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PÁG.1 PÁG.2 1. EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS: (Breve) história do pensamento pedagógico brasileiro. .................................................. 01 2. A DIDÁTICA E O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM ............................................ 10 3. PRINCIPAIS TEORIAS DA APRENDIZAGEM. ..................................................................... 19 4. TEORIAS DO CURRÍCULO .................................................................................................. 33 5. ASPECTOS LEGAIS E POLÍTICOS DA ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA. ........ 43 6. POLÍTICAS EDUCACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA. ................................................ 51 7. LEGISLAÇÃO BÁSICA DA EDUCAÇÃO ............................................................................... 66 DIDÁTICA PROFª. ADRIANA FREITAS PÁG.1 1. EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIO- NAIS E PEDAGÓGICOS: (Breve) história do pen- samento pedagógico brasileiro. A educação brasileira começa a ter autonomia com o desen- volvimento das teorias da Escola Nova, no final do século XIX, pois nosso pensamento pedagógico reproduzia o religioso medi- eval. Graças ao pensamento iluminista trazido da Europa por intelectuais e estudantes de formação laica, positivista, liberal, a teoria da educação brasileira pôde dar alguns passos. A criação da Associação Brasileira de Educação (ABE), em 1924, foi fruto do projeto liberal da educação que tinha, entre outros componentes, um grande otimismo pedagógico: recons- truir a sociedade através da educação. Reformas importantes, realizadas por intelectuais na década de 20, impulsionaram o debate educacional, superando gradativamente a educação jesuí- tica tradicional, conservadora, que dominava o pensamento pe- dagógico brasileiro desde os primórdios. O domínio dos jesuítas havia sofrido um retrocesso durante apenas um curto espaço de tempo, entre 1759 e 1772. O obscurantismo português sobre a colônia era tanto que, em 1720, a metrópole proibiu a imprensa em todo o Brasil, na tentativa de mantê-la isolada de influências externas. Os jesuítas nos deixaram um ensino de caráter livresco e repe- titivo, que estimulava a competição por meio de prêmios e casti- gos. Discriminatórios e preconceituosos, os jesuítas dedicaram-se à formação das elites coloniais e difundiram nas classes populares a religião da obediência, da dependência e do paternalismo, características marcantes de nossa cultura ainda hoje. Uma edu- cação que reproduzia uma sociedade perversa, dividida entre analfabetos e doutores. Um balanço da educação até o final do Império está em dois pareceres de Rui Barbosa (18491923): o primeiro sobre o ensino secundário e superior, e o segundo sobre o ensino primário, apresentados ao Parlamento, respectivamente, em 1882 e 1883. Neles Rui Barbosa prega a liberdade de ensino, e a instrução obrigatória. A reforma sugerida por ele inspirava-se nos sistemas educacionais da Inglaterra, da Alemanha e dos Estados Unidos. O balanço mostrava o nosso atraso educacional, a fragmenta- ção do ensino e o descaso pela educação popular, que predomi- naram até o Império. A República prometia levar a questão edu- cacional a sério. Em 1890, os republicanos criaram o Ministério da Instrução junto com os Correios e Telégrafos. Em 1931, o Ministé- rio da Justiça seria associado à Saúde Pública. A educação foi interesse constante também do movimento anarquista no Brasil no início do século XX. Para os anarquistas, a educação não era o único nem o principal agente desencadeador do processo revolucionário. Entretanto, se não ocorressem mu- danças profundas na mentalidade das pessoas, em grande parte promovidas pela educação, a revolução social desejada jamais teria êxito. Este posicionamento dos anarquistas em relação à educação derivava do princípio da liberdade: os libertários eram contra a opressão e a coerção. O movimento anarquista no Brasil era profundamente influen- ciado pelo europeu através de livros, revistas e jornais. Essa in- fluência é claramente percebida quando se comparam duas inici- ativas educacionais promovidas em São Paulo: a Escola Libertária Germinal, que não foi em frente, e a Escola Moderna, destinada à educação de crianças da classe operária, inspirada na obra de Francisco Ferrer. O ensino libertário ministrado pelas escolas modernas encer- rou-se, pelo menos na capital de São Paulo e em São Caetano, em 1919. Aquele ano foi marcado por fortes tensões entre os anarquistas e as autoridades, especialmente porque circulavam informações de que estava sendo promovida no Rio de Janeiro, com a participação de anarquistas, uma conspiração visando à derrubada do governo. Entretanto, desde 1915 já vinha se confi- gurando um quadro bem pouco favorável à sobrevivência do ensino racionalista tal como fora proposto por Ferrer. O naciona- lismo e a consequente decisão do governo de imprimir novas diretrizes no campo da educação foram outros fatores que con- tribuíram para o encerramento da mais avançada experiência libertária no país. O pensamento pedagógico libertário teve como principal di- fusora a educadora Maria Lacerda de Moura (18871944), comba- tendo principalmente o analfabetismo. Em Lições de Pedagogia (1925), Moura propôs uma educação que incluísse educação física, educação dos sentidos e o estudo do crescimento físico. Amparando-se em Binet, Claparede e Mon- tessori, afirmava que, além das noções de cálculo, leitura, língua, pátria e história, seria preciso estimular associações e despertar a vida interior da criança para que houvesse uma autoeducação. Dizia ela que era preciso declarar guerra ao analfabetismo, mas também à ignorância presumida, ao orgulho tolo, à vaidade vulgar, à pretensão, à ambição, ao egoísmo, à intolerância e aos preconceitos, em suma: guerra à mediocridade, à vulgaridade e à prepotência asseguradas pela autoridade do diploma e do bacha- relado incompetente. Em 1930, a burguesia urbano industrial chega ao poder e apresenta um novo projeto educacional. A educação, principal- mente a educação pública, passou a ter espaço nas preocupações do poder. O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, assinado por 27 educadores em 1932, seria o primeiro grande resultado políti- co e doutrinário de 10 anos de luta da ABE em favor de um Plano Nacional de Educação. Outro grande acontecimento da década de 30 para a teoria educacional foi a fundação, em 1938, do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP), realizando um antigo sonho de Benjamin Constant que havia criado em 1890 o Pedagogium. Em 1944, o INEP inicia a publicação da Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, que se constitui, desde então, num precioso teste- munho da história da educação no Brasil, fonte de informação e formação para os educadores brasileiros até hoje. Os grandes teóricos deste período foram, sem dúvida, Fer- nando de Azevedo (1894-1974), Lourenço Filho (1897-1970), Anísio Spínola Teixeira (1900-1971) e Roque Spencer Maciel de Barros (1927-1989). O pensamento pedagógico liberal teve gran- des contribuições no Brasil, entre elas as de Roque Spencer Maci- el de Barros, João Eduardo. R. Villalobos, Antonio de Almeida Junior, Laete Ramos de Carvalho (1922-1972), Moysés Brejon (1923-1991) e Paul Eugene Charbonneau (1925-1987). Os católicos e os liberais representam grupos diferentes, cor- rentes históricas opostas, porém não antagônicas. Os primeiros desejavam imprimir à educação um conteúdo espiritual e os segundos, um cunho mais democrático. Contudo, os dois grupos tinham pontos em comum. Representavam apenas facções da classe dominante e, por- tanto, não questionavam o sistema econômico que dava origem aos privilégios e à falta de uma escola para o povo. A mudançaque apresentam um alto nível de au- toestima obtêm melhores resultados de aprendizagem. O professor que tem a visão de que seu ensino pode contri- buir para um desenvolvimento integral do aluno, sua função vai além da introdução de saberes culturalmente organizados que privilegiem o desenvolvimento da capacidade cognitiva, organi- zando procedimentos de ensino e conteúdos de aprendizagem que conduzam ao alcance o maior desenvolvimento possível de todas as capacidades. Os Parâmetros Curriculares Nacionais se configuram como um documento oficial elaborado com a finalidade de apoiar as dis- cussões pedagógicas na escola e contribuir para a atualização profissional do professor, em especial. Este documento foi elaborado para os anos iniciais do Ensino Fundamental, vindo em seguida os que incorporavam o restante dos anos escolares. Depois surgiram os Parâmetros para o Ensino Médio e o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil PÁG.12 e só recentemente, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos. Em todos eles os objetivos são propostos em termos de de- senvolvimento das capacidades cognitivas, físicas, afetivas, de relação interpessoal, de inserção social, ética e estética, visando uma formação integral. É conveniente, pois, os professores e toda a equipe escolar definir o que se deve entender por cada um destes aspectos, porque só assim poderá determinar qualquer ação que venha colaborar para a potencialização destas capaci- dades. Resumidamente, os Parâmetros apresentam o que seria cada uma destas capacidades: a cognitiva refere-se ao uso de formas de representação e de comunicação, envolvendo a resolução de problemas; a física refere-se ao autoconhecimento e uso do cor- po na expressão das emoções, nos jogos; a afetiva refere-se às motivações, à autoestima, à sensibilidade e à adequação de atitu- des no convívio social; a de relação interpessoal refere-se à com- preensão e convivência com os outros, a partir da percepção das diferenças entre as pessoas; a de inserção social refere-se à per- cepção de perceber-se como parte de uma comunidade, de uma classe, de um grupo e comprometer-se com questões que consi- dere importante para a coletividade; a ética refere-se à possibili- dade de reger as próprias ações, através da construção interna, pessoal, de princípios considerados válidos para si e para os ou- tros; e a capacidade estética refere-se à produção de arte e apre- ciação de diferentes produções artísticas. Os estudos atuais da psicologia apontam para o entrelaça- mento que há nas diferentes áreas do desenvolvimento, a saber: no ser humano a ação é influenciada pela emoção, as relações sociais influenciam a maneira de pensar, as sensações de bem- estar ou mal-estar afloram no comportamento, enfim, as capaci- dades estão relacionadas, ao ponto de exigir do professor que ele saiba encontrar o ponto de equilíbrio entre os diferentes tipos de capacidades. Isto vai refletir nas atividades de ensino e de apren- dizagem realizadas na sala de aula. É bem verdade que é muito complexo planejar para atender às orientações dos documentos oficiais, uma vez que o peso da tradição continua desequilibrando o que o professor pensa em fazer para melhorar a situação atual da educação escolar. Esses documentos oficiais são construídos de maneira muito ampla, sem detalhamentos, sendo necessário um esforço direcionado para o estudo e compreensão do material com a ajuda de outros profissionais que possam contribuir para a sua efetivação. Na construção dos objetivos de ensino, há de se analisar pri- meiramente o que dizem os objetivos gerais de cada nível de escolaridade: infantil, fundamental, médio e do ensino de jovens e adultos. Em seguida, interpretar para compreender o elenco de objetivos gerais propostos para cada disciplina, também de acor- do com os citados níveis e, só depois, elaborar os objetivos gerais da disciplina para o ano letivo. Só assim o professor saberá o que deve propor para o aluno desenvolver certo tipo de capacidade que se espera como resultado da aprendizagem no cotidiano escolar. Os documentos oficiais, mudam o foco tradicional em relação aos conteúdos que são vistos como um fim em si mesmo, para um meio de fazer com que os alunos desenvolvam as capacida- des que lhes permitam produzir e usufruir dos bens culturais, sociais e econômicos. Nesta proposta de mudança de foco, os conteúdos ultrapassam os fatos e conceitos incluindo procedi- mentos e atitudes. Por conteúdos conceituais entende-se o conjunto de fatos, objetos ou símbolos que tem características comuns e sua apren- dizagem necessita de compreensão. Não se pode dizer que um aluno aprendeu algo se ele não sabe o significado, se ele não sabe utilizar o conhecimento em qualquer atividade que o requei- ra. A aprendizagem de conteúdos conceituais permite atribuir significados aos conteúdos aprendidos e relacioná-los a outros. É uma aprendizagem que implica uma compreensão que vai muito além da reprodução literal de enunciados. As atividades postas para o aluno desenvolvê-las devem ser complexas que provo- quem um processo e construção pessoal do conceito; atividades que favoreçam o relacionamento dos novos conteúdos com os conhecimentos prévios. Por conteúdos procedimentais entende- se um conjunto de ações ordenadas dirigidas para a realização de um objetivo. Inclui regras, técnicas, métodos, destrezas, procedi- mentos. A aprendizagem de um procedimento implica na realiza- ção das ações que formam esse procedimento. Assim, aprende-se fazendo. E exercitando este fazer para o domínio competente. Mas não é suficiente a repetição do exercício. Faz-se necessário uma reflexão sobre a própria atividade para que se tome consci- ência da atuação de maneira a realizá-la com as melhores condi- ções de uso. Por fim, a aplicação em contextos diferenciados do conteúdo procedimental vai favorecer a sua utilização em qual- quer ocasião. Por conteúdos atitudinais entende-se uma série de conteúdos que permeiam todo o conhecimento escolar, pois agrupa valores, atitudes e normas. Os valores são princípios que permitem as pessoas emitir um juízo sobre o comportamento, como a solida- riedade, o respeito, a responsabilidade etc. As atitudes são ten- dências para se comportar de determinada maneira, como coo- peração em um trabalho de grupo, ajuda aos colegas, respeito ao meio ambiente etc. As normas são padrões de comportamento que são seguidos em determinadas situações que obrigam a fazer ou deixar de fazer algo. Aprende-se uma atitude quando o aluno pensa, sente e atua de forma mais ou menos constante diante do objeto a quem dirige essa atitude. Ensinar e aprender atitudes requer um posicionamento claro (NOVAMENTE) partindo dos objetivos do Projeto Político Pedagógico da escola. 2.1.3 MÉTODOS DE ENSINO Nos Parâmetros Curriculares Nacionais encontramos os pro- cedimentos de ensino como a intervenção do professor na cria- ção de situações de aprendizagem que indicam como determina- do conteúdo poderá ser ensinado. É um momento de escolha das técnicas de ensino mais apropriadas para envolver o aluno na construção do conhecimento. É um momento, também, de refle- xão sobre a forma como o conteúdo deve ser tratado porque é através do desenvolvimento da aula que os objetivos vão sendo alcançados. Se o professor pretende possibilitar ao aluno oportunidade para desenvolver a autonomia, a aula deve ser ministrada envol- vendo-o para que construa seu próprio conhecimento, valorizan- do suas experiências e conhecimentos prévios, com momentos para agir com independência e com iniciativa. Para isto, o profes- sor deve ter um olhar amplo no sentido e contemplar o desenvol- vimento da capacidade ética e afetiva, porque a autonomia em relação à aquisição do conhecimento envolve também o autor-respeito, o respeito mútuo, a sensibilidade, a autoestima. PÁG.13 Então, para aprender conteúdos procedimentais e atitudinais que levem ao desenvolvimento da autonomia, a aula tem que ser planejada para este fim e os procedimentos de ensino seriam, por exemplo: planejamento de uma tarefa escolar, identificação de formas para resolver um problema, formulação de boas pergun- tas e boas respostas, levantamento de hipóteses, resolução de conflitos e outros mais que contemplem o trabalho tanto indivi- dual, quanto coletivo. Para acompanhar o desenvolvimento de capacidades no âm- bito da individualidade, é necessário um olhar atento para identi- ficar aqueles que precisam ser acompanhados mais de perto, quer porque apresentam déficit sensorial, motor ou psíquico, ou porque apresentam superdotação intelectual. As diferenças não devem impedir que o professor exerça bem o seu papel, pelo contrário, é por meio delas que se colabora para o cumprimento de um princípio constitucional que é o direito de todos à educa- ção. Decidir pela forma de trabalhar um conteúdo é um momento de reflexão, de análise sobre a classe que vai receber o ensino, sobre a sala de aula (tamanho do espaço físico, número de alu- nos, faixa etária), sobre o tema da aula, sobre o tempo da aula, enfim, é um momento decisivo para incrementar aquilo que foi previsto nos objetivos. Quando a decisão recai sobre o aspecto de crescimento soci- al, não se pode deixar de trabalhar em grupo para que haja opor- tunidade de falar, de dialogar, de ouvir o outro, de compreender, de explicar. É aqui que aflora o aspecto afetivo, o grau de aceita- ção ou de rejeição, a competitividade, tudo isto interfere na pro- dução do trabalho. Por fim, os procedimentos de ensino vão ajudar, ou não, a construção do conhecimento, qualquer que seja a situação em que a aula for ministrada. O professor planejará com antecedên- cia, levando em consideração que não importa o tema da aula em si, mas a ligação do que se aprende ao que já se sabe e para que serve. Tudo isto voltado para aquele que é o foco principal do processo educacional: o aluno. Os recursos de ensino são os meios que o professor utiliza como suporte para a transmissão de informações, para propor atividades e para a construção do conhecimento. Quando o pro- fessor dá uma aula expositiva, os recursos de ensino são aqueles materiais que contribuem para a explicação, para a demonstra- ção, para a experimentação, para a incorporação da aprendiza- gem de conteúdos conceituais. Os recursos não podem se limitar ao livro didático, mas cadernos de exercícios convencionais ou eletrônicos, textos extraídos de outras fontes, imagens, blocos de anotações, computador. Com estes recursos os alunos terão a oportunidade de estabelecer relações, de ampliar a percepção sobre o conteúdo aprendido. O texto escrito dá essa condição, mas ele não é suficiente pa- ra promover a atividade mental para a compreensão dos concei- tos. O professor deve provocar a consulta fora do livro didático adotado, a pesquisa em outras fontes, e usar imagens em movi- mento, atividades de laboratório, tudo isto associado com diálo- gos e debates para facilitar a compreensão além estimular a par- ticipação de todos os alunos. Para aprendizagem de conteúdos procedimentais, por exigir a exercitação concreta do objeto de estudo, haja vista que há ne- cessidade da repetição de ações ordenadas para que a aprendi- zagem seja assegurada, os recursos devem ser bem adequados para cumprir perfeitamente a sua função. O material impresso e o virtual são úteis na medida em que informam, explicam, demonstram, mas não capacitam à realiza- ção da atividade proposta. Isto quer dizer que não se aprende a pesquisar apenas memorizando todos os passos de uma pesqui- sa, assim como não se aprender a redigir um texto conhecendo as regras gramaticais da língua portuguesa. Ressaltamos que a aprendizagem de conteúdos procedimen- tais é a junção do conhecimento de seu uso com a realização das atividades, que quanto mais analíticas, exigirão também ativida- des mais complexas, contextualizadoras, com situações em que o aluno terá que avaliar a pertinência do uso dos procedimentos e traçar formas próprias de utilização. Por isso, um único recurso de ensino não favorecerá a aprendizagem desse tipo de conteúdo, mas vai ser a sua variedade que possibilitará a construção do conhecimento com a motivação, com o envolvimento e com o fazer próprio necessários ao seu completo domínio. Com relação à aprendizagem de conteúdos atitudinais, por ser um campo com determinadas características, e pela comple- xidade de sua concretização por envolver disposições para adqui- ri-los, os recursos podem ser utilizados na aprendizagem de con- ceitos. Mas não bastam para fazer o aluno se dispor a comportar- se adequadamente, amoldado a certos valores. O que os recursos de ensino podem colaborar é na motivação para a discussão e os debates advindos de uma situação ou um comportamento conflitante. É preciso que haja uma ação vigilan- te por parte do professor em propor atividades nas suas aulas que envolvam os valores que ele ou a escola querem transmitir. Os recursos de ensino são apenas meios auxiliares para a faci- litação da construção do conhecimento. No surgimento da esco- la, encontramos o livro didático como o único recurso para in- formar ao aluno sobre conteúdos de qualquer área do conheci- mento até uns cinquenta anos atrás, quando era exigido dele que apenas os memorizasse. Com o passar do tempo, com a introdu- ção de conteúdos que exigiam interpretações mais adequadas a sua compreensão, colocou os livros didáticos numa situação precária por não favorecer a construção do conhecimento abor- dando o porquê dos fatos, as relações que se estabelecem entre eles, as razões que os explicam e o usufruto dos seus benefícios na vida de cada um. Mesmo com a tentativa de adequação à nova proposta de como ensinar usando menos a aula expositiva, oferecendo fórmu- las prontas e mais aulas com fórmulas que promovam e desenca- deiem processos em que o aluno possa por si só aprender, os livros didáticos procuraram adequar-se a esse novo modelo de prática escolar, e passam a oferecer livros que pretendem dirigir o processo construtivo do aluno combinando textos explicativos com as propostas de atividades. Surgiram, então, os livros descar- táveis, que por serem tão criticados pelos pais, deram origem aos cadernos de exercícios descartáveis, como forma de superar o problema da sua reutilização pelos outros filhos. Enfim, o livro didático é um recurso de ensino que contém os conhecimentos que resumidos ou ampliados serve como material de consulta, porque para a construção do conhecimento ele não é suficiente. Há necessidade de outros recursos, que ofereçam atividades apropriadas para elaboração de conceitos e a utiliza- ção de conteúdos procedimentais de diferentes naturezas, como observação, o trabalho em equipe etc. Outro recurso que, se bem utilizado, é um suporte para as au- las expositivas: é a projeção de imagens através de retroprojetor, data show ou qualquer outro equipamento que possibilite os esclarecimentos que as palavras não conseguem comunicar. Sua PÁG.14 utilização motiva os alunos, mas não os fazem aprender se há muitas informações e não são apresentadas de forma pausada, quer as imagens sejam de esquemas, mapas conceituais, gráficos, tabelas ou de acidentes geográficos, corpo humano, meio ambi- ente etc. Quanto ao uso de filmes e gravações de vídeo, cd, dvd ou ou- tro, que são recursos também auxiliares como fonte de informa- ção, não podem fazer o papel de professor substituto, porque o contato professor-aluno, assim como aluno-aluno, é um forte aliado no processo de ensino e de aprendizagem porquanto, durante a projeção, haverá necessidade de paradasem momen- tos para explicações complementares, para estabelecimento de diálogo e indicação de aspectos relevantes. Modernamente, a informática como recurso de ensino tem atendido aos ritmos e às características individuais dos alunos, além de possibilitar o diálogo entre programa e aluno. É um re- curso que pode substituir ou completar atividades de exercícios sequenciados, melhorá-los e ainda fazer autocorreção. No entan- to, não podemos deixar de lembrar que a aprendizagem exige um contexto de afetividade e isto só se consegue plenamente com contatos pessoais. E, por fim, os avanços tecnológicos permi- tiram a combinação da informática e do vídeo com os armazena- dores de dados, que abrem muitas possibilidades, além de ser um valioso suporte para a complexa tarefa de ensinar. Através da virtualidade, também, se aprende de fato, desde que o professor possa acompanhar o andamento do estudo e da construção do conhecimento de forma mais frequente possível. 2.1.4 AVALIAÇÕES DE ENSINO Encontramos vários conceitos de avaliação na literatura espe- cializada desde o seu aparecimento ocupando o centro do pro- cesso de ensino até os dias atuais quando ela passa a ser o acompanhamento do processo de aprendizagem, deixando de apoiar-se em provas, quer escritas ou orais, para apoiar-se em desafios propostos pelo professor durante a aula. O conceito vigente é o de Luckesi (1986), que diz ser uma apreciação qualita- tiva sobre dados relevantes do processo de ensino e de aprendi- zagem que auxilia o professor a tomar decisões sobre o seu tra- balho. Também é a concepção que se encontra nos Parâmetros Cur- riculares Nacionais: uma avaliação contínua que se apresenta em todas as oportunidades e que espera que cada aluno possa per- ceber que pode progredir independente de progressos conquis- tados pelos colegas. Esta perspectiva da avaliação induz o profes- sor a que, sistematicamente, durante todo o processo esteja cole- tando dados sobre o progresso do aluno e não após a conclusão de etapas mensais ou bimestrais, como o é de costume. Assim, progressivamente, faz-se ajuste (chamado indevidamente de recuperação) do que ainda não foi alcançado, contribuindo para que o ato educativo tenha sucesso através da aprendizagem plena. Vale ressaltar que quando olhamos para o cotidiano escolar, devemos entender a existência de dois tipos de avaliações: IN- TERNAS e EXTERNAS. A Avaliação Interna praticada pelo Professor em sala de aula com o intuito de verificar a aprendizagem dos seus alunos, podendo, por este motivo, ser muitas vezes defini- da como Avaliação da Aprendizagem. Vale salientar que esta concorre também para a definição dos tempos peda- gógicos necessários para organizar os conteúdos a serem trabalhados em cada etapa de ensino, sendo seus resulta- dos utilizados como uma forma de promoção do estudan- te. As avaliações externas permitem o diagnóstico, o monito- ramento do sistema educacional, e também, podem sub- sidiar o trabalho dos profissionais da educação, tornando- se mais uma ferramenta para o acompanhamento e me- lhoria do processo ensino-aprendizagem, uma vez que são aplicadas de modo a mensurar o conhecimento dos alu- nos, estabelecendo uma comparação entre o desempenho esperado e o apresentado, por este motivo, denominada também de Avaliação de Desempenho. É sempre bom estarmos ligados nas avaliações, do tipo exter- nas, que perpassam a educação brasileira. Índice de desenvolvimento da educação básica – IDEB: O Ideb foi criado INEP em 2007, em uma escala de zero a dez. Sintetiza dois conceitos igualmente importantes para a qualidade da edu- cação: aprovação e média de desempenho dos estudantes em língua portuguesa e matemática. O indicador é calculado a partir dos dados sobre aprovação escolar, obtidos no Censo Escolar, e das médias de desempenho nas avaliações do Inep, o Saeb e a Prova Brasil. Sistema de Avaliação da Educação Básica – SAEB: composto por três processos: 1. Avaliação Nacional da Educação Básica – A Aneb é realizada por amostragem das Redes de Ensino, em cada unidade da Federação e tem foco nas gestões dos sistemas educacionais. Por manter as mesmas características, a Aneb recebe o nome do Saeb em suas divulgações. 2. Avaliação Nacional do Rendimento Escolar – A Anresc é mais extensa e detalhada que a Aneb e tem foco em cada unidade escolar. Por seu caráter universal, recebe o nome de Prova Brasil em suas divulgações. 3. Avaliação Nacional de Alfabetização – ANA. Esta avaliação, é aplicada anualmente, com caráter censitário e avalia a quali- dade, equidade e eficiência do ciclo de alfabetização das re- des públicas. Prova Brasil – O público-alvo do sistema de avaliação são os estudantes dos quinto e nono anos do ensino fundamental das escolas públicas, urbanas e rurais, e do terceiro ano do ensino médio. O sistema também coleta informações amostrais de esco- las particulares. A Prova Brasil oferece resultados por escola, mu- nicípio, Unidade da Federação e país que são utilizados no cálculo do Ideb. A avaliação diagnostica os rendimentos para os compo- nentes curriculares de Português e Matemática. Provinha Brasil – Avaliação diagnóstica do nível de alfabetização das crianças matriculadas no segundo ano de escolarização das escolas públicas brasileiras. Essa avaliação acontece em duas etapas, uma no início e a outra ao término do ano letivo. A apli- cação em períodos distintos possibilita aos professores e gestores educacionais a realização de um diagnóstico mais preciso que permite conhecer o que foi agregado na aprendizagem das crian- ças, em termos de habilidades de leitura dentro do período avali- ado. PÁG.15 ENEM – Exame nacional do Ensino médio, a partir de 2017, torna- se exclusivamente propedêutico (apenas para aferir os conteúdos básicos e necessários para promoção a outro nível de escolarida- de) para entrada no SISU. ENADE – Exame Nacional de Desempenho de Estudantes é, ao lado da análise dos cursos e das instituições, um dos meios de avaliação da qualidade da educação superior no Brasil. Criado em 2004, o Enade substituiu o Exame Nacional de Cursos (também conhecido como Provão). Portanto, o sistema avaliativo apropriado para um novo con- ceito de escola e de aprendizagem, requer uma avaliação signifi- cativa e centrada na aprendizagem que respeita a individualidade do aluno. Ela deverá aparecer desde o momento da sondagem, do diagnóstico, quando instrumentalizará o professor com dados iniciais para que possa planejar as aulas de forma adequada. Este é o momento do levantamento dos conhecimentos prévios em termos de conteúdos para estruturar sua programação e deverá acontecer durante todo o ano letivo sempre que for iniciar conte- údo novo. A avaliação inicial é um elemento que direciona a ação didática. Durante o decorrer do processo, mediante o acompanhamen- to do avanço e da qualidade da aprendizagem alcançada no final de cada etapa, seja esta determinada pelo fim de um bimestre ou de um ano, ou mesmo no final de um conteúdo ministrado, colo- ca a avaliação contínua como um mecanismo que irá subsidiar a avaliação final, indicando passo a passo o que o aluno já apren- deu, impedindo que ele prossiga sem que lacunas sejam preen- chidas a tempo. De acordo com os Parâmetros, é salutar usar uma diversidade de instrumentos e situações para avaliar as diferentes capacida- des e conteúdos de aprendizagem curriculares, através de dife- rentes códigos como o oral, o escrito, o gráfico, o numérico, atra- vés de desenhos, em situações distintas: pela observação sistemá- tica cujo acompanhamento é registrado criteriosamente, pela análise das produções (e não reproduções) dos alunos, e pelas atividades específicas para a avaliação, deixando claro para eles o que pretende avaliar, pois só assim ficarão atentospara vencer as dificuldades que porventura surjam no decorrer da aprendizagem daquele conteúdo a ser cobrado. 2.2 A SALA DE AULA COMO ESPAÇO DE APRENDIZAGEM E INTERAÇÃO. O conhecimento resulta de uma motivação dos seres huma- nos para explicar o mundo e a si mesmos, bem como para res- ponder aos desafios que o ambiente lhes propõe. Desde que nascemos temos por característica universal o desejo de conhe- cer, de explicar o que é percebido. Foi esse desejo que impulsio- nou, e continua a impulsionar, as grandes descobertas da huma- nidade, as belas produções artísticas, literárias e os avanços da ciência e da tecnologia. Antes mesmo de ter acesso a conhecimentos considerados oficiais ou formais, cada um de nós cria, pela própria experiência concreta, explicações para os fenômenos naturais, sociais e cultu- rais. Nossas teorias particulares são, inclusive, a porta de acesso a outros novos conhecimentos. Sendo assim, cada aluno é um sujeito repleto de saberes. Sa- beres particulares, diversos, nascidos da interação com o meio físico, familiar, da experiência com o trabalho, do fazer e dos papéis sociais que cada um de nós desempenha em cada fase da vida. Visto dessa forma, entendemos o conhecimento como resul- tado de uma interação entre o sujeito e o meio externo: apren- demos com as pessoas com as quais convivemos, com o que fazemos e com o que acontece ao nosso redor. Trata-se de um constante ir e vir da informação externa com os conhecimentos de que já dispomos. O(a) aluno(a) chega à sala de aula repleto de teorias, explica- ções e hipóteses. Sua família, a comunidade onde vive, seu traba- lho e sua religiosidade permitiram-lhe construir um sem-número de saberes. Cabe ao(à) professor(a) descobrir qual é esse corpo de conhecimentos, feito de pura experiência e percepção, para a partir dele convidar seus alunos a acederem outras formas de pensar, explicar, fazer e agir. Essa visão de conhecimento pressu- põe, então, um aprendiz ativo e pensante, capaz de elaborar conhecimentos. Transformar a sala de aula num espaço de reflexão, de pen- samento, nem sempre é uma tarefa fácil. Numa sociedade tão hierarquizada como a brasileira, nossos alunos e alunas, geral- mente, desenvolvem as ocupações mais subalternas, nas quais o que mais se tem a fazer é obedecer a uma série de chefes, pa- trões, gerentes...Treinados a seguir orientações, não é de estra- nhar que ao chegarem à escola desejem encontrar atividades em que predominem a cópia, a repetição do que disse o(a) profes- sor(a) e outras situações do mesmo tipo. Pensar e tomar decisões é bem diferente e dá muito trabalho, principalmente para quem tem pouco exercício dessa prática. Entretanto, como queremos formar cidadãos críticos e atuantes, não podemos esquecer que, provavelmente, a escola é o único espaço na vida desses alunos onde a prática de pensar de forma organizada tem lugar. Os jovens caracterizam-se como um grupo heterogêneo, do ponto de vista da faixa etária, da cultura, da visão de mundo e dos conhecimentos prévios. A imersão, por vezes precoce, no mundo do trabalho e a experiência social fizeram com que esses alunos acumulassem uma bagagem rica e diversa de conheci- mentos e formas de atuar no mundo em que vivem. A escola representa para eles um espaço ao mesmo tempo de recolocação social, de sociabilidade, de formalização do saber e de desenvol- vimento pessoal. Nesse sentido, os alunos diferem, em muitos aspectos, das crianças, e isto deve ser sempre considerado. Esses alunos precisam ver na escola um espaço que atenda suas neces- sidades como pessoas, cidadãos e aprendizes em potencial. De sua parte, vão para as salas de aula ávidos por aprender. A escola é o lugar especialmente estruturado para potenciali- zar a aprendizagem dos alunos. A escola, poderíamos afirmar, é o cenário no qual alunos e professores, juntos, vão construindo uma história que modifica, amplia, transforma e interfere em diferentes âmbitos: o da pessoa, o da comunidade na qual está inserida e o da sociedade, numa perspectiva mais ampla. No lugar de um espaço fechado, com muros altos e portões trancados, defendemos uma escola com muros transponíveis, de portas abertas tanto à cultura popular quanto à cultura erudita. Os horários e a rigidez da grade curricular são, muitas vezes, obstáculos à permanência do(a) aluno(a) jovem e adulto na esco- la. PÁG.16 Assim, torna-se necessário que a escola proponha uma forma de organização adequada ao seu público. É preciso repensar horários de entrada e saída, os tipos de tarefas extraescolares, as exigências em torno da frequência, as propostas feitas que não conseguem manter os alunos motivados e atuantes, de tal modo que estar na escola a despeito do cansaço, do adiamento de outros compromissos e da ausência na família seja realmente importante e indispensável. Defendemos, nesse sentido, uma escola voltada, de fato, para seus alunos, no conteúdo e na forma em que se propõe a ensinar. 2.3 A DIDÁTICA COMO FUNDAMENTO EPISTEMOLÓGICO DO FAZER DOCENTE. Epistemologia significa ciência, conhecimento, estudo científi- co que trata dos problemas relacionados com a crença e o co- nhecimento, sua natureza e limitações. Como principal, mas não único, objeto de estudo da Didática, o ensino categoriza-se como um dos mais complexos, por conta das infraestruturas e supraes- truturas que o tangenciam. Se você, já é professor, certamente tem uma visão pessoal so- bre o que é ensinar, para que ensinar, como ensinar e o que ensi- nar, não é verdade? Sua prática pedagógica reflete justamente o que você pensa disso. E você, graduado ou graduando que ainda não atua em sala, também tem uma visão pessoal peculiar de quem não se envolve diretamente com a profissão. É uma visão distorcida? Não! É uma visão de quem ainda não teve oportuni- dade de pensar sobre o fazer pedagógico, que tem uma teoria com aportes históricos, filosóficos, sociológicos e psicológicos capazes de subsidiar o futuro professor, dando-lhe respostas para todos os desafios postos no seu caminhar. Dentre as concepções de ensino encontradas pela pedagogia ao longo da atividade de ensinar pelo homem, destacam-se três: na primeira, o ensino é concebido como aquilo que vem de fora para dentro, através da ação dos professores no ato de transmitir o conhecimento; na segunda, o ensino é concebido como aquilo que vem de dentro para fora, o que se manifestaria pela ajuda do professor em aflorar as ideias que os alunos já possuíam a respei- to do conteúdo a ser aprendido; e na terceira, o ensino é conce- bido como uma construção de instrumentos para conhecer e a possibilidade do aluno, reagindo às perturbações do meio ou as suas inquietações internas, assimilar o que foi ensinado. Nos dias atuais, considera-se o ensino como uma prática soci- al específica que se dá de uma forma intencional, sistemática e organizada. Seria, pois, uma ação que se desenvolve na escola a partir da definição de objetivos, da organização dos conteúdos já pré-estabelecidos, da opção por uma forma de ministrar estes conteúdos, auxiliada por materiais adequados e da proposição de uma avaliação, tanto do ensino como da aprendizagem. Esta concepção de ensino leva-nos a ver o professor como aquele que, através da mediação do ato de ensinar, proporciona a seus alunos a oportunidade de olhar ao seu redor e verificar que a possibilidade de compreender a realidade e intervir sobre ela, modificando-a se necessário. Acrescentamos, aqui, que o ensino se caracteriza como uma ação vinculada à aprendizagem e não uma mera transmissão de conhecimentos, mas a criação de possibilidades de sua produção ou de sua construção. O professor aprende no processo de ensi- nar, mas é um aprendizado diferente daquele realizado pelo aluno porque há uma especificidade no seu trabalho.E é para este trabalho que a Didática surge como elemento para subsidiar e contribuir com a prática pedagógica do professor. Ela é a disci- plina que ordena e estrutura teorias e práticas em função do ensino. Hoje, o processo de ensino requer do professor um olhar abrangente na busca de compreender a complexidade do mundo atual, com suas demandas, impulsionando-o a procurar em ou- tras áreas do conhecimento, a saber, das ciências da educação, o suporte para atualizar o diálogo com o fazer pedagógico cotidia- no. É nesta perspectiva que surge a necessidade de pensar criti- camente os conteúdos, métodos e avaliação para ensinar bem, conectado com outras práticas sociais para melhor colaborar na formação dos alunos. Tanto o ato de ensinar quanto o de aprender, exige que o professor seja flexível em termos de espaço, de tempo, de forma de ministrar a aula, de selecionar os conteúdos, de usar mais procedimentos que envolvam a participação ativa dos alunos. Qualquer que seja a compreensão que se tem do que seja o ensino, a Didática dá suporte possível para a organização de processos de ensino eficientes de maneira a favorecer a aprendi- zagem. Ser professor nos dias atuais implica na ampliação da visão do papel que representa no desenvolvimento dos alunos, partindo da compreensão do que seja o objetivo do ensino. Para tanto, requer do profissional uma atualização permanente na área das ciências em educação, da tecnologia, da psicologia, do currículo, dos conteúdos que leciona e uma reflexão sobre a sua prática pedagógica. Está vendo, caro aluno, que ser professor não é fazer seu trabalho de qualquer jeito? Ao se considerar o ensino dentro do processo educacional como uma prática social específica, ele pode ocorrer de maneira informal e espontânea ou pode ocorrer de maneira formal, siste- mática, intencional e organizada. Para tanto, o professor ao exer- cer a atividade de ensino não pode desvinculá-lo da aprendiza- gem, pois ela é a única resposta ao seu trabalho didático peda- gógico. As teorias modernas da aprendizagem dizem que aprender não é conseguir se lembrar dos ensinamentos transmitidos em sala de aula, mas é dispor de esquemas de pensamento que per- mitam resolver problemas quando percebidos num encontro com a realidade, considerando o saber que os alunos já possuem e procurando articulá-lo a novos saberes e práticas. A ação de ensinar, pois, é intencional e a intencionalidade está presente no conhecimento prévio que o professor deve ter dos seus alunos. É bem verdade que o professor terá que dedicar mais tempo para executar atividades antes e depois da aula, a fim de garantir que seja atingido o objetivo a que ele se propôs. O primeiro passo a ser dado pelo professor na sua atividade de ensino, é estabelecer objetivos cujo alcance ultrapasse a carga horária da disciplina, pois a formação do aluno não termina com a última prova do ano e, sim, os objetivos devem favorecer a que ele tenha o desejo de aprender, de procurar sempre respostas para os seus anseios e curiosidades. Estes objetivos devem favorecer o desenvolvimento de capa- cidades mais complexas e mais necessárias nos dias de hoje, como a capacidade de lidar com a informação e de resolver pro- blemas, de usar a criatividade, de planejar, executar e avaliar seus propósitos, de incorporar as novas tecnologias como recurso de aprendizagem de maneira a utilizá-las independente da influência de alguém. PÁG.17 BIBLIOGRAFIA PARA ESSE CAPÍTULO: - COLL, C. Aprendizagem escolar e construção do pensamento. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994. - LEI DE DIRETRIZES BÁSICAS DA EDUCAÇÃO NACIONAL, 1996. - LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 2008. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática edu- cativa. 30ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2004. - MARTINS, P. L. O. A didática e as contradições da prática. São Paulo: Papirus, 1998. - NEVO, D. Avaliação por diálogos: uma contribuição possível para o aprimoramento escolar. In: TIANA, A. (Coord.). - Anais do Seminário Internacional de Avaliação Educacional, 1 a 3 de dezembro de 1997. Tradução de John Stephen - Morris. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), 1998. p. 89-97. - OLIVEIRA, M. R. N. S. (org.). Didática: Ruptura, compromisso e pesquisa. 2ª ed. Campinas/SP: Papirus,1995. - OLIVEIRA, A. P. de M.A Prova Brasil como política de regula- ção da rede pública do Distrito Federal. 276 f. - Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade de Brasília, Brasília, 2011. - VEIGA, I. P. A. Repensando a Didática. São Paulo: Papirus,1988. - ZABALA, A. A prática educativa: Como ensinar. Porto Alegre: ArtMed, 1998. - OLIVEIRA, A. P. de M.A Prova Brasil como política de regula- ção da rede pública do Distrito Federal. 276 f. - Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade de Brasília, Brasília, 2011. 16. Analise as seguintes afirmativas concernentes ao planeja- mento e à organização do ensino. I. O planejamento do ensino centrado em aulas expositivas potencializa a criação de estratégias que favorecem a intera- ção dos alunos com os objetos do conhecimento (os tópicos do currículo). II. Para exercer seu papel de mediador entre o livro didático e os alunos, o professor deve realizar uma avaliação crítica do livro e definir o ritmo e as maneiras de seu uso segundo os conhe- cimentos prévios de seus alunos e suas possibilidades cogniti- vas. III. Um planejamento pedagógico cuidadoso deve começar pela clarificação dos objetivos educacionais passando pela seleção das ideias importantes do conteúdo e das habilidades a serem desenvolvidas. A partir dessa análise, pode-se concluir que estão CORRETAS A) Apenas as afirmativas I e II. B) Apenas as afirmativas I e III. C) Apenas as afirmativas II e III. D) Todas as afirmativas. 17. O trabalho pedagógico resulta: A) Da relação entre os professores. B) Exclusivamente do planejamento feito ao início de cada ano letivo. C) Da interação do professor com seus alunos, em sala de aula convencional e outros espaços. D) Exclusivamente da interação do professor com a gestão da escola, por meio do planejamento e das reuniões pedagógi- cas. E) Exclusivamente da interação do professor com o seu conteú- do programático e possibilidades metodológicas para desen- volvê-lo. 18. Sobre o planejamento escolar, NÃO podemos afirmar que A) É processo de busca de equilíbrio entre meios e fins, entre recursos e objetivos, visando ao melhor funcionamento de empresas, instituições, setores de trabalho, organizações gru- pais e outras atividades humanas. B) As ideias que envolvem o planejamento são amplamente discutidas nos dias atuais, assim a compreensão de conceitos e o uso adequado dos mesmos não são complicadores para o exercício da prática de planejar. C) É sempre processo de reflexão, de tomada de decisão sobre a ação; processo de previsão de necessidades e racionalização de emprego de meios (materiais) e recursos (humanos) dis- poníveis, visando à concretização de objetivos, em prazos de- terminados e etapas definidas, a partir dos resultados das ava- liações. D) Processo contínuo que se preocupa com o ‚para onde ir‛ e ‚quais as maneiras adequadas para chegar lá‛, tendo em vista a situação presente e possibilidades futuras, para que o de- senvolvimento da educação atenda tanto as necessidades da sociedade, quanto as do indivíduo. E) Faz parte da história do ser humano, pois o desejo de trans- formar sonhos em realidade objetiva é uma preocupação marcante de toda pessoa. 19. Sobre a importância do planejamento escolar, Libâneo coloca que o mesmo não é algo neutro, é político, uma vez que envolve opções e ações. Destaca as seguintes fun- ções: I. Explicitar princípios,diretrizes e procedimentos do trabalho docente. II. Assegurar a racionalização, organização e coordenação do trabalho docente evitando a improvisação e a rotina. III. Assegurar a unidade e a coerência do trabalho docente, para que todos trabalhem da mesma forma. IV. Facilitar a preparação das aulas indicando as ações de profes- sores e alunos e possibilitando o replanejamento do trabalho frente a novas situações. Estão corretos apenas os itens: A) I, III e IV. B) II, III e IV. C) I, II e IV. D) I, II e III. 20. Para que o professor possa atingir efetivamente os objeti- vos, é necessário que realize um conjunto de operações didáticas coordenadas entre si, ou seja, o planejamento, a direção do ensino e da aprendizagem e a avaliação (LIBÂ- NEO, 1994). No que diz respeito ao planejamento escolar, o professor deve: A) As alternativas B, C, D, E se encontram corretas; PÁG.18 B) Possuir conhecimento das características sociais, culturais e individuais dos alunos, bem como o nível de preparo escolar em que se encontram; C) Conhecer os vários métodos de ensino e procedimentos didá- ticos, a fim de poder escolhê-los conforme os temas a serem tratados, características dos alunos, etc.; D) Compreender as relações entre a educação escolar e os obje- tivos sociopolíticos e pedagógicos, ligando-os aos objetivos de ensino; E) Prever atividades didáticas em termos da sua organização e coordenação em face aos objetivos propostos, quanto a sua revisão e adequação no decorrer do processo de ensino. 21. O Processo de ensino-aprendizagem compreende, EXCE- TO: A) A organização do ambiente educativo, a motivação dos parti- cipantes. B) A definição do plano de formação. C) Um conjunto de ações e estratégias que o sujeito/educando, considerado apenas o individual de cada um. D) O desenvolvimento das atividades de aprendizagem e a avali- ação do processo e do produto. 22. A concepção de avaliação que um professor tem determi- na a escolha dos instrumentos e procedimentos utilizados no processo avaliativo. Uma avaliação de caráter demo- crático se caracteriza por atividades e estratégias de ensi- no que respeita a participação do estudante, sua cultura e a realidade sociocultural. Uma estratégia de ensino relaci- onada a esse perfil pode ser assim descrita: A) Ênfase na aplicação de testes escritos, de natureza objetiva e extensa, a fim de testar os conhecimentos dos estudantes e classifica-los segundo o desempenho apresentado. B) Realização de exames orais e individuais a fim de medir e comparar o grau de expressividade e de memorização do conteúdo trabalhado em sala de aula. C) Sequência de atividades estruturadas, repetidas, com níveis de dificuldades progressivos e com ênfase na memorização. D) Atividades de auto avaliação pelo aluno, com atribuição de notas a aspectos do seu próprio desempenho. E) Sucessiva aplicação de exercícios individuais sobre o mesmo assunto a fim de garantir a fixação do conteúdo estudado. 23. O professor utiliza estratégias de ensino para que seus alunos as utilizem ativamente e realizem a construção do conhecimento. Em síntese, estratégias de ensino é(são) A) Um reforço da aprendizagem realizada, tendo como referên- cia o socio construtivismo. B) Meios para que o aprendiz escolha sua profissão. C) Caminhos a serem seguidos pelo professor e os meios de que ele dispõe para atingir os objetivos determinados pelo seu plano de trabalho. D) Concepções teóricas de por que e para que se aprende, na perspectiva da escola ativa. E) Formas de impor o conhecimento didático-pedagógico do professor, demonstrando sua competência para ensinar co- nhecimentos prontos e acabados. 24. Para avaliar o processo ensino-aprendizagem, o professor utiliza diversas estratégias. Na sequência abaixo, existe uma alternativa que não se configura como uma estraté- gia de avaliação. Identifique-a. A) Registro de pesquisas. B) Postura quanto ao conteúdo curricular. C) Relatos orais e escritos. D) Provas individuais. E) Autoavaliação do aluno e do professor. 25. A proposta de avaliação escolar, convencionalmente e secularmente concretizada em nossas escolas, tem sido al- vo de muitas críticas, pois: I. Cumpre funções pedagógico-didáticas e de diagnóstico em relação às quais recorre a instrumentos de verificação e acompanhamento do rendimento escolar. II. Alimentou-se de instrumentos avaliativos preocupados ape- nas em atribuir notas e classificar estudantes. III. Objetiva uma função prioritariamente burocrática, em que fixa critérios de desempenho dos estudantes, isentos de fatores externos e internos de aprendizagem. IV. É visualizada apenas como medida e diagnóstico do quantita- tivo de saber do estudante. Está (ao) correta (s): A) III. B) II, III e IV. C) I, II e III. D) II e III. E) III e IV. 26. A didática, como área de estudo da Pedagogia, tem como objeto nuclear: A) O como ensinar, prática isenta de valores e projetos político- sociais. B) Ensinar como ensinar, numa perspectiva meramente técnica. C) Ensinar por meio de regras a como dar aula. D) O ensino em situação, compreendido como uma prática edu- cativa intencional, estruturada e dirigida a outros. E) O ensino em situação, compreendido como uma prática edu- cativa sem objetivos, dirigida a outros. 26. São considerados elementos essenciais no trabalho dos conteúdos escolares com os alunos, tendo a função de mediar às relações didáticas que ocorrem na sala de aula: A) Sistema de Avaliação; B) Recursos Didáticos; C) Processo Ensino-Aprendizagem; D) Aulas de Campo; E) Aulas Teóricas e Práticas. 27. Sobre a Didática e Democratização do Ensino, NÃO po- demos afirmar que A) A participação ativa na vida social é o objetivo da escola pú- blica e o ensino é colocado como ações indispensáveis para ocorrer à instrução. B) A escola pública deve assegurar a transmissão e assimilação dos conhecimentos e habilidades. C) O primeiro compromisso da atividade profissional de ser professor (o trabalho docente) é certamente de preparar os alunos para se tornarem cidadãos ativos e participantes na família, no trabalho e na vida cultural e política. D) As práticas educativas é que verdadeiramente podem deter- minar as ações da escola e seu comprometimento social com a transformação social. PÁG.19 E) O magistério não é um ato político porque se realiza no con- texto das relações sociais delimitadas no âmbito restrito da sala de aula e da escola. 28. A categoria didática “conteúdos” sofreu um desdobra- mento no contexto da teoria construtivista, isto é, além dos conteúdos conceituais e dos factuais, outros tipos passaram a ser considerados conteúdos, para o planeja- mento de ensino: os procedimentais e os atitudinais. Os chamados procedimentais dizem respeito: A) Às habilidades cognitivas, psicomotoras e socioafetiva objeti- vadas no planejamento. B) Aos procedimentos do professor para desempenhar seu tra- balho didático-pedagógico. C) Aos procedimentos administrativos necessários à transmissão dos conteúdos planejados. D) Aos procedimentos necessários para o aluno matricular-se e passar a frequentar a escola. 29. Sobre o objeto da Didática e sua importância na formação do docente, marque o item incorreto: A) A Didática é uma disciplina que estuda o processo de ensino no seu conjunto, no qual os objetivos, conteúdos, métodos e formas organizativas de aula se relacionam entre si de modo a criar condições de garantir aos alunos uma aprendizagem significativa; B) A Didática ajuda o professor na direção e orientação das tare- fas do ensino e aprendizagem, fornecendo-lhe segurança pro- fissional; C) A Didática trata dos objetivos, condições e meios de realiza- ção do processo deensino, ligando meios pedagógicos- didáticos a objetivos sociopolíticos; D) A Didática tem como objeto de estudo somente o ensino, os métodos e os conteúdos são assimilados, desconsiderando o cognitismo dos educandos; E) A Didática tem como objeto de estudo o processo de ensino e aprendizagem, especificamente os nexos e relações entre o ato de ensinar e o ato de aprender. 3. PRINCIPAIS TEORIAS DA APRENDIZAGEM. Nos próximos tópicos (que também compreenderá as bases empíricas, metodológicas e epistemológicas das diversas teorias da aprendizagem) apresentaremos alguns pontos inte- ressantes sobre a questão da aprendizagem e o processo de aprender, procurando introduzir os conceitos e teorias que serão discutidos ao longo do certame. São muitas as questões em torno da aprendizagem e muitas são também as dificuldades encontra- das pelos profissionais dessa área. A cada dia vemos surgir novas hipóteses e novos conceitos que procuram explicar por que aprendemos de determinada maneira ou mesmo de que maneira funciona o cérebro de quem aprende mais e de quem aprende menos. Mas, quais devem ser as preocupações de um professor em relação à aprendizagem de seus alunos? O que um professor deve saber para poder conduzir sua disciplina de maneira a facilitar a compreensão de todos? Para chegar a essas discussões, precisamos primeiro passear pelo universo das teorias. Quais são elas? E de que maneira auxiliam os profissionais da Educação? Mais ainda: o que vem a ser aprendi- zagem? Como ela ocorre? É bom lembrarmos que para cada teórico ou conjunto de teo- rias, a aprendizagem é definida de uma maneira diferente e a explicação sobre como ela ocorre também se diferencia. Portanto, não devemos nos expressar de forma a validar uma e negar a outra, ou seja, não devemos dizer que uma está certa e outra errada. O que ocorre é que todas têm validade, pois lançam um olhar sobre maneiras específicas de aprender. Por exemplo, vocês já aprenderam alguma coisa memorizan- do? Já foram capazes de aprender a partir da experimentação do objeto (experiência)? Notam alguma habilidade maior em alguma matéria ou atividade? Costumam aprender mais facilmente quan- do ensinados a partir de conhecimentos que vocês já possuem? Pois então, todos vocês já foram apresentados a algumas das principais teorias da aprendizagem e todas elas trouxeram contri- buições para a vida de aprendiz de vocês. Além disso, as respostas sobre a aprendizagem geralmente são procuradas na infância. Isto ocorre justamente porque pode- mos considerar que o cérebro ainda está em desenvolvimento e que, é a partir do nascimento que a criança vai sendo apresenta- da ao mundo, fazendo uso de seus sentidos para explorá-lo, internalizando nomes, cores, sensações, sentimentos, percepções, gostos, cheiros, fazendo associações entre as informações que recebe. A arrumação ou disposição dessas informações recebidas pela criança é chamada de aprendizagem, mas o que intriga a todos nós e aos especialistas é justamente de que maneira essa ‚arru- mação‛ vai sendo feita e o que leva a criança a associar uma informação a outra. 3.1 INATISMO, COMPORTAMENTALISMO, BEHAVIORISMO, INTERACIONISMO, COGNITIVISMO. 3.1.1 TEORIAS INATISTAS Voltando às teorias, iniciemos pelo primeiro grande conjunto de teorias que tentou explicar a aprendizagem, as teorias inatis- tas. Para começar: vocês sabem o que significa a palavra inato? De acordo com Ferreira (1986, p. 929), significa *aquilo+ ‚que nasce com o indivíduo; congênito; conato; que pertence à nature- za de um ser‛. Assim, as teorias inatistas são aquelas que acredi- PÁG.20 tam na existência de idéias ou princípios, independente da expe- riência, ou seja, para tal corrente teórica, a aprendizagem inde- pende daquilo que é vivido pelo sujeito, independe de suas expe- riências no mundo, estando a aprendizagem relacionada à capa- cidade congênita do sujeito de desempenhar as tarefas que lhes são propostas. Segundo Moura, Azevedo e Mehlecke (2006), o inatismo opõe-se à experimentação por considerar que o indivíduo ao nascer já traz determinadas as condições do conhecimento e da aprendizagem que se manifestarão ou imediatamente, ou pro- gressivamente durante o processo de seu desenvolvimento bio- lógico. Assim, toda a atividade de conhecimento passa a ser ex- clusiva do sujeito que aprende, sem participação do meio. Podemos classificar como teorias inatistas da aprendizagem, por exemplo, as que falam sobre a aquisição da linguagem, como a proposta por Chomsky. É o que costumamos chamar de apren- dizagem de dentro para fora. Principais Características: Assegura que as capacidades básicas do ser humano são inatas. Enfatiza fatores maturacionais e hereditários como definidores da constituição do ser humano e do processo de conhecimen- to (biologismo). Considera que o desenvolvimento (biológico, maturativo) é pré-requisito para a aprendizagem. A educação em nada contribui para esse desenvolvimento, já que tudo está determinado biologicamente segundo a pro- gramação genética. Confia nas práticas educacionais espontaneistas, pouco desa- fiadoras: primeiro esperar para depois fazer. Assevera que o desempenho das crianças na escola não é responsabilidade do sistema educacional: as capacidades bá- sicas para aprender não se criam, ou seja, se nasce com elas e elas é que permitem aprender. 3.1.2 TEORIAS AMBIENTALISTAS Já as teorias ambientalistas levam em consideração o meio no qual a criança está inserida. O ambiente passa a ser o grande responsável pelo que a criança aprende. Para esse conjunto de teorias, a criança aparece como uma folha em branco, na qual serão inscritos hábitos, comportamentos e demais aprendizagens a partir do meio no qual a criança está inserida. Nesse caso, a aprendizagem efetua-se de fora para dentro. É o caso, por exem- plo, da teoria comportamentalista ou behaviorista da aprendiza- gem, que considera a aprendizagem um processo relativo às respostas que o indivíduo dá aos estímulos gerados pelo meio. Tanto no caso das teorias inatistas quanto no caso das ambi- entalistas, não se fala em interação entre o dentro e o fora, ou seja, entre a criança e suas estruturas internas e o meio no qual ela está inserida. Essa relação passa a ser encontrada no conjunto de teorias conhecido como interacionistas, da qual fazem parte as teorias construtivistas, que têm como principal teórico Jean Pi- aget. Principais características Atribui ao ambiente à constituição das características huma- nas. Privilegia a experiência como fonte de conhecimento e de formação de hábitos de comportamento (empirismo). Diz que as características individuais são determinadas por fatores ex- ternos ao indivíduo e não necessariamente pelas condições biológicas. Suas práticas pedagógicas estão baseadas no assistencialismo, conservadorismo, direcionismo, tecnicismo: o ensino bom, aprendizagem boa. A escola é supervalorizada já que o aluno é um receptáculo vazio, uma ‚tábula rasa‛:deve aprender o que se lhe ensina. Há predominância da palavra do professor, regras e transmis- são verbal do conhecimento, o professor é o centro do pro- cesso de ensino-aprendizagem: o professor um ente ativo... o aluno um ente passivo. 3.1.3 TEORIAS INTERACIONISTAS As teorias interacionistas percebem a aprendizagem como um processo de inter-relação entre o sujeito e o objeto. Segundo este conjunto de teorias, é a partir da ação do sujeito sobre o objeto, ou melhor, da interação do sujeito e do objeto que o aprendiz extrai daquilo que quer conhecer as informações neces- sárias para seu uso, caracterizando um tipo de aprendizagem ativa. É por isso que incluímos nesse conjunto de teoriaso cons- trutivismo, pois além de ver a aprendizagem como um processo de interação entre o sujeito e o objeto, também considera o aprendiz um sujeito ativo, construtor (daí a origem do termo construtivismo) de seu próprio conhecimento. Principais características Parte de que o biológico e o social interagem (unidade dialé- tica), sendo que o biológico (cérebro principalmente) constitui a base da aprendizagem social. Considera o interno (biológico e psicológico) em interação com o externo (meio, ambiente natural e social). Defende o desenvolvimento da complexa estrutura humana como um processo de apropriação pelo homem da experiên- cia histórica e cultural. Assegura que nessa interação o homem transforma seu meio e é transformado nas suas relações culturais. Valoriza o papel da escola, em particular, e da sociedade, em geral, do ponto de vista individual (para o desenvolvimento pessoal) e do ponto de vista social (para o desenvolvimento da própria so- ciedade). Assegura que a aprendizagem se produz pela interação do sujeito que aprende (mediado) e do sujeito que ensina (medi- ador), porém, quem aprende auto constrói seu próprio co- nhecimento. 3.1.4 TEORIAS COMPORTAMENTALISTA A abordagem comportamentalista analisa o processo de aprendizagem, desconsiderando os aspectos internos que ocor- rem na mente do agente social, centrando-se no comportamento observável. Essa abordagem teve como grande precursor o norte- americano John B. Watson, sendo difundida e mais conhecida pelo termo Behaviorismo. A grande efervescência dessa teoria se deu pelo fato de ter caracterizado o comportamento como um objeto de análise que apresentava a consistência que a Psicologia científica exigia na época – caráter observável e mensurável – em PÁG.21 função da predominância cientificista do Positivismo. Esta última sendo uma corrente de pensamento que triunfou soberana no século XIX, e que tinha como princípio fundamental à utilização do método experimental, tanto para as Ciências da Natureza quanto para as Ciências Sociais. Desse modo, o Behaviorismo desenvolveu-se num contexto em que a Psicologia buscava sua identidade como ciência, enfati- zando o comportamento em sua relação com o meio. Com isso, se estabeleceu como unidades básicas para uma análise descritiva nesta ciência os conceitos de ‚Estímulo‛ e ‚Resposta‛. A partir da definição dessa base conceitual o ser humano passou a ser estu- dado como produto das associações estabelecidas durante sua vida entre os estímulos do meio e as respostas que são manifes- tadas pelo comportamento. Apesar de Watson ter sido o grande precursor do Behavioris- mo, B. F. Skinner foi um dos psicólogos behavioristas que teve seus estudos amplamente divulgados, inclusive no Brasil, haven- do um grau de aplicabilidade muito forte na educação. B. F. Skinner nasceu em Susquehanna, Estados Unidos e, em suas pesquisas, ele tinha como ponto fundamental o estudo das relações funcionais entre o estímulo e a resposta na modificação, permanência ou extinção de um comportamento. A base de sua teoria está no conceito de ‚condicionamento operante‛. No entanto, para que este fosse compreendido, Skinner fez uma distinção entre dois tipos de comportamento: o ‚reflexo‛ e o ‚operante‛. O comportamento reflexo é o tipo de resposta não voluntária do organismo a um estímulo do ambiente como, por exemplo, o arrepio da pele ao ser atingida por um ar frio. Nesse caso, ar frio seria um ‚estímulo incondicionado‛ que ocasiona o ‚comporta- mento reflexo‛. Por outro lado, temos determinados estímulos do ambiente que atuam como reforçadores de um tipo de compor- tamento operante e estes são responsáveis pelas nossas ações; sendo assim, agimos e operamos sobre o mundo em função das respostas (conseqüências) que nossas ações criam. A preocupação dos estudos skinnerianos centra-se nesse tipo de condicionamento. Conforme Keller (apud MOREIRA, 1999, p. 33) O comportamento operante ‚inclui todos os movimentos de um organismo dos quais se possa dizer que, em algum momento, têm um efeito sobre ou fazem algo ao mundo em redor. O comportamento opera sobre o mundo, por assim dizer, quer direta, quer indiretamente‛. A partir desse viés, Skinner de- senvolveu o conceito de reforço, relacionando ao comportamen- to. Podemos distinguir dois tipos de reforço – o ‚positivo‛ e o ‚negativo‛ – que têm em comum a manutenção de um determi- nado comportamento. A diferença está no fato do reforço positi- vo fortalecer um comportamento que ocasiona um estímulo agradável e, no caso do reforço negativo, um comportamento é instalado com o intuito de evitar um estímulo desagradável. Contrapondo-se ao reforço positivo e negativo, Skinner tam- bém trabalhou com um condicionamento operante que pudesse extinguir um tipo de 100 comportamento. Essa experiência foi desenvolvida a partir da ‚ausência‛ de um reforço, por ser este o mantenedor de uma determinada resposta. Todavia será nos conceitos de ‚generalização‛ e ‚discriminação‛ que a Teoria do Reforço de Skinner será compreendida como uma Teoria da Aprendizagem. A generalização é a capacidade de darmos respostas seme- lhantes a situações semelhantes. Já a discriminação consiste na capacidade de percebemos diferenças entre estímulos, dando respostas diferentes a cada um deles. No caso da aprendizagem escolar, ambos os conceitos são fundamentais, pois em algumas situações o educando precisa generalizar, ou seja, transferir uma aprendizagem a diversas situações; ou discriminar, dar uma res- posta específica a um determinado estímulo. A Teoria Behavioris- ta de Skinner teve uma grande aplicabilidade na educação, sendo consubstanciada pela ‚tendência tecnicista‛ traduzida pelos mé- todos de ensino programado, o controle e organização das situa- ções de aprendizagem e da tecnologia de ensino. No Brasil, prin- cipalmente na década de 1970, a tendência tecnicista influenciou as abordagens do processo de ensino/aprendizagem, a partir da inserção do conceito de uma aprendizagem por condicionamen- to, sendo ratificada pelos novos modelos de currículo, pelas polí- ticas educacionais que valorizavam a formação técnica do educa- dor e a inserção de recursos didáticos que estimulassem a apren- dizagem nas escolas. 3.1.5 Teorias Cognitivista Contrapondo-se ao behaviorismo que centra a sua atenção no comportamento humano, o cognitivismo propõe analisar a men- te, o ato de conhecer; como o homem desenvolve seu conheci- mento acerca do mundo, analisando os aspectos que intervém no processo ‚estímulo/resposta‛. Seguindo esse modo de compre- ensão Moreira (1982, p. 3) ratifica que ‚a psicologia cognitiva preocupa-se com o processo de compreensão, transformação, armazenamento e utilização das informações, envolvida no plano da cognição.‛ A cognição é o processo por meio do qual o mundo de signi- ficados tem origem. Os significados não são entidades estáticas, mas pontos de partida para a atribuição de outras significações que possibilitam a origem da estrutura cognitiva sendo as primei- ras equivalências utilizadas como uma ponte para a aquisição de novos significados. A abordagem cognitivista, apesar de ter sur- gido quase no mesmo período que o behaviorismo, teve grande efervescência nos anos de 1990, resgatando estudos teóricos da Psicologia Cognitiva como aqueles desenvolvidos por Piaget e Vigotsky. Estes teóricos não desenvolveram propriamente uma teoria da aprendizagem, mas seus estudos serviram de pressuposto para teóricos do campo educacional, que se apropriando desse referencial elaboraram e desenvolveram a teoria da aprendiza- gem denominada de Construtivismo. Com sua transposição para o contexto das práticas escolares, esta teoria, já foi equivocada- mente, concebida por alguns (mas) professores e professoras como método de ensino.Atualmente, outro mito que gira em seu entorno está associ- ado ao pensamento que a converte numa espécie de ‚Deusa Atenas‛ do ensino/aprendizagem ou o ‚papado da teoria peda- gógica‛, isto é, a denominação de que o Construtivismo é a teoria mais adequada ou mais eficiente para o bom desenvolvimento do ensino/aprendizagem dentro das escolas, como bem analisa Silva (1996, p. 213). Esse mito que paira sobre o discurso oficial pode ser confir- mado por intermédio da seguinte afirmação extraída dos Parâme- tros Curriculares Nacionais (PCN) de 5ª a 8ª séries: PÁG.22 ‚Os fracassos escolares decorrentes da aprendizagem, das pesquisas que buscam apontar como o sujeito que conhece, das teorias que provocam reflexão sobre os aspectos que interferem no ensinar e aprender, indicam que é necessário dar novo significado à unidade entre aprendizagem e ensino, uma vez que, em última instân- cia, sem aprendizagem não há ensino. (BRASIL, 1998, p.71)‛. O núcleo central da integração de todas estas contribuições refere-se ao reconhecimento da importância da atividade mental construtiva nos processos de aquisição do conhecimento (grifo nosso). Daí o termo construtivismo, denominando esta conver- gência. (Idem). Procurando fugir desses equívocos teóricos e na tentativa de (des)construir a versão ‚religiosa‛ do construtivismo apresentar-se-á na seqüência dois de seus principais precursores, seus conceitos fundamentais e a influência de tais conceitos na política educacional brasileira nos anos de 1990, principalmente, em relação à reforma curricular promovida na década. 3.2 CONTRIBUIÇÕES DE PIAGET, VYGOTSKY E WALLON PARA A PSICOLOGIA E PEDAGOGIA. 3.2.1. PIAGET As crianças aprendem comportamentos, hábitos e conheci- mentos de diversas maneiras e, tanto a psicologia quanto a pe- dagogia, explicam como esta aprendizagem se dá. São diversas maneiras de aprender, cada uma destacada por teóricos das mais variadas tendências. A criança inicia seu processo de conhecimen- to explorando os objetos que estão ao seu alcance, quando ela atua sobre eles. É o que acontece com um bebê de quatro meses ao segurar com as mãos um objeto: ele aplica o esquema de ação, que no momento se limita a segurar o objeto, puxá-lo, movê-lo, levá-lo à boca. De acordo com suas pesquisas, o suíço Jean Piaget explica que à medida que se tem experiências com os objetos, esses esquemas serão ampliados, diversificando-se e coordenando-se até chegar a condutas complexas diante das coisas que são pró- prias das crianças de um ano e meio: trata-se de uma verdadeira experimentação na qual faz uma análise do objeto, age sobre ele e tira conclusões sobre as suas características. Essa exploração e experimentação constantes que a criança faz sobre os objetos, no decorrer dos dois primeiros anos de vida, proporcionam-lhe um conhecimento de mundo que a envolve: as características dos objetos (os que tem gosto, os que fazem ruído, os que se movem etc), as relações que podem ser estabelecidas entre os objetos e as situações (se puxar a porta ela se abre, se pedir água a mãe aparece etc). Por meio desses processos, Piaget chama de assimilação a aplicação do mesmo esquema a diferentes objetos e situações e acomodação a pequenas mudanças que a criança introduz nos esquemas para adaptar-se a situações diferentes. Durante toda a infância a atividade sobre os objetos será muito importante, até que ao conseguir se comunicar pela linguagem, haverá uma vari- ação no tipo de atividade que a criança fará para conhecer o mundo: ela passará a fazer operações mentais não visíveis, utili- zando a linguagem como instrumento de pensamento. A acomodação, no sentido formulado por Jean Piaget, pode ser entendida como um dos mecanismos da adaptação que es- trutura e impulsiona o desenvolvimento cognitivo. É o processo pelo qual os esquemas mentais existentes modificam-se em fun- ção das experiências e relações com o meio. É o movimento que o organismo realiza para se submeter às exigências exteriores, adequando-se ao meio. O outro mecanismo da adaptação é a assimilação, que consiste no processo mental pelo qual os dados das experiências se incorporam aos esquemas de ação e aos esquemas operatórios existentes, num movimento de integração do meio no organismo. O processo de regulação entre a assimila- ção e a acomodação é a equilibração. Em algumas atividades mentais predomina a assimilação (jogo simbólico) e em outras predomina a acomodação (reprodução). Para Piaget, o desenvolvimento cognitivo do indivíduo está sempre passando por equilíbrios e desequilíbrios. Isso se dá com a mínima interferência, seja ela orgânica ou ambiental. Para que passe do desequilíbrio para o equilíbrio são acionados dois me- canismos: o de assimilação e o de acomodação. Por exemplo, a inteligência seria uma assimilação, pois incorpora dados da expe- riência no indivíduo. Assim, uma vez que ele assimilou intelectu- almente uma nova experiência, vai formar um novo esquema ou modificar o esquema antes vigente. Então, na medida em que ele compreende aquele novo conhecimento, ele se apropria dele e se acomoda, aquilo passa a ser normal. Então, volta novamente ao equilíbrio. Esse período que a pessoa assimila e se acomoda ao novo é chamado de adaptação. Pode-se dizer, que dessa forma, se dá o processo de evolução do desenvolvimento humano. 3.2.2. VYGOTSKY Outro aspecto a ser levado em consideração é que muitas ve- zes a aprendizagem se dá por imitação daquilo que as crianças veem no seu ambiente. O psicólogo russo Lev Semenovich Vygotsky trata desta questão dando uma nova dimensão ao pa- pel da imitação na aprendizagem, pois não via o lado puramente mecânico da repetição, mas como uma oportunidade de recons- trução daquilo que a criança observa ao seu redor. Assim, pela imitação ela é capaz de realizar ações que ultrapassam o limite de suas capacidades. Na educação formal, há a compreensão de que, por intermé- dio da imitação, a criança aprende, e o professor e demais profis- sionais que atuam em creches e pré-escolas, necessitam promo- ver situações que permitam o desencadeamento do processo de aprendizagem, sem correr o risco de propor atividades descon- textualizadas, visando exclusivamente a repetição, sem sentido, de um modelo observado. Para Vygotsky, a criança não se limita a responder aos estímulos, mas atua sobre eles, transformando-os. Por isso, ele enfatiza a importância da mediação de instrumentos que se interpõem entre o estímulo e a resposta. Para Vygotsky, os instrumentos mediadores, inclusive os si- nais, são proporcionados pelo meio social, através da cultura. O professor que decide atuar nessa ótica, tem que bem compreen- der como deve intervir pedagogicamente para não ocorrer que ele vá tomar posturas diretivas, tradicionais. Ele ainda enfatiza o papel da intervenção no desenvolvimento, cujo objetivo é trabalhar com a importância do meio cultural, e das relações entre indivíduos na definição de um percurso de desenvolvimento da pessoa humana, e não propor uma pedago- gia autoritária, haja vista que o educando, para o teórico, é uma PÁG.23 receptor ativo que está sempre reconstruindo, reelaborando a partir dos significados que lhe são transmitidos pelo grupo social. As obras de Vygotsky incluem alguns conceitos que se torna- ram incontornáveis na área do desenvolvimento da aprendiza- gem. Um dos conceitos mais importantes é o de Zona de Desen- volvimento Proximal (ZDP), que se relaciona com a diferença entre o que a criança consegue realizar sozinha e aquilo que, embora não consiga realizar sozinha, é capaz de aprender e fazer com a ajuda de uma pessoa mais experiente (um adulto, uma criança mais velha ou com um colega que possui maior facilidade de aprendizado etc.). A Zona de Desenvolvimento Proximal é, portanto,tudo o que a criança pode adquirir em termos intelec- tuais quando lhe é dado o suporte educacional devido. Este con- ceito foi posteriormente desenvolvido por Jerome Bruner, sendo hoje vulgarmente designado por etapa de desenvolvimento. A imitação é, em geral, uma das vias fundamentais no desen- volvimento cognitivo e cultural da criança. O próprio processo de imitação pressupõe uma determinada compreensão do significa- do da ação do outro. Neste sentido, o processo imitativo também se coloca como campo possibilitador de criação de ZDP, porque a criança poderá, por imitação, realizar ações que vão além de sua capacidade atual. Para Vygotsky, enquanto imita, a criança apreende a atividade do outro e realiza aprendizagem. Ela não faz uma mera cópia da ação do outro, como um ato mecânico, mas se envolve na ativi- dade intelectualmente, o que implica representá-la e avaliar a adequação de sua imitação. 3.2.3. WALLON Médico, psicólogo, pedagogo e ativista político, Henri Wallon construiu uma psicologia genética e uma proposta pedagógica que, pelas suas características, podem ser consideradas construti- vistas. A obra de Wallon, contemporânea da de Piaget, aproxima-se em alguns aspectos do trabalho do suíço e em outros aspectos se distancia dele de modo significativo. Ambos ofereceram grande contribuição ao estudo do desenvolvimento humano, mas, para Piaget, cujo interesse é epistemológico, o objeto de estudo é o conhecimento e ele só abordou o desenvolvimento da criança como recurso para atingir seu objeto de estudo, enquanto para Wallon, cujo interesse é psicológico, o objeto de estudo é mesmo o desenvolvimento da criança e o aspecto mais valorizado se sua obra continua sendo seu modelo psicogenético. A orientação walloniana, põe em evidência a importância do conhecimento das necessidades primordiais e das mudanças de objeto de seus comportamentos em idades e situações diferen- tes. No decorrer do desenvolvimento nota-se em cada idade a predominância de certos comportamentos e modalidades de adaptação que constituem a melhor forma de utilização dos mei- os comportamentais naquele momento. A descoberta da ativida- de predominante permite reconstituir quais as necessidades pri- mordiais num dado momento, quais os objetivos mais importan- tes e as prioridades adaptativas da criança naquela idade. Wallon elaborou sua própria concepção de meio. Ele admitiu que a relação homem-meio deve ser colocada, de um lado, sob a influência das relações materiais entre natureza e sociedade hu- mana e de outro, no contexto histórico das aquisições feitas e das mudanças que elas determinam. O meio tem para este teórico um sentido diferente do que tem para Piaget, pois seu conceito de meio inclui o meio físico, o meio social e mais as condições materiais e o contexto histórico-social. Em cada uma das diferen- tes etapas do desenvolvimento, o indivíduo dispõe de um modo particular de se relacionar com este meio e construir o seu co- nhecimento. A obra de Henri Wallon é perpassada pela ideia de que o pro- cesso de aprendizagem é dialético: não é adequado postular verdades absolutas mas, sim, revitalizar direções e possibilidades. Wallon reconhece que o fator orgânico é a primeira condição para o desenvolvimento do pensamento; ressalta, porém, a im- portância das influências do meio. O homem, para Wallon, seria o resultado de influências sociais e fisiológicas, de modo que o estudo do psiquismo não pode desconsiderar nem um nem outro aspecto do desenvolvimento humano. Por outro lado, para Wal- lon as potencialidades psicológicas dependem especialmente do contexto sócio-cultural. O desenvolvimento do sistema nervoso, então, não seria sufi- ciente para o pleno desenvolvimento das habilidades cognitivas. Uma das consequências desta postura é a crítica às concepções reducionistas: Wallon propõe o estudo da pessoa completa, tanto em relação a seu caráter cognitivo quanto ao caráter afetivo e motor. Para Wallon, a cognição é importante, mas não mais im- portante que a afetividade ou a motricidade. 3.3. GARDNER E A TEORIA DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS Você já leu alguma coisa referente à Teoria das Inteligências Múltiplas? Se não, você vai conhecer uma das mais instigantes teorias sobre o ensinar e o aprender numa perspectiva de atender às tendências e aptidões humanas. O pesquisador norte-americano Howard Gardner, autor da Teoria das Inteligências Múltiplas, desenvolveu seus estudos a partir da constatação de que existe um número desconhecido de capacidades humanas diferenciadas, em contraste com a teoria de Piaget, que via todo pensamento humano como lutando pelo ideal do pensamento científico e com a concepção de inteligência vigente, a qual se restringia à capacidade de dar respostas breves, rapidamente, a problemas envolvendo o uso das habilidades lógico-matemáticas e linguísticas. Sua concepção de inteligência se ampliou, na medida em que tinha uma visão pluralista da men- te e definiu inteligência como a capacidade de resolver proble- mas ou elaborar produtos que são importantes num determinado ambiente ou comunidade cultural. Além disto, Gardner se dedi- cou também a explorar as implicações educacionais da sua teoria com um trabalho voltado, não somente para o desenvolvimento de currículo e da formação dos professores, mas, também, para a criação de novas fórmulas de avaliação. Sua pesquisa colheu dados de várias fontes: a primeira, refe- rente ao desenvolvimento de diferentes tipos de capacidades nas crianças normais; a segunda, referente à informação sobre o modo pelo qual estas capacidades falham sob condição de dano cerebral; e a terceira, referente à observação de crianças prodí- gios, idiotas sábios (aqueles que são deficientes mentais com um talento altamente especializado em determinada área: música, memória, espaço etc.), crianças autistas e crianças com dificulda- de de aprendizagem. A Teoria das Inteligências Múltiplas está concentrada nas ori- gens biológicas de cada capacidade de resolver problemas restri- tos apenas à espécie humana, sem deixar de vincular o aspecto biológico ao estímulo cultural nessa área. Exemplo, a capacidade de comunicação é universal e pode manifestar-se particularmente como escrita em uma cultura e como oral em outra. PÁG.24 Assim, Gardner estabeleceu vários critérios para que manifes- tações sejam consideradas como inteligência desde que as mes- mas fossem levadas em consideração por todos os grupos sociais e, além do mais, que áreas do cérebro fossem localizadas como responsáveis por elas. 3.3.1 INTELIGÊNCIA LINGUÍSTICA A inteligência linguística manifesta-se na habilidade para lidar criativamente com as palavras, nos diferentes níveis da lingua- gem, tanto na forma oral como na escrita. Gardner divide a lin- guagem em quatro capacidades ou operações: 1ª: as propriedades do som e tonalidade da linguagem; 2ª: a gramática ou sintaxe; 3ª: os significados da palavra os aspectos lógicos e os usos pragmáticos da linguagem; 4ª: as formas orais e escritas da linguagem. Como exemplo: os escritores, oradores, jornalistas, advoga- dos, poetas, publicitários, vendedores etc. Em crianças pequenas, isto se manifesta naquelas que gostam de brincar com palavras, fazer rimas, inventar histórias. A parte do cérebro responsável pela produção de sentenças gramaticais, é a chamada ‚Centro de Broca‛ no hemisfério es- querdo que, ao sofrer algum dano, pode compreender palavras e frases bastante bem, mas ter dificuldade em juntar palavras em algo além das frases mais simples. 3.3.2 INTELIGÊNCIA LÓGICO-MATEMATICA A inteligência lógico-matemática é a inteligência que se mani- festa na habilidade para o raciocínio dedutivo, para a compreen- são de cadeias de raciocínios, para solucionar problemas envol- vendo números. É a competênciaempregada pelos dois grupos estava centrada mais nos métodos PÁG.2 do que no sentido da educação. A análise da saciedade de classes com poucas exceções estava ausente da reflexão dos dois grupos. Só o pensamento pedagógico progressista, a partir das reflexões de Paschoal Lemme, Álvaro Vieira Pinto e Paulo Freire, é que coloca a questão da transformação radical da saciedade e o papel da educação nessa transformação. Em 1948, a ministro Clemente Mariani enviou ao Congresso um projeto de lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que só seria sancionado depois de muitas disputas e alterações, em 1961, constituindo-se na primeira lei geral da educação brasileira em vigor até a Constituição em 1988. Depois da ditadura de Getúlio Vargas (19371945), abre-se um período de redemocratização no país que é brutalmente inter- rompido com o golpe militar de 1964. Nesse curto espaço de tempo, em que as liberdades democráticas foram respeitadas, o movimento educacional teve novo impulso, distinguindo-se por dois grandes movimentos: o movimento por uma educação po- pular e o movimento em defesa da educação pública, o primeiro predominante no setor da educação informal e na educação de jovens e adultos, e a segunda mais concentrada na educação escolar formal. O primeiro teve seu ponto alto em 1958, com o segundo Congresso Nacional de Educação de Adultos, e no início de 1964, com a Campanha Nacional de Educação de Adultos, dirigido por Paulo Freire, defendendo uma concepção libertadora da educa- ção. O segundo teve um momento importante com os debates em torno da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), principalmente em 1960 com a realização, em São Paulo, da primeira Convenção Estadual de Defesa da Escola Pública e da Convenção Operária em Defesa da Escola Pública. Mas encarar esses dois movimentos como antagônicos seria um equívoco já que em ambos existem posições conservadoras e progressistas. O ideal seria unir os defensores da educação popu- lar que se encontram nos dois movimentos: aqueles que defen- dem uma escola com uma nova função social, formando a solida- riedade de classe e lutando por um Sistema Nacional Unificado de Educação Pública. Essa unidade passou a ser mais concreta a partir de 1988, com o movimento da educação pública popular, sustentado pelos partidos políticos mais engajados na luta pela educação do povo. Esse novo movimento acredita que só o Estado pode dar conta do nosso atraso educacional, mas sem dispensar o engajamento da sociedade organizada. Preconiza uma reorganização político administrativa embasada num projeto ético político progressista, a partir da participação ativa e deliberativa da sociedade civil. As ideias de Anísio Teixeira (19001971) influenciaram todos os setores da educação no Brasil e mesmo o sistema educacional da América Latina. Entre suas contribuições, pode-se citar o Centro Educacional Carneiro Ribeiro, em Salvador (BA), primeira experi- ência no Brasil de promover a educação cultural e profissional de jovens. Anísio Teixeira nasceu em Caieté (BA). Foi inspetor geral de ensino e diretor geral da Instrução Pública da Secretaria do Inte- rior, Justiça e Instrução Pública da Bahia. Esteve nos EUA pesqui- sando a organização escolar desse país e formou-se em educação na Universidade de Colúmbia, tornando-se discípulo e amigo do filósofo e educador norte americano John Dewey. Em 1935, tor- nou-se secretário da Educação e Cultura do Distrito Federal, lan- çando um sistema de educação global do primário à universida- de. Foi ainda membro do Conselho Federal de Educação, reitor da Universidade de Brasília, e recebeu o título de professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Morreu no Rio de Janeiro. Suas principais obras foram: Educação pública: organização e administração (1935), Educação não é privilégio (1956), A educa- ção é um direito (1967) e pequena introdução à filosofia da edu- cação (1978). Nos dias de hoje, quando a ciência vai refazendo o mundo e a onda de transformação alcança as peças mais delicadas da exis- tência humana, só quem vive à margem da vida, sem interesses e sem paixões, sem amores e sem ódios, pode julgar que dispensa uma filosofia. A filosofia de um grupo que luta corajosamente para viver não é a mesma de outro cujas facilidades transcorrem em uma tranquila e rica abundância, pois conforme o tipo de experiência de cada um, será a filosofia de cada um. A vida vai, porém, assumindo aspectos mais gerais, dia a dia, e os predica- mentos da filosofia irão também, assim, dia a dia, se aproximan- do. À medida que se alargam os problemas comuns, mais viva- mente sentidos, será a falta de uma filosofia que nos dê um pro- grama de ação e de conduta, isto é, uma interpretação harmoni- osa da vida e das suas perplexidades. Está aí a grande intimidade entre a filosofia e a educação. Se educação é o processo pelo qual se formam as disposições es- senciais do homem, emocionais e intelectuais, para com a nature- za e para com os demais homens, filosofia pode ser definida como a teoria geral da educação, conforme o pensamento de Dewey. Filosofia se traduz, assim, em educação, e educação só é digna desse nome quando está percorrida de uma larga visão filosófica. Filosofia da educação não é, pois, senão o estudo dos problemas que se referem à formação dos melhores hábitos mentais e morais em relação às dificuldades da vida social con- temporânea. Considerada, assim, a filosofia como a investigadora dos valo- res mentais e morais mais compreensivos, mais harmoniosos e mais ricos que possam existir na vida social contemporânea, está claro que a filosofia dependerá, como a educação, do tipo de sociedade que se tiver em vista. Admitindo que nos achamos em uma sociedade democrática servida pelos conhecimentos da ciência moderna e agitada, em princípio, pela revolução industrial iniciada no século XVIII, a filosofia deve procurar definir os pro- blemas mais palpitantes dessa nova ordem de coisas e armá-los para as soluções mais prováveis. Nenhuma das soluções pode ser definitiva ou dogmática. A fi- losofia de uma sociedade em permanente transformação, que aceita essa transformação e deseja torna-la um instrumento do próprio progresso, é uma filosofia de hipóteses e soluções provi- sórias. O método filosófico será, assim, experimental, no sentido de que as soluções propostas serão hipóteses sujeitas à confirmação das consequências. Os ideais e aspirações contidos no sistema social democrático envolvem a igualdade rigorosa de oportunidades entre todos os indivíduos, o virtual desaparecimento das desigualdades econô- micas, e uma sociedade em que a felicidade dos homens seja amparada e facilitada pelas formas mais lúcidas e mais ordena- das. Essas aspirações e esses ideais serão, porém, uma farsa, se não os fizermos dominar profundamente o sistema público de educação. A escola tem que dar ouvidos a todos, e a todos servir. Será o teste de sua flexibilidade, da inteligência de sua organiza- ção e da inteligência dos seus servidores. PÁG.3 Esses têm de honrar as responsabilidades que as circunstân- cias lhes confiam, e só o poderão fazer transformando-se a si mesmos e transformando a escola. O professor de hoje tem que usar a legenda do filósofo: nada que é humano me é estranho. Tem de ser um estudioso dos mais embaraçosos problemas modernos, tem que ser estudioso da civilização, tem que ser estudioso da sociedade e tem que ser estudioso do homem, tem que ser, enfim, filósofo. A simples indicação desses problemas demonstra que o edu- cador não pode ser equiparado a nenhum técnico, no sentido usual e restrito da palavra. Ao lado da informação e da técnica, deve possuir uma clara filosofia da vida humana e uma visão delicada e aguda da natureza do homem. Um dos poucos pensadores anarquistas atuaismais diretamente associada ao pensamento científico. Certas áreas do cérebro são mais importantes do que outras no cálculo matemático. Há idiotas sábios que realizam grandes façanhas de cálculos, mesmo que continuem sendo tragicamente deficientes na maioria das outras áreas. 3.3.3 INTELIGÊNCIA MUSICAL A inteligência musical é a inteligência que se manifesta na or- ganização dos sons criativamente, discriminando desde cedo os tons, timbres e temas, independente de ter que adquirir conhe- cimento formal sobre música. As crianças-prodígio atestam que existe um vínculo biológico a uma determinada inteligência. A área do cérebro responsável pela percepção e produção da músi- ca está localizada no hemisfério direito. 3.3.4 INTELIGÊNCIA ESPACIAL A Inteligência espacial é a inteligência que se manifesta na capacidade de formar um modelo mental preciso de uma situa- ção espacial e utilizá-lo na orientação entre objetos ou transfor- mar as características de um determinado espaço. Como exemplo: os arquitetos, navegadores, pilotos, cirurgi- ões, engenheiros, escultores. A parte do cérebro responsável pelo processamento espacial é o hemisfério direito, pois ao ocorrer um dano nas regiões posteriores da direita, provoca prejuízo na ca- pacidade de encontrar o próprio caminho em torno de um lugar, de reconhecer rostos, ou cenas, ou observar pequenos detalhes. 3.3.5 INTELIGÊNCIA CORPORAL CINESTÉSICA A inteligência corporal cinestésica é a inteligência que se ma- nifesta na capacidade para utilizar todo o corpo de diversas ma- neiras. Cinestesia quer dizer sentido pelo qual percebem os mo- vimentos musculares, o peso e a posição dos membros. Como exemplo: atletas, dançarinos, malabaristas, atores, cirurgiões. 3.3.6 INTELIGÊNCIA INTERPESSOAL Inteligência interpessoal é a inteligência que se manifesta na capacidade de uma pessoa dar-se bem com as outras, compre- endendo-as, percebendo suas motivações ou inibições. Como exemplo: professores, terapeutas, líderes políticos, atores, apre- sentadores de TV. Nas crianças pequenas, isto se manifesta quando elas negoci- am com os colegas, assumem liderança, se preocupam com os outros. A parte do cérebro responsável corresponde aos lobos frontais, pois um dano nessa área pode provocar profundas mu- danças de personalidade, ao mesmo tempo em que não altera outras formas de resolução de problemas. 3.3.7 INTELIGÊNCIA INTRAPESSOAL A inteligência intrapessoal é a inteligência que se manifesta na capacidade de fazer analogias. Significa conhecer-se e estar bem consigo mesmo, administrando seus sentimentos e emoções a favor de seus projetos. O maior exemplo são os terapeutas, pois são capazes de refletir sobre suas emoções e depois transmiti-las para os outros. A parte do cérebro responsável também são os lobos frontais. Um dano na parte inferior provocará irritabilidade ou euforia, ao passo que um dano nas regiões mais altas produzi- rá indiferença, desatenção, lentidão e apatia. PÁG.25 A criança autista exemplifica bem uma pessoa com a inteli- gência intrapessoal prejudicada, pois ela nunca se referirá a si própria, no entanto ela apresenta notáveis capacidades musicais, computacionais, espaciais ou mecânicas. 3.3.8 INTELIGÊNCIA NATURALISTA A inteligência naturalista é a inteligência que se manifesta na capacidade de compreender e organizar os fenômenos e padrões da natureza. Como exemplo: arquitetos, paisagistas, designs. 3.3.9 INTELIGÊNCIA PICTÓRICA A inteligência pictórica é a inteligência que se manifesta na capacidade de reproduzir, pelo desenho, objetos e situações, quer reais, quer imaginárias. Também aqui se inclui os que sabem organizar elementos visuais de forma harmônica, estética. Como exemplo: pintores, artistas plásticos, desenhistas, ilustradores e chargistas. 3.3.10 INTELIGÊNCIA EXISTENCIAL A inteligência existencial é a inteligência que se manifesta na capacidade de refletir sobre questões fundamentais da existência, aguçada em vários segmentos diferentes da sociedade. Os profis- sionais da área de educação ao decidirem optar pela concepção das inteligências múltiplas têm que pensar numa escola que te- nha como objetivo desenvolver as inteligências e auxiliar os alu- nos a atingirem seus objetivos de ocupação e diversão adequadas ao seu potencial de inteligência, haja vista que a visão pluralista da mente reconhece muitas facetas da cognição. Reconhece, também, que as pessoas têm forças cognitivas di- ferenciadas e estilos de aprendizagem contrastantes, reconhece que as crianças de diferentes idades têm necessidades diferentes, percebem as informações culturais de modo diverso e assimilam noções e conceitos a partir de diferentes estruturas motivacionais e cognitivas. O trabalho docente, pois, alicerçado nos princípios da Teoria das Inteligências Múltiplas deverá se basear em que: a) nem todas as pessoas têm os mesmos interesses e as mesmas habilidades, nem aprendem da mesma maneira; assim, o alu- no poderá demonstrar de diversas maneiras o seu crescimen- to, sua aprendizagem, não apenas em língua e matemática, mas no seu modo de movimentar seu corpo seguindo uma música ou mesmo uma batida repetida de mãos, pelo modo de desenhar ou produzir uma escultura ou pela maneira de relacionar-se com os colegas; b) toda criança tem potencial para desenvolver-se intensamente em uma ou várias áreas e isto pode ser observado facilitando uma interferência na escola, no desenvolvimento e o exercício das competências, possibilitando a verificação dos resultados da reflexão da prática pedagógica e, consequentemente, re- flexão sobre ela; c) há necessidade de uma nova visão de avaliação escolar, pois essa teoria abre a possibilidade do professor analisar as com- petências que o aluno tem mais desenvolvidas e refletir sobre elas para melhorar outras nas quais o aluno tenha menos de- senvolvimento, levando o professor a conhecê-lo mais ampla e profundamente, a fim de que possa selecionar variados pro- cedimentos de trabalho diferenciados para atender às especi- ficidades da classe; d) a escola deve oferecer uma educação que combine os perfis, objetivos e interesses dos alunos a determinados currículos e determinados estilos de aprendizagem. A Teoria das Inteligências Múltiplas se configura como um avanço importante ao conseguir ultrapassar a ideia de uma inteli- gência única, fechada. Por isso, é importante o professor se apro- fundar nos fundamentos basilares desta teoria para perceber no aluno a capacidade que mais lhe sobressai. Os resultados seriam melhores, pois a independência entre as inteligências não existe e, portanto, ao desenvolver uma estará, em consequência, afe- tando as outras. Reforçamos lembrando que as pessoas desenvolvem suas ca- pacidades inatas de acordo com a educação e as oportunidades que encontram. Para Gardner, todos nascem com um vasto po- tencial de aptidões ainda não moldado pela cultura, o que só começa a ocorrer por volta dos cinco anos de idade. A educação se equivoca quando não leva em consideração os vários poten- ciais de cada um. Além do mais, é comum as escolas não levarem em conta as individualidades, pelo hábito de nivelar como se todos pudessem ter o mesmo nível de desenvolvimento e, por- tanto, passassem pelo mesmo processo de aprendizagem. 3.4 TEMAS CONTEMPORÂNEOS: 3.4.1 BULLYING Seja direto ou indireto, o bullying se caracteriza por três crité- rios: 1. comportamento agressivo e intencionalmente nocivo; 2. comportamento repetitivo (perseguição repetida); 3. comportamento que se estabelece em uma relação interpes- soal assimétrica, caracterizada por uma dominação. Além de adotar esses três critérios, alguns pesquisadores en- fatizam o fato de a vítima se sentir impotente, incapaz de se de- fender(Cerezo, 1997) e de perceber a si mesma como vítima (Field, 1999). Outros acrescentam que a agressão ocorre sem que tenha havido uma provocação (Pereira, 2008) ou sem motivação evidente, como se verifica na publicação da Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência (Abra- pia, 2000: 5), que caracteriza o bullying como: todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra outro(s), causando dor e angústia, e executadas dentro de uma relação desigual de poder. Portanto, os atos repetidos entre iguais (estudantes) e o desequilíbrio de poder são as característi- cas essenciais, que tornam possível a intimidação da vítima. Em síntese, considerando o que é consensual nas várias defi- nições, podemos reconhecer o bullying escolar nas situações em que um aluno, ou um grupo de alunos, causa intencionalmente e repetidamente danos a outro(s) com menor poder físico ou psico- lógico. Esta assimetria de poder se faz presente mesmo quando só existe na percepção da vítima, que se sente incapaz de reagir à agressão. PÁG.26 As pesquisas feitas em escolas de vários países (Portugal, Es- panha, Noruega, Inglaterra, Estados Unidos, Canadá, Japão e vários outros) mostram que as ações que os alunos usam no bullying escolar são bastante semelhantes, e que envolvem tanto o bullying direto (físico ou verbal) quanto o indireto. Uma modalidade mais recente do fenômeno vem se desen- volvendo rapidamente, acompanhando o progresso tecnológico: o cyberbullying, que se utiliza basicamente de telefones celulares, especialmente os dotados de inúmeras funções, e de computado- res ligados à Internet. Meninas são filmadas ou fotografadas em cenas sexuais, me- ninos são provocados para brigar e são fotografados no momen- to em que estão apanhando, cenas são forjadas com os recursos da informática, tudo com o objetivo de divulgá-las na Internet, de forma a expor os colegas a situações humilhantes e vexatórias. A literatura apresenta poucos estudos sobre o cyberbullying. A pesquisa de Campbell (2007) com meninas mostra uma porcen- tagem expressiva de vítimas entre 11 e 15 anos, com maior inci- dência nos 13 anos. Outra informação interessante desse estudo foi que metade das estudantes também era vítima das outras modalidades de bullying, que não o cyber. De acordo com Campbell (2007), o cyberbullying se torna mais grave por não ter limites geográficos, além de envolver o poder da palavra escrita. Nesse sentido, pode adentrar as casas, ampliando o seu raio de ação. Considera-se, ainda, o agravante de sua permanência, já que é praticamente impossível sua total eliminação. Há um consenso sobre as consequências adversas do bullying para as vítimas, para os agressores, como também para as teste- munhas, embora a preocupação maior seja com os danos obser- vados nas vítimas. Os problemas vão desde a queda do rendi- mento escolar até ao desenvolvimento de depressão e suicídio. Muitas são as dificuldades imediatas; outras, em médio e lon- go prazos. Além de poder comprometer o rendimento escolar, as vítimas tendem a se isolar, a apresentar baixa autoestima e a se recusar a ir à escola, alegando dores de cabeça, estômago ou abdominais. Em longo prazo, ressaltam-se dificuldades de relaci- onamento e sintomas de depressão que podem seguir a pessoa pela vida. Para os agressores, também se coloca a questão do baixo rendimento escolar, em função de seu distanciamento dos objeti- vos da escola, e a supervalorização da violência como forma de obter poder (Fante, 2005). Ainda com referência aos agressores, vários estudos confirmam a ideia de que é de se prever que os jovens que são agressivos com os seus pares (os bullies) correm um risco claramente maior de mais tarde se envolverem em ou- tros problemas, tais como a criminalidade, o uso de drogas ou o comportamento agressivo em família. Trata-se, portanto, de um problema social grave que extravasa o âmbito escolar e pessoal. As testemunhas do bullying que, como já dissemos, embora não estejam diretamente envolvidas, também sofrem danos, especi- almente pela convivência em um clima escolar em que as relações interpessoais se deterioram e em que a tensão é constante. Estudos recentes (Fortinos, 2006; Debarbieux, 2001) sobre o meio ou o ambiente escolar mostram a relação entre bullying e ‘clima escolar’, de modo a descartar a possibilidade de isenção da escola no que diz respeito à participação na produção e na ma- nutenção da violência. De acordo com Freire, Simão e Ferreira (2006), nas últimas décadas, a investigação tem-se centrado cada vez mais em fatores ligados à escola no sentido de se compreen- der como é que o ambiente escolar pode interferir na maior ou menor prevalência da violência dos estudantes entre si. Em muitos países, especialmente da Europa e da América do Norte, o programa proposto por Olweus tem sido aplicado, total ou parcialmente, ou com algumas modificações, nas escolas. Este programa propõe ações em três níveis: no nível da escola, no nível da classe e no nível individual, e seus resultados têm sido relatados como satisfatórios (Pereira, 2008). A implementação de programas requer sempre a fundamen- tação em um claro conhecimento do fenômeno no contexto escolar em que se pretende intervir. Só assim, poderão ser focali- zados os problemas reais da instituição e promovidas as estraté- gias mais adequadas para o seu enfrentamento (Freire, Simão & Ferreira, 2006), dentre as quais se destaca a educação em direitos humanos. Tais intervenções podem ser feitas na sala de aula, no recreio, na relação da escola com os pais, nas relações interpes- soais nos mais diversos níveis, nos regulamentos e nas formas de divulgação e de aplicação dos mesmos e no desenvolvimento do clima social ou ethos da escola (Pereira, 2008). Para se obter esse conhecimento, torna-se necessário realizar, na escola, um levantamento diagnóstico de como o processo se instala e ocorre e a partir daí adotar propostas como as sugeridas abaixo: levantamento diagnóstico da situação de bullying na escola. Nesse levantamento, o bullying deve ser abordado em pers- pectiva contextual, que exige, inclusive, o conhecimento das características da população atendida pela escola; Conscientização e sensibilização de toda a comunidade esco- lar, incluindo os pais, sobre o problema. Os dados do levan- tamento diagnóstico são de grande valia para isso; Formação dos profissionais da escola (diretores, coordenado- res, professores e funcionários). Esse conhecimento é funda- mental para direcionar as ações; Formação dos pais. O conhecimento dos pais sobre os danos e as características do bullying e dos papéis que seu filho po- de desempenhar no bullying ajuda-os na identificação e os mobiliza para a busca de ações com vistas a soluções; Formação dos alunos. Ressalta-se aqui a importância de não se cair na armadilha dos discursos moralistas e paternalistas. Além dos conhecimentos específicos sobre o bullying, como os apontados para os pais, é preciso enfatizar uma formação voltada para a promoção de valores que são incompatíveis com as práticas de violência; Instituição de um canal claro e eficiente de fala e de escuta, que promova o relato de vítimas sobre suas experiências de bullying; Melhorias e diversificação dos espaços físicos; Atuação nos locais de recreio (com chuva, sem chuva) e nas atividades extraclasse (ludoteca, informática, esportes etc.), trabalhando as preferências dos alunos; Promoção da melhoria da qualidade do ensino e das avalia- ções; Promoção de atividades que exijam cooperação; Aten- dimento aos alunos envolvidos em bullying, se necessário. Pa- ra os ‘alunos-alvos’, é importante planejar atividades capazes de promover: elevação da autoestima,desenvolvimento da comunicação e das habilidades sociais, assertividade e com- portamentos adequados ao enfrentamento da situação. Para os autores, são importantes as atividades que promovam con- trole das emoções, respeito aos colegas, aceitação das dife- renças e dos diferentes e análise das consequências dos atos de violência; PÁG.27 Construção partilhada do Projeto Político Pedagógico. Garan- tir a participação de toda a comunidade escolar; Construção partilhada de normas que devem reger a escola, em todos os níveis, de forma a conduzir o estabelecimento de pactos de convivência na escola; desenvolvimento de conteú- do que trate dos direitos das crianças e dos adolescentes para incrementar valores que se oponham à violência (lei n. 11.525/07). 3.4.2 O PAPEL DA ESCOLA Ao discutirmos a função social da educação e da escola, es- tamos entendendo a educação no seu sentido ampliado, ou seja, enquanto prática social que se dá nas relações sociais que os homens estabelecem entre si, nas diversas instituições e movi- mentos sociais, sendo, portanto, constituinte e constitutiva dessas relações. O homem, no processo de transformação da natureza, instau- ra leis que regem a sua convivência com os demais grupos, cria estruturas sociais básicas que se estabelecem e se solidificam à medida que se vai constituindo em locus de formação humana. Nesse sentido, a escola, enquanto criação do homem, só se justi- fica e se legitima diante da sociedade, ao cumprir a finalidade para a qual foi criada. Assim, a escola, no desempenho de sua função social de for- madora de sujeitos históricos, precisa ser um espaço de sociabili- dade que possibilite a construção e a socialização do conheci- mento produzido, tendo em vista que esse conhecimento não é dado a priori. Trata-se de conhecimento vivo e que se caracteriza como processo em construção. A educação, como prática social que se desenvolve nas relações estabelecidas entre os grupos, seja na escola ou em outras esferas da vida social, se caracteriza como campo social de disputa hegemônica, disputa essa que se dá "na perspectiva de articular as concepções, a organização dos processos e dos conteúdos educativos na escola e, Políticas e Gestão na Educação 3 mais amplamente, nas diferentes esferas da vida social, aos interesses de classes" (FRIGOTTO, 1999, p. 25). Assim, a educação se constitui numa atividade humana e his- tórica que se define na totalidade das relações sociais. Nessa ótica, as relações sociais desenvolvidas nas diferentes esferas da vida social, inclusive no trabalho, constituem-se em processos educativos, assim como os processos educativos desenvolvidos na escola consistem em processos de trabalho, desde que este seja entendido como ação e criação humanas. Contudo, na forma como se opera o modo de produção capi- talista, a sociedade não se apresenta enquanto totalidade, mas é compreendida a partir de diversos fatores que interagem entre si e se sobrepõem de forma isolada. Nessa perspectiva, "a educação e a formação humana terão como sujeito definidor as necessida- des, as demandas do processo de acumulação de capital sob as diferentes formas históricas de sociabilidade que assumem" (FRI- GOTTO, 1999, p. 30), e não o desenvolvimento de potencialidades e a apropriação dos conhecimentos culturais, políticos, filosóficos, historicamente produzidos pelos homens. Segundo Frigotto (1999), a escola é uma instituição social que, mediante sua prática no campo do conhecimento, dos valores, atitudes e, mesmo por sua desqualificação, articula determinados interesses e desarticula outros. Nessa contradição existente no seu interior, está a possibili- dade da mudança, haja vista as lutas que aí são travadas. Portan- to, pensar a função social da escola implica repensar o seu pró- prio papel, sua organização e os atores que a compõem. Para Petitat (1994), a escola contribui para a reprodução da ordem social. No entanto, ela também participa de sua transformação, às vezes intencionalmente. Outras vezes, as mudanças se dão, ape- sar da escola. Nesse contexto, o dirigente escolar, o professor, os pais de alunos e a comunidade em geral precisam entender que a escola é um espaço contraditório e, portanto, se torna fundamen- tal que ela construa seu Projeto Político-Pedagógico. Cabe ressaltar, nessa direção, que qualquer ato pedagógico é um ato dotado de sentido e se vincula a determinadas concep- ções (autoritárias ou democráticas), que podem estar explícitas ou não. Assim, pensar a função social da educação e da escola impli- ca problematizar a escola que temos na tentativa de construirmos a escola que queremos. Nesse processo, a articulação entre os diversos segmentos que compõem a escola e a criação de espa- ços e mecanismos de participação são prerrogativas fundamen- tais para o exercício do jogo democrático, na construção de um processo de gestão democrática. 3.4.3 A ESCOLHA DA PROFISSÃO Quando ao adolescente é solicitado que faça uma escolha profissional, isto é, que eleja uma determinada profissão para exercer, esta escolha não é feita isoladamente, ela é determinada por uma série de fatores. Ao escolher um caminho profissional a seguir, o sujeito elege não só o que quer fazer, mas também quem ele quer ser. A escolha profissional está intimamente ligada ao projeto pessoal. Assim, é importante que o jovem esteja cons- ciente de quem ele é e do que deseja para si ao elaborar o seu projeto de vida. O termo ‚projeto‛ vem do latim ‚projectare‛, que significa ‚lançar à frente‛, e remete a um sentido de ação, ou de um pro- pósito de realizar algo no futuro (Rodríguez-Moreno, 2005). De acordo com Guichard (1993), o projeto está inserido em uma perspectiva temporal, em que o futuro é a parte essencial. Entre- tanto, é a relação entre o passado, o presente e o futuro desejado que caracterizam o projeto. Ou seja, é através de uma releitura e reinterpretação dos fatos passados e das atualidades do presente que se pode determinar um futuro, o futuro que o indivíduo deseja alcançar para si. É certo que vários fatores influenciam na construção de um projeto de futuro. Porém a escola, pelo fato de ser o lugar onde o adolescente passa grande parte do seu tempo, constitui-se como um meio de forte influência tanto no seu desenvolvimento voca- cional (Patton e McMahon, 1999), como na sua socialização e na formação da sua personalidade (Groisman e Kusnetzoff, 1984), aspectos que contribuem de forma fundamental na construção do projeto de vida. Neste sentido, Bohoslavsky concorda ao postular que: Rece- ber a instrumentação, a formação e o enriquecimento necessários para exercer uma ocupação produtiva dentro da comunidade, e deixar de ocupar um papel fundamentalmente receptivo, é a função primordial – nem sempre assumida – da educação siste- mática (1998, p. 27). Assim, mais do que um meio de reprodução social que prepa- ra o estudante apenas para seguir determinados papéis, a insti- tuição escolar tem por dever proporcionar a reflexão acerca dos papéis que o indivíduo exerce na vida e das diversas influências PÁG.28 externas que interferem na elaboração de um projeto. ‚Nenhum projeto é elaborado no vazio‛, assegura Fonseca (1994, p. 58), o que significa que todo o mundo à volta, todo o contexto ao qual o adolescente pertence precisa ser observado. Nas sociedades contemporâneas os jovens enfrentam uma dilemática na constru- ção de seus projetos: por um lado multiplicam-se as oportunida- des existentes, por outro, a competitividade e a concorrência entre essas oportunidades tornam-se cada vez mais acirradas. Neste contexto, importa que os projetos sejam realistas e fle- xíveis. Segundo Gama (2003), realistas porque implicam maturi- dade, assim como o conhecimento de si e do mundo; flexíveis porque devem adaptar-seàs mudanças, por vezes bem rápidas, que o mundo de hoje impõe: Não é invulgar encontrar alunos que alimentam aspirações que um bom observador externo clas- sifica rapidamente de irrealistas, uma vez que são de concretiza- ção muito difícil ou se encontram acima das reais possibilidades dos jovens. Daí a necessidade de se construírem projetos que sejam ade- quados às características dos alunos, elas próprias em processo de evolução, e às oportunidades que o meio proporciona, opor- tunidades estas, que os indivíduos não têm que aceitar de forma acrítica e que podem tentar transformar (Gama, 2003, p. 41). É importante que o jovem tenha em mente que há uma reali- dade que envolve a emergência do projeto e que esta nem sem- pre levará apenas ao prazer, pois as vontades têm limites, o que, muitas vezes, pode gerar frustrações (Fonseca, 1994). Daí a im- portância da construção de um projeto flexível. A orientação vocacional, inserida no contexto escolar, permite a reflexão acerca das escolhas que se deve fazer, contribuindo não só para a elabo- ração do projeto de vida do adolescente, mas também para clari- ficar o sentido da escola e o valor dos estudos. Conforme Fonseca (1994), é através da percepção clara do sentido e da utilidade dos estudos e da aprendizagem escolar que se torna possível constru- ir um projeto de vida. Podem colaborar neste sentido, em âmbito escolar, tanto os professores – através da educação para a carrei- ra – como os profissionais de orientação. O movimento da educação para a carreira surge, primeira- mente, nos Estados Unidos na década de setenta, em meio a um período de recessão, devido ao forte aumento do desemprego ocorrido a partir da década de sessenta. O que se apresentava era um número cada vez maior de indivíduos deixando o sistema educativo sem as competências necessárias requeridas para adaptarem-se ao mercado de trabalho e um sistema educacional não ajustado às mudanças. Logo, formavam-se indivíduos com baixas qualificações para o mercado laboral e estudantes que não compreendiam a relação entre aquilo que aprendiam e o que utilizariam fora da escola (Montané e Martinez, 1994). Diante destas condições, uniram-se esforços para adotar mo- delos de intervenção a fim de solucionar a ‚desarmonia‛ existente entre o sistema escolar e o mundo do trabalho, bem como de resolver a falta de motivação dos jovens em aprender e o seu desconhecimento do mundo profissional. A educação para a carreira trata-se, então, de um programa que visa estimular o desenvolvimento da identidade ocupacional dos estudantes, desde o início da escolarização, através de estra- tégias educacionais. Segundo a definição de Hoyt (1995, citado por Pérez, 2005), a educação para a carreira seria o esforço total da educação pública e da comunidade em auxiliar o estudante a familiarizar-se com os valores ocupacionais, implementando-os em suas vidas, de forma que o trabalho seja significativo e satisfa- tório para o indivíduo. Os principais objetivos da educação para a carreira são, se- gundo Rodríguez e Figuera (1995), que o aluno possa: I. alcançar uma consciência realista de si mesmo. II. estar ciente das oportunidades oferecidas pelo mundo labo- ral. III. compreender o momento econômico em que vive, estando preparado para as transformações aceleradas do mundo do trabalho e da sociedade IV. aprender a escolher e a tomar decisões V. adquirir as competências necessárias para conseguir um tra- balho. Uma forma de intervir em educação para a carreira é através da ‚infusão curricular‛, ou seja, incorporar às ativida- des diárias de todas as disciplinas a ênfase no desenvolvimen- to de carreira (Pérez, 2005). Para este fim, cabe aos professores abordar em suas discipli- nas as relações entre os conteúdos que ensinam, sua utilidade e aplicação prática no mundo do trabalho (Pérez, 2005; Rodríguez, 1988; Rodríguez e Figuera, 1995), desenvolvendo competências ligadas ao trabalho, assim como o conhecimento das oportuni- dades educativas e profissionais e atribuindo significado aos conteúdos a serem relacionados à vida cotidiana presente e futu- ra dos aluno. O professor pode aproveitar as possibilidades oferecidas pe- los diversos temas incluídos no conteúdo programático da sua disciplina para pôr em prática atividades que justifiquem a aplica- bilidade desses conteúdos, como por exemplo através de discus- sões a respeito das profissões relacionadas à matéria que leciona. É importante que o professor tenha consciência do seu papel no desenvolvimento e na formação dos seus alunos, de modo que ele se mostre aberto a colaborar nesse processo. Entretanto, para que o professor se sinta apto a atuar na educação para a carreira, não se pode deixar de lado a formação que ele deve ter, de forma a capacitá-lo para este tipo de trabalho. 3.4.4 TRANSTORNOS ALIMENTARES NA ADOLESCÊNCIA Os transtornos alimentares são caracterizados quando os há- bitos alimentares interferem na saúde física e mental de uma pessoa, dificultando suas relações pessoais e até profissionais. As causas desses transtornos são diversas e difíceis de serem mensuradas. Pode ser uma predisposição genética ou até mesmo uma vontade muito grande de se encaixar nos padrões estéticos do mundo da moda ou de pessoas famosas. A Organização Mundial de Saúde só considera como trans- tornos alimentares a anorexia e a bulimia, uma vez que é extre- mamente difícil concluir a causa de transtornos como esses. A anorexia, bulimia, obesidade, vigorexia e ortorexia, foram descri- tas desde o antigo Egito e se tornam cada mais comuns na nossa sociedade atual. Apesar de serem distúrbios da imagem, elas possuem algumas diferenças. Obesidade, é um distúrbio caracte- rizado pelo excesso de peso no indivíduo. Este, alimentando-se indiscriminadamente, adquire um peso muito acima do previsto para a sua altura, idade e sexo e desenvolve, a partir daí, outras complicações na sua saúde física e mental como: altas taxas de colesterol e glicose no sangue, problemas de circulação, cardíacos e respiratórios, baixa auto-estima, depressão, etc. PÁG.29 Na maioria dos casos o indivíduo tem consciência do proble- ma que adquiriu, por ser muito aparente, mas sofre preconceitos e piadinhas, o que dificulta a sua ida a um médico. É uma doença perigosa e que tem atingido uma grande quantidade de pessoas, na maioria dos casos por falta de balanceamento na alimentação e de atividades físicas. O paciente anoréxico tem uma distorção grave do seu corpo sempre se achando mais gordo do que realmente é e, por isso, para de comer ou come muito pouco. Já os bulímicos não possu- em uma distorção tão grave da imagem corporal; gostam de comer muito, mas não querem engordar. Dessa maneira, procu- ram aliviar a culpa de um ataque compulsivo provocando vômitos ou tomando laxantes e diuréticos. A ortorexia é a obsessão por alimentos biologicamente puros, por uma alimentação saudável, enquanto a vigorexia é a obses- são por um corpo perfeito. Esta última tem atingido mais aos jovens do sexo masculino, os quais, para atingir tal objetivo, aca- bam por utilizar suplementos alimentares e esteróides, associados a uma atividade física intensa. A ortorexia, apesar de ainda pouco conhecida, é preocupante, pois ameaça a saúde do corpo e a saúde mental e emocional das pessoas. A preocupação exagerada com o que irá comer desvia a maior preocupação, que deveria ser com a saúde do corpo. Apesar da OMS só considerar esses transtornos, é sabido que o universo de desvios de comportamento envolvendo os hábitos alimentares é enorme e geralmente atingem os adolescentes e jovens. Por isso importante e a conscientização, bem como o trabalho preventivo e diagnóstico da comunidade escolar sobre esses transtornos e os encaminhamentos necessários, caso sejam identificados gruposde risco. 3.4.5 FAMÍLIA No mundo familiar as crianças são filhos; no mundo escolar elas são alunos. A passagem de filho a aluno não é uma operação automática e, dependendo da distância entre o universo familiar e o escolar, ela pode ser traumática. Dentro da escola, o respon- sável direto pela condução dos alunos é o professor, um adulto que também passou por um processo de formação para alcançar a condição de profissional da educação. As crianças que chegam à escola são membros-dependentes de um núcleo familiar que lhes dá um nome e um lugar no mun- do. Os professores, conectados ou não com o lugar social deste aluno, têm como principal função garantir o direito educacional de cada menino e menina, guiando-se pelas diretrizes do siste- ma/estabelecimento de ensino com o qual tem vínculo de traba- lho. O conjunto de professores, funcionários, coordenadores pedagógicos, diretores escolares e familiares configura uma co- munidade escolar, que tem funções deliberativas sobre vários aspectos do projeto da escola. As famílias estão inseridas em uma comunidade, localizada em determinado território, com seus costumes, valores e histórias a que chamaremos de contexto social. As escolas fazem parte de um sistema ou rede de ensino, sob coordenação da Secretaria Municipal de Educação, que compartilha um mesmo marco regu- latório (leis, decretos, atos normativos do Conselho Nacional de Educação etc.) com as Secretarias de Estado e o Ministério da Educação. A essas relações denominaremos contexto institucio- nal. A comunidade local se organiza como sociedade civil para exercer direitos e deveres, enquanto o sistema de ensino repre- senta o poder público que, em um Estado democrático de direito, tem obrigação de cobrar deveres e garantir o exercício da cida- dania também pela oferta de serviços sociais a toda a população. No mundo globalizado e complexo em que vivemos, as rela- ções entre setores, instituições e atores sociais estão muito imbri- cadas. Fica cada vez mais difícil entender os problemas educacio- nais apontando apenas para as dificuldades originadas fora da escola ou somente pelos processos internos a ela. Se, por um lado, não podemos desconsiderar a influência da situação socioe- conômica, da violência, das mudanças de costumes sobre o com- portamento e desempenho dos alunos, por outro, não podemos admitir que a escola se transforme numa agência de assistência social e negligencie sua função específica de zelar pela aprendi- zagem escolar. É recomendável optar por uma abordagem relacional entre educação e contexto social. Sempre com foco nos processos de ensino-aprendizagem, enxergamos as relações professor-aluno em uma perspectiva ampliada que considera a cadeia de relações que está por trás e entre esses dois atores, conforme sugere o esquema da página seguinte. Podemos dizer que a relação entre escola e família está pre- sente, de forma compulsória, desde o momento em que a criança é matriculada no estabelecimento de ensino. De maneira direta ou indireta, essa relação continua viva e atuante na intimidade da sala de aula. Assim, sempre que a escola se perguntar o que fazer para apoiar os professores na relação com os alunos, provavel- mente surgirá a necessidade de alguma interação com as famílias. 3.4.6 ESCOLHAS SEXUAIS. A discussão sobre a inclusão da temática da sexualidade no currículo das escolas de primeiro e segundo graus tem se intensi- ficado a partir da década de 70, por ser considerada importante na formação global do indivíduo. Com diferentes enfoques e ênfases há registros de discussões e de trabalhos em escolas desde a década de 20. A retomada contemporânea dessa questão deu-se juntamente com os movimentos sociais que se propu- nham, com a abertura política, a repensar sobre o papel da escola e dos conteúdos por ela trabalhados. Mesmo assim não foram muitas as iniciativas tanto na rede pública como na rede privada de ensino. A partir de meados dos anos 80, a demanda por trabalhos na área da sexualidade nas escolas aumentou devido à preocupação dos educadores com o grande crescimento da gravidez indeseja- da entre as adolescentes e com o risco da contaminação pelo HIV (vírus da AIDS1 ) entre os jovens. A princípio, acreditava-se que as famílias apresentavam resistência à abordagem dessas questões no âmbito escolar, mas atualmente sabe-se que os pais reivindi- cam a orientação sexual nas escolas, pois reconhecem não só a sua importância para crianças e jovens, como também a dificul- dade de falar abertamente sobre esse assunto em casa. Uma pesquisa do Instituto DataFolha, realizada em dez capitais brasi- leiras e divulgada em junho de 1993, constatou que 86% das pessoas ouvidas eram favoráveis à inclusão de Orientação Sexual nos currículos escolares. As manifestações de sexualidade afloram em todas as faixas etárias. Ignorar, ocultar ou reprimir são as respostas mais habitu- ais dadas pelos profissionais da escola. Essas práticas se funda- mentam na ideia de que o tema deva ser tratado exclusivamente PÁG.30 pela família. De fato, toda família realiza a educação sexual de suas crianças e jovens, mesmo aquelas que nunca falam aberta- mente sobre isso. O comportamento dos pais entre si, na relação com os filhos, no tipo de ‚cuidados‛ recomendados, nas expres- SÕes, gestos e proibições que estabelecem são carregados de Determinados valores associados à sexualidade que a criança Apreende. O fato de a família ter valores conservadores, liberais ou pro- Gressistas, professar alguma crença religiosa ou não e a forma Como o faz determina em grande parte a educação das crianças. Pode-se afirmar que é no espaço privado, portanto, que a criança REcebe com maior intensidade as noções a partir das quais cons- TRuirá sua sexualidade na infância. A criança também sofre influências de muitas outras fontes: De livros, da escola, de pessoas que não pertencem à sua família E, principalmente, nos dias de hoje, da mídia. Essas fontes atuam De maneira decisiva na formação sexual de crianças, jovens e Adultos. A TV veicula propaganda, filmes e novelas intensamente ERotizados. Isso gera excitação e um incremento na ansiedade RElacionada às curiosidades e fantasias sexuais da criança. Há Programas jornalísticos/científicos e campanhas de prevenção à AIDS que enfocam a sexualidade, veiculando informações dirigi- Das a um público adulto. As crianças também os assistem, mas Não podem compreender por completo o significado dessas Mensagens e muitas vezes constroem conceitos e explicações ERrôneas e fantasiosas sobre a sexualidade. Todas essas questões são trazidas pelos alunos para dentro Da escola. Cabe a ela desenvolver ação crítica, reflexiva e educati- VA. Se a escola que se deseja deve ter uma visão integrada das EXperiências vividas pelos alunos, buscando desenvolver o prazer Pelo conhecimento, é necessário que ela reconheça que desem- Penha um papel importante na educação para uma sexualidade LIgada à vida, à saúde, ao prazer e ao bem-estar, que integra as DIversas dimensões do ser humano envolvidas nesse aspecto. O TRabalho sistemático e sistematizado de Orientação Sexual den- tro Da escola articula-se, portanto, com a promoção da saúde das CRianças e dos adolescentes. A existência desse trabalho possibilita também a realização de AÇões preventivas às doenças sexualmente transmissíveis/AIDS de FOrma mais eficaz. Diversos estudos já demonstraram os par- cos REsultados obtidos por trabalhos esporádicos sobre a ques- tão. INúmeras pesquisas apontam também que apenas a infor- mação Não é suficiente para possibilitar a adoção de comporta- mentos Preventivos. BIBLIOGRAFIA PARA ESSE CAPÍTULO: - BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fun- damental: introdução aos parâmetroscurriculares nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1998. - CASTRO, Jane Margareth Castro e Marilza Regattieri (org.).Interação escola-família: subsídios para práticas escola- res.. – Brasília : UNESCO, MEC, 2009. 104 p. - LA TAILLE, Yves de, OLIVEIRA, Marta Kohl de, DANTAS, He- loysa. 1992. Piaget, Vygotsky, Wallon – teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus. - SILVA, T. T. Identidades terminais: as transformações na políti- ca da pedagogia e na pedagogia da política. Petrópolis: Vo- zes, 1996. 31. Quanto ao behaviorismo não é correto afirmar: A) Um importante estudioso da teoria behaviorista, John B. Wat- son, postulava o comportamento como o objeto de estudo da Psicologia. B) A tendência Funcionalista constitui o estudo do comporta- mento como função de certas variáveis do meio, de acordo com o behaviorismo. C) O comportamento, na abordagem behaviorista, só pode ser estudado enquanto processo psicológico observável e mensu- rável. D) O processo de aprendizagem ocorre por meio de insights. E) O reforço positivo imediato é colocado por Skiner como um dos principais elementos do processo de aprendizagem. 32. Conforme Barbosa, o ___________ representado pelas ideias de H. Wallon e de Vygostky afirma que o conhecimento é construído socialmente, a partir das possibilidades de in- terações entre os sujeitos e o ambiente físico e social onde estão inseridos. A alternativa que preenche corretamente a lacuna do tre- cho acima é: A) construtivismo B) behaviorismo C) cognitivismo D) humanismo E) socioconstrutivismo 33. A teoria da aprendizagem que se refere à hereditariedade do sujeito e afirma que suas características são determi- nadas desde o seu nascimento, é a denominada A) cognitivismo. B) empirismo. C) inatismo. D) behaviorismo. E) interacionismo. 34. É uma das correntes teóricas empenhadas em explicar como a inteligência humana se desenvolve, partindo do princípio de que o desenvolvimento da inteligência é de- terminado pelas ações mútuas entre o indivíduo e o meio, ou seja, é uma concepção que entende o homem como um ser que não nasce inteligente, mas também não é pas- sivo sob a influência do meio, tendo em vista que este mesmo homem responde aos estímulos externos para posteriormente agir sobre eles, justamente para construir e organizar o seu próprio conhecimento, de forma cada vez mais elaborada. Este conceito se refere ao: A) Behaviorismo. B) Cognitivismo. C) Humanismo. D) Marxismo. E) Construtivismo. 35. Uma teoria de aprendizagem é uma tentativa de interpre- tar e sistematizar a área do conhecimento da aprendiza- gem e representa o ponto de vista de um pesquisador que, ao construir sua teoria, indica o que é e como funcio- PÁG.31 na o processo de construção da aprendizagem. Nesse con- texto, assinale a alternativa que APRESENTA teorias de aprendizagem. A) Comportamentalismo, Cognitivismo e Humanismo. B) Humanismo, Cognitivismo e Construtivismo. C) Behaviorismo, Comportamentalismo e Cognitivismo. D) Construtivismo, Behaviorismo e Liberalismo. E) Comportamentalismo, Behaviorismo e Associacionismo. 36. Analise o texto abaixo: Os estudos epistemológicos de________ demonstravam que tanto as ações externas, quanto os processos de pensamento implicam uma organização lógica. Ele buscava conjugar duas variáveis - o lógico e o biológico – numa única teoria e, com isso, apresentar uma solução ao problema do conhecimento humano. Assinale a alternativa que completa corretamente a lacuna do texto. A) Wallon B) C) D) E) 37. Os conceitos de Assimilação e Acomodação foram contri- buições de qual teórico? A) Jean Piaget. B) Jean Jaques Rousseau. C) Sigmund Freud. D) Karl Marx. E) Adam Smith. 38. De acordo com Piaget, a criança age sobre os objetos do ambiente para conhecê-los por meio de alguma base de conhecimento que já possua. A esse processo de utilizar um esquema que já existe e aplicá-lo a uma nova situação, Piaget chama de: A) Equilibração B) Assimilação C) Acomodação D) Esquematização 39. Segundo Piaget, o pensamento infantil passa por quatro estágios, desde o nascimento até o início da adolescência, quando a capacidade plena de raciocínio é atingida. Se- gundo ele: A) A criança constrói conhecimento somente na interação com outras crianças. B) O aprendizado da criança não está relacionado com a intera- ção da criança com o meio. C) O ensino só se efetiva mediante a avaliação. D) A criança constrói o conhecimento a partir de suas descober- tas quando em contato com o mundo e com os objetos. E) O processo de ensino/aprendizagem deve ser um processo rigoroso, centrado no professor. 40. O modelo piagetiano do desenvolvimento humano pro- põe períodos que são caracterizados pelo aparecimento de novas qualidades do pensamento, interferindo no de- senvolvimento global. O período de operações concretas se dá dos A) 9 aos 14 anos, com o desenvolvimento de um egocentrismo intelectual e social. B) 7 aos 11 ou 12 anos com o início da construção lógica, ou seja, a capacidade da criança estabelecer relações que permi- tam a coordenação de pontos de vista diferentes. C) 6 aos 10 anos, quando deixa de ter dificuldade para realizar as operações no plano das ideias sem necessitar de manipulação ou referências concretas. D) 10 aos 14 anos, quando é capaz de abstrair e generalizar, criando teorias sobre o mundo, principalmente sobre aspec- tos que gostaria de modificar. E) 4 aos 7 anos, com o aparecimento da linguagem, incremen- tando a comunicação e a interação com os demais. 41. A distância entre o que a criança já se sabe e o que se pode saber com alguma assistência é denominada por Vygotsky de: A) Zona de desenvolvimento real. B) Zona de desenvolvimento potencial. C) Zona de desenvolvimento exponencial. D) Zona de desenvolvimento proximal. 42. Dentre as teorias abaixo, marque a opção que correspon- de à teoria de aprendizagem segundo Lev Vygotsky. A) A aprendizagem é uma experiência social, a qual é mediada pela interação entre a linguagem e a ação. B) A criança responde às impressões que as coisas lhe causam com gestos dirigidos a elas. C) Equilibração é o processo da passagem de uma situação de menor equilíbrio para uma de maior equilíbrio. D) Os comportamentos são obtidos punindo o comportamento não desejado e reforçando ou incentivando o comportamento desejado com um estímulo, repetido até que ele se torne au- tomático. 43. “Vygotsky deu início a uma discussão inteiramente nova não só em relação à aprendizagem, mas também no que se refere ao desenvolvimento e às funções do ensino”. As- sinale a alternativa INCORRETA: A) Vygotsky defende que não existe um único nível de desenvol- vimento, mas sim dois: o nível de desenvolvimento potencial e a zona de desenvolvimento proximal. B) Vygotsky estabeleceu as bases para uma nova compreensão da relação entre o sujeito psicológico e o contexto histórico, que resgata o sentido subjetivo e pessoal do homem. C) Vygotsky considerava que os processos psicológicos inferiores e superiores humanos constituem-se em atividades mediadas pela linguagem, estruturadas em sistemas funcionais, dinâmi- cos e historicamente imutáveis. D) Vygotsky não nega a existência de uma relação entre deter- minado nível de desenvolvimento e capacidade potencial de aprendizagem dos alunos, o que significa obviamente que a aprendizagem deve se dar de forma coerente com o nível de desenvolvimento do aluno. 44. Na psicogenética de Henri Walon, a dimensão afetiva ocupa lugar central, tanto do ponto de vista da constru- ção da pessoa quanto do conhecimento. Ambos se iniciam num período que se estende ao longo do primeiro ano de vida e que o autor denomina dePÁG.32 A) cognitivo-emocional. B) afetivo-compulsivo. C) impulsivo-cognitivo. D) impulsivo-emocional. E) afetivo-cognitivo. 45. De acordo com Heloysa Dantas in La Taille (1992), a afeti- vidade não é apenas uma das dimensões da pessoa, ela prepondera em uma fase do desenvolvimento. Para Wal- lon, em qual momento do desenvolvimento humano a afetividade prevalece em relação à razão? A) Na fase adulta, quando a pessoa necessita usar a afetividade para tomar decisões sobre seu futuro e suas relações. B) No seu momento inicial, logo que o indivíduo sai da vida puramente orgânica, e que suas ações são puramente emoci- onais. C) No início da adolescência, quando o sujeito utiliza a afetivida- de como instrumento para lidar com as diferenças. D) Na etapa em que, já idoso, o indivíduo passa a usar mais afetividade recordando fatos do assado. E) Na fase final da infância, quando a criança usa da afetividade para conseguir atenção de pais e professores. 46. Conforme ANTUNES, a teoria das inteligências múltiplas, desenvolvida por Gardner, possui atualmente milhares de adeptos no mundo inteiro. Em relação a essa teoria, é CORRETO afirmar que: A) Atua de forma a integrar as diferentes inteligências, porém não é possível direcionar estratégias e jogos para aguça-las. B) Engloba apenas oito inteligências, dentre elas: linguística, lógico-matemática, espacial, sonora, cinestésico-corporal, na- turalista, intra e interpessoal. C) Consiste em um método pedagógico com a adoção de práti- cas restritas, como jogos e exercícios com função instrucional. D) É um novo paradigma de compreensão do ser humano que abandona sua avaliação através de sistemas limitados e per- cebe-o com acentuada amplitude. 47. Muito embora o discurso pedagógico use a caracterização de “indivíduos inteligentes ou pouco inteligentes”, já se afasta o conceito de uma inteligência única e geral e ga- nha espaço a convicção de Howard Gardner, e de uma grande equipe da Universidade de Harvard, de que o ser humano é dotado de inteligências múltiplas. Assim sendo, com base em Gardner (1995) e sua teoria sobre as inteli- gências múltiplas, o que é aprendizagem? A) É a modificação sistemática do comportamento, em caso de repetição da mesma situação estimulante ou na dependência da experiência anterior com dada situação. B) É composta por automotivação, empatia e habilidade de soci- alização que influenciam na tomada de decisão. C) É a transformação de um esquema de ação, de natureza sen- sório-motora ou cognitivo-relacional, cuja tendência compen- satória de acomodação aos objetos – quando estes resistem à assimilação – se dá após o êxito da ação. D) É o desenvolvimento do controle emocional, do domínio dos impulsos, tolerando frustrações com otimismo, auto-estima e de modo empático e eficaz. e. É uma mudança relativamente permanente no comportamento, pois a criança nasce com a habilidade para aprender, mas a aprendizagem, em si, ocorre com a experiência, através de estímulos. 48. Gardner (1995) afirma que, no desenvolvimento das múl- tiplas inteligências, nenhuma criança é uma esponja passi- va que absorve o que lhe é apresentado. Portanto, com base nessa teoria, qual dos tipos de inteligências defendi- das pelo autor corresponde à seguinte descrição: revela-se através do poder do relacionamento com os outros e na sensibilidade para a identificação de suas intenções, suas motivações e sua auto-estima. A) Espacial B) Interpessoal C) Cinestésica-corporal D) Naturalística ou biológica E) Intrapessoal 49. A escola pública de antigamente era seletiva e organizada para receber os filhos das famílias estruturadas e das ca- madas média e alta da sociedade. As escolas públicas de hoje são inclusivas por receber um grande contingente de crianças de baixo poder aquisitivo e uma clientela bastan- te diversificada. Esta realidade impõe às escolas e aos pro- fessores a exigência de repensar os objetivos e conteúdos de ensino no sentido de proporcionar: A) a transmissão do conhecimento que fortalece o senso comum e os conhecimentos prévios, como resultado do ensino. B) a transformação da sociedade brasileira, função social da educação escolar. C) a manutenção dos valores que circulam na sociedade burgue- sa. D) uma educação que tenha significado na vida dessa população de modo a prepará-la para participar da vida social que per- mita o exercício ativo da cidadania. E) o acesso de todas as camadas da população, sem preocupar- se com objetivos educacionais. 50. O projeto educativo docente precisa ter, também, a di- mensão do presente, em função de planejar/projetar o su- cesso escolar de sua turma. Daí a importância do profes- sor procurar conhecer tão profundamente quanto possí- vel: A) Quem são os seus alunos, como vivem e o que fazem. B) Os alunos indisciplinados por meio do docente da turma anterior, a fim de desenvolver ações com os estudantes inte- ressados. C) Os pais que não acompanham os seus filhos para evitar a renovação da matrícula. D) Os alunos bem sucedidos e investir em seus processos evolu- tivos. E) Os alunos com problemas familiares, exclusivamente, criando estratégias para evoluírem cognitivamente. PÁG.33 4. TEORIAS DO CURRÍCULO. Nunca se constatou na história da educação uma tamanha importância atribuída às políticas e propostas curriculares, diria mesmo, um tamanho empoderamento do currículo enquanto definidor dos processos formativos e educacionais e suas con- cepções. No Brasil não é diferente. Parâmetros, Parâmetros em ação, Diretrizes Curriculares, leis específicas sobre conteúdos curriculares, fazem parte do cenário contemporâneo de decisões educacionais em nosso país. Se levarmos em conta o contexto de importância que o currí- culo assume no mundo, em termos da concepção e da constru- ção contemporânea das formações, o seu empoderamento políti- co-pedagógico, assim como a complexidade que emerge dessas configurações, a explicitação reflexiva do campo curricular e da noção de currículo, no sentido de distinguir histórica e conceitu- almente as perspectivas e as práticas, se torna uma responsabili- dade formativa social e pedagógica incontestável. Junto com esse compromisso, faz-se necessário trazer para esse cenário discursi- vo e elucidativo o lugar do debate e da diversidade das concep- ções, sem com isso aceitar os prejuízos conceituais e político- pedagógicos causados pelas perspectivas que acolhem posições do tipo: ‚você deve dominar e aplicar essa concepção de currículo porque é científica‛, ou mesmo, ‚não é preciso conceituar algo que é extremamente complexo‛. Diríamos que as práticas curriculares e suas urgentes deman- das de compreensão e interferência político-pedagógica, bem como a necessidade do argumento competente sobre o instituí- do e o instituinte desse campo, não mais legitimam reduções, pulverizações e concepções a-críticas. É urgente, avaliamos, neste contexto da história das perspectivas e práticas curriculares, que os educadores entrem no mérito do que se configura como currí- culo e saibam lidar com suas complexas e interessadas dinâmicas de ação, sob pena de deixarem que os burocratas da educação continuem tomando de assalto um âmbito das políticas e práticas educacionais que hoje define, em muito, a qualidade e a natureza das opções formativas, na medida em que trabalha, fundamen- talmente, nas organizações educacionais, com o conjunto dos conhecimentos e atividades eleitas como formativas. Este é o campo do currículo, que desejamos refletir profunda e democra- ticamente. Os tecnocratas do currículo, em geral, não sabem e pouco se sensibilizam por aquilo que podemos denominar de um currículo educativo, formativo. Ou seja, um currículo em que as intençõesformativas sejam explicitadas e se desenvolva, elucidando e com- promissando-se com uma educação cidadã. ‚Pensam‛ sempre na arquitetura curricular, no seu desenho expresso nas antigas ‚gra- des‛, hoje matrizes curriculares, fixadas num documento. É preciso, portanto, que a sociedade, seus grupos de fato e os movimentos sociais implicados nos cenários e ações educacionais tenham a oportunidade de compreender e debater bem o currí- culo, num processo de democratização radical da sua discussão conceitual e da elucidação das práticas e, a partir daí, se apropri- em e construam percepções e ações de descolonização nos âmbi- tos das propostas Numa primeira aproximação ao conceito de currículo, podemos dizer que o currículo se caracteriza nas orga- nizações educacionais como o conjunto de conhecimentos esco- lhidos como formativos. A centralidade está, portanto, no conhecimento legitimado como formativo. Aqui começa a importância e complexidade política e pedagógica do currículo. 4.1 ACESSO, PERMANÊNCIA E SUCESSO DO ALUNO NA ES- COLA. A história da educação pública, enquanto demanda social, es- tá associada à luta pela construção dos direitos sociais e huma- nos, consubstanciada na luta pela construção do Estado de Direi- to ou Estado Social. A educação pública vem sendo produzida historicamente nos embates político sociais, a partir da luta em prol da ampliação, da laicidade, da gratuidade, da obrigatoriedade, da universalização do acesso, da gestão democrática, da ampliação da jornada esco- lar, da educação de tempo integral, da garantia de padrão de qualidade. Esses aspectos vinculam-se à criação de condições para a oferta de educação pública, envolvendo a educação básica e superior, tendo por base a concepção de educação de qualida- de como direito social. No Brasil, a luta pela democratização da educação tem sido uma bandeira dos movimentos sociais, de longa data. Pode-se identificar em nossa história inúmeros movimentos, gerados pela sociedade civil, que exigiam (e exigem) a ampliação do atendi- mento educacional a parcelas cada vez mais amplas da socieda- de. O Estado, de sua parte, vem atendendo a essas reivindicações de forma muito tímida, longe da universalização esperada. Nas diversas instâncias do poder público – União, estados, Distrito Federal e municípios – pode-se perceber o esforço em atender às demandas sociais por educação básica, porém de forma focalizada e restritiva. A focalização se deu na ampliação significativa do acesso a apenas um dos segmentos da educação básica: o ensino fundamental, com o atendimento a 32.086.188 estudantes (Inep, 2007). Porém, mesmo nesse segmento, há uma restrição evidente, pois somente às crianças de seis a quatorze anos é garantida a oferta obrigatória do ensino fundamental. Com isso, parcelas dos jovens e adultos ficam à margem do atendimento no ensino fundamental, bem como parte das crianças de zero a seis anos, demanda da educação infantil, e dos jovens, clientela do ensino médio, tem atendimento ainda insuficiente pelo Estado. O que assume dimensão ainda mais crítica, quando se consideram os enormes desafios para garantir acesso com qualidade à educação superior. É importante destacar que a democratização da educação não se limita ao acesso à instituição educativa. O acesso é, certamen- te, a porta inicial para a democratização mas torna-se necessário, também, garantir que todos os que ingressam na escola tenham condições de nela permanecer, com sucesso. Assim, a democrati- zação da educação faz-se com acesso e permanência de todos no processo educativo, dentro do qual o sucesso escolar é reflexo da qualidade. Mas somente essas três características ainda não com- pletam o sentido amplo da democratização da educação. Se, de um lado, acesso, permanência e sucesso caracterizam- se como aspectos fundamentais da democratização e do direito à educação, de outro, o modo pelo qual essa prática social é inter- namente desenvolvida pelos sistemas de ensino e escolas torna- se a chave mestra para o seu entendimento. Esta última faceta da democratização da educação indica a necessidade de que o pro- cesso educativo seja um espaço para o exercício democrático. E, PÁG.34 para que isso aconteça, surge nova forma de conceber a gestão da educação: a gestão democrática. É importante observar, também, que a concepção de sucesso escolar de uma proposta democrática de educação não se limita ao desempenho do aluno. Antes, significa a garantia do direito à educação, que implica, dentre outras coisas, uma trajetória esco- lar sem interrupções, o respeito ao desenvolvimento humano, à diversidade e ao conhecimento. Além disso, implica a consolida- ção de condições dignas de trabalho, formação e valorização dos profissionais da educação e a construção de PPP e PDI articulados com a comunidade e demandas dos movimentos sociais. Signifi- ca, também, reconhecer o peso das desigualdades sociais nos processos de acesso e permanência à educação e a necessidade da construção de políticas e práticas de superação desse quadro. Assim, a gestão democrática pode ser considerada como meio pela qual todos os segmentos que compõem o processo educati- vo participam da definição dos rumos que as instituições de edu- cação básica e superior devem imprimir à educação, e da maneira de implementar essas decisões, em um processo contínuo de avaliação das ações. Como elementos constitutivos dessa forma de gestão podem ser apontados: participação, autonomia, transparência e plurali- dade. E, como instrumentos de sua ação, surgem as instâncias diretas e indiretas de deliberação, tais como conselhos escolares ou equivalentes, órgãos colegiados superiores e similares, que propiciem espaços de participação e de criação da identidade do sistema de ensino e da instituição de educação básica e superior. 4.2 GESTÃO DA APRENDIZAGEM. Os programas de ensino indicam requisitos para o respectivo corpo docente quanto à qualificação acadêmica e/ou profissional e práticas pedagógicas. Na perspectiva institucional, qualidade está relacionada ao grau de aquisição, pelo aluno formado, dos conhecimentos específicos e competências definidas nos objeti- vos de aprendizagem dos programas. Em outras palavras, o indi- cador de qualidade de uma escola é o nível de aprendizado dos alunos. Ao posicionarmos aprendizagem como variável fim, atributos e comportamentos de professores e alunos ou mesmo métodos de ensino que tendem a ser foco de discussões pedagógicas, assumidos como fatores determinantes de sucesso, passam a se tornar variáveis de ajuste de um processo construído e monitora- do para aferir a eficácia dos seus vários componentes em promo- ver aprendizado. Esse processo se denomina gestão da aprendizagem e parte de objetivos descritos em termos de fundamentos e habilidades, desenho de avaliações adequadas para mensuração de tais obje- tivos e critérios que vão além de certo/meio certo/errado, mas que apontam níveis de desenvolvimento dos alunos, bem como lacunas de aprendizagem, frente aos objetivos estabelecidos. Na grande maioria das escolas, o planejamento da disciplina parte do conteúdo que necessita ser coberto no período. Refle- xões sobre como deve ser o desenho das avaliações surgem alguns dias antes das datas no calendário. Critérios de correção são elaborados pouco antes da correção (muitas vezes ficam na cabeça do professor) e notas são dadas em termos quantitativos. O aluno entende um 5,0 em termos de ‚passei‛, enquanto o professor o entende em termos de ‚lá vai um aluno que terá dificuldades‛. Essa lógica é oposta à gestão da aprendizagem, na qual primeiro se planeja fundamentos/habilidades e quais serão as formas de aferir níveis de aprendizado (ou seja, instrumentos de avaliação, valendo ou não nota). O desenho das atividades, ênfase dosconteúdos, a forma de avaliação, materiais, etc., são consequência dos objetivos de aprendizagem da disciplina. Nessa lógica, critérios de avaliação são documentados em formato de escala de proficiência, de maneira que o aluno entenda um ‚5,0‛ exatamente em termos do que foi aprendido adequadamente e o que ainda necessita maior dedicação. Do ponto de vista amplo, um processo de ensino pautado em gestão da aprendizagem é considerado ‚centrado no aluno‛, não em virtude do método de ensino em destaque, mas por permitir, a partir do momento que desempenho acadêmico seja descrito em termos de lacunas e pontos fortes, que o aluno seja ativo na busca de aprimoramento. Do ponto de vista do professor, a gestão da aprendizagem em sala de aula, ao mesmo tempo em que confere liberdade na escolha de ênfases, formatos e estilos em função do contexto, realidade social, anamneses e diagnósticos, permite maior sinto- nia com as demandas institucionais e harmonização de discursos. Cada docente devera realizar em sala o acordado e pactuado pela escola, em vista os documentos norteadores (DCN´s, PCN´s e PPP), gerando indicadores de aprendizagem (não limitados a médias e reprovações) que permitam à escola prestar contas à sociedade se o ensino que se comprometeu a entregar produziu os efeitos almejados. São pontos que envolvem uma gestão de aprendizagem efici- ente: 1. Definição de objetivos de aprendizagem para os programas de ensino. 2. Tradução dos objetivos de aprendizagem dos programas em comportamentos e conhecimentos observáveis e mensuráveis. Por exemplo, ‚pensamento crítico‛ foi traduzido em habilida- des tais como: construção de hipóteses, argumentação e uso da lógica e avaliação de evidências. A estas habilidades são conferidos quatro graus de expressão de maturidade (grau 1 corresponde à inexistência ou inconsistência e grau 4 a pleno domínio). 3. Elaboração de avaliações com perguntas estruturadas que nos permitam capturar os conhecimentos e habilidades almejados. 4. Estabelecimento de fóruns com diretores, professores e coor- denadores para discussão dos resultados desse processo e re- flexões sobre ações de cunho pedagógico e institucional com vistas à melhoria contínua do processo de ensino e aprendi- zagem. Utilizamos o termo ‚gestão da aprendizagem‛ por este en- globar aspectos como mensuração, identificação de lacunas, desenho de ações, estabelecimento de metas e subsequente esforço de mobilização de pessoas para o alcance das metas. A gestão da aprendizagem envolve o exercício de comprome- timento, aprimoramento, planejamento e circulação de informa- ções para o empoderamento de todos e todas para uma gestão participativa, democrática e de qualidade na escola pública. 4.3 PLANEJAMENTO E GESTÃO EDUCACIONAL. A ação do gestor escolar será tão ampla ou limitada, quão ampla ou limitada for sua concepção sobre a educação, sobre a gestão escolar e o seu papel profissional na liderança e organiza- ção da escola. No entanto, essa concepção, por mais consistente, PÁG.35 coerente e ampla que seja, de pouco valerá, caso não seja colo- cada em prática mediante uma ação sistemática, de sentido glo- bal, organizada, seguramente direcionada e adequadamente especificada em seus aspectos operacionais. E essas condições somente são garantidas mediante a adoção de uma sistemática de planejamento das ações educacionais em todos os segmentos de trabalho da escola. Isso porque sem planejamento, que organize e dê sentido e unidade ao trabalho, as ações tendem a ser improvisadas, aleató- rias, espontaneístas, imediatistas e notadamente orientadas pelo ensaio e erro, condições que tantos prejuízos causam à educação. Sem planejar, trabalha-se, mas sem direção clara e sem consis- tência entre as ações. Dá-se aula, mas não se promove aprendi- zagens efetivas; realizam-se reuniões, mas não se promove con- vergência de propósitos em torno das questões debatidas; reali- za-se avaliações, mas seus resultados não são utilizados para melhorar os processos educacionais; enfrenta-se os problemas, mas de forma inconsistente, reativa e sem visão de conjunto, pela falta de análise objetiva da sua expressão e da organização das condições para superá-las. Planejar constitui-se em um processo imprescindível em todos os setores da atividade educacional. É uma decorrência das con- dições associadas à complexidade da educação e da necessidade de sua organização, assim como das intenções de promover mudança de condições existentes e de produção de novas situa- ções, de forma consistente. O planejamento educacional surgiu como uma necessidade e um método da administração para o enfrentamento organizado dos desafios que demandam a inter- venção humana. Cabe destacar também que, assim como o con- ceito de administração evoluiu para gestão, também o planeja- mento como formalidade evoluiu para instrumento dinâmico de trabalho. Planejar a educação e a sua gestão implica em delinear e tor- nar clara e entendida em seus desdobramentos, a sua intenção, os seus rumos, os seus objetivos, a sua abrangência e as perspec- tivas de sua atuação, além de organizar, de forma articulada, todos os aspectos necessários para a sua efetivação. Para tanto, o planejamento envolve, antes de tudo, uma visão global e abran- gente sobre a natureza da Educação, da gestão escolar e suas possibilidades de ação. Vale dizer que as finalidades, princípios e diretrizes da educa- ção somente são promovidos, na medida em que sejam traduzi- dos por ações integradas, sistemáticas, organizadas e orientadas por objetivos detalhados, responsabilidades e competências estabelecidas, tempo e recursos previstos e especificados. Esse processo de planejamento resulta em um plano de ação, cujo papel é o de servir como mapa norteador da ação educacional, em vista do que deve estar continuamente sobre a mesa de tra- balho. Planos nas gavetas e que não são cotidianamente consul- tados para a orientação das ações a serem realizadas e para o monitoramento e avaliação das já realizadas, têm valor meramen- te formal (Lück, 2008). Como vimos, o planejamento é inerente ao processo de ges- tão, constituindo-se na sua primeira fase. É considerado como a mais básica, essencial e comum de suas dimensões, uma vez que é inerente a todas as outras, já que sem planejamento não há a possibilidade de promover os vários desdobramentos da gestão escolar, de forma articulada. Apesar da importância do planejamento, no entanto, há fortes indícios de que as ações educacionais carecem de um processo de planejamento competente e apropriado para produzir planos ou projetos com capacidade clara de orientar todos e cada mo- mento das ações necessárias. Observa-se haver em várias circuns- tâncias do contexto educacional a desconsideração em relação à importância do planejamento para a determinação da qualidade do ensino, pela organização do seu trabalho com esse foco. Essa desconsideração é demonstrada quando os planos são delinea- dos com uma orientação formal, de que resulta, por exemplo, que o Projeto Político-Pedagógico da Escola e o seu Plano de Desen- volvimento fiquem guardados em gavetas ou armários, em vez de estarem na mesa do diretor, dos coordenadores ou supervisores pedagógicos e dos professores; que até mesmo sejam desconhe- cidos por profissionais que trabalham na escola; que os planos de aula sejam cópias daqueles realizados em outras turmas e outros anos letivos, isto é, ‚planeja-se‛, mas não se usa o plano resultan- te para orientar o cotidiano do trabalho escolar (ou, na pior das hipóteses, que esses planos nem existem, por falta de acompa- nhamento e reforço por parte do diretor escolar); que os planos sejam considerados como meros instrumentos burocráticos e não como mapas orientadores do trabalho. Ao planejar e liderar o processo de planejamento,cabe ao di- retor escolar promover as condições para que o processo seja realizado de modo a contribuir, como é o sentido do planejamen- to, para que se promova: o desenvolvimento de maior compreensão dos fundamentos e dos desdobramentos Dimensões da gestão escolar e suas competências 35 das ações educacionais; a construção de um quadro abrangente e com maior clareza sobre o conjunto dos elementos envolvidos em relação à situação sobre a qual se vai agir e sua relação com interfaces; uma maior consistência e coerência entre as ações educacio- nais; uma preparação prévia para a realização das ações; um melhor aproveitamento do tempo e dos recursos disponí- veis; uma concentração de esforço na direção dos resultados dese- jados; uma superação da tendência à ação reativa, improvisada, rotineira e orientada pelo ensaio e erro; um controle e redução das hesitações, ações aleatórias e de ensaio e erro; a formação de acordos e integração de ações; a definição de responsabilidades pelas ações e seus resulta- dos; o estabelecimento de unidade e continuidade entre opera- ções e ações, superando-se a fragmentação e mera justaposi- ção destas. Quem planeja, examina e analisa dados, comparando-os crite- riosamente, coteja-os com uma visão de conjunto, estuda limita- ções, dificuldades e identifica possibilidades de superação das mesmas. Esse processo de análise, cotejamento, dentre outros processos mentais, define o planejamento como um processo de reflexão diagnóstica e prospectiva mediante o qual se pondera a realidade educacional em seus desdobramentos e se propõe intervenções necessárias. PÁG.36 4.4 AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL, DE DESEMPENHO E DE APRENDIZAGEM. Verifica-se que o monitoramento e avaliação em educação, embora constituam-se em processos essenciais da sua gestão, não são práticas comuns em escolas e apenas recentemente estão sendo adotados como práticas na gestão de sistemas de ensino. Aliás, estranhamente, apesar de seu caráter de ‚ feedback‛ necessário ao trabalho educacional, a referência à sua possível instituição nas escolas provoca entre seus profissionais fortes reações e até mesmo resistência. Talvez porque sejam atribuídos significados inadequados a eles: o monitoramento é visto como um controle cerceador e limitador, portanto, negativo, e a avalia- ção como uma estratégia de encontrar erros e causar reprova- ções. Sugerimos a proposta que esse entendimento pode ter mais a ver com o modo como a avaliação é praticada nas escolas do que como seu real significado pedagógico. Prestemos atenção à nossa linguagem a respeito: ‚vou corrigir trabalhos‛, ‚agora não adianta mais avaliar, os alunos não podem ser reprovados‛ (afir- mação de professores de sistemas de ensino que adotaram o ciclo escolar). Esses depoimentos, por certo, expressam um senti- do punitivo atribuído à avaliação que se difunde acriticamente para outras práticas de monitoramento e avaliação. Percepções de tal ordem revelam, portanto, um entendimento inadequado e até mesmo prejudicial sobre o monitoramento e avaliação, que atribui impressões com resultados negativos, den- tre os quais se destacam a cultura de estudar para a prova, a prática da cola, o alerta dado pelos professores aos seus alunos − ‚prestem atenção, que pode cair na prova‛− que resultam na desvalorização da aprendizagem como modo de ser e de fazer do cotidiano escolar. Os índices de reprovação e distorção ida- de/série, presentes em nossas escolas são indicadores de uma prática inadequada de avaliação da aprendizagem escolar e de falta de monitoramento contínuo dos processos pedagógicos (Lück e Parente, 2005; Lück, 2006). Mediante a associação entre monitoramento e avaliação pelos próprios profissionais que atu- am na escola, com uma perspectiva reflexiva e crítica de estudo sobre suas práticas e seus resultados, seria possível agir pedago- gicamente sobre situações como essas e superá-las. A desconsideração ao monitoramento de processos de avalia- ção dos resultados das práticas educacionais como estratégia de gestão educacional ocorreu a partir da interpretação dada pelas concepções denominadas críticas da educação que, ao valoriza- rem as dimensões sociopolíticas, inadequadamente, desvaloriza- ram as dimensões técnicas, mediante a rotulação ligeira de ‚tec- nicismo‛ dentre as quais a medida e a avaliação, que em muitas instituições formadoras de profissionais da educação desaparece- ram dos seus currículos, em prejuízo de uma formação voltada para as necessidades concretas do trabalho educacional. Cabe destacar que essa tendência resultou na mera aplicação de ins- trumentos e rotinização desse processo, aplicado, sem a conse- qüente reflexão e retroalimentação das práticas educacionais, incluindo a reflexão sobre o significado por trás das mesmas, em detrimento da sua orientação como práxis pedagógica. A grande escassez de referências bibliográficas sobre monito- ramento e avaliação em relação à educação brasileira é um indi- cador da desconsideração dessa fundamental dimensão da ges- tão educacional. O que existe diz respeito a sistemas educacio- nais, Dimensões da gestão escolar e suas competências sobretu- do em relação ao SAEB, nada havendo de substancial sobre o processo nas escolas ou mesmo na gestão de sistemas. Fato curioso é que a expressão da língua inglesa accountability que implica na prática de monitoramento e avaliação, não tem cor- respondente em português. Ela representa responsabilidade e prestação de contas, combinados. O termo é traduzido ou como responsabilidade ou como prestação de contas, desconectando ambos os significados, daí porque ser preferível adotar o termo inglês accountability, assim como já utilizamos feedback, pelo mesmo motivo. A avaliação constitui-se no processo de medida e julgamento dos resultados parciais obtidos durante a realização de um plano ou projeto e os integrados ao seu final. Esses dois estágios da avaliação apresentam características diferentes constituindo a avaliação formativa e a somativa². Conforme Rios (2006) indica, a avaliação formativa é processual (Rios, 2006) e nesse sentido acompanha o monitoramento, realizando um julgamento a res- peito da eficácia das ações implementadas passo a passo, permi- tindo a correção necessária de rumos, ritmos e recursos proces- suais, de modo que no final, mediante avaliação formativa e de caráter globalizador, se possa julgar os resultados obtidos pelo conjunto das ações. Mediante a avaliação de planos e projetos pode-se conhecer: em que medida estão sendo realizados os objetivos propostos e esperados; que outros objetivos eventuais estariam também sendo pro- movidos; que fatores mais contribuem para explicar os resultados ob- servados; que perspectivas existiriam para promover melhores resulta- dos; que decisões devem ser tomadas para a maximização e refor- ço dos resultados obtidos e realização de outros. Sendo a eficácia e a eficiência intimamente interligadas, o monitoramento e a avaliação são duas ações inter-relacionadas. Acrescente-se que não é possível fazer monitoramento sem um julgamento (avaliação) da propriedade das ações, seu ritmo, sua intensidade, etc. Por outro lado, uma avaliação de resultados, para ser adequada, envolve uma análise e interpretação dos re- sultados à luz das condições que os criaram, o que pressupõe a realização de avaliação. 4.5 O PROFESSOR: FORMAÇÃO E PROFISSÃO. Num olhar retrospectivo na esteira da história Hamze (2011) afirma que se podem contemplar etapas que marcaram o ensino e também exerceram influência no modo de atuação do profes- sor. Resumidamente, do ensino tradicional aos dias atuais é pos- sível perceber que a educação, no Brasil, sofreu mudanças. O ensino tradicional, enciclopédico, perdurou por longos tre- zentospreocupados com a escola, Maurício Tragtenberg representa hoje uma impor- tante corrente de pensamento e ação político pedagógica cujas raízes estão em Bakunin, Kropotkin, Malatesta e Lobrot. O pensamento de Tragtenberg na educação mostra os limites da escola como instituição disciplinadora e burocrática, e as pos- sibilidades da autogestão pedagógica, como iniciação à autoges- tão social. A burocracia escolar é poder, repressão e controle. Critica tanto os países capitalistas quanto os socialistas, que de- sencantaram a beleza e a riqueza do mundo e introduziram a racionalização sem sentido humano. A burocracia perverte as relações humanas, gerando o conformismo e a alienação. As propostas de Tragtenberg mostram as possibilidades de organização das lutas das classes subalternas e de participação política do trabalhador na empresa e na escola visando à reedu- cação dos próprios trabalhadores em geral e dos trabalhadores em educação, em particular. Suas principais obras são: Adminis- tração, Poder e Ideologia (1980), Sobre Educação, Política e Ideo- logia (1982) e Burocracia e Ideologia (1974). Professores, alunos, funcionários, diretores e orientadores. As relações entre todos estes personagens no espaço da escola reproduzem, em escala menor, a rede de relações que existe na sociedade. As áreas do saber se formam a partir de práticas políticas dis- ciplinares, fundadas em vigilância. Isso significa manter o aluno sob um olhar permanente, registrar, contabilizar todas as obser- vações e anotações sobre os alunos, através de boletins individu- ais de avaliação, ou uniformes/ modelo, por exemplo, perceber aptidões, estabelecendo classificações rigorosas. A prática de ensino em sua essência reduz-se à vigilância. Não é mais necessário o recurso à força para obrigar o aluno a ser aplicado. É essencial que o aluno, como o detento, saiba que é vigiado. Porém há um acréscimo: o aluno nunca deve saber que está sendo observado, mas deve ter a certeza de que poderá sempre sê-lo. Dessa forma, a escola se constitui num observatório político, um aparelho que permite o conhecimento e o controle perpétuo de sua população através da burocracia escolar, do orientador educacional, do psicólogo educacional, do professor ou até dos próprios alunos. É necessário situar ainda que a presença obriga- tória com o diário de classe nas mãos do professor, marcando ausências e presenças, atribuindo meia falta ao aluno que atrasou uns minutos ou saiu mais cedo da aula, é a técnica de controle pedagógico burocrático por excelência herdada do presídio. No seu processo de trabalho, o professor é submetido a uma situação idêntica à do proletário, na medida em que a classe dominante procura associar educação e trabalho, acentuando a responsabilidade social do professor e de seu papel como guar- dião do sistema. Nesse processo, o professor contratado ou precário, sem con- trato e sem estabilidade, substitui o efetivo ou estável, conforme as determinações do mercado, colocando-o numa situação idên- tica à do proletário. Na unidade escolar básica é o professor que julga o aluno mediante a nota, participa dos conselhos de classe, nos quais o destino do aluno é julgado, define o programa de curso nos limites prescritos e prepara o sistema de provas ou exames. Para cumprir essa função, ele é inspecionado, é pago por esse papel de instrumento de reprodução e exclusão. A própria dispo- sição das carteiras na sala de aula reproduz relações de poder: o estrado que o professor utiliza acima dos ouvintes, estes sentados em cadeiras linearmente definidas próximas a uma linha de mon- tagem industrial, configura a relação saber/poder e dominante/ dominado. O poder professoral manifesta-se através do sistema de provas ou exames em que ele pretende avaliar o aluno. Na realidade, está selecionando, pois uma avaliação de uma classe pressupõe um contato diário demorado com a mesma, prática impossível no atual sistema de ensino. O disciplinamento do aluno tem no sistema de exame um ex- celente instrumento: o pretexto de avaliar o sistema de exames. Assim, a avaliação deixa de ser um instrumento e torna-se um fim em si mesmo. O fim, que deveria ser a produção e transmissão de conhecimentos, acaba sendo esquecido. O aluno submete-se aos exames e provas. O que prova a prova? Prova que o aluno sabe como fazê-la, não prova seu saber. O fato é que, na relação professor/ aluno, enfrentam-se dois tipos de saber: o inacabado do professor e a ignorância do aluno. Não há saber absoluto nem ignorância absoluta. No fundo, os exames dissimulam, na escola, a eliminação dos pobres, que se dá sem exame. Muitos deles não chegam a fazê-la, são excluídos pelo aparelho escolar muito cedo, veja-se o nível de evasão esco- lar na 1ª série do 1º grau e nas últimas séries do 1º e 2º graus. Qualquer escola se estrutura em função de uma quantidade de saber, medido em doses, administrado homeopaticamente. Os exames sancionam uma apropriação do conhecimento, um mau desempenho ocasional, um certo retardo que prova a incapaci- dade do aluno de apropriar-se do saber. Em face de um saber imobilizado, como nas Tábuas da Lei, só há espaço para humildade e mortificação. Na penitência religiosa só o trabalho salva, é redentor; portanto, o trabalho pedagógico só pode ser sacrificado. Para não desencorajar os mais fracos de vontade, surgem os métodos ativos em educação. A dinâmica de grupo aplicada à educação alienou-se quando colocou em pri- meiro plano o grupo em detrimento da formação. A utilização do pequeno grupo como técnica de formação deve ser vista como uma possibilidade entre outras. Tal técnica não questiona radi- calmente a essência da pedagogia educacional. O fato é que os grupos se acham diante de um monitor, aqueles caracterizam o não saber e este representa o saber. Ao invés de colocar como tarefa pedagógica dar um curso e o aluno recebe-lo, por que não colocá-lo em outros termos: em que medida o saber acumulado e formulado pelo professor tem chance de tornar se o saber do aluno? Por tudo isso a escola é um espaço contraditório: nela o professor se insere como reprodutor e pressiona como questio- nador do sistema, quando reivindica. Essa é a ambiguidade da função professoral. A possibilidade de desvincular saber de poder, no plano esco- lar, reside na criação de estruturas de organização horizontais em que professores, alunos e funcionários formem uma comunidade real. É um resultado que só pode vir de muitas lutas, de vitórias PÁG.4 setoriais e derrotas também. Mas sem dúvida a autogestão da escola pelos trabalhadores da educação, incluindo os alunos, é a condição de democratização escolar. Sem escola democrática não há regime democrático, portanto a democratização da escola é fundamental e urgente, pois ela forma o homem, o futuro cida- dão. 1.1 TEORIA DA EDUCAÇÃO, DIFERENTES CORRENTES DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO BRASILEIRO. 1.1.1 A TENDÊNCIA LIBERAL TRADICIONAL A tendência tradicional está no Brasil, desde os jesuítas. O principal objetivo da escola era preparar os alunos para assumir papéis na sociedade, já que quem tinha acesso às escolas eram os filhos dos burgueses e a escola tomava como seu papel principal, fazer o repasse do conhecimento moral e intelectual porque através deste estaria garantida a ascensão dos burgueses e, con- sequentemente, a manutenção do modelo social e político vigen- te. Para tanto, a proposta de educação era absolutamente centra- da no professor, figura incontestável, único detentor do saber que deveria ser repassado para os alunos. O papel do professor estava focado em vigiar os alunos, acon- selhar, ensinar a matéria ou conteúdo, que deveria ser denso e livresco, e corrigir. Suas aulas deveriam ser expositivas, organiza- da de acordo com uma sequência fixa, baseada na repetição e na memorização.e oitenta e três anos e foi marcado pelos padres da Com- panhia de Jesus que trazem o professor como transmissor de conhecimentos. A partir da Escola Nova, em torno de 1932, o professor torna-se apenas um facilitador do processo de ensino e de aprendizagem. Neste seguimento, a escola de tendência tecni- cista, inserida no final dos anos 60 no Brasil, objetivava adequar e inserir o sistema educacional e o ensino com métodos educacio- nais norte americanos, ou seja, nos moldes do sistema de produ- ção capitalista e racional, o que tolhia a criatividade do professor. PÁG.37 Assim, por meio de métodos de ensino meramente técnico utiliza-se material sistematizado como manuais, módulos de ensino, livros didáticos, dispositivos audiovisuais, visando com isso a imediata produção de sujeitos competentes para atender o mercado de trabalho, com uma transmissão de informações rápi- das, objetivas e sem subjetividade. Passa a ser irrelevante o rela- cionamento interpessoal. Debates, discussão e questionamento não existem e tão pouco importam as relações afetivas e pessoais dos sujeitos envolvidos no processo de ensino. O relacionamento professor aluno é puramente técnico, o objetivo é o aluno calado recebendo, aprendendo e fixando informações e o professor administrando e transmitindo eficientemente a matéria visando a garantia na eficácia nos resultados da aprendizagem. O surgimento da Escola Crítica em 1993 possibilitou ao pro- fessor um novo direcionamento. A sua atuação passou a ter en- foque na construção e reconstrução do saber, de interação e articulação e participação na aprendizagem do aluno. Assim, percebe-se que a formação do professor acompanha a evolução educacional que ocorreu no Brasil e cada vez mais se acentua a necessidade de profissionalização do docente. Ao vivenciar o século XXI, observa-se que a construção dos saberes passa a ser dominada por novas tecnologias, no espaço e no tempo, e a formação do profissional professor torna-se efeti- vamente, cada vez mais importante no processo educacional. O Professor do século XXI precisa, então, ser um profissional da educação com espírito aguçado e muita vontade para aprender, razão pela qual o processo de formação torna-se mais e mais veemente para responder às demandas do mundo contemporâ- neo com competência e profissionalismo. Afinal, o que vem a ser a formação de professores? O que vem a ser a profissionalização? Quais são as características que envolvem a formação e a profissionalização? A palavra professor, proveniente do latim ‚professore‛, signifi- ca aquele que professa ou ensina uma ciência, uma arte, o saber, o conhecimento. Portanto, para poder ensinar, o professor preci- sa estar imbuído do conhecimento que lhe advém por meio da formação que se vai profissionalizando pela prática cotidiana. A capacitação do indivíduo para o trabalho docente se constitui em um ato educativo de criatividade e inovação. Mais que isso, se- gundo Libanio (2001), em seu livro a ‚Arte de formar-se‛, é um investimento pessoal de busca de conhecimento. Desse modo, o investimento na formação torna-se ponto de partida para as possibilidades de melhoria da profissionalidade e para a ressignificação de sua prática. Entende-se que a formação contribui para uma reflexão permanente voltada para a constru- ção de uma educação orgânica (MONTEIRO JÚNIOR, 2001, p. 88) que religa os saberes e vai ao encontro da dinâmica de desenvol- vimento do ser humano. Ressalte-se que o processo de formação do professor é um crescente e um continuum. Como indivíduo, ele é formado a cada dia, em momentos que fazem o seu cotidiano, e, como educador, molda-se no compromisso que consegue estabelecer com os alunos e demais atores que formam a comunidade escolar. E que escola são todos os que nela convivem e aprendem: professores, alunos, funcionários, famílias, membros da comunidade e gesto- res. Por isso, espera-se que o profissional da área de educação tenha uma visão sistêmica do papel de sua organização junto à sociedade e do seu papel junto à instituição para que possa tra- balhar novas formas de construção do conhecimento, visando à melhoria contínua da educação, bem como do ambiente escolar. A escola precisa ser um ambiente de prazer, aconchegante onde o aluno goste de estar por conta do profissionalismo do profes- sor. Perrenoud, define profissionalização sob dois pontos de vista. O primeiro denominado estático como sendo o grau em que um ofício manifesta as características de uma profissão; e o segundo seria um movimento dinâmico porque expressa o grau de avanço da transformação estrutural de um ofício, no sentido de uma profissão. Outra definição trazida por Nóvoa (1992), complemen- ta a intenção que se busca por meio desse texto: ‚A profissionali- zação é um processo, através do qual os trabalhadores melhoram o seu estatuto, elevam os seus rendimentos e aumentam o seu poder, a sua autonomia (p. 23). Assim o profissional professor pode ser considerado como um teórico-prático que adquiriu por meio de muito estudo e pelo desenvolvimento de suas vivências em sala de aula, o status e a capacidade para realizar com autonomia, responsabilidade e ousadia sua função. Além disso, o profissional professor é tam- bém uma pessoa em relação e evolução em que o saber da expe- riência lhe pode conferir maior autonomia profissional, juntamen- te com outras competências que viabilizam a sua profissão. Tor- na-se claro que os vocábulos ‚formação e profissionalização‛ estão intimamente imbricados e se complementam na relação que perfaz todo o trabalho do professor. O professor é um profis- sional do sentido. Podemos sinalizar ainda que para a formação de professores, é indispensável que a formação tenha como eixo de referência o desenvolvimento profissional, na dupla perspectiva do professor individual e do coletivo docente. Além disso, que o trabalho pos- sibilite e favoreça espaço de interação entre as dimensões pesso- ais e profissionais, promova os seus saberes e seja um compo- nente de mudança. Isto exige estudo e abertura para os desafios e persistência na busca do conhecimento. A profissão docente é um renovar-se todos os dias. Relacionar os dois temas a partir da legislação e dos autores, demonstra a necessidade de a formação integrar-se à profissio- nalização de forma consciente e humanizada. Por isso, a educa- ção continuada pode ocorrer além de escolas e universidades, em qualquer outro ambiente que traga um aprendizado. Pode ser em casa, no trabalho, no lazer. Proporcionar que os professores se atualizem e desenvolvam seus saberes, permitem-lhes articular teoria e prática, ou seja, unem conhecimentos científicos adquiri- dos na Universidade aliados à prática diária em sala de aula. Entende-se, assim, que ser educador é educar-se constante- mente por meio de aprendizado em que o conhecimento cons- truído resulta em novas relações com outros conhecimentos que, por sua vez, geram novas construções. Desse modo, a profissão docente renova-se todos os dias e é uma das pedras angulares imprescindíveis a qualquer intento de renovação do sistema edu- cativo. Discutir, então, sobre a formação do professor é discutir como manter o domínio e a qualidade do conhecimento e das técnicas que envolvem a profissão docente, a competência e a eficácia profissional. A preocupação com o desenvolvimento de uma ação educativa capaz de preparar alunos para a compreen- são e transformação da sociedade, constitui um compromisso com o processo. 4.6 A PESQUISA NA PRÁTICA DOCENTE. No que diz respeito à pesquisa escolar, entendemos que ela pode servir como um elemento significativo na construção e apropriação do conhecimento. Todavia, com o crescimento acele- PÁG.38 rado da tecnologia, as informações chegam aos nossos estudan- tes de uma forma muito fácile rápida, o que gera certo descon- forto por parte das instituições de ensino, uma vez que elas não conseguem acompanhar o mesmo ritmo. Segundo Abreu e Almeida (2008), essa realidade pode ser ex- plicada, em um primeiro momento, pela compreensão equivoca- da que os professores do ensino superior têm do conceito de pesquisa e, consequentemente, da pesquisa escolar. Em seguida, pelo despreparo na orientação das pesquisas em sala de aula. O fato de esses professores terem uma visão questionável da pes- quisa escolar e a dificuldade de encaminhar os estudantes para a pesquisa comprometem a efetivação da investigação e, conse- quentemente, da aprendizagem sobre o como fazer pesquisa. A pesquisa deve ser entendida não como mera cópia de tre- chos de livros, artigos, entre outros, mas como atividade impor- tante no processo de apropriação do conhecimento, já que é por meio dela que se pode apreender o conhecimento historicamente acumulado e avançar no conhecimento dos problemas que afli- gem o campo da educação. Ademais, ela favorece o trabalho pedagógico, uma vez que o professor pode trabalhar, ao mesmo tempo, com diversas áreas do conhecimento. No entanto, para que a pesquisa esteja presente no cotidiano da sala de aula, é imprescindível que o professor tenha clareza na elaboração do seu planejamento. Para Abreu e Almeida (2008), o conceito de pesquisa deve ser desmistificado e repensado levando-se em conta a prática educa- tiva. O processo de pesquisa requer um conjunto de atividades que devem ser orientadas pelo professor, visando buscar, desco- brir e criar um determinado conhecimento acerca de um objeto investigado. Dessa forma, a curiosidade estimulada no aluno deve levá-lo a duvidar, a formular hipóteses, a confirmar suas certezas, tomando consciência de si mesmo enquanto pesquisador e do seu objeto de estudo. Em relação à pesquisa da prática pedagógica, conforme ad- verte Oliveira (2000, p. 148) em A pesquisa em didática no Brasil – da tecnologia do ensino à pesquisa pedagógica, mais do que ensinar, planejar, orientar e avaliar a aprendizagem a partir de modelos que se constituem a priori, é preciso preocupar-se com a reflexão dos alunos, futuros professores, sobre a realidade do ensino, compreendendo-a e problematizando-a. Todavia, essa reflexão deve ser proporcionada nos cursos de Pedagogia, já que ele se constitui, em grande medida, o campo de conhecimento responsável por investigar a natureza e as finalidades da educa- ção na sociedade. Em Educação: Pedagogia e Didática – o campo investigativo da pedagogia e da didática, Libâneo (2000) reconhece a Pedago- gia como uma ciência prática que explicita objetivos e formas de intervenção metodológica e organizativa que ocorrem no contex- to da atividade educativa, preocupando-se com a transmissão e assimilação ativa dos conteúdos, ou seja, ela contribui com a investigação da própria prática educativa oferecendo os suportes teóricos advindos das demais ciências da educação. Assim, acredita-se na importância de uma aprendizagem par- ticipativa, significativa e autonomizante, capaz de proporcionar ao aluno novos conhecimentos, novas ações e, portanto, condições de intervir e mudar o contexto em que vive e convive. É nesse sentido que em Contribuição da didática para a formação de professores – reflexões sobre o seu ensino, Alarcão (2000, p. 181) afirma que o aluno surge como pesquisador e o professor, como coordenador da aprendizagem na pesquisa. Em sua prática pedagógica, o professor pode atuar em dife- rentes situações: na sala de aula em relação ao processo ensino e aprendizagem, nas questões relacionadas ao conteúdo e currícu- lo, na relação professor aluno, nas questões relacionadas à gestão escolar, enfim, em diferentes situações que podem gerar proble- mas na sua prática pedagógica. Daí a necessidade do professor estar assegurado por atividades investigativas. Para Libâneo (2005), está por traz do conceito de professor a ideia de alguém que ajuda os outros a desabrochar suas capaci- dades mediante atividades socialmente estabelecidas por um currículo. Desse modo, cabe ao professor, pela via da pesquisa, se revestir de uma ferramenta favorável ao desenvolvimento do educando. Na mesma perspectiva, Abreu e Almeida (2008) afirmam que a pesquisa sobre a prática pedagógica é um processo fundamental na construção do conhecimento sobre a própria prática, trazendo contribuições tanto para o desenvolvimento profissional dos professores como também para as instituições educativas a que eles pertencem. Segundo Imbernón (2002, p. 112-113), ‚*...+ o conhecimento pedagógico gerado pelo professor é um conheci- mento ligado à ação prática, não podendo estar desvinculado da relação teoria e prática‛. Há quatro grandes razões para que os professores façam pes- quisa sobre a sua própria prática, a saber: para saber atuar efeti- vamente em relação às questões relacionadas ao currículo e à sua atuação profissional, buscando meios para enfrentar os proble- mas que podem emergir de sua prática; para contribuir na cons- trução de um patrimônio de cultura e conhecimento dos profes- sores como grupo profissional; e para contribuir nas discussões em torno dos problemas educativos (ABREU; ALMEIDA, 2008). Todavia, embora reconheçamos o papel da pesquisa na for- mação e na prática docente e a sua importância para a aproxima- ção e o conhecimento da realidade educacional e da relação teoria e prática, concordamos com Diniz-Pereira e Lacerda (2009) quando afirmam que o desenvolvimento de pesquisas na prática docente é algo ainda polêmico no meio acadêmico. Na concepção desses autores, a possibilidade ou não de haver pesquisas na prática pedagógica está relacionada a questões de poder, pois ainda há pesquisadores que encaram a pesquisa na prática docente como algo que possa competir com a pesquisa acadêmica e abalar sua legitimidade. Muitos acadêmicos conside- ram a pesquisa científica como modelo para a investigação do professor. Aí parece residir a razão da discórdia, pois, para alguns teóricos, essa investigação pode se configurar como qualquer outra coisa exceto como pesquisa científica. Para Diniz-Pereira e Lacerda (2009), a pesquisa do professor da educação básica sobre a prática docente favorece a discussão permanente acerca do currículo escolar, da prática e da proble- mática social, possibilitando que os professores se firmem en- quanto sujeitos responsáveis por sua própria formação, apoiados pelo conhecimento teórico e consigam refletir sobre seu cotidia- no escolar. Da mesma forma, a pesquisa pode favorecer a emancipação docente, trazendo autonomia aos professores, que deixam de ser meros executores de ideias pensadas por outros para atuarem e contribuírem na construção e sistematização do conhecimento produzido por eles, livres das pressões externas. Por conhecerem as teorias presentes na prática pedagógica, dialogam com o co- nhecimento teórico produzido fora do contexto escolar. Ademais, a prática das pesquisas docentes pode fortalecer na escola o trabalho coletivo entre professores, potencializando suas ações PÁG.39 investigativas e contribuindo efetivamente para o seu desenvol- vimento profissional. É inegável a contribuição da pesquisa nos processos formati- vos, uma vez que a prática investigativa pressupõe a articulação de processos cognitivos, linguísticos, criativos, dialógicos e outros mais. A pesquisa, portanto, interfere positivamente na constitui- ção dos saberes docentes e na compreensão de sua própria prá- tica profissional. Favorece a tessitura de uma escola em que o conhecimento produzido passa a ser sistematizado, discutido, socializado – uma escola em que as proposições externas se mis- turam às proposições internas. Por fim, do ponto de vista político, a pesquisa na prática docente também pode ser vista comoum movimento contra-hegemônico que contribui para a ruptura de uma determinada forma de saber e poder (DINIZ-PEREIRA, 2002). Socializando os saberes oriundos da prática, e tomando a teoria como texto cuja serventia é a interlocução com esses saberes, a prática investigativa na escola favorece o esfacelamento de uma relação endurecida, em que tradicionalmente a teoria era tomada como texto a ser transformado em método e aplicado na prática (DINIZ-PEREIRA; LACERDA, 2009, p. 1234). 4.7 A DIMENSÃO ÉTICA DA PROFISSÃO. Há uma confusão na compreensão dos termos ética e moral, inclusive levando a crer que ambos têm o mesmo significado. Deixo claro que isto não está correto. Vamos compreender o conceito de ética para depois diferenciá-lo de moral. Quando falamos sobre ética, parece que as coisas estão indo mal. Parece que há uma crise e logo nos reportamos a escândalos envolvendo a administração pública. "Ora, cada um de nós tem sua própria ética baseada nas regras impostas pelo grupo do qual fazemos parte cujas ações se fundamentam na cultura transmitida de geração a geração e que nos diz o que é certo ou errado". ‚A ética, como ciência do ethos, é um saber elaborado segun- do regras ou segundo uma lógica peculiar‛ segundo o ensina- mento de Patrus-Penas e Castro (2010, p. 32). É a ética, conforme Srour (2011, p.21), que esclarece o motivo que leva os agentes sociais a tomarem esta ou aquela decisão, orientados por este ou aquele valor, condicionados por estes ou aqueles interesses. Portanto, ser ético, significa ser um agente social cujas decisões são fundamentadas na moral do grupo ao qual pertence e são tomadas com base em valores e interesses que busquem o bem comum. Cada sociedade tem sua ética própria, assim, não podemos dizer que há certo ou errado quando se compara o papel que se atribui à mulher no ocidente com aquele preconizado no Oriente Médio ou na cultura muçulmana. O comportamento moral é legislado pela ética que irá definir o que é bom e investigar princípios da moralidade de uma socie- dade. Ela fundamenta e justifica certos comportamentos, mas não cria a moral. A moral de um povo é o conjunto de normas vigen- tes consideradas como critérios que orientam o modo de agir dos indivíduos daquela sociedade. ‚Quando se qualifica um compor- tamento como bom ou mau, tem-se um critério que é definido no espaço da moralidade‛ ensina Rios (2011) e isso interessa à ética no sentido de procurar o fundamento dos valores que ofe- recem sustentação para este comportamento bom ou mau. As escolhas que estes agentes fazem considerando suas avali- ações sobre o bem e o mal; o mal e o bem (quando se admite que há um mal necessário para que um bem maior seja atingido); o bem e o bem (quando só é possível beneficiar uma das partes); e o mal e o mal (quando se admite que ‚entre os males, o me- nor‛) é o que diferencia fatos morais (estudados pela ética) de fatos sociais (do cotidiano). O ‚exercício habitual de uma tarefa, a serviço de outras pes- soas‛ é o conceito que Sá (2009) atribui à profissão. Os benefí- cios, tanto para quem desempenha esta tarefa como para quem é beneficiado por sua execução também integram este conceito. No exercício de nossa profissão, nos deparamos frequente- mente com dilemas éticos que exigem reflexão. Por exemplo, o que dizer de um advogado que deve defender um criminoso? Ou de um contador que, mesmo sabendo das atividades ilícitas de seu cliente, tenha que lhe prestar serviço? Ou de um da obrigato- riedade de se reportar um acidente ocorrido no trabalho ainda que isto cause impactos negativos para a empresa junto à socie- dade? Por outro lado, há uma situação interessante a ser observada. Os trabalhadores muitas vezes se queixam da pressão sofrida no ambiente de trabalho, mas quando são chamados a revelar a causa do estresse, não apontam suas verdadeiras causas acredi- tando que colocarão em risco sua competência profissional. A ética, permeia o exercício da profissão na medida em que a conduta profissional condizente com a moral e a regulação feita pela lei garante benefícios para os profissionais, a categoria à qual pertencem e para a sociedade. Vale aqui ressaltar que a conduta ética universal independe das culturas cujos costumes são diferenciados, ou seja, o zelo, a honestidade, e a competência são virtudes desejadas em qualquer exercício profissional inde- pendente da área de atuação ou cultura em que for desenvolvido. Sendo assim, a profissão não deve ser um meio, apenas de ga- nhar a vida, mas de ganhar pela vida que ela proporciona, repre- sentando um propósito de verdade. Para um professor, o seu patrimônio profissional é constituído também da percepção que se tem dele, de suas decisões na vida pessoal e de sua conduta na organização com os colegas e na sua relação com os alunos. Devemos entender e reforçar o valor do código de ética da profissão de educador no sentido de preservar o nome profissional que causa impactos em toda categoria. Ao tratar as condutas antiéticas de um educador, reforçamos a importância de se preservar a imagem pessoal e profissional que faz por merecer a confiança da sociedade e das organiza- ções. O que se faz durante toda uma vida, em poucos dias pode desmoronar, diante dos efeitos malévolos da ação dos caluniado- res, traidores, difamadores, chantagistas e intrigantes‛ diz Sá (2010). Energia e inteligência são necessárias para que possamos nos contrapor aos resultados das ações que buscam destruir uma imagem positiva, principalmente da tão maltratada carreira edu- cacional. BIBLIOGRAFIA PARA ESSE CAPÍTULO - ABREU, Roberta Melo de Andrade; ALMEIDA, Danilo Di Manno de. Refletindo sobre a pesquisa e sua importância na forma- ção e na prática do professor do ensino fundamental. Revista Entreideias: Educação, Cultura e Sociedade, n. 14, p. 73-85, jul./dez. 2008. - LUCK Heloísa. Dimensões de gestão escolar e suas competên- cias. Curitiba: Editora Positivo, 2009. - NÓVOA, António. "Concepções e práticas de formação contí- nua de professores". In Formação Contínua de Professores - Realidades e Perspectivas. Aveiro: Universidade de Aveiro, 1991. PÁG.40 - Documento de Referência da CONAE 2010. BRASIL, MEC. Plano de Desenvolvimento da Educação. Brasília: MEC, 2007 Disponível em http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/conae/ documento_referencia.pdf - DEMO, P. Educação pelo avesso: assistência como direito e como problema. São Paulo: Cortez, 2000. - FREIDSON, E. O renascimento do profissionalismo. São Paulo: EDUSP, 1998. - DINIZ-PEREIRA, Julio Emílio; LACERDA, Mitsi Pinheiro de. Pos- síveis significados da pesquisa na prática docente: ideias para fomentar o debate. Revista Educação e Sociedade, Campinas, v. 30, n. 109, p. 1229- 1242, set./dez. 2009. - FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1997. - GUIMARÃES, Valter Soares. Formação de professores: saberes, identidade e profissão. Campinas, SP: Papirus, 2004. - HAMZE, Amélia. Governabilidade e Governança. Disponível em:e afetivas indispensáveis ao atendimento de necessidades individuais e sociais dos alunos.” (Libâneo, 2005, pág. 117). Considerando que “a função social da escola é favorecer acesso ao conhecimento de forma profícua” assinale a al- ternativa que melhor se relaciona ao pensamento de Libâ- neo: A) A escola pública brasileira, mediante a forma como organiza seu trabalho pedagógico e estabelece seus regulamentos, ritmos e rituais, ainda não é capaz de produzir o sucesso es- colar e de alcançar os fins educacionais assegurados constitu- cionalmente. B) É a condição de classe social dos alunos que determina sua entrada ou não no sistema de ensino, bem como sua perma- nência por um tempo determinado. C) São os alunos das camadas menos favorecidas economica- mente da população brasileira que engrossam as estatísticas da repetência, da evasão e do abandono escolar, constituin- do-se numa faceta do fracasso escolar. D) A análise da função social da escola está intrinsicamente rela- cionada com o conceito de fracasso escolar diretamente rela- cionado com o conceito de avaliação, pois a forma como esta tem sido concebida e praticada tem contribuído para sedi- mentar tal fracasso. E) A escola é uma instituição social com o objetivo explícito: o desenvolvimento das potencialidades, físicas, cognitivas e afe- tivas dos alunos, por meio da aprendizagem dos conteúdos (conhecimentos, habilidades, procedimentos, atitudes e valo- res), desenvolvendo nos alunos a capacidade de se tornarem cidadãos participativos na sociedade em que vivem. 52. Considerando o sucesso/fracasso escolar, analise: I. As crianças entram para a escola com possibilidades de suces- so e de fracasso escolar e as relações construídas dentro da sala de aula podem funcionar como includentes ou excluden- tes desses estudantes, tendo em vista grupos socioculturais aos que pertencem. II. Para se conseguir o sucesso escolar de nossos estudantes, precisa-se aliar as informações pedagógicas, pessoais, sociais, culturais, que temos sobre eles, com as metodologias e pro- postas pedagógicas que levem em conta seus processos de construção dos conhecimentos e que rompam com a ossatura rígida da cultura escolar. III. A origem de classe influi no rendimento dos alunos, de forma exclusiva e absoluta. IV. São muitos os fatores que interferem na construção do suces- so-fracasso escolar, o pertencimento ético, a trajetória escolar e de vida, o gênero, a idade dos alunos. Está (ao) correta (s) apenas a (s) afirmativa (s): A) I, II, III e IV. B) I, II e IV. C) I e IV. D) II e IV. E) I. 53. Para Libâneo, existe uma relação direta entre as várias concepções de gestão escolar e as diferentes visões dos educadores sobre as finalidades da educação, no que se refere à formação dos alunos e ao atendimento à socieda- de. A concepção de organização e gestão escolar que de- fende a forma coletiva de tomada de decisão, dando ênfa- se tanto às ações pedagógicas quanto às relações intra e extraescolar, é a: A) Tecnocrática burocratizante. B) Demagógica liberal. C) Democrático-participativa. D) Liberal reformista. 54. Libâneo chama atenção para o fato de que o projeto pe- dagógico curricular não pode ser confundido com a orga- nização escolar e também não substitui a gestão. São duas coisas diferentes. Dentro deste princípio, marque a afir- mativa que melhor condiz com a ideia. A) A gestão põe em prática o processo organizacional para atender os interesses do corpo docente e da Direção. B) O projeto é um instrumento da gestão e dá direção política e pedagógica ao trabalho escolar. C) A gestão dá direção política e pedagógica para o trabalho escolar, independente do projeto pedagógico. D) A gestão não põe em prática o processo organizacional, isto é função do projeto pedagógico. E) A gestão é um instrumento do projeto e institui procedimen- tos e instrumentos de ação para a escola. PÁG.41 55. Em relação a avaliação institucional, assinale a alternativa correta: A) Não faz parte do conceito de avaliação a tomada de decisões com julgamentos e resultados. B) Visa à identificação de critérios, procedimentos e resultados para melhorias na educação, com participação individual e co- letiva. C) A avaliação deve ser concebida como um processo sistemáti- co e quantitativo de análise. D) Deve impulsionar o processo criativo e de autocrítica como um princípio e procedimento teórico. E) Consolida as relações entre as esferas pública e privada, a partir de modelos que propõem a divisão do trabalho. 56. Quanto às discussões sobre currículo e seus pressupostos sociológicos, assinale a alternativa correta: A) Currículo, na atualidade, está envolvido com os critérios de seleção e poder, ou seja, com as questões identidade e subje- tividade. B) Para a discussão curricular, selecionar não é uma operação de poder. C) É precisamente a questão de poder que vai articular as teorias curriculares tradicionais, críticas e pós-críticas. D) As teorias críticas e pós-críticas de currículo não estão preo- cupadas com as conexões entre saber, identidade e poder. E) As teorias tradicionais se concentram nas questões compor- tamentais. 57. É um tipo de avaliação que tem por função básica a classi- ficação dos alunos, sendo realizada no final de um curso ou unidade de ensino, classificando os alunos de acordo com os níveis de aproveitamento previamente estabeleci- dos. O texto acima descreve uma: A) Avaliação formativa. B) Avaliação somativa. C) Avaliação diagnostica. D) Avaliação personalizada. 58. A respeito da Avaliação Formativa, é INCORRETO afirmar: A) A avaliação formativa não tem como objetivo classificar ou selecionar. B) Fundamenta-se nos processos de aprendizagem em seus aspectos cognitivos, afetivos e relacionais. C) Uma avaliação não precisa conformar-se a nenhum padrão metodológico para ser formativa. D) O sentido e a finalidade da avaliação formativa deve ser o de conhecer melhor o professor, suas competências e suas técni- cas de trabalho. 59. Na relação professor-aluno envolve interesses e intenções, sendo esta interação o expoente das consequências, pois a educação é uma das fontes mais importantes do desen- volvimento comportamental e agregação de valores nos membros da espécie humana. Logo, a relação entre pro- fessor e aluno depende, fundamentalmente: I. Do clima estabelecido pelo aluno. II. Da relação empática com seus alunos. III. Da sua capacidade de ouvir, refletir e discutir. IV. Da criação das pontes entre seu conhecimento e os deles. Assinale a alternativa correta. A) Somente I, II e III estão corretas. B) Somente I, II e IV estão corretas C) Somente II, III e IV estão corretas D) Somente I, III e IV estão corretas 60. A interação professor-aluno é um aspecto fundamental da organização da situação didática. Segundo Libâneo, po- dem-se ressaltar dois aspectos para a realização do traba- lho docente: A) o aspecto social, que se refere à integração de cada aluno ao seu meio social e o aspecto atitudinal, que se refere à aquisi- ção de conhecimentos acadêmicos a serem utilizados na vida pessoal de cada aluno; B) o aspecto técnico e emocional, que se refere ao desenvolvi- mento da autonomia e das qualidades morais e o aspecto in- telectual, que se refere a aprendizagem com vistas a orienta- ção de trabalhos independente dos alunos; C) o aspecto psicopedagógico clínico, que diz respeito ao sujeito aprendente e ao aspecto acadêmico, que diz respeito aos ob- jetivos do processo de ensino, a transmissão de conhecimen- tos, hábitos e atitudes; D) o aspecto cognoscitivo, que diz respeito a formas de comuni- cação dos conteúdos escolares e o aspecto sócioemocional que diz respeito às relações pessoais entre professor e alunos eàs normas disciplinares indispensáveis ao trabalho educati- vo; 61. Em se tratando da relação professor-aluno na sala de aula, assinale a alternativa incorreta. A) O trabalho docente nunca é unidirecional. B) A relação maternal ou paternal deve ser evitada, porque a escola não é um lar. C) O professor autoritário exerce a autoridade a serviço da auto- nomia e independência dos alunos. D) A disciplina da classe está diretamente ligada ao estilo da prática docente, ou seja, à autoridade profissional. 62. Segundo o mestre Paulo Freire (1996) o educador pro- gressista não pode prescindir de conteúdos obrigatórios à organização programática e a formação docente. Assim, adverte-nos para a necessidade de assumirmos uma pos- tura ética e a dimensão estética na prática docente, movi- da para o desejo e movida com alegria, a qual não deve: A) Ser rigorosa, neutra e radical. B) Conduzir ao espaço de reafirmação, criação e amorosidade o aluno desinteressado. C) Abrir mão do sonho, do rigor, da seriedade e simplicidade inerente ao saber-da-competência. D) Contribuir para uma postura vigilante contra todas as práticas de desumanização. E) Contribuir para a leitura crítica das verdadeiras causas da degradação humana. 63. Com base nas considerações de José Carlos Libâneo em Organização e Gestão da Escola: teoria e prática, o estudo da organização e gestão da escola tem como objetivos de aprendizagem: I. O conhecimento da organização escolar – a sua cultura, as relações de poder, o seu modo de funcionamento, os seus problemas – bem como das formas de organização e gestão, das competências e dos procedimentos necessários para a PÁG.42 atuação, de forma eficiente e participativa, nas decisões e ações dirigidas ao atendimento dos objetivos educacionais. II. A compreensão das relações entre as orientações gerais do sistema escolar e as escolas e o trabalho do professor, de mo- do a desenvolver capacidade crítica para avalia-las em função das realidades da escola e das necessidades individuais e so- ciais dos alunos. III. O desenvolvimento de saberes e competências para fazer análises de contextos de trabalho, identificar e solucionar problemas (previsíveis e imprevisíveis) e reinventar práticas diante de situações novas ou inesperadas, na organização es- colar e na sala de aula. IV. A capacitação para participação no planejamento, organiza- ção e gestão da escola, especialmente na viabilização das ações de realização do projeto pedagógico curricular, com competência técnico-científica, sensibilidade ética e compro- misso com a democratização das relações sociais na institui- ção escolar e fora dela. V. O enfrentamento dos problemas da organização escolar, como educadores responsáveis pela formação intelectual, afe- tiva, ética, sob o enfoque de estratégias de gestão democráti- ca, pautada nos princípios de ordem econômica e financeira e nos interesses do Banco Mundial regidos pelo mercado inter- nacional, propiciando uma orientação prática de como lidar com as situações cotidianas no contexto escolar. Estão corretas: A) Somente II, III, IV e V. B) Somente I, II, IV e V. C) Somente I, II, III e IV. D) Somente I e V. E) I, II, III, IV e V. 64. Assinale a alternativa que, de acordo com Edgar Morin (Os sete saberes necessários à educação do futuro), apresenta corretamente um aspecto constitutivo da educação com- prometida com a ética do gênero humano. A) A ética do gênero humano tem como uma de suas dimensões fundamentais a relação entre indivíduo singular e espécie humana efetivada por meio da comunidade de destino plane- tário. B) A ética deve ser ensinada por meio de lições de moral, com base na consciência de que o ser humano é, ao mesmo tem- po, indivíduo, parte da sociedade e da espécie humana. C) Configuram-se como finalidades ético-políticas do novo milê- nio: conceber a humanidade como uma comunidade planetá- ria e evitar qualquer controle mútuo entre a sociedade e os indivíduos. D) O desenvolvimento humano compreende a conquista das autonomias individuais e das participações comunitárias, com predominância das primeiras, que fortalecem as liberdades democráticas. 65. Nas últimas décadas vem crescendo um movimento entre os estudiosos da formação do professor. Esse movimento defende a concepção do professor pesquisador ou reflexi- vo, como aquele que: I. se propõe a solucionar os problemas da realidade escolar mediante a aplicação de um conhecimento teórico e técnico, previamente disponível, que procede da pesquisa científica. II. mobiliza saberes teóricos e práticos para investigar sua pró- pria atividade e, a partir dela, construir novos saberes num processo contínuo. III. em sala de aula, se revela pesquisador da sua própria prática, propondo-se a registrá-la e discuti-la com seus colegas, num sentido de superação e tomada de decisões. É CORRETO o que se propõe em: A) I, II e III. B) II e III, apenas. C) III, apenas. D) II, apenas. E) I e III, apenas PÁG.43 5. ASPECTOS LEGAIS E POLÍTICOS DA ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA. Para iniciarmos algum entendimento sobre a implementação de políticas educacionais, uma das questões centrais a ser abor- dada é a análise das posturas/ações/intervenções do Estado, inclusive, contemplando diferentes períodos históricos, pois como indica Bobbio (2007), em termos de bem-estar social, sempre se supõe que seja o Estado o agente principal na implementação de políticas. A radical mudança do papel do Estado quanto ao provimento dos direitos fundamentais de cidadania vem ocorrendo, em nível mundial, desde os anos 80, mas é a partir dos anos 90 que ela se acirra. Embora o Brasil tenha ingressado com atraso neste proces- so, os dirigentes, segundo Sousa Junior (2001), resolveram com- pensar o tempo perdido implementando um conjunto de medi- das em diversos setores da economia e das políticas públicas, sendo a área educacional atingida em todos os níveis e modali- dades de ensino, em um curto espaço de tempo. O que podemos observar nesse sentido, é que temos um Es- tado que age, de forma significativa, atendendo ora as necessida- des provenientes da sociedade civil, ora atendendo as demandas mercadológicas e/ou da globalização, para estabelecer as diretri- zes e leis que irão normatizar as relações que são estabelecidas no contexto educacional, no que se refere ao financiamento, como na gestão e administração escolar. EDUCAÇÃO COMO POLÍTICA PÚBLICA Como conceito de políticas públicas encontra-se a de ações e intenções com os quais os poderes ou instituições públicas res- pondem às necessidades de diversos grupos sociais. Para a educação as políticas possibilitam ações que atendam às necessidades da comunidade escolar, onde por meio dessas, é possível que haja: valorização dos funcionários da escola; formação de Professores; educação: infantil, Ensino Médio, EJA, a distância, especial, ambiental, profissional, no campo e superior indígena; avaliação da educação; educação para todos; expansão e Reestruturação do Ensino. A Constituição de 1988 refere-se à educação como «direito de todos e dever do Estado e da família [...] promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvi- mento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho» (art. 205). O seu art. 206 determina que o ensino deve ser ministrado com base nos seguintes princípios: I. Igualdade de condições para o acesso e permanência na es- cola. II. Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pen- samento, a arte e o saber. III.Pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coe- xistência de instituições públicas e privadas de ensino. IV. Gratuidade do ensino público em estabelecimentos ofici- ais. V. Valorização dos profissionais do ensino, garantidos, na forma da lei, planos de carreira para o magistério público, com piso salarial profissional e ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, assegurado regime jurídico único para todas as instituições mantidas pela União. VI. Gestão democrática do ensino público, na forma da lei. VII. Garantia de padrão de qualidade. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, publicada em 1996, além de anunciar os princípios constitucionais, ampliou- os, incorporando o respeito à liberdade e o apreço à tolerância, a coexistência das instituições públicas e privadas de ensino, a valorização da experiência extraescolar e a vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais. ESTRUTURA DO ATUAL SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO A estrutura do atual Sistema Educacional Brasileiro é resultado de uma série de mudanças ao longo da história da educação no Brasil. Os primeiros Sistemas Educacionais Brasileiro, que vigorou durante vários anos, teve um caráter excludente desfavorecendo a grande massa popular e garantindo o acesso à educação so- mente à elite brasileira. Segundo Ribeiro, ao referir-se a esse longo período afirma que éramos um país de Doutores e Analfabetos, pois tínhamos cursos superiores para poucos, nenhum incentivo à formação de professores e escassos recursos para a escola pública. Com a Lei nº 9.394/96 (LDB) buscou-se, levando em consideração a realida- de educacional acima descrito, normatizar o sistema educacional e garantir acesso à educação de igual modo a todos. Essa lei traz um conjunto de definições políticas que orientam o sistema edu- cacional e introduz mudanças significativas na educação básica do Brasil. Para compreender a evolução e dimensão do atual Sistema Educacional Brasileiro, enquanto parte do processo de desenvol- vimento social, foram levadas em consideração algumas premis- sas: - A compreensão do sistema educacional brasileiro exige que não se perca de vista a totalidade social da qual o sistema educativo faz parte. - O sistema escolar é um dos elementos da superestrutura que forma, em unidade com o seu contrário – a infraestrutura - es- trutura social. Entende-se infraestrutura como os modos e os meios do ho- mem produzir sua existência. Neste sentido as transformações, desses processos, devem ser compreendidas como alavancas que pressionam a ocorrência de mudanças na superestrutura que, por sua vez se movimenta entre dois elementos: as instituições e as ideias. A relação entre a infraestrutura e a superestrutura é uma rela- ção determinante que não se dá de fora linear, direta ou absoluta, haja vista que a superestrutura tem refletido em si a contradição fundamental da infraestrutura – conservação X transformação. Cada uma e ambas, enquanto unidades de contrários reagem e agem combinada e contraditoriamente, via processos de resistên- cias, aceleramentos e recuos, intermediados por normas, regula- mentos, concepções filosóficas e políticas, recursos e instituições, entre tantos outros. PÁG.44 Tomando como referências estas concepções iniciais, o con- teúdo do texto toma forma, privilegiando dois mediadores da organização educacional brasileira, que complementam-se: As concepções de educação – seus postulados e expressões na organização da escola brasileira; A organização, propriamente dita, do sistema educacional – onde a formação educacional (básica e superior) é determi- nante do desenvolvimento social do país. Desta maneira será demonstrado que a nova proposta educa- cional brasileira objetiva a democratização e universalização do conhecimento básico, proporcionando educação e cuidado com a escolarização, assumindo um caráter intencional e sistemático, que dá especial relevo ao desenvolvimento intelectual, sem, con- tudo descuidar de outros aspectos, tais como o físico, o emocio- nal, o moral e o social (Lei nº 9394/96). Os princípios balizadores e asseguradores das políticas para a educação encontra-se depositados na Constituição Federal (C.F.), promulgada em 1988, onde traz em seu Capítulo III - da Educa- ção, da Cultura e do Desporto, no Artigo 205: ‚A educação, direi- to de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.‛ No Art. 206 da Constituição, garante-se que o ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pen- samento, a arte e o saber; III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coe- xistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos ofici- ais; V - valorização dos profissionais do ensino, garantido, na for- ma da lei, plano de carreira para o magistério público, com piso salarial profissional e ingresso exclusivamente por concurso pú- blico de provas e títulos, assegurado regime jurídico único para todas as instituições mantidas pela União; VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII - garantia de padrão de qualidade públicas e privadas de ensino; Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante à garantia de: I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio; III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade; V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; VII - atendimento ao educando, no ensino fundamental, atra- vés de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. § 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito públi- co subjetivo. § 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente. § 3º Compete ao poder público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola. Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais. § 1º O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental. § 2º O ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos ofici- ais; V - valorização dos profissionais do ensino, garantido, na for- ma da lei, plano de carreira para o magistério público, com piso salarial profissional e ingresso exclusivamente por concurso pú- blico de provas e títulos, assegurado regime jurídico único para todas as instituições mantidas pela União; VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII - garantia de padrão de qualidade às comunidades indíge- nas também a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem. Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municí- pios organizarão em regime de colaboraçãoseus sistemas de ensino. § 1º A União organizará e financiará o sistema federal de ensi- no e o dos Territórios, e prestará assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios para o desen- volvimento de seus sistemas de ensino e o atendimento prioritá- rio à escolaridade obrigatória. § 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino funda- mental e pré-escola. Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de de- zoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino. § 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida pela União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, ou pelos Estados aos respectivos Municípios, não é considerada, para efei- to do cálculo previsto neste artigo, receita do governo que a transferir. § 2º Para efeito do cumprimento do disposto no caput deste artigo, serão considerados os sistemas de ensino federal, estadual e municipal e os recursos aplicados na forma do art. 213. § 3º A distribuição dos recursos públicos assegurará priorida- de ao atendimento das necessidades do ensino obrigatório, nos termos do plano nacional de educação. Art. 213. Os recursos públicos serão destinados às escolas públicas, podendo ser dirigidos às escolas comunitárias, confessi- onais ou filantrópicas, definidas em lei, que: I - comprovem finalidade não lucrativa e apliquem seus exce- dentes financeiros em educação; II - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao poder público, no caso de encerramento de suas atividades. PÁG.45 § 1º Os recursos de que trata este artigo poderão ser destina- dos a bolsas de estudo para o ensino fundamental e médio, na forma da lei, para os que demonstrarem insuficiência de recursos, quando houver falta de vagas e cursos regulares da rede pública na localidade da residência do educando, ficando o poder público obrigado a investir prioritariamente na expansão de sua rede na localidade. Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração plurianual, visando à articulação e ao desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis e à integração das ações do poder público que conduzam à: I - erradicação do analfabetismo; II - universalização do atendimento escolar; III - melhoria da qualidade do ensino; IV - formação para o trabalho; V - promoção humanística, científica e tecnológica do país. PROJETO EDUCACIONAL BRASILEIRO O Plano Nacional de Educação (PNE) representa as diretrizes e as metas a serem alcançadas a longo prazo. É o mapa da cami- nhada pela elevação do desempenho das instituições educacio- nais. ‚Ali estão as mudanças e os objetivos para que todo o sis- tema educacional se programe e busque alcançar alvos que per- mitam alcançar uma educação com qualidade‛ (NEY, 2008). A Lei de Diretrizes e Bases Nacional (LDB) tem o papel de re- gulamentar, disciplinar e estabelecer os sistemas, as estruturas, os recursos para o desenvolvimento da educação, de acordo com a necessidade do país. Lembre-se que as Diretrizes correspondem às modalidades da organização da educação, aos ordenamentos de oferta, aos sistemas de conferência de resultados e procedimentos para articulação de interestrutura e infraestrutura. Nas diretrizes en- contramos o conteúdo de formulação operativa. As Bases corres- pondem às vigas de sustentação que o sistema educacional é fundamentado. Aqui estão os princípios axiológicos e os contor- nos de direitos. Um ponto positivo da LDB, é o reconhecimento de que uma pessoa não aprende apenas no âmbito escolar, ou na educação formal, aprende-se no cotidiano em função da família, na qual a criança recebe seus primeiros ensinamentos e aprende na convi- vência diária os seus primeiros passos da vida. No ambiente, por meio do relacionamento com outras crianças, e o ambiente em que se vive gera aprendizagem. No trabalho, que é por essência um princípio educativo, pois os programas educacionais devem ser processos para formar para o trabalho e não pelo trabalho. Nas Instituições de ensino ou pesquisa, que são locais de edu- cação formal e de formação humana. Nas associações e organi- zações civis, que permitem as trocas de experiências em grupos similares ou díspares. Nos movimentos sociais, cuja leitura que a pessoa faz, possibilita a obtenção de um novo conhecimento e, por fim, na Arte, lazer e cultura, que são elementos que contri- buem para o desenvolvimento humano. Ou seja, as bases das teorias psicogenéticas de Piaget, Vygotsky e Wallon, estão bas- tante presentes no contexto da LDB. Você consegue perceber isso? Outro componente importante no projeto legal para educa- ção é o Plano Nacional de educação que historicamente, teve seu primeiro estabelecido pelo Ministério da Educação e Cultura em 1962, sob a aprovação do antigo Conselho Federal de Educação, nasceu, mas não com força de lei. A ideia reapareceu com a Constituição de 1988 por meio do artigo 214. Na Lei n. 9.394/96 (LDBEN), em seus artigos 9 e 87 a União recebeu a responsabili- dade de elaborar tal plano. Assim, a Lei n. 10.172/2001 aprovou o Plano Nacional de Educação. Em 2000, efetiva-se o PNE que, apresenta-se dividido em: di- agnóstico, diretrizes e metas/ objetivos, entra então em vigor com suas metas e passa a ter vigência no período de 2001 a 2011. Entretanto mostrando as contradições e prioridades em que a educação encontra-se amparada no nosso pais, o congresso nacional, com atraso de 4 anos, aprova em 25 de junho de 2014 o Plano Nacional de Educação para o decênio 2011-2020. A LEI Nº 9.394/96 (LDB) E A REALIDADE EDUCACIONAL A tramitação no Congresso Nacional para aprovação e im- plementação desta Lei foi longo e conflituoso, mas apesar das inúmeras tentativas de eliminar as conquistas obtidas, ao final, a Lei promulgada, oferece novas oportunidades educacionais a todo o povo brasileiro, trazendo um conjunto de definições polí- ticas que visam orientar o sistema educacional e introduz mudan- ças significativas na educação básica do país. Após a retrospectiva histórica da educação brasileira a cima descrito, atentemos as mudanças ocorridas na estrutura educaci- onal no Brasil, após a atual LDB, vigorando em todo o território nacional brasileiro. Educação Infantil: A especificidade atribuída a essa etapa da escolarização opõe- se a visão da pré-escola com base na noção de privação ou ca- rência cultural, tão expressivo no passado, segundo o qual o papel da pré-escola seria o de suprir as deficiências das crianças, especialmente as de origens populares. A manutenção da educação infantil como primeira etapa da educação básica representa uma vitória e a dimensão pedagógica do atendimento de crianças de 0 a 5 anos tem por objetivo o desenvolvimento integral da criança em seus aspectos físico, psicológico intelectual e social (artigo 29 da LDB). Somente com a Constituição Federal de 1988, que começou a alargar os horizontes do ensino infantil no Brasil, pois, em seu artigo 208, inciso IV, afirma que é o dever do Estado com a edu- cação será efetivado mediante a garantia de ‚atendimento em creches e pré-escolas a crianças de 0 a 5 anos‛. Isso significa que o Estado é obrigado pela Constituição Fede- ral a disponibilizar vagas para este nível de ensino, pois, a família que achar-se lesada por não conseguir matrícula na rede pública para o ensino infantil, pode recorrer à promotoria pública que por sua vez acionará judicialmente os órgãos competentes. Direitos estes conquistados com a Constituição Federal de 1988, princi- palmente devido à enorme procura de vagas para crianças de 0 a 5 anos, uma vez que cada vez mais as mulheres conquistavamde maneira significativa posto no mercado de trabalho não dispondo mais do tempo que outrora tinha para cuidar de suas crianças. É importante ressaltar que hoje este nível de ensino por força da Emenda Constitucional nº 53 de 2006, corresponde as crianças de 0 a 5 anos de idade. A respeito do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) Lei federal nº 8.069, de 1990, que é mais uma conquista da socieda- de civil em defesa dos direitos da criança, principalmente das de 0 a 5 anos de idade. Pois, em seu artigo nº 4 afirma: PÁG.46 É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetiva- ção dos direitos referente à vida, à saúde, à alimentação, à educa- ção, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à digni- dade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comuni- tária. Ainda em seu artigo nº 53 o Estatuto da Criança e do Adoles- cente (E.C.A), afirma que a criança tem o direito de ser respeitada por seus, educadores em razão de suas limitações de autodefesa por serem de pouca idade. Pois, são comuns muitas instituições de ensino infantil praticar castigos de toda natureza inclusive físicos, além do espaço ser inadequado e a falta de formação própria dos profissionais para este nível de ensino. Tanto a Cons- tituição Federal quanto o Estatuto da Criança e do Adolescente (E.C.A), buscam a proteção e a garantia dos direitos das crianças, garantindo o acesso das mesmas em instituições de ensino de 0 a 5 anos. Pois no artigo nº 54 da (E.C. A) reafirma o dever do Estado em assegurar o atendimento em creches e pré-escolas. Para reforçar o que acima foi descrito a Lei de Diretrizes e Ba- ses da Educação Nacional (L.D.B) lei Federal nº 9394 de 1996, afirma em seu artigo nº 29 ‚que a educação infantil é a primeira etapa da educação básica e tem como finalidade o seu desenvol- vimento físico, psicológico, intelectual e social‛. Já no artigo 31 diz que na educação infantil a avaliação não terá o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental. Vale ressaltar que em seu artigo nº 30 a LDB, subdividem a educação infantil em creches para crianças de até 3 anos e pré-escola para as crianças de 4 a 5 anos deidade. Em virtude dos acontecimentos já mencionados chegamos à conclusão que apesar dos enormes esforços por parte do governo federal e sociedade civil em prol da melhoria na qualidade do ensino infantil, ainda tem muito que se fazer, principalmente na formação dos educadores que atuam neste nível de ensino. Não precisamos de mais leis que assegure os direitos das crianças e sim cumprir as que já existem. Ensino fundamental: Relembrando o histórico desta modalidade, no Brasil a educa- ção obrigatória e gratuita foi introduzida com a Constituição Federal em 1934 e era composto de apenas cinco anos, somente por força da Lei nº 5.692/71 esse ensino obrigatório estendeu-se para oito anos com a nomenclatura de primeiro grau. Mas foi com a Constituição de 1988 que esta nomenclatura foi alterada para Ensino Fundamental. Segundo Romualdo o ensino fundamental é uma etapa da educação básica destinada a crianças e adolescentes com dura- ção mínima de nove anos, obrigatório e gratuito a partir dos seis anos de idade, de acordo a Lei nº 11.114/05 e conforme a LDB em seu artigo nº 32 afirma que o Ensino Fundamental terá como objetivo a formação básica do cidadão mediante inciso III: ‚o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores‛. É importante observar que esse artigo, mediante a eliminação do limite de idade para o direto ao ensino fundamental obrigató- rio, significa a possibilidade de todos os brasileiros, de qualquer faixa etária acima de sete anos de idade ter acesso a esta etapa da escolarização, podendo exigi-la legalmente do poder público, pois antes a obrigação do Estado na oferta dessa escolarização excluía os que ultrapassassem a faixa dos quatorze anos. Essa alteração na LDB do ensino fundamental de 8 anos para 9 anos é devida da necessidade da melhoria no ensino obrigató- rio, sendo assim, o Presidente da República da época, sancionou no dia 06/02/2006 a Lei nº 11.274 que regulamenta o ensino fundamental de nove anos, alterando os artigos 29, 30, 32 e 87 da LDB, que estabelece as diretrizes da educação nacional. No entanto, devemos estar atentos para o fato de que a inclu- são de crianças de seis anos de idade não deverá significar a antecipação dos conteúdos e atividades que tradicionalmente foram compreendidos como adequados à primeira série. Faz necessário, portanto, que se construa uma nova estrutura e orga- nização dos conteúdos em um ensino fundamental, agora de nove anos. Outra inovação da LBD em seu artigo 26 é a obrigatoriedade do ensino de Artes na grade curricular do ensino fundamental, porém, o ensino da educação física compõe a proposta pedagó- gica do estabelecimento de ensino, más, torna-se facultativa aos cursos noturnos. Todas essas mudanças que ocorreram na estru- tura do ensino fundamental têm melhorado de maneira significa- tiva a qualidade neste nível de ensino, no entanto ainda não é o suficiente. Ensino médio Segundo os artigos 35 e 36 da LDB, esta fase do ensino é a etapa final da educação básica, e observamos que ela vem bus- cando sua identidade. Ora lhe é delegada a função de preparató- rio para a universidade, ora sua finalidade é atender ou preparar para o mercado de trabalho. Segundo Pinto, o governo Vargas em 1937, implantou um sis- tema de ensino profissionalizante para atender as camadas popu- lares com objetivo de preparar ‚Mão de obra para o mercado de trabalho‛, porém, somente o ensino médio propedêutico permitia acesso ao ensino superior. Mas foi no governo do regime militar em que o ensino médio teve grandes alterações, pois o presiden- te Médici através da Lei nº 5692/71, determinou que todas as escolas do país ministrassem um ensino médio de 3 anos estrita- mente de caráter profissionalizante, tudo indica que era uma tentativa de diminuir a demanda de vagas nas universidades públicas e barrar as manifestações estudantis que ocorria pelo país. No atual texto da LDB (artigo 35, inciso III), o ensino médio, objetiva preservar o caráter unitário, partindo da proposta de educação geral. Este nível de ensino desempenha a função de contribuir para que os jovens consolidem e aprofundem conhe- cimentos anteriormente adquiridos, visando uma maior compre- ensão do significado das Ciências, arte, letras e de outras mani- festações culturais. Outra função delegada a esta fase final do ensino básico é de possibilitar que os jovens possam ter acesso à educação profissi- onalizante, aprofundando sua compreensão sobre os fundamen- tos científicos e tecnológicos. Assim a Lei objetiva-se em possibili- tar o aprimoramento do educando como pessoa humana, inclu- indo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelec- tual e do pensamento crítico. Por fim destaca-se à ampliação da carga horária mínima anual de 200 dias letivos de efetivo trabalho escolar, no nível funda- mental e médio, segundo o artigo 24 incisos I. E também a pro- gressão continuada, uma inovação que viabilizou procedimentos que contribuíram para minimizar os problemas de evasão e repe- PÁG.47 tência, bem como o tratamento dado com relação a educação indígena e a educação especial. A educação de Jovens e Adultos (EJA): Segundo Kruppa, em 1990 (ano internacional da Alfabetiza- ção) com Paulo Freire à frente da Secretaria de Educação do Mu- nicípio de São Paulo, organizava-se a Primeira Conferência Brasi- leira de Alfabetização, no qual representantes do Ministério da Educação (MEC) se comprometeram em priorizar a alfabetização de adultos. Em 1997 o governoFederal desvincula a EJA do MEC e cria o Programa Alfabetização Solidária, com o objetivo de reduzir as altas taxas de analfabetismo que ainda vigorava em algumas regiões do país. Programa este presidido pela primeira dama do país e atendendo 1,5 milhão e meio de brasileiros em 1200 municípios brasileiros de 15 Estados, trabalhando em parce- rias com empresas, instituições universitárias, pessoas físicas, prefeituras e o Mistério da Educação (MEC). Além das turmas tradicionais da (EJA), em 2003 o governo do presidente LULA, criou o Programa Brasil Alfabetizado, que priori- zou de início as instituições filantrópicas, somente a partir do segundo ano as Secretarias Estaduais e Municipais de Educação que receberam mais recursos do programa, chegando em 2007 com quase 50 % de todos os recursos destinados ao Brasil Alfa- betizado. Em consonância com a Constituição, a LDB, estabelece que ‚O dever do Estado com a educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de ensino, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso idade própria‛. No seu artigo 37, refere-se à educação de jovens e adultos determinando que ‚A educação de jovens e adultos será destina- da àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria‛. No inciso I, deixa clara a intenção de assegurar educação gratuita e de quali- dade a esse segmento da população, respeitando a diversidade que nele se apresenta. O desafio imposto para a EJA na atualidade se constitui em reconhecer o direito do jovem/adulto de ser sujeito; mudar radi- calmente a maneira como a EJA é concebida e praticada; buscar novas metodologias, considerando os interesses dos jovens e adultos; pensar novas formas de EJA articuladas com o mundo do trabalho; investir seriamente na formação de educadores; e reno- var o currículo de forma interdisciplinar e transversal, entre outras ações, de modo que este passe a constituir um direito, e não um favor prestado em função da disposição dos governos, da socie- dade ou dos empresários. Educação Inclusiva: A educação inclusiva é uma educação onde os ditos ‚normais‛ e os portadores de algum tipo de deficiência poderão aprender uns com os outros. Uma depende da outra para que realmente exista uma educação de qualidade. A educação inclusiva no Brasil é um desafio a todos os profissionais de educação. Diante deste desafio é importante esclarecer que a Educação Inclusiva é: atender aos estudantes portadores de necessidades especiais na vizinhança da sua residência; propiciar a ampliação do acesso destes alunos às classes re- gular; propiciar aos professores da classe regular um suporte técni- co; perceber que as crianças podem aprender juntas, embora tendo objetivos e processos diferentes; levar os professores a estabelecer formas criativas de atuação com as crianças portadoras de deficiência; propiciar um atendimento integrado ao professor de classe comum do ensino regular. E que a Educação inclusiva não é: levar crianças às classes comuns sem o acompanhamento do professor especializado; ignorar as necessidades específicas da criança; fazer as crianças seguirem um processo único de desenvolvi- mento, ao mesmo tempo e para todas as idades; extinguir o atendimento de educação especial antes do tem- po; esperar que os professores de classe regular ensinem as cri- anças portadoras de necessidades especiais sem um suporte técnico. Percebe-se ao longo da história e, também na atualidade, que a maioria dos profissionais envolvidos na educação não sabe ou desconhece a importância e a diferença da educação especial e educação inclusiva. Por essa razão, veio à realização deste item para o esclarecimento das pessoas envolvidas na educação e interessados. Educação especial: A Carta Magna é a lei maior de uma sociedade política, como o próprio nome nos sugere. Em 1988, a Constituição Federal, de cunho liberal, prescrevia, no seu artigo 208, inciso III, entre as atribuições do Estado, isto é, do Poder Público, o ‚atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, prefe- rencialmente na rede regular de ensino‛. No entanto, muito se tem falado sobre as carências do Sistema Educacional Brasileiro, mas, poucas às vezes é mencionado o seu primo pobre – a Edu- cação Especial. Muito menos são reivindicadas melhores condi- ções para esse segmento que, ao contrário do que parece à pri- meira vista abrange um número significativo de brasileiros. Segundo os últimos dados oficiais disponíveis do censo esco- lar, promovido pelo Ministério da Educação, existem milhões de crianças e jovens em idade escolar com algum tipo de deficiência. Boa parte deles não tem atendimento especializado, estando matriculados em escolas regulares ou pior, não estudam. A Educação Especial Brasileira atinge somente pequena parce- la dos deficientes, quase a metade deles através de escolas parti- culares e as demais são federais, estaduais e municipais. A educação especial trata-se de uma educação voltada para os portadores de deficiências como: auditivas, visuais, intelectual, física, sensorial, surdocegueira e as múltiplas deficiências. Para que esses educandos tão especiais possam ser educados e reabilitados, é de extrema importância a participação deles em escolas e instituições especializadas. E que eles disponham de tudo o que for necessário para o seu desenvolvimento cognitivo. PÁG.48 A educação profissional no Brasil A Lei 9.394/96, constitui-se num marco para a educação pro- fissional, pois as leis de diretrizes e bases anteriores ou as leis orgânicas para os níveis e modalidades de ensino, sempre trata- ram da educação profissional com parcialidade. Legislavam sobre a vinculação da formação para o trabalho a determinados níveis de ensino, como a educação formal, quer na época dos ginásios comerciais e industriais, quer posteriormente através da Lei 5.692/71, com o segundo grau profissionalizante. Na atual lei, o Capítulo III do Título V (Dos níveis e das moda- lidades de educação e ensino) é totalmente dedicado à educação profissional, tratando-a na sua inteira dimensão, como parte do sistema educacional. Neste novo enfoque a educação profissional tem como objetivos não só a formação de técnicos de nível mé- dio, mas a qualificação, a requalificação, a reprofissionalização de trabalhadores de qualquer nível de escolaridade, a atualização tecnológica permanente e a habilitação nos níveis médio e supe- rior. Enfim, regulamenta a educação profissional como um todo, contemplando as formas de ensino que habilitam e estão referi- das a níveis da educação escolar no conjunto da qualificação permanente para as atividades produtivas. Mais uma vez aparece na Lei de Diretrizes e Bases, no Art. 39, a referência ao conceito de ‚aprendizagem permanente‛. A edu- cação profissional deve levar ao permanente desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva. E mais uma vez, também, destaca a relação entre educação escolar e processos formativos, quando faz referência à integração entre a educação profissional e as ‚diferentes formas de educação‛, o trabalho, a ciência e a tecno- logia. O parágrafo único deste artigo e os artigos 40 e 42 introdu- zem o caráter complementar da educação profissional e ampliam sua atuação para além da escolaridade formal e seus lócus para além da escola. Finalmente, estabelece a forma de reconhecimento e certifica- ção das competências adquiridas fora do ambiente escolar, quer para prosseguimento de estudos, quer para titulação, de forma absolutamente inovadora em relação à legislação preexistente. BIBLIOGRAFIA PARA ESSE CAPÍTULO: - ABREU, Mariza. Organização da Educação Nacional na Constituição e na L.D.B. Ijuí: Editora Unijuí, 1998. -AFONSO, Almerindo Janela. Reforma do Estado e Políticas Educacionais: Entre a Crise do Estado-Nação e a Emergência da Regulação Supranacional. Educação & Sociedade, ano XXII, n. 75, agosto/2001. - ARTIGOS 7, 23, 206, 208, 211 e 212 da Constituição Federal e ao artigo 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitó- rias. Diário Oficial da União, Brasília, 20 dez. 2006. - ALVES, J. R.M. A Educação a Distância no Brasil. Instituto de Pesquisas Avançadas em Educação, Brasil, 2007. - CUNHA, Luiz Antônio. Educação, Estado e Democracia no Brasil. São Paulo: Ed. Cortez 1991. - CURY, Carlos Roberto Jamil. A Educação Básica No Brasil. Educ. Soc., Campinas, vol. 23, n. 80, setembro/2002, pp. 168- 200. Disponível em: . Acesso em: 24 fev. 2012. - DAVIES, N. FUNDEB: a redenção da educação básica? Campi- nas: Autores Associados, 2008. - OLIVEIRA, Dalila Andrade. Educação Básica: gestão do traba- lho e da pobreza. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2000. - SAVIANI, Dermeval. Política e Educação no Brasil. São Paulo: Cortez Autores Associados, 1988. 66. A mudança para o Ensino Fundamental de Nove Anos, no qual as crianças ingressam com seis anos no primeiro ano e não mais com sete anos na primeira série, faz com que se repense o trabalho a ser realizado, considerando-se as suas características. RAPOPORT, Andrea; FERRARI, Andrea; SILVA, João Alberto da. A criança de seis anos e o primeiro ano do ensino fundamental. In: RAPOPORT, A; SARMENTO, D.; NÖMBERG, M.; PACHECO, S. (Orgs.). A criança de seis anos: no ensino fundamental. Porto Alegre: Mediação, 2009, p. 9. A mudança na Lei descrita no enunciado permitiu aos pro- fessores do ensino infantil A) modificar os procedimentos de avaliação. B) ampliar as oportunidades de qualificação. C) descartar a obrigatoriedade de alfabetizar. D) repensar as estratégias de curricularização. E) alterar a permanência dos alunos na escola. 67. O Parecer da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação nº 04 de 1998 esclarece que os sis- temas de ensino possuem autonomia para desenvolver suas áreas curriculares. Contudo, deixa claro que as pro- postas pedagógicas das escolas devem integrar bases teó- ricas que favoreçam a organização dos conteúdos do pa- radigma curricular da Base Nacional Comum e sua Parte Diversificada, visando ser coerente: A) na legislação, no controle e no monitoramento. B) na programação, na execução e no monitoramento. C) no currículo oculto, no currículo formal e no currículo real. D) no planejamento, desenvolvimento e avaliação das práticas pedagógicas 68. Na primeira reunião do ano, a diretora de uma escola municipal planejou com sua equipe o trabalho a ser de- senvolvido com as turmas de Educação Infantil, discutindo especialmente as formas de avaliação das crianças e a dis- tribuição de carga horária pelos dias de trabalho educaci- onal. Nessa reunião, eles verificaram que, conforme o dis- posto na Lei nº 9.394/1996 e suas alterações posteriores, a avaliação deve ser feita mediante A) realização de provas subjetivas, com o objetivo de promoção para o acesso ao Ensino Fundamental, e carga horária mínima anual de 700 horas, distribuídas por um mínimo de 200 dias de trabalho educacional. B) realização de provas objetivas visando à promoção para o acesso ao Ensino Fundamental e Médio, e carga horária míni- ma anual de 900 horas, distribuídas por um mínimo de 250 dias de trabalho educacional. C) acompanhamento e registro do desenvolvimento das crian- ças, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao Ensino Fundamental, e carga horária mínima anual de 800 ho- ras, distribuídas por um mínimo de 200 dias de trabalho edu- cacional. PÁG.49 D) acompanhamento e registro do desenvolvimento das crian- ças, e provas objetivas, com a finalidade de promoção para o acesso ao Ensino Fundamental, e carga horária anual de, no mínimo, 850 horas, distribuídas por um mínimo de 200 dias de trabalho educacional. E) acompanhamento e registro do desenvolvimento das crian- ças, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao Ensino Fundamental, e carga horária mínima anual de 700 ho- ras, distribuídas por um mínimo de 180 dias de trabalho edu- cacional. 69. Em uma determinada escola, no início do ano, professores se organizavam para planejar a proposta pedagógica para o ano letivo. Um grupo de professores entregou à Coor- denação Pedagógica sua listagem de conteúdos que seri- am desenvolvidos ao longo do ano e preparava-se para ir embora. A direção da escola solicitou que permanecessem para a reunião de planejamento com todo o corpo docen- te. A diretora tomou essa iniciativa baseada na Lei de Di- retrizes e Bases da Educação nº 9394, de 20 de novembro de 1996, que anuncia em seu Art. 13, que docentes in- cumbir-se-ão de: A) ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além de participar integralmente dos períodos dedicados ao planeja- mento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional. B) ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além de participar facultativamente dos períodos dedicados ao plane- jamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional. C) elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo sua proposta pedagógica, garantindo assim a autonomia pedagógica do docente. D) elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino. 70. O Título IV da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, estabelece a “Organização da Educação Nacional”, defi- nindo incumbências aos entes federativos (União, Estados, Distrito Federal e Municípios). Acerca das incumbências relativas à União, assinale a al- ternativa correta. A) Exercer função redistributiva e supletiva para que os demais entes da federação consigam atingir o atendimento prioritário à escolaridade obrigatória. B) Normatizar acerca do funcionamento, extinção e outros as- pectos relativos aos cursos de graduação e pós-graduação nas instituições públicas e privadas de ensino. C) Apresentar um Plano Nacional de Educação elaborado por seu corpo de técnicos, que servirá de referência aos Estados, Distrito Federal e Municípios na elaboração de seus próprios planos. D) Financiar os entes federativos para que montem seus próprios processos de avaliação do rendimento escolar no ensino mé- dio e superior, objetivando a definição de diretrizes para a melhoria do ensino. E) Fiscalizar a elaboração e implementação de um sistema de avaliação das instituições de ensino superior estaduais e mu- nicipais, garantindo que aqueles entes encaminhem uma con- tínua prática avaliativa. 71. A avaliação escolar tem três funções possíveis: somativa, diagnóstica e formativa. A ênfase dada pela pedagogia tradicional à avaliação somativa deu lugar, nas últimas dé- cadas, à avaliação formativa, por ser mais compatível com as concepções contemporâneas do educando como agen- te da sua aprendizagem, bem como com a busca de um desenvolvimento autônomo e preservação da autoestima. Em toda a educação básica e, particularmente, na educa- ção infantil, a avaliação formativa deve ser priorizada. Po- de-se considerar uma boa prática de avaliação formativa A) o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). B) esta prova de concurso que você está respondendo. C) a Provinha Brasil, que afere o desempenho da leitura no 1º ano do EF. D) portfólio ou os registros dos trabalhos sobre a vida escolar de cada aluno. E) os testes aplicados na seleção de candidatos a emprego pelos setores de RH. 72. Sobre o Plano Nacional de Educação – PNE, aprovado pela Lei n. 13.005/2014, é incorreto afirmar que: A) Uma de suas diretrizes é a promoção dos princípios do respei- to aos direitos humanos, à diversidade e à sustentabilidade socioambiental.Aulas de memorização de conteúdos (retirados dos livros), em que os alunos eram considerados como um papel em branco, nos quais era impresso o conhecimento, cabendo a eles concordar com tudo sem questionar. Eram formados para ser sujeitos a-críticos e passivos. Nessa concepção de ensino o processo de avaliação carregava em seu bojo o caráter de punição, muitas vezes, de redução de notas em função do comportamento do aluno em sala de aula. Essa ten- dência pedagógica foi/é muito forte em nosso modelo de educa- ção, ainda hoje, tanto no ensino fundamental e médio como no ensino superior, que vive uma salada de concepções pedagógi- cas. Sabemos que os professores são fruto da sua formação esco- lar, social e política, que esta se reflete na sua prática pedagógica, quando esta não é pensada/refletida cotidianamente, nesse caso, temos um ciclo vicioso: formado sem reflexão –formo alunos sem reflexão, também. Ao longo da história da educação, a tendência liberal tradicio- nal, sofreu/sofre várias críticas, a saber: os conhecimentos adqui- ridos fora da escola não eram considerados como primeiro passo para a construção de novos conhecimentos, como um caminho importante para a construção de saberes dotados de significado; era extremamente burocratizado (conteúdos, memorização, pro- vas) com normas rígidas. Dentre todas, a maior crítica advém da ausência de sentido, já que o conhecimento repassado não pos- suía/possui relação com a vida dos alunos. 1.1.2 A TENDÊNCIA LIBERAL RENOVADA Novos ventos mudaram o mundo, no que diz respeito às con- cepções filosóficas e sociológicas da educação. Por volta dos anos 20 e 30, o pensamento liberal democrático chega ao Brasil e à Escola Nova chega defendendo a escola pública para todas as camadas da sociedade. Para Saviani, apud Gasparin (2005), a Escola Nova acaba por aprimorar o ensino das elites, rebaixando o das classes populares. Mas, mesmo recebendo esse tipo de crítica, podemos considerá- la como o mais forte movimento ‚renovador‛ da educação brasi- leira. A tendência liberal renovada manifesta-se por várias versões: a renovada progressista ou pragmática, que tem em Jonh Dewey e Anísio Teixeira, seus representantes mais significativos; a reno- vada não-diretiva, fortemente inspirada em Carl Rogers, o qual enfatiza também a igualdade e o sentimento de cultura como desenvolvimento de aptidões individuais; a culturalistas; a piage- tiana; a montessoriana; todos relacionadas com os fundamentos da Escola Nova ou Escola Ativa. Por educação nova entendemos a corrente que trata de mu- dar o rumo da educação tradicional, intelectualista e livresca, dando-lhe sentido vivo e ativo. Por isso se deu também a esse movimento o nome de `escola ativa´‛ (LUZURIAGA, 1980, p. 227). Enfim, considerando suas especificidades e propostas de práticas pedagógicas diferentes, as versões da pedagogia liberal renovada têm em comum a defesa da formação do indivíduo como ser livre, ativo e social. ‚Do ponto de vista da Escola Nova, os conhe- cimentos já obtidos pela ciência e acumulados pela humanidade não precisariam ser transmitidos aos alunos, pois acreditava-se que, passando por esses métodos, eles seriam naturalmente en- contrados e organizados‛ (FUSARI e FERRAZ, 1992, p. 28). Essa tendência retira o professor e os conteúdos disciplinares do centro do processo pedagógico e coloca o aluno como fun- damental, que deve ter sua curiosidade, criatividade, inventivida- de, estimulados pelo professor, que deve ter o papel de facilita- dor do ensino. Defende uma escola que possibilite a aprendiza- gem pela descoberta, focada no interesse do aluno, garantindo momentos para a experimentação e a construção do conheci- mento, que devem partir do interesse do aluno. Essa concepção pedagógica sofreu e sofre distorções fortes por parte de alguns educadores. Muitos defendiam essa tendência, mas na prática, abriam mão de um trabalho planejado, deixando de organizar o que deveria ser ensinado e aprendido com a falsa desculpa de que o aluno é o condutor do processo. 1.1.3 A TENDÊNCIA LIBERAL TECNICISTA A Tendência Liberal Tecnicista começa a se destacar no final dos anos 60, quando do desprestígio da Escola Renovada, mo- mento em que mais uma vez, sob a força do regime militar no país, as elites dão destaque a um outro tipo de educação direcio- nada às grandes massas, a fim de se manterem na posição de dominação. Tendo como principal objetivo atender aos interesses da soci- edade capitalista, inspirada especialmente na teoria behaviorista, corrente comportamentalista organizada por Skinner que traz como verdade inquestionável a neutralidade científica e a trans- posição dos acontecimentos naturais à sociedade. O chamado ‚tecnicismo educacional‛, inspirado nas teorias da aprendizagem e da abordagem do ensino de forma sistêmica, constituiu-se numa prática pedagógica fortemente controladora das ações dos alunos e, até, dos professores, direcionadas por atividades repetitivas, sem reflexão e absolutamente programa- das, com riqueza de detalhes. O tecnicismo defendia, além do princípio da neutralidade, já citada, à racionalidade, a eficiência e a produtividade. PÁG.5 A educação, a escola passa a ter seu trabalho fragmentado com o objetivo de produzir os ‚produtos‛ sonhados e demanda- dos pela sociedade capitalista e industrial. Tais como: o micro- ensino, o tele-ensino, a instrução programada, entre outras. Su- bordina a educação à sociedade capitalista, tendo como tarefa principal à produção de mão de obra qualificada para atender ao mercado, trazendo para os alunos e para as escolas consequên- cias perversas, a saber: 1. A sociedade passou a atribuir a escola e a sua tecnologia toda a responsabilidade do processo de aprendizagem, negando os saberes trazidos pelos alunos e pelos professores; 2. Incutiu a ideia errada de que aprender não é algo inerente ao ser humano e sim um processo que ocorre apenas a partir de técnicas específicas e pré-definidas por especialistas; 3. O professor passou a ser refém da técnica, repassada pelo manuais e o aluno a ser um mero reprodutor de respostas pré-estabelecidas pela escola. Assim, se o aluno quisesse lo- grar sucesso na vida e na escola, precisava apenas responder ao que lhe foi ensinado e reproduzir, sem questionar e/ou cri- ar algo novo; 4. O bom professor deveria observar o desempenho do aluno, apenas com o intuito de ajustar seu processo de aprendiza- gem ao programa vivenciado; 5. Cada atividade didática passou a ter momento e local pró- prios para ser realizada, dentre outras. Naturalmente que este modelo, que defende a fragmentação do conhecimento, calcado na crescente especialização da ciência compromete a construção de uma visão global por parte dos educadores, impossibilitando ou dificultando, muitíssimo, o de- senvolvimento de um ser humano mais integrado interiormente e participante socialmente. Vele salientar, que essa tendência pedagógica marcou forte- mente as décadas de 70 e 80 e tem influência ainda hoje. 1.1.4 A TENDÊNCIA PROGRESSISTA LIBERTADORA No final dos anos 70 e início dos 80, a abertura política decor- rente do final do regime militar coincidiu com a intensa mobiliza- ção dos educadores para buscar uma educação crítica, tendo em vista a superação das desigualdades existentes no interior da sociedade. Surge, então a ‚pedagogia libertadora‛ que é oriunda dos movimentos de educação popular que se confrontavam com o autoritarismo e a dominação social e política. Nesta tendência pedagógica, a atividade escolar deveria cen- trar-se em discussões de temas sociais e políticos e em ações concretas sobre a realidade social imediata. O professor deveria agir como um coordenador de atividades, aquele que organiza e atua conjuntamente com os alunos. Seus defensores, dentre eles o educadorB) Caberá unicamente aos municípios a elaboração de seus cor- respondentes planos de educação ou adequar os planos já aprovados em lei, em consonância com as diretrizes, metas e estratégias previstas nesse PNE, no prazo de 1 (um) ano, con- tado da publicação desta Lei. C) O Fórum Nacional de Educação tem também a atribuição de acompanhar a execução do PNE e o cumprimento de suas metas. D) Caberá aos gestores federais, estaduais, municipais e do Dis- trito Federal a adoção das medidas governamentais necessá- rias ao alcance das metas previstas nesse PNE. 73. A respeito das metas e estratégias relativas à educação superior no Plano Nacional de Educação (PNE – Lei n. 13.005/2014), analise as afirmativas. I. Elevar a taxa bruta de matrículas na educação superior para 50% e a taxa líquida para 33% da população de 18 a 24 anos. II. Promover a formação inicial e continuada dos profissionais técnico-administrativos da educação superior. III. Extinguir progressivamente as matrículas custeadas por meio do Fundo de Financiamento Estudantil (FIES) e ampliar a ofer- ta de vagas por meio da rede de universidades federais, da Rede Federal de Educação Profissional Científica e Tecnológi- ca e do Sistema Universidade Aberta do Brasil. IV. Substituir o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE) aplicado ao final do primeiro ano do curso de gradu- ação pelo Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), com a fi- nalidade de apurar o valor agregado dos cursos de gradua- ção. Está correto o que se afirma em: A) I, II e IV, apenas. B) I, II e III, apenas. C) II e IV, apenas. D) I e III, apenas. PÁG.50 74. Sobre as estratégias, definidas pelo Plano Nacional de Educação (PNE), que visam assegurar que todos os profes- sores da educação básica possuam formação específica de nível superior, obtida em curso de licenciatura na área de conhecimento em que atuam, assinale a afirmativa incor- reta: A) Ampliar programa permanente de iniciação à docência a estudantes matriculados em cursos de licenciatura, a fim de aprimorar a formação de profissionais para atuar no magisté- rio da educação básica. B) Promover, exclusivamente, a formação continuada em nível de pós-graduação Lato Sensu dos Técnicos Administrativos e Técnicos em Assuntos Educacionais nas instituições de ensino superior, tendo em vista que os mesmos não desenvolvem ações de pesquisa. C) Implementar programas específicos para formação de profis- sionais da educação para as escolas do campo e de comuni- dades indígenas e quilombolas e para a educação especial. D) Implementar cursos e programas especiais para assegurar formação específica na educação superior, nas respectivas áreas de atuação, aos docentes com formação de nível médio na modalidade normal, não licenciados ou licenciados em área diversa da de atuação docente, em efetivo exercício. 75. A Lei n. 13.005, de 25 de junho de 2014, que aprova o Plano Nacional de Educação (PNE) e dá outras providên- cias, garante o atendimento das necessidades específicas na educação especial, assegurando o sistema educacional inclusivo para: A) Somente para a Educação Básica. B) Todos os níveis, etapas e modalidades. C) Somente para o Ensino Fundamental. D) Para o Ensino Fundamental e Ensino Médio. E) Para a Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. 76. Indique a opção que completa corretamente a lacuna da assertiva a seguir. Ao processo de análise ou julgamento da prática denomina-se como ______ ; constitui a instância crítica da operacionalização ou da melhoria de uma linha de ação ou execução de um pla- no. Ao processo de coordenação da execução de uma linha de ação denominação de _______ . Ambos, em conjunto com ______ e ______, percebe-se a prática profissional da supervisão: 1. como trabalho de coordenação e controle da prática edu- cativa que visa assegurar os princípios e as finalidades da educação na prática pedagógica; 2. Como interprete do signi- ficado das políticas e das práticas no duplo movimento que possa realmente comprometer-se com os princípios e as fina- lidades da educação. A) Gestão / política / avaliação / planejamento. B) Política / avaliação / planejamento / gestão. C) Planejamento / aprendizagem / política / avaliação. D) Aprendizagem / gestão / organização / política. E) Avaliação / gestão / política / planejamento. 77. Segundo a LDB, a classificação em qualquer série ou eta- pa, exceto para a primeira do ensino fundamental, pode ser feita por A) promoção, para alunos que cursaram, sem aproveitamento, a série anterior, em outra escola. B) transferência, para candidatos procedentes de outras escolas. C) avaliação quantitativa baseada em instrumento de ano ou etapa posterior. D) prova objetiva realizada pelo conselho escolar. 78. Um dos critérios a serem observados na verificação do rendimento escolar é o(a) A) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos quantitativos sobre os qualitati- vos. B) diminuição do ritmo de ensino/aprendizagem para alunos com atraso escolar. C) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do aprendizado. D) aproveitamento de estudos, mesmo dos não concluídos com êxito. 79. A expedição de histórico escolar, declaração de conclusão de série/ano, diplomas ou certificados de conclusão de cursos é de responsabilidade do(da) A) Secretaria Municipal de Educação. B) Conselho Escolar e de Classe. C) Conselho Municipal de Educação. D) Instituição de Ensino. 80. Conforme disposto no regimento escolar e nas normas do sistema de ensino, o controle de frequência fica a cargo da escola, exigida a frequência mínima de A) vinte e cinco por cento do total de horas letivas para aprova- ção. B) setenta e cinco por cento do total de horas letivas para apro- vação. C) oitenta e cinco por cento do total de horas letivas para apro- vação. D) noventa e cinco por cento do total de horas letivas para apro- vação. PÁG.51 6. POLÍTICAS EDUCACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA. 6.1 ENSINO MÉDIO. O Ensino Médio, no Brasil, tem se constituído, ao longo da história da educação brasileira, como o nível de maior complexi- dade na estruturação de políticas públicas de enfrentamento aos desafios estabelecidos pela sociedade moderna, em decorrência de sua própria natureza enquanto etapa intermediária entre o Ensino Fundamental e a Educação Superior e a particularidade de atender a adolescentes, jovens e adultos em suas diferentes ex- pectativas frente à escolarização, levando-se em consideração que estes conceitos são estabelecidos por uma construção social e como estes sujeitos se vêem neste processo, que está intima- mente ligado com a representação social que lhes é atribuída. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB (Lei 9394-96), ao situar o Ensino Médio como etapa final da Educação Básica, define-a como a conclusão de um período de escolariza- ção de caráter geral. Trata-se de reconhecê-lo como parte de uma etapa da escolarização que tem por finalidade o desenvol- vimento do indivíduo, assegurando-lhe a formação comum indis- pensável para o exercício da cidadania, fornecendo-lhe os meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores (art. 22). As disposições legais sobre o ensino médio deixam clara a importância da educação geral como meio de preparar para o trabalho e formar pessoas capacitadas à sua inserção social cida- dã, de se perceberem como sujeitos de intervenção de seu pró- prio processo histórico, atentos às transformações da sociedade, compreendendo os fenômenos sociais e científicos que permei- am o seu cotidiano, possibilitando, ainda, a continuação deseus estudos. Paralelamente à expansão do atendimento, as políticas públi- cas educacionais se concentraram também em aspectos relacio- nados à permanência do aluno na escola e à qualidade dos servi- ços oferecidos. Questões como as condições de funcionamento das escolas, a formação e a capacitação dos professores, a quali- dade do material didático, a leitura no trabalho escolar, a partici- pação dos pais na escola e a qualidade da merenda escolar foram priorizadas para compensar os efeitos da maior incorporação de alunos provenientes de famílias de menor escolaridade. O governo federal estabelece como prioridade o desenvolvi- mento de programas e 3 projetos, em regime de colaboração com Municípios, Distrito Federal e Estados, que visam à melhoria da qualidade da educação básica, dentro do que dispõe o Plano de Metas, Decreto nº 6.094, de 24 de abril de 2007. No contexto histórico da educação brasileira cabe destacar que o ensino fundamental e o educação superior sempre tiveram seus objetivos e finalidades claramente delineadas nas legislações educacionais, sendo que, só a partir da aprovação da Lei de Dire- trizes e Bases da Educação Nacional, em 1996, o ensino médio passou a ser visto como etapa da educação básica, com diretrizes e finalidades expressas nos Artigos 35 e 36 da LDB. A ênfase da lei, que situa o ensino médio como etapa final da educação básica, implica compreender a necessidade de adotar diferentes formas de organização curricular, e, sobretudo, estabe- lecer princípios orientadores para a garantia de uma formação eficaz dos jovens brasileiros, capaz de atender os diferentes an- seios dos jovens que se encontram na faixa etária de escolariza- ção, que possam participar do processo de construção de uma sociedade mais solidária, reconhecendo suas potencialidades e os desafios para inserção no mundo competitivo do trabalho. A identidade do ensino médio se define na superação do dua- lismo entre propedêutico e profissionalizante. Importa, ainda, que se configure um modelo que ganhe identidade unitária para esta etapa da educação básica e que assuma formas diversas e con- textualizadas, tendo em vista a realidade brasileira. Busca-se uma escola que não se limite ao interesse imediato, pragmático e utilitário. Entender a necessidade de uma formação com base unitária implica em perceber as diversidades do mundo moderno, no sentido de se promover à capacidade de pensar, refletir, compre- ender e agir sobre as determinações da vida social e produtiva – que articule trabalho, ciência e cultura na perspectiva da emanci- pação humana, de forma igualitária a todos os cidadãos. Por esta concepção, o ensino médio deverá se estruturar em consonância com o avanço do conhecimento científico e tecnoló- gico, fazendo da cultura um componente da formação geral, articulada com o trabalho produtivo. Isso pressupõe a vinculação dos conceitos científicos com a prática relacionada à contextuali- zação dos fenômenos físicos, químicos e biológicos, bem como a superação das dicotomias entre humanismo e tecnologia e entre a formação teórica geral e técnica-instrumental. Entre os esforços atuais para se alcançar as expectativas de uma educação pública, gratuita com qualidade para essa etapa nasce o Programa Ensino Médio Inovador buscando os seguintes impactos e transformações: Superação das desigualdades de oportunidades educacionais; Universalização do acesso e per- manência dos adolescentes de 15 a 17 anos no ensino médio; Consolidação da identidade desta etapa educacional, conside- rando a diversidade de sujeitos; Oferta de aprendizagem significativa para jovens e adultos, reconhecimento e priorização da interlocução com as culturas juvenis; 6.1.1 Diretrizes, Parâmetros Curriculares, currículo e avalia- ção. SINTESE DAS DIRETRIZES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO Identidade e finalidades do Ensino Médio A identidade do Ensino Médio se configura quando afirma- mos que ele é a última etapa da Educação Básica e como tal é um direito de todos que deve ser garantido pelo Estado e incentivado pela sociedade. Nos moldes do art. 3º da Resolução CNE/CEB nº 2/2012, o Ensino Médio é um direito social de cada pessoa e dever do Estado na sua oferta pública e gratuita. A Resolução CNE/CEB nº 2/2012 reforça essa identidade quando lista, no seu art. 5º, os princípios que devem nortear o Ensino Médio na sua oferta e organização: Art. 5º O Ensino Médio em todas as suas formas de oferta e organização, baseia-se em: I – Formação integral do estudante. II – Trabalho e pesquisa como princípios educativos e peda- gógicos, respectivamente. III – Educação em Direitos Humanos como princípio nacional norteador. IV – Sustentabilidade ambiental como meta universal. PÁG.52 V – Indissociabilidade entre educação e prática social, consi- derando-se a historicidade dos conhecimentos e dos sujeitos do processo educativo, bem como entre teoria e prática no processo de ensino-aprendizagem. VI – Integração de conhecimentos gerais e, quando for o caso, técnico-profissionais realizada na perspectiva da interdisciplinari- dade e da contextualização. VII – Reconhecimento e aceitação da diversidade e da realida- de concreta dos sujeitos do processo educativo, das formas de produção, dos processos de trabalho e das culturas a eles subja- centes. VIII – Integração entre educação e as dimensões do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura como base da proposta e do desenvolvimento curricular. § 1º O trabalho é conceituado na sua perspectiva ontológica de transformação da natureza, como realização inerente ao ser humano e como mediação no processo de produção da sua existência; § 2º A ciência é conceituada como o conjunto de conhecimen- tos sistematizados, produzidos socialmente ao longo da história, na busca da compreensão e transformação da natureza e da sociedade. § 3º A tecnologia é conceituada como a transformação da ci- ência em força produtiva ou mediação do conhecimento científi- co e a produção, marcada, desde sua origem, pelas relações soci- ais que a levaram a ser produzida. § 4º A cultura é conceituada como o processo de produção de expressões materiais, símbolos, representações e significados que correspondem a valores éticos, políticos e estéticos que orientam as normas de conduta de uma sociedade. No mesmo diapasão, a Resolução traz no art. 4º as finalidades do Ensino Médio, onde lê-se as finalidades para essa etapa: I – a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no Ensino Fundamental, possibilitando o prossegui- mento de estudos; II – a preparação básica para o trabalho e a cidadania do edu- cando para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores; III – o aprimoramento do educando como pessoa humana, in- cluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico; IV – a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática. Os sujeitos/estudantes do Ensino Médio A decisão sobre a oferta e organização do Ensino Médio deve ser precedida de uma análise dos destinatários e sujeitos dessa etapa educacional que são, predominantemente, adolescentes e jovens. Estas Diretrizes Curriculares concebem a juventude como condição sócio-histórico cultural de uma categoria de sujeitos que necessita ser considerada em suas múltiplas dimensões, com especificidades próprias que não estão restritas às dimensões biológica e etária, mas que se encontram articuladas com uma multiplicidade de atravessamentos sociais e culturais, produzindo múltiplas culturas juvenis ou muitas juventudes. Entender o jovem do Ensino Médio dessa forma significa superar uma noção ho- mogeneizante enaturalizada desse estudante, passando a perce- bê-lo como sujeito com valores, comportamentos, visões de mundo, interesses e necessidades singulares. Além disso, deve-se aceitar a existência de pontos em comum que permitam tratá-lo como uma categoria social. Nesse sentido, sugere-se que, para viabilizar o atendimento a todos os estudantes do Ensino Médio, faz-se necessário discutir as características sócio-econômico-culturais dos jovens que o frequentam; entender as representações que a escola, seus pro- fessores e dirigentes fazem dos estudantes; saber quais sentidos e significados os jovens atribuem à experiência escolar; conhecer como os jovens interagem com a diversidade e em que medida a cultura escolar instituída se aproxima ou se distancia das expecta- tivas dos jovens estudantes. Além disso, é importante verificar se a experiência escolar ofe- recida guarda alguma relação com os interesses pessoais e os projetos de vida dos estudantes; identificar em que medida as atividades desenvolvidas na escola podem contribuir para que os estudantes elaborem seus projetos de futuro; e verificar se há aspectos que necessitam ser modificados no sentido de favorecer a permanência dos estudantes, com sucesso, na escola. Esses temas devem pautar as discussões de professores e ges- tores ao decidir a organização dos estabelecimentos escolares. Essas discussões devem ser realizadas com particular atenção quando do atendimento aos estudantes do Ensino Médio notur- no, estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA), estudantes indígenas, do campo, quilombolas e estudantes da Educação Especial. O currículo do Ensino Médio Nessas Diretrizes Curriculares Nacionais, o currículo é enten- dido como a seleção de conhecimentos historicamente acumula- dos, considerados relevantes e pertinentes em um dado contexto histórico, e definidos tendo por base o projeto de sociedade e de formação humana que a ele se articula. O currículo se expressa por meio de uma proposta pela qual se explicitam as intenções da formação e se concretiza por meio das práticas escolares reali- zadas com vistas a dar materialidade a essa proposta. Os conhecimentos escolares são reconhecidos como aqueles produzidos pelos homens no processo histórico de produção de sua existência material e imaterial, valorizados e selecionados pela sociedade e pelas escolas que os organizam a fim de que possam ser ensinados e aprendidos, tornando-se elementos do desenvolvimento cognitivo do estudante, bem como de sua for- mação ética, estética e política. No atendimento ao que estabelece a LDB, o currículo do Ensi- no Médio tem uma base comum, complementada em cada sis- tema de ensino e em cada estabelecimento escolar por uma parte diversificada. A base nacional comum e a parte diversificada cons- tituem um todo 38 integrado e não podem ser consideradas como dois blocos distintos. A articulação entre ambas possibilita a sintonia dos interesses mais amplos da formação básica do cidadão com a realidade local e dos estudantes, perpassando todo o currículo. Em atendimento ao que determina a LDB, o currículo é orga- nizado em quatro áreas do conhecimento: Linguagens Matemática Ciências naturais Ciências sociais. PÁG.53 Destaca-se que o currículo deve contemplar as quatro áreas de conhecimento, com tratamento metodológico que evidencie a contextualização e a interdisciplinaridade ou outras formas de interação e articulação entre diferentes campos de saberes espe- cíficos. A legislação nacional determina os componentes obrigatórios que constituem a base nacional comum e que devem ser tratados em uma ou mais áreas de conhecimento na composição do currí- culo. São eles: a) o estudo da Língua Portuguesa e da Matemática, o conheci- mento do mundo físico e natural e da realidade social e políti- ca, especialmente do Brasil; b) o ensino da Arte, especialmente em suas expressões regio- nais, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos es- tudantes, com a Música como seu conteúdo obrigatório, mas não exclusivo; c) a Educação Física, integrada à proposta pedagógica da insti- tuição de ensino, sendo sua prática facultativa ao estudante nos casos previstos em lei; d) o ensino da História do Brasil, que leva em conta as contribui- ções das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e eu- ropeia; e) o estudo da História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena, no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História brasileiras; f) a Filosofia e a Sociologia em todos os anos do curso; g) uma língua estrangeira moderna na parte diversificada, esco- lhida pela comunidade escolar, e uma segunda, em caráter optativo, dentro das disponibilidades da instituição. Formas de organização do Ensino Médio As Diretrizes Curriculares Nacionais orientam e estimulam que, guardadas as cargas horárias definidas pela LDB, o Ensino Médio possa ser organizado nos diferentes formatos conforme a necessidade local. Pode ser organizado em séries anuais, perío- dos semestrais, ciclos, módulos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não seriados, com base na idade, na compe- tência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar. Os componentes curriculares devem propiciar a apropriação de conceitos e categorias básicas, e não o acúmulo de informa- ções e conhecimentos, estabelecendo um conjunto necessário de saberes integrados e significativos. Além de seleção criteriosa de saberes, em termos de quantidade, pertinência e relevância, deve ser equilibrada sua distribuição ao longo do curso, para evitar fragmentação e congestionamento com número excessivo de componentes em cada tempo da organização escolar. A organi- zação curricular do Ensino Médio deve oferecer tempos e espaços próprios para estudos e atividades que permitam itinerários for- mativos opcionais diversificados, a fim de melhor responder à heterogeneidade e pluralidade de condições, múltiplos interesses e aspirações dos estudantes, com suas especificidades etárias, sociais e culturais, bem como sua fase de desenvolvimento. For- mas diversificadas de itinerários podem ser organizadas, desde que garantida a simultaneidade entre as dimensões do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura, e definidas pelo projeto político-pedagógico, atendendo necessidades, anseios e aspira- ções dos sujeitos e a realidade da escola e do seu meio. A inter- disciplinaridade e a contextualização devem assegurar a transver- salidade do conhecimento de diferentes componentes curricula- res, propiciando a interlocução entre os saberes e os diferentes campos do conhecimento. Direitos e objetivos de aprendizagem dos estudantes do Ensino Médio. As Diretrizes Curriculares Nacionais partem do princípio de que o Ensino Médio é um direito de todos e que o direito para ser efetivado deve ser explicitamente enunciado. Nesse sentido, as Diretrizes enunciam, no art. 12 da Resolução CNE/CEB nº 2/2012, o que deve ser garantido aos estudantes do Ensino Mé- dio. Artigo 12 O currículo do Ensino Médio deve garantir ações que promovam: a) a educação tecnológica básica, a compreensão do significado da ciência, das letras e das artes; b) o processo histórico de transformação da sociedade e da cultura; c) a Língua Portuguesa como instrumento de comunicação, acesso ao conhecimento e exercício da cidadania. Desse modo, os conteúdos, as metodologias e a avaliação de- vem ser organizados de maneira que, no final do Ensino Médio, o estudante demonstre domínio dos princípios científicos e tecno- lógicos que presidem a produção moderna e conhecimentos das formas contemporâneasde linguagem. Para além das capacida- des cognitivas listadas no art. 12, o Ensino Médio deve, em aten- dimento ao que determina o art. 32 da LDB, propiciar o desenvol- vimento da capacidade de aprender e a compreensão do ambien- te natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade. O papel dos estabelecimentos escolares e dos sistemas de ensino. Ainda na busca da garantia do direito dos estudantes, as Dire- trizes apostam na capacidade e no compromisso dos estabeleci- mentos escolares e dos sistemas de ensino. Por isso, afirmam que cabe a cada unidade de ensino a elaboração do seu projeto polí- tico pedagógico, com a proposição de alternativas para a forma- ção integral e acesso aos conhecimentos e saberes necessários, definindo a partir de aprofundado processo de diagnóstico, análi- se e estabelecimento de prioridades, delimitação de formas de implementação e sistemática de seu acompanhamento e avalia- ção. O projeto político-pedagógico, na sua concepção e imple- mentação, deve considerar os estudantes e os professores como sujeitos históricos de direitos, participantes ativos e protagonistas na sua diversidade e singularidade. A instituição de ensino deve atualizar, periodicamente, seu projeto político pedagógico e dar-lhe publicidade à comunidade escolar e às famílias. Os sistemas de ensino, de acordo com a legislação e a norma- tização nacional e estadual, e na busca da melhor adequação possível às necessidades dos estudantes e do meio social, devem criar mecanismos que garantam liberdade, autonomia e respon- sabilidade às unidades escolares, fortalecendo sua capacidade de concepção, formulação e execução de suas propostas pedagógi- cas; fomentar alternativas de diversificação e flexibilização pelas unidades escolares, de formatos, componentes curriculares ou formas de estudo e atividades, estimulando a construção de itine- rários formativos que atendam às características, interesses e PÁG.54 necessidades dos estudantes e às demandas do meio social, privi- legiando propostas com opções pelos estudantes. Cabe, ainda, aos sistemas prover os recursos financeiros e ma- teriais necessários à ampliação dos tempos e espaços dedicados ao trabalho educativo nas unidades escolares; garantir professo- res com jornada de trabalho e formação adequadas para o de- senvolvimento do currículo, bem como dos gestores e demais profissionais das unidades escolares; acompanhamento e avalia- ção dos programas e ações educativas nas respectivas redes e unidades escolares. O papel do Ministério da Educação. Ao Ministério da Educação, como representante da União, ca- be oferecer subsídios e apoio para implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais e a elaboração de proposta que explicite os direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento dos estudantes, que orientem e subsidiem os estabelecimentos esco- lares e os sistemas de ensino na busca da garantia de educação de qualidade. Cabe ainda ao MEC instituir uma política de forma- ção de professores e organizar as avaliações externas em concor- dância com estas Diretrizes. A avaliação e o Papel Social da Educação Escolar Até que ponto, nós, professores, refletimos sobre nossas ações cotidianas na escola, nossas práticas em sala de aula, sobre a linguagem que utilizamos, sobre aquilo que pré-julgamos ou outras situações do cotidiano? Muitas vezes, nosso discurso ex- pressa aquilo que entendemos como adequado em educação e aquilo que almejamos. Isso tem seu mérito! Contudo, nossas práticas, imbuídas de concepções, representações e sentidos, ou seja, repletas de ações que fazem parte de nossa cultura, de nos- sas crenças, expressam um ‚certo modo‛ de ver o mundo. Esse ‚certo modo‛ de ver o mundo, que está imbricado na ação do professor, traz para nossas ações reflexos de nossa cultura e de nossas práticas vividas, que ainda estão muito impregnados pela lógica da classificação e da seleção, no que tange à avaliação escolar. Um exemplo diz respeito ao uso das notas escolares que co- locam os avaliados em uma situação classificatória. Nossa cultura meritocrática naturaliza o uso das notas a fim de classificar os melhores e os piores avaliados. Em termos de educação escolar, os melhores seguirão em frente, os piores voltarão para o início da fila, refazendo todo o caminho percorrido ao longo de um período de estudos. Essa concepção é naturalmente incorporada em nossas práticas e nos esquecemos de pensar sobre o que, de fato, está oculto e encoberto por ela. Em nossa sociedade, de um modo geral, ainda é bastante co- mum as pessoas entenderem que não se pode avaliar sem que os estudantes recebam uma nota pela sua produção. Avaliar, para o senso comum, aparece como sinônimo de medida, de atribuição de um valor em forma de nota ou conceito. Porém, nós, professo- res, temos o compromisso de ir além do senso comum e não confundir avaliar com medir. Avaliar é um processo em que reali- zar provas e testes, atribuir notas ou conceitos é apenas parte do todo. A avaliação é uma atividade orientada para o futuro. Avalia- se para tentar manter ou melhorar nossa atuação futura. Essa é a base da distinção entre medir e avaliar. Medir refere-se ao pre- sente e ao passado e visa obter informações a respeito do pro- gresso efetuado pelos estudantes. Avaliar refere-se à reflexão sobre as informações obtidas com vistas a planejar o futuro. Portanto, medir não é avaliar, ainda que o medir faça parte do processo de avaliação. Avaliar a aprendiza- gem do estudante não começa e muito menos termina quando atribuímos uma nota à aprendizagem. A educação escolar é cheia de intenções, visa a atingir deter- minados objetivos educacionais, sejam estes relativos a valores, atitudes ou aos conteúdos escolares. A avaliação é uma das atividades que ocorre dentro de um processo pedagógico. Este processo inclui outras ações que im- plicam na própria formulação dos objetivos da ação educativa, na definição de seus conteúdos e métodos, entre outros. A avaliação, portanto, sendo parte de um processo maior, deve ser usada tanto no sentido de um acompanhamento do desenvolvimento do estudante, como no sentido de uma apreciação final sobre o que este estudante pôde obter em um determinado período, sempre com vistas a planejar ações educativas futuras. Quando a avaliação acontece ao longo do processo, com o objetivo de reorientá-lo, recebe o nome de avaliação formativa e quando ocorre ao final do processo, com a finalidade de apreciar o resul- tado deste, recebe o nome de avaliação somativa. Uma não é nem pior, nem melhor que a outra, elas apenas têm objetivos diferenciados. A concepção de educação e a avaliação Para se instaurar um debate no interior da escola, sobre as práticas correntes de avali- ação, é necessário que explicitemos nosso conceito de avaliação. Qual a função da avaliação, a partir do papel da educação escolar na sociedade atual? Às vezes, aquilo que parece óbvio não o é tanto assim. Para que é feita a avaliação na escola? Qual o lugar da avalia- ção no processo de ensino e aprendizagem? Tradicionalmente, nossas experiências em avaliação são mar- cadas por uma concepção que classifica as aprendizagens em certas ou erradas e, dessa forma, termina por separar aqueles estudantes que aprenderam os conteúdos programados para a série em que se encontram daqueles que não aprenderam. Essa perspectiva de avaliação classificatória e seletiva, muitas vezes, torna-se um fator de exclusão escolar. Entretanto, é possível concebermos uma perspectiva de avali- ação cuja vivência seja marcada pela lógica da inclusão, do diálo- go, da construção da autonomia, da mediação, da participação, da construção da responsabilidade com o coletivo. Tal perspecti- va de avaliação alinha-se com a proposta deuma escola mais democrática, inclusiva, que considera as infindáveis possibilidades de realização de aprendizagens por parte dos estudantes. Essa concepção de avaliação parte do princípio de que todas as pes- soas são capazes de aprender e de que as ações educativas, as estratégias de ensino, os conteúdos das disciplinas devem ser planejados a partir dessas infinitas possibilidades de aprender dos estudantes. Pode-se perceber, portanto, que as intenções e usos da avali- ação estão fortemente influenciados pelas concepções de educa- ção que orientam a sua aplicação. Hoje, é voz corrente afirmar-se que a avaliação não deve ser usada com o objetivo de punir, de classificar ou excluir. Usualmente, associa-se mais a avaliação somativa a estes objetivos excludentes. Entretanto, tanto a avalia- ção somativa quanto a formativa podem levar a processos de exclusão e classificação, na dependência das concepções que norteiem o processo educativo. A prática da avaliação pode acon- tecer de diferentes maneiras. Deve estar relacionada com a pers- pectiva para nós coerente com os princípios de aprendizagem PÁG.55 que adotamos e com o entendimento da função que a educação escolar deve ter na sociedade. Se entendermos que os estudantes aprendem de variadas formas, em tempos nem sempre tão homogêneos, a partir de diferentes vivências pessoais e experiências anteriores e, junto a isso, se entendermos que o papel da escola deva ser o de incluir, de promover crescimento, de desenvolver possibilidades para que os sujeitos realizem aprendizagens vida afora, de socializar experiências, de perpetuar e construir cultura, devemos entender a avaliação como promotora desses princípios, portanto, seu papel não deve ser o de classificar e selecionar os estudantes, mas sim o de auxiliar professores e estudantes a compreenderem de forma mais organizada seus processos de ensinar e aprender. Essa perspectiva exige uma prática avaliativa que não deve ser concebida como algo distinto do processo de aprendizagem. Entender e realizar uma prática avaliativa ao longo do proces- so é pautar o planejamento dessa avaliação, bem como construir seus instrumentos, partindo das interações que vão se construin- do no interior da sala de aula com os estudantes e suas possibili- dades de entendimentos dos conteúdos que estão sendo traba- lhados. A avaliação tem como foco fornecer informações acerca das ações de aprendizagem e, portanto, não pode ser realizada apenas ao final do processo, sob pena de perder seu propósito. Podemos chamar essa perspectiva de avaliação formativa. Se- gundo Allal (1986, p.176), ‚os processos de avaliação formativa são concebidos para permitir ajustamentos sucessivos durante o desenvolvimento e a experimentação do curriculum‛. Perrenoud (1999, p.143) define a avaliação formativa como ‚um dos compo- nentes de um dispositivo de individualização dos percursos de formação e de diferenciação das intervenções e dos enquadra- mentos pedagógicos‛. Tanto a avaliação somativa quanto a for- mativa podem levar a processos de exclusão e classificação, na dependência das concepções que norteiem o processo educativo. Outro aspecto fundamental de uma avaliação formativa diz respeito à construção da autonomia por parte do estudante, na medida em que lhe é solicitado um papel ativo em seu processo de aprender. Ou seja, a avaliação formativa, tendo como foco o processo de aprendizagem, numa perspectiva de interação e de diálogo, coloca também no estudante, e não apenas no professor, a responsabilidade por seus avanços e suas necessidades. Para tal, é necessário que o estudante conheça os conteúdos que irá aprender, os objetivos que deverá alcançar, bem como os critérios que serão utilizados para verificar e analisar seus avanços de aprendizagem. Nessa perspectiva, a auto-avaliação torna-se uma ferramenta importante, capaz de propiciar maior responsabi- lidade aos estudantes acerca de seu próprio processo de aprendi- zagem e de construção da autonomia. A avaliação formativa é aquela em que o professor está atento aos processos e às apren- dizagens de seus estudantes. O professor não avalia com o propósito de dar uma nota, pois dentro de uma lógica formativa, a nota é uma decorrência do processo e não o seu fim último. O professor entende que a ava- liação é essencial para dar prosseguimento aos percursos de aprendizagem. Continuamente, ela faz parte do cotidiano das tarefas propostas, das observações atentas do professor, das práticas de sala de aula. Por fim, podemos dizer que avaliação formativa é aquela que orienta os estudantes para a realização de seus trabalhos e de suas aprendizagens, ajudando-os a localizar suas dificuldades e suas potencialidades, redirecionando-os em seus percursos. A avaliação formativa, assim, favorece os processos de auto- avaliação, prática ainda não incorporada de maneira formal em nossas escolas. Instaurar uma cultura avaliativa, no sentido de uma avaliação entendida como parte inerente do processo e não marcada apenas por uma atribuição de nota, não é tarefa muito fácil. Uma pergunta, portanto, que o coletivo escolar necessita responder diz respeito às concepções de educação que orientam sua prática pedagógica, incluindo o processo de avaliação. Qual o entendimento que a escola construiu sobre sua concepção de educação e de avaliação? Há pelos menos dois aspectos sobre os quais a escola precisa refletir, como parte de sua concepção de educação. Um diz respeito à exclusão que ela pode realizar, caso afaste os estudantes da cultura, do conhecimento escolar e da própria escola, pela indução da evasão por meio de reprovação, como já foi abordado no texto sobre currículo e cultura. ... A au- to-avaliação torna-se uma ferramenta importante, capaz de pro- piciar maior responsabilidade aos estudantes acerca de seu pró- prio processo de aprendizagem e de construção da autonomia. Aqui os processos de avaliação podem atuar para legitimar a exclusão, dando uma aparência científica à avaliação e transferin- do a responsabilidade da exclusão para o próprio estudante. 1. É fundamental transformar a prática avaliativa em prática de aprendizagem. 2. É necessário avaliar como condição para a mudança de prática e para o redimensionamento do processo de ensino / apren- dizagem. 3. Avaliar faz parte do processo de ensino e de aprendizagem: não ensinamos sem avaliar, não aprendemos sem avaliar. Dessa forma, rompe-se com a falsa dicotomia entre ensino e avaliação, como se esta fosse apenas o final de um processo. 6.1.2 Interdisciplinaridade e contextualização no Ensino Mé- dio. A interdisciplinaridade deve ir além da mera justaposição de disciplinas e, ao mesmo tempo, evitar a diluição delas em genera- lidades. De fato, será principalmente na possibilidade de relacio- nar as disciplinas em atividades ou projetos de estudo, pesquisa e ação, que a interdisciplinaridade poderá ser uma prática pedagó- gica e didática adequada aos objetivos do Ensino Médio. O con- ceito de interdisciplinaridade fica mais claro quando se considera o fato trivial de que todo conhecimento mantém um diálogo permanente com outros conhecimentos, que pode ser de questi- onamento, de confirmação, de complementação, de negação, de ampliação, de iluminação de aspectos não distinguidos. Tendo presente esse fato, é fácil constatar que algumas disciplinas se identificam e aproximam, outras se diferenciam e distanciam, em vários aspectos: pelos métodos e procedimentos que envolvem, pelo objeto que pretendem conhecer, ou ainda pelo tipo de habi- lidades que mobilizam naquele que a investiga, conhece, ensina ou aprende. A interdisciplinaridade também está envolvida quando os su- jeitos que conhecem, ensinam e aprendem sentem necessidade de procedimentos que, numa única visão disciplinar, podem pa- recer heterodoxos,mas fazem sentido quando chamados a dar conta de temas complexos. Se alguns procedimentos artísticos podem parecer profecias na perspectiva científica, também é verdade que a foto do cogumelo resultante da explosão nuclear PÁG.56 também explica, de um modo diferente da Física, o significado da bomba atômica. Nesta multiplicidade de interações e negações recíprocas, a relação entre as disciplinas tradicionais pode ir da simples comu- nicação de idéias até a integração mútua de conceitos diretores, da epistemologia, da terminologia, da metodologia e dos proce- dimentos de coleta e análise de dados. Ou pode efetuar-se, mais singelamente, pela constatação de como são 76 diversas as várias formas de conhecer. Pois até mesmo essa ‚interdisciplinaridade singela‛ é importante para que os alunos aprendam a olhar o mesmo objeto sob perspectivas diferentes. É importante enfatizar que a interdisciplinaridade supõe um eixo integrador, que pode ser o objeto de conhecimento, um projeto de investigação, um plano de intervenção. Nesse sentido, ela deve partir da necessidade sentida pelas escolas, professores e alunos de explicar, compreender, intervir, mudar, prever, algo que desafia uma disciplina isolada e atrai a atenção de mais de um olhar, talvez vários. Explicação, compreensão, intervenção são processos que requerem um conhecimento que vai além da des- crição da realidade e mobiliza competências cognitivas para de- duzir, tirar inferências ou fazer previsões a partir do fato observa- do. A partir do problema gerador do projeto, que pode ser um experimento, um plano de ação para intervir na realidade ou uma atividade, são identificados os conceitos de cada disciplina que podem contribuir para descrevê-lo, explicá-lo e prever soluções. Dessa forma, o projeto é interdisciplinar na sua concepção, exe- cução e avaliação, e os conceitos utilizados podem ser formaliza- dos, sistematizados e registrados no âmbito das disciplinas que contribuem para o seu desenvolvimento. O exemplo do projeto é interessante para mostrar que a in- terdisciplinaridade não dilui as disciplinas, ao contrário, mantém sua individualidade. Mas integra as disciplinas a partir da com- preensão das múltiplas causas ou fatores que intervêm sobre a realidade e trabalha todas as linguagens necessárias para a cons- tituição de conhecimentos, comunicação e negociação de signifi- cados e registro sistemático de resultados. Essa integração entre as disciplinas para buscar compreender, prever e transformar a realidade aproxima-se daquilo que Piaget chama de estruturas subjacentes. O autor destaca um aspecto importante nesse caso: a compreensão dessas estruturas subjacentes não dispensa o conhecimento especializado, ao contrário. Somente o domínio de uma dada área permite superar o conhecimento meramente descritivo para captar suas conexões com outras áreas do saber na busca de explicações. As múltiplas formas de interação que se podem prever entre as disciplinas tal como tradicionalmente arroladas nas ‚grades curriculares‛, fazem com que toda proposição de áreas ou agru- pamento das mesmas seja resultado de um corte que carrega certo grau de arbitrariedade. Não há paradigma curricular capaz de abarcar a todas. Nesse sentido, seria desastroso entender uma proposta de organização por áreas como fechada ou definitiva. Mais ainda seria submeter uma área interdisciplinar ao mesmo amordaçamento estanque a que hoje estão sujeitas as disciplinas tradicionais isoladamente, quando o importante é ampliar as possibilidades de interação não apenas entre as disciplinas nucle- adas em uma área como entre as próprias áreas de nucleação. A contextualização pode ser um recurso para conseguir esse objeti- vo. Contextualizar o conteúdo que se quer aprendido significa, em primeiro lugar, assumir que todo conhecimento envolve uma relação entre sujeito e objeto. Na escola fundamental ou média, o conhecimento é quase sempre reproduzido das situações origi- nais nas quais acontece sua produção. Por esta razão, quase sempre o conhecimento escolar se vale de uma transposição didática, na qual a linguagem joga papel decisivo. O tratamento contextualizado do conhecimento é o recurso que a escola tem para retirar o aluno da condição de espectador passivo. Se bem trabalhado permite que, ao longo da transposição didática, o conteúdo do ensino provoque aprendi- zagens significativas que mobilizem o aluno e estabeleçam entre ele e o objeto do conhecimento uma relação de reciprocidade. A contextualização evoca por isso áreas, âmbitos ou dimen- sões presentes na vida pessoal, social e cultural, e mobiliza com- petências cognitivas já adquiridas. As dimensões de vida ou con- textos valorizados explicitamente pela LDB são o trabalho e a cidadania. As competências estão indicadas quando a lei prevê um ensino que facilite a ponte entre a teoria e a prática. A tendência atual, em todos os níveis de ensino, é analisar a realidade segmentada, sem desenvolver a compreensão dos múltiplos conhecimentos que se interpenetram e conformam determinados fenômenos. Para essa visão segmentada contribui o enfoque meramente disciplinar que, na nova proposta de re- forma curricular, pretendemos superado pela perspectiva inter- disciplinar e pela contextualização dos conhecimentos. Na perspectiva escolar, a interdisciplinaridade não tem a pre- tensão de criar novas disciplinas ou saberes, mas de utilizar os conhecimentos de várias disciplinas para resolver um problema concreto ou compreender um determinado fenômeno sob dife- rentes pontos de vista. Em suma, a interdisciplinaridade tem uma função instrumental. Trata-se de recorrer a um saber diretamente útil e utilizável para responder às questões e aos problemas soci- ais contemporâneos. Na proposta de reforma curricular do Ensino Médio, a inter- disciplinaridade deve ser compreendida a partir de uma aborda- gem relacional, em que se propõe que, por meio da prática esco- lar, sejam estabelecidas interconexões e passagens entre os co- nhecimentos através de relações de complementaridade, conver- gência ou divergência. A integração dos diferentes conhecimentos pode criar as con- dições necessárias para uma aprendizagem motivadora, na medi- da em que ofereça maior liberdade aos professores e alunos para a seleção de conteúdos mais diretamente relacionados aos assun- tos ou problemas que dizem respeito à vida da comunidade. Todo conhecimento é socialmente comprometido e não há co- nhecimento que possa ser aprendido e recriado se não se parte das preocupações que as pessoas detêm. O distanciamento entre os conteúdos programáticos e a experiência dos alunos certa- mente responde pelo desinteresse e até mesmo pela deserção que constatamos em nossas escolas. Conhecimentos seleciona- dos a priori tendem a se perpetuar nos rituais escolares, sem passar pela crítica e reflexão dos docentes, tornando-se, desta forma, um acervo de conhecimentos quase sempre esquecidos ou que não se consegue aplicar, por se desconhecer suas relações com o real. A aprendizagem significativa pressupõe a existência de um re- ferencial que permita aos alunos identificar e se identificar com as questões propostas. Essa postura não implica permanecer apenas no nível de conhecimento que é dado pelo contexto mais imedia- to, nem muito menos pelo senso comum, mas visa a gerar a ca- pacidade de compreender e intervir na realidade, numa perspec- tiva autônoma e desalienante. Ao propor uma nova forma de organizar o currículo, trabalhado na perspectiva interdisciplinar e PÁG.57 contextualizada, parte-se do pressuposto de que toda aprendiza- gem significativa implica uma relação sujeito-objeto e que, para que esta se concretize, é necessário oferecer as condições para que os dois pólos do processo interajam. 6.1.3 Ensino Médio Integrado: fundamentaçãolegal e curricu- lar. A proposta de integração do curso médio e do curso técnico de nível médio, alternativa constante do Decreto n. 5.154/04, possui um significado e um desafio para além da prática discipli- nar, interdisciplinar ou transdisciplinar, pois implica um compro- misso de construir uma articulação e uma integração orgânica entre o trabalho como princípio educativo, a ciência como criação e recriação pela humanidade de sua natureza e cultura, como síntese de toda produção e relação dos seres humanos com seu meio. Portanto, ensino integrado implica um conjunto de catego- rias e práticas educativas no espaço escolar que desenvolvam uma formação integral do sujeito trabalhador. O trabalho pode ser considerado como princípio educativo para SAVIANI (1989) em três sentidos diversos, mas articulados e integrados entre si. Em primeiro lugar, o trabalho é princípio educativo na medida em que determina, pelo grau de desenvol- vimento social atingido na história, o modo de ser da educação na sua totalidade (conjunto). Em segundo lugar, quando coloca exigências próprias que o processo educativo deve preencher em vista da participação efetiva dos membros da sociedade no traba- lho socialmente produtivo e, em terceiro lugar, o trabalho é prin- cípio educativo na medida que determinar a educação como uma modalidade específica e diferenciada de trabalho: o trabalho pedagógico (SAVIANI, 1989, p. 1-2). A educação tecnológica ou a politécnica está identificada no segundo sentido, no qual a educação básica necessita explicitar o modo como o conhecimento se relaciona com o trabalho. Portan- to, a categoria que assegura a integração entre os diferentes níveis e modalidades é a educação básica, formação mínima necessária a todo e qualquer cidadão. É com esta perspectiva que a União chama para si a coordenação da política nacional de educação com a finalidade de assegurar a articulação dos dife- rentes níveis, modalidades e sistemas de ensino (Art. 8, parágrafo único). Trabalhar com a concepção mais ampla de educação, de mo- do a incorporar todas as dimensões educativas que ocorrem no âmbito das relações sociais que objetivam a formação humana nas dimensões social, política e produtiva, implica reconhecer que cada sociedade, em cada modo de produção e regimes de acu- mulação, dispõe de formas próprias de educação que correspon- dem às demandas de cada grupo e das funções que lhes cabe desempenhar na divisão social e técnica do trabalho. O exercício destas funções não se restringe ao caráter produ- tivo, mas abrange todas as dimensões comportamentais, ideoló- gicas e normativas que lhes são próprias, elaborando a escola sua proposta pedagógica a partir das demandas sociais. Assim é que a dualidade estrutural se manifestava inequivocamente nos mo- dos de organização da produção, em que a distinção entre diri- gentes e trabalhadores era bem definida, a partir das formas de divisão social e técnica do trabalho. À velha escola humanista tradicional correspondia a necessi- dade socialmente determinada de formar os grupos dirigentes, que não exerciam funções instrumentais. A proposta pedagógica da escola, portanto, não tinha por objetivo a formação técnico- profissional vinculada a necessidades imediatas, e sim a formação geral da personalidade e o desenvolvimento do caráter através da aquisição de hábitos de estudo, disciplina, exatidão e compostu- ra. Já no âmbito das formas tayloristas/fordistas de organizar o trabalho capitalista no século XX, desenvolveu-se uma rede de escolas de formação profissional em diferentes níveis, paralela à rede de escolas destinadas à formação propedêutica, com a fina- lidade de atender às funções instrumentais inerentes às ativida- des práticas que decorriam da crescente diferenciação dos ramos profissionais. É essa diferenciação de escolas e redes, que atende às de- mandas de formação a partir do lugar que cada classe social vai ocupar na divisão do trabalho, que determina o caráter antide- mocrático do desdobramento entre escolas propedêuticas e profissionais, e não propriamente os seus conteúdos. Assim é que o conhecimento tecnológico de ponta, embora organicamente vinculado ao trabalho, não tem sido democratizado, porque se destina à formação dos dirigentes e por longo tempo tem estado restrito à formação de nível superior. Da mesma forma, a versão geral do Ensino Médio disponibili- zou conhecimento propedêutico à classe trabalhadora, em decor- rência das funções que ela teoricamente passaria a ocupar a par- tir da base microeletrônica, e nem por isso se alterou sua posição de classe. O desenvolvimento das forças produtivas, à medida que vai avançando a partir das mudanças na base técnica, vai trazendo novas demandas para a educação dos trabalhadores, o que no modo de produção capitalista responde às necessidades decorrentes da valorização do capital. O debate travado na década de 1980, sobre a possibilidade de uma formação básica que superasse a dualidade entre cultura geral e cultura técnica, introduziu na história da educação brasi- leira o conceito de politecnia. Ainda hoje, Saviani (2003) alerta que esse conceito não pode ser compreendido a partir de seu significado literal. Se a preparação profissional no Ensino Médio é uma imposi- ção da realidade, admitir legalmente essa necessidade é um pro- blema ético. Não obstante, se o que se persegue não é somente atender a essa necessidade mas mudar as condições em que ela se constitui, é também uma obrigação ética e política garantir que o Ensino Médio se desenvolva sobre uma base unitária para todos. Portanto, o Ensino Médio integrado ao ensino técnico, sob uma base unitária de formação geral, é uma condição necessária para se fazer a ‚travessia‛ para uma nova realidade. Sabemos que foi essa travessia que o Decreto n. 2.208/97 interrompeu, ao for- çar a adequação da realidade à lei, proibindo que o Ensino Médio propiciasse também a formação técnica. O restabelecimento dessa garantia, por meio do Decreto n. 5.154/2004, pretende reinstaurar um novo ponto de partida para essa travessia, de tal forma que o horizonte do Ensino Médio seja a consolidação da formação básica unitária e politécnica, centra- da no trabalho, na ciência e na cultura, numa relação mediata com a formação profissional específica que se consolida em ou- tros níveis e modalidades de ensino. O Ensino Médio integrado ao ensino técnico, conquanto seja uma condição social e historicamente necessária para construção do Ensino Médio unitário e politécnico, não se confunde total- mente com ele porque a conjuntura do real assim não o permite. Não obstante, por conter os elementos de uma educação poli- técnica, contém também os gérmens de sua construção (Saviani, 1997). Entenda-se, entretanto, que a educação politécnica não é aquela que só é possível em outra realidade, mas uma concepção PÁG.58 de educação que busca, a partir do desenvolvimento do capita- lismo e de sua crítica, superar a proposta burguesa de educação que potencialize a transformação estrutural da realidade. O Ensino Médio integrado é aquele possível e necessário em uma realidade conjunturalmente desfavorável – em que os filhos dos trabalhadores precisam obter uma profissão ainda no nível médio, não podendo adiar este projeto para o nível superior de ensino – mas que potencialize mudanças para, superando-se essa conjuntura, constituir-se em uma educação que contenha ele- mentos de uma sociedade justa. Entende-se que, a despeito do afastamento a que foram compelidos, os educadores que atuam no Ensino Médio e no ensino técnico de nível médio partilham dos mesmos anseios de fornecer uma sólida e atualizada formação científica, tecnológica, cultural e ética aos seus alunos; de promover as oportunidades que levem ao desenvolvimento da criatividade e do pensamento autônomoe crítico; de fomentar o gosto pela aprendizagem e hábitos de autoaprendizagem; de formar, enfim, pessoas abertas, interessadas, curiosas, críticas, solidárias e de iniciativa. Diante, porém, do desafio de conceber e levar a efeito um curso capaz de atender simultaneamente às duas valias, a de servir à conclusão da educação básica e a de levar a uma forma- ção técnica especializada, estes educadores, e não somente eles, manifestam dúvidas e receios quanto à possibilidade de realizar tais propósitos. Haveria uma sobrecarga dos programas? Dever- se-ia prolongar o tempo de escolaridade? O ensino geral teria sua identidade modificada em favor de uma formação mais especiali- zada? Ou, ao contrário, seria o ensino técnico a se re-configurar, tendo em vista a formação de um perfil profissional mais amplo e genérico? Não são, porém, estas as questões que serão aborda- das neste texto. Sabe-se que a modalidade do ‚integrado‛ teria a duração de quatro anos. Crê-se que, neste tempo, é possível atender à legis- lação quanto à carga horária mínima exigida para ambos os cur- sos. Pretende-se, então, tomar como foco a discussão da concep- ção e organização curricular, particularizando-a pela referência privilegiada à modalidade do integrado. Para tanto, faz-se neces- sário deixar claro que currículo está sendo, aqui, considerado como hipóteses de trabalho e de propostas de ação didática, que são definidas para serem desenvolvidas na prática educativa; experiências que devem ser investigadas e analisadas. Entende-se, também, que estas hipóteses ou propostas repre- sentam sempre opções escolhidas e/ou combinadas a partir da análise de situações dadas, do que se quer e do que se calcula poder alcançar, tendo em vista implementar práticas com efetivi- dade educacional. Em quaisquer circunstâncias, será sempre uma construção di- nâmica, concretizada nas relações pedagógicas, cujo sucesso depende da participação e da capacidade de auto-avaliação des- tas práticas pelos sujeitos que as tecem. No caso de currículos integrados, o objetivo é a concepção e a experimentação de hipóteses de trabalho e de propostas de ação didática que te- nham, como eixo, a abordagem relacional de conteúdos tipifica- dos estruturalmente como diferentes, considerando que esta diferenciação não pode, a rigor, ser tomada como absoluta ainda que haja especificidades que devem ser reconhecidas. Com rela- ção ao objeto deste texto, são os conteúdos classificados como gerais ou básicos e os conteúdos nomeados como profissionais ou tecnológicos. 6.2 Educação Inclusiva. A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) uniu os povos do mundo todo, no reconhecimento de que "todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade" (Art. 1°). A concepção contemporânea de Direitos Humanos, introduzi- da pela Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), se fundamenta no reconhecimento da dignidade de todas as pesso- as e na universalidade e indivisibilidade desses direitos; universa- lidade, porque a condição de pessoa é requisito único para a titularidade de direitos e indivisibilidade, porque os direitos civis e políticos são conjugados aos direitos econômicos, sociais e cultu- rais. A Declaração conjuga o valor de liberdade ao valor de igual- dade, já que assume que não há liberdade sem igualdade, nem tampouco igualdade sem liberdade. Neste contexto, o valor da diversidade se impõe como condição para o alcance da universa- lidade e a indivisibilidade dos Direitos Humanos. Num primeiro momento, a atenção aos Direitos Humanos foi marcada pela tônica da proteção geral e abstrata, com base na igualdade formal; mais recentemente, passou-se a explicitar a pessoa como sujeito de direito, respeitado em suas peculiarida- des e particularidades. O respeito à diversidade, efetivado no respeito às diferenças, impulsiona ações de cidadania voltadas ao reconhecimento de sujeitos de direitos, simplesmente por serem seres humanos. Suas especificidades não devem ser elemento para a construção de desigualdades, discriminações ou exclusões, mas sim, devem ser norteadoras de políticas afirmativas de res- peito à diversidade, voltadas para a construção de contextos sociais inclusivos. Princípios A ideia de uma sociedade inclusiva se fundamenta numa filo- sofia que reconhece e valoriza a diversidade, como característica inerente à constituição de qualquer sociedade. Partindo desse princípio e tendo como horizonte o cenário ético dos Direitos Humanos, sinaliza a necessidade de se garantir o acesso e a parti- cipação de todos, a todas as oportunidades, independentemente das peculiaridades de cada indivíduo e/ou grupo social. A identidade pessoal e social e a Construção da igualdade na diversidade A identidade pessoal e social é essencial para o desenvolvi- mento de todo indivíduo, enquanto ser humano e enquanto cidadão. A identidade pessoal é construída na trama das relações sociais que permeiam sua existência cotidiana. Assim, há que se esforçar para que as relações entre os indiví- duos se caracterizem por atitudes de respeito mútuo, representa- das pela valorização de cada pessoa em sua singularidade, ou seja, nas características que a constituem. "A consciência do direito de constituir uma identidade própria e do reconhecimento da identidade do outro traduz-se no direito à igualdade e no respeito às diferenças, assegurando oportunida- des diferenciadas (equidade), tantas quantas forem necessárias, com vistas à busca da igualdade." PÁG.59 (MEC/SEESP, 2001). A Constituição Federal do Brasil assume o princípio da igualdade como pilar fundamental de uma sociedade democrática e justa, quando reza no caput do seu Art. 5° que "todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer nature- za, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros, residentes no país, a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade" (CF - Brasil, 1988). Para que a igualdade seja real, ela tem que ser relativa. Isto significa que as pessoas são diferentes, têm necessidades diversas e o cumprimento da lei exige que a elas sejam garantidas as condições apropriadas de atendimento às peculiaridades indivi- duais, de forma que todos possam usufruir as oportunidades existentes. Há que se enfatizar aqui, que tratamento diferenciado não se refere à instituição de privilégios, e sim, a disponibilização das condições exigidas, na garantia da igualdade. A escola inclusiva é espaço de construção de cidadania A família é o primeiro espaço social da criança, no qual ela constrói referências e valores e a comunidade é o espaço mais amplo, onde novas referências e valores se desenvolvem. A parti- cipação da família e da comunidade traz para a escola informa- ções, críticas, sugestões, solicitações, desvelando necessidades e sinalizando rumos. Este processo, ressignifica os agentes e a prá- tica educacional, aproximando a escola da realidade social na qual seus alunos vivem. A escola é um dos principais espaços de convivência social do ser humano, durante as primeiras fases de seu desenvolvimento. Ela tem papel primordial no desenvolvi- mento da consciência de cidadania e de direitos, já que é na escola que a criança e ao adolescente começam a conviver num coletivo diversificado, fora do contexto familiar. Exercício da cidadania e a promoção da paz O conceito de cidadania em sua plena abrangência engloba direitos políticos, civis, econômicos, culturais e sociais. A exclusão ou limitação em qualquer uma dessas esferas fragiliza a cidada- nia, não promove a justiça social e impõe situações de opressão e violência. Exercer a cidadania é conhecer direitos e deveres no exercício daconvivência coletiva, realizar a análise crítica da realidade, reconhecer as dinâmicas sociais, participar do debate permanente sobre causas coletivas e manifesta-se com autonomia e liberdade respeitando seus pares. Tais práticas se contrapõem à violência, na medida que não admitem a anulação de um sujeito pelo ou- tro, mas fortalecem cada um, na defesa de uma vida melhor para todos. Uma proposta de educação para a paz deve sensibilizar os educandos para novas formas de convivência baseadas na solida- riedade e no respeito às diferenças, valores essenciais na forma- ção de cidadãos conscientes de seus direitos e deveres e sensíveis para rejeitarem toda a forma de opressão e violência. Para saber mais: Legislação brasileira - marcos legais - A política educacional no âmbito da Educação Especial; - Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica - Parecer 17/2001; - Fontes de Recursos e Mecanismos de Financiamentos da Educação Especial; - Evolução Estatística da Educação Especial. Marcos Legais Trata do Ordenamento Jurídico, contendo as leis que regem a edu- cação nacional e os direitos das pessoas com deficiência, constituindo importantes subsídios para embasamento legal a gestão dos sistemas de ensino. Inclui a seguinte legislação: - Constituição da República Federativa do Brasil /88 - Lei 7853/89 - Dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência, sua integração social, sobre a Coordenadoria Na- cional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência – CORDE, institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas, disciplina a atuação do Ministério Pú- blico, define crimes e dá outras providências. (Alterada pela Lei 8.028/90) - Lei 8069/90 - Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adoles- cente e dá outras providências – ECA - Lei 8859/94 - Modifica dispositivos da Lei nº 6.494, de 07 de dezembro de 1977, estendendo aos alunos de ensino especial o direito à participação em atividades de estágio. - Lei 9394/96 - Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDBEN. - Lei 9424/96 - Dispõe sobre o Fundo de Manutenção e Desen- volvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magisté- rio - FUNDEF. - Lei 10098/00 - Estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras provi- dências. - Lei 10172/2001 - Aprova o Plano Nacional de Educação e dá outras providências. - Lei 10216/2001 - Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. - Lei 10436/02 - Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Li- bras e dá outras providências. - Lei 10845/2004 - Institui o Programa de Complementação ao Atendimento Educacional Especializado às pessoas portadoras de deficiência, e dá outras providências - PAED. Decretos: - Decreto 2.264/97 - Regulamenta a Lei 9424/96 - FUNDEF, no âmbito federal, e determina outras providências; Decreto 3.298/99 - Regulamenta a Lei no 7.853, de 24 de outubro de 1989, que dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, consolida as normas de proteção e dá outras providências. - Decreto 3030/99 - Dá nova redação ao art.2º do Decreto 1.680/95 que dispõe sobre a competência, a composição e o funcionamento do Conselho Consultivo da Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência. (CORDE) - Decreto 3076/99 - Cria no âmbito do Ministério da Justiça o Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Defi- ciência. (CONADE). - Decreto 3631/00 - Regulamenta a Lei 8899/94, que dispõe sobre o transporte de pessoas portadoras de deficiência no sistema de transporte coletivo interestadual. - Decreto 3.952/01 - Dispõe sobre o Conselho Nacional de Combate à Discriminação (CNCD). - Decreto 3956/01 -Promulga a Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência. (Convenção da Guatemala) PÁG.60 Portarias – MEC - Portaria 1793/94 -Recomenda a inclusão da disciplina Aspec- tos Ético - Político - Educacionais na normalização e integra- ção da pessoa portadora de necessidades especiais, prioritari- amente, nos cursos de Pedagogia, Psicologia e em todas as Licenciaturas. - Portaria 319/99 - Institui no Ministério da Educação, vinculada à Secretaria de Educação Especial/SEESP a Comissão Brasileira do Braille, de caráter permanente. - Portaria 554/00 - Aprova o Regulamento Interno da Comissão Brasileira do Braille - Portaria 3.284/03 – Dispõe sobre requisitos de acessibilidade de pessoas portadoras de deficiências, para instruir os proces- sos de autorização e de reconhecimento de cursos e de cre- denciamento de instituições. - Portaria do Ministério do Planejamento 08/2001 - Atualiza e consolida os procedimentos operacionais adotados pelas uni- dades de recursos humanos para a aceitação, como estagiá- rios, de alunos regularmente matriculados e que venham fre- quentando, efetivamente, cursos de educação superior, de en- sino médio, de educação profissional de nível médio ou de educação especial, vinculados à estrutura do ensino público e particular. Resoluções: - Resolução 09/78 - Conselho Federal de Educação - Autoriza, excepcionalmente, a matrícula do aluno classificado como su- perdotado nos cursos superiores sem que tenha concluído o curso de 2º grau. - Resolução 02/81 - Conselho Federal de Educação - Autoriza a concessão de dilatação de prazo de conclusão do curso de graduação aos alunos portadores de deficiência física, afec- ções congênitas ou adquiridas. - Resolução 02/01 - Conselho Nacional de Educação -Institui Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Bá- sica. - Resolução 01 e 02/02 - Conselho Nacional de Educação - Diretrizes Nacionais para a Formação de Professores da Edu- cação Básica, em nível superior, graduação plena. 6.3 Educação, trabalho, formação profissional e as transfor- mações do Ensino Médio. Primeiramente, o Brasil foi a última sociedade no continente a abolir a escravidão. Foram séculos de trabalho escravo, cujas marcas são ainda profundamente visíveis na sociedade. A menta- lidade empresarial e das elites dominantes tem a marca cultural da relação escravocrata. O segundo aspecto é a visão moralizante do trabalho, trazida pela perspectiva de diferentes religiões. Tra- balho como castigo, sofrimento e/ ou remissão do pecado. Ou, ainda, trabalho como forma de disciplinar e frear as paixões, os desejos ou os vícios da ‚carne‛. Um dos critérios de contratação de trabalhadores, não raro, é a religião. Por fim, muito frequente é a perspectiva de se reduzir a dimensão educativa do trabalho à sua função instrumental didático-pedagógica, aprender fazendo. Sem desconhecer essas dimensões, particularmente a dimen- são didático-pedagógica que o trabalho possa vir a ter, o que demarca a dimensão mais profunda da concepção do trabalho como princípio educativo, como veremos num dos itens abaixo, é de ordem ontológica (inerente ao ser humano) e, consequente- mente, ético-política (trabalho como direito e como dever). O trabalho como princípio educativo vincula-se, então, à pró- pria forma de ser dos seres humanos. Somos parte da natureza e dependemos dela para reproduzir a nossa vida. E é pela ação vital do trabalho que os seres humanos transformam a natureza em meios de vida. Se essa é uma condição imperativa, socializar o princípio do trabalho como produtor de valores de uso, para manter e reproduzir a vida, é crucial e ‚educativo‛. Trata-se, como enfatiza Gramsci, de não socializar seres humanos como ‚mamífe- ros de luxo‛. É dentro desta perspectiva que Marx sinaliza adi- mensão educativa do trabalho, mesmo quando o trabalho se dá sob a negatividade das relações de classe existentes no capitalis- mo. A própria forma de trabalho capitalista não é natural, mas produzida pelos seres humanos. No decênio de 1980, para a elaboração do texto dedicado à educação na nova Constituição, aprovada em 1988, e para a nova LDB - Lei de Diretrizes e Bases (Lei nº 9.394/1996), discutiu-se muito a questão da educação politécnica, da escola unitária e do trabalho como princípio educativo. Fazer a crítica da profissionali- zação compulsória (segundo a Lei nº 5.692/1971) e defender a introdução do trabalho na educação levava à questão de pensar o trabalho como princípio educativo. O filósofo húngaro Georg Lukács desenvolveu algumas idéias que foram particularmente úteis para essa reflexão, ao tratar da ontologia do ser social. A questão da ontologia tem uma história antiga na metafísica clás- sica e está ligada à identidade do ser (o ser é e o não ser não é). A ontologia do ser social desenvolvida por Lukács (1978) permite-nos pensar a questão do trabalho e suas propriedades educativas, positivas ou negativas. As questões principais que ele apresenta estão em um de seus últimos escritos, uma conferência que é uma síntese magistral de suas principais idéias. O trabalho é parte fundamental da ontologia do ser social. A aquisição da consciência se dá pelo trabalho, pela ação sobre a natureza. O trabalho, neste sentido, não é emprego, não é apenas uma forma histórica do trabalho em sociedade, ele é a atividade fundamental pela qual o ser humano se humaniza, se cria, se expande em conhecimento, se aperfeiçoa. O trabalho é a base estruturante de um novo tipo de ser, de uma nova concepção de história. É a consciência moldada por esse agir prático, teórico, poético ou político que vai impulsionar o ser humano em sua luta para modificar a natureza (ou para dominá-la, como se dizia no passa- do, antes que se tomasse consciência da destruição que o ho- mem vem operando sobre o planeta). A consciência é a capaci- dade de representar o ser de modo ideal, de colocar finalidades às ações, de transformar perguntas em necessidades e de dar respostas a essas necessidades. Diferente dos animais que agem guiados pelo instinto, de forma quase imediata, o ser humano age por meio de mediações, de recursos materiais e espirituais que ele implementa para alcançar os fins desejados. Nessa relação com a natureza, estabelece-se uma relação en- tre a satisfação das necessidades biológicas e a parcela de liber- dade implícita em todos os atos humanos para satisfazê-la, por- que colocam-se objetivos, finalidades alternativas a serem atingi- das com a ação empreendida. O mundo da liberdade versus o mundo da necessidade é uma das idéias mais fecundas do filóso- fo. ‚Toda práxis social, se considerarmos o trabalho como seu modelo, contém em si esse caráter contraditório. Por um lado a práxis é uma decisão entre alternativas, já que todo indivíduo singular, se faz algo, deve decidir se faz ou não. Todo ato social, portanto, surge de uma decisão entre alternativas acerca de posi- PÁG.61 ções teleológicas [finalidades, objetivos+ futuras‛ (LUKÁCS, ibid., p. 6). É a ampliação e a reelaboração desta liberdade, pelo aperfei- çoamento do agir humano, que vai provocar a divisão do traba- lho, as formas desiguais de apropriação da riqueza social produ- zida. E são as apropriações ideológicas que mistificam essas ações, que constituem determinada divisão social do trabalho, gerando as classes sociais. Para Saviani (1989) o trabalho pode ser considerado como princípio educativo em três sentidos diversos, mas articulados entre si. Num primeiro sentido, o trabalho é princípio educativo na medida em que determina, pelo grau de desenvolvimento social atingido historicamente, o modo de ser da educação em seu conjunto. Nesse sentido, aos modos de produção correspon- dem modos distintos de educar com uma correspondente forma dominante de educação. E um segundo sentido, o trabalho é princípio educativo na medida em que coloca exigências específi- cas que o processo educativo deve preencher, em vista da parti- cipação direta dos membros da sociedade no trabalho socialmen- te produtivo. Finalmente, o trabalho é princípio educativo num terceiro sentido, à medida que determina a educação como uma modalidade específica e diferenciada de trabalho: o trabalho pedagógico (SAVIANI, 1989, pp. 1-2). O conceito de politecnia ou de educação tecnológica estaria no segundo nível de compreen- são do trabalho como princípio educativo: a educação básica, em suas diferentes etapas, deve explicitar o modo como o saber se relaciona com o processo de trabalho, convertendo-se em força produtiva. Para as pessoas que constroem suas trajetórias forma- tivas em tempos lineares e considerados ‚regulares‛ – isto é, por um processo de escolarização que acompanha seu desenvolvi- mento etário –, a relação entre conhecimento e atividade produ- tiva ocorre de forma mais imediata a partir de uma determinada etapa educacional. No caso brasileiro, isto tende a ocorrer no ensino médio por dois motivos. O primeiro, porque nesse momento, os(as) jovens estão configurando seus horizontes em termos de cidadania e de vida economicamente ativa (dimensões também indissociáveis). A experiência educativa, nessa etapa, então, deve proporcionar o desenvolvimento intelectual e a apreensão de elementos culturais que possibilitem a configuração desses horizontes. Dentre esses elementos, estão as características do mundo do trabalho, inclu- indo aquelas que contribuem para a realização de escolhas pro- fissionais. O segundo motivo pelo qual a relação entre mundo do trabalho e conhecimento tende a se aproximar mais no ensino médio é o fato de, nesta etapa, ser possível compreender o pro- cesso histórico de transformação da ciência em força produtiva por meio do desenvolvimento tecnológico. Nesse momento, então, o acesso ao conhecimento sistematizado proporciona a formação cultural e intelectual do estudante, permitindo ‚a com- preensão do significado da ciência, das letras e das artes; o pro- cesso histórico de transformação da sociedade e da cultura; a língua portuguesa como instrumento de comunicação, acesso ao conhecimento e exercício da cidadania‛ (Lei nº 9.394/96, art. 36, inciso I). Mas, aqui, se pode levar também à preparação para o exercício profissional (idem, art. 36, parágrafo 2º). Desse modo, a formação integrada é uma formação que pos- sibilita o desenvolvimento do cidadão para ser crítico e reflexivo, de modo que possibilita a sua autonomia. Essa formação também possibilita que o trabalhador compreenda o processo político do trabalho, de modo que a sua formação lhe permita atuar politi- camente na sociedade. A integração no ensino médio integrado não pode ser pauta- da pela justaposição de disciplinas, em que se cursa o ensino médio propedêutico em três anos e acrescenta-se mais um ano na formação com a formação específica, e sim, que haja um diá- logo, constante entre formação geral e formação específica, de modo que trabalho e educação estejam engendrados em uma concepção única de educação. A justaposição de disciplinas ape- nas perpetua a concepção dualista e fragmentária da educação e departamentaliza e fragmenta o saber e o conhecimento, dissoci- ando o trabalho e a educação. A formação integrada pressupõe um projeto de educação que contemple trabalho, ciência, tecnologia e cultura, ou seja, uma formação politécnica, em que o conhecimento dos fundamentos da técnica sejam apreendidos e articulados com as vivências e experiências de cada um, e por uma educação omnilateral, que contemple o ser humano como centro do processo de educação. 6.4 Protagonismo Juvenil e Cidadania. No teatro grego, protagonista era aquele que desempenhavapernambucano Paulo Freire, lutavam por uma escola conscientizadora, que problematizasse a realidade e trabalhasse pela transformação radical da sociedade capitalista. Os seguidores da tendência progressista libertadora não tive- ram a preocupação de consolidar uma proposta pedagógica explícita, havia opção didática já aplicada nos chamados ‚círculos de cultura‛. Devido às suas características de movimento popular, essa tendência esteve muito mais presente em escolas públicas de vários níveis e em universidades, do que em escolas privadas. 1.1.5 A TENDÊNCIA PROGRESSISTA LIBERTÁRIA Essa tendência teve como fundamento principal realizar modi- ficações institucionais, acreditando que a partir dos níveis meno- res (subalternos), iriam modificando, ‚contaminando‛, todo o sistema, sem definir modelos a priori e negando-se a respeitar qualquer forma autoridade ou poder. Suas ideias surgem como fruto da abertura democrática, que vai se consolidando lentamente a partir do início dos anos 80, com o retorno ao Brasil do exilados políticos e com a conquista paulatina da liberdade de expressão, através dos veículos de comunicação de massa, dos meios acadêmicos, políticos e cultu- rais do país. Cresce o interesse por escolas verdadeiramente democráticas e inclusivas e solidifica- se o projeto de escola que corresponda aos anseios da classe trabalhadora, respeitando as diferenças e os interesses locais e regionais, objetivando uma educação de quali- dade e garantida a todos os cidadãos. Esse pensamento defende, apoia e estimula a participação em grupos e movimentos sociais: sindicatos, grupos de mães, comu- nitários, associações de moradores etc.., para além dos muros escolares e, ao mesmo tempo, trazendo para dentro dela essa realidade pulsante da sociedade. A necessidade premente era concretizar a democracia, recém criada, através de eleições para conselhos, direção da escola, grêmios estudantis e outras formas de gestão participativa. No Brasil, os educadores chamados de libertários têm inspira- ção no pensamento de Celestin Freinet. Buscam a aplicação con- creta de suas técnicas, na qual os próprios alunos organizavam seu trabalho escolar. A metodologia vivenciada é a própria auto- gestão, tornando o interesse pedagógico intrínseco às necessida- des e interesses do grupo. 1.1.6 A TENDÊNCIA PROGRESSISTA CRÍTICO SOCIAL DOS CONTEÚDOS OU HISTÓRICO-CRÍTICA Essa tendência se constitui no final da década de 70 e início dos 80 com o propósito de ser contrária à ‚pedagogia libertado- ra‛, por entender que essa tendência não dá o verdadeiro e me- recido valor ao aprendizado do chamado ‚saber científico‛, histo- ricamente acumulado, e que constitui nosso identidade e acervo cultural. A ‚pedagogia crítico-social dos conteúdos‛ defende que a função social e política da escola deve ser assegurar, através do trabalho com conhecimentos sistematizado, a inserção nas esco- las, com qualidade, das classes populares garantindo as condi- ções para uma efetiva participação nas lutas sociais. Esta tendência prioriza, na sua concepção pedagógica, o do- mínio dos conteúdos científicos, a prática de métodos de estudo, a construção de habilidades e raciocínio científico, como modo de formar a consciência crítica para fazer frete à realidade social injusta e desigual. Busca instrumentalizar os sujeitos históricos, aptos a transformar a sociedade e a si próprio. Sua metodologia defende que o ponto de partida no processo formativo do aluno seja a reflexão da prática social, ponto de partida e de chegada, porém, embasada teoricamente. Entende que não basta repassar conteúdo escolar que aborde às questões sociais. Complementa que se faz necessário, que os alunos tenham o domínio dos conhecimentos, das habilidades e capacidades para interpretar suas experiências de vida e defender seus interesses de classe. PÁG.6 1.2 PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO. O Projeto Político-Pedagógico (PPP) deve se constituir na re- ferência norteadora de todos os âmbitos da ação educativa da escola. Por isso, sua elaboração requer, para ser expressão viva de um projeto coletivo, a participação de todos aqueles que com- põem a comunidade escolar. Todavia, articular e construir espaços participativos, produzir no coletivo um projeto que diga não apenas o que a escola é hoje, mas também aponte para o que pretende ser, exige méto- do, organização e sistematização. Queremos dizer que não é apenas com ‚boas intenções‛ ou voluntarismo que se constrói um projeto dessa natureza; é preci- so muito trabalho organizado se quisermos, de fato, que o proje- to proposto desencadeie mudanças na direção de uma formação educativa e cultural, de qualidade, para todas as crianças e jovens que frequentam a escola pública. Vazquez (1977), ao discutir a questão da práxis, compreendida como prática transformadora, já chamava a atenção para a necessidade de ações intencionalmen- te organizadas, planejadas, sistematizadas para a realização de práticas transformadoras. Como ressalta o autor: Discutir as di- mensões político e pedagógica dos projetos de escola pode pa- recer um assunto já esgotado. Também não são poucos os que acreditam que a proposta de construção de PPP nas e pelas esco- las também já se esgotou, preferindo aderir a novas linguagens, quase sempre oriundas do universo gerencial, consideradas mais ‚modernas‛, ‚eficientes‛, ‚técnicas‛, para se resolver os problemas das instituições. Infelizmente, A teoria em si [...] não transforma o mundo. Pode contri- buir para sua transformação, mas para isso tem que sair de si mesma, e, em primeiro lugar, tem que ser assimila- da pelos que vão ocasionar, com seus atos reais, efeti- vos, tal transformação. Entre a teoria e a atividade práti- ca transformadora se insere um trabalho de educação das consciências, de organização dos meios materiais e planos concretos de ação: tudo isso como passagem in- dispensável para desenvolver ações reais, efetivas. Nesse sentido, uma teoria é prática na medida em que materia- liza, através de uma série de mediações, o que antes só existia idealmente, como conhecimento da realidade ou antecipação ideal de sua transformação (VAZQUEZ, 1977, p. 207) O termo projeto tem origem no latim projectu, que, por sua vez, é particípio passado do verbo projicere, que significa ‚lançar para diante‛. Plano, intento, desígnio. (VEIGA, 2000) adesões pouco críticas a ‚conceitos midiáticos‛, ou a fácil penetração dos modismos no campo da educação têm levado muitos educadores a descartar conceitos e propostas, vinculados muitas vezes ao ideário crítico, em favor de uma suposta eficiência técnica. Acredi- tamos, como nos lembra Gimeno Sacristan (2001, p. 11) que: Procurando, então, problematizar o óbvio, propomos começar nossa discussão pelos termos que compõem o conceito de ‚Pro- jeto Político-Pedagógico‛ e nos perguntarmos: • O que nos diz a palavra ‚projeto‛? • Qual sua relação com a dimensão política e com a peda- gógica? • O que há de político no PPP? E de pedagógico? Compreender o caráter político e pedagógico do PPP nos leva a considerar dois outros aspectos: 1) a função social da educação e da escola em uma sociedade cada vez mais excludente, compreendendo que a educação, como campo de mediações sociais, define-se sempre por seu caráter intencional e político. Pode, assim, contraditoriamente, tanto reforçar, manter, reproduzir formas de dominação e de exclusão como constituir-se em espaço emancipatório, de construção de um novo projeto social, que atenda às necessi- dades da grande maioria da população. 2) a necessária organicidade entre o PPP e os anseios da comu- nidade escolar, implicando a efetiva participação de todos em todos os seus momentos (elaboração, implementação, acom- panhamento, avaliação). Dessa perspectiva, o projetoo papel de ‚personagem principal‛, ‚ator principal‛ num espetá- culo trágico ou cômico. Já numa perspectiva sociológica, a ex- pressão ‚protagonismo‛ vem sendo utilizada em referência ao ‚ator social‛ de uma ‚ação‛ voltada para mudanças sociais. Mas na esfera do ensino, o que implica ser um jovem protagonista? Delors (1996) em relatório internacional sobre a educação pa- ra o século XXI destaca que a escola básica passou a desempe- nhar um papel fundamental na preparação de cidadãos para uma participação ativa, uma vez que os princípios democráticos ex- pandiram-se por todo o mundo. Assim, para ele, a experimenta- ção de práticas escolares pelos alunos, como jornais da escola, criação de parlamentos dos alunos, elaboração de regulamentos da comunidade escolar, simulação do funcionamento de institui- ções democráticas, exercício de resoluções não-violentas de con- flitos, tendem a reforçar a aprendizagem da democracia. No en- tanto, ‚sendo a educação para a cidadania e democracia, por excelência, uma educação que não se limita ao espaço e tempo da educação formal, é preciso implicar diretamente nela as famí- lias e outros membros da comunidade.‛ (DELORS, 1996, p. 60). Na defesa de uma educação cívica que contemple, simultane- amente, a adesão a valores, a aquisição de conhecimentos e a aprendizagem de práticas de participação na vida pública, Delors (1996) recomenda que a educação, desde a infância e ao longo de toda a vida, desenvolva no aluno a capacidade crítica que lhe permita ter um pensamento livre e uma ação autônoma. Trata-se, portanto, da exigência de um ensino que seja um processo de construção da capacidade de discernimento, capaz de propiciar ao aluno a conciliação entre o exercício dos direitos individuais, fundados na liberdade pública, e a prática dos deveres e da res- ponsabilidade em relação aos outros e às comunidades a que pertencem. (DELORS, et al, 1996, p.61). No contexto brasileiro, a reformulação do ensino médio insti- tuída pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), de 1996, e posteriormente regulamentada pelas Diretri- zes do Conselho Nacional de Educação e pelos Parâmetros Curri- culares Nacionais, ao deixar de ter como foco a educação para o ensino superior ou profissionalizante, acentua, especificamente, a necessidade e responsabilidade de complementação da educação básica. Isto significa ‚preparar para a vida‛, ‚qualificar para a cidadania‛ e ‚capacitar para o aprendizado permanente‛, seja em PÁG.62 relação ao prosseguimento dos estudos, seja em relação ao mun- do do trabalho. Mais do que reproduzir dados, denominar classificações ou identificar símbolos, está formando para a vida, num mundo como o atual, de tão rápidas transformações e de tão difíceis contradições, significa saber se informar, se comunicar, argumen- tar, compreender e agir, enfrentar problemas de qualquer nature- za, participar socialmente, de forma prática e solidária, ser capaz de elaborar críticas ou propostas e, especialmente, adquirir uma atitude de permanente aprendizado. (PCNEM, 2002, p.09). Ora, tal formação exige um método de ensino no qual o aluno tenha condições efetivas de comunicação, argumentação, resolu- ção de problemas, participação social e cidadã, de modo a saber propor e fazer escolhas, tomar gosto pelo conhecimento, 'apren- der a aprender'. Mas não seriam esses alguns dos preceitos do ‚protagonismo juvenil‛? Na resolução que institui as Diretrizes Curriculares e Nacionais para o Ensino Médio no Brasil-DCNEM há um registro da palavra ‚protagonismo‛, não explicitamente o juvenil, mas o protagonis- mo de professores e alunos. Tal resolução consiste num conjunto de princípios e procedimentos a serem observados na prática pedagógica e curricular das escolas, no sentido de consolidar a preparação para ‚o exercício da cidadania‛ e para o mundo do trabalho. O termo ‚protagonismo‛ pode ser encontrado neste documento em referência ao ‚princípio político da igualdade‛ como um dos princípios que devem nortear as práticas pedagó- gicas do ensino médio brasileiro; os outros princípios seriam os ‚estéticos‛, ‚éticos‛, o ‚da identidade‛, ‚da diversidade‛ e ‚auto- nomia‛, ‚interdisciplinaridade‛ e ‚contextualização‛. Especifica- mente sobre a observância de uma política da igualdade nos estabelecimentos de ensino, o documento aponta como ponto de partida: O reconhecimento dos direitos humanos e dos deveres de ci- dadania, visando a constituição de identidades que busquem e pratiquem a igualdade no acesso aos bens sociais e culturais, o respeito ao bem comum, o protagonismo e a responsabilidade no âmbito público e privado, o combate a todas as formas dis- criminatórias e o respeito aos princípios do Estado de Direito na forma do sistema federativo e do regime democrático e republi- cano. (Resolução CEB/CNE, 1998, p.1-2) A propósito, o documento destaca a ‚Ética da identidade‛ como um princípio norteador na superação de dicotomias entre as esferas pública e privada, de modo a constituir identidades que sejam capazes de reconhecer, respeitar e acolher o outro, incor- porando valores como solidariedade, responsabilidade e recipro- cidade como norteadores de suas ações na vida profissional, social, civil e pessoal. (Resolução CEB/CNE, 1998, p.2). Uma se- gunda referência ao ‚protagonismo‛ presente nestas diretrizes remete à necessidade da constituição de ‚competências‛ e ‚habi- lidades‛ no âmbito das ciências humanas e suas tecnologias. Para Ferretti, Zibas e Tarturce (2004, p.412) o conceito de ‚protagonismo dos jovens/alunos‛ tal como proposto pelas Dire- trizes Curriculares Nacionais (1998), ao enfocar a necessidade do desenvolvimento de certas ‚competências‛ e ‚habilidades‛ entre os jovens, não está dissociado de questões mais amplas como as próprias transformações sociais e culturais das sociedades con- temporâneas, denominadas pós-modernas. Tais transformações configuram-se, sobretudo, por profundas mudanças no campo do trabalho estruturado sob o capital, bem como por avanços signi- ficativos nos campos científico e tecnológico. Essas transforma- ções, em maior ou menor grau, manifestam-se no cotidiano dos jovens através do desemprego, ou ainda, através da exigência de novas formas de socialibidade engendradas pela informática. Os autores interpretam o ‚protagonismo juvenil‛, como uma via promissora de construção de subjetividades, pautadas em valores e atitudes cidadãs, em face de contextos sociais adversos , carac- terizados por rápidas mudanças, incertezas e instabilidades daí decorrentes. Esse conjunto de circunstâncias indicaria, segundo diversos autores, uma urgente necessidade social de promover, de manei- ra sistemática, a formação de valores e atitudes cidadãs que per- mitam a esses sujeitos conviver de forma autônoma com o mun- do contemporâneo. Essa formação para a chamada ‚moderna cidadania‛, além de atender uma exigência social, viria a respon- der às angústias de adolescentes e jovens diante da efemeridade, dos desafios e das exigências das sociedades pós-modernas e, também, perante as novas configurações do trabalho. O protago- nismo é encarado, nesse sentido, como via promissora para dar conta tanto de uma urgência social quanto das angústias pesso- ais dos adolescentes e jovens. (FERRETTI, ZIBAS, TARTUCE, 2004, p. 413). Nessa direção, os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM) é um outro documento cujo conteúdo permite aproximações com o tema do protagonismo. Aqui, a referência é ao protagonismo do aluno, que é o público jovem, e do professor em sua atividade. O papel do aluno como protago- nista, deve ser o de ‚constituir‛ ou ‚reconstruir‛ o conhecimento por meio da atividade, e não o de ser um mero assimilador de conteúdos. Assim, os Parâmetros propõem uma organização curricular na qual seja possível ‚estimularse ex- pressa como uma totalidade (presente-futuro), englobando todas as dimensões da vida escolar; não se reduz a uma so- matória de planos ou de sugestões, não é transposição ou cópia de projetos elaborados em outras realidades escolares; não é documento ‚esquecido em gavetas‛. É esse compromisso do PPP com os interesses reais e coleti- vos da escola que materializa seu caráter político e pedagógico, posto que essas duas dimensões são indissociáveis, como destaca Saviani (1983, p. 93), ao afirmar que a ‚dimensão política se cum- pre na medida em que ela se realiza enquanto prática especifica- mente pedagógica‛. Assim, é na ação pedagógica da escola que se torna possível a efetivação de práticas sociais emancipatórias, da formação de um sujeito social crítico, solidário, compromissa- do, criativo, participativo. É nessa ação que se cumpre, se realiza, a intencionalidade orientadora do projeto construído. Compreender essa dialética entre o político e o pedagógico torna-se imprescindível para que o PPP não se torne um docu- mento pleno de intenções e vazio de ações; de pouco adianta declarar que a finalidade da escola é ‚formar um sujeito crítico, criativo, participativo‛, ou anunciar sua vinculação às teorias críti- cas se, nas suas práticas pedagógicas cotidianas, perduram estru- turas de poder autoritárias, currículos engessados, experiências culturais empobrecidas. Ao contrário, é desvelando essas condi- ções, afirmando seu caráter político, que a escola, por meio de seu Projeto Político-Pedagógico, pode mobilizar forças para mu- danças qualitativas. É nessa perspectiva que fazem sentido pro- blematizações como: Problematizações dessa natureza possibili- tam dois movimentos: por um lado, conhecer, explicitar e discutir concepções e valores nem sempre revelados, mas sempre presen- tes como orientações imiscuídas em nossas práticas cotidianas e, por outro, reconstruir essas concepções, reorientar ações, a partir do desvelamento das contradições que estão em suas origens. Se mudanças, inovações, transformações são possibilidades que o PPP da escola traz consigo, elas não se realizam de modo ‚auto- mático‛; é preciso ‚educar as consciências‛, como nos diz Vazquez (1977), posto que nem toda inovação tem caráter eman- cipatório. Discutindo essa relação – PPP e inovação, Veiga (2003), apoiando-se nas contribuições de Boaventura Santos, faz uma interessante distinção entre ‚inovação regulatória‛ e ‚inovação emancipatória‛. • Qual a finalidade da escola? • Que sujeitos, cidadãos queremos formar? • Que sociedade queremos construir? PÁG.7 • Que conhecimentos, saberes a escola irá trabalhar? • Como possibilitará a apropriação dos saberes cultural e historicamente construídos, por seus alunos? • Que espaços participativos criará? • Como estimulará, apoiará e efetivará a participação do co- letivo da escola? Na construção do PPP, Veiga (2003) parte do princípio de que a inovação emancipatória não pode ser confundida com reforma, invenção ou mudança; ela se constitui, de fato, em processos de ruptura com aquilo que está instituído, cristalizado. A inovação emancipatória é resultante da reflexão sobre a realidade da esco- la, tomando-se sempre como referência as articulações entre essa ‚realidade da escola‛ e o contexto social mais amplo. Baseia-se em processos dialógicos e não impositivos, na comunicação e na argumentação, e não na imposição de idéias, valorizando os diferentes tipos de saberes. Sob essa ótica, o projeto é um meio de engajamento coletivo para integrar ações dispersas, criar sinergias no sentido de buscar soluções alternativas para diferentes momentos do trabalho pe- dagógico-administrativo, desenvolver o sentimento de pertença, mobilizar os protagonistas para a explicitação de objetivos co- muns definindo o norte das ações a serem desencadeadas, forta- lecer a construção de uma coerência comum, mas indispensável, para que a ação coletiva produza seus efeitos (VEIGA, 2003, p. 275). Numa perspectiva emancipatória, o PPP apresenta as seguin- tes características: É um movimento de luta em prol da democracia da escola; Não esconde as dificuldades, os pessimismos da realidade educacional, mas não se deixa imobilizar por estes, procu- rando assumir novos compromissos em direção a um futu- ro melhor orienta a reflexão e ação da escola. Está voltado para a inclusão: observa diversidade de alu- nos, suas origens culturais, suas necessidades e expectati- vas educacionais. Por ser coletivo e integrador, é necessário, para sua elabo- ração, execução e avaliação, o estabelecimento de um cli- ma de diálogo, de cooperação, de negociação, asseguran- do-se o direito de as pessoas intervirem e se comprome- terem na tomada de decisões de todos os aspectos que afetam a vida da escola (VEIGA, 2003). Há vínculo muito estreito entre autonomia escolar e PPP. Sua legitimidade reside no grau e tipo de participação de todos os envolvidos com o ambiente educativo; supõe continuidade de ações apresenta uma unicidade entre a dimensão técnica e política; preocupa-se com trabalho pedagógico, porém não deixa de articulá-lo com o contex- to social (articulação da escola com a família e comunida- de). A educação pública é, ao mesmo tempo, condição e resultado das sociedades modernas; e acesso ao conhecimento não é ape- nas condição para a autonomia e participação efetiva dos sujei- tos, mas também condição para sua própria constituição como tal. Os sujeitos são dotados de infinitas possibilidades, cabendo à educação propiciar as melhores condições para seu desenvolvi- mento; auxiliar em sua inserção no mundo, capacitando-os para bem intervir, para participar ativamente na vida produtiva e social, dando-lhes condições de intercâmbios sócio-culturais, de com- preender o mundo em que vivem em condições de respeito e dignidade e o PPP deve dar cabo a todas essas instâncias, sem perder de vista o caráter principal de sua existência, que é a de- mocracia. BIBLIOGRAFIA PARA ESSE CAPÍTULO: - ARANHA, Maria Lucia De Arruda. História da Educação.- 2. ed. rev. e atual.-São Paulo: Moderna, 1996. - BARRETO, Maribel Oliveira. A escola 1, 2, 3: Um caminho lúdi- co para o ensino-aprendizagem. 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(C) Na tendência escolanovista, há uma centralização nos conte- údos, de as relações entre professor e aluno são marcadas pe- lo diálogo de pelo afeto. (D) A tendência libertária é marcada pela biopsicologização dos alunos, que são considerados em suas particularidades de origem. PÁG.8 (E) A tendência crítico-social dos conteúdos percebe o aluno como sujeito ativo em seu processo de conhecimento e traba- lha os conteúdos relacionando-os ao contexto. 02. Assinale a opção correta acerca da concepção progressista libertária. (A) A relação entre professor e aluno ocorre de forma horizontal, o que possibilita o desenvolvimento, no aluno, da consciência da realidade em que vive com vistas à busca da transformação social. (B) Segundo essa concepção, cujo principal representante foi Celestin Freinet, a estratégia pedagógica deve ser não diretiva, ou seja, o professor é orientador e os alunos são livres. (C) A proposta pedagógica da escola de Summerhill, idealizada por Alexander Neill, que propôs utilizar a escola para construir um mundo melhor, fundamenta-se nessa concepção. (D) A principal representante dessa concepção foi Maria Montes- sori, para quem o professor era um auxiliador no desenvolvi- mento livre da criança. (E) A exposição e demonstração verbal da matéria e a utilização de modelos são as principais estratégias pedagógicas dessa concepção. 03. Maria da Graça Nicoletti Mizukami, no livro Ensino: a abordagem do processo, publicado no ano de 1986, apre- senta cinco concepções/abordagens a respeito do proces- so de ensino-aprendizagem. A respeito desse tema, assi- nale a alternativa INCORRETA. (A) Na abordagem comportamentalista, os elementos mínimos a serem considerados num processo de ensino são: o aluno, um objetivo de aprendizagem e um plano para alcançar o objeti- vo proposto. Aprendizagem será garantida pelo programa es- tabelecido. (B) Na concepção cognitivista, o ensino é baseado no ensaio e erro, na pesquisa, na investigação, na solução de problemas por parte do aluno e não na aprendizagem de fórmulas, no- menclaturas, definições etc. (C) Na abordagem tradicional, a ênfase é dada às situações de sala de aula, onde os alunos são instruídos, ensinados pelo professor. (D) Na abordagem sociocultural, a atitude básica a ser desenvol- vida é a de confiança e de respeito ao aluno. (E) Na abordagem humanista, o conteúdo advém das próprias experiências do aluno, o professor não ensina; apenas cria condições para que os alunos aprendam. 04. As tendências pedagógicas podem ser divididas também em críticas e não críticas. Da perspectiva de Saviani (1987), as críticas compreendem a educação como algo determinado socialmente. Desse modo, marque a opção que não se refere a uma tendência pedagógica crítica. (A) Pedagogia da escola libertadora (B) Pedagogia da escola libertária (C) Pedagogia da escola crítico-social dos conteúdos (D) Pedagogia da escola tecnicista. (E) Nenhuma das opções anteriores. 05. É a pedagogia que sustenta a ideia de que a escola tem por função preparar os indivíduos para o desempenho de papéis sociais, de acordo com aptidões individuais, por is- so os indivíduos precisam aprender a se adaptar aos valo- res e às normas vigentes na sociedade de classes por meio do desenvolvimento da cultura individual. Trata-se da pe- dagogia (A) Libertadora. (B) Liberal. (C) Libertária. (D) Progressista. (E) Iluminista. 06. O trabalho docente que relaciona a prática vivida pelos alunos com os conteúdos propostos pelo professor, mo- mento em que se dá a ruptura em relação à experiência pouco elaborada, deve ser classificado, segundo as ten- dências pedagógicas, como tendência (A) Progressista libertadora. (B) Liberal tecnicista. (C) Progressista libertária. (D) Liberal tradicional. (E) Crítico-social dos conteúdos. 07. O termo “aprender a aprender”, inicialmente vinculado a aspectos como o deslocamento do eixo do processo edu- cativo do lógico para o psicológico, de conteúdos para métodos, em que o papel do professor deixa de ser o da- quele que ensina para transformar naquele que auxilia a aprendizagem e o foco está em aprender a estudar, a bus- car conhecimentos. Segundo Saviani (2008) “aprender a aprender significa adquirir a capacidade de buscar conhe- cimentos por si mesmo, de se adaptar a uma sociedade que era entendida como um organismo em que cada indi- víduo tinha um lugar e cumpria um papel determinado em benefício de todo o corpo social”. No curso das ideias pedagógicas, o termo “aprender a aprender” ganha hoje ainda um novo sentido voltado para a necessidade cons- tante de atualização e habilidade de adaptação com o ob- jetivo de aumentar as chances de empregabilidade do su- jeito. Essa ressignificação do termo “aprender a aprender” pode ser classificada como (A) Tecnicismo (B) Neoconstrutivismo (C) Neoescolanovismo (D) Neotecnicismo (E) Escolanovismo 08. Os teóricos da pedagogia histórico-crítica afirmam que a dialética é a essência dessa proposta didática. Acerca des- se tema, assinale a alternativa correta. (A) Nessa concepção didática, há um entendimento idealista da dialética, que se resume no ato de transformar as questões sociais em diálogo, no qual todos têm espaço para expor suas ideias, sem haver uma reordenação teórica destas. (B) Não é possível a emancipação do sujeito sem que ele se aproprie de conhecimentos historicamente construídos e sis- tematizados socialmente, tendo como ponto de partida e de chegada a prática social vivida pelo educando, respeitando as três fases do método dialético prática, teoria e prática. PÁG.9 (C) A ideia de práxis, defendia pelos marxistas, não se aplica aqui pelo fato de transformar a educação em um ato político. Essa concepção está mais preocupada com as questões histórico- críticas que com as políticas. (D) Essa concepção defende a emancipação do educando por meio da retrospectiva histórico-crítica. Por isso, tem como fundamento psicológico as teorias de aprendizagem focadas no estímulo e na resposta. (E) A emancipação do sujeito ocorre de diferentes formas: a edu- cação é importante instrumento; mas, sem ela, é possível se apropriar dos conhecimentos historicamente construídos e socialmente sistematizados. 09. Determinada abordagem pedagógica que se fundamenta no positivismo e defende a tese de que a ação pedagógica deve ser balizada nos princípios da racionalidade, da efici- ência, da eficácia e da produtividade é a abordagem (A) Tecnicista. (B) Progressista. (C) Tradicional ou estática. (D) Dialética. (E) Histórico-cultural. 10. Considere o seguinte texto: “uma forma intermediária de castigo, entre o físico e o moral, era deixar o aluno em pé, durante a aula, enquanto os colegas permaneciam senta- dos. Nesse caso, era castigado fisicamente, pela posição, e moralmente, pelo fato de tornar-se visível a todos os co- legas sua fragilidade. Era a exposição pública do erro”. (Cipriano Luckesi) O controle de disciplina, descrito por Luckesi, faz referência a procedimentos adotados na (A) Escola Tradicional. (B) Pedagógica Tecnicista. (C) Escola Nova. (D) Pedagogia Anarquista. (E) Escola Libertária. 11. Em uma escola que se propõe, por meio de seu PPP, a desenvolver uma postura inclusiva, seus professores ori- entam suas práticas no sentido de: (A) Separar os alunos que têm necessidades dos demais. (B) Ensinar a todos os alunos da mesma forma e com os mesmos recursos.(C) Estabelecer propostas de trabalhos diversificadas, consideran- do as necessidades de cada aluno. (D) Realizar a avaliação sob um mesmo parâmetro. 12. Projeto Político-Pedagógico representa a proposta de organização do trabalho educativo definido por ações in- tencionais estabelecidas coletivamente. Partindo deste princípio, analise as afirmativas a seguir: I. A estruturação do Projeto Político-Pedagógico estabelece uma trajetória que não pode ser imposta. II. O PPP é um caminho que resulta do envolvimento dos seus participantes e da compreensão sobre a necessidade de cons- truir uma escola a partir de novas perspectivas. III. O Projeto Político-Pedagógico resulta da construção diária e da ampliação da participação de todos no processo. IV. A estruturação do Projeto Político-Pedagógico apresenta perspectivas para a melhoria do trabalho educativo. V. A estruturação do Projeto Político-Pedagógico segue um padrão rígido de desenvolvimento, devendo evoluir, conforme as regras impostas pela direção da escola. Estão corretas apenas as afirmativas: (A) I, II e V. (B) I, II, IV e V. (C) II, III e IV. (D) I, II e V. (E) I, II, III e IV. 13. Ao adotar a avaliação mediadora, presente no PPP, cons- truído coletivamente, o professor Marcos passou a estu- dar estratégias para operacionalização da mesma, por compreender que favorece ao aluno: (A) O senso comum, fundamental função da escola pública. (B) Informações generalistas sobre o rendimento de cada aluno e a homogeneização da turma. (C) O alcance de um saber competente e a aproximação com os conceitos científicos. (D) A uniformidade na aprendizagem da turma e a facilidade no ensino por garantir a promoção automática. (E) A classificação e distribuição dos alunos em turmas homogê- neas contribuindo para a evolução dos mais capacitados. 14. A professora Eliane busca desenvolver a avaliação media- dora, definida coletivamente no PPP escolar, ouvindo to- das as perguntas dos alunos, fazendo-lhes novas e desafi- adoras questões “implicantes”, na busca de alternativas para uma ação voltada para a autonomia moral e intelec- tual dos mesmos. Autonomia, no sentido de ser capaz de se situar consciente e competentemente na rede dos di- versos pontos de vista e conflitos presentes numa socie- dade. Nesse sentido, a professora deve objetivar: (A) A formação integral dos alunos e a contribuição na constru- ção de uma escola de qualidade para todos. (B) Que o ensino de qualidade seja oferecido para quem de- monstra interesse e para isso ela necessita priorizar o desen- volvimento de aptidões e valores. (C) O fortalecimento de uma escola inclusiva, no sentido de prio- rizar a participação dos alunos deficientes. (D) Atender especialmente os alunos que ainda não sabem e transferir os que já sabem para turmas, nivelando-os. (E) O desenvolvimento de atitudes e valores desejáveis que ga- rantem a transformação da sociedade brasileira. 15. A falta de coerência entre o discurso e a prática é um dos fatores que promove o fracasso do trabalho escolar, rela- tivo à formação de valores. Nesse sentido, é fundamental: (A) Um discurso desvinculado da prática que circule no interior da escola e favoreça que o proclamado torne-se real. (B) A utopia que garante o sucesso escolar de crianças e jovens das classes mais favorecidas da população. (C) O discurso e a repetição frequente no cotidiano escolar que não é possível uma aprendizagem bem sucedida para os alu- nos de baixo poder aquisitivo. (D) A dicotomia teoria e prática na formação de valores. (E) O exemplo, demonstrado na ação docente, conforme os prin- cípios postos na LDB 9.394/96 e no PPP da escola. PÁG.10 2. A DIDÁTICA E O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM Podemos conceituar Didática sob duas perspectivas: - Um saber, um ramo do conhecimento e, portanto, uma ciên- cia com seu próprio objeto. - Uma disciplina dos cursos de formação de professores. Ela é uma disciplina integradora que faz a ligação entre a teo- ria e a prática. Ordena e estrutura teorias e práticas em função do ensino. Um professor que pretende realizar com sucesso o seu trabalho, vendo acontecer justamente o objetivo do ensino, que é proporcionar a aprendizagem ao seu aluno, certamente não dis- pensará o conhecimento de toda a teoria que dá suporte ao fazer pedagógico consciente. A Didática tem seu corpo teórico fundamentado nas contri- buições da Psicologia, da Filosofia e da Sociologia que são áreas do conhecimento que lançam luz sobre a complexidade da práti- ca pedagógica. Os objetivos da Didática são: refletir sobre o papel sócio- político da educação, da escola e do ensino; compreender o pro- cesso de ensino e suas múltiplas determinações; instrumentalizar teórica e praticamente, o futuro professor para captar e resolver os problemas postos pela prática pedagógica; redimensionar a prática pedagógica através da elaboração da proposta de ensino numa perspectiva crítica de educação (OLIVEIRA, 1995). 2.1 ORGANIZAÇÃO DO PROCESSO DIDÁTICO: PLANEJAMEN- TO, ESTRATÉGIAS E METODOLOGIAS, AVALIAÇÃO. O momento histórico em que nos encontramos, nos exige ou- tro modo de pensar e agir, porque transmitir conhecimentos não é mais o seu papel. A tendência atual dos sistemas de ensino, é admitir que a qualidade de ensino está atrelada à competência do professor. Ele se vê diante de uma situação totalmente nova e, embora reconhecendo a necessidade de redimensionar o seu trabalho e buscar novas bases para o ensino, reconhece, também, que se encontra despreparado, mal informado e sem condições de solucionar os problemas que estão a surgir na sua sala de aula. Nós somos cobrados de diversas formas: pelos pais, por não compreenderem exatamente o que está acontecendo e pela sociedade, que o responsabiliza por todos os males sociais. Junte- se a esta cobrança, o fato dos baixos salários e o desprestígio social da profissão. Por outro lado, os sistemas de ensino modifi- cam-se através de reformas de sua estrutura organizacional, de sua estrutura curricular, com o propósito de se adaptar aos novos tempos, com o aceite do professor. Só que essas modificações pouco têm a ver com o dia a dia da escola e do trabalho docente, tornando-se, muitas vezes, em propostas que não saem do papel. A escola básica de hoje não é, pois, um retrocesso com rela- ção à escola de ontem. É outra escola, principalmente por ser altamente expandida, e suas alegadas deficiências precisam ser enfrentadas por um esforço permanente de investigação e busca. A única certeza é que não há certezas. O professor é o ele- mento chave para qualquer mudança, pois só se estiver conven- cido da necessidade de mudar é que as reformas acontecerão. A natureza do trabalho educativo é única e peculiar, porque envolve diretamente o professor e o aluno e todas as suas ações são direcionadas a uma relação de apoio e confiança e por isso qual- quer mudança não pode se dar a partir de decisões externas a essa realidade. Além do mais, a educação sempre esteve atrelada a modelos organizacionais inadequados, privando os professores de tomar qualquer decisão em relação aos conteúdos e formas de agir, ficando uma separação entre o pensar e o agir da atividade do- cente, acarretando supervalorização do trabalho dos gestores e supervisores escolares e redução do fazer didático, se restringin- do a aplicar normas muitas vezes com pouca clareza, como é o caso dos documentos: Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensi- no Fundamental, Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, Diretrizes Curriculares para a Educação de Jovens e Adul- tos e Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Superior. Por isso, a escola mostra-se tão inoperante, defasada, incapazde acompanhar as novas exigências da sociedade. O professor não foi preparado durante sua formação para refletir sobre a sua própria prática à luz dos resultados obtidos, nem sobre o proces- so de aprendizagem dos alunos (ALONSO, 1999). Ele necessita realmente refletir sobre sua prática, que inclui a preocupação com o aluno mais do que com o conhecimento a ser ensinado, com as reações frente a esses conhecimentos, com os seus objetivos de ensino e aprendizagem e estar consciente do seu papel. Os assuntos postos nos currículos escolares devem ser alvo de descoberta do sentido daquilo que foi considerado importante num determinado tempo, suas variações em outras épocas, esta- belecer relações entre o que veio antes e o que virá depois, trans- formando a escola num espaço de trocas de informações e co- nhecimentos com outras pessoas, instituições diferenciadas no país e fora dele, através de contatos pessoais, a distância e virtu- ais. Outro aspecto mencionado, é o papel do professor de influ- enciar os comportamentos e atitudes dos alunos, argumentando- se que ele é um comunicador, um formador de opiniões, hábitos e atitudes que se exteriorizam na forma como ele ensina, quer seja no restrito espaço da sala de aula, quer num ambiente de aula virtual, locais onde a definição de regras de convivência, formas de ação, atitudes e comportamentos afloração na intera- ção com os alunos e entre eles. A forma como o professor ensina, sua maneira de se relacio- nar com os alunos, sua postura como pessoa e como profissional, refletem nas reações e comportamentos dos alunos, marcando-os com aprendizagens mais significativas do que os próprios conte- údos trabalhados na disciplina. Vale mencionar que o papel do professor é o de auxiliar na compreensão, utilização, aplicação e avaliação das inovações que surgem para o aluno num espaço muitas vezes que não é o esco- lar. Os conhecimentos encontram-se disponíveis em ambientes virtuais acessíveis, via redes. São conhecimentos disponíveis para quem os buscar e o professor, diante dessa situação, não será aquele que estará passando informação, mas aquele que orienta- rá, promoverá discussão, estimulará a reflexão crítica do material colhido nas diversas fontes. Esse é o verdadeiro papel do profes- sor na atualidade. 2.1.1 PLANEJAMENTO DO ENSINO De forma resumida, podemos conceituar planejamento como um processo que visa racionalizar qualquer atividade que se pre- tenda realizar. Na educação, podemos acrescentar que esta raci- onalização encontra-se restrita à atividade escolar sem esquecer PÁG.11 que ela reflete as influências econômicas, políticas e sociais que caracterizam a sociedade. É sempre bom entender que o planejamento é associativo e coletivo e deve estar em sintonia e consonância com outros pla- nejamentos que perpassam a escola (Vide o quadro abaixo): TIPO EXECUTOR MOMENTO REDE SISTEMA DE ENSINO ANTES DO INICIO DO ANO ESCOLAR ESCOLAR COMUNIDADE ESCOLAR SEMANA PEDAGÓGICA CURSO PROFESSORES DA TURMA / PCA´S / COORDENADOR ESCOLAR SEMANA PEDAGÓGICA ÁREA PROFESSORES DA ÁREA / PCA´S / COORDENADOR ESCOLAR BIMESTRAL AULA PROFESSOR DENTRO DO 1/3 DE PLANEJAMENTO No Brasil, nos ano 60, o planejamento passou a ser obrigató- rio nas escolas e como os professores não receberam capacitação para tal, estruturou-se um quadro com colunas que até hoje perdura na maioria das escolas. É um modelo-padrão com os seguintes itens: objetivos, conteúdos, procedimentos, recursos e avaliação. Este modelo buscava criar uma camisa de força impos- ta pelo regime militar. Com o passar do tempo, em contraposição a esta concepção, surgiram durante o processo de redemocratização do país, novas concepções de planejamento, ampliando a participação na sua elaboração que culminou com a implantação do Projeto Político- Pedagógico (Já debatido anteriormente) O planejamento de ensino também é um elemento integrador da escola e o contexto social, e o trabalho didático consiste na definição dos objetivos, na organização dos conteúdos, na sele- ção dos procedimentos e no estabelecimento dos critérios de avaliação. Ao preparar-se para entrar numa sala de aula, o professor de- ve sempre ter em mente o que irá ministrar para aquela turma. Ele deve estar bem seguro do conteúdo que vai ser trabalhado com os alunos, de que maneira vai abordar o assunto, quais os recursos de ensino necessários para aquela aula, e como vai ava- liar a aprendizagem. Todo esse preparo deve estar registrado num documento que tem um nome específico e chama-se Plano de Aula. Um Plano de Aula é um instrumento de trabalho do professor onde, nele, o docente especifica o que será realizado dentro da sala, buscando com isso aprimorar a sua prática peda- gógica, bem como melhorar o aprendizado dos alunos. Como o trabalho do professor é intencional, o Plano de Aula funciona como um instrumento no qual o professor aborda de forma detalhada as atividades que pretende executar dentro da sala de aula, assim como a relação dos meios que ele utilizará para realização das mesmas. De maneira bem sintetizada, pode- se dizer que o Plano de Aula é uma previsão de tudo o que será feito dentro de classe em um período determinado. É importante lembrar ao professor que a sua elaboração não o isenta de pre- parar as aulas a serem ministradas, pelo contrário, ele deve sem- pre preparar uma boa aula, apresentando um esquema e uma sequência lógica dos temas trabalhados. Portanto, um Plano de Aula tem como principal objetivo fazer a distribuição dos Objetivos Específicos, do Conteúdo a ser traba- lhado na aula, dos Procedimentos a serem efetivados tanto pelo professor como pelos alunos, dos Recursos que deverão ser dis- ponibilizados para ajudar na compreensão do tema e do instru- mento de avaliação que será utilizado para, através dele, fornecer dados ao professor. É importante ressaltar que o Plano de Aula deve ser encarado como uma necessidade e não como exigência ou obrigação imposta pela coordenação da escola. Apesar de ser uma ferramenta que descreve detalhadamente os elementos necessários para o desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem, o professor não deve ficar preso a ele, mas pode se afastar do Plano de Aula sempre que os alunos tiverem necessidade. Por exemplo, se o professor está ministrando a matéria de que estava planejada no Plano de Aula e sente a ne- cessidade de fazer uma demonstração experimental para melhor fixação de conteúdo nos alunos, ele pode fazer sem medo, pois mais importante é a aprendizagem do que o cumprimento do Plano. 2.1.2 ESTRATÉGIAS DE ENSINO No processo de ensino e aprendizagem, é importante o pro- fessor conhecer quem são os alunos e quais os conhecimentos prévios que possuem, a fim de estabelecer o que é necessário para pensar num planejamento de ensino com possibilidade de ajudá-los a desenvolver suas capacidades a partir do que eles já sabem e do que eles são. É provável o professor ter, na sala de aula, alunos que não apresentam os conhecimentos necessários para a aprendizagem dos novos conteúdos que já estão previstos. Daí, é imprescindível corrigir esta situação na medida do possível, com atividades es- pecíficas, por exemplo. De nada adiantará o professor esforçar-se por dar uma boa aula, se o aluno não estiver preparado para aprender e, aqui, nós acrescentamos que muitas vezes uma sala torna-se indisciplinada por conta desses alunos que não conse- guem se desenvolver a contento. Quando alguém pretende aprender e consegue, a experiência vivida para tal proporciona bem-estar, lhe oferece uma imagem positiva de si mesmo, eleva sua autoestima e o impulsiona para novas aprendizagens. Há estudos que apontam para o fato de que existe uma relação entre a autoestima e o rendimento esco- lar, de maneira que alunos