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EIXO : CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS A DITADURA MILITAR E AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS PARA O ENSINO SUPERIOR: REFORMA UNIVERSITÁRIA DE 1968 Mycaelle Kelle da Silva Cunha – IFRN/Câmpus Macau mycaelle.cunha@hotmail.com Michael Pratini Silva de Souza Cunha – IFRN/Câmpus Macau michaelpratini@hotmail.com Glaicon de Sousa Santos Cunha – IFRN/Câmpus Macau glaicon_pesca@hotmail.com Isadora Amanda Câmara Beserra Cunha – IFRN/Câmpus Macau isadora_amanda@hotmail.com Orientadora: Profª Mestre Maria Aparecida dos Santos Ferreira – IFRN/Câmpus Macau maria.santos@ifrn.edu.br RESUMO O objetivo deste estudo bibliográfico é analisar a acerca das mudanças educacionais que ocorreram durante a ditadura militar (1964 a 1985), compreendendo o sancionamento da Lei nº.: 5.540/68, lei da reforma universitária e as suas aplicabilidades no Ensino Superior do país. O Estudo ora desenvolvido é resultado da disciplina Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação, ministrada no presente semestre - 2013.1 e encontra-se organizado em três momentos: contexto da política educacional; aspectos históricos da ditadura militar, em que é contextualizado o âmbito sócio-político e econômico que se deu a promulgação de Lei nº.: 5.540/68; Construída essa base, passe-se a avaliar a Reforma Universitária de 1968, Lei nº.: 5.540/68, através das reflexões sobre a reforma universitária. E após o estudo tercemos que as universidades no Brasil cresceram nesse período muito mais em quantidade, e que os alunos oriundos da rede pública de ensino tinham uma maior dificuldade em ingressar no ensino superior, tendo em vista que eles não possuíam uma boa base educacional para isso; e que o principal objetivo dessa reforma não foi o de educar para uma vida em sociedade e profissional, mas sim criar uma mão de obra para suprir as necessidades do mercado de trabalho. O objetivo das universidades não pode ser somente o de formar profissionais, mas também formar cidadãos críticos e formuladores de opinião, sujeitos ativos para as mudanças necessárias para a sociedade. Portanto, a Lei nº.: 5.540/68 que visava a reforma universitária, não tendia à formação de um senso crítico ou da propagação do conhecimento, e sim a geração de uma mão de obra técnica que suprisse as demandas que havia surgindo no mercado de trabalho. Palavras-chaves: Ditadura Militar. Lei nº: 5.540/68. Reforma Universitária. 2 INTRODUÇÃO A Universidade, em seu conceito teórico, é visto como uma Instituição de ensino que abrange escolas de nível superior, sendo criada para conhecer as diversas culturas universais e as várias ciências, divulgando o saber. Em Bolonha, no norte da Itália, no final do século XI, se deu a criação da primeira universidade do mundo, quando o ensino na cidade se tornou livre e independente das escolas religiosas. No entanto no Brasil a história da educação superior foi um pouco retardatária, pois, Portugal não permitia a existência de universidades no Brasil (onde o Brasil era uma de suas colônias), pois se houvessem universidades haveria também um amplo conhecimento por parte da população, o que poderia fazer com que o Brasil se tornasse independente, além do que o Brasil também não teria recursos para manter essas universidades. As universidades no Brasil surgiram em 1808 na Bahia com a primeira faculdade (cirúrgica), depois em 1927 chegaram às faculdades de Direito em São Paulo e outra em Olinda. Mas foi em 1920 que nasceu a primeira universidade do país, localizada no Rio de Janeiro. Já na década de 60 o ensino ainda não estava bem estruturado, com a evolução do ensino superior, e com as consequências econômicas geradas pelo “milagre brasileiro”, fez-se necessário criar uma reforma educacional. No sentido de compreender a reforma universitária, faz-se necessário anteriormente compreender o conceito de reforma. Reforma segundo o dicionário Aurélio (1999) é o ato ou efeito de reformar, significa mudança para melhor. E Reforma educacional nada mais é do que o melhoramento da educação, para que esta possa está ao alcance de todos, com eficiência e qualidade, suprindo as necessidades da sociedade. Uma escola reformada é aquela que oferece boas condições de trabalho para seus servidores, mas que sobre tudo não ofereça apenas uma formação intelectual à seus alunos (ensinando apenas as meterias básicas), mas que também ofereça uma formação crítica para que esses alunos sejam cidadãos influentes na sociedade. A discussão relacionada à Reforma educacional surgiu no período da ditadura militar, onde havia altos índices de analfabetismo e de reprovações, e com isso o governo se sentiu obrigado ao menos tentar mudar a situação e com isso, a fim de modificar o ensino educacional superior foi formulada a lei 5540/68. 3 A partir desse ponto objetivamos analisar e discutir acerca das mudanças educacionais que ocorreram durante a ditadura militar (1964 à 1985), compreendendo o sancionamento da lei 5540/68, lei da reforma universitária e as suas aplicabilidades no Ensino Superior do país. A metodologia aplicada para a dada construção partiu de consultas bibliográficas em artigos à monografias, livros, dentre outras fontes, que abordassem o tema proposto. Sendo a base de nosso estudo as ideias do Autor Geraldo Francisco Filho, no seu livro A educação Brasileira no Contexto Histórico. O texto encontra-se construído em três capítulos, sendo o primeiro, Contexto da política educacional: Aspectos históricos da ditadura militar, em que é contextualizado o âmbito sócio- político e econômico que se deu a promulgação de Lei 5540/68; Construída essa base, passe-se a avaliar a Reforma Universitária de 1968, Lei, nº 5.540/68. No terceiro ponto, reflexões sobre a reforma universitária, o intuito foi descrever os efeitos da promulgação dessa reforma. Contexto da política educacional: aspectos históricos da ditadura militar Em meados da década de 60 o mundo passava por transformações políticas, ainda oriundas da segunda guerra mundial. Nesse amplo contexto histórico a guerra fria ainda perdurava, tentando assim influir os demais países com diversas estratégias políticas, lideradas pelos EUA e URSS, e em meio a essa mudança que ocorria no mundo, era promovida a insegurança dos setores tradicionais da nossa sociedade, pois poderia colocar em risco a manutenção do sistema capitalista no Brasil (ARAUJO JUNIOR, 2013). Em virtude do caráter populista do então presidente João Goulart, os militares temeram que ocorresse no Brasil, o que aconteceu com Cuba, a inclinação com o socialismo soviético, surge então, a partir desse ponto, uma efervescência política em nosso país, culminando com então golpe de 1964. Com a ascensão dos militares ao poder, as instituições democráticas não estavam preparadas para atender as novas perspectivas de governo. Desde o congresso nacional até o ensino, ‘todos’ sofreram alterações substanciais com o rumo da nova política. (FRANCISCO FILHO, 2001, p.112). Conforme o referido autor, os partidos políticos, Arena (Aliança Renovadora Nacional) e MDB (Movimento Democrático Brasileiro) foram criados, ocupando lugar dos demais partidos políticos existentes, a partir de 1964, ano do golpe militar, o país passou a ser regido 4 por diversos atos institucionais, que invalidaram a constituição de 1946, caminhando assim, essas mudanças políticas para o aparecimento de uma nova constituição. Na ditadura militar foi criado um sistema governamental que limitava os direitos civis e políticos da sociedade, podendo ser caracterizado como um regime autoritário inicialmente por ser antidemocrático, além de ser burocrático-militar. Um regime autoritário pode ser explicado como: “[...] uma coalizão chefiada por oficiais e burocratas e por um baixo grau de participação política”. Falta uma ideologiae um partido de massa; existe frequentemente um partido único que tende a restringir a participação; às vezes existe pluralismo político, mas sem disputas eleitorais livres (BOBBIO apud ARAÚJO JUNIOR, 2013). Logo, esse regime gerou divergências na sociedade, inúmeros protestos surgiram sobretudo, movimentos estudantis, ligados aos dois partidos políticos da época, Arena e MDB. Deste modo, a decretação do AI-5, é visto como um golpe contra a democracia, concedendo entre outros pontos, poderes ao Presidente da República para suspender os direitos políticos, pelo período de 10 anos, de qualquer cidadão brasileiro como também proibir manifestações populares de caráter político; Foi editado também, como represália aos movimentos, o decreto 477, que também procurava “acalmar” esse movimento estudantil, proibindo e tornando infratores os professores, alunos, funcionários do ensino público ou particular, que participassem desses movimentos. Nessa conjuntura política, surge o “Milagre Brasileiro” em que o país em crescia média cerca de 10% ao ano, com instalações de várias empresas multinacionais, um crescimento acelerado das cidades, gerando então uma dita urbanização. Com exemplo das propagandas – slogans como “Avante Brasil”, “O futuro Chegou”, “Ame-o ou Deixe-o”. E foi com toda essa estrutura de mudanças, que o Brasil passava, sobretudo após o golpe de 1964, e a necessidade de um novo tipo de educação, que o governo edificou e autorizou as reformas educacionais, sendo elas a Lei de Diretrizes e bases da Educação (4.024/68), que garantia a igualdade de tratamento, e a disponibilidade de verbas tantos para escolas públicas, quanto para privadas, por parte do poder público (SILVA, 2004) e a Reforma do 1º e 2º graus (5692/71), sendo essa lei a que estruturou o ensino de primeiro a segundo, unido as quatros séries do ensino fundamental I, com as quatros séries do ensino fundamental II, como tentativa de reduzir a evasão, além de outros objetivos. (FRANCISCO FILHO, 2001, p. 118) Antes de passarmos para esse ponto, analisamos o período anterior ao golpe supracitado. No que diz respeito ao movimento educacional no país, existiu o Manifesto, documento que 5 consistia na defesa de uma “nova educação” adaptada e voltada para o novo aspecto de sociedade, isso no ano de 1930. Dois anos depois, ocorreu o nascimento do ministério da educação, e os decretos 19.850 e 19.851 do ano de 1931, que tinham como intuito, principalmente o aumento de vagas acadêmicas, no ensino superior, além da discussão da educação igualitária sob a responsabilidade do Estado, que pudesse atingir a todas as camadas da população. Em 1930, foi criado o estatuto que regulamentou o ensino superior no Brasil, pelo então ministro da educação Francisco Campos, e com isso passa a funcionar a Universidade de São Paulo (USP). No decorrer dos anos, diversas leis e decretos foram criados também, para que os níveis de ensino fossem “melhor” formulados, gerando uma confusão no conceito das divisões desses níveis, além de tentativas de melhoramento da educação. Reforma Universitária de 1968: Lei, nº 5.540/68 Devido ao crescimento econômico, o país necessitava cada vez mais de uma educação que gerasse uma mão-de-obra técnica e especializada para suprir a procura por trabalhadores, assim concretizado pelas universidades públicas e privadas a partir do que dizia a Lei 5.540/68. Que dentre os seus artigos podem ser citados: Art. 1º. O ensino superior tem por objetivo a pesquisa, o desenvolvimento das ciências, letras e artes e a formação de profissionais de nível universitário. Art. 3º As universidades gozarão de autonomia didático-científica, disciplinar, administrativa e financeira, que será exercida na forma da lei e dos seus estatutos. [...] Art. 16. A nomeação de Reitores e Vice-Reitores de universidades e Diretores e Vice-Diretores de unidades universitárias ou estabelecimentos isolados. I - o Reitor e o Vice-Reitor de universidade oficial serão nomeados pelo respectivo Governo e escolhidos de listas de nomes indicados pelo Conselho Universitário ou colegiado equivalente; (BRASIL, 1968). Como é bem exemplificado pelo artigo primeiro da lei, as universidades deveriam direcionar o seu foco de ensino para as pesquisas, ampliando o raio de ação dessas, gerando a abrangência do conhecimento por parte do aluno e assim fornecendo frutos que alavancassem a economia do país, que passava por fortes transformações, ligando o ensino com o crescimento capitalista, para que o Brasil tivesse o retorno que era preciso na época. Assim, o dado regulamento objetivava a formação de novos profissionais eficientes e aptos a trabalhar nas empresas multinacionais que chegavam ao país e adequar o sistema 6 educacional à orientação político-econômica do regime militar, inserindo escolas no modelo de produção capitalista (LIBÂNEO, 1985). Como consequências de toda essa motivação causada pelos estudos científicos, foi o surgimento de um senso critico, no qual professores, pesquisadores e alunos, ou seja, representantes da classe estudantil, desejavam melhorias e buscavam soluções para problemas econômicos e sociais do país. Em contrapartida os movimentos estudantis foram coibidos, a partir do artigo 16, que foi criado especificamente com o propósito de pará-los. O estado nomeava os reitores, diretores e outros cargos, dando muitas vezes esses cargos a militares, na tentativa de eliminar aqueles que se mostravam contrários ao regime ditatorial. Tentando despolitizar as universidades, tirando sua autonomia política. Segundo o que pode ser analisado pelo artigo 3, da lei 5540/68, as universidades gozam de autonomia didático-científica, disciplinar, administrativa e financeira, havendo pois uma contradição, enquanto o artigo explicita que as universidades deveriam ter autonomia administrativa, que recai sobre sua política pessoal, onde a mesma deveria eleger seus cargos através de critérios por ela estabelecidos, porém o próprio governo influencia na organização dela, escolhendo, por exemplo, seus cargos chefes, como podemos ver no artigo 16. Paralelo a essa promulgação houve um crescimento das universidades, havendo porém, uma controvérsia no que se pode falar sobre as universidades públicas, nesses centros de ensino entravam apenas alunos que podiam pagar uma escola de ensino fundamental e médio, particular, que lhe desse melhor subsídio para que enfrentasse o vestibular com ampla vantagem, logo os alunos das demais classes sociais, teriam que optar, unicamente, por pagar as universidades privadas para que obtivessem sua formação de ensino superior. Nesse sentido, a expansão das universidades, reivindicada por jovens postulantes à universidade, na prática, se deu pela abertura indiscriminada, via autorizações do CFE (Conselho Federal da Educação), de escolas isoladas privadas, contrariando não só o teor das demandas estudantis, mas o próprio texto aprovado (CHADDAD, 2010). Também nessa reforma, foi realizado um duro golpe contra o movimento estudantil, colocando-os na ilegalidade, e criando novos órgãos de representação estudantil, atrelados às autoridades governamentais (CHADDAD, 2010). Art. 23. Os cursos profissionais poderão, segundo a área abrangida, apresentar modalidades diferentes quanto ao número e à duração, a fim de corresponder às condições do mercado de trabalho. Art. 26. O Conselho Federal de Educação fixará o currículo mínimo e a duração mínima dos cursos superiores 7 correspondentes a profissões reguladas em lei e de outros necessários ao desenvolvimento nacional (BRASIL, 1968). Na prática, e segundo os artigos 23 e 26, a lei estipulava cursos de licenciatura de curta duração, com aulas nos fins de semana, entre outras coisas, logo o ensino-aprendizado dos professores eracomprometido, se é que existia esse ensino-aprendizado. Sendo que o intuito do governo era ajudar na formação de profissionais, todavia, esse ensino encontrava-se defasado. Dentre outros motivos, pode-se citar o cansaço físico e mental à qual os professores eram submetidos pela grande carga horária semanal. Esse artigo vem definir a modalidade e a duração a partir das necessidades do mercado de trabalho da época, como acontece até o dia de hoje, em que o governo cria e estimula novas modalidades e períodos, para que os cursos que formam profissionais alcancem mais pessoas, atingido a necessidade de cada uma. Na prática, as vantagens esperadas não aconteceram. Faltou verbas às pesquisas, aumentou a nossa dependência cultural, Surge aí o tecnicismo, o abuso da técnica na educação. A modernização não rompeu com as antigas tradições conservadoras (FRANCISCO FILHO, 2001, p. 122). Ensino Superior: reflexões sobre a reforma universitária O Brasil vinha passando por enormes transformações sociopolíticas, com a ditadura militar, e no campo educacional, com a reforma universitária, mas o que se queria efetivamente essa tal reforma? Atingir apenas uma fração do campo do ensino superior como um todo, ainda que num tipo de instituição especialmente relevante, como as universidades? (TRIGUEIRO, 2003). Analisando todo o contexto, houve uma expansão das universidades públicas e privadas, alcançado assim um número maior de alunos, e por consequência formando um número maior de profissionais que pudesse suprir a demanda que era necessitada na época. Porém, os grupos sociais menos favorecidos economicamente, não puderam usufruir dessa quantidade crescente de oportunidades, receberam uma educação diferenciada, pois os alunos que tiveram acesso as universidades públicas, foram os alunos de maior poder aquisitivo, pois tinham o ensino anterior mais qualificado, ou seja, escolas particulares de alto nível, podendo assim chegar ao vestibular com maior vantagem em relação aos alunos que decorriam de escolas públicas. 8 Logo, a partir do não acesso dos pobres a esse tipo de ensino, tinham quando podiam pagar, de optar pelas escolas particulares. Então esses alunos de classes mais baixas, tinham que trabalhar e estudar, comprometendo o andamento do seu curso e de sua aprendizagem. “A descriminação, que teoricamente estaria resolvida, agravou-se ainda mais. As profissões tradicionais como medicina, engenharia, entre outras, que davam prestígio, tornaram-se quase utopia para os alunos mais pobres” (FRANCISCO FILHO, 2001, p. 119 ). Ao que diz respeito aos vestibulares, esses contribuíram para que os mais pobres ficassem mais distantes do ensino superior público, pois eram mais elaborados e organizados, impossibilitando que os alunos que tinham um ensino defasado não concorresse igualmente com os alunos de escolas privadas, já citados. Nesse crescimento quantitativo das universidades, podem-se cruzar diversos paralelos, sendo um deles o fato de que mesmo existindo mais universidades, essas ainda seguiam princípios tradicionais. A inflexibilidade impedia que ela correspondesse o novo modelo de mercado que vinha nascendo no país. Outro ponto que pode ser citado, de acordo com Francisco Filho (2001), é que os professores que entravam em escolas particulares, que vinham aumentando em número no país, com o desejo de se formarem e/ou se especializarem, em cursos de curta duração, e normalmente nos finais de semana, não apresentavam um alto nível de estudos, em função de suas rotinas de trabalho, como já citado. Os seus respectivos salários eram baixos, logo não recebiam estímulos, nem incentivos, colaborando assim para a queda na qualidade do ensino. A escola, e por abrangência o ensino superior, que teria que promover a transformação da sociedade, a partir da educação, passou a atender os mais pobres, com professores mais pobres, com um ensino ainda mais pobre, gerando profissionais pobres em conhecimento e em vantagens de entrar no mercado de trabalho (FRANCISCO FILHO, 2001, p. 120). Dito de outro modo: universidade não é sinônimo de ensino superior (TRIGUEIRO, 2003). Em suma a lei 5540/68, visava a continuidade do sistema capitalista, ligado ao fato de que as universidades iriam gerar uma mão de obra técnica. Assim as universidades formariam trabalhadores para as novas empresas que estavam se instalando no país, as multinacionais. As mudanças deveriam ocorrer de acordo com a necessidade do país. Embora a lei não tenha sido executada, a ideia do crescimento das universidades públicas como um bem público de direito. Era por fim a uma história de exclusão de grupos sociais e seus saberes; Situando o papel da universidade pública na definição e resolução coletiva dos problemas sociais. (REDDIN, 2006) 9 Porém, em paralelo as mudanças governamentais, ocorreram diversas reivindicações por parte da classe estudantil, dentre outros participantes. Além disso, deve-se ressaltar que embora as instituições de ensino tenham diversas responsabilidades para com a sociedade, as criticas ao governo nunca deixaram de acontecer nas escolas e universidades. Ou seja, nem sempre o sistema agradará a todos, nem muito menos o povo deve se agradar com tudo. Na década de 1960, Anísio Teixeira (1996), citado por Rosa, resume-se em quatro as funções fundamentais que a constituem a educação. Sendo a primeira função a emancipação humana, resultado do fato de quanto mais conhecimento o homem adquire, mais esse aproxima de sua liberdade, a segunda função é a da formação profissional, a terceira função é a de desenvolver o saber humano, pois a universidade também o transmite. Por último, a universidade é a transmissora de uma cultura comum, expressão concreta da sociedade onde está inserida. CONSIDERAÇÕES FINAIS Após presente estudo compreendemos que embora as universidades tenham o título de ensino “superior”, na época não condiziam com esse termo, pois o sentido de ensino superior deve ser o de ensino qualificado, que no mínimo preparem os alunos para as demandas do mercado de trabalho e para a vida em sociedade, porém o que vimos não foi bem assim, as universidades expandiram-se em quantidade em detrimento a qualidade, por conseguinte houve uma distorção do que realmente é ser um ensino público, os alunos oriundos de escolas públicas não tinham o acesso prioritário, dada a dificuldade em passar no vestibular, pois não tinham uma preparação eficaz para isso, dando lugar aos alunos vindos do ensino privado. E com isso os alunos vindos de escolas públicas que queriam ingressar no ensino superior teriam que trabalhar, pois lhes restava como opção o ensino privado, sendo o ato de trabalhar e estudar um fator prejudicial no seu desenvolvimento como aluno e por consequência como profissional. Logo a lei 5540/68 que visava a Reforma Universitária, não tendia à formação de um senso crítico ou da propagação do conhecimento, e sim a geração uma mão de obra técnica que suprisse as demandas que havia surgindo no mercado de trabalho, onde o único interesse era o de “ensinar” ao homem como ele deveria trabalhar, e não como ele deveria ser perante a 10 sociedade. Além do que a sociedade não estava pronta para a prática das pesquisas que era desejada também por essa lei. Pelo que vemos, reforma é o ato ou o resultado de reformar, é uma renovação que traz a mudança no modo de ser para torná-la melhor e mais eficiente. E como houve reforma, se não houve mudança? Não se podia reformar o que ainda estava começando, ou que nem se encontrava estabilizado, a reestruturação é um processo que se dá ao longo do tempo, e até hoje estamos passando por esse processo de melhorias no ensino superior do país. As universidades, não podem ter suas funções tomadas como pré-estabelecidas e limitadas, ela dá a base para o desenvolvimento,as orientações, pois o tamanho da formação é feito pelo próprio estudante, sendo que não se forma uma única vez, deve-se sempre buscar a especialização, e aquisição de novos conhecimentos, para que não seja uma educação estanque. Logo, a sua finalidade não é somente formar e criar saberes específicos, mas é também formar cidadãos críticos e atuantes na sociedade. Nós somos como às universidades estamos sempre em expansão. REFERÊNCIAS ANTUNES, Isa Cristina; SILVA, Rafael; BANDEIRA, Tainá. A reforma universitária de 1968 e as transformações nas instituições de ensino superior. 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