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ÁLGEBRA LINEAR Prezado (a) aluno (a), Na Álgebra Linear, planos e retas são entidades geométricas fundamentais estudadas em um espaço tridimensional. Um plano é uma superfície plana que se estende infinitamente em todas as direções, definido por uma equação linear. A compreensão das características e propriedades de retas é vital para a resolução de problemas que envolvem movimento, trajetórias e otimização. Em conjunto, o estudo de planos e retas na Álgebra Linear amplia nossa compreensão do espaço tridimensional e fornece ferramentas essenciais para modelagem e resolução de problemas complexos em diversas áreas. Bons estudos! AULA 4 – RETAS E PLANOS 4 INTRODUÇÃO Estamos familiarizados com a equação de uma reta no plano cartesiano com base nas aulas anteriores. Agora, vamos considerar retas em R² do ponto de vista vetorial. As ideias que aparecem neste estudo nos permitem a generalização para retas em R³ e planos em R³. Muito da álgebra linear que estudaremos tem sua origem na geometria simples de retas e planos, a habilidade de visualizar esses elementos e pensar em um problema geometricamente nos será de grande valia. 4.1 Retas em R² e em R³ No plano 𝑥𝑦, a forma geral da equação de uma reta é 𝑎𝑥 + 𝑏𝑦 = 𝑐. Se 𝑏 ≠ 0, a equação pode ser reescrita como 𝑦 = −( 𝑎 𝑏 ) 𝑥 + 𝑐 𝑏 , que tem a forma 𝑦 = 𝑚𝑥 + 𝑘. Uma forma coeficiente angular-interseção, em que 𝑚 é o coeficiente angular da reta, e o ponto de coordenadas (0, 𝑘) é sua interseção com o eixo 𝑦. Para fazer essa descrição com vetores, observe atentamente o exemplo a seguir: Exemplo 1: A reta ℓ de equação 2𝑥 + 𝑦 = 0, (Figura 1a), é uma reta de coeficiente angular −2 passando pela origem. O lado esquerdo da equação tem a forma de um produto escalar, de fato, se consideramos 𝑛 = [ 2 1 ] e 𝑥 = [ 𝑥 𝑦], a equação se torna 𝑛 ∙ 𝑥 = 0. O vetor 𝑛, é perpendicular a reta, ou seja, é ortogonal a qualquer vetor 𝑥 paralelo à reta (Figura 1b), e é chamado de vetor normal à reta. A equação 𝑛 ∙ 𝑥 = 0, é a forma normal da equação de ℓ. Figura 1 – (a) Reta 2𝑥 + 𝑦 = 0; (b) Vetor normal 𝑛 Fonte: Adaptado de Anton e Busby (2006). Outra forma de pensar sobre essa reta é imaginar uma partícula movendo-se ao longo dela. Suponhamos que a partícula esteja na origem no instante 𝑡 = 0 e se movimente ao longo da reta de modo que sua coordenada 𝑥 varie em uma unidade por segundo. Assim, no instante 𝑡 = 1, a partícula está em (1, −2), em 𝑡 = 1,5, a partícula está em (1,5, −3). Se permitirmos valores negativos para 𝑡, isto é, se considerarmos onde a partícula estava no passado, por exemplo, em 𝑡 = −2, a partícula está/estava em (−2, 4). Esse movimento está ilustrado na Figura 2 a seguir. Figura 2 – Representação gráfica de movimentação de partícula Fonte: Anton e Busby (2006). Em geral, se 𝑥 = 𝑡, então 𝑦 = −2𝑡. Essa relação pode ser escrita na seguinte forma vetorial: [ 𝑥 𝑦] = [ 𝑡 −2𝑡 ] = 𝑡 [ 1 −2 ] O vetor 𝑡 [ 1 −2 ] é considerado como um vetor particular paralelo a ℓ, chamado de vetor diretor para a reta (Figura 3). Podemos escrever a equação de 𝓵 como 𝑥 = 𝑡𝑑. Figura 3 – Representação gráfica do vetor diretor 𝑑 Fonte: Anton e Busby (2006). Exemplo 2: Considere a reta ℓ de equação 2𝑥 + 𝑦 = 5 (Figura 4). É justamente a reta do Exemplo 1, com algumas alterações. Ela também possui coeficiente angular −2, mas sua interseção com o eixo 𝑦 é no ponto (0, 5). É claro que os vetores 𝑑 e 𝑛 do Exemplo 1 são, respectivamente, um vetor diretor e um vetor normal a essa reta. Figura 4 – Representação gráfica da equação 2𝑥 + 𝑦 = 5 Fonte: Anton e Busby (2006). Assim, 𝑛 é ortogonal a todo vetor que seja paralelo a ℓ. O ponto 𝑃 = (1, 3) pertence a reta ℓ. Se 𝑋 = (𝑥, 𝑦) representa um ponto geral de ℓ, então o vetor 𝑃𝑋⃗⃗⃗⃗ ⃗ = 𝑥 − 𝑝 é paralelo a ℓ e 𝑛 ∙ (𝑥– 𝑝) = 0 (Figura 5). Simplificando, temos 𝑛 ∙ 𝑥 = 𝑛 ∙ 𝑝. Para verificar, devemos calcular: Assim, a forma normal 𝑛 ∙ 𝑥 = 𝑛 ∙ 𝑝 é uma representação diferente da forma geral da equação da reta. Podemos analisar no Exemplo 1, em que 𝑝 era o vetor nulo, por isso o lado direito da equação resultou em 𝑛 ∙ 𝑝 = 0. Figura 5 - Representação gráfica da equação 𝑛 ∙ (𝑥 − 𝑝) = 0 Fonte: Elaborado pelo autor. Definição: A forma normal da equação de uma reta ℓ em 𝑅², é do tipo: 𝑛 ∙ (𝑥– 𝑝) = 0 ou 𝑛 ∙ 𝑥 = 𝑛 ∙ 𝑝 em que 𝑝 é um ponto específico de ℓ e 𝑛 ≠ 0 é um vetor normal a ℓ. A forma geral da equação de ℓ é: 𝑎𝑥 + 𝑏𝑦 = 𝑐, em que, 𝑛 = [ 𝑎 𝑏 ] é um vetor normal a ℓ. Dando continuidade ao Exemplo 2, vamos encontrar a forma vetorial da equação de ℓ. Observe que, para cada escolha de 𝑥, 𝑥 – 𝑝 deve ser paralelo ao vetor diretor 𝑑, e, portanto, um múltiplo de 𝑑. Isto é, 𝑥 − 𝑝 = 𝑡𝑑 ou 𝑥 = 𝑝 + 𝑡𝑑 para algum escalar 𝑡. Em termos de componentes, temos: ou A equação (1) é a forma vetorial da equação de ℓ, e as equações das componentes, que é a equação 2, são chamadas de equações paramétricas da reta. A variável 𝑡 é denominada de parâmetro. Para generalizar para 𝑅³, observe que as formas vetorial e paramétrica das equações da reta se adaptam perfeitamente. A noção de coeficiente angular de uma reta em 𝑅², que é difícil de generalizar para três dimensões, é substituída pela noção mais conveniente de vetor diretor, conduzindo à seguinte definição: Definição: A forma vetorial da equação de uma retal em 𝑅² ou em 𝑅³ é do tipo: 𝑥 = 𝑝 + 𝑡𝑑 em que 𝑝 é um ponto específico de ℓ e 𝑑 ≠ 0 é um vetor diretor de ℓ. As equações correspondentes às componentes da forma vetorial da equação são chamadas equações paramétricas de ℓ. Geralmente apenas nos referimos a essa terminologia como equações geral, normal, vetorial e paramétricas de uma reta ou plano. Exemplo 3: Determine equações nas formas vetorial e paramétrica da reta em R³ que passa pelo ponto 𝑃 = (1, 2, −1) e é paralela ao vetor 𝑑 = [ 5 −1 3 ]. Solução: A equação vetorial 𝑥 = 𝑝 + 𝑡𝑑 é: A forma paramétrica é: 𝑥 = 1 + 5𝑡 𝑦 = 2 − 𝑡 𝑧 = −1 + 3𝑡 (1) (2) A equação vetorial e as equações paramétricas de uma dada reta ℓ não são únicas, de fato, existem infinitas, já que podemos considerar qualquer ponto de ℓ para determinar 𝑝 e qualquer vetor diretor de ℓ. No entanto, todos os vetores diretores são claramente múltiplos um do outro. Utilizando o Exemplo 3, suponha que (6, 1, 2) seja outro ponto sobre a reta, considere 𝑡 = 1 e que [ 10 −2 6 ] é outro vetor diretor, assim temos: uma equação diferente, mas equivalente, para a reta. A relação entre os dois parâmetros se 𝑡 pode ser obtida comparando-se as equações paramétricas, para cada ponto (𝑥, 𝑦, 𝑧) de ℓ, temos: Implicando que: Todas essas equações se reduzem a 𝑡 = 1 + 2𝑠. Intuitivamente, sabemos que uma reta é um objeto unidimensional. Observe que, essa ideia parece combinar com o fato de que a equação vetorial de uma reta requer apenas um parâmetro. Exemplo 4: Encontre uma equação vetorial para a reta ℓ em 𝑅³ determinada pelos pontos 𝑃 = (−1, 5, 0) e 𝑄 = (2, 1, 1). Solução: Podemos escolher qualquer ponto de ℓ como 𝑝, neste exemplo, será utilizado 𝑃. Um vetor diretor conveniente é 𝑑 = 𝑃𝑄⃗⃗⃗⃗ ⃗ = [ 3 −4 1 ], ou qualquer múltiplo escalar deste. Assim, obtemos: 𝑥 = 𝑝 + 𝑡𝑑 = [ −1 5 0 ] + 𝑡 [ 3 −4 1 ] 4.2 Planos em R³ Para que a equação geral de uma reta se generalize para 𝑅³, é simples imaginar que, se 𝑎𝑥 + 𝑏𝑦 = 𝑐 é a forma geral da equação de uma reta em 𝑅², então 𝑎𝑥 + 𝑏𝑦 + 𝑐𝑧 = 𝑑 deve representar uma reta em 𝑅³. Na forma normal, essa equação é 𝑛 ∙ 𝑥 = 𝑛 ∙ 𝑝, em que 𝑛 é um vetor normal à reta e 𝑝 corresponde a um ponto dela. Para verificar se essa é uma hipótese razoável, vamos refletir sobre o caso especial da equação 𝑎𝑥 + 𝑏𝑦 + 𝑐𝑧 = 0. Em suaforma normal, ela é 𝑛 ∙ 𝑥 = 0, em que 𝑛 [ 𝑎 𝑏 𝑐 ]. No entanto, o conjunto de todos os vetores 𝑥 que satisfazem a essa equação é o conjunto de todos os vetores ortogonais a 𝑛, como no gráfico abaixo. Existem infinitos vetores de sentidos diferentes que possuem essa propriedade, determinando uma família de planos paralelos. Assim, nossa suposição está incorreta, pois, aparentemente 𝑎𝑥 + 𝑏𝑦 + 𝑐𝑧 = 𝑑 é a equação de um plano e não uma reta em 𝑅³. Todo plano 𝒫 em 𝑅³, pode ser determinado através da especificação de um ponto 𝑝 em 𝒫 e um vetor não nulo 𝑛 normal a 𝒫. Portanto, se 𝑥 representa um ponto arbitrário de 𝒫, temos que (𝑛 − 𝑝) = 0 ou 𝑛 ∙ 𝑥 = 𝑛 ∙ 𝑝. Se 𝑛 [ 𝑎 𝑏 𝑐 ] e 𝑥 [ 𝑥 𝑦 𝑧 ], em termos das componentes, a equação se torna 𝑎𝑥 + 𝑏𝑦 + 𝑐𝑧 = 𝑑, em que 𝑑 = 𝑛 ∙ 𝑝. A forma normal da equação de um plano 𝒫 em 𝑅³ é do tipo: 𝑛 ∙ (𝑥 − 𝑝) = 0 ou 𝑛 ∙ 𝑥 = 𝑛 ∙ 𝑝, em que 𝑝 é um ponto específico de 𝒫 e 𝑛 ≠ 0 é um vetor normal a 𝒫. A forma geral da equação de 𝒫 é: 𝑎𝑥 + 𝑏𝑦 + 𝑐𝑧 = 𝑑 em que 𝑛 [ 𝑎 𝑏 𝑐 ] é um vetor normal a 𝒫. Note que qualquer múltiplo escalar de um vetor normal ao plano é outro vetor normal. Exemplo 5: Encontre formas normal e geral da equação do plano, que contém o ponto 𝑃 = (6, 0, 1) e tem vetor normal 𝑛 = [ 1 2 3 ]. Solução: Com 𝑝 = [ 6 0 1 ] e 𝑥 = [ 𝑥 𝑦 𝑧 ], temos 𝑛 ∙ 𝑝 = 1 ∙ 6 + 2 ∙ 0 + 3 ∙ 1 = 9, portanto, a equação normal 𝑛 ∙ 𝑥 = 𝑛 ∙ 𝑝 se transforma na equação geral: 𝑥 + 2𝑦 + 3𝑧 = 9. Geometricamente, é claro que planos paralelos têm os mesmos vetores normais. Assim, as equações gerais têm os lados esquerdos múltiplos um do outro. Por exemplo, 2𝑥 + 4𝑦 + 6𝑧 = 10 é uma equação geral de um plano paralelo ao plano do Exemplo 5, já que podemos reescrever essa equação como: 𝑥 + 2𝑦 + 3𝑧 = 5, a partir da qual percebemos que os dois planos têm o mesmo vetor normal n. Observe que os planos não coincidem, pois os lados direitos das equações dos dois planos são distintos. Também podemos expressar a equação do plano na forma vetorial ou paramétrica. Para isso, observe que um plano pode ser determinado especificando- se um de seus pontos 𝑃 (pelo vetor 𝑝) e dois vetores diretores 𝑢 e 𝑣 paralelos ao plano, mas não paralelos entre si. Na Figura 6 abaixo, podemos observar que, dado qualquer ponto 𝑋 no plano, localizado pelo vetor 𝑥, podemos sempre encontrar múltiplos apropriados 𝑠𝑢 e 𝑡𝑣 dos vetores diretores, de maneira que 𝑥 − 𝑝 = 𝑠𝑢 + 𝑡𝑣 ou 𝑥 = 𝑝 + 𝑠𝑢 + 𝑡𝑣. Se escrevermos essa equação em componentes, obtemos equações paramétricas para o plano. Por definição, a forma vetorial da equação de um plano 𝒫 em 𝑅³ é do tipo: 𝑥 = 𝑝 + 𝑠𝑢 + 𝑡𝑣 em que 𝑝 é um ponto de 𝒫 e 𝑢 e 𝑣 são vetores diretores de 𝒫. Esses vetores diretores são não nulos e paralelos a 𝒫, mas não paralelos entre si. Figura 6 - 𝑥 − 𝑝 = 𝑠𝑢 + 𝑡𝑣 Fonte: Anton e Busby (2006). As equações correspondentes às componentes da equação vetorial são chamadas equações paramétricas de 𝒫. Exemplo 6: Encontre uma equação vetorial e uma paramétrica para o plano do Exemplo 5. Solução: É preciso determinar dois vetores diretores. Temos um ponto 𝑃 = (6, 0, 1) no plano; se encontrarmos dois outros pontos 𝑄 e 𝑅 em 𝒫, os vetores 𝑃𝑄⃗⃗⃗⃗ ⃗ e 𝑃𝑅⃗⃗⃗⃗ ⃗ poderão servir como vetores diretores, a menos que, por falta de sorte, eles sejam paralelos. Por tentativa e erro, observe que os pontos 𝑄 = (9, 0, 0) e 𝑅 = (3, 3, 0) satisfazem a equação geral 𝑥 + 2𝑦 + 3𝑧 = 9, e, portanto, estão no plano. Calcula-se: os quais, por não serem múltiplos escalares um do outro, servirão como vetores diretores. Por conseguinte, obtemos uma equação vetorial de 𝒫. e as correspondentes equações paramétricas, REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANTON, H.; BUSBY, R. C. Álgebra linear contemporânea. Porto Alegre: Bookman, 2006. ANTON, H.; RORRES, C. Álgebra linear com aplicações. 8. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012. LAY, D.; LAY, S.; MACDONALD, J. Álgebra linear e suas aplicações. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2018. LIMA, E. Álgebra linear. 9. ed. Rio de Janeiro: IMPA, 2016.