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Comunicação e Expressão Profª Margarida Rocha ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DA COMUNICAÇÃO Somos seres sociais, uma vez que passamos a maior parte da nossa vida com outras pessoas. Todos sabemos que a comunicação é um processo de integração, que, desde os primórdios, é utilizada entre os interlocutores como forma de troca de informações, apresentação de questionamentos, transmissão de pensamentos e de sentimentos. É indispensável ao bem estar pessoal, ajuda-nos nas mais diversas situações, como resolver conflitos, defender nossos interesses, evitar más interpretações. Portanto, é importante conhecer a estrutura e o funcionamento da comunicação, os elementos envolvidos, as funções da linguagem, para que você possa adquirir certas habilidades que facilitem as suas relações interpessoais. Também, é importante perceber que o conhecimento da estrutura e organização da língua portuguesa, com seus códigos verbais e não verbais é um alicerce à boa comunicação, ao alcance dos seus objetivos. Observe a imagem seguinte, tomando como referência um ato de comunicação: EMISSOR RECEPTOR INTERLOCUTORES COMUNICAÇÃO E INTENCIONALIDADE DISCURSIVA O linguista russo, Roman Jakobson, elaborou um modelo para o ato comunicativo, no qual seis elementos fazem parte: Elementos Básicos da Comunicação Emissor / remetente / locutor – elemento que emite, codifica a mensagem, aquele que diz algo a alguém. Pode ser uma pessoa, uma empresa, um sindicato... Receptor / destinatário / interlocutor- aquele que recebe, decodifica a mensagem, com quem o locutor se comunica; Mensagem - conteúdo que perpassa entre emissor e receptor. Código - conjunto de signos usado na transmissão e recepção da mensagem. É formado por um conjunto de sinais, organizados de acordo com determinadas regras, em que cada um dos elementos tem significado em relação com os demais. Aqui, no Brasil, utilizamos a Língua Portuguesa, com seus códigos verbais e não verbais. O código deve ser de conhecimento de ambos os envolvidos: emissor e receptor. Caso contrário, a comunicação não será efetivada. Referente – o assunto da mensagem, a situação que envolve o emissor e o receptor e o contexto linguístico. Situação a que a mensagem se refere, lugar a que a mensagem se refere, o assunto. Canal – meio físico ou virtual pelo qual circula a mensagem e a conexão psicológica. Pode ser o rádio, a televisão, um microfone, o telefone, uma revista, um jornal, a internet, dentre outros Obs.: as atitudes e reações dos comunicantes são também referentes e exercem influência sobre a comunicação. Podemos sintetizar o processo da comunicação da seguinte forma: o EMISSOR envia uma MENSAGEM CODIFICADA por meio de um CANAL ao RECEPTOR, que compartilha do mesmo CONTEXTO. Veja um exemplo: Pronunciamento do presidente em cadeia nacional de rádio e TV no Dia do Trabalho. Emissor: presidente Receptor: cidadãos Mensagem: parabenização pelo Dia do Trabalho Código: língua portuguesa falada Canal: rádio e TV Contexto ou Referente: Dia do Trabalho Ruídos na comunicação É todo e qualquer problema que possa ocorrer na transmissão/elaboração ou na recepção/entendimento de uma mensagem. As diferenças culturais, as condições acústicas e/ou visuais da situação de comunicação, a predisposição dos interlocutores e suas diferenças e tantos outros fatores podem impedir que uma mensagem seja recebida da mesma maneira que foi enviada. Um exemplo clássico de ruído na comunicação é a chamada “linha cruzada” ao telefone, quando o processo de transmissão da mensagem recebe a interferência de outro processo, indesejado e descontextualizado. Nesse caso, houve interferência no canal da comunicação. Entretanto, há diversas situações, envolvendo outros elementos da comunicação, em que pode ocorrer ruído. Exemplos: O emissor não organiza suas ideias de forma clara, levando ao não- entendimento da mensagem por parte do receptor. Nesta situação, a fala do emissor sofre interferência de pensamentos inconclusos, vagos e indefinidos, ou não se estrutura segundo as regras convencionadas para a língua; O receptor não está suficientemente atento e concentrado para receber a mensagem, gerando mal-entendidos. Normalmente, neste caso, a comunicação sofre interferência de fatores subjetivos, como, por exemplo, um pensamento que o receptor esteja elaborando e que desvia sua atenção da mensagem do emissor; O emissor ou o receptor não tem domínio completo do código utilizado. Esta situação ocorre quando o emissor utiliza uma palavra desconhecida para o receptor, ficando a mensagem com sua decodificação e entendimento comprometidos; ou quando o emissor faz uso de um vocábulo inadequado, supondo-lhe um sentido que não corresponde ao usual, convencionado, nem constitui caso de linguagem figurada; O canal sofre interferências, impossibilitando a perfeita transmissão da mensagem. É o caso da “linha cruzada”, ou quando, por exemplo, ao ler as legendas de um filme no cinema, alguém se levanta e se coloca entre o espectador e a tela, obstruindo sua visão; O emissor e o receptor têm percepções diferentes do contexto da comunicação, ou o receptor o desconhece. É a situação clássica do que popularmente se chama de “pegar o bonde andando”, em que se entende parte da mensagem de maneira descontextualizada do processo inteiro da comunicação. Também ocorre quando o emissor elabora uma mensagem com base em um referencial e o receptor ou não dispõe de meios de conhecê-lo ou, pela inconsistência do contexto, atribui à mensagem um referencial equivocado. Vale ressaltar que no ato de comunicação, poderão ocorrer os RUÍDOS, que são interferências provenientes de qualquer um dos elementos da comunicação ou de outros elementos externos. Podem ocorrer na produção, na interpretação, por conta do desconhecimento do código, quando há problemas no canal. Esses ruídos trazem consequências negativas em todos os setores. Leia estas tiras de Quino: Tira 1 No 3º quadrinho dessa tira, ocorre um ato de comunicação entre a mãe de Mafalda, Mafalda, Filipe e Manolito. Considerando os elementos da comunicação nesse quadrinho: a) Quem é o locutor ou emissor? b) Quem é o interlocutor? c) Qual é a mensagem? d) Em que código está essa mensagem? e) Qual é o canal que a veicula? f) Qual é o referente ou assunto da mensagem? Tira 2 No 2º e no 3º quadrinhos ocorre um ato de comunicação entre Susanita e Mafalda. Considerando os elementos de comunicação nesse quadrinho: Quem é o locutor ou emissor? Quem é o interlocutor? Qual é a mensagem? Em que código está essa mensagem? Qual é o canal que a veicula? Qual é o referente ou assunto da mensagem? Para aprofundar... Para aprofundar o seu conhecimento, recomendamos que assista ao vídeo: Sua empregada fala inglês? e observe o ruído causado pelo não entendimento dos CÓDIGOS (Língua Portuguesa x Língua Inglesa). Só houve um único momento em todo o diálogo em que os interlocutores se entenderam. Qual foi? Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=_RKt3aWY_8E Leia e reflita... A comunicação ocorre quando um emissor transmite uma mensagem para um receptor. Você concorda com essa definição? Se sua resposta foi afirmativa, é bom lembrar que o simples fato de enviar uma mensagem a alguém só passa a ser comunicaçãose essa mensagem se tornar comum a ambos os interlocutores, se houver um “feedback” (informação que o emissor consegue obter e pela qual sabe se a sua mensagem foi assimilada pelo receptor). Caso contrário, houve apenas uma tentativa de comunicação. Agora, veja uma definição mais completa: A comunicação ocorre quando o emissor transmite uma mensagem a um receptor e essa mensagem se torna comum a ambos. Conforme Roman Jakobson (apud GUIMARÃES, 2014), alguns elementos estão envolvidos no ato comunicativo. Atreladas a esses elementos, há as funções da linguagem. Cada uma com um elemento de destaque. Vale salientar que em um texto produzido, há sempre uma intencionalidade discursiva, seja ela a de convencer, conceituar, perpassar sentimentos, informar, apelar, dentre outras. O leitor deve adquirir competências para ler, não só o que está explícito, mas também o que está implícito. Sendo assim, o que conseguimos expressar e comunicar através da linguagem? Para que ela funciona? A multiplicidade da linguagem pode ser sintetizada em seis funções ou finalidades básicas. Veja a seguir: FUNÇÕES DA LINGUAGEM Veja as funções da linguagem e os elementos da comunicação em destaque, segundo Jakobson: Função da linguagem Elemento da comunicação em destaque Emotiva Emissor Conativa Receptor Poética Mensagem Metalinguística Código Fática Canal Referencial Referente, contexto A função emotiva, também chamada de expressiva, tem como objetivo transmitir as emoções, anseios e sentimentos do emissor. Mostra seu estado de ânimo. A mensagem é subjetiva e centrada no EU, primeira pessoa A pontuação (ponto de exclamação, interrogação e reticências), muitas vezes se faz presente para transmitir a subjetividade da mensagem e reforçar a entonação emotiva. Essa função é comum em poemas, textos líricos, textos dramáticos, declaração de amor. Observe: Função conativa ou apelativa tem como elemento da comunicação o receptor. Toda produção textual é dirigida a esse elemento com o objetivo de tentar mudar o seu comportamento, motivá-lo, convencê-lo. É muito comum o uso de vocativos (você, o senhor, professor, empresário, aluno...), verbos no imperativo (veja, compre, faça, não avance...). É comum nos textos publicitários, políticos, conselhos que damos e recebemos, placas de trânsito, entre outros) Veja alguns exemplos: Observe que as duas primeiras imagens (horizontais), uma campanha educativa e uma placa de trânsito são textos direcionados a um receptor com a intenção de mudar o seu comportamento. As outras duas são propagandas que fazem um apelo ao receptor, para que ele conheça, motive-se e compre o produto. É bom lembrar que podemos encontrar essa função tanto em textos verbais, como nos não verbais. Veja exemplos de um apelo em textos não verbais (sem fala e sem escrita) A função poética utiliza uma linguagem que valoriza a mensagem, o texto na sua elaboração. O autor faz um jogo de combinação de palavras, figuras de linguagem, ressalta o eu-lírico, explora sentimentos. Comumente, são utilizadas palavras no seu sentido conotativo, ou seja, sentido figurado. Encontramos em textos literários, especialmente nos poemas, em que há uma enfatização da subjetividade. No entanto, podemos encontrar esse tipo de função na prosa e em outros textos. De um modo geral, há uma predominância da linguagem conotativa (figurada). Observe estes exemplos: Camões A função metalinguística está centrada no código. A etimologia da palavra já direciona ao seu sentido. Origina-se do grego “meta” (acerca de, sobre) e linguística (linguagem). A linguagem usa a própria linguagem para conceituar, explicar, ressaltar. Um bom exemplo é o dicionário, em que um código (o verbete) conceitua esse código, dar explicação. Se alguém lhe perguntar: — O que significa a sigla EAD? E você responde: — significa Ensino a Distância. Você utliza a função metalinguística, pois uso um código (EAD) para explicá-lo. Resumindo, com mais exemplos, é uma poesia que fala do que é poesia; é um poeta que fala do que é ser poeta; é uma história de quadrinhos que fala dos quadrinhos, das características desse gênero textual; uma música que fala da música, um escritor que fala do ato da escrita, entre outros mais. Veja estes exemplos: Neste texto além da função poética, encontramos a função metalinguística: um poeta, Fernando Pessoa, definindo o que é ser poeta. Neste quadrinho o personagem masculino ressalta uma característica do gênero textual “quadrinho”, que é o balão de fala. Podemos, também, encontrar a função metalinguística no texto não verbal. Neste texto, o artista se autorretrata. Usa o código, a imagem, para ressaltá-la. Na função fática, o elemento da comunicação posto em destaque é o canal. O objetivo do emissor é testar o canal e certificar-se do contato estabelecido. Pode prolongar ou interromper a comunicação, utilizando marcadores conversacionais, como alô, né?, certo?, afinal?, ahã,hum, "ei", entre outros. Um bom exemplo é a conversa telefônica. Seguem os exemplos: Aqui é utilizado um canal para efetivar o diálogo entre os interlocutores. O telefone é utilizado para manter o contato com o receptor. Também, no texto não verbal, encontramos essa função. Esse som emitido por uma televisão nacional é utilizado para manter o contato com o telespectador, o qual já atribui um sentido. A função referencial ou denotativa tem como elemento de destaque o referente, o assunto. É um texto que passa uma informação objetiva, perpassa dados da realidade, é impessoal, não há comentários, nem avaliação de quem escreve. Não dá margens a outras interpretações, pois é um texto que utiliza uma linguagem real, denotativa. Encontramos essa função nos livros didáticos, textos acadêmico-científicos, jornalísticos, etc. Confira! Em ambos os textos, encontramos informações com uma linguagem objetiva, real, sem avaliação. Vamos colocar o conhecimento em prática? Agora, chegou o momento de colocar em prática a teoria a respeito da estrutura e funcionamento da comunicação. Não se esqueça de que em um mesmo texto, podemos encontrar mais de uma função, embora haja uma que se sobressaia. Assista ao vídeo clipe: “Tente outra vez”, de Raul Seixas (2:21). Faça uma reflexão acerca das funções da linguagem presentes na letra da música. Qual a função da linguagem predominante que permeia toda a letra da música? Tente justificar com exemplos retirados da letra. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=8OxlAOvAmZk ATENÇÃO! Não leia os comentários, antes de assistir ao vídeo, e, de refletir sobre as funções da linguagem. Como você percebeu, há duas funções na letra da música de Raul Seixas: a poética e a conativa. Para ressaltar a função conativa, a que predomina, o autor faz uso de construções poéticas (“...Não diga que a canção está perdida”... “Pois a água viva ainda está na fonte...” Perceba que o elemento da comunicação, em destaque, é o receptor. Toda a letra apresenta construções na tentativa de mudar o seu comportamento, de convencê-lo a mudar de atitude. É uma mensagem de ânimo. Veja alguns trechos: Veja Não diga... Tenha fé em Deus... Tente... Levante sua mão e recomece a andar... REFERÊNCIAS CHALHUB, Samira. Funçõesda linguagem. São Paulo: Ática, 2010. Série Princípios GUIMARÃES, Thelma de Carvalho. Língua Portuguesa I. São Paulo: Pearson, 2014. MARCUSCHI, Luiz Antonio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. 4. Ed. São Paulo: Cortez, 2003 SILVA, Elizabeth, R. (Org.). Texto & Ensino. São Paulo: Cabral editora e Livraria universitária, 2002
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