Prévia do material em texto
1 FACULDADE ESTÁCIO DE FLORIANÓPOLIS CURSO PSICOLOGIA FREDERIC OLDENBURG PIMENTEL RELATÓRIO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO ESPECÍFICO EM ABORDAGEM FENOMENOLÓGICA EXISTENCIAL HUMANISTA . FLORIANÓPOLIS, 2025. 2 FREDERIC OLDENBURG PIMENTEL RELATÓRIO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO ESPECÍFICO EM ABORDAGEM FENOMENOLÓGICA EXISTENCIAL HUMANISTA Relatório de estágio apresentado ao curso de Graduação em Psicologia da Faculdade Estácio de Florianópolis, como requisito avaliativo da disciplina de Estágio Supervisionado Obrigatório Específico Clínico da Existencial/Humanista Professora Supervisora: Laís Francielle Francisca Felício FLORIANÓPOLIS, 2025. 3 SUMÁRIO 1- INTRODUÇÃO 1.1. Justificativa 1.2. Objetivos 2- ATIVIDADES DESENVOLVIDAS 2.1 Ficha de Atividades 3- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 3.1 A abordagem Existencial/Humanista 3.1.1 A Psicoterapia na abordagem Existencial/Humanista 4 – CONCLUSÃO 5 - AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO 6 - REFERÊNCIAS 7 – APÊNDICES 7.1 Fichamentos 7.2 Versões de sentido 8 - ANEXOS 1 1. INTRODUÇÃO A Universidade Estácio de Sá é uma instituição de ensino superior situada em Florianópolis/SC, que mantém o Serviço Escola de Psicologia (SEP), localizado na Rua Adolfo Melo, número 34, no Centro. O SEP oferece atendimentos psicológicos à comunidade e contribui com a formação prática de estudantes do curso de Psicologia. O Serviço Escola funciona de segunda a sexta-feira, das 08h30 às 21h40, e conta com infraestrutura composta por salas destinadas aos estagiários, arquivos, recepção, atendimentos individuais, em grupo e infantis, proporcionando um ambiente adequado para as atividades clínicas supervisionadas. O processo de atendimento tem início com a Triagem, momento em que o paciente preenche um formulário e é convidado a uma entrevista inicial. Após essa etapa, permanece em lista de espera até ser contatado para início do acompanhamento psicológico. Durante a triagem, o paciente assina o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e é informado sobre as normas de funcionamento do serviço, incluindo a possibilidade de desligamento após três faltas consecutivas ou injustificadas. O SEP tem como missão oferecer atendimento psicológico acessível e ético à comunidade, enquanto contribui com a formação de futuros profissionais. Seus valores envolvem respeito ao sujeito, responsabilidade social e compromisso com a formação técnica e humana. 1.1 Justificativa No período de estágio, entre 20/02/25 e 20/06/25, atuei principalmente no setor do Serviço Escola de Psicologia (SEP) da Universidade Estácio de Sá, em Florianópolis/SC. Durante esse período, desenvolvi atividades relacionadas à clínica psicológica, com ênfase na realização de triagens psicológicas e atendimentos psicoterapêuticos individuais. Na triagem, participei do acolhimento inicial de pacientes, com o objetivo de compreender suas principais queixas, identificar aspectos emocionais relevantes e avaliar, junto à supervisão, a possibilidade de continuidade do atendimento na clínica. Já nos atendimentos clínicos, conduzi acompanhamentos individuais, fortalecendo minha escuta terapêutica, manejo de vínculo e atuação ética. 1.2 Objetivo O objetivo do estágio é obter experiência prática que complemente a teoria adquirida ao longo do curso de Psicologia, proporcionando o desenvolvimento de habilidades clínicas 2 fundamentais para a atuação profissional. Este relatório tem como finalidade documentar as atividades realizadas durante o estágio no Serviço Escola de Psicologia (SEP) da Universidade Estácio de Sá, com foco na realização de triagens psicológicas e atendimentos psicoterapêuticos individuais, ambos supervisionados e desenvolvidos em um contexto de prática ética, responsável e comprometida com a saúde mental da comunidade. 2.Atividades Desenvolvidas 2.1Ficha de Atividades NOME COMPLETO: Frederic Oldenburg Pimentel MATRÍCULA: 202103611192 CAMPUS/POLO: Florianópolis ANO: 2025 SEMESTRE: 2025/1 DISCIPLINA (CÓDIGO E NOME): Estágio Supervisionado Específico na Abordagem Existencial/Humanista ARA0638 LOCAL DE ESTÁGIO (NOME DA EMPRESA): Estácio Florianópolis ENDEREÇO DO LOCAL DE ESTÁGIO: Adolfo Melo, 34 TUTOR/DOCENTE DE ESTÁGIO: Laís Francielle Francisca Felicio Data Descrição da atividade Hora de Início Hora de encerramento Total de horas 28.03 Organização para o atendimento 13:00 14:00 1h 28.03 Atendimento Lanna 14:00 15:00 1h 28.03 Atendimento Mônica 15:00 16:00 1h 28.03 Preenchimento dos prontuários 16:00 17:00 1h 04.04 Organização para o atendimento 13:00 14:00 1h 04.04 Atendimento Lanna 14:00 15:00 1h 04.04 Atendimento Mônica 15:00 16:00 1h 04.04 Atendimento Martha 16:00 17:00 1h 04.04 Preenchimento dos prontuários 17:00 18:00 1h 11.04 Organização para o atendimento 13:00 14:00 1h 11.04 Atendimento Lanna 14:00 15:00 1h 3 11.04 Atendimento Mônica 15:00 16:00 1h 11.04 Atendimento Martha 16:00 17:00 1h 11.04 Preenchimento dos prontuários 17:00 18:00 1h 25.04 Organização para o atendimento 13:00 14:00 1h 25.04 Atendimento Lanna 14:00 15:00 1h 25.04 Atendimento Mônica 15:00 16:00 1h 25.04 Atendimento Martha 16:00 17:00 1h 25.04 Preenchimento dos prontuários 17:00 18:00 1h 02.05 Organização para o atendimento 13:00 14:00 1h 02.05 Atendimento Lanna 14:00 15:00 1h 02.05 Atendimento Mônica 15:00 16:00 1h 02.05 Atendimento Martha 16:00 17:00 1h 02.05 Preenchimento dos prontuários 17:00 18:00 1h 09.05 Organização para o atendimento 13:00 14:00 1h 09.05 Atendimento Lanna 14:00 15:00 1h 09.05 Atendimento Mônica 15:00 16:00 1h 09.05 Atendimento Martha 16:00 17:00 1h 09.05 Preenchimento dos prontuários 17:00 18:00 1h 16.05 Organização para o atendimento 13:00 14:00 1h 16.05 Atendimento Lanna 14:00 15:00 1h 16.05 Atendimento Mônica 15:00 16:00 1h 16.05 Atendimento Martha 16:00 17:00 1h 16.05 Preenchimento dos prontuários 17:00 18:00 1h 20.05 Organização para o atendimento 14:00 15:00 1h 20.05 Atendimento Mônica 15:00 16:00 1h 4 20.05 Preenchimento dos prontuários 17:00 18:00 1h 22.05 Organização para o atendimento 13:00 14:00 1h 22.05 Atendimento Lanna 14:00 15:00 1h 22.05 Atendimento Martha 15:00 16:00 1h 22.05 Preenchimento dos prontuários 16:00 17:00 1h 30.05 Organização para o atendimento 13:00 14:00 1h 30.05 Atendimento Lanna 14:00 15:00 1h 30.05 Atendimento Mônica 15:00 16:00 1h 30.05 Atendimento Martha 16:00 17:00 1h 30.05 Preenchimento dos prontuários 17:00 18:00 1h 06.06 Organização para o atendimento 13:00 14:00 1h 06.06 Atendimento Lanna 14:00 15:00 1h 06.06 Atendimento Mônica 15:00 16:00 1h 06.06 Atendimento Martha 16:00 17:00 1h 06.06 Preenchimento dos prontuários 17:00 18:00 1h 13.06 Organização para o atendimento 13:00 14:00 1h 13.06 Atendimento Lanna 14:00 15:00 1h 13.06 Atendimento Mônica 15:00 16:00 1h 13.06 Atendimento Martha 16:00 17:00 1h 13.06 Preenchimento dos prontuários 17:00 18:00 1h 20.06 Organização para o atendimento 13:00 14:00 1h 20.06 Atendimento Lanna 14:00 15:00 1h 20.06 Atendimento Mônica 15:00 16:00 1h 20.06 Atendimento Martha 16:00 17:00 1h 20.06 Preenchimento dos prontuários 17:00 18:00 1h 18.03 O Drama da Criança Bem Dotada 13:00 16:00 3h 5 19.03 O Drama da Criança Bem Dotada 13:00 15:00 2h 20.03 O Drama da Criança Bem Dotada 13:00 16:00 3h 22.03 O Drama da Criança Bem Dotada 13:00 16:00 3h 18.04 Terapia Afirmativa 09:00 14:00 5h 19.04 Terapia Afirmativa 09:00 14:00 5h 03.05 Eu sou o monstro que vos fala 13:00 15:00 2h 04.05 Eu sou o monstro que vos fala 13:00 14:00 1h 05.05 Eu sou o monstro que vos fala 13:00 15:00 2h 06.05 Eu sou o monstrosaudável frente à figura materna, o que aponta para um possível fortalecimento do self. Será importante acompanhar o desdobramento dessa mudança na configuração de contato com o mundo, bem como criar um espaço seguro para a elaboração dos traumas vividos. A relação terapêutica pode funcionar como um campo fértil para o desenvolvimento de awareness, especialmente a partir do reconhecimento de suas próprias necessidades, limites e direitos. Segunda sessão 32 Durante a escuta, validei o sentimento de preocupação da consulente e sua intenção genuína de ajudar, reconhecendo o esforço investido na criação de um ambiente de apoio. Trabalhamos juntas na ampliação de sua percepção sobre os próprios limites, construindo a ideia de que ela tem oferecido o que está ao seu alcance. Essa devolutiva possibilitou à consulente entrar em contato com um sentimento de alívio, ao reconhecer que seu gesto de acolhimento já representa uma forma significativa de apoio. A sessão transcorreu com boa qualidade de presença e abertura. A consulente manteve contato visual frequente e mostrou-se disponível ao diálogo. Ao final, expressou-se de forma mais tranquila, mencionando sentir-se mais leve e segura em relação à sua postura frente à amiga. Clinicamente, a sessão evidenciou a capacidade empática da consulente e seu movimento em direção à construção de vínculos afetivos mais conscientes e cuidadosos. Sua preocupação com a amiga pode também ressoar com aspectos não elaborados de sua própria história, sobretudo em relação ao desejo de proteger figuras importantes de situações de sofrimento. Seguir trabalhando a diferenciação entre responsabilidade e responsabilização será importante no fortalecimento de seu self e na ampliação de sua awareness quanto aos próprios limites e possibilidades na relação com o outro. Terceira sessão As intervenções tiveram como foco o acolhimento da dor e o fortalecimento do self diante de temas dolorosos. Validei sua angústia diante da situação da mãe e, ao mesmo tempo, introduzi reflexões sobre os próprios limites e responsabilidades. Trouxe à tona a noção de fronteira de contato e segurança, evitando a sobrecarga da consulente com papéis que não lhe cabem. Ao surgir o afeto relacionado ao abuso, convidei-a gentilmente a permanecer na experiência, possibilitando uma vivência autêntica e reparadora do contato. Foi trabalhada também a inversão de papéis na relação mãe-filha e o impacto dessa configuração no sentimento de desamparo emocional. Por fim, apontei a possibilidade de reconhecer na relação com o parceiro um espaço legítimo de cuidado recíproco. A consulente manteve-se presente ao longo da sessão, mesmo diante de conteúdos delicados. Demonstrou capacidade de sustentar o contato com emoções intensas, como tristeza, medo e carência, expressando-as de maneira gradual e segura. A sessão foi finalizada com tranquilidade e com relatos de bem-estar e alívio, indicando a potência da experiência vivida no setting terapêutico. 33 Clinicamente, esta sessão evidenciou a complexidade das vivências da consulente, especialmente no que tange às figuras parentais e aos efeitos de um histórico de violência e negligência. O movimento de diferenciação em relação à mãe segue em processo, com importantes avanços em awareness e apropriação de seus próprios limites e direitos. A abertura afetiva diante do trauma revela um campo fértil para elaboração e integração dessas experiências. A relação terapêutica pode seguir funcionando como espaço seguro de contato, autorregulação e reorganização interna, promovendo experiências reparadoras e fortalecendo sua capacidade de pedir e receber cuidado de forma mais consciente. Quarta sessão As intervenções concentraram-se na validação do sofrimento da consulente e no aprofundamento da consciência sobre a inversão de papéis presente na relação com a mãe. Nomear esse movimento possibilitou ampliar a awareness sobre a carga emocional que tem carregado desde a infância. Durante a sessão, propus reflexões sobre os efeitos corporais e psicológicos do estado constante de vigilância em relação à mãe, possibilitando que a consulente identificasse os custos subjetivos dessa dinâmica. Ao falar de sua ansiedade quanto ao tempo da cura, foi acolhida em sua angústia e convidada a reconhecer o valor do processo terapêutico como um caminho contínuo, não linear, mas possível. Apontei ainda a importância de reconhecer pequenas ações de cuidado de si, como cozinhar e buscar momentos de solitude, como formas legítimas de reorganização interna. A consulente demonstrou presença e abertura ao longo da sessão, sustentando contato mesmo em momentos de maior carga afetiva. As emoções foram acessadas de forma gradual e segura. A sessão se encerrou com a consulente mais conectada aos próprios sentimentos, e com expressões de alívio após colocar em palavras aspectos dolorosos de sua história. Clinicamente, a sessão revelou camadas profundas da vivência da consulente, especialmente em relação à negligência materna e aos traumas sexuais da infância. A verbalização espontânea do desejo de “ser filha” marca um avanço importante na diferenciação do self e na construção de uma nova percepção de si e de seus direitos afetivos. A ampliação da consciência sobre os efeitos psíquicos e somáticos da preocupação constante com a mãe abre espaço para o fortalecimento de estratégias de autocuidado. O trabalho terapêutico segue com o foco na elaboração das feridas precoces e na criação de experiências restauradoras no aqui- agora, sustentadas por uma relação dialógica e segura. Quinta sessão 34 Durante a escuta, validei o sofrimento da consulente frente à quebra do vínculo com a sogra e reconheci a importância de seu posicionamento assertivo como expressão de autorrespeito e autoproteção. Acompanhei a narrativa com presença e escuta ativa, permitindo que ela organizasse seus sentimentos de surpresa, tristeza e frustração. Foi possível ressaltar o movimento de diferenciação saudável diante de relações que tentam invadir ou distorcer sua experiência, reconhecendo o crescimento que esse enfrentamento representa em relação a padrões antigos, especialmente considerando seu histórico de silenciamento frente a figuras de autoridade. Nomeamos, com cuidado, a ambivalência presente: o desejo de manter vínculos afetivos importantes e, ao mesmo tempo, a necessidade de se proteger e se posicionar. A sessão foi um espaço para elaborar essa tensão interna, favorecendo o alívio emocional ao final do encontro. A consulente sustentou contato visual e afetivo ao longo da sessão, mesmo ao abordar um episódio carregado de emoções como raiva, tristeza e frustração. Demonstrou-se reflexiva e conectada às próprias vivências. Ao final, expressou sentir-se mais aliviada após compartilhar e elaborar a situação no setting terapêutico. Clinicamente, a sessão reforça o movimento crescente da consulente em direção ao fortalecimento do self, com ampliação de sua capacidade de se posicionar e se responsabilizar por si, sem abrir mão do cuidado com o outro. Seu relato indica uma transição importante: da necessidade de agradar e manter vínculos a qualquer custo, para a afirmação de seus próprios limites e valores. É essencial seguir acompanhando os efeitos emocionais da ruptura parcial com uma figura significativa como a sogra, bem como os reflexos dessa experiência em seu senso de identidade, segurança e pertencimento nas relações. Sexta sessão A principal intervenção foi a adaptação do setting para atender às necessidades emergentes da consulente, oferecendo uma experiência mais lúdica, segura e corporal, com o objetivo de promover regulação emocional. O uso do desenho funcionou como mediador de contato, facilitando a expressão de conteúdos difíceis com menos retração defensiva. Durante a atividade, acolhisuas narrativas com escuta ativa, validação emocional e presença. As devoluções buscaram sustentar a integridade da consulente frente às experiências relatadas, reforçando sua percepção de valor próprio e sua capacidade de elaborar essas vivências no tempo dela. No relato sobre a ausência de proteção materna, foram feitas pontuações cuidadosas sobre os efeitos dessa negligência e os impactos na construção de seus vínculos afetivos. Ao 35 lembrar do pai em um lugar de acolhimento, a experiência foi reconhecida como potencialmente restauradora. A consulente manteve presença e contato ao longo de toda a sessão, mesmo diante de conteúdos emocionalmente intensos. Demonstrou abertura, fluidez na fala e envolvimento com a atividade proposta. Ao final, referiu-se sentir-se bem e solicitou levar o desenho para finalizá- lo em casa, demonstrando um gesto simbólico de continuidade do processo de elaboração. Agradeceu pela atenção recebida, encerrando a sessão com leveza. Clinicamente, a sessão confirmou a eficácia do uso criativo do setting como recurso de apoio à regulação emocional. O espaço lúdico facilitou a emergência de conteúdos traumáticos, possibilitando contato com memórias precoces de abuso, afeto e proteção. A recordação do pai como figura de amparo contrasta com a vivência de desamparo junto à mãe, revelando um campo rico para compreensão da configuração atual de seus vínculos. O relato de episódios inéditos, como o abuso do primo, indica aprofundamento no processo terapêutico e ampliação da confiança na relação terapêutica. O manejo cuidadoso desses conteúdos será fundamental para a continuidade da elaboração e para o fortalecimento do self em sua trajetória de cura. Sétima sessão Minhas intervenções buscaram reconhecer e validar os múltiplos movimentos de cuidado da consulente, ao mesmo tempo em que pontuei a importância de reconhecer os próprios limites diante do sofrimento alheio. Trabalhamos na ampliação da awareness sobre a diferença entre empatia e responsabilidade excessiva. Ao emergirem conteúdos relativos à sua sexualidade, ofereci espaço para explorar os medos relacionados à revelação para a mãe, conectando essa vivência com o campo relacional mais amplo, onde a aceitação tem sido condicionada ou negada. Nomeei o impacto subjetivo do silêncio e o medo da rejeição, reconhecendo também sua coragem em manter-se autêntica em outros vínculos. Durante a evocação de sua vivência com o padrasto, sustentei escuta sensível e validante, destacando a força contida em sua narrativa: a retomada do próprio nome e da própria identidade como marco de reconstrução do self. Reforcei a importância de seguir reconhecendo essa trajetória de fortalecimento. A consulente apresentou boa presença ao longo da sessão, mesmo diante da complexidade e do volume de temas abordados. Conseguiu sustentar o contato com afeto, tristeza, preocupação e resiliência. Ao final, mostrou-se serena e conectada consigo mesma, indicando que o espaço terapêutico segue como um lugar seguro para elaborar suas experiências e afetos. 36 Clinicamente, a sessão reafirma a sensibilidade relacional da consulente e sua tendência a assumir funções de cuidado em diversos vínculos. A emergência de conteúdos relacionados à identidade e à orientação sexual aponta para um momento de possível expansão de autenticidade, embora ainda permeado por medos associados ao julgamento familiar. A declaração sobre seu passado com o padrasto revela uma elaboração simbólica significativa, contraposta à construção de um novo lugar de identidade e potência. O reconhecimento da própria trajetória de libertação pode ser um importante recurso de autorregulação e de empoderamento. A continuidade do processo terapêutico pode favorecer o enraizamento dessas conquistas no campo afetivo e relacional. Oitava sessão As intervenções nesta sessão concentraram-se em ampliar a percepção da consulente sobre a importância da diferenciação emocional e no reforço do conceito de fronteira de contato. Validei sua sensibilidade frente ao sofrimento do outro, ao mesmo tempo em que devolvi a possibilidade de cuidar de si sem assumir responsabilidades alheias. Trabalhamos a noção de que o autocuidado não é egoísmo, mas um movimento essencial de autorrespeito. Nomeamos sua tendência à introjeção da culpa como um padrão antigo, frequentemente presente em contextos familiares em que assumiu papéis que não lhe pertenciam. A observação sobre o ciclo de conflito e reconciliação entre sua sogra e a “Pessoa” foi valorizada como sinal de amadurecimento de sua percepção relacional, contribuindo para o fortalecimento de sua capacidade crítica e autônoma frente às repetições nocivas. A consulente demonstrou boa qualidade de presença, mantendo contato mesmo em momentos de desconforto emocional. A sessão foi conduzida de forma fluida, com reflexões profundas e abertura à escuta. Ao final, demonstrou alívio ao nomear os conflitos internos entre empatia e exaustão, e saiu mais centrada em relação às suas próprias necessidades. Clinicamente, esta sessão reforça o movimento da consulente em direção à construção de limites mais saudáveis nos vínculos afetivos, embora ainda acompanhada de sentimentos de culpa por não conseguir “salvar” quem ama. Sua capacidade de perceber padrões relacionais disfuncionais ao seu redor, como no caso da sogra e do padrasto, revela um ganho importante de awareness e capacidade de análise do campo. O trabalho terapêutico seguirá sustentando sua diferenciação, ampliando a compreensão de que estar disponível afetivamente não significa absorver a dor do outro. A tarefa terapêutica segue sendo a de acolher sua sensibilidade, sem que ela perca de vista o direito de cuidar de si 37 8 - ANEXOS TERMO DE COMPROMISSO DE ESTÁGIO CONCEDENTE DO ESTÁGIO (EMPRESA/PROFISSIONAL LIBERAL): FACULDADE ESTACIO DE FLORIANOPOLIS CNPJ ou CPF e Registro em Conselho: 80.669.344/0001-27 Endereço: RUA ADOLFO MELO, 34 - Florianópolis, SC CEP: 88015-090 E-mail: FISCAL@ESTACIO.BR Tel.: (21) 3311-9445 Representante: Vicente Russo Vitola Cargo: Gerente Unidade DIREÇÃO DO CAMPUS Local do Estágio (setor ou endereço do estágio): RUA ADOLFO MELO, 34 - CENTRO, Florianópolis, SC, 88015-090 - Brasil INTERVENIENTE (INSTITUIÇÃO DE ENSINO): Estácio CNPJ: 80.669.344/0001-27 Endereço: Rua Adolfo Melo, 34 - Centro CEP: 88015-090 UNIDADE/POLO DO ALUNO FLORIANÓPOLIS CENTRO/FACULDADE ESTÁCIO DE FLORIANÓPOLIS NOME DO(A) ESTAGIÁRIO(A): Frederic Oldenburg Pimentel MATRÍCULA: 202103611192 CPF: 002.317.782-95 CURSO : Psicologia Email: frederic.pimentel@hotmail.com Telefone: (92) 98155-6067 DURAÇÃO / PERÍODO DO ESTÁGIO: 3 Meses. De 06/03/2025 a 20/06/2025 NÚMERO DA APÓLICE DE SEGURO: 207995 SEGURADORA: MAPFRE Segurados Gerais S.A. [ X ] OBRIGATÓRIO, conforme permite o Art. 12 da Lei 11.788, devendo, porém, objetivar a complementação do ensino e da aprendizagem profissional do (a) aluno (a), sendo o pagamento de bolsa ou contraprestação opcional e não obrigatório, em forma de auxílio educacional, pelo empregador. Remuneração: [ X ] Não remunerado [ ] O estagiário (a) receberá uma Bolsa de Complementação Educacional mensal, no período do estágio, no valor de R$ R$ 0,00, que deverá ser paga até o 5° (quinto) dia útil do mês subsequente. [ ] O estagiário(a) receberá por contraprestação: [ ] NÃO OBRIGATÓRIO, Remuneração: [ ] O estagiário (a) receberá uma Bolsa de Complementação Educacional mensal, no período do estágio, no valor de R$ , que deverá ser paga até o 5° (quinto) dia útil do mês subsequente. [ ] O estagiário (a) receberá por contraprestação: 1. A Concedente autoriza o(a) estagiário(a) a realizar, em suas dependências, um período de estágio que se regerá pelo disposto no presente instrumento. TCE Este documento possui método de assinatura digitale só é válido com todas as assinaturas. Para verificar a autenticidade deste documento, acesse: http://www.encontresuavaga.com.br/l/internships/validate-digital-signature?s=18757bcd-d920-441e-b1bb-b29300159c2e Número de série: 18757bcd-d920-441e-b1bb-b29300159c2e 38 39que vos fala 13:00 15:00 2h 10.05 Eu sou o monstro que vos fala 09:00 12:00 3h 24.03 A gente mira no amor e acerta na solidão 13:00 15:00 2h 25.03 A gente mira no amor e acerta na solidão 13:00 15:00 2h 26.03 A gente mira no amor e acerta na solidão 13:00 15:00 2h 27.03 A gente mira no amor e acerta na solidão 13:00 15:00 2h 30.03 A gente mira no amor e acerta na solidão 09:30 11:30 2h 31.03 A gente mira no amor e acerta na solidão 13:00 15:00 2h 01.04 A gente mira no amor e acerta na solidão 13:00 16:00 3h 30.05 Leitura artigo versão de sentido 14:00 15:00 1h 30.05 Vídeo aula Leituras de Fenomenologia da Percepção 16:00 17:00 1h 31.05 Elaboração do relatório 16:00 18:00 2h 06.06 Elaboração do relatório 10:00 17:00 6h 6 07.06 Elaboração do relatório 10:00 17:00 6h 08.06 Elaboração do relatório 10:00 17:00 6h 09.06 Elaboração do relatório 10:00 17:00 6h 10.06 Elaboração do relatório 10:00 17:00 6h 18.06 Grupo de estudo Helenita 19:30 20:40 3h 18.06 Filme até a ultima gota 14:00 16:00 2h 06.03 Supervisão 09:00 11:30 2h30min 13.03 Supervisão 09:00 11:30 2h30min 20.03 Supervisão 09:00 11:30 2h30min 03.04 Supervisão 09:00 11:30 2h30min 10.04 Supervisão 09:00 11:30 2h30min 17.04 Supervisão 09:00 11:30 2h30min 24.04 Supervisão 09:00 11:30 2h30min 01.05 Supervisão 09:00 11:30 2h30min 08.05 Supervisão 09:00 11:30 2h30min 15.05 Supervisão 09:00 11:30 2h30min 22.05 Supervisão 09:00 11:30 2h30min 05.06 Supervisão 09:00 11:30 2h30min 12.06 Supervisão 09:00 11:30 2h30min 23.06 Correção do relatório 13:00 16:00 3h 24.06 Correção do relatório 17:00 19:00 3h Total de horas (soma): _______177h______ ASSINATURA E CARIMBO DO(A) SUPERVISOR(A) DE ESTÁGIO NA EMPRESA CONCEDENTE (OBRIGATÓRIO) ASSINATURA DO(A) ALUNO(A) (OBRIGATÓRIO) 7 3- Fundamentação Teórica 3.1 A abordagem Existencial/Humanista A abordagem Existencial/Humanista é uma corrente da psicologia que enfatiza a experiência subjetiva e a busca de sentido na vida. Tem como base a filosofia existencial e a psicologia humanista. Tendo como principais influências no campo filosófico grandes nomes como Soren Kierkegaard, Martin Heidegger e Jean-Paul Sartre. No âmbito da Psicologia Humanista, Carl Rogers é a maior referência (Blackburn, 1997). As raízes filosóficas dessa abordagem exploraram a condição humana de forma profunda. Soren Kierkegaard (1813-1855), sendo considerado o primeiro existencialista enfatizou a importância da vontade, da livre escolha, da ética, da estética e do "salto no escuro”, que representa uma imersão ao inexplorado. Martin Heidegger (1889-1976), por sua vez, teve sua influência a partir de sua obra "Ser e Tempo" (1927), que se mostrou fundamental, ao analisar o ser humano a partir de sua existência. Heidegger criticou a perda da conexão com o “ser” na modernidade e propôs conceitos como “ser-no-mundo” e “ser-com-os-outros”, além de explorar relação do ser com o tempo. Por fim Jean-Paul Sartre (1905-1980), autor de “A Náusea” e “O existencialismo é um humanismo”, evidenciou a capacidade de escolha do ser humano, o livre-arbítrio, a angústia e a relação com os outros como elementos essenciais da existência (Blackburn, 1997). A psicologia humanista de Carl Rogers, trouxe importantes contribuições para essa abordagem, especialmente com a sua obra “Tornar-se Pessoa” (1961). Rogers defendia que uma relação terapêutica eficaz exige aceitação incondicional, na qual o terapeuta demonstra empatia (a capacidade de compreender o mundo do cliente sem julgamentos) e consideração positiva incondicional (o acolhimento e a aceitação plena do individuo). A congruência (a coerência do terapeuta consigo mesmo e com o cliente) também é vital (Rogers, 1997). A partir desses fundamentos, a Psicologia Existencial-Humanista incorpora conceitos- chave como escolhas, liberdade, responsabilidade, angústia existencial, ser-no-mundo, ser- com-os-outros, autoconhecimento, autocompreensão e consciência. O foco de Rogers era liberar o núcleo da personalidade, promovendo a redescoberta da autoestima, autoconfiança e amadurecimento emocional. Ele acreditava que, em um ambiente de aceitação, o indivíduo naturalmente encontraria a sua capacidade de crescimento e desenvolvimento pessoal (Oliveira,2018). 3.1.1 A Psicoterapia na abordagem Existencial/Humanista 8 A Psicoterapia Existencial Humanista coloca o Homem no centro da própria vida, focando na consciência do seu modo de ser, escolhas, liberdade e responsabilidade perante a sua existência. O Homem é compreendido como um “ser-no-mundo”, manifestando-se afetivamente nos gestos do seu corpo, no tom de sua voz, nas palavras proferidas e em todas as formas de se expressar. Na qual ele é que vivencia, experimenta e dá significado aos eventos em sua vida. O objetivo terapêutico é promover o autoconhecimento e a autocompreensão, visando a resolução de conflitos e a autorrealização. O processo ressalta o autocuidado, a consciência das emoções e a avaliação de atitudes, buscando o equilíbrio entre pensamentos, emoções e ações. O papel do psicoterapeuta Existencial Humanista é acolher sem julgar, ajudar a esclarecer e promover que o cliente faça reflexões sobre suas atitudes e sentimentos que possam estar trazendo desconforto; possibilitar que o cliente encontre outras formas de enfrentar suas dificuldades; respeitar o momento, o tempo, do cliente se reorganizar enquanto pessoa (Oliveira,2018). Além das contribuições de Carl Rogers, Viktor Frankl (1905–1997) desenvolveu a Logoterapia, que contempla a abordagem existencial-humanista ao enfatizar a busca pelo sentido da vida como motivação fundamental do ser humano. A partir de sua vivência em um campo de concentração. Subitamente privado de tudo que possuía (sua família, sua esposa, seus escritos), Frankl passou a ser apenas mais um número entre tantos. Em meio ao sofrimento extremo, tanto o próprio quanto o dos que o cercavam, percebeu que aquilo que o mantinha vivo era a lembrança de sua esposa, que ele nem sabia se estava viva ou morta. A partir dessa experiência, formulou a ideia central da Logoterapia: quando tudo é tirado de alguém, o que resta é a liberdade de escolher o sentido que atribui à própria existência. Em seus relatos, destaca que, mesmo diante das situações mais adversas, algumas pessoas encontram forças para continuar, enquanto outras sucumbem, e essa diferença reside no sentido que atribuem à vida (Frankl, 2003). A pessoa não deveria perguntar qual o sentido da sua vida, mas antes deve reconhecer que é ela que está sendo indagada. Em suma, cada pessoa é questionada pela vida; e ela somente pode responder à vida respondendo por sua própria vida; à vida ela somente pode responder sendo responsável. Assim, a logoterapia vê na responsabilidade a essência propriamente dita da existência humana (Frankl, 2003, p. 98 e 99). Para Viktor Frankl, todo indivíduo está em constante busca por um propósito que dê significado à própria existência. É essa vontade de sentido que oferece ao ser humano os motivos necessários para seguir em frente, mesmo diante das adversidades. 9 A Psicologia Existencial-Humanista oferece uma abordagem sensível e profundamente humana, que coloca o indivíduo no centro de sua própria existência. Ao enfatizar a liberdade de escolha e a responsabilidade por essas escolhas, ela convida a uma escuta atenta dos próprios sentimentos, valores e experiências. O processo terapêutico é guiado pelo respeito à singularidade de cada pessoa, favorecendo o autoconhecimento e a construção de uma vida mais autêntica. A partir desse olhar, o sofrimento psíquico deixa de ser apenas algo a ser eliminado e passa a ser compreendido como parte da jornada de dar sentidoà própria vida. Dessa forma, a terapia se torna um espaço de acolhimento e transformação, onde é possível reencontrar direção, significado e um caminho mais alinhado com quem se é de verdade. 4 – CONCLUSÃO Acredito que a obrigatoriedade de realizar o estágio no Serviço Escola de Psicologia (SEP) da Universidade Estácio de Sá foi indispensável e altamente benéfica para a minha formação profissional. Esse componente curricular me proporcionou uma experiência prática fundamental que complementou a teoria adquirida em sala de aula, permitindo-me viver o cotidiano da profissão em um ambiente clínico supervisionado e dedicado ao atendimento à comunidade. Foi nesse contexto que o conhecimento se solidificou, transformando o aprendizado em competência, e eu comecei a construir uma ponte sólida entre a academia e o mercado de trabalho na área da saúde mental. Ao longo dessa experiência, pude absorver inúmeras lições valiosas, destacando-se a importância da escuta ativa, o manejo ético e sensível do vínculo com o consulente, e a complexidade da avaliação durante o processo de triagem. O estágio foi crucial para eu aprimorar habilidades técnicas e comportamentais essenciais para o meu desenvolvimento profissional, como a proatividade na busca por conhecimento, a capacidade de desenvolver um plano terapêutico individualizado, a resiliência frente a desafios emocionais e a comunicação interpessoal eficaz. Pude observar de perto a dinâmica profissional no atendimento psicológico, entender a importância da supervisão e desenvolver um senso crítico sobre as práticas clínicas, que serão fundamentais para a minha futura carreira como psicólogo. Além disso, o estágio foi fundamental para consolidar minha escolha de abordagem na psicologia. Por meio da prática clínica no SEP, tive a oportunidade de vivenciar na prática diferentes formas de atuação e perceber qual delas ressoava mais profundamente com a minha visão de mundo. Esse contato direto com a Gestalt-terapia foi decisivo para que eu decidisse iniciar minha especialização na área no Instituto Granzotto, já neste último semestre da faculdade. 10 No entanto, é importante apresentar minhas críticas e sugestões construtivas visando o aprimoramento das futuras experiências de estágio no SEP. Percebi que poderia haver uma maior clareza e padronização na definição dos protocolos para o acompanhamento contínuo dos casos de triagem, o que poderia assegurar uma transição ainda mais fluida para o atendimento psicoterapêutico. Em conclusão, considero a experiência vivida no Serviço Escola de Psicologia como extremamente enriquecedora e um marco significativo na minha jornada. Minhas conclusões pessoais reforçam a percepção de que o estágio é uma ponte crucial entre a academia e o mercado de trabalho. Ele não apenas me permitiu aplicar o conhecimento teórico em um contexto real, mas também me preparou para os desafios futuros da profissão, ao me expor à realidade do dia a dia da clínica, à complexidade das demandas emocionais e à inegável importância da atuação ética e responsável. Considero esta experiência um preparativo essencial que me permitiu desenvolver uma visão mais realista e abrangente da atuação em psicologia clínica, fortalecer minha autonomia e proatividade na prática terapêutica, e solidificar minha paixão pela profissão, equipando-me para os próximos passos da minha trajetória profissional. 11 5- FICHA DE AVALIAÇÃO DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO FICHA DE AVALIAÇÃO DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO NOME COMPLETO: Frederic Oldenburg Pimentel MATRÍCULA: 202103611192 CAMPUS/POLO: Florianópolis Centro ANO: 2025 SEMESTRE: 10 DISCIPLINA (CÓDIGO E NOME): LOCAL DE ESTÁGIO: FACULDADE ESTACIO DE FLORIANOPOLIS ENDEREÇO DO LOCAL DE ESTÁGIO: Rua Adolfo Melo, 34 – Centro TEL: (21) 3311-9445 TUTOR/DOCENTE DE ESTÁGIO: Laís Felício Classifique na escala abaixo o grau (entre 0 e 10) em que se encontram presentes no estagiário cada uma das habilidades seguintes: Parecer do Supervisor responsável pelo Estágio na Instituição: _______________________________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________ Assinatura do Supervisor do local de Estágio (Empresa) - com carimbo COMPETÊNCIAS: CLASSIFICAÇÃO: ORGANIZAÇÃO Autoconfiança 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Organização 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Decisão 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 COMUNICAÇÃO PESSOAL Expressão Oral 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Expressão escrita 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Diálogo Constante 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Argumentação objetiva 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 INTELECTUAL Capacidade de solucionar problemas 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Capacidade de sugerir ideias 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Cooperação: disposição quando solicitado 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Conhecimento necessário às atividades planejadas 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 AUTONOMIA E RESPONSABILIDADE Iniciativa 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Disciplina 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Disposição para aprender 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Pontualidade 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Assiduidade 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Reconhecimento das suas limitações 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Destreza na parte prática 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 RESISTÊNCIA E PRESSÃO Atenção 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Flexibilidade 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Interesse pelo trabalho 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Persistência 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 12 6 - REFERÊNCIAS PRECIADO, Paul B. Eu sou o monstro que vos fala. RJ: Zahar, 2022 AQUINO, Maria Luisa Burt. Terapia Afirmativa LGBT+, Direitos Humanos e Interseccionalidade: a importância de um olhar integrado. 2019. MILLER, Alice. O drama da criança bem dotada: como os pais podem formar (e deformar) a vida emocianal dos filhos. Grupo Editorial Summus, 1997. SUY, Ana. A gente olha no amor e acerta na solidão . Paidos, 2022. BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de filosofia. Jorge Zahar Editor, 1997. FRANKL, Victor. Em busca de sentido. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003 ROGERS, Carl. Tornar-se pessoa. São Paulo: Martins Fontes, 1997. OLIVEIRA, Beatriz Acampora e Silva de; OLIVEIRA FILHO, João Batista de. PSICOTERAPIA EXISTENCIAL HUMANISTA: A DESCOBERTA DE SI MESMO. Conhecendo Online, [S. l.], v. 3, n. 1, 2018. Disponível em: https://conhecendoonline.emnuvens.com.br/revista/article/view/44. Acesso em: 10 jun. 2025. 13 7- APÊNDICES 7.1 Fichamentos • O Drama da Criança Bem Dotada Indicado pela minha psicóloga, O Drama da Criança Bem Dotada, de Alice Miller, foi uma leitura transformadora e profundamente reveladora. O livro aborda, com sensibilidade e profundidade, as consequências emocionais vividas por crianças que, desde cedo, se adaptam às expectativas dos pais e do ambiente, muitas vezes em detrimento de suas próprias necessidades e sentimentos. Ao longo da leitura, pude me identificar com diversas características descritas por Miller, especialmente no que diz respeito à tendência de agradar e corresponder às demandas externas, mesmo que isso signifique reprimir emoções autênticas. Essa identificação não apenas me trouxe maior autoconhecimento, mas também ampliou minha compreensão sobre o impacto dessas vivências na vida adulta. Além disso, o livro me ajudou a enxergar, sob uma nova perspectiva, as experiências de uma de minhas consulentes. Ao reconhecer no relato delatraços semelhantes aos discutidos pela autora, consegui compreender melhor suas dificuldades emocionais e comportamentais, o que enriqueceu meu trabalho como profissional. A escrita de Alice Miller é clara e empática, tornando temas complexos acessíveis e envolventes. • Eu sou o monstro que vos fala Minha escolha por Eu Sou o Monstro que Vos Fala foi, a princípio, motivada pelo impacto do próprio título. A frase, ao mesmo tempo que me causou certa repulsa, também despertou uma sensação de realização, como se antecipasse uma provocação necessária. Esse sentimento inicial se confirmou ao longo da leitura. O livro se revela uma crítica contundente à psicanálise tradicional, especialmente no que diz respeito à escuta da subjetividade dos sujeitos. A autora questiona os limites desse campo teórico, evidenciando como a psicanálise, por vezes, restringe a compreensão dos indivíduos a partir de uma perspectiva centrada na diferença sexual, no gênero binário e na heterossexualidade. O texto provoca o leitor a pensar sobre a necessidade de ampliar o olhar e a escuta clínica, reconhecendo a multiplicidade das experiências humanas para além dos modelos normativos. Ao longo da leitura, percebi o quanto essas reflexões são urgentes e relevantes, 14 especialmente em um contexto social que ainda insiste em enquadrar corpos e subjetividades em categorias rígidas e excludentes. A escrita é instigante e, por vezes, desconfortável – no melhor sentido –, pois nos obriga a repensar certezas e a questionar práticas estabelecidas. • A gente mira no amor e acerta na solidão Este livro apresenta uma reflexão profunda sobre a complexa relação entre amor e solidão, mostrando que o amor não é, necessariamente, o remédio para a solidão ou para os vazios internos que carregamos. Pelo contrário, a obra revela que a solidão pode estar presente mesmo dentro dos relacionamentos mais próximos. Durante a leitura, um trecho em especial chamou minha atenção e se tornou um ponto de reflexão importante: o outro funciona como um espelho que revela o vazio que existe dentro de nós mesmos. Muitas vezes, não conseguimos identificar a dimensão e a totalidade desse vazio, e por isso projetamos no outro aquilo que sentimos faltar em nosso interior. Essa perspectiva traz uma compreensão mais realista e, ao mesmo tempo, dolorosa sobre as expectativas que depositamos no amor e nos relacionamentos, indicando que o verdadeiro desafio está em reconhecer e lidar com a solidão que habita em cada um. • Terapia Afirmativa Para mim, Terapia Afirmativa é uma leitura quase obrigatória para todo psicólogo, especialmente por sua abordagem clara e acessível sobre temas muito presentes na prática clínica. O livro destaca a importância de uma preparação do psicólogo que vá além da psicodinâmica da homossexualidade, exigindo um conhecimento profundo sobre os desafios enfrentados por gays em uma sociedade heterocentrada. Klecius Borges enfatiza que o terapeuta precisa estar atento aos estilos contratransferenciais, tanto no que diz respeito às suas próprias questões pessoais quanto às relacionadas aos direitos civis da população gay. Mais do que isso, é fundamental que o profissional examine suas próprias contratransferências que possam interferir na relação terapêutica com o consulente. A obra apresenta uma postura ético-política que questiona a visão tradicional e patologizante da sexualidade, propondo um olhar afirmativo e respeitoso para a identidade e a orientação sexual. A linguagem simples e exemplos clínicos tornam o conteúdo acessível, facilitando a reflexão crítica sobre a prática clínica e o combate à homofobia internalizada e social. 15 • Artigo versões de Sentido A leitura do artigo de Georges Boris despertou em mim reflexões profundas sobre a formação clínica e o papel do terapeuta como presença sensível e inteira no encontro com o consulente. As versões de sentido surgem como um recurso que vai além da técnica: são uma forma de sustentar o contato, elaborar o vivido e acolher a experiência no campo entre terapeuta e consulente. Dentro da perspectiva da Gestalt-terapia, percebi o quanto esse exercício se conecta à prática do awareness, à ética do aqui-agora e à escuta do self em relação. A proposta me tocou especialmente por legitimar o não saber, o desconforto e os afetos como parte essencial da prática clínica — e não como falhas. Escrever versões de sentido é, para mim, um gesto de cuidado com a presença. Um modo de tornar visível aquilo que o encontro produziu em mim, favorecendo não só a supervisão, mas meu próprio processo de amadurecimento como terapeuta em formação. • Vídeo Leituras de Fenomenologia da Percepção Assistir a uma vídeo aula sobre Fenomenologia da Percepção, de Merleau-Ponty, me despertou profundamente. A forma como o autor coloca o corpo no centro da experiência me fez repensar o que é perceber e estar no mundo. Entender que a percepção é algo vivo, que acontece na relação entre corpo e mundo — e não uma construção apenas racional — mexeu comigo, especialmente como terapeuta em formação. A abordagem do vídeo me tocou ao mostrar que o sentido das coisas não está nem no sujeito isolado, nem no objeto em si, mas na relação entre ambos. Isso me levou a refletir sobre a escuta clínica como algo que envolve presença, corpo e campo, e não só técnica. A filosofia de Merleau-Ponty me pareceu íntima, como se já houvesse algo disso em mim que ainda não tinha nome. Depois dessa experiência, ficou em mim um desejo sincero de ler o livro. Quero me aproximar mais dessa forma de pensar que valoriza o vivido e a relação como fundamentos do saber. • Filme até a última gota Assistir ao filme Até a Última Gota foi sentir na pele a dor de uma mulher negra levada ao limite por um sistema que já decidiu não acolhê-la. A trajetória de Janiyah não é uma exceção, mas um retrato cru do racismo estrutural que atravessa a vida de tantas mães solo, negras, periféricas, que lutam diariamente por sobrevivência. 16 A dor da personagem não é apenas individual é coletiva, histórica e social. Ela carrega o peso de uma sociedade que naturaliza o abandono, a negligência institucional, o silêncio diante da desigualdade. Cada perda sofrida por Janiyah o emprego, a casa, a filha revela não só a falha do Estado, mas a violência constante de um mundo que desumaniza mulheres como ela. O filme me fez sentir essa dor no corpo. Me doeu ver o quanto ela lutou até não ter mais o que dar. E só então, quando já não havia mais nada, ela foi notada. O grito dela é o grito de quem não foi escutada a tempo. Até a Última Gota é um chamado: para ver, sentir e reconhecer as vidas que o racismo e a desigualdade empurram para os extremos. E para lembrar que, muitas vezes, o que explode no presente é só o que foi ignorado por tempo demais. 7.2 Versões de Sentido • Consulente L.L.M Primeira sessão Assim que a consulente chegou para nossa primeira sessão, minha intenção foi criar um ambiente de segurança e apoio, e senti que isso aconteceu. Eu me concentrei em ouvir com atenção e estar presente. Percebi nela uma abertura para o nosso contato, mesmo com um sentimento geral de tristeza e cansaço. Minhas falas foram pequenas e no ponto certo, buscando que a consulente percebesse melhor como sua autoexigência a afeta. Perguntei "Você é alguém hoje?", e o silêncio que veio depois foi muito forte para mim. Entendi esse silêncio não como ela fugindo, mas como um espaço importante de algo que ainda não tem nome em sua experiência. Respeitar esse momento de quietude foi essencial para eu me manter presente e validar o que estava surgindo. Senti que era importante apenas apoiar as emoções que apareciam, sem tentar dar explicações antes da hora, deixando que a relação se mostrasse de forma verdadeira. O que mais me chamou a atençãofoi como a consulente parece ter uma identidade principal escondida por causa de falas que a rotulam (como "tenho TDAH, depressão e bipolaridade") e uma forma de ser muito exigente consigo mesma. Senti que essa rigidez, o perfeccionismo e o fato de ela se apagar são as bases do sofrimento dela. Parece haver uma história de se adaptar demais às expectativas, o que pode estar ligado à dificuldade em se sentir real e parte de algo. A forma como as relações dela são fragmentadas e a dificuldade em se sentir pertencente são pontos que vou acompanhar com muito cuidado. Apesar de todo o sofrimento que a consulente expressou, o fim da sessão foi tranquilo. Ela agradeceu o espaço, e isso me trouxe uma sensação boa, de que está aberta a continuar. Isso 17 me confirmou que, mesmo sendo um processo desafiador, há um bom caminho para fortalecer quem a consulente é de verdade, além dos diagnósticos e dos papéis que ela assume para se adaptar. A solidão que sinto como terapeuta no momento da sessão se fez presente na minha tarefa de ter paciência para que a essência dela possa surgir, mas a abertura da consulente me deu força para seguir. Segunda sessão Nesta segunda sessão, minha prioridade foi manter um ambiente de acolhimento para os sentimentos que surgiam, especialmente a raiva. Percebi que essa emoção parece pouco reconhecida pela consulente, e muitas vezes ela a confunde com tristeza ou um certo desânimo. Senti que era importante validar a dificuldade que ela tem de perceber e expressar o que a incomoda diante dos outros. Para ajudar nisso, sugeri pequenos momentos para ela notar o corpo, chamando a atenção para gestos que se repetiam enquanto ela falava. Utilizei abordagens fenomenológicas para explorar a ligação entre o silêncio dela depois de um desentendimento e um padrão familiar de evitar brigas, principalmente com pessoas de humor difícil, como o pai. Propus também alguns pequenos exercícios de presença nos momentos de silêncio, convidando-a a observar e dizer o que estava acontecendo dentro dela, sem precisar manter o sorriso. Senti que esses momentos eram cruciais para que ela pudesse se conectar mais com sua experiência interna. A sessão teve momentos de contato verdadeiro, mesmo com a dificuldade da consulente em lidar com o desconforto das emoções. Percebi nela uma vontade de se olhar, mesmo que dividida entre tensões internas. O final da sessão foi tranquilo; a consulente agradeceu por ser ouvida e expressou alívio por poder falar de coisas que, segundo ela, "nunca falou com ninguém". Isso me trouxe uma sensação de que estamos construindo um espaço de confiança profundo. Do ponto de vista clínico, esta sessão reforça a ideia de que a personalidade dela foi moldada por cobranças de desempenho desde cedo, pela negação de sua espontaneidade de criança e pela absorção de formas de evitar emoções. A dificuldade em reconhecer a raiva e a tendência a trocá-la por tristeza, silêncio ou formas de agradar nas relações mostram que ela está desconectada de emoções básicas. Isso pode ser uma forma que ela encontrou de sobreviver emocionalmente em ambientes imprevisíveis. Sinto a responsabilidade de continuar oferecendo um espaço seguro para essa reconexão. Terceira sessão 18 Nesta sessão, busquei manter um campo de contato afetivo com acolhimento e escuta empática. Ofereci suporte para que a consulente pudesse nomear sua carência e vivências de negligência sem sentir julgamento. Validei o prazer verdadeiro que ela sentiu ao sair com os amigos, acolhendo a importância dessas pequenas experiências de presença e conexão para ela. Foi possível trazer à percepção da consulente o contraste entre sua atual busca por contato afetivo e o modelo de relacionamento que aprendeu na infância, marcado por medo e retraimento. Também destaquei, com delicadeza, a força que ela atribui à sua capacidade de ter “se cuidado sozinha”, reconhecendo tanto a potência desse feito quanto o custo emocional que isso teve para ela. A consulente se mostrou mais à vontade e espontânea, com momentos de contato emocional mais completos e disposição para se abrir às suas próprias dores e desejos. A sessão fluiu bem, e no final a consulente demonstrou alívio, agradecendo o espaço de escuta. A saída da sessão foi tranquila, apoiada por um vínculo que percebo estar se fortalecendo a cada encontro. Do ponto de vista clínico, a sessão reforça o impacto de um ambiente familiar marcado por agressividade, desvalorização emocional e afastamento afetivo. A carência relatada pela consulente se encaixa em um cenário onde o afeto foi ausente ou dependente do medo. O movimento de buscar novas conexões e nomear sua necessidade de cuidado indica um avanço em sua capacidade de contato e de se diferenciar. Seguir trabalhando na construção de um espaço interno que possa acolher seus sentimentos e necessidades, sem que a autossuficiência seja usada como uma defesa rígida, será um ponto importante do processo. A relação terapêutica continua se estabelecendo como um espaço de reparação simbólica e de surgimento de uma nova história sobre si mesma. Quarta sessão Durante esta sessão, busquei oferecer um espaço de contenção e acolhimento diante da forte carga emocional que a consulente trouxe. Validei o medo que ela sentiu na situação do ônibus e também o impacto de memórias antigas que foram reativadas por esse episódio. Reforcei a importância de ela reconhecer o estado de alerta constante em que seu corpo tem funcionado, especialmente diante de figuras masculinas autoritárias. Evitei dar interpretações apressadas e continuei escutando com presença, para favorecer que a consulente percebesse o quanto seu corpo carrega respostas condicionadas a ambientes violentos. Chamei a atenção, com cuidado, para o padrão de hipervigilância e adaptação extrema que ela vem desenvolvendo para se manter segura, especialmente no vínculo com o 19 pai. Acolhi sua atitude protetora em relação ao cachorro, como uma expressão verdadeira de cuidado em um ambiente familiar que percebo como muito disfuncional. Apesar da densidade do que foi trazido, a consulente se manteve em contato durante toda a sessão, alternando momentos de emoção com instantes de silêncio que foram respeitados. Em vários momentos de maior emoção – principalmente ao falar do episódio com o pai e do medo que sente –, observei que ela apertava as mãos com força, beliscando os próprios dedos, interrompendo a fala ou desviando o olhar. Quando questionada sobre esse comportamento, ela disse ser "um hábito", negando que tivesse relação direta com os sentimentos que surgiam. No entanto, o padrão de repetição corporal nesses momentos me sugere um possível mecanismo automático para se acalmar ou bloquear as emoções. Mesmo assim, a consulente demonstrou confiança no espaço terapêutico e aceitou o acolhimento com abertura. Ao final da sessão, mostrou-se mais aliviada por poder compartilhar a situação e nomear o medo que carrega. A saída da sessão foi tranquila, embora o tema permaneça em aberto para que possamos desenvolvê-lo mais nos próximos encontros. Do ponto de vista clínico, a sessão deixou clara a profundidade do impacto traumático que a figura paterna exerce sobre a consulente. O episódio do ônibus funcionou como um gatilho que reativou memórias de ameaça e desamparo, causando uma crise de ansiedade significativa. A manifestação corporal que observei – o ato repetitivo de apertar as mãos e beliscar os dedos nos momentos de maior ativação emocional – parece ser um mecanismo sutil de interrupção do contato. Apesar de ser explicado pela consulente como um “hábito”, o comportamento acontece de forma sistemática sempre que há aproximação de emoções mais fortes, o que me sugere uma possível defesa automática diante do risco de se expor ou de se desorganizar emocionalmente. No campogestáltico, essa conduta pode ser acompanhada como a expressão de um conflito entre a excitação e o bloqueio. Isso oferece um caminho seguro para aprofundar a percepção corporal e emocional ao longo do processo. O acompanhamento continuará atento à segurança da consulente, à ampliação da sua autopercepção e à construção de novas formas de contato consigo mesma e com as relações. Quinta sessão Nesta sessão, validei o movimento de autoafirmação que a consulente realizou, destacando a importância de ela reconhecer seus limites e necessidades diante de situações de 20 desrespeito. Com cuidado, também acolhi o medo dela de “perder o controle” e propus que, ao longo do processo, possamos construir juntos formas de expressão mais conscientes, que respeitem tanto sua autenticidade quanto seus limites nas relações. Estimulamos a percepção corporal do momento em que o corpo dela "esquenta", identificando esse sinal como um possível marcador do início da excitação ou do surgimento de uma emoção significativa – neste caso, a raiva. Nomeamos o quanto essa raiva, que antes era silenciada e guardada, agora começa a buscar maneiras legítimas de ser expressa. O episódio com a colega que estava chorando também foi trabalhado com escuta fenomenológica, respeitando a ambivalência da consulente e explorando o impacto emocional de ver a outra pessoa em sofrimento logo após um desentendimento. O campo relacional foi sustentado como um lugar complexo, onde conflito e empatia podem existir ao mesmo tempo. A consulente esteve presente e conectada durante toda a sessão, demonstrando leveza em muitos momentos e orgulho pelas pequenas conquistas. Manteve contato visual mais constante, riu espontaneamente e falou de seus sentimentos com maior fluidez. Os comportamentos de manipular as mãos, que eram frequentes em sessões anteriores, apareceram menos ou com menor intensidade. A sessão foi encerrada com sensação de confiança e alívio, e a consulente se mostrou disposta a continuar ampliando suas formas de expressão com segurança e autenticidade. Do ponto de vista clínico, a sessão marca um ponto importante de mudança no processo terapêutico da consulente, com sinais claros de que ela está se apropriando mais de si mesma e expandindo sua capacidade de contato. O uso da maquiagem e a forma como ela se posiciona no corpo indicam um maior envolvimento com a própria imagem e um desejo de se apresentar ao mundo de maneira mais firme. O episódio de autoafirmação aponta para um movimento saudável de diferenciação do seu campo, embora ainda acompanhado de receios. A manifestação física intensa (o calor no corpo) sinaliza o quanto a expressão da raiva ainda transita entre a contenção rígida e a possibilidade de explosão. Nesse sentido, o acompanhamento continuará focado na construção de um repertório expressivo e na integração emocional, favorecendo a consciência dos limites, a presença corporal e o reconhecimento de si mesma como legítima. Sexta sessão Durante esta sessão, mantive uma postura de acolhimento e presença silenciosa, sustentando o ambiente para que a consulente pudesse estar como estava, sem a pressão de precisar "render" ou produzir. A ausência de fala foi validada como uma forma legítima de 21 presença, e minha escuta se manteve aberta para pequenos movimentos internos que pudessem emergir ao longo do tempo. Ao verbalizar o cansaço e o desejo de conexão afetiva, fiz intervenções pontuais para explorar, com suavidade, o quanto essas faltas impactam sua vitalidade e autoimagem. Nomeei o cansaço como um possível efeito de longos períodos de esforço adaptativo e controle emocional, características do modo como a consulente tem se relacionado consigo e com os outros. A sessão teve um ritmo lento, marcado por pausas e silêncios carregados de emoções implícitas. A consulente se manteve no setting com alguma oscilação na presença, mas demonstrou gratidão pelo espaço e confiança na relação terapêutica. O comportamento de manipular as mãos e os dedos esteve presente de forma pontual durante os momentos em que tentava se aproximar de sentimentos mais sensíveis, mas com menor intensidade que em sessões anteriores. A retirada da sessão foi silenciosa e contida, com um breve sorriso ao final, que expressou mais acolhimento do que leveza. Do ponto de vista clínico, a sessão evidenciou um momento de retraimento e baixa energia emocional, o que é compatível com oscilação de humor e uma leve desorganização da presença. O silêncio, neste contexto, apareceu como uma forma possível de expressão — e deve ser acolhido como um recurso legítimo de contato, e não como uma ausência. A verbalização do desejo por um vínculo afetivo amoroso e a dor pela falta apontam para a carência de trocas emocionais verdadeiras em sua vida diária. O campo relacional continua sendo um aspecto central da vivência da consulente, e o acompanhamento seguirá favorecendo o fortalecimento de seu self afetivo, a ampliação da percepção (awareness) e a criação de formas mais seguras e fluidas de se relacionar com suas necessidades. Setima sessão Acolhi com presença e cuidado os relatos de dor afetiva e insegurança em relação à autoimagem. Validei a dificuldade da consulente em se reconhecer como alguém desejável e nomeei, com delicadeza, o quanto esse sentimento parece atravessar outras áreas de sua vida, como o modo de se relacionar com os próprios desejos e a expectativa de ser escolhida. Exploramos o significado da tatuagem como uma porta de entrada para o tema da repressão emocional, entendendo essa imagem como uma metáfora que faz sentido com sua história — alguém que guarda, internaliza e processa os sentimentos sem muitas oportunidades de expressá-los completamente. 22 Como parte do manejo clínico e para ampliar o campo de reflexão, sugeri à consulente a leitura do livro "A gente mira no amor e acerta na solidão", de Ana Suy. Apontei que o texto poderia ajudá-la a nomear com mais clareza o que sente, e talvez oferecer uma nova perspectiva sobre a relação entre amor e solidão. A sugestão foi bem recebida. A consulente manteve contato com boa fluidez ao longo da sessão, embora tenha apresentado momentos de recuo e menor contato visual ao abordar sua aparência física. O comportamento de manipular as mãos voltou a surgir em momentos de maior emoção, especialmente ao falar sobre o desejo de estar em um relacionamento. Ainda assim, sustentou a presença na relação terapêutica com disponibilidade e abertura. A retirada da sessão foi tranquila e marcada por uma sensação de escuta acolhedora. A consulente demonstrou curiosidade e interesse pela leitura indicada, dizendo que se sentia compreendida. Do ponto de vista clínico, a sessão mostra o impacto da autoimagem negativa na construção de vínculos afetivos e na manutenção da solidão vivida pela consulente. A frase “mastigar sentimentos”, tatuada em seu corpo, simboliza não apenas uma forma de lidar com o afeto, mas também um modo de existir emocionalmente: internalização sem uma verdadeira elaboração. O desejo por um relacionamento surge como uma tentativa de aliviar um vazio interno que ainda não encontrou apoio simbólico. O trabalho continuará apoiando a ampliação da consciência sobre sua experiência emocional e suas construções de valor pessoal, reconhecendo os sentimentos que foram silenciados e resgatando a legitimidade de seus desejos e da própria existência. Oitava sessão A sessão iniciou com a consulente compartilhando insights da leitura do livro “A gente mira no amor e acerta na solidão”, destacando uma analogia que resgatou sentimentos antigos de disputa, insegurança e exclusão afetiva. Lanna verbalizou seu medo persistente de “não ser escolhida”, um tema recorrente ligado à autoimagem e validação externa, identificando-se com a ideia de que o outro reflete nosso vaziointerno. Acolhi essa leitura como um marco na ampliação da awareness, explorando o impacto da não-escolha em sua autoimagem. Fiz uma psicoeducação sobre Transtorno Bipolar, buscando devolver-lhe controle e autonomia sobre seu processo de saúde mental. Construímos, juntos, perguntas para sua consulta psiquiátrica, fortalecendo sua posição ativa no autocuidado. 23 A consulente demonstrou boa presença e engajamento, com visível empolgação pela leitura e maior liberdade ao relacionar experiências internas e externas. Os comportamentos de manipulação das mãos diminuíram em intensidade. A retirada foi marcada por uma sensação de progresso e fortalecimento; ela verbalizou sentir-se “mais clara sobre algumas coisas” e saiu agradecida, com seus novos entendimentos e a lista de perguntas em mãos. Clinicamente, a sessão revela uma integração significativa entre vivências emocionais, repertório simbólico e recursos práticos. A leitura do livro mediou o acesso a afetos complexos e trouxe compreensão simbólica de antigas dores. O medo de não ser escolhida persiste, mas agora em um campo de reflexão mais consciente. As intervenções de psicoeducação e a preparação para o psiquiatra reforçam a autonomia e o protagonismo da consulente. O processo segue como apoio para a construção de uma identidade afetiva mais integrada e expressiva, em um campo terapêutico seguro e respeitoso. • Consulente M.A.D.L Primeira sessão A sessão teve como foco o acolhimento do retorno da consulente e a retomada da escuta de seu campo experiencial. Reforcei os aspectos de estabilidade percebidos por ela, sem minimizar a tensão envolvida na situação com a mãe. Senti que era importante estimular a percepção de como ela se sente diante da necessidade de intervir em questões práticas da vida da mãe, retomando sutis aspectos do papel cuidador que já haviam sido trabalhados anteriormente. Também explorei sua empolgação com o retorno dos atendimentos, validando o espaço terapêutico como lugar de suporte e investigação de si, mesmo em momentos de estabilidade aparente. A consulente manteve contato presente e fluido durante a sessão, com expressão verbal espontânea e corporal aberta. Demonstrou satisfação por poder falar de suas vivências e atualizações, e encerrou a sessão com leveza, afirmando estar feliz com o retorno do processo terapêutico. Clinicamente, percebo que, neste momento, a consulente encontra-se em um estado de autorregulação relativamente estável, sem manifestações agudas de sofrimento. A situação envolvendo a mãe e o golpe financeiro deve ser acompanhada, especialmente no que diz respeito à repetição de padrões familiares de responsabilidade e cuidado. A retomada do processo oferece um bom momento para trabalhar a continuidade de sua diferenciação emocional frente aos vínculos familiares, mantendo a clareza de fronteiras e a sustentação de seu próprio lugar. 24 Segunda sessão Validei os sentimentos de ambivalência e cansaço da consulente frente à repetição do papel de cuidadora. Retomei com ela o tema da parentalização discutido anteriormente, aprofundando a percepção de como esse padrão se manifesta de forma sutil, mesmo em períodos mais “tranquilos”. Busquei trabalhar a percepção (awareness) no aqui-agora, conectando suas expressões de incômodo com os efeitos físicos e emocionais do envolvimento excessivo com a mãe. Utilizei perguntas fenomenológicas para ampliar sua consciência sobre os limites entre sua responsabilidade e o que pode ser delegado ou compartilhado com o irmão. Também abrimos espaço para que ela se reconhecesse nos pequenos avanços, como a maior capacidade de nomear seu incômodo e desejar posicionar-se com mais autonomia. A sessão de hoje confirma a recorrência da temática familiar como campo de implicação afetiva e relacional significativa no processo da consulente. Embora tenha se mostrado mais estável no início do retorno pós-recesso, noto a permanência de um padrão de envolvimento excessivo com as demandas da mãe, ainda que agora com maior lucidez quanto ao seu impacto. A retomada do processo representa uma oportunidade para seguir apoiando a diferenciação emocional da consulente, o fortalecimento de fronteiras saudáveis e a construção de uma nova forma de se relacionar com sua história sem precisar repetir os mesmos lugares. O vínculo terapêutico se mantém fortalecido e fértil para aprofundar essa travessia. Terceira sessão Minha escuta teve como foco a acolhida da vivência ambivalente da consulente: de um lado, a realização profissional e pessoal com o curso de Yoga; de outro, a preocupação persistente com o bem-estar da mãe. Validei sua capacidade de organização e o esforço em auxiliar a mãe à distância, ao mesmo tempo em que trabalhei sua consciência sobre os limites dessa atuação. Retomamos, de forma sutil, o tema da sobrecarga emocional relacionada ao papel de cuidadora, agora expandido também à percepção da sobrecarga da sobrinha. Fiz perguntas fenomenológicas para explorar como ela se sente ao testemunhar essa repetição geracional de responsabilidades atribuídas às mulheres da família. Também foi possível reconhecer a importância do curso como espaço de realização própria, reforçando sua capacidade de manter projetos pessoais mesmo em meio às demandas familiares. Essa distinção foi trabalhada como um movimento positivo de diferenciação. 25 A consulente demonstrou boa presença e contato durante a sessão, alternando momentos de leveza ao relatar sua experiência no curso com outros de maior tensão ao falar da mãe. Conseguiu sustentar as emoções sem sinais de desorganização. Encerrou a sessão de forma tranquila, com expressões de alívio ao nomear suas preocupações e ser reconhecida por sua dedicação sem desconsiderar seus próprios limites. Clinicamente, a sessão evidenciou novamente a coexistência de crescimento pessoal com a persistência de padrões familiares que solicitam da consulente um papel ativo e constante. A preocupação com a mãe se mantém como um núcleo afetivo relevante, agora acrescida de inquietações quanto à fragilidade da rede de apoio local. O momento atual representa uma oportunidade para fortalecer a diferenciação emocional da consulente, reconhecendo sua competência em cuidar sem anular-se. O trabalho terapêutico seguirá apoiando esse equilíbrio entre envolvimento afetivo e preservação de si, a partir do reconhecimento de seus limites e da revalorização de seus próprios projetos. Quarta sessão Durante a escuta, acolhi a intensidade afetiva trazida pela consulente, validando tanto a irritabilidade atual quanto os sentimentos de frustração e raiva associados à figura do ex- parceiro. Senti que era importante estimular sua percepção sobre como determinadas experiências do passado ainda reverberam no presente e como elas podem emergir com força renovada em momentos de maior vulnerabilidade. Trabalhei o reconhecimento da tentativa da consulente de diferenciar-se da dinâmica com a mãe, destacando a importância de sustentar esse movimento sem necessidade de endurecimento ou negação do vínculo. Nomeamos o desejo de "lavar as mãos" como um possível ensaio de ruptura com padrões de fusão afetiva e autocobrança. A evocação do “lado sombrio” foi acolhida como parte legítima de sua vivência emocional, permitindo à consulente explorar, sem julgamento, os afetos intensos e ambivalentes envolvidos na frustração de um sonho pessoal. A consulente manteve contato contínuo, mesmo diante de temas emocionalmente desafiadores. Demonstrou disponibilidade para acessar conteúdos dolorosos, com verbalização fluente e abertura à escuta. Encerramos a sessão em um clima de acolhimento e presença, com a consulente expressando alívio ao poder dar voz a sentimentos que, segundo ela, raramente eram nomeados. Clinicamente, a sessão evidenciou a sobreposição entre temas dopresente e do passado na experiência emocional da consulente. A tentativa de estabelecer limites frente à mãe indica um avanço em seu processo de diferenciação, embora ainda acompanhado de culpa e conflito 26 interno. A memória do ex-relacionamento e do luto pela não maternidade configuram-se como núcleos que seguem em aberto, e que merecem espaço de elaboração no processo terapêutico, especialmente por envolverem aspectos de identidade, projetos de vida e autorreferência feminina. O reconhecimento do “lado sombrio” surge como uma possibilidade de integração de partes negadas ou reprimidas do self. O setting terapêutico permanece como espaço seguro para sustentar a complexidade dessas vivências e para apoiar a consulente na construção de uma narrativa mais inteira e integrada sobre si mesma. Quinta sessão Minhas intervenções buscaram sustentar a experiência de incômodo da consulente como legítima e sinalizadora de seus valores e limites. Validei seu desconforto diante da recorrência com que sua cunhada ultrapassa limites explícitos em relação ao ex-parceiro, nomeando esse movimento como um possível desrespeito afetivo que precisava ser reconhecido. Foi possível trabalhar a percepção (awareness) sobre o impacto dessa convivência forçada com fragmentos do passado que a consulente tenta deixar para trás, bem como os efeitos disso sobre sua autorregulação emocional. Explorei também suas reações diante da divergência nas práticas parentais da cunhada, destacando a importância de reconhecer o lugar que ocupa como tia, com direito a ter opiniões, sem necessariamente precisar interferir ou carregar a frustração como responsabilidade pessoal. A sessão caminhou no sentido de reforçar seus recursos internos para sustentar seus limites de forma assertiva e acolher os sentimentos gerados por essas tensões familiares. A consulente manteve contato estável ao longo da sessão, com expressão verbal clara e emocionalmente conectada. Demonstrou presença ao compartilhar sentimentos difíceis, como irritação, frustração e decepção, sem retraimento. Ao final, demonstrou certo alívio ao perceber que seu desconforto possui sentido e que pode ser nomeado sem culpa, encerrando a sessão de forma centrada. Clinicamente, esta sessão reforçou o quanto a consulente ainda lida com resquícios de um vínculo emocional não elaborado com o ex-parceiro, potencializado pelo campo familiar que insiste em mantê-lo ativo por meio de comentários e convívios indiretos. A dificuldade de impor limites claros com a cunhada, bem como a divergência nas formas de educação das crianças, reativa a sensação de impotência e desrespeito aos seus valores pessoais. O trabalho terapêutico segue como espaço de sustentação e resgate de sua autonomia emocional, favorecendo o fortalecimento de fronteiras subjetivas, especialmente em contextos familiares que desafiam sua integridade emocional. A possibilidade de nomear esses incômodos, sem 27 precisar negá-los ou internalizá-los como culpa, representa um avanço significativo em seu processo de diferenciação e autocuidado. Sexta sessão Minhas intervenções buscaram validar o progresso relatado pela consulente, especialmente no que diz respeito à redução da ansiedade em relação à mãe. Nomeei o uso do “visto por último” como uma tentativa criativa de se tranquilizar sem recorrer ao contato direto ou à hiper-responsabilização. Senti que foi possível reconhecer, junto à consulente, a importância da leveza com que ela tem conseguido lidar com certas manias de controle, sinalizando um avanço no processo de diferenciação e no fortalecimento da sua autorregulação. Explorei também o valor emocional da convivência com os sobrinhos e com o irmão, destacando que, mesmo diante das divergências, a consulente tem buscado priorizar o afeto e a presença, sem exigir perfeição no campo familiar. Nomeamos isso como um movimento de maturidade emocional e abertura à imperfeição do outro. A consulente manteve um contato fluido e envolvido ao longo da sessão, alternando reflexões mais profundas com momentos de espontaneidade e humor, o que contribuiu para uma atmosfera de leveza e autenticidade. Encerramos a sessão com ela verbalizando sensação de bem-estar e orgulho por perceber mudanças reais em seu modo de se relacionar com as pessoas e consigo mesma. Clinicamente, a sessão evidenciou um importante movimento de flexibilização das estratégias de controle utilizadas pela consulente, especialmente no vínculo com a mãe. O uso humorado de uma prática antes carregada de tensão aponta para a possibilidade de novos modos de estar em relação, menos ansiosos e mais conscientes. O desejo de estar mais presente na vida dos sobrinhos, mesmo reconhecendo as dificuldades, demonstra uma ampliação de sua tolerância ao desconforto e à diferença, sem abrir mão dos vínculos afetivos significativos. O fortalecimento da relação com o irmão aparece como um recurso de apoio emocional importante. O processo terapêutico segue sendo um espaço fecundo para apoiar a continuidade desses movimentos, com foco na integração entre autonomia e afeto. Sétima sessão As intervenções tiveram como foco a validação da raiva como uma emoção legítima e sinalizadora de limites violados. Convidei a consulente a permanecer em contato com o excitamento corporal, utilizando perguntas fenomenológicas para favorecer o aprofundamento da percepção (awareness) em relação à experiência vivida no aqui-agora. Trabalhamos a 28 diferenciação entre o sentimento de impotência frente às exigências externas e sua capacidade de escolha sobre como deseja se posicionar diante dessa situação. Reforcei a importância de nomear os afetos e de reconhecer os sinais do corpo como parte do processo de autorregulação organísmica. Também foi possível pontuar a potência social de seu projeto e a coerência entre sua atuação e seus valores, em contraposição à percepção de descompasso ético por parte da associação. O acolhimento da raiva abriu espaço para uma conversa mais profunda sobre a relação entre frustração, engajamento e integridade pessoal. A consulente demonstrou presença consistente durante toda a sessão, ainda que mobilizada emocionalmente. Conseguiu sustentar o contato com a raiva sem se desorganizar, mostrando-se receptiva às intervenções e ao convite para dar espaço ao corpo e ao sentimento. Ao final, verbalizou que sentia “o corpo mais calmo” e afirmou estar aliviada por poder falar abertamente sobre o que vinha “engolindo”. Clinicamente, a sessão revelou um campo emocional carregado de frustração diante de um contexto institucional que, aos olhos da consulente, se distancia dos princípios éticos que diz sustentar. A raiva aparece como resposta congruente à sensação de exploração e incoerência percebida. A capacidade da consulente de nomear e sustentar esse excitamento com clareza e presença evidencia um avanço no processo de diferenciação e na escuta de suas próprias necessidades. A experiência de se sentir sem controle aponta para a importância de trabalhar o reconhecimento de sua agência frente aos limites possíveis, sem negar sua vulnerabilidade. O setting terapêutico segue como espaço de legitimação das emoções consideradas “difíceis” e de apoio à construção de formas mais autênticas e potentes de expressão e posicionamento. Oitava sessão Minhas intervenções buscaram apoiar e nomear os movimentos de regulação emocional e de autonomia afetiva que a consulente tem desenvolvido. Validei suas escolhas frente às interações familiares desafiadoras, reconhecendo sua capacidade de se proteger sem precisar romper ou entrar em confronto. Pontuei a importância da bicicleta como recurso simbólico e corporal de cuidado de si, permitindo que emoções como raiva e frustração encontrem um canal legítimo de expressão. Apontei também o uso criativo e consciente de estratégiasde saída como forma de sustentar sua integridade emocional nas relações. Foi possível reforçar o reconhecimento do vínculo atual com o marido como um espaço de afeto saudável, diferenciado de vivências anteriores mais disfuncionais. A comparação espontânea com o ex foi acolhida como parte do processo de ressignificação de suas experiências afetivas e como evidência de sua capacidade de construir novos modos de se relacionar. 29 A consulente manteve contato presente e engajado durante toda a sessão, utilizando humor, metáforas e autorreflexão de forma espontânea e coerente com suas narrativas. Demonstrou boa capacidade de se observar e nomear emoções sem retração. Encerramos a sessão com expressões de satisfação por parte da consulente, que verbalizou estar “se sentindo mais leve” e confiante em seus recursos. Clinicamente, a sessão indicou avanços significativos no processo de diferenciação emocional da consulente, especialmente frente às figuras familiares desafiadoras. Sua capacidade de se proteger sem recair em conflitos ou retrações evidencia um fortalecimento do self e maior domínio sobre suas estratégias de regulação. O uso do corpo como aliado (na pedalada e no brincar com o sobrinho) reforça a integração de dimensões emocionais e sensoriais no manejo das tensões cotidianas. O reconhecimento do vínculo conjugal como fonte de suporte contrasta positivamente com relações anteriores, funcionando como um marco em sua trajetória afetiva. O processo terapêutico segue como espaço de ampliação de consciência, sustentação da autonomia e fortalecimento de escolhas mais alinhadas à sua verdade emocional. Nona sessão As intervenções buscaram explorar e legitimar a experiência da consulente com a ansiedade antecipatória, nomeando o padrão catastrófico como uma tentativa de se preparar para o pior, ainda que à custa de sofrimento psíquico. Acolhi suas narrativas sobre a avó e a tia como partes significativas de sua herança familiar emocional, e propus refletir sobre como essas imagens podem estar relacionadas à sua atual necessidade de controle. Explorei a função desse controle como tentativa de evitar o destino que teme, e como essa mesma estratégia pode levá- la a repetir, paradoxalmente, os mesmos padrões de sacrifício e sobrecarga. A resposta firme de que “não será como elas” foi acolhida como expressão de sua diferenciação, mas também como defesa, abrindo espaço para um olhar mais compassivo sobre os medos que sustentam esse desejo de se distanciar dessas figuras. Trabalhei ainda o contraste entre suas escolhas de vida — ativas, conectadas e criativas — e as histórias familiares que emergem como fantasmas relacionais, propondo que ela reconheça os caminhos já trilhados que a diferenciam dessas referências do passado. A consulente manteve bom contato ao longo da sessão, ainda que mobilizada por emoções intensas ao abordar seus medos e suas referências familiares. Demonstrou abertura para explorar suas experiências com profundidade, alternando momentos de introspecção com afirmações firmes de sua identidade e estilo de vida. Encerramos a sessão com a consulente mais centrada, demonstrando certo alívio por poder falar abertamente sobre essas angústias. 30 Clinicamente, esta sessão aprofundou temas estruturantes da história da consulente, especialmente no que diz respeito ao legado transgeracional relacionado ao cuidado, à solidão e à renúncia de si. A repetição de padrões familiares aparece como um medo inconsciente, associado à necessidade de controle e à antecipação de cenários negativos. O reconhecimento dessas imagens internas permite avançar no processo de diferenciação emocional e fortalecer sua confiança nos caminhos já trilhados que a afastam desses destinos. O trabalho terapêutico segue apoiando a elaboração desses fantasmas familiares, favorecendo a construção de uma narrativa própria que integre o cuidado com o outro sem perda de si. Decima sessão As intervenções nesta sessão foram direcionadas à acolhida do estado de estresse e sobrecarga da consulente, nomeando o momento como um ponto de tensão entre expectativas externas, autopercepção e valores internos. Validei a frustração relacionada às demandas materiais e logísticas das obras, e explorei com a consulente como essas responsabilidades vêm ocupando um espaço desproporcional em sua vida, prejudicando sua autorreferência profissional. Trabalhei a ambivalência diante da estabilidade materna, nomeando o medo de colapso repentino como uma manifestação do padrão ansioso previamente identificado. Com relação à fala sobre o público de alta renda, busquei sustentar sua percepção de coerência ética, reconhecendo o valor de manter um alinhamento entre prática profissional e identidade pessoal, sem desconsiderar os limites concretos que enfrenta. A escuta do conteúdo racial foi feita com cuidado, acolhendo o movimento emergente de identificação étnico-racial como legítimo, complexo e digno de espaço contínuo no processo terapêutico. Nomeei o impacto que esse reconhecimento pode ter na reelaboração de sua narrativa pessoal e propus que retomássemos esse tema com mais profundidade na próxima sessão. A consulente manteve presença ao longo da sessão, apesar da agitação emocional trazida pelo estresse. Demonstrou abertura à escuta e boa capacidade reflexiva, ainda que com sinais de cansaço e frustração. Ao final, mostrou-se receptiva à continuidade da discussão sobre sua identidade racial e expressou interesse em aprofundar o tema, encerrando a sessão com leveza diante da perspectiva de retorno a esse conteúdo. Clinicamente, esta sessão marcou um momento de alta mobilização emocional para a consulente, que se vê dividida entre múltiplas demandas externas, limitações concretas e a manutenção de uma vida coerente com seus valores. A sobrecarga associada às obras em andamento aponta para a necessidade de reequilibrar sua disponibilidade e redefinir prioridades. 31 O tema racial, introduzido de forma espontânea, revela um campo de trabalho potente e sensível que poderá trazer significativas ressignificações de experiências anteriores e de aspectos identitários. O processo terapêutico seguirá sendo espaço seguro para a escuta e elaboração desses atravessamentos, fortalecendo o self e ampliando a awareness da consulente sobre seus próprios limites, escolhas e singularidades. • Consulente M.F Primeira sessão Nesta primeira escuta, priorizei acolher a consulente em sua narrativa com presença e escuta ativa, respeitando seu ritmo e a necessidade de nomear os fatos em sua própria linguagem. Validei seus sentimentos e a coragem de compartilhar temas delicados. Foram feitas devoluções que buscaram reforçar sua percepção de mudança e fortalecimento, como o reconhecimento da nova postura frente à mãe e ao passado. Explorei também sua experiência corporal e emocional ao relatar os eventos traumáticos, respeitando seus limites e evitando revitimizações. Houve ênfase na importância do aqui-agora como recurso de contato e apoio. A sessão foi conduzida com base no princípio da horizontalidade da relação, favorecendo um clima de segurança e confiança. A consulente manteve contato visual frequente, demonstrando abertura ao processo terapêutico. Embora abordasse conteúdos sensíveis, conseguiu sustentar o contato sem apresentar sinais de desorganização emocional intensa. A sessão se encerrou com expressões de alívio e leveza, e a consulente afirmou se sentir “bem melhor e mais confiante”, destacando avanços em sua forma de se perceber nas relações. Clinicamente, trata-se de uma jovem com histórico de violência familiar e abuso sexual infantil, ainda não elaborado, que carrega implicações no seu processo de construção de identidade, nos vínculos afetivos e no autocuidado. Há indícios de que a consulente esteja iniciando um movimento de diferenciação