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APOSTILA DE ESTUDOS – FILOSOFIA CURSO DE DIREITO Prof.ª. Jéssica Lira. QUESTÕES INICIAIS: - A Filosofia é necessária na atualidade? - Quais as características do pensamento filosófico? ESTUDO DE CASO: Elabore em cinco linhas, no mínimo, argumentos filosóficos que se contraponham ao negacionismo da ciência na contemporaneidade. ❖ MITO E O NASCIMENTO DA FILOSOFIA: O homem já formulava explicações sobre o que havia em seu entorno antes da filosofia nascer. Já existiam culturas, com produções intelectuais espetaculares Certamente em todas as culturas existentes até então existiam maneiras de o homem explicar o que se passava à sua volta. Explicações compartilhadas, tradições transmitidas de geração em geração. Pensem ainda na necessidade sempre premente de respondermos às três perguntas sobre de onde viemos, quem somos e para onde vamos, que envolvem nascimento, sexo e morte? Nas sociedades anteriores e contemporâneas ao nascimento da filosofia, os mitos tinham papel fundamental na organização das trocas sociais. Procedimento inaugurado pela filosofia rompe em larga medida com isso. Conhecer pela razão exige que se fundamente o conhecimento com argumentos, o que não é possível diante do mito. O mito traz uma possibilidade de entendimento sobre a existência e origem do universo e das coisas que nele existem. Enquanto narrativa, transmite mensagens metafóricas, retratando o universo, a sociedade, seus paradoxos e contradições, dúvidas e valores. Assim, possui uma eficácia na organização da vida social. Mito do Édipo. Importante também notar que filósofos recorreram em alguns momentos aos mitos para transmitir sua filosofia. Veremos como o filósofo Platão lançou mão de mitos para explicar, por exemplo, o que é conhecer. Porém o lugar do mito em sua filosofia não será jamais um lugar central e sua finalidade é, sobretudo, didática, voltada não para a fundamentação de suas teses, mas sim para uma apresentação mais acessível. O mito do andrógino e o todo erótico do ser. A filosofia, pelo menos quando surge, pretende produzir conhecimento através da razão. O que seria então essa tal razão? Para a filosofia a razão é a faculdade que pode nos levar aos fundamentos, aos princípios claros e distintos e às causas primeiras. MITO: • Narrativa • Imaginação como base • Usa imagens para explicar o mundo • Deuses e heróis em ação • Crença • Não questionável • Rito ❖ O QUE É FILOSOFIA? PHILO + SOPHIA: Amor fraternal; Amizade + Sabedoria. Diferente da IDEOLOGIA que serve para mascarar a realidade. A ideologia é uma nova palavra que cria uma realidade e transforma o mundo. A Filosofia ainda pode ser definida como “o amor pelo conhecimento”? Filosofia é a busca da unidade do conhecimento na unidade da consciência e vice-versa. Esta definição aplica-se inclusive às filosofias que negam o conhecimento ou que negam a unidade da consciência. A filosofia é uma reflexão sobre o conhecimento adquirido, e supõe, por isto, uma boa cultura pessoal, principalmente a cultura da imaginação (através das artes). Toda filosofia nasce de um impulso originário – infantil, se quiserem — de entender a realidade da experiência. Mas, entre esse impulso e a “filosofia” como atividade curricular acadêmica, a distância é às vezes tão grande que ele desaparece por completo. As desculpas para isso são sempre as mais respeitáveis. Antes de responder às perguntas da infância é preciso adquirir os instrumentos intelectuais do saber adulto, o que inclui o estudo das obras dos filósofos; este estudo supõe o domínio da interpretação de textos; e a interpretação de textos pode ser tão interessante que se torna um pólo de atração independente. Eis-nos então nos píncaros do saber filosófico acadêmico, ao menos no sentido franco-uspiano do termo, e imunizados para sempre às perguntas que nos levaram, pela primeira vez, ao estudo da filosofia. Na USP dos anos 60, que não parece ter mudado muito desde então, qualquer tentativa de enfrentar essas perguntas em vez de ocupar-se da nobre tarefa da análise de textos era desprezada como amadorismo, beletrismo, ensaísmo. Quando o prof. José Arthur Gianotti, no auge da sua maturidade intelectual, define a filosofia como uma ocupação com textos, ele não faz senão expressar sua experiência de algo que, no ambiente da sua formação, recebia o nome de “filosofia”, mas que jamais seria reconhecido como tal por Sócrates e Platão. FILOSOFIA: • Investigação • Argumentação • Razão como a base • Usa noções para explicar o mundo • Logos • Questiona • Diálogo Platão — ou Sócrates — mostrava um caminho para a filosofia que jamais poderia ser encontrado num texto. Ele falava de uma anamnesis, de um mergulho na memória pessoal em busca do instante do nascimento da consciência filosófica. A consciência filosófica era a antevisão das formas universais eternas. Essas formas transcendiam infinitamente a esfera da experiência corporal, portanto também da memória sensível, mas, em algum momento esquecido do tempo, haviam se entremostrado nela e despertado, na alma do indivíduo carnal, a aspiração do Bem supremo. No curso posterior da vida, a maioria dos homens se esquecia desse momento para sempre. Em outros, a ocultação era parcial. Se o objeto experienciado desaparecia da consciência, a aspiração a que ele dera nascimento permanecia viva. Viva, mas buscando satisfação a esmo em objetos impróprios, errando entre símbolos e simulacros até atinar — ou não — com o caminho de volta. O encontro do aprendiz com o filósofo maduro era um momento decisivo dessa busca. O filósofo atraía os discípulos porque algo, nele, evocava o Bem supremo. O filósofo era um símbolo. O discípulo podia agarrar-se a ele como a qualquer outro símbolo, adorando-o ao ponto de desejar possuí-lo carnalmente. É o que Alcebíades, após a noitada do Banquete, confessa a Sócrates. Mas Sócrates lhe explica que ele está buscando na direção errada. O que move a alma do discípulo é o desejo de um bem espiritual esquecido, que a carne de Sócrates não pode satisfazer. O filósofo é um símbolo do Bem e não o próprio Bem. Nesse sentido, ele não é diferente de qualquer outro símbolo. Mas ele não é apenas símbolo. Ele não se limita a representar exteriormente o Bem, como a beleza material o representa sem saber o que faz. Ele é um registro consciente daquele Bem que ele próprio simboliza. Ele é o homem que realizou a anamnesis e descobriu na própria alma a abertura para o Bem. Por isso ele pode ensinar a Alcebíades o caminho de volta, mostrar que esse caminho não se encontra no corpo de Sócrates, e sim na alma de Alcebíades. Ele convida o discípulo à metanóia, ao giro da direção da atenção desde fora para dentro, desde a atualidade dos sinais sensíveis para a escuridão da memória, em cujo fundo brilha, escondida, a recordação da abertura primordial para a experiência do Bem e das formas eternas. A análise infindável de textos é uma longa deleitação viciosa no corpo dos símbolos, um derivativo carnal que afasta para sempre da recordação do Bem ao mesmo tempo que crê piamente “fazer filosofia”. Foi isso que ensinaram ao prof. Gianotti com o nome de “filosofia”. Mas não era isso o que Sócrates e Platão ensinavam (CARVALHO, 2004). O filósofo que tomasse como tema a estrutura da sua própria filosofia, para discorrer sobre ela, já a estaria assim, nesse mesmo momento, inserindo como parte numa estrutura maior. Uma das consequências disso é que a estrutura não pode ser revelada por nenhuma “análise de texto”, por mais meticulosa e bem cuidadinha que seja, a qual só leva à estrutura da exposição, ou da obra escrita, cuja relação com a estrutura da filosofia propriamente dita é variadaDesta forma, a busca pela emancipação do homem faz com que ele quebre os laços com o meio para obter sua autoafirmação, e se diferenciar destes, pois o que os difere é o que importa. Não ser como o outro, mas tomar seu próprio lugar e, assim que estivar saturado, tomar outra forma. ❖ A SOCIEDADE EM REDE O sociólogo alemão Norbert Elias publicou, em meados do século XX, um livro chamado O Processo Civilizador, em que analisava como costumes, gestos e regras de etiqueta são incorporados e transmitidos culturalmente de geração em geração. Ou seja, se hoje, nas sociedades ocidentais capitalistas, comemos de garfo e faca e aprendemos que não é correto falar de boca cheia, é porque esses gestos são exemplos de construções culturais e coletivas incorporadas por aqueles que nos criaram e que nos foram transmitidas sem que nos questionemos. Ao longo da vida, inicialmente com nosso núcleo familiar e, depois, na escola, até a fase adulta, vamos desenvolvendo uma série de competências que nos permitem viver e trabalhar coletivamente. Como isso tudo parece um processo natural, dificilmente paramos para nos perguntar: javascript:void(0) O que é sociedade? Isso que chamamos de sociedade existiu desde sempre? É possível vivermos isolados? De quais diferentes maneiras, historicamente, nós fomos e estamos conectados? O CONCEITO DE SOCIEDADE De acordo com a definição mais simples, sociedade é um tipo de sistema coletivo que se distingue por características culturais, estruturais e demográficas / ecológicas. Trata-se de um sistema definido por um espaço geográfico (que pode, ou não, coincidir com as fronteiras dos Estados-nação), no interior do qual grupos de pessoas compartilham de uma cultura e estilos de vida comuns, com relativa autonomia em relação a outras sociedades. Não há, porém, uma definição última e fechada desse conceito – que pode, também, ser explicado como um espaço familiar no qual se inscrevem práticas individuais e coletivas (sempre em relação) e todas as suas representações, ou seja, os imaginários, visões de mundo etc. As análises sociológicas e antropológicas podem estudar as sociedades a partir de diferentes níveis de realidade social, ou de sistema de relações: enfocando o ordenamento político, econômico, religioso ou, de modo geral, cultural. Atualmente, a maioria de nós vive no que os antropólogos chamam de sociedades complexas, isto é, integradas por grandes grupos populacionais, interligados culturalmente e regidos por normas compartilhadas, dispondo de técnicas sofisticadas de transporte, comunicação e produção, além de acentuada divisão do trabalho. Isso quer dizer que nós estamos efetivamente conectados e somos totalmente dependentes uns dos outros. O SÉCULO XIX E A DIFUSÃO DO CAPITALISMO E DA CULTURA EUROPEIA NO MUNDO Dois processos de dimensão mundial marcaram o século XIX: o neocolonialismo (imperialismo) e a independência das antigas colônias europeias na América Latina. Chamamos neocolonialismo ou imperialismo a dominação europeia sobre enormes territórios nos continentes africano e asiático. Muitos fatores podem ser elencados para explicar esse fluxo, dentre eles: As inovações da Revolução Industrial e a associação das indústrias com os bancos, gerando créditos, aumentaram exponencialmente a produtividade e era preciso, por isso, buscar novos mercados. Ao longo do século XIX, ganharam força as teorias racialistas, que julgavam a raça branca superior às demais – que deveriam, portanto, ser sujeitadas e conduzidas à verdadeira civilização. LIMITES E POSSIBILIDADES DAS SOCIEDADES EM REDE NO SÉCULO XX Façamos um pequeno resumo das primeiras etapas da mundialização, antes de chegarmos ao século XX. A construção da interdependência entre as diversas regiões do globo esteve, desde o século XVI, intrinsecamente relacionada ao desenvolvimento do sistema capitalista. As chamadas Grandes Navegações desse período possibilitaram a ligação entre Américas, África e Europa, a partir do comércio, da escravidão e da colonização. O processo de colonização e de espoliação das colônias, por sua vez, acelerou o curso de industrialização no continente europeu, de modo que, no século XVIII, a Inglaterra passou pela primeira Revolução Industrial, seguida, ao final do século, por outras potências europeias, tais como França e Alemanha. SÉCULO XIX No século XIX, essas potências europeias competiam entre si por poder e mercados para seus produtos, cada uma delas tentando proteger e fortalecer a própria economia. Desse modo, os Estados nacionais ainda detinham muito poder e estabeleciam medidas protecionistas para suas indústrias. É nesse momento, também, que o capital financeiro (dos bancos) se une ao capital industrial na Europa, gerando crédito e facilitando o aumento acelerado da produção. Por outro lado, a população europeia não tinha condições de consumir tudo que estava sendo produzido. A necessidade de novos mercados para produtos europeus é um dos fatores que explica o processo de colonização ou neocolonização de grande parte dos territórios africano e asiático por países europeus. Havia, claro, uma série de outras circunstâncias e motivos culturais/ideológicos – como a crença na superioridade europeia e o racismo. Assim sendo, é a partir desse momento que as indústrias começarão a ser transferidas para além do território europeu. As relações salariais, o modo capitalista de produção e a cultura ocidental vão se impondo em regiões que ainda não haviam sido dominadas por completo. Ao final do século XIX, o sonho europeu de dominação parecia haver se concretizado, se não fossem as tensões cada vez maiores entre as diferentes nações. Como se sabe, essas tensões (disputas por poder e territórios) resultarão na Primeira Guerra Mundial em 1914 e, posteriormente, na Segunda Guerra, marcada não apenas pela violência dos combates, mas pelo genocídio nazista na Alemanha. Em 1948, a recém criada ONU (Organização das Nações Unidas) aprovou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, um documento de construção coletiva que visava estabelecer prescrições humanistas a serem respeitadas por todos os países-membros e com aspiração à universalidade. Será a partir desses recursos que a cultura de massa no modelo estadunidense será exportada para todo o mundo – especialmente as culturas do consumo como forma de realização pessoal, e do Self-Made Man. Temos, então, um mundo já conectado pela informação que se difunde rapidamente via rádio e televisão, e pela publicidade neles veiculada. javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) A ASCENSÃO DAS REDES SOCIAIS NO SÉCULO XXI As redes sociais, em especial o Facebook, foram recebidas com entusiasmo em todo o mundo, não apenas pelo seu caráter de entretenimento, mas, sobretudo, pela percepção de que essas redes poderiam democratizar o acesso à informação e ao conhecimento, considerando-se que a chamada grande mídia, ou seja, as grandes redes de televisão e jornais em todo o mundo, sempre foram dominadas por um pequeno número de famílias e grandes corporações. Além disso, os jornais televisivos, impressos ou digitais, representam uma difusão vertical da informação, com pouca ou nenhuma interação. Nas redes sociais, por sua vez, não apenas recebemos as informações, mas podemos comentar, compartilhar com textos críticos/analíticos, debater com outras pessoas, participar de grupos de discussão etc. Com essa fluidez e rapidez, as redes sociais, tornando-se parte fundamental do ciberespaço transformaram-se em um lugar de encontro para uma grande massa de pessoas que, há muito tempo, não se sentia mais representada pela política institucional. Propaga-se, rapidamente, no Brasil e no mundo, o chamado ciberativismo. A ERA DA INFORMAÇÃO E DA PÓS-VERDADEAs eleições ocorridas entre 2016 e 2018 expuseram ao mundo o poder das novas tecnologias, em especial das redes sociais, em detrimento do antigo poder dos grandes veículos de imprensa. O momento posterior à eleição de Trump nos EUA foi permeado por uma série de investigações em torno do bombardeamento de fake news via redes sociais, e como essas notícias falsas teriam afetado os resultados da corrida eleitoral. Embora boatos e notícias falsas sempre tenham existido, agora elas passaram a circular em uma velocidade sem precedentes na história, e atingindo uma massa incalculável de pessoas. As redes sociais abriram a possibilidade de compartilhamento instantâneo de informações e imagens, que podem ser produzidas por qualquer pessoa. Ao mesmo tempo que isso, de fato, horizontaliza a divulgação e recepção das informações, deixa brechas para um fluxo imenso de notícias não averiguadas, descartáveis ou, simplesmente, falsas. As apurações das eleições norte-americanas mostraram para o mundo, ainda, que os caminhos de compartilhamento das fake news não eram tão espontâneos quanto se pensava.e ambígua. O método para apreender a estrutura de uma filosofia tem de partir dos seguintes princípios: (1) Toda filosofia, por abstrata e desinteressada que pareça, é uma intervenção no curso dos negócios humanos. Visa sempre a modificar ou reforçar o estado de coisas na sociedade, na cultura, na ciência, na religião, nos costumes, ou mesmo na condição humana em sua totalidade. (2) Para esse fim, procede a um exame em profundidade dos obstáculos, cognitivos ou de qualquer outra ordem, que impedem ou dificultam sua consecução, tentando criar os meios intelectuais e práticos para removê-los. (3) Sua estrutura, portanto, define-se como uma articulação de fins e meios. Qual a meta histórico-cultural proposta e qual a estratégia, a um tempo cognitiva e persuasiva, usada para legitimá-la e viabilizá-la? Dito de outro modo, a estrutura de uma filosofia só se revela quando o discurso em que ela se expressa é examinado não como um puro sistema de ideias e doutrinas, mas como uma ação humana, a intervenção de um indivíduo intelectualmente privilegiado na vida dos seus semelhantes supostamente menos dotados dispostos a ouvi-lo. EXEMPLO: Se você diz: “Eu amo-te, minha amada!”. Um filósofo poderia intervir e questionar: “Mas quem é você? Quem é a sua amada? O que é o Eu? E o que é o amor?” Isso é uma forma platônica e Agostiniana de filosofar. Uma ligação identitária de conhecimento e de filosofia. ❖ HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA DEMOCRACIA ATENIENSE: A cidadania ateniense sofreu uma série de transformações ao longo de sua história, ocorrendo em concurso com a economia, política e cultura da época. Nos seus primórdios, até meados do século VII a.C., Atenas era controlada pelos eupátridas, aqueles que detinham a maioria das terras férteis. Contudo, no decorrer da história ateniense, as lutas entre as classes sociais, a instabilidade, o crescimento da pólis (cidade-estado) e o desenvolvimento do comércio fizeram com que os eupátridas se vissem obrigados a reformular as instituições políticas de Atenas. Um grupo de legisladores atuou no processo de transformação de tais instituições. Em 621 a.C., Drácon postulou as primeiras leis escritas do governo, substituindo assim as leis orais, que eram controladas apenas pelos “bem-nascidos” (eupátridas). A partir de 594 a.C., Sólon, outro legislador, instituiu reformas políticas mais ambiciosas em Atenas. Algumas de suas medidas sócio-jurídicas foram à eliminação da escravidão por dívidas; a divisão da população por meio do poderio econômico de cada indivíduo, fazendo com que, agora, membros não eupátridas, mas possuidores de certa quantidade de riqueza tivessem o direito à participação política; e a criação do Helieu, tribunal de justiça aberto a todos os cidadãos. No fim do século VI a.C, buscando expandir os direitos políticos da população, Clístenes, o “Pai da Democracia”, ascendeu ao poder, através da liderança de uma revolta, pondo fim à ditadura e inaugurando a Democracia Ateniense, base de estudo deste trabalho. Adotou várias medidas democratizantes, dentre as quais, a população passou a ser dividida em 10 tribos, sendo que cada tribo teria seu representante político no governo central, fazendo com que a proximidade do governo com a população crescesse e as influências dos eupátridas começassem a ser neutralizadas. A partir de 451 a.C, no governo de Péricles, que compreendeu a chamada “idade de ouro” de Atenas, dado o esplendor vivido pela cidade-estado nos âmbitos econômico, militar e cultural, houve a maior amplitude da democracia ateniense, pois permitiu a entrada na participação política de parcelas antes excluídas. Eram cidadãos em Atenas aqueles que fossem filhos de pai e mãe atenienses. O jovem servia como membro da milícia e, somente aos vinte anos é que tomava posse dos seus direitos como cidadão, possuindo assim, a plenitude dos direitos civis e políticos, podendo ter assento na assembleia, opinar, votar, ter um cargo na magistratura e nas demais funções que competiam aos cidadãos. As mulheres estavam totalmente excluídas da participação política. Elas eram discriminadas e tratadas com desigualdade formal e material. Não lhes era permitido o direito à palavra nas reuniões políticas nem a posse de propriedade, em geral, não possuíam direitos civis. Já os escravos, mesmo com inferioridade na escala social, não eram apenas trabalhadores braçais, desempenhavam funções estatais estratégicas. Sustentavam, parte do modelo econômico da polis, preenchiam cargos públicos impopulares (carcereiros, serventes de obras públicas), eram alugados e subalugados, organizavam os papéis oficiais, representavam seus senhores em negociações comerciais. Aos poucos se tornaram coisas públicas, por isso a lei passou a protegê-los, reconhecia sua humanidade apesar da condição social inferior. (GODOY, 2003, p. 197). ❖ O JUDICIÁRIO ATENIENSE As instituições atenienses eram subdivididas em jurídicas (os tribunais) e políticas (órgãos da administração pública). Assim, o governo estava representado pela polis e a justiça representada pela magistratura criminal ou civil. A Assembleia do Povo, ou Eclésia, possuía funções legislativas, onde os cidadãos decidiam, elegiam e julgavam matérias de competência pública, exercendo funções legislativas, executivas e judiciárias. Ela designava, por eleição ou sorteio, os magistrados e fiscalizava a sua atuação; decidia sobre a guerra ou a paz; negociava e ratificava tratados; controlava as finanças e as obras públicas; julgava crimes políticos. Todos os cidadãos com mais de 20 anos e de posse dos direitos políticos poderiam compô-la. As suas decisões eram tomadas por maioria de votação, e os cidadãos se reuniam de três a quatro vezes por mês. As magistraturas eletivas concentravam maior prestígio. Aos Magistrados competia a instrução dos processos, dos rituais religiosos, das funções municipais. Havia inúmeros tipos de magistraturas, agrupadas em colegiados. A diferença entre as magistraturas escolhidas por sorteio das determinadas por voto é de que as primeiras não podiam ser reeleitas. O seu desempenho era fiscalizado pela Bulé e pela Eclésia, a quem tinham de apresentar contas no final dos seus mandatos, apresentando, inclusive, relatório dos bens pessoais tidos no início e no fim da função exercida. Em justiça civil, existiam os juízes dos demos, escolhidos por sorteio, que percorriam as zonas rurais resolvendo de maneira rápida e serena os litígios de baixo potencial econômico. Estes ainda realizavam investigações preliminares e, caso necessário, as endereçava para tribunal competente. Assim a justiça ateniense conseguia atender, ainda que minimamente, a camada campesina da população. A administração da justiça na pólis era destinada à população. Ao povo recaia o julgamento e a resolução de conflitos, seja em matéria criminal ou civil. Em matéria jurídica, é o júri popular, antepassado do moderno Tribunal do Júri, a grande invenção de Atenas. Não havia intermediário entre a soberania popular e os que são passíveis de punição. Era a liberdade política que os atenienses tanto apreciavam: o poder de modelar a justiça positiva conforme a equidade do senso comum e deliberar apoiados nas circunstâncias concretas. A legislação e a fiscalização do dinheiro público também sobressaia, se referindo, muitas vezes, como o primórdio dos atuais Tribunais de Contas. Cada magistrado ou funcionário responsável por receitas públicas era submetido à prestação ao final da gestão. Devendo apresentar termo escrito comprometendo-se com sua administração. Não havia Ministério Público na Atenas clássica. Isso reflete a não obrigatoriedade da jurisdição estatal na maioria dos litígios. Na ausência de promotoria pública, a denúncia podia ser proposta por qualquer cidadão. Para vigiar o abuso, aacusação infundada ou difamatória era punida com multas, perda dos direitos políticos, censuras ou flagelos (GLOTZ, 1980, p. 206.). Acusação e defesa pública também possuem raiz teórica no direito ateniense. A princípio, cabia a cada cidadão o direito e o dever de conhecer as formas e os ritos forenses, bem como, manifestar contraditório e ampla defesa. A lei proibia o auxílio e participação alheia nos atos da tribuna. Os incapazes de autodefesa - mulheres, menores, escravos, libertos e metecos - o faziam por tutela ou curatela. Tanto autor, quanto réu, com dificuldade na argumentação, podia pedir auxílio ao tribunal, que indicava representante. ❖ OBRAS PLATÔNICAS Platão compõe com Aristóteles a dupla de principais pensadores do período sistemático da filosofia Grega. No trabalho desses dois gigantes encontram-se sistematizadas as principais discussões que envolviam a filosofia até então. Até hoje ambas as obras são lidas, estudadas e servem de referência para a abordagem de muitas questões no terreno da filosofia. A filosofia de Platão é em grande parte apresentada em diálogos. Se Sócrates fazia filosofia dialogando, Platão escreveu diálogos e também assim transmitiu sua filosofia. Em vários de seus diálogos Sócrates é mencionado e em outros tantos é o personagem principal. Platão foi discípulo de Sócrates e é somente por seus escritos que temos acesso a Sócrates. Por sua vez, [Platão] foi mestre de Aristóteles que viria a abordar criticamente a metafísica de Platão, propondo a sua alternativa para o problema do conhecimento. Platão enfrentou esse problema construindo a teoria das ideias ou das formas puras, essências somente acessíveis pelo trabalho da razão, a partir de uma ruptura com o que “conhecemos” através dos sentidos. Platão (428 a.C. - 347 a.C.) é um dos pilares da filosofia ocidental. Sua obra formaliza questões que já se anunciavam desde os tempos dos pré-socráticos, muito claramente na disputa em torno da existência do movimento que encontramos em Heráclito e Parmênides e até no próprio filosofar de Sócrates, a quem nos apresenta como seu mestre. Há quem diga que a filosofia é um conjunto de notas de pé de página aos trabalhos de Platão e Aristóteles. O período chamado “sistemático” da filosofia antiga, este que ora iniciamos com a apresentação de Platão, justamente nomeia essa característica das obras desses dois grandes filósofos que sistematizaram tudo que se discutia até então na filosofia - seus principais objetivos, conflitos e desafios. Diga-se de passagem, não obstante o esforço de Platão e Aristóteles para trazer esclarecimento às principais controvérsias filosóficas de até então, estas continuariam vivas ao longo da história da filosofia, como eixos organizadores do trabalho dos filósofos. Parece mesmo ilusório e ingênuo supor que o mérito da filosofia dependeria do fim dessas controvérsias. Platão e Aristóteles tiveram imensa produção. No caso de Platão, sua filosofia aparece conforme dissemos, em grande parte, sob a forma de diálogos que versam sobre os mais variados temas. Platão acreditava na finalidade prática da filosofia, ou seja, achava que a filosofia deveria servir para orientar o homem em suas ações e não apenas para trazer conhecimento puro. Não que Platão fosse um pragmatista, que entendesse a filosofia como devendo buscar a utilidade. O filósofo, na perspectiva de Platão, busca o conhecimento racional em todos os níveis e isso o torna capaz de contribuir para a prática humana. Essa perspectiva do trabalho de Platão deve ser contextualizada. Em sua época, a democracia ateniense é decadente e carregada de injustiças, jogos de interesse, privilégios e a filosofia de Platão forma-se nesse contexto e com a perspectiva de mudar esse quadro: “O discurso filosófico preocupa-se com sua própria legitimação, sua justificação, daí ser considerado crítico e reflexivo. A filosofia não deve apenas dizer e afirmar, mas preocupar-se em chegar à verdade, à certeza, à clareza, através da razão. Constitui um discurso que se funda na legitimidade, que deve ser aceito por todos (tendo, portanto, um caráter universal), que se impõe pela argumentação racional, que produz um consenso legítimo, que se opõe à violência do poder e à ilusão e mistificação ideológicas que caracterizariam o discurso dos sofistas. A filosofia, segundo o modelo platônico, vai ser esse discurso legítimo que se instaura como juiz, como critério de validade de todos os discursos” (MARCONDES, 2008, p. 52). Inaceitável, portanto, para o “modelo platônico”, a posição dos sofistas, segundo a qual um argumento racional se limita a ser um argumento bem feito. Essa posição é associada à ideia de que o sofista acha que tudo que existe é na melhor das hipóteses, convencimento e que por isso não ensina a razão, mas apenas a retórica. Esta, por sua vez, pode servir aos mais variados interesses, uma vez que não existe como provar que um interesse seja mais correto e melhor fundamentado que outros. Para Platão, o sofista é aquele que ajuda a elite a melhor enganar para manter seus privilégios. Muitos foram os diálogos escritos por Platão e que visavam justamente desmascarar as situações de injustiça promovidas no contexto da democracia decadente. A morte de Sócrates, seu mestre, foi talvez a consequência mais trágica disso. • O ANEL DE GIGES: História contada por Platão, em A República, para discutir se o homem agiria corretamente caso tivesse o poder de fazer uma maldade sem ser percebido. Num diálogo do livro, Glauco discorda de Sócrates e insiste que justiça e virtude não são de fato desejáveis em si mesmas. O importante é aparentar ser um homem justo e bondoso. Não é necessário ser de fato. Em apoio a sua afirmação, Glauco oferece a seguinte história que sugere que a única razão pela qual as pessoas agem moralmente é que eles não têm o poder de se comportar de outra forma. Basta retirar o medo da punição, e a pessoa “justa” e “injusta” se comportará da mesma maneira: injustamente, imoralmente. Lídia, séc. VII, antes de Cristo. Rei Candaules: O rei Candaules da Lídia (século VIII a.C.), achando a esposa a mulher mais linda do mundo e querendo prová-lo a Giges, seu guarda-costas favorito, pede a este que a veja despir-se. O episódio é narrado por diversos autores, entre os quais Heródoto (século V a.C.), em Histórias. Giges fica horrorizado com a proposta, não aceita. Candaules rebate: “não se preocupe, ela não saberá!” E ainda afirma que não faz a proposta para testá-lo, e sim para fazer com que ele próprio veja o quão bela é sua esposa, pois os olhos são mais importantes que os ouvidos. Giges então acaba aceitando. Candaules diz pra Giges ficar escondido atrás da porta do quarto do casal, à noite, pois a mulher antes de se deitar na cama, tira toda a roupa. Giges fará tudo como planejado. Todavia, a mulher do rei vê a ação. No outro dia, a rainha chama Giges e diz que viu que ele a viu. E diz que só há duas opções para ele agora: 1- Matar Candaules, se casa com ela e ganha o trono de Lídia 2- “Eu vou exigir a sua morte ainda hoje para Candaules!” Então a Rainha ordena: você ficará no mesmo lugar em que ficou quando me viu nua e quando Candaules dormir, você o matará com uma adaga. Assim Giges tornou-se o Rei de Lídia e inaugurou uma nova dinastia. Mas os lídios ficaram perplexos e não sabia se deviam ou não deixar que Giges reinasse. Platão, em seu livro (A República), conta: Sócrates discute com Céfalo a respeito do que é Justiça? A história do anel de Giges entra no livro II. Foi dado pra Sócrates algumas definições da visão corrente da época, sobretudo da democracia ateniense. Trasímaco diz que “não há vantagem em ser justo”, pelo contrário, a vantagem está em ser injusto. Mais que isso: ser injusto e não ser punido pela injustiça. Existem 3 classes de bem: 1- Bens que a genteprocura momentaneamente (beber um vinho, alegrias da vida, etc); 2- Bens que procuramos pelo fim (tratamento médico); 3- Bens que são bem em si. Sócrates afirma que a justiça é um bem em si. Versão de Platão: Giges era um pastor e ao pastorear as ovelhas, acontece um terremoto e esse terremoto faz com que uma fenda apareça no solo. E Giges desce, ao descer vê um cabelo oco de bronze. Giges adentra o cavalo e no cavalo tem um cadáver com um anel de ouro no dedo. E fica pra si com o anel. Após o furto, vai se encontrar com outros pastores. Na reunião, Giges vira o anel e percebe que se torna invisível todas as vezes que vira o anel. Tal descoberta fez com que ele pudesse se infiltrar em ambientes palacianos. Giges conquista a rainha e mata o rei e toma o trono. Questão do livro de Platão: o que faríamos se tivéssemos o anel de Giges? Glauco pergunta a Platão: - se tivessem dois homens (um justo e um injusto) e ambos tivessem o anel, o que aconteceria? Platão afirma que a única maneira de haver justiça em uma sociedade é quando os filósofos governarem: “enquanto os filósofos não governarem ou os governantes não forem filósofos não haverá solução para os males da humanidade, nem do homem”. Justiça para Platão: Cidade deve ser construída de três classes – guardiães (filósofos); guerreiros (defensores); produtores e artesãs. Cada uma das classes deve fazer aquilo que lhe é própria. O homem justo é aquele que tem em cada parte da sua alma desenvolvendo aquilo que lhe corresponde (a sabedoria, a coragem e a prudência). A justiça é a harmonia entre essas três partes da alma no homem e as três classes dentro de uma cidade ideal. ❖ ARISTÓTELES E ORGANIZAÇÃO SOCIAL: Situação problema: Na sua opinião é mais valiosa a ética do cidadão ou as leis do Estado? Discípulo mais famoso de Platão, Aristóteles nasceu em Estagira na Macedônia em 384 a.C. e morreu em 322 a.C. Incrível que uma existência relativamente curta tenha dado oportunidade a tanta produção por parte de um mesmo homem, que tem em sua biografia o fato de ter sido durante algum tempo preceptor de Alexandre, o Grande. Embora existam pontos de acordo entre as obras de Aristóteles e Platão, há uma discordância de base entre os dois. Ela diz respeito ao plano metafísico estabelecido por cada um, ou seja, ao plano das verdades mais gerais, da visão de realidade. Correlativamente, não poderia deixar de haver entre os dois uma discordância quanto ao objeto do conhecimento filosófico e ao processo de conhecer. A concepção de realidade (ou também, a metafísica) de Aristóteles era diferente daquela de Platão. O filósofo questiona a duplicação do mundo feita por seu mestre (mundo sensível e mundo inteligível) e a tese de que só rompendo com o mundo sensível e com o senso comum se pode chegar ao conhecimento das formas ou ideias perfeitas, o que deve ser objetivo do filósofo. Para Aristóteles, existem dois tipos de justiça: a justiça universal e a justiça particular. A justiça universal se refere ao exercício de todas as virtudes, em um sentido amplo, seria fazer “o que é certo”. A justiça particular se liga com aquilo que é correto em sentido à divisão dos bens. A justiça distributiva idealiza situações onde duas ou mais partes trocam produtos e consecutivamente recebem algo de acordo com o seu mérito. Como por exemplo em uma troca, um indivíduo vende algo para uma pessoa e recebe algo em troca de alguma forma, seja em dinheiro ou uma unidade monetária que seja proporcional com a quantidade, qualidade e valor que lhes foi concedido. Já a justiça corretiva se relaciona com a ideia de corrigir uma situação em que exista algum tipo de injustiça. Logo, ela estabeleceria o equilíbrio entre as partes desiguais por atos voluntários ou involuntários. A aplicação dessa justiça é responsabilidade do juiz, que é quem toma as decisões de todo o processo. Para Aristóteles, o juiz é a personificação da justiça. Então, aquele que agisse de forma injusta, teria sua punição proporcionalmente com a intensidade de seu ato. Segundo Aristóteles, a justiça é uma virtude considerada de saber prático, ou seja, que só se aprende fazendo. O conceito tem sua origem através da ética, segundo o termo grego ―Ethos‖, que significa hábito e costume. Assim, ética é de saber prático, entendida por aquilo que obedecemos com habitualidade, ou seja, nosso jeito de ser e como agimos como cidadãos. O conceito de justiça em Aristóteles: Aquela disposição de caráter que torna as pessoas propensas a fazer o que é justo, que as faz agir justamente e desejar o que é justo; e do mesmo modo, por injustiça se entende a disposição que as leva a agir injustamente e a desejar o que é injusto (ARISTÓTELES, 1991, p 94). Logo, justiça pode ser entendido como um costume, uma disposição de caráter que torna a pessoa propensa a fazer e desejar o que é justo. Para o filósofo, a cidadania e a ética andam juntos, desta forma, ser justo e ser bom cidadão são conceitos igualitários. A justiça deve ser aplicada na cidadania, além dos afazeres domésticos, ou seja, não pensando somente no contexto particular, mas também nas relações sociais. Ele completa que justiça é uma virtude e pode ser aprendida, caso seja praticada. O filósofo retrata ainda que o justo está vinculado como o respeito às leis que aceitamos ao viver em sociedade. Para o autor, ser justo é obedecer às leis, pois elas são feitas por todos e para todos, apesar da cidadania grega, na época, não reconhecer os escravos e as mulheres como cidadãos. Para Aristóteles atos justos são os que tem o objetivo de preservar a sociedade. Diante dessa breve exposição acerca da concepção de justiça, é possível observar que o conceito para Aristóteles é visto como uma virtude, algo que deva ser praticado para ser assimilado. A justiça aristotélica pressupõe que o indivíduo deve tornar o ato de ser justo um hábito e que só assim ele será um bom cidadão, desta forma, ser justo e ser bom cidadão estão sempre unidos. O autor diz ainda que, ser justo é obedecer às leis, pois elas são feitas por todos os cidadãos e tem o intuito de preservar a sociedade. Da mesma forma, a pessoa que viola a racionalidade tende a ser injusta. ❖ HISTÓRIA DA FILOSOFIA MEDIEVAL: A Filosofia Medieval corresponde à Idade Média, período que se estende do século V, com a tomada do Império Romano pelos hérulos, até o século XV, com a queda de Constantinopla na sua conquista pelos turcos-otomanos. Durante a Idade Média, surgiram as primeiras universidades, formas de associações de professores e alunos que promoviam debates e discussões, unindo-se também para questionar os pensamentos e ideologias padrão da época. Sempre houve uma tradição religiosa na filosofia ocidental, seja judaica, católica ou protestante, e não apenas na Idade Média. Contudo, é nesta época que se deu o link mais forte entre os âmbitos religioso, intelectual, artístico, político, econômico e social. A filosofia medieval ou cristã apresenta como nota principal a busca da conciliação possível entre razão e fé. Isso não é uma tendência hegemônica na cultura, e muito menos na Igreja Católica, mas sim entre alguns dos principais filósofos cristãos da época, como Santo Agostinho e São Tomás de Aquino. A idade média é muitas vezes referida como “idade das trevas” – daí expressões como renascimento e iluminismo para designar períodos posteriores. De fato, a ascensão da Igreja católica ao posto de principal instituição da época produziu repressões e violências à livre expressão, como de resto tem acontecido com todos os períodos da humanidade. Contudo, isso não foi suficiente para inibir a boa filosofia, a arquitetura, a arte em geral, com produções de alto valor cultural. A filosofia desde o início pretendeu romper com as sabedorias pontilhadas e sustentadas por mitos e tradições cuja origemse perde no tempo. Porém no período da filosofia que agora introduzimos isso se transformou, pelo menos no que diz respeito às relações entre filosofia e cristianismo. O típico sincretismo religioso e efervescência cultural do helenismo dão o contexto para o início dessa transformação. A atmosfera de convívio pacífico entre diferentes saberes e práticas religiosas terminaria por permitir que alguns judeus e cristãos utilizassem principalmente Platão e Aristóteles para compreender pela razão os dogmas religiosos “revelados” (primeiro testamento, pentateuco que, traduzido para grego transforma-se em septuaginta). “O primeiro representante significativo dessa tradição que se inicia é Filon de Alexandria, também conhecido como Fílon, o Judeu (25 a.C. - 50 d.C.), um judeu helenizado que viveu em Alexandria nesse período e produziu uma série de comentários ao Pentateuco, aproximando-o da filosofia grega, principalmente do platonismo. (...). Fílon retoma o conceito grego de logos, interpretando-o como um princípio divino a partir do qual Deus opera no mundo.” (MARCONDES, 2008, pp.107-108). A tradição considera São Justino (século II d.C.) o primeiro filósofo cristão. Filósofo, São Justino converteu-se ao cristianismo passando a considera-lo a verdadeira filosofia. Deu assim origem a um movimento de filósofos e teólogos conhecidos como apologetas, por fazerem a apologia, ou defesa do cristianismo. Esse movimento será conhecido como a patrística (Ibid). Assim, a patrística foi a filosofia dos primeiros séculos d.C. e deve esse nome ao fato de ser elaborada pelos padres da igreja, principalmente a partir das Epístolas de São Paulo e do Evangelho de São João, isto é, pelos primeiros dirigentes espirituais e políticos do cristianismo, depois da morte dos apóstolos. Do lado da filosofia grega, apoiava-se principalmente em Platão, mas principalmente naqueles fragmentos que permitiam uma fundamentação dos dogmas da fé. Divide-se em patrística grega (ligada à Igreja de Bizâncio) e patrística latina (ligada à Igreja de Roma). Devido à característica religiosa, a patrística introduziu temas desconhecidos para os filósofos Greco-romanos, isto é, a ideia de criação do mundo a partir do nada, de pecado original do homem, de Deus como trindade una, de encarnação e morte de Deus, de juízo final ou de fim dos tempos e ressurreição dos mortos, além da existência do mal no mundo, já que tudo foi criado por Deus, que é pura perfeição e bondade. Com Santo Agostinho (354-430 d.C.) e Boécio (480-522, d.C.), houve a introdução da concepção de “homem interior” (consciência moral e livre arbítrio da vontade), pelo qual o homem, dotado de liberdade de escolha entre o bem e o mal é o responsável pela existência do mal no mundo. Essa perspectiva de conciliar filosofia e cristianismo não foi, nem no início nem no fim do período medieval, unânime. Sempre houve aqueles homens de fé que foram contra essa perspectiva. Isso ao ponto de fazer com que o grande tema da filosofia patrística viesse a ser o da possibilidade ou impossibilidade de conciliar razão e fé. A esse respeito, havia três posições principais (Ibid): 1. Os que julgavam fé e razão inconciliáveis e a fé superior à razão (diziam eles: “Creio porque é absurdo”); 2. Os que julgavam fé e razão conciliáveis, mas subordinavam a razão à fé (diziam eles: “Creio para compreender”); 3. Os que julgavam razão e fé inconciliáveis, mas afirmavam que cada uma delas tem seu campo próprio de conhecimento e não devem misturar-se (a razão se refere a tudo o que concerne à vida temporal dos homens no mundo; a fé, a tudo que se refere à salvação da alma e à vida eterna futura). SANTO AGOSTINHO Santo Agostinho (354-430) foi um teólogo e filósofo do direito canônico. Para Agostinho, para se definir o que é direito, antes, é necessário definir o que é justiça. Dessa maneira, sem a justiça não existe o direito e, tampouco, o Estado. Segundo ele, ainda, o direito existe em função da religião. A justiça seria a lei de Deus, e a verdadeira justiça só poderia ser encontrada na Cidade de Deus. O direito natural, por conseguinte, vinha primeiramente da lei divina. Agostinho foi fortemente influenciado pela teoria dualista de Platão, que fazia uma divisão entre o mundo das ideias e o mundo dos sentidos. Ele transformou a teoria platônica, de forma a adaptá-la à religião: o mundo ideal seria o mundo de Deus (Cidade de Deus), enquanto o mundo das coisas seria o dos seres humanos. Embora não fosse possível, na sua visão, encontrar a verdadeira justiça na vida terrena, as leis do Estado deveriam ser obedecidas por serem o reflexo das leis divinas que os homens conseguiram formular. Era adepto da união da fé e da razão, pois somente o conjunto das duas serias capaz de guiar o ser humano à verdade absoluta. A verdadeira justiça, em suma, só poderia ser encontrada na Cidade de Deus e na lei eterna. SÃO TOMÁS DE AQUINO São Tomás de Aquino (1225-1274) também foi um teólogo e filósofo do direito canônico. Naquele período, houve a redescoberta da doutrina aristotélica e do Corpus iuris civilis, compilação de lei e jurisprudência criada por ordem do imperador romano Justiniano I (482-565). São Tomás de Aquino procurou conciliar o pensamento greco-romano redescoberto com a tradição cristã. Também estudioso do pensamento de Santo Agostinho, Tomás de Aquino acreditava que o direito pode ser descoberto e criado precipuamente pela razão (o que foi inovador na época, na qual se acreditava que as leis vinham, antes, da revelação divina). Ele foi influenciado pelas ideias de Aristóteles no que diz respeito ao direito natural. Tomás de Aquino acreditava que havia uma ordem natural, que era divina, e dava origem a lex aeterna, ou leis da natureza. Ele acreditava que as leis seguiam a seguinte ordem de classificação: 1. Lei eterna ou divina; 2. Lei natural, aquela que ordena os acontecimentos; 3. Lei humana ou positivada, que deriva das leis precedentes. 4. Para Tomás de Aquino, se a lei humana que estiver em contradição com as leis divinas e naturais, estará corrompida. Além disso, o ser humano está sujeito à lex aeterna, mas pode escolher seus atos e construir seu pensamento utilizando-se de seu livre arbítrio. Assim, ele reconheceu o poder de decisão do ser humano que, dotado de razão, perseguirá seus interesses de acordo com suas próprias convicções. Neste pensamento, está a origem da ideia de liberdades individuais. - VIRTUDES MORAIS CARDEAIS: Ao ler e conhecer como a Fé, a Esperança e a Caridade, as virtudes teologais, nos tornam capazes de conhecer e amar a Deus. Elas são virtudes inteiramente voltadas para Deus. Mas existem muitas virtudes que não são voltadas diretamente para Deus, mas sim para o nosso comportamento, nossa atitude, nossas ações; elas nos ajudam a bem agir, a fugir do pecado, a vencer as tentações. Por isso, indiretamente, elas nos levam a Deus. São as virtudes morais, ou seja, virtudes que nos ajudam a bem agir. Quatro delas são mais importantes do que as outras porque regulam a atividade de todas as demais. São as chamadas virtudes cardeais. Por que esse nome? Cardo, em latim, quer dizer dobradiça, eixo em torno do qual gira alguma coisa. No caso da dobradiça, gira a porta, no caso do eixo da terra, giram os quatro pontos cardeais. No caso das virtudes, em torno das quatro virtudes cardeais, giram as outras virtudes, como veremos adiante. QUAIS SÃO ESTAS VIRTUDES CARDEAIS? A Prudência, a Justiça, a Força e a Temperança. Vamos começar estudando cada uma dessas quatro virtudes cardeais, depois veremos as outras virtudes morais. A VIRTUDE DA PRUDÊNCIA. Prudência é a virtude que nos ajuda a escolher. Não se trata de escolher coisas fúteis e bobas. A Prudência nos ajuda a escolher os meios adequados para realizaro bem e vencer o mal. É uma escolha muito importante e que a qualquer momento precisamos fazer. Vou estudar ou vou brincar? Depende da hora! Se for hora de estudar, vamos estudar, se for hora de brincar, vamos brincar. É a Prudência que nos ajuda a compreender essas coisas. Ela aproveita a hora propícia, o lugar acertado onde devemos estar e nos impede de tomar decisões precipitadas. O lema dela é: fazer o que é certo, na hora certa, no lugar certo. A Prudência, iluminada pela nossa Fé e ajudada pela graça santificante, nos leva a escolher os atos bons que são o caminho da nossa salvação. É sobre esta Prudência que Jesus fala no Evangelho: «Eis que vos mando como ovelhas no meio de lobos. Sêde, pois, prudentes como a serpente e simples como as pombas.» (Mt. 10, 16) e também: «Quem julgas que é o servo fiel e prudente, a quem o seu senhor constituiu sobre a sua família, para lhe distribuir de comer a tempo?» (Mt. 24, 45). O pecados contra a prudência. Mas, como o contrário da virtude é o vício, podemos pecar contra a Prudência de dois modos: 1 - Por falta de prudência - é o vício da imprudência, que pode ser por: precipitação - agimos sem refletir ou descuido - refletimos no que vamos fazer mas fazermos mal feito. 2 - Por excesso de Prudência – astúcia: ser prudente no mal, nas coisas erradas, no pecado; – cuidados excessivos com a vida material: dinheiro, vaidade, comprar muitas coisas, etc. A VIRTUDE DA JUSTIÇA. Deus entregou a terra a Adão para que ele e seus filhos a plantassem e tirassem dela o seu sustento. O homem usou e usa as coisas da natureza para comer, para vestir, para fabricar objetos necessários à sua vida. Como filhos de Deus e tendo recebido a terra como herança, os homens podem possuir suas coisas, sua terra, sua casa, seus objetos, que lhe são necessários para viver e para alimentar sua família. É fácil compreender que nem sempre haverá um acordo entre os homens sobre a possessão desses bens materiais. Para ajudá-los a viver em paz e a possuir com boa medida o que lhes é necessário, Deus nos deu a virtude de justiça, pela qual nós queremos, com nossa boa vontade, dar aos outros o que lhes é devido, protegendo também o que nos pertence e, sobretudo, dar a Deus o que Ele nos pede, no seu amor por nós: amor, dedicação, louvor, etc. Vamos ilustrar o que dissemos com alguns exemplos: Quando tomamos emprestado um objeto, a virtude da justiça nos leva a querer devolvê-lo no tempo estipulado, pois sabemos que a pessoa que nos emprestou pode ficar prejudicada se não recebê-lo de volta. Quando compramos um objeto, é justo que paguemos o seu valor. Quando assinamos um contrato com alguém, devemos cumpri-lo (como o matrimônio é um contrato passado diante de Deus, a virtude da justiça nos impede de querer nos separar, pois no contrato do matrimônio aceitamos viver para sempre com a pessoa com quem casamos. Porém, não basta que os homens tenham entre si esse relacionamento de justiça. A vida na sociedade é muito complicada e foi preciso se organizar um governo que ajudasse os homens a viverem juntos numa mesma cidade, num mesmo país. Por isso, a virtude da justiça vai também atuar no relacionamento dos homens com o governo, quer ele seja um prefeito, um guarda de trânsito, o presidente ou um rei. Os homens devem obedecer às leis estabelecidas pelas autoridades, enquanto que a autoridade deve atuar de forma igual para com todos, ajudando os bons e castigando os maus. É a virtude da justiça que forma as bases do 7, do 8 e do 10 mandamento da Lei de Deus. Não podemos furtar, nem levantar falso testemunho, nem cobiçar as coisas alheias, pois todos esses atos ferem a virtude da justiça, entre outras. Devemos também considerar que quando cometemos um pecado contra a virtude da justiça, em certos casos, não basta o arrependimento e a confissão. Nós lesamos o próximo tirando dele um bem material que lhe pertence. Devemos, então, fazer o possível para devolver aquele bem, de modo a restabelecer a justiça ferida pelo nosso ato. É o que se chama de restituição. Igualmente, quando pecamos contra o 8 mandamento, devemos retratar a reputação do próximo ferida por nossa mentira, calúnia ou maledicência. A VIRTUDE DA FORÇA Já podemos perceber como nossa vida vai depender da presença das virtudes em nossa alma. A vida do católico deve ser um exemplo de fidelidade à lei de Deus, aos seus mandamentos, à natureza humana, com todas as suas riquezas, mas também com todas as suas exigências. Muitas vezes parecerá difícil a realização dos nossos deveres para com Deus, para consigo mesmo e para com o próximo. Para que nós tivéssemos mais ânimo neste combate do dia a dia, Deus Nosso Senhor nos deu a virtude da Força. A Força é a virtude que dá à nossa vontade a energia necessária para vencer os obstáculos que nos atrapalham na prática do bem. Devemos resistir, quer dizer, permanecer firmes na Fé, apesar dos ataques dos nossos inimigos e das nossas fraquezas pessoais. Devemos agir; ter Força é manifestar espírito de iniciativa, alegria na realização do dever de estado, perseverança no combate contra nossas paixões: o orgulho, o egoísmo, a raiva, a sensualidade, etc. Praticando os atos da virtude de Força, conseguiremos, com a graça de Deus, vencer as tentações, fugir dos pecados e das ocasiões de pecado que nos chamam com tanta força para o mal. Vejamos alguns exemplos: Na hora de estudar, sentimos aquela vontade de ir ver televisão... Sem a virtude da Força, cederemos à tentação e faltaremos ao nosso dever de estudar. Na escola, uma amiga ou um amigo virá nos mostrar uma revista cheia de figuras indecentes... A virtude da Força nos ajudará a não querer olhar. A toda hora precisamos dela: para trabalhar, para rezar com devoção e piedade, para estudar, para ajudar ao próximo, etc. Os pecados contra a Força Os pecados e vícios contra a virtude da Força se manifestam em nós do seguinte modo: Acanhamento ou pusilanimidade - quando a pessoa não se decide a fazer o que deve, fica sempre na dúvida: é certo ou errado, devo fazer assim ou de outro modo, e acaba não fazendo o que deve. Covardia - quando a pessoa foge da sua obrigação por medo. Respeito humano - é uma espécie de covardia que nos leva a não agir corretamente por medo das zombarias. Temeridade - quando uma pessoa se expõe sem necessidade ao perigo e à morte (falsa coragem). A TEMPERANÇA A virtude da Temperança vem completar o quadro das quatro virtudes cardeais. Ela é o freio da nossa alma. A temperança é a virtude pela qual usamos com moderação dos bens temporais, quer eles sejam comida, bebida, sono, diversão, sexo, conforto, etc. Ela nos ensina a usar essas coisas na hora certa, no tempo certo, na quantidade adequada. Ela nos ensina que certos atos são reservados a certas situações. [Nos anos 60, os homens enlouquecidos entregaram-se a todos os tipos de pecado. Diziam que estavam quebrando o que eles chamavam de tabu do sexo. De lá para cá, as pessoas que queriam continuar obedecendo a lei de Deus, viram-se ameaçadas de todo tipo de repressão e de ameaças. Os costumes foram se degradando pouco a pouco. Hoje, já não há mais quem tenha noção dos critérios de avaliação dessas coisas. Dizer que existe uma lei natural, que essa lei natural foi explicitada por Deus nos Dez Mandamentos e confirmadas pela Igreja é expor-se ao ridículo. O que devemos concluir? Que eles criaram o tabu deles. O sexo nunca foi tabu para a Igreja, sempre foi visto em toda sua grandeza e também em seus pecados. Eles é que fizeram um tabu. Ai daquele que não fizer o que eles fazem! Ai daquele que não defender o nudismo e a pretensa liberdade de serem pornográficos. Só não me venham dizer que isso queeles criaram é próprio ao homem, que é elevado, que é marca de civilização, que é sinal de inteligência. Esse tabu que eles criaram é um instrumento de corrupção, de repressão, é puro fanatismo. Que eles tenham conseguido alcançar seu objetivo, muito bem, concedo; mas que um católico tenha de admitir essa situação e viver como se tudo isso fosse normal, e aceitar que suas filhas e filhos participem disso, isso eu não aceito. E deixo aqui, como que um grito de alerta: tirem seus filhos desse ambiente de puro liberalismo moral, das modas absurdamente indecentes, das praias onde não se pode levar uma criança sem provocar nela o pecado, dos namoros "sexualizados". Tudo isso é pecado grave contra Deus Nosso Senhor. É a marca da falta de amor por Deus e pelo Sangue de Cristo derramado na Cruz. E se vocês acharem que exagero, que o mundo mudou, que é preciso ser aberto, então só me resta dizer: esperem e veremos quem tinha razão. Na hora do juízo final, veremos todos eles correndo para dizer que amam a Deus, jurando que sempre O amaram, que ninguém lhes avisou que era tudo pecado.... Mas, então, será tarde demais.] A Temperança nos ajudará a vencer os maus pensamentos e maus desejos, ajudará um casal a nunca trair o sacramento do matrimônio pelo adultério, etc. Todos esses maus pensamentos e maus desejos e ocasiões de pecado devem ser combatidos imediatamente, sem perda de tempo, com muita coragem e força, para que não se tornem pecados mortais. Na verdade, todas as quatro virtudes teologais se unem no combate da alma para praticar os Mandamentos de Deus. É pecado um adulto beber cerveja? Não, desde que seja com moderação, nunca se permitindo perder o controle de si mesmo. Quando o homem bebe vinho ou cerveja, ele quer saborear um produto, sentir o seu gosto. No excesso, é como alguém que só bebesse para ficar embriagado. É um pecado grave, portanto, experimentar qualquer tipo de droga ou fumo, ou bebida que altere a consciência de si mesmo. Também o conforto da vida moderna pode nos levar a pecar contra a Temperança. Reclamamos do calor, reclamamos do frio, não queremos nos levantar da cadeira nem para pegar um copo d'água, sempre achamos algo que nos desagrada nas coisas e nas pessoas. A virtude da Temperança nos ajuda a esquecer um pouco tudo isso e pensar mais em ajudar, em trabalhar, em vencer seus próprios defeitos. - LEI DO NOMINALISMO: Nominalismo é uma doutrina segundo a qual as ideias gerais, como gêneros ou espécies não passam de simples nomes, sem realidade fora do espírito ou da mente. Para os nominalistas, a única realidade são os indivíduos e os objetos individualmente considerados. Desse modo, o universal não existe por si; é mero nome, vocábulo com significado geral, mas sem conteúdo concreto, que só reside no individual e no particular. Leibniz afirmava que, para os partidários do nominalismo, só existem, além das substâncias singulares, os nomes puros e, desse modo, a realidade das coisas abstratas e universais é eliminada. O nominalismo, contrário ao realismo e ao conceitualismo, rejeitou o pensamento alcançado por abstrações e abriu caminho para o espírito de observação e a vulgarização da pesquisa indutiva. NAVALHA DE OCCAM: Formulada pelo filósofo medieval Guilherme de Occam (por vezes garfado Ockham), a lex parsimoniae (lei da parcimônia), é um princípio solucionador de problemas, filosófico reducionista, que permite distinguir entre teorias equivalentes e pode ser utilizado como técnica para formulação de modelos teóricos. Em sua formulação mais simples, a Navalha de Occam dirá que, entre duas teorias com iguais resultados, que explicam ou preveem os mesmos fenômenos, devemos sempre escolher a teoria mais simples. A navalha de Occam, também conhecida como princípio da economia, é frequentemente utilizada para evitar inflações ontológicas desnecessárias, quando uma entidade ou substância é postulada, sem que haja evidências de sua existência, simplesmente para possibilitar a aplicação ou consistência de uma teoria. Não obstante a expressão, normalmente atribuída a Occam: “entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem” (entidades não devem ser multiplicadas sem necessidade) não possa ser encontrada em sua obra, outras afirmações semelhantes o são e servem para atribuir a ele a fundação do conceito, embora este apareça em autores anteriores, entre eles John Duns Scotus, Maimônides e mesmo em Aristóteles, em seus Analíticos Posteriores, quando este afirma que devemos assumir a superioridade da explicação que se utiliza de um número menor de postulados ou hipóteses, quando todos os outros elementos forem equivalentes (ceteris paribus - outras coisas sendo iguais). NOMINALISMO X REALISMO Nominalismo e realismo são as duas posições mais ilustres da metafísica ocidental que tratam da estrutura fundamental da realidade. De acordo com os realistas todas as entidades podem ser agrupadas em duas categorias: particulares e universais. Os nominalistas argumentam que só existem particulares. Conforme Marcondes (2008) há três interesses principais na obra de Santo Agostinho: a relação entre filosofia e teologia; a questão da interioridade; a questão do mal. Vejamos: “Para Santo Agostinho, a verdadeira e legítima ciência é a teologia e é aos seus ensinamentos que o homem deve dedicar-se, pois preparam sua alma para a salvação e para a visão de Deus, que é a sua recompensa” (Ibid, p. 113, negrito meu). O Deus da Agostinho é um Deus marcado pelas revelações trazidas pelo livro sagrado cristão. Um Deus com o qual o homem pode fazer contato através de seu coração, de sua interioridade (Marcondes, ibid). E, para que haja conhecimento verdadeiro, esse caminho é necessário. Sem a intermediação de Deus, não há verdade, senão as de menor valor, da vida prática (a rigor, não há verdade). Apesar das diferenças, trata-se em Agostinho, tanto quanto em Aristóteles, de uma resposta profundamente entusiasmada com a possibilidade do conhecimento. Santo Agostinho opõe-se aos céticos e dá, embora com um tempero cristão, uma resposta que afirma a possibilidade do absoluto, do geral, do fundamento, busca antiga da filosofia. Mas para conhecer, é preciso crer. Notem a referência ao “dever” na citação acima; perspectiva ética, portanto. É pela lei de Deus que devemos nos salvar. Há a noção de que temos uma queda pelo erro; a virtude não é uma tendência espontânea em nós, mas um trabalho a ser feito, pela via da relação com Deus mediada pelo Cristo. O Cristo está em nosso interior. Em Agostinho, surge esse espaço interior habitado pela luz do Cristo. É através dessa luz que também podemos conhecer verdadeiramente: “Santo Agostinho (...) prenuncia o conceito de subjetividade do pensamento moderno. Encontramos já formulada em seu pensamento a oposição entre interior e exterior e a concepção de que a interioridade é o lugar da verdade. É olhando para sua interioridade que o homem descobre a verdade” (Ibid, p114.). Quanto ao problema do mal, a questão que afligia religiosos era a de dar conta da aparente existência do mal no mundo. Como pode um Deus de pura bondade criar um mundo onde o mal exista? Uma linha mestra de resposta a essa questão apontava para a questão do livre arbítrio: Por sua suprema bondade Deus dá ao homem o livre arbítrio e, com este, vem a manifestação do mal. Filósofos e padres argumentavam que o mal não existe em si mesmo, sendo sua manifestação na realidade a manifestação da ausência do Bem, ou de uma falha no Bem tornada possível pelo livre arbítrio dos homens. A obra capital de Agostinho quanto ao problema do mal é A Cidade de Deus, da qual reproduzimos a seguinte passagem. “Dois amores criaram duas cidades: o amor de si, levado até o desprezo de Deus, criou a cidade terrena; o amor a Deus, porém, levado até o desprezo de si, criou a cidade celeste.Aquela se gloria de si mesma; esta, no Senhor. Aquela busca a glória dos homens; esta tem como maior glória o testemunho de Deus em sua consciência. Aquela, na sua glória, levanta orgulhosamente sua cabeça;” (Ps. 3,4, Apud. COSTA, J. S. 2001). Santo Agostinho considerava a filosofia de Platão a mais pura e luminosa da antiguidade e reinterpreta-a para conciliá-la com os dogmas do cristianismo. Algumas aproximações são imediatas. Por exemplo, são possíveis analogias entre a vida e morte de Sócrates e Cristo; a cidade de Deus de Agostinho lembra o mundo das formas perfeitas em Platão; também no próprio mito da caverna essa aproximação é possível, uma vez que mostra pessoas presas no fundo de uma caverna e podendo chegar até a parte de cima, onde encontrarão o sol, equiparado ao Bem ❖ HISTÓRIA DA FILOSOFIA MODERNA O período que se segue ao medieval é conhecido como renascença e o humanismo é seu traço principal. O humanismo nesse contexto retoma o lema de Protágoras, um dos mais notórios sofistas, segundo o qual “o homem é a medida de todas as coisas”. O nome renascimento tem a ver com uma retomada de valores gregos, após um período dominado pela influência central da Igreja e, na filosofia, pela problemática da relação entre razão e fé. Interessante notar que entre os valores retomados apareça o humanismo que encontra entre os sofistas uma versão radical, por chegar ao ponto de afirmar que também a verdade é coisa humana, abrindo caminho para uma postura relativista1 ou cética, que afrontava os filósofos de então e durante muito tempo os filósofos da principal tradição da filosofia. Arte, política, arquitetura, ciência, filosofia, todas essas produções humanas sofreram profundamente os efeitos dessa transição do medieval ao moderno, que passa pelo humanismo renascentista. Costuma-se destacar três grandes acontecimentos que contribuíram para essa transição: novamente, as grandes navegações; a reforma protestante; e o advento da ciência moderna. Discute-se se teria havido uma filosofia característica da renascença, que compreenderia sobretudo os séculos VX e XVI. Na verdade, essas grandes transições não podem acontecer de uma hora para outra. Assim, natural que algo do moderno tenha começado a surgir ainda no tempo medieval e que algo do medieval tenha ainda penetrado no período dito moderno. A renascença é tida como período intermediário, muitas vezes definida na história da filosofia por esse traço, do que por sua filosofia própria. Na idade média, a subordinação do poder temporal dos reis e barões ao poder espiritual de papas e bispos organizava a vida política na Europa. A Escolástica havia inventado um método para expor as ideias filosóficas: a disputa. A mesma hierarquia manifestava-se no plano político. Porém, os grandes acontecimentos na história da cultura ocidental que acabamos de mencionar não poderiam deixar de ter forte repercussão no campo da política. O universo da ciência moderna, conforme dissemos, vai contra as histórias contadas pela tradição e isso acaba contaminando o ambiente político de forma a favorecer o aparecimento e amadurecimento do liberalismo e individualismo. O governo de uma nação deve favorecer a livre iniciativa, sendo tão mínimo quanto necessário para permitir que as trocas comerciais e a iniciativa individual atinjam o equilíbrio possível. Coerentemente, as pessoas devem poder escolher quem as governará. A república é o modo de organização política favorecido na mesma medida em que o humanismo renascentista vai deixando para trás tanto a cosmologia quanto esse tipo de lógica filosófica da escolástica. O retorno à liberdade de argumentação e a tentativa de aplicar a filosofia na reflexão sobre temas “terrenos” tal como já ocorrera com os gregos, junto com o crescimento da burguesia, pressiona o modelo feudal – religioso, fortemente hierarquizado. RENÉE DESCARTES: Descartes (1596-1650) teve uma vida intensa, coerente com seu modo de pensar a filosofia. Além de filósofo, foi matemático e físico. Sua trajetória é marcada pela decepção com a filosofia escolástica, que considerava complicada demais e distante dos interesses da vida. Descartes costuma ser considerado o primeiro filósofo moderno. Isso por duas razões: - Ele teria sido o primeiro a colocar o sujeito que conhece (sujeito do conhecimento) em questão; - Teria, mais acentuadamente que qualquer outro filósofo antes dele, colocado em questão a relação de nossas representações (ideias) com o mundo externo. O SUJEITO DO CONHECIMENTO E O CETICISMO: Vimos como no período antigo da filosofia grega havia um entusiasmo quase ingênuo quanto à possibilidade de o homem utilizar a razão para conhecer o ser dos objetos, fossem eles concretos ou abstratos. Em seguida vimos como na idade média a filosofia cristã lutou com o problema das relações entre razão com a fé. Cada um desses períodos teve seus temas principais. O período moderno da filosofia, que se inaugura com Descartes, também terá seu eixo central que será a pergunta sobre as condições de possibilidade do conhecimento. Dissemos no primeiro capítulo que a filosofia tem três grandes áreas de investigação: a ontologia, a ética e a teoria do conhecimento. O período moderno é fortemente marcado por uma investigação ligada a esse último terreno. As perguntas sobre se afinal, “é possível conhecer?” “Quem conhece?” E “como se conhece?”, vêm para o primeiro plano. Não que essas questões não tivessem sido colocadas antes por filósofos, mas chegavam a constituir a principal problemática da filosofia de sua época. Descartes coloca tais questões de maneira vigorosa. As elaborações que faz marcaram profundamente o desenvolvimento da filosofia e, especialmente, da ciência moderna. Tendo vivido em um contexto dominado pelo humanismo renascentista, Descartes representa uma época em que, se por um lado havia a ideia do homem como medida de todas as coisas e, portanto, uma crença no poder humano de conhecer e andar com suas próprias pernas, havia também a experiência de mais de 2 mil anos de filosofia, com seus conflitos intermináveis entre homens brilhantes e suas teses que jamais chegavam a conclusões definitivas em torno de um corpo central de questões. Era, portanto, também um contexto cético o de Descartes. A pergunta pelas condições de possibilidade do conhecimento não se impunha à toa. Descartes levou esse ceticismo ao extremo, ao ponto de seu método ser conhecido como dúvida hiperbólica (levada ao extremo). Isso significa duvidar de tudo, até chegar a certezas claras e distintas e somente a partir daí construir o conhecimento. Descartes perguntava-se coisas do tipo “Como posso saber que não estou sonhando?” Ou “E se houvesse um gênio maligno que criasse ilusões somente para perturbar meu conhecimento?”. Nesse caminho, acaba assumindo como única certeza a dúvida. Ou seja, em sua busca tenaz por uma certeza: conclui que, apesar de duvidar de muita coisa, não poderia duvidar que duvida. E, se duvida, pensa. Penso, logo existo (cogito ergo sum, em latim), é a frase que Descartes fez entrar para a história. Descartes assim irá encontrar um fundamento no sujeito que pensa. Porém esse sujeito cartesiano, o cogito, tem como peculiaridade ser um sujeito reduzido a um ponto mínimo, de puro pensar. Descartes aplica assim uma operação já conhecida pela filosofia ao próprio sujeito, ao despi-lo de todas as suas qualidades sensíveis. Sujeito, em Descartes, não é uma pessoa, mas uma função mental. A única garantia de que existo, de que não apenas sonho, é que penso. O cogito é o ponto que resta de uma operação de dúvida implacavelmente aplicada a tudo que existe, inclusive ao próprio sujeito. Entre seus escritos destacamos um pequeno livro de enorme importância, O discurso do método. Nele, o filósofo Preconizava: • VERIFICARse existem evidências reais e indubitáveis acerca do fenômeno ou coisa estudada; • ANALISAR, ou seja, dividir ao máximo as coisas em suas unidades mais simples, e estudar essas coisas mais simples; • SINTETIZAR, isto é, agrupar novamente as unidades estudadas em um todo verdadeiro; • ENUMERAR todas as conclusões e princípios utilizados, a fim de manter a ordem do pensamento. ❖ MODERNIDADE LÍQUIDA O livro Modernidade Líquida, escrito por Zygmund Bauman retrata a mudança da sociedade sólida para a líquida. Sua liquides faz com que ela seja mais bem adaptada aos meios, preencha um ambiente, que com a mesma facilidade se esvai deste local, para assim tomar outra forma. Ao contrário da solidez, que não consegue preencher um ambiente que não seja de sua forma A sociedade moderna líquida não se fixa a um espaço ou tempo, sempre dispostos à mudanças e livres para experimentar algo novo. Manter uma forma fixa não é tão fácil como simplesmente tomar nova forma, e tomar nova forma é fonte de força e invencibilidade, se adapta ao ambiente e tira o melhor dele para si, depois parte para a próxima forma. Com isso, as formas de poder na sociedade estão sendo realocadas e redistribuídas, e os objetos não duráveis tomam conta e a durabilidade já não tem mais o mesmo valor. As diversas famílias se deparam com moldes diferentes e valores invertidos. Claro que essa mudança traz valores novos e modelos novos para a sociedade. Portanto, o seu nível de fluidez vai determinar sua inserção na sociedade, nos meios, nos grupos e tribos, sendo esta então a sua arma na conquista do espaço. A vida moderna impõe a mudança do sólido para o líquido. No primeiro capítulo, Bauman traz o conceito de emancipação, que é tornar-se livre, independente. Ser liberto é se libertar daquilo que nos impede de movimento, e sentir-se livre é não ter empecilho para se movimentar. Diz que devemos nos emancipar da sociedade, nos tornar livre da sociedade. Contudo, o ser deve ser livre para se movimentar se livrando daquilo que tira a liberdade de movimento. Portanto deve tomar seu estado líquido. Entretanto, esta liberdade traz consequências. Seria ela uma benção ou uma maldição? Traz a possibilidade de fazer tudo aquilo que deseja, mas do outro lado, há responsabilidade por seus atos. Mas nem sempre este é o empecilho. Esta fluidez proporcionada às pessoas fez com que as mesmas pagassem o preço por ter aquilo que mais desejassem: a liberdade de poder estar de maneira que anteriormente a sociedade fosse criminalizar ou penalizar a pessoa por suas escolhas. Todos querem a liberdade para fluir e tomar seus lugares diversos e mudar constantemente e, portanto, deixaram de indagar os porquês de cada situação. Na modernidade a crítica não é bem recebida. Aceita tudo o que se tem e o que lhes é oferecido, pois já tem sua liberdade ganha. As críticas se transformam em reflexões e questionamentos. Já no âmbito político, o segundo capitulo abrange a individualidade, na qual a liberdade individual é incompleta, traz menos liberdade, e é mais controladora. Traz como exemplo o capitalismo, que com seu poder exige um controle da população. No modelo anterior de sociedade, modelo sólido, o trabalhador tinha sua responsabilidade posta em somente um ponto da produção, sem necessitar conhecer o processo completo, de ambiente opressivo e pouco favorável ao trabalhador. No caso do capitalismo fluído, ele traz a questão de que os grandes chefes não são autoritários, e sim seduzem sua equipe para o trabalho, que tem características mais diversificadas, que necessita de um conhecimento, mesmo que breve, de todas as atividades exercidas no processo produtivo da empresa. Este capitalismo líquido também se apropria das imagens de pessoas célebres, que passam para o consumidor aquilo que ele quer ser, assim usando de modelo aquela influência. Isso tudo em busca de tornar-se alguém importante que ocupe grande espaço nas janelas sociais. Entretanto, quando o indivíduo se espelha em outras pessoas, e se baseia nas atitudes delas, perde toda sua essência e toma forma de um novo ser, não sendo nem o próprio indivíduo, nem o modelo a ser seguido. Assim, têm-se o fim da era do indivíduo. Mesmo que o novo capitalismo não tenha abolido as autoridades ditadoras de leis, também não fez com que estas fossem dispensáveis, mas apenas abriu caminho para um maior número de ditadores. Assim, cada um tem seu reino por um curto período de tempo, até não ser mais a “bola da vez”, e nem todos podem reinar neste período por muito tempo. A exclusividade de poder não é uma possibilidade. Para conquistar esta individualidade na modernidade líquida vale tudo, como o consumo exacerbado em busca de ser aquilo que a sociedade demanda. As pessoas tornam-se escravas do que é posto como liberdade, comprando aquilo que lhes é dito “ser a sua cara”, e que lhe fará mais feliz e irá mudar sua vida. No capítulo Tempo/Espaço o autor começa com uma análise de sociedades, propostas de vários pensadores, por ser onde o individuo irá praticar sua civilidade, pela sua disponibilização de espaço em que cada ser expressa o seu eu. Assim, o espaço público abre espaço para os consumidores, para adquirirem todo e qualquer tipo de material, sendo ele social e/ou cultural, sem ter a necessidade da interação com outros indivíduos, tendo cada um o seu momento, ocupando o seu espaço. Sem esse espaço ser preenchido, não há significado, até o momento que é tomado por um que lhe dará sentido, até mudar de forma novamente. Com esta fluidez moderna, o tempo e o espaço pedem e clamam pelo multitasking, que é habilidade de realizar múltiplas atividades no mesmo tempo e, neste caso, no mesmo ambiente, com agilidade e sem perda de tempo. O autor apresenta um momento no trabalho que coloca o indivíduo como regente daquilo que quer, estando ele firme no presente, podendo mover o mundo para frente, e indo à busca do que serão capazes no futuro utilizando do passado. Também debate sobre os indivíduos que se culpam por todos seus fracassos, e aqueles que tomas controle de suas vidas e ações, para alcançar o destino desejado. Com esta libertação do indivíduo, o que importa é sua ancoragem no presente. Porém, o autor apresenta que, talvez, grande parte não esteja tão fixa, pois a modernidade exige a flexibilidade. O trabalho de longo prazo é sólido, precisa de acompanhamento e, com a mudança social, esse trabalho precisa ser abolido; assim abre-se espaço para o trabalho mais fluído, necessitando de um novo estilo, com significado estético e aquilo que o homem faz, ele desfaz, não é capaz de parar ou ficar parado, mas fica em constante movimento, sempre de olho no futuro. Com esta libertação do indivíduo, o que importa é sua ancoragem no presente. Porém, o autor apresenta que, talvez, grande parte não esteja tão fixa, pois a modernidade exige a flexibilidade. O trabalho de longo prazo é sólido, precisa de acompanhamento e, com a mudança social, esse trabalho precisa ser abolido; assim abre-se espaço para o trabalho mais fluído, necessitando de um novo estilo, com significado estético e aquilo que o homem faz, ele desfaz, não é capaz de parar ou ficar parado, mas fica em constante movimento, sempre de olho no futuro. Laços transitórios e a transitoriedade são um preço a pagar por aqueles que perseguem seus objetivos individuais. Estes laços são de elo mais fragilizado, e suas responsabilidades com o próprio eu tomam uma grande proporção, como apresentado no capítulo final, no qual o indivíduo vai preencher o vazio. E, por fim, é apresentado as “Cloakroom’s” que, segundo Bauman, é indispensável para caracterizar a modernidade líquida. É a comunidade do carnaval, que atrai multidões que abandonam sua forma casual e deixam seus diários em casa para tomar outra forma, mesmo que apenas para propulsionar a solidão.