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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS DE RIBEIRÃO PRETO DEPARTAMENTO DE QUÍMICA Físico-química experimental Experimento 2: Calorimetria Discentes: Laura Sperati Bezerra, n° USP: 13691034 Luis Felipe Coutinho Ferreira, n° USP: 11871837 Mariana Figueiredo de Oliveira, n° USP: 13477215 RIBEIRÃO PRETO 2025 I- INTRODUÇÃO A entalpia é uma grandeza termodinâmica que representa a quantidade total de energia de um sistema, englobando tanto a energia interna quanto a energia associada ao trabalho necessário para deslocar o ambiente sob pressão constante. Esse conceito é essencial para a compreensão das transformações energéticas em processos físicos e químicos. Em reações químicas, a variação de entalpia (ΔH) é um parâmetro fundamental para diferenciar processos endotérmicos, nos quais há absorção de calor, e exotérmicos, nos quais ocorre liberação de calor para o meio. A determinação de ΔH permite prever a espontaneidade e viabilidade de uma reação, sendo um aspecto crucial em diversas aplicações industriais, como combustão, síntese química e processos bioquímicos. Para medir a variação de entalpia de uma reação, emprega-se a técnica da calorimetria, que consiste na medição da quantidade de calor trocada em processos físicos, químicos ou biológicos. Essa técnica utiliza equipamentos como o calorímetro, permitindo determinar com precisão a quantidade de energia envolvida em uma transformação, auxiliando no estudo de sistemas termodinâmicos e no desenvolvimento de novas tecnologias energéticas. Figura 1. Esquema de um calorímetro de Dewar. Fonte:Calorimetry - Chemistry: Atoms First II- OBJETIVO https://chatgpt.com?q=entalpia https://chatgpt.com?q=energia%20interna https://chatgpt.com?q=endot%C3%A9rmicos https://chatgpt.com?q=exot%C3%A9rmicos https://chatgpt.com?q=calorimetria https://chatgpt.com?q=calor%C3%ADmetro Determinar o calor de neutralização e as entalpias de reações entre ácidos fortes, como o ácido clorídrico, e ácidos fracos, como o ácido acético. III- MATERIAIS ● 1 bureta de 25 mL; ● Garra para a bureta; ● Chapa de aquecimento; ● 3 Erlenmeyers de 125 mL; ● Bastão de vidro; ● 2 Béqueres de 100 mL; ● 1 Frasco de Dewar; ● 1 Pipeta volumétrica de 50 mL; ● 1 Pipeta volumétrica de 10 mL; ● 1 Termômetro de 0 a 100°C de escala de 0,1°C; ● 1 Termômetro de 0 a 100 °C de escala de 0,5 °C; ● Balança semi-analítica; ● Indicador de fenolftaleína; ● Biftalato de potássio; ● Hidróxido de sódio em concentração desconhecida; ● Ácido acético em concentração desconhecida; ● Ácido clorídrico em concentração desconhecida; IV- METODOLOGIA IV. I. Padronização das soluções utilizadas As soluções de hidróxido de sódio, ácido clorídrico e ácido acético foram fornecidas pelos técnicos do laboratório em concentrações de ~1 mol/L. A padronização foi necessária para determinar o valor real de concentração das soluções e evitar erros na determinação das entalpias de neutralização. Para a padronização do NaOH, pesou-se 3 g de biftalato de potássio, misturou-se com 25mL de água deionizada e 3 gotas do indicador ácido-base (fenolftaleína), sendo possível a titulação da solução de NaOH e assim padronizá-lo. Para o HCl, a padronização foi feita adicionando 10 mL de ácido clorídrico em um erlenmeyer com 3 gotas do indicador ácido-base (fenolftaleína) e titulando com o NaOH, previamente padronizado. O mesmo foi feito para o HAc, adicionando em um erlenmeyer 10 mL de ácido acético com 3 gotas do indicador ácido-base (fenolftaleína) e titulando com o NaOH, previamente padronizado. Todos os procedimentos foram realizados em duplicata. IV. II. Determinação da capacidade calorífica do calorímetro Para a calibração do calorímetro, adicionou-se 50 mL de água em temperatura ambiente (aproximadamente 20ºC) e 50 mL de água aquecida (aproximadamente 30ºC). Com a adição de ambas no calorímetro, as mesmas foram misturadas sob agitação manual para analisar a temperatura resultante. A calibração foi realizada em duplicata, medindo tanto a temperatura quanto a massa inicial e final do calorímetro com a solução. IV. III. Determinação das entalpias de neutralização Para a mistura de NaOH e HCl: adicionou-se 50 mL de NaOH e 50 mL de HCl (ambas na mesma temperatura) no calorímetro, submetendo-o a uma agitação manual para a mistura de ambas soluções, a fim de medir a temperatura de estabilização (Tfinal). Para a mistura de NaOH e ácido acético: adicionou-se 50 mL de NaOH e 50 mL de ácido acético (ambas na mesma temperatura) no calorímetro, submetendo-o a uma agitação manual para a mistura de ambas soluções, a fim de medir a temperatura de estabilização (Tfinal). Com as temperaturas medidas, foi possível calcular o calor perdido e a entalpia. V- RESULTADOS E DISCUSSÃO V. I. Padronização das soluções utilizadas Tendo em vista que a relação da reação entre NaOH e biftalato de potássio é de 1:1 (figura 2) e o mesmo ocorre para a reação do NaOH com os respectivos ácidos (figuras 3 e 4) foram determinadas as concentrações de NaOH, HCl e CH3COOH utilizando a fórmula onde C1 é a concentração do titulante, V1 é o volume gasto de titulante, C2 é a concentração do titulado e V2 é o volume de titulado. As massas molares usadas foram de 204,22 g/mol para o biftalato de potássio e 39,99 g/mol para o hidróxido de sódio. Os dados obtidos para todas as soluções seguem nas tabelas 1, 2 e 3. Figura 2. Reação entre biftalato de potássio e hidróxido de sódio. Fonte: Autoral, 2025. Figura 3. Reação entre ácido clorídrico e hidróxido de sódio. Fonte: Autoral, 2025. Figura 4. Reação entre ácido acético e hidróxido de sódio. Fonte: Autoral, 2025. Tabela 1: Dados da titulação da solução de NaOH MEDIDA MASSA DE BIFTALATO (g) Nº DE MOLS DO BIFTALATO VOLUME DE NaOH UTILIZADO (mL) CONCENTRA ÇÃO DE NaOH OBTIDA (mol/L) 1 3 0,0147 13,7 1,072992701 2 3 0,0147 13,9 1,057553957 Média 1,065273329 Concentração NaOH 1,06 ± 0,01 mol/L Tabela 2. Dados da titulação da solução de HCl MEDIDA VOLUME DE HCl (mL) VOLUME DE NaOH UTILIZADO (mL) CONCENTRA ÇÃO DE HCl OBTIDA (mol/L) 1 10 9,6 1,0176 2 10 9,9 1,0494 Média 1,0335 Concentração HCl 1,03 ± 0,02 mol/L Tabela 3. Dados da titulação da solução do ácido acético MEDIDA VOLUME DE HAc (mL) VOLUME DE NaOH UTILIZADO (mL) CONCENTRA ÇÃO DE HAc OBTIDA (mol/L) 1 10 9,7 1,0282 2 10 9,8 1,0388 Média 1,0335 Concentração HAc 1,03 ± 0,007 mol/L V. II. Determinação da capacidade calorífica do calorímetro A determinação da capacidade calorífica do calorímetro antes das medidas de calor de neutralização é necessária, dado que o calorímetro irá absorver parte do calor gerado durante as reações de neutralização. Para isso foram misturados 50 mL de água fria (Tf) com 50 mL de água quente (Tq) e , em seguida, medida a temperatura resultante (Tr) da mistura.Esse procedimento foi feito em duplicata, tabela 4, e a capacidade calorífica, ou capacidade térmica, quantidade de calorias necessárias para aquecer o calorímetro em 1ºC, foi determinada dividindo a diferença entre o calor perdido pela água quente (Qp) (equação 1) e recebido pela água fria (Qr) (equação 2) pela diferença entre a temperatura resultante (Tr) e a temperatura da água fria (Tf) conforme descrito na equação 3. O valor de massa em todas as equações foi de 50 g (massa total de água considerando a densidade da água igual a 1 g/mL) e o valor de calor específico (c) foi de 1 cal/g.ºC . Os dados obtidos e o valor da capacidade calorífica determinada seguem na tabela 4. 𝑄𝑝 = 𝑚 · 𝑐 · (𝑇 𝑞 − 𝑇 𝑟 ) 𝑄𝑝 = 50 𝑔 · 1 𝑐𝑎𝑙/𝑔 · °𝐶 · (40°𝐶 − 30°𝐶) = 500 𝑐𝑎𝑙 Equação 1 𝑄𝑟 = 𝑚 · 𝑐 · (𝑇 𝑟 − 𝑇 𝑓 ) 𝑄𝑟 = 50 𝑔 · 1 𝑐𝑎𝑙/𝑔 · °𝐶 · (30°𝐶 − 23°𝐶) = 350 𝑐𝑎𝑙 Equação 2 𝐶 = 𝑄 𝑝 − 𝑄 𝑟 / 𝑇𝑟 − 𝑇 𝑓 𝐶 = 500−350 30−23 = 150 7 = 21, 43 𝑐𝑎𝑙 /°𝐶 Equação 3 Tabela 4. Dados da determinação da capacidade calorífica do calorímetro MEDIDA Tf (ºC) Tq (ºC) Tr (ºC) Qp (cal) Qr(cal) C (cal/ºC) 1 23 40 30 500 350 21,43 2 Capacidade Calorífica do Calorímetro (C): 21,43 0,01 cal/°C ± V. III. Determinação das entalpias de neutralização A determinação das entalpias de neutralização do HCl e do ácido acético pela solução de hidróxido de sódio foram efetuadas conforme descrito no item II, sendo que o calor associado a reação, dq, foi obtido utilizando a equação 4, na qual o sinal associado a essa medida já está embutido. O valor de c para ambas as medidas foi de 0,96 cal/g.ºC. A massa da solução foi obtida pela diferença de massa entre o calorímetro com solução e sem solução. Os dados obtidos para ambas as reações seguem nas tabelas 5 e 6. 𝑑𝑞 = 𝑚 · 𝑐 · (𝑇 𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙 − 𝑇 𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 ) + 𝐶 · (𝑇 𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙 − 𝑇 𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 ) Equação 4 Para reação de neutralização entre NaOH e HCl 𝑑𝑞 = 151, 89 · 0, 96 · (28, 1 − 24, 3) + 21, 43 · (28, 1 − 24, 3) 𝑑𝑞 = 635, 53 𝑐𝑎𝑙 Para reação de neutralização entre NaOH e CH3COOH 𝑑𝑞 = 151, 69 · 0, 96 · (28, 21 − 23, 3) + 21, 43 · (28, 1 − 23, 3) 𝑑𝑞 = 817, 86 Tabela 5. Medidas de calor de neutralização da reação entre NaOH e HCl MEDIDA MASSA DA SOLUÇÃO (g) Tfinal (ºC) Tinicial (ºC) dq (cal) 1 151,89 28,1 24,3 635,53 2 dq: 635,53 0,01 cal ± Tabela 6. Medidas de calor de neutralização da reação entre NaOH e CH3COOH MEDIDA MASSA DA SOLUÇÃO (g) Tf (ºC) Ti (ºC) dq (cal) 1 151,69 28,1 23,3 817,86 2 dq: 817,86 0,01 cal ± Com base nos dados das tabelas 5 e 6 foi possível calcular as entalpias de neutralização do NaOH com HCl (reação 1) e com ácido acético (reação 2) a partir da equação 5, onde n é o número de mols de água formados, que é igual ao número de mols do reagente limitante (ácido), e 4,18 é o fator de conversão de cal para kJ. Os dados obtidos seguem na tabela 7. | ∆𝐻| = 𝑑𝑞 𝑛 · 4, 18 Equação 5 |∆𝐻| 𝐻𝐶𝑙 = 635,53 0,0515 · 4, 18 = 53, 04 𝑘𝐽/𝑚𝑜𝑙 |∆𝐻| 𝐶𝐻 3 𝐶𝑂𝑂𝐻 = 780,42 0,0515 · 4, 18 = 63, 34 𝑘𝐽/𝑚𝑜𝑙 Equação 6 - Cálculos para os valores de n Tabela 7. Entalpias de neutralização das reações REAÇÃO n (mol) dq |ΔH| (kJ/mol) 0,0515 653,53 53,04 0,0515 780,42 63,34 Os valores de ΔH, no entanto, encontram-se em sua forma modular, não indicando os respectivos sinais. No entanto, tratando-se de duas reações exotérmicas, ambos valores de ΔH são negativos, de modo que e . ∆𝐻 𝐻𝐶𝑙 = − 53, 04 𝑘𝐽/𝑚𝑜𝑙 ∆𝐻 𝐶𝐻 3 𝐶𝑂𝑂𝐻 = − 63, 34 𝑘𝐽/𝑚𝑜𝑙 VI- CONCLUSÃO Ao realizar o presente experimento, foi possível observar o caráter exotérmico das reações de neutralização, tanto de um ácido forte, quanto de um ácido fraco, com uma base forte, por meio do aumento da temperatura do meio, que ocorre devido à energia liberada pela reação de neutralização, como calor. Além de determinar se tratar de uma reação exotérmica, a termodinâmica das reações também foi analisada, ao se obter o calor gerado por mol de produto formado, água, em ambos casos. Esta energia liberada durante a neutralização pode ser compreendida através de uma analogia mecânica com uma mola. Assim como uma mola comprimida armazena energia potencial elástica que é convertida em energia cinética quando liberada, as moléculas dos reagentes (ácido e base) possuem energia potencial química armazenada em suas ligações. Durante a reação de neutralização, ocorre um rearranjo dessas ligações para formar produtos mais estáveis (água e sal), liberando a diferença energética na forma de calor. Em termos termodinâmicos, o calorímetro utilizado no experimento permite quantificar essa transferência energética, medindo a variação de temperatura que representa a conversão da energia potencial química em energia térmica. O calor liberado por mol de água formada indica a magnitude dessa transformação energética para cada sistema ácido-base estudado. Esta analogia ilustra de maneira clara o princípio de conservação de energia aplicado às reações químicas: a energia não é criada nem destruída durante a neutralização, apenas convertida de energia potencial química em energia térmica. Tal compreensão é fundamental para o estudo da termoquímica e dos processos energéticos envolvidos nas transformações da matéria. VII - REFERÊNCIAS ASSUMPÇÃO, M. H. M. T; WOLF, L. D; BONIFÁCIO, V. G; FATIBELLO-FILHO, O. Construção de um Calorímetro de Baixo Custo para a Determinação de Entalpia de Neutralização. Eclética Química, [s. l.], v. 35, n. 2, p. 63-69, 2010. GARLAND, C. W.; NIBLER, J. W.; SHOEMAKER, D. P. Experiments in physical chemistry. 8th ed. Boston: McGraw-Hill Higher Education, 2009. HAWED, HERBERT S. The Dissociation Constant of Acetic Acid from 0 to 60” Centigrade’. Department of Chemistry Ofyale University, [S. l.], p. 652-657, 22 fev. 1933. MAHONEY, D. W., SWEENEY, J. A., DAVENPORT, D. A., & RAMETTE, R. W. (1981). A continuous variation study of heats of neutralization. Journal of Chemical Education, 58(9), 730. ATKINS, Peter; PAULA, Julio. The First Law: Heat transactions. In: ATKINS' PHYSICAL CHEMISTRY. 9. ed. [S. l.: s. n.], 2005. cap. 2, p. 70-78.