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APOSTILA DE ESTUDOS – FILOSOFIA 
CURSO DE DIREITO 
 
Prof.ª. Jéssica Lira. 
 
 QUESTÕES INICIAIS: 
 
- A Filosofia é necessária na atualidade? 
 
- Quais as características do pensamento filosófico? 
 
 ESTUDO DE CASO: Elabore em cinco linhas, no mínimo, argumentos 
filosóficos que se contraponham ao negacionismo da ciência na 
contemporaneidade. 
 
❖ MITO E O NASCIMENTO DA FILOSOFIA: 
 
 O homem já formulava explicações sobre o que havia em seu entorno antes da 
filosofia nascer. Já existiam culturas, com produções intelectuais espetaculares 
 Certamente em todas as culturas existentes até então existiam maneiras de o 
homem explicar o que se passava à sua volta. Explicações compartilhadas, 
tradições transmitidas de geração em geração. 
 Pensem ainda na necessidade sempre premente de respondermos às três perguntas 
sobre de onde viemos, quem somos e para onde vamos, que envolvem nascimento, 
sexo e morte? 
 Nas sociedades anteriores e contemporâneas ao nascimento da filosofia, os mitos 
tinham papel fundamental na organização das trocas sociais. 
 Procedimento inaugurado pela filosofia rompe em larga medida com isso. 
Conhecer pela razão exige que se fundamente o conhecimento com argumentos, 
o que não é possível diante do mito. 
 O mito traz uma possibilidade de entendimento sobre a existência e origem do 
universo e das coisas que nele existem. Enquanto narrativa, transmite 
mensagens metafóricas, retratando o universo, a sociedade, seus paradoxos e 
contradições, dúvidas e valores. Assim, possui uma eficácia na organização 
da vida social. 
 Mito do Édipo. 
 Importante também notar que filósofos recorreram em alguns momentos aos mitos 
para transmitir sua filosofia. Veremos como o filósofo Platão lançou mão de mitos 
para explicar, por exemplo, o que é conhecer. Porém o lugar do mito em sua 
filosofia não será jamais um lugar central e sua finalidade é, sobretudo, 
didática, voltada não para a fundamentação de suas teses, mas sim para uma 
apresentação mais acessível. 
 O mito do andrógino e o todo erótico do ser. 
 A filosofia, pelo menos quando surge, pretende produzir conhecimento através da 
razão. 
 O que seria então essa tal razão? Para a filosofia a razão é a faculdade que pode 
nos levar aos fundamentos, aos princípios claros e distintos e às causas primeiras. 
 
 
 MITO: 
• Narrativa 
• Imaginação como base 
• Usa imagens para explicar o mundo 
• Deuses e heróis em ação 
• Crença 
• Não questionável 
• Rito 
 
❖ O QUE É FILOSOFIA? 
 
 PHILO + SOPHIA: Amor fraternal; Amizade + Sabedoria. 
 Diferente da IDEOLOGIA que serve para mascarar a realidade. A ideologia é uma 
nova palavra que cria uma realidade e transforma o mundo. 
 A Filosofia ainda pode ser definida como “o amor pelo conhecimento”? 
 Filosofia é a busca da unidade do conhecimento na unidade da consciência e 
vice-versa. Esta definição aplica-se inclusive às filosofias que negam o 
conhecimento ou que negam a unidade da consciência. 
 A filosofia é uma reflexão sobre o conhecimento adquirido, e supõe, por isto, 
uma boa cultura pessoal, principalmente a cultura da imaginação (através 
das artes). 
 Toda filosofia nasce de um impulso originário – infantil, se quiserem — de 
entender a realidade da experiência. Mas, entre esse impulso e a “filosofia” como 
atividade curricular acadêmica, a distância é às vezes tão grande que ele 
desaparece por completo. 
 As desculpas para isso são sempre as mais respeitáveis. Antes de responder às 
perguntas da infância é preciso adquirir os instrumentos intelectuais do saber 
adulto, o que inclui o estudo das obras dos filósofos; este estudo supõe o domínio 
da interpretação de textos; e a interpretação de textos pode ser tão interessante que 
se torna um pólo de atração independente. 
 Eis-nos então nos píncaros do saber filosófico acadêmico, ao menos no sentido 
franco-uspiano do termo, e imunizados para sempre às perguntas que nos levaram, 
pela primeira vez, ao estudo da filosofia. Na USP dos anos 60, que não parece ter 
mudado muito desde então, qualquer tentativa de enfrentar essas perguntas em 
vez de ocupar-se da nobre tarefa da análise de textos era desprezada como 
amadorismo, beletrismo, ensaísmo. Quando o prof. José Arthur Gianotti, no auge 
da sua maturidade intelectual, define a filosofia como uma ocupação com textos, 
ele não faz senão expressar sua experiência de algo que, no ambiente da sua 
formação, recebia o nome de “filosofia”, mas que jamais seria reconhecido como 
tal por Sócrates e Platão. 
FILOSOFIA: 
• Investigação 
• Argumentação 
• Razão como a base 
• Usa noções para explicar o 
mundo 
• Logos 
• Questiona 
• Diálogo 
 
 
 Platão — ou Sócrates — mostrava um caminho para a filosofia que jamais poderia 
ser encontrado num texto. Ele falava de uma anamnesis, de um mergulho na 
memória pessoal em busca do instante do nascimento da consciência filosófica. A 
consciência filosófica era a antevisão das formas universais eternas. Essas formas 
transcendiam infinitamente a esfera da experiência corporal, portanto também da 
memória sensível, mas, em algum momento esquecido do tempo, haviam se 
entremostrado nela e despertado, na alma do indivíduo carnal, a aspiração do Bem 
supremo. 
 No curso posterior da vida, a maioria dos homens se esquecia desse momento para 
sempre. Em outros, a ocultação era parcial. Se o objeto experienciado desaparecia 
da consciência, a aspiração a que ele dera nascimento permanecia viva. Viva, mas 
buscando satisfação a esmo em objetos impróprios, errando entre símbolos e 
simulacros até atinar — ou não — com o caminho de volta. O encontro do 
aprendiz com o filósofo maduro era um momento decisivo dessa busca. O filósofo 
atraía os discípulos porque algo, nele, evocava o Bem supremo. O filósofo era um 
símbolo. 
 O discípulo podia agarrar-se a ele como a qualquer outro símbolo, adorando-o ao 
ponto de desejar possuí-lo carnalmente. É o que Alcebíades, após a noitada 
do Banquete, confessa a Sócrates. Mas Sócrates lhe explica que ele está buscando 
na direção errada. O que move a alma do discípulo é o desejo de um bem 
espiritual esquecido, que a carne de Sócrates não pode satisfazer. O filósofo 
é um símbolo do Bem e não o próprio Bem. Nesse sentido, ele não é diferente de 
qualquer outro símbolo. Mas ele não é apenas símbolo. Ele não se limita a 
representar exteriormente o Bem, como a beleza material o representa sem saber 
o que faz. Ele é um registro consciente daquele Bem que ele próprio simboliza. 
 Ele é o homem que realizou a anamnesis e descobriu na própria alma a abertura 
para o Bem. Por isso ele pode ensinar a Alcebíades o caminho de volta, mostrar 
que esse caminho não se encontra no corpo de Sócrates, e sim na alma de 
Alcebíades. Ele convida o discípulo à metanóia, ao giro da direção da atenção 
desde fora para dentro, desde a atualidade dos sinais sensíveis para a escuridão da 
memória, em cujo fundo brilha, escondida, a recordação da abertura primordial 
para a experiência do Bem e das formas eternas. 
 A análise infindável de textos é uma longa deleitação viciosa no corpo dos 
símbolos, um derivativo carnal que afasta para sempre da recordação do Bem ao 
mesmo tempo que crê piamente “fazer filosofia”. Foi isso que ensinaram ao prof. 
Gianotti com o nome de “filosofia”. Mas não era isso o que Sócrates e Platão 
ensinavam (CARVALHO, 2004). 
 
 O filósofo que tomasse como tema a estrutura da sua própria filosofia, para 
discorrer sobre ela, já a estaria assim, nesse mesmo momento, inserindo como 
parte numa estrutura maior. 
 Uma das consequências disso é que a estrutura não pode ser revelada por nenhuma 
“análise de texto”, por mais meticulosa e bem cuidadinha que seja, a qual só leva 
à estrutura da exposição, ou da obra escrita, cuja relação com a estrutura da 
filosofia propriamente dita é variadaDesta forma, a busca pela emancipação do homem faz com que ele quebre os 
laços com o meio para obter sua autoafirmação, e se diferenciar destes, pois o que os 
difere é o que importa. Não ser como o outro, mas tomar seu próprio lugar e, assim 
que estivar saturado, tomar outra forma. 
 
❖ A SOCIEDADE EM REDE 
 
O sociólogo alemão Norbert Elias publicou, em meados do século XX, um livro 
chamado O Processo Civilizador, em que analisava como costumes, gestos e regras de 
etiqueta são incorporados e transmitidos culturalmente de geração em geração. Ou seja, 
se hoje, nas sociedades ocidentais capitalistas, comemos de garfo e faca e aprendemos 
que não é correto falar de boca cheia, é porque esses gestos são exemplos de construções 
culturais e coletivas incorporadas por aqueles que nos criaram e que nos foram 
transmitidas sem que nos questionemos. 
Ao longo da vida, inicialmente com nosso núcleo familiar e, depois, na escola, até a fase 
adulta, vamos desenvolvendo uma série de competências que nos permitem viver e 
trabalhar coletivamente. Como isso tudo parece um processo natural, dificilmente 
paramos para nos perguntar: 
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O que é sociedade? Isso que chamamos de sociedade existiu desde sempre? É 
possível vivermos isolados? De quais diferentes maneiras, historicamente, nós fomos 
e estamos conectados? 
 
O CONCEITO DE SOCIEDADE 
De acordo com a definição mais simples, sociedade é um tipo de sistema coletivo que se 
distingue por características culturais, estruturais e demográficas / ecológicas. Trata-se de 
um sistema definido por um espaço geográfico (que pode, ou não, coincidir com as 
fronteiras dos Estados-nação), no interior do qual grupos de pessoas compartilham de 
uma cultura e estilos de vida comuns, com relativa autonomia em relação a outras 
sociedades. 
Não há, porém, uma definição última e fechada desse conceito – que pode, também, ser 
explicado como um espaço familiar no qual se inscrevem práticas individuais e coletivas 
(sempre em relação) e todas as suas representações, ou seja, os imaginários, visões de 
mundo etc. As análises sociológicas e antropológicas podem estudar as sociedades a partir 
de diferentes níveis de realidade social, ou de sistema de relações: enfocando o 
ordenamento político, econômico, religioso ou, de modo geral, cultural. 
Atualmente, a maioria de nós vive no que os antropólogos chamam de sociedades 
complexas, isto é, integradas por grandes grupos populacionais, interligados 
culturalmente e regidos por normas compartilhadas, dispondo de técnicas sofisticadas de 
transporte, comunicação e produção, além de acentuada divisão do trabalho. Isso quer 
dizer que nós estamos efetivamente conectados e somos totalmente dependentes uns dos 
outros. 
O SÉCULO XIX E A DIFUSÃO DO CAPITALISMO E DA CULTURA 
EUROPEIA NO MUNDO 
Dois processos de dimensão mundial marcaram o século XIX: o neocolonialismo 
(imperialismo) e a independência das antigas colônias europeias na América Latina. 
Chamamos neocolonialismo ou imperialismo a dominação europeia sobre enormes 
territórios nos continentes africano e asiático. Muitos fatores podem ser elencados para 
explicar esse fluxo, dentre eles: 
As inovações da Revolução Industrial e a associação das indústrias com os bancos, 
gerando créditos, aumentaram exponencialmente a produtividade e era preciso, por isso, 
buscar novos mercados. 
Ao longo do século XIX, ganharam força as teorias racialistas, que julgavam a raça branca 
superior às demais – que deveriam, portanto, ser sujeitadas e conduzidas à verdadeira 
civilização. 
LIMITES E POSSIBILIDADES DAS SOCIEDADES EM REDE NO SÉCULO 
XX 
Façamos um pequeno resumo das primeiras etapas da mundialização, antes de chegarmos 
ao século XX. A construção da interdependência entre as diversas regiões do globo 
esteve, desde o século XVI, intrinsecamente relacionada ao desenvolvimento do sistema 
capitalista. As chamadas Grandes Navegações desse período possibilitaram a ligação 
entre Américas, África e Europa, a partir do comércio, da escravidão e da colonização. 
O processo de colonização e de espoliação das colônias, por sua vez, acelerou o curso 
de industrialização no continente europeu, de modo que, no século XVIII, a Inglaterra 
passou pela primeira Revolução Industrial, seguida, ao final do século, por outras 
potências europeias, tais como França e Alemanha. 
SÉCULO XIX 
No século XIX, essas potências europeias competiam entre si por poder e mercados para 
seus produtos, cada uma delas tentando proteger e fortalecer a própria economia. Desse 
modo, os Estados nacionais ainda detinham muito poder e estabeleciam medidas 
protecionistas para suas indústrias. É nesse momento, também, que o capital financeiro 
(dos bancos) se une ao capital industrial na Europa, gerando crédito e facilitando o 
aumento acelerado da produção. Por outro lado, a população europeia não tinha condições 
de consumir tudo que estava sendo produzido. 
A necessidade de novos mercados para produtos europeus é um dos fatores que explica o 
processo de colonização ou neocolonização de grande parte dos territórios africano e 
asiático por países europeus. Havia, claro, uma série de outras circunstâncias e motivos 
culturais/ideológicos – como a crença na superioridade europeia e o racismo. Assim 
sendo, é a partir desse momento que as indústrias começarão a ser transferidas para além 
do território europeu. 
As relações salariais, o modo capitalista de produção e a cultura ocidental vão se impondo 
em regiões que ainda não haviam sido dominadas por completo. Ao final do século XIX, 
o sonho europeu de dominação parecia haver se concretizado, se não fossem as tensões 
cada vez maiores entre as diferentes nações. Como se sabe, essas tensões (disputas por 
poder e territórios) resultarão na Primeira Guerra Mundial em 1914 e, posteriormente, na 
Segunda Guerra, marcada não apenas pela violência dos combates, mas pelo genocídio 
nazista na Alemanha. 
Em 1948, a recém criada ONU (Organização das Nações Unidas) aprovou a Declaração 
Universal dos Direitos Humanos, um documento de construção coletiva que visava 
estabelecer prescrições humanistas a serem respeitadas por todos os países-membros e 
com aspiração à universalidade. 
Será a partir desses recursos que a cultura de massa no modelo estadunidense será 
exportada para todo o mundo – especialmente as culturas do consumo como forma de 
realização pessoal, e do Self-Made Man. Temos, então, um mundo já conectado pela 
informação que se difunde rapidamente via rádio e televisão, e pela publicidade neles 
veiculada. 
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A ASCENSÃO DAS REDES SOCIAIS NO SÉCULO XXI 
As redes sociais, em especial o Facebook, foram recebidas com entusiasmo em todo 
o mundo, não apenas pelo seu caráter de entretenimento, mas, sobretudo, pela 
percepção de que essas redes poderiam democratizar o acesso à informação e ao 
conhecimento, considerando-se que a chamada grande mídia, ou seja, as grandes 
redes de televisão e jornais em todo o mundo, sempre foram dominadas por um 
pequeno número de famílias e grandes corporações. 
Além disso, os jornais televisivos, impressos ou digitais, representam uma difusão 
vertical da informação, com pouca ou nenhuma interação. Nas redes sociais, por sua vez, 
não apenas recebemos as informações, mas podemos comentar, compartilhar com textos 
críticos/analíticos, debater com outras pessoas, participar de grupos de discussão etc. 
Com essa fluidez e rapidez, as redes sociais, tornando-se parte fundamental do 
ciberespaço transformaram-se em um lugar de encontro para uma grande massa de 
pessoas que, há muito tempo, não se sentia mais representada pela política institucional. 
Propaga-se, rapidamente, no Brasil e no mundo, o chamado ciberativismo. 
A ERA DA INFORMAÇÃO E DA PÓS-VERDADEAs eleições ocorridas entre 2016 e 2018 expuseram ao mundo o poder das novas 
tecnologias, em especial das redes sociais, em detrimento do antigo poder dos grandes 
veículos de imprensa. O momento posterior à eleição de Trump nos EUA foi permeado 
por uma série de investigações em torno do bombardeamento de fake news via redes 
sociais, e como essas notícias falsas teriam afetado os resultados da corrida eleitoral. 
Embora boatos e notícias falsas sempre tenham existido, agora elas passaram a circular 
em uma velocidade sem precedentes na história, e atingindo uma massa incalculável de 
pessoas. 
As redes sociais abriram a possibilidade de compartilhamento instantâneo de informações 
e imagens, que podem ser produzidas por qualquer pessoa. Ao mesmo tempo que isso, de 
fato, horizontaliza a divulgação e recepção das informações, deixa brechas para um fluxo 
imenso de notícias não averiguadas, descartáveis ou, simplesmente, falsas. 
As apurações das eleições norte-americanas mostraram para o mundo, ainda, que os 
caminhos de compartilhamento das fake news não eram tão espontâneos quanto se 
pensava.e ambígua. O método para apreender a 
estrutura de uma filosofia tem de partir dos seguintes princípios: 
(1) Toda filosofia, por abstrata e desinteressada que pareça, é uma intervenção no curso 
dos negócios humanos. Visa sempre a modificar ou reforçar o estado de coisas na 
sociedade, na cultura, na ciência, na religião, nos costumes, ou mesmo na condição 
humana em sua totalidade. 
(2) Para esse fim, procede a um exame em profundidade dos obstáculos, cognitivos ou de 
qualquer outra ordem, que impedem ou dificultam sua consecução, tentando criar os 
meios intelectuais e práticos para removê-los. 
(3) Sua estrutura, portanto, define-se como uma articulação de fins e meios. Qual a meta 
histórico-cultural proposta e qual a estratégia, a um tempo cognitiva e persuasiva, usada 
para legitimá-la e viabilizá-la? 
 Dito de outro modo, a estrutura de uma filosofia só se revela quando o 
discurso em que ela se expressa é examinado não como um puro sistema de 
ideias e doutrinas, mas como uma ação humana, a intervenção de um 
indivíduo intelectualmente privilegiado na vida dos seus semelhantes 
supostamente menos dotados dispostos a ouvi-lo. 
 
 EXEMPLO: Se você diz: “Eu amo-te, minha amada!”. Um filósofo poderia 
intervir e questionar: “Mas quem é você? Quem é a sua amada? O que é o Eu? E 
o que é o amor?” Isso é uma forma platônica e Agostiniana de filosofar. Uma 
ligação identitária de conhecimento e de filosofia. 
 
❖ HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA 
 DEMOCRACIA ATENIENSE: 
 
 A cidadania ateniense sofreu uma série de transformações ao longo de sua história, 
ocorrendo em concurso com a economia, política e cultura da época. Nos seus 
primórdios, até meados do século VII a.C., Atenas era controlada pelos eupátridas, 
aqueles que detinham a maioria das terras férteis. Contudo, no decorrer da história 
ateniense, as lutas entre as classes sociais, a instabilidade, o crescimento da pólis 
(cidade-estado) e o desenvolvimento do comércio fizeram com que os eupátridas 
se vissem obrigados a reformular as instituições políticas de Atenas. 
 
 Um grupo de legisladores atuou no processo de transformação de tais instituições. 
Em 621 a.C., Drácon postulou as primeiras leis escritas do governo, substituindo 
assim as leis orais, que eram controladas apenas pelos “bem-nascidos” 
(eupátridas). A partir de 594 a.C., Sólon, outro legislador, instituiu reformas 
políticas mais ambiciosas em Atenas. Algumas de suas medidas sócio-jurídicas 
foram à eliminação da escravidão por dívidas; a divisão da população por meio 
do poderio econômico de cada indivíduo, fazendo com que, agora, membros não 
eupátridas, mas possuidores de certa quantidade de riqueza tivessem o direito à 
participação política; e a criação do Helieu, tribunal de justiça aberto a todos os 
cidadãos. 
 
 
 No fim do século VI a.C, buscando expandir os direitos políticos da população, 
Clístenes, o “Pai da Democracia”, ascendeu ao poder, através da liderança de uma 
revolta, pondo fim à ditadura e inaugurando a Democracia Ateniense, base de 
estudo deste trabalho. Adotou várias medidas democratizantes, dentre as quais, a 
população passou a ser dividida em 10 tribos, sendo que cada tribo teria seu 
representante político no governo central, fazendo com que a proximidade do 
governo com a população crescesse e as influências dos eupátridas começassem 
a ser neutralizadas. 
 
 A partir de 451 a.C, no governo de Péricles, que compreendeu a chamada “idade 
de ouro” de Atenas, dado o esplendor vivido pela cidade-estado nos âmbitos 
econômico, militar e cultural, houve a maior amplitude da democracia ateniense, 
pois permitiu a entrada na participação política de parcelas antes excluídas. Eram 
cidadãos em Atenas aqueles que fossem filhos de pai e mãe atenienses. O jovem 
servia como membro da milícia e, somente aos vinte anos é que tomava posse dos 
seus direitos como cidadão, possuindo assim, a plenitude dos direitos civis e 
políticos, podendo ter assento na assembleia, opinar, votar, ter um cargo na 
magistratura e nas demais funções que competiam aos cidadãos. 
 
 As mulheres estavam totalmente excluídas da participação política. Elas eram 
discriminadas e tratadas com desigualdade formal e material. Não lhes era 
permitido o direito à palavra nas reuniões políticas nem a posse de propriedade, 
em geral, não possuíam direitos civis. Já os escravos, mesmo com inferioridade 
na escala social, não eram apenas trabalhadores braçais, desempenhavam funções 
estatais estratégicas. Sustentavam, parte do modelo econômico da polis, 
preenchiam cargos públicos impopulares (carcereiros, serventes de obras 
públicas), eram alugados e subalugados, organizavam os papéis oficiais, 
representavam seus senhores em negociações comerciais. Aos poucos se tornaram 
coisas públicas, por isso a lei passou a protegê-los, reconhecia sua humanidade 
apesar da condição social inferior. (GODOY, 2003, p. 197). 
 
 
❖ O JUDICIÁRIO ATENIENSE 
 
 As instituições atenienses eram subdivididas em jurídicas (os tribunais) e políticas 
(órgãos da administração pública). Assim, o governo estava representado pela 
polis e a justiça representada pela magistratura criminal ou civil. A Assembleia 
do Povo, ou Eclésia, possuía funções legislativas, onde os cidadãos decidiam, 
elegiam e julgavam matérias de competência pública, exercendo funções 
legislativas, executivas e judiciárias. Ela designava, por eleição ou sorteio, os 
magistrados e fiscalizava a sua atuação; decidia sobre a guerra ou a paz; negociava 
e ratificava tratados; controlava as finanças e as obras públicas; julgava crimes 
políticos. Todos os cidadãos com mais de 20 anos e de posse dos direitos políticos 
poderiam compô-la. As suas decisões eram tomadas por maioria de votação, e os 
cidadãos se reuniam de três a quatro vezes por mês. 
 As magistraturas eletivas concentravam maior prestígio. Aos Magistrados 
competia a instrução dos processos, dos rituais religiosos, das funções municipais. 
Havia inúmeros tipos de magistraturas, agrupadas em colegiados. A diferença 
entre as magistraturas escolhidas por sorteio das determinadas por voto é de que 
as primeiras não podiam ser reeleitas. O seu desempenho era fiscalizado pela Bulé 
e pela Eclésia, a quem tinham de apresentar contas no final dos seus mandatos, 
apresentando, inclusive, relatório dos bens pessoais tidos no início e no fim da 
função exercida. 
 Em justiça civil, existiam os juízes dos demos, escolhidos por sorteio, que 
percorriam as zonas rurais resolvendo de maneira rápida e serena os litígios de 
baixo potencial econômico. Estes ainda realizavam investigações preliminares e, 
caso necessário, as endereçava para tribunal competente. Assim a justiça ateniense 
conseguia atender, ainda que minimamente, a camada campesina da população. 
A administração da justiça na pólis era destinada à população. Ao povo recaia o 
julgamento e a resolução de conflitos, seja em matéria criminal ou civil. Em 
matéria jurídica, é o júri popular, antepassado do moderno Tribunal do Júri, a 
grande invenção de Atenas. Não havia intermediário entre a soberania popular e 
os que são passíveis de punição. Era a liberdade política que os atenienses tanto 
apreciavam: o poder de modelar a justiça positiva conforme a equidade do senso 
comum e deliberar apoiados nas circunstâncias concretas. 
 A legislação e a fiscalização do dinheiro público também sobressaia, se referindo, 
muitas vezes, como o primórdio dos atuais Tribunais de Contas. Cada magistrado 
ou funcionário responsável por receitas públicas era submetido à prestação ao 
final da gestão. Devendo apresentar termo escrito comprometendo-se com sua 
administração. Não havia Ministério Público na Atenas clássica. Isso reflete a não 
obrigatoriedade da jurisdição estatal na maioria dos litígios. Na ausência de 
promotoria pública, a denúncia podia ser proposta por qualquer cidadão. Para 
vigiar o abuso, aacusação infundada ou difamatória era punida com multas, perda 
dos direitos políticos, censuras ou flagelos (GLOTZ, 1980, p. 206.). 
 Acusação e defesa pública também possuem raiz teórica no direito ateniense. A 
princípio, cabia a cada cidadão o direito e o dever de conhecer as formas e os ritos 
forenses, bem como, manifestar contraditório e ampla defesa. A lei proibia o 
auxílio e participação alheia nos atos da tribuna. Os incapazes de autodefesa - 
mulheres, menores, escravos, libertos e metecos - o faziam por tutela ou curatela. 
Tanto autor, quanto réu, com dificuldade na argumentação, podia pedir auxílio ao 
tribunal, que indicava representante. 
 
 
❖ OBRAS PLATÔNICAS 
 
Platão compõe com Aristóteles a dupla de principais pensadores do período 
sistemático da filosofia Grega. No trabalho desses dois gigantes encontram-se 
sistematizadas as principais discussões que envolviam a filosofia até então. Até hoje 
ambas as obras são lidas, estudadas e servem de referência para a abordagem de muitas 
questões no terreno da filosofia. 
A filosofia de Platão é em grande parte apresentada em diálogos. Se Sócrates 
fazia filosofia dialogando, Platão escreveu diálogos e também assim transmitiu sua 
filosofia. Em vários de seus diálogos Sócrates é mencionado e em outros tantos é o 
personagem principal. 
Platão foi discípulo de Sócrates e é somente por seus escritos que temos acesso 
a Sócrates. Por sua vez, [Platão] foi mestre de Aristóteles que viria a abordar 
criticamente a metafísica de Platão, propondo a sua alternativa para o problema do 
conhecimento. Platão enfrentou esse problema construindo a teoria das ideias ou das 
formas puras, essências somente acessíveis pelo trabalho da razão, a partir de uma 
ruptura com o que “conhecemos” através dos sentidos. 
Platão (428 a.C. - 347 a.C.) é um dos pilares da filosofia ocidental. Sua obra 
formaliza questões que já se anunciavam desde os tempos dos pré-socráticos, muito 
claramente na disputa em torno da existência do movimento que encontramos em 
Heráclito e Parmênides e até no próprio filosofar de Sócrates, a quem nos apresenta 
como seu mestre. 
Há quem diga que a filosofia é um conjunto de notas de pé de página aos 
trabalhos de Platão e Aristóteles. O período chamado “sistemático” da filosofia antiga, 
este que ora iniciamos com a apresentação de Platão, justamente nomeia essa 
característica das obras desses dois grandes filósofos que sistematizaram tudo que se 
discutia até então na filosofia - seus principais objetivos, conflitos e desafios. 
Diga-se de passagem, não obstante o esforço de Platão e Aristóteles para trazer 
esclarecimento às principais controvérsias filosóficas de até então, estas continuariam 
vivas ao longo da história da filosofia, como eixos organizadores do trabalho dos 
filósofos. Parece mesmo ilusório e ingênuo supor que o mérito da filosofia dependeria 
do fim dessas controvérsias. 
Platão e Aristóteles tiveram imensa produção. No caso de Platão, sua filosofia 
aparece conforme dissemos, em grande parte, sob a forma de diálogos que versam 
sobre os mais variados temas. Platão acreditava na finalidade prática da filosofia, ou 
seja, achava que a filosofia deveria servir para orientar o homem em suas ações e não 
apenas para trazer conhecimento puro. Não que Platão fosse um pragmatista, que 
entendesse a filosofia como devendo buscar a utilidade. O filósofo, na perspectiva de 
Platão, busca o conhecimento racional em todos os níveis e isso o torna capaz de 
contribuir para a prática humana. 
Essa perspectiva do trabalho de Platão deve ser contextualizada. Em sua época, 
a democracia ateniense é decadente e carregada de injustiças, jogos de interesse, 
privilégios e a filosofia de Platão forma-se nesse contexto e com a perspectiva de 
mudar esse quadro: 
“O discurso filosófico preocupa-se com sua própria legitimação, sua 
justificação, daí ser considerado crítico e reflexivo. A filosofia não deve apenas dizer 
e afirmar, mas preocupar-se em chegar à verdade, à certeza, à clareza, através da razão. 
Constitui um discurso que se funda na legitimidade, que deve ser aceito por todos 
(tendo, portanto, um caráter universal), que se impõe pela argumentação racional, que 
produz um consenso legítimo, que se opõe à violência do poder e à ilusão e 
mistificação ideológicas que caracterizariam o discurso dos sofistas. A filosofia, 
segundo o modelo platônico, vai ser esse discurso legítimo que se instaura como juiz, 
como critério de validade de todos os discursos” (MARCONDES, 2008, p. 52). 
Inaceitável, portanto, para o “modelo platônico”, a posição dos sofistas, 
segundo a qual um argumento racional se limita a ser um argumento bem feito. Essa 
posição é associada à ideia de que o sofista acha que tudo que existe é na melhor das 
hipóteses, convencimento e que por isso não ensina a razão, mas apenas a retórica. 
Esta, por sua vez, pode servir aos mais variados interesses, uma vez que não existe 
como provar que um interesse seja mais correto e melhor fundamentado que outros. 
Para Platão, o sofista é aquele que ajuda a elite a melhor enganar para manter 
seus privilégios. Muitos foram os diálogos escritos por Platão e que visavam 
justamente desmascarar as situações de injustiça promovidas no contexto da 
democracia decadente. A morte de Sócrates, seu mestre, foi talvez a consequência mais 
trágica disso. 
• O ANEL DE GIGES: 
 
História contada por Platão, em A República, para discutir se o homem agiria 
corretamente caso tivesse o poder de fazer uma maldade sem ser percebido. Num 
diálogo do livro, Glauco discorda de Sócrates e insiste que justiça e virtude não são de 
fato desejáveis em si mesmas. O importante é aparentar ser um homem justo e 
bondoso. Não é necessário ser de fato. 
Em apoio a sua afirmação, Glauco oferece a seguinte história que sugere que a 
única razão pela qual as pessoas agem moralmente é que eles não têm o poder de se 
comportar de outra forma. Basta retirar o medo da punição, e a pessoa “justa” e 
“injusta” se comportará da mesma maneira: injustamente, imoralmente. 
Lídia, séc. VII, antes de Cristo. Rei Candaules: 
O rei Candaules da Lídia (século VIII a.C.), achando a esposa a mulher mais 
linda do mundo e querendo prová-lo a Giges, seu guarda-costas favorito, pede a este 
que a veja despir-se. O episódio é narrado por diversos autores, entre os quais 
Heródoto (século V a.C.), em Histórias. 
Giges fica horrorizado com a proposta, não aceita. Candaules rebate: “não se 
preocupe, ela não saberá!” E ainda afirma que não faz a proposta para testá-lo, e sim 
para fazer com que ele próprio veja o quão bela é sua esposa, pois os olhos são mais 
importantes que os ouvidos. Giges então acaba aceitando. 
Candaules diz pra Giges ficar escondido atrás da porta do quarto do casal, à 
noite, pois a mulher antes de se deitar na cama, tira toda a roupa. Giges fará tudo 
como planejado. Todavia, a mulher do rei vê a ação. 
No outro dia, a rainha chama Giges e diz que viu que ele a viu. E diz que só 
há duas opções para ele agora: 
1- Matar Candaules, se casa com ela e ganha o trono de Lídia 
2- “Eu vou exigir a sua morte ainda hoje para Candaules!” 
Então a Rainha ordena: você ficará no mesmo lugar em que ficou quando me 
viu nua e quando Candaules dormir, você o matará com uma adaga. Assim Giges 
tornou-se o Rei de Lídia e inaugurou uma nova dinastia. Mas os lídios ficaram 
perplexos e não sabia se deviam ou não deixar que Giges reinasse. 
Platão, em seu livro (A República), conta: Sócrates discute com Céfalo a 
respeito do que é Justiça? A história do anel de Giges entra no livro II. 
Foi dado pra Sócrates algumas definições da visão corrente da época, sobretudo 
da democracia ateniense. Trasímaco diz que “não há vantagem em ser justo”, pelo 
contrário, a vantagem está em ser injusto. Mais que isso: ser injusto e não ser punido 
pela injustiça. 
Existem 3 classes de bem: 
1- Bens que a genteprocura momentaneamente (beber um vinho, alegrias 
da vida, etc); 
2- Bens que procuramos pelo fim (tratamento médico); 
3- Bens que são bem em si. 
Sócrates afirma que a justiça é um bem em si. 
Versão de Platão: Giges era um pastor e ao pastorear as ovelhas, acontece 
um terremoto e esse terremoto faz com que uma fenda apareça no solo. E Giges 
desce, ao descer vê um cabelo oco de bronze. Giges adentra o cavalo e no cavalo 
tem um cadáver com um anel de ouro no dedo. E fica pra si com o anel. Após o 
furto, vai se encontrar com outros pastores. Na reunião, Giges vira o anel e 
percebe que se torna invisível todas as vezes que vira o anel. Tal descoberta fez 
com que ele pudesse se infiltrar em ambientes palacianos. Giges conquista a 
rainha e mata o rei e toma o trono. 
Questão do livro de Platão: o que faríamos se tivéssemos o anel de Giges? 
Glauco pergunta a Platão: - se tivessem dois homens (um justo e um injusto) e 
ambos tivessem o anel, o que aconteceria? 
Platão afirma que a única maneira de haver justiça em uma sociedade é quando 
os filósofos governarem: “enquanto os filósofos não governarem ou os governantes 
não forem filósofos não haverá solução para os males da humanidade, nem do 
homem”. 
Justiça para Platão: Cidade deve ser construída de três classes – guardiães 
(filósofos); guerreiros (defensores); produtores e artesãs. Cada uma das classes 
deve fazer aquilo que lhe é própria. O homem justo é aquele que tem em cada 
parte da sua alma desenvolvendo aquilo que lhe corresponde (a sabedoria, a 
coragem e a prudência). A justiça é a harmonia entre essas três partes da alma 
no homem e as três classes dentro de uma cidade ideal. 
 
 
❖ ARISTÓTELES E ORGANIZAÇÃO SOCIAL: 
Situação problema: Na sua opinião é mais valiosa a ética do cidadão ou as leis do 
Estado? 
 
Discípulo mais famoso de Platão, Aristóteles nasceu em Estagira na Macedônia em 384 
a.C. e morreu em 322 a.C. Incrível que uma existência relativamente curta tenha dado 
oportunidade a tanta produção por parte de um mesmo homem, que tem em sua biografia 
o fato de ter sido durante algum tempo preceptor de Alexandre, o Grande. 
 
Embora existam pontos de acordo entre as obras de Aristóteles e Platão, há uma 
discordância de base entre os dois. Ela diz respeito ao plano metafísico estabelecido por 
cada um, ou seja, ao plano das verdades mais gerais, da visão de realidade. 
Correlativamente, não poderia deixar de haver entre os dois uma discordância quanto ao 
objeto do conhecimento filosófico e ao processo de conhecer. 
 
A concepção de realidade (ou também, a metafísica) de Aristóteles era diferente daquela 
de Platão. O filósofo questiona a duplicação do mundo feita por seu mestre (mundo 
sensível e mundo inteligível) e a tese de que só rompendo com o mundo sensível e com 
o senso comum se pode chegar ao conhecimento das formas ou ideias perfeitas, o que 
deve ser objetivo do filósofo. 
 
Para Aristóteles, existem dois tipos de justiça: a justiça universal e a justiça particular. 
A justiça universal se refere ao exercício de todas as virtudes, em um sentido amplo, seria 
fazer “o que é certo”. A justiça particular se liga com aquilo que é correto em sentido à 
divisão dos bens. 
A justiça distributiva idealiza situações onde duas ou mais partes trocam produtos e 
consecutivamente recebem algo de acordo com o seu mérito. Como por exemplo em uma 
troca, um indivíduo vende algo para uma pessoa e recebe algo em troca de alguma forma, 
seja em dinheiro ou uma unidade monetária que seja proporcional com a quantidade, 
qualidade e valor que lhes foi concedido. 
Já a justiça corretiva se relaciona com a ideia de corrigir uma situação em que exista 
algum tipo de injustiça. Logo, ela estabeleceria o equilíbrio entre as partes desiguais por 
atos voluntários ou involuntários. A aplicação dessa justiça é responsabilidade do juiz, 
que é quem toma as decisões de todo o processo. Para Aristóteles, o juiz é a personificação 
da justiça. Então, aquele que agisse de forma injusta, teria sua punição 
proporcionalmente com a intensidade de seu ato. 
Segundo Aristóteles, a justiça é uma virtude considerada de saber prático, ou seja, que só 
se aprende fazendo. O conceito tem sua origem através da ética, segundo o termo grego 
―Ethos‖, que significa hábito e costume. Assim, ética é de saber prático, entendida por 
aquilo que obedecemos com habitualidade, ou seja, nosso jeito de ser e como agimos 
como cidadãos. 
O conceito de justiça em Aristóteles: 
Aquela disposição de caráter que torna as pessoas propensas a fazer o que é justo, 
que as faz agir justamente e desejar o que é justo; e do mesmo modo, por injustiça 
se entende a disposição que as leva a agir injustamente e a desejar o que é injusto 
(ARISTÓTELES, 1991, p 94). 
Logo, justiça pode ser entendido como um costume, uma disposição de caráter que 
torna a pessoa propensa a fazer e desejar o que é justo. Para o filósofo, a cidadania 
e a ética andam juntos, desta forma, ser justo e ser bom cidadão são conceitos 
igualitários. A justiça deve ser aplicada na cidadania, além dos afazeres domésticos, 
ou seja, não pensando somente no contexto particular, mas também nas relações 
sociais. Ele completa que justiça é uma virtude e pode ser aprendida, caso seja 
praticada. O filósofo retrata ainda que o justo está vinculado como o respeito às leis 
que aceitamos ao viver em sociedade. 
Para o autor, ser justo é obedecer às leis, pois elas são feitas por todos e para todos, apesar 
da cidadania grega, na época, não reconhecer os escravos e as mulheres como cidadãos. 
Para Aristóteles atos justos são os que tem o objetivo de preservar a sociedade. 
Diante dessa breve exposição acerca da concepção de justiça, é possível observar que o 
conceito para Aristóteles é visto como uma virtude, algo que deva ser praticado para ser 
assimilado. A justiça aristotélica pressupõe que o indivíduo deve tornar o ato de ser justo 
um hábito e que só assim ele será um bom cidadão, desta forma, ser justo e ser bom 
cidadão estão sempre unidos. O autor diz ainda que, ser justo é obedecer às leis, pois elas 
são feitas por todos os cidadãos e tem o intuito de preservar a sociedade. Da mesma forma, 
a pessoa que viola a racionalidade tende a ser injusta. 
 
❖ HISTÓRIA DA FILOSOFIA MEDIEVAL: 
 
A Filosofia Medieval corresponde à Idade Média, período que se estende do século V, 
com a tomada do Império Romano pelos hérulos, até o século XV, com a queda de 
Constantinopla na sua conquista pelos turcos-otomanos. 
Durante a Idade Média, surgiram as primeiras universidades, formas de associações de 
professores e alunos que promoviam debates e discussões, unindo-se também para 
questionar os pensamentos e ideologias padrão da época. 
Sempre houve uma tradição religiosa na filosofia ocidental, seja judaica, católica ou 
protestante, e não apenas na Idade Média. Contudo, é nesta época que se deu o link mais 
forte entre os âmbitos religioso, intelectual, artístico, político, econômico e social. 
A filosofia medieval ou cristã apresenta como nota principal a busca da conciliação 
possível entre razão e fé. Isso não é uma tendência hegemônica na cultura, e muito 
menos na Igreja Católica, mas sim entre alguns dos principais filósofos cristãos da época, 
como Santo Agostinho e São Tomás de Aquino. 
 
A idade média é muitas vezes referida como “idade das trevas” – daí expressões como 
renascimento e iluminismo para designar períodos posteriores. De fato, a ascensão da 
Igreja católica ao posto de principal instituição da época produziu repressões e violências 
à livre expressão, como de resto tem acontecido com todos os períodos da humanidade. 
Contudo, isso não foi suficiente para inibir a boa filosofia, a arquitetura, a arte em geral, 
com produções de alto valor cultural. 
 
A filosofia desde o início pretendeu romper com as sabedorias pontilhadas e sustentadas 
por mitos e tradições cuja origemse perde no tempo. Porém no período da filosofia que 
agora introduzimos isso se transformou, pelo menos no que diz respeito às relações entre 
filosofia e cristianismo. O típico sincretismo religioso e efervescência cultural do 
helenismo dão o contexto para o início dessa transformação. 
 
A atmosfera de convívio pacífico entre diferentes saberes e práticas religiosas terminaria 
por permitir que alguns judeus e cristãos utilizassem principalmente Platão e Aristóteles 
para compreender pela razão os dogmas religiosos “revelados” (primeiro testamento, 
pentateuco que, traduzido para grego transforma-se em septuaginta). 
 
“O primeiro representante significativo dessa tradição que se inicia é Filon de Alexandria, 
também conhecido como Fílon, o Judeu (25 a.C. - 50 d.C.), um judeu helenizado que 
viveu em Alexandria nesse período e produziu uma série de comentários ao Pentateuco, 
aproximando-o da filosofia grega, principalmente do platonismo. (...). Fílon retoma o 
conceito grego de logos, interpretando-o como um princípio divino a partir do qual Deus 
opera no mundo.” (MARCONDES, 2008, pp.107-108). 
 
A tradição considera São Justino (século II d.C.) o primeiro filósofo cristão. Filósofo, São 
Justino converteu-se ao cristianismo passando a considera-lo a verdadeira filosofia. Deu 
assim origem a um movimento de filósofos e teólogos conhecidos como apologetas, por 
fazerem a apologia, ou defesa do cristianismo. Esse movimento será conhecido como a 
patrística (Ibid). 
 
Assim, a patrística foi a filosofia dos primeiros séculos d.C. e deve esse nome ao fato de 
ser elaborada pelos padres da igreja, principalmente a partir das Epístolas de São Paulo e 
do Evangelho de São João, isto é, pelos primeiros dirigentes espirituais e políticos do 
cristianismo, depois da morte dos apóstolos. Do lado da filosofia grega, apoiava-se 
principalmente em Platão, mas principalmente naqueles fragmentos que permitiam uma 
fundamentação dos dogmas da fé. Divide-se em patrística grega (ligada à Igreja de 
Bizâncio) e patrística latina (ligada à Igreja de Roma). 
 
Devido à característica religiosa, a patrística introduziu temas desconhecidos para os 
filósofos Greco-romanos, isto é, a ideia de criação do mundo a partir do nada, de pecado 
original do homem, de Deus como trindade una, de encarnação e morte de Deus, de juízo 
final ou de fim dos tempos e ressurreição dos mortos, além da existência do mal no 
mundo, já que tudo foi criado por Deus, que é pura perfeição e bondade. Com Santo 
Agostinho (354-430 d.C.) e Boécio (480-522, d.C.), houve a introdução da concepção de 
“homem interior” (consciência moral e livre arbítrio da vontade), pelo qual o homem, 
dotado de liberdade de escolha entre o bem e o mal é o responsável pela existência do 
mal no mundo. 
 
Essa perspectiva de conciliar filosofia e cristianismo não foi, nem no início nem no fim 
do período medieval, unânime. Sempre houve aqueles homens de fé que foram contra 
essa perspectiva. Isso ao ponto de fazer com que o grande tema da filosofia patrística 
viesse a ser o da possibilidade ou impossibilidade de conciliar razão e fé. A esse respeito, 
havia três posições principais (Ibid): 
 
1. Os que julgavam fé e razão inconciliáveis e a fé superior à razão (diziam eles: 
“Creio porque é absurdo”); 
2. Os que julgavam fé e razão conciliáveis, mas subordinavam a razão à fé (diziam 
eles: “Creio para compreender”); 
3. Os que julgavam razão e fé inconciliáveis, mas afirmavam que cada uma delas 
tem seu campo próprio de conhecimento e não devem misturar-se (a razão se 
refere a tudo o que concerne à vida temporal dos homens no mundo; a fé, a tudo 
que se refere à salvação da alma e à vida eterna futura). 
 
 
 SANTO AGOSTINHO 
Santo Agostinho (354-430) foi um teólogo e filósofo do direito canônico. 
Para Agostinho, para se definir o que é direito, antes, é necessário definir o que é justiça. 
Dessa maneira, sem a justiça não existe o direito e, tampouco, o Estado. 
Segundo ele, ainda, o direito existe em função da religião. A justiça seria a lei de 
Deus, e a verdadeira justiça só poderia ser encontrada na Cidade de Deus. O direito 
natural, por conseguinte, vinha primeiramente da lei divina. 
Agostinho foi fortemente influenciado pela teoria dualista de Platão, que fazia uma 
divisão entre o mundo das ideias e o mundo dos sentidos. Ele transformou a teoria 
platônica, de forma a adaptá-la à religião: o mundo ideal seria o mundo de Deus (Cidade 
de Deus), enquanto o mundo das coisas seria o dos seres humanos. Embora não fosse 
possível, na sua visão, encontrar a verdadeira justiça na vida terrena, as leis do Estado 
deveriam ser obedecidas por serem o reflexo das leis divinas que os homens conseguiram 
formular. Era adepto da união da fé e da razão, pois somente o conjunto das duas serias 
capaz de guiar o ser humano à verdade absoluta. 
A verdadeira justiça, em suma, só poderia ser encontrada na Cidade de Deus e na 
lei eterna. 
 
 SÃO TOMÁS DE AQUINO 
São Tomás de Aquino (1225-1274) também foi um teólogo e filósofo do direito canônico. 
Naquele período, houve a redescoberta da doutrina aristotélica e do Corpus iuris civilis, 
compilação de lei e jurisprudência criada por ordem do imperador romano Justiniano I 
(482-565). 
São Tomás de Aquino procurou conciliar o pensamento greco-romano redescoberto com 
a tradição cristã. 
Também estudioso do pensamento de Santo Agostinho, Tomás de Aquino acreditava que 
o direito pode ser descoberto e criado precipuamente pela razão (o que foi inovador na 
época, na qual se acreditava que as leis vinham, antes, da revelação divina). 
Ele foi influenciado pelas ideias de Aristóteles no que diz respeito ao direito natural. 
Tomás de Aquino acreditava que havia uma ordem natural, que era divina, e dava origem 
a lex aeterna, ou leis da natureza. Ele acreditava que as leis seguiam a seguinte ordem 
de classificação: 
1. Lei eterna ou divina; 
2. Lei natural, aquela que ordena os acontecimentos; 
3. Lei humana ou positivada, que deriva das leis precedentes. 
4. Para Tomás de Aquino, se a lei humana que estiver em contradição com as leis 
divinas e naturais, estará corrompida. 
Além disso, o ser humano está sujeito à lex aeterna, mas pode escolher seus atos e 
construir seu pensamento utilizando-se de seu livre arbítrio. Assim, ele reconheceu o 
poder de decisão do ser humano que, dotado de razão, perseguirá seus interesses de 
acordo com suas próprias convicções. 
Neste pensamento, está a origem da ideia de liberdades individuais. 
 
- VIRTUDES MORAIS CARDEAIS: 
 
Ao ler e conhecer como a Fé, a Esperança e a Caridade, as virtudes teologais, 
nos tornam capazes de conhecer e amar a Deus. Elas são virtudes inteiramente voltadas 
para Deus. 
 Mas existem muitas virtudes que não são voltadas diretamente para Deus, mas 
sim para o nosso comportamento, nossa atitude, nossas ações; elas nos ajudam a bem 
agir, a fugir do pecado, a vencer as tentações. Por isso, indiretamente, elas nos levam a 
Deus. São as virtudes morais, ou seja, virtudes que nos ajudam a bem agir. 
 Quatro delas são mais importantes do que as outras porque regulam a atividade 
de todas as demais. São as chamadas virtudes cardeais. Por que esse nome? 
 Cardo, em latim, quer dizer dobradiça, eixo em torno do qual gira alguma coisa. 
No caso da dobradiça, gira a porta, no caso do eixo da terra, giram os quatro pontos 
cardeais. No caso das virtudes, em torno das quatro virtudes cardeais, giram as outras 
virtudes, como veremos adiante. 
 
QUAIS SÃO ESTAS VIRTUDES CARDEAIS? 
 
A Prudência, a Justiça, a Força e a Temperança. 
Vamos começar estudando cada uma dessas quatro virtudes cardeais, depois 
veremos as outras virtudes morais. 
 
 
A VIRTUDE DA PRUDÊNCIA. 
 
 
Prudência é a virtude que nos ajuda a escolher. Não se trata de escolher coisas 
fúteis e bobas. A Prudência nos ajuda a escolher os meios adequados para realizaro 
bem e vencer o mal. É uma escolha muito importante e que a qualquer momento 
precisamos fazer. 
 
Vou estudar ou vou brincar? Depende da hora! Se for hora de estudar, vamos 
estudar, se for hora de brincar, vamos brincar. É a Prudência que nos ajuda a compreender 
essas coisas. Ela aproveita a hora propícia, o lugar acertado onde devemos estar e nos 
impede de tomar decisões precipitadas. O lema dela é: fazer o que é certo, na hora certa, 
no lugar certo. 
A Prudência, iluminada pela nossa Fé e ajudada pela graça santificante, nos 
leva a escolher os atos bons que são o caminho da nossa salvação. 
 
É sobre esta Prudência que Jesus fala no Evangelho: «Eis que vos mando como 
ovelhas no meio de lobos. Sêde, pois, prudentes como a serpente e simples como as 
pombas.» (Mt. 10, 16) e também: «Quem julgas que é o servo fiel e prudente, a quem o 
seu senhor constituiu sobre a sua família, para lhe distribuir de comer a tempo?» (Mt. 
24, 45). 
 
O pecados contra a prudência. 
 
Mas, como o contrário da virtude é o vício, podemos pecar contra a Prudência de 
dois modos: 
 
1 - Por falta de prudência - é o vício da imprudência, que pode ser por: 
precipitação - agimos sem refletir ou descuido - refletimos no que vamos fazer mas 
fazermos mal feito. 
 
2 - Por excesso de Prudência – astúcia: ser prudente no mal, nas coisas erradas, 
no pecado; – cuidados excessivos com a vida material: dinheiro, vaidade, comprar 
muitas coisas, etc. 
 
 
A VIRTUDE DA JUSTIÇA. 
 
 
Deus entregou a terra a Adão para que ele e seus filhos a plantassem e tirassem 
dela o seu sustento. O homem usou e usa as coisas da natureza para comer, para vestir, 
para fabricar objetos necessários à sua vida. Como filhos de Deus e tendo recebido a terra 
como herança, os homens podem possuir suas coisas, sua terra, sua casa, seus objetos, 
que lhe são necessários para viver e para alimentar sua família. É fácil compreender que 
nem sempre haverá um acordo entre os homens sobre a possessão desses bens materiais. 
 
Para ajudá-los a viver em paz e a possuir com boa medida o que lhes é necessário, 
Deus nos deu a virtude de justiça, pela qual nós queremos, com nossa boa vontade, dar 
aos outros o que lhes é devido, protegendo também o que nos pertence e, sobretudo, dar 
a Deus o que Ele nos pede, no seu amor por nós: amor, dedicação, louvor, etc. 
 
Vamos ilustrar o que dissemos com alguns exemplos: 
 
Quando tomamos emprestado um objeto, a virtude da justiça nos leva a querer 
devolvê-lo no tempo estipulado, pois sabemos que a pessoa que nos emprestou pode ficar 
prejudicada se não recebê-lo de volta. 
 
Quando compramos um objeto, é justo que paguemos o seu valor. 
Quando assinamos um contrato com alguém, devemos cumpri-lo (como o 
matrimônio é um contrato passado diante de Deus, a virtude da justiça nos impede de 
querer nos separar, pois no contrato do matrimônio aceitamos viver para sempre com a 
pessoa com quem casamos. 
 
Porém, não basta que os homens tenham entre si esse relacionamento de justiça. 
A vida na sociedade é muito complicada e foi preciso se organizar um governo que 
ajudasse os homens a viverem juntos numa mesma cidade, num mesmo país. Por isso, a 
virtude da justiça vai também atuar no relacionamento dos homens com o governo, quer 
ele seja um prefeito, um guarda de trânsito, o presidente ou um rei. Os homens devem 
obedecer às leis estabelecidas pelas autoridades, enquanto que a autoridade deve atuar de 
forma igual para com todos, ajudando os bons e castigando os maus. 
 
É a virtude da justiça que forma as bases do 7, do 8 e do 10 mandamento da 
Lei de Deus. Não podemos furtar, nem levantar falso testemunho, nem cobiçar as coisas 
alheias, pois todos esses atos ferem a virtude da justiça, entre outras. 
 
Devemos também considerar que quando cometemos um pecado contra a virtude 
da justiça, em certos casos, não basta o arrependimento e a confissão. Nós lesamos o 
próximo tirando dele um bem material que lhe pertence. Devemos, então, fazer o possível 
para devolver aquele bem, de modo a restabelecer a justiça ferida pelo nosso ato. É o 
que se chama de restituição. Igualmente, quando pecamos contra o 8 mandamento, 
devemos retratar a reputação do próximo ferida por nossa mentira, calúnia ou 
maledicência. 
 
 
A VIRTUDE DA FORÇA 
 
 
Já podemos perceber como nossa vida vai depender da presença das virtudes em 
nossa alma. A vida do católico deve ser um exemplo de fidelidade à lei de Deus, aos seus 
mandamentos, à natureza humana, com todas as suas riquezas, mas também com todas as 
suas exigências. Muitas vezes parecerá difícil a realização dos nossos deveres para com 
Deus, para consigo mesmo e para com o próximo. Para que nós tivéssemos mais ânimo 
neste combate do dia a dia, Deus Nosso Senhor nos deu a virtude da Força. 
 
A Força é a virtude que dá à nossa vontade a energia necessária para vencer os 
obstáculos que nos atrapalham na prática do bem. Devemos resistir, quer dizer, 
permanecer firmes na Fé, apesar dos ataques dos nossos inimigos e das nossas 
fraquezas pessoais. Devemos agir; ter Força é manifestar espírito de iniciativa, alegria na 
realização do dever de estado, perseverança no combate contra nossas paixões: o orgulho, 
o egoísmo, a raiva, a sensualidade, etc. Praticando os atos da virtude de Força, 
conseguiremos, com a graça de Deus, vencer as tentações, fugir dos pecados e das 
ocasiões de pecado que nos chamam com tanta força para o mal. 
 
Vejamos alguns exemplos: 
 
Na hora de estudar, sentimos aquela vontade de ir ver televisão... Sem a virtude 
da Força, cederemos à tentação e faltaremos ao nosso dever de estudar. Na escola, uma 
amiga ou um amigo virá nos mostrar uma revista cheia de figuras indecentes... A virtude 
da Força nos ajudará a não querer olhar. A toda hora precisamos dela: para trabalhar, para 
rezar com devoção e piedade, para estudar, para ajudar ao próximo, etc. 
 
Os pecados contra a Força 
 
Os pecados e vícios contra a virtude da Força se manifestam em nós do seguinte 
modo: 
Acanhamento ou pusilanimidade - quando a pessoa não se decide a fazer o que 
deve, fica sempre na dúvida: é certo ou errado, devo fazer assim ou de outro modo, e 
acaba não fazendo o que deve. 
 
Covardia - quando a pessoa foge da sua obrigação por medo. 
 
Respeito humano - é uma espécie de covardia que nos leva a não agir 
corretamente por medo das zombarias. 
 
Temeridade - quando uma pessoa se expõe sem necessidade ao perigo e à morte 
(falsa coragem). 
 
 
A TEMPERANÇA 
 
 
A virtude da Temperança vem completar o quadro das quatro virtudes cardeais. 
Ela é o freio da nossa alma. 
 
A temperança é a virtude pela qual usamos com moderação dos bens temporais, 
quer eles sejam comida, bebida, sono, diversão, sexo, conforto, etc. Ela nos ensina a 
usar essas coisas na hora certa, no tempo certo, na quantidade adequada. Ela nos 
ensina que certos atos são reservados a certas situações. 
 
[Nos anos 60, os homens enlouquecidos entregaram-se a todos os tipos de 
pecado. Diziam que estavam quebrando o que eles chamavam de tabu do sexo. De lá 
para cá, as pessoas que queriam continuar obedecendo a lei de Deus, viram-se 
ameaçadas de todo tipo de repressão e de ameaças. Os costumes foram se degradando 
pouco a pouco. Hoje, já não há mais quem tenha noção dos critérios de avaliação dessas 
coisas. Dizer que existe uma lei natural, que essa lei natural foi explicitada por Deus nos 
Dez Mandamentos e confirmadas pela Igreja é expor-se ao ridículo. O que devemos 
concluir? Que eles criaram o tabu deles. O sexo nunca foi tabu para a Igreja, sempre foi 
visto em toda sua grandeza e também em seus pecados. Eles é que fizeram um tabu. Ai 
daquele que não fizer o que eles fazem! Ai daquele que não defender o nudismo e a 
pretensa liberdade de serem pornográficos. Só não me venham dizer que isso queeles 
criaram é próprio ao homem, que é elevado, que é marca de civilização, que é sinal de 
inteligência. Esse tabu que eles criaram é um instrumento de corrupção, de repressão, é 
puro fanatismo. Que eles tenham conseguido alcançar seu objetivo, muito bem, concedo; 
mas que um católico tenha de admitir essa situação e viver como se tudo isso fosse 
normal, e aceitar que suas filhas e filhos participem disso, isso eu não aceito. E deixo 
aqui, como que um grito de alerta: tirem seus filhos desse ambiente de puro liberalismo 
moral, das modas absurdamente indecentes, das praias onde não se pode levar uma 
criança sem provocar nela o pecado, dos namoros "sexualizados". Tudo isso é pecado 
grave contra Deus Nosso Senhor. É a marca da falta de amor por Deus e pelo Sangue de 
Cristo derramado na Cruz. E se vocês acharem que exagero, que o mundo mudou, que é 
preciso ser aberto, então só me resta dizer: esperem e veremos quem tinha razão. Na 
hora do juízo final, veremos todos eles correndo para dizer que amam a Deus, jurando 
que sempre O amaram, que ninguém lhes avisou que era tudo pecado.... Mas, então, será 
tarde demais.] 
 
A Temperança nos ajudará a vencer os maus pensamentos e maus desejos, 
ajudará um casal a nunca trair o sacramento do matrimônio pelo adultério, etc. Todos 
esses maus pensamentos e maus desejos e ocasiões de pecado devem ser combatidos 
imediatamente, sem perda de tempo, com muita coragem e força, para que não se tornem 
pecados mortais. Na verdade, todas as quatro virtudes teologais se unem no combate da 
alma para praticar os Mandamentos de Deus. 
 
É pecado um adulto beber cerveja? Não, desde que seja com moderação, nunca 
se permitindo perder o controle de si mesmo. Quando o homem bebe vinho ou cerveja, 
ele quer saborear um produto, sentir o seu gosto. No excesso, é como alguém que só 
bebesse para ficar embriagado. É um pecado grave, portanto, experimentar qualquer tipo 
de droga ou fumo, ou bebida que altere a consciência de si mesmo. 
 
Também o conforto da vida moderna pode nos levar a pecar contra a 
Temperança. Reclamamos do calor, reclamamos do frio, não queremos nos levantar da 
cadeira nem para pegar um copo d'água, sempre achamos algo que nos desagrada nas 
coisas e nas pessoas. A virtude da Temperança nos ajuda a esquecer um pouco tudo isso 
e pensar mais em ajudar, em trabalhar, em vencer seus próprios defeitos. 
 
 
- LEI DO NOMINALISMO: 
 
Nominalismo é uma doutrina segundo a qual as ideias gerais, como gêneros ou espécies 
não passam de simples nomes, sem realidade fora do espírito ou da mente. Para os nominalistas, a 
única realidade são os indivíduos e os objetos individualmente considerados. Desse modo, o 
universal não existe por si; é mero nome, vocábulo com significado geral, mas sem conteúdo 
concreto, que só reside no individual e no particular. 
Leibniz afirmava que, para os partidários do nominalismo, só existem, além das substâncias 
singulares, os nomes puros e, desse modo, a realidade das coisas abstratas e universais é eliminada. 
O nominalismo, contrário ao realismo e ao conceitualismo, rejeitou o pensamento alcançado por 
abstrações e abriu caminho para o espírito de observação e a vulgarização da pesquisa indutiva. 
 
NAVALHA DE OCCAM: 
 
Formulada pelo filósofo medieval Guilherme de Occam (por vezes garfado Ockham), a 
lex parsimoniae (lei da parcimônia), é um princípio solucionador de problemas, filosófico 
reducionista, que permite distinguir entre teorias equivalentes e pode ser utilizado como técnica 
para formulação de modelos teóricos. Em sua formulação mais simples, a Navalha de Occam dirá 
que, entre duas teorias com iguais resultados, que explicam ou preveem os mesmos fenômenos, 
devemos sempre escolher a teoria mais simples. 
A navalha de Occam, também conhecida como princípio da economia, é frequentemente utilizada 
para evitar inflações ontológicas desnecessárias, quando uma entidade ou substância é postulada, 
sem que haja evidências de sua existência, simplesmente para possibilitar a aplicação ou 
consistência de uma teoria. 
Não obstante a expressão, normalmente atribuída a Occam: “entia non sunt multiplicanda praeter 
necessitatem” (entidades não devem ser multiplicadas sem necessidade) não possa ser encontrada 
em sua obra, outras afirmações semelhantes o são e servem para atribuir a ele a fundação do 
conceito, embora este apareça em autores anteriores, entre eles John Duns Scotus, Maimônides e 
mesmo em Aristóteles, em seus Analíticos Posteriores, quando este afirma que devemos assumir 
a superioridade da explicação que se utiliza de um número menor de postulados ou hipóteses, 
quando todos os outros elementos forem equivalentes (ceteris paribus - outras coisas sendo iguais). 
NOMINALISMO X REALISMO 
 
Nominalismo e realismo são as duas posições mais ilustres da metafísica ocidental que 
tratam da estrutura fundamental da realidade. De acordo com os realistas todas as entidades podem 
ser agrupadas em duas categorias: particulares e universais. Os nominalistas argumentam que só 
existem particulares. 
 
Conforme Marcondes (2008) há três interesses principais na obra de Santo 
Agostinho: a relação entre filosofia e teologia; a questão da interioridade; a questão 
do mal. Vejamos: “Para Santo Agostinho, a verdadeira e legítima ciência é a teologia 
e é aos seus ensinamentos que o homem deve dedicar-se, pois preparam sua alma para 
a salvação e para a visão de Deus, que é a sua recompensa” (Ibid, p. 113, negrito meu). 
 
O Deus da Agostinho é um Deus marcado pelas revelações trazidas pelo livro sagrado 
cristão. Um Deus com o qual o homem pode fazer contato através de seu coração, de sua 
interioridade (Marcondes, ibid). E, para que haja conhecimento verdadeiro, esse caminho 
é necessário. Sem a intermediação de Deus, não há verdade, senão as de menor valor, da 
vida prática (a rigor, não há verdade). 
 
Apesar das diferenças, trata-se em Agostinho, tanto quanto em Aristóteles, de uma 
resposta profundamente entusiasmada com a possibilidade do conhecimento. Santo 
Agostinho opõe-se aos céticos e dá, embora com um tempero cristão, uma resposta que 
afirma a possibilidade do absoluto, do geral, do fundamento, busca antiga da filosofia. 
Mas para conhecer, é preciso crer. 
 
Notem a referência ao “dever” na citação acima; perspectiva ética, portanto. É pela lei de 
Deus que devemos nos salvar. Há a noção de que temos uma queda pelo erro; a virtude 
não é uma tendência espontânea em nós, mas um trabalho a ser feito, pela via da relação 
com Deus mediada pelo Cristo. O Cristo está em nosso interior. Em Agostinho, surge 
esse espaço interior habitado pela luz do Cristo. É através dessa luz que também 
podemos conhecer verdadeiramente: 
 
“Santo Agostinho (...) prenuncia o conceito de subjetividade do pensamento moderno. 
Encontramos já formulada em seu pensamento a oposição entre interior e exterior e a 
concepção de que a interioridade é o lugar da verdade. É olhando para sua interioridade 
que o homem descobre a verdade” (Ibid, p114.). 
Quanto ao problema do mal, a questão que afligia religiosos era a de dar conta da aparente 
existência do mal no mundo. Como pode um Deus de pura bondade criar um mundo onde 
o mal exista? Uma linha mestra de resposta a essa questão apontava para a questão do 
livre arbítrio: Por sua suprema bondade Deus dá ao homem o livre arbítrio e, com este, 
vem a manifestação do mal. Filósofos e padres argumentavam que o mal não existe em 
si mesmo, sendo sua manifestação na realidade a manifestação da ausência do Bem, ou 
de uma falha no Bem tornada possível pelo livre arbítrio dos homens. A obra capital de 
Agostinho quanto ao problema do mal é A Cidade de Deus, da qual reproduzimos a 
seguinte passagem. 
 
“Dois amores criaram duas cidades: o amor de si, levado até o desprezo de Deus, criou a 
cidade terrena; o amor a Deus, porém, levado até o desprezo de si, criou a cidade celeste.Aquela se gloria de si mesma; esta, no Senhor. Aquela busca a glória dos homens; esta 
tem como maior glória o testemunho de Deus em sua consciência. Aquela, na sua glória, 
levanta orgulhosamente sua cabeça;” (Ps. 3,4, Apud. COSTA, J. S. 2001). 
 
Santo Agostinho considerava a filosofia de Platão a mais pura e luminosa da antiguidade 
e reinterpreta-a para conciliá-la com os dogmas do cristianismo. Algumas aproximações 
são imediatas. Por exemplo, são possíveis analogias entre a vida e morte de Sócrates e 
Cristo; a cidade de Deus de Agostinho lembra o mundo das formas perfeitas em Platão; 
também no próprio mito da caverna essa aproximação é possível, uma vez que mostra 
pessoas presas no fundo de uma caverna e podendo chegar até a parte de cima, onde 
encontrarão o sol, equiparado ao Bem 
 
 
❖ HISTÓRIA DA FILOSOFIA MODERNA 
 
O período que se segue ao medieval é conhecido como renascença e o humanismo é seu 
traço principal. O humanismo nesse contexto retoma o lema de Protágoras, um dos mais 
notórios sofistas, segundo o qual “o homem é a medida de todas as coisas”. 
 
O nome renascimento tem a ver com uma retomada de valores gregos, após um período 
dominado pela influência central da Igreja e, na filosofia, pela problemática da relação 
entre razão e fé. Interessante notar que entre os valores retomados apareça o humanismo 
que encontra entre os sofistas uma versão radical, por chegar ao ponto de afirmar que 
também a verdade é coisa humana, abrindo caminho para uma postura relativista1 ou 
cética, que afrontava os filósofos de então e durante muito tempo os filósofos da principal 
tradição da filosofia. 
 
Arte, política, arquitetura, ciência, filosofia, todas essas produções humanas sofreram 
profundamente os efeitos dessa transição do medieval ao moderno, que passa pelo 
humanismo renascentista. Costuma-se destacar três grandes acontecimentos que 
contribuíram para essa transição: novamente, as grandes navegações; a reforma 
protestante; e o advento da ciência moderna. 
 
Discute-se se teria havido uma filosofia característica da renascença, que compreenderia 
sobretudo os séculos VX e XVI. Na verdade, essas grandes transições não podem 
acontecer de uma hora para outra. Assim, natural que algo do moderno tenha começado 
a surgir ainda no tempo medieval e que algo do medieval tenha ainda penetrado no 
período dito moderno. A renascença é tida como período intermediário, muitas vezes 
definida na história da filosofia por esse traço, do que por sua filosofia própria. 
 
Na idade média, a subordinação do poder temporal dos reis e barões ao poder espiritual 
de papas e bispos organizava a vida política na Europa. A Escolástica havia inventado um 
método para expor as ideias filosóficas: a disputa. 
 
A mesma hierarquia manifestava-se no plano político. Porém, os grandes acontecimentos 
na história da cultura ocidental que acabamos de mencionar não poderiam deixar de ter 
forte repercussão no campo da política. O universo da ciência moderna, conforme 
dissemos, vai contra as histórias contadas pela tradição e isso acaba contaminando o 
ambiente político de forma a favorecer o aparecimento e amadurecimento do liberalismo 
e individualismo. O governo de uma nação deve favorecer a livre iniciativa, sendo tão 
mínimo quanto necessário para permitir que as trocas comerciais e a iniciativa individual 
atinjam o equilíbrio possível. Coerentemente, as pessoas devem poder escolher quem as 
governará. 
 
A república é o modo de organização política favorecido na mesma medida em que o 
humanismo renascentista vai deixando para trás tanto a cosmologia quanto esse tipo de 
lógica filosófica da escolástica. O retorno à liberdade de argumentação e a tentativa de 
aplicar a filosofia na reflexão sobre temas “terrenos” tal como já ocorrera com os gregos, 
junto com o crescimento da burguesia, pressiona o modelo feudal – religioso, fortemente 
hierarquizado. 
 
 
RENÉE DESCARTES: 
Descartes (1596-1650) teve uma vida intensa, coerente com seu modo de pensar a 
filosofia. Além de filósofo, foi matemático e físico. Sua trajetória é marcada pela 
decepção com a filosofia escolástica, que considerava complicada demais e distante dos 
interesses da vida. 
Descartes costuma ser considerado o primeiro filósofo moderno. Isso por duas razões: 
- Ele teria sido o primeiro a colocar o sujeito que conhece (sujeito do conhecimento) em 
questão; 
- Teria, mais acentuadamente que qualquer outro filósofo antes dele, colocado em questão 
a relação de nossas representações (ideias) com o mundo externo. 
 
O SUJEITO DO CONHECIMENTO E O CETICISMO: 
Vimos como no período antigo da filosofia grega havia um entusiasmo quase ingênuo 
quanto à possibilidade de o homem utilizar a razão para conhecer o ser dos objetos, 
fossem eles concretos ou abstratos. Em seguida vimos como na idade média a filosofia 
cristã lutou com o problema das relações entre razão com a fé. 
 
Cada um desses períodos teve seus temas principais. O período moderno da filosofia, que 
se inaugura com Descartes, também terá seu eixo central que será a pergunta sobre as 
condições de possibilidade do conhecimento. Dissemos no primeiro capítulo que a 
filosofia tem três grandes áreas de investigação: a ontologia, a ética e a teoria do 
conhecimento. O período moderno é fortemente marcado por uma investigação ligada a 
esse último terreno. 
 
As perguntas sobre se afinal, “é possível conhecer?” “Quem conhece?” E “como se 
conhece?”, vêm para o primeiro plano. Não que essas questões não tivessem sido 
colocadas antes por filósofos, mas chegavam a constituir a principal problemática da 
filosofia de sua época. 
 
Descartes coloca tais questões de maneira vigorosa. As elaborações que faz marcaram 
profundamente o desenvolvimento da filosofia e, especialmente, da ciência moderna. 
Tendo vivido em um contexto dominado pelo humanismo renascentista, Descartes 
representa uma época em que, se por um lado havia a ideia do homem como medida de 
todas as coisas e, portanto, uma crença no poder humano de conhecer e andar com suas 
próprias pernas, havia também a experiência de mais de 2 mil anos de filosofia, com seus 
conflitos intermináveis entre homens brilhantes e suas teses que jamais chegavam a 
conclusões definitivas em torno de um corpo central de questões. 
 
Era, portanto, também um contexto cético o de Descartes. A pergunta pelas condições de 
possibilidade do conhecimento não se impunha à toa. Descartes levou esse ceticismo ao 
extremo, ao ponto de seu método ser conhecido como dúvida hiperbólica (levada ao 
extremo). Isso significa duvidar de tudo, até chegar a certezas claras e distintas e 
somente a partir daí construir o conhecimento. 
 
Descartes perguntava-se coisas do tipo “Como posso saber que não estou sonhando?” Ou 
“E se houvesse um gênio maligno que criasse ilusões somente para perturbar meu 
conhecimento?”. Nesse caminho, acaba assumindo como única certeza a dúvida. Ou seja, 
em sua busca tenaz por uma certeza: conclui que, apesar de duvidar de muita coisa, não 
poderia duvidar que duvida. E, se duvida, pensa. Penso, logo existo (cogito ergo sum, em 
latim), é a frase que Descartes fez entrar para a história. 
 
Descartes assim irá encontrar um fundamento no sujeito que pensa. Porém esse sujeito 
cartesiano, o cogito, tem como peculiaridade ser um sujeito reduzido a um ponto mínimo, 
de puro pensar. Descartes aplica assim uma operação já conhecida pela filosofia ao 
próprio sujeito, ao despi-lo de todas as suas qualidades sensíveis. Sujeito, em Descartes, 
não é uma pessoa, mas uma função mental. A única garantia de que existo, de que não 
apenas sonho, é que penso. 
 
O cogito é o ponto que resta de uma operação de dúvida implacavelmente aplicada a tudo 
que existe, inclusive ao próprio sujeito. Entre seus escritos destacamos um pequeno livro 
de enorme importância, O discurso do método. Nele, o filósofo Preconizava: 
 
• VERIFICARse existem evidências reais e indubitáveis acerca do fenômeno ou coisa 
estudada; 
 
• ANALISAR, ou seja, dividir ao máximo as coisas em suas unidades mais simples, e 
estudar essas coisas mais simples; 
 
• SINTETIZAR, isto é, agrupar novamente as unidades estudadas em um todo verdadeiro; 
 
• ENUMERAR todas as conclusões e princípios utilizados, a fim de manter a ordem do 
pensamento. 
 
 
❖ MODERNIDADE LÍQUIDA 
 
O livro Modernidade Líquida, escrito por Zygmund Bauman retrata a mudança 
da sociedade sólida para a líquida. Sua liquides faz com que ela seja mais bem adaptada 
aos meios, preencha um ambiente, que com a mesma facilidade se esvai deste local, 
para assim tomar outra forma. Ao contrário da solidez, que não consegue preencher 
um ambiente que não seja de sua forma 
A sociedade moderna líquida não se fixa a um espaço ou tempo, sempre 
dispostos à mudanças e livres para experimentar algo novo. Manter uma forma fixa 
não é tão fácil como simplesmente tomar nova forma, e tomar nova forma é fonte de 
força e invencibilidade, se adapta ao ambiente e tira o melhor dele para si, depois parte 
para a próxima forma. Com isso, as formas de poder na sociedade estão sendo 
realocadas e redistribuídas, e os objetos não duráveis tomam conta e a durabilidade já 
não tem mais o mesmo valor. As diversas famílias se deparam com moldes diferentes 
e valores invertidos. 
Claro que essa mudança traz valores novos e modelos novos para a sociedade. 
Portanto, o seu nível de fluidez vai determinar sua inserção na sociedade, nos meios, 
nos grupos e tribos, sendo esta então a sua arma na conquista do espaço. A vida 
moderna impõe a mudança do sólido para o líquido. 
No primeiro capítulo, Bauman traz o conceito de emancipação, que é tornar-se 
livre, independente. Ser liberto é se libertar daquilo que nos impede de movimento, e 
sentir-se livre é não ter empecilho para se movimentar. Diz que devemos nos 
emancipar da sociedade, nos tornar livre da sociedade. Contudo, o ser deve ser livre 
para se movimentar se livrando daquilo que tira a liberdade de movimento. Portanto 
deve tomar seu estado líquido. 
Entretanto, esta liberdade traz consequências. Seria ela uma benção ou uma 
maldição? Traz a possibilidade de fazer tudo aquilo que deseja, mas do outro lado, há 
responsabilidade por seus atos. Mas nem sempre este é o empecilho. Esta fluidez 
proporcionada às pessoas fez com que as mesmas pagassem o preço por ter aquilo que 
mais desejassem: a liberdade de poder estar de maneira que anteriormente a sociedade 
fosse criminalizar ou penalizar a pessoa por suas escolhas. 
Todos querem a liberdade para fluir e tomar seus lugares diversos e mudar 
constantemente e, portanto, deixaram de indagar os porquês de cada situação. Na 
modernidade a crítica não é bem recebida. Aceita tudo o que se tem e o que lhes é 
oferecido, pois já tem sua liberdade ganha. As críticas se transformam em reflexões e 
questionamentos. 
Já no âmbito político, o segundo capitulo abrange a individualidade, na qual a 
liberdade individual é incompleta, traz menos liberdade, e é mais controladora. Traz 
como exemplo o capitalismo, que com seu poder exige um controle da população. No 
modelo anterior de sociedade, modelo sólido, o trabalhador tinha sua responsabilidade 
posta em somente um ponto da produção, sem necessitar conhecer o processo 
completo, de ambiente opressivo e pouco favorável ao trabalhador. No caso do 
capitalismo fluído, ele traz a questão de que os grandes chefes não são autoritários, e 
sim seduzem sua equipe para o trabalho, que tem características mais diversificadas, 
que necessita de um conhecimento, mesmo que breve, de todas as atividades exercidas 
no processo produtivo da empresa. 
Este capitalismo líquido também se apropria das imagens de pessoas célebres, 
que passam para o consumidor aquilo que ele quer ser, assim usando de modelo aquela 
influência. Isso tudo em busca de tornar-se alguém importante que ocupe grande 
espaço nas janelas sociais. Entretanto, quando o indivíduo se espelha em outras 
pessoas, e se baseia nas atitudes delas, perde toda sua essência e toma forma de um 
novo ser, não sendo nem o próprio indivíduo, nem o modelo a ser seguido. Assim, 
têm-se o fim da era do indivíduo. 
Mesmo que o novo capitalismo não tenha abolido as autoridades ditadoras de 
leis, também não fez com que estas fossem dispensáveis, mas apenas abriu caminho 
para um maior número de ditadores. Assim, cada um tem seu reino por um curto 
período de tempo, até não ser mais a “bola da vez”, e nem todos podem reinar neste 
período por muito tempo. A exclusividade de poder não é uma possibilidade. 
Para conquistar esta individualidade na modernidade líquida vale tudo, como 
o consumo exacerbado em busca de ser aquilo que a sociedade demanda. As pessoas 
tornam-se escravas do que é posto como liberdade, comprando aquilo que lhes é dito 
“ser a sua cara”, e que lhe fará mais feliz e irá mudar sua vida. 
No capítulo Tempo/Espaço o autor começa com uma análise de sociedades, 
propostas de vários pensadores, por ser onde o individuo irá praticar sua civilidade, 
pela sua disponibilização de espaço em que cada ser expressa o seu eu. 
Assim, o espaço público abre espaço para os consumidores, para adquirirem 
todo e qualquer tipo de material, sendo ele social e/ou cultural, sem ter a necessidade 
da interação com outros indivíduos, tendo cada um o seu momento, ocupando o seu 
espaço. Sem esse espaço ser preenchido, não há significado, até o momento que é 
tomado por um que lhe dará sentido, até mudar de forma novamente. 
Com esta fluidez moderna, o tempo e o espaço pedem e clamam pelo 
multitasking, que é habilidade de realizar múltiplas atividades no mesmo tempo e, 
neste caso, no mesmo ambiente, com agilidade e sem perda de tempo. 
O autor apresenta um momento no trabalho que coloca o indivíduo como 
regente daquilo que quer, estando ele firme no presente, podendo mover o mundo para 
frente, e indo à busca do que serão capazes no futuro utilizando do passado. Também 
debate sobre os indivíduos que se culpam por todos seus fracassos, e aqueles que tomas 
controle de suas vidas e ações, para alcançar o destino desejado. 
Com esta libertação do indivíduo, o que importa é sua ancoragem no presente. 
Porém, o autor apresenta que, talvez, grande parte não esteja tão fixa, pois a 
modernidade exige a flexibilidade. O trabalho de longo prazo é sólido, precisa de 
acompanhamento e, com a mudança social, esse trabalho precisa ser abolido; assim 
abre-se espaço para o trabalho mais fluído, necessitando de um novo estilo, com 
significado estético e aquilo que o homem faz, ele desfaz, não é capaz de parar ou ficar 
parado, mas fica em constante movimento, sempre de olho no futuro. 
Com esta libertação do indivíduo, o que importa é sua ancoragem no presente. 
Porém, o autor apresenta que, talvez, grande parte não esteja tão fixa, pois a 
modernidade exige a flexibilidade. O trabalho de longo prazo é sólido, precisa de 
acompanhamento e, com a mudança social, esse trabalho precisa ser abolido; assim 
abre-se espaço para o trabalho mais fluído, necessitando de um novo estilo, com 
significado estético e aquilo que o homem faz, ele desfaz, não é capaz de parar ou ficar 
parado, mas fica em constante movimento, sempre de olho no futuro. 
Laços transitórios e a transitoriedade são um preço a pagar por aqueles que 
perseguem seus objetivos individuais. Estes laços são de elo mais fragilizado, e suas 
responsabilidades com o próprio eu tomam uma grande proporção, como apresentado 
no capítulo final, no qual o indivíduo vai preencher o vazio. 
E, por fim, é apresentado as “Cloakroom’s” que, segundo Bauman, é 
indispensável para caracterizar a modernidade líquida. É a comunidade do carnaval, 
que atrai multidões que abandonam sua forma casual e deixam seus diários em casa 
para tomar outra forma, mesmo que apenas para propulsionar a solidão.

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