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1 GOVERNAÇÃO GLOBAL E TEORIAS DA INTERDEPENDÊNCIA Introdução É geralmente aceite que ainda antes do início do século XXI o sistema internacional havia já entrado naquilo a que James M. Rosenau chama “Interdependência em cascata”, baseada em padrões de interação que se encontram em constante mudança e que afectam fenómenos como a escassez de recursos, o subgrupismo, a eficácia dos governos, as questões transnacionais e as aptidões dos públicos. Este sistema internacional é assim caracterizado pela crescente interdependência e fragmentação de um mundo descentralizado que Rosenau associa a uma “política pós-internacional”. Esta política pós-internacional pode desenvolver-se tanto à volta de padrões caóticos como de padrões coerentes. Na origem deste sistema internacional está: • A ascensão da consciência política e da ação integrada do que até aqui eram grupos mais ou menos marginais e separados; • O impacto alargado da tecnologia na forma, por exemplo, das revoluções da informação e da comunicação; • A difusão das tecnologias de guerra e de paz; • A crescente e cada vez mais profunda influência de todo o tipo de transações na produção de soluções cooperativas e conflituais. Tudo apontando para o que Rosenau chama “tensões entrelaçadas que, devido a esse mesmo entrelaçamento, derivam forças e direção entrelaçadas umas das outras e se expandem em cascata através dos sistemas globais”. A ascensão de subgrupos num mundo fragmentado significa que a fidelidade dos indivíduos tem vindo a ser transferida de entidades mais abrangentes para outras menos abrangentes, sendo o resultado o enfraquecimento da autoridade dos estados-nação existentes. 2 O mundo do início do século XXI é caracterizado pela proliferação de atores, pela bifurcação da política mundial em dois mundos, um centrado nos Estados e outro dispondo de múltiplos centros: Tudo isto cria aquilo que Rosenau chamou “turbulência global”, representado pelos processos interativos de globalização e localização que se reforçam mutuamente (cujo) resultado é um vasto conjunto de dinâmicas fragmentárias. A interdependência em cascata é assim função das dinâmicas de interação que não produzem apenas cooperação mas também conflitos inerentes à disfunção sistemática. Deste modo, o conceito de interdependência em cascata é avançado com o objectivo de servir de base para analisar relações de autoridade, a dinâmica da agregação sociopolítica, assim como os mecanismos adaptativos dos sistemas em que o real ou potencial uso da força e a possibilidade de uma conduta cooperativa representam pontos diferentes ao longo de um contínuo. Desenvolvendo este ponto de vista, Rosenau assegura que o sistema global prevalente, ou ordem global, é caraterizado em primeiro lugar pelo grau de conexão que une as unidades que o compõem. No interior deste contexto abrangente, a ordem global é mantida e alimentada em três níveis básicos relativos a padrões de interação. 1. Nível intersubjetivo ou ideacional, baseado naquilo que os indivíduos entendem ser a organização do mundo ou, segundo os construtivistas, a forma em que o mundo é socialmente construído nas mentes daqueles que constituem os seus agentes ou atores. Este nível inclui académicos e analistas políticos; Os discursos dos dirigentes políticos e teorizadores. 2. Nível comportamental, referente àquilo que os indivíduos de facto fazem, de modo regular, com o objectivo de conservar os arranjos globais existentes, com base nos seus entendimentos ou percepções ideacionais. 3 Isto pode incluir negociações, possibilidade de recurso à guerra; ameaças aos inimigos e promessas aos aliados. 3. Nível institucional, o qual consiste nos regimes e instituições dentro ou através dos quais os estados e outros atores agem de acordo com as suas manifestações comportamentais e ideacionais O grau de organização de questões globais em qualquer época histórica depende da atividade dentro de cada um destes três níveis. A ordem que caracteriza o sistema global não pressupõe nem a presença nem a ausência de governo. Em consequência, podemos identificar padrões de governação na ausência de governo, da mesma maneira que o governo pode existir na ausência de governação. De acordo com Rosenau governação sem governo significa simplesmente que os sistemas são definidos pela sua capacidade de desempenhar funções imprescindíveis. As funções aludidas por Rosenau incluem o enfrentar de desafios externos, o evitar que os conflitos entre as suas unidades constitutivas provoquem a disfunção do sistema, a obtenção dos recursos necessários, assim como o desenvolvimento de políticas baseadas em objectivos. Embora os governos existam para desempenhar estas funções, eles parecem instituições inadequadas para uma época de mudança acentuada. Nestas circunstâncias, essas funções são desempenhadas tendo como base objectivos partilhados que constituem o ponto de partida e a característica definidora da governação. O termo governação, mais abrangente que o termo governo, depende necessariamente de consensos intersubjetivos ou de objectivos partilhados. Se é verdade que a governação pode existir na ausência de governo, este dificilmente pode ser efetivo na ausência do consenso em que a sua autoridade se baseia. 4 I SOBERANIA, ANARQUIA1 E GOVERNAÇÃO GLOBAL As teorias de Relações Internacionais surgem no contexto de uma história que se desenrola, e de problemas que vão sendo solucionados e soluções que vão sendo modificados ou aperfeiçoados. Existe uma correspondência entre o conceito de anarquia e aquele de soberania: A anarquia é fundamental nas Relações Internacionais estadocêntricas, porque a soberania é também fundamental nesse tipo de Relações Internacionais. A Soberania surgiu nos séculos XVI e XVII como uma noção de duplo sentido: 1. Por um lado, os governantes eram soberanos, porque não reconheciam iguais a nível interno; 2. Por outro lado, eram soberanos, porque não reconheciam superiores a nível externo (internacional). Este princípio ganhou aceitação normativa a partir da segunda metade do século XVII – convencionalmente, após os Tratados de Paz de Vestefália, que puseram fim à Guerra dos Trinta Anos2 - e continua a ser a base sobre a qual se erguem as estruturas da anarquia. Não obstante, como diz Stephen D. Krasner (n. 1942), a noção de soberania de Vestefália represente uma “hipocrisia organizada”, dado o facto que, na realidade, os governos sempre intervieram nos assuntos uns dos outros, todavia, pelo menos em princípio, a pretensão a ser soberano implica o reconhecimento da soberania dos outros (Krasner 1999). 1 Segundo Kenneth Waltz (1924-2013), uma característica fundamental da anarquia é que as unidades de um sistema anárquico tentem desempenhar a mesma função com diferentes capacidades (Waltz 1979). 2 A Guerra dos Trinta anos (1618-1648) é a dominação genérica de uma série de guerras que diversas nações europeias travaram entre si a partir de 1618, especialmente na Alemanha, por motivos variados : rivalidades religiosas, dinásticas, territoriais e comerciais. As rivalidades entre católicos e protestantes e assuntos constitucionais germânicos foram gradualmente transformados numa luta europeia. Apesar de os conflitos religiosos serem a causa direita da guerra, ela envolveu um grande esforço político da Suécia e da França para procurardiminuir a força da dinastia dos Habsburgos, que governavam a Áustria. As hostilidades causaram sérios problemas económicos e demográficos na Europa Central e tiveram fim com a assinatura, em 1648, de alguns tratados (Münster e Osnabrück) que, em bloco, são chamados de Paz de Vestefália. 5 De qualquer modo, a ausência de um governo superior a nível externo (internacional) implica a ausência de um “governo”, que é a definição de anarquia. A soberania pode ser concebida como estatuto jurídico, ou como conceito político. Por um lado, dizer que um Estado é soberano é fazer um julgamento sobre a sua posição jurídica no mundo, nomeadamente, que não reconhece qualquer superior legítimo; que não é, por exemplo, uma colónia. Por outro lado, dizer que um Estado é soberano implica, geralmente, que possui um certo tipo de capacidades e a competência para agir de determinadas maneiras e executar determinadas tarefas. Uma diferença essencial entre estes dois significados de soberania é que o primeiro é incondicional – os Estados ou são, ou não são, legitimamente soberanos -, enquanto o segundo envolve claramente uma questão de grau, isto é, por uma lado, temos a soberania como um estatuto que o Estado possui ou não, e, por outro lado, temos a soberania como um conjunto de poderes e capacidades que podem aumentar ou diminuir. Nos primeiros anos do “Sistema de Vestefália”, esta distinção não tinha grande importância, porque os poderes que os Estados exerciam eram limitados em âmbito e alcance: a cobrança de impostos e a “pacificação” – o estabelecimento da lei e da ordem – eram as principais atividades internas dos Estados e a guerra e o imperialismo, as suas principais atividades externas. No entanto, se se aceitar que entre as funções de um Estado soberano estão a realização de certo tipo de objectivos sociais e uma boa regulação, se não uma gestão efetiva, da economia, a situação muda muito drasticamente, porque se torna claro que, em certas circunstâncias, poderá ser impossível exercer estes poderes efetivamente sem cooperação externa e um certo grau de partilha da soberania. 6 Por exemplo, o serviço postal, criado pelo Estado, dentro das suas prerrogativas, teria um valor limitado se não fosse possível enviar e receber cartas através das fronteiras dos outros Estados. De facto, para organizar eficientemente um tal serviço, os Estados tiveram de prescindir de certos poderes a favor de um organismo internacional, originalmente, a União Postal Universal de 1874. O conjunto de poderes que um Estado possui enquanto entidade “soberana” é assim simultaneamente restringido e reforçado: o Estado tem agora a capacidade de criar um sistema postal eficaz, mas adquire essa capacidade prescindindo de parte da sua capacidade de regular esse sistema. Paradoxalmente, ser verdadeiramente soberano pode implicar renunciar a uma parte dessa soberania. Uma outra maneira de apresentar esta questão é dizer que, com o advento da indústria e do sistema de fábricas e com o reconhecimento de que era possível obter ganhos de eficiência – economias de escala – através da produção para um mercado mais vasto, induziu a Grã-Bretanha e a França a criarem “mercados únicos”, eliminando obstáculos locais ao comércio, enquanto a Alemanha deixou de ser uma união aduaneira para se tornar um Estado único. No entanto, as necessidades das novas sociedades iam para além destas medidas e, gradualmente, a partir da década de 1860, foram criadas entidades reguladoras internacionais: a União Telegráfica Internacional, em 1865, o Gabinete Internacional de Pesos e Medidas, em 1875, e a Repartição Internacional de Trabalho, em 1901. No século XX, a Sociedade das Nações e o sistema das Nações Unidas aceleraram a institucionalização da cooperação funcional, e instituições como a FMI, o Banco Mundial e a OMC tentaram regular áreas cada vez mais vastas da atividade do Estado. Cada uma destas novas instituições teve origem no exercício dos poderes de soberania, mas cada uma delas representou uma redução de soberania, na medida em que têm poderes que só podem ser efetivamente exercitados através de um certo grau de partilha da soberania. 7 Em suma, aquilo que estas reflexões sugerem é que, embora o mundo não tenha governo (porque os Estados não se mostram dispostos a renunciar ao seu estatuto jurídico de soberanos), as tentativas dos Estados de governarem eficazmente e de exercerem a sua soberania política criaram vastas redes de “governação” global. Neste Capítulo, serão analisadas algumas teorias da cooperação internacional – funcionalismo, neofuncionalismo e construtivismo -, assim como o quadro institucional básico da governação global. 8 II FUNCIONALISMO As ideias federalistas remontam a, pelo menos, os projetos de paz do século XVIII e, por consequência, foram estas, rigorosamente falando, as primeiras tentativas de compreender o crescimento das instituições internacionais. Denomina-se func ional i smo a um conjunto original de ideias, fundamentalmente semelhantes no seu âmbito ao realismo, mas, ao contrário deste, com pouco contacto com a tradição diplomática do passado. Teoricamente se considera David Mitrany (1888-1975) o pai da teoria funcionalista. Todavia, a sua explicação do mundo foi assumida por estudiosos como Joseph Nye, Ernest Haas, J. P. Sewell, Paul Taylor, A. J. R. Groon e John Burton e os teóricos da sociedade mundial, como Christopher Mitchell e Michael Banks. O funcionalismo é certamente a mais importante abordagem às instituições internacionais que surgiu no século XX. O funcionalismo pretende ser uma explicação das condições de paz que surgiu na década de 1940 como reação às abordagens estadocêntricas à paz, como federalismo e a segurança colectiva. A subtileza de Mitrany residiu em perceber que estas abordagens falhavam não porque as exigências que faziam aos Estados fossem demasiado radicais – a crítica mais comum – mas porque não eram suficientemente radicais. A segurança colectiva não toca no poder soberano de os Estados determinarem se respondem ou não aos seus imperativos. Legalmente, os Estados podem estar vinculados a agir de certas formas, mas mantêm o poder de ignorar a legalidade quando isso lhes convém. 9 O federalismo à escala mundial poderia criar as condições em que os Estados já não conseguissem agir deste modo, mas precisamente por essa razão, os Estados não estão dispostos a federar-se. Mitrany defendia que um “sistema de paz operacional” só podia ser construído de baixo para cima, incentivando formas de cooperação que evitassem a questão da soberania formal, mas fossem reduzindo gradualmente a capacidade de os Estados agirem efetivamente como soberanos (Mitrany 1966). Duas fórmulas resumem o argumento: “a forma segue a função” e “paz em partes” (Nye 1971). 1. A fórmula “a forma segue a função” significa que a cooperação só funcionará se se concentrar em certas atividades específicas (“funções”) que são atualmente desempenhadas pelos Estados, mas que poderiam ser desempenhadas com maior eficácia nalgum contexto mais vasto. Significa também que a forma que essa cooperação assume deve ser determinada pela natureza da função em questão – assim, para certas funções, será apropriada uma instituição global, enquanto para outras bastarão instituições regionais ou até locais. Em outras palavras, cada organização funcional deve ser concebida de tal forma que seja capaz de desempenhar adequadamente a sua função específica. 2. A fórmula “paz em partes” descreve o resultado colectivo que se espera destes casos individuais de cooperação funcional.O modelo funcionalista de soberania sublinha a primazia da dimensão política da soberania. A soberania é um conjunto de poderes e à medida que esses poderes passam gradualmente do Estado para organizações funcionais, também a capacidade de o Estado agir como soberano diminuirá gradualmente. 10 Existe, nesta teoria, um pressuposto psicológico político segundo o qual a lealdade que os indivíduos prestam aos Estados é produto das coisas que os Estados fazem por eles e, à medida que outras instituições assumem o desempenho de atividades específicas, também essa lealdade esmorecerá. Além disso, o resultado da cooperação funcional não é a criação de um novo Estado maior e mais eficaz; pelo contrário, a base territorial do sistema será ela própria prejudicada. Gradualmente, o Estado territorial exercerá cada vez menos funções – os Estados tornar-se-ão instituições anómalas, tentando ser multifuncionais e territoriais num mundo em que a maior parte das tarefas relacionadas com o governo e a administração será realizada por órgãos que são funcionalmente específicos e não territoriais. As ideais básicas de Mitrany inspiraram diversos trabalhos teóricos posteriores e alguns estudos de caso muito famosos, em particular Beyond the Nation State (Para além do Estado-Nação), a descrição da Organização Internacional do Trabalho (OIT) de Ernst B. Haas, e Functionalism and World Politics (Funcionalismo e Política Mundial), a descrição da UNESCO de J. P. Sewell. Claramente, as “agências funcionais” do sistema das Nações Unidas proporciona uma vasta gama de possíveis estudos de caso – embora, tratando-se na sua maior parte de organismos globais em grande medida dominados pelos Estados do que executantes de funções, violem a obrigação de que “a forma segue a função”. O funcionalismo influenciou também o pensamento sobre as organizações regionais. Crit i cas ao Funcional i smo Num comentário ao famoso estudo de Haas, o realista inglês F. S. Northdge observou que embora a OIT com a sua estrutura tripartida de Estados, sindicatos e representantes dos empregadores esteja indubitavelmente numa posição diferente do Estado-nação (no sentido de espacialmente numa posição além, não pode de modo nenhum dizer-se que transcende essa instituição. 11 Surgiu no mundo uma rede extremamente elaborada de instituições mas, ao contrário das expectativas dos funcionalistas, o sistema de Vestefália continua em vigor e a soberania mantém-se intacta enquanto princípio orientador. Parece que o Estado soberano conseguiu circunscrever a cooperação funcional e isolar-se dos efeitos supostamente corrosivos do funcionalismo. De uma perspectiva realista, a psicologia política do funcionalismo está mal concebida. A lealdade ao Estado assenta em dois pilares: 1. É um fenómeno afectivo mais do que puramente instrumental; para muitos, o Estado representa a nação e a nação é contracto de Edmund Burke entre gerações passadas, presentes e futuras, um contrato que se baseia em laços de nascimento, língua, ligação a um território e uma cultura – e nenhum destes factores pode ser diminuído pela cooperação funcional através das fronteiras dos Estados. 2. Na medida em que a lealdade é instrumental, é a capacidade do Estado de providenciar a segurança física básica, de proteger o seu povo de estranhos, que é a chave – e o desempenho desta função é, literalmente no modelo de Mitrany, a última coisa a que os governos renunciarão. O pressuposto subjacente do funcionalismo é que se espera que os problemas que a cooperação funcional resolve seja especialmente problemas técnicos que admitem uma solução técnica. A dificuldade reside, naturalmente, em que a mais técnica das soluções ao mais técnico dos problemas terá sempre implicações políticas e terá sempre o potencial de beneficiar um grupo em detrimento de outros. Exemplo: a regra básica da União Postal Universal, a de que cada Estado tem a obrigação de distribuir o correio internacional no seu próprio território, parece a solução mais puramente técnica do problema de um sistema de correio eficaz, mas tem, contido, enormes implicações políticas 12 quando toca questões como a divulgação de material político, religioso ou pornográfico através do correio. Existe também implicações políticas de questões como as normas laborais ou a regulação do comércio ou dos mercados de capitais internacionais. Assim, a natureza estadocêntrica das agências funcionais das Nações Unidas não é acidental. Por esta razão, o modelo funcionalista integral de cooperação internacional tem de ser considerado um fracasso. 13 III TEORIA DA INTEGRAÇÃO, FEDERALISMO E NEOFUNCIONALISMO O funcionalismo preconiza a criação de uma nova ordem mundial em que o Estado soberano assume uma posição secundária. Em contraste, a teoria da integração pretende a criação de novos Estados através da integração de Estados existentes, geralmente numa base regional, e possivelmente, a longo prazo, a criação de um único Estado mundial. Desde 1945, o mais importante banco de ensaio para as ideias sobre integração tem sido a Europa. No mundo que imediatamente se seguiu à II Guerra Mundial, muitos dirigentes da Europa Ocidental, preocupados em evitar uma terceira guerra europeia, ambicionaram criar uns Estados Unidos da Europa – uma estrutura federal, ou talvez confederal, em que a soberania dos seus membros seria eliminada. Alguns dos órgãos inicialmente criadas – em particular, o Conselho da Europa – representaram esta aspiração de forma embrionária, mas ao longo da década Quarenta tornou-se claro que um ataque direto à soberania dos Estados europeus não teria êxito. Este facto acabaria por ser confirmado pelo fracasso dos planos para a constituição de uma Comunidade Europeia de Defesa (CED), destruída pela Assembleia Nacional Francesa, em 1954. No âmbito da Organização Europeia de Cooperação Económica (OECE) – que, em 1961, se transformaria na Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) -, criada em 1947 para distribuir os fundos do Plano Mareshall3, os beneficiários europeus foram obrigados a estabelecer planos comuns para essa distribuição. 3 Com o final da II Segunda Guerra Mundial, muitos países ficaram destruídos. Era necessário muito investimento financeiro para a reconstrução destes países. Neste contexto, foi criado nos Estados Unidos pelo então secretário de Estado George Marshall, um plano econômico cujo principal objetivo era possibilitar a reconstrução dos países capitalistas. A ajuda foi feita, principalmente, através de empréstimos financeiros. O Plano Marshall deve ser entendido dentro do contexto histórico da Guerra Fria, pois foi uma 14 O resultado da combinação desta estratégia com a experiência americana foi um caminho para a unidade política da Europa que passou pela via da unidade económica, levando à constituição da Comunidade Europeia da Energia Atómica (CEEA ou Euratom) e da Comunidade Económica Europeia (CEE), em 1956. Estas três instituições foram mais tarde consolidadas na Comunidade Europeia (CE), que passou agora a ter a designação de União Europeia (UE). Embora, em termos formais, grande parte do poder de tomada de decisões na UE seja da responsabilidade dos representantes dos Estados no Conselho de Ministros, a Comissão Europeia, um órgão de funcionários nomeados, tem capacidade deiniciativa política; o Tribunal Europeu tem poder de decisão em muitos diferendos intracomunitários e, mais recentemente, um Parlamento Europeu diretamente eleito tem alguns poderes significativos que pode utilizar independentemente do controlo estatal. Estas instituições, tomadas no seu conjunto, significam que os (atuais) 28 Estados-membros e 400 milhões de cidadãos da União são parte integrante de um processo único de cooperação institucional a nível internacional. Este processo difere, claramente, das noções funcionalistas de Mitrany e dos seus colaboradores em dois aspectos fundamentais: 1. O objectivo é a criação de um novo Estado através da constituição de instituições internacionais; sempre se pretendeu que o resultado final fosse a Europa (con)federal, que não podia ser criada através de ação direta. forma de fortalecer o capitalismo e a hegemonia dos Estados Unidos. O Plano foi colocado em operação em 1947. Os Principais objetivos do Plano Marshall foram: Possibilitar a reconstrução material dos países capitalistas destruídos na Segunda Guerra Mundial; Recuperar e reorganizar a economia dos países capitalistas, aumentando o vínculo deles com os Estados Unidos, principalmente através das relações comerciais; Fazer frente aos avanços do socialismo presente, principalmente, no leste europeu e comandado pela extinta União Soviética. A União Soviética e os países da Europa Oriental foram convidados, mas Josef Stalin viu o plano como uma ameaça e não permitiu a participação de nenhum país sob o controle soviético. O plano permaneceu em operação por quatro anos fiscais a partir de julho de 1947. Durante esse período, algo em torno de US$ 13 bilhões (13 mil milhões de dólares) de assistência técnica e econômica — equivalente a cerca de US$ 132 bilhões (132 mil milhões de dólares) em 2006, ajustado pela inflação — foram entregues para ajudar na recuperação dos países europeus que juntaram-se à Organização Europeia para a Cooperação e Desenvolvimento. 15 2. Tal como o funcionalismo, o objectivo era que a cooperação institucional se expandisse, à medida que os Estados fossem descobrindo que a cooperação numa área conduz naturalmente à cooperação noutra. A diferença é que, no sistema europeu, esta expansão (ou “efeito de contágio”) é, como se pretendia que fosse, um processo abertamente político. A ideia é que os partidos políticos e grupos de pressão comecem gradualmente a pressionar mais as instituições centrais do que os governos “locais”. Em outras palavras, embora a política seja inimiga do funcionalismo, pretendia-se que fosse a força motriz da integração europeia. Estas duas diferenças em relação ao modelo funcionalista levaram alguns autores a extrair da experiência europeia uma abordagem à integração a que chamaram neofuncionalismo, a qual poderia constituir uma base teórica para outros exemplos de integração, por exemplo, em África ou na América Latina. Todavia, a experiência europeia não se mostrou exportável: de um modo geral, outros exemplos de integração não seguiram o modelo europeu (neofuncional). Além disso, mesmo na Europa, o modelo claramente não funciona de uma maneira constante: umas vezes, o efeito de contagio ocorreu, outras, não. Não deixa de ser surpreendente, por exemplo, que, apesar da manifesta importância da Política Agrícola Comum (PAC) e da forma como as decisões no seu âmbito são tomadas em Bruxelas, as organizações de agricultores de toda a União continuem, em grande medida, orientadas para pressionar mais os seus governos nacionais do que as instituições centrais. Acontece também que as eleições diretas para o Parlamento Europeu não conduziram ao aparecimento de divergências políticas genuinamente europeus; em vez disso, os eleitores usam essas eleições para se pronunciar sobre os seus governos nacionais. 16 Autores mais recentes têm salientado o “intergovernamentalismo” – segundo esta explicação, o processo de integração é conduzido pelas negociações entre Estados; Problemas específicos surgem e são resolvidos politicamente por governos estatais e não de acordo com qualquer lógica funcional. No entanto, as negociações intergovernamentais poderão conduzir , em certas circunstâncias, a um certo grau de “partilha de soberania” e o aparecimento de “redes de políticas” à escala europeia pode ser responsável por alguns tipos de mudança. 17 IV CONSTRUTIVISMO A ideia central do pensamento construtivista poderá ser transmitida pela noção de que existe uma distinção fundamental entre “factos brutos” sobre o mundo, os quais permanecem verdadeiros independentemente da ação humana, e “factos sociais”, cuja existência depende de convenções socialmente estabelecidas (Searle 1995). A neve existe no cimo da montanha, independentemente de estar lá alguém para a observar ou não, mas um pedaço de papel branco e violeta com uma imagem de Adam Smith só é uma nota de 20 libras esterlinas, porque assim é reconhecida pelas pessoas na Grã-Bretanha. Confundir um facto social com um facto bruto é um erro fundamental – e um erro que os construtivistas consideram que é feito com alguma frequência -, porque leva à atribuição de um estatuto natural a condições que foram produzidas e poderão, em princípio, estar abertas à mudança. Assim, se tratarmos a “anarquia” como um dado, algo que condiciona a ação dos Estados sem ser ela mesma condicionada por essa ação, não conseguiremos perceber o argumento de que “a anarquia é aquilo que os Estados fazem dela” e de que ela não determina, enquanto tal, qualquer procedimento específico (Wendt 1992). A critica que se poderia mover contra o construtivismo consiste em observar que, o facto de uma estrutura ser produto da agência humana não significa, de modo nenhum, que seria também fácil para agentes humanos alterarem a sua natureza depois de ela ter sido estabelecida (Wendt 1987). 18 V GLOBALISMO O Globalismo pode ter pelo menos dois significados diferentes e opostos: 1. É a atitude política ou da colocação dos interesses de todo o mundo acima das individuais nações. 2. É a atitude consistente em ver o mundo inteiro como uma esfera própria de um projeto de nação para influência política. Joseph Nye defende que o globalismo se refere a qualquer descrição e explicação de um mundo que se caracteriza por redes de conexões que se estendem por distâncias multi-continental, enquanto a globalização refere- se ao aumento ou diminuição do grau do globalismo. Segundo Ulrich Back (1944-2015), O globalismo consiste em uma ideologia segundo a qual a globalização é reduzida a dimensão econômica. Pelas lentes dessa ideologia, a globalização impõe a necessidade de uma integração cada vez maior dos Estados nacionais com a finalidade de facilitar o trânsito dos agentes econômicos. Essaatitude consubstancia-se em uma subordinação intensa da política aos interesses econômicos. São tomadas continuamente atitudes de não intervenção e facilitação dos fluxos de capital, sem a efetivação de medidas que possibilitem equilibrar o custo social de tais diretrizes. O globalismo poderia ser definido então como a ditadura neoliberal do mercado mundial que destrói os alicerces do auto- desenvolvimento democrático. A política como elemento ordenador das dimensões existentes na sociedade é substituída pela força da atuação econômica, que subordina o poder político dos Estados às suas metas de lucratividade. A globalização por outro lado supera essa unidimensionalidade, que é imposta pelo discurso do globalismo, e desenvolve-se como um fenômeno plural e irreversível. No conceito de globalização estão inseridas atividades de uma sociedade mundial, que não são determinadas a partir de um particular Estado nacional. 19 A globalização é um forte argumento na constatação de que não é possível a manutenção de espaços isolados. Estratégias nacionais baseadas no fechamento protecionista tornaram-se inviáveis. Nesse sentido globalização para Beck significa “processos, em cujo andamento os Estados nacionais vêem a sua soberania, sua identidade, suas redes de comunicação, suas chances de poder e suas orientações sofrerem a interferência cruzada de atores transnacionais.”4 O plural da palavra processo na referida definição é muito significativo. Pois consiste na melhor forma de definir a existência não de uma única dimensão que se transnacionaliza. Ocorrem sim, processos pluridimensionais que se desenvolvem, nos mais variados âmbitos sociais. Processos esses que escapam à subordinação do Estado nacional. Conforme indicam Vigevani, Veiga e Mariano (1994, p. 11-12), o globalismo e ́ uma teoria baseada no liberalismo - talvez mesmo o próprio liberalismo, aplicado às relações internacionais e adaptado, até certo ponto, aos temas e debates contemporâneos. Caracter í s t i ca das Teor ias Global i s tas 1. Toda a teoria é fundamentada a partir da análise do modo de produção capitalista. 2 . A divisão Norte-Sul do mundo é sempre a que interessa, mesmo para explicar períodos como a Guerra Fria, quando o mundo dividiu-se em Leste-Oeste. Para os globalistas, mesmo os países socialistas estavam inseridos numa lógica de economia global capitalista que os integrava ou constrangia de alguma forma. 3. As relações internacionais não são um jogo de soma zero. Sempre há um vencedor e um perdedor nas relações de exploração que o sistema capitalista propões aos atores no sistema internacional. Resenha Histór i ca do Conce i to de “Nova Ordem Mundia l” Uma das primeiras tentativas de implantar uma “Nova Ordem Mundial” 4 BECK Ulrich, O que é a globalização? Equívocos do globalismo respostas à globalização. São Paulo: Paz e terra, 1999. p. 175. 20 (Ou seja, uma nova ordem econômica, política, etc) foi realizada pelo Império Romano. Embora o mais vasto império que existiu, na antiguidade, tenha sido o Império Mongol, o Império Romano é considerado o maior em termos de gestão e qualidade do território, de organização sociopolítica e de importância, recordada na história da humanidade. Em todos os territórios do império, os romanos construíram estradas, cidades, pontes, aquedutos, fortificações, exportando assim o seu modelo de civilização em um processo tão profundo que por séculos após o fim do império estes povos continuaram a definir-se romanos. A segunda tentativa de implantar a “Nova Ordem Mundial” foi realizada pelo Cristianismo. Na fase atual, o sistema Globalista surge principalmente da relação de guerra e paz entre Comunismo e Capitalismo, enquanto conjuntos de ideias, de pensamentos, de doutrinas ou de visões de mundo, orientadas para suas ações sociais e, principalmente, políticas. Desta forma, os Globalistas se aproveitam dos dois sistemas para dominar o mercado em todas as áreas possíveis, utilizando ou o Capitalismo, ou o Comunismo. Precursores da Conce i tual ização do Global i smo O globalismo tem um débito intelectual com Marx em termos de seus métodos de análise e premissas determinantes sobre o funcionamento, desenvolvimento e a expansão do modo de produção capitalista. A principal contribuição de Marx foi insistir que a sociedade deveria ser estudada em sua totalidade. Um analista deve perceber como entre as diversas partes da sociedade estão estabelecidas relações explícitas e implícitas. Ele delimitou uma nova unidade de análise, mais ampla que a dos realistas e mais específica que a pluralista. Entre os precursores intelectuais e influências do Globalismo, destacam-se ainda Hobson e Lênin, com as teorias sobre o Imperialismo; Rosa Luxemburg e seu estudo comparado sobre revolução e reforma; e Gramsci, e o construtivismo - que faz uma ponte entre a teoria e a prática, destacando a importância da ação política. 21 Pressupostos Bási cos para a Conce i tual ização do Global i smo 1. É necessário compreender o contexto global dentro do qual cada Estado ou outras entidades interagem. Para isso, todos os níveis de análise são considerados (individual, burocrático, social, entre Estados ou entre sociedades). O comportamento de atores é explicado por um sistema que lhes constrange ou dá oportunidades. 2. A análise histórica tem toda a relevância para a compreensão do sistema internacional. Traçar a evolução histórica do sistema permite a compreensão da estrutura atual, e dos mecanismos de dominação, das causas da desigualdade, etc. 3. A existência de determinados mecanismos de dominação para impedir o desenvolvimento homogêneo do mundo. 4. Fatores econômicos são absolutamente determinantes. Os demais fatores (políticos, sociais) são totalmente dependentes da economia, e não um domínio autônomo como acreditam os realistas e pluralistas. Pr inc ipais s eguimentos na anál i s e sobre g lobal i smo As analises sobre o Sistema Globalista se dividem em três vertentes principais, que são: 1. Teoria radical A teoria radical acredita que as corporações multinacionais e bancos internacionais, que para os pluralistas são atores globalizantes, são na verdade e por excelência agentes da burguesia internacional responsável por manter os países menos desenvolvidos na condição de subordinação à economia global capitalista. Segundo os radicais, o Globalismo anuncia o fim do Estado nacional, ou sua perda definitiva de autonomia, e afirma a precedência dos mercados e da “comunidade internacional moderna” sobre interesses nacionais “estreitos” ou “atrasados”. É uma ideologia de exportação porque o cidadão de um país desenvolvido sabe o quão importante é para ele a autonomia de seu próprio país, não tendo o globalismo consequências práticas no interior desses países. 22 Para uso externo, entretanto, o globalismo é muito útil: é um instrumento dos governos dos países ricos, das agências multilaterais, e das empresas multinacionais para tornar os países em desenvolvimento mais dóceis em relação às políticas públicas que recomendam implícita ou explicitamente, e que nem sempre consultam seus interesses. Há a argumentação de que não existe mais no Estado nacional o potencial de impor sua vontade como antes. Além disso, essa força não seria nem mesmo desejável, pois as trocas comerciais cada vez mais se intensificam em um processo irreversível.Esse processo exige uma desregulamentação cada vez maior por parte dos Estados nacionais, em prol da integração econômica transnacional. 2. Teoria da dependência Teóricos da dependência consideram não apenas fatores externos, mas também as limitações internas ao desenvolvimento, que parecem, na verdade, reforçar os instrumentos externos de dominação. 3. Teoria sistêmica Estudam-se as relações internacionais entre um núcleo e uma periferia no contexto do sistema capitalista mundial. O maior representante da teoria, Immanuel Wallerstain (n. 1930), considerado um arauto do movimento antiglobalização, defende que para entender o desenvolvimento global dos processos econômicos, políticos e sociais é necessário acompanhar o desenvolvimento do sistema capitalista em si. Fundamento Antropo lóg i co das Teor ias Defensoras do Global i smo Em contraposição ao realismo, que advoga uma concepção negativa do ser humano, o globalismo percebe o ser humano como bom e racional, capaz de atuar autonomamente em sociedade, independentemente do Estado. É importante notar que esse ser humano não precisa necessariamente agir com vistas ao bem comum: o fato é que, buscando os indivíduos seus próprios fins particulares, sem visarem, de maneira alguma, a algo que poderíamos chamar de “bem comum”, naturalmente uma ordem social estabeleceu-se, uma ordem pacífica, baseada nas trocas e nos relacionamentos mútuos que os indivíduos realizam entre si, e que garante os melhores resultados sociais: mais riqueza, mais tolerância, mais cultura. 23 Portanto, exceto nos casos de manutenção da ordem civil, caracterizados mais pela atuação policial-punitiva, o Estado não precisa agir nem para criar nem para manter essa ordem; aliás, mais do que isso, o Estado não deve atuar nesse sentido, pois apenas a desvirtuaria. Em termos mais concretos, qual a condição social para que essa “ordem social natural” estabeleça-se? Simplesmente, a completa liberdade dos indivíduos: estes devem ser livres para fazerem o que quiserem, sem imposições de quaisquer tipos, sem um poder superior indicando como agir em cada situação, ou o que deve ou não deve ser feito (afinal, essas questões referem-se às possibilidades de escolha individual, não cabendo ao Estado defini-las). Bem percebidas as coisas, globalistas e realistas concordam em um aspecto, divergindo quanto ao valor a ser atribuído ao fato: entregues a si mesmos, sem uma autoridade superior que os regule, os Estados entrarão em conflitos permanentes, ou ao menos terão essa tendência. Entretanto enquanto os realistas consideram que os Estados nacionais são uma realidade intransponível os globalistas percebem os Estados nacionais como instituições cujo papel deve ser o menor possível, tanto em nível interno quanto externo. Para os globalistas, aliás, a divisão “interno” e “externo” tende a carecer de justificativa racional, pois ela se baseia na prevalência dos Estados nacionais. Ora, enquanto a nível interno os estados atrapalham ou prejudicam devido à taxação imposta, pelas regras obrigatórias abundantemente criadas e assim por diante, a nível externo eles, por um lado, impõem restrições ao livre comércio internacional (tarifas, restrições, cotas etc.), ao mesmo tempo que criam situações de disputa que tendem a criar guerras e violência. Assim, a proposta globalista é muito simples: manter o Estado, mas sempre apenas como um mero mantenedor da ordem civil, e deixar que as relações de troca estabelecidas no âmbito interno desenvolvam-se e alcancem o nível externo, enlaçando-se por todo o planeta, de maneira a criar uma rede de relações não-internacional, porém mundial (pois que “internacional” 24 supõe ainda a prevalência dos Estados nacionais). Da mesma forma, há que se ter ampla e irrestrita liberdade de movimentação: capital, cultura, mão- de-obra e assim por diante. Pelo exposto até aqui deve estar claro que as “relações de troca” sugeridas pelo globalismo têm caracter económico; assim, por um lado, os fatores de produção (capital e trabalho) devem circular livremente pelo planeta, sem maiores preocupações que a mera alocação eficiente e eficaz dos recursos, preocupações relativas às várias nacionalidades são desconsideradas. Por outro lado, formalizando a substituição da importância dos Estados nacionais pela economia, os globalistas preconizam a substituição da política pela economia, ou melhor, a economia como a verdadeira e única solução para um ambiente mundial pacífico. Os debates contemporâneos sobre globalização, entre seus defensores, baseiam-se amplamente nessas concepções globalistas (HIRST e THOMPSOM, 2001, cap. I). Em termos teóricos, as propostas globalistas, a par das liberais, não têm maiores desenvolvimentos além da desobstrução ao livre intercâmbio mundial, com o fim dos acordos internacionais limitativos do comércio e das disputas e rivalidades interestatais. Crít i ca às Teor ias Global i s tas 1. Os defensores do globalismo acusam o paradigma globalista de ser insuficientemente empirico e de basear sua análise em apenas algumas construções teóricas gerais tais como “dependência” e “sistema capitalista mundial”. 2. Além da crítica às ferramentas de análise do globalismo, faz-se uma crítica também às propostas de desenvolvimento autônomo e redistribuição de renda. 3. Sob o argumento de que os globalistas resumiram as operações do sistema internacional ao processo de acumulação de capital e atividades relacionadas a ela, os críticos reclamam à teoria uma abrangência maior da dinâmica e polivalência das relações internacionais no campo da política, da diplomacia e das alianças militares - segurança. 25 4. Alguns críticos questionam a relação de causa e consequência entre a dependência e o subdesenvolvimento: se é a dependência a responsável pelo retrocesso econômico e social ou se são os retrocessos econômicos e sociais que criam os laços de dependência. 5. Outros se concentraram no fato de que os globalistas estão voltados de mais para o meio externo e para os fatores internacionais para explicar a pobreza e a dependência da periferia do sistema internacional e que as variáveis domésticas (auto-gestão) são, por isso, subestimadas. Isso implica que a teoria não é completa o bastante para explicar o fato de que países que recebem o mesmo tratamento da comunidade internacional reagem de formas diferentes, demonstrando melhor desempenho que outros. É o exemplo de Brasil, Singapura, Coréia do Sul e Venezuela. 26 BIBLIOGRAFIA Livro - Vilelas, J. (2009) Investigação: O processo de construção do conhecimento. Lisboa: Edições Sílabo. Joseph, N.Y.E. (2002) Compreender os Conflitos Internacionais: Uma Introdução à Teoria e à História, Gradiva, Lisboa. Dougherty, J.E., Pfaltzgraff J.R. & Robert, L. (2003) Relações Internacionais: as teorias em confronto, Gradiva, Lisboa. Hollis, M. & Smith, S. (2004) Explaining and Understanding International Relations, Claredon, London. Keohane, R. & Nye, J. (1977) Power and Interdependence: World Politics in Transition, LittleBrown, Boston. Waltz, K. (2002) Teoria das relações Internacionais, Gravida, Lisboa. Gilpin, R. 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