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Colecção MARE NOSTRUM Edições C olibri "O Discurso é um senhor soberano que, com um corpo diminuto e quase imper ceptível, leva a cabo acções divinas. Na verdade, ele tanto pode deter o medo como afastar a dor, provocar a alegria e intensificar a compaixão". Este extracto do Elogio de Helena ilustra bem a ideologia sofistica de Górgias, um grego originário da Sicília que, por toda a Grécia do século V a.C., advogou uma retórica liberta da moral. Não pretendia ser mestre de virtu de. “O que é preciso é torná-los hábeis a falar11, defendia, na certeza de que residia aí a chave do sucesso. Conscientes do poder da Palavra, o Logos, em tempos de democracia, não foram poucos os aristo cratas que lhe confiaram os filhos, pagan do-lhe bem, para que ele os amestrasse nessa arte tão útil. Tornou-se assim um dos homens mais ricos. Teve a combatê- -lo, bem como aos demais sofistas, a dia- léctica do genial Platão, que lhe dedicou um dos seus diálogos. Os ventos do fun- dame/italismo platônico serão, certamente, os responsáveis pelo estado fragmentário em que os escritos destes homens che garam até nós. Apesar disso, estes TES TEMUNHOS E FRAGMENTOS bastarão para traçar o perfil do siciliano Górgias, professor da palavra, mestre da improvi sação, advogado duma retórica cujo dis curso terrível, arremessado contra os adversários, qual cabeça de Górgona, os deixaria “mudos como um penedo". Colecção M ARE NOSTRUM (CLÁSSICOS GREGOS E LATINOS) Direcção de: Prof. Doutor Victor Jabouille Série Clássicos: 1. Hipólito, Eurípides, tradução do Grego, introdução e notas de Frederico Lourenço Série Estudos: 1. Quo Verget Furor? Aspectos estóicos na Phaedra de Séneca de Maria Cristina Pimentel Edições Colibrí Telefone/Fax 796 40 38 Apartado 50488 1709 Lisboa Codex Alex Oliveira Typewritten text DIGITALIZADO DA CÓPIA POR ALEX OLIVEIRA PARA LEITURA DO CURSO DE FILOSOFIA DA UFPB GÓRGIAS (sofista grego, séc. V a.C.) TESTEMUNHOS E FRAGMENTOS Tradução, comentário e notas de: Manuel José de Sousa Barbosa Inês Luisa de Ornellas e Castro A Edições Colibri Título: GÓRGIAS. TESTEMUNHOS E FRAGMENTOS Autor: Górgias Tradução: Manuel Barbosa Inês de Ornellas e Castro Editor Fernando Mão de Ferro Capa: Ricardo Moita Composição e Encadernação: C olib ri- Artes Gráficas Depósito Legal ns 68171/93 ISBN: 972-8048-47-9 Acabou de se imprimir em Outubro de 1993 ÍNDICE DAS MATÉRIAS Notas prévias ' 7 Prefácio 9 I - TRADUÇÃO A - Testemunhos 11 B - Fragmentos 27 - Tratado do Nào-ser ou da Natureza 29 - Elogio de Helena 40 - Defesa de Palamedes 47 II-ANEXOS 67 1. Referências no texto de DIELS-KRANZ 69 2. Glossário dos nomes próprios 75 3. Bibliografia geral 83 III - BIBLIOGRAFIA UTILIZADA 99 NOTAS PRÉVIAS: 1. O conteúdo deste volume é o resultado de um trabalho iniciado no Seminário "A problemática dos gêneros literários entre os antigos Gregos e Romanos", do Mestrado em Literaturas Clássicas, da Faculdade de Letras de Lisboa, no ano lectivo de 1986-1987. 2. O texto grego que acompanha a tradução é o da edição crítica de DIELS-KRANZ', com excepção de duas passagens do Elogio de Helena, devidamente assinaladas. Elas representam uma opção por nós assumida em ordem a uma tradução mais convincente. 3. Procurámos, no texto traduzido, comunicar não apenas as ideias mas também o estilo de Górgias, o que poderá ter resultado, por vezes, num estilo afectado. Tal facto deverá ser compreendido enquanto fruto duma preocupação didáctica: a de transmitir, duma forma mais eficaz, a concepção do discurso protagonizada por Górgias. 4. O texto grego da edição DIELS-KRANZ foi aliviado de um grande número de referências remissivas. Destas, umas surgem colocadas entre parênteses rectos, quer no seio do texto traduzido, quer nas notas de rodapé; outras foram simplesmente excluídas, por pensarmos terem pouco interesse para o leitor. Tivemos, porém, o cuidado de as recolher a todas, inventariando-as alfabeticamente por autores e textos. As referências a edições e revistas foram, além disso, desenvolvidas. Tudo isto se poderá verificar no capítulo "REFERÊNCIAS NO TEXTO DE DIELS-KRANZ". 1 Die Fragmente der Vorsokratiker Griechisch und Deutsch, von Hermann DIELS, Auflage herausgegeben von Walther KRANZ, Berlin, Weidmannsche Verlags- buchhandlung, 1956, II vol., pp. 271-307. 8 Górgias, Testemunhos e Fragmentos 5. 0 "GLOSSÁRIO DE NOMES PRÓPRIOS" apresenta uma notícia breve mas adequada, pensamos, sobre os numerosos antropónimos, e mesmo mitónimos, referidos nos TESTEMUNHOS E FRAGMENTOS, pretendendo funcionar como um auxiliar de leitura. 6. A "BIBLIOGRAFIA GERAL" ilustra o interesse que Górgias tem despertado entre os estudiosos da cultura clássica, designadamente no que diz respeito à retórica, e poderá, simultaneamente, contribuir para novos avanços da pesquisa. 7. Apraz-nos registar um agradecimento público ao Prof.-Doutor Rosado Fernandes, pela forma como nos soube sempre motivar para a prossecução desta tarefa. Igual agradecimento é devido ao Prof.- -Doutor Manuel Alexandre Júnior, pela revisão feita à tradução. 8. Embora estejamos conscientes dos eventuais defeitos que subsistirão num trabalho com estas características, é com gosto que o expomos à consideração e às críticas do público. Manuel José de Sousa Barbosa Inês de Castro e Ornellas PREFÁCIO É esta edição o resultado do trabalho realizado, há já alguns anos, num curso de Mestrado da Faculdade de Letras de Lisboa. Estudou-se Górgias e, com ele, alguns aspectos da vida e obrk dos sofistas atenienses, por se julgar que, na escola portuguesa, eram sobejamente desconhecidos esses homens de primeira qualidade e dos poucos que na Grécia não consideravam o ser humano como o produto de uma escala degressiva das idades do mundo, mas que, pelo contrário, julgavam ser possível alguma forma de progresso. Era a sua imagem sobretudo veiculada pela obra platônica que, por meio das intervenções da maiêutica socrática, os conseguia apresentar como exímios na dialética, mas eivados de contradições, capazes na pedagogia, mas sem ética que a justificasse, uma vez que cobravam pelas lições que aos seus discípulos ministravam. Admitindo sem grande dificuldade que a crítica platônica toca, com frequência, em pontos sensíveis da actuação sofistica, nunca podemos aceitar que o fundamentalismo, revelado pelo grande filósofo, bastasse só por si para nos impor a ideia negativa que das suas páginas se colhe. A repugnância com que Platão acolhia a palavra escrita, desde que fosse utilizada para comunicar ensinamentos a discípulos, que para mais pagavam as lições; a recusa da actividade lucrativa e a insinua ção de que esta era desprezível, bem como a actividade de todo e qualquer mechanopoiós, engenheiro, se quisermos assim traduzir, levou a escolher um dos seus alvos mais célebres como tema do tal curso. Para mais estava esse alvo, na tradição siciliana da teorização literária, ligado certamente à prática forense, acabando Górgias, o visado na crítica platônica, por deixar nome imortal dentro da litera tura e pensamento gregos. As figuras gorgiânicas e a racionalização 10 Górgias, Testemunhos e Fragmentos do ornato, a taxinomia da chamada técnica retórica, o enriquecimento que a consc.encialização do ornato acabou por ter na técnica da comumcaçao, ou, se quisermos, da persuasão, foram outras tantas [ T o S^ : T kam à eSC° 'ha ^ GÓrSÍaS’ S@mpre na esPerança de que o trabalho em comum reaüzado na aula, viesse a consubstan- ciar-se numa edição para português deste autor tão conhecido de nome, mas tao pouco de seus escritos. Para mais também acrescia o ivo de dar a conhecer a sua intervenção paradoxal e, até diria ligeiramente cmica,pela forma antitética do seu pensamento nos fragmentos ^ 9SCreVeU 6 de que che9aram a nós alguns Há que agradecer a Manuel Barbosa o ter conseguido verter para português escorreito, com a ajuda de Inês de Castro e Ornellas o grego de Górgias, bem como comentar o texto por forma a apro- xima-lo do leitor português. Espero que este venha a aproveitar desta edição, em resultado de muito trabalho, muita discussão, bem como de aturada leitura. R. M. Rosado Fernandes - TRADUÇÃO TESTEMUNHOS 12 A. 1. PHILOSTR. V. S. 19, Iss. Xitce i^ía Fopyíav èv Aeovrívoiç fjveyKev, èç Ô àvc«|>ép£iv tí7Ó|1£6cí xfjv 'omv ao!j>wyrâv téxvrjv ákmep èç itaxépa- ei yàp xòv AiaxóÀov èv&up.T|0eÍT|p£V, óç m fk k à xíji xpayaiôíai Çuvepátera èa0f|xí te a-üxrjv KotraaKEDáoaç Kai ÒKpípavxi í>n|/TiA®t Kai fjpóov eíôecnv àyyéÀoiç te Kai èçayyéÀoiç iccxi oíç èíu cncrjvfsç te Kai twtò cncTjvfsç XPH Jtpàxxeiv, xomo áv eíri Kai ó r. xoíç ôjHKÉ%voiç. (2) ôp^fsç xs yàp xotç ao<jnoTaíç fjpí;e Kai rcapaôoçoÀoyí aç Kai Kvevjxatoç Kai xoí> to \m y a k a ji£yá5uaç épjrnveÚEiv, ánoaráoEÓv xe Kai repoojloÀôv, ím))’ êv ó Àóyoç fjôífflv éawoíi yíyvexai Kai aopapáxEpoç, Jt£pi£j3ódÀ£XO ôè Kai JKroixucà òvó(i.axa twtèp KÓ0|Aa\) Kai o£{i,vórt]xoç. (3) óç |ièv oSv Kai penara àjteaxeôíaÇev, Eípryiaí p.oi m xà áp%àç xoí> Xáyav, ôiate^Beiç ôè ’A6f)vr|cn.v fjSr| yripáaKov ei |ièv imò x<ôv mXkôv èGaunàaôri, áureo fkrôna, ó ôè, oíjxai, Kai xawç èXÃoyijiíDxáxauç ávr)pxf)aaxo, Kpixíav (ièv Kai ’AÁKi(Jiá&nv véco òvxe, 0oukdSíôt|v ôè Kai IlepnAéa f|5r| ynpácncovxe. Kai ’Ayá0fl>v ôè ó xf|ç xpayoiôíaç tkíutttiç, ôv fj KGjjioiôí a aotjíóv xe Kai KaÀÀiejtfj otôe, nóX laxoX ) xâv íáufküv yopyiáÇei. (4) è(ucpéma)V ôè Kai xaiç xôv 'eàãtjvídv raxvriyópeOT xòv nèv Xóyov xòv ITu0ikòv ánò xao B©ncrô fücnoev, è(|)’ 06 Kai xpootríjç áv8XÉ9n. èv xrâi xoí) lluOíou iepói, ó ôè XjAa)|í.jukòç Xóyoç wcèp xm> (isyíoxou améh èitoA,ixE'ú&n- axacnáÇoixray yàp xnv 'EÀXáôa ôpôv óp,ovoíaç ^■óp.ptwÀoç awoiç èyévexo xpéicov èm xoòç fkxpPápauç Kai Tteí0a>v 1. FILÓSTRATO, Vida dos Sofistas I, 9, 1ss. A Sicília deu ao mundo, em Leontinos, Górgias, a quem se deve atribuir, julgamos nós, a arte dos sofistas, como se fosse o seu pai. Na verdade, se em relação a Ésquilo pensamos' que ele acrescentou muita coisa à tragédia, dotando-a de vestuário, do alto coturnovde personagens heróicas, de mensageiros de fora e de dentro, do que se deve representar dentro ou fora de cena, algo de idêntico representará Górgias para os seus colegas de profissão. 2. Ele liderou o movi mento dos sofistas pela sua maneira assombrosa de falar, pela sua inspiração e pela interpretação grandiosa de grandiosos assuntos, pelas suas interrupções bruscas e pelas ausências de transição, que tornam o discurso mais agradável e mais incisivo, e ornamentou-o, além disso, com nomes poéticos, para lhe conferir beleza e gravi dade. 3. Já foi dito, no início do meu discurso [A 1a], como ele improvisava igualmente com grande facilidade; e se muitos o admi raram quando, já em idade avançada, discursava em Atenas, pela minha parte isso nada me admira, já que ele teve a seu cargo os homens mais ilustres: Crícias e Alcibíades, quando jovens, e Tucí- dides e Péricles, já idosos. Também Agatão, o poeta trágico, que a comédia vê como um sábio e de linguagem elegante, gorgianiza muitas vezes nos seus jambos. 4. Notabilizando-se nas Panegíriasz dos Gregos, ele pronunciou o Discurso Pítico [B 9] em cima do pedestal onde se erigiu uma estátua de ouro no santuário de Apoio Pítico. Por outro lado, o seu Discurso Olímpico [B 7. 8a] foi uma tomada de posição sobre um assunto da maior importância política. Na verdade, vendo a Grécia dividida entre si, ele tornou-se para ela um conselheiro da concórdia, virando-a contra os Bárbaros e con vencendo-a a considerar como troféu da luta armada, não as suas 1 Calçado usado pelos actores trágicos, para se engrandecerem nos papéis das personagens que encarnavam. 2 Festas que congregavam Gregos vindos de todo o lado. Olímpia era o local privile giado destas festividades. Aí, em torno do recinto sagrado de Zeus, muitos escritores aproveitavam para ler as suas últimas obras. 13 a& ka Tcoieiotoi x&v ò iúm v |xfi x àç àU f|A ® v jcóXeiç, ü t ó rifa r â v p ap p áp av X<ópoív. (5) ó ôè EmTci<j)ioç, òv ôifjÀ0ev AÔrjvrpjiv, EiprjTrai jièv èsn to íç èic 'dov m U im v jceooáknv oftç ’A e t|v a ío i & i}icaíai Epv èita ívo iç è ta j ía v , o« j)ím ôè ím e p P a U o w ? ii oi>yíffim tr jrapoÇÍMov te y à p uri>ç ’A&nvaí©uç èm MfjSauç te K ai I le p a a ç icc/i to v a t/ro v vouv t ô i OA.i>jiícikôi òiy®viÇó^6voç íwcèp ójíovoíoíç pèv Tfjç rcpoç to u ç EXA.T)vaç oüSev ÔifjMtev, èiKtóff jtpòç 'A&rjvaícuç fjv àp%f{ç è p ô v ta ç , fjv Gii)K fjv K T rjcao to i p.fi t o Spacrrripiov aípoujiévtw ç, èv5iÉTpn(/e ôè TOÍÇ r â v MnSiKÔv TpomítDV èrcaívoiç, èvÔeiKVÚpsvoç a ira ríç , õ u ’i à piv ... ep t|vouç\ (6) te y e x a i ôè ó r . èç òkixò K ai ÉKotTÒv èà áoaç e th |xf) KaTa^DÔiívai t ò a ô | i a m ò to ú ynp®Ç, á M ’ àp rto ç tc a ra p tâ v a i r a i Tàç a to e n a e iç f|pôv. Ia. PHILOSTR. V. s. 11 fjp^ e ôè TÍjç jjèv ápxaiorépaç ao^ ioxiKfiç r. ó àeovtívoç èv ©ETxaÀoíç... a%e§icn) te Àóyau r. ápÇai ôokeí • TKXpeÀOàv yàp owoç èç tò ’A9nvaí(ov Ôéaxpov èeáppnoEv eítceív ’Jcpo|JáM£TE’ Kai tò KivôúveDna toüto Jtpôxoç àv£(j>0£yçaTo, EVÔEiKVÒfJLEVoç ôfptau rávra (ièv Eiôévai, irepi raxvróç ô’âv eíjüeív è<|>t£Íç mi Kaipôt. 2. SUID. ro p y ía ç X a p p a v ú S o u Àeovtívoç, pnrop , na0rrrnç E[X7CeÔokÀ£ouç, StÔácncaÀoç liáX o u ÂKpayavTÍvou K ai nepucA iauç Kai looK páTauç K ai ’A lK iôá)xavroç xoò EÀaÍTau, ôç a fra rô K ai t t |v o^oÀf|v ôiEÔÉÇaTO- àôeA4>òç ôè fjv tcw iaTpoíi HpoôÍKau. nopífrópioç Ôè atròv ètcí rf|ç rc òA,Dp.7tiáôoç TÍÔncnv àXkà xpn voeív TtpEopúrepov arnòv EÍvai. Testemunhos 13 próprias cidades, mas sim o território dos Bárbaros. 5. A Oração Fúnebre [B 6], por ele pronunciada em Atenas, foi dedicada aos que cairam no campo de batalha, em cuja honra os Atenienses, mediante uma subscrição pública, organizaram solenes exéquias, e está redigida com uma sabedoria extraordinária. Na verdade, virando os Atenienses contra os Medos e os Persas e desenvolvendo a mesma linha de pensamento do Discurso Olímpico, ele não disse palavra sobre a concórdia entre os Gregos, pois se encontrava perante Atenienses ciosos duma supremacia que não se podia conquistar sem eles tomarem medidas, mas cingiu-se aos elogios sobre os troféus que celebravam a vitória sobre os Persas, fazendo-lhes ver que "as vitórias... cantos, fúnebres" [B 5b], 6. Dizem que Górgias chegou aos cento e oito anos, sem ter o corpo afectado pela velhice, mas gozando até ao fim duma saúde equilibrada, no perfeito domínio das suas faculdades. 1a. - FILÓSTRATO, Vida dos Sofistas I, 1 Górgias de Leontinos foi, na Tessália, o fundador da antiga [sofistica]... Górgias [parece] ter sido o primeiro a falar de improviso. Na verdade, tendo-se apresen tado no teatro de Atenas, atreveu-se a dizer "proponde-me assunto”, e foi o primeiro a desempenhar em voz alta esta árdua tarefa, mostrando assim possuir um saber universal, ao permitir-se falar de tudo com oportunidade. 2. SUDA Górgias, filho de Carmântidas de Leontinos, orador, discípulo de Empédocles, mestre de Polo de Agrigento, de Péricles, de Isócrates e de Alcidamante de Eleia, que lhe herdou também a escola. Era irmão do médico Herodico [A 2a], Porfírio situa-o na octogésima Olimpíada [460-457 a.C.], mas é de pensar que seria mais velho. 14 oírajç jipSxoç xâi pnxopiKÓh eíSei -xfjç raxiSeíaç ôúvajxív te <|>pa<raKTi|V ra i té%vt,v èSfflKE, xporniç tc Kai ji£xa<|>opaiç Kai áÀÀrjyopíaiç icoà im a X k a ja iç m i Kataxprpecn Kai mepPáoEOT Kai âvaôutíuóoecn Kai èjtavaWn|f£(n Kaiám>axpo<í>atç Kai JtapuiéaEcav èj£pri<TaxQ. empurre ôè xôv (xa&rjrov EKacsxov ixvâç p. èpíffl.òè évr\ p8, Kai crovEypáv|/axo msKká. 2a. PLATO Gorg. 448B ei èxÚYxave Topyíaç èjnaxnnojv ôv xqç xéxvrjç ■fpnep ó àÔeÂ/fiòç aírcoíi 'HpóSucoç, xí àv amòv ôvofiáÇojiev ôiKawoç; 3. DIOG. VIII 58. 59 Empedokles K ai iaxpòç rjv K ai pTycojp àp icxoç. F o p y íav youv xòv Aeovtívov aírcoíi y e v é o ta t iiaôrjtrfv, á v ô p a ■ÒTOpé^ovia èv pt|xòpiicrii K ai Téxvnv ájtoÀ£Àoucóxa... to m ó v cfrricnv ó Xáxupoç Àéysiv, ê ç a w ò ç n a p e Í T l X8)l 'EfI7T€ÔOK£l y o T ftE ijo v T i. 4. DIOD. XII 53, lff. èiti.Ôè xoOTfflv K axà xrçv XtKeXíav A eovrivoi, Xa^ta5é(i)V |j,èv õvxeç õotoikoi, croyYEveíç ôè 'A&nvaíov èxu%ov xwtò E upaK oaíov Tto^EjiaúnEVOf toeÇouevoi ôè tou )roXé(i(Di K ai ô ià Tr)v iimEpoxfiv xâv XupaKocríov kivÔ w eúovxeç á M jv a i K axà Kpáxoç èçéTC|i\|/av Jipéafteiç eiç xàç ’A&nvaç àçio ívxE ç xòv ô fp o v Pan& naai xrçv xaxíaxriv K ai xpv tíóXiv é av zô v èK xôv KivSwrav pw acrtkxi. (2) fjv 6è x©v ájteaxaA,|xév(ov àpxutpEapEiyrriç r . ó pT|xo>p, ôeivóxTyn Xáyov tcoXíi npoéx®v xôv Ka0’ éawxóv. o m o ç K ai xé%vaç pnxopucàç itpôxoç èçetipe K ai K axà xrçv cjocfuareíav xoooCxo xouç áXXovç ■vwcEpépaÀev, óctte n iatlòv Axxjipáveiv raxpà xôv jia&nxôv n v â ç éKaxóv. (3) o w o ç aõ v K axavrficiaç eiç x àç A&r)vaç K ai Tcapa^Oeiç eiç xòv ô fp o v ôteAi%&ri xotç Testemunhos 14 Foi ele o primeiro a dar ao aspecto retórico da cultura força e razão persuasivas, mediante a utilização de tropos, metáforas, ale gorias, hipálages, catacreses, hipérbatos, anadiploses, epanalepses, apóstrofes e párisos3. Por cada aluno cobrava cem minas. Viveu cento e nove anos e deixou muita coisa escrita. 2a. PLATÃO, Górgias 448B Se, por acaso, Górgias se dedicasse à arte que exerce seu irmão Herodico, que nome se lhe deveria atribuir?'* 3. DIÓGENES LAÉRCIO, VIII, 58, 59 [Empédocles] era não só , médico mas também um excelente orador. Górgias, pelo menos, foi/ seu aluno, um homem superdotado em retórica, de que nos deixou/ um manual técnico... Sátiro conta que Górgias lhe disse ter estado presente enquanto Empédocles fazia sortilégios. 4. DIODORO DA SICÍLIA, XII, 53, 1ss. Nesta altura=, os habitan tes de Leontinos estabelecidos na Sicília, mas originários de Cálcis e da mesma raça que os Atenienses, viram-se envolvidos na guerra desencadeada pelos Siracusanos. Pressionados pela guerra e cor rendo o risco, dada a superioridade dos Siracusanos, de serem tomados pela força, enviaram embaixadores a Atenas pedindo ao povo que viesse em seu socorro o mais rapidamente possível e lhes livrasse a cidade dos perigos que a ameaçavam. 2. Górgias, o retor, chefiava a embaixada, sobressaindo em relação aos demais pelo poder do seu discurso. Foi ele também o primeiro que inventou a arte retórica, e ultrapassou de tal modo todos os outros pela sua perfeição sofistica, que recebia dos seus alunos um salário de cem minas. 3. Descendo a Atenas e tendo-se apresentado à Assembleia, ele 3 Para a definição de tropos e figuras de estilo, cf. H. LAUSBERG, Elementos de Retórica Literária, trad. de R. M. ROSADO FERNANDES, 2a ed., Lisboa, Fund. Calouste Gulbenkian, 1972. 4 Tradução de Manuel de Oliveira PULOUÉRIO (Cf. PLATÃO, Górgias. O Banquete. Fedro. Verbo, Lisboa. S. Paulo, 1963). 5 [Arcontado de Eucles, em 427 a. C.]. 15 ’A6r)vaíoiç sepi tt|ç m ^ a x ía ç Kai m i ÇevíÇovxi 1% ÀéÇeaç è ç é ^ ç e xouç 'AOnvaíouç õvxaç eixjmsíç Kai ^oÀóyouç. (4) jcpâxoç Yàp èxprfcaxo xoiç Ãéçsfflç o^rjjianoijoiç jcepvrroxÉ potç m i rqi ^ XoxExvíai Sia^pownv, àvneÉTOiç Kai iooicéAxjiç ícai Jtapíaoiç Kai ó^ oiQTeÃeÚTQiç Kai timv étápoiç xoiowoiç, ã tótb nèv ôm TÒ Çévov rnç KaTacTiCEwnç àjtoSoxfíç TIÇIOÚTO, vüv ôè roptepyíav e%eiv ôokeí kkí (JiaívExai KaTayéJuxara Ttteovájaç Kai wmaKÓpmç, -ndé^va. téXoç ôè Tteíaaq tíxòç AÉhyvawuç cru^a%f|a;at tqíç Aeovtívoiç omsç pèv ea-UfiaoGeiç èv Tatç ’A9f|vaiç èici xé/vni priropiKÍii rr\v eiç Aeovrívauç èmvoSov èranrjoaxo. DIONYS. d. Lys. 3 ôri^oí ôè tcwto I . te ó Aeovtívoç èv jtoJUuriç jcávw ())opnKf|v xe Kai mepayKov rcouôv ttjv KaTacrKeufjv Kai ’ov rcóppo) SieupáuPcov TIVÔV’ [PLATO Phaedr. 238D] êvia (j^ónevoç, Kai xôv ÈKeívm) owowiaoTXDV oí Jtepi Aiku|j.viov Kai nôÀov. f|\|/aTo Sè Kai xrâv ’A6r|vr|ci pT|rópo)v fi JtotTiTiKfi Te K ai TpojciKTi (|)páoriç, é ç piv Tí|iaióç (j^ai [fr. 95 f h g I 216] ropytou ápçavtoç í |vík’ ’AÔr|vaÇe jcpeopeíxov KaxEJtWiÇaTo xaòç àKoúovxaç ttji Ôrpnyopíai, ®ç Sè xcdr|0èç e%ei, tò Kai JtaXaiórepov aieí ti 0at>naÇopivr|. 5. XENOPH. An. II 6, 16 ss. npóÇevoç ôè óBoióxioç eufròç pèv peipáictov ôv è7KÔúp£i yevéoGai àviip xà jieyaka rcpaxxeiv ÍKavòç Kai Sià xaúrnv èmGuníav êSoKe Fopyíai àpyópiov xrax Aeovxívoi. Testemunhos 15 mesmo falou aos Atenienses sobre a aliança e impressionou, pela novidade do estilo, os Atenienses que eram muito dotados e afeiçoados às letras6. Ele foi, com efeito, o primeiro a usar de figuras de estilo cheias ide graciosidade que se distinguiam pela habilidade artística, como as antíteses, os isocolos, os párisos, os homeoteleu- tos e outras do mesmo gênero?, que na altura mereceram aprovação pela novidade da construção sintáctica, mas que hoje parecem representar um esforço supérfluo, surgindo como coisas ridículas de que se abusa repetidamente até à saciedade. 5. Após ter convencido os Atenienses a socorrerem os habitantes de Leontinos e ter sido admirado em Atenas pela sua arte retórica, regressou a Leontinos. [Segundo Timeup, Górgias de Leontinos mostra isso em inúmeras ocasiões, tornando o seu estilo oratório muito pesado e empolado, e utilizando algumas expressões "que não estão longe de certos diti- rambos"^ e dos seus discípulos do círculo de Licínio e Pólo. A lin guagem poética e figurada impressionou os oradores atenienses quando, como diz Timeu10, Górgias, ao conduzir as negociações à frente da sua embaixada, em Atenas, se destacou, deixando estupe factos os ouvintes com o discurso que fez ao povo, como também é verdade que, de certo modo, antigamente tal linguagem era sempre admirada” . 5. XENOFONTE, Anábase II 6, 16 ss. Próxeno-o-Beócio desejou desde jovem tornar-se um homem capaz de realizar grandes feitos e, movido por esse desejo, ofereceu dinheiro a Górgias, o Leontino. 6 Traduzimos deste modo o gr. <|>i.X<W.oyoç Filólogo será o homem apaixonado pela cultura, o que ama os discursos e se entrega devotadamente à cultura (cf. JAEGGER, Werner, Paideia, Lisboa, Aster, 1979, p. XXIII). 7 Cf. n. 3. 8 [Cfr. DIONÍSIO DE HALICARNASSO, Sobre Lisias, 3] 9 [PLATÃO, Fedro, 238 D], Uma alusão do próprio Górgias a este tipo de discurso poético surge no Elogio de Helena, §§9-10. 10 [fr. 95 FHG I 216], / 11 [Cfr. Proleg. Syll. Rhet. Gr. XIV 27, 11 ss. Rabe], 16 5a. ARISTOPH. Aves 1694 écra §’ èv # a v a io i jcpòç xrp. K&£\jrúêprai íravoüpyov èy- yAíDTToyaoTÓpíDV yévoç, OÍ 0EpíÇoWtV TE Kai CREEÍ- pouai Kai TpuyScn xaiç jMyv- ta ia i cjUKctÇo\xjí te- PápPapoi 8’ eiaiv yévoç Topyíai te Kai O ilm to i, Kám xôv èyyÀíiixtoyaaxó - pa>v ÈKeívov xóv <&tA.íra)V raxvraxoi) Tf|ç 'Amicnç f) jMivza %topiç TÉjiverai. ~ VespA2Q Tipáictaiç Kai KÉvrp’ èxaucnv. c% ópâiç a ôécrnna; - olç y’ àm&Àecav <&ítomov èv ôíktii tòv ropylau. 6. [PLUT.] Vit. X or. p. 832F yéyove ôè KaTà z à XlepcFiKà K ai F o p y íav tò v a«t>i0Tfiv, ôXíywi veó tepoç aiirayu. 7. PAUS. VI 17, 7ss. Kai tòv A eovuvov T opy íav tóeiv é o t iv à v a M v a i ôè tt)v eiKÓva èç ’05u)n.mav <|)TfOTV EíjioA-Jtoç áreóyovoç Tpúoç AtiiKpáTouç oDVoiKiíoavToç àSeX4rf|i xf|i ropyíou- (8) outoç ó T . iraxpòç p iv f|v Xap(j.avúôau, Myexai Ôè àvaoóoaoG ai (ieAíttiv Àóymv rcpêToç fpeA,rinivnv te èç áicav Kai èç MiOnv òÂáyou ôeív ípcaucav àv6pájto iç . eòôoKinfjoai ôèFopyíav Àáyfflv èveKa ev te JtavnyúpEi t% t>A.upn,Knt (Jkxcti Kai àí(n,KÓ|XEV0V KaTà jtpEapEÍav c^ioíi TEuríai jtap’ 'AÔnvaíooç... (9) ò l lá ye èkeívou te èç j&éov TiH.f|ç à(()ÍKETo ó r . jtapà ’A&r]vaíoiç, Kai láacuv èv ©eóoaÀíai T O paw naaç , Testemunhos 16 5a. ARISTÓFANES, Aves 1694 Há em Fanes, junto da clépsidra, um povo industrioso, o dos englotogastros'2, que com as línguas ceifam semeiam e vindimam e também colhem os figosia. São também uma raça de bárbaros os Górgias e os Filipes, e é devido a esses Filipes englotogastros que em toda a Ática se corta a língua. ARISTÓFANES, Vespas 420 Por Héracles, eles têm ferrão. Não os vês, senhor? - Os que num pieito deitaram a perder Filipe, aluno de Górgias. 6. PLUTARCO, Vidas dos dez oradores 832 F [Antifonte de Ramnunte] nasceu precisamente na época das Guerras Pérsicas [480 a.C.] e de Górgias, o sofista, sendo um pouco mais novo do que este. 7. PAUSÂNIAS, VI 17, 7 ss. E também se pode ver [a estátua de] Górgias de Leontinos. Diz Eumolpo, o terceiro descendente de Deícrates, que casou com a irmã de Górgias, tê-la consagrado em Olímpia. 8. Este Górgias tinha por pai Carmântidas. Consta que foi o primeiro a ressuscitar o tão negligenciado exercício da retórica que estava praticamente esquecida pela humanidade. Dizem que Górgias ganhou fama devido aos discursos proferidos na Panegíria de Olímpia e também aquando da embaixada a Atenas juntamente com Tísias... 9. Mas Górgias conseguiu grangear entre os Atenienses uma consideração superior à daquele, e Jasão, que naquela época era o tirano da Tessáliá [+ 380 / 370], colocou Górgias à frente de Polícra- 12 Do gr. syyX(dttoyíícttop£ç, que significa "os que se alimentam de palavras", ou seja, os delatores. 13 A forma verbal grega ouKáÇovai (colhem figos) constitui igualmente uma referência aos delatores, chamados "sicofantas" (caluniadores). 17 noÀ U K páw uç o'ò x à Ea%axa èveyKotpévot) ôiSaoKaÃeítru xtrõ A8f|vncn., xoúxqd xaü àvôpòç èjtútpoaSEV aüxòv ó láacüv é íco irpaxo . B tô v a i ôè exri névxE <J>o«jív èíti xoíç é rax o v . X 18, 7 èrcíxpiXHjç §è eíkcòv à v á & rp a Ib p y ío u xoí> èk Aeqvxívgjv aDXQÇ F. EOXIV. CIC. de orat. III 32, 129 cui [Gorg.] tantus honos habitus est a Graecia, soli ut ex omnibus Delphis non inaurata statua, sed aurea statueretur. PLIN. N. H. XXXIII 83 hominutn primus et auream statuam et solidam .LXX. circiter olympiade G. Leontinus Delphis in templo posuit sibi. tantus erat docendae artis oratoriae quaestus. 8. EPIGR. 875a p. 534 Kaibel. X ap p av x íõ o u F o p y íaç Aeovxívoç. a. xr|v (i£V áSeÀ<t)T|v Ài|ÍKpáxTiç xr)v ro p y ía u êo^ev, èK xaxm iç Ô ^ íra h yíyvExai 'l7C7COKpáxriç. IratoK páxauç 5’Eti(a.oA,7coç, õç EÍKÓva xr)vô’ àvé&r)Kev ô iao ô v , jcaiÔEÍaç K ai «jnÃíaç EVEKa. b. ro p y ía u à a ic f |a a i i|rt}jcr|v àpexf|ç èç à y ô v a ç ouÔeíç jkd Gvtycôv KaÂÀíov’ eiipe x é /v r |v a o K ai ’Ajióàà<dvoç ym A xnç eíkwv áváK Eixai ou jcàoúxou raxpáôeiyn’, eúoepe íaç ôè xpóiaov. 8a. PLATO Apol. 19E x om ó yé |aoi ôqkeí K a tó v E ivat, e í xiç o lóç x’ eít) jcaiÔE-ÚEiv àvepÓJtouç ôorcEp F. xe ó Aeovxívoç K ai IlpóôiKoç ó K eíoç K ai Iro tía ç ô 'Hàeíoç. 9. AEL. V. H. XII 32 Irocíav 8è K ai ro p y ía v èv Ttopcjmpaíç èa&rjai jip o íév a i ôiappEi ítóyoç. ' 10. APOLLODOR. fFGrHist. 244F 33] è w é a JtpÒÇ XOÍÇ ÉKaxÒV EXT) Testemunhos 17 tes, cuja posição não era das últimas na escola de Atenas. Dizem que viveu até aos cento e cinco anos. X 18, 7 Há [em Delfos] uma estátua de ouro que foi uma oferta votiva do próprio Górgias de Leontinos^. CÍCERO, Do orador III 32, 129 Este [Górgias] foi objecto de tanta consideração na Grécia que, em Delfos inteira, apenas a ele erigiram uma estátua, e esta não era dourada, mas de ouro. PLÍNIO, História A/a/ura/ XXXIII 83 Górgias de Leontinos foi o primeiro homem a ter erigida em sua honra uma estátua de ouro maciço no templo de Delfos na 70® [?] Olimpíada, tal era o lucro proveniente do ensino da arte oratória^. 8. EPIGRAMAS GREGOS 875a §534 Kaibel16 Górgias de Leontinos, filho de Carmântidas. a. Deícrates casou com a irmã de Górgias e desta lhe nasceu Hipócrates. De Hipócrates, Eumolpo, que também lhe consagrou uma estátua, por dois motivos: por educação e por afecto. b. Jamais algum mortal encontrou arte mais bela para exercitar o espírito nas lutas da virtude do que Górgias; e a sua estátua está nos vales de Apoio, não como exemplo de riqueza, mas como expressão de piedade. 8a. PLATÃO, Apologia de Sócrates 19E [Sócrates]: - Com efeito, parece-me belo que seja possível alguém ensinar os homens tal como Górgias de Leontinos, Pródico de Céos e Hípias de Élis. 9. ELIANO, Varia Historia XII 32 Circula por aí que Hípias e Gór gias usavam vestes de púrpura. 10. APOLODORO [FGrHist. 244F 33] [Górgias] viveu nove anos para além dos cem. PORFÍRIO, Sententiae II 272, 26. 14 [C l ATENEU XI 505D; DÍON 37, 28], 15 Cf, testemunho de Filóstrato em A.1. 16 [do início do séc. IV, encontrado em Olímpia em 1876], 18 p iá v a i.OI.YMPIOD. IN p l a t . Gorg. ÔEwepovSèèpoti(xev,õ x ièrcíx<õ v aintav Xpóvtov fjaav, ó nèv ZoKpáxnç èni rfjç õÇ òta^máSoç xôi y exei, ó Sè EfXJieõoKÀ,íjç o IMkxyópsioç, ó Siôá(JKaA.oç Fopyíoi), é<|)0ÍTr]O£v jro:p’ aòxôv à(j£À€i koíí ypá<|>Ei ó F. Ilepi (Jmorefflç crúyypajjjia oúk àKoiiyoy xrii jc5 òta)(máôi. óxtxe icrj exegiv f| óMyffli jc^eíocrv eivai Jipixov xòv 2ci>Kpáxr|. ãXAmç, xé (jrqcnv èv xôi ©EaiTrjxon ô n tórav [183El õn ’véoç èv KOjAtôfii èvé-nr/ov llapiaevíÔTii ôvxi jcávu Jtpeopw ni Kai Etipov Pa6waxov àvSpa’. oo toç Sè ó üapuEVÍ&nç SiSáoKaXoç èyévexo 'EjijreôoKXéouç xtnj SiSaaKC&au Fopyíau. Kai ó T. Sè JtpeopúxEpoç tjv* ôç yàp ioxóprixai xé0vriKev rôv pB èxêv, mate rcepi xoüç ainauç xpóvovç rpav. 11. ATHEN. XII 548C D F. ó Aeovxivoç, Ttepi ou ((htciv ó amòç Kléap%oç èv xêi rj xôv Bíov [fr. 15. FHG II 308], ôxi Sià xò ooxjjpóvoç Çfiv o%eSòv n exn xôi (|>poveiv awepíoaEV. K ai èrceí xiç amòv fípexo xívi Siaíxr|i Xpo)|xevoç oüxcoç ènneÀêç K ai |xexà akj&naEtoç xoaowov %póvov ÇítSeiev, 'otjSèv Jióicoxe, ekev, f]ôovfiç evekev rcpáçaç;’. Ar|jj,f)xpioç Sè ó BuÇàvxioç èv~S nepi Ttoirpáxtóv T ., ([rnaív, ó Aeovxivoç èpü)xr|0eíç, xí a txô i yéyovEV aix iov xoí> piâoai ítÀEÚo xôv p èxôv, ’xò |rr|8èv jttójcoxE éxepau |?1 evekev itEJCoiTiKÉvai’. 12. CIC. Cato 5, 12 cuius [Isokrates] magister Leontinus Górgias centum et septem complevit annos neque umquam in suo studio atquc opere cessavit qui cum ex eo quaereretur, cur tam diu vellet esse in vita, 'nihil habeo’, inquit, ’quod accusem senectutem’. Testemunhos 18 OLIMPIODORO, Comentário ao Górgias de Platão §112'? Em segundo lugar, diremos que eram da mesma época; [na verdade], Sócrates nasceu no terceiro ano da 77® Olimpíada (470/69), e Empédocles, o pitagórico, o mestre de Górgias, mantinha relações amigáveis com; ele. É também dado como certo que Górgias escreveu um tratado Sobre a Natureza, a que não falta elegância, na 84a Olimpíada [444-1], Deste modo, ele era mais velho do que Sócrates vinte e oito anos, ou pouco mais. Platão, no Teeteto [183E], diz isso de outro modo: "Sendo eu jovem, encontrei-me justamente com Parménides, então muito mais velho, e deparei com um homem dotado de grande profundidadfe". Este Parménides foi mestre de Empédocles, o mestre de Górgias. E Górgias era mais velho; com efeito, segundo o que é narrado, ele faleceu contando cento e nove anos; logo, foram contemporâneos. 11. ATENEU XII 548 C/D Górgias de Leontinos, como refere o próprio Clearco no livro VIII das Vidas [fr. 15 FHG II 308], graças a uma vida moderada chegou perto dos oitenta anos [?] na posse de quase todas as suas faculdades mentais. E quando alguém lhe per guntava qual era o regimeusado para viver tão equilibradamente, senhor das suas faculdades após todo aquele tempo, respondia: "nada jamais fiz tendo em vista a outra coisa". Demétrio de Bizâncio, no livro IV Da Poesia, relata que, tendo alguém perguntado a Górgias de Leontinos qual a causa de ter vivido para além dos cem anos, ele respondeu "nada jamais ter feito com vista [a outra coisa?]"'*1. 12. CÍCERO Catão 5.2 Górgias de Leontinos, o mestre deste [Isócrates], completou cento e sete anos e nunca abandonou os estudos e a actividade. Quando lhe foi perguntado porque queria viver tanto tempo, disse: "não tenho motivo para acusar a minha ve lhice". 17 [Neue Jahrb. Suppl. 14 (1848) ed. A. Jahn]. 18 Passo obscuro. Os filólogos conjecturam sobre a lição mais adequada e, em alter nativa a frcápov (outra coisa), propõem évrépou (ventre), iftpou (baixo-ventre) ou ÉrctCpov (amante). Cf. DIELS-KRANZ, op. cit., p. 275. 19 13. PLIN. N. H.. VII 156 indubitatum est Gorgiam Siculum centum et octo vixisse. [LUC] Macrob. 23 pTjxópfflv Sè r., õv xiveç oo<tnoTr(V KaXQÍKTiV, ÉKatòv ôk tÓ ' Tpcíjrriç 6è ànoa^ópevoç èteX sw riaev ' õv <j>acn,v ÈpamiGévTa xijv a ix ía v to ô iiaicpo-ò yfipaiç r a i ty ieivoO èv r ó o a i ç toâç aia& rjoem v eü tsív Ôià t ò |ir|8éicoTe cjT)n,jE£piEvex0fjvai za iç a k lm v eiw xím ç,. 14. QUINT. III 1, 8f. artium autem scriptores antiquissimi Corax et Tisias Siculi, quos insecutus est Vir eiusdem insulae G. Leontinus, Empedoclis, ut traditur, discipulus. is beneficio longissimae aetatis (nam centum et novein vbcit annos) cum multis simul floruit, ideoque et illorum, de quibus supra dixi, fuit aemulus et ultra Socraten usque duravit 15. AEL. V. H. II 35 F. ó A eqvtívoç èjcí xápjj.oíTt ê v toíi píov Kai yeynpaKcòç e-B ]xáka m ó tiv o ç áaBevEÍctç KaTO.?ai4>0£Íç, x a r ô k íya v èç ík v o v 'ÒJcoÀ.ioOaívwv ekeito . èícei Ôé t iç a m ò v jcapqytfte t o v èítiTri&úov èjaaK oiw úpevoç K ai fipeTo õ t i jtpáxxoi, ó F . áitEKpívaTO- ’fjôr| |i£ ó m v o ç àp x ex a i ra x p a K a x a m e a ta i TáÔEÀ4xih’. 15a. ATHEN. XI 505 D tó /E x a t Sè ó ç K ai ó r . atixòç à v a y v o ò ç tòv ó(xóvD|xov a m ô i ômÃoyov jcpòç toüç cruvfi6Eiç &|nv ’óç kuMç olSe IEictTOV ianpíÇEiv’. 16. QUINTIL. Inst. III 1, 13 his successere multi, sed clarissimus Gorgiae auditorum Isocrates. Quamquam de praeceptore eius inter auctores non conuenit, nos tamen Aristoteli credimus. Testemunhos 19 13. PLÍNIO, História Natural VII 156 É indubitável que Górgias da Sicília viveu cento e oito anos. [LUCIANO] Macróbios 23 De entre os retores, Górgias, que alguns apelidam de sofista, contou cento e oito anos; tendo-se abstido de comer, faleceu. Conta-se que, quando lhe perguntaram a causa de uma idade tão avançada e do bom estado de todas as suas faculdades, ele retorquiu que isso se devia a nunca ter aderido aos prazeres dos outros^. 14. QUINTILIANO III, 1, 8 ss. Os mais antigos escritores destas artes oratórias foram Córax e Tísias da Sicília, a quem sucedeu um homem da mesma ilha, Górgias de Leontinos, discípulo de Empédo cles, segundo a tradição. Beneficiado pela sua longevidade [com efeito, viveu cento e nove anos], ele celebrizou-se juntamente com muitos outros e, por esse motivo, foi rival dos que acima mencionei e . até sobreviveu a Sócrates. 15. Eliano, Varia Historia II 35 Górgias de Leontinos, encon trando-se já no termo da sua vida e bastante idoso, atacado por uma doença funesta, ficou imobilizado, entrando pouco a pouco, doce mente, no sono. Quando um dos familiares se abeirou para o obser var e lhe perguntou como se achava, Górgias respondeu: "o sono já começou a arranjar-me lugar junto à sua irmã"20. 15a. ATENEU XI 505 D Do mesmo modo também se diz que, após ter lido o diálogo seu homônimo, Górgias disse aos seus ami gos: "que bem que Platão sabe satirizar!". 16. QUINTILIANO, Instituição Oratória III 1, 13 A estes muitos se sucederam, mas o mais ilustre dos ouvintes de Górgias foi Isócrates. Ainda que os autores não concordem sobre quem foi o seu mestre, nós, todavia, damos crédito a Aristóteles2'. 19 [Cf. CENSORINO 15, 3). 20 Ou seja, a Morte (edwatoç), irmã do Sono (íjivoç). 21 [fr. 139 R.], [Cf. A 12], 20 17. [PLUT.] vit. x or. p. 838 D fjv ôè k k í amou xpájieÇa líkvfÁ ov, EXGvaa. jOTiijxáç xe K ai xoòç ôiôacncátaruç a ira n j, èv oíç K ai ropyíav eiç a<(>aipav áaxpotayyiicnv PÀémovxa aw áv xe xòv laoKpáTrçv írapeaxôxa. 18. ISOCR. 15, 155f. ó Sè J tM o x a KTrjoá|j.evoç, esv fp e íç (ivrpove-üojjiev, F . ó Aeovxivoç, otixoç ôiaxpí\|«xç xcepi © exxaW av, cx’ evSaiixovéoxaxoi xâv 'E?jirjv©v fjaav , i& eioxov Sè xpóvov K ai p ioúç K ai Ttspi xòv xprpaxiajiQ V xouxov yevójievoç, (156) tcóXiv S’ ü í)8en íav K axajtayk íç o iic rp aç 0ÒSè Ttepi x à K otvà 8araxvr|6eiç oòô’ eio(jx)pàv eioeveyKeiv àvayK aaG eíç, éxi Ôè ícpòç xaúxoiç aüxe y w a iK a y f p a ç o ik e raxíôaç ícoirioánevoç, ò X k’ àxeA,f|ç yevónevoç K ai xaw rçç xiiç X tiixaupyíaç xnç èvSeÀ^xeaxáTrjç K ai TcoÃWE/Veoxáxriç, xootm tov rcpotaxpôv jcpòç xò j&eíg) K xrioao0ai xôv aXXm\, %iãíouç jióvauç o ia x íp a ç KaxéÀiiiev. 19. PLATO Meno 70A B ô Mévfflv, icpò xafi |xèv ©exxaXoi eítôÓKi|iot fja av èv xoiç eàãtic tiv K ai èGanixáÇovxo è<|>’ imcucni xe K ai jtXaóxai, vüv ôé, ô ç èjioi ôoKei, K ai èrti ocxj)íai, K ai ov% fp a o ra o i xoí> a o v èxa ípov 'A puraratoD rroXíxai À a p io a to i . xoúxou ôè í>nív a ix ioç ècm r . à<|>iKÓnevoç y à p eiç xfiv TtóXiv è p aax àç èrà c o p ia i eíÀ,T|(!>8V 'A X evadôv xe xaòç ítpóxoDÇ, wv ó oòç èpaaT nç èaxiv ApíoTi7C7Coç, K ai xôv àX Ãav 0erxaX ôv- K ai Ôf| K ai xauxo xò ê0oç fy iâç eíÔikev (5«|)óptoç xe K ai (ieya^.oitpe7KB ç cmoKpíveoSai, è á v xíç xi épr|xai, ôcmep eíkòç xoòç e iôáxaç ãxe K ai a ü rò ç íc ap é /o v a w ò v èpoxâv xôv ’eM.T)vo)v xô i (kroÀonévoi ò Testemunhos 20 17. PLUTARCO, Vidas dos dez oradores §838 D [Túmulo de Isócrates, segundo Heliodoro-o-Periégeta] Havia também junto dele uma lápide fúnebre22 representando poetas e os mestres dele, entre os quais Górgias, que olhava para uma esfera astrológica, na pre sença do próprio Isócrates. 18. ISÓCRATES 15, 155 ss. De quantos nos lembramos, foi Górgias-o-Leontino o que grangeou maiores riquezas. Residiu na Tessália, quando os seus habitantes eram os mais ricos dos Gregos, e viveu aí a maior parte do tempo, dedicando-se a esta actividade lucrativa. (156) Não fixou residência em nenhuma cidade, não fez despesas públicas, nem tão-pouco foi obrigado a pagar con tribuições; além disso, não se casou nem teve filhos, pelo contrário, ficou isento desta obrigação tão contínua e dispendiosa. No entanto, tendo tido, mais do que os outros, a possibilidade de juntar dinheiro, apenas deixou mil estáteres. 19. PLATÃO, Ménon 70 A/B Ó Ménon, até aqui os Tessálios eram apreciados e admirados entre os Gregos pela arte da equitação e pela sua riqueza. Agora, porém, parece-me que o são devido à sabedoria, sobretudo os de Larissa, concidadãos do teu companheiro Aristipo. O responsável disto é o vosso Górgias. De facto, chegado à vossa cidade, captou, como amante da sabedoria, os mais ilustres dos Alévadas, entre os quais se encontra o teu amante Aristipo e outros Tessálios. Naturalmente, este costume habituou-vos a responder sem medo e com perícia se alguém vos perguntar algo, como é apanágio dos que sabem. Ele mesmo, Górgias, punha-se ao dispor dos Gregos que desejassem perguntar-lhe qualquer coisa, e a 22 Seg. DIELS-KRANZ (op. cit, p. 276), deverá entender-se por -cpráiEta ums lápide fúnebre onde eram representados em relevo os poetas e os seus mestres. 21 t i áv t iç PoúÀíirai, Kai otiSevi m m owc àítOKpivópevoç. ARISTOT. Pol. T 2. 1275b 26 F. jièv o-Bv ó Aeovnvoç Tà |xèv íctíüç árcopôv TàÔ’ eipcoveuouevoç é0Ti Katójtep õà,|í.üuç eivai toííç m ò tôv ó^poitoiâv TtEjtoiiipévouç, aura Kai Aapiaaíoiíç tquç m ò tôv §rp.cn)pyêv Ttejtovnn,évm>ç- eivou yáp Tivaç Aapiaojcoiaóç. 20. - Gorg. 447C Bcyúà ouai yàp jtuGéotai jtap’ a w o ü , tíç fj Sírvap aç ttíç TÉxvr,ç toô àvSpóç, m i t í èotiv õ ènayyéXkexaí te K a i SiSáoicsv xiiv 6è õl\r\v ÊJtiôeiÇtv eiç abtiiq, 'ôojiep ou Àéyeiç, %oiTjoáa6íi). - Ovôèv oiov x ò ainòv èpfflxâv, ô 2ÓKpaT£ç- K a i yàp amón év tom’ fjv xfjç èmôeíçeíDç èk£â£U£ yaõv vuvõf| èpoxâv õ ti Ttç poúXoito tô v evôov õvtov , K a i Jtpòç àraxvra é(t«l ájtoKpiveío6ai. 449C K a i yàp aí) K a i toüto év èo tiv ôv <j)T|jxi, |iT|ôéva áv èv Ppaxorépoiç èp.oí) T à atirà eirceív. - toútou jxtiv ôei, è T o p y ía - K a i poi ÈTÚSeiçiv a m á totjtod jcoír|oav, TÍjç ppa%'üA,oyíaç, ( ia K p o X o y ía ç 5è eiç avfftç. 21. - Meno 95C l opyíou (láXiaTa, a> XÓKpateç, Taina àyap ai, õ ti ouk áv itore am ot) toítco àKoúoaiç újuoxvaujiévau |namL ôiSáaKaXoç eivai àperfjç], á X k à K a i tô v a Á lx a v iía x a y e X a l, õxav àKtrúorii miaxvm^iévojv à X X à Àéyeiv ofetai M v Jtoieiv ôeivoúç. 22 - Gorg. 456B TtoAlátaç yàp f|ôr| éyaye HFtà toô àôeÀ ^ú Kai nerà tô v ôXkmv iaTpôv £taeÀ0ôv jtapá Tiva tô v Kanvóvrav aò^i èôéÀovta f| <t>áp|iaKov jcieiv f) xe|ieív K aôoai Jtapao%eív tôx iaxpch, ou ôw anévau tou iaxpau jtetoai, èyô éiceiaa oük aU ,iii Té%vni f| xqi prp:opncfji. Testemunhos 21 ninguém deixava sem resposta. ARISTÓTELES, Política III 2.1275b 26 [Determinação do direito de cidadania] De facto, Górgias de Leon- tinos, talvez por não conseguir dar uma resposta ou então ironizando, disse que, do mesmo modo que os malhos são feitos por fabricantes de malhos, também os Larisseus são feitos por artífices. Na verdade, existem alguns larisseirosza. 20. - Górgias 447c^ A minha intenção é perguntar-lhe qual é a virtude própria da sua arte, e que arte é essa que professa e ensina. O resto da demonstração poderá ficar, como tu dizes, para outro dia. - O melhor será fazer-lhe a pergunta a ele próprio, Sócrates, porque esse era precisamente um aspecto da sua actuação de há pouco: convidava os presentes a interrogarem-no sobre o que quisessem, que a ninguém deixaria sem resposta. 449c [fala de Górgias] Esta é, afinal, uma das coisas de que me orgulho, a de que ninguém é capaz de dizer o mesmo que eu em menos palavras. - É exactamente aquilo de que eu preciso, Górgias. Faz-me agora uma demonstração de brevidade, deixando para outra altura a abundância. 21. PLATÃO, Ménon 95c É nisto que eu admiro sobretudo Gór gias, ó Sócrates: tu nunca o terás ouvido prometer tal coisa [ou seja: ser mestre de virtude]; pelo contrário, ele ri-se dos outros sempre que os ouve prometer tais coisas. Em seu entender, o que é preciso é torná-los hábeis a fa la^. 22. - Górgias 456b2« Várias vezes acompanhei o meu irmão e outros médicos a casa de doentes que não queriam tomar um remé dio ou submeter-se ao tratamento do ferro ou do fogo. Ora, quando o médico se mostrava incapaz de persuadir o doente, fazia-o eu, sem mais recursos do que a retórica. 23 Do gr. ÀapiaojKuóç, ou seja, labricantes de vasos de Larissa. 24 Tradução de Manuel de Oliveira PULQUÉRIO. Cf. n. 4. 25 Górgias, ao contrário de Platão, defende uma retórica não comprometida com as questões morais. 26 Cf. n. 4. 22 23. ARISTOT. Rhet. F 3. 1406b 14 tò ôè FopyíoD eiç tt|V %eJuôóva, èrasi kcct” ocutoü KSTOfievT] cxtfsTjKE tò KepÍTEffijici, âpioxa TÔv Tpayucájv elite yàp 'aioxpóv Y © <^ykx}]ii\ka:. õpviei jxèv yàp, ei èícoÍT]oev, oròc aioxpóv, Jtapôévíúi ôè aioxpóv. e-o ow èÃoi8ópt]oev eiraàv ô fjv, àXk’ m>% ô êoTtv. 24. PHILOSTR. V. s. p. 4, 4 Kays. ò Sfj I'. èmoicércTüív tòv HpóSucov, éç êmÃá te m i 3to?lÀáiaç eipn^va àyopevovra, èrax í^pcev èawòv xéi ícaipôv oi) m v ((sôóvau ye fpapTEV fjv yàp tu; Xaipe(|)ôv 'Aerjvrjcnv... mkoç ó KaipeifsSv xr|v ojiíruSriv tou Topyíou ôia(iaoó(ievoç- ’ôià tí, è^r|, © Fopyía, oi ta)a|xoi ttiv pèv yacrcépa <|nxjêoi, tò ôè 7rüp ot» ((ruaêcn;’ ’ó ôè oitôèv Tapa/Geiç m ò tou èporrpaToç ’to\)tí pév, ê<|>Ti, ooi ícaTaXeirao cticojkív, èyó ôè èiceívo raxJuxi olôa, õ n f) yf| toòç váp&r|Kaç èrci toÍ)ç toiootodç <)rí>ei\ 25. PLATO Phaedr. p. 267 A. CIC. Brut. 12, 47 communes loci; quod idem fecisse Gorgiam, cum singularum rerum laudes vituperationesque conscripsísset, quod iudicaret hoc òratoris esse maxime proprium rem augere posse laudando vituperandoque rursus adfligere. 26. - Phileb. 58 A t\kovx>v... ro p y ía u K O /JAiaq, ó ç f) to u rceíteiv rcoM) Testemunhos 22 23. ARISTÓTELES, Retórica III, 3 1406b 14 0 que Górgias disse a uma andorinha quando esta, voando sobre a sua cabeça, deixou cair um pedaço de excremento, é do melhor estilo trágico que há. Disse ele: "O Filomela, isto é uma vergonha". Com efeito, para uma ave não seria vergonhoso, se fosse ela a fazê-lo; vergonhoso seria para uma donzela. O reparo resultou de ele ter aludido ao que ela fora, e não ao que era27. 24. FILÓSTRATO, Vida dos Sofistas I proémio, p. 4,4 Kays. Gór gias, para troçar de Pródico por este, nos seus discursos, falar de coisas sem interesse e já repetidas, lançou-se a falar de improviso. Entretanto, não escapou, por certo, à inveja. Havia, na verdade, em Atenas um certo Querefonte. Este Querefonte, para escarnecer do esforço de Górgias, pergunta-lhe: "Por que razão, ó Górgias, as favas sopram sobre o estômago e não sobre o fogo?". Nada perturbado pela questão, ele responde; "Isso é algo que deixo para investigares, mas há outra coisa que eu há muito sei: para pessoas como tu a terra produz férulas"28. 25. PLATÃO, Fedro p.267 A. CICERO, Brutus, XII, 47 Os lugares comuns; Górgias fez isso mesmo ao escrever o elogio e a conde nação de cada assunto proposto, pois ele julgava ser da competência específica do orador a capacidade de enaltecer uma causa, lou vando-a e, seguidamente, de a destruir, atribuindo-lhe defeitos. 26. PLATÃO, Fiiebo, 58a Ouvi muitas vezes Górgias dizer que a arte de persuadir se distingue muito das restantes. Na verdade, ela 27 Segundo a lenda, Filomela, filha de Pandíon, fora dada em casamento a Tereu, rei da Trácia. Este viria, entretanto, a apaixonarse pela sua cunhada Procne, tendo-a raptado e encerrado numa torre, cortando-lhe a língua para que não pudesse falar. Mas Procne, bordando palavras sobre o vestuário, conseguiu avisar Filomela. Para vingar a afronta feita à irmã, Filomela matou o próprio filho que Tereu lhe dera e serviu-lho no decurso duma refeição. Perseguida por Tereu, os deuses transfor- maram-na em andorinha. 28 Górgias terá jogado aqui com a polissemia do gr. váp-n)| que tanto significava "vara de férula" que os fiéis de Baco empunhavam, como "pau para castigar" ou "caixa para guardar os medicamentos". 23 ôia(|>époi jzaaôv xexvôv Tíávxa yàp 'õíf)’ aímii ôoôÁa õt’ èKÓvwv, iüúc aò 6tà píaç JKHOIXO. CIC. de inv. 5, 2 G. Leontinus, antiquissimus fere rhetor, omnibus de rebus oratorem optime posse dicere existimavit 27. - Gorg. 450 B xêv jièv &ÁM>v xe%vü)v jtepi xsipoypyíaç xe k k í xoiaúraç jtpá^eiç óç 'énoq eüceív raxoá ècrav f| èmoTfpri, thç ôè prfxopircfjç aòôév èaxiv xqiootqv xeipoòpyíflia, aKkà rcâoa f) itpâÇtç Kai fj KÚpoxnç ôià Axnyav èotí. ôià xam’ èyô xrjv ptftopiicfjv i£.%vr\v àÇiô elvat itepi Xóyouç, ôpôôç Myesv óç èyó <[rq|J,t. OLYMPIOD. z. d. St. p. 131 Jahn oi ítepi xàç ÃéÇeiç Seivoi taxjiflávovxai xôv ôúo Àé^aov xoü xe %eiptn)pyfpaxoç Kai xfjç Kupóoeoç óç jxti Xeyonévfflv Kaxà àM)0eiav yàp truôe tóyovxai. <|>a|j£V o&v, õxi, èjteiÔrj I’. ó Mymv, óç à íí èKeívcra 7cpo(j>épet xàç Aiçeiç èy%<Dpíauç oíwaç- Aeovxívoç yàp fiv. 28. PLATO Gorg. 453 A et xi èyó ot>vír||ii, Àiyeiç õxi neiôoítç ôriniaupyóç èaxiv f] pryropiK Í| K a i f) Jipayp-axeía aítrfiç ájtaaa K a i xò Kec()áÃaioveiç x o ü x q xeÀeiJxâi. 455A f) pnxopticri àpa, óç eoiKev, JteiGouç Sí]|J.icn)pyóç èoxi m o x e v u K Í jç , à X V o ò ôiÔaoKaA,iKfiç, rcepi xò ô ÍK a ió v xe K a i à ô iK o v . 29. ARISTOT. Rhet. T 1. 1404a 24 èjtei Ô’ oi JK>vr|xai Àéyovxeç eirri&n Sià xf)v Xéfyv èôoKauv Jtopíoao0ai xrçvôe tt|V ôóçav, ôià xaôxo JtovnxiKii jtpóxn èyévExo lé ç iç o lov f| r o p y ío u K ai vôv éxi o i icoÀXoi xôv àjcaiôeúxov xouç xoiaúxaoç olovxai ôiaAáyeaGat KàAÃiaxa. SYRIAN. iti Hermog. 111, 20 Rabe Testemunhos 23 poderá submeter tudo aos seus desejos, não pela força, mas median te uma livre adesão. CÍCERO, De inuentione, 5, 2 Górgias de Leontinos, um dos oradores mais antigos, entendia ser capaz de falar perfeitamente sqbre qualquer assunto. 27 - Górgias, 450b?9 [fala Górgias] É que todas as outras artes se ocupam praticamente apenas de operações manuais e coisas do mesmo gênero, ao passo que a retórica não tem nada a ver com esses aspectos, pelo contrário, toda a sua acção e eficácia se rea lizam através da palavra. É por isso que afirmo que a retórica é a arte dos discursos e fico convencido de que digo bem. OLIMPIODORO, op. cit. §131^0 Os especialistas em questões estilísticas apresentam estas duas palavras, "cheirúrgêma" e "kyrôsis"^ como não devendo ser ditas. E, na verdade, elas não se dizem. O que afirmamos, pois, é que, quando Górgias fala, apresenta termos regionais que lhe são característicos. Na verdade, ele era de Leontinos. 28. PLATÁO, Górgias 453a32 Se te compreendi bem, afirmas que [a retórica] é obreira de persuasão e que tal é o objectivo e a essên cia de toda a sua actividade. 455a Podemos portanto dizer que a retórica é obreira de persuasão que gera a crença, não o saber, sobre o justo e o injusto. 29. ARISTÓTELES, Retórica III 1. 1404a 24 Como parecia que os poetas, dizendo coisas banais, conseguiam, devido ao estilo, atingir a glória, o estilo primitivo era poético como o de Górgias. E mesmo agora a maioria das pessoas sem instrução ainda pensa que esses é que dizem as coisas mais belas. SIRIANO, Comentário a Hermógenes 29 Cf. n. 4. 30 Cf. n. 21. 31 Significam, respectivamente, "trabalho manual" e "execução". 32 Cf. n. 4. 24 ropyíaç |ièv xr|v JtonrnKiiv ép^veíav |i€Tr)veyKev eiç Xòyaoq tíqXvukoúç, oinc áÇiôv õjiotov xòv prjTopa toíç iSiétaiç et vai. Awíaç ôè xoòvavríov ènoírpe XXÃ. 30. CIC. Orat. 12, 39 haec tractasse Thrasymachum Calchedonium primum [85 A 2.3] et Leontinum ferunt Gorgiam, Theodorum índe Byzantium multosque alios quos Ãtr/oSotlSáJtouç appellat in Phaedro Sócrates. 31. - 49, 165 in huius concinnitatis consectatione Gorgiam fuisse principem accepimus. 32. - - 52, 175 (Numeras) princeps inveniendi fuit Thrasymachus, cuius omnia nimis etiam extant scripta numerose. nam... paria paribus adiuncta et similiter definita itemque contrariis relata contraria, quae sua sponte, etiamsi id non agas, cadunt plerumque numerose, G. primus invenit, sed eis usus est intemperantius... 176 G. autem avidior est generis eius et eis festivitatibus (sic enim ipse censet) insolentius abutitur, quas Isócrates, cum tamen audisset in Thessalia adulescens senem iam Gorgiam moderatius iam temperavit DIONYS. Isae. 19 évôunoúnevoç ôè, õ t i xnv jxèv jronTTticfiv KaTOKiKeuriv Kai t o nftém pov St] to o to K ai 7to(X7nKÒv eif>r|(j,évov aòÔeiç 'laoK páxauç <x|I£Ív<dv èyéveTo, Testemunhos 24 111, 20 Rabeas Górgias transpôs a expressão poética para os discur sos políticos, não considerando que o retor fosse igual aos cidadãos privados. Já Lísias procedeu ao contrário, etc. 30. CÍCERO, Do Orador, 12, 39 Estas [antítese e páriso] foram primeiro usadas por Trasímaco de Calcedónia e Górgias de Leonti nos, depois por Teodoro de Bizâncio e muitos outros, que Sócrates, no Fedro, denomina "logodédalos"^. 31. CÍCERO, Do Orador, 49., 165 Sabemos que, na busca da harmoniass, Górgias foi o primeiro. 32. CÍCERO Do Orador, 52, 175 (Ritmo) Trasímaco foi o primeira a descobri-lo e em todos os seus escritos sobressai um uso exces sivo do ritmo. Na verdade... Górgias foi o primeiro a descobrir o páriso, a rima e também a antítese^, as quais, pela sua natureza, ainda que se não faça de propósito, acabam geralmente em esque mas rítmicos, mas o seu uso foi aplicado com falta de moderação... 176 Górgias é mais insaciável neste estilo e abusa em demasia destas virtuosidades [como ele mesmo as denomina]; Isócrates, apesar de na sua juventude ter escutado, na Tessália, Górgias, já em idade avançada, utilizou-as com mais moderação. DIONÍSIO DE HALICARNASSO, Iseu 19 Pensando que ninguém foi melhor do que Isócrates na organização poética do discurso nem no modo elevado e pomposo de falar, omiti espontaneamente aqueles que eu pensava 33 [DIONYS. HALIC. de imit. 8 §31, 13 Usener], 34 Transliteração do gr. Xo^oòaíòákoç,, artífices de palavras. A palavra compõe-se de dois elementos, í-oyoç (palavra, discurso) e AaíôocXoç Dédalo, o mítico artífice de Creta que, com o seu filho ícaro, conseguiu voar com asas de cera por si fabricadas). 35 Do lat. concirmitas, isto é, a boa disposição das palavras na frase. 36 Optámos por não traduzir a descrição das figuras, mas o seu nome, pois assim a tradução e conseqüente compreensão do texto torna-se mais clara. Assim, "paria paribus adiuncta" - páriso (do gr. parísôsis): correspondência sintáctica da com posição de várias partes de um todo sintáctico (cf. H. LAUSBERG, op. cit., §336); "similiter definita” - Rima (homeoteleuto): a igualdade fônica dos fins (cf. Ibid., §360); “contrariis relata contraria" - Antítese {Ibid., §§386-392). raxpéÃiTtov ékòv oüç fjiôeiv fjTTOV év xaiç iSèaiç xaúxatç mxopGowxaç, Fopyíav (xèv xòv Aeovtívov éKrcÍTCXovra wô raxpíou Kai JK>ÀÀa%cw rcaiSapuóÔri yiyvójxevov ópôv. 33. ATHEN. V 220 D ó Sè noÃtxiKÒç a x m r n SiáPuyyoç à n á v m v KaTO.Spoj.ifjv ícepiéxei xêv 'A&nvnoxv ôrp.ayrayêv, ò 8’ Ap%éXacç Fopyíou xou pnxopoç. 34. CLEM. Strom. VI 26 [II 443, 4 S tl MeA,T!0 ayópOU yàp EKÀE\|/EV 1 . ó Aeovxivoç Kai EúÔTpoç ó NáÇicç oi iaxopucoi m i èm xoúxoiç ó IIpqkowiíctiqç Búdv. 35. PHILOSTR. Ep. 73 J opyíou 6è GaD^aaxai fp a v ápioxoí xe m i rtÀeioxoi icpâxov |ièv o i m x à ©ExxaÃíav "EÃyayveç, raxp’ otç xò pnxopeí)Eiv yopyiáÇeiv èmovu^iáv èa%ev, Etxa xò çóiíjkxv eA,àtivikóv, èv o!ç ’0/\,U[m aai SiEÀéx&n Kaxà xôv papfkxprav arco xf|ç xou veò pa^piSoç. XéyExai Sè m i 'Aamxoia f) MiÃricna xf)v xoá) IlEpndiéooç yÂóxxav Kaxà xòv I opyiav &rfèai, Kpixíaç Sè m i ©oukoSíStiç oíik àyvooi)vxat xò neyaXávonov m i xr|v ò4>pnòv Ttap’ a írto í KEKxr||xévoit HExajtoiovvxEÇ Sè ainò èç xò oíkeíov ó [ièv irn’ EtyÀoxxíaç, ó ôè imò pcíj^ riç- m i Aiaxívrçç Sè ò ànò xoü Xcncpáxotx;, áwtèp oü 7rpc')T)v èojco()5a£,Eç, wç oíik àifxxvâç xo\>ç SiaXóyouç koXóÇovtoç, oúk ©kvei yopyiáÇeiv èv xôi jcepi xf>ç 0apyr[A,íaç Àóycor ^ c t í yàp nem éôe. ’6apynÃ,ía Mi^riaía èÃ.0oã)aa eiç ©exxaWav çuvf|v 'Avrió/coi QexxaÀôi |3acnÀ£t>ovTi jtávrav 0£tkxãóv.’ a i Sè àjtooxáoeiç a í xe JtpoojioXai xôv Aòyov ropyíou èmxcopíaÇov TtoXkaxov nèv jiàÀiaxa Sè èv xôi xôv èTCOJtoióv kí>kX<di. Testemunhos 25 serem inferiores na construção dessas figuras, pois via Górgias de Leontinos afastando-se do uso tradicional e tornando-se frequente mente pueril. 33. ATENEU V 220 D O diálogo O Político [de Antístenes] inclui um ataque a todos os demagogos de Atenas; já O Arquelau ê dirigido contra o retor Górgias. 34. CLEMENTE DE ALEXANDRIA, Strommateis VI 26^ Górgias de Leontinos plagiou Meleságoro; o mesmo fizeram historiadores como Eudemo de Naxos e Bíon .do Proconeso3». 35. FILÓSTRATO, cartas, 73=® Os admiradores de Górgias eram distintos e numerosos. Em primeiro lugar, os Gregos oriundos da Tessália, para quem o acto de fazer um discurso recebia a designa ção de gorgianizar;depois, toda a nação grega, perante quem, em Olímpia, ele discursou contra os Bárbaros na base do templo. Diz-se que Aspásia de Mileto apurou a linguagem de Péricles segundo o modelo de Górgias; de Crícias e Tucídides não se ignora que adquiriram dele uma certa grandiosidade e elevação, que cada um assimilou à sua maneira: um na fluência discursiva, o outro no vigor da palavra. E Ésquino, o discípulo de Sócrates, por quem tu recen temente te interessaste (a carta dirige-se a uma certa Júlia), embora reprimindo notoriamente os diálogos, não receou gorgianizar no seu discurso sobre Targélia. Na verdade, ele exprime-se mais ou menos deste modo:*) "Targélia de Mileto, tendo chegado à Tessália, tornou- -se amante de Antíoco da Tessália, que reinava sobre todos os Tessálios". As suas interrupções bruscas, as ausências de transição dos discursos de Górgias são freqüentes em muitos lados, sobretudo no círculo dos poetas épicos. 37 [II 443 4 St.], 38 [FHG II 21], [FHG II 20] e [FHG II 19], respectivamente para cada um dos três his toriadores. 39 [II, 257, 2, ed Teubner]. 40 [fr. 22 Dittmar; cfr. Münscher Philol. Suppl. X 536], FRAGMENTOS TRATADO DO NÃO-SER OU DA NATUREZA Apesar do seu carácter vincadamente irônico, esta paráfrase das reflexões de Górgias feitas por Sexto ilustra bem até onde se poderia esten der o domínio de interesse dos Sofistas. Neste caso, estamos em presença de um tratado ontológico-gnoseológico em torno das categorias filosóficas da unidade e da multiplicidade. Poderíamos afirmar que Górgias ultrapassa as teorias dos seus antecessores, incluindo a do seu mestre Empédocles, equiparando o não-ser (tò i^n óv) à natureza (^o lç ). Parece-nos porém que o seu verdadeiro propósito se situará mais no âmbito retórico. Ele terá aceitado pegar habilmente numa questão, cuja abordagem polêmica aquecia os debates filosóficos, para, como retor, adiantar uma conclusão paradoxal a partir duma ratiocinatio subtil, rápida e aparentemente repleta de lógica. Górgias estrutura a sua argumentação, do princípio ao fim, num punhado de tópicos donde faz brotar, com a-propósito, a rede dos seus pensamentos. São eles os da evidência (uu^avÉc) - §§74,78), o do absurdo, repetidas vezes invocado (cramov) - §§67,70,73,80,82; te ^ a ív o v - §79), o do princípio de contradição (évcivríov §§67,80), o da necessidade (è| àváyKriç - §71; Kax'àváyiír|v - §77), o da facilidade da prova (eiSetixXóyuttov - §75) e o da impossibilidade (oh ôvvaxca §76, oi>ôè eveitu - §86). Porém, independen temente de qual tenha sido a verdadeira intenção de Górgias, o certo é que este discurso se integra perfeitamente dentro da mundividência sofistica, defensora dum cepticismo ontológico e do conseqüente relativismo de valores. Esta posição filosófica, que desprovia tragicamente a existência humana de fundamentos sólidos, acabava por dar toda a força a um tipo de retórica defensora do discurso hábil cujos suportes verdadeiros e exclusivos eram o sentido da oportunidade (Koupóç) e a força da opinião (ôóíjcx). Górgias reparte a sua argumentação por três fases, artisticamente encadeadas na propositio (§65) e logo depois desenvolvidas: 1) nada existe (§§66-76); 2) ainda que exista não se poderá conhecer (§§77-82) e 3) se se puder conhecer, não será possível dar-lhe expressão (§§83-87). 30 1. ISOCR. 10,3 nêç YàpávxiçmeppáXoitoropyíavTOVTOXnfiaavta Aiyeiv, óç otiSèv xôv õvrov éaxiv, f| Zf)v<i>va xòv xaòxà Swaxà Kai JtáÀiv àSúvaxa Tceipó^ ievov àjccxjmveiv. 15, 268 tgò>ç JtóyoDç xcèç xôv raxtaxiôv aocjíioxôv, ôv ó pèv àjretpov xò JcA,í]toç iíjflpev e iva i xôv õvnov... nap^svíSiiç Sè Kai MéÀaoooç èv, F. Sè ravxeÂôç oíiSév. 2. OLYM. IN PLAT. Gorg. p. . 112 Jahn àpiÀEt Kai ypá(J>ei Ó F. Ilepi (Jmoeíüç CFÚyYpajijia oòk âKop.\|/ov xf|i ítS òA.v^máSi. SEXT. adv. math. VII 65ss. F. Sè ó Aeovxívcç èK xou awcríj jièv xáyuaxoç wrripxe xoíç àvr|ipnKÓ<n xò Kpixfipiov, au Kaxà xf)v ónoiav Sè èmpoXfiv xotç itepi xòv npoxayópav. èv yàp xôi èm.ypa(t>o|i£vo)i Ilepi xafi jxfi óvxoç f| Ilepi (Jmaetaç xpía Kaxà xò éÇíjç Ke<j)áA,aia KaxaoKeuáÇei, èv |xèv Kai Ttpôxov õxi aòSèv èoxiv, ôeútepov õxi ei Kai èoxiv, áKaxáA,rpcxov àv0póra»i, xpíxov õxi ei Kai KaxaA.rprxòv, ctXkà xoí ye ávéçoioxov Kai àvepufivewov xôi jiétaxç. (66) õxi |ièv o6v aòSèv êcmv, èmloyíÇexai xòv xpòrtov xornov ei yàp èoxi xi, f|xoi xò ôv êcmv f| xò n.fi õv, fl Kai xò ôv éaxi Kai xò jxfi õv. orne Sè xò ôv êoxi, óç Jtapaoxf)oet, aure xò p,f\õv, óç napantiOfioexai, oõxe xò ôv Kai xò jj.f| õv, óç Kai xom o SiôáÇev oi)K ápa éoxi xi. 1. ISÓCRATES 10,3 Como é que realmente alguém poderia ultrapassar Górgias, que ousou afirmar que nenhum ser existe, ou então Zenão, que tentou provar que as mesmas coisas são possíveis e, em sentido inverso, impossíveis. 15, 268 ... as ideias dos antigos Sofistas, um dos quais afirmava que existe a multidão infindável dos seres..., enquanto Parménides e Melisso sustentavam que existia um só ser, e Górgias que absolutamente nenhum'. 2. OLIMPIODORO, Comentário ao Górgias de Platão, §112?- Jahn [vide A 10 275, 3] Não há dúvida que Górgias escreveu o tratado Sobre a Natureza, uma obra nada deselegante, na 84â Olimpíada [444-1], SOBRE O NÁO-SER 3. SEXTO Contra os Matemáticos \/II 65 e ss. Górgias de Leon tinos contava-se entre os que prescreveram o critério da ordem, mas não partiu do mesmo pressuposto que os seguidores de Protágoras. Com efeito, no seu tratado SOBRE O NÃO-SER ou SOBRE A NATUREZA defende sucessivamente três pontos capitais: em primeiro lugar, que nada existe; em segundo, que ainda que exista é incompreensível ao homem e, em terceiro, que mesmo sendo com preensível é, todavia, impossível de se comunicar e explicar a outrem. §66 - Que nada existe, ele explica deste modo: se, na verdade, algo existe, ou existe o ser ou o não-ser. Ora, nem o ser existe, tal como será demonstrado, nem o não-ser, o que também se explicará, nem tão-pouco o ser e o não-ser, como será igualmente analisado; logo, nada existe. 1 Referência a doutrinas pré-socráticas sobre o ser. Parménides e Melisso afirmaram que o ser é uno e Górgias demonstra que o ser não existe. Note-se que o magno problema do Uno e do Múltiplo foi exaustivamente debatido no Parménides e no Sofista de Platão. 2 Cf. n. 17, p.18. 31 (67) K a i ôfj TÒ j j iv jrq ô v o ò k è c m v . e í y à p t ò n f | ô v è o n v , è o r a t t e á u a K a i c ú k éo T a i- fp, (xèv y à p o ò k ô v v o e í t u i , o ò k é o T a i, fji 5 è è o n {if( õ v , raxÀiv écra n . rcavte?u5<; S è àTOJiov t ò e í v a í t i & |ia K a i jxfj e iv a i - o'6k â p a ê c m t ò \>j\ õ v . K a i & lh a q , e í t ò |j.fi ô v ê c m , t ò ô v o ò k é a r a v è v a v r ia y à p è o n T a ò r a àJiÂ,íjÀoiç, K a i e i t § i ju,f| õ v n a tp p ép rp ce t ò e iv a i , t í i õ v n aup-P fiaeT ai t ò (xfj e iv a i , oò%i Ôè ye t ò ô v o ò k è a t iv - tq ív u v o tiSè t ò j if | ô v ê a r a i . (68) íc a i jif |v ow ôe t ò õ v è o n v . e i y à p t ò ô v è o n v , f i to i à íS tó v è c m v f | yevrjròv á íS io v à \ t a K a i y e v r tr ó v o u r e Sè à íâ ió v è c T iv oirce yevrjTÒv o-üte à ^ c jm sp a , é ç SeíÇojiEV o ò k á p a ê a n t ò õ v e i y à p àíSiòv è o n t ò õ v (à p K ié o v y à p èvreíiB ev), o ò k ê%ei n v à àp^riv . (69) t ò y à p y iv ó n e v o v ráxv ê%ei n v ’ àp xrfv , t ò ô è à íô io v à y é v n r o v K a 0 e o r à ç o ò k e í^ e v àp%f|v. jLif| e%ov 5è à p ^ v à j te ip o v èonv. e i 5è àrceip óv è o n v , o ò ô a n o ò è o n v . eí y à p tcoí) è o n v , exep ov a ò r o ò è o n v èK eivo t ò è v © i è o n v , K a i o ik o ç o u tó T ’ à jte ip o v é o t a i t ò ôv è^jtepiexójievóv n v r |MÇov y à p è c m t o ò è^íieptexojjèvaot ò è(iJteptÉxov, t o u ô è à j te íp o u oòSév è o n p eíÇ ov , ô o t e o ò k è o -a jtou t ò à jte ip o v . (70) K a i nf]v oòÔ’ èv aòrah jtepié% eTai. T a ò r ò v y à p ê o T a i t ò èv ®i K a i t ò èv aòrôi, K a i 6 òo yevrjaeT ai t ò õ v , tó tcoç t e K a i o ô ^ ia ( t ò piv y à p èv ô i t ò j io ç ècrrív, t ò Ô’ év aòrôi oôfia). t o u t o ô é y e àxojcov . t o ív u v o ò ô è è v a v m i è a x t x ò õ v . ô o t ’ ei à iô ió v è c m t ò õ v , áiteipóv è c m v , ei ô è á ic e tp ò v è c m v , o ò ô a n o u è c m v , ei ô è nriôanoij è c m v , o ò k ê o t iv . t o ív u v e í à íô ió v è c m xò ôv, aòôè xnv á p y j)v õv è o n v . (71) K a i (xriv o ò ô è yevrrcòv e i v a i ô ò v a x a i t ò õv. ei y à p yéyovev, ffroí èi; Fragmentos 31 §67 E evidente que o não-ser não existe; se, com efeito, o não-ser existe, existirá e não existirá a um tempo; pois, se o apreendermos enquanto não-ser, não existirá, porém como não-ser voltará a existir. E completamente i absurdo que algo exista e não exista ao mesmo tempo; logo, o não-ser não existe e, por outro lado, se o não-ser existe, o ser não existirá; com efeito, estas coisas são contrárias umas às outras, e se ao não-ser coube em sorte a existência, ao ser caberá em sorte a não existência. Mas, sem dúvida, o ser não existe; logo, nem o não-ser existirá. §68 E também o ser não existe. Se realmente o ser existe, por certo é eterno ou gerado, ou então simultaneamente eterno e gerado; mas não é eterno nem gerado, nem tão-pouco ambas as coisas, como demonstraremos; logo, o ser não existe. Na verdade, se o ser é eterno - com efeito, deve-se começar por aqui - não tem qualquer começo. §69 Pois tudo aquilo que é gerado tem um princípio, mas o eterno, apresentado como não gerado, não teve princípio. Não tendo princípio, é infinito. Se é infinito, não existe em lugar nenhum. Mas se existe em algum lugar, esse lugar onde ele existe é diferente de si mesmo, e deste modo já não será infinito o ser contido nalgum lugar; na verdade, o que contém é maior do que aquilo que é contido, mas nada é maior do que aquilo que é infinito, de modo que o infinito não existe em lugar nenhum. §70 E também não está contido em si mesmo. Na verdade, o que contém e o que é contido serão a mesma coisa, e o ser dará origem a dois: espaço e matéria - espaço o que contém; matéria o que é contido. Mas isto é absurdo. Deste modo, o ser não está em si mesmo. Assim, se o ser é eterno, é infinito, e se é infinito não está em nenhum espaço, mas se realmente não está em nenhum espaço, não existe. Portanto, se o ser é eterno não tem um começo. §71 E também o ser não pode ser gerado. Se efectivamente foi gerado, é porque foi gerado a partir do ser ou do não-ser. Mas não foi gerado a 32 õv to ç ti èic j-iii õv toç yéyovev. à X k’ o f e èk to ü õv toç yéyovev- ei yàp õv ècmv, aí) yèyovev àXk’ éonv f|5r|- oüre èK toÍ) p.f) õvtoç- t ò yàp |ifj ôv oüSè yewr|oaí t i ô w u t k i Sià t ò èÇ àváyKrjç òjjjeíÀeiv mápÇefflç ii-eté^eiv t ò yewiinKÒv nvoç. o'òk àpa oi)6è yevrçróv èon t ò ôv. (72) ra tà xà trôrò Sè oi)5è t ò owapxJfcÓTepov, áiÔtov ájio; K ai yevrçTÓv xafrux yàp àvaipetucá èonv â \\i\hs>v, K ai ei áíStóv èoTi t ò õv, oò yéyovev, K ai ei yéyovev, od k éonv àíôiov. to ívuv ei jnrce àiôióv èon tò ôv [iffie yevrtròv tif|te t ò crova^órepov, o ò k àv eir| tò õv. (73) K ai ãkhaç,, ei éonv, ftroí év èotiv fj rnK K á' oôre Ôè év èonv owe jtoAM, óç raxpaoraÔ rjoeT ar owc àpa éon t ò õv. ei yàp ev èonv, fp;oi thxjóv èottv f) oove%éç èonv f| (íéyeüóç èonv f) a ô | i á ècmv. õ t i ôè àv fji Tomosv, oí»x ev èouv, ò X k à tkxjòv |ièv KaGeoTÒç ôiaipe&noerai., ouvexèç ôè ôv TutiOrjoeTat. óm-oúbç ôè [xéyeGoç V00\)|1£V0V ouk éoTai àôiaipeTOV. oôjia ôè xuyxàvov TpiítXow êorav Kai yàp ixfpcoç Kai Ttócoç Kai |3á6oç é£ei. àTonov ôè ye tò nrçôèv toútmv eivai tóyeiv tò õv- oük àpa èonv êv tò õv. (74) Kai |J.f|v otiôè noXXá èouv. ei yàp fxfi èonv êv, aòôè rnX ká èonv- aúv0eoiç yàp tóv ra0’ év èon Tà m X ká , ôitmep tou èvòç àvaipounévou ouvavaipeíxai Kai Tà im Xkà àX kà yàp õn (ièv oike tò ôv eonv ome tò p,fi ôv eonv, èK towcüv aujwjKXvéç. (75) õn ôè oòôè à|i<t>ÓT£pa èonv, tò Te ôv Kai tò jj.fi õv, eúeralóyioTov. elrcep yàp tò jj.fi ôv éon Kai tò ôv éon, Tamòv éorai tôi õvn tò ht| ôv õaov èm tô i eívav Kai ôià tovto otôéTepov am ôv eonv. õ n yàp tò jj.fi ôv oúk éonv, ónòXoyov ôéôeicxai ôè Tarnò Tovmai KáOeoTÓç t ò õv- Kai amò toívuv oúk êarai. (76) ai) nf)v àXX’ elitep Tainòv èon tô i ij.fi õvn t ò õv, oò ÔúvaTai àn4>ÓTepa eivar ei yàp àn(j)óTepa, oi> Taüróv, Kai ei Tamòv, ouk àn<|>ÓTepa. otç éiceTai t ò |ir[ôèv eivai, ei yàp jxfrce t ò ôv éon nfpe t ò jxf) ôv |xfpe àn^ôrepa, Jtapà ôè ram a aí>5èv Fragmentos 32 partir do ser; pois se é ser, não foi gerado por já existir; nem o foi a partir do não-ser, pois o não-ser nada pode gerar, pois aquele que gera algo deverá, forçosamente, partilhar da sua existência. Logo, o ser não foi gerado, §72 E do mesmo modo, não pode ser as duas coisas simultaneamente: eterno e gerado. Com efeito, estas coisas anulam-se uma à outra, e se o ser é eterno não foi gerado e se foi gerado não é eterno. Deste modo, se o ser não é eterno nem gerado, nem as duas coisas a um tempo, o ser não pode existir. §73 E por outro lado, se existe, ou é uno ou múltiplo; todavia, não é uno nem é múltiplo, como passaremos a provar: logo, o ser não existe. Se, com efeito, é uno, ou é quantidade ou é continuidade ou é grandeza ou é corpo. Mas se for alguma destas coisas não é uno, pois apresentado como quantidade será dividido e como continuidade será repartido. Igualmente concebido como grandeza não será indivisível. E se é corpo terá obrigatoriamente três qualidades: comprimento, largura e profundidade. Mas é absurdo dizer que o ser não é nenhuma destas coisas: logo, o ser não é uno. §74 E também não é múltiplo. Se não é realmente uno não é múltiplo. De facto, a multiplicidade é uma combinação de unidades, e uma vez destruída a unidade, suprime-se a multiplicidade. Ora, com base nisto, é evidente que nem o ser existe nem o não-ser existe. §75 É fácil provar que nenhum dos dois, ser e não-ser, existe. Se acaso o não-ser existe e o ser existe, o não- -ser será idêntico ao ser relativamente à existência; por isso, nenhum deles existe. Que o não-ser não existe, já estamos de acordo; por outro lado, ficou claro que o próprio ser tem natureza idêntica ao não- -ser: e portanto, também o ser não existirá. §76 Mas se o ser é idên tico ao não-ser, não podem existir ,ambos, pois se ambos existissem não seriam idênticos, e se porvènturâ são idênticos não existem ambos. Com tudo isto, conclui-se que nada existe. Pois se, na ver dade, não existe o ser nem o não-ser e nem ambos coexistem, para além disto nada é pensável, nada existe. 33 v o e ira i, oúôèv êcmv. (7 7 ) o n ô è m v f ) i t i , to ô to á y v a m ó v xe K ai áV em vÓ T fT Ó v è o n v à v ü p é r a o i , í t a p a K e in é v c a ç m o S e i K r é o v . s i y à p i à <t>p0v o i ) | i £ v a , (frrjaáv ò r o p y í a ç , o í)K è o n v ô v r a , t ò ô v od> ( |> p o v e ir a t . K a i ícaxà à ó y o v â>o?tep y à p e i to íç ( j íp o v o ú n e v o iç OT,u.|íé(JrjK ev e i v a i Ãsdkoíç, k & v <yt)p,p£pf}K£i to íç A ídkoÍç < |)p o v e ío 0 a i, oircmç e i to íç ( js p o v o é n f iv o iç (ru p ,p ép riK ev }if| e i v a i o & n , K a T ’ à v á y i c n v o u f i p T p e r a i to íç o o t i j i f | ( |) p o v e ío 0 a i . (7 8 ) ô ió i t e p t iy iè ç K a i aôiÇov à K o 3 u n ) 0 ia v è o n t ò ’e i t á (^ p o v o ú i- ie v a o ò k é o n v õ v r a , t ò ô v o i ) ( f t p o v e í a t a i ’. T à ô é y e < j)p o v o ú n £ v a (7 tp o à r|jru É o v y á p ) oük è o nv ô v r a , ó ç 7 t a p a o n í o o ( i e v oò k à p a tò ò v < t> poveíra i. K a i f if iv õ n t ò ^ p o v o ú j i E v a o ò k è o n v ô v r a , o u jk Jk x v éç - (7 9 ) e i y à p i à < |>povot)(X£vá è o n v ô v r a , r c á v i a T à c ^ p o v o -ó n e v a è o n v , K a i o r a i à v n ç a m à < j>povf|o tii. õ i t e p è o r i v à j te ( i< |> a iv a v e i ô è è o n , (|xxí)À ov. o ò õ è y à p â v (j)pov fii n ç à v ô p e w to v Í T t r á u e v o v f | á p j i a r a è v íc e Á á y e t x p é x o v r a , e-òBécdç â v G p o m o ç í r c r a r a i f | a p u a r a è v T teÀ á y e i Tpè%ei. ô o r e o i ) T à ()> p o v o í> |iev á è o n v õ v r a . (8 0 ) rc p ò ç TOÓTOiç e i T à < t> povo-ú |ievá è o n v õ v r a , T à |iT) õ v r a a u ( |> p o v r |& r |o e ra i. to íç y à p è v a v r í o i ç T à è v a v r i a o u n p é p T ]K e v , è v a v r i o v ô è è o n t ô i õ v n t ò n.i) òv. K ai S i à w d t o J tàv T to ç , e i xôi ò v n o u n p è p r |K e xò < t> poveioÔ ai, w jxf) õ v n o D j i p f i o e r a i tò |J.t) ( t> p o v e ío 0 a t. à T o i to v ô ’è o r i t o ü t o - K a i y à p X ícú À X a K a i X i ^ a i p a K a i noXXà xâv p i j õ v x o v < j> poveira i. o ü k á p a t ò ô v < t> p o v eíra i. (8 1 ) ô o i t e p Te T à ò p ó ( i e v a Ô ià t o ô t o ó p a T à À è y e r a i ô n ò p â r a i , K a i T à à K o v m à ô i à t o ü t o à K o u o r à õ n á K o ò e r a i , K a i ov xà j i è v ó p a T à è tc (J á íU .o |i£ v õ n o i)K à K o ú e r a i , T à ô è àK O D O T à Fragmentos 33 §773 Ainda que algo pudesse existir, não seria reconhecível nem concebível pelos homens, eis o que, de seguida, se deverá demons trar. Se, como diz Górgias, tudo 0 que pensamos não existe como ser, 0 ser não é pensado. Isto tem a sua lógica, pois tal como acon teceu às coisas pensadas serem brancas, também poderia ter acon tecido às coisas brancas serem pensadas; do mesmo modo, se às coisas pensadas aconteceu não existirem, necessariamente acon tecerá aos seres não serem pensados. §78 Daí a seguinte conse qüência como algo de sensato, também a salvaguardar: "Se aquilo que pensamos não existe como ser, 0 ser não é pensado". Mas cer tamente aquilo que pensamos - voltemos, pois, atrás - não existe como ser, o que será provado: logo, 0 ser não é pensado. E é evi dente que as coisas pensadas não existem como seres. §79 Se, de facto, as coisas pensadas existem como seres, tudo o que se pensa existe, independentemente da forma como for pensado, 0 que é I inverosímil. Nem é por alguém imaginar um homem a voar ou carros de cavalos a correr rapidamente sobre 0 mar, que logo um homem voa ou carros de cavalos correm rapidamente sobre 0 mar. Assim, as ' coisas pensadas não existem como seres. §80 Além disso, se aquilo que pensamos existe como ser, as coisas que não existem não podem ser pensadas. Por conseguinte, a coisas contrárias advém 0 contrário e 0 ser é o contrário do não-ser. E assim, pelo menos, se ao I ser aconteceu ser pensado, ao não-ser acontecerá não ser pensado. Mas isto é absurdo. Também Cila, Quimera e muitas outras coisas i não existentes são pensadas. Portanto, 0 ser não é pensado. §81 Tal como aquilo que se vê se diz visível por ser visto, 0 que se ouve torna-se audível por ser ouvido, e não rejeitamos as coisas visíveis : por não as ouvirmos, nem repudiamos as audíveis por não serem 3 Início da segunda tase da argumentação: "ainda que algo exista, não poderá ser conhecido". 34 jtapa7i£p.5xoji£V oxi oòx opâxat (ekkotov yàp wdò xfjç iôíaç aio&rpeoç àXk’ aò% íirfáÃ^rtç ô<j>£Ü£i K p ív e o ô a t) , oux© K a i xà (jípovo-óiieva K a i ei (if) (íÀéjcoixo xfii 5\|/ei jirjS è àKowxxo r q i àKoíii êoxat, õ u rcpòç xoú oteeíou Àap$ávexai xpiTTipíot). ( 82) ei ow (j>povei xiç è v JteJUxyet àpjiaxa xpé%eiv, K a i ei jxfj pXéra xama, è<j>eíãi Taoxeúeiv oxi àpjiaxa èotiv èv rceÀáyei xpéxovxa. àxoTxov Sè xomo- otiK àpa xò Òv (jipoveixai Kai KaxaÃajipàvexai. (83) Kai ei KaxaJuxppávoixo Sé, àvé^oioxov éxéprn. ei yàp xà ôvxa ôpaxà èaxi Kai àKouoxà Kai kqivôç aio&nxà, ámp èktòç 'íwrÓKeixai, xowxov xe xà nèv ópaxà ôpáoei Kaxa^rpcxá èaxi xà Ôè àKouoxà àKofji Kai cròic èvaÃÃài;, itrâç oôv Súvaxat xama èxépcoi jirivúeotoi; (84) St yàp jJ.r|vi)OjA£V, èoxi Ãóyoç, Àóycç ôè otjk eoxi xà moK8Í(ieva Kai ôvxa- oük àpa xà ôvxa pr|vúo(xev xoíç JtéÀaç àXkà Xóyov, ôç exepóç èaxi xâv ÍOTOKet|xév(üv. KaÔàrcep oíiv xò ópaxòv oòk âv yévoixo àKotxjxòv Kai àvàitaÀiv, oikoç èítei mÓKsixai xò ôv èKxóç, oüjk àv yévoixo Xóyoç ò fpéxepoç- (85) (if| ôv ôè Jtòyoç oòk àv ôtiAxD0eíri éxépoi. õ ye |xryv Aóyoç, (f»r|oív, àicò xãv eçú)0ev jtpoomjtxóvxmv fpiv rcpaynàxmv ouvíoxaxai, xoméaxi xrôv aio&rfrâv èK yàp xrjç xou xvkov èyKtipf|oeoç èyyívexat fija.tv ó Kaxà xamr|ç xf|ç jioióxnxoç èK(|)epó(ievoç Àóyoç, Kai èK xf\ç xoü %pépaxoç mojcxóaeojç ò Kaxà xou xp®(J.axoç. ei Sè xomo, cm% ó Aóyoç xou èKxòç jtapaoxaxiKÓç èoxiv, àXkà xò éKxòç xoô Àóyoi) utitoukòv yivexai. (86) Kai (ifiv ouSè éveaxi Aiyeiv ôu ôv xpônov xà ópaxà Kai àKouoxà mÓKeixai, omoç Kai ó Aóyoç, ôoxe ÔwaoBai Fragmentos 34 vistas - pois cada uma dessas coisas deverá ser percebida pelo sen tido que lhe é próprio e não por outro - do mesmo modo, aquilo que pensamos, ainda que não seja percebido pela vista nem escutado pelo ouvido, existirá porque é apreendido pelo seu próprio critério. §82 Assim, se alguém pensa que carros de cavalos correm rapida mente sobre o mar, embora os não veja, deverá acreditar que exis tem carros de cavalos correndo rapidamente sobre o mar. Porém, isto é absurdo. Logo, o ser não é pensado nem tão-pouco apreendido. §83* e ainda que se pudesse apreender, não seria transmissível a outrem. Se é verdade que há seres visíveis e audíveis e, na genera lidade, perceptíveis aos sentidos - seres esses situados no exterior - e destes, os visíveis são apreendidos pela vista, enquanto os audíveis o são pelo ouvido, e não de outro modo, como podem então eles ser comunicados a outrem? §84 Na verdade, é com a palavra que identificamos algo, mas a palavra não é nem aquilo que está à vista nem o ser: logo, aos que nos rodeiam, não comunicamos o ser mas sim a palavra, que é diferente das coisas visíveis5. Tal como o que é visível não se pode tornar audível e vice-versa, também o ser, porque subsiste exteriormente, nunca se pode transformar na nossa palavra. §85 E, não sendo palavra, não se poderá comunicar a outrem. A palavra, diz ele, forma-se a partir do reflexo exterior dos objectos em nós, ou seja, dos objectos sensíveis. Na verdade, a partir do encontro do sabor, origina-se em nós a palavra produzida de acordo com a qualidade daquele, e também a partir da impressão da cor nasce a palavra conforme a essa cor. E se é assim, a palavra não é expressão do objecto exterior, mas é o objecto exterior que se torna revelador da palavra. §86 E também não é possível dizer que, tal como os objectos visíveis e audíveis têm existência própria, do 4 Início da terceira e última fase da argumentação: “ainda que fosse possível conhecê-lo, não seria possível dar-lhe expressão". 5 Górgias refere-se à qualidade da palavra como signo lingüístico não arbitrário, já que é o objecto exterior que se torna revelador da palavra, e não o contrário. Pode- se, pois, dizer que ele alude aqui à existência duma teoria naturalista da linguagem que veremos mais tarde ser defendida sobretudo pelos epicuristas, como o teste munha Lucrécio no seu de rerum natura (V, 1028-1160). O ponto de vista oposto a este apresentava a linguagem como o resultado duma convenção. 35 é£, moiceifiévcru a » Kai õvtqç t à 'üícokeíjjlevcx Kai õvra |ir)vÚ£a8«i. e i yàp koíí 'ÓTtÓKEixai, (|>r|CTiv, ó Àóyoç, àXXà Ôiaijiépci tô v Ãxíiíeôv moiceijiévfflv, Kai rcteiami
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