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PSICOLOGIA 
APLICADA E 
SAÚDE MENTAL 
INSTITUTO UNICLESS EDUCACIONAL 
ANO 2024 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 2 
 
INSTITUTO UNICLESS EDUCACIONAL 
www.unicless.com.br 
www.etuni.com.br 
 
 
 
CONTEÚDO, REVISÃO E EQUIPE MULTIDISCIPLINAR 
EDIÇÃO 
 
DIAGRAMAÇÃO E CAPA UNICLESS EDUCACIONAL. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Revisado 
Setembro/2021 
 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 3 
 
 
PLANO DE ENSINO 
1. APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA 
DISCIPLINA PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL 
CURSO 
Disciplina comum a todos os Cursos 
Técnicos dá área de saúde 
PROFESSORA 
 
2. EMENTA 
1. Introdução: psicologia como ciência. 2Principais concepções teóricas do século XX: 
psicanálise, behaviorismo, transpessoal, psicologia analítica, humanismo e Gestalt. 3. 
Contexto da psicologia na saúde. 4. História da Psicologia e da Psiquiatria no Brasil. 5. 
Conceitos básicos: psicologia e enfermagem em saúde mental. 6. Comportamento do 
paciente, Etiologia e Epidemiologia dos transtornos mentais – fatores de risco. 7. 
Transtornos mentais e Formas de tratamento. 8. Fundamentos de mensuração em saúde 
mental. 9. Fundamentos teóricos sobre análise e mudança de comportamento. 
 
3. OBJETIVO GERAL 
Proporcionar ao estudante a reflexão acerca de sua prática e suas relações com a 
psicologia e a subjetividade. 
 
4. OBJETIVOS ESPECÍFICOS DA DISCIPLINA 
1. Promover aulas interativas expondo os tópicos emanados na ementa da disciplina; 
2. Promover aulas temáticas e argumentativas de forma que os alunos possam reconhecer 
os conceitos fundamentais dos processos de desenvolvimento psicológico e da 
personalidade e o comportamento do indivíduo frente ao processo saúde-doença. 
3. Demonstrar casos reais dos processos de desenvolvimento psicológico, da 
personalidade e o comportamento do indivíduo frente ao processo saúde-doença.; 
4. Propor leituras dos livros da biblioteca básica e da complementar como forma de 
aprendizagem. 
5. Questionar o papel do profissional como promotor de saúde e bem-estar de forma 
integral, incluindo a dimensão psicológica. 
 
5. COMPETÊNCIAS À ADQUIRIR: 
1. Saber estabelecer discussões interdisciplinares na psicologia; 
2. Saber trabalhar em equipes multidisciplinares de assistência à saúde, reconhecendo a 
dimensão subjetiva humana; 
3. Reconhecer as fases do desenvolvimento psicossocial; 
4. Saber Identificar os principais sintomas e transtornos referentes a saúde mental. 
5. Saber descrever a situação da assistência ao indivíduo com doença mental no Brasil. 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 4 
 
6. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 
TEMA DA AULA: Introdução - psicologia como ciência. 
Tópico 1: Entendendo a Psicologia 
Tópico 2: A Necessidade da Ciência Psicológica 
 
TEMA DA AULA: Principais concepções teóricas do século XX. 
Tópico 1: Psicologia Social, Psicanálise, behaviorismo, transpessoal, humanismo e Gestalt. 
 
TEMA DA AULA: Contexto da psicologia na saúde. 
Tópico 1: A Psicologia Aplicada à área da saúde 
 
TEMA DA AULA: História da Psicologia e da Psiquiatria no Brasil 
Tópico 1: Aspectos Históricos da Psiquiatria 
Tópico 2: A história da Psiquiatria no Brasil 
Tópico 3: Histórico da Reforma Psiquiátrica brasileira e seus marcos entre 1978 e 1991 
 
TEMA DA AULA: Conceitos básicos: psicologia e enfermagem em saúde mental 
Tópico 1: Conceitos básicos da Psicologia e da Enfermagem em Saúde Mental 
 
TEMA DA AULA: Comportamento do paciente, Etiologia e Epidemiologia dos transtornos 
mentais – fatores de risco 
Tópico 1: Alterações de comportamento e personalidade 
Tópico 2: Conceituando Etiologia e Epidemiologia. 
Tópico 3: Epidemiologia dos transtornos mentais – fatores de risco. 
Tópico 4: Classificação de transtornos mentais e de comportamento. 
 
TEMA DA AULA: Transtornos mentais e Formas de tratamento. 
Tópico 1: Ansiedade... crise... e estresse são a mesma coisa? 
Tópico 2: Manifestações clínicas e cuidados de enfermagem para transtornos decorrentes de 
esquizofrenia 
Tópico 3: Manifestações clínicas e cuidados de enfermagem para transtornos do humor, da 
personalidade e de ansiedade 
 
TEMA DA AULA: Transtornos mentais e Formas de tratamento. 
Tópico 4: Formas de tratamento dos transtornos mentais 
Tópico 5: O enfermeiro na prevenção dos transtornos mentais em indivíduos adultos 
 
TEMA DA AULA: Fundamentos de mensuração em saúde mental. 
Tópico 1: Fundamentos de mensuração em saúde mental 
Tópico 2: O que são instrumentos de avaliação? 
Tópico 3: Tipos de instrumentos de avaliação 
Tópico 4: Avaliação do Estado Mental 
 
TEMA DA AULA: Fundamentos teóricos sobre análise e mudança de comportamento 
Tópico 1: Terapia cognitivo-comportamental na Saúde Mental 
 
TÓPICOS ESPECIAIS: TEMA DA AULA - Saúde mental dos profissionais de saúde 
Tópico 1: Saúde mental dos profissionais de saúde 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 5 
 
7. BIBLIOGRAFIA 
BÁSICA (Principal): 
01 
CASABURI, Luiza Elena. Reforma psiquiátrica e serviços de atendimento em saúde 
mental e psiquiátrico. In: TAVARES, Marcus Luciano de Oliveira; CASABURI, Luiza 
Elena; SCHER, Cristiane Regina (org.). Saúde mental e cuidado de enfermagem 
em psiquiatria. Porto Alegre: SAGAH, 2019. p. 73-92. 
02 
FELDMAN, Robert S. Introdução à psicologia. 10. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015. 
1 recurso online. ISBN 9788580554892. 
03 
PICCININI, Walmor João; MELEIRO, Alexandrina Maria Augusto da Silva. Aspectos 
Históricos da Psiquiatria. In: MELEIRO, Alexandrina Maria Augusto Silva (org.). 
Psiquiatria: estudos fundamentais. Estudos Fundamentais. Rio de Janeiro: 
Guanabara Koogan, 2018. Cap. 1. p. 3-19. 
04 
VIDEBECK, Sheila L. Enfermagem em saúde mental e psiquiatria. 5. ed. Porto 
Alegre: Artmed, 2012. 535 p. Tradução: Denise Regina de Sales, Regina Machado 
Garcez. 
COMPLEMENTAR: 
05 
GORENSTEIN, Clarice; WANG, Yuan-pang. Fundamentos de Mensuração em Saúde 
Mental. In: GORENSTEIN, Clarice; WANG, Yuan-pang; HUNGERBÜHLER, Ines 
(org.). Instrumentos de avaliação em saúde mental. Porto Alegre: Artmed, 
2016. Cap. 1. p. 30-111. 
06 
MYERS, David G. Psicologia / David G. Myers, C. Nathan DeWall; tradução 
Cristiana de Assis Serra, Luiz Cláudio Queiroz de Faria. - 11. ed. - [Reimpr.]. - Rio 
de Janeiro: LTC, 2019. 
07 
TAVARES, Marcus Luciano de Oliveira. Correntes psiquiátricas e tratamento de 
distúrbios mentais. In: TAVARES, Marcus Luciano de Oliveira; CASABURI, Luiza 
Elena; SCHER, Cristiane Regina (org.). Saúde mental e cuidado de enfermagem 
em psiquiatria. Porto Alegre: SAGAH, 2019. p. 94-112. 
08 
TOWNSEND, Mary C. Enfermagem psiquiátrica: conceitos de cuidados na 
prática baseada em evidências. 7. ed. [Reimpr.] Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 
2017. 
 
 
 
 
 
 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 6 
 
 
ROTEIRO DE APRENDIZAGEM 
 
1. APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA 
DISCIPLINA PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL 
CURSO 
Disciplina comum a todos os cursos técnicos da 
área de saúde 
PROFESSOR(A) 
E-MAIL DA COORDENAÇÃO coordenacao@unicless.com.br 
 
TEMA DA AULA: Introdução - psicologia como ciência. 
 
FONTE 
BIBLIOGRÁFICA 
 
ALMEIDA, Raquel Ayres de; MALAGRIS, Lucia Emmanoel Novaes. A 
prática da psicologia da saúde. Revista SBPH, Rio de Janeiro, v. 14, n. 2, 
p. 183-202, dez. 2011. Disponível em: 
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rsbph/v14n2/v14n2a12.pdf. Acesso em: 
02 abr. 2020. 
BRASIL. Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores da área de 
Enfermagem. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. 
(org.). Profissionalização de auxiliares de enfermagem: cadernos do 
aluno: instrumentalizando a ação profissional I. 2. ed.[reimpr.] Brasília / 
Rio de Janeiro: Ministério da Saúde / Fiocruz, 2003. 164 p. Disponível 
em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/profae/pae_cad1.pdf. 
Acesso em: 02 abr. 2020. 
CASTRO, Elisa Kern de; BORNHOLDT,países tiveram confrontos terríveis que 
redundaram em duas guerras mundiais, e a animosidade entre os povos, muitas 
vezes, era compartilhada por seus cientistas. 
 
Tópico 2: A história da Psiquiatria no Brasil 
 
Conhecer a história dos serviços de atendimento em saúde mental, em 
psicologia e psiquiatria auxilia aqueles que estudam nas áreas da enfermagem e da 
radiologia a compreender o contexto de saúde mental atual, assim como os 
princípios nos quais se alicerçam as políticas públicas de saúde mental (TAVARES; 
CASABURI; SCHER, 2019, p. 73). 
 
Durante muitos anos, o modelo de assistência médica ofertado aos 
portadores de transtornos mentais em nosso país foi embasado na lógica 
hospitalocêntrica e excludente. O cuidado era exercido por meio da internação em 
grandes manicômios e o interno somente seria liberado quando considerado 
Embora a utilização de 
substâncias como 
terapêutica no campo das 
doenças mentais já 
ocorresse desde a 
Antigüidade, é a partir do 
século XIX que o uso de 
substâncias (Haldol R) que 
agem diretamente no 
sistema nervoso central 
passaram a ser amplamente 
difundidas, sendo várias 
delas sintetizadas na 
segunda metade do século. 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 31 
“curado”, ou seja, não ofertando mais “perigo” a sua família e à sociedade 
(TAVARES; CASABURI; SCHER, 2019, p. 73). 
 
Na primeira metade do século XIX, foram construídos magníficos prédios 
para cuidar dos doentes. No Brasil, o primeiro foi inaugurado em 1852, o Hospício 
Pedro II. Depois dele, outros foram construídos em diversos pontos do país. Não 
existia tratamento médico específico; os cuidados eram fornecidos por religiosas. 
 
Figura 02: Hospício D. Pedro II 
[Hospício] Nacional dos Alienados: Rio de Janeiro (RJ) 
 
Fonte: IBGE (2015). 
Nota: O Hospício Nacional dos Alienados, ou também Hospício D. Pedro II, foi inaugurado em 1852, 
e sua construção durou de 1842 a 1852. O prédio, situado na Praia Vermelha, Zona Sul da cidade, 
abriga atualmente o Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). 
 
O médico, quando havia, limitava-se aos cuidados físicos dos doentes. Cuidar 
dos doentes mentais era atividade de caridade, e a ideia de tratamento só se 
desenvolveu com a Proclamação da República em 1889 (ANDRADE, 2018). 
 
O tempo foi impiedoso com os asilos e seus ocupantes, superpovoados e 
obsoletos em seus propósitos. Recebiam cada vez mais doentes, e o tratamento era 
inexistente. Os recursos econômicos diminuíam, pessoas menos qualificadas eram 
encarregadas de cuidar dos internos e, aos poucos, os asilos foram reconstituindo 
em seu interior os mesmos problemas encontrados na sociedade: exclusão, 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 32 
repressão, tratamentos agressivos e falta de perspectiva de recuperação e alta 
(PICCININI; MELEIRO, 2018, p. 10). 
 
1856 - Relatórios do Hospício de Pedro II – superlotação - entrada indiscriminada 
de pacientes curáveis e incuráveis, afetados mentalmente ou indigentes. 
 
A crescente demanda por vagas foi um problema para a administração do 
hospital durante os seus anos de existência. A situação alcançou o ápice em 1862. 
Em carta enviada ao provedor do hospício, o médico Manoel José Barbosa se 
queixava que o estabelecimento já abrigava 400 pacientes e as remessas de 
alienados eram abusivas. Diante disso, pedia que a administração fechasse o 
hospício para novos pacientes, reiterando a necessidade de se criar um asilo 
exclusivo para inválidos, que ocupavam boa parte das instalações (ANDRADE, 
2018). 
 
1881 - Decreto no 8.024, de 12 de março, cria a cadeira de Doenças Nervosas e 
Mentais nas Faculdades de Medicina da Bahia e do Rio de Janeiro. 
 
1882 - A Lei no 3.141, de 20 de outubro, dispõe sobre a execução do ensino de 
Psiquiatria no Brasil. 
 
1890 - Decreto nº. 206, de 15 de fevereiro, cria a Assistência Médica e Legal aos 
Alienados e determina a criação das Colônias de São Bento e Conde de Mesquita, 
destinadas a pacientes do sexo masculino, tranquilos e incuráveis. 
 
Os tratamentos continuavam sem sucesso; e o número de doentes 
aumentava. Surgiu como solução a ideia das colônias de alienados, para onde 
foram transferidos os pacientes crônicos, ligando-os à atividade rural, com a ideia 
de utilizar o trabalho como recuperação e tratar melhor os casos agudos. Logo, 
tanto as colônias como os hospitais estavam superlotados (PICCININI; MELEIRO, 
2018, p. 10). 
 
1898 - Inaugurado, em São Paulo, o Hospital do Juqueri, sob a direção de Francisco 
Franco da Rocha. 
 
1903 – Inaugurado o Hospital Colônia Barbacena, MG – com capacidade para 200 
leitos, estima-se que esteve com cerca de cinco mil pacientes em 1961. 
 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 33 
Figura 03: Hospital-Hospício de Barbacena, em Minas Gerais 
 
 
Fonte: Lima (2013) 
Nota 1: Um verdadeiro campo de extermínio de pobres, negros e de quem não se adequava aos 
padrões. Alcoólatras, prostitutas, pessoas LGBT, inimigos políticos das elites, todo tipo de gente 
“indesejada”. Estimam-se 60 mil mortos nas oito décadas de existência desse hospício. 
Nota 2: Em nome da razão2 é um documentário brasileiro de 1979 do cineasta Helvécio Ratton. O 
documentário é todo filmado em preto e branco, mostrando o cotidiano dos pacientes internados 
no Hospital Colônia de Barbacena. 
 
No início do século XIX, os asilos foram transformados em hospitais. Por 
exemplo, o Hospício Pedro II passou a ser chamado Hospital Nacional dos 
Alienados. 
 
1907 - Criada, no Rio de Janeiro, a Sociedade Brasileira de Psiquiatria, Neurologia e 
Medicina Legal; 1912 - A Psiquiatria torna-se uma especialidade médica autônoma; 
 
1921 – Inaugurado Manicômio Judiciário, que se encarrega dos doentes mentais 
que cometem delitos. 1923 - Criada a Liga Brasileira de Higiene Mental (LBHM); 
 
1924 - Inaugurada a Colônia de Psicopatas – Jacarepaguá (Colônia Juliano 
Moreira). 
 
Novas esperanças apareceram com os chamados tratamentos biológicos, 
como o choque cardiazólico de Von Meduna, o choque insulínico de Sackel e, em 
1938, a eletroconvulsoterapia de Cerletti e Bini. 
 
 
2 Em nome da razão. Direção de Helvécio Ratton. Produção de Tarcísio Vidigal. Barbacena: Grupo 
Novo de Cinema, 1979. (23 min.), VHS, P&B. Disponível em: 
https://www.youtube.com/watch?v=PeXjSSs4q2k. Acesso em: 02 abr. 2020 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 34 
Anos 1930: grande entusiasmo com a descoberta do choque insulínico, 
eletroconvulsoterapia, lobotomias; tratamento asilar e a ampliação do número de 
instituições de assistência às crianças anormais. 
 
Anos 1940: Psiquiatria mais poderosa e asilamento mais frequente. 
 
1941 - Decreto-Lei no 3.171, de 2 de abril, instituiu-se o Serviço Nacional de 
Doenças Mentais (SNDM), que depois passou a ser chamado Divisão Nacional de 
Saúde Mental (Dinsam). Começaram também os primeiros cursos de formação em 
psiquiatria. Antes, no Brasil, eram todos autodidatas (PICCININI; MELEIRO, 2018, 
p. 12). 
 
A partir de 1945, a psiquiatria é marcada por mudanças, tanto nas 
influências nacionais quanto nos esquemas diagnósticos e na terapêutica. A 
Segunda Guerra Mundial mudou o mundo, e a psiquiatria sofreu grandes 
transformações (PICCININI; MELEIRO, 2018, p. 12). 
 
No lado mais negativo, tornou-se pública a participação de psiquiatras na 
“solução final nazista”, ou seja, na morte de doentes mentais pela fome em vários 
países europeus, inclusive na França. Por outro lado, a especialidade passou a ser 
valorizada conforme a doença mental passou a ser a líder das causas de 
desligamentos do serviço militar. A psiquiatria passou por uma profunda 
transformação institucional, demonstrando ser eficaz (PICCININI; MELEIRO, 2018, 
p. 12). 
 
1946 - Psiquiatra alagoana Nise da Silveira inaugura a Seção de Terapêutica 
Ocupacional e Reabilitação (STOR) no CentroPsiquiátrico Nacional, localizado no 
bairro de Engenho de Dentro. 
 
Anos 1950: fortalecimento do processo de psiquiatrização com o aparecimentos 
dos primeiros neurolépticos. 
 
No Brasil, em 1957, em Porto Alegre, foi criado o Curso de Formação 
Psiquiátrica de orientação dinâmica, liderado por David Zimmermann e Paulo 
Guedes. O número de psiquiatras cresceu, começaram a surgir entidades nacionais 
e, em 1963, foi fundada a Associação Mundial de Psiquiatria, por ocasião do 
terceiro congresso mundial da especialidade no Canadá. O primeiro foi em 1950, 
em Paris, e o segundo em 1957, em Zurique (PICCININI; MELEIRO, 2018, p. 12). 
 
Anos 1970: aumento das denúncias de maus-tratos e negligência nos hospitais 
psiquiátricos; Fim dos anos 1970: Crítica ao saber psiquiátrico e ao modelo 
hospitalocêntrico – influência dos movimentos de reforma da Europa e EUA. 
 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 35 
Tópico 3: Histórico da Reforma Psiquiátrica brasileira e seus marcos entre 
1978 e 1991 
 
Durante muitos anos, o modelo de assistência médica ofertado aos 
portadores de transtornos mentais em nosso país foi embasado na lógica 
hospitalocêntrica e excludente. O cuidado era exercido por meio da internação em 
grandes manicômios e o interno somente seria liberado quando considerado 
“curado”, ou seja, não ofertando mais “perigo” a sua família e à sociedade 
(CASABURI, 2019). 
 
Em 1978 inicia um movimento contra esse modelo asilar, excludente, com 
total desrespeito aos direitos humanos, chamado de Reforma Psiquiátrica 
brasileira. 
 
A assistência psiquiátrica, no Brasil, até a década de 1970 pode-se 
considerar marcada pela má qualidade de assistência aos portadores de doenças 
mentais, superlotação das instituições psiquiátricas, comercialização da loucura e 
cronificação do doente mental, tendo como vertente principal o modelo médico e 
hospitalocêntrico para essa prática (VILLELA; SCATENA, 2004). 
 
As ações de luta foram principalmente organizadas pelos trabalhadores em 
saúde mental, ganhando o nome de Movimento dos Trabalhadores em Saúde 
Mental (MTSM), familiares e pessoas com longo histórico de internações 
psiquiátricas. O principal eixo norteador da proposta era a mudança do modelo 
médico assistencialista, com enfoque nos hospitais e nas especialidades médicas 
para um modelo pautado no cuidado em comunidade (CASABURI, 2019, p, 74). 
 
1987 - Criado, em São Paulo, o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Luiz da 
Rocha Cerqueira. Mesmo que ainda de forma não oficial, ou seja, sem nenhuma 
política ou portaria que subsidiasse esse serviço. Entretanto, a partir dele e da 
constatação de sua importância e efetividade, práticas e serviços de base 
comunitária começaram a ser delineados e efetivados. 
 
1987 - I Conferência Nacional de Saúde Mental (CNSM) / II Congresso Nacional do 
MTSM (Bauru, SP) – “Por uma sociedade sem manicômios”. 
 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 36 
Figura 04 – Cartaz do II Congresso Nacional de Trabalhadores em Saúde Mental 
(1987) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: LAPS – Fundação Oswaldo Cruz (2016) 
 
Em 1988 é instituída a atual Constituição Federal do Brasil, apresentando, em 
seus arts. 196 a 200, concepções de saúde e sua relação com o Estado. Além disso, 
apresenta subsídios necessários para a formulação de nosso Sistema Único de 
Saúde (SUS) e seus princípios doutrinários (CASABURI, 2019, p, 74). 
 
1989 – Projeto de lei é apresentado no Congresso - regulamentação dos direitos da 
pessoa com transtornos mentais e a extinção progressiva dos manicômios no país; 
 
O Brasil em 1991 foi reconhecido como um modelo a ser seguido em relação 
às práticas em saúde mental, entretanto, até o final da década de 1990, políticas de 
saúde mental em âmbito nacional não haviam sido efetivamente criadas e 
aplicadas. Somente na década seguinte seria promulgada uma lei a nível federal 
que iria redirecionar, de forma definitiva, a assistência em saúde mental 
(CASABURI, 2019, p, 77). 
 
2001 - Lei 10.216 de 2001: aprovada 11 anos depois, em 06 de Abril de 2001, 
Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos 
mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. 
 
Art. 1º Os direitos e a proteção das pessoas acometidas de transtorno 
mental, de que trata esta Lei, são assegurados sem qualquer forma de 
discriminação quanto à raça, cor, sexo, orientação sexual, religião, opção 
política, nacionalidade, idade, família, recursos econômicos e ao grau de 
gravidade ou tempo de evolução de seu transtorno, ou qualquer outra. 
(BRASIL, 2001) 
 
São garantidos após a promulgação dessa Lei os seguintes direitos aos 
portadores de transtornos mentais: 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 37 
 
• tratamento de excelência, pautado em suas necessidades; 
• tratamento humanizado, com enfoque na inserção social e 
participação familiar; 
• garantia de sigilo nas informações e de ser protegida contra 
qualquer forma de abuso; 
• ter acesso a orientações de saúde e informações necessárias a 
efetivação, continuidade e manutenção do tratamento; 
• garantia de assistência do profissional médico em caso da 
necessidade de internações voluntárias e involuntárias. (CASABURI, 
2019, p. 78) 
 
A Lei no 10.216/2001 também exige o encerramento do modelo 
manicomial/ asilar, deixando claro que a internação só será indicada quando os 
recursos extra-hospitalares se mostrarem insuficientes e que o tratamento sempre 
deve ter como objetivo a reinserção social do paciente em seu meio. Também 
proíbe a internação de pacientes portadores de transtornos mentais em qualquer 
instituição que não garanta os direitos dos enfermos, descritos na própria Lei. 
 
2001 - III Conferência Nacional de Saúde Mental, (Brasília) - “Cuidar sim, excluir 
não. Efetivando a Reforma Psiquiátrica com Acesso, Qualidade, Humanização e 
Controle Social”; 
 
A OMS em 2001 propôs um modelo de atenção à saúde mental de base 
comunitária, consolidado em serviços territoriais e de atenção diária, os serviços 
devem visar à emancipação dos usuários, aumentando sua independência para o 
autocuidado, identificando recursos e estabelecendo alianças sociais saudáveis. No 
Brasil, os CAPS estão de acordo com o que é proposto pela OMS. 
 
2003 - Lei no 10.708, de 31 de julho - auxílio-reabilitação psicossocial para 
pacientes acometidos de transtornos mentais egressos de internações - “De Volta 
Para Casa”; 
 
2006 - Marco na consolidação da Rede de Serviços Psicossociais do Brasil: primeira 
vez em que há maior investimento em ações comunitárias do que em Hospitais 
Psiquiátricos. 
 
2009 - Reconhecimento, pela OMS, do modelo de atenção à saúde mental 
brasileiro, e convite ao Brasil para participar, em um grupo de 10 países, de um 
esforço internacional para diminuição da lacuna de tratamento em saúde mental 
no mundo. 
 
2009 - Lançado, por meio da Portaria GM/MS no 1.190, de 4 de junho, o Plano 
Emergencial de Ampliação ao Tratamento e Prevenção em Álcool e outras Drogas 
(PEAD 2009-2010), priorizando expandir estratégias de tratamento e prevenção. 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 38 
 
2010 - IV Conferência Nacional de Saúde Mental (Brasília) - Intersetorial, com o 
tema “Saúde Mental direito e compromisso de todos: consolidar avanços e 
enfrentar desafios”. 
 
2010 - Fechamento do Hospital Alberto Maia (Camaragibe-PE), um dos últimos 
macro-hospitais psiquiátricos do País. 
 
2010 - Decreto no 7.179, de 20 de maio, dispõe sobre o Plano Integrado de 
Enfrentamento ao Crack e outras Drogas. 
 
2011 - Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) Portaria GM/MS 3.088/2011, entre 
suas funções estão: 
 
Organizar o atendimento destinado às pessoas em sofrimento psíquico 
e/ou com necessidades decorrentes do uso de substâncias. 
 
Base territorial e comunitária, com oferta de estratégiasde cuidado 
diversificadas, incluindo ações intersetoriais, que devem se adequar às 
necessidades de seus usuários e familiares e garantir a autonomia, a 
liberdade e o exercício da cidadania durante esse processo de cuidado. 
 
A Política Nacional de Saúde Mental busca consolidar um modelo de atenção 
aberto e de base comunitária. A proposta é garantir a livre circulação das pessoas 
com problemas mentais pelos serviços, pela comunidade e pela cidade (BARROS; 
SALLES, 2011). 
 
Além disso, a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) estabelece os pontos de 
atenção para o atendimento de pessoas com problemas mentais, incluindo os 
efeitos nocivos do uso de crack, álcool e outras drogas (BARROS; SALLES, 2011). 
 
Segundo Barros e Salles (2011) a rede é composta por serviços e 
equipamentos variados, tais como: os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS); os 
Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT); os Centros de Convivência e Cultura, as 
Unidade de Acolhimento (UAs), e os leitos de atenção integral (em Hospitais 
Gerais, nos CAPS III). Cabe salientar que, faz parte dessa política o programa de 
Volta para Casa, que oferece bolsas para pacientes egressos de longas internações 
em hospitais psiquiátricos. 
 
Diante das mudanças na assistência institucional ao paciente psiquiátrico e 
da implementação de tratamento sem a internação em hospital, uma nova postura 
é exigida dos profissionais de saúde que prestam assistência a esse usuário/ 
paciente, dentre estes o enfermeiro e o técnico de enfermagem. O processo de 
desinstitucionalização da psiquiatria reflete diretamente na assistência em 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 39 
enfermagem psiquiátrica, tornando possível no espaço institucional programar 
uma assistência mais comprometida com o ser humano e com a sua cidadania. 
 
Quadro 01: Comparação entre Modelo psiquiátrico hospitalocêntrico 
medicalizador ou asilar X Modelo psicossocial 
 
Modo Asilar Modo Psicossocial 
Objeto: doença mental, sintomas (paradigma 
doença-cura). 
Objeto: Pessoa e seu contexto (sujeito como 
existência-sofrimento). 
Medicação como resposta básica. 
Conjunto de dispositivos de reintegração 
sociocultural do indivíduo 
Supressão ou tamponamento dos sintomas - 
adaptação do indivíduo. 
Reposicionamento subjetivo (ética da 
singularização). 
Sujeito como objeto – pessoa entre parênteses. Sujeito como sujeito – doença entre parênteses. 
Intervenção centrada no indivíduo doente 
Inclusão da família e grupo ampliado no 
tratamento 
Divisão do trabalho: trabalho multiprofissional 
fragmentado - prontuário como elo de conexão. 
Equipe interprofissional, intercâmbio teórico-
técnico e de práticas. 
Clínica psiquiátrica e "paramédicos" 
(auxiliares secundários). 
Trabalho em equipe interdisciplinar. 
Interdição do diálogo. Sujeito (usuário) tem fala. 
Paciente passivo em seu tratamento 
Sujeito como agente implicado no sofrimento e 
ativo na mudança. 
Instituição típica: hospital psiquiátrico 
Instituições típicas: CAPS, UBS, Oficinas e 
Cooperativas de reintegração socioeconômica e 
cultural. 
Fonte: elaborado a partir de COSTA-ROSA (2000). 
 
TEMA DA AULA: CONCEITOS BÁSICOS: PSICOLOGIA E ENFERMAGEM EM SAÚDE MENTAL. 
FONTE 
BIBLIOGRÁFICA 
BRASIL. Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores da área de 
Enfermagem. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. 
(org.). Profissionalização de auxiliares de enfermagem: cadernos do 
aluno: saúde mental. 2. ed.[reimpr.] Brasília / Rio de Janeiro: Ministério 
da Saúde / Fiocruz, 2003. 124 p. Disponível em: 
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/profae/pae_cad1.pdf. 
Acesso em: 02 abr. 2020. 
BRASÍLIA. OPAS/OMS. . Saúde mental depende de bem-estar físico e 
social, diz OMS em dia mundial. 2016. Disponível em: 
https://nacoesunidas.org/saude-mental-depende-de-bem-estar-fisico-e-
social-diz-oms-em-dia-mundial/. Acesso em: 02 abr. 2020. 
CARTILHA de Orientação Saúde Mental. São Luiz: Ascom / Iema, 2019. 20 
p. Instituto Estadual do Maranhão. Disponível em: 
http://www.iema.ma.gov.br/wp-content/uploads/2019/10/CARTILHA-
SA%C3%9ADE-MENTAL.pdf. Acesso em: 02 abr. 2020. 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 40 
TEMA DA AULA: CONCEITOS BÁSICOS: PSICOLOGIA E ENFERMAGEM EM SAÚDE MENTAL. 
COSTA, Thiago Oliveira; FINELLI, Leonardo Augusto Couto. Percepção 
sociohistórica acerca dos portadores de sofrimento Mental: uma revisão 
da literatura. : uma revisão da literatura. Revista Bionorte, Montes 
Claros, v. 5, n. 1, p. 11-24, fev. 2016. Disponível em: 
http://www.revistabionorte.com.br/arquivos_up/artigos/a33.pdf. 
Acesso em: 02 abr. 2020. 
ESNP/FIOCRUZ. CADERNOS DE MONITORAMENTO EPIDEMIOLÓGICO E 
AMBIENTAL: O que são transtornos mentais? Rio de Janeiro: 
ESNP/FIOCRUZ, n. 1, out. 2011. Disponível em: 
http://www6.ensp.fiocruz.br/repositorio/sites/default/files/arquivos/T
ranstornosMentaisC1.pdf. Acesso em: 02 abr. 2020. 
GAINO, Loraine Vivian et al. O conceito de saúde mental para 
profissionais de saúde: um estudo transversal e qualitativo. : um estudo 
transversal e qualitativo. SMAD. Revista Eletrônica Saúde Mental, 
Álcool e Drogas, Ribeirão Preto, v. 14, n. 2, p. 108-116, jun. 2018. 
Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/smad/v14n2/07.pdf. 
Acesso em: 02 abr. 2020. 
MORAIS, Camila Aquino et al. Concepções de saúde e doença mental na 
perspectiva de jovens brasileiros. Estudos de Psicologia (natal), Natal, v. 
17, n. 3, p. 369-379, dez. 2012. FapUNIFESP (SciELO). Disponível em: 
http://www.scielo.br/pdf/epsic/v17n3/04.pdf. Acesso em: 02 abr. 2020. 
TAVARES, Marcus Luciano de Oliveira. Correntes psiquiátricas e 
tratamento de distúrbios mentais. In: TAVARES, Marcus Luciano de 
Oliveira; CASABURI, Luiza Elena; SCHER, Cristiane Regina (org.). Saúde 
mental e cuidado de enfermagem em psiquiatria. Porto Alegre: 
SAGAH, 2019. p. 94-112. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595029835/cfi
/92!/4/2@100:0.00. Acesso em: 02 abr. 2020. 
TOWNSEND, Mary C. Enfermagem psiquiátrica: conceitos de cuidados na 
prática baseada em evidências. 7. ed. [Reimpr.] Rio de Janeiro: Guanabara 
Koogan, 2017. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/978-85-277-2390-9. 
Acesso em: 02 abr. 2020. 
VIANNA, Lucila Amaral Carneiro. Especialização em SAÚDE DA 
FAMÍLIA. São Paulo: UNASUS-Unifesp, 2012. 32 p. Disponível em: 
https://www.unasus.unifesp.br/biblioteca_virtual/esf/2/unidades_conte
udos/unidade01/unidade01.pdf. Acesso em: 02 abr. 2020. 
VIDEBECK, Sheila L. Enfermagem em saúde mental e psiquiatria. 5. ed. 
Porto Alegre: Artmed, 2012. 535 p. Tradução: Denise Regina de Sales, 
Regina Machado Garcez. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788536327297/cfi
/534!/4/4@0.00:0.00. Acesso em: 02 abr. 2020. 
VILLELA, Sueli de Carvalho; SCATENA, Maria Cecília Moraes. A 
enfermagem e o cuidar na área de saúde mental. Revista Brasileira de 
Enfermagem, Brasília, v. 57, n. 6, p. 738-741, dez. 2004. Disponível em: 
http://www.scielo.br/pdf/reben/v57n6/a22.pdf. Acesso em: 02 abr. 
2020. 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 41 
Tópico 1: Conceitos básicos da Psicologia e da Enfermagem em Saúde Mental 
 
SAÚDE E SAÚDE MENTAL 
Saúde e saúde mental têm conceitos complexos e historicamente 
influenciados por contextos sócio-políticos e pela evolução de práticas em saúde. 
Os dois últimos séculos têm visto a ascensão de um discurso hegemônico que 
define esses termos como específicos do campo da medicina. Entretanto, com a 
consolidação de um cuidado em saúde interdisciplinar, diferentes áreas de 
conhecimento têm, gradualmente, incorporado tais conceitos (GAINO et.al., 2018). 
É difícil definir com precisão saúde e doença mentais. As pessoas que 
conseguem desempenhar seu papel na sociedade e manter um comportamento 
apropriado e adaptativo são consideradas saudáveis. Por sua vez, as que nãoconseguem desempenhar seu papel ou assumir responsabilidades e, ainda, 
apresentam um comportamento inapropriado são consideradas doentes 
(VIDEBECK, 2012, p. 16). 
A evolução histórica das concepções sobre saúde e doença deu origem a 
modelos específicos de atenção à saúde. Morais (2005 apud MORAIS et al., 2012) 
aponta três visões principais de saúde a partir do século XX: o conceito médico; o 
conceito da Organização Mundial de Saúde (OMS) e o conceito ecológico 
O conceito médico, baseado no modelo biomédico tradicional, adota a 
cisão entre mente e corpo e define saúde como ausência de doença, a qual é vista 
como o mau funcionamento dos mecanismos biológicos. Esse modelo propõe o 
corpo como uma máquina e, para um bom funcionamento, deve ter ausência de 
problemas, sinais ou sintomas. Dessa forma, o médico intervém quimicamente, 
concentrando-se em detalhes específicos do corpo, valorizando o aspecto orgânico, 
em detrimento de outros aspectos envolvidos no processo de adoecer (MORAIS, 
2005 apud MORAIS et al., 2012, p. 371). 
A Organização Mundial de Saúde (OMS) ampliou a concepção do modelo 
biomédico acerca do processo saúde/ doença, na medida em que, ao se estabelecer 
relações com as áreas sociais e psíquicas, o processo saúde/doença deixa de ter 
caráter estritamente causal e a intervenção extrapola o aspecto físico ou químico. 
O diferencial desta nova definição é a visão holística de saúde, visto que a concebe 
como um estado positivo de bem-estar (MORAIS, 2005 apud MORAIS et al., 2012, 
p. 371). 
Segundo o conceito de 1947 da Organização Mundial da Saúde (OMS), com 
ampla divulgação e conhecimento em nossa área, a saúde é definida como: “Um 
estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de 
doença ou enfermidade”. Porém, essa definição recebeu muitas críticas no 
decorrer dos anos, pois a proposição que não se manifesta claramente a este 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 42 
conceito implica a ideia de saúde como um estado perfeito e completo, o que é 
irreal e inatingível. 
Segundo a perspectiva ecológica, o processo saúde/doença deve ser 
compreendido de forma mais abrangente, considerando a historicidade, 
multidimensionalidade e a processualidade (MORAIS, 2005 apud MORAIS et al., 
2012, p. 371). 
A historicidade diz respeito à influência do contexto sócio-cultural 
sobre a definição de práticas ditas saudáveis ou não. Isso é decorrente da 
constatação de que a saúde e, por conseguinte, a doença, nem sempre 
foram vistas da mesma forma ao longo da história e nas diferentes 
culturas. 
 
A integralidade ou multidimensionalidade, por sua vez, refere-se à 
consideração da saúde e da doença a partir de aspectos psicológicos, 
sociais e espirituais, além dos biológicos, tradicionalmente destacados. 
Dessa forma, a saúde deixa de ser vista como ausência de doença, ao 
passo que a compreensão da doença também não fica restrita à 
alteração/desequilíbrio biológico. 
 
Por fim, a processualidade diz respeito à consideração da saúde e da 
doença como partes de um mesmo continuum e não como estado 
absoluto e estático, independentes um do outro. (MORAIS, 2005 apud 
MORAIS et al., 2012, p. 371) (grifo nosso) 
 
Segundo Minayo (1998 apud MORAIS et al., 2012, p. 371), saúde e doença 
podem ser vistas como expressão social e individual e, também, como expressão 
das contradições sociais. A partir dessas visões, o contexto sociocultural é 
percebido como influenciando a definição das atitudes e comportamentos 
relacionados à saúde/doença e à própria legitimação da condição de “estar 
doente”. No entanto, a vivência pessoal desses estados ao longo da vida por cada 
indivíduo também deve ser um aspecto a ser considerado, uma vez que, de acordo 
com Minayo (1998), “é no indivíduo que essas visões se unificam: é ele que sofre os 
males ou detém a saúde” (p. 194 apud MORAIS et al., 2012, p. 371). 
Entre diversas outras abordagens possíveis para se entender o conceito de 
saúde, Vianna (2012) apresentou um conceito que nos parece mais útil à nossa 
discussão, a qual tem sido defendida por alguns autores (NARVAI et al., 2008). 
Pode-se então descrever a condição de saúde, didaticamente, segundo a soma dos 
conceitos acima explanados, na forma de três planos: subindividual, individual e 
coletivo, apresentados a seguir: 
O plano subindividual seria o correspondente ao nível biológico e 
orgânico, fisiológico ou fisiopatológico. Nesse plano, o processo saúde-
adoecimento seria definido pelo equilíbrio dinâmico entre a normalidade – 
anormalidade/funcionalidade – disfunções. Assim, quando a balança pender 
para o lado da anormalidade/disfunção, podem ocorrer basicamente duas 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 43 
situações: a enfermidade e a doença. A enfermidade seria a condição percebida 
pela pessoa ou paciente, caracterizando-a como queda de ânimo, algum sintoma 
físico, ou mesmo dor. A doença seria a condição detectada pelo profissional de 
saúde, com quadro clínico definido e enquadrada como uma entidade ou 
classificação nosológica (classificação de doenças) (NARVAI et al., 2008 apud 
VIANNA. 2012) 
O plano individual entende que as disfunções e anormalidades ocorrem em 
indivíduos que são seres biológicos e sociais ao mesmo tempo. Portanto, as 
alterações no processo saúde-adoecimento resultam não apenas de aspectos 
biológicos, mas também das condições gerais da existência dos indivíduos, 
grupos e classes sociais, ou seja, teriam dimensões individuais e coletivas. 
Segundo essa concepção, a condição de saúde poderia variar entre um extremo de 
mais perfeito bem-estar até o extremo da morte, com uma série de processos e 
eventos intermediário entre os dois (NARVAI et al., 2008 apud VIANNA. 2012). 
O plano coletivo expande ainda mais o entendimento sobre o processo 
saúde-adoecimento, que é encarado não como a simples soma das condições 
orgânicas e sociais de cada indivíduo isoladamente, senão a expressão de um 
processo social mais amplo, que resulta de uma complexa trama de fatores e 
relações, representados por determinantes do fenômeno nos vários níveis de 
análise: família, domicílio, microárea, bairro, município, região, país, continente 
etc. (NARVAI et al., 2008). Nessa linha, fica mais fácil compreender a definição de 
Minayo (1994 apud NARVAI et al., 2008) sobre saúde: “fenômeno clínico e 
sociológico vivido culturalmente” (NARVAI et al., 2008 apud VIANNA. 2012) 
Cabe salientar que a saúde é silenciosa: geralmente não a percebemos em 
sua plenitude; na maior parte das vezes, apenas a identificamos quando 
adoecemos. É uma experiência de vida, vivenciada no âmago do corpo individual. 
Ouvir o próprio corpo é uma boa 
estratégia para assegurar a saúde com qualidade, 
pois não existe um limite preciso entre a saúde e 
a doença, mas uma relação de reciprocidade 
entre ambas; entre a normalidade e a patologia, 
na qual “os mesmos fatores que permitem ao 
homem viver (alimento, água, ar, clima, 
habitação, trabalho, tecnologia, relações 
familiares e sociais) podem causar doença, se 
agem com determinada intensidade, se pesam em 
excesso ou faltam, se agem sem controle” 
(VIANNA, 2012). 
O conceito de saúde varia 
segundo a época em que 
vivemos, assim como os 
interesses dos diversos 
grupos sociais, nos 
diversos momentos 
históricos do 
desenvolvimento 
científico da humanidade. 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 44 
SAÚDE MENTAL 
Já sobre saúde mental, a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2010) afirma 
que não existe definição “oficial” de saúde mental. Diferenças culturais, 
julgamentos subjetivos, e teorias relacionadas concorrentes afetam o modo como a 
“saúde mental” é definida, pois saúde mental é um termo usado para descrever o 
nível de qualidade de vida cognitiva ou emocional (COSTA; FINELLI, 2016). 
Segundo Costa e Finelli (2016), a saúde mentalpode incluir a capacidade de 
um indivíduo de apreciar a vida e procurar um equilíbrio entre as atividades e os 
esforços para atingir a resiliência (capacidade de o indivíduo lidar com problemas) 
psicológica. “Admite-se, entretanto, que o conceito de Saúde Mental é mais amplo 
que a ausência de transtornos mentais”. 
Múltiplos fatores sociais, psicológicos e biológicos determinam o nível de 
saúde mental de uma pessoa. Por exemplo, as pressões socioeconômicas contínuas 
são reconhecidas como riscos para a saúde mental de indivíduos e comunidades. A 
evidência mais clara está associada aos indicadores de pobreza, incluindo baixos 
níveis de escolaridade (BRASÍLIA. OPAS/OMS, 2016). 
Uma saúde mental prejudicada também está associada a rápidas mudanças 
sociais, condições de trabalho estressantes, discriminação de gênero, exclusão 
social, estilo de vida não saudável, risco de violência, problemas físicos de saúde e 
violação dos direitos humanos (BRASÍLIA. OPAS/OMS, 2016). 
Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde – OPAS (2016): 
• A saúde mental é mais do que a ausência de transtornos mentais; 
• A saúde mental é uma parte integrante da saúde; na verdade, não há 
saúde sem saúde mental; 
• A saúde mental é determinada por uma série de fatores 
socioeconômicos, biológicos e ambientais; 
• Estratégias e intervenções custo-efetivas de saúde pública e 
intersetoriais existem para promover, proteger e restaurar a saúde 
mental. (BRASÍLIA. OPAS/OMS, 2016) 
 
Apesar de parecer um pouco óbvio o conceito de saúde mental tende a ser 
muito variado em especial quando se unem fatores culturais e sociais para 
justificar o comportamento do indivíduo, logo não existe um comportamento 
homogêneo que possa determinar com precisão o termo (CARTILHA, 2019). 
 
É muito importante entender e nos atentarmos que a ausência de uma 
doença mental não significa que o indivíduo possua uma boa saúde mental, 
existem diversos comportamentos não ligados diretamente a doenças que tendem 
a desestabilizar a saúde mental do indivíduo como, por exemplo, estresse, 
ansiedade, nervosismo, irritação, entre outros sintomas que associados podem 
desencadear um quadro de doença mental (CARTILHA, 2019). 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 45 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: (CARTILHA, 2019). 
Jahoda (1958 apud TOWNSEND, 2017, p. 13) identificou uma relação de 
seis indicadores que ela sugere ser um reflexo da saúde mental: 
 
1. Atitude positiva em relação a si próprio. Isto inclui uma visão objetiva 
de si próprio, como o conhecimento e a aceitação de pontos fortes e 
limitações. O indivíduo tem um forte senso de identidade pessoal e de 
proteção dentro do meio em que vive. 
 
2. Crescimento, desenvolvimento e habilidade dalcançar autorrealização. 
Esse indicador correlaciona o indivíduo ter realizado as tarefas 
associadas a cada nível de desenvolvimento de modo bem-sucedido. Com 
a realização bem-sucedida em cada nível, a pessoa ganha motivação para 
avançar para seu potencial mais alto. 
 
3. Integração. O foco aqui se concentra em manter harmonia e equilíbrio 
entre diversos processos da vida. A integração inclui a habilidade de 
responder de modo adaptativo ao meio e o desenvolvimento de uma 
filosofia de vida, e esses dois aspectos ajudam o indivíduo a manter a 
ansiedade em um nível controlável em resposta a situações de estresse. 
 
4. Autonomia. A autonomia refere-se à habilidade do indivíduo de agir de 
um modo independente e autodirigido. A pessoa faz escolhas e aceita 
responsabilidade pelos resultados. 
 
5. Percepção de realidade. A percepção acurada da realidade é um 
indicador positivo de saúde mental. Isso inclui a percepção do meio sem 
distorção, e também a capacidade de empatia e sensibilidade social – um 
respeito e uma preocupação pelas necessidades e pelos desejos das 
outras pessoas. 
 
6. Domínio do ambiente. Esse indicador sugere que o indivíduo alcançou 
um papel satisfatório dentro do grupo, da sociedade ou do meio. Sugere 
que ele é capaz de amar e aceitar o amor dos outros. Ao enfrentar 
situações da vida, a pessoa é capaz de criar estratégias, tomar decisões, 
mudar, ajustar e adaptar. A vida oferece satisfação ao indivíduo que 
alcançou domínio do ambiente. (TOWNSEND, 2017, p. 13-14) 
 
DOENÇA MENTAL 
 
O processo saúde-doença é um dos pontos centrais para os profissionais da 
saúde que buscam promover a saúde, cuidando para que as pessoas possam ter, 
tanto quanto possível, uma boa qualidade de vida, mesmo quando as limitações se 
estabelecem. Para essa relação especial com os usuários, é necessário o 
aprendizado do uso dos instrumentos e das tecnologias para o cuidado que 
compõe a formação desses profissionais (VIANNA, 2012). 
O psicólogo é o profissional responsável pela manutenção do equilíbrio 
mental das pessoas. A psicologia sugere três abordagens distintas para 
a promoção da saúde mental, que são elas: 
A abordagem individual (que consiste na melhora da autoestima do 
indivíduo) 
A abordagem comunitária (utilização de ferramentas que busquem a 
integração social) e 
A abordagem oficial (utilização de políticas públicas de saúde mental). 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 46 
Por muitos séculos o conceito de doença mental estava ligado a explicações 
mágico-religiosas, que atribuíam a uma força sobrenatural a origem dos 
transtornos mentais. Assim, a loucura era aceita como uma imposição divina, uma 
interferência dos deuses. (BRASIL, 2003, p. 15-16). 
A prática predominante na área de saúde mental sustentava-se nos 
seguintes princípios: da hereditariedade – acreditavam que passava de geração 
em geração; da institucionalização - o tratamento só poderia ocorrer através da 
hospitalização; da periculosidade - todos os “loucos” eram agressivos e perigosos; 
e da incurabilidade – a loucura não tinha cura. O paciente era visto como um 
transtorno para a sociedade e por isso as práticas adotadas seqüestravam este 
cidadão temporariamente dos direitos civis, isolando-o e segregando-o em 
manicômios, afastando-o dos espaços urbanos (BRASIL, 2003). 
Em plena ditadura militar no Brasil, não havia espaço para nenhum tipo de 
questionamento político e social; reforçava-se que o louco era de difícil 
convivência, perigoso e representava o diferente do convencional, do aceitável 
pelas regras sociais. Por isso, fazia-se necessário segregá-lo, seqüestrá-lo e cassar 
seus direitos civis, submetendo-o à tutela do Estado. Isso perdura na atualidade, 
pois o Código Civil em vigor reforça que os “loucos de todo o gênero” são incapazes 
para os atos da vida civil. Com esta afirmação, a segregação deste grupo era 
considerada legal (BRASIL, 2003). 
Neste caos do sistema psiquiátrico, juntamente com os avanços da 
Constituição de 1988, surgiram espaços de elaboração e aprofundamento de leis 
voltadas para o atendimento das questões sociais, propiciando um ambiente 
adequado para que a sociedade civil, trabalhadores de Saúde Mental e a articulação 
Nacional da Luta Antimanicomial se organizassem pela reforma do sistema 
psiquiátrico, buscando um novo estado de direito para o doente mental (BRASIL, 
2003). 
Norteadas pelos princípios da universalização, integralidade, eqüidade, 
descentralização e participação popular, foram realizadas sucessivas conferências 
de Saúde Mental nos diversos níveis (nacional, estadual, municipal e distrital), 
tendo como objeto a inserção da Saúde Mental nas ações gerais de saúde (BRASIL, 
2003). 
O importante é que nestas conferências o processo de municipalização, a 
criação dos conselhos de saúde e os dispositivos legais previstos para a efetivação 
do SUS foram considerados, como mecanismos na desconstrução do modelo 
asilar dos hospitais psiquiátricos (asilo de “loucos”) (BRASIL, 2003). 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 47 
TRANSTORNOS MENTAIS 
Entre os séculos XVII e XVIII houve um aumento da confiança na razãoem 
detrimento da tradição e da fé. Philippe Pinel (XVIII), psiquiatra Francês, 
conhecido como o “pai da psiquiatria”, introduziu o pensamento de que o indivíduo 
com transtornos mentais, assim como em qualquer outra doença, necessitava de 
cuidados e medicamentos para paliativizar o seu sofrimento. Nessa época, a 
ocorrência dos transtornos mentais começou a ser vista como sendo de ordem 
física, psíquica e social, sendo, ainda, associada biologicamente a alterações 
genéticas ocorridas de maneira congênita ou adquirida ao longo da vida 
(TAVARES, 2019, p. 96). 
À medida que a ciência foi evoluindo, as correntes biológicas e 
psicológicas que se empenhavam em explicar a origem dos transtornos mentais 
foram ganhando força, enquanto o misticismo e as influências sobrenaturais por 
trás da doença reduziram. No entanto, ainda hoje diferentes experimentos têm 
demonstrado que a espiritualidade é um fator preponderante na prevenção e no 
manejo de diferentes transtornos mentais (TAVARES, 2019, p. 96). 
Dentre as explicações biológicas para a ocorrência dos transtornos 
mentais, acredita-se que sua ocorrência decorre de diferentes fatores, o que inclui 
distúrbios ou alterações genéticas, bioquímicas, endócrinas e imunológicas. No 
entanto, sua manifestação depende da exposição do indivíduo a fatores ambientais 
e comportamentais (TAVARES, 2019, p. 97). 
A psicologia defende que a subjetividade por trás do sujeito pode 
influenciar na ocorrência de transtornos mentais. Suas experiências e vivências ao 
longo da sua existência podem desencadear sinais e sintomas capazes de alterar o 
seu comportamento, portanto, uma abordagem da doença que negligencie o sujeito 
ou a pessoa (SOUSA; CALLOU; MOREIRA, 2013) torna-se ineficaz, visto que não 
adianta um corpo funcionando perfeitamente se a mente estiver adoecida 
(TAVARES, 2019, p. 97). 
A psicoterapia, uma das modalidades de tratamento para os transtornos 
mentais, busca identificar comportamentos, emoções, experiências e opiniões que 
o indivíduo apresenta e que podem influenciar negativamente na sua saúde mental 
(TAVARES, 2019, p. 97). 
Na medicina a palavra transtorno representa uma anormalidade, e significa 
que uma função de seu corpo, nesse caso a mente, pode não estar funcionando 
corretamente. Os transtornos mentais são causadores de problemas na vida das 
pessoas, pois eles significam que uma determinada função psíquica não está 
reagindo adequadamente. Sendo assim, eles afetam diretamente o pensamento, 
os sentimentos, as percepções, as sensações, e o modo como nos relacionamos com 
os outros e com o mundo (ESNP/FIOCRUZ, 2011). 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 48 
Os transtornos mentais podem afetar qualquer tipo de pessoa, em qualquer 
lugar do mundo. Podem se manifestar tanto em um morador de uma fazenda no 
interior do Pará, ou igualmente em um príncipe inglês. Qualquer um pode ter os 
tais transtornos mentais: médicos, engenheiros, secretárias, garis, pessoas altas, 
baixas, gordas, ou magras (ESNP/FIOCRUZ, 2011). 
Os problemas mentais podem surgir em dois tipos: • Diante de situações em 
que a tensão mental é muito intensa e a adaptação se torna difícil, e quando • 
Pequenas falhas no desenvolvimento psicológico, social ou cognitivo acabam 
prejudicando sua capacidade de adaptação (CARTILHA, 2019). 
Segundo cartilha da Fiocruz (2011), os transtornos mentais podem ser 
desencadeados por algum acontecimento social, sempre que esses afetem de 
alguma forma o funcionamento da mente de um indivíduo ou de um grupo de 
indivíduos. Quando um evento social afeta de maneira doentia o funcionamento da 
mente de uma pessoa, chamamos de "fator psicossocial", isto é: o individuo não é 
isolado, ele age e reage — interage com o meio ambiente e o meio social onde vive 
(ESNP/FIOCRUZ, 2011). 
Os transtornos mentais, em geral resultam da soma de muitos fatores, tais 
como: 
- Alterações no funcionamento do cérebro; 
- Fatores genéticos; 
- Fatores da própria personalidade do indivíduo; 
- Condições de educação; 
- Ação de um grande número de estresses; 
- Agressões de ordem física e psicológica; 
- Perdas, decepções, frustrações e sofrimentos físicos e 
psíquicos que perturbam o equilíbrio emocional. (AMARAL, 2011 apud 
GAIANO et al., 2018). 
 
A American Psychiatric Association (APA, 2000 apud GAIANO et al., 2018) 
define transtorno mental como: 
 
uma sińdrome ou um padrão psicológico ou comportamental 
clinicamente significativo que ocorre em um indivíduo e que está 
associado a angústia (p. ex., um sintoma doloroso) ou incapacidade (ou 
seja, problemas em uma ou mais áreas importantes do funcionamento), 
ou ao aumento significativo do risco de morte, de dor, de incapacidade, 
ou ainda a uma importante perda de liberdade. (APA, 2000 apud GAIANO 
et al., 2018) 
 
Pesquisas realizadas demonstram que uma em cada três pessoas terá pelo 
menos um episódio de transtorno mental no decorrer da vida, e, no período de um 
ano, um entre cinco indivíduos encontra-se em fase ativa da doença. No entanto, a 
prática aponta o período de resistência pelo qual as pessoas passam antes de se 
sentirem “obrigadas” a procurar ajuda, ressaltando-se o fato de que algumas 
jamais a procuram (BRASIL, 2013). 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 49 
Sendo assim, percebemos que tudo depende da forma como vemos o 
ambiente e como podemos nos adaptar ou não ao mesmo, problemas mentais ou 
transtornos mentais precisam de atenção e cuidado para que cada um seja tratado 
da forma correta e pela equipe certa. Existem muitos tratamentos efetivos para a 
doença mental. Eles podem incluir medicamentos e outros tratamentos físicos, ou 
tratamentos pela fala de várias espécies que são as terapias, aconselhamento e/ou 
apoio no dia a dia da vida em diferentes formas (CARTILHA, 2019). 
No Brasil, a política com relação ao tratamento dos transtornos mentais 
permaneceu sempre “atrelada” ao modelo europeu do século XIX, centrado no 
isolamento dos psicopatas ou indivíduos suspeitos, toxicômanos e intoxicados 
habituais em instituições fechadas, mesmo quando tal modelo tornou-se 
ultrapassado em muitos outros países (BRASIL, 2003, p. 20). 
Na atualidade, os profissionais de saúde dispõem de diversas ferramentas 
capazes de sistematizar e subsidiar o atendimento aos usuários dos serviços de 
saúde, visto que, há algumas décadas, as práticas eram pautadas somente na 
medicalização, o que reforçava o modelo hospitalocêntrico e médico centrado. 
Com o advento do conceito de promoção da saúde, a doença passou a ser 
vista de outra forma, exigindo que os profissionais implementassem a sua 
assistência com foco no paciente, e não mais na doença, exercendo uma clínica e 
gestão do cuidado com foco na produção de saúde, por meio da valorização da 
integralidade do usuário, considerando sua história de vida, conhecimento e 
habilidades e respeitando sua individualidade (TAVARES, 2019, p. 96). 
Portanto, cada pessoa reage a um evento 
estressor de maneira individual, e, dependendo 
de uma série de fatores, a resposta pode ser 
acompanhada ou não de um problema mental ou 
de um transtorno mental. Os Transtornos 
mentais ocorrem pela interação de fatores 
individuais, sociais e ambientais e nem sempre 
precisam ser desencadeados por uma situação 
específica (CARTILHA, 2019). 
 
A demência é uma manifestação 
comum a diferentes transtornos 
mentais e algumas doenças 
neurológicas. O paciente que 
apresenta essa manifestação 
depende, comumente, do auxílio 
de familiares e cuidadores para 
execução das atividades do dia a 
dia. Dado esse motivo, é papel do 
enfermeiro, como profissional de 
saúde, assistir a esse paciente e 
sua família. 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 50 
 
TEMA DA AULA: COMPORTAMENTO DO PACIENTE, ETIOLOGIA, EPIDEMIOLOGIA, FATORES 
DE RISCOS E FORMAS DE TRATAMENTOS DOS TRANSTORNOS MENTAIS. 
FONTEBIBLIOGRÁFICA 
BRASIL. Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores da área de 
Enfermagem. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. 
(org.). Profissionalização de auxiliares de enfermagem: cadernos do 
aluno: instrumentalizando a ação profissional I. 2. ed.[reimpr.] Brasília / 
Rio de Janeiro: Ministério da Saúde / Fiocruz, 2003. 164 p. Disponível 
em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/profae/pae_cad1.pdf. 
Acesso em: 02 abr. 2020. 
CASABURI, Luiza Elena. Teoria de crise e teoria psicodinâmica. In: 
TAVARES, Marcus Luciano de Oliveira; CASABURI, Luiza Elena; SCHER, 
Cristiane Regina (org.). Saúde mental e cuidado de enfermagem em 
psiquiatria. Porto Alegre: SAGAH, 2019. p. 73-92. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595029835/cfi
/152!/4/4@0.00:0.00. Acesso em: 02 abr. 2020. 
MAISTRO, Suelen. Id, Ego e Superego: entenda rapidamente quem são 
eles. entenda rapidamente quem são eles. 2020. Disponível em: 
https://amemais.net.br/id-ego-e-superego-entenda-rapidamente/. 
Acesso em: 02 abr. 2020. 
Tópico 1: Alterações de comportamento e personalidade 
Pessoas saudáveis diferem significativamente em geral na sua 
personalidade, humor e comportamento. Cada pessoa também varia de dia para 
dia, dependendo das circunstâncias. Entretanto, uma mudança importante e 
repentina na personalidade e/ou comportamento, especialmente se não estiver 
relacionada a um evento óbvio (como tomar um medicamento ou perder uma 
pessoa amada), em geral indica um problema (FIRST, 2017). 
Segundo First (2017) as alterações na personalidade e no comportamento 
podem ser basicamente classificadas da seguinte forma: 
• Confusão ou delirium 
• Delírios 
• Fala ou comportamento desorganizado 
• Alucinações 
• Humores extremos (como depressão) 
Essas categorias não são transtornos. Elas são apenas uma maneira que os 
médicos usam para organizar diferentes tipos de pensamento, fala e 
comportamento anormal. Essas mudanças de personalidade e de comportamento 
podem ser causadas por problemas de saúde física ou mental. As pessoas podem 
ter mais de um tipo de alteração. Por exemplo, pessoas com confusão devido a uma 
interação medicamentosa às vezes têm alucinações e pessoas com extremos de 
humor podem ter delírios (FIRST, 2017). 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 51 
Embora às vezes as pessoas presumam que mudanças de personalidade, 
pensamento ou comportamento são todas devidas a transtornos mentais, existem 
muitas causas possíveis. Em última análise, todas as causas envolvem o cérebro, 
mas dividi-las em quatro categorias pode ser útil: 
• Transtornos mentais. 
• Drogas (incluindo intoxicação por drogas, abstinência e efeitos colaterais). 
• Distúrbios médicos que afetam principalmente o cérebro. 
• Transtornos em todo o corpo (sistêmicos) que também afetam o cérebro 
(FIRST, 2017). 
 
Tópico 2: Conceituando Etiologia e Epidemologia 
As doenças mentais são de natureza relacional e subjetiva. Ocorrem e 
circunscrevem distúrbios que comprometem o cotidiano social das pessoas, são 
profundamente vinculadas à cultura e suas manifestações, como a religião, as 
emoções, os comportamentos, mesmo os de saúde, e a linguagem, apresentando-se 
com grandes diferenças entre países e grupos sociais. Tais características 
determinam em grande parte dificuldades para adotar conceituações 
universais, que se ajustem às suas diferentes formas de manifestações culturais 
dos fatores externos e prévios ao processo patológico (p. 545). 
A etiologia é, na linguagem médica, o estudo das causas e fatores de uma 
doença e do conjunto dessas causas. Essa disciplina médica se baseia na pesquisa 
das causas a partir do estudo dos sinais e sintomas de uma patologia (semiologia). 
Utilizamos igualmente esse termo no campo psiquiátrico para definir os fatores 
potenciais de uma doença mental. 
Tradicionalmente, a Epidemiologia tem sido definida como a ciência que 
estuda a distribuição das doenças e suas causas em populações humanas. Segundo 
Jénicek (1995 apud FILHO; BARRETO; ROUQUARYOL, xxxx, p. 3), um dos objetivos 
principais da Epidemiologia deve ser identificar fatores etiológicos na gênese das 
enfermidades. De fato, muitas doenças, cujas origens até recentemente não 
encontravam explicação, têm sido estudadas em suas associações pela metodologia 
epidemiológica, que aplica o método científico da maneira mais abrangente 
possível a problemas de saúde da comunidade 
FATORES POTENCIAIS DE UMA DOENÇA MENTAL 
Precisamos compreender que nós, seres humanos, funcionamos como um 
todo, ou seja, vários fatores influenciam ao mesmo tempo os nossos 
comportamentos, as nossas escolhas. 
 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 52 
Por exemplo, se alguém desenvolve um medo excessivo da violência atual, a 
ponto de recusar-se a sair às ruas, ou até mesmo a atender o telefone, assistir 
televisão ou chegar ao portão de casa, podemos pensar de imediato que há várias 
causas colaborando para isso, como: a história de vida do indivíduo, se foi uma 
criança muito protegida ou excessivamente exposta; os mecanismos fisiológicos 
que atuam na resposta de medo; o próprio aumento da violência nos dias atuais e a 
exploração que a imprensa faz disso; alguma perda de pessoa querida em período 
recente. Tudo pode atuar ao mesmo tempo (BRASIL, 2003). 
Esse é um conceito do qual ouvimos muito falar atualmente: o de 
multicausalidade. Ou seja, várias são as causas que fazem com que o indivíduo 
venha a desenvolver, em determinado momento de sua história, um transtorno 
mental. De forma simplificada, podemos dizer que três grupos de fatores 
influenciam o surgimento da doença mental: os físicos ou biológicos, os ambientais 
e os emocionais (BRASIL, 2003). 
FATORES FÍSICOS OU BIOLÓGICOS 
O nosso corpo funciona de forma integrada, isto é, os aparelhos e sistemas 
se comunicam uns com os outros e o equilíbrio de um depende do bom 
funcionamento dos outros. Muitas vezes podemos achar difícil de entender como 
sintomas tão “emocionais” como sentir-se culpado ou ter pensamentos repetidos 
de morte ou ouvir vozes possam ter também uma base orgânica, mas ela existe. O 
envelhecimento, o abuso de álcool ou outras substâncias são exemplos comuns. Em 
muitos casos essa base já pode ser identificada e descrita pelos especialistas, em 
outros casos ainda não (BRASIL, 2003) 
Podemos definir os fatores físicos ou biológicos como sendo as alterações 
ocorridas no corpo como um todo, em determinado órgão ou no sistema nervoso 
central que possam levar a um transtorno mental (BRASIL, 2003). Dentre os 
fatores físicos ou biológicos que podem ser a base ou deflagrar um transtorno 
mental, existem alguns mais evidentes, que avaliaremos a seguir: 
a) Fatores genéticos ou hereditários: é importante deixar claro que quando 
se fala de fatores genéticos em Psiquiatria, estamos falando de tendências, 
predisposições que o indivíduo possui de desenvolver determinados 
desequilíbrios químicos no organismo que possam levá-lo a apresentar 
determinados transtornos mentais (BRASIL, 2003) 
b) Fatores pré-natais: As condições de gestação, dentre eles os fatores 
emocionais, econômicos e sociais, o consumo de álcool, drogas, cigarro e de 
alguns tipos de medicação podem prejudicar a formação do bebê, gerando 
problemas futuros que poderão comprometer sua capacidade adaptativa no 
crescimento e desenvolvimento, podendo facilitar o surgimento da doença 
mental (BRASIL, 2003) 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 53 
c) Fatores peri-natais: Peri-natal é tudo aquilo que acontece “durante” o 
nascimento do bebê. Em algumas situações o bebê pode sofrer danos 
neurológicos devido a traumatismos ou falta de oxigenação do tecido 
cerebral. Nesses casos, dependendo da gravidade desses danos, a criança 
poderá desenvolver problemas neurológicos (como, por exemplo,a 
epilepsia ou diversos tipos de atraso de desenvolvimento) que podem 
formar a base para futuros transtornos psiquiátricos (BRASIL, 2003) 
d) Fatores neuro-endocrinológicos: Peri-natal é tudo aquilo que acontece 
“durante” o nascimento do bebê. Em algumas situações o bebê pode sofrer 
danos neurológicos devido a traumatismos ou falta de oxigenação do tecido 
cerebral. Nesses casos, dependendo da gravidade desses danos, a criança 
poderá desenvolver problemas neurológicos (como, por exemplo, a 
epilepsia ou diversos tipos de atraso de desenvolvimento) que podem 
formar a base para futuros transtornos psiquiátricos (BRASIL, 2003) 
e) Fatores ligados a doenças orgânicas: O transtorno mental pode também 
aparecer como conseqüência de determinada doença orgânica, tal como 
infecções, traumatismos, vasculopatias, intoxicações, abuso de substâncias e 
qualquer agente nocivo que afete o sistema nervoso central (BRASIL, 2003) 
FATORES AMBIENTAIS 
Os fatores ambientais exercem forte e constante influência sobre nossas 
atitudes e nossas escolhas diárias, tanto externa quanto internamente, isto é, como 
nos sentimos e enxergamos a nós mesmos (BRASIL, 2003, p. 41). 
As reações a cada estímulo ambiental se darão de acordo com a estrutura 
psíquica de cada pessoa, e essa estrutura psíquica estará intimamente ligada às 
experiências que a pessoa teve durante a vida. Assim se estabelece uma relação 
circular entre todos os fatores geradores de transtorno mental onde um ocasiona o 
outro. Para melhor compreensão, podemos dizer que os fatores ambientais podem 
ser sociais, culturais e econômicos (BRASIL, 2003, p. 41). 
Para melhor compreensão, podemos dizer que os fatores ambientais podem 
ser sociais, culturais e econômicos: 
 
Como sociais podemos compreender todas as interações que temos com 
o outro, nossas relações pessoais, profissionais e com outros grupos. 
Estudos falam da importância das pessoas significativas em nossa 
infância e de como ficam marcadas em nós as suas formas de pensar e 
agir, assim como as reações que passamos a ter influenciam o nosso 
comportamento diante de outras pessoas. Se, com as pessoas 
importantes de nossa infância, aprendemos que existem pessoas que não 
são confiáveis e que devemos estar sempre atentos para não sermos 
enganados, possivelmente teremos dificuldades em confiar em alguém 
mesmo em nossa vida adulta. 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 54 
 
Entre os fatores ambientais culturais podemos lembrar de todo o 
sistema de regras no qual estamos envolvidos. Este sistema varia de país 
para país, de estado para estado, de grupo para grupo, e também de 
acordo com a época. Ou seja, noção de certo e errado, de bom e mau 
varia muito dependendo do local e época em que estamos. Os mitos, as 
crenças, os rituais que nos cercam, nos dão as noções de bem e mal que 
são aceitas pelos grupos aos quais pertencemos, seja ele o nosso país, o 
nosso grupo religioso, a nossa escola ou mesmo a nossa família. 
 
Outro grupo de fatores ambientais que podemos perceber como 
exercendo influência sobre nós são os econômicos. Nesse tópico tanto 
podemos nos referir à nossa possibilidade mais direta de aquisição de 
bens, ou seja, “nosso bolso”, quanto às atuais condições sociais, onde a 
miséria, aliada à baixa escolaridade, pode levar ao aumento da 
criminalidade e esta ao aumento de tensão em nosso dia-a-dia. (BRASIL, 
2003, p. 41) 
 
 
FATORES EMOCIONAIS OU PSICOLÓGICOS 
Continuamos tentando compreender o que, afinal de contas, torna as 
pessoas diferentes umas das outras. O que faz com que se comportem de uma 
maneira e não de outra. Já abordamos os aspectos físicos e os ambientais e, não por 
acaso, deixamos para abordar os aspectos emocionais depois de bem 
compreendidos os anteriores. Isso porque, como já foi visto antes, os fatores 
influenciam-se entre si, mas no caso dos aspectos emocionais estamos falando de 
formação de identidade, que se inicia justamente com a conjugação dos aspectos 
físicos e ambientais (BRASIL, 2003, p. 42). 
Nós, seres humanos, já “botamos o pé na vida” com algumas características 
que nos são individuais e que as interações que vamos estabelecer com o mundo, a 
partir de nosso nascimento, serão formadoras de um modo de ser 
caracteristicamente nosso, mais ou menos ajustado, ao qual chamamos 
personalidade (BRASIL, 2003, p. 42). 
Entramos em contato com o ambiente social mais amplo pelas portas que 
abrimos nas relações com nossa família nuclear ou com outras figuras de 
sobrevivência de nossas vidas (BRASIL, 2003, p. 43). 
Tópico 3: Epidemiologia dos transtornos mentais – fatores de risco 
Os transtornos mentais e de comportamento (TMC) consistem em uma 
variedade de distúrbios psicológicos e comportamentais que acabam interferindo 
nos processos de relacionamentos interpessoais, de maneira geral os transtornos 
adquirem um curso previsível baseado em cenários passados. 
Segundo o Portal Educação (2013), para que determinado comportamento 
seja classificado como transtorno é necessário que ele traga algum tipo de prejuízo 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 55 
ao indivíduo, compreender a epidemiologia dos transtornos mais comuns é uma 
boa alternativa para combatê-los de maneira mais eficiente. São eles: 
Sexo: os transtornos são mais comuns em mulheres, em especial pela sobrecarga 
de responsabilidades, violência doméstica, variações repentinas de humor, 
depressão. Já os transtornos encontrados na população masculina em sua grande 
maioria estão relacionados ao abuso do álcool e hiperatividade. 
Idade: os transtornos em geral aparecem no final da puberdade e começo da fase 
adulta, alterações hormonais e utilização de substâncias psicoativas funcionam 
como catalisadores nesse processo. 
Etnia: os transtornos mentais possuem maior incidência sobre a população negra, 
o racismo é visto como um fator que acentua as desigualdades, pressionando mais 
ainda o indivíduo. 
Religião: frequentar a igreja tende a diminuir o consumo de álcool, desse modo às 
taxas de transtornos relacionados ao consumo desse produto caem drasticamente, 
em especial em religiões que não permitem o seu consumo. 
Relacionamento: indivíduos casados ou em um relacionamento sério possuem 
menores chances de desenvolver algum tipo de transtorno, viúvos e divorciados 
por sua vez, são grupos de risco. 
Estrutura familiar: ambiente familiar conturbado, ausência de comunicação e 
perda de familiares próximos são considerados como incentivadores de 
transtornos. 
Situação profissional: o desemprego e as suas consequências (dificuldades 
financeiras, não aceitação da sociedade e falta de perspectivas) tendem a criar um 
cenário favorável para o desenvolvimento de transtornos mentais. 
Escolaridade: na América Latina o nível de escolaridade está diretamente 
relacionado à incidência de transtornos mentais, em países desenvolvidos a 
incidência é mais correlacionada à condição financeira. 
A análise de determinado contexto social permite identificar as variáveis 
responsáveis por tornar determinada parcela da população propensa ao 
desenvolvimento de transtornos mentais. Essa identificação permite estruturar as 
políticas voltadas para a saúde mental da região de acordo com a epidemiologia 
apresentada, tornando o tratamento mais eficiente e diminuindo as taxas de 
incidências através de políticas de caráter preventivo. 
 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 56 
Tópico 4: Classificação de transtornos mentais e de comportamento 
MÉTODOS DIAGNÓSTICOS EM PSIQUIATRIA E PSICOLOGIA 
Existem várias técnicas de exploração e avaliação que podem colaborar 
para o levantamento de uma hipótese diagnóstica em Psiquiatria. Dentre os mais 
conhecidos, podemos citar: entrevista, testes e questionários psicológicos e 
explorações neurofisiológicas, por neuroimagem ou neuroquímicas (BRASIL, 2003, 
p. 49). 
A entrevista é um método essencial a qualqueravaliação do paciente 
psiquiátrico. Geralmente se dá no primeiro contato com ele e, embora 
pareça, não se constitui numa simples “conversa” com o paci- ente, mas 
na observação, coleta de dados e tentativa de compreensão do papel da 
doença na vida daquele indivíduo. 
 
Os testes e questionários psicológicos são instrumentos próprios de 
utilização pelo psicólogo, que colaboram com a compreensão diagnóstica 
do indivíduo. 
 
As explorações neurofisiológicas, onde podemos incluir o 
eletroencefalograma (EEG) e o Registro Poligráfico do Sono, são mais 
usados em detecção de causas de transtornos do sono, tais como a 
apnéia do sono. 
 
As explorações por neuroimagem, dentre as quais podemos citar a 
ressonância magnética nuclear (que permite avaliar parte da função 
mental), a tomografia axial computadorizada cerebral (onde se faz várias 
radiografias do cérebro com contraste aplicado por via endovenosa, 
estando indicado em casos em que se suspeita de transtornos de base 
orgânica), a tomografia de emissão de pósitrons (também chamada PET, 
constitui-se em uma técnica mais evoluída para definir melhor alguns 
diagnósticos) e fluxo sangüíneo regional cerebral. Tais técnicas têm uso 
muito específico, a critério médico. 
 
As explorações neuroquímicas, que incluem provas onde se podem 
perceber algumas alterações determinantes de alguns quadros, como a 
depressão, por exemplo. (BRASIL, 2003, p. 50) 
 
SINAIS E SINTOMAS DE TRANSTORNOS MENTAIS 
Os sinais e sintomas também precisam continuar sendo observados e 
registrados por toda a equipe que atende o paciente a fim de manter uma avaliação 
dinâmica dele e ajustar o tratamento sempre que se faça necessário. Nesse aspecto, 
a participação do auxiliar e do técnico de enfermagem é essencial, devendo este 
conhecer os sinais e sintomas mais comuns e estar atento a suas manifestações nos 
pacientes a fim de transmiti-las ao restante da equipe (BRASIL, 2003, p. 50). 
Em um transtorno mental podem estar presentes vários sinais e sintomas 
ao mesmo tempo, assim como um mesmo sintoma pode pertencer a quadros 
psíquicos diversos. Nem sempre os nomes são muito fáceis de serem gravados, 
mas é importante para o auxiliar e o técnico de enfermagem engajado na Saúde 
Mental ter melhor compreensão dos termos usados pelo restante da equipe a fim 
de estabelecer com ela uma troca adequada (BRASIL, 2003, p. 51). 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 57 
Os principais sintomas e transtornos de comportamento são: 
Alterações da sensopercepção 
É a capacidade que desenvolvemos de formar uma síntese de todas as 
sensações e percepções que temos a cada momento e com ela formarmos uma 
idéia do nosso próprio corpo e de tudo o que está à nossa volta. Para isso, fazemos 
uso de todos os nossos órgãos dos sentidos. As alucinações, típicas dos estados 
psicóticos, não costumam constituir um nome estranho, especialmente para quem 
trabalha em um setor de psiquiatria, mas, às vezes, são confundidas com outras 
alterações. 
As alucinações são sensações ou percepções em que o objeto não existe, 
mas que é extremamente real para o paciente, e ele não pode controlá-las, pois 
independem de sua vontade. Assim, numa alucinação auditiva, o paciente não dirá 
“parece que ouço vozes”, e sim “as vozes voltaram e estão me dizendo para não 
escutar o que você diz”. 
As alucinações podem ser auditivas, visuais, gustativas, olfativas, táteis, 
cinestésicas e das relações e funções corporais. Nas ilusões, ao contrário das 
alucinações, o objeto percebido existe, mas sua percepção é falseada, deformada. O 
paciente pode, por exemplo, estar convencido que o teto está baixando e que 
poderá esmagá-lo. Nas ilusões, ao contrário das alucinações, o objeto percebido 
existe, mas sua percepção é falseada, deformada. O paciente pode, por exemplo, 
estar convencido que o teto está baixando e que poderá esmagá-lo. 
Alterações do pensamento 
Pensamento é o processo pelo qual associamos e combinamos os 
conhecimentos que já adquirimos no mundo e chegamos a uma conclusão ou a 
uma nova idéia. Inicia-se com uma sensação (visão, olfato, paladar, audição e tato) 
e conclui-se com o raciocínio, que é caracterizado pela associação de idéias. Podem 
ser classificadas de acordo com a direção ou com o conteúdo do pensamento. 
Alterações da linguagem 
Pode tratar se de alterações na articulação da linguagem ou no uso da 
mesma. A logorréia é a fala acelerada e compulsiva; a gagueira é a repetição de 
sílabas, com dificuldade para dar início e prosseguimento à fala. Na ecolalia há 
repetição, como em eco, das últimas palavras proferidas por alguém; na 
glossolalia, o paciente usa a linguagem de forma estranha e incorreta, muitas 
vezes com a criação de novos termos, incompreensíveis (neologismos). No 
mutismo, o indivíduo mantém-se mudo, sendo comum em estados depressivos e 
de esquizofrenia catatônica. 
 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 58 
Alterações da consciência 
A consciência é que faz de nós mesmos seres psíquicos vinculados à 
realidade. É através dela que nos damos conta de nossas sensações, percepções, de 
nosso ser. Sua alteração apresenta várias formas: delírio, despersonalização e 
desrealização (alterações da consciência corporal), estados crepusculares, 
obnubilação, confusão, estupor e hipervigília. 
Alterações da atenção e da orientação 
Atenção é quando se focaliza seletivamente algumas partes da realidade. 
Para que aconteça, é necessário que o indivíduo esteja em estado de alerta 
(desperto). Como alterações mais comuns, podemos citar a dificuldade de 
concentração ou inatenção e a mudança consante de focos de atenção ou 
distração, que podem vir a acontecer nos casos em que estamos sob efeito do sono 
ou de alguma droga, sem que com isso se configure em uma alteração duradoura. 
Orientação é a capacidade de integrar informações a respeito de dados que 
nos localizem, principalmente, no tempo e no espaço (dados estes que dependem 
também da memória, atenção e percepção). Como alterações podemos citar a 
desorientação, onde o paciente é incapaz de relacionar os dados a fim de perceber 
onde e em que época se encontra, e a dupla orientação, onde o indivíduo oscila 
entre uma orientação adequada e uma inadequada, misturando os dados, como um 
paciente que sabe que mudou de século, mas continua afirmando estar em 1959. 
Alterações da memória 
Por memória podemos entender todas as lembranças existentes na 
consciência. Suas alterações podem ser quantitativas ou qualitativas. A 
hipermnésia é alteração em que há clareza excessiva de alguns dados da 
memória. De forma contrária, a amnésia é a impossibilidade de recordar total ou 
parcialmente fatos ocorridos antes do início do transtorno (amnésia retrógrada), 
após o seu início (amnésia anterógrada) ou fatos isolados (amnésia lagunar). A 
amnésia pode ainda se dar como uma defesa, suprimindo da memória fatos muito 
carregados afetivamente (amnésia afetiva). Já a paramnésia constitui-se de 
distorções dos dados da memória. Pode ocorrer um falseamento na recordação de 
determinados fatos (paramnésia da recordação), ou ainda ao lançar mão dos dados 
da memória para reconhecimento. 
Alterações da afetividade 
Muito resumidamente, podemos dizer que afetividade constitui-se na 
capacidade de experimentar sentimentos e emoções. Dentre suas alterações, 
podemos citar a labilidade afetiva em que ocorre mudança dos estados afetivos 
sem causa externa aparente. Na tristeza patológica, a pessoa sente profundo 
abatimento, baixa auto-estima, geralmente acompanhados de tendência para o 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 59 
isolamento, choro fácil, inibição psicomotora, sendo característica da de- pressão. 
Na alegria patológica, o paciente mostra-se eufórico, agitado, com elevada auto-
estima, verborréia, grande desinibição, sendo característica de episódios de mania. 
Alterações do sono 
Podem ocorrercomo um sintoma ou como o próprio transtorno mental, ou 
ainda, como reação adversa a determinados medicamentos. Encontramos mais 
facilmente a insônia, que é a falta de sono durante uma parte ou toda a noite (ou 
período habitual de sono do indivíduo). Pode ser inicial (a pessoa custa a “pegar no 
sono” – mais característica de quadros de ansiedade), ou terminal (a pessoa acorda 
de madrugada e não consegue voltar a dormir – mais característico da depressão). 
Já a narcolepsia é sono em excesso durante todo o dia. 
Alterações do Movimento 
Na estereotipia, o indivíduo costuma repetir continuamente e sem 
necessidade determinados movimentos, sem que haja uma lógica facilmente 
observável. Já os tiques são movimentos rápidos e involuntários, também 
repetitivos. E a catalepsia que é uma atitude de imobilidade, tal como se fosse uma 
estátua, mantida pela pessoa inclusive com posturas aparentemente incômodas. 
Típica da catatonia. 
 
TEMA DA AULA: TRANSTORNOS MENTAIS E FORMAS DE TRATAMENTO 
FONTE 
BIBLIOGRÁFICA 
BRASIL. Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores da área 
de Enfermagem. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação 
na Saúde. (org.). Profissionalização de auxiliares de 
enfermagem: cadernos do aluno: saúde mental. 2. ed.[reimpr.] 
Brasília / Rio de Janeiro: Ministério da Saúde / Fiocruz, 2003. 124 
p. Disponível em: 
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/profae/pae_cad1.pd
f. Acesso em: 02 abr. 2020. 
ESNP/FIOCRUZ. CADERNOS DE MONITORAMENTO 
EPIDEMIOLÓGICO E AMBIENTAL: O que são transtornos 
mentais? Rio de Janeiro: ESNP/FIOCRUZ, n. 1, out. 2011. 
Disponível em: 
http://www6.ensp.fiocruz.br/repositorio/sites/default/files/arqu
ivos/TranstornosMentaisC1.pdf. Acesso em: 02 abr. 2020. 
TAVARES, Marcus Luciano de Oliveira. O enfermeiro no serviço de 
emergência psiquiátrica: intervenções em crises. In: TAVARES, 
Marcus Luciano de Oliveira; CASABURI, Luiza Elena; SCHER, 
Cristiane Regina (org.). Saúde mental e cuidado de enfermagem 
em psiquiatria. Porto Alegre: SAGAH, 2019. p. 255-276. 
Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595029
835/cfi/256!/4/2@100:0.00. 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 60 
Tópico 1: Ansiedade... crise... e estresse são a mesma coisa? 
Antes de exemplificar os transtornos mentais mais comuns e seus 
tratamentos é de suma importância saber identificar alguns conceitos muito 
usados em Psiquiatria, sendo muitas vezes apontados como constitutivos ou 
provocadores do transtorno mental, nos quais percebemos que há uma mescla dos 
fatores físicos, ambientais e emocionais, são eles: ANSIEDADE, CRISE E ESTRESSE. 
A ansiedade apresenta reações emocionais e fisiológicas. As reações 
emocionais são ligadas ao medo e se apresentam como desconforto, 
intranquilidade, apreensão. As reações fisiológicas são ligadas à tensão e aparecem 
como sudorese, taquicardia, opressão no tórax ou epigastro, dores musculares, 
cefaléia, boca seca, queimação no estômago, ou ainda diarréia, náuseas, vômito, 
tonturas, turvação na vista (BRASIL, 2003, p.46). 
Ansiedade está intimamente ligada às situações de mudança, uma vez que 
teremos de sair do ritmo com o qual estamos acostumados, o que mexe com nossa 
segurança. Por isso, todos nós experimentamos ansiedade em vários momentos de 
nossas vidas. Ansiedade é uma emoção normal, como a tristeza ou a alegria, e até 
um certo ponto desejável, visto que pode estimular a inteligência e a criatividade, 
além de nos impulsionar para mudanças necessárias (BRASIL, 2003, p.46). 
Podemos dizer que a ansiedade torna-se um transtorno quando mantém 
seu grau elevado por um período mais prolongado do que, por exemplo, alguma 
situação de crise que estejamos passando, e/ou quando se torna incapacitante, 
dificultando ou impossibilitando nossas atividades cotidianas (BRASIL, 2003, 
p.46). 
Crise é uma palavra das mais usadas atualmente. O país está em crise, a 
saúde está em crise, o local onde trabalhamos geralmente está passando por uma 
crise, o paciente “teve uma crise”, nós estamos em crise. Mas o que quer dizer crise 
dentro da Saúde Mental? 
O termo crise foi inicialmente empregado em Psiquiatria em 1963, por 
Caplan e Lindemann, para descrever as reações de uma pessoa a situações 
traumáticas, tais como uma guerra, desemprego, morte de alguém querido. Eric 
Erikson usou o mesmo termo para descrever as diversas etapas normais do 
desenvolvimento de uma pessoa, momentos nos quais ela teria que passar por 
mudanças. Ele identificou essas crises que ocorrem na vida de todos nós desde o 
nascimento até a morte (passando pela infância, adolescência, idade adulta e 
velhice) como crises evolutivas. Ele também nomeou as crises imprevisíveis, 
anteriormente descritas, como crises acidentais (BRASIL, 2003, p. 46). 
O conceito de crise envolve “[...] momento perigoso ou difícil de uma 
evolução ou de um processo” ou ainda um “[...] período de desordem acompanhado 
de busca penosa de uma solução” (FERREIRA, 2010, documento on-line). Embora o 
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conceito geral de crise seja considerado como um momento de turbulências, ela é 
capaz de abrir espaços para possibilidades, uma vez que retira o indivíduo da sua 
rotina, do seu estado de ordem, e o coloca em uma situação na qual é necessário 
uma tomada de decisão, o que gera sofrimento, insegurança e dor (TAVARES, 2019, 
p. 257). 
A partir do momento que se entende a crise como uma oportunidade para 
(re)conhecê-la como uma resposta a um momento de intenso sofrimento psíquico, 
os profissionais de saúde são capazes de buscar alternativas capazes de prevenir 
os episódios ou outras maneiras de lidar com sua ocorrência (TAVARES, 2019, p. 
257). 
O processo envolvendo a crise pode envolver, resumidamente, as seguintes 
etapas (STEFANELLI; FUKUDA; ARANTES, 2008 apud p. 257): 
 
1. Aumento da ansiedade diante de um fator estressante que ameaça 
o autoconceito, o que desequilibra seu estado emocional e psíquico. Há 
sempre algum “gatilho” capaz de desencadear essa ansiedade. 
 
2. Naturalmente, o indivíduo busca maneiras para contornar a 
situação e se reequilibrar, no entanto, tentativas frustradas de 
restabelecer esse equilíbrio fazem com que o indivíduo aumente o 
sentimento de ansiedade. 
 
3. As falhas nas diversas tentativas aumentam ainda mais a 
ansiedade, isso faz com que o indivíduo busque alívio imediato no 
isolamento e/ou na fuga. 4. Quando não há uma redução da ansiedade, 
pode ocorrer uma desorganização da personalidade, além de episódios 
de pânico, confusão e violência conta si e os outros, o que caracteriza a 
crise. (STEFANELLI; FUKUDA; ARANTES, 2008 apud p. TAVARES, 2019, 
p. 258) 
 
Diante disso, percebe-se que os profissionais de saúde, especialmente os 
enfermeiros, apresentam atribuições fundamentais na prevenção e no manejo das 
situações de crise, as quais iniciam antes mesmo de os episódios ocorrerem. A 
prevenção é sempre a primeira opção no manejo da crise e pode ser realizada nos 
diferentes níveis e dispositivos de atenção à saúde, seja nas Unidades Básicas de 
Saúde, na Atenção Domiciliar ou nos CAPSs, que são os serviços responsáveis pela 
construção do projeto terapêutico desses pacientes. 
Hoje em dia, todo mundo se diz estressado. Estresse virou sinônimo de 
irritação, cansaço, nervosismo, ansiedade, raiva e as mais diversas sensações e 
emoções. Na verdade o estresse foi conceituado, em princípio, como um conjunto 
de reações fisiológicas, comandadas pelo sistema nervoso autônomo, 
possivelmente desenvolvidas em nossa longa história de adaptação ao mundo 
(BRASIL, 2003, p. 47). 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 62 
Tais reações têm o objetivo de preparar nosso organismo para lutar ou fugir 
diante de uma situação de perigo, que, na época das cavernas, poderia ser, por 
exemplo, o ataque de algum animal. Portanto, o estresse é uma resposta deEllen. Psicologia da saúde x 
psicologia hospitalar: definições e possibilidades de inserção 
profissional. : definições e possibilidades de inserção profissional. 
Psicologia: Ciência e Profissão, Brasília, v. 24, n. 3, p. 48-57, set. 2004. 
FapUNIFESP (SciELO). Disponível em: 
http://www.scielo.br/pdf/pcp/v24n3/v24n3a07.pdf. Acesso em: 02 abr. 
2020. 
FELDMAN, Robert S. Introdução à psicologia. 10. ed. Porto Alegre: 
AMGH, 2015. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788580554892/cf
i/52!/4/4@0.00:23.8. Acesso em: 26 dez. 2019. 
OLIVEIRA, Dalton. Psicologia Jurídica: a importância do estudo da 
psicologia jurídica. : A importância do estudo da Psicologia Jurídica. In: 
GONZAGA, Alvaro de Azevedo; ROQUE, Nathaly Campitelli (org.). 
Formação humanística para concursos. 5. ed. Rio de Janeiro / São 
Paulo: Forense / MÉTODO, 2020. Cap. 6. p. 323-340. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530988371/cf
i/6/10!/4/12/4@0:100. Acesso em: 02 abr. 2020. 
MYERS, David G.; DEWALL, Nathan C. Psicologia. tradução Cristiana de 
Assis Serra, Luiz Cláudio Queiroz de Faria. - 11. ed. - [Reimpr.]. - Rio de 
Janeiro: LTC, 2019. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788521634614/cf
i/6/28!/4/18/2@0:56.4. Acesso em: 26 dez. 2019. 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 7 
Tópico 1: Entendendo a Psicologia 
 
Psicologia é o estudo dos processos mentais e a influência desses no 
comportamento humano, de acordo com Oliveira (2020). O termo psicologia 
provém da junção das palavras gregas psychē (alma) e logos (conhecimento), ou 
seja, estudo da alma. 
O psicólogo é o profissional que nos ajuda a entender nossas motivações, 
nosso modo de agir ante determinado fato ou circunstância (por exemplo, por que 
alguns de nós têm medo de lugares altos ou por que, em alguns momentos de 
nossa vida, sem motivo aparente nos sentimos tristes) (BRASIL, 2003). 
As subaéreas da psicologia equiparam-se a uma família extensa, com uma 
variedade de sobrinhos e sobrinhas, tios e tias e primos e primas que, embora 
possam não interagir diariamente, estão relacionados uns aos outros, pois tem um 
objetivo em comum: compreender o comportamento. Uma maneira de identificar 
as principais subáreas é considerar algumas das questões básicas sobre 
comportamento das quais elas tratam (FELDMAN, 2015, p.6). 
Segundo Myers e Dewall (2019, p.11) o conjunto de subáreas que 
denominamos psicologia, confluem diferentes disciplinas: 
• Pesquisa aplicada: estudo científico que visa solucionar problemas práticos. 
 
• Aconselhamento psicológico: ramo da psicologia que ajuda as pessoas passando por 
problemas (em geral relacionados com a escola, o trabalho ou casamento) a alcançar maior 
bem-estar. 
 
• Psicologia clínica: ramo da psicologia que estuda, avalia e trata pessoas com transtornos 
psicológicos. 
 
• Psiquiatria: ramo da medicina que lida com os transtornos psicológicos; é praticada por 
médicos, que por vezes proveem tratamento médico (prescrevendo medicamentos, por 
exemplo), assim como terapia psicológica. 
 
• Psicologia comunitária: ramo da psicologia que estuda o modo como as pessoas 
interagem com seus respectivos ambientes sociais, e como as instituições sociais afetam 
indivíduos e grupos. (MYERS; DEWALL, 2019, p. 11) 
 
Cabe ainda a psicologia, estudar questões ligadas a: 
 
• personalidade 
• aprendizagem 
• motivação 
• memória 
• inteligência 
• funcionamento do sistema nervoso 
• comunicação interpessoal 
• comportamento sexual 
• agressividade 
• processos psicoterapêuticos 
• ao sono e ao sonho, ao prazer e à dor, etc. 
Psiquismo: conjunto dos 
processos psíquicos do ser 
humano ou do animal 
tomado genericamente; 
psique, psicologia. 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 8 
A psicologia tem infinitos campos de ação, áreas que abrangem muitos dos 
nossos contextos mais cotidianos e onde, graças à sua utilização, podemos 
encontrar soluções, aprimorar habilidades, melhorar processos, inovar. Mas, cabe 
lembrar que sua base científica se justifica e se legitima, pois a psicologia (como 
todas as formas de ciência) possui um objeto definido: os fenômenos 
comportamentais, resultantes da interação dos indivíduos com o meio e entre 
outros indivíduos. 
No entanto, conforme Oliveira (2020) os estudos sobre a mente e o 
comportamento humano não trilharam um caminho unitário, mas, na verdade, 
percorreram-se várias rotas de pensamento, produzindo diversas teorias sobre o 
psiquismo. 
Embora tenha surgido um conjunto de teorias psicológicas desde a 
autonomia científica da Psicologia, algumas delas superadas ou abandonadas, é 
fato que as diversas teorias coexistem, quando não influenciam umas às outras, ou 
ainda, recebem influência de outras ciências (OLIVEIRA, 2020, p. 332). 
A psicologia, então, pode ser concebida como uma grande árvore com 
ramos infinitos que tentam entender o comportamento humano. Dessa forma, 
entre todo esse conjunto de galhos e folhas, existe um que é particularmente útil e 
diferenciado: falamos da psicologia aplicada, que tenta dar soluções concretas 
aos problemas que ocorrem na nossa vida cotidiana. 
Especialmente para o profissional de enfermagem, que tem por função 
auxiliar os indivíduos nos momentos importantes de suas existências - do 
nascimento à morte -, a Psicologia é uma ferramenta cujo uso torna possível uma 
maior solidariedade e entendimento das pessoas. Como resultado, permitirá ajudá-
las de maneira mais efetiva - e afetiva - quando estiverem vulneráveis (BRASIL, 
2003). 
Tópico 2: A Necessidade da Ciência Psicológica 
 
Segundo Príncipe Charles (2000), citado por Myers e Dewall (2019, p.18), 
algumas pessoas supõem que a psicologia se limita a documentar e revestir de 
jargão aquilo que todo mundo já sabe: “você ganha dinheiro para comprovar com 
métodos extravagantes, o que a minha avó já sabia?”. 
Assim os autores citados questionam se será inteligente dar ouvidos a nossa 
sabedoria à nossa sabedoria interna, simplesmente confiar na nossa “força 
interior”? Ou deveríamos, com mais frequência, submeter nossos palpites 
intuitivos ao escrutínio cético? 
Uma coisa parece certa: Muitas vezes subestimamos os perigos da intuição. 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 9 
 
De acordo com Richarde Feynman (1997), citado por Myers e Dewall (2019, 
p.18) experimentos indicam que as pessoas super estimam, e muito a exatidão das 
lembranças de fatos que testemunharam, sua capacidade de avaliar entrevistados, 
suas previsões de riscos e seus talentos financeiros na escolha de ações. Segundo 
um ganhador do Prêmio Nobel da Física, “o primeiro número 1 é que você não 
deve enganar a si mesmo- e você é a pessoa mais fácil de ser enganada”. 
O VIÉS RETROSPECTIVO 
 O viés retrospectivo (também conhecido como o fenômeno do “eu já 
sabia!”) é fácil de demonstrar. Apresente a metade dos membros de um grupo 
alguma suposta descoberta psicológica, e à outra metade um resultado oposto. 
Diga ao primeiro grupo: Psicólogos descobriram que a separação enfraquece a 
atração romântica. Como diz o ditado: “O que os olhos não veem, o coração não 
sente”. Peça a eles que imaginem por que isso pode ser verdade. A maioria vai 
conseguir, e quase todos vão considerar previsível essa descoberta real (MYERS; 
DEWALL, 2019, p.18). 
Diga ao contrário ao segundo grupo: “Psicólogos descobriram que a 
separação fortalece a atração romântica. Como diz o ditado “”A gente só dá valor a 
algo depois que o perde”. Os que receberem essa informação falsa também vão 
considerá-la fácil de imaginar, e a maioria concordará que se trata de algo 
justificável. Obviamente há um problema quando informações contraditórias 
parecem senso comum (MYERS; DEWALL, 2019, p.18). 
Tais erros em nossas lembranças e explicações mostram por que 
precisamos de pesquisa psicológica. Simplesmente perguntar às pessoas comoadaptação do organismo ao meio. Tanto o estresse crônico quanto o agudo podem 
ser precipitadores de quadros de sofrimento mental, não só pelas inúmeras 
reações fisiológicas, como também pelas emocionais que provocam. A crise pode 
ser entendida como um agente estressor, ou seja, que leva a respostas de estresse. 
(BRASIL, 2003, p. 47). 
Tópico 2: Manifestações clínicas e cuidados de enfermagem para transtornos 
decorrentes de esquizofrenia 
 
Pode-se afirmar que a esquizofrenia é de origem multifatorial, 
apresentando diferentes fatores de risco que compreendem genética e ambiente. A 
literatura científica aponta que a presença de algum fator que predisponha o 
indivíduo à doença, como a genética, aumenta o risco para o desenvolvimento de 
sintomas esquizofrênicos quando associada a fatores físicos, ambientais e 
psicológicos (TAVARES, 2019, p. 238-239). 
É um transtorno mental que se inicia geralmente na adolescência, e que se 
tratado corretamente pela Equipe de Saúde Mental é compatível com uma vida 
normal. A pessoa que esquizofrenia pode, inicialmente, começar a se isolar da 
família e ter muita dificuldade de pedir ajuda às pessoas. Muito comum, é essa 
pessoa achar que está sendo perseguida por alguém (ESNP/FIOCRUZ, 2011). 
Outro sinal comum é a pessoa começar a ouvir vozes inexistentes, o que 
mostra que ela está confundindo realidade com sua imaginação. Seus 
pensamentos, muitas vezes, se tornam mais reais do que a própria realidade, e com 
isso ela fica presa dentro da sua própria mente. Cabe frisar que ninguém nasce com 
esquizofrenia. Esse transtorno não é um jeito de ser (ESNP/FIOCRUZ, 2011). 
Ainda que não apresente sinais e/ou sintomas específicos, a presença de 
diferentes comportamentos podem levar a um diagnóstico. Ao analisar o indivíduo, 
os profissionais de saúde investigam a presença de sintomas negativos e positivos 
(TAVARES, 2019, p. 239) . 
A esquizofrenia, ou os denominados transtornos esquizofrênicos, é um 
grupo de transtornos mentais graves que apresentam, como características 
principais, alterações de percepção, comportamentais, afetivas, dentre outras 
(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIACION - APA, 2014 apud TAVARES, 2019, p. 
238). 
Embora ainda não haja uma definição concreta das causas da esquizofrenia, 
sua fisiopatologia está relacionada a teorias que envolvem diferentes mecanismos 
causadores dos seus sinais e sintomas. Dentre elas, há aquelas que envolvem os 
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neurotransmissores, além de teorias relacionadas ao neurodesenvolvimento e à 
presença de fatores de risco potencialmente desencadeadores das crises (BRASIL, 
2013 apud TAVARES, 2019, p. 238). 
 
Figura 05 – Sintomas negativos e positivos investigados pelos profissionais da 
saúde em busca do diagnóstico de esquizofrenia. 
Fonte: Tavares (2019, p. 239). 
 
Os aspectos gerais do tratamento de pacientes com esquizofrenia são 
abordados em um artigo que resume os passos elaborados pela APA para o manejo 
clínico do tratamento de pacientes com esquizofrenia, evidenciando assim a 
relevância de estabelecer e manter a aliança terapêutica (SHIRAKAWA, 2000 apud 
TAVARES, 2019 p. 240). Esses passos consistem em: 
 
[...] monitorar e acompanhar o paciente, prestando atenção aos sintomas 
prodrô-micos de recaída; promover educação sobre a esquizofrenia e 
seu tratamento; [...]; reforçar a adesão ao plano de tratamento; incentivar 
a compreensão e a adaptação psicossocial, e buscar uma adaptação social 
compatível para cada caso; ajudar a reconhecer precocemente as 
recaídas, promover as mudanças no tratamento e identificar fatores que 
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precipitam ou perpetuam os surtos; envidar esforços para aliviar o 
estresse familiar e melhorar o funcionamento familiar; facilitar o acesso 
do paciente aos diversos serviços e coordenar os recursos destinados à 
saúde mental, tratamento clínico-geral, necessidades advocatícias, 
aposentadoria, lazer etc. (SHIRAKAWA, 2000, p. 58 apud TAVARES, 
2019, p.240) 
Tópico 3: Manifestações clínicas e cuidados de enfermagem para transtornos 
do humor, da personalidade e de ansiedade 
Os profissionais de enfermagem, especificamente os enfermeiros, dispõem 
de instrumentos e respaldo legal para implementar o processo de enfermagem 
com pacientes acometidos por transtornos mentais, bem como reduzir seu 
sofrimento e dos seus familiares (TAVARES, 2019, p. 241). 
No entanto, para que o processo de cuidado a esses pacientes ocorra de 
maneira efetiva e eficaz, o enfermeiro deve (re)conhecer e compreender a 
fisiopatologia, as manifestações e as repercussões clínicas e psicossociais dos 
transtornos mentais, tanto no indivíduo quanto em sua família. Desse modo, eles 
serão capazes de elaborar estratégias individualizadas que valorizem os sujeitos 
em suas necessidades e sua integralidade (TAVARES, 2019, p. 241). 
Transtornos do humor 
Os transtornos do humor se caracterizam por alterações do humor ou do 
afeto com consequência em diferentes áreas da vida do indivíduo (familiar, 
profissional e social), por modificar suas atitudes e, consequentemente, sua 
maneira de interagir socialmente. Esses transtornos tendem a ser recorrentes e os 
episódios isolados podem ser desencadeados em razão de situações de estresse 
não controladas (TAVARES, 2019, p. 241). 
 
Episódios maníacos: tais transtornos são caracterizados como elevação 
de humor, energia, sentimento de autoconfiança, sociabilidade, desejo 
sexual, comunicação, dentre outros que fazem com que o indivíduo se 
sinta poderoso. As variações de intensidade ou associação com outros 
sintomas é que diferenciam os subtipos de episódios maníacos 
(hipomania; mania com sintomas psicóticos; mania sem sintomas 
psicóticos, etc.). 
 
Episódios depressivos: nos episódios depressivos, o indivíduo apre-
senta rebaixamento do humor, redução da energia, perda do prazer, 
fadiga, além de redução do apetite, da autoestima, da autoconfiança, das 
ideações de culpa, dentre outros sinais e sintomas que “derrubam” o 
indivíduo. Os episódios depressivos, comumente, são opostos aos 
episódios maníacos. A intensidade dos episódios é que diferenciam seus 
subtipos (leve, moderada, grave com sintomas psicóticos, etc.). 
 
Transtorno afetivo bipolar: nesse transtorno, o indivíduo apresenta 
episódios maníacos, alternando com episódios de depressão, daí o nome 
bipolar. As variações e intensidades desses sinais diferenciam os tipos de 
transtorno bipolar (transtorno afetivo bipolar, episódio atual 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 65 
hipomaníaco, transtorno afetivo bipolar, episódio maníaco sem sintomas 
psicóticos, transtorno afetivo bipolar, episódio atual misto, etc.). 
 
Transtorno depressivo recorrente: esse transtorno apresenta sinais e 
sintomas semelhantes aos episódios depressivos, podendo ocorrer em 
qualquer momento da vida do indivíduo, alternando com momentos de 
estado mental saudável, no entanto, caso ele venha a apresentar sinais 
de mania, deve ser realizada investigação, pois pode se tratar de 
transtorno afetivo bipolar. 
 
Transtornos de humor persistentes: tratam-se de transtornos 
flutuantes com sinais e sintomas semelhantes aos episódios maníacos e 
depressivos, no entanto sem intensidade grave o suficiente para justificá-
los como sendo, de fato, mania ou depressão. Muitas vezes persistem por 
muitos anos. Por esse motivo, podem provocar sofrimento e 
incapacidades no indivíduo. Esses transtornos também apresentam 
variações (ciclotimia, distimia, etc.). (TAVARES, 2019, p. 241-242). 
 
Transtornos da personalidade 
Os transtornos da personalidade estão relacionados à expressão e à 
maneira de viver do indivíduo, além do seu modo de interagir consigo e 
socialmente, apresentando desvios nas sensações, percepções e relações com os 
outros. Tratam-se de estados e padrões comportamentais que desviam, muitas 
vezes, do que é padronizadosocialmente, o que compromete sua convivência 
social. Esses estados e comportamentos são persistentes, podendo aparecer na 
infância ou mesmo na fase adulta (TAVARES, 2019, p. 243). 
Os transtornos de personalidade podem apresentar manifestações 
diferentes, dentre elas encontramos os elencados a seguir: Personalidade 
paranoica; Personalidade esquizoide; Personalidade dissocial; Personalidade 
histriônica; Personalidade anancástica; Personalidade ansiosa; Personalidade 
dependente (TAVARES, 2019, p. 243-244). 
Transtornos de ansiedade 
Os transtornos de ansiedade estão relacionados aos sentimentos de 
impotência, medo e preocupação excessivos diante de uma grande variedade de 
situações interpretadas como ameaçadoras. Em razão dessa percepção de situação 
potencialmente ameaçadora, pode apresentar sentimentos de apreensão por 
provável resultado desfavorável. Sem perceber, ele tende a se concentrar nos 
aspectos negativos e ameaçadores das situações do cotidiano (TAVARES, 2019, p. 
244). 
A seguir, verificamos os principais transtornos de ansiedade: 
Ansiedade generalizada: o indivíduo apresenta preocupação e ansie-dade 
excessivos com os eventos da vida cotidiana sem motivos evidentes. Comumente, 
na ansiedade generalizada, os sentimentos são muito mais além do que o 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 66 
necessário. Nesse transtorno, os sentimentos interferem fortemente na rotina do 
indivíduo, por ele sempre achar que existe algum perigo iminente. 
Transtorno de pânico: caracterizado pela ocorrência imprevisível e repentina de 
crise de ansiedade aguda. Nesse transtorno, o indivíduo apresenta sensações 
irreais acompanhadas por sentimentos extremos de medo e desespero e, ainda, 
manifestações físicas, daí o nome síndrome do pânico. Associadamente e com 
frequência, apresenta medo de morrer e perder o autocontrole. 
Fobia específica: a ocorrência dos primeiros sintomas acontece na infância ou 
adolescência. É caracterizada pela presença de medo excessivo que persiste, 
mesmo com a pessoa reconhecendo que se trata de um excesso, no entanto não 
tem controle sobre suas reações. A fobia específica provoca ansiedade, a qual é 
desencadeada pela presença de algum estímulo, seja um objeto ou situação 
específica. Esses estímulos podem ser animais, altura, avião, medo de tirar sangue, 
etc. Esse transtorno interfere significativamente nas atividades diárias e nos 
relacionamentos. 
Fobia social: na fobia social, o indivíduo apresenta medo e ansiedade ao ser 
exposto a situações e interações sociais, nas quais ele pode sofrer algum tipo de 
avaliação de outras pessoas. Nessa fobia, está presente o receio de que seja 
avaliado negativamente pelas pessoas ou ser exposto a algum constrangimento. 
Transtorno obsessivo-compulsivo: nesse transtorno verifica-se a presença de 
obsessões e/ou compulsões capazes de prejudicar a rotina do indivíduo, bem como 
influenciar negativamente os seus relacionamentos. Entende-se por obsessão os 
pensamentos, os impulsos ou as imagens recorrentes e persistentes que chegam a 
ser intrusivos e indesejados. Já as compulsões se configuram como 
comportamentos repetitivos ou atos mentais que fazem com que o indivíduo se 
sinta coagido a executar em resposta à obsessão ou de acordo com regras que 
devem ser aplicadas rigidamente, normalmente criadas pelo próprio indivíduo. 
Transtorno de estresse pós-traumático: no transtorno de estresse pós-
traumático, o indivíduo desenvolve sintomas característicos após ser exposto a um 
trauma decorrente de algum evento que representou ameaça à vida, 
independentemente se ele tenha sido vítima ou testemunha. A sintomatologia é 
diversa, incluindo sinais e sintomas físicos, psíquicos e emocionais e ocorre em 
razão de lembranças recorrentes, involuntárias e intrusivas do evento. É como se 
estivesse ocorrendo novamente e com a mesma sensação de dor e sofrimento 
presentes no momento do evento. Sua ocorrência se dá, geralmente, nos três 
primeiros meses após o trauma e são evidentes os prejuízos nos domínios social, 
do desenvolvimento, da saúde física e profissional (TAVARES, 2019, p. 345-346). 
 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 67 
Tópico 4: Formas de tratamento dos transtornos mentais 
 
É preciso saber também que existem tratamentos adequados para cada tipo 
de transtorno, o que não é só feito através de medicamentos. Na verdade, o 
tratamento medicamentoso é um valioso instrumento da psiquiatria para o 
controle dos sintomas e, com o avanço das pesquisas nesse campo, muito se tem 
conseguido em melhora da qualidade de vida da pessoa com transtorno mental 
(BRASIL, 2003, p. 63). 
Atualmente, as diferentes maneiras de tratar o indivíduo com transtornos 
mentais têm como objetivo a redução das repercussões causadas, a promoção da 
qualidade de vida, a melhoria das funções psíquicas e o restabelecimento de sua 
rotina. A opção pela forma de tratamento mais adequada depende do diagnóstico 
que o paciente apresenta, incluindo comorbidades associadas, bem como suas 
condições físicas, mentais, sociais e econômicas. Há ainda a possibilidade de 
conjugar diferentes formas de tratamento para que se obtenha melhor resultado 
TERAPIA MEDICAMENTOSA 
A prescrição de medicamentos para pacientes portadores de transtorno 
mental é a forma de tratamento mais conhecida, porém uma das mais criticadas. É 
comum ouvir-se dizer: “Eu não vou a médico coisa nenhuma. Para ele me mandar 
tomar remédio de maluco?” Muitas vezes chega-se a crer que se pode “ficar maluco 
usando esses remédios”. Tratando este problema superficialmente poderíamos até 
achar estas colocações divertidas, se não fossem lamentáveis (BRASIL, 2003, p. 
64). 
Os psicofármacos, ou fármacos psicotrópicos, desenvolvidos a partir dos 
anos 50, mudaram radicalmente a falta de perspectivas em relação ao tratamento 
dos transtornos mentais que prevalecia naquela época. A ação desses medi-
camentos interfere nas funções do sistema nervoso central, portanto, depende 
necessariamente do diagnóstico do transtorno e das manifestações clínicas que o 
paciente apresenta. A decisão pelo fármaco mais adequado é tomada pelo 
profissional médico, mas para que ela seja feita de maneira assertiva, a 
colaboração multiprofissional é importante, pois os demais profissionais, incluindo 
os de enfermagem, acompanham o paciente em diferentes momentos, sendo 
capazes de apontar os efeitos da medicação no paciente (TAVARES, 2019,p. 101). 
Dentre os grupos de medicamentos disponíveis atualmente, podemos 
encontrar os ansiolíticos, antidepressivos e antipsicóticos. 
Os ansiolíticos são medicamentos indicados para o tratamento de 
transtornos de ansiedade, capazes de reduzir a resposta ao estresse por meio de 
alterações nos neurotransmissores e hormônios. Um dos mecanismos de ação está 
relacionado ao neurotransmissor ácido gama-aminobutírico (GABA), responsável 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 68 
pela inibição das atividades neuronais. Desse modo, o uso dos ansiolíticos é capaz 
de reduzir a ansiedade e a agressão, induzir o sono ou a sedação, reduzir o tônus 
muscular e a coordenação motora, dentre outros efeitos. Alguns exemplos de 
ansiolíticos incluem: alprazolam, bromazepam, buspirona, clonazepam, diazepam, 
lorazepam, zolpidem, dentre outros (TAVARES, 2019, p. 102). 
Os medicamentos antidepressivos atuam no equilíbrio da produção e da 
disponibilidade de neurotransmissores, combatendo os sintomas da depressão. O 
mecanismo de ação dos antidepressivos varia de acordo com sua classe, uma delas, 
por exemplo, são os inibidores seletivos da receptação de serotonina, cujo 
mecanismo de ação envolve a inibição da recaptação de serotonina. Como 
consequência, sua concentração aumenta na fenda sináptica, o que resulta em 
aumento da sensação de prazer (TAVARES, 2019, p. 102). 
Os antipsicóticos ou neuroepléticos têm como função reduzira intensidade 
de sintomas psicóticos por meio do bloqueio dos receptores de dopamina, pois 
uma das hipóteses que se propõe a explicar as causas dos sintomas psicóticos 
sugere que o excesso de atividade desse neurotransmissor pode ocasionar esses 
sintomas, especialmente os positivos. Vale ressaltar que os antipsicóticos não têm 
a função de curar uma doença psíquica, mas controlar os seus sintomas. Alguns 
exemplos de antipsicóticos incluem: promazina, haloperidol, clozapina, 
clorpromazina, dentre outros (MOREIRA; GUIMARÃES, 2007 apud TAVARES, 2019, 
p. 102). 
ELETROCONVULSOTERAPIA 
A eletroconvulsoterapia é o único tratamento biológico do século XIX que 
ainda é empregado atualmente. Trata-se de uma técnica muito estigmatizada, em 
razão das condições desumanas nas quais era aplicada no passado, pois foi 
utilizada como forma de repressão aos pacientes com transtornos mentais e, ainda, 
como instrumento de tortura. Outros fatores que contribuem para o estigma 
existente sobre a eletroconvulsoterapia incluem o desconhecimento dos 
profissionais e da população acerca do tratamento, pois uma vez que (re) conhece 
seus benefícios, as pessoas passam a se questionar sobre o porquê de não ser 
utilizada (BITTENCOURT, 2012 apud TAVARES, 2019, p. 104). 
Sua técnica consiste na utilização de estímulos elétricos para desencadear 
uma breve crise convulsiva para fins terapêuticos. É utilizada principalmente na 
depressão maior, quando o paciente apresenta resistência à medicação 
antidepressiva e apresenta resposta mais rápida em relação àquela, desse modo, 
pode ser mais eficaz em situações que requerem uma abordagem de urgência 
(MACHADO et al., 2018 apud TAVARES, 2019, p. 104). 
 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 69 
Para aplicação da eletroconvulsoterapia, deve haver indicação clínica que 
justifique sua utilização, avaliação clínica aprofundada que aborde a gravidade do 
transtorno e as funções cognitivas do paciente, além disso, deve-se identificar e 
tratar, previamente, qualquer condição clínica que contraindique o tratamento ou 
ofereça riscos ao paciente. Durante todo esse processo, serão realizados, ainda, 
exames complementares e avaliação anestésica. Somente após essa avaliação o 
paciente poderá ser submetido ao procedimento (TAVARES, 2019, p. 104). 
PSICOTERAPIAS 
Os tratamentos envolvendo o uso de psicoterapias tiveram avanços importantes 
nos últimos anos. Trata-se de métodos não invasivos que utilizam conhecimentos 
da psicologia para tratar pacientes com transtornos mentais ou mesmo ajudar 
pessoas a lidar com seus problemas. 
Um dos pressupostos básicos da psicoterapia aborda que cada pessoa é 
capaz de curar, por si mesma, o seu próprio sofrimento, podendo isso ser 
alcançado por meio dessa terapia realizada com um psicoterapeuta, por meio de 
ferramentas como a comunicação, o relacionamento entre terapeuta e paciente e o 
aconselhamento. 
O profissional que utiliza a psicoterapia auxilia o paciente a identificar, 
entender e dar sentido aos seus conflitos, além de modificar distorções do paciente 
sobre sua percepção em pensamento acerca de si e do seu meio, buscando ainda a 
melhoria das relações interpessoais (MELLO, 2004 apud TAVARES, 2019, p. 107). 
A psicoterapia pode ser utilizada isoladamente ou conjugada com a terapia 
medicamentosa e não somente pessoas com transtornos mentais podem se 
submeter a ela. Qualquer indivíduo que necessite de aconselhamentos ou 
encontrar respostas interiores para seus problemas pode recorrer ao uso das 
psicoterapias. Existem, atualmente, diferentes métodos de se trabalhar com 
psicoterapia, sendo elas: 
Psicanálise: a psicanálise, desenvolvida por Sigmund Freud, no início do 
século XX, é a forma mais antiga de psicoterapia. Seu propósito baseia-se 
em compreender que o passado do indivíduo é capaz de afetar o seu 
presente, o que pode ajudá-lo a se adaptar ou desenvolver novas formas 
de lidar com suas relações. 
 
Psicoterapia de manutenção: essa modalidade visa a estabelecer 
relação empática entre o indivíduo e o terapeuta. Esse vínculo é capaz de 
induzir a expressão de vivências e sentimentos que serão trabalhados 
pelo terapeuta de modo que este ofereça suporte na solução de 
problemas. 
 
Psicodinâmica: na psicodinâmica, o foco é a identificação de padrões e 
conflitos inconscientes de pensamentos, comportamentos e sentimentos 
capazes de criar padrões característicos de dificuldades interpessoais. 
 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 70 
Terapia cognitiva-comportamental: baseia-se no momento presente e 
é utilizada para tratar diversos transtornos e comportamentos. Tem 
como objetivo identificar alteração emocional e comportamental 
consolidada. Para tanto, o terapeuta tende a modificar pensamentos e 
temas de significados do paciente. Isso poderá ser obtido por meio da 
sensibilização do paciente de como seu comportamento é capaz se afetar 
sua vida. 
 
Terapia interpessoal: o objetivo da terapia interpessoal é melhorar a 
qualidade dos relacionamentos de indivíduos que sofrem com depressão 
por meio da investigação de sofrimentos ou conflitos não resolvidos. 
Nesse método, o profissional auxilia o indivíduo a superar esses 
problemas e melhorar o seu comportamento nas relações interpessoais. 
(TAVARES, 2019, 107-108) 
 
Tópico 5: O enfermeiro na prevenção dos transtornos mentais em indivíduos 
adultos 
O cuidado de enfermagem nos transtornos mentais em indivíduos adultos, 
em sua essência, não difere dos cuidados dispensados a crianças e adolescentes, no 
entanto, a forma de abordá-los, tanto na prevenção quanto nos momentos em que 
a doença já está instalada, é preponderante para o desenvolvimento do processo 
de cuidado (TAVARES, 2019, p. 122). 
Segundo o autor, por apresentar múltiplas causas relacionadas ao 
comportamento e à condição humana, um dos principais problemas na prevenção 
dos transtornos mentais é a identificação dos fatores relacionados, portanto, os 
profissionais de saúde, incluindo os enfermeiros, devem se esforçar na 
identificação da presença de fatores de risco/vulnerabilidade que apontam a 
presença de predisposição para os transtornos mentais, bem como controlar 
aqueles capazes de desencadear crises (TAVARES, 2019, p. 122-123). 
A identificação e o controle dos “gatilhos” capazes de desencadear situações 
de crise é um papel importante que o enfermeiro pode desempenhar, 
independentemente do nível de atenção à saúde (TAVARES, 2019, p. 124). 
Ainda que seja complexa e dificultosa a prevenção dos transtornos mentais, 
em razão da diversidade de fatores relacionados à sua ocorrência, o enfermeiro 
deve trabalhar em prol da promoção da saúde, visando ao estabelecimento de 
práticas capazes de promover a saúde mental (TAVARES, p. 125). 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 71 
 
TEMA DA AULA: FUNDAMENTOS DE MENSURAÇÃO EM SAÚDE MENTAL 
FONTE 
BIBLIOGRÁFICA 
CARDOSO, Lucilene; DONATO, Edilaine C. Silva Gherardi; ZANETTI, 
Ana Carolina Guidorizzi. Avaliação do Estado Saúde Mental I. In: 
FONSECA, Luciana Mara Monti; RODRIGUES, Rosalina Aparecida 
Partezani; MISHIMA, Silvana Martins (org.). Aprender para 
cuidar em enfermagem: situações específicas de aprendizagem. 
Ribeirão Preto: Escola Enfermagem Ribeirão Preto/USP, 2015. p. 
21-26. Disponível em: 
http://www.eerp.usp.br/ebooks/aprenderparacuidar/pdf/Apren
derparacuidaremenfermagemsituacoesespecificasdeaprendizage
m.pdf. Acesso em: 05 abr. 2020. 
ERTHAL, Tereza Cristina. Manual de psicometria. Rio de Janeiro: 
Jorge Zahar, 1987. 68 p. 
GORENSTEIN, Clarice; WANG, Yuan-pang. Fundamentos de 
Mensuração em Saúde Mental. In: GORENSTEIN, Clarice; WANG, 
Yuan-pang; HUNGERBÜHLER, Ines (org.). Instrumentos de 
avaliação em saúde mental. Porto Alegre: Artmed, 2016. Cap. 1. 
p. 30-111. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788582712
863/cfi/6/18!/4/4/2/2@0:0. Acesso em: 04 abr. 2020. 
HAUCKFILHO, Nelson; ZANON, Cristian. Questões básicas sobre 
mensuração. In: HUTZ, Claudio Simon; BANDEIRA, Denise Ruschel; 
TRENTINI, Clarissa Marceli (org.). Psicometria. Porto Alegre: 
Artmed, 2015. Cap. 2. p. 22-40. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788582712
368/cfi/6/18!/4/2/2/2@0:0. Acesso em: 05 abr. 2020. 
HUTZ, Claudio Simon. O que é avaliação psicológica: métodos, 
técnicas e testes. : métodos, técnicas e testes. In: HUTZ, Claudio 
Simon; BANDEIRA, Denise Ruschel; TRENTINI, Clarissa Marceli 
(org.). Psicometria. Porto Alegre: Artmed, 2015. Cap. 1. p. 10-22. 
Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788582712
368/cfi/6/16!/4/2/4@0:20.0. Acesso em: 05 abr. 2020. 
 
Tópico 1: Fundamentos de mensuração em saúde mental 
 
Não é fácil definir o que significa medir. Mais complexo ainda é estabelecer 
de que forma fenômenos não diretamente observados, como a personalidade, a 
felicidade ou a depressão, podem ser quantificados. Seria mesmo possível 
mensurar algo tão impalpável quanto a inteligência de uma pessoa, da mesma 
forma como os físicos medem variáveis como velocidade, aceleração e atrito? 
Seriam as emoções humanas passíveis de mensuração? Essas questões têm 
ocupado gerações de pesquisadores, o que produziu um número de elaboradas 
tentativas de resposta (HAUCK FILHO; ZANON, 2015, p. 22). 
 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 72 
Existem características importantes quanto ao processo de medir. Em 
primeiro lugar, ele implica sempre um resultado numérico e não frases descritivas. 
Assim, diz-se que o processo de mensuração é sempre quantitativo. Em segundo 
lugar, apresenta-se em unidade relativamente constantes em busca da 
uniformidade. E, em terceiro lugar e, especificamente no caso da psicologia, a 
medida é relativa por não dispor de um ponto zero absoluto, necessitando 
exprimir resultados em função de algum tipo de outro quadro de referência (p. 18-
19) 
A mensuração em psicologia, o que se mede é uma variável psicológica 
definida como uma característica que cada indivíduo possui em diferentes níveis. 
Não se trata sempre de algo observável e sim, em construções teóricas baseadas 
em hipóteses (ERTHAL, 1987, p. 19) 
Os fundamentos de mensuração em Saúde Mental têm por objetivo discutir 
os fundamentos teóricos e metodológicos da mensuração em transtornos mentais. 
Introduz os temas validade e confiabilidade e as abordagens estatísticas para sua 
avaliação (GORENSTEIN; WANG, 2016, p. 36). 
A teoria e o modelo de elaboração de instrumental psicológico baseiam-se 
em três polos: procedimentos teóricos, empíricos (experimentais) e analíticos 
(estatísticos): 
O polo teórico enfoca o construto ou objeto psicológico para o qual se 
quer desenvolver um instrumento de medida, bem como sua 
operacionalização em itens. Esse polo utiliza a teoria do traço latente 
para explicitar os tipos e as categorias de comportamentos que 
representam o mesmo traço. 
 
O polo empírico, ou experimental, define as etapas e as técnicas de 
aplicação do instrumento-piloto e da coleta válida de informação para 
proceder à avaliação psicométrica do instrumento. 
 
O polo analítico estabelece os procedimentos de análises estatísticas a 
serem efetuadas sobre os da­dos para obter um instrumento válido, 
preciso e normatizado (GORENSTEIN; WANG, 2016, p. 36). 
Tópico 2: O que são instrumentos de avaliação? 
A avaliação psicológica é um processo, geralmente complexo, que tem por 
objetivo produzir hipóteses, ou diagnóstico, sobre uma pessoa ou um grupo. Essas 
hipóteses ou diagnósticos podem ser sobre o funcionamento intelectual, sobre as 
características da personalidade, sobre a aptidão para desempenhar uma ou um 
conjunto de tarefas, entre outras possibilidades. Às vezes, a expressão testagem 
psicológica é usada como sinônimo de avaliação psicológica (HUTZ, 2015, p. 10). 
É importante mencionar que a avaliação psicológica tem uma longa história 
na psicologia, sendo uma de suas áreas mais antigas (Anastasi & Urbina, 2000; 
Primi, 2010). Testagens em larga escala começaram a ser usadas na China, há mais 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 73 
de 2.200 anos, durante a dinastia Han (206 a.C.), quando se iniciou um sistema 
imperial de seleção (Bowman, 1989), mas foi efetivamente no fim do século XIX, na 
França, que a testagem psicológica moderna começou (HUTZ, 2015, p. 10). 
Segundo Hutz (2015) no Brasil, a história da avaliação psicológica se 
confunde com a própria história da psicologia. Desde o início do século XX, 
tínhamos laboratórios desenvolvendo pesquisas nessas áreas. O primeiro 
laboratório foi fundado em 1907 e, em 1924, Medeiros Costa publicou o primeiro 
livro sobre testes psicológicos no país (GOMES, 2009; HUTZ; BANDEIRA, 2003 
apud HUTZ, 2015, p.10). 
A descoberta dos psicofármacos, na década de 1960, impulsionou a 
elaboração e a aplicação de instrumentos de avaliação. A psicometria – um ramo 
especializado da psicologia que se dedica ao estudo e elaboração dos testes de 
avaliação psicológica - como ciência remonta ao fim do século XIX, com vários 
estudos experimentais em psicologia (GORENSTEIN; WANG, 2016, p. 30). 
No entanto, foi a necessidade de mensurar a eficácia dos medicamentos que 
se deu o desenvolvimento de instrumentos capazes de detectar mudanças na 
sintomatologia em função da intervenção terapêutica e de uma metodologia 
específica para selecionar pacientes (GORENSTEIN; WANG, 2016, p. 30). 
Em ambientes clínicos, a Psicometria tem atuado para o desenvolvimento 
de testes que avaliam problemas de ordem comportamental, desajustamento e 
reabilitação. Há também indicadores psicométricos que expõe a eficácia de um 
determinado tratamento, a identificação do funcionamento cognitivo, psicológico e 
adaptativo de um sujeito, além de medidas que buscam ter acesso ao estresse, 
fatores de risco ou mesmo a satisfação com a vida de um sujeito. 
Tópico 3: Tipos de instrumentos de avaliação 
A avaliação é a atribuição de qualidade aos valores numéricos obtidos 
através da medida, envolve sempre um julgamento de valor. A avalição de 
indivíduos sem a utilização de técnicas e instrumentos adequados é praticamente 
impossível quando se pretende avaliar seu comportamento em sua globalidade, ou 
seja, em seus domínios cognitivo, afetivo e psicomotor (ERTHAL, 1987, p. 34). 
Por técnicas de avaliação entende-se o método de se obterem as 
informações desejadas. O instrumento de avaliação é o recurso usado para esse 
fim. Ambos devem ser escolhidos cuidadosamente, levando-se em conta cada caso 
e cada situação (ERTHAL, 1987, p. 34). 
“Escalas”, “testes”, “entrevistas” e “instrumentos” de avaliação são termos 
presentes há um bom tempo no vocabulário de clínicos e pesquisadores brasileiros 
de diversas áreas (GORENSTEIN; WANG, 2016, p. 30). 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 74 
O que é um teste psicológico? É um instrumento que avalia (mede ou faz 
uma estimativa) construtos (também chamados de variáveis latentes) que não 
podem ser observados diretamente. Exemplos desses construtos seriam altruísmo, 
inteligência, extroversão, otimismo, ansiedade, entre muitos outros. Se 
conhecemos bem uma pessoa, ou se observarmos o comportamento dela por um 
longo período, podemos afirmar que, na nossa opinião, ela é (ou não) altruísta, 
ansiosa, otimista, e assim por diante. O psicólogo, contudo, não tem essa 
informação da convivência pessoal e, na verdade, precisa de dados mais precisos 
do que os gerados pela convivência (HUTZ, 2015, p. 11). 
Testes são fundamentais no processo de avaliação psicológica. São 
instrumentos objetivos que oferecem informações preciosas sobre indivíduos. 
Entretanto, eles devem ser usados de forma adequada. Normalmente, não se deve 
produzir um diagnóstico com base apenas no resultado de um teste ou mesmo nos 
resultados de uma bateria (conjunto) de testes. É precisocontextualizar a 
informação que obtemos dos testes (HUTZ, 2015, p. 14). 
Uma entrevista pode ser feita com diferentes finalidades e com vários 
objetivos. É um procedimento complexo que requer treinamento especializado. 
Entrevistas podem ser estruturadas, semiestruturadas ou informais (não 
estruturadas). As primeiras seguem um roteiro muito preciso; entrevistas 
semiestruturadas, como o nome diz, também têm um roteiro e um conjunto básico 
de questões, mas o entrevistador não fica totalmente preso a esse roteiro e, em 
função das respostas, pode conduzir a entrevista para outros rumos e explorar 
com mais profundidade informações que o entrevistado traz; entrevistas 
informais, ou não estruturadas, não têm um roteiro preestabelecido, embora o 
entrevistador geralmente tenha algumas questões que deseje explorar. Ele ouve o 
entrevistado e, em função do conteúdo de sua fala, faz perguntas ou observações 
(HUTZ, 2015, p. 14). 
Em relação as escalas, em primeiro lugar, é preciso ter em mente que uma 
escala de avaliação em saúde mental é um instrumento padronizado composto por 
um conjunto de itens que permite quantificar características psíquicas, 
psicológicas ou comportamentais que nem sempre são observáveis. Determinar a 
presença de um sintoma passa, necessariamente, pela subjetividade do paciente 
e/ou do avaliador (GORENSTEIN; WANG, 2016, p. 30). 
O uso sistemático de escalas padronizadas pode auxiliar no rastreamento 
dos indivíduos que necessitam de tratamento, acompanhamento ou intervenção. 
Além de complementar o diagnóstico clínico, uma escala serve para avaliar as 
características clínicas de uma determinada doença, documentar a gravidade e o 
nível necessário de cuidado (GORENSTEIN; WANG, 2016, p. 30). 
Quando os sintomas são quantificados e acoplados de acordo com um 
sistema de consenso (p. ex., o Manual diagnóstico e estatístico de transtornos 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 75 
men­tais – DSM ou a Classificação internacional de doenças e problemas 
relacionados à saúde – CID), há melhora na consistência das avaliações, seja ao 
longo do tempo, seja entre os examinadores. A uniformização da linguagem é 
fundamental para melhorar a comunicação entre profissionais e pacientes 
(GORENSTEIN; WANG, 2016, p. 30). 
Tópico 4: Avaliação do Estado Mental 
Em saúde mental, é prática comum o uso de entrevistas semiestruturadas, 
como é o caso da família da Entrevista Clínica Estruturada para Transtornos dos 
Eixos I e II do DSM (SCID). Em outros casos, são usadas para compreensão do 
funcionamento do indivíduo ou mesmo de grupos de indivíduos, como é o caso da 
Entrevista Familiar Estruturada (GORENSTEIN; WANG, 2016, p. 57). 
O nível de estruturação dos instrumentos é determinado por sua natureza 
(mais ou menos flexível); os instrumentos menos estruturados se referem àqueles 
cujos estímulos são prioritariamente não estruturados, ambíguos. Um exemplo é o 
Teste de Rorschach, ferramenta de avaliação composta por 10 pranchas em que 
uma mancha de tinta é apresentada em cada prancha (GORENSTEIN; WANG, 2016, 
p. 57). 
Figura 6: Teste de Rorschach 
 
 
As manchas de tinta são borrões monocromáticos ou cromáticos nos quais, 
de fato, não há um contorno estruturado o suficiente para determinar uma 
resposta possível ou correta. Por isso, o Teste de Rorschach é um dos instrumentos 
de avaliação expressiva ou projetiva que está disponível para o profissional em 
saúde mental (GORENSTEIN; WANG, 2016, p. 57). 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 76 
O levantamento de informações é realizado com base nos conteúdos 
expressos ou comunicados pelo avaliado ante os estímulos (manchas) 
desestruturados das pranchas. Assume-se que o modo como o avaliado estrutura 
esses estímulos, que é verificado por suas respostas, é determinado por seu 
funcionamento menta (GORENSTEIN; WANG, 2016, p. 57). 
Diferentemente, os instrumentos estruturados de avaliação referem-se aos 
testes denominados de autorrelato. Essas ferramentas são caracterizadas pela 
autoaplicação, ou seja, em geral, o avaliado tem todas as informações necessárias 
para responder ao teste nas próprias instruções apresentadas em uma folha inicial. 
Além disso, há sempre um número limitado de respostas possíveis que o avaliado 
pode atribuir a cada questão. Basicamente, alguns testes de autorrelato utilizam 
escalas de graduação como formato de resposta, largamente nomeadas de escalas 
tipo Likert, que variam entre três categorias de resposta (p. ex., “nunca”, “às vezes” 
e “sempre”) até um número maior de categorias, como 7 ou 10 (GORENSTEIN; 
WANG, 2016, p. 58). 
O exame do estado mental é a pesquisa sistemática de sinais e sintomas de 
alterações do funcionamento mental, durante a entrevista psiquiátrica. As 
informações são obtidas através da observação direta da aparência do paciente, da 
anamnese, bem como do relato de familiares e outros informantes como 
atendentes, amigos, colegas ou até mesmo outros grupos sociais (CARDOSO; 
DONATO; ZANETTI, 2015). 
Para a enfermagem, é uma avaliação que visa o estabelecimento de 
diagnósticos para o planejamento terapêutico para o melhor prognóstico possível 
ao cliente. Devendo ser avaliado considerando-se dois eixos: - EIXO 
LONGITUDINAL: dados referentes à biografia do paciente e histórico da doença 
atual. - EIXO TRANSVERSAL: avaliação do estado mental, relacionado ao estado 
mental do paciente no momento do exame (CARDOSO; DONATO; ZANETTI, 2015). 
A avaliação do estado mental pode ser dividida em três momentos 
essenciais, conforme apresentado a seguir: 
 
a) Comunicação e Relacionamento interpessoal (utilização de 
técnicas subjetivas para o estabelecimento de confiança, vínculo e 
relacionamento terapêutico); 
b) Observação (aparência, postura, higiene, vestimentas, 
comportamento, interação); 
c) Exame das funções mentais (utilização de técnicas objetivas para 
avaliação das funções mentais dos clientes). (CARDOSO; DONATO; 
ZANETTI, 2015) 
 
Comunicação e Relacionamento interpessoal - Esta é uma fase que 
utilizara técnicas subjetivas de interação para que se estabeleça uma efetiva 
comunicação entre profissional e cliente, que esteja embasada na empatia e escuta 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 77 
terapêutica facilitando assim o estabelecimento de vínculo e confiança. Trata-se de 
fase essencial, pois sem ela o profissional não era capaz de obter dados subjetivos 
do cliente, muito menos, avaliar com precisão as funções mentais e intervir 
terapeuticamente no cuidado em saúde mental. Para estabelecer a comunicação e o 
relacionamento interpessoal o profissional de enfermagem: 
 
Figura 7: Conduta do profissional de enfermagem diante a fase de comunicação e 
relacionamento interpessoal 
 
 
Fonte: (CARDOSO; DONATO; ZANETTI, 2015, p. 24) 
 
Figura 8: fase importante para coleta de dados sobre a história do adoecimento, 
antecedentes familiares e dados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: (CARDOSO; DONATO; ZANETTI, 2015, p. 24) 
 
B) Observação - A observação é uma habilidade muito importante no cuidado em 
saúde mental, por meio dela é possível obter indícios acerca das melhores 
estratégias para o estabelecimento da efetiva comunicação e relacionamento 
interpessoal, mas também possibilita aferir dados objetivos acerca da aparência, 
postura, higiene, vestimentas, comportamento, interação do cliente com o meio no 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 78 
qual está inserido. É importante ressaltar que esta habilidade é exercida 
continuamente por todo o período de trabalho, no qual o profissional de 
enfermagem deverá estar sempre à disposição para assistir seu cliente em suas 
demandas (CARDOSO; DONATO; ZANETTI, 2015, p. 25). 
 
C) Exame das funções mentais (utilização de técnicas objetivas para avaliação 
das funções mentais dos clientes)- Este exame das funções mentais se dará por 
meiode uma entrevista, em consulta de enfermagem e a comunicação é essencial 
para criar um vínculo entre o enfermeiro e a pessoa. 
As funções mentais não podem ser avaliadas diretamente, para sua efetiva aferição 
é necessário que enfermeiro articule as habilidades de comunicação e observação 
com seus conhecimentos técnicos para estimular o cliente a demonstrar o que 
sente e pensa, avaliando-se continuamente também o comportamento do cliente 
durante esta interação. 
Para tanto o enfermeiro deverá utilizar a comunicação, a escuta terapêutica, o 
relacionamento interpessoal e de sua habilidade para interagir com a pessoa, 
identificando se está em sofrimento mental, a sua história clínica, antecedentes 
familiares. Todas as pessoas são seres biopsicossociais e para compreendê-las 
deve ser considerado também todo o contexto evolutivo e sócio cultural que a 
cerca (CARDOSO; DONATO; ZANETTI, 2015, p. 25). 
 
Para o completo exame clínico das funções mentais podem ser avaliadas 
considerando três partes: 
✦AVALIAÇÃO DA APARÊNCIA GERAL 
✦AVALIAÇÃO COGNITIVO COMPORTAMENTAL** 
✦AVALIAÇÃO DA LINGUAGEM, PENSAMENTO E SENSOPERCEPÇÃO 
 
**Mini Exame do Estado Mental (MEEM) 
 
• É o teste mais utilizado para avaliar a função cognitiva por ser rápido 
(em torno de 10 minutos), de fácil aplicação. 
 
• Domínios (orientação espacial, temporal, memória imediata e de 
evocação, cálculo, linguagem-nomeação, repetição, compreensão, escrita 
e cópia de desenho). 
 
• Não serve como teste diagnóstico, mas sim pra indicar funções que 
precisam ser investigadas. 
• É um dos poucos testes validados e adaptados para a população 
brasileira. 
 
Questionamentos 
• O que está mais fácil nesta internação? 
• O que está mais difícil nesta internação? 
• Como está lidando com as dificuldades? 
• Principal necessidade para estar melhor: 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 79 
• Se o seu amigo/parente lhe perguntar o que foi que o Sr./Sra. veio fazer 
no Hospital, como o Sr./Sra. vai lhe explicar? (adequada, limitada ou 
inadequada). (CARDOSO; DONATO; ZANETTI, 2015, p. 26). 
 
TEMA DA AULA: FUNDAMENTOS TEÓRICOS SOBRE ANÁLISE E 
MUDANÇA DE COMPORTAMENTO 
FONTE 
BIBLIOGRÁFICA 
KNAPP, Paulo; BECK, Aaron T. Fundamentos, modelos conceituais, 
aplicações e pesquisa da terapia cognitiva. Revista Brasileira de 
Psiquiatria, São Paulo, v. 30, n. 2, p. S54-S64, out. 2008. 
FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s1516-
44462008000600002. Disponível em: 
http://www.scielo.br/pdf/rbp/v30s2/a02v30s2.pdf. Acesso em: 
05 abr. 2020. 
 
Tópico 1: Terapia cognitivo-comportamental na Saúde Mental 
 
Análise do comportamento está enraizada na tradição behaviorista e utiliza 
princípios de aprendizagem para fazer mudança de comportamento. Alguns ramos 
da psicologia se esforçam para entender cognições subjacentes, mas a psicologia 
comportamental não está preocupada com as causas mentalistas de 
comportamento, e sim se concentra no próprio comportamento. 
De acordo com Skinner (2003) a abordagem comportamental prioriza na 
terapia, a alteração de fatores ambientais e sociais (contingências), possibilitando 
ao indivíduo discriminar os estímulos no meio, que contribuem para manutenção 
de seus comportamentos e dessa forma possibilitar ao indivíduo maior 
autocontrole diante de seus comportamentos indesejáveis. 
Prioriza o uso de experimentos para verificar como ocorre o 
comportamento e como ele é mantido e formular conceitos como esquemas de 
reforçamento, punição, extinção, generalização de estímulos, equivalências de 
estímulos, controle de estímulos entre tantos outros. 
Na terapia comportamental, pensamentos e sentimentos são considerados 
comportamentos, diferentes apenas pela forma como se pode ter acesso a eles, 
pois este se dá por meio do relato verbal daquele que pensa e sente, ou seja, 
pensamentos e sentimentos, também, são levados em consideração, analisados e 
passíveis das intervenções do terapeuta. 
A psicoterapia cognitivo-comportamental foi desenvolvida por Aaron T. 
Beck em 1960, usando a análise consciente dos processos cognitivos, como os 
pensamentos automáticos, os pensamentos intermediários, as crenças e esquemas, 
além das emoções e estratégias comportamentais do indivíduo para produzir uma 
melhora na qualidade de vida, objetivando uma dinâmica funcional, priorizando a 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 80 
saúde mental e a estabilidade emocional além do desenvolvimento das qualidades 
e potenciais do sujeito. 
Trata-se de uma psicoterapia que se tornou a mais pesquisada e com a 
maior quantidade de evidências científicas, construída empiricamente, garantindo 
assim, sua cientificidade e credibilidade. Podendo ser comparada a eficácia da 
terapia cognitivo-comportamental (TCC) com a eficácia da intervenção 
medicamentosa, sendo preferida a TCC como forma de tratamento pela maioria 
dos pacientes. 
TCC utiliza a linguagem verbal como forma de promover ressignificações no 
paciente, além de novas aprendizagens, porém, é necessário que seu conteúdo se 
torne acessível para que essas aquisições sejam possíveis. Trazendo resultados 
significativos em uma quantidade reduzida de tempo, facilitando desde mudanças 
comportamentais que visam o favorecer o tratamento de uma outra doença, ou até 
mesmo as alterações nos pensamentos e crenças para promover a qualidade de 
vida na saúde mental e fisiológica (KNAPP; BECK, 20018, p. S55). 
A pesquisa e a prática clínica mostraram que a TC é efetiva na redução de 
sintomas e taxas de recorrência, com ou sem medicação, em uma ampla variedade 
de transtornos psiquiátricos. Beck aplicou sistematicamente o conjunto de 
princípios teóricos e terapêuticos da TC a uma série de transtornos, começando 
por depressão, suicídio, transtornos de ansiedade e fobias, síndrome do pânico, 
transtornos da personalidade e abuso de substâncias (KNAPP; BECK, 20018, p. 
S55). 
Problemas interpessoais e raiva, hostilidade e violência também foram 
estudados. Além disso, trabalhos mais recentes usando esta abordagem mostraram 
um efeito adicional sobre o tratamento medicamentoso de doenças psiquiátricas 
graves, como esquizofrenia e transtorno bipolar. Adaptações em andamento de 
protocolos cognitivo-comportamentais para uma gama cada vez maior de 
transtornos médicos e psicológicos foram testados para dor crônica, relação 
conjugal conflituosa, transtornos somáticos na infância, bem como para bulimia e 
problemas de comer compulsivo (KNAPP; BECK, 20018, p. S55). 
O princípio fundamental da TC é que a maneira como os indivíduos 
percebem e processam a realidade influenciará a maneira como eles se sentem e se 
comportam. Desta forma, o objetivo terapêutico da TC, desde seus primórdios, tem 
sido reestruturar e corrigir esses pensamentos distorcidos e colaborativamente 
desenvolver soluções pragmáticas para produzir mudança e melhorar transtornos 
emocionais (KNAPP; BECK, 20018, p. S57). 
Uma hipótese essencial do modelo cognitivo tem sido a noção de que certas 
crenças constituem uma vulnerabilidade a distúrbios emocionais (modelo diátese-
estresse). Por exemplo, se um indivíduo apresenta uma vulnerabilidade cognitiva a 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 81 
temas de perda e fracasso, as conseqüências emocionais e comportamentais 
incluirão tristeza, um senso de desesperança e isolamento social, conforme 
encontrado na depressão (KNAPP; BECK, 20018, p. S58). 
Cada transtorno de personalidade também é caracterizado por um conjunto 
específico pessoal de conteúdos cognitivos disfuncionais, tais como deficiência, 
abandono, dependência ou necessidade de tratamento especial, que constituem a 
vulnerabilidade cognitiva do indivíduo. Quando ativados por eventos externos, 
drogas ou fatores endócrinos, esses esquemas tendem a causar um viés no 
processamento de informações e produzem o conteúdo cognitivo típico de um 
determinado transtorno,com sua própria constelação cognitiva e conjunto 
idiossincrático de crenças. Um breve resumo de perfis cognitivos em 
psicopatologia pode ser encontrado na Figura 9 (KNAPP; BECK, 20018, p. S58). 
 
Figura 9: Perfil cognitivo de alguns transtornos psiquiátricos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: (KNAPP; BECK, 20018, p. S58).e 
por que sentiram ou agiram de determinada maneira pode ser ilusório- não 
porque o senso comum esteja em geral errado, mas porque descreve o que já 
aconteceu com mais facilidade do que está por vir (MYERS; DEWALL, 2019, p.18). 
CONFIANÇA EXCESSIVA 
Nós humanos tendemos a achar que sabemos mais do que de fato sabemos. 
Questionados quanto a certeza de nossas respostas a perguntas factuais (Boston 
fica a norte ou sul de Paris?), tendemos a mostrar mais confiança do que precisão 
(MYERS; DEWALL, 2019, p.18). 
O PENSAMENTO CRÍTICO 
A atitude científica nos prepara para pensar de maneira mais inteligente. O 
pensamento inteligente, chamado de pensamento crítico, examina suposições, 
avalia fontes, identifica valores ocultos, avalia evidências e pondera conclusões. 
Seja lendo comentários online, seja ouvindo uma conversa, os pensadores críticos 
fazem perguntas: Como sabem disso? Quais são os interesses dessa pessoa nessa 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 10 
questão? Essa conclusão se baseia em lugares comuns e palpites, ou em 
evidências? As evidências, neste caso, justifica que se chegue a uma conclusão em 
termos de uma relação casual? Que outras explicações são possíveis? (MYERS; 
DEWALL, 2019, p.20). 
O pensamento crítico, baseado na ciência ajuda a limpar as lentes de nossa 
tendenciosidade (MYERS; DEWALL, 2019, p.20). 
Segundo Shafir (2013), citado por Myers e Dewall (2019, p.20) a ciência 
psicológica também pode identificar políticas eficazes. Para reduzir a 
criminalidade, devemos investir recursos na ampliação das sentenças ou em maior 
probabilidade de punição? Para ajudar alguém a se recuperar de um trauma, o 
profissional que acompanha a pessoa deve estimulá-la a reviver esse trauma ou 
não? Para aumentar o comparecimento dos eleitores nas votações, deve-se 
procurar conscientizá-los do problema da baixa participação do eleitorado, ou 
enfatizar que seus pares votam? Ao submeter essas questões ao escrutínio do 
pensamento crítico – e contrariando o senso comum – é a segunda opção que 
vence em cada uma delas. 
ESTRATÉGIAS DE PESQUISA: COMO OS PSICÓLOGOS FORMULAM PERGUNTAS E 
RESPOSTAS 
A ATITUDE CIENTÍFICA DOS PSICÓLOGOS É complementada pelo método 
científico – um processo autoajustável de avaliação de ideias mediante observação 
e análise. Em seu esforço para descrever e explicar a natureza humana, a ciência 
psicológica acolhe intuições e teorias que soem plausíveis – e as submete a testes. 
Se uma teoria funciona – se os dados apoiam as previsões –, tanto melhor para a 
teoria. Se as previsões fracassam, a teoria será reavaliada ou rejeitada (MYERS E 
DEWALL, 2019, P.20). 
 
✓ Teoria - uma explicação que usa um conjunto integrado de princípios que 
organiza observações e prediz comportamentos ou eventos. 
✓ Hipótese - uma previsão verificável, em geral decorrente de uma teoria. 
✓ Definição operacional - uma descrição minuciosa dos procedimentos exatos 
(operações) utilizados em uma pesquisa. Por exemplo, a inteligência 
humana pode ser definida operacionalmente como a pontuação em um teste 
de inteligência. 
✓ Replicação - repetição da essência de uma pesquisa, normalmente com 
participantes diferentes e em situações distintas, para ver se a descoberta 
básica se aplica a outros participantes e circunstâncias (MYERS; DEWALL, 
2019, p.20). 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 11 
O MÉTODO CIENTÍFICO 
COMO AS TEORIAS PROMOVEM O AVANÇO DA CIÊNCIA PSICOLÓGICA? 
No dia a dia, tendemos a usar o termo teoria como o equivalente a um “mero 
palpite”. Pode-se, por exemplo, menosprezar a evolução como “só uma teoria” – 
como se não passasse de especulação pura e simples. Na ciência, 
uma teoria explica comportamentos ou acontecimentos apresentando ideias 
que organizam aquilo que observamos, e prevê comportamentos e eventos. Ao 
organizar fatos isolados, uma teoria simplifica a realidade. Ao unir os fatos a 
princípios mais profundos, uma teoria oferece um resumo útil. Quando ligamos os 
pontos observados, vai emergindo uma imagem coerente (MYERS; DEWALL, 2019, 
p.23). 
Ainda segundo os autos citados anteriormente, uma teoria sobre os efeitos 
do sono sobre a memória, por exemplo, ajuda-nos a organizar um sem-número de 
observações acerca do sono em uma lista sucinta de princípios. Digamos que 
observamos repetidamente que pessoas com bons hábitos de sono tendem a 
responder corretamente perguntas em sala de aula, e se saem bem nas provas. 
Podemos então teorizar que dormir ajuda a memorizar. Até aqui, tudo bem. 
Chegamos a um princípio que resume bem uma lista de fatos sobre os efeitos de 
uma boa noite de sono sobre a memória (MYERS; DEWALL, 2019, p.23). 
Porém, por mais razoável que uma teoria possa parecer – e parece razoável 
supor que dormir favorece a memorização –, devemos pô-la à prova. Uma boa 
teoria produz previsões verificáveis, chamadas de hipóteses. Tais previsões 
especificam que resultados (comportamentos ou acontecimentos) dariam 
sustentação à teoria e que resultados a refutariam. Para averiguar nossa teoria 
acerca dos efeitos do sono sobre a memória, nossa hipótese poderia ser que, 
quando privadas de sono, as pessoas vão se lembrar menos do ocorrido na véspera 
(MYERS; DEWALL, 2019, p.23). 
A fim de testar tal hipótese, poderíamos avaliar quanto as pessoas lembram 
de um conteúdo didático estudado antes de uma boa noite de sono, ou antes de 
uma noite de sono mais curta. Os resultados vão confirmar nossa teoria ou levar-
nos a revisá-la ou rejeitá-la (MYERS; DEWALL, 2019, p.23). 
Nossas teorias podem impor um viés à nossa observação. Tendo teorizado 
que uma melhor memorização será consequência de mais horas de sono, podemos 
acabar vendo aquilo que esperamos – perceber os comentários de pessoas 
sonolentas como menos perspicazes, por exemplo. A ânsia de enxergar aquilo que 
corresponde às nossas expectativas é uma tentação sempre presente, dentro e fora 
do laboratório (MYERS; DEWALL, 2019, p.23). 
 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 12 
De acordo com o Comitê Bipartidário de Inteligência do Senado dos Estados 
Unidos (2004), as expectativas preconcebidas de que o Iraque possuía armas de 
destruição em massa levaram os analistas de inteligência a interpretar 
observações ambíguas de maneira a confirmar essa teoria (de modo análogo a 
como as opiniões das pessoas acerca da mudança climática podem influenciar sua 
interpretação de eventos climáticos locais). Tal conclusão, direcionada por essa 
teoria específica, resultou na invasão preventiva do Iraque pelos Estados Unidos 
(MYERS; DEWALL, 2019, p.23). 
Afim de compensar uma eventual tendenciosidade, os psicólogos relatam 
suas pesquisas com definições operacionais precisas de procedimentos e 
conceitos. Privação de sono, por exemplo, pode ser definida como “X horas a 
menos” que o número natural de horas de sono da pessoa. Esse cuidado na 
formulação dos enunciados permite a outros replica (repetir) as observações 
originais com participantes, materiais e circunstâncias diferentes. Se alcançarem 
resultados similares, aumenta a certeza da confiabilidade das conclusões (MYERS; 
DEWALL, 2019, p.23). 
O primeiro estudo sobre viés retrospectivo despertou a curiosidade dos 
psicólogos. Agora, depois de muitas replicações bem-sucedidas com pessoas e 
perguntas diferentes, estamos convencidos da força desse fenômeno (MYERS; 
DEWALL, 2019, p.23). 
No fim das contas, nossa teoria será útil se: 
(1) organizar uma série de observações e autorrelatos; 
(2) implicar predições que qualquer um possa usar para pôr a teoria à prova 
ou para gerar aplicações práticas (O número de horas de sono das pessoas 
prevê sua memorização?) 
(3) estimular novas pesquisas que resultem em uma teoria revisada, capaz 
de organizar e predizer nosso conhecimento (MYERS; DEWALL, 2019, p.23). 
TEMA DA AULA: Principais concepções teóricas do século XX.FONTE 
BIBLIOGRÁFICA 
 
BRASIL. Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores da área de 
Enfermagem. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. 
(org.). Profissionalização de auxiliares de enfermagem: cadernos do 
aluno: instrumentalizando a ação profissional I. 2. ed.[reimpr.] Brasília / Rio 
de Janeiro: Ministério da Saúde / Fiocruz, 2003. 164 p. Disponível em: 
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/profae/pae_cad1.pdf. Acesso 
em: 02 abr. 2020. 
FELDMAN, Robert S. Introdução à psicologia. 10. ed. Porto Alegre: AMGH, 
2015. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788580554892/cfi/5
2!/4/4@0.00:23.8. Acesso em: 26 dez. 2019. 
MYERS, David G.; DEWALL, Nathan C. Psicologia. tradução Cristiana de Assis 
Serra, Luiz Cláudio Queiroz de Faria. - 11. ed. - [Reimpr.]. - Rio de Janeiro: 
LTC, 2019. Disponível em: 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 13 
TEMA DA AULA: Principais concepções teóricas do século XX. 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788521634614/cfi/6/
28!/4/18/2@0:56.4. Acesso em: 26 dez. 2019. 
OLIVEIRA, Dalton. Psicologia Jurídica: a importância do estudo da psicologia 
jurídica. : A importância do estudo da Psicologia Jurídica. In: GONZAGA, 
Alvaro de Azevedo; ROQUE, Nathaly Campitelli (org.). Formação 
humanística para concursos. 5. ed. Rio de Janeiro / São Paulo: Forense / 
MÉTODO, 2020. Cap. 6. p. 323-340. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530988371/cfi/6/
10!/4/12/4@0:100. Acesso em: 02 abr. 2020. 
PARIZI, Vicente Galvão. Psicologia transpessoal: algumas notas sobre sua 
história, crítica e perspectivas. Psic. Rev. São Paulo, n. 14(1): 109-128, maio 
2005. Disponível em: 
https://revistas.pucsp.br/psicorevista/article/viewFile/18098/13454. 
Acesso em: 29 set. 2020. 
Tópico 1: Psicologia social, Psicanálise, behaviorismo, transpessoal, 
humanismo e Gestalt 
PSICOLOGIA SOCIAL 
Dirk Willems encarou um momento de decisão em 1569. Ameaçado de 
tortura e morte como um membro de uma minoria religiosa perseguida, ele 
escapou da prisão em Asperen, Holanda, e atravessou um lago coberto de gelo. Seu 
carcereiro, mais forte e pesado, perseguiu-o, mas quebrou o gelo e caiu; sem 
conseguir subir novamente, pediu ajuda (MYERS; DEWALL, 2019, p.419). 
Com a liberdade à sua frente, Willems agiu com absoluto desprendimento, 
voltando e resgatando seu perseguidor que, obedecendo a ordens, levou-o de volta 
ao cativeiro. Poucas semanas mais tarde Willems foi condenado a ser “queimado 
até a morte”. Por seu martírio, a Asperen dos dias de hoje batizou uma rua em 
homenagem ao seu herói popular (MYERS; DEWALL, 2019, p.419). 
O que leva as pessoas a sentirem desprezo pelas minorias religiosas, como 
aconteceu com Dirk Willems, e a agirem tão rancorosamente? O que inspira as 
pessoas, como o seu carcereiro, a executar ordens injustas? E o que motivou o 
desprendimento da resposta de Willems e de tantos outros que morreram 
tentando salvar outras pessoas? Na realidade, o que motiva qualquer um de nós 
quando nos oferecemos bondosa e generosamente para ajudar as outras pessoas? 
(MYERS; DEWALL, 2019, p.419). 
Como esses exemplos demonstram, somos animais sociais. Podemos supor 
o melhor ou o pior nas outras pessoas. Podemos abordá-las com punhos cerrados 
ou braços abertos. Como comentou o romancista Herman Melville, “Não 
conseguimos viver apenas para nós mesmos. Nossa vida está ligada por milhares 
de fios invisíveis”. Os psicólogos sociais exploram essas ligações estudando 
cientificamente como pensamos, influenciamos e nos relacionamos uns com os 
outros (MYERS; DEWALL, 2019, p.419). 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 14 
PENSAMENTO SOCIAL 
O que os psicólogos sociais estudam? Como tendemos a explicar o 
comportamento das outras pessoas e o nosso próprio comportamento? 
OS PSICÓLOGOS DA PERSONALIDADE focam na pessoa. Eles estudam os 
traços pessoais e a dinâmica que explica por que pessoas diferentes podem agir de 
maneira diferente em uma mesma situação, como a enfrentada por Willems. (Você 
teria ajudado o carcereiro a sair da água congelante?) (MYERS; DEWALL, 2019, 
p.419). 
Os psicólogos sociais focam na situação. Eles estudam as influências 
sociais que explicam por que a mesma pessoa vai agir de maneira diferente 
em situações diferentes. O carcereiro poderia ter agido de maneira diferente – 
optando por não levar Willems de volta para a cadeia – em circunstâncias 
diferentes? (MYERS; DEWALL, 2019, p.419). 
O ERRO DE ATRIBUIÇÃO FUNDAMENTAL 
Nosso comportamento social surge de nossa cognição social. Especialmente 
quando ocorre o inesperado, queremos compreender e explicar por que as pessoas 
agem como agem. Após estudar como as pessoas explicam o comportamento dos 
outros, Fritz Heider (1958) propôs uma teoria de atribuição: podemos atribuir o 
comportamento aos traços estáveis, duradouros, da pessoa (uma atribuição 
relativa à disposição pessoal) ou podemos atribuí-lo à situação (uma atribuição 
situacional) (MYERS; DEWALL, 2019, p.419). 
QUAIS FATORES AFETAM AS NOSSAS ATRIBUIÇÕES? 
Todos nós cometemos o erro de atribuição fundamental. Considere: seu 
professor de psicologia é tímido ou extrovertido? Se você responder “extrovertido”, 
lembre-se de que você conhece o professor em uma situação – a sala de aula, que 
exige um comportamento extrovertido. Seu professor (que observa o próprio 
comportamento não só na sala de aula, mas com a família, em reuniões, quando 
está viajando) poderia dizer, “Eu, extrovertido? Tudo depende da situação. Em sala 
de aula ou na presença de bons amigos, sim. Sou extrovertido. Mas em reuniões 
profissionais sou realmente bem tímido.”. Fora de seus papéis atribuídos, os 
professores parecem menos professorais, os presidentes são menos presidenciais, 
os gestores são menos gerenciais (MYERS; DEWALL, 2019, p.419). 
Quando explicamos o nosso próprio comportamento, somos sensíveis a 
como ele muda de acordo com a situação (Idson & Mischel, 2001). (Uma exceção 
importante: na maioria das vezes, atribuímos as nossas ações intencionais e 
admiráveis não às situações, mas aos nossos próprios bons motivos [Malle, 2006; 
Malle et al., 2007]) (MYERS; DEWALL, 2019, p.419). 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 15 
Também somos sensíveis ao poder da situação quando explicamos o 
comportamento das pessoas que conhecemos bem e com quem estivemos em 
diferentes contextos. Muitas vezes cometemos o erro de atribuição fundamental 
quando um estranho age mal. Tendo visto apenas aquele torcedor berrando para o 
árbitro no calor da competição, podemos presumir que se trata de uma má pessoa. 
Mas, fora do estádio, ele pode ser um bom vizinho e um ótimo pai (MYERS; 
DEWALL, 2019, p.419). 
QUAIS SÃO AS CONSEQUÊNCIAS DAS NOSSAS ATRIBUIÇÕES? 
A maneira como explicamos as ações das outras pessoas, atribuindo-as à 
pessoa ou situação, pode ter efeitos importantes na vida real (Finchman & 
Bradbury, 1993; Fletcher et al., 1990). Uma pessoa deve decidir se atribui a 
amabilidade de outra pessoa a um interesse romântico ou sexual. Um parceiro 
deve decidir se o comentário ácido de um ente querido reflete um mau dia ou uma 
disposição média. Um júri deve decidir se um tiro foi malicioso ou em legítima 
defesa. Em um estudo, 181 juízes estaduais deram sentenças mais leves a um 
agressor violento no qual um cientista atestou que havia um gene que alterava 
áreas do cérebro relacionadas à agressividade (MYERS; DEWALL, 2019, p.420). 
ATITUDES E AÇÕES 
Como as nossas atitudes e ações interagem? 
Atitudes são sentimentos, muitas vezes influenciados por nossas crenças 
que predispõem nossas reações a objetos, pessoas e eventos. Se acreditarmos que 
alguém está nos ameaçando, podemos sentir medo e raiva da pessoa 
e agir defensivamente. O tráfego entre nossas atitudes e nossas ações é de duas 
vias. Nossas atitudes afetam nossas ações. E nossas açõesafetam nossas atitudes 
(MYERS; DEWALL, 2019, p.420). 
AÇÕES AFETAM ATITUDES 
O Fenômeno do Pé na Porta - Como você reagiria se alguém o induzisse a 
agir contra suas crenças? Um ingredientechave foi o uso eficaz do fenômeno do pé 
na porta: Os chineses sabiam que as pessoas que concordam com uma pequena 
exigência vão achar mais fácil cumprir uma exigência maior no futuro. Eles 
começaram com pedidos inofensivos, como copiar uma frase trivial, mas 
gradualmente aumentaram suas exigências (SCHEIN, 1956 apud MYERS; DEWALL, 
2019, p.420). 
A próxima frase a ser copiada poderia listar as falhas do capitalismo. Depois, 
para ganhar privilégios, os prisioneiros participaram de discussões em grupo, 
escreveram autocríticas ou fizeram confissões públicas. Depois disso, eles 
ajustaram suas crenças para que ficassem mais coerentes com seus atos públicos 
(MYERS; DEWALL, 2019, p.421). 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 16 
O ponto é simples: para conseguir que as pessoas concordem com algo 
grande, comece pequeno e aumente gradualmente (CIALDINI, 1993 apud MYERS; 
DEWALL, 2019, p.421). 
Um ato trivial torna o próximo ato mais fácil. Sucumba a uma tentação e 
você vai achar a próxima tentação mais difícil de resistir (MYERS; DEWALL, 2019, 
p.421). 
PSICANÁLISE 
Teoria formulada pelo médico austríaco Sigmund Freud (1856-1939), que 
tem como base duas contribuições primordiais: primeiro, a descoberta do 
inconsciente e, segundo a formulação da teoria sexual infantil (OLIVEIRA, 2020). 
A psicanálise se desenvolveu contemporânea às outras escolas de 
psicologia, porém emerge de uma vertente fora do âmbito das ciências naturais e 
dos experimentos acadêmicos em laboratório (OLIVEIRA, 2020). 
Sua principal influência tem origem na psicopatologia. A psicanálise nasce 
de uma oposição aos tratamentos dos distúrbios mentais da época, os quais eram 
precários e desumanos. A aplicação da psicanálise ao tratamento das neuroses 
divergia do objetivo da psicologia, o de descobrir leis do comportamento humano, 
uma vez que seu objeto de estudo se detinha ao comportamento anormal 
(OLIVEIRA, 2020). 
De acordo com a teoria de Freud, nada ocorre ao acaso, existe um 
determinismo psíquico. Há conexões entre todos os eventos mentais e as conexões 
entre eles estão no inconsciente. Existem processos mentais conscientes e 
inconscientes e a maior parte deles é absolutamente inconsciente (OLIVEIRA, 
2020). 
O QUE SÃO OS TAIS DE ID, EGO E SUPEREGO? 
 
Sigmund Freud identificou cada uma das formas de funcionamento da 
estrutura psíquica com nomes que nos parecem estranhos, pois têm sua origem na 
língua alemã (BRASIL, 2003, p. 44). 
Estas três instâncias de nossa mente vivem, assim como o nosso corpo, em 
busca de um nível de equilíbrio que nos permita ter o máximo possível de 
experiências boas e o mínimo de experiências ruins. Mas, nem sempre isso é fácil. 
Muitas vezes nos encontramos dentro de situações das quais não gostaríamos de 
participar, mas não vemos outra saída. Outras vezes, ainda, nos percebemos 
querendo e não querendo alguma coisa ao mesmo tempo. Nessas situações se 
estabelecem conflitos dentro de nós (BRASIL, 2003, p. 45). 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 17 
Os conflitos podem ser extremamente desgastantes do ponto de vista 
emocional. Sempre em busca do equilíbrio, lançamos mão de “estratégias” que nos 
tirem pelo menos temporariamente daquela situação. A essas “respostas de 
proteção”, que são, em geral, inconscientes e automáticas, chamamos mecanismos 
de defesa. Os mecanismos de defesa não são, por eles mesmos, patológicos nem 
saudáveis (BRASIL, 2003, p. 45). 
É o uso que fazemos deles e o grau de rigidez que estabelecemos 
internamente para seu uso que faz com que sejam mais ou menos favoráveis ao 
nosso ajustamento. Por exemplo, sair para caminhar pode ser uma excelente 
solução quando estamos prestes a “explodir” com alguém em determinada 
situação, mas se só soubermos fazer isso para lidar com nossos conflitos, em breve 
estaremos em apuros (BRASIL, 2003, p. 45). 
Figura 01 – Id, Ego e Superego 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Maistro (2020) 
 
Ao modo de funcionamento mais primitivo, aquele do bebê recém-nascido, 
onde predominam os impulsos e sensações corporais de forma mais 
desorganizada, Freud chamou de id. Id seria o ponto de partida de todo ser 
humano, a fonte básica de energia de nosso ser, que será organizada a partir de 
nosso contato com o ambiente (BRASIL, 2003, p. 44). 
 
O id é formado pelas energias ou pulsões inconscientes, contendo assim 
os impulsos inatos e biologicamente determinados. Esses desejos não 
reconhecem e não respeitam nenhuma norma estabelecida pela 
sociedade, nenhuma convenção e nenhum código moral, buscando 
apenas a satisfação incondicional do organismo. Nele estarão, por 
exemplo, os impulsos sexuais e violentos. 
 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 18 
Já o superego é regido justamente por normas e princípios éticos e 
religiosos da sociedade na qual o indivíduo está inserido. Diferentemente 
do id (que é inato), o superego é construído ao longo da infância e 
adolescência do indivíduo. Nele estarão os aprendizados sobre o que é 
certo e errado inicialmente ensinados pela família nuclear e, 
posteriormente, pela sociedade como um todo. O superego é uma 
instância parcialmente consciente e parcialmente inconsciente. 
 
Por fim, o ego, que literalmente significa “eu”, é o setor da personalidade 
especializado em manter contato com o ambiente que cerca o indivíduo. 
Ele é a porção que sofre as pressões imediatas do meio externo e executa 
ações destinadas a manter o convívio da pessoa com terceiros. O ego tem 
uma porção consciente e outra inconsciente. (CASABURI, 2019, p. 153) 
 
O ego tem três tarefas básicas: a nossa autopreservação, nosso autocontrole 
(não é porque sentimos atração sexual por alguém que vamos “atacar” tal pessoa) 
e nossa adaptação ao meio ambiente. Quando o indivíduo sofre de transtornos 
mentais, as funções adaptativas do ego geralmente são afetadas, especialmente nos 
transtornos psicóticos que se caracterizam por um vínculo precário com a 
realidade externa (BRASIL, 2003, p. 44). 
À capacidade de julgamento moral (noção de certo e errado) que passamos 
a adquirir com o passar da infância, Freud chamou superego. Esta seria a parte de 
nós mesmos que se liga aos códigos morais de nosso ambiente e de nossa espécie. 
Ter essa noção de certo e errado muitas vezes não chega a nos impedir de realizar 
determinadas ações, mas nos sinaliza que fizemos algo inadequado (BRASIL, 2003, 
p. 44-45). 
BEHAVIORISMO 
A palavra provém do termo em inglês behavior (comportamento). Por isso, 
essa teoria também é denominada de Psicologia Comportamental. Os primeiros 
estudos nascem com John B. Watson em 1913, nos Estados Unidos, propondo que o 
objeto de estudo da Psicologia fosse observável, mensurável e que pudesse ser 
reproduzido (OLIVEIRA, 2020, p. 332). 
O resultado de tal pesquisa foi a formulação da teoria S-R (Stimulus – 
estímulo e Responsio – resposta), que procurava explicar como a relação entre 
estímulo do ambiente e resposta do organismo constituía a base para descrever 
todo tipo de comportamento. Dessa relação estabelece-se o conceito de 
condicionamento respondente, o qual está associado ao comportamento 
respondente (OLIVEIRA, 2020, p. 332). 
O comportamento respondente é um comportamento involuntário 
provocado por estímulos ambientais. O estímulo frio provoca a resposta de arrepio 
e a emissão de som, quando se sente dor, são exemplos que compelem um 
comportamento involuntário ou reflexo. É, portanto, um estímulo incondicionado 
(OLIVEIRA, 2020, p. 332). 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 19 
O condicionamento respondente ocorre quando o estímulo eliciador de um 
comportamento respondente é pareado com outro estímulo, fazendocomo que a 
resposta passe a ser eliciada, agora, frente ao estímulo pareado (OLIVEIRA, 2020, 
p. 332). 
A salivação, por exemplo, (comportamento respondente) frente ao estímulo 
alimento poderia ser condicionada de forma que a salivação pudesse ser eliciada 
por outros estímulos diferentes do alimento, tal como um sinal luminoso, desde 
que juntamente com o alimento fosse apresentado tal estímulo luminoso. Dessa 
forma, em um momento posterior, apenas a apresentação da luz eliciaria o 
comportamento de salivação, sem se fazer necessária a apresentação do alimento 
(OLIVEIRA, 2020, p. 332). 
Com Skinner (1904-1990), surge o que conhecemos por behaviorismo 
radical, termo que designa a Ciência do Comportamento. O autor se dedica ao 
estudo das respostas e observa que há um outro tipo de relação entre o organismo 
e seu ambiente o que ele irá chamar de comportamento operante, sendo este 
distinto do comportamento respondente. Já o comportamento operante é o 
comportamento voluntário e inclui tudo aquilo que fazemos e que tem efeito sobre 
nosso mundo exterior, ou seja, que operam nele. Este comportamento visa obter o 
efeito desejado ou evitar uma consequência indesejada (OLIVEIRA, 2020, p. 332). 
Assim, enquanto que o comportamento respondente é controlado por um 
estímulo antecedente (S-R), o comportamento operante é controlado por suas 
consequências – estímulos que se seguem à resposta (R-S) (OLIVEIRA, 2020, p. 
332). 
A partir daí, formula-se o modelo de análise do comportamento, o 
fundamento para a descrição das interações organismo-ambiente: 
S – R – S 
(estímulo antecedente) (resposta) (estímulo consequente) 
Portanto, tem-se, primeiramente, um comportamento que responde a um 
estímulo do ambiente, o qual, por sua vez, inevitavelmente levará a uma 
consequência ainda não aprendida. Num segundo momento, a resposta será dada 
já objetivando a consequência, pois, agora, é conhecida pelo indivíduo por 
intermédio da experiência anterior (OLIVEIRA, 2020, p. 332). 
HUMANISMO 
Como os psicólogos humanistas veem a personalidade, e qual era seu 
objetivo ao estudar a personalidade? 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 20 
Na década de 1960, alguns psicólogos da personalidade mostraram-se 
insatisfeitos com a negatividade da teoria freudiana e a psicologia mecanicista do 
behaviorismo de B. F. Skinner (MYERS; DEWALL, 2019, p.470). 
Indo em direção contrária à do estudo de Freud sobre motivações básicas 
de pessoas “doentes”, os psicólogos humanistas voltaram sua atenção para o modo 
como as pessoas “saudáveis” se esforçam por obter autodeterminação e 
autorrealizacão. Em contraste com a objetividade científica do behaviorismo, eles 
estudaram as pessoas por meio de suas experiências e sentimentos relatados por 
elas mesmas (MYERS; DEWALL, 2019, p.470). 
Dois teóricos pioneiros – Abraham Maslow (1908-1970) e Carl Rogers 
(1902-1987) – propuseram a perspectiva de uma terceira força com ênfase no 
potencial humano (MYERS; DEWALL, 2019, p.470). 
A perspectiva humanista encara a personalidade com um foco no potencial 
para o crescimento pessoal saudável (MYERS; DEWALL, 2019, p.470). 
A autorrealização de acordo com Maslow, uma das necessidades 
psicológicas essenciais que surge após as necessidades físicas e psicológicas 
básicas terem sido atendidas e a autoestima ser alcançada; a motivação para 
realizar o potencial do indivíduo (MYERS; DEWALL, 2019, P.470). 
ABRAHAM MASLOW E A PESSOA AUTORREALIZADA 
Maslow propôs que somos motivados por uma hierarquia de necessidades. 
Se nossas necessidades fisiológicas são atendidas, ficamos preocupados com 
segurança pessoal; se atingimos um senso de segurança, buscamos então amar, ser 
amados e amar a nós mesmos; com nossas necessidades de amor satisfeitas, 
buscamos autoestima. Tendo alcançado a autoestima, finalmente buscamos a 
autorrealização (o processo de realizar nosso potencial) e de autotranscendência 
(significado, propósito e comunhão para além do eu) (MYERS; DEWALL, 2019, 
p.470). 
Maslow (1970) desenvolveu suas ideias estudando pessoas saudáveis e 
criativas em vez de casos clínicos complicados. Ele baseou sua descrição de 
autorrealização em um estudo de pessoas que pareciam notáveis por terem levado 
uma vida rica e produtiva – entre eles Abraham Lincoln, Thomas Jefferson e 
Eleanor Roosevelt (MYERS; DEWALL, 2019, p.471). 
Maslow relatou que essas pessoas tinham em comum certas características: 
aceitavam-se tal como eram e tinham consciência de si mesmas; eram francas e 
espontâneas, afetuosas e solícitas e não se deixavam afetar pela opinião dos outros. 
Seguras por saberem quem eram, seus interesses eram centrados nos problemas, e 
não em si mesmas (MYERS; DEWALL, 2019, p.471). 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 21 
Elas concentravam suas energias em uma determinada tarefa, a qual viam 
como sua missão na vida. A maioria desfrutava de poucos relacionamentos íntimos 
em vez de muitos relacionamentos superficiais. Muitas foram movidas por grandes 
experiências pessoais ou espirituais que vão além da consciência comum (MYERS; 
DEWALL, 2019, p.471). 
Essas, segundo Maslow, são qualidades adultas maduras, qualidades que se 
encontram nas pessoas que aprenderam o suficiente sobre a vida para serem 
compassivas, para terem superado seus sentimentos confusos em relação aos pais, 
para terem descoberto sua vocação, para terem “adquirido coragem bastante para 
serem impopulares, para não se envergonharem de serem abertamente virtuosas 
etc.” (MYERS; DEWALL, 2019, p.471). 
O trabalho de Maslow com estudantes universitários o levou a especular 
que aqueles propensos a se tornar adultos autorrealizados eram simpáticos, 
solícitos, “particularmente afetuosos com os mais idosos que merecem seu afeto” e 
“preocupados com a crueldade, a malvadeza e o espírito de gangue encontrados 
com tanta frequência entre as pessoas jovens” (MYERS; DEWALL, 2019, p.471). 
TEORIA TRANSPESSOAL 
Koltko-Rivera (2006), citado por Myers e Dewall, (2019, p.348) afirma que 
próximo ao final de sua vida, Maslow sugeriu que algumas pessoas também 
atingem um nível de autotranscendência. No nível da autorrealização, as pessoas 
procuram realizar seu próprio potencial. Na autotranscendência, as pessoas 
buscam o significado, o propósito e a comunhão que estão além do self, que é 
transpessoal (MYERS; DEWALL, 2019, p.348). 
Abraham Maslow (1970) descreveu essas prioridades como uma hierarquia 
de necessidades. Na base dessa pirâmide estão nossas necessidades fisiológicas, 
como as por água e alimento. Somente se estas forem satisfeitas estaremos prontos 
para satisfazer a necessidade por segurança e, depois, as necessidades 
exclusivamente humanas de dar e receber amor e de desfrutar de nossa 
autoestima. Acima disso, Segundo Maslow (1971), está a mais alta das 
necessidades humanas: a realização do pleno potencial do indivíduo (MYERS; 
DEWALL, 2019, p.348). 
A psicologia transpessoal surgiu nos EUA, em 1969, a partir do encontro de 
Abraham Maslow, Stanislav Grof e outros importantes psicólogos e teóricos. 
Saudada como a quarta força da psicologia, buscava integrar à psicologia as 
vivências espirituais e as experiências chamadas “transpessoais”, caracterizadas 
por um estado de consciência superior, que contém todas as experiências 
anteriores do indivíduo e prossegue no sentido de conduzir o ser humano em 
direção à transcendência (PARIZI, 2005, p.109). 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 22 
Fazendo pontes entre as muitas escolas ocidentais de psicologia e as 
tradições espirituais do Oriente e do Ocidente, a psicologia transpessoal chegou a 
ser confundida por alguns críticos com uma abordagem sincrética ou uma nova 
forma de religião “new age”. Nos dias correntes, seus principais teóricos esforçam-
se no sentido de mostrar que se trata de uma abordagem psicológica conseqüente 
e rigorosamentecientífica, distante da New Age e de práticas ditas “alternativas” 
ou “holísticas” (PARIZI, 2005, p.109). 
GESTALT 
Palavra que provém do alemão e tem um sentido aproximado a ideia de 
forma. A Gestalt nasceu de uma iniciativa de pesquisadores alemães que se 
preocupavam com os fenômenos de percepção (OLIVEIRA, 2020, p. 333). 
Interessava compreender processos psicológicos envolvidos na ilusão de 
ótica, ou seja, quando um estímulo físico é percebido de forma diferente da qual se 
apresenta na realidade. Em contraponto ao behaviorismo, a Gestalt sustenta que o 
comportamento deveria considerar aspectos globais, tendo em vista as condições 
que possam alterar a percepção. Portanto, a relação deve ser a seguinte: 
Estímulo – Processo de percepção – Resposta 
Defendem o processo de percepção como essencial para a compreensão do 
comportamento humano, enfatizando que o comportamento, quando isolado de 
seu contexto mais amplo, perde seu significado (OLIVEIRA, 2020, p. 333). 
Os psicólogos da Gestalt afirmavam que, quando os elementos sensoriais são 
combinados, forma-se um novo padrão ou configuração. Juntemos algumas notas 
musicais e algo novo — uma melodia ou tom — surge da combinação. Quando 
olhamos para fora de uma janela, vemos imediatamente as árvores e o céu, e não 
pretensos elementos sensoriais, como brilhos e matizes, que possam constituir a 
nossa percepção das árvores e do céu (OLIVEIRA, 2020, p. 334). 
Os gestaltistas tentaram identificar as regras que governam a forma como as 
pessoas percebem os estímulos separados e lhes atribuem sentido formando uma 
unidade. Afirmam que as pessoas extraem significado da totalidade de um 
conjunto de estímulos e não de um estímulo individual, explicitando a premissa: O 
todo é distinto da soma de suas partes (OLIVEIRA, 2020, p. 334). 
Por meio dos fenômenos perceptivos é alcançada a boa forma, ou seja, a 
compreensão global do evento apreendido. A boa forma é a tendência à 
restauração do equilíbrio parte-todo, superando a ilusão de ótica (OLIVEIRA, 2020, 
p. 334). 
 
 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 23 
TEMA DA AULA: Contexto da psicologia na saúde. 
 
FONTE 
BIBLIOGRÁFICA 
 
ALMEIDA, Raquel Ayres de; MALAGRIS, Lucia Emmanoel Novaes. A prática 
da psicologia da saúde. Revista SBPH, Rio de Janeiro, v. 14, n. 2, p. 183-202, 
dez. 2011. Disponível em: 
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rsbph/v14n2/v14n2a12.pdf. Acesso em: 02 
abr. 2020. 
BRASIL. Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores da área de 
Enfermagem. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. 
(org.). Profissionalização de auxiliares de enfermagem: cadernos do 
aluno: instrumentalizando a ação profissional I. 2. ed.[reimpr.] Brasília / Rio 
de Janeiro: Ministério da Saúde / Fiocruz, 2003. 164 p. Disponível em: 
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/profae/pae_cad1.pdf. Acesso 
em: 02 abr. 2020. 
CASTRO, Elisa Kern de; BORNHOLDT, Ellen. Psicologia da saúde x psicologia 
hospitalar: definições e possibilidades de inserção profissional. : definições e 
possibilidades de inserção profissional. Psicologia: Ciência e Profissão, 
Brasília, v. 24, n. 3, p. 48-57, set. 2004. FapUNIFESP (SciELO). Disponível em: 
http://www.scielo.br/pdf/pcp/v24n3/v24n3a07.pdf. Acesso em: 02 abr. 
2020. 
FELDMAN, Robert S. Introdução à psicologia. 10. ed. Porto Alegre: AMGH, 
2015. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788580554892/cfi/5
2!/4/4@0.00:23.8. Acesso em: 26 dez. 2019. 
MYERS, David G.; DEWALL, Nathan C. Psicologia. tradução Cristiana de Assis 
Serra, Luiz Cláudio Queiroz de Faria. - 11. ed. - [Reimpr.]. - Rio de Janeiro: 
LTC, 2019. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788521634614/cfi/6/
28!/4/18/2@0:56.4. Acesso em: 26 dez. 2019. 
OLIVEIRA, Dalton. Psicologia Jurídica: a importância do estudo da psicologia 
jurídica. : A importância do estudo da Psicologia Jurídica. In: GONZAGA, 
Alvaro de Azevedo; ROQUE, Nathaly Campitelli (org.). Formação 
humanística para concursos. 5. ed. Rio de Janeiro / São Paulo: Forense / 
MÉTODO, 2020. Cap. 6. p. 323-340. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530988371/cfi/6/
10!/4/12/4@0:100. Acesso em: 02 abr. 2020. 
Tópico 1: A Psicologia Aplicada à área da saúde 
 
A psicologia aplicada tenta dar soluções concretas aos problemas que 
ocorrem na nossa vida cotidiana. Apesar desse entendimento de que podemos 
aproximar a psicologia do nosso dia a dia, no campo da saúde é fundamental 
compreender que a psicologia deve estar ancorada em bases científicas (APA, 
2003 apud CASTRO; BORNHOLDT, 2004, p. 49). 
 
Por exemplo: A psicologia da saúde analisa a relação entre comportamento 
e os distúrbios físicos, buscando prevenir e tratar diferentes doenças. Tem como 
objetivo compreender como os fatores biológicos, comportamentais e sociais 
influenciam na saúde e na doença (APA, 2003 apud CASTRO; BORNHOLDT, 2004, 
p. 49). 
 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 24 
Psicologia da Saúde como a disciplina ou o campo de especialização da 
Psicologia que aplica seus princípios, técnicas e conhecimentos 
científicos para avaliar, diagnosticar, tratar, modificar e prevenir os 
problemas físicos, mentais ou qualquer outro relevante para os 
processos de saúde e doença. (CASTRO; BORNHOLDT, 2004, p. 49) 
 
Apesar de ser uma área internacionalmente consolidada, ela é recente – 
remonta a década de 1970 – e, algumas dúvidas sempre cercam referente à 
diferenciação entre Psicologia da Saúde e a Psicologia Clínica. Em resumo, a 
Psicologia Clínica centra sua atuação em diversos contextos e problemáticas em 
saúde mental, enquanto a Psicologia da Saúde dá ênfase, principalmente, aos 
aspectos físicos da saúde e da doença (KERBAUY, 2002 apud CASTRO; 
BORNHOLDT, 2004, p. 50). 
a Psicologia da Saúde, com base no modelo biopsicosossocial1, utiliza os 
conhecimentos das ciências biomédicas, da Psicologia Clínica e da 
Psicologia Social-comunitária (Remor, 1999). Por isso, o trabalho com 
outros profissionais é imprescindível dentro dessa abordagem. [...] O 
trabalho é multiplicador, uma vez que capacita a própria comunidade 
para ser agente de transformação da realidade, pois aprende a lidar, 
controlar e melhorar sua qualidade de vida. (CASTRO; BORNHOLDT, 
2004, p. 50) 
 
A Psicologia da Saúde não está interessada diretamente pela situação, que 
cabe ao foro médico. Seu interesse está na forma como o sujeito vive e experimenta 
o seu estado de saúde ou de doença, na sua relação consigo mesmo, com os outros 
e com o mundo (CASTRO; BORNHOLDT, 2004, p. 50). 
Objetiva fazer com que as pessoas incluam no seu projeto de vida, um 
conjunto de atitudes e comportamentos ativos que as levem a promover a saúde e 
prevenir a doença, além de aperfeiçoar técnicas de enfrentamento no processo de 
ajustamento ao adoecer, à doença e às suas eventuais consequências (BARROS, 
1999 apud ALMEIDA; MALAGRIS, 2011, p. 183). 
A psicologia aplicada a saúde pretende repassar aos trabalhadores em 
formação noções que lhes possibilitem promover o desenvolvimento de uma 
postura mais crítica (em relação à profissão), participativa (em relação à equipe e à 
comunidade nas quais vai estar inserido) e sensível (em relação a todos aqueles 
que estarão sob seus cuidados) (BRASIL, 2013). 
Segundo o caderno de estudos “Instrumentalizando a ação profissional I” 
(BRASIL, 2003), a Psicologia pode ser de grande utilidade para os profissionais de 
saúde, pois possibilita uma melhor compreensão sobre o modo como, no dia a dia, 
possam se relacionar com os pacientes. Colocando-os em contato com a dimensão 
humana da doença, fazendo-os perceber que tratam pessoas, não somente quadros 
clínicos (p. 142). 
 
1 Modelo biopsicossocial é um conceito amplo que visa estudar a causa ou o progresso de doenças 
utilizando-se de fatores biológicos (genéticos, bioquímicos, etc), fatores psicológicos (estado de 
humor, de personalidade,de comportamento, etc) e fatores sociais (culturais, familiares, 
socioeconômicos, médicos, etc). 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 25 
Os temas tratados estão sempre referidos à prática profissional do 
trabalhador da área de enfermagem e às questões dela decorrentes, e sua 
explanação visa estimular a reflexão sobre seu papel nos âmbitos da dimensão 
humana e social do trabalho em saúde (BRASIL, 1013). 
As funções dos profissionais de Psicologia da Saúde estão se expandindo à 
medida que o campo amadurece. A maioria dos psicólogos da saúde trabalham em 
hospitais, clínicas e departamentos acadêmicos de faculdades e universidades 
onde eles podem fornecer ajuda direta e indireta aos pacientes (ALMEIDA; 
MALAGRIS, 2011, p. 191). 
A necessidade do trabalho em equipe decorre da constatação de que não se 
pode conhecer com apenas uma disciplina ou um conhecimento individualizado - 
seja a Medicina, a Psicologia ou a Enfermagem - todas as intercorrências sobre o 
sujeito que sofre (BRASIL, 2013). 
Na forma de trabalho das equipes pode ser: 
Pluridisciplinares: Na forma de trabalho pluridisciplinar as equipes, 
constituídas por várias disciplinas, atuam juntas, mas não há troca de 
informações, não há soma; na verdade, o paciente é dividido entre as 
várias áreas do saber. 
 
Multidisciplinares: Na forma de trabalho multidisciplinar os diversos 
profissionais trocam idéias e informações sobre suas práticas específicas. 
Reúnem-se regularmente, debatem pontos de vista e complementam os 
entendimentos sobre o problema em questão, indo além dos limites 
restritos a suas profissões: enfermeiros ouvem os pacientes durante 
seus procedimentos; assistentes sociais interessam-se pela vida 
emocional de seus clientes e médicos procuram não apenas acertar seus 
diagnósticos e prescrições, mas interessam-se por todo o contexto em 
que o cliente está inserido, o que contribui para a continuidade e sucesso 
do processo terapêutico. 
 
Interdisciplinares: Outro tipo de atuação é aquele desenvolvido pelas 
equipes interdisciplinares. Nestas, os métodos e técnicas de determinada 
disciplina são utilizadas por profissionais de áreas distintas. Esta 
modalidade é muito comum nos serviços de atenção diária em 
saúde mental, nos quais os profissionais trabalham em conjunto, 
atuando de acordo com os procedimentos acertados pela equipe. 
(BRASIL, 2013) (grifo nosso) 
 
 
Obviamente, a prática nos mostra que o trabalho em equipe é 
extremamente difícil. Trabalhar em harmonia e de forma integrada, com 
profissionais de distintas formações, mesmo quando existe um objetivo comum, é 
muito complicado. Nem sempre conseguimos abrir mão de nossas vaidades 
profissionais ou encarar as inseguranças que, naturalmente, temos ao 
compartilhar com o grupo a nossa maneira de trabalhar (BRASIL, 2013). 
Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 26 
Entretanto, a superação dessas limitações deve ser um desafio cotidiano 
para o alcance do objetivo comum: o bem-estar do paciente e a integração da 
equipe. Uma equipe de trabalho pode organizar-se de diversas maneiras. Essa 
organização depende de fatores como a definição dos papéis, a distribuição de 
poder entre os profissionais e a situação (de crise ou rotina) enfrentada pelo 
grupo. 
O Técnico em Enfermagem compõe a maior parte da força de trabalho da 
área da saúde, executando a maioria das ações hospitalares e atenção básica. 
Gerando a melhor qualidade possível de atendimento ao paciente. Em suma, ele é o 
responsável por cuidar de pessoas. 
 
TEMA DA AULA: A HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA NO BRASIL 
A História da Psiquiatria no Brasil 
 
FONTE 
BIBLIOGRÁFICA 
 
ANDRADE, Rodrigo de Oliveira. Aos loucos, o hospício. Revista Pesquisa 
Fapesp, São Paulo, v. 19, n. 263, p. 90-94, jan. 2018. Disponível em: 
https://revistapesquisa.fapesp.br/wp-content/uploads/2018/01/090-
093_memoria_263.pdf. Acesso em: 02 abr. 2020. 
BARROS, Sônia; SALLES, Mariana. Gestão da atenção à saúde mental no 
Sistema Único de Saúde. Revista da Escola de Enfermagem da USP, São 
Paulo, v. 45, n. 2, p. 1780-1785, dez. 2011. FapUNIFESP (SciELO). 
http://dx.doi.org/10.1590/s0080-62342011000800025. Disponível em: 
http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v45nspe2/25.pdf. Acesso em: 02 abr. 
2020. 
BRASIL. Lei nº 10.216, de 06 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os 
direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o 
modelo assistencial em saúde mental. Brasília, DF, 09 abr. 2001. Disponível 
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm. 
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saúde mental e psiquiátrico. In: TAVARES, Marcus Luciano de Oliveira; 
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Disciplina PSICOLOGIA APLICADA E SAÚDE MENTAL Página 27 
TEMA DA AULA: A HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA NO BRASIL 
A História da Psiquiatria no Brasil INPA - INSTITUTO DE PSICOLOGIA APLICADA. Quais as diferenças entre 
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Silva (org.). Psiquiatria: estudos fundamentais. Estudos Fundamentais. Rio 
de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. Cap. 1. p. 3-19. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788527734455/cfi/6/
28!/4/2@0:0. Acesso em: 02 abr. 2020. 
 
Tópico 1: Aspectos Históricos da Psiquiatria 
 
Sofrer algum tipo de deficiência ou doença mental é um infortúnio que traz 
consequências terríveis para o paciente. A possibilidade de que a doença seja 
acompanhada por irrupções de violência complica ainda mais. O “louco” inspira 
medo e, consequentemente, é vítima de toda sorte de agressões (PICCININI; 
MELEIRO, 2018). 
 
Serdoente mental significa ter uma vida dura, brutal e 
curta em muitos casos. O estigma, o preconceito e o 
tabu que o cercam têm atravessado séculos. 
Compreender a história da psiquiatria e, 
principalmente, a maneira como a sociedade atua com 
relação ao doente mental não é tarefa fácil. 
Primeiramente, vamos estabelecer o que é um 
psiquiatra (PICCININI; MELEIRO, 2018, p. 3). 
O psiquiatra é um profissional com formação em Medicina e com 
especialização em Psiquiatria. Após a faculdade, então, faz residência em 
instituições de saúde mental, clínicas e hospitais psiquiátricos. Os conhecimentos 
desta área e especialidade médica concentram-se nos comportamentos que fogem 
à “normalidade” (INPA, 2019). 
Toda sociedade tem seu padrão de 
normalidade, ou seja, o que é 
considerado aceitável dentro de 
padrões estéticos, comportamentos 
e atitudes, dentre outros, para todos 
os seus membros. Os indivíduos fora 
da norma são os chamados 
estigmatizados, porque apresentam 
alguma característica física, social ou 
cultural (o estigma) que os 
diferenciam do restante do grupo. 
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Segundo Piccinini e Meleiro (2018) os psiquiatras modernos vivem uma 
situação peculiar. São estimados por muitos e criticados pelos que não reconhecem 
sua atuação em defesa do doente mental. 
Conhecer a história é o primeiro passo necessário para compreender como 
chegamos ao momento atual. Para tanto, convém separar a história da loucura da 
história da psiquiatria (PICCININI; MELEIRO, 2018, p. 3). 
O modo como a loucura é vista hoje não é o mesmo de séculos anteriores. O 
jeito de entender, de tratar, de lidar e de olhar a loucura foi se modificando, como 
tudo o mais se modificou no mundo: valores, cultura, avanços na área médica, etc. 
A loucura representa um grande desafio para todos os interessados em 
estudá-la. Tanto é um desafio que muitas outras áreas do conhecimento se 
associam ao processo de investigação de seus segredos. Filósofos, sociólogos, 
antropólogos, neurocientistas e psicofarmacologistas são apenas os exemplos mais 
notáveis de profissionais envolvidos nesse conflito (PICCININI; MELEIRO, 2018, p. 
3). 
No período clássico (500 a.C. a 500 d.C.), o modelo da Grécia Antiga de 
doença é de ruptura do equilíbrio interno, concebido de acordo com a visão 
cósmica. As frases enigmáticas dos loucos aproximam os homens das ordens dos 
Deuses. Neste período não era controlados ou excluídos sendo transformados em 
instrumento de mensagens divinas (PICCININI; MELEIRO, 2018, p. 3). 
 
Na Idade Média na Europa (500 d.C. a 1500 d.C.), o início do período foi 
marcado pela Idade das Trevas - mas não é pela falta de energia elétrica, que ainda 
não havia sido descoberta, e sim devido ao fato de todo pensamento cultural estar 
ligado às ideias religiosas - fez com que todas as descobertas no campo científico e 
nos outros campos do conhecimento humano progredissem muito lentamente. A 
loucura era vista como expressão da força da natureza, como algo não humano, 
predominaram as concepções morais sob influência do cristianismo, no mundo 
ocidental. Possessões e caça às bruxas são consequências (PICCININI; MELEIRO, 
2018, p. 4). 
 
Na Renascença e na Reforma (1450-1700), período da Peste Negra, o pânico 
das bruxas foi desencadeado pela competição entre católicos e protestantes. A 
ideia de possessão levou à tortura e à morte de muitos doentes mentais, pois a 
“demonologia” e a Inquisição impuseram resistência para a aceitação da ideia de 
que feiticeiros e possuídos sofriam de doença natural (PICCININI; MELEIRO, 2018, 
p. 4). Esse período foi marcado pelo encarceramento de todos aqueles que não 
podiam contribuir para o movimento de produção, de comércio ou de consumo de 
mercadorias. Essa exclusão se dá devido à mudança na relação do homem com o 
trabalho. 
 
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Foi entre o fim do século XVIII e o início do XIX, com o avanço do 
conhecimento científico e da consciência social, que a medicina começou a tomar a 
forma atual. A Revolução Francesa (1789), no plano político, e os avanços 
científicos relacionados com a Revolução Industrial, no plano econômico, foram as 
influências mais significativas desse processo (PICCININI; MELEIRO, 2018, p. 6). 
 
Há o início do processo de reabsorção dos excluídos: auxílio financeiro e 
médico em suas próprias casas aos necessitados. Mas, os loucos permaneciam 
encarcerados: considerados perigosos para o convívio social. 
 
O primeiro grande passo para o progresso científico da psiquiatria ocorreu 
apenas no século XVIII, com os estudos do médico francês Philippe Pinel, o qual 
instituiu reformas humanitárias para o cuidado com os doentes mentais. Foi 
quando realmente a assistência aos doentes mentais se tornou médica. Antes do 
final do século XVIII, a medicina não se interessava em saber o quê e o por quê do 
que dizia “O louco” (PICCININI; MELEIRO, 2018, p. 6). 
 
Surgiu na França, com a reforma patrocinada por Pinel e instituída por 
Esquirol, e serviu de modelo para as transformações na assistência psiquiátrica de 
todo o mundo ocidental. A assistência aos doentes mentais se transformou em 
responsabilidade médica e estatal (PICCININI; MELEIRO, 2018, p. 6). 
 
Final do século XVIII, Philippe Pinel difunde uma nova concepção de loucura. 
Fundamenta a alienação mental como distúrbios das funções intelectuais do 
sistema nervoso. O cérebro é a sede da mente e na mente se manifesta loucura. O 
cientista divide os sintomas em classes: mania, melancolia, demência e idiotismo 
(FELDMAN, 2015). 
 
Segundo Feldman (2015) a loucura foi considerada como um desarranjo das 
faculdades cerebrais, cujas principais causas seriam: 
 
Causas físicas: de origem cerebral, como pancada na cabeça, formação 
defeituosa do cérebro e hereditariedade; 
Causas morais: consideradas as mais importantes, são as paixões 
intensas e excessos de todos os tipos. (FELDMAN, 2015) 
 
A loucura adquire então o estatuto de doença mental, que requer um saber 
médico e técnicas específicas, ou seja, nesse momento, fica também constituída a 
psiquiatria como saber médico, que tem como seus principais representantes 
Pinel, na França, Tuke na Inglaterra, e posteriormente Esquirol, considerado um 
dos maiores teóricos dessa primeira escola psiquiátrica - o alienismo (FELDMAN, 
2015). 
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Feldman (2015) aponta que o alienismo – para 
Jean-Étienne Esquirol (1872-1840) - se baseia no 
entendimento da loucura enquanto desrazão, ou seja, 
alienação mental. O tratamento vai ser baseado no 
Asilo, que vai ter, por si só, uma função terapêutica. A 
organização do espaço asilar e a disciplina rígida vão 
ser elementos importantes do tratamento, que consiste 
em confrontar a confusão do louco, sua desrazão, com a 
ordem do espaço asilar, e com a razão do alienista, que, 
para tanto, tem que ser uma pessoa de moral inatacável. 
 
No século XIX, Dorothea Dix lutou por melhoras nas condições dos locais que 
abrigavam doentes mentais. O médico alemão Emil Kraepelin foi o primeiro a 
subdividir as psicoses em dois grupos: psicose maníaco-depressiva (PMD) e 
esquizofrenia (PICCININI; MELEIRO, 2018, p. 6). 
 
No caminho do grande desenvolvimento científico do século XIX, a medicina 
firmou-se como uma ciência. A psiquiatria veio a se firmar como ciência médica 
algumas décadas mais tarde. A psiquiatria acompanhou, em ritmo mais lento do 
que outras especialidades, o desenvolvimento da medicina como ciência. 
 
Além disso, segundo Piccinini e Meleiro (2018, p. 6) a história da psiquiatria 
pode ser vista a partir da influência de alguns países em sua construção. 
Simplificando, pode-se dizer que a história começou sob a influência da língua 
francesa; depois, a língua alemã; e, finalmente, a língua inglesa, principalmente da 
vertente norte-americana. Muitos

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