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do crime anterior para gerar reincidência, ou seja, no importa se o crime anterior é culposo ou doloso, ou crime da mesma ou de espécie diversa do novo crime. Além disso, complementando os pressupostos da reincidência, o art. 7º da Lei de Contravenções Penais dispõe que: “verifica-se a reincidência quando o agente pratica uma contravenção depois de passar em julgado a sentença que o tenha condenado, no Brasil, ou no estrangeiro, por qualquer crime, ou, no Brasil, por motivo de contravenção”. Assim, podem ocorrer várias hipóteses: a) o agente, condenado irrecorrivelmente pela prática de um crime, vem a cometer outro delito: é reincidente (art. 63). b) o agente pratica um crime; condenado irrecorrivelmente, vem a cometer uma contravenção: é reincidente (art. 7º da LCP). c) o sujeito pratica uma contravenção, vindo a ser condenado por sentença transitada em julgado; comete outra contravenção: é considerado reincidente (art. 7º da LCP). d) o sujeito comete uma contravenção; é condenado por sentença irrecorrível; pratica um crime: não é reincidente (art. 63). 12 *Para todos verem: esquema. b) Eficácia temporal da condenação anterior para efeito da reincidência O CP adotou o sistema da temporariedade. Se o agente vier a cometer novo crime depois de cinco anos da extinção da primeira pena, a anterior sentença condenatória não terá força de gerar a agravação da pena, uma vez que o réu não será considerado reincidente. Nos termos do art. 64, inciso I, o termo a quo do prazo de 05 anos é a data: a) do cumprimento da pena; b) de sua extinção por outra causa; c) do início do período de prova do sursis ou do livramento condicional sem revogação. CRIME CRIME REINCIDENTE CONTR. CONTR. REINCIDENTE CRIME CONTR. REINCIDENTE CONTR. CRIME NÃO REINCIDENTE 13 Logo, o prazo de 5 (cinco) anos começa a correr a partir do cumprimento da pena ou de sua extinção por outro modo, como a incidência de uma causa extintiva da punibilidade, como a prescrição da pretensão executória, graça ou indulto. Convém ressaltar que se a causa extintiva da punibilidade consistir em anistia ou abolitio criminis, cessam todos os efeitos da sentença penal condenatória, não ensejando, portanto, reincidência a eventual prática de novo crime. Nos termos do art. 64, I, do CP, o período de prova do livramento condicional e da suspensão condicional da pena será computado para fins de cessar os efeitos da reincidência. Assim, em tese, ao agente condenado a 6 (seis) anos de reclusão, cumprindo 1/3 (ou seja, 2 anos), será concedido o livramento condicional (CP, art. 83, I), restando outros 4 (quatro) anos para o término da pena, que será o período de prova. Consideremos a hipótese de o agente ter começado a cumprir a pena em 10-08-2010. Após cumprir 1/3 dela, ou seja, dois anos, portanto, obteve o livramento condicional em 10- 08- 2012, cumprindo integralmente a pena em 10-08-2016. Em 10-09-2017, o agente pratica um novo crime. Nesse caso, não será considerado reincidente, pois se passaram mais de 5 (cinco) anos entre a data do cumprimento da pena e a prática do novo crime, computando-se o período de prova do livramento condicional. Em outras palavras: entre a data do início do período de prova do livramento condicional (10-08-2012) e a data do novo crime (10-09-2017), passaram-se mais de 5 anos, não sendo o réu reincidente. c) Crimes que não geram reincidência O art. 64, II, do CP, prevê duas hipóteses legais de crimes que não induzem reincidência: a) crimes militares próprios; b) crimes políticos. O STJ, contudo, passou a adotar o entendimento no sentido de que condenações anteriores pelo delito do art. 28 da Lei nº 11.343/2006 não são aptas a gerar reincidência. Os crimes militares próprios são aqueles tipificados exclusivamente no Código Penal Militar (Dec.-lei no 1.001/1969), tais como motim (CPM, art. 149), recusa de obediência (CPM, art. 163), deserção (CPM, art. 187). Os crimes militares impróprios são aqueles cuja conduta está tipificada no Código Penal Militar e no Código Penal, como, por exemplo, homicídio (CPM, art. 205; CP, art. 121); furto (CPM, art. 240; CP, art. 155). 14 Nos termos do art. 64, II, do CP, se o agente registrar sentença condenatória transitada em julgado em relação a crime militar próprio, e, posteriormente, praticar um crime comum, não poderá ser considerado reincidente. Assim, se, por exemplo, o agente registrar contra si sentença condenatória definitiva pela prática do crime militar próprio de deserção (CPM, art. 187), e, posteriormente, pratica um crime comum, como o furto simples (CP, art. 155), não poderá ser considerado reincidente. Convém ressaltar que a Lei nº 14.197, de 1º de setembro de 2021, revogou a Lei nº 7.170/1983, bem como acrescentou o Título XII na Parte Especial do Código Penal, relativo aos crimes contra o Estado Democrático de Direito, o que poderá gerar certa controvérsia acerca da revogação tácita do artigo 64, II, do CP, no que diz respeito à condenação pela prática de crime político não gerar reincidência • Pergunta recorrente: “Pode a sentença condenatória transitada em julgado pelo crime anterior, que não mais gera reincidência, ser usada para maus antecedentes?” O STJ entende que as condenações anteriores transitadas em julgado, alcançadas pelo prazo de 5 anos previstos no art. 64, inciso I, do Código Penal, embora esse período afaste os efeitos da reincidência, não o faz quanto aos maus antecedentes. Logo, não afasta maus antecedentes. O STF, por maioria, apreciando o tema 150 da repercussão geral, pacificou o entendimento no sentido de que condenações criminais extintas há mais de cinco anos podem ser consideradas como maus antecedentes para a fixação da pena-base em novo processo criminal. Logo, "Não se aplica para o reconhecimento dos maus antecedentes o prazo quinquenal de prescrição da reincidência, previsto no art. 64, I, do Código Penal" Em síntese, a sentença condenatória transitada em julgado que não gera mais reincidência pelo decurso do prazo, podendo, no entanto, ser considerada para fins de maus antecedentes. 1.2.2.2 Circunstâncias atenuantes No contexto da prova da OAB, uma vez identificada eventual circunstância atenuante no enunciado, o candidato deverá desenvolver tese no sentido de que seja reconhecida pelo juiz. As circunstâncias atenuantes são de aplicação em regra obrigatória, pois o caput do art. 65 reza: “são circunstâncias que sempre atenuam a pena”. 15 a) Ser o agente menor de 21, na data do fato, ou maior de 70 anos, na data da sentença O art. 65, I, do CP prevê duas situações: a) agente menor de 21 anos à época do fato; b) maior de 70 anos na data da sentença. Trata-se da atenuante da menoridade relativa e da senilidade. Para a incidência da atenuante da menoridade relativa, basta que o agente seja menor de 21 anos de idade à época do fato, independentemente da sua idade na data da sentença. O benefício começa no dia em que o agente completa os 18 anos, incidindo até o dia anterior àquele em que completa 21 anos, aplicando-se a teoria da atividade prevista no art. 4º do CP. Conforme se extrai do art. 155, parágrafo único, do CPP, a prova da idade deve ser feita por meio da certidão de nascimento. No entanto, a jurisprudência flexibiliza essa regra, admitindo qualquer outro documento hábil para a comprovação da idade do réu, como, por exemplo, carteira de identidade, certificado de reservista, carteira nacional de habilitação. É o que se extrai da Súmula nº 74 do STJ: “Para efeitos penais, o reconhecimento da menoridade do réu requer prova por documento hábil”. A segunda parte do dispositivo prevê a atenuação da pena ao maior de 70 anos de idade, ao tempo da sentença, não importando a data em que o fato foi praticado. Sinala-se, por pertinente, que a atenuante da senilidade só será aplicada ao agente que contar com 70 anosna data da sentença condenatória, e, não, de sua confirmação em sede de recurso. Assim, se o agente contava com 68 anos de idade ao tempo da sentença condenatória, atingindo 70 anos quando a decisão for confirmada em grau recursal, não incidirá a atenuante da senilidade, já que não tinha essa idade ao tempo da sentença. b) Desconhecimento da lei Embora o desconhecimento da lei não isente de pena e não afaste o caráter delituoso do fato, poderá funcionar como atenuante genérica. O crime subsiste, mas a pena será abrandada pelo desconhecimento de determinada lei. A atenuante genérica do art. 65, II, do CP incide por conta do elevado número de leis que existem no nosso ordenamento jurídico. Ninguém pode alegar desconhecimento da lei para se eximir da responsabilidade penal, mas se tolera a atenuante por conta do emaranhado de leis existentes e a dificuldade de conhecê-las. Tomemos como exemplo a conduta de uma pessoa simples, com pouca instrução, deixar de prover a instrução primária de filho em idade escolar. A alegação de que desconhecia a 16 existência do disposto no art. 246 do CP, por si só, não se revela suficiente para eximir sua responsabilidade penal, mas, se eventualmente condenado, pode-se cogitar da possibilidade de aplicar a atenuante prevista no art. 65, II, do CP. c) Ter o agente cometido o crime por motivo de relevante valor social ou moral Relevante valor social ocorre quando a causa do delito diz respeito a um interesse coletivo. Exemplo: Insatisfeito com a inoperância dos órgãos estatais de segurança, cidadão priva a liberdade de um traficante que distribui drogas a adolescentes de uma determinada comunidade. O cidadão responderá, nesse caso, pelo crime de sequestro (CP, art. 148), sendo possível reconhecer, na segunda fase de fixação da pena, essa atenuante. O motivo de relevante valor moral diz respeito a um interesse particular, interesse de ordem pessoal. Exemplo: Um pai priva a liberdade do estuprador da sua filha, antes de entregá-lo às autoridades, praticando o crime de sequestro (CP, art. 148). Esses motivos podem constituir causa de diminuição de pena de um crime específico, como, por exemplo, na hipótese de homicídio privilegiado (CP, art. 121, §1º). Quando isso ocorre, não incide a atenuante genérica. De outra forma, o agente seria beneficiado duas vezes em face do mesmo motivo. d) Ter o agente procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou minorar-lhe as consequências, ou ter, antes do julgamento, reparado o dano A primeira parte dessa alínea, consistente “ter o agente procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou minorar-lhe as consequências”, não se confunde com o arrependimento eficaz (CP, art. 15). No arrependimento eficaz, o agente esgota os atos executórios, mas, arrependido, pratica atividade para evitar a consumação do crime. Nesse caso, o agente responderá somente pelos atos praticados, conforme dispõe o art. 15 do CP, não incidindo, por isso, a atenuante genérica. A atenuante genérica, por sua vez, incide após a consumação do delito. Nesse caso, após a consumação do delito, o agente, por sua vontade e com eficiência, busca impedir ou reduzir as consequências do delito. O arrependimento deve ser exteriorizado ou manifestado logo após o crime, conforme prevê o art. 65, III, b, do CP, revelando certo grau de imediatidade entre o crime praticado e a 17 exteriorização do arrependimento. O arrependimento deve, ainda, ser voluntário e suficientemente eficaz para evitar ou diminuir as consequências do crime praticado. Imaginemos o agente que, com a intenção de ofender a integridade corporal da vítima, provoca nela lesões corporais graves (CP, art. 129, § 2º), e, logo depois da consumação, passa a arcar com os custos decorrentes do tratamento médico a que a vítima teve de ser submetida. O Magistrado, ao proferir a sentença condenatória pelo crime de lesão corporal grave, poderá, na segunda fase de fixação da pena, considerar a atenuante genérica. A atenuante da reparação do dano (CP, art. 65, III, b) não se confunde com o instituto do arrependimento posterior, previsto no art. 16 do CP, que constitui causa de diminuição da pena, se o crime praticado pelo agente for sem violência ou grave ameaça à pessoa, e a reparação do dano ou restituição da coisa seja realizada até o recebimento da denúncia ou queixa. Como forma de evitar o bis in idem, a atenuante genérica somente incidirá se não for caso de aplicação da causa de diminuição da pena decorrente do arrependimento posterior. Assim, se, por exemplo, o agente praticou um crime de roubo, com emprego de violência, mas se arrependeu e reparou o dano, não incidirá a causa de diminuição da pena, pois não preenche todos os requisitos do art. 16 do CP, já que se trata de crime praticado com violência ou grave ameaça. Todavia, o juiz poderá considerar esse arrependimento como circunstância atenuante (CP, art. 65, III, b). Da mesma forma, se o agente praticou um crime sem violência ou grave ameaça à pessoa, mas reparou o dano somente depois do recebimento da denúncia ou queixa, não incidirá a causa de diminuição da pena, pois não preenche todos os requisitos do art. 16 do CP, podendo, no caso, ser aplicada a atenuante do art. 65, III, b, do CP. e) Ter o agente cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de autoridade superior, ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima Coação resistível é o constrangimento suportável, que não isenta o agente coagido da responsabilidade penal, mas, mesmo assim, funciona como atenuante genérica, visto que a ameaça e constrangimento moral praticado pelo agente coator influenciou para a prática do delito. Assim, se, por exemplo, alguém subtrair coisa alheia móvel e entregar o objeto furtado ao coator, sob pena de ter sua relação extraconjugal revelada, praticará o crime de furto, sendo possível, no entanto, a aplicação dessa atenuante genérica. Trata-se, sem dúvida, de coação, 18 mas que, no caso, seria exigido ao agente resistir a ela, em vez de optar por praticar um fato típico e ilícito. Se a coação moral for irresistível, incidirá a causa excludente de culpabilidade prevista no art. 22 do CP, sendo o agente coagido isento de pena, por conta da inexigibilidade de conduta diversa. Convém sinalar que, se a coação for resistível, o coagido responderá pelo delito, tendo a sua pena atenuada, ao passo que o coator terá a sua pena agravada (CP, art. 62, II). Nos termos do art. 22 do CP, se praticar um fato típico e ilícito em obediência a ordem não manifestamente ilegal emanada de superior hierárquico, o agente será isento de pena, diante da exclusão da culpabilidade. No caso, somente o superior hierárquico responderá pelo delito. Todavia, se a ordem for manifestamente ilegal, tanto o superior hierárquico quanto o subordinado responderão pelo crime, incidindo, em relação ao subordinado a atenuante genérica do art. 65, III, c, do CP. O domínio de violenta emoção pode caracterizar causa de diminuição específica, também chamada de privilégio, como, por exemplo, no homicídio doloso (CP, art. 121, § 1º) e nas lesões corporais dolosas (CP, art. 129, § 4º). Todavia, se o agente não estiver sob o do- mínio, mas diante de mera influência, haverá atenuante genérica, e não o privilégio. Além disso, o privilégio exige o requisito temporal “logo em seguida”, o que inexiste para a incidência da atenuante. f) Ter o agente confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime Para a incidência desta atenuante, é necessário a admissão da autoria, sendo irrelevante a demonstração de arrependimento, pois o que a lei pretende é o esclarecimento dos fatos, premiando o agente que coopera espontaneamente para isso com a atenuação da pena. A confissãopode ser parcial, não sendo necessário, por exemplo, alcançar eventual qualificadora. No aspecto temporal, a confissão pode ocorrer até o trânsito em julgado da sentença condenatória. Em relação à incidência da atenuante da confissão espontânea, o STJ sedimentou entendimento no sentido de que o reconhecimento da atenuante independe se a confissão foi integral, parcial, qualificada, meramente voluntária, condicionada, extrajudicial ou posterior- mente retratada, especialmente quando utilizada para fundamentar a condenação. 19 A princípio, não incide a atenuante genérica quando o réu se retrata na fase judicial da confissão realizada na fase inquisitiva. Todavia, conforme entendimento do STJ, se as declarações do réu na fase investigatória, em harmonia com as provas produzidas na fase judicial sob o contraditório, serviram de base para a condenação, incidirá a atenuante da confissão espontânea. É o que se extrai da Súmula nº 545 do STJ: “Quando a confissão for utilizada para a formação do convencimento do julgador, o réu fará jus à atenuante prevista no art.65, III, d, do CP”. Seguindo esse raciocínio, o STJ firmou entendimento no sentido de que, se tratando do delito de tráfico de drogas, para a incidência da atenuante genérica da confissão espontânea, faz-se imprescindível que o agente tenha confessado a traficância, não sendo suficiente a mera admissão da posse da substância entorpecente para consumo pessoal. É o teor da Súmula nº 630 do STJ: “A incidência da atenuante da confissão espontânea no crime de tráfico ilícito de entorpecentes exige o reconhecimento da traficância pelo acusado, não bastando a mera admissão da posse ou propriedade para uso próprio”. g) Ter o agente cometido o crime sob a influência de multidão em tumulto, se não o provocou Trata-se da hipótese de crime multitudinário, como, por exemplo, agressões praticadas por torcidas organizadas em estádios de futebol, protestos em locais públicos. Nesses casos, uma vez identificados os agentes, todos respondem pelo delito. Todavia, considerada a alteração transitória do ânimo do agente, em decorrência do contexto que circunda o crime multitudinário, já que agiu sob influência de outras pessoas em tumulto, o legislador reconheceu a possibilidade da atenuação da pena. h) Circunstâncias atenuantes inominadas - art. 66, CP São circunstâncias que não estão previstas expressamente em lei e que servem de meios diretivos para o juiz aplicar a pena. Exemplo: agente que se encontra desesperado em razão de desemprego ou moléstia grave na família. 1.2.3. Concurso de circunstâncias agravantes e atenuantes genéricas 1.2.3.1. Introdução É possível incidir num mesmo fato a presença de circunstâncias agravantes e circunstâncias atenuantes, resultando no concurso entre as duas. Nesse caso, no momento da fixação da pena, não pode o juiz realizar mera operação aritmética, somando todas as 20 agravantes para depois diminuir das atenuantes, ou simples- mente anular uma circunstância agravante em detrimento de uma atenuante. Isso porque, dependendo da natureza da circunstância, uma poderá predominar em relação a outra, viabilizando, com isso, que, na segunda fase de fixação, a exasperação ou diminuição da pena se aproxime do limite indicado pelas circunstâncias preponderantes. Nesse caso, nos termos do art. 67 do CP, havendo concurso de agravantes e atenuantes, o juiz deve dar preponderância às de natureza subjetiva, calcadas na personalidade do agente, nos motivos determinantes da prática da infração e na reincidência. Assim, se, por exemplo, o agente, reincidente, pratica um crime de roubo, mediante coação moral resistível, o juiz terá de agravar mais do que atenuar a pena, já que a reincidência é circunstância preponderante em relação à atenuante da coação moral resistível. Do mesmo modo, se o agente pratica um crime de furto por relevante valor social contra vítima enferma, o juiz terá de atenuar mais do que agravar a pena, já que o motivo determinante do crime prepondera sobre a agravante relativa a praticar crime contra enfermo. Se as circunstâncias se equivalem, uma neutraliza o efeito agravador ou atenuador da outra. Assim, poderá haver compensação entre a atenuante do motivo de relevante valor moral e a agravante da reincidência, porque ambas são preponderantes. Da mesma forma, poderá haver compensação entre a agravante de ter praticado crime contra enfermo e a atenuante da coação moral resistível, já que nenhuma predomina em relação a outra, uma vez que não estão inseridas no rol do art. 67 do CP. 1.2.3.2. Concurso entre reincidência e confissão espontânea A circunstância atenuante da confissão espontânea não consta expressamente como preponderante no art. 67 do CP, razão pela qual surge a discussão a respeito do seu grau de valoração, sobretudo diante da agravante da reincidência. Para o STF, a confissão espontânea é ato posterior ao cometimento do crime e não tem nenhuma relação com ele, mas, tão somente, com o interesse pessoal e a conveniência do réu durante o desenvolvimento do processo penal, motivo pelo qual não se inclui no caráter subjetivo dos motivos determinantes do crime ou na personalidade do agente. Logo, a 21 agravante da reincidência prepondera sobre a confissão espontânea, já que esta não integra o rol do art. 67 do CP.(STF, RHC no 141519/SC, rel. Min. Marco Aurélio, 1a T., j. 31-8-2020). O STJ adota entendimento diverso, no sentido de que, embora não conste expressamente no art. 67 do CP, a confissão espontânea também é considerada preponderante, uma vez inserida na personalidade do agente, que revelou interesse em contribuir para a elucidação do fato, contribuindo com a administração da justiça. Nesse contexto, o concurso entre a agravante da reincidência e a atenuante da confissão espontânea enseja o afastamento de ambas as circunstâncias, não devendo a pena ser aumentada ou diminuída na segunda fase da dosimetria, havendo, em última análise, a compensação entre a referida agravante e a atenuante. Convém registrar, por pertinente, que, se tratando de réu multirreincidente, que ostenta várias sentenças condenatórias transitadas em julgado, a agravante da reincidência prepondera sobre a atenuante da confissão espontânea, sendo admissível a compensação proporcional entre as circunstâncias, em estrito atendimento aos princípios da individualização da pena e da proporcionalidade.5 Em outras palavras, sendo o réu multirreincidente, o magistrado deverá, na segunda fase da dosimetria, exasperar mais a pena do que diminui-la. 1.2.3.3. Concurso entre reincidência e menoridade relativa Até a entrada em vigor do Código Civil de 2002, havia entendimento pacificado no sentido de que a atenuante da menoridade relativa se revestia de circunstância superpreponderante, já que prevalecia sobre as demais circunstâncias. Com a entrada em vigor no novo Código Civil, a capacidade plena para os atos da vida civil passou a ser adquirida quando a pessoa completar 18 anos, perdendo o sentido o fundamento de que a inexperiência e a falta de maturidade do agente autorizavam tratamento mais brando na dosimetria da pena. Todavia, continua prevalecendo no STJ o entendimento no sentido de que a atenuante da menoridade relativa, por estar inserida na personalidade do réu, se reveste do status de circunstância preponderante. Assim, por exemplo, a atenuante da menoridade relativa é preponderante em relação à agravante do meio que dificultou a defesa da vítima (STJ, HC nº 557839/ES, rel. Min. Ribeiro Dantas, 5ª T., j. 2-6-2020). 22 Além disso, conforme entendimento do STJ, a atenuante da menoridade e a agravante da reincidência, ainda que específica, são circunstâncias legais igualmente preponderantes, sendo devida a compensação integral entre elas, salvo se o condenado for multirreincidente (STJ, AgRg no REsp no 1820568/MT, rel. Min.Laurita Vaz, 6a T., j. 16-6-2020). O STF também adota o entendimento no sentido de que a exegese do disposto no art. 67 do CP impõe a compensação entre a circunstância da agravante da reincidência e atenuante da menoridade, porquanto se cuida de circunstâncias equivalentes (STF, RHC no 174590 AgRg/SC, rel. Min. Luiz Fux, 1a T., j. 20-12-2019). 1.2.4. Terceira fase da aplicação da pena: causas de aumento e de diminuição da pena *Para todos verem: esquema. CAUSAS DE AUMENTO DA PENA/MAJORANTES AFASTAR CAUSAS DE DIMINUIÇÃO DA PENA/MINORANTES APONTAR 1.2.4.1. Diferença entre causas de aumento e de diminuição da pena e circunstâncias qualificadoras Na terceira e última fase de aplicação da pena, o juiz deve considerar as causas de aumento e de diminuição da pena presentes no caso concreto. Tais causas podem estar previstas tanto na Parte Geral do CP quanto na Parte Especial. São causas de facultativo ou obrigatório aumento ou diminuição da sanção penal em quantidade fixada pelo legislador (1/3, 1/6, o dobro, metade, etc). Na parte geral do CP encontramos, por exemplo, as seguintes causas de aumento e de diminuição da pena: arts. 14, parágrafo único; 24, § 2º; 26, parágrafo único; 28, § 2º, 29, §1º; 60, § 1º; 70, caput; 71, caput; 73, 2ª parte, e 74, parte final. Na parte especial, as causas de aumento e de diminuição da pena estão previstas, por exemplo, nos arts. 121, §§ 1º e 4º, 127, entre outros. 23 Qualificadoras são as circunstâncias legais especiais ou específicas previstas na parte especial do CP, que, agregadas à figura típica fundamental, têm função de aumentar a pena. Quando o CP descreve uma qualificadora, expressamente menciona o mínimo e o máximo da pena agravada. Por isso, as qualificadoras são consideradas. Exemplo: art. 121, § 2º (reclusão, de 12 a 30 anos). Quantidade de pena – sistema trifásico 1ª FASE Pena-base 2ª FASE Agravantes e Atenuantes 3ª FASE Majorantes e minorantes As qualificadoras são consideradas na primeira fase de fixação da pena, já que a pena- base leva em conta a pena mínima prevista para o crime qualificado. Por isso, a importância de buscar informações no enunciado para afastar a qualificadora, pois pena será diminuída sensivelmente. Imagine o agente sendo acusado pelo crime de furto qualificado pelo rompimento de obstáculo, nos termos do artigo 155, § 4º, I, do CP, com pena prevista de 2 a 8 anos. Consideremos que o enunciado forneça informações no sentido de que não foi realizada perícia para constatar o rompimento do obstáculo. A consequência será a desclassificação para o crime de furto simples, cuja pena é de 1 a 4 anos. 24 1.3. Regime inicial de cumprimento de pena Ao proferir a sentença condenatória, o juiz deve, após fixar a quantidade de pena, determinar a espécie de regime para início de cumprimento da pena, observando as regras previstas no artigo 33 do Código Penal e os crimes apenados com reclusão e detenção. *Para todos verem: esquema. RECLUSÃO Fechado Semiaberto Aberto https://ceisc.com.br/LINK_PODCAST_AQUI 25 1.3.1. Crimes apenados com reclusão – art. 33, § 2º No momento de proferir a sentença, o juiz, ao se deparar com um crime apenado com reclusão, detém, desde logo, a informação de que poderá fixar o regime inicial de cumprimento da pena fechado, semiaberto e aberto. Deverá, no entanto, observar determinados requisitos: a) Quantidade de pena a) Se o agente for condenado a pena superior a 08 anos deverá começar a cumpri-la em regime fechado; b) o agente não reincidente, cuja pena seja superior a 04 anos e não exceda a 08, poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semiaberto; c) o agente não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 04 anos, poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto. Súmula 269 do STJ: “É admissível a adoção do regime prisional semiaberto aos reincidentes condenados à pena igual ou inferior a 04 anos se favoráveis as circunstâncias judiciais”. REGIME FECHADO + 08 ANOS REGIME SEMIABERTO + 04 ANOS até 08 ANOS PRIMÁRIO REGIME ABERTO - 04 ANOS PRIMÁRIO/Súmula 269 STJ b) Circunstâncias judiciais para fixação do regime carcerário Nesse ponto, merecem, ainda, destaque as Súmulas nos 718, 719 do STF e 440 do STJ. DETENÇÃO Semiaberto Aberto 26 Súmula 718 do STF: A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime não constitui motivação idônea para a imposição de regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicada. Súmula 719 do STF: “a imposição do regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada permitir exige motivação idônea”. Súmula 440 do STJ: “Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento de regime prisional mais gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, com base apenas na gravidade abstrata do delito”. 1.3.2. Crimes apenados com detenção a) Se a pena for superior a 04 anos: inicia em regime semiaberto. b) Se a pena for igual ou inferior a 04 anos: inicia em regime aberto c) Se o condenado for reincidente: inicia no regime mais gravoso existente, ou seja, no semiaberto. d) Se as circunstâncias do art. 59 do Código Penal forem desfavoráveis ao condenado: inicia no regime mais gravoso existente, ou seja, no regime semiaberto. e) importante: não existe regime inicial fechado na pena de detenção (art. 33, caput), a qual começa obrigatoriamente em regime semiaberto ou aberto. REGIME SEMIABERTO + 04 ANOS até 08 ANOS REGIME ABERTO - 04 ANOS PRIMÁRIO Convém assinalar que, em qualquer caso, o período em que o agente esteve preso provisoriamente deve ser computado para a fixação do regime inicial de cumprimento da pena, conforme prevê o artigo 387, § 2º, do CPP. Consideremos que o agente tenha ficado preso provisoriamente pelo período de 6 meses, sendo, ao final, condenado à pena de oito anos e quatro meses de reclusão. Num primeiro momento, o total da pena aplicada indica a imposição do regime inicial fechado, já que superior a oito anos. Todavia, considerando o período de prisão provisória, a pena ficaria em 7 27 anos e 10 meses, sendo possível cogitar da hipótese de fixação do regime inicial semiaberto, se o condenado for primário e as circunstâncias judiciais favoráveis. 1.3.3. Regime inicial nos crimes hediondos e equiparados Conforme prevê o artigo 2º, § 1º, da Lei 8.072/90 (Lei dos Crimes Hediondos), os condenados por crimes hediondos, tráfico ilícito de entorpecentes, terrorismo e tortura devem necessariamente iniciar o cumprimento da pena em regime fechado, mesmo sendo a pena imposta inferior a 08 anos. Ocorre, contudo, que, no dia 27 de junho de 2012, o STF, por oito votos contra três, declarou inconstitucional tal dispositivo, por considerar que a obrigatoriedade do regime inicial fechado viola o princípio constitucional da individualização da pena, previsto no artigo 5º, XLVI, CF/88. (HC 111.840/ES e Informativo 670). 1.4. Das penas restritivas de direitos 1.4.1 Natureza jurídica As penas restritivas de direito são autônomas e substitutivas, conforme dispõe o art. 44 do CP. São substitutivas porque derivam de permuta que se faz após a aplicação, na sentença condenatória, da pena privativa de liberdade. https://ceisc.com.br/LINK_PODCAST_AQUI 28 São autônomas porque subsistem por si mesmas após a substituição. Isso significa que não são acessórias à pena de prisão. 1.4.2. Requisitos objetivos 1.4.2.1. Em relação aos crimes dolosos a) Quantidade da pena aplicada O legislador estabeleceu como parâmetro para a concessão da pena restritiva de direitos a pena aplicada na sentença, sendo irrelevante apena abstratamente cominada no preceito secundário do tipo penal. Em outras palavras, deve-se considerar a pena aplicada na sentença, independentemente da pena prevista no tipo penal. E, nesse particular, em relação aos crimes dolosos praticados sem violência ou grave ameaça à pessoa, será possível a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, desde que a pena aplicada na sentença não seja superior a quatro anos (CP, art. 44, I, primeira parte). Tratando-se de concurso de crimes, deve-se levar em conta o total da pena imposta, considerando os critérios do cúmulo material ou exasperação da pena. Dessa forma, se aplicadas as regras do concurso material, concurso formal ou crime continuado, o total da pena privativa de liberdade efetivamente imposta exceder a quatro anos, não será possível a substituição por pena alternativa. b) Natureza do crime cometido As penas restritivas de direitos são aplicáveis aos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa. Convém deixar bem registrado que a violência que impede a medida alternativa é aquela cometida contra a pessoa, e não contra o próprio objeto. Assim, se, por exemplo, o agente praticar o crime de furto qualificado mediante destruição de obstáculo (CP, art. 155, § 4º, I), será possível a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, se preenchidos os demais requisitos, já que a violência empregada não foi contra pessoa, mas contra o obstáculo que separava o agente da coisa alheia móvel que pretendia subtrair. 1.4.2.2 Em relação aos crimes culposos a) Quantidade da pena aplicada A limitação da pena aplicada na sentença até 4 anos restringe-se aos crimes dolosos. Em relação aos crimes culposos, será possível a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos qualquer que seja a pena aplicada (CP, art. 44, I, parte final). 29 Assim, se, por exemplo, um condutor de veículo, de forma imprudente, em razão do excesso de velocidade, atropela e mata duas pessoas, que estavam caminhando sobre a calçada, sendo processado e condenado pela prática de dois crimes de homicídio culposo na condução de veículo automotor (CTB, art. 302, § 1º, II), em concurso formal de crimes, com pena final acomodada em quatro anos e seis meses de detenção em regime semiaberto, poderá, em tese, ter a pena privativa de liberdade substituída por pena restritiva de direitos, ainda que a pena final tenha ficado acima de quatro anos. Exceção: O legislador, por meio da Lei no 14.071/2020 introduziu importante alteração no Código de Trânsito Brasileiro, sobretudo no que diz respeito à impossibilidade de substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos no crime de homicídio culposo na condução de veículo automotor e lesão corporal culposa na condução de veículo automotor, sob a influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência. Com efeito, nos termos do art. 312-B do CTB: “Aos crimes previstos no § 3º do art. 302 e no § 2º do art. 303 deste Código não se aplica o disposto no inciso I do caput do art. 44 do Decreto-lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal)”. Agora, com a alteração legislativa, veda-se por absoluto a possibilidade de pena restritiva de direitos para as hipóteses dos arts. 302, § 3º, e 303, § 2º, do CTB. Assim, o agente que conduzir veículo automotor sob influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência, causando morte ou lesão corporal de natureza grave ou gravíssima deverá cumprir a pena privativa de liberdade imposta na sentença condenatória. Cuidado: se resultar lesão corporal leve, será possível a substituição por pena restritiva de direitos. b) Natureza do crime cometido Em relação aos crimes dolosos, somente será possível a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, se praticados sem violência ou grave ameaça. Em relação aos crimes culposos, diversamente, será possível a substituição por pena alternativa, ainda que da conduta do agente decorra resultado com desfecho violento. Isso porque, embora a conduta tenha sido voluntária, o resultado provocado pelo agente não era desejado, ou seja, não agiu com o desiderato de praticar crime violento, produzindo tal resultado por conta da inobservância do dever de cuidado objetivo. 30 1.4.3. Requisitos subjetivos Nos termos do art. 44, II, do CP, para concessão do benefício, é necessário que o sujeito não seja reincidente em crime doloso. O texto não trata de qualquer reincidente. Refere-se ao não reincidente em crime “doloso”, de modo que não há impedimento à aplicação da pena alternativa quando: a) os dois delitos são culposos; b) o anterior é culposo e o posterior é doloso; c) o anterior é doloso e o posterior culposo. Imaginemos a seguinte situação: Carlos foi denunciado pela prática de um crime de estelionato (CP, art. 171, caput), constando em sua Folha de Antecedentes Criminais uma única condenação anterior, definitiva, oriunda de sentença publicada quatro anos antes, pela prática do crime de lesão corporal culposa praticada na direção de veículo automotor (CTB, art. 303). Ao final do regular procedimento, o Magistrado, após fixar a pena privativa de liberdade não superior a quatro anos, poderá substitui-la por duas penas restritivas de direitos, já que, embora reincidente, o condenado não o é em crime doloso, uma vez que a condenação definitiva anterior foi por crime culposo. Essa regra, comporta exceção, que está prevista no art. 44, § 3º, do CP. Ainda que o réu seja reincidente em crime doloso, se, em face de condenação anterior, a medida for socialmente recomendável e a reincidência não se tenha operado em virtude da prática do mesmo crime, será possível aplicar a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. Vê-se, pois, que, além dos requisitos anteriores, há outros dois que devem ser preenchidos cumulativamente: a) a medida seja socialmente recomendável; b) não ser reincidente específico. A verificação da medida socialmente recomendável depende da análise subjetiva do Magistrado, que, considerando os elementos do caso concreto, como as circunstâncias em que o delito foi praticado e as características pessoais e sociais do agente, formará seu convencimento acerca da conveniência da aplicação da pena alternativa. Assim, se, por exemplo, embora reincidente, o agente demonstre exercer atividade lícita, ser provedor da família, verificando-se, ainda, em face do crime anterior, não se tratar de pessoa com personalidade agressiva ou voltada para o crime, pode-se aventar a possibilidade de ser socialmente recomendável a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. Além de ser socialmente recomendável, o réu não pode ser reincidente específico, ou seja, pela prática do mesmo crime. 31 Sedimentando posição jurisprudencial, a Terceira Seção do STJ delimitou o alcance da vedação imposta no artigo 44, § 3º, do CP à reincidência pela prática do mesmo crime, assim entendidos aqueles previstos no mesmo tipo penal, não alcançando, portanto, os crimes de mesma espécie, previstos em tipos penais distintos, mas que atacam o mesmo bem jurídico. Assim, se, por exemplo, o agente ostenta sentença condenatória definitiva pelo crime de estelionato (CP, art. 171) e comete novo crime, agora de furto (CP, art. 155), será reincidente, mas não específico pelo mesmo crime, viabilizando, em tese, a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. Por outro lado, se o agente ostenta sentença condenatória definitiva pelo crime de estelionato (CP, art. 171) e comete novo crime de estelionato (CP, art. 171), será reincidente específico pela prática do mesmo crime, inviabilizando, por absoluto, a substituição da pena privativa de liberdade porLaurita Vaz, 6a T., j. 16-6-2020). O STF também adota o entendimento no sentido de que a exegese do disposto no art. 67 do CP impõe a compensação entre a circunstância da agravante da reincidência e atenuante da menoridade, porquanto se cuida de circunstâncias equivalentes (STF, RHC no 174590 AgRg/SC, rel. Min. Luiz Fux, 1a T., j. 20-12-2019). 1.2.4. Terceira fase da aplicação da pena: causas de aumento e de diminuição da pena *Para todos verem: esquema. CAUSAS DE AUMENTO DA PENA/MAJORANTES AFASTAR CAUSAS DE DIMINUIÇÃO DA PENA/MINORANTES APONTAR 1.2.4.1. Diferença entre causas de aumento e de diminuição da pena e circunstâncias qualificadoras Na terceira e última fase de aplicação da pena, o juiz deve considerar as causas de aumento e de diminuição da pena presentes no caso concreto. Tais causas podem estar previstas tanto na Parte Geral do CP quanto na Parte Especial. São causas de facultativo ou obrigatório aumento ou diminuição da sanção penal em quantidade fixada pelo legislador (1/3, 1/6, o dobro, metade, etc). Na parte geral do CP encontramos, por exemplo, as seguintes causas de aumento e de diminuição da pena: arts. 14, parágrafo único; 24, § 2º; 26, parágrafo único; 28, § 2º, 29, §1º; 60, § 1º; 70, caput; 71, caput; 73, 2ª parte, e 74, parte final. Na parte especial, as causas de aumento e de diminuição da pena estão previstas, por exemplo, nos arts. 121, §§ 1º e 4º, 127, entre outros. 23 Qualificadoras são as circunstâncias legais especiais ou específicas previstas na parte especial do CP, que, agregadas à figura típica fundamental, têm função de aumentar a pena. Quando o CP descreve uma qualificadora, expressamente menciona o mínimo e o máximo da pena agravada. Por isso, as qualificadoras são consideradas. Exemplo: art. 121, § 2º (reclusão, de 12 a 30 anos). Quantidade de pena – sistema trifásico 1ª FASE Pena-base 2ª FASE Agravantes e Atenuantes 3ª FASE Majorantes e minorantes As qualificadoras são consideradas na primeira fase de fixação da pena, já que a pena- base leva em conta a pena mínima prevista para o crime qualificado. Por isso, a importância de buscar informações no enunciado para afastar a qualificadora, pois pena será diminuída sensivelmente. Imagine o agente sendo acusado pelo crime de furto qualificado pelo rompimento de obstáculo, nos termos do artigo 155, § 4º, I, do CP, com pena prevista de 2 a 8 anos. Consideremos que o enunciado forneça informações no sentido de que não foi realizada perícia para constatar o rompimento do obstáculo. A consequência será a desclassificação para o crime de furto simples, cuja pena é de 1 a 4 anos. 24 1.3. Regime inicial de cumprimento de pena Ao proferir a sentença condenatória, o juiz deve, após fixar a quantidade de pena, determinar a espécie de regime para início de cumprimento da pena, observando as regras previstas no artigo 33 do Código Penal e os crimes apenados com reclusão e detenção. *Para todos verem: esquema. RECLUSÃO Fechado Semiaberto Aberto https://ceisc.com.br/LINK_PODCAST_AQUI 25 1.3.1. Crimes apenados com reclusão – art. 33, § 2º No momento de proferir a sentença, o juiz, ao se deparar com um crime apenado com reclusão, detém, desde logo, a informação de que poderá fixar o regime inicial de cumprimento da pena fechado, semiaberto e aberto. Deverá, no entanto, observar determinados requisitos: a) Quantidade de pena a) Se o agente for condenado a pena superior a 08 anos deverá começar a cumpri-la em regime fechado; b) o agente não reincidente, cuja pena seja superior a 04 anos e não exceda a 08, poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semiaberto; c) o agente não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 04 anos, poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto. Súmula 269 do STJ: “É admissível a adoção do regime prisional semiaberto aos reincidentes condenados à pena igual ou inferior a 04 anos se favoráveis as circunstâncias judiciais”. REGIME FECHADO + 08 ANOS REGIME SEMIABERTO + 04 ANOS até 08 ANOS PRIMÁRIO REGIME ABERTO - 04 ANOS PRIMÁRIO/Súmula 269 STJ b) Circunstâncias judiciais para fixação do regime carcerário Nesse ponto, merecem, ainda, destaque as Súmulas nos 718, 719 do STF e 440 do STJ. DETENÇÃO Semiaberto Aberto 26 Súmula 718 do STF: A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime não constitui motivação idônea para a imposição de regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicada. Súmula 719 do STF: “a imposição do regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada permitir exige motivação idônea”. Súmula 440 do STJ: “Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento de regime prisional mais gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, com base apenas na gravidade abstrata do delito”. 1.3.2. Crimes apenados com detenção a) Se a pena for superior a 04 anos: inicia em regime semiaberto. b) Se a pena for igual ou inferior a 04 anos: inicia em regime aberto c) Se o condenado for reincidente: inicia no regime mais gravoso existente, ou seja, no semiaberto. d) Se as circunstâncias do art. 59 do Código Penal forem desfavoráveis ao condenado: inicia no regime mais gravoso existente, ou seja, no regime semiaberto. e) importante: não existe regime inicial fechado na pena de detenção (art. 33, caput), a qual começa obrigatoriamente em regime semiaberto ou aberto. REGIME SEMIABERTO + 04 ANOS até 08 ANOS REGIME ABERTO - 04 ANOS PRIMÁRIO Convém assinalar que, em qualquer caso, o período em que o agente esteve preso provisoriamente deve ser computado para a fixação do regime inicial de cumprimento da pena, conforme prevê o artigo 387, § 2º, do CPP. Consideremos que o agente tenha ficado preso provisoriamente pelo período de 6 meses, sendo, ao final, condenado à pena de oito anos e quatro meses de reclusão. Num primeiro momento, o total da pena aplicada indica a imposição do regime inicial fechado, já que superior a oito anos. Todavia, considerando o período de prisão provisória, a pena ficaria em 7 27 anos e 10 meses, sendo possível cogitar da hipótese de fixação do regime inicial semiaberto, se o condenado for primário e as circunstâncias judiciais favoráveis. 1.3.3. Regime inicial nos crimes hediondos e equiparados Conforme prevê o artigo 2º, § 1º, da Lei 8.072/90 (Lei dos Crimes Hediondos), os condenados por crimes hediondos, tráfico ilícito de entorpecentes, terrorismo e tortura devem necessariamente iniciar o cumprimento da pena em regime fechado, mesmo sendo a pena imposta inferior a 08 anos. Ocorre, contudo, que, no dia 27 de junho de 2012, o STF, por oito votos contra três, declarou inconstitucional tal dispositivo, por considerar que a obrigatoriedade do regime inicial fechado viola o princípio constitucional da individualização da pena, previsto no artigo 5º, XLVI, CF/88. (HC 111.840/ES e Informativo 670). 1.4. Das penas restritivas de direitos 1.4.1 Natureza jurídica As penas restritivas de direito são autônomas e substitutivas, conforme dispõe o art. 44 do CP. São substitutivas porque derivam de permuta que se faz após a aplicação, na sentença condenatória, da pena privativa de liberdade. https://ceisc.com.br/LINK_PODCAST_AQUI 28 São autônomas porque subsistem por si mesmas após a substituição. Isso significa que não são acessórias à pena de prisão. 1.4.2. Requisitos objetivos 1.4.2.1. Em relação aos crimes dolosos a) Quantidade da pena aplicada O legislador estabeleceu como parâmetro para a concessão da pena restritiva de direitos a pena aplicada na sentença, sendo irrelevante apena abstratamente cominada no preceito secundário do tipo penal. Em outras palavras, deve-se considerar a pena aplicada na sentença, independentemente da pena prevista no tipo penal. E, nesse particular, em relação aos crimes dolosos praticados sem violência ou grave ameaça à pessoa, será possível a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, desde que a pena aplicada na sentença não seja superior a quatro anos (CP, art. 44, I, primeira parte). Tratando-se de concurso de crimes, deve-se levar em conta o total da pena imposta, considerando os critérios do cúmulo material ou exasperação da pena. Dessa forma, se aplicadas as regras do concurso material, concurso formal ou crime continuado, o total da pena privativa de liberdade efetivamente imposta exceder a quatro anos, não será possível a substituição por pena alternativa. b) Natureza do crime cometido As penas restritivas de direitos são aplicáveis aos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa. Convém deixar bem registrado que a violência que impede a medida alternativa é aquela cometida contra a pessoa, e não contra o próprio objeto. Assim, se, por exemplo, o agente praticar o crime de furto qualificado mediante destruição de obstáculo (CP, art. 155, § 4º, I), será possível a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, se preenchidos os demais requisitos, já que a violência empregada não foi contra pessoa, mas contra o obstáculo que separava o agente da coisa alheia móvel que pretendia subtrair. 1.4.2.2 Em relação aos crimes culposos a) Quantidade da pena aplicada A limitação da pena aplicada na sentença até 4 anos restringe-se aos crimes dolosos. Em relação aos crimes culposos, será possível a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos qualquer que seja a pena aplicada (CP, art. 44, I, parte final). 29 Assim, se, por exemplo, um condutor de veículo, de forma imprudente, em razão do excesso de velocidade, atropela e mata duas pessoas, que estavam caminhando sobre a calçada, sendo processado e condenado pela prática de dois crimes de homicídio culposo na condução de veículo automotor (CTB, art. 302, § 1º, II), em concurso formal de crimes, com pena final acomodada em quatro anos e seis meses de detenção em regime semiaberto, poderá, em tese, ter a pena privativa de liberdade substituída por pena restritiva de direitos, ainda que a pena final tenha ficado acima de quatro anos. Exceção: O legislador, por meio da Lei no 14.071/2020 introduziu importante alteração no Código de Trânsito Brasileiro, sobretudo no que diz respeito à impossibilidade de substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos no crime de homicídio culposo na condução de veículo automotor e lesão corporal culposa na condução de veículo automotor, sob a influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência. Com efeito, nos termos do art. 312-B do CTB: “Aos crimes previstos no § 3º do art. 302 e no § 2º do art. 303 deste Código não se aplica o disposto no inciso I do caput do art. 44 do Decreto-lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal)”. Agora, com a alteração legislativa, veda-se por absoluto a possibilidade de pena restritiva de direitos para as hipóteses dos arts. 302, § 3º, e 303, § 2º, do CTB. Assim, o agente que conduzir veículo automotor sob influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência, causando morte ou lesão corporal de natureza grave ou gravíssima deverá cumprir a pena privativa de liberdade imposta na sentença condenatória. Cuidado: se resultar lesão corporal leve, será possível a substituição por pena restritiva de direitos. b) Natureza do crime cometido Em relação aos crimes dolosos, somente será possível a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, se praticados sem violência ou grave ameaça. Em relação aos crimes culposos, diversamente, será possível a substituição por pena alternativa, ainda que da conduta do agente decorra resultado com desfecho violento. Isso porque, embora a conduta tenha sido voluntária, o resultado provocado pelo agente não era desejado, ou seja, não agiu com o desiderato de praticar crime violento, produzindo tal resultado por conta da inobservância do dever de cuidado objetivo. 30 1.4.3. Requisitos subjetivos Nos termos do art. 44, II, do CP, para concessão do benefício, é necessário que o sujeito não seja reincidente em crime doloso. O texto não trata de qualquer reincidente. Refere-se ao não reincidente em crime “doloso”, de modo que não há impedimento à aplicação da pena alternativa quando: a) os dois delitos são culposos; b) o anterior é culposo e o posterior é doloso; c) o anterior é doloso e o posterior culposo. Imaginemos a seguinte situação: Carlos foi denunciado pela prática de um crime de estelionato (CP, art. 171, caput), constando em sua Folha de Antecedentes Criminais uma única condenação anterior, definitiva, oriunda de sentença publicada quatro anos antes, pela prática do crime de lesão corporal culposa praticada na direção de veículo automotor (CTB, art. 303). Ao final do regular procedimento, o Magistrado, após fixar a pena privativa de liberdade não superior a quatro anos, poderá substitui-la por duas penas restritivas de direitos, já que, embora reincidente, o condenado não o é em crime doloso, uma vez que a condenação definitiva anterior foi por crime culposo. Essa regra, comporta exceção, que está prevista no art. 44, § 3º, do CP. Ainda que o réu seja reincidente em crime doloso, se, em face de condenação anterior, a medida for socialmente recomendável e a reincidência não se tenha operado em virtude da prática do mesmo crime, será possível aplicar a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. Vê-se, pois, que, além dos requisitos anteriores, há outros dois que devem ser preenchidos cumulativamente: a) a medida seja socialmente recomendável; b) não ser reincidente específico. A verificação da medida socialmente recomendável depende da análise subjetiva do Magistrado, que, considerando os elementos do caso concreto, como as circunstâncias em que o delito foi praticado e as características pessoais e sociais do agente, formará seu convencimento acerca da conveniência da aplicação da pena alternativa. Assim, se, por exemplo, embora reincidente, o agente demonstre exercer atividade lícita, ser provedor da família, verificando-se, ainda, em face do crime anterior, não se tratar de pessoa com personalidade agressiva ou voltada para o crime, pode-se aventar a possibilidade de ser socialmente recomendável a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. Além de ser socialmente recomendável, o réu não pode ser reincidente específico, ou seja, pela prática do mesmo crime. 31 Sedimentando posição jurisprudencial, a Terceira Seção do STJ delimitou o alcance da vedação imposta no artigo 44, § 3º, do CP à reincidência pela prática do mesmo crime, assim entendidos aqueles previstos no mesmo tipo penal, não alcançando, portanto, os crimes de mesma espécie, previstos em tipos penais distintos, mas que atacam o mesmo bem jurídico. Assim, se, por exemplo, o agente ostenta sentença condenatória definitiva pelo crime de estelionato (CP, art. 171) e comete novo crime, agora de furto (CP, art. 155), será reincidente, mas não específico pelo mesmo crime, viabilizando, em tese, a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. Por outro lado, se o agente ostenta sentença condenatória definitiva pelo crime de estelionato (CP, art. 171) e comete novo crime de estelionato (CP, art. 171), será reincidente específico pela prática do mesmo crime, inviabilizando, por absoluto, a substituição da pena privativa de liberdade porrestritiva de direitos. A culpabilidade, os antecedentes, a conduta ou a personalidade ou, ainda, os motivos e circunstâncias recomendarem a substituição Convém notar que esses requisitos constituem uma repetição das circunstâncias constantes do art. 59, caput, do CP, salvo duas: comportamento da vítima e consequências do crime, coincidentemente as únicas de natureza objetiva. 1.4.4. Substituição da pena restritiva x tráfico ilícito de entorpecentes Em relação ao tráfico ilícito de entorpecentes, o descabimento da substituição da prisão por penas restritivas de direito encontra-se expresso no art. 44 da Lei nº 11.343/2006. Todavia, em setembro de 2010, ao julgar o HC 97.256, o STF declarou inconstitucional essa restrição contida na Lei de Drogas. A propósito, o Senado editou a resolução nº 5º, suspendendo a execução da expressão que vedava a conversão em penas restritivas de direitos nos crimes de tráfico ilícito de entorpecentes, conferindo caráter erga omnes à decisão proferida pelo STF. Logo, se preenchidos os requisitos do artigo 44 do CP, sobretudo diante da pena aplicada não superior a 4 anos, em face da redução da pena prevista no artigo 33, § 4º, da Lei 11.343/2006, será possível a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. 32 1.5. Suspensão condicional da execução da pena (sursis) 1.5.1. Conceito Trata-se de um instituto de política criminal, tendo por fim a suspensão da execução da pena privativa de liberdade, evitando o recolhimento ao cárcere do condenado não reincidente, cuja pena não seja superior a 02 anos (ou 04, se septuagenário ou enfermo), sob determinadas condições, fixadas pelo juiz, bem como dentro de período de prova predefinido. 1.5.2. Requisitos objetivos: a) Natureza da pena Quanto à natureza da pena, somente a pena privativa de liberdade, seja reclusão, seja detenção, admite suspensão. As penas restritivas de direitos e a multa não permitem o sursis (CP, art. 80). https://ceisc.com.br/LINK_PODCAST_AQUI 33 b) Quantidade da pena O segundo requisito de ordem objetiva diz respeito à quantidade da pena privativa de liberdade: não pode ser superior a 02 anos, ainda que resulte, no concurso de crimes, de sanções inferiores a ela. Tratando-se, entretanto, de condenado maior de setenta anos de idade, poderá ser suspensa a pena privativa de liberdade não superior a 04 anos (CP, art. 77, § 2º). c) Impossibilidade de substituição por pena restritiva de direitos Somente se aplica o sursis caso não caiba substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. Portanto, somente em casos excepcionais, quando não for cabível a referida substituição, como, por exemplo, quando se tratar de crimes violentos contra a pessoa, como a lesão corporal – pode o juiz aplicar o sursis. Verifica-se, pois, que as hipóteses de incidência do sursis são bem mais restritas, girando, basicamente, em torno das seguintes situações: Crimes dolosos cometidos mediante violência ou grave ameaça, cuja pena aplicada seja igual ou inferior a dois anos, ou, no caso dos sursis etário ou humanitário, pena aplicada igual ou inferior a quatro anos. Por se tratar de crime praticado com violência ou grave ameaça, não cabe a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, diante da vedação prevista no art. 44, I, do CP. 1.5.3. Requisitos Subjetivos a) Condenado não reincidente em crime doloso Nem toda reincidência impede a concessão do sursis, mas tão somente a reincidência em crime doloso. Isso quer dizer que a condenação anterior, mesmo definitiva, por crime culposo ou simples contravenção, por si só, não é causa impeditiva da suspensão condicional da pena. Convém sinalar, por pertinente, que a reincidência, ainda que por crime doloso, em decorrência de anterior condenação a pena exclusivamente de multa, não impede a concessão do sursis (CP, art. 77, § 1º). É o que se extrai da Súmula nº 499 do STF: “Não obsta à concessão do sursis condenação anterior à pena de multa”. 34 b) Circunstâncias judiciais favoráveis ao agente Nos termos do artigo 77, II, do CP, cabe os sursis se a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias autorizarem a concessão do benefício. Diferença suspensão condicional da pena e suspensão condicional do processo ° X 35 1.6 Exercícios para resolver após aula 1) QUESTÃO 3 – XXXI Exame da OAB – 2021-02 Carlos, 43 anos, foi flagrado, no dia 10 de março de 2014, transportando arma de fogo de uso permitido. Foi denunciado, processado e condenado à pena de 02 anos de reclusão, a ser cumprida em regime aberto, e multa de 10 dias, à razão unitária mínima, sendo a pena privativa de liberdade substituída por duas penas restritivas de direitos, consistentes em prestação de serviços à comunidade e limitação de final de semana. A decisão transitou em julgado, para ambas as partes, em 25 de novembro de 2015. Após a condenação definitiva, Carlos conseguiu emprego fixo em cidade diferente daquela em que morava e fora condenado, para onde se mudou, deixando de comunicar tal fato ao juizo respectivo, não sendo encontrado no endereço constante nos autos para dar início à execução da pena. Por tal motivo, o juiz, provocado pelo Ministério Público converteu, de imediato, as penas restritivas de direitos em pena privativa de https://ceisc.com.br/LINK_PODCAST_AQUI 36 liberdade, determinando a expedição de mandado de prisão. A ordem de prisão foi cumprida em 20 de dezembro de 2019, quando Carlos foi ao DETRAN/RJ objetivando a renovação de sua habilitação, certo que, após aquele fato, nunca se envolveu em qualquer outro ilícito penal. Desesperada, a família procura você, na condição de advogado(a), para a adoção das medidas cabíveis. Considerando a situação apresentada, responda, na condição de advogado(a) de Carlos, aos itens a seguir. A) Para questionar a decisão do magistrado de converter a pena restritiva de direitos em privativa de liberdade e expedir mandado de prisão, qual o argumento de direito processual a ser apresentado? Justifique. (Valor: 0,60) B) Existe argumento de direito material a ser apresentado para evitar que Carlos cumpra a sanção penal imposta na sentença? Justifique. (Valor: 0,65) Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não confere pontuação. 37 Padrão Resposta 38 1) QUESTÃO 3 – XXXI Exame Carlos, 43 anos, foi flagrado, no dia 10 de março de 2014, transportando arma de fogo de uso permitido. Foi denunciado, processado e condenado à pena de 02 anos de reclusão, a ser cumprida em regime aberto, e multa de 10 dias, à razão unitária mínima, sendo a pena privativa de liberdade substituída por duas penas restritivas de direitos, consistentes em prestação de serviços à comunidade e limitação de final de semana. A decisão transitou em julgado, para ambas as partes, em 25 de novembro de 2015. Após a condenação definitiva, Carlos conseguiu emprego fixo em cidade diferente daquela em que morava e fora condenado, para onde se mudou, deixando de comunicar tal fato ao juizo respectivo, não sendo encontrado no endereço constante nos autos para dar início à execução da pena. Por tal motivo, o juiz, provocado pelo Ministério Público converteu, de imediato, as penas restritivas de direitos em pena privativa de liberdade, determinando a expedição de mandado de prisão. A ordem de prisão foi cumprida em 20 de dezembro de 2019, quando Carlos foi ao DETRAN/RJ objetivando a renovação de sua habilitação, certo que, após aquele fato, nunca se envolveu em qualquer outro ilícitopenal. Desesperada, a família procura você, na condição de advogado(a), para a adoção das medidas cabíveis. Considerando a situação apresentada, responda, na condição de advogado(a) de Carlos, aos itens a seguir. A) Para questionar a decisão do magistrado de converter a pena restritiva de direitos em privativa de liberdade e expedir mandado de prisão, qual o argumento de direito processual a ser apresentado? Justifique. (Valor: 0,60) B) Existe argumento de direito material a ser apresentado para evitar que Carlos cumpra a sanção penal imposta na sentença? Justifique. (Valor: 0,65) Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não confere pontuação GABARITO COMENTADO Narra o enunciado que Carlos foi condenado definitivamente ao cumprimento da pena privativa de liberdade de 02 anos, em regime inicial aberto, substituída por duas restritivas de direito. Todavia, Carlos se mudou sem informar ao juízo e acabou por não dar início ao cumprimento da pena restritiva de direito imposta, de modo que o magistrado converteu a PRD em pena privativa de liberdade, após requerimento do Ministério Público. 39 A) A Pena Restritiva de Direito (PRD), em caso de descumprimento, poderá ser convertida em privativa de liberdade, desde que o descumprimento seja injustificado, nos termos do Art. 44, § 4º, do CP. Exatamente pela exigência de que o descumprimento seja injustificado que deve o apenado ser intimado para manifestação, em especial para esclarecer os motivos pelos quais não vem cumprindo a PRD imposta. Não se controverte que para garantir a efetividade das penas restritivas de direitos, faz-se necessária a existência de regras rígidas no sentido de que o seu descumprimento acarrete uma consequência rigorosa para o condenado faltoso. Assim, é prevista a conversão da PRD em PPL quando do seu descumprimento injustificado. Desta forma, antes da conversão, a defesa deve ser intimada para justificar aquele descumprimento, não podendo ser abandonados os princípios do contraditório e da ampla defesa. Na hipótese, a conversão ocorreu sem a oitiva da defesa previamente, o que acarreta a nulidade da decisão respectiva. B) Sim, o argumento é o de que ocorreu prescrição da pretensão executória, de modo que deve ser reconhecida a extinção da punibilidade do agente. Transitada em julgado a decisão condenatória, se inicia o prazo da prescrição da pretensão executória, que tem por base a pena aplicada, nos termos do Art. 110 do CP. Na hipótese, foi aplicada a pena de 02 anos de reclusão, de modo que o prazo prescricional é de 04 anos, com base no Art. 109, inciso V, do CP. Entre a data do trânsito em julgado (25/11/15) e a data da prisão de Carlos (20/12/19) foi ultrapassado o prazo prescricional de 04 anos. Assim, deverá ser declarada extinta a punibilidade pela prescrição da pretensão executória, nos termos do Art. 107, inciso IV, do CP. 40