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Integridade: Pilar Ético da Governança e da Sustentabilidade Organizacional Introdução A integridade tem se consolidado como um valor essencial no contexto das organizações contemporâneas, sejam elas públicas ou privadas. Em tempos de crescente complexidade normativa, avanço tecnológico e vigilância social ampliada, as instituições são cada vez mais cobradas por condutas transparentes, éticas e responsáveis. A integridade, nesse sentido, transcende o mero cumprimento de normas legais, representando um compromisso ético com a honestidade, a justiça e a coerência entre discurso e prática. Sua presença no ambiente organizacional fortalece a confiança, a reputação institucional e a sustentabilidade das ações. Este artigo tem como objetivo discutir o conceito de integridade, suas implicações na gestão organizacional e seu papel como base da governança ética e do desenvolvimento sustentável. Desenvolvimento Do ponto de vista etimológico, a palavra “integridade” deriva do latim integritas, que remete à ideia de totalidade, inteireza e incorruptibilidade. No contexto organizacional, esse conceito se associa à conduta ética, transparente e coerente de indivíduos e instituições, especialmente no trato com recursos públicos, relações comerciais e responsabilidade social. Uma organização íntegra é aquela que age de acordo com seus valores, cumpre suas promessas e trata seus stakeholders com respeito, justiça e equidade. A integridade tem ganhado destaque nas últimas décadas, especialmente após escândalos corporativos que expuseram falhas éticas graves em empresas multinacionais e órgãos públicos. Casos como o da Enron, no início dos anos 2000, ou a Operação Lava Jato no Brasil, mostraram os impactos devastadores da ausência de integridade nas lideranças e nos processos organizacionais. Tais episódios resultaram em perdas financeiras, demissões em massa, colapsos institucionais e danos irreparáveis à confiança social. Como resposta, surgiram legislações mais rigorosas e um movimento global pela integridade, especialmente no setor público. No Brasil, esse movimento foi intensificado a partir da Lei nº 12.846/2013, conhecida como Lei Anticorrupção, que estabelece a responsabilidade objetiva das empresas por atos de corrupção. A partir dela, diversas organizações públicas e privadas passaram a adotar programas de integridade, também conhecidos como programas de compliance, como forma de prevenir, detectar e remediar práticas ilícitas ou antiéticas. Tais programas devem contemplar mecanismos como códigos de conduta, canais de denúncia, treinamentos e estruturas de governança que promovam uma cultura organizacional íntegra. No setor público, a integridade é considerada um dos pilares da boa governança e está diretamente relacionada à legitimidade das instituições democráticas. Um Estado íntegro é aquele que respeita os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência — como previsto no artigo 37 da Constituição Federal de 1988. Além disso, deve garantir a gestão correta dos recursos públicos, combater a corrupção e atuar com responsabilidade fiscal e social. A promoção da integridade no serviço público é fundamental para a construção de políticas públicas eficazes, a confiança do cidadão e a consolidação do interesse público como finalidade maior da administração. A implantação de programas de integridade no setor público, conforme previsto em normativos como a Instrução Normativa CGU nº 05/2017, tem como objetivo estabelecer medidas que reforcem a ética, a transparência e a prevenção de irregularidades nos órgãos e entidades governamentais. Tais programas devem ser adaptados à realidade institucional, considerando seus riscos, vulnerabilidades e cultura organizacional. A atuação dos órgãos de controle interno, como as controladorias, tribunais de contas e unidades de auditoria, é fundamental nesse processo, pois exercem funções de monitoramento, orientação e correção. No setor privado, a integridade também é valorizada como um ativo estratégico. Empresas com reputação íntegra tendem a atrair mais investidores, conquistar a fidelidade dos clientes e se destacar no mercado. Além disso, a integridade reduz riscos legais, melhora o clima organizacional e fortalece as relações com parceiros, fornecedores e a comunidade. A integração entre os princípios de integridade, responsabilidade social e sustentabilidade tem sido promovida por diversas agendas globais, como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU e os critérios ESG (Environmental, Social and Governance), amplamente adotados por investidores e corporações. Entretanto, a promoção da integridade enfrenta diversos desafios práticos e culturais. Um dos principais é a resistência à mudança, especialmente quando há cultura organizacional permissiva com condutas antiéticas ou falta de engajamento da alta liderança. A integridade deve ser um valor vivenciado na prática cotidiana e não apenas um discurso institucional. Quando líderes agem de forma incoerente com os valores que pregam, comprometem toda a credibilidade do sistema de integridade. Por isso, o exemplo da liderança — conhecido como tone at the top — é decisivo para o sucesso de qualquer programa voltado à integridade. Além disso, é necessário educar e sensibilizar os colaboradores para que compreendam o significado da integridade e os impactos de sua ausência. Investir em treinamentos, comunicação clara, escuta ativa e mecanismos de valorização da ética contribui para o fortalecimento de uma cultura íntegra. Organizações que reconhecem e premiam comportamentos éticos criam ambientes mais saudáveis, seguros e propícios à inovação e ao crescimento sustentável. Outro fator importante é a existência de mecanismos de controle eficazes, como auditorias internas e externas, canais de denúncia protegidos e políticas de consequências. Esses instrumentos devem funcionar com imparcialidade, agilidade e transparência, garantindo que condutas inadequadas sejam apuradas e corrigidas. A omissão diante de desvios compromete a credibilidade do sistema e gera um ambiente de impunidade, contrário à cultura da integridade. Conclusão A integridade é um valor indispensável para a construção de organizações éticas, transparentes e sustentáveis. Sua prática fortalece a governança, reduz riscos e contribui para o alcance dos objetivos institucionais de maneira justa e responsável. Em um mundo cada vez mais atento à ética e à legalidade, a integridade deixa de ser apenas um ideal moral para se tornar um requisito estratégico e estrutural. Organizações que promovem a integridade em sua cultura, lideranças e processos constroem relações de confiança com seus públicos e se posicionam de forma sólida e legítima diante da sociedade. Assim, cultivar a integridade é mais do que uma exigência legal — é um compromisso com a dignidade, a equidade e o futuro das instituições.