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Ceunsp – Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio Disciplina: Humanismo e Responsabilidade Social Professora: Mirian Vicente Aulas 1 e 2: Neoliberalismo e sua repercussão no Brasil Objetivos - Entender o neoliberalismo como um conjunto de diretrizes e práticas econômicas vigentes em boa parte do mundo a partir da segunda metade do século 20 - Analisar os prós e contras do neoliberalismo - Identificar o sistema econômico neoliberal no Brasil Aula 1 Conceitos: O Liberalismo é um conjunto de princípios e teorias que defende a liberdade política e econômica. Os liberais são contrários ao forte controle do Estado na economia e na vida das pessoas. O termo "neoliberalismo" foi usado na primeira metade do século 20 para designar a doutrina proposta por economistas europeus e norte-americanos que pretendiam adaptar os princípios do Liberalismo clássico às exigências de um Estado regulador e assistencialista. A partir da década de 1960 o nome passou a significar algo diferente e é esta acepção que usamos até hoje. O termo "neoliberal" é usado para identificar a doutrina econômica que defende a absoluta liberdade de mercado e uma restrição à intervenção estatal sobre a economia, que só deve ocorrer em setores imprescindíveis e mesmo assim minimamente. Já o intervencionismo estatal refere-se à interferência do Estado na atividade econômica do país, para regular o setor privado, não apenas fixando as regras do mercado, mas atuando de outras formas com objetivos como reduzir as desigualdades, elevar o nível de emprego e salários e corrigir as falhas do mercado. Questão norteadora: Qual deve ser o papel de um governo em uma sociedade? Material Complementar 1: Trechos da reportagem especial da revista A Era do Liberalismo (Veja 35 anos, 24 de setembro de 2003): Os campeões do liberalismo "Margaret Thatcher é o melhor homem da Inglaterra." A frase é do ex-presidente americano Ronald Reagan, com quem "Maggie" formou uma dupla afinada. Quando ela assumiu o cargo, em 1979, a Inglaterra era a menos viável das nações industrializadas. Em onze anos e meio no poder, Thatcher privatizou furiosamente, peitou sindicalistas, encolheu o governo e recuperou a prosperidade dos ingleses. A receita de Maggie atraiu ira e admiração em doses descomunais. "Se quiser que um político diga algo, chame um homem. Se quiser que faça, chame uma mulher", afirmava. Quando VEJA falou com ela em 1994, em Londres, o liberalismo à moda de Thatcher começava a ser copiado em diversas partes do mundo. mar 94 Margaret Thatcher VEJA – Como a senhora descreve sua idéia de um "capitalismo popular"? THATCHER – É o meu sonho de fazer de cada cidadão um capitalista, o capitalismo das pessoas comuns. Não se esqueça de que na Inglaterra temos uma tradição de cidadania. A instituição do Parlamento começou no século XIII. O voto de poucos passou a ser o voto de todos. Vivemos sob o império da lei e sempre tivemos juízes capazes de dizer ao monarca: "Não há nenhum homem acima do rei, mas este está abaixo de Deus e da lei". Essa é nossa herança e nosso caráter. Mas, no início de meu governo, os ingleses não conseguiam ter uma poupança, não conseguiam acumular capital. Meu objetivo era fazer com que as pessoas, independentemente de sua origem, conseguissem adquirir ao menos a casa própria, acumulando algum capital para deixar aos filhos. Como nessa época 30% das casas e dos apartamentos pertenciam a órgãos públicos, fizemos um plano pelo qual os locatários tinham preferência e outras facilidades para comprar o imóvel onde moravam. Hoje, 68% dos ingleses são proprietários da casa onde moram e milhões têm ações de empresas privatizadas. Isso é capitalismo popular. VEJA – O governo da senhora ficou famoso pelas privatizações. Como foi a primeira privatização? THATCHER – Foi no setor siderúrgico. O aço produzido pela estatal custava ao povo inglês 1,5 bilhão de dólares por ano em subsídios. Pouco depois da privatização, o aço já rendia ao Tesouro – ou seja, ao povo – 330 milhões de dólares anuais. Outro ponto positivo: o dinheiro fruto da venda das estatais vai direto para o Tesouro, o que, mais uma vez, quer dizer para o povo. Mais dinheiro no caixa do Tesouro significa menos necessidade de impostos e até menos dívida pública. Ou seja, não se está dando nada de graça. As pessoas estão comprando o que o governo vende, o Tesouro deixa de ter prejuízo e passa a ter renda. É um ótimo negócio para quem paga imposto. VEJA – Quem se opõe à privatização das estatais no Brasil costuma dizer que privatizar é pegar algo que é propriedade de todos e dar de presente a alguns. THATCHER – Ninguém está dando nada a ninguém. A verdade é o contrário: em geral as estatais têm de ser subsidiadas com o dinheiro dos contribuintes. O governo não sabe administrar empresas, quase sempre o faz de modo inepto. Logo, logo a empresa está perdendo dinheiro, e o contribuinte tem ao mesmo tempo de comprar o que ela produz e pagar o prejuízo. VEJA – A senhora conheceu alguns líderes brasileiros, inclusive o ex-presidente Fernando Collor. Que impressão teve deles? THATCHER – Não faço comentários sobre pessoas. Parece-me bem claro que o Brasil não teve ainda um bom governo, capaz de atuar com base em princípios, na defesa da liberdade, sob o império da lei e com administração profissional. Bastaria um período assim, acompanhado da verdadeira liberdade empresarial, para que o país se tornasse realmente próspero. VEJA – A senhora concorda com a teoria de que a nova linha mundial de confrontação será entre civilizações e culturas diferentes, e não mais entre ideologias e sistemas econômicos? THATCHER – A fonte fundamental de conflitos é a disputa entre tirania e liberdade, entre quem quer impor sua vontade pela força e os direitos humanos fundamentais e a liberdade dos povos. Creio que há no momento 48 conflitos armados pelo mundo. Houve tiranos em todas as eras, e eles continuam a nascer. O conflito é entre tirania e direito, não se trata de cultura. Os campeões do liberalismo Durante a maior parte de sua vida, Friedrich von Hayek pregou no deserto. Expoente da chamada escola austríaca, grupo de economistas que adaptaram os conceitos do liberalismo clássico para a realidade do século XX, Hayek iniciou sua trajetória intelectual no pós-guerra, quando estavam em moda as idéias de John Maynard Keynes, defensor da intervenção estatal pesada na economia. Hayek achava que esse sistema levaria os países à quebradeira. Só em 1974, trinta anos após a publicação de seu livro mais famoso, Hayek recebeu a consagração, ganhando o Prêmio Nobel de Economia. Em 1979, em entrevista a VEJA, ele alertava para o perigo de remédios pretensamente milagrosos no combate à inflação, como o congelamento e o tabelamento de preços. dez 79 Friedrich Von Hayek VEJA – Como solucionar o problema da inflação? HAYEK – Naturalmente, é possível estancar a inflação cortando o excesso de dinheiro em circulação. Mas o preço é alto. A estabilização sempre leva a um período de desemprego agudo, a uma redução do nível geral de satisfação. Por isso, nenhum governo está disposto a enfrentar o problema com coragem. Afinal, seria difícil manter o poder. VEJA – O desemprego é inevitável quando a inflação é alta? HAYEK – Sem dúvida. O paradoxo é que, a curto prazo, a inflação reduz o desemprego. Mas, quando se utiliza a inflação como forma de reduzir o desemprego, acelera-se a própria inflação. No momento seguinte, quando se tenta controlar a inflação, o desemprego reaparece de forma ainda mais forte. Pois o que se fez foi criar empregos temporários que só se sustentariam enquanto estivesse ocorrendo a aceleração inflacionária.VEJA – O controle de preços não é uma arma eficaz no combate às altas taxas de inflação? HAYEK – De forma alguma. Ninguém tem poderes para controlar os preços de maneira eficiente. Os preços são sinais sobre coisas que ainda não conhecemos. Não se pode, enfim, corrigir um sinal do qual não se sabe o que está assinalando. O controle de preços termina por desorientar a produção, conduz à escassez e esta ao planejamento central. O fim dessa linha é o socialismo, e o socialismo é um equívoco. VEJA – O sistema de livre mercado não padece também de ineficiências? HAYEK – Ele necessita de uma moldura legal apropriada para funcionar eficientemente. No presente, é verdade, não se pode dizer que essa moldura seja a mais adequada. Precisamos, por isso, trabalhar para aperfeiçoar as leis. Por exemplo, deve-se aplicar às corporações empresariais as normas que, lentamente, foram desenvolvidas para regular a conduta dos indivíduos. De todo modo, essa adaptação tem de ser lenta e gradual, orientada pela experiência, jamais através de reformas radicais. Sergio Sade "A curto prazo, a inflação reduz o desemprego. Mas, quando se utiliza a inflação como forma de reduzir o desemprego, acelera-se a própria inflação. No momento seguinte, o desemprego reaparece de forma ainda mais forte." Friedrich von Hayek VEJA – Como o livre mercado poderia resolver os problemas das regiões subdesenvolvidas? HAYEK – O desenvolvimento dessas regiões é uma questão de descobrir oportunidades e habilidades, as quais são mais efetivamente alcançadas através da livre competição. Somente quando for dada às massas subdesenvolvidas oportunidade para que utilizem suas capacidades elas terão a possibilidade de deixar o estado de pobreza em que se encontram. Cristãos-novos do capitalismo • Felipe González País: Espanha Mandato: 1982-1996 Como foi a conversão: demitiu funcionários públicos, privatizou estatais e abriu o país ao capital estrangeiro. Em seu mandato, a Espanha entrou para a Otan, aliança que se opunha ao bloco comunista AFP • Tony Blair País: Reino Unido Mandato: desde 1997 Como foi a conversão: prometeu preservar a herança deixada por Margaret Thatcher, o que vem cumprindo. Continuou a abertura econômica e esforça-se para atrair investimentos • Lionel Jospin País: França Mandato: 1997-2002 Como foi a conversão: foi o governante francês que mais privatizou estatais, numa escala maior até que os governos conservadores que o precederam AP Crônica de uma vitória anunciada O economista Friedrich von Hayek foi entrevistado por VEJA em 1979, o ano em que Margaret Thatcher assumia o governo da Inglaterra. Mais que uma coincidência, o momento marca uma transição da teoria para a prática. Em 1944, Hayek lançou seu livro mais conhecido, O Caminho da Servidão, prevendo que a Inglaterra perderia sua posição de destaque no mundo caso insistisse em políticas intervencionistas. Foram necessários 35 anos para que os ingleses percebessem que o velho pensador estava certo. Isso ocorreu quando Thatcher se incumbiu de soltar as amarras da economia britânica, colocando seu país novamente em velocidade de cruzeiro. O austríaco naturalizado inglês assistiu à vitória de seu pensamento. Acompanhou em vida o governo de Margaret Thatcher, que se tornou um exemplo para boa parte do mundo. Morreu em 1992, tendo assistido à queda do Muro de Berlim e ao esfarelamento da União Soviética. Hoje, governos de direita e de esquerda, de José María Aznar a Luiz Inácio Lula da Silva, baseiam suas políticas na idéia da qual Hayek foi o profeta e Thatcher, a executora: o liberalismo econômico. Material Complementar 2: Trechos da entrevista do economista Rodrigo Constantino à revista Veja (Veja, 2312, 13 de março de 2013): Trecho 1 As empresas de celulares estão entre as campeãs de queixas entre os consumidores brasileiros, apesar de serem extremamente rentáveis. Nas estradas privatizadas, as reclamações recaem sobre o valor dos pedágios. Não são sintomas de que a privatização nem sempre funciona? No fundo, se procurarmos bem, sempre haverá a impressão digital do governo nessas falhas atribuídas ao mercado. No caso dos celulares, há muitas reclamações, em primeiro lugar, por causa do grande aumento no número de usuários depois da privatização do sistema Telebrás. Antes nem adiantava reclamar, porque era um serviço caro e raro. Reconheço que existem problemas. Mas os impostos arrecadados pelo governo encarecem as tarifas e reduzem os investimentos. O sinal das chamadas é ruim porque faltam antenas. O grande entrave para ampliar o número de antenas são os governos, que demora a conceder as licenças de instalação. As pessoas reclamam do preço do pedágio, porém o que deveria ser objeto de revolta são os milhões arrecadados em impostos, como o IPVA, que não são investidos nas ruas e rodovias. As privatizações ocorreram sem nenhum arcabouço institucional minimamente decente, sem transparência nas informações. Privatização, assim, não faz milagre. Trecho 2 Se a venda de estatais obteve resultados positivos, por que nenhum político no Brasil defende abertamente a privatização da Petrobras? As resistências são gigantescas. Para privatizar a Petrobrás, precisaríamos ter uma Margaret Thatcher, um estadista disposto a enfrentar os grupos de interesses localizados. Será impossível vender o controle da estatal enquanto imperar a ideia de que seria a entrega de um patrimônio público. Basta ver a dificuldade dos tucanos em defender o seu legado, no geral favorável, de privatizações. Elas foram feitas mais por necessidade, porque as estatais estavam quebradas, do que por convicção. Foi preciso que eu, um liberal convicto e crítico da social-democracia dos tucanos, saísse em defesa das privatizações. Trecho 3 A redução da pobreza não deve ser uma missão eminentemente do governo, sobretudo em um país com bolsões miseráveis como o Brasil? Sinceramente, acredito que o Estado contribui mais para concentrara a riqueza do que para distribuí-la. Brasília, a capital com a segunda maior renda per capita do país, é um ótimo exemplo dessa concentração de renda patrocinada pelo governo. Não me convence o discurso segundo o qual a justiça social depende de um estado grande e inchado. O governo brasileiro cobra um pedágio muito alto em nome dessa distribuição de igualdade e, no fim, o resultado é uma concentração. O governo deveria concentrar os seus gastos na melhora da qualidade do ensino e também na infraestrutura. É o inverso do que existe hoje. O governo consome o equivalente a 40% do PIB e investe apenas 1% do PIB. É preciso investir muito mais, sem, é claro, desativar uma rede de proteção mínima. Material Complementar 3: A seguir o texto "Privatizações: comparações e impactos de Collor à Dilma", disponível no blog Desenvolvimentistas, que compara o processo de privatização na gestão de diferentes presidentes brasileiros. Privatizações: comparações e impactos de Collor à Dilma 1 - GOVERNO COLLOR, ITAMAR, FHC Iniciadas em 1991, com a USIMINAS, as características principais dos modelos de privatizações e concessões utilizados durante os Governos Collor, Itamar e FHC de 1991-2002 no Brasil,são: - alienações com perdas totais da titularidade do capital de cada empresa estatal do setor produtivo (siderurgia, petroquímica, fertilizantes, celulose, etc.); - sem quaisquer compromissos com investimentos aos novos controladores das ex- estatais, o que desmente um dos principais argumentos em defesa das privatizações: a escassez de recursos do Tesouro Nacional para viabilizar investimentos das estatais exigia privatizá-las;- completa liberdade para formação de preços, tarifas e lucros pós-privatizações e concessões, ao contrário do controle de preços, de investimentos, de dispêndios, exercidos pelo CIP - Conselho Interministerial de Preços - e pela SEST - Secretaria Especial de Controle das Empresas Estatais - antes das privatizações; - permissão de uso de moedas podres (títulos públicos a vencer, mas aceitos pelo valor de face), modelo de benefícios de grupos privados que foi adotado pelo Governo Collor, modificado pelo Governo Itamar, que realizou poucas privatizações, mas exigiu recursos financeiros dos investidores nos leilões realizados e novamente, à semelhança do Governo Collor, o modelo de privatização voltou a ser usado pelo Governo FHC; - metodologia para avaliar cada empresa estatal a ser privatizada sempre resultava em subavaliações do valor real de ativos de cada empresa estatal, devido a projeções de fluxos de caixa para cálculo do valor presente através de falsas hipóteses: menores receitas, de maiores custo, com mão de obra pós-privatizações, bem como omissão ou desconsideração de ativos de alto valor (exemplo: minas com alto teor de ferro da VALE em Minas Gerais foram considerados exauridos sem qualquer valor, mas voltaram a ser exploradas pouco depois da privatização e consideradas úteis para mais 500 anos de exploração); - alienação de uma empresa é praticado através do cálculo do valor presente de um fluxo de caixa projetado para 10, 15 ou 20 anos a uma taxa de desconto qualquer. O BNDES, órgão encarregado pelas privatizações utilizou, nos governos Collor, Itamar e FHC a taxa de 15% a.a. para estabelecer o preço mínimo dos leilões de cada empresa de qualquer setor, quando recomendável apurar objetivamente a taxa de desconto em função da alienação de empresas dos setores produtivos: siderurgia, petroquímica, fertilizantes, têxtil, celulose, etc.; e das concessões de serviços públicos: energia, telecomunicações, rodovias, ferrovias, etc., conforme as diferentes características setoriais e empresariais (rotatividade do ativo, prazo para depreciação, perfil e nível do endividamento, entre outras variáveis); - criação de agências regulatórias capturadas, desde suas estruturações, pelas principais empresas concessionárias de cada setor. Além das privatizações e concessões, o Governo FHC promoveu um desmonte geral do Estado, inclusive de universidades, entre outras consequências, desativação de empresas do setor privado, como construtoras importantes para implementação de obras de grande complexidade (hidrelétricas, ferrovias, rodovias, portos, aeroportos, aquovias), empresas industriais e prestadoras de serviços ao Governo. 2 - GOVERNOS LULA E DILMA Os Governos de Lula e Dilma mudaram, completamente, o conceito e a abordagem sobre o papel do Estado no processo de desenvolvimento brasileiro. O Estado volta a ser Indutor do Desenvolvimento, a exemplo do papel contemporâneo que vem sendo usado pelos Governos da China, da Rússia, da Índia, etc., países que vem obtendo altas taxas de crescimento como o Brasil durante o período de 1930-1980 (Substituições de Importações e Montagem de Estrutura Produtiva Diversificada e Integrada) através do tripé: empresas estatais estratégicas, empresas privadas nacionais e multinacionais. Países que conseguiram crescimento econômico prolongado (EUA, Alemanha, Japão, Coréia do Sul, Brasil, China, entre outros) reuniram convergências entre o Estado indutor do desenvolvimento, através de programas governamentais prioritários, e a implementação de estratégias empresariais de investimentos. Durante um longo período, de 1930 a 1980, o Brasil experimentou um ciclo de crescimento ("milagre econômico" entre 1967/79) baseado nos processos de substituições de importações e na estruturação de um sistema produtivo bastante diversificado e integrado, sob a liderança do tripé - setor produtivo estatal, multinacionais e empresas privadas nacionais. As taxas de investimentos atingiram entre 25 e 28% a.a. em relação ao PIB, o qual registrou crescimento médio de 7% a.a. durante o período. Ao contrário, no período entre 1985 e 2005, considerado como de duas décadas (um quinto de século) perdidas, as taxas de investimentos em relação ao PIB oscilaram bastante e decresceram a níveis inferiores a 15%. O crescimento médio do PIB foi inferior a 3% a.a. e oscilou bastante durante o período. O Brasil vem, desde 2004, implementando um novo modelo de desenvolvimento baseado na estruturação de um amplo mercado de massas cuja sustentação, no longo prazo, exige aumentar a formação bruta de capital fixo para garantir um crescimento médio do PIB em torno de 5% a.a. durante o ciclo. Ciente de referidas necessidades de investimentos, os Governos Lula e Dilma vêm adotando programas como o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), o MCMV (Minha Casa, Minha Vida), o Brasil Maior, a END (Estratégia Nacional de Defesa), entre outros, com o objetivo de estimular investimentos empresariais. Cabe sintetizar, neste contexto, características e resultados do novo modelo de parcerias do setor público com o setor privado a partir do Governo Lula. Entre as principais, cabe sublinhar: - elevados ágios apurados em leilões, de concessões para diferentes períodos de atuação, e envolvendo significativas participações pelos bancos oficiais, pelos fundos de previdência complementar e por empresas estatais como Petrobrás, Eletrobrás, CEMIG, etc.; - expansão de investimentos a curto, a médio e a longo prazo, a exemplo da matriz energética, a qual, pós mudanças do marco regulatório implementadas por Dilma - Ministra de Energia - e pelo Presidente Lula; bem como dos setores portuário, ferroviário e o setor aeroportuário, via recente modelo inovador; - manutenção, e até mesmo reduções de preços e/ou tarifas sem prejuízo da formação de lucros como fonte para financiamentos de investimentos das próprias concessionárias; - maior relevância dos bancos oficiais - BNDES, BB, CEF, BNB e BASA - que vem elevando, a taxas crescentes, empréstimos, em condições adequadas de prazos e encargos financeiros, para Investimentos estratégicos, mas condicionados ao controle do meio ambiente e à geração de emprego. 3 - ALGUNS IMPACTOS RESULTANTES DO MODELO COLLOR/FHC E DAS MUDANÇAS DE RUMOS IMPLANTADAS PELO GOVERNO LULA/DILMA - Além do aumento e não diminuição da dívida pública interna e de dívida externa ao contrário dos argumentos, na verdade, ideológicos dos Governos Collor e FHC vale ressaltar os impactos setoriais resultantes do processo de privatizações e de concessões: - Siderurgia: aumento da capacidade instalada de 32milhões de toneladas de aço em 1991, para apenas 40milhões em 2012, enquanto a China, com minério brasileiro, elevou de 21milhões de Toneladas para 675milhões de Toneladas no mesmo período. Em uma só palavra: de 7º maior player mundial, o Brasil passou a não ter grande importância em siderurgia. Logo, dificilmente o Brasil voltará a ser um dos principais players mundiais em siderurgia. - Petroquímica e Fertilizantes: pós privatizações o Brasil passou a ser importador e distribuidor, de produtos petroquímicos e, principalmente de fertilizantes, diante da realização de insignificantes investimentos. Felizmente o Governo Lula estimulou o retorno de participação da PETROBRAS em petroquímica e em fertilizantes, e da própria CIA VALE em fertilizantes, o que poderá resultar na recuperação destes setores pelo Brasil; - Telecomunicações: campeãs de reclamações nos PROCONS, além da desativação do desenvolvimento tecnológico (centro P, D, I em complexos) e consequente dependência de tecnologias importadas, além da concentração de mercado e de não atendimento de camadas de menor renda até o Governo Lula adotar programas de inclusão social via transferência de renda - Bolsa Família, Luzpara Todos, ampliação do BPC, etc. - PETROBRAS: durante todo o período FHC a PETROBRAS foi obrigada a colaborar com o superávit fiscal conforme FMI e não pode realizar investimentos durante todo o período. Ao contrário, durante os Governos Lula e Dilma, a PETROBRAS não apenas foi convocada para efetivar ambicioso plano de investimentos de elevação da produção, da exploração do Pré-Sal, de expansão e modernização em refinarias, em petroquímica e em fertilizantes, como também para estruturar o enobrecimento/adensamento da cadeia produtiva intersetorial petrolífera com total apoio a fornecedores nacionais. - Energia: basta citar o apagão para caracterizar os resultados do modelo de concessões usado durante o Governo FHC. No entanto, pós mudança do marco regulatório e fortalecimento do sistema Eletrobrás durante Dilma Ministra de Energia e Lula Presidente, as empresas voltaram a investir significativa, e aceleradamente, no desenvolvimento e diversificação para exploração de várias fontes da rica matriz energética brasileira, à semelhança do complexo petrolífero e os concretos potenciais para aproveitamento energético da árvore no Brasil (Metanol, Carvão Vegetal, Óleo diesel de alcatrão, Gás). Nos setores de geração de energia e petróleo, as concessionárias, empresas estatais e privadas, vêm executando programas ambiciosos de investimento. Já não ocorre o mesmo com os segmentos que foram privatizados, que investem e inovam muito pouco e mantém as tarifas muito elevadas. - Transportes, Portos, Saneamento Básico, Moradia: praticamente nulos durante o Governo FHC, investimentos nestes setores passaram a ser prioridades do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e do MCMV (Minha Casa, Minha Vida). O DNIT e a VALEC voltaram a ter papel estratégico na solução dos transportes rodoviários e ferroviários, assim como os portos passaram, inclusive, a contar com uma secretaria especial, de nível ministerial, com o objetivo de viabilizar investimentos, os quais já começam a expandir. - Aeroportos: sem qualquer investimentos no governo FHC, a Presidenta Dilma criou, recentemente, a Secretaria Especial de Aviação, que, pós profundos estudos sobre a explosiva demanda resultante da inclusão social e da melhoria da distribuição de renda, identificou concretas oportunidades de parcerias entre a INFRAERO e investidores para efetivação de investimentos estratégicos. Assim, neste caso, o sistema de concessões, além de garantir tarifas adequadas e de implementação de investimentos estratégicos, mantém a participação fundamental da INFRAERO de modo a otimizar o aproveitamento de sinergias resultantes de adensamento e enobrecimento de cadeias intersetoriais envolvidas (construção, minero-metalúrgica, plástico, etc. ) e, não menos importante, a retomada da cadeia aeroespacial. No caso do Governo Itamar (1993-1995), além de poucas empresas privatizadas, o Governo exigiu recursos financeiros para alienar estatais e privatizou poucas empresas, mas através de um mix de títulos públicos e dinheiro em espécie. Quando Governador de Minas Gerais, o ex-Presidente Itamar reverteu desastrada privatização da CEMIG e eliminou vantagens ao grupo AES beneficiado pelo Governo Tucano de Eduardo Azeredo e conseguiu também impedir a privatização de FURNAS pelo Governo FHC. (Cézar Manoel de Medeiros - Doutor em Economia - IE/UFRJ) - texto originalmente publicado no Blog dos Desenvolvimentistas. Aula 2 10/02/2007 - 08h50 – Folha de São Paulo Globalização não reduz desigualdade e pobreza no mundo, diz ONU da Efe A globalização e liberalização, como motores do crescimento econômico e o desenvolvimento dos países, não reduziram as desigualdades e a pobreza nas últimas décadas, segundo livro divulgado neste sábado pela ONU (Organização das Nações Unidas). A publicação, que leva o título "Flat World, Big Gaps" (Um Mundo Plano, Grandes Disparidades, em tradução livre), foi editado por Jomo Sundaram, secretário-geral adjunto da ONU para o Desenvolvimento Econômico, e Jacques Baudot, economista especializado em temas de globalização. Seu lançamento coincide com a realização da 45ª sessão da Comissão sobre Desenvolvimento Social da ONU, que revisa os objetivos da cúpula mundial de Copenhague de 1995. "A redução da desigualdade não está separada de questões como a pobreza e a falta de emprego", disse Baudot. "A idéia do livro é recuperar e situar como uma prioridade na agenda internacional o vínculo existente entre estes indicadores." Para Baudot, centrar as atividades para reduzir a pobreza no crescimento econômico conduz a estratégias nacionais e regionais que não respeitam o meio ambiente, outro fator para continuar com a desigualdade e a pobreza. No trabalho se constata que a distribuição das receitas individuais melhorou levemente, graças ao crescimento econômico na China e Índia, mas mesmo assim a repartição da riqueza mundial piorou e os índices de pobreza se mantiveram sem mudanças entre 1980 e 2000. A desigualdade na renda per capita aumentou em vários países da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) durante essas duas décadas, o que sugere que a desregulação dos mercados teve como resultado uma maior concentração do poder econômico. O livro indica que a desigualdade econômica nos países do Oriente Médio e o Norte da África não mudou, ao contrário da crença generalizada, mas aumentou na maioria dos outros países em desenvolvimento. Deste modo, constata que a globalização e a liberalização comercial não ajudou a reduzir a pobreza e a desigualdade na maioria de países da África. No livro se conclui que só uma pequena porção do crescimento da economia mundial contribuiu na redução da pobreza. "Houve uma tremenda liberalização financeira e se pensava que o fluxo de capital iria dos países ricos aos pobres, mas ocorreu o contrário", anotou Sundaram. Como exemplo, citou que os EUA recebem investimentos dos países em desenvolvimento, concretamente nos bônus e obrigações do Tesouro, e em outros setores. Tema para discussão: "A desigualdade na renda per capita aumentou em vários países da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) durante essas duas décadas, o que sugere que a desregulação dos mercados teve como resultado uma maior concentração do poder econômico" e "Deste modo, constata que a globalização e a liberalização comercial não ajudou a reduzir a pobreza e a desigualdade na maioria de países da África". Questões norteadoras: Qual deve ser o papel de um governo em uma sociedade? Cabe aos governos intervir na economia para combater a desigualdade social e a miséria? Ou seria melhor se eles diminuíssem os impostos e agissem só em setores estratégicos como saúde e educação? Publicado em “Revista Nova Escola” - revistaescolaabril.com.br
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