Prévia do material em texto
A sociedade à luz da ‘Imaginação Sociológica’ Uma introdução à compreensão científica sobre o mundo das relações sociais Conhecimento científico Ciência: Forma de conhecimento que usa a razão para explicar acontecimentos, situações e fatos que sejam fenômenos regulares (objeto de estudos) e que usa métodos igualmente racionais para confirmar, ou não, essas explicações. Para tanto sua ação envolve três momentos a abre caminho a um Quarto: Teórico: a observação sistemática e a erudição se combinam no processo de elaboração da(s) explicação(ões) que definirá(ão) a(s) hipótese(s). Metodológico: envolvendo variadas técnicas de pesquisa, compreende o processo de submissão da teoria aos fatos, maneira pela qual a(s) hipótese(s) ganha(m) ou perde(m) sua validade. Divulgação: Submissão dos resultados (tese) à comunidade científica e à humanidade, proporcionando a validação. Tecnologia: as conquistas do saber científico tendem a subsidiar aplicações, afinal, ao compreender um fenômeno, tornamo-nos mais potentes para intervir sobre ele ( tecné + logos). Por uma ciência da sociedade Entre a imensa variedade de objetos sobre os quais a ciência possa debruçar existem as relações sociais, definidas como trocas simbólicas/linguísticas e materiais envolvendo dois ou mais seres humanos. Trata-se de um objeto extremamente complexo, sobretudo porque cada ser humano age (só ou acompanhado) de acordo com o(s) sentido(s) que orienta(m) sua ação, e não em obediência a um código genético ou pré-orientação natural. Então as ciências sociais necessitam: Interpretar intérpretes Lidar com a complexidade das motivações humanas Lidar com a imprevisibilidade das ações que perfazem as relações humanas Pois seu objeto é cultural Imaginação sociológica I: definição Lidar com a complexidade e com um alto grau de imprevisibilidade suscita desafios extras às ciências da sociedade. Isso as convoca a desenvolver a imaginação sociológica: Consiste na configuração de um modo de olhar que diferencia o observador/pesquisador do cidadão que vive a vida sem ficar fazendo ciência sobre ela e que, por isso, incorpora em sua atitude natural, gestos que trazem significados que passam despercebidos. A imaginação sociológica busca por significados que associam ações sociais, que partem do indivíduo, a causas culturais, que envolvem a mentalidade que o influencia. Com isso ela identifica padrões e tendências que pautam comportamentos médios e, nesse sentido, previsíveis Imaginação sociológica II: estratégias teóricas História e causalidade: a regularidade da ação humana só pode ser observada com o apoio da história, mesmo que o presente nunca seja uma repetição exata do passado. Erudição e afastamento de pré-noções conhecer dados, informações e interpretações sobre o assunto que se estuda e sobre o qual pretende-se falar é fundamental. Desnaturalização de fatos e crenças: quase nada do que aconteceu foi inevitável e nada do que acontecerá está escrito. Também é importante o exercício mental de estranhar o familiar ao mesmo tempo em que familiariza-se com o estranho. Metáforas: associações mentais comparativas podem ajudar a entender acontecimentos, ações e processos mediante a observação de outros acontecimentos, ações ou processos. Dados e informações quantitativas: sempre que possível as Ciências Sociais, assim como as demais ciências, devem se valer de medições para interpretar relações tendenciais e modismos Relação social ou Interação Se não estou só, estou em um contexto de interação O diferencial da ação humana: atos intencionais ( dotados de sentido) Ação social: o ato intencional quando ele é dirigido a ou orientado por outrem( mão única) Relação social ou interação: ações indo e vindo ( mão dupla) Trocas simbólicas e linguísticas (take role) Papéis sociais Usando a imaginação sociológica I: a sociedade como um grande teatro Sociedade: malha de conexões de sentidos (weber). Atores desenvolvem razões e afetos que os motivam a empreender relações. Famílias de “vibes”: razões e afetos são famílias de sentidos que nossas mentes estão o tempo todo a desenvolver (vibes). As razões motivam desde a mais pragmática das ações até os argumentos de uma ética universal. Os afetos vão desde o amor até o ódio, incluindo as apatias, antipatias, empatias e simpatias. A “química” do teatro: a maneira como esses motivadores da ação se combinam gera toda a diversidade, a pulsação e a padronização da vida social. Os behavioristas norte-americanos procuram medi-la por critérios de motivação. Cultura: envolve os sentidos e valores compartilhados que definem as características da relação com a netureza ( cultura material) e da relação entre os sujeitos. Mentalidade:Forças mentais que alimentam a produção de sentidos de uma sociedade. Engloba modismos éticos (etiquetas), estéticos e práticos difundidos numa civilização dentro de um contexto histórico determinável. Habitus: o arranjo de capitais econômicos, simbólicos e culturais que associa coisas e habitus a posições e distinções sociais A cultura praticada por uma sociedade é genérica e mutável (modas), configurando-se como arranjos históricos O aprendizado do ator social: socialização O bonde da história: Todos somos produtos de nosso tempo; crianças se tornam adultos na medida em que aprendem a encenar papéis sociais. Esse aprendizado se chama ‘socialização’. Socialização primária: é a transformação da criança em adulto realizada, segundo Freud, invariavelmente, por um processo de repressão sexual. É como o habitus e a mentalidade são introjetados no indivíduo. Constrói o cidadão. Socialização secundária: em sociedades complexas a construção da identidade passa por a atuar setorizadamente. Constrói o profissional e perfila gostos e grupos sociais específicos, como clubes, tribos, associações voluntárias Usando a imaginação sociológica II: o teatro também é um jogo Encenamos os papeis esperando resultados, mas esses dependem do modo como encenamos: dando lances. A dinâmica pela qual se trocam lances na vida social (take role) pode ser denominada Trocas linguísticas ou trocas simbólicas No teatro da vida social (aquela que vivemos quando não estamos sós) somos ao mesmo tempo atores e jogadores. Assumimos papéis e passamos a depender de nossas performances para obter maior ou menor sucesso e, por que não dizer, maior ou menor felicidade? O ‘eu’ (subjetividade ou consciência de mim mesmo) se referencia nessa agonística do take role tanto para desenvolver suas habilidades sociais, quanto para seu auto conhecimento e autoestima. O ‘eu’ se constrói enquanto vai rebatendo no ‘alter’. E o jogo é político Algumas coisas estão sempre em jogo nos momentos sociais de nossas vidas: uma delas engloba as simpatias e antipatias que emanam das relações, na medida em que as peças se movem nesse palco/tabuleiro. Entre as energias/faíscas que circulam nessa agonística, pela importância organizacional de sua praxis, ganham destaque nas atenções dos sociólogos as que geram efeitos políticos, ou seja, que envolvem alguém influenciando alguém Deixando bem claro: toda vez que alguém faz algo que não iria fazer caso não fosse a influência de um outro alguém, aconteceu política. Motivações: o que nos torna intencionais Quando se fala dos sentidos como experiências mentais que nos fazem agir, estamos falando de motivações. Nesse caso é sempre bom considerar uma ampla gama de variáveis. Motivações variam em intensidade, pessoas agem de pouco a muito motivadas. Variam pela natureza das volições (vibes) combinadas ou embarcadas em cada ação social. Emoções, desejos, interesses, temores, imaginação, convicções, variam em como se combinam em cada grupo, sociedade, cultura, época. Variam pela força do vínculo social: desde as quase puramente conectivas até as quase puro compromisso A sociedade como fenômeno organizado : forças padronizantes Normatividade: conjunto de regras que orientam as ações, incluindo as atribuições sociais dos papeis e o espectro de permissividade da expectativa depapel. Instituicões sociais: conjunto de hábitos cristalizados em organizações, estatutos e códigos, rotinas e protocolos, incluindo o Estado, instituição compósita que tem como atribuição administar a sociedade Comportamentos médios: as forças coletivizantes da vida social (cultura,normatividade e institucionalidade) induzem seres humanos a adotarem comportamentos médios ou padronizados. Organização: gânglios de produção de sentidos que abrigam comportamentos médios, conglomerando compromissos entre atores, roteirizando experiências, institucionalizando papeis e buscando direciona-los a uma ou mais metas. Ex: Estado, empresa, escola, universidade As três dimensões da vida social Dimensão institucional (sistema): envolve as instituições como a família, a escola, a igreja, a empresa, as associações da sociedade civil organizada, coletivos, cooperativas, pessoas jurídicas em geral, incluindo as organizações que são complexas e compósitas como o Estado e as grandes corporações transnacionais. Costumam trazer estatutos e metas e abriga o formato “oficial” dos papeis sociais. Dimensão intersubjetiva (mundo da vida): envolve as relações que se dão entre pessoas que se conhecem nas negociações que perfazem a vida cotidiana. Envolve hábitos e atitudes (naturais) que os atores sociais performatizam enquanto assumem papéis e se posicionam institucionalmente. As díades e os grupos de amigos (turmas) são associações típicas do mundo da vida. Dimensão psíquica (subjetividade): envolve os modos como as orientações sociais são assimiladas por cada ator social, condicionando suas performances. O modo como o habitus e a mentalidade penetram na psique configura o que Foucault denominou microfísica do poder. A identidade é o principal construto típico dessa dimensão. image1.png