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PSICOPATOLOGIA 
AULA 5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Maria Cecília Beltrame Carneiro 
 
 
 
 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Na prática clínica, os sinais e os sintomas não ocorrem de forma aleatória; 
surgem em certas associações, agrupamentos mais frequentes e estáveis, 
classificados em síndromes. Entretanto, ao se delimitar uma síndrome (como 
depressiva, demencial, maníaca etc.), não se trata ainda da definição e da 
identificação de causas específicas, do curso e evolução de um transtorno. Ela 
descreve um conjunto momentâneo e recorrente de sinais e sintomas. Na 
medicina, as entidades nosológicas são doenças ou transtornos específicos 
(como esquizofrenia, doença de Alzheimer, anorexia nervosa etc.), nos quais 
podem-se identificar (ou presumir) alguns fatores causais, o curso e evolução. 
Além disso, busca-se identificar mecanismos psicológicos e psicopatológicos 
característicos, antecedentes genéticos e familiares. 
Na psicopatologia, não é incomum trabalharmos no âmbito das 
síndromes, pois, algumas vezes, o diagnóstico preciso de entidades nosológicas 
e transtornos específicos é difícil ou incerto. Cabe, ainda, lembrar que o 
reconhecimento dessas entidades não tem apenas um interesse científico, mas 
também viabiliza ou facilita o desenvolvimento de terapêuticas e ações 
preventivas mais eficazes. As vivências psicopatológicas podem ser divididas 
em: transfundo das vivências de contexto mais geral e basal e sintomas 
específicos ou emergentes, que ocorrem e se desenvolvem de forma perceptível 
e delimitável. Estes últimos se desenvolvem sempre sobre determinado 
transfundo. 
Assim, temos os transfundos estáveis, os quais são pouco mutáveis, 
como a personalidade e a inteligência. Qualquer experiência (alucinação, delírio, 
afeto etc.) ganha conotação diferente com base na personalidade específica do 
indivíduo que a vivencia. Pacientes com personalidades mais passivas, 
dependentes e “sem energia” tendem a vivenciar os sintomas de modo também 
passivo; já indivíduos hipersensíveis ou muito reativos tendem a responder aos 
sintomas de forma mais intensa ou superdimensionada, por exemplo. A 
inteligência determina a diferenciação, a profundidade e a riqueza dos sintomas 
psicopatológicos. 
Pacientes muito inteligentes podem produzir delírios ricos e complexos, 
interpretam constantemente suas vivências e desenvolvem as dimensões 
conceituais dessas experiências de forma mais acabada. Já os com inteligência 
 
 
3 
reduzida criam quadros psicopatológicos menos nítidos, com menos detalhes, 
superficiais e, às vezes, pueris. Os transfundos mutáveis e momentâneos são 
representados pelo nível de consciência, atenção, humor e estado afetivo. Eles 
atuam na determinação da qualidade e no sentido do conjunto das vivências 
psicopatológicas. O nível de consciência e a atenção estabelecem a clareza e a 
precisão dos sintomas específicos. Sob o estado de obnubilação da consciência, 
alucinações, recordações e sentimentos são experimentados em uma atmosfera 
nebulosa e até confusa. O humor e o estado afetivo de fundo influenciam no 
desencadeamento de sintomas e na intensidade da vivência: uma lembrança, 
uma alucinação ou um delírio em um estado depressivo grave passam a ter uma 
importância enorme para o sujeito. Portanto são as vivências psicopatológicas 
mais destacadas que o paciente experimenta. 
As síndromes são conjuntos de sinais e sintomas que se agrupam de 
forma recorrente e são observados na prática clínica diária, sendo o primeiro 
passo na organização do raciocínio psicopatológico dos sinais e dos sintomas 
dos pacientes. Assim, o raciocínio clínico vai evoluindo gradativamente ao longo 
das primeiras avaliações para o conhecimento mais aprofundado sobre o 
paciente e seu sofrimento mental. 
 Nesta aula daremos início ao estudo das principais síndromes 
psiquiátricas, com ênfase nas alterações mais comuns na entrevista e no exame 
do estado mental de cada. A ideia é apresentar a vocês, alunos, os transtornos 
mais recorrentes no atendimento em saúde mental. Lembre-se de que esta é 
uma aula e muitas das citações e termos técnicos apresentados necessitam de 
aprofundamento por meio das bibliografias sugeridas e na sua prática clínica. 
Além disso, há muitos outros transtornos psiquiátricos que não foram abordados 
aqui, mas que são igualmente essenciais de se estudar e aprofundar em 
supervisões e atendimentos. 
TEMA 1 – SÍNDROMES DEPRESSIVAS 
De acordo com Sampaio e Lotufo Neto (2019), 
o transtorno depressivo é uma condição clínica comum, tendo uma 
prevalência de 15% ao longo da vida na população geral. Sua 
incidência na atenção primaria chega a 10%, em pacientes internados 
esta taxa sobe para 15%. A idade média do primeiro episódio 
depressivo é em torno dos 27 anos, sendo que 40% relatam o primeiro 
antes dos 20 anos, 50% entre 20 e 50 anos e 10% após os 50 anos. A 
depressão é duas a três vezes mais frequente em mulheres e foi 
 
 
4 
estimada como a segunda causa de incapacitação em países 
desenvolvidos e a primeira em países em desenvolvimento. 
Atualmente considera-se que a depressão resulta de uma interação 
entre processos biológicos, psicológicos, ambientais e genéticos. Do 
ponto de vista fisiopatológico, a teoria das monoaminas é a mais 
consolidada e postula que a depressão está ligada a falta ou 
desequilíbrio dos neurotransmissores noradrenalina, serotonina e 
dopamina no sistema límbico. Os fatores genéticos têm um papel 
significativo no desenvolvimento de transtornos do humor, porém 
sendo padrão de herança genética complexo que contribui entre 40 a 
50%. O uso de substâncias psicoativas (álcool, inibidores de apetite) 
destaca-se como um fator de risco ambiental para depressão. Também 
sabe-se que eventos adversos precoces (p. ex., baixo suporte social e 
abuso físico e/ou sexual na infância) também configuram um fator de 
risco ambiental, bem como outros fatores psicossociais, por exemplo, 
perda do emprego, de um ente querido ou separações. 
 Mesmo com a alta prevalência ao longo da vida, estima-se que 
aproximadamente metade dos pacientes neguem seus sintomas depressivos e 
em quadros menos graves podem não demonstrar externamente seu humor 
rebaixado. Nessas situações, o paciente pode ser levado por um familiar até a 
consulta. Por isso, é importante que o profissional de saúde assuma uma postura 
ativa na investigação dos sintomas, a menor suspeita de um quadro depressivo. 
Os sintomas essenciais ou cardinais da depressão são: 
1. Humor depressivo; 
2. Anedonia (prejuízo da capacidade de sentir alegria e prazer) e 
fatigabilidade. 
O paciente também pode apresentar apatia e indiferença ao seu redor e 
ainda angústia e desespero. Os sintomas ansiosos são muito comuns podendo 
ocorrer em até 90% desses pacientes, embora não seja um critério diagnóstico 
(no DSM-V os sintomas ansiosos entram como um especificador, dada a 
importância destes). Alterações no sono também são muito comuns (80% dos 
casos), sendo as queixas mais frequentes a insônia terminal ou despertar 
precoce e múltiplos despertares ao longo da noite. Outra característica do quadro 
é o relato de variação (ou oscilação) dos sintomas durante o dia, com queixas 
mais intensas pela manhã e redução dos sintomas à noite. Queixas físicas, 
álgicas, alteração da libido, disfunção erétil ou ejaculação rápida também podem 
aparecer, assim como um aumento ou uma diminuição do apetite e do peso. Em 
torno de dois terços dos pacientes deprimidos cogitam o suicídio e 10 a 15% 
cometem-no. Alguns podem apresentar ideação suicida (referem vontade de se 
matar, sem plano concreto), mas devido ao desânimo ou falta de energia não 
são capazes de planejar e cometer o ato. 
 
 
5 
Em relação ao pensamento do paciente, a realidade passa a ser vista sob 
uma ótica pessimista, predominando relatos eventos passados as quais 
predominaram emoções negativas ou desconfortáveis (até mesmoos eventos 
positivos são relatados de forma a desvalorizá-los). O presente se traduz pela 
incapacidade de mudança e o futuro visto com desinteresse, sem planos ou 
como um cenário de ruína. Estas ideias pessimistas, apesar de recorrentes e 
espontâneas, são passiveis de refutação com argumentação lógica na maioria 
dos casos, ou seja, não são de base psicótica. Mesmo assim, em um quadro 
agudo ainda podem enviesar a entrevista e em alguns casos é necessário 
confirmar a veracidade das informações com outras pessoas próximas. 
A depressão também pode se manifestar com sintomas psicóticos (cerca 
de 15 a 19% dos casos): os pensamentos de cunho pessimista tomam uma 
proporção a ponto de tornarem-se crenças irrefutáveis, caracterizando o quadro 
como delirante. É importante ter em mente que, na grande maioria dos quadros 
delirantes secundários a um transtorno do humor, os delírios são congruentes 
com este, ou seja, os delírios de pacientes deprimidos giram em torno de temas 
como inadequação pessoal, pecado, ruína financeira ou moral, culpa, 
perseguição, doenças terminais etc. 
Ainda dentro do espectro psicótico, o indivíduo pode relatar alucinações 
com conteúdo depressivos, geralmente auditivas, e podem ser descritas como 
vozes que dizem “você não presta”, “você é inútil” ou “seus filhos vão passar 
fome”. As alucinações também podem ter o conteúdo de “punição merecida” 
(“vou morrer, vou sofrer, pois mereço isso”). As depressões psicóticas estão 
relacionadas a uma maior gravidade dos demais sintomas e são mais 
observadas em quadros bipolares do que unipolares. 
Neste tópico, daremos maior ênfase ao transtorno depressivo maior, o 
qual tem seus episódios caracterizados pelos critérios diagnósticos a seguir. 
1.1 Critérios diagnósticos – DSM V 
Durante a apresentação em vídeo, citaremos os sinais e sintomas para 
fechar um diagnóstico de transtorno depressivo maior (para saber mais, 
aprofunde sua leitura no próprio manual da APA – DSM V). As síndromes e as 
reações depressivas surgem com muita frequência após perdas significativas: 
de um ente querido, emprego, moradia, status socioeconômico ou algo 
puramente simbólico. A depressão maior é mais bem conceitualizada como uma 
 
 
6 
síndrome clínica multissistêmica. Para que se possa fazer seu diagnóstico, 
alterações em quatro principais domínios devem estar normalmente presentes: 
alterações de humor, alterações psicomotoras, alterações cognitivas e 
alterações neurovegetativas. 
Humor deprimido – o paciente enxerga o mundo através de uma “lente 
cinzenta”: as suas relações com as demais pessoas são carregadas de um afeto 
triste, sendo que o indivíduo se sente, a maior parte do empo, triste, vazio. 
Diminuição do interesse e/ou do prazer em todas, ou quase todas, as atividades 
pelas quais antes o indivíduo se interessava. Embotamento dos sentimentos; 
agitação ou inquietação, uma dificuldade em ficar parado, aliado à insônia; 
retardo psicomotor; pobreza de movimentos espontâneos, aumento do tempo de 
latência de resposta; baixa concentração; estupor/apatia; pensamentos 
negativos distorcidos em relação a si próprio, ao mundo e ao futuro. 
Também podemos memorizar através dos “3 Ds” a serem 
obrigatoriamente investigados numa suspeita de depressão: desvalia, 
desamparo e desesperança, podendo culminar com comportamento suicida; 
anorexia ou hiporexia/perda de peso; insônia, mas também pode ocorrer a 
hipersonia – necessidade aumentada de sono, sonolência diurna e dificuldade 
de acordar pela manhã. No episódio depressivo, evidentes sintomas depressivos 
devem estar presentes por pelo menos duas semanas e não mais que dois anos 
de forma ininterrupta. Esses episódios na comunidade podem ser curtos (cerca 
de 50% duram menos do que três meses) ou longos. Cerca de 15 a 26% das 
pessoas com depressão maior apresentam um curso crônico de depressão, com 
duração de mais de dois anos, que pode ser de intensidade leve (distimia – 
humor irritado é mais frequente) ou de moderada a grave. Começa geralmente 
na adolescência ou no início da vida adulta e persiste por vários anos. Também 
são comuns na distimia o mau humor crônico e a irritabilidade. 
Em resumo, as alterações no EEM encontradas em pacientes deprimidos: 
• Aparência: o desinteresse ou a falta de energia pode prejudicar os 
cuidados e higiene pessoais. Alguns pacientes preferem vestir-se com 
roupas escuras; 
• Atitude: é comum uma atitude queixosa ou lamuriosa ou ainda o 
desinteresse/apatia pode levar a uma atitude de indiferença; 
 
 
7 
• Atenção: ocorre hipoprosexia, em função da anedonia ou então uma 
rigidez da atenção, quando o paciente se concentra apenas em algumas 
ideias de conteúdo de sofrimento; 
• Sensopercepção: a hipoestesia, as ilusões catatímicas e as alucinações 
auditivas são as mais frequentes; 
• Memória: em função do desinteresse em relação ao mundo externo, a 
capacidade de memória de fixação está reduzida. Quando a inibição 
psíquica é muito intensa, há também uma hipomnésia de evocação. Por 
outro lado, há uma maior facilidade para evocar fatos ruins, geradores de 
culpa (uma hipermnésia seletiva), enquanto lembranças agradáveis 
tornam-se raras. São comuns distorções das recordações (alomnésias), 
geralmente permeadas por conteúdo de tristeza, ruína ou culpa; 
• Linguagem: oligolalia ou mutismo, bradilalia, hipofonia e aumento da 
latência de resposta, podendo ocorrer também hipoprosódia ou 
aprosódia; 
• Pensamento: está em geral lentificado. Temas niilistas, de culpa ou ruína, 
mesmo que não sejam sob a forma de um delírio, podem se tornar 
perseverantes e dominantes no discurso do paciente; 
• Delírio: nas depressões psicóticas, os temas delirantes mais comuns são 
ruína, culpa, hipocondria e negação; 
• Inteligência: as dificuldades cognitivas são secundárias e reversíveis, 
associadas com o prejuízo na atenção, à falta de motivação e à inibição 
do pensamento que acompanham as alterações do afeto; 
• Volição: há hipovolição, assim como anorexia ou hiporexia, insônia (mais 
raramente hipersonia), perda da libido e, nos casos mais graves, 
negativismo e ideação suicida; 
• Psicomotricidade: costuma haver hipocinesia. Também podemos 
identificar o estupor depressivo (em casos graves), no qual a mímica de 
tristeza está presente, em contraste com a indiferença afetiva observada 
no estupor esquizofrênico. Nas depressões ansiosas pode haver 
inquietação ou agitação psicomotora; 
• Orientação: o paciente sente o tempo passar vagarosamente na 
depressão. Ocorre uma desorientação apática; 
• Afeto: há uma tristeza patológica, que costuma ser caracterizada como 
uma tristeza vital. Em alguns pacientes, podem ocorrer ansiedade ou 
 
 
8 
irritabilidade. O estado de humor sofre poucas variações, caracterizando 
assim uma rigidez afetiva. 
Na maioria dos casos, o paciente deprimido costuma manter a crítica 
acerca da doença, ou seja, ele identifica que seu atual estado não corresponde 
ao seu “normal”. 
Além disso, dentro do que estudamos sobre a CNV, temos as seguintes 
alterações (Dalgalarrondo, 2018): “nos quadros depressivos de intensidade 
moderada ou grave, há, de modo geral, uma redução da expressividade afetiva. 
O contato ocular com as outras pessoas é diminuído, ou tende a não olhar ou a 
evitar a face e os olhos do interlocutor, pode dirigir-se para baixo e há redução 
global das interações sociais. A face, como um todo, revela emoções tristes, 
melancólicas ou simplesmente apáticas. Em alguns casos, por contração 
excessiva de alguns músculos da testa (há o enrugamento da pele sobre o nariz 
entre as sobrancelhas) que se contraem e se curvam em direção ao centro da 
testa, produzindo dobras no andar superior da face que parecem “desenhar” a 
letra ômega do alfabeto grego (Ω): por isso, tal expressão facial foi batizada de 
sinal do ômega”. 
Outras observações incluem a boca curvar-se para baixo e a cabeça 
apontarna direção do chão, com postura cabisbaixa (esta reduz à medida que o 
paciente apresenta melhora, geralmente quando há pouca recorrência). O 
paciente deprimido dificilmente sorri, ou sorri pouco. Os gestos da cabeça, mãos 
e corpo podem estar diminuídos, a voz pode ser monótona, com pouca 
expressividade e, em alguns quadros extremos, de difícil compreensão. Como 
apoio, também pode-se utilizar algumas escalas como Escala de Avaliação para 
Depressão de Montgomery e Åsberg (MADRS) e Escala de Hamilton para 
Avaliação de Depressão. 
TEMA 2 – SÍNDROME MANÍACA 
Episódios de mania distinguem o transtorno de humor depressivo unipolar 
do transtorno do humor bipolar (THB) pois, neste, ocorrem episódios depressivos 
e, obrigatoriamente, pelo menos um episódio de mania ou hipomania ao longo 
da vida. Os episódios de mania e depressão ocorrem de modo relativamente 
delimitado no tempo (fásicos), e, com frequência, há períodos de remissão, em 
que o humor do paciente encontra se normal, eutímico, e as alterações 
 
 
9 
psicopatológicas. O THB tipo I apresenta uma prevalência significativa, 
acometendo 1% da população ao longo da vida. Tipicamente o THB tipo I pode 
ter início desde a infância até os 50 anos de idade, sendo a média de 
apresentação em torno dos 30 anos e tem prevalência igual entre homens e 
mulheres, os episódios depressivos são muito mais frequentes do que os 
maníacos do modo geral, mas os episódios maníacos são mais comuns em 
homens e os depressivos mais comuns em mulheres. Também, é mais 
recorrente entre as pessoas que não concluíram ensino médio, o que pode 
indicar a idade precoce de início do transtorno. Vale ressaltar que o THB vai além 
do tipo 1 e que o DSM-5 engloba dentro do transtorno bipolar uma serie de 
subtipos, como: THB tipo I, THB tipo II, transtorno ciclotimico, THB induzido pelo 
uso de substâncias ou medicamentos, THB devido a uma condição médica, entre 
outros. 
Neste segundo tema daremos maior ênfase ao THB tipo I e THB tipo II. 
Assim como na depressão, existem diversas alterações endócrinas, 
neurológicas e metabólicas descritas em pacientes com THB I, assim como 
diversas teorias psicológicas. Em relação ao componente cerebral do THB, há 
certo consenso de que haveria uma combinação de comprometimento do 
controle cognitivo-emocional, implicando estruturas com ação deficitária como o 
córtex do cíngulo anterior dorsal, e os córtices pré-frontais dorsolaterais e 
dorsomediais, hiper-responsividade de áreas límbicas, como a amígdala, o 
córtex frontal ventrolateral e o córtex do cíngulo anterior ventral. Porém nenhuma 
delas mostrou-se totalmente capaz de explicar as manifestações e o curso desse 
transtorno. O fator genético é significativo em seu desenvolvimento e mais 
importante do que na depressão, sendo também um padrão de herança é 
complexo: 50% dos indivíduos bipolares possui um parente com transtorno de 
humor. Se um dos pais tem THB tipo I existe chance de 25% de que qualquer 
filho desenvolva um transtorno de humor. Se os dois pais têm esse transtorno, a 
chance aumenta para 50-75%. 
A mania é indicada por um humor elevado, expansivo ou irritável que se 
desvia do humor normal do paciente (cuidado com frases feitas como “vou da 
alegria à tristeza no mesmo dia”, aqui, o humor é patológico também, ou seja, 
causa prejuízo e dura vários dias). Este fica impulsivo, grandioso e distraído e 
apresenta comportamentos de risco. O transtorno bipolar II é caracterizado por 
episódios de depressão e episódios de hipomania (os sintomas são mais leves 
 
 
10 
e breves e não satisfazem todos os critérios para a mania). Para ambos os 
transtornos, o episódio mais recente pode ser descrito com alguns aspectos 
especificadores, como “com características psicóticas”, além disso, os pacientes 
podem apresentar um “estado misto”, com elementos tanto de depressão como 
de mania ou hipomania (p. ex., humor deprimido com irritabilidade e insônia). É 
comum o transtorno bipolar I começar com um episódio de depressão e ser um 
transtorno recorrente. O prognóstico é pior para esse transtorno do que para o 
depressivo maior. Ele tem um curso crônico em cerca de um terço dos pacientes, 
que apresentam declínio social significativo. Pacientes do tipo bipolar II 
apresentam tendência a episódios depressivos. 
Além disso, quase sempre presente, observa-se nos quadros maníacos a 
aceleração das funções psíquicas (taquipsiquismo); pode haver agitação 
psicomotora, exaltação, loquacidade e pressão para falar, assim como 
pensamento acelerado e fuga de ideias. O quadro deve durar pelo menos uma 
semana, mas a média de duração do episódio maníaco é por volta de três 
meses. A atitude geral do paciente pode ser alegre, brincalhona, eufórica ou, 
também, muito frequentemente, irritada, arrogante e, às vezes, agressiva 
tendendo a ser superficial e inconsequente. 
No episódio maníaco, são frequentes a euforia, que é alegria marcante e 
desproporcional aos eventos da vida e a elação, que é o sentimento de expansão 
e engrandecimento do eu e/ou a irritabilidade, em graus variados. Não são raros 
comportamentos espalhafatosos, como tirar a roupa em ambientes públicos ou 
ficar cantando e/ou pregando e também ocorrem ideias ou delírios de grandeza, 
poder, riqueza e/ou importância social. Também podem estar presentes 
alucinações (geralmente auditivas e visuais). O DSM-5 exige, para o diagnóstico 
de episódio maníaco, além de humor elevado, pelo menos mais três dos 
sintomas de mania (quatro, se o humor for apenas irritável) descritos a seguir: - 
Aumento da autoestima: o paciente se sente superior, melhor que os outros, 
mais potente. 
Diminuição da necessidade de sono: os familiares podem descrever como 
insônia, mas trata-se, de fato, de diminuição do tempo de sono, sem queixas do 
paciente (que dorme pouco, de 3 a 4 horas por noite, sem que isso o afete). 
Produção verbal rápida, fluente e persistente, ou logorreia, com perda das 
concatenações lógicas, substituídas por associações contingenciais ou por 
assonância e tendência irresistível de falar sem parar, de não conseguir 
 
 
11 
interromper a fala. Alterações formais do pensamento – expressam-se como 
fuga de ideias, desorganização do pensamento, tangencialidade, 
descarrilhamento, incoerência, ilogicidade, perda dos objetivos e repetição 
excessiva. 
Atenção voluntária diminuída, e espontânea, aumentada. 
Aumento de atividade dirigida a objetivos (no trabalho, na escola, na 
sexualidade) ou agitação psicomotora. 
Envolvimento excessivo em atividades potencialmente perigosas ou 
danosas, como comprar objetos ou dar seus pertences indiscriminadamente e 
realizar investimentos financeiros insensatos ou indiscrições sexuais; 
comportamentos sexuais aumentados, desinibidos, e o paciente se torna 
particularmente vulnerável a exposições sexuais de risco (sexo desprotegido). 
Resumimos a seguir as alterações possíveis no EEM encontradas em 
pacientes em mania/hipomania: 
• Aparência: pacientes mulheres em mania costumam vestir-se com roupas 
muito coloridas e chamativas, excesso de maquiagem, muitos adornos, 
unhas e cabelo às vezes pintados com várias cores diferentes, roupas 
muito curtas e decotadas (aparência exibicionista). Os pacientes podem 
apresentar também uma aparência descuidada em função de uma intensa 
agitação, que impede que eles finalizem qualquer atividade, inclusive as 
relativas aos cuidados pessoais; 
• Atitude: pode ser expansiva, desinibida, jocosa, irônica, arrogante ou 
hostil; 
• Atenção: tipicamente há hipermobilidade com hipotenacidade da atenção: 
a atenção está mais comprometida na fase de mania do que nas fases de 
depressão ou de eutimia; 
• Sensopercepção: a elação do humor pode ocorrer com hiperestesia e na 
mania com sintomas psicóticos as alucinações auditivas são as mais 
frequentes; 
• Memória: há hipermnésia de evocação, associada a uma hipomnésia de 
fixação,a qual está relacionada ao estado de hipotenacidade e 
hipermobilidade da atenção. Do déficit da atenção poderá resultar, a 
posteriori, uma hipomnésia lacunar, referente ao período de maior 
agitação maníaca. Podem ocorrer ainda alomnésias, com as recordações 
sendo distorcidas em função das ideias deliroides de grandeza; 
 
 
12 
• Linguagem: o paciente fala alto, está logorreico ou taquilálico, com 
hiperprosódia e diminuição da latência de resposta, podendo apresentar 
ainda coprolalia, em função da desinibição; 
• Pensamento: é acelerado, com fuga de ideias. Se a aceleração for muito 
intensa, pode haver desagregação; 
• Delírio: na mania psicótica, os delírios típicos são os de grandeza. 
Todavia, tanto na mania quanto na depressão, observam-se também 
delírios persecutórios e outros incongruentes com o humor; 
• Volição: caracteriza-se pela presença de hiperbulia, aumento da libido, 
diminuição da necessidade de sono (como consequência do aumento da 
energia, este sintoma é bem característico nas síndromes maníacas), 
além de um fraco controle dos impulsos; 
• Psicomotricidade: a agitação psicomotora é bastante comum, mas mais 
organizada e mais relacionada ao ambiente do que a que ocorre na 
esquizofrenia; 
• Orientação: a passagem do tempo é percebida como acelerada; 
• Afeto: observa-se uma euforia (ou elação do humor) ou uma irritabilidade, 
ambas obrigatoriamente patológicas (causam prejuízo), também 
llabilidade ou incontinência afetiva. 
A CNV é bem característica: o comportamento global do paciente é muito 
ativo, alegre, eufórico ou irritável; interage com o interlocutor logo ao conhecê-
lo, como se fosse seu amigo íntimo. A proxêmica está alterada, e o indivíduo se 
aproxima de pessoas desconhecidas, podendo não respeitar a distância mínima 
de corpo com corpo, como se fosse uma pessoa íntima. A perda da inibição 
social é frequente no episódio de mania. Pode expressar também alegria e 
grandeza, contentamento transbordante, com risos, sobretudo quando conta de 
suas peripécias. Geralmente, considera-se uma pessoa extraordinária, por isso 
deve receber toda a atenção dos outros. 
No começo do quadro, pode haver algumas CNVs que indicam o início da 
fase maníaca. Além de diminuição da necessidade de sono, veste-se com 
roupas mais chamativas, às vezes provocativas sexualmente, bem como usa 
mais maquiagem ou adereços corporais; tem “acessos” de limpeza ou de 
arrumação (p. ex., resolve arrumar todas as suas roupas ou objetos guardados 
há anos); toma providências diversas, faz compras excessivas e investe em falas 
proselitistas sobre religião, política ou costumes. É comum que o paciente com 
 
 
13 
mania acorde muito cedo pela manhã, manifestando já uma hiperatividade 
ruidosa; canta e sobretudo se for religioso, prega para todos, entoa os hinos e 
canções de sua igreja ou outros hinos conhecidos. Tem uma loquacidade quase 
inesgotável, com condutas diversas e, às vezes, escandalosas. 
Seus movimentos às vezes são incessantes, acelerados e endiabrados; 
faz barulho, suas roupas podem ser vestidas de forma descuidada, colocando 
várias camisas, saias ou calças, umas sobre as outras. A mímica pode exprimir 
de forma exagerada as emoções que se impõem ao paciente. Há aceleração em 
todas as esferas psíquicas e comportamentais, da ação, do pensamento, das 
lembranças e das representações na imaginação. O ritmo global é não apenas 
acelerado, mas exagerado e descompassado. O paciente maníaco pode 
permanecer muitas horas, às vezes dias, em movimento agitado. Com o passar 
dos dias e semanas, as pessoas que lhe são mais próximas passam a impor 
limites aos seus atos, por exemplo, negam-lhe dar dinheiro, censuram sua 
atitude e fazem críticas crescentes. Geralmente, então, o paciente pode mudar 
de um estado global de alegria, elação e excitação para o estado de irritação, 
beligerância, podendo agredir familiares, profissionais da saúde ou outros que 
interagem com ele e lhe coloquem qualquer limite ou oposição. 
TEMA 3 – SUICÍDIO E COMPORTAMENTO SUICIDA 
Quando identificamos depressão grave, em algum momento da entrevista 
será necessário perguntar sobre risco de suicídio, com perguntas ativas e 
direcionadas, colocando-nos em alerta. Iremos revisar uma série de dados de 
sua história, ficaremos mais atentos aos detalhes do estado mental. É uma 
experiência frequente por que passa um profissional de saúde mental e também 
na qual nos faz termos habilidades para avaliação especializada: pôr em prática 
uma avaliação do risco de suicídio e identificar e priorizar os alvos para uma 
ação terapêutica 
O risco de suicídio, por mais cuidado que tenhamos em sua formulação, 
distancia-se da noção de previsão de quem irá, ou não, tirar a própria vida. 
Quando nos referimos a graus de risco – baixo, moderado ou alto –, estamos 
nos referindo a probabilidades de que um suicídio venha a ocorrer em um futuro 
próximo. Não há fórmula simples, nem escalas que possam fazer essa estimativa 
com precisão. A formulação de risco tem a principal vantagem de orientar o 
manejo clínico e colocar as ações terapêutica sem ordem de prioridade. Além 
 
 
14 
disso, o risco suicida é mutável: um risco crônico transforma-se em agudo, e 
avaliações sequenciais costumam ser necessárias. 
A melhor abordagem seria escalonar perguntas iniciando pelas mais 
abertas (“Você já pensou em morrer?” “Acha que se sumisse tudo se 
resolveria?”) e dependendo da resposta, afunilar para perguntas mais fechadas 
e objetivas (“Você está pensando ou já pensou alguma vez em se suicidar?”, “de 
que maneira?”). O paciente que descreve um plano específico de suicídio é muito 
preocupante, muitas vezes requerendo o apoio de terceiros durante a avaliação. 
Também devemos estar atentos aos sinais de alerta, como o indivíduo ficar mais 
quieto e menos agitado que o habitual depois de expressar uma intenção suicida 
ou fazer um testamento e doar propriedades pessoais. 
Os fatores de risco para suicídio incluem idade precoce ou avançada, 
dependência de álcool ou drogas, tentativas anteriores de suicídio (principal 
fator), sexo masculino e história familiar de suicídio. Adultos com transtorno 
depressivo maior sob tratamento com antidepressivos devem ser observados 
para identificar agravamento do humor deprimido e propensão ao suicídio, 
particularmente durante os meses iniciais do curso farmacoterapêutico e quando 
há alteração de dosagem (aumento ou redução). Os resultados de um exame 
mental cuidadoso, fatores de risco, tentativas anteriores de suicídio e 
pensamentos e intenção suicidas devem todos ser considerados ao se avaliar o 
risco de suicídio. 
3.1 Alterações no exame do estado mental atual 
Aqui, serão descritos alguns estados mentais que se associam ao risco 
de suicídio. 
3.1.1 Psychache e constrição cognitiva 
O neologismo psychache foi idealizado para denominar uma dor 
intolerável, vivenciada como uma turbulência emocional interminável, uma 
sensação angustiante de estar preso em si mesmo, sem encontrar saída. Junto 
com esse desespero, costuma haver a sensação de que a vida entrou em 
colapso e o suicídio passa a ser visto como a única saída, uma forma de 
cessação da dor psíquica. 
 
 
15 
3.1.2 Ansiedade, inquietude e insônia 
De modo geral, a inquietude motora, as preocupações excessivas e os 
sintomas corporais que acompanham a ansiedade levam ao desespero e à 
ideação suicida. O controle da ansiedade é sempre um objetivo terapêutico 
essencial no tratamento de pessoas sob risco de suicídio. A insônia é um fator 
de risco igualmente modificável pelo tratamento. 
3.1.3 Impulsividade e agressividade 
Atos impensados e explosões de raiva podem aparecer espontaneamente 
no relato porém é comum que os pacientes relutem em contar eventos dessa 
natureza. Precisaremos interrogá-los e, muitas vezes, contar com a informação 
complementar de um familiar. Algumas técnicas podem auxiliar aconfirmar tais 
alterações: passar a ideia de que reações excepcionais podem acontecer com 
qualquer pessoa e que, por isso, não deveria haver constrangimento ao 
responder e não usar as expressões impulsividade, agressividade, violência: 
“quando estamos sob muita pressão, podemos fazer coisas sem pensar; algo 
que, se tivéssemos um pouco mais de tranquilidade naquele momento, faríamos 
de um jeito diferente. Isso já aconteceu com você? Poderia me dar alguns 
exemplos?” “Já fez alguma coisa contra alguém, ou contra si mesmo, quando 
estava nesse estado?” É uma regra geral, principalmente em uma avaliação 
inicial, evitar termos que tenham conotação negativa ou adjetivos que impliquem 
julgamento. Se o paciente empregar as palavras que inicialmente evitamos, 
podemos, então, passar a usá-las. 
3.1.4 Desesperança 
Lembrar dos 3D´s: sentimentos de desesperança, bem como a falta de 
razões para viver, associam-se mais ao suicídio do que o humor deprimido: 
“Você tem planos para futuro? Você tem esperança de que sua situação vai 
melhorar?”. Investigar quais as razões que o paciente encontra para viver: 
responsabilidade pelos filhos, princípios podem compor um plano de segurança. 
 
 
16 
3.1.5 Vergonha e vingança 
É importante não menosprezar o sentido de expiação de culpa, ou de 
ataque vingador, que um suicídio pode representar. O suicídio pode resultar da 
vergonha em quem teve um segredo exposto ou em quem frustrou a própria 
expectativa ou a de outra pessoa. Alguns fatores de risco se associam com estes 
sentimentos: pessoa mora sozinha, pouco ou nenhum suporte social ou familiar, 
insistindo em uma reconciliação improvável, forma de pensar e de agir for do tipo 
“tudo ou nada, história de impulsividade, uso de substância em excesso. Nesses 
casos, mesmo na ausência dos principais fatores de risco (transtorno mental, 
tentativa de suicídio prévia), um contexto insuportável leva à necessidade de 
fazer alguma coisa definitiva. Para cessar a dor psíquica, ou para permanecer 
na lembrança do ser amado perdido, o suicídio pode ser visto como a melhor 
opção. 
3.1.6 Ambivalência 
Muitas vezes os pacientes estão ambivalentes, ou seja, oscilam a todo 
tempo sobre pensamentos opostos (suicidar-se ou não) e é nisso que devemos 
focar para fortalecer os fatores protetivos (suporte social, filhos etc). 
TEMA 4 – TRANSTORNOS POR USO DE SUBSTÂNCIAS 
De acordo com Cheniaux Jr. (2015) e Sampaio e Lotufo Neto (2019), 
As substâncias aqui citadas e denominadas psicoativas (ou seja, que 
atuam no cérebro e apresentam consequências nos fenômenos 
psíquicos) que fazem parte deste tópico da são: álcool, cafeína, tabaco, 
Cannabis (ou maconha), psicoestimulantes como cocaína (pó ou 
crack) e anfetaminas, opioides, alucinógenos, inalantes, sedativos, 
hipnóticos e ansiolíticos. Essas substâncias produzem, de modo geral, 
sensações de prazer ou excitação (respostas de recompensa), cuja 
correspondência cerebral está vinculada às chamadas áreas e 
circuitos de recompensa do cérebro. As principais estruturas 
envolvidas nesses circuitos são o nucleus accumbens, a área 
tegmental ventral e a amígdala e o principal neurotransmissor 
envolvido é a dopamina. Pessoas com transtornos mentais graves são 
mais propensas a fazer uso problemático e a desenvolver dependência 
de substâncias. 
4.1 Principais sinais e sintomas de acordo com o DSM-V 
 No transtorno por uso de substâncias, ocorre o uso contínuo e recorrente 
de uma substância, que é mantido apesar de problemas significativos que dele 
 
 
17 
decorrem. As principais características são: dificuldade importante ou baixo 
controle sobre o uso, prejuízos psicossociais e sociais evidentes, riscos físicos e 
psicológicos, além das alterações como tolerância e abstinência (mais 
relacionadas com a dependência). A renomeação dessa categoria no DSM-5 
vem ampliar a noção anterior e mais restrita de “dependência química” (que é 
fenômeno farmacológico obrigatório, podendo ou não estar presente nesses 
transtornos). 
A dificuldade no controle do uso é um elemento essencial desses 
transtornos e se expressa pelo fracasso em relação a tentativas de reduzir ou 
regular o consumo; o indivíduo pode gastar muito tempo para obter a droga, e 
grande parte (se não todas) das atividades diárias giram em torno da substância 
(comportamento de busca e gastos desproporcionais para obtê-la). Há, em geral, 
fissura (forte desejo ou necessidade intensa de usar a droga), desencadeada por 
um ambiente onde a droga já foi consumida ou obtida anteriormente. O prejuízo 
psicossocial se verifica pelas dificuldades em cumprir as obrigações nos 
estudos, no trabalho ou em casa, bem como pelo abandono de importantes 
atividades sociais, profissionais, estudantis e recreacionais em virtude do uso da 
substância. O indivíduo continua a usar a droga apesar dos problemas 
interpessoais e sociais relacionados ao consumo e o paciente pode se colocar 
em situações de riscos envolvendo sua integridade física e/ou psicológica e, 
apesar deles, não consegue manter-se abstinente. Finalmente, pode haver 
também critérios farmacológicos, que não são mais necessários para o 
diagnóstico, de acordo com o DSM-5: a tolerância e a abstinência. A primeira 
observamos pela necessidade de doses cada vez maiores da substância para 
obter o efeito similar ao do primeiro uso ou o efeito da substância nas mesmas 
doses é acentuadamente reduzido com o passar do tempo, ocorrendo com 
frequência no transtorno por uso de álcool, de opioides e de benzodiazepínicos. 
Já a abstinência, ou síndrome de abstinência, pode ocorrer quando a 
concentração da droga no organismo da pessoa diminui, e o indivíduo passa a 
apresentar sintomas físicos como tremores, ansiedade, sudorese, insônia ou 
sonolência (cada substância apresenta um conjunto de sintomas específico). A 
abstinência ocorre com frequência em relação a álcool, opioides, cafeína, 
tabaco, estimulantes e sedativos (como benzodiazepínicos). 
 
 
18 
4.2 Transtornos induzidos por substâncias 
Os transtornos induzidos ocorrem em decorrência dos efeitos fisiológicos 
da substância no cérebro. Há uma relação específica entre o uso e a síndrome 
induzida. São quadros geralmente reversíveis que podem durar horas ou dias, 
mas que não ultrapassam, de modo geral, um mês após a cessação do uso da 
substância, vejamos a seguir. 
A intoxicação é definida como uma síndrome reversível específica, com 
alterações comportamentais ou mentais, como prejuízo do nível de consciência 
(embriaguez, sedação, torpor), perturbação da percepção, da atenção, do 
pensamento, do julgamento e do comportamento psicomotor, além de 
agressividade, beligerância ou humor instável, causados por uma substância 
recentemente ingerida. Com o termo binge, descrevemos os episódios de 
consumo intenso, rápido e compulsivo, que se relaciona intimamente à 
intoxicação (Ribeiro; Andrade, 2007). 
Neste tópico, é importante para a prática clínica aprender a diferenciar os 
quadros psicopatológicos graves induzidos por substâncias e episódios (de 
esquizofrenia, mania, depressão, entre outros) independentes do efeito delas. 
Nos quadros induzidos por substâncias (ou pela síndrome de abstinência da 
substância), os sintomas devem regredir em, no máximo, 30 dias após o 
indivíduo ter cessado o uso. Nos quadros independentes, é comum que o 
episódio já tenha surgido outra vez na vida, independentemente do uso da 
substância. De modo geral, nos quadros independentes, como um surto de 
esquizofrenia ou um episódio de mania, a duração é superior a 30 dias. 
TEMA 5 – TRANSTORNOS NEUROCOGNITIVOS/DEMÊNCIA 
As síndromes mentais orgânicas (entre elas delirium, demências, 
transtorno amnéstico etc.) foram reagrupadas nas classificações atuais (DSM-5 
e CID-11) e atualmente são denominados transtornos neurocognitivos (TNCs). 
Todos os TNCs, apesar de terem necessariamente uma causa orgânica 
indiscutível e, muitas vezes,identificável (doenças ou condições como 
Alzheimer, Parkinson, encefalite, insuficiências renal e hepática etc.), são 
estudados pela psicopatologia (e abordados pela psiquiatria e pela psicologia 
clínica, e não apenas pela neurologia) pelo fato de suas manifestações clínicas 
serem predominantemente mentais e comportamentais. Os TNCs foram 
 
 
19 
subdivididos em dois grandes grupos: o delirium (quadros agudos, de curta 
duração) e os TNCs de longa duração ou crônicos (demências, síndrome 
amnéstica, TNC leve etc.). Estes últimos foram subdivididos em maiores e leves. 
Na denominação comprometimento cognitivo leve (CCL) estão reunidos quadros 
semelhantes aos TNCs maiores, mas com menor gravidade ou em fase inicial. 
Os déficits neurocognitivos não podem interferir na capacidade de ser 
independente do indivíduo ou nas suas atividades e o prejuízo cognitivo deve 
ser, de modo geral, de pouca gravidade. Uma porcentagem importante desse 
paciente (aproximadamente 5 a 20%), com o tempo, evolui para demência. No 
DSM – 5, os TNCs maiores são agrupados juntos, de modo a unir as demências 
e as síndromes amnésticas em um grupo único: TNCs maiores, nos quais as 
alterações clínicas principais são déficits cognitivos adquiridos. 
5.1 Características 
O curso das perdas cognitivas e da limitação da vida funcional é quase 
sempre progressivo (na esquizofrenia, por exemplo, as perdas tendem a ser 
precoces e mais estáveis). Os TNCs (demências) são causados por doenças 
neurodegenerativas e cerebrovasculares, ou seja, têm uma etiologia 
neuropatológica específica e bem estabelecida. Para a realização do diagnóstico 
de um TNC maior (demência) ou leve (CCL), é necessário que haja perda ou 
declínio de alguma função cognitiva (de um dos diversos domínios cognitivos – 
Declínio do funcionamento cognitivo prévio, em domínios cognitivos como 
memória, linguagem, funções executivas, julgamento, atenção, velocidade de 
processamento, cognição social, velocidade psicomotora e habilidades 
visuoespaciais ou visuoperceptivas) em relação aos estágios anteriores da vida, 
quando essa função ou domínio estava normal ou, se já reduzida desde a 
infância (p. ex., no déficit intelectual), sofreu clara redução em relação ao seu 
nível anterior. 
Saiba mais 
Atenção! Não se exige mais que seja especificamente a memória como 
domínio cognitivo alterado (embora em grande parte dos casos ela esteja 
alterada, e, na demência de Alzheimer, essa alteração seja proeminente desde 
o início). 
 
 
20 
5.2 Entrevista 
É bastante relevante fazer o esforço para se identificarem os domínios 
cognitivos mais comprometidos, por meio da história clínica e de testes 
neuropsicológicos. Isso permite que se estabeleçam hipóteses diagnósticas 
anatômicas e neuropsicológicas, ou seja, que se compreendam quais circuitos e 
regiões no cérebro podem apresentar disfunções, que resultam nos sintomas do 
paciente. Por sua vez, o diagnóstico anatômico e neuropsicológico contribui para 
a elaboração de hipóteses etiológicas, já que determinadas condições 
neuropatológicas acometem inicialmente regiões e estruturas específicas do 
cérebro. 
NA PRÁTICA 
Caso Clínico – Uma mulher de 60 anos solicita atendimento queixando-
se de fadiga no último mês. Refere ter dificuldade para adormecer, pouco apetite 
e perda de 4,5 kg, além de pensamentos sobre querer morrer. Reconhece ter 
tido sintomas semelhantes em várias ocasiões no passado, mas “nunca tão 
graves”. Seus problemas clínicos incluem hipertensão e diabetes, além da saída 
dos filhos de casa. Qual dos seguintes sintomas deve estar presente para se 
fazer o diagnóstico de transtorno depressivo maior? 
A. Humor deprimido. 
B. Apetite diminuído. 
C. Culpa excessiva. 
D. Fadiga. 
E. Ideação suicida. 
FINALIZANDO 
 Vimos resumidamente alguns dos principais transtornos mentais e suas 
alterações na entrevista e no exame do estado mental. É de suma importância 
que você revise esses tópicos e aprofunde na literatura recomendada 
 
 
 
21 
REFERÊNCIAS 
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de 
transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 
BOTEGA, N. J. Crise suicida: avaliação e manejo. Porto Alegre: Artmed, 2015. 
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. O suicídio e os desafios para a 
psicologia. Brasília: CFP, 2013. 
CHENIAUX JUNIOR, E. Manual de psicopatologia. 5. ed. Rio de Janeiro: 
Guanabara Koogan, 2015. 
DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos 
mentais. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2019. 
SAMPAIO, L. A. N. P. C; LOTUFO NETO, F. (Ed.). Psiquiatria – O essencial. 
São Paulo: Edimédica, 2019. 
TOY, K. Casos clínicos em psiquiatria. Tradução de Régis Pizzato; revisão 
técnica: Renata Rodrigues de Oliveira. 4. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. 
 
 
 
22 
GABARITO 
Resposta: A.

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