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GOVERNANÇA GLOBAL E TEORIAS DA INTERDEPENDÊNCIA

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1	
  
GOVERNAÇÃO GLOBAL E 
TEORIAS DA INTERDEPENDÊNCIA 
 
Introdução 
 
É geralmente aceite que ainda antes do início do século XXI o sistema 
internacional havia já entrado naquilo a que James M. Rosenau chama 
“Interdependência em cascata”, baseada em padrões de interação que se 
encontram em constante mudança e que afectam fenómenos como a 
escassez de recursos, o subgrupismo, a eficácia dos governos, as questões 
transnacionais e as aptidões dos públicos. 
 
Este sistema internacional é assim caracterizado pela crescente 
interdependência e fragmentação de um mundo descentralizado que 
Rosenau associa a uma “política pós-internacional”. 
 
Esta política pós-internacional pode desenvolver-se tanto à volta de 
padrões caóticos como de padrões coerentes. 
 
Na origem deste sistema internacional está: 
• A ascensão da consciência política e da ação integrada do que até aqui 
eram grupos mais ou menos marginais e separados; 
• O impacto alargado da tecnologia na forma, por exemplo, das 
revoluções da informação e da comunicação; 
• A difusão das tecnologias de guerra e de paz; 
• A crescente e cada vez mais profunda influência de todo o tipo de 
transações na produção de soluções cooperativas e conflituais. 
 
Tudo apontando para o que Rosenau chama “tensões entrelaçadas que, 
devido a esse mesmo entrelaçamento, derivam forças e direção 
entrelaçadas umas das outras e se expandem em cascata através dos 
sistemas globais”. 
 
A ascensão de subgrupos num mundo fragmentado significa que a 
fidelidade dos indivíduos tem vindo a ser transferida de entidades mais 
abrangentes para outras menos abrangentes, sendo o resultado o 
enfraquecimento da autoridade dos estados-nação existentes. 
 
	
   2	
  
O mundo do início do século XXI é caracterizado pela proliferação de 
atores, pela bifurcação da política mundial em dois mundos, um centrado 
nos Estados e outro dispondo de múltiplos centros: 
 
Tudo isto cria aquilo que Rosenau chamou “turbulência global”, 
representado pelos processos interativos de globalização e localização que 
se reforçam mutuamente (cujo) resultado é um vasto conjunto de 
dinâmicas fragmentárias. 
 
A interdependência em cascata é assim função das dinâmicas de interação 
que não produzem apenas cooperação mas também conflitos inerentes à 
disfunção sistemática. 
 
Deste modo, o conceito de interdependência em cascata é avançado com o 
objectivo de servir de base para analisar relações de autoridade, a dinâmica 
da agregação sociopolítica, assim como os mecanismos adaptativos dos 
sistemas em que o real ou potencial uso da força e a possibilidade de uma 
conduta cooperativa representam pontos diferentes ao longo de um 
contínuo. 
 
Desenvolvendo este ponto de vista, Rosenau assegura que o sistema 
global prevalente, ou ordem global, é caraterizado em primeiro lugar pelo 
grau de conexão que une as unidades que o compõem. 
 
No interior deste contexto abrangente, a ordem global é mantida e 
alimentada em três níveis básicos relativos a padrões de interação. 
 
1. Nível intersubjetivo ou ideacional, baseado naquilo que os indivíduos 
entendem ser a organização do mundo ou, segundo os 
construtivistas, a forma em que o mundo é socialmente construído 
nas mentes daqueles que constituem os seus agentes ou atores. 
 
Este nível inclui académicos e analistas políticos; Os discursos dos 
dirigentes políticos e teorizadores. 
 
2. Nível comportamental, referente àquilo que os indivíduos de facto 
fazem, de modo regular, com o objectivo de conservar os arranjos 
globais existentes, com base nos seus entendimentos ou percepções 
ideacionais. 
	
   3	
  
Isto pode incluir negociações, possibilidade de recurso à guerra; 
ameaças aos inimigos e promessas aos aliados. 
 
3. Nível institucional, o qual consiste nos regimes e instituições dentro ou 
através dos quais os estados e outros atores agem de acordo com as 
suas manifestações comportamentais e ideacionais 
 
O grau de organização de questões globais em qualquer época histórica 
depende da atividade dentro de cada um destes três níveis. 
 
A ordem que caracteriza o sistema global não pressupõe nem a presença 
nem a ausência de governo. 
 
Em consequência, podemos identificar padrões de governação na ausência 
de governo, da mesma maneira que o governo pode existir na ausência de 
governação. 
 
De acordo com Rosenau governação sem governo significa simplesmente 
que os sistemas são definidos pela sua capacidade de desempenhar funções 
imprescindíveis. 
 
As funções aludidas por Rosenau incluem o enfrentar de desafios 
externos, o evitar que os conflitos entre as suas unidades constitutivas 
provoquem a disfunção do sistema, a obtenção dos recursos necessários, 
assim como o desenvolvimento de políticas baseadas em objectivos. 
 
Embora os governos existam para desempenhar estas funções, eles 
parecem instituições inadequadas para uma época de mudança acentuada. 
 
Nestas circunstâncias, essas funções são desempenhadas tendo como base 
objectivos partilhados que constituem o ponto de partida e a característica 
definidora da governação. 
O termo governação, mais abrangente que o termo governo, depende 
necessariamente de consensos intersubjetivos ou de objectivos partilhados. 
 
Se é verdade que a governação pode existir na ausência de governo, este 
dificilmente pode ser efetivo na ausência do consenso em que a sua 
autoridade se baseia. 
 
	
   4	
  
I 
 
SOBERANIA, ANARQUIA1 E GOVERNAÇÃO GLOBAL 
 
As teorias de Relações Internacionais surgem no contexto de uma história 
que se desenrola, e de problemas que vão sendo solucionados e soluções 
que vão sendo modificados ou aperfeiçoados. 
 
Existe uma correspondência entre o conceito de anarquia e aquele de 
soberania: 
 
A anarquia é fundamental nas Relações Internacionais estadocêntricas, 
porque a soberania é também fundamental nesse tipo de Relações 
Internacionais. 
 
A Soberania surgiu nos séculos XVI e XVII como uma noção de duplo 
sentido: 
1. Por um lado, os governantes eram soberanos, porque não 
reconheciam iguais a nível interno; 
2. Por outro lado, eram soberanos, porque não reconheciam superiores 
a nível externo (internacional). 
 
Este princípio ganhou aceitação normativa a partir da segunda metade do 
século XVII – convencionalmente, após os Tratados de Paz de Vestefália, 
que puseram fim à Guerra dos Trinta Anos2 - e continua a ser a base sobre 
a qual se erguem as estruturas da anarquia. 
 
Não obstante, como diz Stephen D. Krasner (n. 1942), a noção de 
soberania de Vestefália represente uma “hipocrisia organizada”, dado o 
facto que, na realidade, os governos sempre intervieram nos assuntos uns 
dos outros, todavia, pelo menos em princípio, a pretensão a ser soberano 
implica o reconhecimento da soberania dos outros (Krasner 1999). 	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  1	
  Segundo Kenneth Waltz (1924-2013), uma característica fundamental da anarquia é que as unidades de um sistema 
anárquico tentem desempenhar a mesma função com diferentes capacidades (Waltz 1979). 2	
  A Guerra dos Trinta anos (1618-1648) é a dominação genérica de uma série de guerras que diversas nações europeias 
travaram entre si a partir de 1618, especialmente na Alemanha, por motivos variados : rivalidades religiosas, dinásticas, 
territoriais e comerciais. As rivalidades entre católicos e protestantes e assuntos constitucionais germânicos foram 
gradualmente transformados numa luta europeia. Apesar de os conflitos religiosos serem a causa direita da guerra, ela 
envolveu um grande esforço político da Suécia e da França para procurardiminuir a força da dinastia dos Habsburgos, 
que governavam a Áustria. As hostilidades causaram sérios problemas económicos e demográficos na Europa Central e 
tiveram fim com a assinatura, em 1648, de alguns tratados (Münster e Osnabrück) que, em bloco, são chamados de Paz 
de Vestefália. 
	
   5	
  
 
De qualquer modo, a ausência de um governo superior a nível externo 
(internacional) implica a ausência de um “governo”, que é a definição de 
anarquia. 
 
A soberania pode ser concebida como estatuto jurídico, ou como conceito 
político. 
 
Por um lado, dizer que um Estado é soberano é fazer um julgamento sobre 
a sua posição jurídica no mundo, nomeadamente, que não reconhece 
qualquer superior legítimo; que não é, por exemplo, uma colónia. 
 
Por outro lado, dizer que um Estado é soberano implica, geralmente, que 
possui um certo tipo de capacidades e a competência para agir de 
determinadas maneiras e executar determinadas tarefas. 
 
Uma diferença essencial entre estes dois significados de soberania é que o 
primeiro é incondicional – os Estados ou são, ou não são, legitimamente 
soberanos -, enquanto o segundo envolve claramente uma questão de grau, 
isto é, por uma lado, temos a soberania como um estatuto que o Estado 
possui ou não, e, por outro lado, temos a soberania como um conjunto de 
poderes e capacidades que podem aumentar ou diminuir. 
 
Nos primeiros anos do “Sistema de Vestefália”, esta distinção não tinha 
grande importância, porque os poderes que os Estados exerciam eram 
limitados em âmbito e alcance: a cobrança de impostos e a “pacificação” – 
o estabelecimento da lei e da ordem – eram as principais atividades internas 
dos Estados e a guerra e o imperialismo, as suas principais atividades 
externas. 
 
No entanto, se se aceitar que entre as funções de um Estado soberano 
estão a realização de certo tipo de objectivos sociais e uma boa regulação, 
se não uma gestão efetiva, da economia, a situação muda muito 
drasticamente, porque se torna claro que, em certas circunstâncias, poderá 
ser impossível exercer estes poderes efetivamente sem cooperação externa 
e um certo grau de partilha da soberania. 
 
	
   6	
  
Por exemplo, o serviço postal, criado pelo Estado, dentro das suas 
prerrogativas, teria um valor limitado se não fosse possível enviar e receber 
cartas através das fronteiras dos outros Estados. 
 
De facto, para organizar eficientemente um tal serviço, os Estados tiveram 
de prescindir de certos poderes a favor de um organismo internacional, 
originalmente, a União Postal Universal de 1874. 
 
O conjunto de poderes que um Estado possui enquanto entidade 
“soberana” é assim simultaneamente restringido e reforçado: o Estado tem 
agora a capacidade de criar um sistema postal eficaz, mas adquire essa 
capacidade prescindindo de parte da sua capacidade de regular esse sistema. 
 
Paradoxalmente, ser verdadeiramente soberano pode implicar renunciar a 
uma parte dessa soberania. 
 
Uma outra maneira de apresentar esta questão é dizer que, com o advento 
da indústria e do sistema de fábricas e com o reconhecimento de que era 
possível obter ganhos de eficiência – economias de escala – através da 
produção para um mercado mais vasto, induziu a Grã-Bretanha e a França 
a criarem “mercados únicos”, eliminando obstáculos locais ao comércio, 
enquanto a Alemanha deixou de ser uma união aduaneira para se tornar um 
Estado único. 
 
No entanto, as necessidades das novas sociedades iam para além destas 
medidas e, gradualmente, a partir da década de 1860, foram criadas 
entidades reguladoras internacionais: a União Telegráfica Internacional, em 
1865, o Gabinete Internacional de Pesos e Medidas, em 1875, e a 
Repartição Internacional de Trabalho, em 1901. 
 
No século XX, a Sociedade das Nações e o sistema das Nações Unidas 
aceleraram a institucionalização da cooperação funcional, e instituições 
como a FMI, o Banco Mundial e a OMC tentaram regular áreas cada vez 
mais vastas da atividade do Estado. 
 
Cada uma destas novas instituições teve origem no exercício dos poderes 
de soberania, mas cada uma delas representou uma redução de soberania, 
na medida em que têm poderes que só podem ser efetivamente exercitados 
através de um certo grau de partilha da soberania. 
	
   7	
  
Em suma, aquilo que estas reflexões sugerem é que, embora o mundo não 
tenha governo (porque os Estados não se mostram dispostos a renunciar 
ao seu estatuto jurídico de soberanos), as tentativas dos Estados de 
governarem eficazmente e de exercerem a sua soberania política criaram 
vastas redes de “governação” global. 
 
Neste Capítulo, serão analisadas algumas teorias da cooperação 
internacional – funcionalismo, neofuncionalismo e construtivismo -, assim 
como o quadro institucional básico da governação global. 
 
 
 
	
   8	
  
II 
 
FUNCIONALISMO 
 
As ideias federalistas remontam a, pelo menos, os projetos de paz do 
século XVIII e, por consequência, foram estas, rigorosamente falando, as 
primeiras tentativas de compreender o crescimento das instituições 
internacionais. 
 
Denomina-se func ional i smo a um conjunto original de ideias, 
fundamentalmente semelhantes no seu âmbito ao realismo, mas, ao 
contrário deste, com pouco contacto com a tradição diplomática do 
passado. 
 
Teoricamente se considera David Mitrany (1888-1975) o pai da teoria 
funcionalista. 
 
Todavia, a sua explicação do mundo foi assumida por estudiosos como 
Joseph Nye, Ernest Haas, J. P. Sewell, Paul Taylor, A. J. R. Groon e John 
Burton e os teóricos da sociedade mundial, como Christopher Mitchell e 
Michael Banks. 
 
O funcionalismo é certamente a mais importante abordagem às instituições 
internacionais que surgiu no século XX. 
 
O funcionalismo pretende ser uma explicação das condições de paz que 
surgiu na década de 1940 como reação às abordagens estadocêntricas à paz, 
como federalismo e a segurança colectiva. 
 
A subtileza de Mitrany residiu em perceber que estas abordagens falhavam 
não porque as exigências que faziam aos Estados fossem demasiado 
radicais – a crítica mais comum – mas porque não eram suficientemente 
radicais. 
 
A segurança colectiva não toca no poder soberano de os Estados 
determinarem se respondem ou não aos seus imperativos. 
 
Legalmente, os Estados podem estar vinculados a agir de certas formas, 
mas mantêm o poder de ignorar a legalidade quando isso lhes convém. 
	
   9	
  
 
O federalismo à escala mundial poderia criar as condições em que os 
Estados já não conseguissem agir deste modo, mas precisamente por essa 
razão, os Estados não estão dispostos a federar-se. 
 
Mitrany defendia que um “sistema de paz operacional” só podia ser 
construído de baixo para cima, incentivando formas de cooperação que 
evitassem a questão da soberania formal, mas fossem reduzindo 
gradualmente a capacidade de os Estados agirem efetivamente como 
soberanos (Mitrany 1966). 
 
Duas fórmulas resumem o argumento: “a forma segue a função” e “paz 
em partes” (Nye 1971). 
 
1. A fórmula “a forma segue a função” significa que a cooperação só 
funcionará se se concentrar em certas atividades específicas 
(“funções”) que são atualmente desempenhadas pelos Estados, mas 
que poderiam ser desempenhadas com maior eficácia nalgum 
contexto mais vasto. 
 
Significa também que a forma que essa cooperação assume deve ser 
determinada pela natureza da função em questão – assim, para certas 
funções, será apropriada uma instituição global, enquanto para outras 
bastarão instituições regionais ou até locais. 
 
Em outras palavras, cada organização funcional deve ser concebida de 
tal forma que seja capaz de desempenhar adequadamente a sua função 
específica. 
 
2. A fórmula “paz em partes” descreve o resultado colectivo que se 
espera destes casos individuais de cooperação funcional.O modelo funcionalista de soberania sublinha a primazia da dimensão 
política da soberania. 
 
A soberania é um conjunto de poderes e à medida que esses poderes 
passam gradualmente do Estado para organizações funcionais, também a 
capacidade de o Estado agir como soberano diminuirá gradualmente. 
 
	
   10	
  
Existe, nesta teoria, um pressuposto psicológico político segundo o qual a 
lealdade que os indivíduos prestam aos Estados é produto das coisas que 
os Estados fazem por eles e, à medida que outras instituições assumem o 
desempenho de atividades específicas, também essa lealdade esmorecerá. 
 
Além disso, o resultado da cooperação funcional não é a criação de um 
novo Estado maior e mais eficaz; pelo contrário, a base territorial do 
sistema será ela própria prejudicada. 
 
Gradualmente, o Estado territorial exercerá cada vez menos funções – os 
Estados tornar-se-ão instituições anómalas, tentando ser multifuncionais e 
territoriais num mundo em que a maior parte das tarefas relacionadas com 
o governo e a administração será realizada por órgãos que são 
funcionalmente específicos e não territoriais. 
 
As ideais básicas de Mitrany inspiraram diversos trabalhos teóricos 
posteriores e alguns estudos de caso muito famosos, em particular Beyond 
the Nation State (Para além do Estado-Nação), a descrição da Organização 
Internacional do Trabalho (OIT) de Ernst B. Haas, e Functionalism and 
World Politics (Funcionalismo e Política Mundial), a descrição da UNESCO 
de J. P. Sewell. 
 
Claramente, as “agências funcionais” do sistema das Nações Unidas 
proporciona uma vasta gama de possíveis estudos de caso – embora, 
tratando-se na sua maior parte de organismos globais em grande medida 
dominados pelos Estados do que executantes de funções, violem a 
obrigação de que “a forma segue a função”. 
 
O funcionalismo influenciou também o pensamento sobre as organizações 
regionais. 
 
Crit i cas ao Funcional i smo 
Num comentário ao famoso estudo de Haas, o realista inglês F. S. 
Northdge observou que embora a OIT com a sua estrutura tripartida de 
Estados, sindicatos e representantes dos empregadores esteja 
indubitavelmente numa posição diferente do Estado-nação (no sentido de 
espacialmente numa posição além, não pode de modo nenhum dizer-se 
que transcende essa instituição. 
 
	
   11	
  
Surgiu no mundo uma rede extremamente elaborada de instituições mas, 
ao contrário das expectativas dos funcionalistas, o sistema de Vestefália 
continua em vigor e a soberania mantém-se intacta enquanto princípio 
orientador. 
 
Parece que o Estado soberano conseguiu circunscrever a cooperação 
funcional e isolar-se dos efeitos supostamente corrosivos do 
funcionalismo. 
 
De uma perspectiva realista, a psicologia política do funcionalismo está mal 
concebida. A lealdade ao Estado assenta em dois pilares: 
 
1. É um fenómeno afectivo mais do que puramente instrumental; para 
muitos, o Estado representa a nação e a nação é contracto de 
Edmund Burke entre gerações passadas, presentes e futuras, um 
contrato que se baseia em laços de nascimento, língua, ligação a um 
território e uma cultura – e nenhum destes factores pode ser 
diminuído pela cooperação funcional através das fronteiras dos 
Estados. 
 
2. Na medida em que a lealdade é instrumental, é a capacidade do 
Estado de providenciar a segurança física básica, de proteger o seu 
povo de estranhos, que é a chave – e o desempenho desta função é, 
literalmente no modelo de Mitrany, a última coisa a que os governos 
renunciarão. 
 
O pressuposto subjacente do funcionalismo é que se espera que os 
problemas que a cooperação funcional resolve seja especialmente 
problemas técnicos que admitem uma solução técnica. 
 
A dificuldade reside, naturalmente, em que a mais técnica das soluções ao 
mais técnico dos problemas terá sempre implicações políticas e terá sempre 
o potencial de beneficiar um grupo em detrimento de outros. 
 
Exemplo: a regra básica da União Postal Universal, a de que cada Estado 
tem a obrigação de distribuir o correio internacional no seu próprio 
território, parece a solução mais puramente técnica do problema de um 
sistema de correio eficaz, mas tem, contido, enormes implicações políticas 
	
   12	
  
quando toca questões como a divulgação de material político, religioso ou 
pornográfico através do correio. 
 
Existe também implicações políticas de questões como as normas laborais 
ou a regulação do comércio ou dos mercados de capitais internacionais. 
 
Assim, a natureza estadocêntrica das agências funcionais das Nações 
Unidas não é acidental. 
 
Por esta razão, o modelo funcionalista integral de cooperação internacional 
tem de ser considerado um fracasso. 
 
 
	
   13	
  
III 
 
TEORIA DA INTEGRAÇÃO, FEDERALISMO E 
NEOFUNCIONALISMO 
 
O funcionalismo preconiza a criação de uma nova ordem mundial em que 
o Estado soberano assume uma posição secundária. 
 
Em contraste, a teoria da integração pretende a criação de novos Estados 
através da integração de Estados existentes, geralmente numa base 
regional, e possivelmente, a longo prazo, a criação de um único Estado 
mundial. 
 
Desde 1945, o mais importante banco de ensaio para as ideias sobre 
integração tem sido a Europa. 
 
No mundo que imediatamente se seguiu à II Guerra Mundial, muitos 
dirigentes da Europa Ocidental, preocupados em evitar uma terceira guerra 
europeia, ambicionaram criar uns Estados Unidos da Europa – uma 
estrutura federal, ou talvez confederal, em que a soberania dos seus 
membros seria eliminada. 
 
Alguns dos órgãos inicialmente criadas – em particular, o Conselho da 
Europa – representaram esta aspiração de forma embrionária, mas ao 
longo da década Quarenta tornou-se claro que um ataque direto à 
soberania dos Estados europeus não teria êxito. 
 
Este facto acabaria por ser confirmado pelo fracasso dos planos para a 
constituição de uma Comunidade Europeia de Defesa (CED), destruída 
pela Assembleia Nacional Francesa, em 1954. 
 
No âmbito da Organização Europeia de Cooperação Económica (OECE) 
– que, em 1961, se transformaria na Organização para a Cooperação e o 
Desenvolvimento Económico (OCDE) -, criada em 1947 para distribuir os 
fundos do Plano Mareshall3, os beneficiários europeus foram obrigados a 
estabelecer planos comuns para essa distribuição. 	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  3	
  Com o final da II Segunda Guerra Mundial, muitos países ficaram destruídos. Era necessário muito investimento financeiro para a 
reconstrução destes países. Neste contexto, foi criado nos Estados Unidos pelo então secretário de Estado George Marshall, um 
plano econômico cujo principal objetivo era possibilitar a reconstrução dos países capitalistas. A ajuda foi feita, principalmente, 
através de empréstimos financeiros. O Plano Marshall deve ser entendido dentro do contexto histórico da Guerra Fria, pois foi uma 
	
   14	
  
 
O resultado da combinação desta estratégia com a experiência americana 
foi um caminho para a unidade política da Europa que passou pela via da 
unidade económica, levando à constituição da Comunidade Europeia da 
Energia Atómica (CEEA ou Euratom) e da Comunidade Económica 
Europeia (CEE), em 1956. 
 
Estas três instituições foram mais tarde consolidadas na Comunidade 
Europeia (CE), que passou agora a ter a designação de União Europeia 
(UE). 
 
Embora, em termos formais, grande parte do poder de tomada de decisões 
na UE seja da responsabilidade dos representantes dos Estados no 
Conselho de Ministros, a Comissão Europeia, um órgão de funcionários 
nomeados, tem capacidade deiniciativa política; o Tribunal Europeu tem 
poder de decisão em muitos diferendos intracomunitários e, mais 
recentemente, um Parlamento Europeu diretamente eleito tem alguns 
poderes significativos que pode utilizar independentemente do controlo 
estatal. 
 
Estas instituições, tomadas no seu conjunto, significam que os (atuais) 28 
Estados-membros e 400 milhões de cidadãos da União são parte integrante 
de um processo único de cooperação institucional a nível internacional. 
 
Este processo difere, claramente, das noções funcionalistas de Mitrany e 
dos seus colaboradores em dois aspectos fundamentais: 
 
1. O objectivo é a criação de um novo Estado através da constituição de 
instituições internacionais; sempre se pretendeu que o resultado final 
fosse a Europa (con)federal, que não podia ser criada através de ação 
direta. 
 	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
forma de fortalecer o capitalismo e a hegemonia dos Estados Unidos. O Plano foi colocado em operação em 1947. Os Principais 
objetivos do Plano Marshall foram: Possibilitar a reconstrução material dos países capitalistas destruídos na Segunda Guerra Mundial; 
Recuperar e reorganizar a economia dos países capitalistas, aumentando o vínculo deles com os Estados Unidos, principalmente 
através das relações comerciais; Fazer frente aos avanços do socialismo presente, principalmente, no leste europeu e comandado pela 
extinta União Soviética. A União Soviética e os países da Europa Oriental foram convidados, mas Josef Stalin viu o plano como uma 
ameaça e não permitiu a participação de nenhum país sob o controle soviético. O plano permaneceu em operação por quatro anos 
fiscais a partir de julho de 1947. Durante esse período, algo em torno de US$ 13 bilhões (13 mil milhões de dólares) de assistência 
técnica e econômica — equivalente a cerca de US$ 132 bilhões (132 mil milhões de dólares) em 2006, ajustado pela inflação — foram 
entregues para ajudar na recuperação dos países europeus que juntaram-se à Organização Europeia para a Cooperação e 
Desenvolvimento. 
 
 
	
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2. Tal como o funcionalismo, o objectivo era que a cooperação 
institucional se expandisse, à medida que os Estados fossem 
descobrindo que a cooperação numa área conduz naturalmente à 
cooperação noutra. 
 
A diferença é que, no sistema europeu, esta expansão (ou “efeito de 
contágio”) é, como se pretendia que fosse, um processo abertamente 
político. 
 
A ideia é que os partidos políticos e grupos de pressão comecem 
gradualmente a pressionar mais as instituições centrais do que os 
governos “locais”. Em outras palavras, embora a política seja inimiga 
do funcionalismo, pretendia-se que fosse a força motriz da integração 
europeia. 
 
Estas duas diferenças em relação ao modelo funcionalista levaram alguns 
autores a extrair da experiência europeia uma abordagem à integração a que 
chamaram neofuncionalismo, a qual poderia constituir uma base teórica para 
outros exemplos de integração, por exemplo, em África ou na América 
Latina. 
 
Todavia, a experiência europeia não se mostrou exportável: de um modo 
geral, outros exemplos de integração não seguiram o modelo europeu 
(neofuncional). 
 
Além disso, mesmo na Europa, o modelo claramente não funciona de uma 
maneira constante: umas vezes, o efeito de contagio ocorreu, outras, não. 
 
Não deixa de ser surpreendente, por exemplo, que, apesar da manifesta 
importância da Política Agrícola Comum (PAC) e da forma como as 
decisões no seu âmbito são tomadas em Bruxelas, as organizações de 
agricultores de toda a União continuem, em grande medida, orientadas para 
pressionar mais os seus governos nacionais do que as instituições centrais. 
 
Acontece também que as eleições diretas para o Parlamento Europeu não 
conduziram ao aparecimento de divergências políticas genuinamente 
europeus; em vez disso, os eleitores usam essas eleições para se pronunciar 
sobre os seus governos nacionais. 
 
	
   16	
  
Autores mais recentes têm salientado o “intergovernamentalismo” – segundo 
esta explicação, o processo de integração é conduzido pelas negociações 
entre Estados; Problemas específicos surgem e são resolvidos 
politicamente por governos estatais e não de acordo com qualquer lógica 
funcional. 
 
No entanto, as negociações intergovernamentais poderão conduzir , em 
certas circunstâncias, a um certo grau de “partilha de soberania” e o 
aparecimento de “redes de políticas” à escala europeia pode ser responsável 
por alguns tipos de mudança. 
 
 
	
   17	
  
IV 
 
CONSTRUTIVISMO 
 
A ideia central do pensamento construtivista poderá ser transmitida pela 
noção de que existe uma distinção fundamental entre “factos brutos” sobre 
o mundo, os quais permanecem verdadeiros independentemente da ação 
humana, e “factos sociais”, cuja existência depende de convenções 
socialmente estabelecidas (Searle 1995). 
 
A neve existe no cimo da montanha, independentemente de estar lá alguém 
para a observar ou não, mas um pedaço de papel branco e violeta com uma 
imagem de Adam Smith só é uma nota de 20 libras esterlinas, porque assim 
é reconhecida pelas pessoas na Grã-Bretanha. 
 
Confundir um facto social com um facto bruto é um erro fundamental – e 
um erro que os construtivistas consideram que é feito com alguma 
frequência -, porque leva à atribuição de um estatuto natural a condições 
que foram produzidas e poderão, em princípio, estar abertas à mudança. 
 
Assim, se tratarmos a “anarquia” como um dado, algo que condiciona a 
ação dos Estados sem ser ela mesma condicionada por essa ação, não 
conseguiremos perceber o argumento de que “a anarquia é aquilo que os 
Estados fazem dela” e de que ela não determina, enquanto tal, qualquer 
procedimento específico (Wendt 1992). 
 
A critica que se poderia mover contra o construtivismo consiste em 
observar que, o facto de uma estrutura ser produto da agência humana não 
significa, de modo nenhum, que seria também fácil para agentes humanos 
alterarem a sua natureza depois de ela ter sido estabelecida (Wendt 1987). 
 
 
	
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V 
GLOBALISMO 
 
O Globalismo pode ter pelo menos dois significados diferentes e opostos: 
 
1. É a atitude política ou da colocação dos interesses de todo o mundo 
acima das individuais nações. 
2. É a atitude consistente em ver o mundo inteiro como uma esfera 
própria de um projeto de nação para influência política. 
 
Joseph Nye defende que o globalismo se refere a qualquer descrição e 
explicação de um mundo que se caracteriza por redes de conexões que se 
estendem por distâncias multi-continental, enquanto a globalização refere-
se ao aumento ou diminuição do grau do globalismo. 
 
Segundo Ulrich Back (1944-2015), O globalismo consiste em uma ideologia 
segundo a qual a globalização é reduzida a dimensão econômica. Pelas 
lentes dessa ideologia, a globalização impõe a necessidade de uma 
integração cada vez maior dos Estados nacionais com a finalidade de 
facilitar o trânsito dos agentes econômicos. 
Essaatitude consubstancia-se em uma subordinação intensa da política aos 
interesses econômicos. São tomadas continuamente atitudes de não 
intervenção e facilitação dos fluxos de capital, sem a efetivação de medidas 
que possibilitem equilibrar o custo social de tais diretrizes. 
O globalismo poderia ser definido então como a ditadura neoliberal do mercado 
mundial que destrói os alicerces do auto- desenvolvimento democrático. 
A política como elemento ordenador das dimensões existentes na 
sociedade é substituída pela força da atuação econômica, que subordina o 
poder político dos Estados às suas metas de lucratividade. 
A globalização por outro lado supera essa unidimensionalidade, que é 
imposta pelo discurso do globalismo, e desenvolve-se como um fenômeno 
plural e irreversível. 
No conceito de globalização estão inseridas atividades de uma sociedade 
mundial, que não são determinadas a partir de um particular Estado 
nacional. 
	
   19	
  
A globalização é um forte argumento na constatação de que não é possível 
a manutenção de espaços isolados. Estratégias nacionais baseadas no 
fechamento protecionista tornaram-se inviáveis. 
Nesse sentido globalização para Beck significa “processos, em cujo 
andamento os Estados nacionais vêem a sua soberania, sua identidade, suas 
redes de comunicação, suas chances de poder e suas orientações sofrerem a 
interferência cruzada de atores transnacionais.”4 
O plural da palavra processo na referida definição é muito significativo. Pois 
consiste na melhor forma de definir a existência não de uma única 
dimensão que se transnacionaliza. Ocorrem sim, processos pluridimensionais 
que se desenvolvem, nos mais variados âmbitos sociais. Processos esses 
que escapam à subordinação do Estado nacional. 
Conforme indicam Vigevani, Veiga e Mariano (1994, p. 11-12), o 
globalismo e ́ uma teoria baseada no liberalismo - talvez mesmo o próprio 
liberalismo, aplicado às relações internacionais e adaptado, até certo ponto, 
aos temas e debates contemporâneos. 
Caracter í s t i ca das Teor ias Global i s tas 
1. Toda a teoria é fundamentada a partir da análise do modo de 
produção capitalista. 
 
2 . A divisão Norte-Sul do mundo é sempre a que interessa, mesmo 
para explicar períodos como a Guerra Fria, quando o mundo 
dividiu-se em Leste-Oeste. Para os globalistas, mesmo os países 
socialistas estavam inseridos numa lógica de economia global 
capitalista que os integrava ou constrangia de alguma forma. 
 
3. As relações internacionais não são um jogo de soma zero. Sempre há 
um vencedor e um perdedor nas relações de exploração que o 
sistema capitalista propões aos atores no sistema internacional. 
 
 
Resenha Histór i ca do Conce i to de “Nova Ordem Mundia l” 
Uma das primeiras tentativas de implantar uma “Nova Ordem Mundial” 	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  4	
  BECK Ulrich, O que é a globalização? Equívocos do globalismo respostas à globalização. São Paulo: Paz e terra, 1999. p. 175. 	
  
	
   20	
  
(Ou seja, uma nova ordem econômica, política, etc) foi realizada pelo 
Império Romano. 
 
Embora o mais vasto império que existiu, na antiguidade, tenha sido o 
Império Mongol, o Império Romano é considerado o maior em termos de 
gestão e qualidade do território, de organização sociopolítica e de 
importância, recordada na história da humanidade. 
 
Em todos os territórios do império, os romanos construíram estradas, 
cidades, pontes, aquedutos, fortificações, exportando assim o seu modelo 
de civilização em um processo tão profundo que por séculos após o fim do 
império estes povos continuaram a definir-se romanos. 
 
A segunda tentativa de implantar a “Nova Ordem Mundial” foi realizada 
pelo Cristianismo. 
Na fase atual, o sistema Globalista surge principalmente da relação de 
guerra e paz entre Comunismo e Capitalismo, enquanto conjuntos de 
ideias, de pensamentos, de doutrinas ou de visões de mundo, orientadas 
para suas ações sociais e, principalmente, políticas. 
 
Desta forma, os Globalistas se aproveitam dos dois sistemas para dominar 
o mercado em todas as áreas possíveis, utilizando ou o Capitalismo, ou o 
Comunismo. 
 
Precursores da Conce i tual ização do Global i smo 
O globalismo tem um débito intelectual com Marx em termos de seus 
métodos de análise e premissas determinantes sobre o funcionamento, 
desenvolvimento e a expansão do modo de produção capitalista. 
A principal contribuição de Marx foi insistir que a sociedade deveria ser 
estudada em sua totalidade. Um analista deve perceber como entre as 
diversas partes da sociedade estão estabelecidas relações explícitas e 
implícitas. Ele delimitou uma nova unidade de análise, mais ampla que a 
dos realistas e mais específica que a pluralista. 
 
Entre os precursores intelectuais e influências do Globalismo, destacam-se 
ainda Hobson e Lênin, com as teorias sobre o Imperialismo; Rosa 
Luxemburg e seu estudo comparado sobre revolução e reforma; e Gramsci, 
e o construtivismo - que faz uma ponte entre a teoria e a prática, 
destacando a importância da ação política. 
	
   21	
  
 
Pressupostos Bási cos para a Conce i tual ização do Global i smo 
1. É necessário compreender o contexto global dentro do qual cada 
Estado ou outras entidades interagem. Para isso, todos os níveis de 
análise são considerados (individual, burocrático, social, entre 
Estados ou entre sociedades). O comportamento de atores é 
explicado por um sistema que lhes constrange ou dá oportunidades. 
 
2. A análise histórica tem toda a relevância para a compreensão do 
sistema internacional. Traçar a evolução histórica do sistema permite 
a compreensão da estrutura atual, e dos mecanismos de dominação, 
das causas da desigualdade, etc. 
 
3. A existência de determinados mecanismos de dominação para 
impedir o desenvolvimento homogêneo do mundo. 
 
4. Fatores econômicos são absolutamente determinantes. Os demais 
fatores (políticos, sociais) são totalmente dependentes da economia, e 
não um domínio autônomo como acreditam os realistas e pluralistas. 
 
Pr inc ipais s eguimentos na anál i s e sobre g lobal i smo 
As analises sobre o Sistema Globalista se dividem em três vertentes 
principais, que são: 
 
1. Teoria radical 
A teoria radical acredita que as corporações multinacionais e bancos 
internacionais, que para os pluralistas são atores globalizantes, são na 
verdade e por excelência agentes da burguesia internacional responsável 
por manter os países menos desenvolvidos na condição de subordinação à 
economia global capitalista. 
 
Segundo os radicais, o Globalismo anuncia o fim do Estado nacional, ou 
sua perda definitiva de autonomia, e afirma a precedência dos mercados e 
da “comunidade internacional moderna” sobre interesses nacionais 
“estreitos” ou “atrasados”. 
É uma ideologia de exportação porque o cidadão de um país desenvolvido 
sabe o quão importante é para ele a autonomia de seu próprio país, não 
tendo o globalismo consequências práticas no interior desses países. 
	
   22	
  
Para uso externo, entretanto, o globalismo é muito útil: é um instrumento 
dos governos dos países ricos, das agências multilaterais, e das empresas 
multinacionais para tornar os países em desenvolvimento mais dóceis em 
relação às políticas públicas que recomendam implícita ou explicitamente, e 
que nem sempre consultam seus interesses. 
Há a argumentação de que não existe mais no Estado nacional o potencial 
de impor sua vontade como antes. Além disso, essa força não seria nem 
mesmo desejável, pois as trocas comerciais cada vez mais se intensificam 
em um processo irreversível.Esse processo exige uma desregulamentação 
cada vez maior por parte dos Estados nacionais, em prol da integração 
econômica transnacional. 
2. Teoria da dependência 
Teóricos da dependência consideram não apenas fatores externos, mas 
também as limitações internas ao desenvolvimento, que parecem, na 
verdade, reforçar os instrumentos externos de dominação. 
 
3. Teoria sistêmica 
Estudam-se as relações internacionais entre um núcleo e uma periferia no 
contexto do sistema capitalista mundial. 
O maior representante da teoria, Immanuel Wallerstain (n. 1930), 
considerado um arauto do movimento antiglobalização, defende que para 
entender o desenvolvimento global dos processos econômicos, políticos e 
sociais é necessário acompanhar o desenvolvimento do sistema capitalista 
em si. 
 
Fundamento Antropo lóg i co das Teor ias Defensoras do Global i smo 
Em contraposição ao realismo, que advoga uma concepção negativa do ser 
humano, o globalismo percebe o ser humano como bom e racional, capaz 
de atuar autonomamente em sociedade, independentemente do Estado. 
 
É importante notar que esse ser humano não precisa necessariamente agir 
com vistas ao bem comum: o fato é que, buscando os indivíduos seus 
próprios fins particulares, sem visarem, de maneira alguma, a algo que 
poderíamos chamar de “bem comum”, naturalmente uma ordem social 
estabeleceu-se, uma ordem pacífica, baseada nas trocas e nos 
relacionamentos mútuos que os indivíduos realizam entre si, e que garante 
os melhores resultados sociais: mais riqueza, mais tolerância, mais cultura. 
	
   23	
  
Portanto, exceto nos casos de manutenção da ordem civil, caracterizados 
mais pela atuação policial-punitiva, o Estado não precisa agir nem para 
criar nem para manter essa ordem; aliás, mais do que isso, o Estado não 
deve atuar nesse sentido, pois apenas a desvirtuaria. 
 
Em termos mais concretos, qual a condição social para que essa “ordem 
social natural” estabeleça-se? Simplesmente, a completa liberdade dos 
indivíduos: estes devem ser livres para fazerem o que quiserem, sem 
imposições de quaisquer tipos, sem um poder superior indicando como 
agir em cada situação, ou o que deve ou não deve ser feito (afinal, essas 
questões referem-se às possibilidades de escolha individual, não cabendo 
ao Estado defini-las). 
 
Bem percebidas as coisas, globalistas e realistas concordam em um aspecto, 
divergindo quanto ao valor a ser atribuído ao fato: entregues a si mesmos, 
sem uma autoridade superior que os regule, os Estados entrarão em 
conflitos permanentes, ou ao menos terão essa tendência. 
 
 Entretanto enquanto os realistas consideram que os Estados nacionais são 
uma realidade intransponível os globalistas percebem os Estados nacionais 
como instituições cujo papel deve ser o menor possível, tanto em nível 
interno quanto externo. 
 
Para os globalistas, aliás, a divisão “interno” e “externo” tende a carecer de 
justificativa racional, pois ela se baseia na prevalência dos Estados 
nacionais. 
 
Ora, enquanto a nível interno os estados atrapalham ou prejudicam devido 
à taxação imposta, pelas regras obrigatórias abundantemente criadas e 
assim por diante, a nível externo eles, por um lado, impõem restrições ao 
livre comércio internacional (tarifas, restrições, cotas etc.), ao mesmo 
tempo que criam situações de disputa que tendem a criar guerras e 
violência. 
 
Assim, a proposta globalista é muito simples: manter o Estado, mas sempre 
apenas como um mero mantenedor da ordem civil, e deixar que as relações 
de troca estabelecidas no âmbito interno desenvolvam-se e alcancem o 
nível externo, enlaçando-se por todo o planeta, de maneira a criar uma rede 
de relações não-internacional, porém mundial (pois que “internacional” 
	
   24	
  
supõe ainda a prevalência dos Estados nacionais). Da mesma forma, há que 
se ter ampla e irrestrita liberdade de movimentação: capital, cultura, mão-
de-obra e assim por diante. 
Pelo exposto até aqui deve estar claro que as “relações de troca” sugeridas 
pelo globalismo têm caracter económico; assim, por um lado, os fatores de 
produção (capital e trabalho) devem circular livremente pelo planeta, sem 
maiores preocupações que a mera alocação eficiente e eficaz dos recursos, 
preocupações relativas às várias nacionalidades são desconsideradas. 
Por outro lado, formalizando a substituição da importância dos Estados 
nacionais pela economia, os globalistas preconizam a substituição da 
política pela economia, ou melhor, a economia como a verdadeira e única 
solução para um ambiente mundial pacífico. 
Os debates contemporâneos sobre globalização, entre seus defensores, 
baseiam-se amplamente nessas concepções globalistas (HIRST e 
THOMPSOM, 2001, cap. I). 
Em termos teóricos, as propostas globalistas, a par das liberais, não têm 
maiores desenvolvimentos além da desobstrução ao livre intercâmbio 
mundial, com o fim dos acordos internacionais limitativos do comércio e 
das disputas e rivalidades interestatais. 
Crít i ca às Teor ias Global i s tas 
1. Os defensores do globalismo acusam o paradigma globalista de ser 
insuficientemente empirico	
  e de basear sua análise em apenas algumas 
construções teóricas gerais tais como “dependência” e “sistema 
capitalista mundial”. 
 
2. Além da crítica às ferramentas de análise do globalismo, faz-se uma 
crítica também às propostas de desenvolvimento autônomo e 
redistribuição de renda. 
 
3. Sob o argumento de que os globalistas resumiram as operações do 
sistema internacional ao processo de acumulação de capital e 
atividades relacionadas a ela, os críticos reclamam à teoria uma 
abrangência maior da dinâmica e polivalência das relações 
internacionais no campo da política, da diplomacia e das alianças 
militares - segurança. 
	
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4. Alguns críticos questionam a relação de causa e consequência entre a 
dependência e o subdesenvolvimento: se é a dependência a 
responsável pelo retrocesso econômico e social ou se são os 
retrocessos econômicos e sociais que criam os laços de dependência. 
 
5. Outros se concentraram no fato de que os globalistas estão voltados 
de mais para o meio externo e para os fatores internacionais para 
explicar a pobreza e a dependência da periferia do sistema 
internacional e que as variáveis domésticas (auto-gestão) são, por 
isso, subestimadas. 
 
Isso implica que a teoria não é completa o bastante para explicar o 
fato de que países que recebem o mesmo tratamento da comunidade 
internacional reagem de formas diferentes, demonstrando melhor 
desempenho que outros. É o exemplo de Brasil, Singapura, Coréia do 
Sul e Venezuela. 
 
 	
   	
  
	
   26	
  
BIBLIOGRAFIA 
 
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