Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.

Prévia do material em texto

INTRODUÇÃO - Holocausto Brasileiro 
 
O Holocausto Brasileiro é uma parte obscura da história do país. Embora seja pouco 
conhecido, esse foi um dos mais terríveis capítulos da nossa história. Entre as 
décadas de 1930 e 1980, milhares de homens e mulheres foram detidos, torturados 
e mortos em condições desumanas, muitas vezes sem terem cometido crime algum. 
E tudo isso enquanto as autoridades fecharam os olhos para a situação . 
 
As pessoas que eram enviadas para o hospital, a maioria à força, nem precisavam 
ser diagnosticadas com algum transtorno mental. Mais de 70% dos pacientes não 
sofriam com nenhuma doença do tipo. Eram crianças rejeitadas pelos pais por mau 
comportamento ou algum tipo de deficiência; filhos tidos fora do casamento; 
mulheres estupradas pelo patrão ou algum homem importante na época, com 
dinheiro suficiente para esconder o crime; epiléticos; alcoólatras; homossexuais. 
Tudo era motivo para enviar pessoas ao hospital. Muitos elementos nessa história 
lembram o que acontecia com as vítimas do Nazismo. Um deles é o fato de as 
pessoas serem enviadas para o hospital em um trem de carga, assim como os 
judeus eram levados para os campos de concentração durante a Segunda Guerra. 
O trem que os levava para o Colônia ficou conhecido como “trem de doido”. 
 
A psiquiatria no Brasil teve um papel importante em manter e reforçar as 
desigualdades sociais e raciais. Os hospitais psiquiátricos se proliferaram nas 
décadas de 30 e 40, e acabaram tornando-se campos de concentração para todo 
tipo de gente. A miséria extrema em que viviam muitas famílias brasileiras na época 
tornava qualquer pessoa vulnerável a ser internada em um hospital psiquiátrico. As 
condições de vida nas instituições psiquiátricas eram precárias, e os pacientes eram 
frequentemente vítimas de abusos físicos e psicológicos. 
 
As formas de tratamento em Barbacena eram as mais pesadas e atrozes: choques 
elétricos, cadeiras do dragão, camisa de força e celas solitárias, em condições 
deploráveis de fome, sujeira e falta de itens básicos de conforto ou mesmo água. Há 
registros de muitos casos de pessoas desesperadas ingerindo a própria urina. Eles 
faziam suas necessidades no chão e dormiam em meio a ratos e baratas. Não à 
toa, o momento de maior mortalidade na instituição foram os anos 1960 e 1970, 
 
 
marcados pela Ditadura Militar. Muitos dos pacientes eram levados pela própria 
família (com consciência das condições): eram renegados, mulheres abandonadas 
pelos maridos e parentes com deficiências e transtornos. 
Ao revelar como o estigma da loucura e da psiquiatria foi construído no Brasil, os 
documentários e os livros aumentaram a conscientização e começaram a derrubar 
imagens populares negativas. No documentário “A Casa dos Mortos” retrata o 
dia-a-dia dos hospitais psiquiátricos Barbacena, em Minas Gerais. Esse 
documentário é uma importante fonte para compreender as atrocidades cometidas 
na época. Cenas chocantes de abuso médico e violência narram histórias que 
precisam ser contadas e discutidas. E desde o caso de Barbacena até os dias 
atuais, O livro “Holocauto Brasileiro” e o documentário “A Casa dos Mortos” 
inspiraram muitas denúncias de abuso, dando lugar a leis mais rígidas de proteção 
do paciente. 
CONTEXTO HISTÓRICO E POLÍTICO E SUA RELAÇÃO COM O HOLOCAUSTO 
- Primeira República Brasileira: A Primeira República (1889-1930) foi marcada 
por instabilidade política, com a alternância de governos oligárquicos em 
nível estadual e federal. A política era dominada pelas elites cafeicultoras e 
industriais, deixando as camadas mais pobres da população em situação 
precária, incluindo aqueles com problemas de saúde mental. 
- Era Vargas: O período da Era Vargas, que incluiu o governo de Getúlio 
Vargas de 1930 a 1945, foi marcado por um governo autoritário e populista. 
Nesse contexto, o tratamento de pessoas com problemas mentais não estava 
entre as prioridades do governo, e a situação das instituições psiquiátricas 
continuou precária. 
- Regime Militar: O regime militar brasileiro (1964-1985) também negligenciou 
a questão da saúde mental e, em alguns casos, até agravou a situação dos 
hospitais psiquiátricos. Durante esse período, houve um aumento do 
autoritarismo, o que pode ter contribuído para a perpetuação dos abusos. 
 
 
 
 
Resgate histórico 
- 1930: com a ascensão de Getúlio Vargas ao poder, decretos promulgam leis 
que incentivam a construção de hospitais psiquiátricos. 
- 1970: os asilos em todo o país operam em um ambiente sem escrúpulos, 
sem fiscalização e sobrecarregados. O Hospital Colônia de Barbacena é o 
maior do país. 
- 1980: com a promulgação da Lei da Reforma Psiquiátrica, em 1986, 
propõe-se um novo modelo de assistência à saúde mental, com o foco no 
tratamento comunitário. 
Relação da política com o “Holocausto Brasileiro” 
A relação com a política se dá pela negligência e omissão dos governos e das 
autoridades de saúde ao longo dos anos. As más condições nos hospitais 
psiquiátricos eram conhecidas, mas pouco foi feito para mudar essa realidade. A 
falta de investimento adequado na saúde mental e a ausência de políticas públicas 
efetivas contribuíram para a perpetuação desse cenário de abusos e violações dos 
direitos humanos. 
Somente nas últimas décadas, com a mobilização de movimentos sociais, 
profissionais de saúde, jornalistas e pesquisadores, houve maior conscientização 
sobre a situação desses hospitais e um esforço para reformar o sistema de saúde 
mental no Brasil, visando garantir tratamento adequado e digno para as pessoas 
com problemas mentais. 
CASOS DE VIOLÊNCIAS 
 
- Muitas pacientes foram abusadas sexualmente pelos funcionários dos 
hospitais em troca de favores. 
- Bebês foram retirados das mães internadas e entregues para adoção sem 
autorização das mães. 
- Pacientes em situação grave eram colocados em jaulas sem receber 
cuidados básicos. 
 
 
 
 
CONDIÇÕES DOS HOSPITAIS 
 
- Alguns pacientes passavam anos sem tomar banho, em cubículos infestados 
de ratos e baratas. 
- Cada leito comportava três ou quatro pessoas, que dividiam cobertores e 
banheiros sem nenhuma privacidade. 
- Os pacientes recebiam eletrochoques, lobotomias e outras formas de punição 
em vez de tratamento médico. 
 
TRATAMENTO DADO AOS PACIENTES 
 
- Os pacientes eram tratados como animais e submetidos a práticas cruéis. 
- Em vez de serem tratados, os pacientes eram sedados e deixados em 
cubículos, sem nenhum cuidado ou acompanhamento médico. 
 
RELATOS E DEPOIMENTOS 
 
- “ Eu estava em um estado de choque constante. Às vezes batiam em mim, 
outras vezes me amarravam na cama, outras ainda me jogavam água 
gelada. Eu não sabia o que estava acontecendo”. Holocausto Brasileiro, 
Daniela Arbex. 
- “Eu vi tantas injustiças nesse lugar. Pacientes que eram internados só porque 
a família queria sumir com eles. As pessoas morriam como se fossem 
animais, sem ninguém para defendê-las”. Holocausto Brasileiro, Daniela 
Arbex. 
- “Os deserdados sociais chegavam a Barbacena de vários cantos do brasil. 
eles abarrotavam os vagões de carga de maneira idêntica aos judeus 
levados, durante a segunda guerra mundial, para os campos de 
concentração nazistas de Auschwitz.[...]”. Holocausto Brasileiro, Daniela 
Arbex. 
- "Ao receberem o passaporte para o hospital, os passageiros tinham sua 
humanidade confiscada. [...] eram obrigados a entregar seus pertences, 
mesmo que dispusessem do mínimo, inclusive roupas e sapatos [...] todos 
passavam pelo banho coletivo, muitas vezes gelado. os homens tinham ainda 
 
 
o cabelo raspado de maneira semelhante à dos prisioneiros de guerra" 
Holocausto Brasileiro, Daniela Arbex. 
- “Sem documentos, muitas pacientes do Colônia eram rebatizadas pelos 
funcionários. Perdiam o nome de nascimento, sua história original e sua 
referência, como se tivessem aparecido no mundo sem alguém que as 
parisse.”. HolocaustoBrasileiro, Daniela Arbex. 
- "Estou no hospício, ou melhor, em várias dependências dele, desde o dia 25 
do mês passado. estive no pavilhão de observações, que é a pior etapa de 
quem, como eu, entra para aqui pelas mãos da polícia. 
Tiram-nos a roupa que trazemos e dão-nos uma outra, só capaz de cobrir a 
nudez, e nem chinelos ou tamancos nos dão. [...] deram-me uma caneca de 
mate e, logo em seguida, ainda dia claro, atiraram-me sobre um colchão de 
capim com uma manta pobre, muito conhecida de toda a nossa pobreza e 
miséria.". Diário do Hospício - vol.2, Lima Barreto. 
 
LUTA ANTIMANICOMIAL 
 
A partir dos anos 80 a reforma psiquiátrica ganhou força, houve um longo e árduo 
caminho de muitas e muitos sujeitos de luta, que iam desde psicólogos e 
psiquiatras, figuras emblemáticas como Michel Foucault, até funcionários ou 
moradores locais. 
 
O processo de questionamento e de ataque à essas instituições não foi aceito de 
maneira rápida, entretanto. As torturas e as exclusões eram parte da normalidade 
doentia da sociedade que, para manter os privilégios dos grupos poderosos, 
acreditava que era necessário que aquela instituição permanecesse, ou quando 
haviam exposições sobre as condições perversas daquele espaço, estas não 
traziam uma mudança efetiva rápida. 
 
“A sucursal do inferno”, como os repórteres da Revista Cruzeiro batizaram a 
reportagem histórica sobre o Colônia, contou com várias imagens cruéis e 
perturbadoras, o que fez com que o país se comovesse. A classe política fez 
bastante barulho, os governantes da época fizeram promessas públicas vazias pelo 
fim da desumanidade dos manicômios, porém quando o calor da notícia abrandou, 
 
 
tudo continuou exatamente igual. A defesa em favor da desospitalização cresceu 
com o tempo. Argumentava-se, então, que a maioria dos pacientes poderiam ser 
tratados em serviços extramuros que, além de serem mais eficazes na assistência, 
a medida evitaria a segregação que é tão cruel. 
 
Com o lema “por uma sociedade sem manicômios”, diferentes categorias 
profissionais, associações de usuários e familiares, instituições acadêmicas, 
representações políticas e outros segmentos da sociedade questionaram o modelo 
centrado de internações em hospitais psiquiátricos que excluem e segregam os 
pacientes. Denunciaram, portanto, as graves violações aos direitos das pessoas 
com transtornos mentais e passaram a propor a reorganização do modelo de saúde 
mental a partir de serviços abertos, comunitários e territorializados, buscando a 
garantia da cidadania. 
 
O Movimento da Reforma Psiquiátrica resultou na aprovação da Lei 10.216/2001, 
nomeada “Lei Paulo Delgado”, que aborda a proteção dos direitos das pessoas com 
transtornos mentais e redireciona o modelo de assistência de uma instituição 
encarceradora para um modelo social e aberto. Este foi um grande marco na luta 
antimanicomial, pois estabelece diretamente a responsabilidade do Estado no 
desenvolvimento da política de saúde mental no Brasil, através do fechamento de 
hospitais psiquiátricos, da abertura de novos serviços comunitários e participação 
social no acompanhamento de sua implementação. Mas isso não significa que os 
problemas não persistem. 
 
Em 2004, uma inspeção nacional realizada nos hospitais psiquiátricos brasileiros 
encontrou condições subumanas em vinte e oito unidades. Nessas unidades 
investigadas foram encontradas celas fortes, muitos cadeados, instrumentos de 
contenção, além de registros de mortes por suicídio, afogamento, agressões ou a 
constatação de que para muitos óbitos não houve qualquer interesse em definir as 
causas, assim como na época do Holocausto Brasileiro. As condições da saúde 
mental no Brasil evoluíram, com certeza, a partir das conquistas do Movimento, 
porém a Luta Antimanicomial ainda não parou. 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS: 
 
- https://observatorio3setor.org.br/noticias/holocausto-brasileiro-tortura-fome-e-
60-mil-mortes-em-hospicio/ 
- https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/almanaque/horror-prisao-e-tort
ura-5-fatos-tenebrosos-sobre-o-manicomio-de-barbacena.phtml 
- A Casa dos Mortos (1997), de Cláudio Kahns. 
- Holocausto Brasileiro (2003), Daniela Arbex. 
- Diário do Hospício - vol.2, Lima Barreto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
https://observatorio3setor.org.br/noticias/holocausto-brasileiro-tortura-fome-e-60-mil-mortes-em-hospicio/
https://observatorio3setor.org.br/noticias/holocausto-brasileiro-tortura-fome-e-60-mil-mortes-em-hospicio/
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/almanaque/horror-prisao-e-tortura-5-fatos-tenebrosos-sobre-o-manicomio-de-barbacena.phtml
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/almanaque/horror-prisao-e-tortura-5-fatos-tenebrosos-sobre-o-manicomio-de-barbacena.phtml
 
CONCLUSÃO GERAL 
 
Em conclusão, o "Holocausto Brasileiro" representa um capítulo trágico e silenciado 
da história brasileira. O Hospital Colônia de Barbacena revelou a triste realidade de 
uma instituição que negligenciou e abusou de milhares de pacientes, tratando-os de 
maneira desumana e sujeitando-os a condições insalubres. O sofrimento e a morte 
dessas pessoas são marcas indeléveis que devem servir como um lembrete 
inquietante dos horrores que podem ser cometidos em nome da exclusão e 
intolerância. 
 
A história do Holocausto Brasileiro nos convoca a refletir sobre as consequências 
nefastas do preconceito, da estigmatização e da indiferença. Devemos confrontar 
essas feridas do passado e enfrentar as perguntas difíceis sobre como permitimos 
que tais atrocidades acontecessem e como podemos garantir que elas nunca se 
repitam. É nosso dever honrar a memória das vítimas, dando-lhes voz e lembrando 
sua humanidade, para que suas histórias não sejam esquecidas. Além disso, 
devemos trabalhar incessantemente para promover uma sociedade mais inclusiva, 
justa e respeitosa, onde todos sejam tratados com dignidade, independentemente 
de sua condição física, mental, social ou étnica. 
 
O Holocausto Brasileiro deve permanecer como um alerta para a necessidade de 
valorizar a empatia, o respeito e o cuidado pelos outros, rejeitando todas as formas 
de discriminação e assegurando que os direitos humanos sejam protegidos e 
promovidos em todas as instâncias. Somente através do conhecimento, da 
conscientização e da ação coletiva podemos trabalhar para criar um mundo onde 
nenhum ser humano seja submetido a tais atrocidades, onde cada vida seja 
valorizada e protegida, e onde a história sombria do "Holocausto Brasileiro" seja um 
lembrete constante de nossas responsabilidades e compromisso com a justiça e a 
igualdade.

Mais conteúdos dessa disciplina