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Corrêa, Roberto Lobato - Interações Espaciais

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INTERAÇÕES ESPACIAIS 
Roberto Lobato Corrêa 
Professor do Departamento de Geografia da UFRJ 
 
As interações espaciais constituem um amplo e complexo conjunto de 
deslocamentos de pessoas, mercadorias, capital e informação sobre o 
espaço geográfico. Podem apresentar maior ou menor intensidade, variar 
segundo a frequência de ocorrência e, conforme a distância e direção, 
caracterizar-se por diversos propósitos e se realizar através de diversos 
meios e velocidades. 
As migrações em suas diversas formas (definitivas, sazonais, pendulares 
etc.), as exportações e importações entre países, a circulação de 
mercadorias entre fábricas e lojas, o deslocamento de consumidores aos 
centros de compras, a visita a parentes e amigos, a ida ao culto religioso, à 
praia ou cinema, o fluir de informações destinadas ao consumo de massa 
ou entre unidades de uma mesma empresa são, entre tantos outros, 
exemplos correntes de interações espaciais em que, de uma forma ou de 
outra, estamos todos envolvidos. 
O presente estudo está dividido em duas partes. Na primeira procura-se 
estabelecer as relações entre interações espaciais e capitalismo, enquanto 
na segunda são discutidos os padrões espaciais das interações. 
 
Interações espaciais e capitalismo 
As interações espaciais devem observadas como parte integrante da 
existência (e reprodução) do processo de transformação social e não como 
puros e simples deslocamentos de pessoas, mercadorias, capital e 
informação no espaço. No que se refere à existência e a reprodução social, 
as interações espaciais refletem as diferenças de lugares face às 
necessidades historicamente identificas. No que concerne às transfor-
mações, as interações espaciais caracterizam-se, preponderantemente, por 
uma assimetria, isto é, por relações que tendem a favorecer um lugar em 
detrimento de outro, ampliando as diferenças já existentes, isto é, 
transformando os lugares. Consulte-se CHEPTULIN (1982), que fornece 
elementos para uma análise materialista das interações espaciais. 
Ancoradas na sociedade e em seu movimento de transformação, as 
interações espaciais e sua dinâmica somente são inteligíveis quando 
consideradas como parte da história do homem e de sua mutável geografia. 
Não cabe aqui apresentar e discutir as relações entre interações espaciais e 
dinâmica social. A bibliografia sobre essas relações é ampla, remetendo aos 
diversos tipos de organização social, como se exemplifica com os estudos 
de CHILDE (1950), PIRENNE (1964), PRED (1962), BELSHAW (1968) e 
HARVEY (1980). 
Consideraremos brevemente as interações espaciais no capitalismo, tendo 
como ponto de partida os impactos resultantes da Revolução Industrial, 
impactos que alteraram profundamente essas interações, estabelecendo a 
matriz com que hoje elas se realizam: neste sentido, o estudo de PRED 
(1962) é de fundamental importância. Segue-se uma breve descrição da 
espacialidade do ciclo de reprodução do capital. 
 
As transformações nas interações espaciais 
A Revolução Industrial transformou profundamente as interações espaciais. 
Em resumo, essas alterações podem ser descritas pela ampliação: 
i - da massa de mercadorias, pessoas, recursos financeiros e 
informações em circulação; 
ii - da frequência com que as interações passaram a se verificar; 
ili - dos meios de circulação e comunicação; 
iv - dos propósitos com que são realizadas; 
v - da velocidade, através da qual se verifica a progressiva superação 
do espaço pelo tempo; 
vi - dos horizontes espaciais, rompendo limitadas distâncias e, 
adicional-mente, tomando-as multidirecionadas; 
vii - das redes geográficas, que se tomaram progressivamente mais 
complexas e abrangentes, envolvendo um número crescente de nós, 
vias e fluxos, assim como dos mais diversos agentes sociais; e 
viii - de sua importância na vida econômica, social, cultural e política. 
 
As complexas transformações nas interações-espaciais resultaram, do 
plano imediato, das poderosas inovações tecnológicas geradas no âmbito 
dessa complexa teia de intercasualidades que foi a Revolução Industrial. O 
navio a vapor, a ferrovia e o telégrafo foram as principais dessas inovações 
correlatas às transformações também cruciais na agricultura, na indústria, 
nas atividades terciárias, na organização social e política, na urbanização e 
nos modos de vida como, entre outros, apontam PRED (1962), DOBB (1977) 
e HOBSBAWM (1977). 
Intensificam-se e ampliam-se as interações espaciais que, adicionalmente, 
tomaram-se mais rápidas e mais complexas. Rompem-se as amarras de 
horizontes espaciais limitados e fortemente fechados, submetidos a uma 
economia preponderantemente autárquica. Estabelece-se uma crescente 
divisão territorial do trabalho que leva a uma necessária articulação entre 
áreas e cidades através de uma rede urbana cada vez mais importante e 
fortemente articulada. 
PRED (1980) argumenta, em relação aos Estados Unidos do período 1840-
1860, que as mudanças nas funções urbanas, a industrialização, o processo 
de urbanização, a melhoria dos transportes, especialmente o ferroviário, e 
a difusão do telégrafo, geraram um duplo e complementar processo, o de 
especialização e o de integração, alterando a natureza, a intensidade e os 
padrões espaciais de interações. 
As interações entre cidades tomaram-se mais complexas e intensas, 
deixando de ser realizadas sobretudo a curta distância e entre um limitado 
número de centros, como se verificava anteriormente em 1840 (PRED, 
1973). Complexos padrões de interações entre centros urbanos emergiram 
ou ganharam força, definindo uma crescente interdependência entre 
cidades e áreas, expressa por interações: 
i - entre grandes cidades localizadas na mesma região ou em regiões 
distintas; 
ii - entre uma grande cidade e centros menores localizados tanto na 
hinterlândia como fora dela; e 
iii - entre cidades pequenas localizadas na mesma região ou em 
regiões diferentes. 
Interações espaciais a curta e a longa distâncias, entre centros de 
magnitude semelhante ou distinta, envolvendo uma gama cada vez mais 
complexa de mercadorias, pessoas, capital e informação, são o resultado 
das transformações advindas com o capitalismo industrial. 
Ainda que desigualmente, as transformações, em realidade, verificaram-se 
em toda parte, gerando uma economia crescentemente integrada em 
escala mundial, constituída por nós e áreas articulados entre si por 
poderosas ligações. Nas palavras de HOBSBAWM (1977, p. 69) em relação 
ao período 1848-1875, a "rede que unia as várias regiões do mundo 
visivelmente apertava". 
A partir da segunda metade do século XIX as interações espaciais entram na 
modernidade, anunciando o presente. A superação do espaço pelo tempo, 
que progressivamente se torna mais crucial à medida que o capitalismo se 
firma, demandando a aceleração do ciclo de reprodução do capital, alcança 
novos e sucessivos patamares que rapidamente são ultrapassados a partir 
de novos e mais eficientes meios de circulação e comunicação. 
A instantaneidade e a simultaneidade que hoje se conhece no âmbito da 
circulação de informações, mas não no que se refere às mercadorias e 
pessoas, é o resultado desse progresso técnico motivado pela demanda de 
comunicação das grandes corporações multifuncionais e multilocalizadas. 
A internacionalização do capital produtivo foi responsável, entre outros 
aspectos, pela formação de poderosas redes constituídas de dezenas, 
senão centenas de unidades – sede social, centro de P & D, minas, fazendas, 
fábricas, depósitos, escritórios administrativos e de vendas, portos de uso 
privativo, lojas, "company-towns" etc. - localizadas em numerosos lugares 
distribuídos mundialmente. A economia torna-se globalizada, constituída 
de partes interdependentes e na qual parcela crescente do comércio 
internacional passa a ser feitaentre unidades – filiais e 'subsidiárias – da 
mesma corporação. Trata-se de uma nova divisão internacional do trabalho 
(COHEN, 1981), responsável por complexas redes de produção e circulação 
de capitais, pessoas, matérias primas, informações e produtos 
industrializados. 
 
A espacialização do ciclo de reprodução do capital 
O ciclo de reprodução do capital explicitado por MARX (1984) constitui-se 
no processo fundamental que, no capitalismo, origina, direta ou 
indiretamente, grande parte das interações espaciais. 
Em sua fórmula, o ciclo de reprodução do capital assume, em aparência, 
uma característica a-espacial. Sua fórmula é: 
 
A espacialidade do ciclo de reprodução do capital, entretanto, é notável, 
conforme HARVEY (1982), entre outros. Implica múltiplas localizações e 
suas necessárias articulações, em virtude dos processos produtivo e do 
consumo, apresentarem ampla escala, envolvendo diferentes lugares. O 
ciclo de reprodução do capital rompe com horizontes espaciais limitados 
que caracterizava predominantemente a vida econômica na fase pré-
industrial. 
O ciclo de reprodução do capital torna-se, no bojo do processo de 
concentração e centralização do capital, cada vez mais complexo. O mesmo 
se dá com a sua espacialidade. Ambas as complexidades são potencializadas 
com a constituição de poderosas corporações multifuncionais e 
multilocalizadas, envolvendo ampla gama de produtos e serviços e 
inúmeras localizações. 
Consideremos uma hipotética corporação constituída por unidades 
localizadas em nove centros urbanos. A Figura 1a indica tais centros 
nomeados de A a I: trata-se de localizações que contêm a sede da 
corporação (A), três fábricas-filiais (B, C e D), três centros com filiais de 
coleta e beneficiamento de produtos rurais (E, F e G) e, finalmente, de dois 
centros onde estão unidades-filiais de mineração. A Figura 1a indica 
também outros centros (J, K, L, M, N, O, P, Q e R), que, no plano imediato, 
não se vinculam à rede de centros da hipotética corporação. 
A Figura 1a refere-se ao momento inicial do ciclo de reprodução do capital, 
no qual, através de decisões tomadas na sede social da corporação, 
verificam-se investimentos de capital-dinheiro nas oito unidades-filiais 
espacialmente dispersas. Neste momento, as interações espaciais são 
viabilizadas através de fluxos de informações e recursos financeiros via 
telefonia, fax, contatos face a face e através da telemática. A rede bancária, 
associada ou não à corporação, cumpre, neste momento papel crucial. A 
figura 1a reflete, em realidade, o momento D - M. 
FIGURA 1: CICLO DE REPRODUÇÃO DO CAPITAL E ESPAÇO 
(a) CIRCULAÇÃO DE INVESTIMENTOS 
 
A Figura 1b, por sua vez, refere-se ao momento M FT/MP, que apresenta 
uma espacialidade mais complexa, reportando-se à circulação da força de 
trabalho e dos meios de produção e envolvendo outros centros que até 
então não participavam das interações espaciais da corporação. 
b) CIRCULAÇÃO DE FORÇA DE TRABALHO 
E MEIOS DE PRODUÇÃO 
 
Das hinterlândias agrícolas dos centros E, F e G fluem, através destes, 
matérias-primas para a fábrica-filial localizada no centro B, enquanto das 
unidades de mineração localizadas em H e I fluem matérias-primas para os 
centros B, C e D onde estão fábricas-filiais da corporação. 
A participação de outros centros agora se efetiva. A indústria localizada em 
J, indústria pertencente a outra corporação, fornece, por exemplo, 
máquinas às unidades localizadas em B, C e D. Semelhantemente no centro 
A outras indústrias, também não vinculadas à corporação hipotética em 
tela, expedem bens intermediários ao centro D. 
O centro N, assim como o centro L, por se situarem em áreas de evasão 
demográfica, são, neste momento, etapas migratórias com destino aos três 
centros industriais B, C e D. Migrações diretas da zona rural para os 
referidos centros também ocorrem. 
A rede de centros envolvidos nesse momento do ciclo de reprodução do 
capital amplia-se. As interações envolvem, além de ordens de compra e 
venda de matérias-primas, maquinário e bens intermediários, contratos 
com a força de trabalho. Envolve, de maneira expressiva, fluxos de 
merca-dorias via diversos meios de transporte, caminhão, trem e dutos. 
O processo produtivo stricto sensu está pronto para se realizar. Sua 
efetivação pressupõe novas interações espa-ciais. Estas se realizam, em 
parte, na escala intra-urbana, envolvendo o deslocamento cotidiano entre 
residência e local de trabalho dos operários, assim como, para outros 
momentos do ciclo, de comerciários, bancários, técnicos e executivos do 
capital, entre outros. Envolve também deslocamentos associados à 
formação, existência e reprodução daqueles envolvidos, direta e 
indiretamente, no processo produtivo. As interações se fazem 
sobremaneira com base na utilização de ônibus, trens suburbanos e 
veículos individuais, assim como através do telefone e de outros meios de 
comunicação. Se fazem também a pé. Este é o momento P do ciclo de 
reprodução do capital, não representado grafi-camente neste estudo. 
A Figura 1c descreve o momento M' - D', que envolve a distribuição e o 
consumo dos produtos industrializados. Da sede social da corporação 
campanhas publicitárias divulgam os produtos industrializados, atingindo, 
através do rádio, televisão e outdoors, lugares que, até então, não 
participavam da rede de interações da corporação, como os centros K, M e 
O, conforme indicado na Figura 1c. 
(c) CIRCULAÇÃO DE PUBLICIDADE E PRODUTOS INDUSTRIAIS 
 
Através de vendas atacadistas, via filiais de venda, representantes 
comerciais ou atacadistas tradicionais ou modernos, a partir dos centros B, 
C e D, a produção flui para os centros varejistas que fazem a distribuição 
aos consumidores finais. Todos os centros indicados, de A a R, participam 
da distribuição varejista, incluindo aqueles até então ausentes, centros P e 
Q. Forma-se uma rede de localidades centrais caracterizada por uma 
hierarquia de lugares, atacadistas e varejistas, por exemplo, que dispõem 
de áreas de mercado definidas pelos mecanismos de alcance espacial 
máximo e mínimo. 
As interações espaciais envolvem agora o deslocamento aos centros intra-
urbanos de compras (núcleo central de negócios, centros de bairro, 
shopping centers etc.) e localidades centrais na hinterlândia das 
metrópoles. A circulação de ônibus urbanos ou entre cidades, assim como 
de veículos individuais, está em parte associada a estas interações. 
Com o consumo a mais-valia efetivamente se realiza. Os lucros obtidos ao 
final do processo produtivo devem ser remetidos à sede da corporação 
localizada no centro A. É através das agências bancárias localizadas nos 
centros varejistas que se dá a transferência para as agências do centro A, 
onde está a sede da corporação. As interações processam-se via 
informática, caracterizando-se pela instantaneidade das operações. Este é 
o momento D' - D, isto é, o momento final e que viabiliza o reinício do ciclo 
de reprodução do capital (Figura 1d). 
(d) CIRCULAÇÃO DE LUCROS
 
A mais-valia concentrada na sede da corporação não apenas permite o 
reinício do ciclo como também o investi-mento e aplicação em outros 
setores, como o financeiro e o imobiliário, e no consumo pessoal daqueles 
que controlam o processo produtivo. Isto engendra novas localizações e 
novas interações espaciais. 
Algumas observações encerram este capítulo: 
(a) A espacialidade do ciclo de reprodução do capital é muito mais 
complexa do que a que foi aqui apresentada. 
(b) Os momentos do ciclo de reprodução do capital são teóricos pois, 
em realidade, há uma tendência à sincro-nia de cada uma das partes 
em que o ciclo, analiticamente decomposto, se realiza. Os lugares e 
áreas, contudo, são concretos e separados entre si. A espacialidade 
tem, assim, uma concretudemais evidente que a temporalidade. 
(c) Cada lugar participa diferentemente no ciclo de reprodução do 
capital de uma dada corporação. Assim, à guisa de exemplo, o centro 
B participa de diversos momentos, através de uma fábrica-filial, das 
distribuições atacadista e varejista, e da função bancária. O centro G, 
por sua vez, participa através da coleta e beneficiamento de produtos 
agrícolas e como centro varejista e bancário. Já o centro J está 
associado ao ciclo de reprodução do capital de outra corporação, 
integrando-se no ciclo de reprodução da corporação em tela a partir 
de um determi-nado momento. Os centros K, M e Q também 
integram-se à rede da corporação em questão apenas a partir de 
determinado momento. 
(d) Há, assim, uma divisão territorial do trabalho no âmbito da 
corporação sob consideração. O centro A é o centro de gestão do 
território, isto é, centro de concepção, planejamento e controle do 
ciclo de reprodução do capital ou, em outros termos, é um centro de 
acumulação capitalista. Alguns são centros industriais e lugares 
centrais, enquanto outros são centros de comercialização e 
beneficiamento da produção agrícola e lugares centrais. Outros são 
apenas lugares centrais. Especializações funcionais e hierarquização 
caracterizam os centros da rede de centros associada à corporação 
em questão. As áreas agrícolas, sob a ação da corporação, também 
diferenciam-se entre si. 
(e) Como cada centro, a exemplo do centro J, participa da rede de 
várias corporações, a diferenciação de centros e áreas torna-se mais 
complexa, implicando enorme complexidade das interações 
espaciais. Isto nos leva a considerar falaciosa a tese da 
homogeneização espacial engendrada pelo capitalismo. 
 
Os padrões espaciais 
As interações espaciais contextualizadas e tornadas inteligíveis na 
sociedade capitalista a partir do desvendamento da dimensão espacial do 
ciclo de reprodução do capital, apresentam padrões distintos no espaço e 
no tempo. Em outras palavras, os diferentes fluxos que articulam os fixos 
socialmente criados são caracterizados por lógicas que lhes conferem 
regularidades espaço-temporais que se reportam à organização social e a 
seu desigual movimento de transformação. 
Vejamos, primeiramente, a variabilidade espaço-temporal dos padrões de 
interações e, a seguir, as redes geográficas que, em última análise, são as 
formas com que as interações espaciais se verificam. 
Ressalte-se que os diversos tipos de interações e de redes geográficas não 
são mutuamente excludentes entre si. Em outras palavras, um dado centro 
nodal pode ser o foco de interações espaciais distintamente variáveis em 
termos espaciais e temporais, assim como o foco de redes distintas, 
revelando a enorme complexidade dos padrões es-paciais de interações. 
 
A variabilidade espaço-temporal 
A Figura 2 descreve os principais padrões de interações com base na 
variabilidade no espaço e no tempo. Para simplificar as interações estão 
focalizadas em um único centro nodal, a partir do qual e para o qual fluem 
as matérias-primas, alimentos in natura, pessoas, produtos 
industrializados, renda fundiária, investimentos, lucros diversos, 
informações etc. 
Os padrões em questão devem ser considerados como referências para 
situações reais e não como modelos ideais e normativos. Por outro lado, 
não são mutuamente exclu-dentes entre si, pois em uma situação 
caracterizada por interações fortemente regionais (Figura 2a) podem ser 
verificadas influências direcionais (Figura 2c) e, simultaneamente, 
descontinuidades no tempo (Figura 2d). Em outros termos, os padrões em 
tela podem combinar-se entre si e frequentemente o fazem. 
FIGURA 2: PADRÕES DE INTERAÇÕES ESPACIAIS 
E SUA VARIABILIDADE ESPAÇO-TEMPORAL
 
Os diferentes padrões de interações espaciais derivam de um amplo 
conjunto de razões nas quais uma delas tende a ter maior peso. Assim, a 
natureza social e econômica da hinterlândia, expressa em termos de 
estrutura fundiária, relações sociais de produção, desenvolvimento 
tecnológico das atividades produtivas, sua diversificação, natureza e 
finalidade, é decisiva, influenciando a densidade demográfica e a renda de 
seus habitantes. Soma-se a isto a variação dos padrões culturais da 
população. Emergem então ofertas e demandas de produtos e serviços que 
são variáveis em volume e no tempo, assim como susceptíveis de gerarem 
interações a curta e/ou longa distâncias e ainda direcionalmente variáveis. 
As diversas soluções encontradas pela elite econômica do centro nodal, 
visando a sua própria reprodução através da criação de atividades capazes 
de (re)inserirem o mais eficientemente possível centro e hinterlândia na 
vida econômica, é outra razão que suscita padrões variáveis de interações. 
Os papéis atribuídos aos centros nos quais uma corporação multilocalizada 
tem unidades produtivas, por outro lado, constituem outra razão que gera 
diferenciais de interações espaciais entre as diversas cidades da rede de 
centros organizada pela corporação. 
Em resumo, as interações espaciais variáveis derivam da diferenciação de 
áreas conforme aponta ULLMAN (1974), constituindo, por outro lado, uma 
condição de reprodução das diferenças. 
A Figura 2a reporta-se às interações espaciais fortemente regionais. 
Associavam-se no passado a áreas relativamente integradas internamente 
e muito pouco articuladas externamente, revelando forte grau de 
autonomia regional e limitada participação em uma pouco desenvolvida 
divisão territorial do trabalho. Muitas cidades pré-industriais europeias 
constituem exemplos significativos de centros nodais em tomo dos quais 
estabeleciam-se interações fortemente regionais (LAMPARD, 1955). 
As interações em tela, contudo, tendem a caracterizar parcela importante 
das interações espaciais atuais. Caracterizam, por exemplo, interações dos 
lugares centrais, pontos focais da vida econômica, social, cultural e política 
de áreas próximas, as suas hinterlândias, com as quais diversos tipos de 
interações espaciais são realizados. 
As interações espaciais fortemente regionais se devem também à força de 
inércia das localizações estabelecidas no passado, em um momento em que 
a distância desempenhava, mais que atualmente, papel mais determinante 
nas interações espaciais. Implicava isto localizações próximas entre si, a 
exemplo das diversas concentrações espaciais da atividade industrial e da 
urbanização, que originaram aquilo que se denomina de "core area", onde 
os centros urbanos aí localizados tendem a manter relações mais intensas 
entre si do que com centros externos. 
As ligações telefônicas entre cidades, que são indicadores da intensidade 
agregada de múltiplos tipos de interações, fornecem evidências para o que 
foi acima afirmado. Assim, as ligações telefônicas no âmbito da região 
urbano-industrial paulista (região metropolitana de São Paulo, Baixada 
Santista, Vale do Paraíba e os eixos São Paulo – Sorocaba e São Paulo – 
Campinas, São Carlos – Ribeirão Preto) são mais intensas internamente do 
que extra-regionalmente. 
Em razão do maior desenvolvimento econômico-social e do forte controle 
exercido pela metrópole paulista sobre as atividades regionais, são mais 
intensas as ligações telefônicas de São Paulo com São José dos Campos, 
Bauru, Ourinhos e Marília do que, respectivamente, com Recife, Belém, São 
Luís e Natal (NACIF, 1993). E ressalte-se que em cada par de cidades 
considerado aquelas do interior de São Paulo são menores que as suas 
contrapartes extra-regionais. 
A Figura 2b descreve as interações fortemente extra-regionais que.via de 
regra, se fazem a longa distância, envolvendo fluxos associados a 
especializações funcionais, sejam do setor produtivo, sejam dos serviços. 
Centros eminentemente industriais, especialmente aqueles pouco 
diversificados, centros portuários, universitários,de veraneio, mineração e 
de peregrinação religiosa constituem típicos focos de interações 
fortemente extra-regionais. Possuem eles uma relativamente limitada 
centralidade, pequena face ao tamanho demográfico que apresentam, 
inserindo-se na rede urbana como centros especializados e, 
secundariamente, como lugares centrais. 
Associado a este padrão está uma mais significativa divisão territorial do 
trabalho e uma posição geográfica distinta daquela dos lugares centrais e 
que assume, em muitos casos, características singulares. A posição pode ser 
excêntrica, como no caso das cidades portuárias, ou vincular-se à 
ocorrência singular de um recurso mineral ou de uma decisão ou evento 
não repetitivo. Aparentemente, as específicas localizações de tais centros 
assemelham-se às distribuições espaciais aleatórias, mas uma análise mais 
acurada levará à descoberta de determinadas lógicas locacionais. 
Entre os numerosos exemplos de centros com interações espaciais 
fortemente extra-regionais estão as cidades portuárias de Rio Grande, Itajaí 
e Paranaguá e os centros de peregrinação de Lourdes e Meca, que atraem, 
respectivamente, católicos de toda a Europa e muçulmanos. Entre os 
centros industriais mencionam-se Telêmaco Borba, no Paraná, e João 
Monlevade, em Minas Gerais, que produzem, respectivamente, papel e aço 
para o mercado nacional. Guarapari, por sua vez, no litoral capixaba, 
exemplifica o centro de veraneio para uma clientela predominantemente 
extra-regional, constituída em grande parte por mineiros. 
As interações espaciais são, em graus distintos, influenciadas pela distância: 
à medida que se verifica o aumento da distância implicando a ampliação 
dos custos de transferência, de tempo e de esforço físico verifica-se a 
diminuição da intensidade das interações espaciais- Trata-se daquilo que os 
economistas-espaciais e os geógrafos denominam de "distance decay” isto 
é, o efeito declinante da distância sobre as interações espaciais e o uso da 
terra que delas deriva (HOOVER, l948 e lSARD, 1956). 
O papel da distância foi enfatizado na geografia teorético-quantitativa, a 
ponto de WATSON (1955) referir-se à geografia como uma "disciplina da 
distância". Os modelos de von Thünen, Weber e Christaller, assim como os 
modelos gravitacional e potencial, que envolvem interações espaciais, 
estão fortemente calcados no papel da distância na explicação do uso 
agrícola da terra, da localização industrial, da hierarquia urbana e da 
atratividade de um centro nodal sobre outros. 
Semelhantemente, o preço da terra e as densidades demográficas intra-
urbanas também são fortemente influenciadas pela distância ao núcleo 
central da cidade, aos sub centros comerciais intra-urbanos, às vias de 
tráfego e às amenidades. Toda a concepção centro-periferia, em realidade 
qualquer que seja a escala espacial, está fortemente assentada no efeito 
declinante da distância (ALONSO, 1964, Cox, 1972 e HURST, 1972). 
A despeito do efeito da distância ser considerado co-mo parte integrante 
da racionalidade econômica geral, a sua importância deve ser relativizada. 
Assim, padrões culturais específicos podem dar origem a interações 
espaciais reguladas por visões particulares da distância, associadas a 
valores religiosos, etnolinguísticos, laços de parentesco e a modos de vida 
não-capitalistas ( GALLAIS, 1977 e CORREA, 1995). E mesmo entre os pobres 
e ricos da sociedade capitalista o papel da distância nas interações espaciais 
é diferenciado, estabelecendo-se graus distintos de mobilidade espacial. 
O avanço tecnológico também minimiza o papel da distância nas interações 
espaciais. É isto que, sistematicamente, tem ocorrido de modo crescente a 
partir da Revolução Industrial, viabilizando interações mais rápidas e mais 
eficientes, envolvendo cada vez mais maiores volumes de mercadorias a 
distâncias maiores e em menor tempo e custo. O desenvolvimento das 
telecomunicações, por outro lado, viabiliza a superação da distância pela 
possibilidade de transmissão de informações instantâneas 
simultaneamente para vários lugares. O rádio, a televisão e a telemática 
tornaram possível articular toda a superfície terrestre de modo mais 
efetivo. Esta efetividade, contudo, pressupõe a existência de 
complementaridade funcional entre áreas e centros urbanos, que, cada vez 
mais, se verifica no âmbito de grandes corporações multilocalizadas e 
atuando globalmente (KELLERMAN, 1993). 
As interações espaciais podem também variar direcionalmente. No 
exemplo da Figura 2c interações espaciais são mais intensas na direção 
oriental da hinterlândia do centro nodal, refletindo o fato de que este setor 
caracteriza-se por um maior potencial de interação do que o setor 
ocidental. 
O diferencial de natureza e intensidade das interações espaciais está 
associado, tradicionalmente, àqueles centros que têm uma posição 
geográfica no contato de regiões distintas em termos de densidades 
demográficas, características sócio-econômicas e padrões culturais, 
resultantes de diferenças na natureza e nos processos de ocupação 
territorial ou de ambos. Cidades no contato entre planície e planalto, junto 
à confluência de rios, e no contato entre áreas de vegetação florestal e 
campestre, por exemplo, são numerosas, assim como aquelas conhecidas 
temporariamente como "ponta de trilho" e "boca de sertão". 
Localizada no contato Agreste-Sertão, Campina Grande é a capital do Sertão 
(CARDOSO, 1963). A cidade de Jequié, por sua vez, constitui-se em outro 
exemplo. Situa-se no contato entre a zona cacaueira, úmida, a leste, e o 
planalto semiárido, a oeste, domínio da criação de gado (SANTOS, 1956): 
suas interações são espacialmente diferenciadas. As cidades de Marília e 
São José do Rio Preto, no Oeste Paulista, por sua vez, já foram "pontas de 
trilhos", enquanto Londrina, no norte do Paraná, "boca de sertão" 
(MONBEIG, 1952). Os exemplos são numerosos, incluindo-se aí as cidades 
localizadas em fronteiras internacionais. 
As interações espaciais direcionalmente variáveis derivam também de 
especializações produtivas criadas por capitais locais, bem como por uma 
corporação multifuncional e multilocalizada, que atribui a um dado centro 
uma função específica no âmbito de sua própria divisão territorial do 
trabalho, expressa por uma rede de centros diferenciados. Nos dois casos, 
por se tratar da produção de matérias-primas, bens intermediários e 
componentes para outro centro que se encarrega de concluir a produção, 
as interações espaciais são direcionadas para este centro de transformação 
final. 
A Figura 2d, finalmente, descreve interações espaciais descontínuas no 
tempo. No primeiro momento (t1) há um dado padrão no qual os fluxos i e 
k são os mais intensos. No segundo momento (t2) o padrão foi alterado. Os 
fluxos j, k, l, m e n desapareceram, enquanto o fluxo i teve a sua intensidade 
diminuída; por outro lado, dois novos fluxos emergiram, p e q, este último 
de expressiva intensidade. 
A variabilidade temporal das interações espaciais pode envolver diversas 
escalas de tempo. Pode variar em um período de alguns séculos ou de 30-
50 anos, entre duas estações chuvosas, entre duas datas em anos 
subsequentes ou entre determinado dia a cada semana, ou ainda no 
intervalo de algumas horas. No limite estão aquelas interações que se 
realizaram apenas durante um dado momento do tempo e depois 
cessaram: o processo de difusão espacial de um produto ou ideia é, a este 
respeito, um exemplo contundente. 
A visibilidade temporal das interações espaciais resulta, de um lado, das 
transformações que alteraram substancialmente a organização espacial 
como aquelas introduzidas a partir da Revolução Industrial, extinguindo 
algumas interações e criando outras. De outra, deriva do caráter cíclico de 
determinadas ofertas e demandas, assim como de eventos culturais. 
A expansão ferroviáriada segunda metade do século XIX modificou a 
posição geográfica de numerosos centros, alterando os seus padrões de 
interações espaciais, conforme assinala SANTOS (1960) para a zona 
cacaueira da Bahia e TAAFFE, MORRILL e GOULD (1963) para o conjunto dos 
países subdesenvolvidos. 
A safra de café, por outro lado, cria uma variação sazonal na vida econômica 
de suas áreas produtoras, suscitando maior intensidade nas interações 
espaciais neste período do que na entressafra. Ressalte-se que o efeito da 
sazonabilidade é tanto maior quanto mais dependente for a economia da 
área a um único produto. 
Semelhantemente, mas a intervalo diferente, varia o número de peregrinos 
que se dirige aos centros de peregrinação. No tempo sagrado, dias de festa 
religiosa, o afluxo de peregrinos pode alcançar dezenas de milhares de 
pessoas, enquanto nos dias comuns o afluxo se reduz muito ou é mesmo 
inexistente (ROSENDAHL, 1996). 
Finalmente, exemplifica-se com a variabilidade das interações espaciais 
marcadas por uma periodicidade mais frequente, como aquela das feiras 
nordestinas que, via de regra, realizam-se a cada sete dias. Razões de 
ordem econômica como os baixos níveis de oferta e demanda, assim como 
as de ordem cultural, levam a uma periodicidade dos mercados. A obra de 
SKINNER (1964) é, a este respeito, clássica. STINE (1962), por sua vez, 
fornece argumentos econômicos associados à extinção dos mercados 
periódicos, enquanto BROMLEY, SYMANSKY e GOOD (1975) argumentos 
culturais a favor da persistência desses mercados e de suas interações 
espaciais variáveis no tempo. 
 
Interações espaciais: as redes geográficas 
É através de redes geográfica, isto é, localizações articuladas entre si por 
vias e fluxos, como aponta KANSKY (1963), que as interações espaciais 
efetivam a partir dos atributos das localizações e das possibilidades reais de 
se articularem entre si. 
Construções sociais, as redes geográficas são_historicamente contabiliza-
das, constituindo-se em parte integrante do_longo e cada vez mais 
complexo processo de organização espacial_socialmente_engendrado. Pois 
as localizações, vias e fluxos são elementos essenciais e insubstituíveis da 
própria_existência e reprodução sociais. As trilhas dos povos nômades que 
articulavam poços de água e pastagens, as estradas romanas que levavam 
parte significativa da Europa, as redes telegráfica e ferroviária do século XIX 
e as modernas redes telemáticas foram e são, a cada momento, cruciais 
para a existência, reprodução e transformação social. 
A temática em questão é rica em controvérsias e, nes-te sentido, sugere-se 
a consulta, entre outros, de HAGGETI e CHORLEY (1969), DUPUY (1988), 
KELLERMAN (1993) e DIAS (1995a e 1995b). 
As redes geográficas, por outro lado, têm sido analisadas, em grande parte, 
com base na Teoria dos Grafos com suas medidas estruturais que permitem 
mensurar o grau de sua conectividade e através de sua representação 
matricial e aplicação das proposições operacionais de NYSTUEN e DACEY 
(1975), que possibilitam identificar a hierarquia dos nós da rede, o grau de 
complementaridade entre eles e suas áreas de influência (GARRISON, 1974 
e NACIF, 1993). 
A Figura 3 reporta-se aos principais padrões espaciais em rede. Cada um 
deles pode incorporar diversas variabilidades espaço-temporais 
anteriormente abordadas, assim como cada padrão pode ser focalizado 
segundo a natureza organizacional, temporal e alguns outros aspectos 
eminentemente espaciais ( CORREA, 1997). 
Deve ser ressaltado que a tipologia de redes geográficas apresentada nas 
Figuras 3a a 3f não abarca todas as possibilidades, conforme evidenciado, 
entre outros, por BRUNET (1990) e HEPWORTH (1990). 
A Figura 3a refere-se a uma rede solar. Caracteriza-se pela localização 
central de um relativamente poderoso nó, ponto focal de vias e fluxos 
vinculados a nós muito menores. Trata-se de rede fortemente centralizada, 
com ausência de ligações entre os pequenos nós subordinados. 
Exemplifica-se, de um lado, com a rede constituída por uma cidade-estado 
ou cidade cerimonial e suas aldeias tributárias do modo de produção 
asiático. De outro, com uma organização simples, constituída pela sede de 
empresa localizada em uma grande cidade e um conjunto subordinado de 
unidades fabris ou lojas varejistas localizados, via de regra, em cidades 
menores. Um terceiro exemplo é o da rede de circulação de ônibus urbanos 
em uma cidade monocêntrica: todas as linhas de ônibus convergem para o 
núcleo central de negócios da cidade. 
A Figura 3b reporta-se a uma rede dendrítica caracterizada pela localização 
excêntrica do centro nodal mais importante e por vias e fluxos que se 
distribuem segundo um padrão análogo ao de uma rede fluvial. A 
excentricidade do centro mais importante, ponto final (e inicial) dos fluxos, 
gera interações espaciais direcionalmente orientadas. 
FIGURA 3: PADRÕES DE INTERAÇÕES ESPACIAIS EM REDE
 
A hierarquia dos centros, por outro lado, é mais desenvolvida que na rede 
solar, associando-se nitidamente à acessibilidade, de modo que à medida 
que a distância ao centro principal aumenta, o nível hierárquico dos demais 
centros progressivamente diminui. Semelhantemente à rede solar não há 
ligações laterais entre nós ou centros de mesmo nível hierárquico, 
evidenciando a função da rede dendrítica de drenagem de recursos em 
geral da hinterlândia por parte do principal centro nodal. Há, assim, uma 
nítida relação entre função e forma espacial. 
A rede urbana dos países de origem colonial foi em suas origens 
caracterizada pelo padrão dendritico. A criação de uma cidade junto a um 
estuário ou a uma baía foi o ponto de partida para o desenvolvimento deste 
tipo de rede, exemplificado, no passado, pelas redes controladas por 
Salvador, São Luís e Belém (CORRÊA, 1988). 
A rede christalleriana constitui-se em um tipo de rede geográfica 
consagrado entre os geógrafos. A existência objetiva dessas redes é antiga 
e deve-se a CHRISTALLER (1966), com a sua clássica obra sobre os lugares 
centrais publicada em 1933, a sistematização sobre as características desse 
tipo de rede (Figura 3c). 
Trata-se de rede hierarquizada na qual o centro nodal de maior nível 
hierárquico tem uma localização central. Circundando-o estão centros de 
níveis hierárquicos infe-riores dispostos sistematicamente e controlando, 
cada um, inúmeros centros de hierarquia ainda menor. As interações 
espaciais, vinculadas na formulação christalleriana à distribuição varejista 
de bens e serviços, obedecem à hierarquia dos lugares centrais, havendo 
muito pouca ou nenhuma interação entre centros de mesmo nível 
hierárquico. Em realidade, a rede de lugares centrais combina 
características das redes solar e dendrítica, sendo, entretanto, mais 
complexa. Consulte-se BERRY (1967) sobre alguns desdobramentos a 
respeito da formulação clássica de Christaller. 
Inúmeras são as redes geográficas organizadas segundo o padrão em pauta. 
No Oeste paulista a rede de lugares centrais em tomo de Bauru constitui-se 
em exemplo. Circundando a capital regional, Bauru, estão centros sub-
regionais – Botucatu, Avaré, Jaú e Lins – cada um controlando alguns 
centros de zona. As redes de administração pública também estão 
organizadas de acordo com um padrão christalleriano, como se verifica com 
as redes das secretarias estaduais de saúde e educação, nas quais a sede 
encontra-se na capital, as delegacias regionais em centros regionais e os 
postos de saúde ou distritos escolares em centros de hierarquia menor. 
Nas complexas corporações multilocalizadas estabelece-se também uma 
hierarquia no que diz respeito à administração interna. Na sede, via de 
regra em uma grande cidade, localizam-se as atividades de gestão de nível 
superior, encarregadas de fixarem os objetivos e estratégias a longo prazo. 
Constituem atividades denível I, conforme aponta HYMER (1978) com base 
no esquema de Chandler e Redlich. Há, hierarquia abaixo, um conjunto de 
centros nos quais localizam-se atividades de gestão do nível II, 
encarregadas do controle das atividades de diversas unidades dispersas em 
numerosos centros. Nestes estão as atividades de gestão do nível III, 
encarregadas do controle das operações diárias. Esta estrutura hierárquica 
visa, segundo HYMER (1978, p. 110) 
" ... controlar o fluxo de informação. Conta com sólidas ligações 
verticais, de modo que a informação sobe e as ordens descem com 
fluidez, e conta em seu vértice com uma considerável comunicação 
horizontal, a fim de lograr uma ação unificada. Na base, a 
comunica-ção horizontal está cortada ... " 
A hierarquia dos nós da rede tem, no caso, entre outras, uma função de 
controle do fluxo de informação. Mas a rede christalleriana pode 
desempenhar também a função de viabilizar a distribuição de bens e 
serviços, atendendo a demandas sociais. Pode também conformar a 
estrutura espacial de organizações como cooperativas, sindicatos, partidos 
políticos, enfim, de organizações voltadas para a solidariedade e não para 
a acumulação capitalista. 
A Figura 3d, por sua vez, descreve uma rede axial. Caracteriza-se pela 
disposição linear dos nós, associada, via de regra, à existência de uma única 
via de tráfego linear-mente disposta. A hierarquia dos centros nodais 
obedece a uma regularidade espacial, fruto e condição de interações que 
se realizam em duas direções. As interações perpendiculares ao eixo de 
tráfego são muito pouco significativas. É possível verificarem-se curto-
circuitos, isto é, determinados fluxos ultrapassarem centros pequenos ou 
mesmo intermediários, dirigindo-se para um centro de hierarquia mais 
elevada (SANTOS, 1988). O número de centros neste tipo de rede, por sua 
vez, tende a ser maior que nas redes descritas anteriormente, isto se 
devendo ao crescente custo de transferência à medida que a distância a um 
dado cen-tro aumenta (CHRISTALLER, 1966). 
O Planalto Ocidental paulista fornece-nos magníficos exemplos de redes 
axiais, as quais foram objeto de estudos por MONBEIG (1952). Assim, nos 
interflúvios dos afluentes da margem esquerda do Paraná, Paranapanema 
-Peixe, Peixe – Aguapeí e Aguapeí-Tietê, entre outros, o povoamento ao 
longo dos eixos ferroviários gerou, no passado e em cada interflúvio, uma 
típica rede axial que, ainda hoje, marca notavelmente as redes urbanas 
regionais. 
A rede circular está descrita através da Figura 3e. Trata-se de rede na qual 
há um único circuito que abarca todos os nós, os quais estão dispostos de 
modo circular. Neste tipo de rede não há um centro nodal nitidamente 
dominante, ainda que os nós possam diferenciar-se entre si. Os fluxos, por 
outro lado, podem assumir a direção dos ponteiros de relógio ou a direção 
contrária. 
Exemplos de redes circulares encontram-se nos circuitos dos mercados 
periódicos, em circuitos de espetáculos teatrais ou circenses e, ao nível 
intra-urbano, no circuito dos ônibus "circulares": há neste caso, com 
frequência, dois trajetos em direções opostas. 
A Figura 3f, finalmente, descreve uma rede de múltiplos circuitos, na qual 
existem várias ligações possíveis entre um mesmo par de nós. Difere assim 
dos demais padrões que se caracterizam por ligações que, entre os nós de 
um mesmo par, somente se realizam através de uma única via. É, assim, 
uma rede mais complexa, na qual, adicionalmente, as ligações podem se 
cruzar sem a mediação de um nó. As redes em questão podem tanto 
apresentar uma hierarquia entre os seus nós como complementaridade 
entre eles. 
Um mapa com rotas aéreas descreve uma rede do tipo em tela, assim como 
o mapa com as ligações telefônicas entre cidades de uma região 
economicamente complexa. Os fluxos de matérias-primas, bens 
intermediários e produtos finais no âmbito de uma complexa e 
multilocalizada corporação tendem a originar redes com múltiplos 
circuitos, refletindo padrões distintos e complexos de localização das 
diversas unidades da corporação, assim como a natureza, em parte 
complementar, das funções que cada unidade desempenha. 
Nas regiões de economia urbano-industrial, a exemplo da região com 
epicentro na metrópole paulista, a rede urbana – a síntese das redes 
geográficas – caracteriza-se pela complexidade das interações espaciais, 
resultante do fato de cada centro desempenhar múltiplas funções, cada 
uma originando um específico padrão de interações espaciais. Isto significa 
que cada centro participa de várias redes geográficas distintas entre si no 
que se refere à natu-reza dos fluxos, intensidade, frequência, agentes 
sociais e outros atributos organizacionais, temporais e espaciais. Os centros 
urbanos da rede diferenciam-se entre si tanto como lugares centrais, como 
também, e em muitos casos de modo predominante, enquanto centros 
especializados, revelando uma forte divisão territorial do trabalho entre 
eles. 
Considerações finais 
As interações espaciais constituem parte integrante e tradicional do 
temário geográfico. A continuidade desta tradição, em um mundo que 
rapidamente tem suas interações espaciais complexificadas, constitui uma 
tarefa que os geógrafos devem assumir, visando contribuir para, através de 
sua visão particular da realidade, tomá-la desmistificada e inteligível. 
O presente texto procurou contribuir para a continui-dade dessa tarefa, 
apresentando aspectos fundamentais so-bre a natureza e os padrões 
espaciais das interações. Novas reflexões teóricas são necessárias, mas a 
demanda por estudos empíricos parece-nos, no momento, dotada de uma 
importância maior. 
 
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