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SÉRIE CADERNOS DE GESTÃO Heloísa Lück Heloísa Lück Gestão educacional: uma AUTORIZADA CRIME questão paradigmática Vol. I ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DIREITOS REPROGRÁFICOS Concepções e processos DIREITO AUTORAL democráticos de gestão educacional - Vol. II Gestão da cultura e do clima A gestão participativa na escola - Vol. III Liderança em gestão escolar - Vol. IV organizacional da escola Gestão da cultura e do clima organizacional da escola Vol. V Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Lück, Heloísa Gestão da cultura e do clima organizacional da escola / Heloísa Lück. Petrópolis, RJ : Vozes, 2010. - (Série Cadernos de Gestão) ISBN 978-85-326-4025-3 1. Ambiente escolar 2. Cultura organizacional 3. Escolas - Administração e organização 4. Escolas - Aspectos sociais 5. Gestão educacional 6. Pedagogia 7. Sociologia, educacional I. Título. II. Série. 10-05129 CDD-371.2 EDITORA Índices para catálogo sistemático: VOZES 1. Gestão da cultura e do clima organizacional da escola : Administração : Educação 371.2 Petrópolis© 2010, Editora Vozes Ltda. Rua Frei Luís, 100 25689-900 Petrópolis, RJ Internet: http://www.vozes.com.br "Talvez não tenhamos conseguido fazer melhor, Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma mas lutamos para que melhor fosse feito. e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo Não somos que deveríamos ser, fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou Não somos que iremos ser, banco de dados sem permissão escrita da Editora. Mas, graças a Deus, Não somos que éramos." Diretor editorial Martin Luther King Frei Antônio Moser Editores Aline dos Santos Carneiro "Nosso mérito reside em trabalharmos José Maria da Silva Lídio Peretti não apenas como somos, mas orientados por Marilac Loraine Oleniki uma determinação do melhor que podemos ser e fazer." Secretário executivo Heloísa Lück João Batista Kreuch Editoração: Elaine Mayworm Projeto gráfico: AG.SR Desenv. Gráfico Capa: WM design ISBN 978-85-326-4025-3 Editado conforme novo acordo ortográfico. Este livro foi composto e impresso pela Editora Vozes Ltda.Gestão da cultura e do clima organizacional da escola A compreensão da escola como espaço cultural impli- ca, de um lado, sua contextualização externa social e políti- ca e, de outro, suas práticas internas, cotidianas, seus me- canismos de tomada de decisões e suas relações de poder que expressam dimensões pessoais, simbólicas e políticas da vida escolar (PEREIRA, 2007). Explicitação do significado de clima e de cultura organizacional da escola Clima e cultura organizacional são dois concei- tos comumente referidos de forma associada, inter- ligando-os num mesmo conjunto de significados ou, até mesmo, sobrepondo-os. De fato, eles fazem par- te do mesmo conjunto de fatores e estão intimamente conectados: expressam-se dinamicamente por ges- tos, atitudes, discursos, comportamentos individuais e coletivos de pessoas, arranjos de objetos e ambien- te, uso de espaço e tempo, ações e reações manifes- tados, tanto de forma subliminar como explícita, no enfrentamento de desafios pela organização. Clima e cultura são dois conceitos tão intima- 50 mente intrincados que suas fronteiras são definidas 51 apenas arbitrariamente, conforme a lógica adotada Série Cadernos de Gestão pelo estudioso, em vista do que são discricionaria- mente delimitadas. Em face dessa circunstância, Lindhal (2008) afirma que essa distinção é totalmen- te desnecessária, já que por vezes resulta em redun- dância. É possível, no entanto, sugerir que exercí- Série Cadernos de Gestão cio de exploração de caracterizações particulares deGestão da cultura e do clima organizacional da escola HELOÍSA LÜCK cada um dos conceitos tem oferecido a possibilidade ra organizacional da escola corresponde às práticas de diferenciar aspectos que demandam atenção sin- reais coletivas da escola e cultura educacional se re- gularizada no trato da gestão escolar, do fazer peda- fere às concepções educacionais assumidas e pro- gógico e sua liderança. Afirmamos que clima e cul- fessadas em um sistema de ensino e escolas, mesmo tura não se constituem em termos sinônimos, embo- que não necessariamente praticadas, pois muitas ve- ra referentes ao mesmo conjunto de configuração, zes são mais professadas do que assumidas, confor- pois apresentam diferentes conotações, assim como me será analisado mais adiante. se observa na representação feita pelos termos for- É importante reconhecer que os conceitos de ma e fundo, objeto e sombra, que compõem mes- clima e de cultura organizacional estão intimamente mo fenômeno em que um não existe sem outro. interligados, de tal modo que não apenas se reco- É importante destacar que clima e a cultura, em- nhece que um faz parte do outro como também se bora vinculados à mesma base factual e conceitual, sobrepõem e se confundem em muitos aspectos, têm, de certa forma, conteúdos e expressões distintos, conforme se observa na realidade. Bisognin, Nico- daí por que ser útil diferenciá-los. Verificam-se na lite- lau e Gracioli (2010: 3) apontam que ambos os con- ratura mais referências à cultura organizacional, por ceitos "tangenciam-se reciprocamente em diversos seu caráter mais duradouro, denso, potente e siste- aspectos", mas exercem influências diferenciadas mático na determinação de comportamentos, porém no fazer pedagógico, pois "enquanto a cultura orga- é clima organizacional que é mais comumente estu- nizacional influencia na formulação de missão, es- dado, tendo em vista a maior facilidade de observa- tratégia de crescimento e no estabelecimento de di- ção desse fenômeno e realização de seu estudo, como retrizes de qualidade dos serviços prestados, O clima também de influência sobre essa expressão. organizacional possibilita descrever O comportamen- 52 Destaca-se também a distinção apresentada na to organizacional enquanto [sic] identificação dos 53 literatura entre cultura organizacional da escola, re- aspectos que mais influenciam na percepção dos pro- lativa ao que a escola realmente faz, como ela é e os blemas Depreende-se dessa distin- Série Cadernos de Gestão valores que de fato assume, e a cultura educacional, ção caráter mais denso dos valores, associado à cul- que Torres (2005) denomina de cultura escolar, re- tura, e 0 caráter mais volátil do clima. ferente à cultura que a escola deve assumir a fim de Em geral, os conceitos de clima e cultura organi- que adequadamente promova trabalho de forma- zacional são referidos e estudados muito comumen- Série Cadernos de Gestão ção e aprendizagem de seus alunos. Portanto, cultu- te de forma associada, tendo em vista a íntima rela-Gestão da cultura e do clima organizacional da escola HELOÍSA LÜCK ção entre ambos, devido ao fato de que, necessaria- mente por meio de uma avaliação contínua, evoluti- mente, ao se analisar a fundo um conceito, chega-se va e que acompanha a escola de modo sistemático e ao outro (tal como não existe sombra sem seu obje- comparativo para verificar a permanência dos fato- to). Mesmo assim, ambos os conceitos apresentam, res que a expressam, assim como sua evolução. Esse até certo ponto, identidades específicas, cabendo com- fato é destacado na Enciclopédia do Gestor (2007: 2) preendê-las em sua especificidade e clareza, tanto ao apontar que "a cultura implica algum grau de es- para se ter maior clareza sobre que se quer conhe- tabilidade estrutural no grupo [...] é algo profundo e cer e compreender, como para se atribuir maior efe- estável [...]" derivado de uma aprendizagem acumu- tividade nas intervenções de gestão e liderança do lada ao longo do tempo por um determinado grupo, processo educacional. como fruto de uma experiência coletiva e dos signi- ficados construídos em torno dela. É válido, portanto, identificar diferenças entre esses conceitos. Logo, como representantes de ma- As pessoas, por sua memória, por seu arsenal de nifestações inter-relacionadas, mas diferentes, suas percepções introjetadas e acumuladas ao longo do especificidades se tornarão mais claras, mais explíci- tempo e, sobretudo, por sua capacidade de distanci- tas e evidentes, na medida em que forem observa- ar-se do tecido cultural em que estão imersas e que das, examinadas e estudadas, que deve ser feito, ajudam a construir, podem, em um dado momento, no entanto, sem perder de vista sua inter-relação e retratar essa cultura de modo a compreendê-la contextualização. Embora os estudos dessa diferen- mo condição fundamental para exercer influência ciação expressos na literatura sejam em grande par- sobre ela, em vez de ser acrítica e inconscientemen- te referenciais, é possível sugerir que, na persistên- te por ela conduzidas. Portanto, tal cultura pode ser cia desse exercício e seu contínuo aprofundamento, captada e expressa por seus participantes a partir da 54 no futuro poder-se-á entender melhor sua distinção, representação que fazem do modo de ser e de fazer 55 com benefícios para aprimoramento da gestão es- da escola e de suas práticas mais comuns, estabele- colar e do trabalho educacional exercido na escola. cidas pela lembrança de experiências passadas, me- Série Cadernos de Gestão A cultura organizacional tem um caráter mais diante processos cuidadosos de observação, análi- se e interpretação. Mas, sobretudo, pela observação duradouro que clima, de característica mais volá- til, sendo construída pela sequência e abrangência continuada de aspectos assumidos mais perenes do fazer educacional. Série Cadernos de Gestão de vivências continuadas e disseminadas, em vista do que é possível conhecê-la melhor e mais efetiva-Gestão da cultura e do clima organizacional da escola HELOÍSA LÜCK De qualquer forma, é válido reiterar que os con- de modo que 0 problema tende a aparecer nova- ceitos de clima e de cultura organizacional não são mente. Consequentemente, para superar essas su- claramente delimitados, sendo sujeitos a múltiplas perficialidades, é sempre recomendável analisar to- interpretações, como se verá a seguir, que vão emer- da situação em sua complexidade e em suas múlti- gindo e se explicitando à medida que mais se debru- plas relações, de maneira a se promover interven- ça sobre eles e segundo a perspectiva com que se ções mais abrangentes e mais profundas. examinam fenômenos por eles representados e Ao se passar grande parte da vida e da realida- se os agrupa e diferencia uns dos outros. de escolar em condição submersa, quer dizer, des- conhecida, desconsiderada, não compreendida e não 1 A metáfora do iceberg para representar 0 avaliada, possibilita-se, em consequência, a ocorrên- caráter subjacente da cultura cia de fatores cerceadores da jornada educacional, Tendo em vista caráter subjacente e implícito na medida em que seu potencial não é levado em das manifestações do clima e da cultura organizacio- consideração no curso de interações com essa reali- nal, sobretudo aqueles aspectos mais acentuados e dade e intervenções sobre a mesma. Não se pode, aprofundados da cultura, a figura do iceberg é por óbvio, julgar que aquilo que não seja percebido mumente adotada como metáfora para representar não exista, ou que não exerça um papel significativo esse fenômeno. no curso das ações e seus resultados. Muito pelo É estimado que um iceberg tenha apenas cerca contrário, que permanece latente tem um grande de 10% de toda sua massa exposta acima do nível do poder de minar situações de forma silenciosa, dissi- mar, mantendo sempre submersa uma superfície mulada e sorrateira, e impedir a implementação de 56 correspondente a 1/9 de sua massa total. Usando 0 decisões que são tomadas sem levar em considera- 57 iceberg como metáfora para representar uma deter- ção que todos os envolvidos nesse processo de im- minada condição, costuma-se dizer que quando se plementação pensam a respeito, que significados atri- Série Cadernos de Gestão intervém sobre um problema sem analisar suas im- buem em relação aos aspectos envolvidos etc. plicações de origem, do contexto de sua manifesta- Portanto, como um iceberg, a cultura mantém ção, de suas consequências e suas ramificações, es- invisível e subjacente grande parte de seus compo- tá-se apenas alterando as questões manifestas na nentes, que são muitas vezes apenas inferidos a par- Série Cadernos de Gestão ponta do iceberg, de caráter meramente sintomáti- tir do que pode ser direta e facilmente observado so-HELOÍSA LÜCK Gestão da cultura e do clima organizacional da escola bre a superfície ou imediatamente abaixo dela, mas Aponta-se para 0 fato de que, como os icebergs não são imóveis e imutáveis, também não O é a cultu- ainda em área transparente ou apenas pouco turva, ra organizacional. Ela é dinâmica e assume dife- em vista do que apenas poucos elementos culturais rentes configurações em diferentes momentos e cir- são observados sem muita dificuldade. Por conse- cunstâncias, em vista do que tornam-se competen- guinte, compete aos gestores ter em mente a possi- tes os gestores que mantêm olhar continuamente bilidade de que, realizando seu trabalho, conheçam atento e perspicaz, empregado num processo contí- sua escola apenas superficialmente, em seus aspec- nuo de desvelamento da cultura organizacional es- tos aparentes e superficiais, isto é, não mais do que colar, dos fatores que a sustentam, das motivações e um décimo de sua verdadeira natureza, caso não valores por trás de suas expressões e de sua reper- adotem um esforço intencional e sistemático de pers- cussão na qualidade das práticas educacionais coti- crutação para conhecer os desdobramentos e intera- dianas. Isso representa dizer que nenhum conheci- ções dos múltiplos aspectos da cultura e do clima or- mento sobre a cultura escolar é final e definitivo, de- ganizacional da escola. vendo olhar estar sempre aberto para sua dinâmi- ca, de modo a compreendê-la. Resulta, por certo, desse desconhecimento res- tante, grande parte da dificuldade de gestores esco- É importante ter em mente que a cultura organi- zacional escolar é invisível não apenas para aqueles lares em promover sua gestão e liderança. Conhecer a cultura organizacional da escola representa, pois, que estão fora da escola e não fazem parte dela, mas um processo de desvelamento de camadas submer- também para os que a constituem. Aqueles que con- vivem na escola e ajudam a constituir seu dia a dia sas, que é possível na medida em que sejam capa- zes de, dentre outros aspectos, assumir um olhar in- podem conhecê-la menos ainda, por se tornarem ce- gos aos significados do que acontece ao seu redor. quisitivo sobre os comportamentos, ações e reações Isso porque quando as situações são consideradas 59 58 expressos na escola, suspendendo qualquer julga- como dadas, como estabelecidas, elas são vivencia- mento prévio; agir com muita perspicácia, olhar clí- das acriticamente, sem qualquer esforço por conhe- nico e sensível que procura ver significado mais Série Cadernos de Gestão cer os motivos por trás das ações, dos posicionamen- profundo daquilo que está aparente, e aquilo que tos e das decisões. Aliás, muitas vezes pretende-se fica além do aparente; identificar suas ramificações camuflar os significados e motivos a que(m) servem internas; compreender os significados de todos es- as atitudes, posicionamentos, decisões e ações expres- Série Cadernos de Gestão ses aspectos observados. sas no cotidiano escolar.HELOÍSA LÜCK Gestão da cultura e do clima organizacional da escola Em vista disso, de modo que os atores da cultura Aspectos visíveis: organizacional escolar a compreendam e se compre- Valores e objetivos declarados, estratégias, discursos, endam nela, a fim de que essa cultura seja fortaleci- estrutura organizacional, processos, gestão e liderança, da por valores sociais e educacionais mais amplos e tecnologia, autoridade formal, políticas e procedimentos, sólidos a partir da identificação desses valores e seus decisões explícitas, uso de recursos, percepções e significados em seu próprio desempenho, compete níveis de satisfação declarados, humores. aos gestores não apenas conhecer as características da cultura organizacional de sua escola, mas, sobre- tudo, fazê-lo participativamente, envolvendo mem- bros da comunidade escolar nesse processo. Essa me- todologia funciona como uma estratégia importan- tíssima de gestão democrática e de transformação evolutiva da cultura organizacional, que se aprofun- Aspectos invisíveis: da e se expande, se renova e se fortalece. Pressupostos e presunções, valores, Compreender essa cultura depende, portanto, de normas implícitas, interações informais e comunicações se mergulhar nela de olhos abertos, e aprofundar-se não verbais, em suas águas ao mesmo tempo com familiaridade atitudes, tensões conflitos, crenças, sentimentos e emoções. e naturalidade e com perspicácia analítica e herme- nêutica¹⁰. Figura 1 Elementos da cultura organizacional da escola 61 60 É muito importante ter em mente que 0 que aparece na superfície pode ser camuflado, a partir da necessidade de "parecer bem na dei- Série Cadernos de Gestão 10. O termo "hermenêutica" provém do verbo grego "hermeneuein" xando de apresentar retrato fiel da cultura escolar e significa "anunciar", "interpretar", "esclarecer" e, por últi- tal como ela é. Como nós, também a escola tem várias mo, "traduzir". Significa que alguma coisa é "tornada compreen- sível" ou "levada à compreensão" (Wikipedia, 2010). Segundo Ri- imagens, sendo a real dificilmente conhecida. To- Série Cadernos de Gestão couer, representa uma teoria e um método de explicitação de sig- dos temos várias imagens: a correspondente ao que nificados e compreensão de fenômenos, em superação à simples impressão provocada por sua vivência (THOMPSON, 1998). pensamos que somos, a que os outros pensam que so-Gestão da cultura e do clima organizacional da escola HELOÍSA LÜCK mos, a que pensamos que os outros pensam que cultura. Lima e Albano (2002) indicam, por sua vez, somos, e a que corresponde ao que realmente so- citando Souza, que 0 clima organizacional é resulta- mos, dificilmente conhecida, até mesmo por nós do dos elementos da cultura. Por sua vez, Campos (FRITZEN, 2006). (2002: 125), interpretando e reproduzindo palavras de Souza, esclarece 0 entendimento de que "a parte 2 Explorando os conceitos de clima e cultura mais ampla e imediatamente reconhecível da cul- organizacional tura é clima organizacional, que é um Em geral, clima e cultura organizacional são des- resultante da interação dos elementos da critos como dois conceitos intimamente associados, Também Pol et al. (2007) identificaram O clima por estarem inseridos aspectos de um nos do outro, mo um dos elementos da cultura organizacional. de tal modo que se percebem aspectos do clima na Há autores, portanto, que utilizam um conceito cultura e vice-versa. Comumente, um é explicado para explicar outro, sobrepondo um ao outro, ou pelo outro, quase que de maneira tautológica, como estabelecendo íntima relação entre ambos de forma muitas vezes faz dicionário descrevendo, por exem- convergente. Por exemplo, Thurler (2001: 89) expli- plo, a responsabilidade como ato de ser responsá- ca clima como reflexo da cultura de uma ou indicando que a certeza é absoluta, que um e por outro lado indica que a cultura de um estabele- ato expressamente que detalhes cimento de ensino em parte, seu clima, são Quase que da mesma forma tam- moral, prazer, bem-estar ou a eficácia dos pro- bém se explica a cultura como sendo clima e cli- fessores e ma como sendo a cultura; vamos acrescentar apenas Evidencia-se, a partir dessas explicações, que poucos elementos ao entendimento desses concei- estudo realizado para entender um conceito ou ou- 62 63 tos, conforme se verá a seguir. tro não pode ter outra repercussão que não a possi- A aproximação dos dois conceitos é apontada bilidade de desvelar um conjunto complexo de ele- Série Cadernos de Gestão por Lempek (2007), citando Iasbeck, ao indicar que mentos e fatores, em sua dinâmica e inter-relação, e clima organizacional traduz a dinâmica cultural e não para dissociá-los completamente e compreen- que a temperatura desse clima corresponde a uma dê-los como realidades distintas e, portanto, quem fotografia da cultura organizacional, isto é, um con- sabe, artificializando a realidade que representam. Série Cadernos de Gestão ceito corresponderia ao outro. Portanto, ambos os Tratam-se, esses conceitos, de expressões comple- autores reconhecem clima como uma condição da xas e multifacetadas do fazer humano, nunca prontoHELOÍSA LÜCK Gestão da cultura e do clima organizacional da escola e acabado e sempre em evolução dinâmica, de que 3 Em que consiste clima organizacional resulta a dificuldade de sua significação e conceitua- Em geral, identifica-se que clima organiza- ção plena. Além do mais, eles são objeto de análi- cional constitui-se na expressão mais à superfície da se por diferentes pontos de vista, como, por exem- cultura organizacional e, por isso, mais facilmente plo, da Antropologia, da Sociologia, da Psicologia e observável, caracterizada pelas percepções conscien- até mesmo da Economia. Não se pretende, pois, ao tes das pessoas a respeito do que acontece em seu apresentar diferentes conceitos neste trabalho, vali- entorno. O clima é, pois, identificável pelas repre- dar um deles em detrimento dos demais, nem optar sentações que estas pessoas fazem sobre tudo que por um conceito unificador e excludente, mas, sim, compõe seu ambiente de vivência e que lhe provo- explorar possibilidades múltiplas de compreensão ca estimulações, que passam por suas percepções, abrangente, embora se faça um esforço também por motivando seu posicionamento a respeito, assumido estabelecer elementos distintivos entre os conceitos. a partir dos significados construídos em relação a O importante é sua utilização como referencial para esse conjunto de coisas. compreender a realidade escolar, de modo a se poder O clima organizacional corresponde a um humor, melhor atuar em seu contexto e mais efetivamente estado de espírito coletivo, satisfação de expressão contribuir para que a escola se torne mais eficaz na variável segundo as circunstâncias e conjunturas do realização de seus objetivos socioeducacionais. momento, em vista do que seu caráter pode ser so- Logo, de modo a contribuir para a realização da bremodo temporário e eventual, dependendo da re- gestão e liderança educacional, as explicitações a se- solução das condições que criam essas característi- guir apresentadas de um e outro conceito servem ao cas daí ser também cognominado de atmosfera. objetivo de destacar elementos de uma mesma reali- Evidencia-se que esse humor pode ser resultado 65 64 dade, não se devendo perder de vista a compreen- não só dos elementos culturais instalados na escola são dinâmica de seus elementos e sua interativida- (em cujo caso tende a ser mais constante), como pela de na intervenção sobre a mesma. Destaca-se, pois, influência de elementos externos, como, por exem- Série Cadernos de Gestão que a exploração de significados em torno de clima e plo, uma reforma no prédio escolar, a introdução de de cultura organizacional tem, sobretudo, objeti- novas tecnologias, falecimento de alguém. Caso vo de identificar e analisar seus significados múl- humor e estado de espírito sejam superados rapida- Série Cadernos de Gestão tiplos, que permanecerão, no entanto, de certa for- mente, não alteram caráter do fazer coletivo da es- ma ambíguos e, sobretudo, incompletos.Gestão da cultura e do clima organizacional da escola HELOÍSA LÜCK cola, deixando de se instalar como uma característi- Considerando-se que clima faz parte da cul- ca da cultura escolar. Porém, na medida em que se tura escolar, constituindo-se em seu elemento mais expressem de maneira intensa e continuada, tendem aparente, conclui-se que se pode, por conseguinte, a ser incorporadas no fazer escolar e a constituir sua mais fácil e rapidamente, influenciar a cultura a par- cultura. Portanto, aquilo que é identificado como tir da gestão e liderança sobre os aspectos observá- marca da escola, como seu "jeito", por seu caráter veis que ajudam a conformar a cultura. O processo contínuo, mesmo diante de variações situacionais, dessa mudança, de qualquer modo, deve ser realiza- representa sua cultura. do de forma reflexiva considerando questões várias, O clima é considerado como sendo um momen- como, por exemplo: Que natureza clima organiza- to no conjunto de experiências da escola (MORAES, cional da escola expressa? Qual seu nível de apro- 2010). Também é entendido que se reporta ao com- ximação com os valores educacionais? O que cria e portamento organizacional em relação aos aspectos mantém clima existente? Como as pessoas agem que mais influenciam na percepção dos problemas e reagem diante desse clima? O que precisa ser mu- educacionais no interior da escola (BISOGNIN; NI- dado no clima escolar e por quê? Como utilizar posi- COLAU & GRACIOLI, 2010) e ainda é visto como a tivamente as energias subjacentes? maneira como as pessoas pensam, percebem, inter- O papel e a influência do diretor da escola so- pretam e reagem à organização, a normas formais e a bre clima organizacional da instituição é reco- comportamento e costumes no interior da escola. O nhecido em estudos, até mesmo em percepções clima organizacional é ainda comumente referido tidianas. Estas são resumidas na asserção comu- como sendo a fotografia do momento, humor, que mente feita de que "a escola tem a cara de seu dire- varia conforme alterações e acontecimentos. tor". De fato, observa-se que se diretor escolar é 66 67 De qualquer forma, em geral as referências ao omisso e adota uma atitude de indiferença diante clima organizacional, mesmo que associadas à cul- dos desafios escolares e das situações difíceis, dei- Série Cadernos de Gestão tura organizacional, são feitas destacando caráter xando-as ocorrer sem interferência, ou enfrentan- temporário, a sujeição a mudanças circunstanciais do-os apenas burocraticamente, assim costuma ser em vista do que se refere a aspectos mais fácil e ra- 0 clima escolar: descompromissado ou burocratiza- pidamente influenciados pelos esforços de gestão e do; se diretor é autoritário e atua sobretudo sobre Série Cadernos de Gestão liderança. as questões formais, a prática geral da escola adotaGestão da cultura e do clima organizacional da escola HELOÍSA LÜCK essa tendência e até a avaliação da aprendizagem Quadro 1 Resenha sobre 0 clima organizacional da escola dos alunos passa a ser praticada como uma questão de exercício de autoridade ou formalismo, focada Aspectos Natureza na nota que precisa ser dada para cumprir essa exi- Grau de satisfação material e emocional do gência e deixando de ter papel pedagógico e de conjunto dos membros de uma organização a feedback. Se, por outro lado, diretor adota um partir de como a percebem (CODA, 1997; olhar atento às questões pedagógicas e à aprendi- LUZ, 1996; QUEIROZ, 2005). Forma de interação entre os membros de zagem dos alunos e oferece continuamente esse mo- uma organização (SOUZA, 1978; delo de atuação e orientações aos professores, assim LITWIN, apud BISOGNIN; NICOLAU & também eles tendem a atuar. GRACIOLI, 2006). Atmosfera psicológica existente em uma A observação dessas relações revela, pois, como organização, que influencia a maneira como clima organizacional da escola é percebido e como as pessoas agem e reagem. é sobremodo influenciado pela qualidade da lide- Valores e atitudes assumidos pelas pessoas rança exercida na escola. Dessa forma, sendo a li- de uma organização (BENNIS, 1997). Reflexo da cultura de uma organização derança exercida de maneira democrática, autoritá- (LIMA & ALBANO, 2002). ria ou ao estilo características seme- Por que Expressar a satisfação ou insatisfação dos lhantes às desse estilo tendem a ser observadas em existe atores com os eventos, circunstâncias, relação ao clima escolar. condições vigentes. Como se Percepções, atribuição de significados manifesta expressos em discursos, indicadores de satisfação. 68 69 Como é Resulta especialmente de fatores internos da formado organização escolar, sobretudo do estilo de gestão, liderança e de decisões tomadas, Série Cadernos de Gestão porém é influenciado por fatores externos. 11. Ver, a respeito de estilos de gestão, Liderança em gestão esco- Elementos Estilos de gestão e liderança. lar, já referido. A elaboração desse livro contribuiu para que a au- tora fosse conduzida a prestar atenção aos processos sociais da es- que o Varia segundo a situação psicológica e cola, que contribuíram para amadurecer a questão da cultura or- sustentam estágio motivacional em que se encontram as Série Cadernos de Gestão ganizacional da escola, a qual conduziu para a elaboração do pre- pessoas na organização. sente livro.Gestão da cultura e do clima organizacional da escola HELOÍSA LÜCK Aspectos Natureza aspectos da vida de uma organização (NATZKE, Observações Condições não resolvidas do clima e deixadas 2001). Resumidamente, é apresentada como sendo a si mesmas tendem a se um "conjunto de pressuposições básicas que um cristalizar, institucionalizando-se, isto grupo inventou, descobriu ou desenvolveu ao apren- é, incorporando-se ao modo de ser e de fazer der como lidar com os problemas de adaptação ex- da escola, contribuindo, dessa forma, para a constituição de uma cultura organizacional terna e integração interna, e que funcionou bem negativa. suficiente para serem considerados válidos e ensina- O clima influencia desempenho e dos a novos membros como a forma correta de per- rendimento escolar. ceber, pensar e sentir em relação a esses proble- O clima organizacional não é uniforme em toda a escola, uma vez que, pela diversidade mas" (SCHEIN, 1992: 12). De maneira mais sim- das pessoas que a formam, com interesses e ples, Schein (2002) identifica que a cultura corres- personalidades diferentes, haverá sempre ponde ao conjunto de pressupostos básicos desen- diferentes reações aos mesmos fatos. volvido coletivamente no enfrentamento de desafios da organização. A cultura organizacional correspon- 4 Em que consiste cultura organizacional de, portanto, ao conjunto de tradições, conhecimen- Conforme já indicado, cada escola apresenta uma tos, crenças, manifestações pelo senso comum, cujo cultura diversa, que marca a qualidade de seu de- conteúdo é passado de uns para os outros mediante sempenho e, desse modo, afeta seus resultados edu- contato pessoal direto, por comportamentos, atitu- cacionais. Essa cultura é constituída por uma trama des, discursos, relato de histórias, de forma implícita diferenciada de circunstâncias e de relações entre e comumente sem consciência por quem a passa e pessoas, por uma dinâmica interpessoal diversifica- por quem a recebe. Corresponde, portanto, ao folclo- 71 70 da, por variações na interpretação de demandas e re das organizações. até mesmo pela definição personalizada de seu pa- A cultura organizacional é conceituada por Nas- Série Cadernos de Gestão pel. Estes são, dentre muitos aspectos, elementos sar, segundo Lima e Albano (2002: 34), como sendo que formam a cultura organizacional de uma escola conjunto de valores, crenças e tecnologias que e lhe atribuem uma personalidade peculiar. mantêm unidos os mais diferentes membros, de to- Cultura organizacional corresponde a um con- dos os escalões hierárquicos, perante as dificuldades, Série Cadernos de Gestão ceito complexo que cobre um conjunto de múltiplos operações do cotidiano, metas e EsseGestão da cultura e do clima organizacional da escola HELOÍSA LÜCK conceito se afina com as propostas que apontam iii) os processos de comunicação e relacionamen- quatro dimensões da cultura: to interpessoal adotados; i) valores, iv) uso e cuidado com os espaços; ii) heróis, v) a disposição e uso de artefatos e objetos ex- iii) ritos e rituais e postos em seus vários ambientes, indicativos do que é julgado importante por seus profissionais iv) rede de relacionamento e comunicação. e do que pretendem reforçar e orientar. Ao identificarem essas dimensões, Deal e Ken- Enfim, a cultura organizacional da escola se re- nedy (1992) apontaram constituir-se a cultura no fa- tor mais importante responsável pelo fracasso ou su- fere a tudo que diz respeito às práticas interativas manifestadas de modo a constituir-se em regulari- cesso de organizações. dades, e que, portanto, ao mesmo tempo expressam e Os conceitos apresentados na literatura sobre condicionam seu modo de ser e de fazer, a peculiari- cultura organizacional em geral apontam, por con- dade e singularidade do estabelecimento de ensino. sequência, para uma construção coletiva e mais ou menos duradoura embora mutável da identidade A cultura se expressa por um conjunto de regras, real da escola, para aqueles aspectos mais peculiares códigos e expectativas de comportamento não escri- de seu modo de ser e de fazer, que ela efetivamente tas que condicionam as atitudes dos atores escolares. expressa em seu embate cotidiano, no enfrentamen- Tendo em vista seu caráter tácito, não explícito, é di- to dos desafios diários de seu trabalho. fícil de ser objetivamente reconhecida, em vista do A cultura consiste, pois, no modo real de ser e de que se torna mais difícil seu processo de mudança, fazer da escola, isto é, em sua personalidade coleti- que exige habilidades especiais de liderança, deter- 72 minação, comprometimento e perseverança, além de 73 va, que é constituída a partir de como as pessoas, em acuidade perceptiva, muita atenção e sensibilidade. conjunto, pensam e agem. Vários aspectos expres- sam a cultura, dentre os quais: Nesse processo é importante levar em consideração Série Cadernos de Gestão tanto os aspectos do desempenho humano como das i) a dinâmica global da escola; condições do ambiente e do contexto escolar que ii) papel profissional assumido por seus atores contribuem para sua criação e condicionam os diver- e a relação deste com papel social da escola na SOS aspectos da cultura organizacional. Série Cadernos de Gestão comunidade;Gestão da cultura e do clima organizacional da escola HELOÍSA LÜCK i) Ideário ou preceitos, expressos por crenças, A cultura exerce um papel mobilizador e unificador de todo um conjunto de indivíduos em torno do que é julgado pressupostos, normas tácitas, padrões de com- adequado, de modo a estabelecer um entendimento co- portamento, hábitos de pensamento, modelos mum e recíproco que torna a atuação conjunta mais fácil. mentais, padrões linguísticos, valores, códigos Segundo esse princípio, todos que ingressam na escola são informais e regulamentos em prática, hábitos e compelidos a adaptar-se à cultura vigente, como uma con- costumes, muitos dos quais implícitos e não es- dição para sua aceitação e integração. Uma vez que os va- lores orientadores da cultura estejam formados com forte critos, códigos de recompensas; impacto do senso comum e significados construídos a par- ii) Tecnologia, caracterizada pelo conjunto de tir de impressões, as escolas se tornam menos efetivas na processos, e modo de fazer as coisas seu saber promoção de aprendizagens significativas dos alunos (DE- fazer -, seu modo de organizar e compartilhar BLOIS & CORRIVEAU, 1994). responsabilidades, de usar tempo, que extra- pola as proposições formais de cronograma; Por conseguinte, a cultura organizacional envol- iii) Caráter, constituído por sentimento e rea- ve um conjunto de elementos interatuantes, apren- ções das pessoas sobre todo conjunto de coisas didos coletivamente na prática escolar e formadores e sobre seu papel no contexto da organização, de de um todo unitário e peculiar. Em conjunto e de seu forma interativa, esses elementos exercem um papel articulador das práticas organizacionais e são contri- buintes na construção de sentido, identidade e ges- Quadro 2 Resenha da cultura organizacional da escola tão intuitiva de relações entre os membros de uma organização mediante processo de partilha e intera- Aspectos Natureza ção, colaborando, em última instância, para exercer que é Conjunto de expressão implícita de regras e 75 74 um papel mobilizador e articulador da ação das pes- princípios que caracterizam a organização e soas, em conjunto (MATIAS, 2007). se expressam em seu modo de ser e de fazer. Fenômeno interno construído Série Cadernos de Gestão Esses aspectos, em grande parte, manifestam-se interativamente, criando laços e coesão de forma subliminar às ações, não sendo revelados ex- interna entre os participantes de um grupo. plicitamente, em vista do que precisam ser inferidos a Conjunto de pressupostos básicos desenvolvidos coletivamente no partir da observação, reflexão e interpretação de seu enfrentamento de desafios da organização Série Cadernos de Gestão significado. Dentre esses elementos, destacam-se: (SCHEIN, 1992).HELOÍSA LÜCK Gestão da cultura e do clima organizacional da escola Natureza Na medida em que a coesão interna da escola Aspectos esteja embebida em valores sociais e Por que Contribui para dar ordenamento e educacionais superiores, tendo como fulcro existe estabelecer estabilidade ao grupo. orientador os interesses dos alunos, a escola tem Como se Clima social. sua energia mobilizada pelos princípios da manifesta Opiniões, narrativas. qualidade do ensino. Uso de artefatos, espaços, tempo, bens em Escolas efetivas na promoção da aprendizagem geral, talento pessoal. dos alunos apresentam características culturais Ideias compartilhadas, discurso, comuns: forte liderança educacional, elevadas representações simbólicas. expectativas, padrões de qualidade Costumes, ritos e rituais, cerimônias. elevados, clima organizacional marcado por Símbolos visuais. Histórias e celebração de heróis. respeito, ética e confiança entre os membros, projeto pedagógico compreendido e Como é Formas de encadeamento e elos entre os assumido por todos. formada membros do grupo mediante comunicação e relacionamento interpessoal. Processos de tomada de decisão. 5 Cotejamento de distinções relativas entre os Estilos de liderança e gestão. Enfrentamento de problemas e desafios. conceitos de clima e cultura organizacional Elementos Valores. Há, portanto, uma aproximação muito grande que a Pressupostos, suposições. sustentam Expectativas. entre clima e cultura organizacional, uma vez que Significados. fazem parte de um mesmo fenômeno complexo e Preferências, sentimentos, emoções. abrangente. No entanto, é possível estabelecer dife- Formação Interação humana coletiva no enfrentamento de renças entre esses conceitos, cujo papel é importan- problemas e desafios cotidianos, associada ao trabalho cooperativo, à aprendizagem conjunta, à te para auxiliar gestor escolar na liderança e inter- 77 76 tomada de decisões e solução de problemas, a venção em relação a esse fenômeno tomado em con- partir das quais se constroem significados. junto. O Quadro 3, a seguir, destaca algumas dessas Observações Na medida em que na escola falta ou é hesitante a liderança orientada por objetivos sociais e diferenças relacionadas à sua natureza, ao seu con- Série Cadernos de Gestão orientadora de sua efetivação e estabelecimento teúdo, possibilidades de seu conhecimento, nível de de um sentido social e superior aos atores de inferências em relação aos fenômenos observados, um grupo, estes buscam, em seu elementos estruturantes e estruturados em relação a interior, elementos e condições para Série Cadernos de Gestão organizar-se, criando uma cultura seus fenômenos e processo de sua mudança. própria, caracterizada pelo ensaio e erro.Gestão da cultura e do clima organizacional da escola HELOÍSA LÜCK Quadro 3 Cotejamento de distinções 6 Dimensões do clima e da cultura organizacional relativas entre os conceitos de clima e cultura da escola organizacional O clima e a cultura organizacional da escola são, Aspecto Clima Cultura por conseguinte, conceitos complexos por expressa- Natureza Transitória, Duradoura, embora rem um conjunto de múltiplos e dinâmicos fatores, superficial. não permanente; dimensões e características, todos intimamente re- profunda. lacionados e de grande importância na determi- Conteúdo Percepções, reações Valores, crenças, imediatas. traços culturais nação da qualidade dos processos educacionais. Na integrados. medida em que se pretende exercer influência cons- Como conhecer Pela análise de ciente e positiva sobre eles, como deve ser feito pela Pela observação do processo de elementos gestão e liderança escolar, é necessário que se comunicação e ilustrativos de nheçam e se compreendam quais são eles, como in- relacionamento valores, crenças, em teragem entre si, como são formados, como evolu- interpessoal; por histórias, relatos, em, dentre outros aspectos e desdobramentos. Vale inventários de linguagens, níveis de satisfação símbolos, uso de dizer que é sobre esses aspectos especificamente e questionários recursos etc. que se atua e não diretamente sobre clima e a cul- para avaliação de tura como um todo, de modo a se poder influenciar percepções etc. essas realidades a partir de suas partes, porém sem- Nível de Baixo, mais Elevado, mais pre mediante lógica interativa, com uma perspecti- inferência próximo dos fatos distante dos fatos va do todo. observados. observados. A seguir, no Quadro 4, são apresentadas caracte- 78 79 Elementos Relações Emoções, rísticas manifestadas na escola que expressam em estruturantes e interpessoais e julgamentos, estruturados um continuum diferentes dimensões e aspectos do comunicação. experiências Série Cadernos de Gestão intensas de clima e da cultura organizacional de uma escola, re- significado. presentando, em seu conjunto, modo de ser e de Mudança Mais fácil e mais Exige muito tempo, fazer. O instrumento "Avaliação de características rápida. perseverança e da cultura apresentado no Anexo 2, ao final Série Cadernos de Gestão perspicácia. deste livro, pode ser utilizado por gestores escolaresGestão da cultura e do clima organizacional da escola HELOÍSA LÜCK para avaliar se sua escola se situa mais como cultura Desenvolvimento Autoiniciado e Heteroiniciado e organizacional com limitações educacionais, ou se de competências auto-orientado, heteroorientado, essa cultura se aproxima da cultura educacional e, profissionais contínuo e esporádico. sistematizado. portanto, como cultura organizacional positiva, ca- Expectativas de Elevadas e Baixas e racterizada como um ambiente promissor na pro- resultados explícitas. camufladas. moção da formação e aprendizagem dos alunos. Iniciativa Orientada para a Orientada para a realização de produção de Quadro 4 Características do clima e da cultura tarefas e resultados. organizacional da escola, segundo aspectos atividades. e dimensões de seu ambiente Liderança De coordenação e De controle e orientação. cobrança (falsa Dimensões/aspectos Continuum de características liderança). Ambiente Alegre, leve, Irritável, tenso, Melhoria Definida como emocional acolhedor, produ- produtor de Definida por um modo de ser tor de bem-estar. mal-estar. projetos espe- da escola ciais melhoria Aprendizagem Participativa, Formal, estática, melhoria por projetos. dinâmica, orienta- fragmentada, contínua. da pelo princípio orientada pelo Mudança Resistente a da descoberta, princípio da Receptiva a objetivo da escola certeza, objetivo a inovações e inovações e como um todo. ser realizado mudanças, flexível mudanças, e conservadora e pelos alunos. impermeável. Atividade Dinâmica, Estática, Organização Ordenada. Desordenada. participativa, fragmentada, envolvente. formal. Poder Disseminado. Centralizado. 80 81 Autoridade Focada no Focada no Responsabilidade Assumida como Assumida como exercício de exercício das própria, externa, responsabilidade. auto-orientada e transferência de Série Cadernos de Gestão funções do cargo. focada no Comunicação Clara, aberta, con- Distorcida, responsabilidade. conjunto Heteroorientada e tínua. fechada, rara. dinâmico de focada no Comunidade Amistosa, solidária, Excludente, resultados cumprimento de inclusiva. departamentalizada, pretendidos. atividades, tarefas Série Cadernos de Gestão segregadora. e funções.Gestão da cultura e do clima organizacional da escola Dimensões/aspectos Continuum de características Relações Amigáveis e Impessoais e interpessoais recíprocas. unilaterais. II Tempo Organizado e Não planejado e estruturado, organizado, falta espaço sociocultural da escola e embora flexível. de consciência de seu cotidiano seu valor. Tomada de decisão Participativa, Centralizada, baseada em fatos. baseada em opiniões, formal. A atenção atribuída ao clima e à cultura organi- zacional da escola, e a adoção desses conceitos para É importante ter em mente que que constitui e compreender trabalho escolar e atuar de forma mantém uma cultura é um sistema de relações entre abrangente em seu contexto, assentam-se sobre pres- pessoas, a partir de uma prática estabelecida de co- supostos relacionados a um novo paradigma¹², se- municação verbal e não verbal. Desse modo, tão im- gundo qual as escolas são dinâmicas e se desenvol- portante como determinar como é uma referida cul- vem de acordo com essa energia de perspectiva psi- tura, é descobrir quais as redes de relações estabele- co-sócio-cultural com enfoque e objetivos educacio- cidas que disseminam e mantêm suas características. nais. Vendo-se a escola como organização viva, reco- Como é processo de comunicação e de relaciona- nhece-se a significação e impacto dessa dimensão mento interpessoal em sua escola? Que significados na determinação da qualidade dos processos educa- são expressos nesse processo? Quem exerce mais in- cionais e do ensino. fluência na rede de comunicação e relacionamentos? 82 Essa mudança de paradigma superou ponto de 83 Qual a natureza dessa influência e seus resultados? vista mecânico, fragmentador, linear e formal sobre A partir da identificação de aspectos tais como os a escola e orientou uma visão com perspectiva psi- Série Cadernos de Gestão apontados nessas questões, e da análise de suas for- cossocial reveladora de importantes e significativas mas de expressão e motivações orientadoras, é pos- sível interferir de forma consciente e consistente no desenvolvimento de uma cultura escolar mais posi- 12. Sobre a mudança de paradigma, cf. nesta série de Cadernos de Série Cadernos de Gestão tiva, construtiva e efetiva, segundo a orientação dos Gestão, da Editora Vozes, o primeiro volume, Gestão educacional: propósitos educacionais da escola. uma questão paradigmática, de autoria de Heloísa Lück.

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