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Aulas 1 e 2 - Neoliberalismo e sua repercussão no Brasil

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Ceunsp – Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio 
Disciplina: Humanismo e Responsabilidade Social 
Professora: Mirian Vicente 
Aulas 1 e 2: 
 
Neoliberalismo e sua 
repercussão no Brasil 
 
Objetivos 
- Entender o neoliberalismo como um conjunto de diretrizes e práticas econômicas 
vigentes em boa parte do mundo a partir da segunda metade do século 20 
- Analisar os prós e contras do neoliberalismo 
- Identificar o sistema econômico neoliberal no Brasil 
 
Aula 1 
 
 
Conceitos: 
O Liberalismo é um conjunto de princípios e teorias que defende a liberdade política e 
econômica. Os liberais são contrários ao forte controle do Estado na economia e na 
vida das pessoas. 
O termo "neoliberalismo" foi usado na primeira metade do século 20 para designar a 
doutrina proposta por economistas europeus e norte-americanos que pretendiam 
adaptar os princípios do Liberalismo clássico às exigências de um Estado regulador e 
assistencialista. A partir da década de 1960 o nome passou a significar algo diferente 
e é esta acepção que usamos até hoje. O termo "neoliberal" é usado para identificar a 
doutrina econômica que defende a absoluta liberdade de mercado e uma restrição à 
intervenção estatal sobre a economia, que só deve ocorrer em setores imprescindíveis 
e mesmo assim minimamente. 
Já o intervencionismo estatal refere-se à interferência do Estado na atividade 
econômica do país, para regular o setor privado, não apenas fixando as regras do 
mercado, mas atuando de outras formas com objetivos como reduzir as 
desigualdades, elevar o nível de emprego e salários e corrigir as falhas do mercado. 
Questão norteadora: 
Qual deve ser o papel de um governo em uma sociedade? 
 
Material Complementar 1: 
Trechos da reportagem especial da revista A Era do Liberalismo (Veja 35 anos, 24 de 
setembro de 2003): 
Os campeões do liberalismo 
"Margaret Thatcher é o melhor homem da Inglaterra." A frase é do ex-presidente 
americano Ronald Reagan, com quem "Maggie" formou uma dupla afinada. Quando 
ela assumiu o cargo, em 1979, a Inglaterra era a menos viável das nações 
industrializadas. Em onze anos e meio no poder, Thatcher privatizou furiosamente, 
peitou sindicalistas, encolheu o governo e recuperou a prosperidade dos ingleses. A 
receita de Maggie atraiu ira e admiração em doses descomunais. "Se quiser que um 
político diga algo, chame um homem. Se quiser que faça, chame uma mulher", 
afirmava. Quando VEJA falou com ela em 1994, em Londres, o liberalismo à moda de 
Thatcher começava a ser copiado em diversas partes do mundo. 
 
mar 94 Margaret Thatcher 
 
VEJA – Como a senhora descreve sua idéia de um "capitalismo popular"? 
THATCHER – É o meu sonho de fazer de cada cidadão um capitalista, o capitalismo 
das pessoas comuns. Não se esqueça de que na Inglaterra temos uma tradição de 
cidadania. A instituição do Parlamento começou no século XIII. O voto de poucos 
passou a ser o voto de todos. Vivemos sob o império da lei e sempre tivemos juízes 
capazes de dizer ao monarca: "Não há nenhum homem acima do rei, mas este está 
abaixo de Deus e da lei". Essa é nossa herança e nosso caráter. Mas, no início de 
meu governo, os ingleses não conseguiam ter uma poupança, não conseguiam 
acumular capital. Meu objetivo era fazer com que as pessoas, independentemente de 
sua origem, conseguissem adquirir ao menos a casa própria, acumulando algum 
capital para deixar aos filhos. Como nessa época 30% das casas e dos apartamentos 
pertenciam a órgãos públicos, fizemos um plano pelo qual os locatários tinham 
preferência e outras facilidades para comprar o imóvel onde moravam. Hoje, 68% dos 
ingleses são proprietários da casa onde moram e milhões têm ações de empresas 
privatizadas. Isso é capitalismo popular. 
VEJA – O governo da senhora ficou famoso pelas privatizações. Como foi a primeira 
privatização? 
THATCHER – Foi no setor siderúrgico. O aço produzido pela estatal custava ao povo 
inglês 1,5 bilhão de dólares por ano em subsídios. Pouco depois da privatização, o aço 
já rendia ao Tesouro – ou seja, ao povo – 330 milhões de dólares anuais. Outro ponto 
positivo: o dinheiro fruto da venda das estatais vai direto para o Tesouro, o que, mais 
uma vez, quer dizer para o povo. Mais dinheiro no caixa do Tesouro significa menos 
necessidade de impostos e até menos dívida pública. Ou seja, não se está dando 
nada de graça. As pessoas estão comprando o que o governo vende, o Tesouro deixa 
de ter prejuízo e passa a ter renda. É um ótimo negócio para quem paga imposto. 
VEJA – Quem se opõe à privatização das estatais no Brasil costuma dizer que 
privatizar é pegar algo que é propriedade de todos e dar de presente a alguns. 
THATCHER – Ninguém está dando nada a ninguém. A verdade é o contrário: em 
geral as estatais têm de ser subsidiadas com o dinheiro dos contribuintes. O governo 
não sabe administrar empresas, quase sempre o faz de modo inepto. Logo, logo a 
empresa está perdendo dinheiro, e o contribuinte tem ao mesmo tempo de comprar o 
que ela produz e pagar o prejuízo. 
VEJA – A senhora conheceu alguns líderes brasileiros, inclusive o ex-presidente 
Fernando Collor. Que impressão teve deles? 
THATCHER – Não faço comentários sobre pessoas. Parece-me bem claro que o 
Brasil não teve ainda um bom governo, capaz de atuar com base em princípios, na 
defesa da liberdade, sob o império da lei e com administração profissional. Bastaria 
um período assim, acompanhado da verdadeira liberdade empresarial, para que o país 
se tornasse realmente próspero. 
VEJA – A senhora concorda com a teoria de que a nova linha mundial de 
confrontação será entre civilizações e culturas diferentes, e não mais entre ideologias 
e sistemas econômicos? 
THATCHER – A fonte fundamental de conflitos é a disputa entre tirania e liberdade, 
entre quem quer impor sua vontade pela força e os direitos humanos fundamentais e a 
liberdade dos povos. Creio que há no momento 48 conflitos armados pelo mundo. 
Houve tiranos em todas as eras, e eles continuam a nascer. O conflito é entre tirania e 
direito, não se trata de cultura. 
 
 
Os campeões do liberalismo 
Durante a maior parte de sua vida, Friedrich von Hayek pregou no deserto. Expoente 
da chamada escola austríaca, grupo de economistas que adaptaram os conceitos do 
liberalismo clássico para a realidade do século XX, Hayek iniciou sua trajetória 
intelectual no pós-guerra, quando estavam em moda as idéias de John Maynard 
Keynes, defensor da intervenção estatal pesada na economia. Hayek achava que esse 
sistema levaria os países à quebradeira. Só em 1974, trinta anos após a publicação de 
seu livro mais famoso, Hayek recebeu a consagração, ganhando o Prêmio Nobel de 
Economia. Em 1979, em entrevista a VEJA, ele alertava para o perigo de remédios 
pretensamente milagrosos no combate à inflação, como o congelamento e o 
tabelamento de preços. 
 
dez 79 Friedrich Von Hayek 
 
 
VEJA – Como solucionar o problema da inflação? 
HAYEK – Naturalmente, é possível estancar a inflação 
cortando o excesso de dinheiro em circulação. Mas o 
preço é alto. A estabilização sempre leva a um período 
de desemprego agudo, a uma redução do nível geral de 
satisfação. Por isso, nenhum governo está disposto a 
enfrentar o problema com coragem. Afinal, seria difícil 
manter o poder. 
VEJA – O desemprego é inevitável quando a inflação é 
alta? 
HAYEK – Sem dúvida. O paradoxo é que, a curto prazo, 
a inflação reduz o desemprego. Mas, quando se utiliza a 
inflação como forma de reduzir o desemprego, acelera-se 
a própria inflação. No momento seguinte, quando se 
tenta controlar a inflação, o desemprego reaparece de 
forma ainda mais forte. Pois o que se fez foi criar 
empregos temporários que só se sustentariam enquanto 
estivesse ocorrendo a aceleração inflacionária.VEJA – O controle de preços não é uma arma eficaz no 
combate às altas taxas de inflação? 
HAYEK – De forma alguma. Ninguém tem poderes para 
controlar os preços de maneira eficiente. Os preços são 
sinais sobre coisas que ainda não conhecemos. Não se 
pode, enfim, corrigir um sinal do qual não se sabe o que 
está assinalando. O controle de preços termina por 
desorientar a produção, conduz à escassez e esta ao 
planejamento central. O fim dessa linha é o socialismo, e 
o socialismo é um equívoco. 
VEJA – O sistema de livre mercado não padece também de ineficiências? 
HAYEK – Ele necessita de uma moldura legal apropriada para funcionar 
eficientemente. No presente, é verdade, não se pode dizer que essa moldura seja a 
mais adequada. Precisamos, por isso, trabalhar para aperfeiçoar as leis. Por exemplo, 
deve-se aplicar às corporações empresariais as normas que, lentamente, foram 
desenvolvidas para regular a conduta dos indivíduos. De todo modo, essa adaptação 
tem de ser lenta e gradual, orientada pela experiência, jamais através de reformas 
radicais. 
Sergio Sade 
 
"A curto prazo, a inflação 
reduz o desemprego. 
Mas, quando se utiliza a 
inflação como forma de 
reduzir o desemprego, 
acelera-se a própria 
inflação. No momento 
seguinte, o desemprego 
reaparece de forma ainda 
mais forte." 
Friedrich von Hayek 
VEJA – Como o livre mercado poderia resolver os problemas das regiões 
subdesenvolvidas? 
HAYEK – O desenvolvimento dessas regiões é uma questão de descobrir 
oportunidades e habilidades, as quais são mais efetivamente alcançadas através da 
livre competição. Somente quando for dada às massas subdesenvolvidas 
oportunidade para que utilizem suas capacidades elas terão a possibilidade de deixar 
o estado de pobreza em que se encontram. 
 
 
Cristãos-novos do capitalismo 
 
• Felipe González 
País: Espanha 
Mandato: 1982-1996 
Como foi a conversão: demitiu funcionários 
públicos, privatizou estatais e abriu o país ao capital 
estrangeiro. Em seu mandato, a Espanha entrou 
para a Otan, aliança que se opunha ao bloco 
comunista 
AFP 
 
 
• Tony Blair 
País: Reino Unido 
Mandato: desde 1997 
Como foi a conversão: prometeu preservar a herança deixada por 
Margaret Thatcher, o que vem cumprindo. Continuou a abertura econômica 
e esforça-se para atrair investimentos 
 
 
• Lionel Jospin 
País: França 
Mandato: 1997-2002 
Como foi a conversão: foi o governante francês 
que mais privatizou estatais, numa escala maior até 
que os governos conservadores que o precederam 
AP 
 
 
 
Crônica de uma vitória anunciada 
O economista Friedrich von Hayek foi entrevistado por VEJA em 1979, o ano em que 
Margaret Thatcher assumia o governo da Inglaterra. Mais que uma coincidência, o 
momento marca uma transição da teoria para a prática. Em 1944, Hayek lançou seu 
livro mais conhecido, O Caminho da Servidão, prevendo que a Inglaterra perderia sua 
posição de destaque no mundo caso insistisse em políticas intervencionistas. Foram 
necessários 35 anos para que os ingleses percebessem que o velho pensador estava 
certo. Isso ocorreu quando Thatcher se incumbiu de soltar as amarras da economia 
britânica, colocando seu país novamente em velocidade de cruzeiro. O austríaco 
naturalizado inglês assistiu à vitória de seu pensamento. Acompanhou em vida o 
governo de Margaret Thatcher, que se tornou um exemplo para boa parte do mundo. 
Morreu em 1992, tendo assistido à queda do Muro de Berlim e ao esfarelamento da 
União Soviética. Hoje, governos de direita e de esquerda, de José María Aznar a Luiz 
Inácio Lula da Silva, baseiam suas políticas na idéia da qual Hayek foi o profeta e 
Thatcher, a executora: o liberalismo econômico. 
 
Material Complementar 2: 
Trechos da entrevista do economista Rodrigo Constantino à revista Veja (Veja, 2312, 
13 de março de 2013): 
 
Trecho 1 
As empresas de celulares estão entre as campeãs de queixas entre os 
consumidores brasileiros, apesar de serem extremamente rentáveis. Nas 
estradas privatizadas, as reclamações recaem sobre o valor dos pedágios. Não 
são sintomas de que a privatização nem sempre funciona? 
No fundo, se procurarmos bem, sempre haverá a impressão digital do governo nessas 
falhas atribuídas ao mercado. No caso dos celulares, há muitas reclamações, em 
primeiro lugar, por causa do grande aumento no número de usuários depois da 
privatização do sistema Telebrás. Antes nem adiantava reclamar, porque era um 
serviço caro e raro. Reconheço que existem problemas. Mas os impostos arrecadados 
pelo governo encarecem as tarifas e reduzem os investimentos. O sinal das chamadas 
é ruim porque faltam antenas. O grande entrave para ampliar o número de antenas 
são os governos, que demora a conceder as licenças de instalação. As pessoas 
reclamam do preço do pedágio, porém o que deveria ser objeto de revolta são os 
milhões arrecadados em impostos, como o IPVA, que não são investidos nas ruas e 
rodovias. As privatizações ocorreram sem nenhum arcabouço institucional 
minimamente decente, sem transparência nas informações. Privatização, assim, não 
faz milagre. 
 
Trecho 2 
Se a venda de estatais obteve resultados positivos, por que nenhum político no 
Brasil defende abertamente a privatização da Petrobras? 
As resistências são gigantescas. Para privatizar a Petrobrás, precisaríamos ter uma 
Margaret Thatcher, um estadista disposto a enfrentar os grupos de interesses 
localizados. Será impossível vender o controle da estatal enquanto imperar a ideia de 
que seria a entrega de um patrimônio público. Basta ver a dificuldade dos tucanos em 
defender o seu legado, no geral favorável, de privatizações. Elas foram feitas mais por 
necessidade, porque as estatais estavam quebradas, do que por convicção. Foi 
preciso que eu, um liberal convicto e crítico da social-democracia dos tucanos, saísse 
em defesa das privatizações. 
 
Trecho 3 
A redução da pobreza não deve ser uma missão eminentemente do governo, 
sobretudo em um país com bolsões miseráveis como o Brasil? 
Sinceramente, acredito que o Estado contribui mais para concentrara a riqueza do que 
para distribuí-la. Brasília, a capital com a segunda maior renda per capita do país, é 
um ótimo exemplo dessa concentração de renda patrocinada pelo governo. Não me 
convence o discurso segundo o qual a justiça social depende de um estado grande e 
inchado. O governo brasileiro cobra um pedágio muito alto em nome dessa 
distribuição de igualdade e, no fim, o resultado é uma concentração. O governo 
deveria concentrar os seus gastos na melhora da qualidade do ensino e também na 
infraestrutura. É o inverso do que existe hoje. O governo consome o equivalente a 
40% do PIB e investe apenas 1% do PIB. É preciso investir muito mais, sem, é claro, 
desativar uma rede de proteção mínima. 
 
 
Material Complementar 3: 
A seguir o texto "Privatizações: comparações e impactos de Collor à Dilma", 
disponível no blog Desenvolvimentistas, que compara o processo de 
privatização na gestão de diferentes presidentes brasileiros. 
 
Privatizações: comparações e impactos de Collor à Dilma 
1 - GOVERNO COLLOR, ITAMAR, FHC 
Iniciadas em 1991, com a USIMINAS, as características principais dos modelos de 
privatizações e concessões utilizados durante os Governos Collor, Itamar e FHC de 
1991-2002 no Brasil,são: 
 
- alienações com perdas totais da titularidade do capital de cada empresa estatal do 
setor produtivo (siderurgia, petroquímica, fertilizantes, celulose, etc.); 
- sem quaisquer compromissos com investimentos aos novos controladores das ex-
estatais, o que desmente um dos principais argumentos em defesa das privatizações: 
a escassez de recursos do Tesouro Nacional para viabilizar investimentos das estatais 
exigia privatizá-las;- completa liberdade para formação de preços, tarifas e lucros pós-privatizações e 
concessões, ao contrário do controle de preços, de investimentos, de dispêndios, 
exercidos pelo CIP - Conselho Interministerial de Preços - e pela SEST - Secretaria 
Especial de Controle das Empresas Estatais - antes das privatizações; 
- permissão de uso de moedas podres (títulos públicos a vencer, mas aceitos pelo 
valor de face), modelo de benefícios de grupos privados que foi adotado pelo Governo 
Collor, modificado pelo Governo Itamar, que realizou poucas privatizações, mas exigiu 
recursos financeiros dos investidores nos leilões realizados e novamente, à 
semelhança do Governo Collor, o modelo de privatização voltou a ser usado pelo 
Governo FHC; 
- metodologia para avaliar cada empresa estatal a ser privatizada sempre resultava em 
subavaliações do valor real de ativos de cada empresa estatal, devido a projeções de 
fluxos de caixa para cálculo do valor presente através de falsas hipóteses: menores 
receitas, de maiores custo, com mão de obra pós-privatizações, bem como omissão 
ou desconsideração de ativos de alto valor (exemplo: minas com alto teor de ferro da 
VALE em Minas Gerais foram considerados exauridos sem qualquer valor, mas 
voltaram a ser exploradas pouco depois da privatização e consideradas úteis para 
mais 500 anos de exploração); 
- alienação de uma empresa é praticado através do cálculo do valor presente de um 
fluxo de caixa projetado para 10, 15 ou 20 anos a uma taxa de desconto qualquer. O 
BNDES, órgão encarregado pelas privatizações utilizou, nos governos Collor, Itamar e 
FHC a taxa de 15% a.a. para estabelecer o preço mínimo dos leilões de cada empresa 
de qualquer setor, quando recomendável apurar objetivamente a taxa de desconto em 
função da alienação de empresas dos setores produtivos: siderurgia, petroquímica, 
fertilizantes, têxtil, celulose, etc.; e das concessões de serviços públicos: energia, 
telecomunicações, rodovias, ferrovias, etc., conforme as diferentes características 
setoriais e empresariais (rotatividade do ativo, prazo para depreciação, perfil e nível do 
endividamento, entre outras variáveis); 
- criação de agências regulatórias capturadas, desde suas estruturações, pelas 
principais empresas concessionárias de cada setor. 
 
Além das privatizações e concessões, o Governo FHC promoveu um desmonte geral 
do Estado, inclusive de universidades, entre outras consequências, desativação de 
empresas do setor privado, como construtoras importantes para implementação de 
obras de grande complexidade (hidrelétricas, ferrovias, rodovias, portos, aeroportos, 
aquovias), empresas industriais e prestadoras de serviços ao Governo. 
 
2 - GOVERNOS LULA E DILMA 
Os Governos de Lula e Dilma mudaram, completamente, o conceito e a abordagem 
sobre o papel do Estado no processo de desenvolvimento brasileiro. O Estado volta a 
ser Indutor do Desenvolvimento, a exemplo do papel contemporâneo que vem sendo 
usado pelos Governos da China, da Rússia, da Índia, etc., países que vem obtendo 
altas taxas de crescimento como o Brasil durante o período de 1930-1980 
(Substituições de Importações e Montagem de Estrutura Produtiva Diversificada e 
Integrada) através do tripé: empresas estatais estratégicas, empresas privadas 
nacionais e multinacionais. Países que conseguiram crescimento econômico 
prolongado (EUA, Alemanha, Japão, Coréia do Sul, Brasil, China, entre outros) 
reuniram convergências entre o Estado indutor do desenvolvimento, através de 
programas governamentais prioritários, e a implementação de estratégias 
empresariais de investimentos. 
 
Durante um longo período, de 1930 a 1980, o Brasil experimentou um ciclo de 
crescimento ("milagre econômico" entre 1967/79) baseado nos processos de 
substituições de importações e na estruturação de um sistema produtivo bastante 
diversificado e integrado, sob a liderança do tripé - setor produtivo estatal, 
multinacionais e empresas privadas nacionais. As taxas de investimentos atingiram 
entre 25 e 28% a.a. em relação ao PIB, o qual registrou crescimento médio de 7% a.a. 
durante o período. 
 
Ao contrário, no período entre 1985 e 2005, considerado como de duas décadas (um 
quinto de século) perdidas, as taxas de investimentos em relação ao PIB oscilaram 
bastante e decresceram a níveis inferiores a 15%. O crescimento médio do PIB foi 
inferior a 3% a.a. e oscilou bastante durante o período. 
 
O Brasil vem, desde 2004, implementando um novo modelo de desenvolvimento 
baseado na estruturação de um amplo mercado de massas cuja sustentação, no longo 
prazo, exige aumentar a formação bruta de capital fixo para garantir um crescimento 
médio do PIB em torno de 5% a.a. durante o ciclo. Ciente de referidas necessidades 
de investimentos, os Governos Lula e Dilma vêm adotando programas como o PAC 
(Programa de Aceleração do Crescimento), o MCMV (Minha Casa, Minha Vida), o 
Brasil Maior, a END (Estratégia Nacional de Defesa), entre outros, com o objetivo de 
estimular investimentos empresariais. 
 
Cabe sintetizar, neste contexto, características e resultados do novo modelo de 
parcerias do setor público com o setor privado a partir do Governo Lula. Entre as 
principais, cabe sublinhar: 
- elevados ágios apurados em leilões, de concessões para diferentes períodos de 
atuação, e envolvendo significativas participações pelos bancos oficiais, pelos fundos 
de previdência complementar e por empresas estatais como Petrobrás, Eletrobrás, 
CEMIG, etc.; 
- expansão de investimentos a curto, a médio e a longo prazo, a exemplo da matriz 
energética, a qual, pós mudanças do marco regulatório implementadas por Dilma - 
Ministra de Energia - e pelo Presidente Lula; bem como dos setores portuário, 
ferroviário e o setor aeroportuário, via recente modelo inovador; 
- manutenção, e até mesmo reduções de preços e/ou tarifas sem prejuízo da formação 
de lucros como fonte para financiamentos de investimentos das próprias 
concessionárias; 
- maior relevância dos bancos oficiais - BNDES, BB, CEF, BNB e BASA - que vem 
elevando, a taxas crescentes, empréstimos, em condições adequadas de prazos e 
encargos financeiros, para Investimentos estratégicos, mas condicionados ao controle 
do meio ambiente e à geração de emprego. 
 
3 - ALGUNS IMPACTOS RESULTANTES DO MODELO COLLOR/FHC E DAS 
MUDANÇAS DE RUMOS IMPLANTADAS PELO GOVERNO LULA/DILMA 
- Além do aumento e não diminuição da dívida pública interna e de dívida externa ao 
contrário dos argumentos, na verdade, ideológicos dos Governos Collor e FHC vale 
ressaltar os impactos setoriais resultantes do processo de privatizações e de 
concessões: 
- Siderurgia: aumento da capacidade instalada de 32milhões de toneladas de aço em 
1991, para apenas 40milhões em 2012, enquanto a China, com minério brasileiro, 
elevou de 21milhões de Toneladas para 675milhões de Toneladas no mesmo período. 
Em uma só palavra: de 7º maior player mundial, o Brasil passou a não ter grande 
importância em siderurgia. Logo, dificilmente o Brasil voltará a ser um dos principais 
players mundiais em siderurgia. 
 
- Petroquímica e Fertilizantes: pós privatizações o Brasil passou a ser importador e 
distribuidor, de produtos petroquímicos e, principalmente de fertilizantes, diante da 
realização de insignificantes investimentos. Felizmente o Governo Lula estimulou o 
retorno de participação da PETROBRAS em petroquímica e em fertilizantes, e da 
própria CIA VALE em fertilizantes, o que poderá resultar na recuperação destes 
setores pelo Brasil; 
 
- Telecomunicações: campeãs de reclamações nos PROCONS, além da desativação 
do desenvolvimento tecnológico (centro P, D, I em complexos) e consequente 
dependência de tecnologias importadas, além da concentração de mercado e de não 
atendimento de camadas de menor renda até o Governo Lula adotar programas de 
inclusão social via transferência de renda - Bolsa Família, Luzpara Todos, ampliação 
do BPC, etc. 
 
 
- PETROBRAS: durante todo o período FHC a PETROBRAS foi obrigada a colaborar 
com o superávit fiscal conforme FMI e não pode realizar investimentos durante todo o 
período. Ao contrário, durante os Governos Lula e Dilma, a PETROBRAS não apenas 
foi convocada para efetivar ambicioso plano de investimentos de elevação da 
produção, da exploração do Pré-Sal, de expansão e modernização em refinarias, em 
petroquímica e em fertilizantes, como também para estruturar o 
enobrecimento/adensamento da cadeia produtiva intersetorial petrolífera com total 
apoio a fornecedores nacionais. 
 
- Energia: basta citar o apagão para caracterizar os resultados do modelo de 
concessões usado durante o Governo FHC. No entanto, pós mudança do marco 
regulatório e fortalecimento do sistema Eletrobrás durante Dilma Ministra de Energia e 
Lula Presidente, as empresas voltaram a investir significativa, e aceleradamente, no 
desenvolvimento e diversificação para exploração de várias fontes da rica matriz 
energética brasileira, à semelhança do complexo petrolífero e os concretos potenciais 
para aproveitamento energético da árvore no Brasil (Metanol, Carvão Vegetal, Óleo 
diesel de alcatrão, Gás). Nos setores de geração de energia e petróleo, as 
concessionárias, empresas estatais e privadas, vêm executando programas 
ambiciosos de investimento. Já não ocorre o mesmo com os segmentos que foram 
privatizados, que investem e inovam muito pouco e mantém as tarifas muito elevadas. 
 
- Transportes, Portos, Saneamento Básico, Moradia: praticamente nulos durante o 
Governo FHC, investimentos nestes setores passaram a ser prioridades do PAC 
(Programa de Aceleração do Crescimento) e do MCMV (Minha Casa, Minha Vida). O 
DNIT e a VALEC voltaram a ter papel estratégico na solução dos transportes 
rodoviários e ferroviários, assim como os portos passaram, inclusive, a contar com 
uma secretaria especial, de nível ministerial, com o objetivo de viabilizar investimentos, 
os quais já começam a expandir. 
 
- Aeroportos: sem qualquer investimentos no governo FHC, a Presidenta Dilma criou, 
recentemente, a Secretaria Especial de Aviação, que, pós profundos estudos sobre a 
explosiva demanda resultante da inclusão social e da melhoria da distribuição de 
renda, identificou concretas oportunidades de parcerias entre a INFRAERO e 
investidores para efetivação de investimentos estratégicos. Assim, neste caso, o 
sistema de concessões, além de garantir tarifas adequadas e de implementação de 
investimentos estratégicos, mantém a participação fundamental da INFRAERO de 
modo a otimizar o aproveitamento de sinergias resultantes de adensamento e 
enobrecimento de cadeias intersetoriais envolvidas (construção, minero-metalúrgica, 
plástico, etc. ) e, não menos importante, a retomada da cadeia aeroespacial. 
 
No caso do Governo Itamar (1993-1995), além de poucas empresas privatizadas, o 
Governo exigiu recursos financeiros para alienar estatais e privatizou poucas 
empresas, mas através de um mix de títulos públicos e dinheiro em espécie. Quando 
Governador de Minas Gerais, o ex-Presidente Itamar reverteu desastrada privatização 
da CEMIG e eliminou vantagens ao grupo AES beneficiado pelo Governo Tucano de 
Eduardo Azeredo e conseguiu também impedir a privatização de FURNAS pelo 
Governo FHC. 
(Cézar Manoel de Medeiros - Doutor em Economia - IE/UFRJ) - texto originalmente 
publicado no Blog dos Desenvolvimentistas. 
 
Aula 2 
 
10/02/2007 - 08h50 – Folha de São Paulo 
Globalização não reduz desigualdade e pobreza no mundo, diz ONU 
da Efe 
 
A globalização e liberalização, como motores do crescimento econômico e o 
desenvolvimento dos países, não reduziram as desigualdades e a pobreza nas últimas 
décadas, segundo livro divulgado neste sábado pela ONU (Organização das Nações 
Unidas). 
 
A publicação, que leva o título "Flat World, Big Gaps" (Um Mundo Plano, Grandes 
Disparidades, em tradução livre), foi editado por Jomo Sundaram, secretário-geral 
adjunto da ONU para o Desenvolvimento Econômico, e Jacques Baudot, economista 
especializado em temas de globalização. 
 
Seu lançamento coincide com a realização da 45ª sessão da Comissão sobre 
Desenvolvimento Social da ONU, que revisa os objetivos da cúpula mundial de 
Copenhague de 1995. 
 
"A redução da desigualdade não está separada de questões como a pobreza e a falta 
de emprego", disse Baudot. "A idéia do livro é recuperar e situar como uma prioridade 
na agenda internacional o vínculo existente entre estes indicadores." 
 
Para Baudot, centrar as atividades para reduzir a pobreza no crescimento econômico 
conduz a estratégias nacionais e regionais que não respeitam o meio ambiente, outro 
fator para continuar com a desigualdade e a pobreza. 
 
No trabalho se constata que a distribuição das receitas individuais melhorou 
levemente, graças ao crescimento econômico na China e Índia, mas mesmo assim a 
repartição da riqueza mundial piorou e os índices de pobreza se mantiveram sem 
mudanças entre 1980 e 2000. 
 
A desigualdade na renda per capita aumentou em vários países da OCDE 
(Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) durante essas 
duas décadas, o que sugere que a desregulação dos mercados teve como resultado 
uma maior concentração do poder econômico. 
 
O livro indica que a desigualdade econômica nos países do Oriente Médio e o Norte 
da África não mudou, ao contrário da crença generalizada, mas aumentou na maioria 
dos outros países em desenvolvimento. 
 
Deste modo, constata que a globalização e a liberalização comercial não ajudou a 
reduzir a pobreza e a desigualdade na maioria de países da África. 
 
No livro se conclui que só uma pequena porção do crescimento da economia mundial 
contribuiu na redução da pobreza. 
 
"Houve uma tremenda liberalização financeira e se pensava que o fluxo de capital iria 
dos países ricos aos pobres, mas ocorreu o contrário", anotou Sundaram. 
 
Como exemplo, citou que os EUA recebem investimentos dos países em 
desenvolvimento, concretamente nos bônus e obrigações do Tesouro, e em outros 
setores. 
 
Tema para discussão: 
"A desigualdade na renda per capita aumentou em vários países da OCDE 
(Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) durante 
essas duas décadas, o que sugere que a desregulação dos mercados teve como 
resultado uma maior concentração do poder econômico" e "Deste modo, 
constata que a globalização e a liberalização comercial não ajudou a reduzir a 
pobreza e a desigualdade na maioria de países da África". 
Questões norteadoras: 
Qual deve ser o papel de um governo em uma sociedade? 
Cabe aos governos intervir na economia para combater a desigualdade social e 
a miséria? Ou seria melhor se eles diminuíssem os impostos e agissem só em 
setores estratégicos como saúde e educação? 
 
 
Publicado em “Revista Nova Escola” - revistaescolaabril.com.br

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