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Habeas Corpus nº 165.582 - SP

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Superior Tribunal de Justiça
 
HABEAS CORPUS Nº 165.582 - SP (2010/0046546-0)
 
RELATORA : MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA
IMPETRANTE : LUIS FERNANDO PEREIRA 
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO 
PACIENTE : LUIS FERNANDO PEREIRA (PRESO)
RELATÓRIO
MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA(Relatora): 
Trata-se de habeas corpus , sem pedido liminar, impetrado em favor de 
LUIS FERNANDO PEREIRA, apontando como autoridade coatora a 3ª Câmara de Direito 
Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo/SP (Apelação Criminal nº 
990.08.139016-7).
O impetrante/paciente foi condenado em 1.º grau à pena de 60 (sessenta) 
anos de reclusão, em regime inicial fechado, como incurso no art. 157, § 3.º, parte final, 
por duas vezes, c/c o art. 70, caput , segunda parte, ambos do Código Penal.
Irresignados, recorreram ambas as partes. A acusação requereu o 
reconhecimento de quatro latrocínios em concurso formal imperfeito, enquanto que a 
defesa requereu a nulidade dos interrogatórios judiciais, sob a alegação de que não teriam 
sido respeitadas as formalidades do art. 187 do Código de Processo Penal e a ampla 
defesa, bem como por não ter sido permitido ao ora impetrante/paciente a realização do 
referido ato em outra Comarca, que não a de Bragança, onde havia uma grande comoção 
social devido ao crime em questão. Pleiteou, ainda, a desclassificação dos delitos para o de 
roubo qualificado, com o benefício do art. 29, § 2.º, do Código Penal.
A Corte estadual negou provimento ao recurso da defesa e deu provimento 
ao recurso da acusação para, reconhecendo a existência de concurso formal 
imperfeito/impróprio, elevar a pena imposta ao impetrante/paciente a 120 (cento e vinte) 
anos de reclusão, em regime inicial fechado, por ter incorrido no art. 157, § 3.º, segunda 
parte, por quatro vezes, c/c o art. 70, segunda parte, ambos do Código Penal.
Daí o presente mandamus , no qual alega o impetrante/paciente que o caso 
em questão se enquadra na hipótese de crime único, salientando que o latrocínio não se 
altera em razão do número de vítimas fatais. Outrossim, argumenta que não foram 
devidamente obedecidos os critérios estipulados no art. 59 do Código Penal para a fixação 
da pena.
Requer, assim, seja reconhecida a nulidade do acórdão que reformou a 
sentença condenatória, pleiteando o reconhecimento da existência de um único crime de 
latrocínio e a aplicação da pena em seu mínimo legal.
Sem pedido de medida liminar, foram prestadas as informações às fls. 
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84/149.
Com vista dos autos, manifestou-se o Ministério Público Federal, em 
parecer da lavra da Subprocuradora-Geral da República Lindôra Maria Araujo, pela 
denegação da ordem (fls. 152/161).
É o relatório.
 
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Superior Tribunal de Justiça
 
HABEAS CORPUS Nº 165.582 - SP (2010/0046546-0)
 
EMENTA
HABEAS CORPUS . PROCESSUAL E PENAL. (1) CONDENAÇÃO 
REFORMADA EM GRAU DE APELAÇÃO. VIA INDEVIDAMENTE 
UTILIZADA EM SUBSTITUIÇÃO A RECURSO ESPECIAL. 
AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE MANIFESTA. NÃO 
CONHECIMENTO. (2) LATROCÍNIO. CONCURSO FORMAL 
IMPRÓPRIO. ARTIGO 70, 2ª PARTE, DO CÓDIGO PENAL. 
DESÍGNIOS AUTÔNOMOS. PACIENTE QUE, MEDIANTE UMA SÓ 
AÇÃO E COM PROPÓSITOS DIVERSOS, PRATICOU QUATRO 
CRIMES, ATINGINDO QUATRO RESULTADOS. PENAS 
CUMULATIVAMENTE APLICADAS. ILEGALIDADE NÃO 
EVIDENCIADA. (3) WRIT NÃO CONHECIDO.
1. Mostra-se inadequado e descabido o manejo de habeas corpus em 
substituição ao recurso especial cabível. É imperiosa a necessidade de 
racionalização do writ, a bem de se prestigiar a lógica do sistema recursal, 
devendo ser observada sua função constitucional, de sanar ilegalidade ou 
abuso de poder que resulte em coação ou ameaça à liberdade de locomoção. 
O que não se verifica na espécie.
2. Tipifica-se a conduta do agente que, mediante uma só ação, dolosamente 
e com desígnios autônomos, pratica dois ou mais crimes, obtendo dois ou 
mais resultados, no art. 70, 2ª parte, do Código Penal - concurso formal 
impróprio, aplicando-se as penas cumulativamente. Na compreensão do 
Superior Tribunal de Justiça, no caso de latrocínio (artigo 157, parágrafo 3º, 
parte final, do Código Penal), uma única subtração patrimonial, com quatro 
resultados morte, caracteriza concurso formal impróprio. Precedentes.
3. Writ não conhecido.
 
 
VOTO
MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA(Relatora): 
Preliminarmente, cumpre registrar a compreensão firmada nesta Corte, 
sintonizada com o entendimento do Pretório Excelso, de que se deve racionalizar o 
emprego do habeas corpus , valorizando a lógica do sistema recursal. Nesse sentido:
HABEAS CORPUS – JULGAMENTO POR TRIBUNAL SUPERIOR – 
IMPUGNAÇÃO. A teor do disposto no artigo 102, inciso II, alínea “a”, da 
Constituição Federal, contra decisão, proferida em processo revelador de 
habeas corpus, a implicar a não concessão da ordem, cabível é o recurso 
ordinário. Evolução quanto à admissibilidade do substitutivo do habeas 
corpus. PROCESSO-CRIME – DILIGÊNCIAS – INADEQUAÇÃO. Uma 
vez inexistente base para o implemento de diligências, cumpre ao Juízo, na 
condução do processo, indeferi-las. 
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Superior Tribunal de Justiça
(HC 109956, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, 
julgado em 07/08/2012, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-178 DIVULG 
10-09-2012 PUBLIC 11-09-2012) 
É inadmissível que se apresente como mera escolha a interposição de 
recurso ordinário, do recurso especial/agravo de inadmissão do Resp ou a impetração do 
habeas corpus . É imperioso promover-se a racionalização do emprego do mandamus , sob 
pena de sua hipertrofia representar verdadeiro índice de ineficácia da intervenção dos 
Tribunais Superiores. Inexistente clara ilegalidade, não é de se conhecer da impetração.
Passa-se, então, à verificação da ocorrência de patente ilegalidade.
Cinge-se a impetração a verificação se o delito cometido no caso concreto 
se amolda a crime único ou concurso formal impróprio, como decidiu a Corte a quo.
Vejamos o que foi prolatado pelo Juízo de primeiro grau, no que interessa:
(...) Narra a denúncia que aos 10 de dezembro de 2006, por volta das 
22:00 horas, na residência situada na Rua João Marques Prado, n.º 30, 
Jardim São Cristóvão, nesta cidade, os acusados agindo em concurso e com 
total unidade de desígnios, mediante violência e grave ameaça, exercida 
com emprego de armas de fogo e branca contra Eliana Faria da Silva, 
Leandro Donizete de Oliveira e a criança Vinícius Faria de Oliveira, com 
cinco anos de idade, mantendo-os sob seus poderes e restringindo suas 
liberdades, subtraíram para si o veículo Fiat/Palio, cor azul, de placas 
BVQ-8728/Bragança Paulista-SP, pertencente a Leandro Donizete de 
Oliveira.
Narra ainda a inicial, que os acusados no dia 11 de dezembro de 2006, 
por volta da 1:00 hora, na Estrada Municipal n° 2, Bairro do Tanque, nesta 
cidade, agindo em concurso e unidade de ideais, mediante violência e grave 
ameaça, exercidas com emprego de meio cruel e armas de fogo e branca 
contra Eliana Faria da Silva, Leandro Donizete de Oliveira, Luciana 
Michele de Oliveira Dorta e a criança Vinícius Faria de Oliveira, 
mantendo-as sob seus poderes e restringindo suas liberdades, subtraíram 
para si a quantia aproximada de R$ 18.341,90, pertencente ao 
estabelecimento comercial "Sinhá Moça", representado por Roberto Luiz 
Ferrete, resultando, da violência exercida, as mortes das vítimas Eliana, 
Leandro, Luciana e Vinícius. (fls. 16/17) 
(...)
Prosseguindo, os crimes cometidos ocorreram em concurso formal. 
Reconhece-se o, concurso formal e não o material, ou ainda o crime 
continuado, se asinfrações foram empreendidas num único contexto de 
ações, não obstante a diversidade de atividades físicas dos envolvidos, e tais 
subtrações vulneram o patrimônio de duas pessoas.
Isto porque sendo a posse ou a propriedade o bem jurídico 
imediatamente tutelado pelo roubo, há pluralidade de violação da norma 
penal quando, mesmo contexto de ação, o agente subtrai bens de vários 
proprietários, cada qual exercendo sua posse individual, o que carateriza o 
concurso formal de delitos.
A complexidade do delito de roubo proporciona uma unidade de 
conduta, que pode ser desdobrada em vários atos e/ou atitudes, quando 
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então o agente, lesionando mais de um patrimônio na Cadeia de atos, agirá 
em concurso formal de delitos. (fls. 45/46)
(...)
Saliente-se que, muito embora se pudesse sustentar concurso material de 
latrocínios, não seria tecnicamente a solução correta em virtude da 
seqüência de ações promovidas na espécie. Ao passo que os roubos 
pudessem ter seqüência lógica e, de certa forma, também pudessem ter 
consideradas suas condutas distintas, seus resultados finais (mortes das 
vítimas), estão interligados e as violências aconteceram num idêntico 
momento, selando a conduta dos dois crimes ao mesmo tempo.
Por tal motivo, concluiu o Juízo que a seqüência de atos até a 
consumação final, se deu numa única conduta, com os requisitos do 
concurso formal.
Fica afastada, ainda que não argumentada pela defesa, a tese do crime 
continuado.
A melhor doutrina aponta para que, no caso de roubo onde, diversas são 
as vítimas, tem-se a figura do concurso formal. Não há que se falar em delito 
continuado já que se pressupõe, pelo menos, um hiato de tempo entre as 
ações delituosas. Ao depois, o crime continuado reclama pluralidade técnica 
de ações ou condutas, algo que não aconteceu conforme já mencionado. 
Também é necessária a unidade de desígnios, ou seja, a existência de um 
nexo subjetivo entre os crimes, que foram praticados em desígnios 
autônomos. 
O Juízo, afastando de vez a hipótese entende que em caso de latrocínio 
não se admite a figura do crime continuado, em virtude da ofensa a bens 
personalíssimos como a vida das vítimas. A respeito Nelson Hungria 
concluiu: "Não é admissível a continuação em se tratando de crimes lesivos 
de interesses jurídicos inerentes à pessoa'' (Revista de Jurisprudência, 
Guanabara, 177/470).
Por fim, muito embora tenham agido em concurso formal de crimes, 
produzindo dois roubos qualificados pelo resultado morte, entende o Juízo 
que os acusados agiram com desígnios autônomos, razão pela qual as penas 
serão somadas, em adoção à segunda parte do artigo 70, "caput" do Código 
Penal. (fls 47/48)
(...)
Os autores pretendiam praticar e tinham consciência disto, dois roubos. 
Da mesma forma, em especial, sabiam que estavam eliminando as vítimas 
que mantinham poder sobre objetos subtraídos de forma distinta, com a 
morte delas. Agiram no decorrer dos fatos com consciência e vontade na 
prática de cada um dos crimes, considerados de maneira isolada ante o 
planejamento prévio das ações, incidindo assim no concurso formal 
homogêneo impróprio.
No dizer do Roberto Lyra, os crimes com desígnios autônomos existem 
na hipótese de "múltipla ideação e determinação de vontade, com diversas 
individualizações. Assim, os vários eventos não são um só perante a 
consciência e a vontade, embora o sejam externamente. O dolo, portanto, 
não é unitário, como no concurso formal homogênio".
A complexidade do roubo permitiu que os crimes fossem cometidos 
numa única cena temporal, ou seja, a conduta externa constituída de vários 
atos de submissão das vítimas, com duas subtrações, quatro mortes, 
constituindo-se tecnicamente é uma só conduta. No entanto, perpetraram os 
crimes com a finalidade distinta de chegarem aos resultados finais. (fls. 
48/49).
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(...)
O legislador não quis privilegiar a unidade de conduta, nem sempre 
passível de menor censura, mas a unidade de resolução ou desígnio. Daí o 
tratamento diverso dado ao concurso formal próprio e ao impróprio, este 
sujeito à regra do cúmulo material das penas (artigo 70, 2.ª parte, do Código 
Penal). (fl. 50)
(...)
Ante o exposto, e o mais que dos autos consta, JULGO PROCEDENTE 
a presente ação penal diante da comprovação dos fatos imputados, para o 
fim de CONDENAR JOABE SEVERINO RIBEIRO E LUIS FERNANDO 
PEREIRA, qualificados nos autos, como incursos nas sanções do art. 157, § 
3.º, parte final, por duas vezes na forma do artigo 70, "caput", segunda parte, 
todos do Código penal Brasileira, à pena de 60 (sessenta) anos de reclusão, 
em regime FECHADO, e ao pagamento de 80 (oitenta) dias-multa, no valor, 
cada qual, de 1/30 do salário mínimo mensal vigente à data do fato, com 
correção monetária desde esta mesma data, face suas condições econômicas. 
(fl. 55)
(...)
O Tribunal de origem, por sua vez, reformou a condenação, para dar 
provimento ao recurso do Ministério Público, nestes termos:
O recurso interposto pelo Ministério Público é de ser provido.
Ao atear fogo no veículo Fiat/Pálio, os apelados Joabe e Luiz Fernando 
tinham a plena consciência de que, com tal atitude, causariam a morte das 
quatro vítimas, que permaneceram em poder deles desde o início da ação 
delituosa. Agiram, portanto, com desígnios autônomos em produzir, 
deliberadamente, a morte de cada uma delas.
Estamos diante do concurso formal imperfeito ou impróprio, previsto no 
art. 70, segunda parte, do Código Penal, impondo-se a aplicação das penas, 
cumulativamente, em relação a cada uma das vítimas.
Ensina Guilherme de Souza Nucci, ao comentar o art. 70 do Código 
Penal, distinguindo, de maneira bastante clara e didática, o concurso formal 
perfeito do imperfeito, concluindo que: "Assim, em síntese; no concurso 
formal, pode-se sustentar: a) havendo dolo quanto ao crime desejado e culpa 
quanto ao(s) outro(s) resultado(s) da mesma ação, trata-se de concurso 
formal perfeito; b) havendo dolo quanto ao delito desejado e dolo eventual 
no tocante ao(s) outro(s) resultado(s) da mesma ação, há concurso formal 
perfeito: c) havendo dolo quanto ao delito desejado e também em relação 
aos efeitos colaterais, deve haver concurso formal imperfeito" ("Código 
Penal Comentado" - Ed. Revistas dos Tribunais - 4a Ed. - pág. 296).
O crime dos autos enquadra-se perfeitamente na terceira hipótese, pois 
os apelados, tendo por objetivo principal a subtração do dinheiro, agiram 
com dolo em produzir a morte de todas as vítimas, caracterizando, portanto, 
o concurso formal imperfeito, com a aplicação da pena, cumulativamente, 
em relação a cada uma delas.
Assim tem sido o entendimento do Colendo Supremo Tribunal Federal:
"HÁBEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL LATROCÍNIO. DUAS 
VÍTIMAS. CONCURSO FORMAL IMPRÓPRIO. HEDIONDEZ. 
PROGRESSÃO DE REGIME. DECLARAÇÃO DA 
INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 2º, § 1º, DA LEI Nº 8.072/90, 
PELO PLENÁRIO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. 
Documento: 29038539 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 6 de 9
 
 
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AFASTAMENTO DO ÓBICE LEGAL.
I - Na esteira da já consolidada jurisprudência desta Corte Superior, no 
caso de latrocínio (art. 157, ° 3º, parte final, do Código Penal), uma única 
subtração patrimonial, com dois resultados morte, caracteriza concurso 
formal impróprio (art. 70, parte final do Código Penal) Precedentes. 2 -.... " 
(HC n° 56.961 - PR(2006/0069194-1) - Relatora Ministra Laurita Vaz, v. u. 
- j. 18.12.2007).
Com a imposição cumulativa em relação a cada uma das quatro vítimas, 
pelo reconhecimento do concurso formal impróprio, as penas impostas aos 
apelantes,como arbitradas pela r. sentença de primeiro grau, não merecem 
reparo algum, pois fixadas com equilíbrio e justiça, considerando-se, com 
precisão, quando arbitradas as penas-bases: a reprovabilidade das condutas 
por eles praticadas; o grau de culpabilidade de cada um deles; a comoção 
social causada, com reflexos no país inteiro; os antecedentes criminais que 
possuem; os motivos dos crimes; suas circunstâncias, ameaçando e 
atemorizando quatro pessoas, além de terem-nas amordaçado e amarrado, 
colocando Leandro no porta-malas do veículo, fazendo com que ele sofresse 
exageradamente as violências praticadas contra sua família, sem qualquer 
poder de reação; e as graves conseqüências, com a destruição de toda uma 
família, causando reflexos irreparáveis aos demais familiares das vítimas 
Leandro, Eliana e Vinícius, e, com a morte de Luciana, seu marido e filhas 
ficaram desamparados, afetiva e psicologicamente, além de materialmente, 
pois contribuía ela para o sustento de sua família, com seu trabalho.
As agravantes foram corretamente aplicadas e, quando o caso, 
compensadas com a atenuante da confissão espontânea.
Foram, então, fixadas as penas em seu patamar máximo, que bem se 
adéquam às circunstâncias dos delitos e personalidade dos agentes.
Assim e considerando ainda os primorosos fundamentos da respeitável 
sentença de primeiro grau, que bem demonstram a capacidade jurídica, bom 
senso e espírito de justiça do magistrado que a prolatou, Dr. Laércio José 
Mendes Ferreira Filho, os recursos interpostos pelos réus devem ser 
improvidos, provendo-se apenas o do Ministério Público.
Desta forma, NÃO CONHEÇO do recurso interposto pelo Assistente da 
Acusação e NEGO PROVIMENTO aos demais recursos interpostos pelos 
apelantes Joabe Severino Ribeiro e Luiz Fernando Pereira e DOU 
PROVIMENTO ao recurso interposto pelo Ministério Público, para elevar 
as penas impostas aos apelados a 120 (cento e vinte) anos de reclusão, em 
regime inicial fechado, como incursos no art. 157, § 3°, segunda parte, por 
quatro vezes, c/c art. 70, segunda parte, ambos do Código Penal, mantendo, 
no mais, a respeitável sentença de primeiro grau. (fls. 72/74).
 Preceitua o art. 70 do Código Penal:
"Art. 70. Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica 
dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas 
cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer 
caso, de um sexto até a metade. As penas aplicam-se, entretanto, 
cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes 
resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo anterior.
Parágrafo único. Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela 
regra do art. 69 deste Código."
Documento: 29038539 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 7 de 9
 
 
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Verifica-se que, de acordo com o que restou consignado do acórdão a quo, o 
 paciente, com uma única conduta, atingiu quatro resultados diferentes, tendo utilizado 
desígnios autônomos, ou seja, propósitos diversos, ao dirigir sua conduta com vontade 
(dolo) de atingir quatro resultados - ceifar a vida das quatro pessoas que estavam dentro do 
veículo que por ele foi incendiado - enquadrando-se, então, na 2ª parte do tipo penal em 
comento.
A jurisprudência desta Corte, de ambas as Turmas Criminais, ampara o 
posicionamento esposado pelo Tribunal de origem. Confira-se:
HABEAS CORPUS. DIREITO PENAL. ROUBO QUALIFICADO 
PELO RESULTADO MORTE. DUAS VÍTIMAS. CONCURSO FORMAL 
IMPRÓPRIO.
1. Na compreensão do Superior Tribunal de Justiça, no caso de 
latrocínio (artigo 157, parágrafo 3º, parte final, do Código Penal), uma única 
subtração patrimonial, com dois resultados morte, caracteriza concurso 
formal impróprio (artigo 70, parte final, do Código Penal). Precedente.
2. Ordem parcialmente concedida.
(HC 33618/SP, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, SEXTA 
TURMA, julgado em 31/05/2005, DJ 06/02/2006, p. 333)
HABEAS CORPUS. DOSIMETRIA. CRIME DE AMEAÇA. 
INTIMIDAÇÃO DIRIGIDA A DETERMINADAS VÍTIMAS E NÃO AOS 
AGENTES PENITENCIÁRIOS COMO UM TODO. HIPÓTESE DE 
CONCURSO FORMAL IMPERFEITO. CUMULO MATERIAL. DECISÃO 
ACERTADA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL INOCORRENTE.
1. A distinção entre os dois tipos de concurso formal - próprio ou 
perfeito (art. 70, 1ª parte, do CP) e impróprio ou imperfeito (art. 70, 2ª parte, 
do CP) - varia de acordo com o elemento subjetivo que animou o agente ao 
iniciar a sua conduta.
2. Hipótese de concurso formal imperfeito de crimes, pois embora tenha 
sido única a conduta, atuou o agente com desígnios autônomos, ou seja, sua 
ação criminosa foi dirigida finalisticamente (dolosamente) à produção de 
todos os resultados, no caso, ameaça voltada individual e autonomamente 
contra cada vítima, e não contra os agentes penitenciários como um todo.
3. Caracterizado o concurso formal imperfeito de crimes, a regra será a 
do cúmulo material, de sorte que, embora o paciente tenha praticado uma 
única conduta, como os diversos resultados foram por ele queridos 
inicialmente, suas penas deverão ser cumuladas materialmente.
(...). (HC 107.565/MS, Rel. Min. JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, 
DJe 29.3.2010)
CRIMINAL. RESP. JÚRI. HOMICÍDIO QUALIFICADO TENTADO E 
CONSUMADO. RECURSO MINISTERIAL QUE PRETENDE A 
APLICAÇÃO DA REGRA DO CONCURSO FORMAL IMPERFEITO. 
ABERRATIO ICTUS. AUTONOMIA DE DESÍGNIOS 
CARACTERIZADA. RECURSO MINISTERIAL PROVIDO.
I – O cometimento de uma só conduta, que acarreta em resultados 
diversos, um dirigido pelo dolo direto e outro pelo dolo eventual, configura 
a diversidade de desígnios. Precedente do STF.
Documento: 29038539 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 8 de 9
 
 
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II - Hipótese em que se verifica o concurso formal imperfeito, que se 
caracteriza pela ocorrência de mais de um resultado, através de uma só ação, 
cometida com propósitos autônomos.
III – Recurso Ministerial conhecido e provido, restabelecendo-se a 
sentença proferida em primeiro grau de jurisdição. (REsp 138.557/DF, Rel. 
Min. Gilson Dipp, QUINTA TURMA, DJ 10.6.2002)
A doutrina entende dessa mesma forma:
"O concurso formal será impróprio (imperfeito) quando o agente 
desejar a realização de mais de um crime, tiver consciência e vontade em 
relação a cada um deles (2ª parte do caput)." (Código Penal Comentado, 
Bitencourt, Cezar Roberto, 5ª ed., 2009, p. 205).
"Assim, em síntese; no concurso formal, pode-se sustentar: a) havendo 
dolo quanto ao crime desejado e culpa quanto ao(s) outro(s) resultado(s) da 
mesma ação, trata-se de concurso formal perfeito; b) havendo dolo quanto 
ao delito desejado e dolo eventual no tocante ao(s) outro(s) resultado(s) da 
mesma ação, há concurso formal perfeito: c) havendo dolo quanto ao delito 
desejado e também em relação aos efeitos colaterais, deve haver concurso 
formal imperfeito " (Código Penal Comentado, Nucci, Guilherme de Souza - 
Ed. Revistas dos Tribunais - 4ª Ed. - p. 296).
Portanto, o entendimento esposado pelo Tribunal a quo está em perfeita 
sintonia com a jurisprudência desta Corte.
Ante o exposto, não conheço do habeas corpus .
É como voto.
Documento: 29038539 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 9 de 9

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