitro qualquer pessoa capaz e que tenha confiança das partes”. Esse terceiro 
imparcial indicado pelas partes deve ter entendimento acerca da matéria discutida no 
litígio, sendo esse o requisito fundamental para sua escolha. 
Informa a doutrina que os árbitros são escolhidos em razão da sua experiência 
profissional, de sua reputação no mercado e da confiança de que gozam entre os 
litigantes. 
Mas nem todos os conflitos podem ser resolvidos por intermédio da arbitragem. 
A Lei nº 9.307/96 estabelece que as pessoas capazes interessadas poderão se valer 
da arbitragem para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis, ou seja, 
estarão fora do âmbito da arbitragem aquelas matérias que envolvam direitos 
indisponíveis, tais como questões de direito tributário, penal e de família, via de regra. 
A arbitragem traz como ponto positivo o fato de possuir um procedimento mais 
célere, em comparação com a jurisdição. A sentença arbitral tem o mesmo efeito da 
sentença judicial e pode ser alcançada muito mais rápida. 
Outrossim, a arbitragem é um procedimento sigiloso, enquanto o processo 
judicial em regra é público. O sigilo da arbitragem é fundamental para as partes, uma 
vez que essas não se expõem, evitando, assim, possíveis desgastes de sua imagem. 
A sentença arbitral, classificada como o pronunciamento do árbitro ou do 
tribunal arbitral, encerra o procedimento. É o apogeu de todo o procedimento, vez que 
através dela irá se realizar a prestação jurisdicional almejada pelas partes. 
Paz, 2018, ainda destaca que a grande diferença da arbitragem com relação 
aos outros métodos consensuais de resolução de conflitos é que na primeira não se 
busca tão somente o acordo, mas a sentença arbitral ao final do procedimento. 
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/103445/lei-de-arbitragem-lei-9307-96
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/203030325/lei-13140-15
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/103445/lei-de-arbitragem-lei-9307-96
 
37 
 
12 POLÍTICA PÚBLICA DE TRATAMENTO ADEQUADO DE CONFLITOS 
 
Fonte: portalstylo.com.br 
Takahashi et e al, 2019, discorre que antes mesmo de existirem no Brasil 
marcos legais específicos sobre a mediação, houve importante protagonismo do 
Judiciário na aplicação e na regulação dos métodos consensuais por meio de 
resoluções, programas e núcleos permanentes de solução de conflitos, que atuam 
quer antes do processo judicial, quer incidentalmente a ele, em primeira instância ou 
em grau recursal. 
E é nesse cenário que se destaca a Resolução n. 125/2010 do Conselho 
Nacional de Justiça (CNJ), que dispôs sobre a “Política Judiciária Nacional de 
Tratamento Adequado dos Conflitos de Interesse no âmbito do Poder Judiciário” e 
contribuiu sobremaneira para importantes passos voltados à institucionalização da 
mediação e da conciliação, além de difusão, sistematização e aprimoramento das 
práticas consensuais que já eram adotadas no Judiciário. Tal Resolução partiu da 
premissa de que os métodos consensuais são uma porta de acesso à Justiça tão 
relevante quanto a decisão judicial. 
Uma vez que naquele momento não havia marcos legais sobre a mediação, o 
papel da Resolução n. 125 do CNJ foi extremamente relevante. Além de trazer um 
Código de Ética, a Resolução estabeleceu parâmetros para a capacitação de 
 
38 
 
conciliadores e mediadores judiciais, buscando assegurar a realização da conciliação 
e mediação de conflitos em todo o País, ao determinar que os órgãos judiciários 
ofereçam, além da solução adjudicada dos conflitos, mecanismos de resolução 
consensual de controvérsias entre as partes, bem como a prestação de atendimento 
e orientação aos cidadãos, com a criação de Núcleos e Centros de Solução de 
Conflitos e Cidadania. 
No âmbito da Justiça Federal, as práticas de conciliação, de forma organizada, 
começaram a ser observadas a partir de 2002, em processos relativos ao Sistema 
Financeiro de Habitação (SFH) vinculados à Subseção Judiciária de Maringá 
(CALMON, 2011, p. 107-114, apud Takahashi et e al, 2019), no Estado do Paraná. 
Mais tarde, com a instalação dos juizados especiais federais previstos na Lei n. 
10.259/2001, as conciliações foram se expandindo para as ações previdenciárias. 
Assim como ocorreu na Justiça Estadual, onde setores de conciliação já 
existiam antes da Resolução n. 125/2010 do CNJ, na Justiça Federal, os meios 
consensuais também já estavam presentes antes da Resolução, embora esta tenha 
sido um marco relevante em termos de institucionalização das práticas de conciliação 
e mediação em âmbito nacional. Partindo dos processos do SFH e passando pelas 
ações previdenciárias, a institucionalização dos mecanismos consensuais na Justiça 
Federal avançou para as mais variadas áreas, que são tratadas neste Manual. 
 
13 A RESOLUÇÃO DE CONFLITOS E O CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015 
 
Fonte:dolphin.com.br 
 
39 
 
A Lei de Mediação (Lei n. 13.140/2015) e o Código de Processo Civil vigente 
(CPC) foram marcos legais importantes para os meios consensuais. Embora não se 
possa dizer que mudanças culturais ocorram a partir de alterações normativas, elas 
costumam ter impacto na institucionalização da mediação e da conciliação, tratando 
de princípios e garantias básicas que devem ser resguardadas (como a imparcialidade 
do mediador, a autonomia de vontade, confidencialidade, informalidade, dentre outros 
previstos no art. 166 do CPC e art. 2o da Lei de Mediação). 
Nos últimos anos, a conciliação e a mediação têm sido destacados como 
importantes ferramentas para a solução pacífica e rápida dos conflitos, tanto na área 
judicial, como na esfera extrajudicial. 
O Conselho Nacional de Justiça deu um importante passo para estimular a 
mediação e a conciliação, através da Resolução nº 125 de 29 de novembro de 2010, 
incumbindo aos órgãos judiciários de oferecer mecanismos de soluções de conflitos e 
também de prestar atendimento e orientação aos cidadãos. Assim foi determinado aos 
Tribunais uma criação de Núcleos Permanentes de Métodos Consensuais de Solução 
de Conflitos, os CEJUSCs, para serem realizadas sessões de conciliação e mediação 
pré-processuais. 
O Novo CPC recepcionou os anseios do CNJ de estimular o que este chamou 
de “Cultura da Paz”, trazendo ao texto aprovado grande destaque para as práticas de 
conciliação, mediação e arbitragem, firmando, assim, instrumentos de solução de 
conflitos de forma rápida e eficiente. 
Se verificarmos o Código, logo nos parágrafos do art. 3º, está disposto que o 
Estado tem o dever de promover sempre que possível, a solução consensual dos 
conflitos, a ser incentivada por todas instituições ligadas à justiça, antes ou durante o 
processo. Ou seja, antes de mais nada o Estado tentará de forma rápida e pacíficaresolver os conflitos, desafogando assim o acúmulo de trabalho dos Tribunais estatais. 
O art. 3º e seus §§ 1º, 2º e 3º, já demonstram que foi adotada uma nova visão 
sobre o acesso à justiça, pois a ação judicial passa ser forma residual para o 
estabelecimento da paz social. 
Podemos identificar também, no novo CPC, os artigos 139, V e 165 a 175 que 
dispõem sobre os conciliadores e mediadores judiciais e seus métodos para resolução 
de conflitos. 
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/174276278/lei-13105-15
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/174276278/lei-13105-15
 
40 
 
Quando não houver vínculo anterior entre as partes será preferencialmente o 
conciliador que atuará, sugerindo soluções para o litígio, sendo vedada a utilização de 
qualquer tipo de constrangimento ou intimidação para que as partes conciliem. 
Já nos casos em que há vínculo entre as partes, será o mediador quem irá 
atuar, auxiliando os interessados a compreender as questões e os interesses em 
conflito, de modo que eles possam, pelo restabelecimento da comunicação, identificar, 
por si próprias, soluções consensuais que gerem benefícios mútuos. 
Já o art. 334 do Novo CPC discorre sobre a audiência de conciliação ou de 
mediação. 
13.1 A conciliação e mediação como pacificação de conflitos 
Não resta dúvida que a conciliação e a mediação são ferramentas importantes 
e instrumentos necessários para a pacificação e solução de conflitos em quase todas 
as áreas do direito, desde que se trate de direitos disponíveis. 
O Novo Código de Processo Civil mostra de forma positiva e muito objetiva os 
mecanismos adotados e como serão aplicados, cabendo aos operadores do direito, 
se adaptarem aos novos tempos, e participarem de forma efetiva na busca da 
pacificação social, única forma de obtermos a melhor atuação do Poder Judiciário e a 
prestação jurisdicional mais efetiva. 
Aos advogados, muitos dos quais resistentes a essas modalidades de solução 
de conflitos, restará se adaptarem e criarem mecanismos próprios, ou em parcerias, 
cercando-se de profissionais especializados de outras áreas do conhecimento para o 
melhor desempenho da atividade profissional. 
Aos Juízes e Promotores de Justiça, caberá uma mudança de postura, com a 
aceitação das novas normas que regerão os procedimentos judiciais, atuando de 
forma menos formalista e sensível à importância das novas técnicas de solução de 
conflitos eleitas pelo CNJ e pelo legislador brasileiro. 
Ao Estado, restará a responsabilidade de adotar as medidas adequadas e os 
aportes financeiros necessários para que o novo sistema de solução consensual de 
conflitos atinja os objetivos propostos, na busca de uma sociedade mais justa, menos 
conflituosa, igualitária e em sintonia com os princípios da cidadania e da dignidade 
humana assegurados na Constituição Federal. 
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/28893587/artigo-334-da-lei-n-13105-de-16-de-marco-de-2015
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/174276278/lei-13105-15
 
41 
 
14 AS MEDIDAS INCENTIVADAS PELO CNJ E AS POSITIVADAS PELO NOVO 
CPC 
 
Fonte: cnbsp.org.br 
A Lei nº 9.307/96 – Lei de Arbitragem – reconheceu a possibilidade de adoção 
da arbitragem para a solução de conflitos, assegurando a constitucionalidade da 
atividade. A lei garante todo o respaldo para suas sentenças, possuindo os mesmos 
efeitos que as proferidas pelo Poder Judiciário e não estando sujeitos à homologação 
deste último. 
Litígios envolvendo bens disponíveis podem se utilizar da arbitragem. Como 
exemplo, podemos citar problemas com contratos, cobranças, cheques, relações 
comerciais, aluguéis, condomínios, despejos, defesa consumidor, colisão de veículos, 
dentre outros. 
O novo CPC formalizou a arbitragem como jurisdição no Direito Brasileiro. A 
nova norma foi inserida no § 1º do artigo 3º do Novo Código. Como mencionado acima, 
este instituto já é regulamentado por lei própria, com as atualizações trazidas pela Lei 
nº 13.129/15, mas subsidiariamente se submete às normas do novo CPC. 
Nem por isso, ao Poder Judiciário, através de seus membros, é autorizado a 
discussão quanto ao mérito das decisões arbitrais. Tratam-se de jurisdições paralelas, 
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/174276278/lei-13105-15
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/174276278/lei-13105-15
 
42 
 
ambas reconhecidas constitucionalmente: a jurisdição estatal, que é regulada pelas 
normas processuais civis, e a jurisdição arbitral, que é regulada por lei extravagante. 
A harmonização entre ambas as jurisdições, nos termos do Novo CPC, se dá 
através de um novo instituto inserido no Código, conhecido como Carta Arbitral. 
Através desse instrumento jurídico é que formalmente se darão os pedidos de 
cooperação entre os juízes e árbitros. 
Tal instrumento está previsto no artigo 237, do CPC. Importante salientar que 
esse instrumento jurídico não autoriza juízes e desembargadores a revisar o mérito 
das decisões proferidas em âmbito arbitral. Os atos de cooperação se limitam à 
determinações e práticas de atos definidos em arbitragem. 
A cláusula arbitral é uma cláusula negocial firmada por pessoas capazes, 
envolvendo direitos disponíveis. Se uma das partes desobedece essa disposição 
contratual e ajuíza ação perante o Poder Judiciário, cabe a outra parte alegar esse 
descumprimento contratual, demonstrando ao juiz, a existência da convenção de 
arbitragem. Trata-se inclusive, esta alegação, de hipótese prevista no inciso VII, do 
artigo 485, do CPC, como causa em que o juiz não resolverá o mérito, inserida no 
Título III, do Livro VI da Parte Geral do Novo Código, que trata da Extinção do 
Processo. 
A Lei de Mediação – Lei nº 13.140/15 – alterou o Novo CPC, no que concerne 
ao tema da mediação, relegando à desvalia as regras do Código quando 
incompatíveis com a Lei de Mediação. 
A parte de mediação do Novo CPC foi revogada pela Lei de Mediação (posterior 
e especial), no que as disciplinas não sejam conciliáveis, ilação que tem reflexos 
absolutamente substanciais, tudo a demandar a atuação do intérprete na conciliação 
dos diplomas normativos. 
O Novo CPC permite que a audiência do artigo 334 do Novo CPC não se realize 
mediante consenso das partes quanto ao desinteresse no consenso, manifestado 
antes da data aprazada para o ato (§§ 4º e 5º). É o consenso quanto ao dissenso. 
Pois bem, no tocante à mediação, a disposição do Novo CPC é natimorta, pois 
a audiência de mediação, frente ao disposto na Lei de Mediação, não pode ser 
dispensada pelas partes, como se afere da leitura conjugada dos seus artigos 3º e 27. 
 
43 
 
Esse fatiamento do Novo CPC pela Lei de Mediação acentua a diferença entre 
os institutos da conciliação e da mediação, submetendo-os a regramento processual 
diverso, quiçá com perda de sistematicidade do ordenamento processual. 
Portanto, ainda que não fosse desejável, a Lei de Mediação alterou o Novo 
CPC, no concernente ao tema da mediação, relegando à desvalia as regras do Código 
quando incompatíveis com a Lei de Mediação. 
 
15 A RESOLUÇÃO DOS CONFLITOS POR MEIO ELETRÔNICO 
 
Fonte: dazibao.com.br 
O Novo Código de Processo Civil prevê a exigibilidade da mediação para 
resolução dos conflitos, e em especial, para a cultura de mediar antes mesmo de 
judicializar, aliás esta tendência é mundial e o Brasil na vanguarda jurídica, vem com 
esta nova cultura de resolução de conflitos. No caso em tela, trabalhamos com a 
mediação extrajudicial e a mediação judicial, mas o objeto deste artigo é tratar a 
mediação eletrônica, um método mais adequado para nosso continente chamado 
“Brasil”. 
 
44 
 
Mister se faz aduzir que em uma leitura do artigo 1º do novo CPC, percebe-se 
que o legislador, de certa forma, deixou de lado o formalismo presente no Código de 
Processo Civil de 1973, trazendo o que alguns doutrinadores chamam de 
neoprocessualismo, que seria a atuação do direito processual com vistas ao direito 
constitucional

Continue navegando