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EDUCAÇÃO INCLUSIVA E TECNOLOGIAS INTERATIVAS. Página 1 EDUCAÇÃO INCLUSIVA E TECNOLOGIAS INTERATIVAS: POSSIBILIDADES PARA A PERSONALIZAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO FUNDAMENTAL I E II. Juliana Balta Ferreira Simone Helen Drumond Ischkanian Gladys Nogueira Cabral Silvana Nascimento de Carvalho Aida Greice Ramos da Silva Idênis Gloria Belchior Sandro Garabed Ischkanian O artigo "Educação Inclusiva e Tecnologias Interativas: Possibilidades para a Personalização da Aprendizagem no Ensino Fundamental I e II" apresenta uma pesquisa de caráter bibliográfico- documental, cujo objetivo é analisar como tecnologias interativas, como realidade aumentada, jogos digitais, inteligência artificial e plataformas adaptativas, podem contribuir para a personalização da aprendizagem no contexto da educação inclusiva. A abordagem metodológica baseia-se na análise crítica de produções acadêmicas recentes, selecionadas a partir de critérios de relevância e atualidade, com ênfase nas contribuições que apontam caminhos pedagógicos inovadores. Entre as técnicas destacam-se a análise de conteúdo e a revisão sistemática de literatura. O estudo evidencia que tais tecnologias oferecem meios eficazes para atender às diferentes necessidades, estilos e ritmos de aprendizagem dos alunos, especialmente aqueles com deficiências ou necessidades educacionais específicas. Ferramentas como plataformas adaptativas permitem que os conteúdos se ajustem ao desempenho individual dos estudantes, enquanto a realidade aumentada e os jogos digitais tornam o processo de aprendizagem mais lúdico, acessível e motivador. A inteligência artificial possibilita o monitoramento constante das trajetórias de aprendizagem, promovendo intervenções pedagógicas mais precisas e eficazes. A relevância do estudo reside no fortalecimento da inclusão escolar por meio da inovação pedagógica mediada pela tecnologia. Ao promover uma educação mais equitativa e personalizada, essas ferramentas ampliam as possibilidades de participação ativa de todos os alunos no processo educacional, contribuindo para uma escola mais justa, democrática e acessível. Palavras-chave: Educação Inclusiva. Tecnologias Interativas. Personalização da Aprendizagem. Ensino Fundamental. Inovação Pedagógica. 1. INTRODUÇÃO A relevância das referências bibliográficas em um trabalho acadêmico vai muito além do simples cumprimento de uma exigência normativa. Elas representam o alicerce sobre o qual se sustenta o conhecimento científico, permitindo a interlocução com produções anteriores, a atualização teórica do pesquisador e a construção de argumentos coerentes e embasados. Segundo Richardson et al. (1999, p. 36), a pesquisa bibliográfica "não é apenas uma repetição do que já foi dito ou escrito sobre determinado assunto, mas propicia o exame de um tema sob uma nova perspectiva ou abordagem". Neste sentido, o presente artigo intitulado "Educação Inclusiva e Tecnologias Interativas: Possibilidades para a Personalização da Aprendizagem no Ensino Fundamental I e II" se estrutura EDUCAÇÃO INCLUSIVA E TECNOLOGIAS INTERATIVAS. Página 2 como uma pesquisa de caráter bibliográfico-documental, ancorando-se em autores consagrados e produções recentes que refletem sobre os desafios e possibilidades da educação inclusiva mediada por tecnologias. A escolha pela abordagem bibliográfica-documental está relacionada à necessidade de compreender, a partir de produções já consolidadas, como as tecnologias interativas podem contribuir para a personalização da aprendizagem em contextos inclusivos. Conforme Minayo (2009, p. 43), essa modalidade de pesquisa "é indispensável para a compreensão do que já foi produzido e acumulado pela ciência sobre determinado fenômeno". A análise crítica de produções acadêmicas recentes permite identificar tendências, lacunas e contribuições inovadoras no campo da inclusão escolar, possibilitando a articulação entre teoria e prática pedagógica. É, portanto, uma via fecunda para o desenvolvimento de estratégias educacionais que dialoguem com as necessidades reais dos alunos. Entre as tecnologias abordadas no estudo, destacam-se a realidade aumentada, os jogos digitais, a inteligência artificial e as plataformas adaptativas. Tais ferramentas, ao serem integradas ao processo de ensino-aprendizagem, tornam-se potentes aliadas na construção de uma escola mais acessível e inclusiva. Plataformas adaptativas, por exemplo, ajustam os conteúdos ao desempenho individual dos alunos, respeitando seu ritmo e estilo de aprendizagem. Isso permite uma personalização efetiva, especialmente benéfica para estudantes com deficiência ou necessidades educacionais específicas, conforme apontam Glat, Vianna e Redig (2012, p. 85). Os jogos digitais, por sua vez, além de promoverem maior engajamento, despertam a curiosidade e ampliam as possibilidades de exploração do conteúdo. Marin e Braun (2013, p. 59) destacam que os jogos promovem a motivação intrínseca dos alunos e oferecem múltiplas formas de interação com o conhecimento. Já a realidade aumentada potencializa o aprendizado ao integrar elementos visuais, auditivos e cinestésicos, promovendo uma experiência mais rica e significativa. Segundo Moran, Masetto e Behrens (2000, p. 97), as novas tecnologias possibilitam "a mediação pedagógica em tempos de informação abundante e descentralizada". A inteligência artificial representa um avanço notável ao permitir o monitoramento contínuo da trajetória de aprendizagem dos alunos. Com base nos dados gerados, é possível realizar intervenções pedagógicas mais eficazes, que respeitam as especificidades de cada educando. O presente estudo também adota a análise de conteúdo e a revisão sistemática da literatura como técnicas de investigação. Gomes (2009, p. 103) afirma que a análise de conteúdo EDUCAÇÃO INCLUSIVA E TECNOLOGIAS INTERATIVAS. Página 3 "permite ir além da superfície textual, revelando sentidos implícitos e estruturas profundas dos discursos". Com base nessas técnicas, a seleção de fontes bibliográficas foi orientada por critérios de relevância, atualidade e pertinência temática. O objetivo é construir um corpus de análise robusto, que permita interpretações críticas e fundamentadas. Autores como Vygotsky (1998, p. 56) e Freire (1996, p. 32) fundamentam a compreensão de que a aprendizagem é um processo social e interativo, o que reforça a importância de ferramentas que promovam a mediação entre o aluno e o conhecimento de forma dialógica e contextualizada. A personalização da aprendizagem se configura como um dos pilares de uma educação verdadeiramente inclusiva. Trata-se de reconhecer a singularidade de cada estudante e promover práticas pedagógicas que respeitem e valorizem essa diversidade. Como destacam Capellini e Zerbato (2019, p. 19), o ensino colaborativo é uma estratégia importante para a inclusão, pois favorece a troca de saberes entre docentes e a construção de um ambiente escolar mais democrático. A tecnologia, quando utilizada de forma crítica e intencional, amplia as possibilidades de inclusão ao reduzir barreiras ao aprendizado e facilitar o acesso aos conteúdos curriculares. Primo (2000) argumenta que as ferramentas digitais não devem apenas travestir o ensino tradicional, mas sim potencializar a cooperação e a construção coletiva do conhecimento. A utilização das tecnologias interativas no ensino fundamental I e II precisa estar articulada a um planejamento pedagógico consciente e fundamentado, como ressaltam Braun e Vianna (2011, p. 30), ao discutirem o papel do plano individualizado no atendimento educacional especializado. As referências bibliográficas, nesse contexto, funcionam como uma bússola que orienta o percurso investigativo e garante a legitimidade do conhecimento produzido. A citação adequada das fontes consultadas permite a verificação dos dados, a ampliação dasdiscussões e o aprofundamento teórico. A relevância deste estudo reside na sua contribuição para o fortalecimento da inclusão escolar por meio da inovação pedagógica mediada pela tecnologia. Ao promover uma educação mais equitativa e personalizada, essas ferramentas ampliam as possibilidades de participação ativa de todos os alunos no processo educacional. A educação inclusiva apoiada por tecnologias interativas não é apenas uma possibilidade, mas uma necessidade urgente no cenário educacional contemporâneo. Como afirma Arias (2020, EDUCAÇÃO INCLUSIVA E TECNOLOGIAS INTERATIVAS. Página 4 p. 8), o trabalho colaborativo e a codocência representam caminhos potentes para a inclusão efetiva, especialmente quando apoiados por ferramentas tecnológicas inovadoras. Este estudo visa contribuir com a reflexão sobre as práticas pedagógicas que incorporam tecnologias interativas na promoção de uma aprendizagem personalizada e inclusiva, demonstrando que, por meio do uso crítico das ferramentas digitais, é possível construir uma escola mais justa, democrática e acessível a todos. 2. DESENVOLVIMENTO A educação inclusiva pressupõe a valorização da diversidade humana e o respeito às diferenças como condição fundamental para a construção de uma escola verdadeiramente democrática. No contexto do Ensino Fundamental I e II, essa perspectiva ganha contornos ainda mais desafiadores, considerando a heterogeneidade das turmas, os diferentes ritmos de aprendizagem e as necessidades educacionais específicas de muitos alunos. Nesse cenário, as tecnologias interativas emergem como importantes aliadas para a personalização da aprendizagem, promovendo acessibilidade, engajamento e autonomia dos estudantes no processo educacional. De acordo com Vygotsky (1998), o aprendizado é mediado social e culturalmente, e as tecnologias, quando bem integradas ao currículo, podem funcionar como instrumentos de mediação que ampliam as zonas de desenvolvimento proximal dos alunos. Ao integrar recursos como realidade aumentada, inteligência artificial, jogos digitais e plataformas adaptativas ao planejamento pedagógico, os professores conseguem oferecer diferentes percursos de aprendizagem, respeitando os estilos cognitivos, ritmos e potencialidades individuais dos estudantes. Moran et al. (2000, p. 34), destaca que a mediação pedagógica deve estar centrada na construção de significados e não apenas na transmissão de conteúdos, o que torna essencial o uso de metodologias inovadoras baseadas na interação, colaboração e resolução de problemas reais. As tecnologias, nesse sentido, não substituem o professor, mas o potencializam, atuando como facilitadores de uma prática mais personalizada, lúdica e significativa. Com o uso dessas ferramentas, o currículo escolar pode ser flexibilizado para atender desde os alunos com altas habilidades até aqueles com deficiências, transtornos de aprendizagem ou em situação de vulnerabilidade social. A tabela 1 destaca propostas de uso de tecnologias interativas organizadas por segmento do Ensino Fundamental, com ênfase em disciplinas, objetivos de aprendizagem e metodologias inovadoras, onde os educadores podem ampliar horizontes educacionais no cotidiano escolar. EDUCAÇÃO INCLUSIVA E TECNOLOGIAS INTERATIVAS. Página 5 Tabela 1 – Tecnologias Interativas para personalização da aprendizagem no Ensino Fundamental I e II. Ano Escolar Disciplina Tecnologia Interativa Objetivo de Aprendizagem Metodologia Inovadora 1º ao 5º (EF I) Língua Portuguesa Aplicativos de leitura com feedback automático (ex: Book Creator, LetraPalavra) Desenvolver fluência e compreensão leitora Estações de aprendizagem com uso de tablets e leitura colaborativa 1º ao 5º (EF I) Matemática Jogos digitais e gamificação (ex: Matific, Khan Academy Kids) Compreender conceitos básicos de número, adição e subtração Aprendizagem baseada em jogos e desafios interativos 1º ao 5º (EF I) Ciências Realidade aumentada (ex: Quiver, Merge Cube) Identificar partes do corpo humano, animais e plantas Exploração ativa com visualizações 3D e construção de maquetes digitais 1º ao 5º (EF I) Geografia Mapas digitais interativos (ex: Google Earth, GeoGuessr) Localizar espaços geográficos e compreender noções de território Rotas e mapas em sala com realidade aumentada e viagens virtuais 6º ao 9º (EF II) Língua Portuguesa Ambientes virtuais de escrita colaborativa (ex: Google Docs, Padlet) Produzir diferentes gêneros textuais em colaboração Oficinas de escrita com coautoria e feedback em tempo real 6º ao 9º (EF II) Matemática Plataformas adaptativas (ex: Khan Academy, DreamBox) Resolver problemas com diferentes estratégias e níveis de dificuldade Trilhas personalizadas com acompanhamento de desempenho 6º ao 9º (EF II) Ciências Simuladores virtuais e laboratórios online (ex: PhET, Tinkercad) Compreender fenômenos naturais e experimentos científicos Experimentos virtuais e aprendizagem baseada em investigação 6º ao 9º (EF II) História Jogos de narrativa e storytelling digital (ex: Twine, Minecraft Education) Reconstruir contextos históricos e interpretar fatos Criação de histórias interativas baseadas em eventos históricos 6º ao 9º (EF II) Educação Física Aplicativos de movimento e coordenação (ex: GoNoodle, Just Dance EDU) Estimular habilidades motoras, ritmo e trabalho em equipe Oficinas lúdicas com uso de vídeos e sensores de movimento 6º ao 9º (EF II) Artes Realidade aumentada e edição digital (ex: AR Makr, Canva, SketchAR) Desenvolver expressão artística por meio de tecnologias visuais Criação de exposições virtuais e performances híbridas Fonte: FERREIRA,; ISCHKANIAN, Simone Helen Drumond; CABRAL, Gladys Nogueira; CARVALHO, Silvana Nascimento de; SILVA, Aida Greice Ramos da; BELCHIOR, Idênis Glória; ISCHKANIAN, Sandro Garabed, (2025) EDUCAÇÃO INCLUSIVA E TECNOLOGIAS INTERATIVAS. Página 6 A personalização da aprendizagem, ao ser mediada pelas tecnologias interativas, torna-se mais viável e eficaz, sobretudo em contextos inclusivos. Isso porque tais ferramentas respeitam as singularidades dos alunos e promovem um ensino mais ativo, centrado nas potencialidades de cada um, como propõem Capellini e Zerbato (2019). Além disso, ao utilizar tecnologias que oferecem monitoramento constante (como a inteligência artificial) e adaptação automática de conteúdos, o professor pode intervir com maior precisão, garantindo que nenhum aluno fique para trás. A integração entre educação inclusiva, tecnologias interativas e metodologias inovadoras se apresenta como um caminho promissor para garantir o direito à aprendizagem de todos os estudantes. Mais do que um recurso de apoio, a tecnologia passa a ser um instrumento de transformação pedagógica, de quebra de barreiras e de promoção de uma escola verdadeiramente acessível, participativa e significativa. 2.1. FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA E SEUS DESDOBRAMENTOS NO ENSINO FUNDAMENTAL. A educação inclusiva configura-se como um dos pilares fundamentais da democratização do ensino e da efetivação dos direitos humanos. Ela visa garantir a todos os indivíduos, independentemente de suas limitações físicas, intelectuais, sensoriais ou múltiplas, o pleno acesso, permanência, participação e aprendizagem na escola regular. Nesse contexto, a construção de práticas pedagógicas verdadeiramente inclusivas requer a superação de paradigmas excludentes, que historicamente segregaram alunos com deficiência ou com necessidades educacionais específicas em ambientes apartados do ensino comum. Como afirma Oliveira (1999, p. 29), "a aprendizagem é um processo social e histórico, sendo a interação com o outro elemento essencialpara o desenvolvimento". Tal perspectiva é essencial para compreender a importância de ambientes educativos que respeitem a diversidade e promovam a cooperação entre os sujeitos. No cenário brasileiro, os princípios da educação inclusiva estão ancorados em diversos documentos legais e normativos, como a Constituição Federal de 1988, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/1996), o Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015), além de orientações internacionais como a Declaração de Salamanca (1994) e a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006). Essas legislações expressam um compromisso ético, político e pedagógico com a promoção de uma escola inclusiva que acolha as diferenças como parte integrante do processo educativo. Os desafios encontrados na implementação efetiva da educação inclusiva são diversos e complexos, abrangendo desde a formação inicial e continuada dos professores até as condições estruturais das escolas. Muitas instituições de ensino ainda carecem de infraestrutura adequada, EDUCAÇÃO INCLUSIVA E TECNOLOGIAS INTERATIVAS. Página 7 materiais pedagógicos acessíveis e recursos humanos especializados para atender às demandas dos alunos com deficiência. A esses desafios somam-se as resistências culturais e institucionais que dificultam a consolidação de uma cultura inclusiva no ambiente escolar. De acordo com Richardson et al. (1999, p. 73), a pesquisa social deve considerar os aspectos culturais e contextuais da realidade em que se insere, pois "o fenômeno educativo é um produto social, inserido em práticas e relações sociais mais amplas". Essa abordagem é particularmente relevante no campo da inclusão, uma vez que exige uma análise crítica das práticas pedagógicas e das políticas educacionais à luz das condições concretas de vida dos alunos e de suas famílias. No Ensino Fundamental, tanto nos anos iniciais quanto nos finais, a inclusão educacional demanda um olhar sensível e técnico dos profissionais da educação. É necessário que os docentes estejam preparados para identificar as barreiras à aprendizagem e ao desenvolvimento, propondo estratégias pedagógicas que atendam às necessidades específicas de cada estudante. Conforme Oliveira (1999, p. 45), "o desenvolvimento ocorre mediante a mediação do outro, sendo a escola um espaço privilegiado para essa interação". É importante destacar que a educação inclusiva não se restringe ao atendimento de alunos com deficiência. Ela abrange também aqueles que vivem em situação de vulnerabilidade social, cultural e econômica, bem como os estudantes com altas habilidades ou superdotação. A perspectiva inclusiva, portanto, propõe uma escola que reconhece e valoriza as múltiplas formas de ser e aprender, rompendo com modelos homogêneos de ensino e aprendizagem. A mediação pedagógica adquire papel central no processo de inclusão escolar. Segundo Vygotsky, citado por Oliveira (1999, p. 60), "o desenvolvimento das funções psicológicas superiores ocorre por meio da internalização das interações sociais". Isso implica que o professor não é apenas um transmissor de conteúdos, mas um mediador do conhecimento que deve construir pontes entre os saberes escolares e as vivências dos alunos. As tecnologias digitais também podem desempenhar um papel relevante na promoção da inclusão. Primo (2000) argumenta que, quando bem utilizadas, as ferramentas de interação na web têm potencial para romper com a lógica do ensino tradicional, promovendo a cooperação e a construção coletiva do conhecimento. Conforme o autor, "não se trata de substituir o presencial pelo virtual, mas de integrar práticas que ampliem as possibilidades de participação" (PRIMO, 2000). A formação docente, por sua vez, continua sendo um dos maiores desafios da inclusão. Muitos professores sentem-se inseguros quanto ao atendimento de alunos com deficiência ou com necessidades educacionais especiais, o que evidencia a importância de políticas públicas voltadas EDUCAÇÃO INCLUSIVA E TECNOLOGIAS INTERATIVAS. Página 8 à formação continuada e à valorização do magistério. Como aponta Silva (2003, p. 88), "a educação online, quando bem planejada, pode ser uma aliada na formação docente, ampliando horizontes e promovendo o diálogo com a prática pedagógica". No cotidiano escolar, a construção de um ambiente inclusivo requer a articulação entre diferentes atores: gestores, professores, funcionários, estudantes e famílias. A participação da comunidade escolar é fundamental para que as ações inclusivas não se limitem ao plano das intenções, mas se concretizem em práticas pedagógicas efetivas e transformadoras. Para tanto, é necessário cultivar uma cultura escolar pautada no respeito à diversidade e na valorização das potencialidades de cada aluno. O planejamento pedagógico também deve considerar os princípios da inclusão, sendo flexível e adaptável às necessidades dos estudantes. A utilização de recursos didáticos diversificados, o desenvolvimento de atividades colaborativas e a adoção de metodologias ativas são estratégias que favorecem a participação de todos os alunos no processo de ensino- aprendizagem. Richardson et al. (1999, p. 112) destacam que "a pesquisa e a prática educativa devem caminhar juntas, pois é no cotidiano da escola que as teorias se confrontam com a realidade". À avaliação deve ser contínua, formativa e diagnóstica. A avaliação inclusiva busca compreender o processo de aprendizagem do estudante em sua totalidade, considerando seu ritmo, estilo cognitivo e contexto de vida. Ela não se limita à mensuração de resultados, mas visa identificar avanços, dificuldades e possibilidades de intervenção pedagógica. A articulação entre educação e políticas públicas é essencial para o sucesso da inclusão escolar. Os programas de apoio à inclusão, como o Atendimento Educacional Especializado (AEE), os Núcleos de Apoio Psicopedagógico e os Centros de Atendimento Educacional Especializado, devem atuar em parceria com as escolas, promovendo suporte técnico e pedagógico às equipes escolares. Ainda há muito a avançar na consolidação de uma escola inclusiva, mas os avanços já conquistados demonstram que é possível construir uma educação mais justa, equitativa e de qualidade para todos. A escola deve ser um espaço de acolhimento e pertencimento, onde cada sujeito possa desenvolver suas potencialidades e participar ativamente da vida social e cultural. A inclusão escolar é um processo em constante construção, que exige comprometimento político, pedagógico e ético dos profissionais da educação. A escuta sensível, o respeito às singularidades e a valorização da diversidade são princípios que devem nortear todas as ações educativas. Conforme Oliveira (1999, p. 64), "a aprendizagem significativa ocorre quando o sujeito se reconhece como parte do processo e percebe sentido no que aprende". EDUCAÇÃO INCLUSIVA E TECNOLOGIAS INTERATIVAS. Página 9 A efetivação da educação inclusiva no Ensino Fundamental exige, portanto, uma abordagem integrada, que contemple aspectos pedagógicos, sociais, psicológicos e culturais. É preciso olhar para o aluno em sua totalidade, compreendendo-o como sujeito de direitos, com história, cultura, desejos e necessidades próprias. A escola deve assumir sua função social de garantir a equidade de oportunidades, promovendo práticas pedagógicas que respeitem e valorizem as diferenças. Para isso, é imprescindível o fortalecimento de políticas públicas comprometidas com a inclusão e a formação de uma rede de apoio que envolva toda a comunidade escolar. O caminho da inclusão é desafiador, mas é também profundamente enriquecedor. Ele convida educadores e educadoras a repensarem suas práticas, a questionarem suas certezas e a buscarem novas formas de ensinar e aprender. Como lembra Silva (2003, p. 105), "a educação, para ser realmente inclusiva, precisaestar aberta à escuta, à experimentação e à transformação". Os fundamentos da educação inclusiva revelam um compromisso ético com a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. O Ensino Fundamental, como etapa crucial do processo formativo, deve ser um espaço privilegiado para o exercício da inclusão, assegurando a todos os estudantes o direito de aprender com dignidade e respeito às suas particularidades. A concretização da inclusão no Ensino Fundamental depende do engajamento coletivo de todos os envolvidos no processo educativo. Apenas com diálogo, sensibilidade e ações concretas será possível superar as barreiras ainda existentes e construir uma escola verdadeiramente para todos. 2.2. TECNOLOGIAS INTERATIVAS COMO FERRAMENTAS DE ACESSIBILIDADE E APRENDIZAGEM. A crescente demanda por práticas pedagógicas inclusivas no Ensino Fundamental impulsiona reflexões sobre o uso das tecnologias interativas como suporte à acessibilidade e ao desenvolvimento das aprendizagens. Em um cenário educacional marcado por múltiplas realidades e diferentes necessidades educacionais, é imperativo que os recursos tecnológicos não apenas acompanhem os avanços da sociedade, mas também se configurem como ferramentas mediadoras no processo de inclusão escolar. As tecnologias interativas têm se consolidado como instrumentos pedagógicos estratégicos, especialmente quando associadas a metodologias ativas e diferenciadas. A realidade aumentada, os jogos digitais, as plataformas adaptativas e a inteligência artificial, por exemplo, integram o cotidiano escolar de forma criativa e transformadora, proporcionando novos caminhos para o ensino e a aprendizagem dos alunos com e sem deficiências. EDUCAÇÃO INCLUSIVA E TECNOLOGIAS INTERATIVAS. Página 10 Segundo Marin e Braun (2013, p. 49), o ensino colaborativo, associado ao uso de tecnologias, "permite que alunos com diferentes ritmos e estilos de aprendizagem sejam atendidos de forma mais equitativa e personalizada". Nesse contexto, o uso de recursos digitais possibilita a quebra de barreiras físicas, cognitivas e sensoriais, contribuindo para a participação efetiva dos estudantes no ambiente escolar. A implementação de tecnologias interativas em sala de aula exige uma ressignificação do papel do professor, que passa a atuar como mediador do conhecimento, utilizando-se de recursos digitais para construir propostas mais acessíveis e significativas. Glat, Vianna e Redig (2012, p. 83) destacam que o Plano Educacional Individualizado (PEI) é um importante aliado nesse processo, pois permite uma organização pedagógica que considere as potencialidades e as necessidades de cada aluno. Para que as tecnologias cumpram seu papel inclusivo, é necessário que sua utilização esteja ancorada em políticas públicas comprometidas com a formação continuada de professores, com a infraestrutura adequada das escolas e com o acesso universal a equipamentos e internet. A ausência desses elementos pode agravar as desigualdades educacionais, transformando as tecnologias em ferramentas excludentes. A acessibilidade digital, nesse sentido, não se limita à presença de dispositivos tecnológicos, mas inclui também o desenvolvimento de materiais acessíveis, como vídeos com tradução em Libras, legendas, audiodescrição e softwares com comandos por voz. Esses elementos garantem que todos os alunos possam interagir de maneira autônoma com os conteúdos pedagógicos. Plataformas adaptativas de aprendizagem, por sua vez, ajustam-se automaticamente às respostas dos alunos, oferecendo trilhas personalizadas que respeitam o tempo e o estilo de aprendizagem de cada um. Isso promove um ensino mais inclusivo, capaz de contemplar as singularidades cognitivas, emocionais e sociais dos estudantes. Conforme a Tabela 2 destaca, a gamificação também se apresenta como uma estratégia de destaque no cenário educacional inclusivo. Ao transformar o conteúdo em jogos e desafios, estimula-se o engajamento e a participação ativa dos alunos, promovendo a aprendizagem de forma lúdica e motivadora. Essa metodologia tem demonstrado eficácia principalmente junto a estudantes que apresentam diferentes estilos de aprendizagem, dificuldades cognitivas ou defasagens educacionais, visto que o ambiente gamificado proporciona um contexto de ensino mais interativo, onde o erro é compreendido como parte do processo de aprendizagem e o feedback imediato favorece a construção contínua do conhecimento. EDUCAÇÃO INCLUSIVA E TECNOLOGIAS INTERATIVAS. Página 11 A introdução de elementos de jogos, como pontuação, níveis, recompensas simbólicas e rankings, tem se mostrado eficiente em manter o foco e a motivação dos alunos durante as atividades pedagógicas. A gamificação permite que o professor acompanhe o progresso individual de cada estudante, promovendo intervenções pontuais e personalizadas. Gomes (2009, p. 92) ressalta que "a interação significativa entre sujeito e objeto de conhecimento é potencializada pelo uso de estratégias dinâmicas e adaptativas", evidenciando que a ludicidade, aliada a objetivos pedagógicos claros, fortalece o vínculo do aluno com o processo de aprendizagem e amplia suas possibilidades de desenvolvimento intelectual e social. Tabela 2 – Tecnologias interativas e seus objetivos (1º ao 9º Ano). Ano Escolar Tecnologia Interativa Objetivo Pedagógico 1º Ano Alfabeto Digital Interativo Favorecer o reconhecimento e a construção das letras do alfabeto de forma lúdica. 1º Ano Jogos Educacionais de Leitura Estimular a leitura por meio de jogos com recompensas visuais e sonoras. 2º Ano Tablets com Aplicativos de Alfabetização Auxiliar na alfabetização com recursos personalizados para cada criança. 2º Ano Audiobooks Infantis Oferecer acesso à literatura em formato sonoro, promovendo inclusão e interesse. 3º Ano Softwares de Escrita Criativa Desenvolver a escrita criativa e a produção textual com sugestões interativas. 3º Ano Realidade Aumentada com Figuras Geométricas Visualizar conceitos abstratos de geometria de maneira interativa. 4º Ano Kits de Robótica Educacional Introduzir a lógica de programação e raciocínio lógico de forma lúdica. 4º Ano Plataformas de Histórias Interativas Aprimorar a leitura e interpretação por meio de enredos interativos. 5º Ano Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA) Organizar conteúdos e atividades com acessibilidade para todos os alunos. 5º Ano Laboratórios Virtuais de Ciências Permitir simulações científicas que não seriam possíveis no laboratório físico. 6º Ano Simuladores de Experimentos Explorar experimentos em segurança e com interatividade. 6º Ano Aplicativos de Gamificação de Conteúdos Transformar conteúdos escolares em desafios gamificados para motivação. 7º Ano Realidade Virtual para Viagens Históricas Explorar conteúdos de História com imersão sensorial e visual. 7º Ano Podcast Educativo Colaborativo Desenvolver a escuta ativa, análise e produção de conteúdo colaborativo. 8º Ano Plataformas de Redação Online Estimular a prática da escrita com correção automática e feedback imediato. 8º Ano Ferramentas de Mind Mapping Digitais Organizar ideias de forma visual e interativa para produção textual. 9º Ano Inteligência Artificial em Correção de Provas Corrigir automaticamente e fornecer análise de desempenho aos alunos. EDUCAÇÃO INCLUSIVA E TECNOLOGIAS INTERATIVAS. Página 12 9º Ano Simuladores de Debate e Oratória Simular situações de debate com avaliação de argumentação. Todos os Anos Ambientes Colaborativos em Nuvem (Google Classroom, Microsoft Teams) Promover colaboração e compartilhamento de atividades em tempo real. Fonte: FERREIRA,; ISCHKANIAN, Simone Helen Drumond; CABRAL, Gladys Nogueira; CARVALHO, Silvana Nascimento de; SILVA, Aida Greice Ramos da; BELCHIOR, Idênis Glória; ISCHKANIAN, Sandro Garabed, (2025) A inteligênciaartificial (IA) traz inovações no monitoramento da aprendizagem, possibilitando que os professores identifiquem rapidamente dificuldades de seus alunos e reajustem as propostas pedagógicas com mais precisão. Esses sistemas, quando bem utilizados, podem oferecer apoio personalizado e gerar dados que fundamentam práticas mais eficazes e inclusivas. O uso das tecnologias na educação inclusiva não deve ser visto como uma solução pronta, mas como uma oportunidade para repensar as práticas pedagógicas e promover ambientes de aprendizagem mais equitativos. Para isso, é necessário um olhar sensível e crítico sobre os desafios, limites e possibilidades desse processo. A pesquisa educacional tem demonstrado a eficácia do uso de tecnologias interativas em contextos de diversidade. Conforme Minayo (2009, p. 81), a investigação qualitativa permite compreender "a complexidade das relações sociais que se estabelecem no ambiente escolar, especialmente no que se refere à inclusão". Assim, o uso consciente de tecnologias se insere nesse cenário como meio de ampliação da participação. É fundamental destacar o papel das equipes pedagógicas e gestoras na mediação do processo de inclusão com tecnologias. São esses profissionais que articulam ações, promovem formações e garantem que as diretrizes do PEI e das políticas de inclusão sejam respeitadas e executadas. A colaboração entre professores da sala comum e da educação especial também se torna essencial, principalmente no planejamento conjunto de atividades que envolvam recursos digitais. Essa prática fortalece a construção de um currículo mais flexível e acessível, ampliando as oportunidades de aprendizagem. Ao considerar a diversidade como princípio norteador da educação, as tecnologias interativas devem ser entendidas como aliadas na superação das barreiras que ainda limitam o acesso ao conhecimento. A partir desse entendimento, a escola passa a ser um espaço mais justo, democrático e acolhedor para todos. O desenvolvimento de competências digitais por parte dos alunos é outro aspecto relevante. Ao utilizar diferentes linguagens e interfaces, as tecnologias estimulam a criatividade, o pensamento crítico e a autonomia, competências fundamentais para a vida em sociedade e para o exercício da cidadania. EDUCAÇÃO INCLUSIVA E TECNOLOGIAS INTERATIVAS. Página 13 A promoção da cultura digital e da ética no uso das tecnologias também deve fazer parte do currículo escolar, visando formar sujeitos conscientes de seus direitos e deveres no ambiente virtual. Para isso, é preciso que as práticas pedagógicas com recursos digitais sejam reflexivas, críticas e contextualizadas. Os desafios para a efetivação da educação inclusiva com apoio das tecnologias interativas ainda são muitos. As desigualdades de acesso, a falta de formação docente e a escassez de recursos técnicos são obstáculos que exigem políticas públicas firmes e investimentos contínuos. As experiências exitosas de inclusão com tecnologia revelam que, quando bem implementadas, essas ferramentas podem transformar a realidade educacional de muitas crianças e adolescentes, promovendo equidade, justiça social e valorização da diversidade. Conforme Glat et al. (2012, p. 95), "a inclusão com o apoio das tecnologias demanda um novo paradigma educacional, baseado na flexibilidade, na escuta ativa e na valorização das diferenças". Essa perspectiva deve orientar todas as práticas escolares e políticas educacionais comprometidas com a transformação social. A utilização de tecnologias interativas como ferramentas de acessibilidade e aprendizagem representa um avanço significativo na construção de uma educação inclusiva, equitativa e de qualidade. No entanto, sua efetividade depende do compromisso de todos os atores educacionais, da gestão democrática e da valorização da diversidade como riqueza pedagógica. 2.3. A PERSONALIZAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO CONTEXTO DA DIVERSIDADE ESCOLAR. A diversidade presente no ambiente escolar brasileiro tem exigido uma transformação significativa nas práticas pedagógicas, especialmente no que se refere à personalização da aprendizagem. Essa abordagem visa atender às diferentes necessidades, estilos e ritmos de aprendizagem dos estudantes, respeitando suas especificidades e promovendo uma educação equitativa e de qualidade. Considerar que cada aluno aprende de forma única implica a adoção de estratégias pedagógicas adaptativas, sensíveis às diferenças culturais, cognitivas e emocionais presentes em sala de aula. De acordo com Vygotsky (1998, p. 105), o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores ocorre a partir da mediação social e cultural, tornando indispensável uma ação pedagógica que reconheça e valorize as múltiplas formas de aprender. A personalização da aprendizagem não se limita à simples diferenciação de conteúdos; ela envolve uma reorganização profunda das metodologias, avaliações e ambientes escolares. Oliveira (2003, p. 76) afirma que pensar a educação a partir de Vygotsky exige considerar a historicidade do sujeito e as múltiplas interações que o constituem, enfatizando a importância do papel do outro no processo de construção do conhecimento. Personalizar significa criar contextos EDUCAÇÃO INCLUSIVA E TECNOLOGIAS INTERATIVAS. Página 14 em que os alunos possam interagir de maneira significativa com o conteúdo, com os colegas e com os professores, em um processo contínuo de negociação de sentidos. A escola, como espaço democrático de formação, precisa assumir o compromisso de promover práticas inclusivas que garantam o acesso, a permanência e o sucesso de todos os alunos. Isso requer um olhar atento para as barreiras que impedem a plena participação de determinados grupos, como pessoas com deficiência, estudantes em situação de vulnerabilidade social ou aqueles com estilos de aprendizagem distintos. Segundo Vilaronga e Mendes (2014, p. 140), o ensino colaborativo é uma estratégia potente nesse processo, pois possibilita a construção de práticas pedagógicas articuladas entre professores regulares e especialistas, favorecendo a inclusão escolar. O paradigma da personalização da aprendizagem é fortemente influenciado pelas concepções sociointeracionistas de Vygotsky, que compreende a aprendizagem como um processo mediado por instrumentos culturais e pela interação com o outro. Em sua obra "Pensamento e Linguagem", Vygotsky (1988, p. 45) destaca que o desenvolvimento intelectual é profundamente condicionado pelas experiências sociais e culturais, reforçando a ideia de que o ensino precisa ser planejado considerando as particularidades dos sujeitos envolvidos. Ao reconhecer a diversidade como uma riqueza e não como um obstáculo, a escola passa a desenvolver estratégias mais eficazes e humanizadoras. Tais estratégias incluem desde o uso de tecnologias assistivas até a flexibilização curricular, garantindo que todos os estudantes tenham oportunidades reais de aprender. Essa concepção se alinha ao que Oliveira (2003, p. 83) destaca como o papel transformador da educação, capaz de alterar a trajetória dos sujeitos ao proporcionar-lhes experiências significativas de aprendizagem. A prática pedagógica voltada para a personalização requer do professor uma postura investigativa e reflexiva. Ele deve ser capaz de observar, escutar e compreender as especificidades de seus alunos, planejando intervenções pedagógicas que respeitem seus ritmos e potencialidades. Nesse aspecto, Vilaronga e Mendes (2014, p. 144) ressaltam a importância do trabalho colaborativo entre os profissionais da escola como forma de potencializar as ações educativas e garantir uma intervenção mais precisa e eficaz. Um dos maiores desafios da personalização da aprendizagem é equilibrar a atenção individualizada com as demandas coletivas do currículo escolar. Para tanto, é necessário desenvolver competências docentes que permitama construção de propostas didáticas diversificadas, que contemplem tanto os objetivos comuns quanto os interesses particulares dos alunos. Como afirma Vygotsky (1998, p. 118), o aprendizado orientado contribui diretamente para o desenvolvimento, desde que respeite a zona de desenvolvimento proximal de cada estudante. EDUCAÇÃO INCLUSIVA E TECNOLOGIAS INTERATIVAS. Página 15 A flexibilização das estratégias pedagógicas também demanda a reavaliação das formas de avaliação. Avaliar de maneira personalizada implica utilizar instrumentos variados e significativos, que reflitam o progresso individual e valorizem as diferentes formas de expressão e construção do conhecimento. Oliveira (2003, p. 90) reforça que a avaliação precisa estar integrada ao processo de aprendizagem e não ser um momento estanque ou excludente. A personalização exige a escuta ativa dos alunos, considerando suas vozes na construção do percurso educativo. Isso significa criar espaços em que os estudantes possam expressar seus interesses, dúvidas e desejos, contribuindo ativamente na elaboração dos projetos pedagógicos. Vilaronga e Mendes (2014, p. 147) afirmam que o diálogo entre professores e alunos fortalece o vínculo pedagógico e amplia as possibilidades de sucesso escolar. O papel da gestão escolar também é fundamental nesse processo. Gestores comprometidos com a inclusão e a personalização da aprendizagem devem garantir condições para que os professores possam planejar, executar e refletir sobre suas práticas. Isso inclui a oferta de formação continuada, apoio pedagógico e recursos didáticos adequados. Segundo Vygotsky (1988, p. 97), o contexto institucional é determinante na mediação dos processos de aprendizagem, o que reforça a importância de uma cultura escolar inclusiva. A personalização da aprendizagem não é uma tarefa simples, pois envolve mudanças profundas na cultura escolar. Contudo, é um caminho necessário para a construção de uma escola que reconhece e valoriza a singularidade de cada sujeito. Oliveira (2003, p. 98) destaca que a educação, quando pensada em uma perspectiva histórico-cultural, deve ser capaz de potencializar as capacidades humanas e não nivelá-las por baixo. É importante destacar que a personalização da aprendizagem não significa a fragmentação do ensino, mas sim a criação de percursos diversos dentro de uma mesma proposta pedagógica. Essa concepção amplia as possibilidades de acesso ao conhecimento e reduz as desigualdades educacionais. Vilaronga e Mendes (2014, p. 149) argumentam que práticas colaborativas entre professores tornam possível a construção de uma escola mais justa e equitativa. A abordagem personalizada favorece, ainda, o desenvolvimento da autonomia e do protagonismo estudantil. Ao serem respeitados em seus ritmos e estilos, os alunos tendem a se engajar mais nas atividades escolares e a desenvolver uma relação mais positiva com a aprendizagem. Para Vygotsky (1998, p. 132), é por meio da atividade conjunta com o adulto ou com colegas mais experientes que a criança internaliza os instrumentos culturais e desenvolve sua independência. EDUCAÇÃO INCLUSIVA E TECNOLOGIAS INTERATIVAS. Página 16 Em um contexto de diversidade, a personalização torna-se um imperativo ético. Não se trata apenas de adaptar práticas pedagógicas, mas de promover justiça educacional, garantindo que todos os alunos tenham acesso às mesmas oportunidades de desenvolvimento. Oliveira (2003, p. 100) afirma que a escola deve assumir sua responsabilidade social na construção de uma sociedade mais igualitária e solidária. A construção de currículos flexíveis é outro aspecto essencial para a personalização da aprendizagem. Um currículo aberto, que permite adaptações conforme as necessidades dos alunos, amplia as possibilidades de aprendizagem e favorece a inclusão. Vilaronga e Mendes (2014, p. 150) defendem a elaboração de propostas curriculares interativas, que valorizem a diversidade e promovam a participação ativa dos estudantes. A formação docente precisa acompanhar essas transformações, preparando os professores para atuarem em contextos de diversidade e personalização. Isso implica desenvolver competências para o planejamento diferenciado, o uso de recursos tecnológicos e a realização de avaliações formativas. Vygotsky (1988, p. 101) aponta que o papel do educador é fundamental para que a aprendizagem ocorra em sua plenitude, pois ele atua como mediador entre o conhecimento e o sujeito. Cabe ainda ressaltar que a personalização da aprendizagem contribui para a redução do fracasso escolar. Ao serem respeitados em suas singularidades, os alunos tendem a permanecer mais tempo na escola, com melhores índices de aproveitamento e menor evasão. Oliveira (2003, p. 102) observa que a valorização das experiências dos estudantes é um dos caminhos para tornar a escola mais acolhedora e eficaz. A construção de comunidades de aprendizagem, baseadas na colaboração e na solidariedade, é uma das estratégias mais promissoras para implementar a personalização no contexto escolar. Tais comunidades promovem a troca de saberes entre professores, alunos e famílias, fortalecendo os laços entre escola e comunidade. Vilaronga e Mendes (2014, p. 151) reforçam que o envolvimento coletivo é essencial para a consolidação de práticas inclusivas e personalizadas. É preciso entender que a personalização da aprendizagem é um processo contínuo, que exige compromisso, criatividade e sensibilidade por parte de todos os envolvidos no processo educativo. Vygotsky (1998, p. 141) enfatiza que o conhecimento se constrói na interação, e essa interação deve ser significativa, contextualizada e respeitosa. Dessa forma, a personalização se torna não apenas uma metodologia, mas uma postura ética e política frente à educação. EDUCAÇÃO INCLUSIVA E TECNOLOGIAS INTERATIVAS. Página 17 2.4. INOVAÇÃO PEDAGÓGICA: CAMINHOS PARA UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA E PARTICIPATIVA. A educação contemporânea demanda novas perspectivas que contemplem a diversidade dos sujeitos, os desafios do século XXI e, principalmente, a efetiva participação de todos os atores no processo educativo. A inovação pedagógica surge como um caminho fundamental para promover uma escola mais democrática e participativa, rompendo com modelos tradicionais e promovendo práticas que valorizem a autonomia, o diálogo e a construção coletiva do conhecimento. Torna-se imprescindível refletir sobre o papel do professor como mediador e facilitador de processos que incentivem a colaboração, o pensamento crítico e a criatividade. Capellini e Zerbato (2019, p. 14) afirmam que “ensinar de forma colaborativa é romper com o isolamento docente e criar pontes entre saberes, experiências e sujeitos”. Esta abordagem contribui para o fortalecimento de uma cultura de cooperação e corresponsabilidade dentro do espaço escolar. A escola, ao se reinventar, deve adotar práticas pedagógicas que considerem as especificidades dos alunos, promovendo o protagonismo estudantil. Isso implica em oferecer oportunidades para que os discentes participem ativamente da construção do currículo, da avaliação e da organização do ambiente escolar. Segundo Freire (1996, p. 69), “a educação não transforma o mundo. A educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo”. A democratização do conhecimento passa, necessariamente, pela escuta ativa dos estudantes e pela valorização de suas experiências e saberes. A partir desta escuta, é possível ressignificar práticas pedagógicas e construir propostas que dialoguem com as reais necessidades dos sujeitos. Freire (2011, p. 52) defende que “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção”. A inovação pedagógica também está intrinsicamente ligada ao uso das tecnologias de forma criativa e crítica. O acesso a novas ferramentas tecnológicas pode potencializarprocessos de ensino e aprendizagem, permitindo que os alunos se tornem produtores de conhecimento e não apenas receptores. Moran, Masetto e Behrens (2000, p. 35) enfatizam que “a mediação pedagógica com tecnologias requer um novo perfil de professor, mais aberto ao novo e disposto a aprender sempre”. No entanto, a inovação não deve ser compreendida apenas como inserção de aparatos tecnológicos. Ela envolve transformações profundas na cultura escolar, nas relações interpessoais e na gestão da sala de aula. Trata-se de adotar uma postura investigativa, de experimentação e de abertura ao erro como parte do processo de aprendizagem. EDUCAÇÃO INCLUSIVA E TECNOLOGIAS INTERATIVAS. Página 18 O ambiente escolar inovador é aquele que valoriza o erro como parte da trajetória educativa, compreendendo-o como oportunidade para o crescimento. Estimular os alunos a formularem hipóteses, testarem soluções e refletirem sobre seus resultados é essencial para o desenvolvimento de uma mentalidade investigativa e autônoma. Uma escola participativa é aquela que rompe com as hierarquias tradicionais e promove relações horizontais entre professores, alunos, família e comunidade. O espaço escolar deve ser um local de escuta, acolhimento e colaboração, onde todos se sintam pertencentes e corresponsáveis pelo processo educativo. O ensino colaborativo se apresenta como uma alternativa potente para o enfrentamento das desigualdades e a promoção de uma educação inclusiva. Capellini e Zerbato (2019, p. 21) destacam que “o ensino colaborativo promove uma aprendizagem mais rica, pois permite a interação entre diferentes formas de pensar e resolver problemas”. A formação continuada dos professores é um elemento chave para a efetiva implementação de práticas pedagógicas inovadoras. É necessário investir em processos formativos que favoreçam a reflexão sobre a prática, o compartilhamento de experiências e a construção de saberes coletivos. O incentivo à autonomia docente também é fundamental. Professores que possuem liberdade para criar, experimentar e adaptar suas metodologias estão mais propensos a inovar e a responder de forma significativa às necessidades dos seus alunos. A gestão escolar, nesse contexto, deve ser parceira e apoiadora desses movimentos. Por outro lado, os alunos devem ser vistos como sujeitos ativos do processo educacional. A inovação pedagógica deve buscar desenvolver competências socioemocionais, pensamento crítico, resolução de problemas e criatividade. Isso requer metodologias que favoreçam a investigação, a cooperação e a aprendizagem significativa. As metodologias ativas de aprendizagem, como a sala de aula invertida, o ensino por projetos e o design thinking, têm se mostrado eficazes na promoção da autonomia e do engajamento estudantil. Essas abordagens colocam o aluno no centro do processo, desafiando-o a buscar soluções, construir saberes e refletir criticamente. Envolver os diversos segmentos da comunidade escolar nas decisões que afetam a vida escolar é essencial para o fortalecimento da democracia e da participação cidadã. Uma escola verdadeiramente democrática é aquela que reconhece e valoriza a pluralidade, garantindo espaço para a expressão das diferentes vozes que a compõem. Isso significa romper com a homogeneização e investir na construção de currículos que respeitem a diversidade cultural, social e cognitiva dos alunos. EDUCAÇÃO INCLUSIVA E TECNOLOGIAS INTERATIVAS. Página 19 A interdisciplinaridade também se configura como um caminho para a inovação pedagógica. Ao integrar diferentes saberes, é possível construir uma visão mais ampla e contextualizada do conhecimento, contribuindo para uma aprendizagem mais significativa e crítica. É importante ressaltar que inovar não significa abandonar tudo o que já foi construído, mas sim ressignificar práticas, refletir sobre a realidade e buscar alternativas que promovam a equidade, a inclusão e a participação. A construção de uma escola inovadora, democrática e participativa exige coragem, compromisso e abertura ao novo. Trata-se de um processo coletivo e permanente, que requer escuta, diálogo e ação conjunta. Ao investir em práticas pedagógicas transformadoras, a escola cumpre seu papel social de formar sujeitos autônomos, críticos e conscientes, capazes de contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, solidária e democrática. 2.5. POSSIBILIDADES E DESAFIOS NA IMPLEMENTAÇÃO DE TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS INCLUSIVAS. A implementação de tecnologias educacionais inclusivas no ambiente escolar representa um avanço significativo no campo da educação, ao passo que também impõe diversos desafios à prática pedagógica e à gestão escolar. As tecnologias, quando bem aplicadas, contribuem para a mediação dos processos de ensino e aprendizagem, proporcionando equidade de acesso ao conhecimento, especialmente para estudantes com deficiência. No entanto, essas potencialidades dependem diretamente da preparação dos docentes, da infraestrutura escolar e do envolvimento da comunidade educativa. Conforme argumenta Vygotsky (1998, p. 104), “o processo de aprendizagem é parte essencial do desenvolvimento”, sendo fundamental que ele ocorra de maneira colaborativa e com suporte adequado. No contexto da educação inclusiva, a tecnologia surge como uma ferramenta de ampliação das oportunidades de participação ativa dos estudantes com deficiência. Ela permite adaptações curriculares, mediações diferenciadas e acesso a conteúdos multimodais. Entretanto, sua eficácia está condicionada à intencionalidade pedagógica, à formação continuada dos profissionais da educação e à presença de recursos compatíveis com as necessidades específicas de cada estudante. Apesar dos avanços nas políticas públicas de inclusão, a realidade das escolas brasileiras ainda reflete uma discrepância entre os princípios legais e a prática pedagógica. Muitas instituições carecem de recursos básicos, como internet de qualidade, equipamentos funcionais e softwares acessíveis, a ausência de formação específica para os docentes sobre o uso dessas EDUCAÇÃO INCLUSIVA E TECNOLOGIAS INTERATIVAS. Página 20 tecnologias cria barreiras que dificultam sua efetiva aplicação no cotidiano escolar (Capellini; Zerbato, 2020, p. 17). É imprescindível que a implementação de tecnologias inclusivas não seja vista apenas como a inserção de equipamentos, mas como uma reconfiguração da cultura escolar, promovendo práticas pedagógicas colaborativas, flexíveis e centradas no estudante. A proposta de ensino colaborativo, por exemplo, destaca-se como uma estratégia eficaz para integrar diferentes saberes e profissionais, garantindo suporte ao aluno em sua totalidade (Capellini; Zerbato, 2020, p. 18). Segundo Arias (2020, p. 7), a codocência representa um modelo de trabalho coletivo que fortalece o processo de inclusão, uma vez que possibilita a presença simultânea de dois ou mais docentes na sala de aula, ampliando as perspectivas de intervenção pedagógica. Essa prática, aliada ao uso de tecnologias assistivas, proporciona maior dinamismo e personalização das atividades escolares. O uso das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDICs) no contexto inclusivo exige uma mudança de paradigma por parte dos professores. É preciso abandonar práticas transmissivas e adotar metodologias ativas que favoreçam a construção do conhecimento de forma significativa, respeitando o ritmo e as singularidades dos estudantes. Para isso, a formação docente contínua é fator crucial, pois capacita o profissional para lidar com as especificidades das tecnologias e com a diversidade presente nas salas de aula. A infraestrutura escolar é um dos pilares fundamentais para a viabilidade das tecnologias inclusivas. Escolas com deficiência estrutural comprometem o acesso equitativo à aprendizagem, principalmente para alunos com deficiênciamotora, visual ou intelectual. Rampas de acesso, computadores com softwares leitores de tela, recursos de voz, entre outros, são imprescindíveis para garantir autonomia e participação dos estudantes (Vygotsky, 1988, p. 53). É preciso considerar o papel das famílias e da comunidade escolar na construção de uma cultura inclusiva. A tecnologia deve ser compreendida não apenas como um meio técnico, mas como uma linguagem que conecta pessoas, saberes e afetos. O envolvimento da comunidade escolar é essencial para criar um ambiente acolhedor, colaborativo e que respeite as diferenças individuais. Os desafios enfrentados pelas escolas públicas no Brasil refletem a necessidade urgente de políticas públicas que incentivem o investimento em infraestrutura, conectividade e formação dos profissionais. Embora as leis garantam o direito à educação inclusiva, a materialização desses Direitos Depende De Ações Concretas Que Envolvam Todos Os Agentes Do Processo Educativo (Pletsch; Damasceno, 2011, p. 25). EDUCAÇÃO INCLUSIVA E TECNOLOGIAS INTERATIVAS. Página 21 Vygotsky (1998, p. 115) reforça a importância do ambiente social no desenvolvimento das funções mentais superiores, destacando que “toda função aparece duas vezes: primeiro, no nível social, depois, no nível individual”. Esse princípio confirma a relevância de práticas colaborativas e tecnológicas na construção de um ambiente de aprendizagem verdadeiramente inclusivo. A implementação de tecnologias deve, portanto, estar articulada a uma proposta pedagógica comprometida com a inclusão e a justiça social. A simples disponibilização de recursos não garante o aprendizado; é preciso intencionalidade, planejamento e avaliação contínua. O Plano de Atendimento Educacional Especializado (PAEE) e o uso da Sala de Recursos Multifuncional, por exemplo, devem ser integrados às atividades da sala comum, evitando práticas excludentes ou paralelas (Braun; Vianna, 2011, p. 31). Os professores precisam ser protagonistas nesse processo de transformação. Por isso, a valorização profissional, com melhores condições de trabalho, remuneração digna e acesso à formação continuada, é condição para o êxito das práticas inclusivas mediadas por tecnologias. Não basta conhecer o recurso; é necessário saber utilizá-lo pedagogicamente, em prol da aprendizagem de todos os alunos (Capellini; Zerbato, 2020, p. 19). A escola inclusiva deve ser entendida como um espaço de convivência plural, onde o conhecimento se constrói na interação e na escuta das diferenças. Nesse sentido, a tecnologia atua como mediadora entre o sujeito e o mundo, favorecendo a expressão, a criação e a participação ativa dos estudantes com deficiência (Vygotsky, 1988, p. 70). Entretanto, ainda persiste uma lógica assistencialista na concepção de inclusão, em que as tecnologias são vistas como "soluções mágicas" para problemas estruturais e pedagógicos. É necessário desconstruir essa visão e compreender que a verdadeira inclusão depende de uma mudança profunda na cultura escolar e no modo como a sociedade enxerga a diversidade (Pletsch; Damasceno, 2011, p. 26). Para superar os obstáculos existentes, é urgente o fortalecimento do trabalho em rede entre escolas, universidades, centros de pesquisa, secretarias de educação e movimentos sociais. A construção de uma política de inclusão com base científica, dialógica e democrática permitirá avanços significativos na consolidação de práticas educativas verdadeiramente acessíveis (ARIAS, 2020, p. 12). A pesquisa e a inovação devem caminhar lado a lado com a prática docente. O incentivo à produção de conhecimento sobre tecnologias inclusivas possibilita o desenvolvimento de soluções contextualizadas e eficazes, que respondam às reais necessidades da comunidade escolar (Braun; Vianna, 2011, p. 33). EDUCAÇÃO INCLUSIVA E TECNOLOGIAS INTERATIVAS. Página 22 É importante destacar que a inclusão não diz respeito apenas aos estudantes com deficiência, mas a todos aqueles que, por diferentes razões, se encontram em situação de exclusão ou vulnerabilidade. Assim, a tecnologia deve ser pensada como um direito, e não como privilégio, garantindo acesso universal e equitativo ao saber (Vygotsky, 1998, p. 121). A avaliação das práticas pedagógicas inclusivas mediadas por tecnologias deve ser contínua, reflexiva e participativa. Isso implica ouvir os estudantes, as famílias, os professores e demais membros da comunidade escolar sobre a efetividade das estratégias utilizadas. A escuta ativa é o primeiro passo para a construção de uma escola democrática e inclusiva (Capellini; Zerbato, 2020, p. 20). A implementação de tecnologias educacionais inclusivas é um processo em construção, permeado por desafios, mas também por inúmeras possibilidades. Quando orientado por princípios éticos, democráticos e inclusivos, esse processo tem o potencial de transformar não apenas a escola, mas a própria sociedade, rumo a uma educação mais justa e humana. 3. CONCLUSÃO Diante dos avanços observados nas últimas décadas, é possível afirmar que a integração entre educação inclusiva e tecnologias interativas representa uma das mais promissoras estratégias para personalizar a aprendizagem no Ensino Fundamental I e II. O uso consciente e planejado dessas ferramentas permite não apenas atender às necessidades específicas dos estudantes com deficiência, mas também valorizar as singularidades de todos os alunos, respeitando ritmos, estilos de aprendizagem e formas diversas de expressão. A inclusão, nesse contexto, deixa de ser um ideal abstrato e se concretiza em ações pedagógicas que promovem o engajamento, a autonomia e o protagonismo dos estudantes. Quando a escola investe em uma proposta pedagógica flexível, colaborativa e sustentada por recursos digitais acessíveis, ela amplia as oportunidades de participação e sucesso escolar para todos. A personalização da aprendizagem, mediada por tecnologias interativas, possibilita a construção de trilhas de aprendizagem significativas e motivadoras, nas quais o estudante é colocado no centro do processo educativo. Ao mesmo tempo, fortalece-se o papel do professor como mediador e curador de experiências educativas, capaz de articular saberes e promover práticas diferenciadas que respeitam a diversidade presente nas salas de aula. Ferramentas como plataformas adaptativas, jogos educacionais, softwares de leitura acessível e recursos audiovisuais ampliam as fronteiras do ensino tradicional, promovendo experiências de aprendizagem mais imersivas, dinâmicas e inclusivas. O ambiente escolar torna-se mais acolhedor, estimulante e efetivamente comprometido com a construção de uma sociedade mais justa e democrática. EDUCAÇÃO INCLUSIVA E TECNOLOGIAS INTERATIVAS. Página 23 É importante reconhecer que o caminho rumo a uma educação inclusiva e tecnologicamente inovadora exige o comprometimento coletivo de gestores, professores, estudantes, famílias e poder público. Apesar dos desafios estruturais e formativos ainda existentes, os resultados positivos já observados em diferentes contextos escolares revelam que é possível transformar a realidade educacional com sensibilidade, investimento e vontade política. A esperança reside na capacidade de reinvenção da escola e na força das práticas pedagógicas que, com criatividade, afeto e tecnologia, conseguem romper barreiras, despertar potencialidades e promover o direito à aprendizagem de todos e de cada um. O futuro da educação inclusiva é possível, viável e necessário — e ele começa agora, com pequenas ações cotidianas que colocam o ser humano no centro do processo educativo. REFERÊNCIAS ARIAS, L. G. Trabajo colaborativo y codocencia: una aproximación a la inclusión educativa. Revista de Estudios Teóricos y Epistemológicos en Política Educativa, v. 5, e2015321, p. 1-14, 2020. Disponível em: https://revistas.uepg.br/index.php/retepe/article/view/15321.Acesso em: 07 abr. 2025. BRAUN, P.; VIANNA, M. M. Atendimento educacional especializado, sala de recursos multifuncional e plano individualizado: desdobramentos de um fazer pedagógico. In: PLETSCH, M. D.; DAMASCENO, A. (Org.). Educação especial e inclusão escolar: reflexões sobre o fazer pedagógico. Seropédica, RJ: EDUR, 2011. p. 23-34. Disponível em: https://drive.google.com/file/d/1k4LKaZ-ysVb2V54WwxoOaQQQ8q-5_2wb/view. Acesso em: 08 abr. 2025. CAPELLINI, V. L. M. F.; ZERBATO, A. P. O que é o ensino colaborativo? São Paulo: Edicon, 2019. 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