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“No âmbito do espírito, e especialmente nas constelações familiares espirituais, tudo depende 
de até que ponto nos deixamos ser guiados, até que ponto entramos em sintonia com um 
movimento espiritual que nos atinge e ao qual nos rendemos”. Bert Hellinger 
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1. ALÉM DO MÉTODO 
 
 
 
“O detalhamento dos passos metódicos da constelação não visa proporcionar o ensino de uma 
técnica, mas à compreensão dos processos importantes para o trabalho”. Jakob Robert 
Schneider 
 
 
 
Até agora percebemos que constelar é muito mais do que aplicar um método. Sophie 
diz que quem escolhe seguir por este caminho, precisa vivenciar as Ordens do Amor e a Postura 
Fenomenológica em sua vida. É um caminho de desenvolvimento pessoal, de crescimento. 
Quando se escolhe aplicar as ordens do amor diariamente em sua vida, mais da metade dos 
recursos necessários para ser um constelador estão presentes. 
Seria muito pouco, se apenas nos atentássemos ao passo à passo do processo 
“constelar”, como se seguíssemos uma receita de bolo. Portanto, quando você for constelar, 
abandone todas as informações teóricas, e se coloque pleno e inteiro à disposição do campo, à 
serviço do sistema do cliente, sem julgamentos ou teorias pré-estabelecidas. Espere. Espere 
mais um pouco. Talvez essa seja a parte mais difícil. Somente então, perceba se há algo que 
você, como constelador possa fazer. 
Esteja sempre participando de grupos, trabalhando suas próprias questões pessoais e 
profissionais, para que sua visão possa ser cada vez mais clara e sem os embotes do seu sistema 
familiar. 
 
 
 
2. PREPARAR-SE 
 
 
Antes de mais nada é imprescindível estar centrado. É importantíssimo que o facilitador 
encontre formas diárias de se manter conectado com o presente e com o seu corpo e suas 
percepções. Técnicas respiratórias para acalmar a ansiedade e a agitação do dia, devem ser 
levadas em conta, sempre que for efetuar um trabalho de constelação. 
Meditação, relaxamento, visualização, qualquer dessas abordagens são importantes 
para que o facilitador desenvolva disciplina mental para que possa conduzir as constelações. A 
postura do facilitador é quase meditativa, em estado de espera e observação. Esses exercícios 
auxiliam a não deixar que a mente comece a fazer julgamentos do que se mostra na constelação. 
“A constelação familiar é caracterizada como um método fenomenológico. Ela é um 
caminho onde se preserva a maior isenção possível com respeito ao saber anterior, um método 
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destituído de intenções, aberto a uma realidade que se revela por si mesma. O não-saber é uma 
virtude que pertence apenas a quem sabe. Nessa medida, a abordagem fenomenológica exibe 
dois trilhos paralelos, o saber e o não-saber, a intenção e a ausência de intenções, o que pode 
ser aprendido e o que está aberto à percepção de uma realidade (fenômeno-) e à atribuição de 
um significado, ao entendimento racional (logia).” Jakob R. Schneider 
 comunicação com o guia interno é um bom caminho para quem está começando. 
Quanto mais rápida e confiante for esta comunicação, o direcionamento do trabalho também o 
será. Também aqui cabe ao facilitador reconhecer, através do guia, da sua intuição, ou de 
qualquer tomada de consciência, o que realmente é informação do campo ou questões suas, do 
seu sistema familiar e que ainda não foi integrado, curado, ou trabalhado internamente. Pois se 
isso ocorrer é necessário a interrupção da constelação (item importante mencionado nas 
Ordens da Ajuda, módulo anterior). 
 
Também faz parte dessa etapa a concordância com tudo como é, ao SIM à tudo como é, 
principalmente aos destinos dos clientes e de seus sistemas familiares. Na medida que eu me 
abro a esse SIM, me sintonizo cada vez mais com o movimento do espírito e à Vida. Isso pode 
ser feito antes do atendimento individual ou do grupo. 
 
 
 
3. NO GRUPO 
 
Lembra que você está no SIM à tudo como é. Coloca teus pais atrás de você, sintoniza 
com as consciências coletivas de todos do lugar: cidades, estados, país. Coloque-se disponível, 
à serviço da vida e dessas consciências. Talvez seja importante honrar internamente o que 
aconteceu ali, a história do local e do povo. Conforme as pessoas vão chegando para participar 
do grupo, sintoniza com seus com pais e suas consciências coletivas. 
Nessa fase você pode levar seus clientes e participantes a experimentar o centramento. 
Convide-os para que coloquem os pés bem firmes no chão e que sintam seu corpo, que soltem 
os braços e as pernas, no caso dessas estarem cruzadas. E ensine-os a respirar, a relaxar durante 
alguns segundos. Isso faz com que a sua sintonia com eles melhore e já direciona o grupo/pessoa 
para o estado de presença. Você também pode conduzir uma pequena meditação, como por 
exemplo, imaginar os pais atrás de cada, assim como seus avós, etc. Ou conduzir qualquer outra 
meditação que você entenda ser relevante, como uma forma de centramento. 
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3.1 Contato com o cliente 
 
 
 
“Não é uma pessoa que senta do teu lado, é todo um sistema, é uma consciência 
familiar”. Brigitte Champetier Ribes 
 
 
Uma constelação geralmente começa quando o terapeuta convida o cliente a sentar-se 
no seu lado. A maneira como o cliente deixa seu lugar no grupo diante do olhar de todos e senta- 
se ao lado do terapeuta é um dado importante que fornece a primeira informação sobre sua 
disposição e energia para resolver sua questão. Temos, então, o campo que o cliente carrega 
com todas suas informações, e a partir daí, terapeuta e participantes já se sintonizam com ele. 
Cada pessoa que senta ao lado do terapeuta é um mundo de informações, portanto é 
necessário alguns instantes para que o terapeuta volte a centrar-se, em silêncio. Isso pode levar 
algum tempo, e o cliente nesse momento não tem o que fazer, a não ser permanecer em silêncio 
também. A primeira aproximação é silenciosa. Se o cliente começa logo a falar, expondo sua 
questão ou comentando seus sentimentos atuais ou passados, o terapeuta lhe recomenda que 
primeiro respire tranquilamente, talvez de olhos fechados, aguarde um momento. 
Esse silêncio pode ser breve ou mais extenso. Silenciosamente o cliente toma contato 
com sua vida, seus campos de relação, sua necessidade, seu futuro, etc. O terapeuta se sintoniza 
com o cliente, sua família, seu destino, e também ao campo maior (consciência espiritual) onde 
se inserem. O terapeuta abandona as ideias, julgamentos e se abre ao que virá, deixando-se 
conduzir pelo campo do cliente, seu destino e pelas forças necessárias para a solução. 
Nesse processo, seja ele rápido ou não, afloram no terapeuta as primeiras percepções 
importantes. Ele observa a fisionomia do cliente, às vezes surge um semblante de pessoa mais 
velha ou mais nova, ou um ar deprimido, ou percebe que a cabeça do cliente está erguida 
demasiadamente e pede para ele baixar um pouco. Talvez o cliente comece a chorar 
silenciosamente, surjam respirações diferentes, às vezes no primeiro contato, ele ri com o 
terapeuta e vem com diálogos distraídos. 
Aqui neste primeiro contato também surgem as transferências do cliente em direção ao 
terapeuta (relação terapêutica de transferência e contratransferência vista no módulo passado). 
É importante o terapeuta identificar esses jogos psicológicos e sair imediatamente do papel, 
para que ambos possam, como adultos, olhar as soluções sistêmicas. 
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3.2 A Questão 
 
 
Muitas vezes o cliente, quando senta ao lado do terapeuta, fica perdido em suas 
próprias ideias, como se tivesse em um transe. É importante o terapeuta não começar nenhum 
trabalho se o cliente estiver nesse lugar. Somente quando o cliente olhar para o terapeuta é que 
o trabalho pode ser iniciado. É nesse momento que ele se volta para o presente e como “adulto” 
pode olhar sua questão. 
O trabalho é melhor quando o cliente formula com clareza o seu problema ou o quedeseja obter na constelação. Isso acontece quando, por exemplo, numa só frase a questão é 
colocada e entendida por todos. Aqui não cabem justificativas, lamentações, condições, etc. 
Necessidades claras e poderosas podem ser expressadas ao terapeuta com o olhar franco, 
enquanto que um olhar que se desvia frequentemente resulta em imprecisão nos sentimentos 
e na declaração do problema. 
Exemplos de necessidades claras: “Sofro de depressão há anos”, “desde que meus pais 
morreram vivo brigando com minha irmã”, “tenho câncer”, “nosso filho é hiperativo e nos 
preocupa”, “tenho dificuldade em prosperar financeiramente”, “Minha relação com meus pais 
não é boa”, etc. 
Às vezes, um participante declara que está ali por vontade de sua esposa ou então 
expressa um desejo vago, como: “gostaria de ser mais livre”, “quero me encontrar melhor e ficar 
mais consciente de mim”, essas necessidades não tem força suficiente para uma constelação. 
Se o cliente insiste em contar muitas histórias, e não se consegue um diálogo curto, é importante 
interromper. Às vezes nem constelar naquele dia. 
O terapeuta também pode conduzir o cliente para a real necessidade por trás desses 
temas vagos. Se ele percebe que uma questão, embora seja vaga, envolve muito sentimento, 
ele pode colocar o cliente em contato com algo essencial do sistema familiar. Por exemplo, se 
um cliente diz: “não consigo encontrar meu lugar na vida”, o terapeuta pode perguntar “você 
foi criada com seus pais?” – “sim” – “É casada e tem filhos?” – “sim” – “Tem uma profissão?” – 
“sim”, “Então, quem será que não encontrou seu lugar na vida?”. 
Aqui pode revelar-se outro membro desse sistema como um filho extraconjugal do pai, 
com quem não existe contato ou à mãe, já que muito cedo foi dado à adoção. Por trás de um 
desejo de ser livre, esconde-se às vezes o desejo de morte, já que é a única verdadeira liberdade. 
“Você quer morrer?”, o terapeuta pode perguntar. Muitas vezes a resposta é afirmativa. 
A forma como um cliente expressa sua disposição de fazer a constelação e formula sua 
questão depende também da atitude do terapeuta. A coragem e a disposição do terapeuta para 
abrir-se ao destino do cliente, seja ele qual for, reforçam nele a confiança e a abertura. A 
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capacidade do terapeuta para distinguir o que é essencial e a atitude interna compreensiva e 
aberta em relação aos acontecimentos da família do cliente também tem um peso. 
 
 
 
3.3 Coleta de Informações do Sistema 
 
 
As constelações não requerem muitas informações. É importante, inclusive, reduzir as 
informações, ficando com o que realmente é essencial. Uma boa forma de perceber se uma 
informação é essencial é a força que ela tem. Essa força muitas vezes é sentida quando a atenção 
dos participantes e do terapeuta é prendida ao receber a informação. O que importa são os fatos 
e não as vivências e interpretações do cliente. 
De princípio, as informações mais importantes são todas aquelas que têm relação com 
as Ordens do Amor. Por exemplo: informações sobre o círculo de pessoas da família do cliente: 
pais, irmãos, avós, tios (todas as pessoas vistas no primeiro módulo que fazem parte do sistema 
familiar) = PERTENCIMENTO. Aqui a pergunta é sempre: Quem pertence a esse sistema? O que 
aconteceu com algum desses membros? Acontecimentos importantes: mortes precoces, morte 
de bebês, mudanças importantes de residência, separação dos pais, doenças graves, vícios 
gerais, suicídio, injustiças, exclusões, etc. 
A partir das informações iniciais é que o terapeuta pode escolher quais elementos são 
essenciais para configurar a constelação. Na configuração inicial se coloca apenas as 
pessoas/elementos chaves e, se durante a constelação, novas informações surgirem, pessoas 
podem ser adicionadas ao campo. Muitas vezes, quando estão faltando pessoas, os próprios 
representantes informam através de sinais corporais. 
 
 
 
3.4 A Constelação em si 
 
 
Depois que o terapeuta tem as informações para dar início à constelação, ele pode optar 
por escolher as pessoas que irão representar os elementos do sistema do cliente, ou pedir que 
o próprio cliente escolha. É interessante que nessa escolha, as pessoas que irão representar 
estejam disponíveis para isso. Muitas vezes num grupo, aparecem pessoas novas, por exemplo, 
que não querem participar de uma constelação. Devemos respeitar esse movimento. 
A partir da escolha dos representantes, eles se posicionam em pé, dentro do espaço 
determinado pelo terapeuta. Não há mais necessidade do cliente posicionar os representantes 
como acontecia nas constelações anteriores. O próprio representante em sintonia com o campo 
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do cliente vai encontrar o seu lugar em relação aos outros elementos, mostrando assim a 
desordem sistêmica. 
Começa então uma fase mais ou menos longa, de silêncio e de centramento, onde o 
cliente observa os fenômenos da representação e o terapeuta, em sintonia com todos do campo 
e com o cliente, também observa. Aqui Bert fala da postura fenomenológica, da ação na não- 
ação, sem intenção, sem medo. 
 
 
 
3.5 Representantes 
 
 
“Ser representante é um presente. Quanto mais disponível você está para o outro, mas você 
recebe para o seu sistema familiar”. Brigitte Champetier Ribes 
 
 
O papel dos representantes é tão importante quanto do terapeuta. É importante por 
sua qualidade, sensibilidade e abertura às percepções tão sutis, que vão além do ego. Depende 
do representante a chegada da informação para que a constelação tenha força de cura. 
Portanto, é interessante lembrar os representantes de estarem centrados, em silêncio interno, 
numa postura quase meditativa, braços soltos (sem estar cruzados), olhos abertos, e que 
relaxem e confiem em seu corpo. 
Há alguns níveis de representação. Surgirão, nos grupos, pessoas que, talvez, já estejam 
acostumadas a frequentar grupos de constelação onde muitas vezes o movimento caminha mais 
para o psicodrama do que para o movimento do espírito. Esse tipo de representação também 
ocorre quando o representante está preso em suas próprias questões, traumas, dores, e 
emoções secundárias. Normalmente você percebe que os movimentos são rápidos, bruscos, 
com alta dose de emoção. Quando isso acontecer, você pode pedir para o representante se 
centrar mais, respirar, esperar, observar, ou trocar de representante. 
O movimento do espírito é lento, muito lento, é como se o corpo fosse arrastado por 
uma força externa. Surgem emoções, mas elas não tomam conta do representante. As 
informações recebidas são basicamente relacionadas às desordens sistêmicas e o próprio 
movimento do representante já é em direção à solução. 
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3.6. Sobre as frases 
 
As frases curadoras têm efeitos na alma dos clientes. Elas possuem um caráter quase 
ritualístico e metafórico que sinalam a desordem existente em um dado momento ou o reforço 
de uma ordem que se reestabelece. E costuma responder a algumas necessidades fundamentais 
em um trabalho de constelação. 
Elas deixam explícito o óbvio de maneira em que o cliente integre o que surgiu à luz por 
diferentes canais de comunicação, tornando-se mais consciente. Por exemplo, uma vez incluído 
um membro que foi excluído podemos pedir para o cliente repetir a frase “Agora te vejo”. 
As frases provocam a reação emocional necessária para liberação da energia estagnada 
em seu corpo. Por exemplo, quando colocamos o cliente em frente aos seus pais e pedimos que 
repita a frase “Obrigado pela Vida, agora a tomo pelo preço que custou a vocês”. 
Às vezes eles afirmam exatamente a realidade para que o cliente se dê conta da 
desordem sistêmica, por exemplo, quando uma mãe, que não gosta do pai de seu filho diz ao 
representante do filho “querido filho, não te amo como você é, amo apenas a sua metade quem 
vem de mim”. Talvez, ela se negue a falar a frase e isso fará com que provoque em seu corpo 
uma reação. Podemos então conduzi-la ao movimento de cura pedindopara ela repetir a frase 
“querido filho, te amo inteiro, com a metade que vem de mim e a metade que vem de seu pai”. 
Se uma frase aflora em sua mente, pode-se verificar se é apropriada e se tem um bom 
efeito. Tome o tempo suficiente para decidir sobre o que sugerir. Diga a frase silenciosamente 
para si mesmo e observe sua reação física. Como se sente? Como está respirando? Imagine o 
cliente dizendo esta frase para a pessoa que está no momento, à sua frente. Essa frase apoia o 
movimento? Algumas vezes são exatamente as pequenas e curtas frases que tocam os 
sentimentos mais profundos. A experiência total do cliente que quase não pode ser expressa 
através de palavras, flui em sua essência com a simples afirmação: “papai”, por exemplo. 
As frases servem para constatar realidades que nunca foram explicitadas no 
relacionamento; para oferecer impulsos em direção a uma solução; permitir emergir 
sentimentos ou para finalizar acontecimentos do passado. Por exemplo, “você é meu pai e eu 
sou sua filha”, fortalece o pertencimento interno do cliente ao seu sistema familiar. Outro 
exemplo é quando houve abusos, talvez a frase apropriada seja “foi demais, sou pequena 
demais para isso”. 
Quando uma família é constelada, origina-se um campo de força que está presente 
nessa família. O constelador entra nesse campo e ligado a ele chega a uma solução. Sem essa 
conexão não tem como chegar às frases certas. As frases são simples e se dirigem diretamente 
para a alma, por isso não podemos seguir um roteiro ou scrip de frases. 
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3.6.1 Tipos de frases 
 
 
Nas constelações utilizamos duas espécies de frases de solução: as que descobrem um 
vínculo de destino e as que desatam um vínculo de destino. As frases descobridoras têm um 
efeito liberador, porque nelas vem à luz numa vivência de espanto, muitas vezes muito tocante, 
o vínculo de destino que até agora determinou a vida, e porque elas exprimem a concordância 
com o amor que causou a vinculação ao destino. Tais frases são, por exemplo: “Mamãe, por 
você vou encontrar sua irmã na morte, e então você pode ficar com papai”, ou: “Querido vovô, 
você perdeu tudo; eu também não conservo nada, então fico perto de você”. As frases que 
liberam honram o destino das pessoas conectadas, contemplam seu amor e deixam o destino 
com aqueles que o devem carregar — e geralmente já o carregaram. Assim, uma filha poderia 
dizer à noiva abandonada por seu pai: “Vejo sua dor, mas não posso tirá-la de você; deixo sua 
dor e sua raiva com você e com papai”. Nesse processo, o terapeuta fica atento a que a pessoa 
envolvida, enquanto diz as frases liberadoras, mantenha o contato do olhar com a pessoa com 
a qual está envolvida pelo destino, pois com frequência ela procura desviar o olhar e com isso 
conservar os sentimentos que mantêm o enredamento. 
O terapeuta deve verificar com cuidado se a pessoa simplesmente repete as frases ou 
se estas são também acertadas para ela e a tocam. Se não alcançam o que é adequado, é preciso 
procurar outras frases. Se o terapeuta sente que as frases são acertadas, mas não toca, ele 
precisará talvez lançar mão de mais alguma coisa na dinâmica do sistema. Quanto menos 
frases, melhor. A fala em demasia, parece dissipar a energia que move os representantes para 
a cura. 
 
 
3.7 Encerramento da constelação 
 
 
Bert fala que existem dois tipos de encerramento: 
- o que dá a sensação de encerramento, ao chegar a um lugar onde o desenrolar é bonito, como 
uma “foto final”; 
- o que deixa tudo aberto depois do início de um movimento poderoso de cura, criando a 
sensação de que “algo se colocou em movimento”, embora pareça, ao final da constelação que 
ficou faltando um fechamento. 
A ideia de que a constelação acaba é uma ilusão. A constelação inicia um movimento 
profundo de cura e de ordenação na consciência coletiva do cliente. Algumas vezes se nota que 
ao encerrar a constelação, algo já mudou dentro da alma do cliente, vemos em seu rosto isso. 
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Mas na grande maioria, muitas coisas ainda ficam mexendo, leva dias, às vezes mais tempo para 
que a constelação “encerre” de fato. 
Algumas dicas de quando a constelação está pronta para ser encerrada: 
- quando se chega à algum limite do terapeuta; 
- quando os representantes ficam cansados e os movimentos param; 
- ou o cliente não consegue acompanhar a constelação; 
- quando o terapeuta não sente mais ou quando a situação fica muito confusa e não se mostra 
mais nenhum traço que poderia desvincular; 
- quando o caminho para a solução e o essencial já se revelou; etc. 
Encerrar a constelação também implica em dispensar os representantes. Alguns 
terapeutas fazem disso um ritual, por exemplo, dizendo: “aqui nos recolhemos”, “cada um pode 
voltar ao seu lugar”, ou pede que o cliente agradeça os representantes. Geralmente esse 
processo é rápido e as pessoas não possuem dificuldade em sair de seus “papéis”. Também o 
terapeuta fica liberado e volta para o estado de centramento e vazio. 
 
 
 
TEXTO: O NOVO NAS CONSTELAÇÕES FAMILIARES, por Bert Hellinger 
 
 
Ficou claro desde o início, que nas constelações familiares os representantes sentem 
como as pessoas reais. A partir das experiências das constelações resultaram certos padrões ou 
ordens do amor. Por exemplo, sabemos que, via de regra, os filhos precisam estar diante dos 
pais de acordo com a sequencia da idade e que parceiros anteriores dos pais possuem 
importância especial. 
Portanto, algumas ordens do amor foram encontradas através das constelações 
familiares. Eu as descrevi, sendo possível trabalhar com elas. Podemos, por exemplo, refletir 
com a sua ajuda sobre qual seria o passo seguinte. Porém com o passar do tempo, ficou claro 
que a alma e o espírito, quando concedemos espaço a eles, podem ir mais longe e encontrar 
ainda outras soluções totalmente diferentes. 
Com o decorrer do tempo pudemos fazer as seguintes observações em relação às 
constelações familiares: muito frequentemente o ajudante pode se recolher e deixar o que está 
acontecendo seguir o seu curso, porém não se torna passivo. Permanece inteiramente presente. 
De repente sabe o que precisa ser feito. Então interfere. O ajudante permanece conectado com 
o que está acontecendo e age na hora certa, mas não através do raciocínio, e sim em sintonia 
com um movimento do espírito. Muitos ajudantes se assustam com isso, pois não estão mais 
seguros de como algo continua. Precisam se entregar a algo maior. 
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O que surgiu de novo foi principalmente o fato de observarmos que, quando 
concedemos espaço ao representante para que este possa se entregar aos movimentos da alma, 
novas dimensões da ajuda se revelam. Quando nos entregamos a isso, permanecemos em 
movimento. Quem se detém fica paralisado e a alma se retrai diante dele. Por isso o trabalho é 
um constante desafio. Está longe do fim e nem pode chegar a ele, pois a alma jamais se detém, 
encontra-se em fluxo. 
O que há de especial aqui é o fato de o ajudante entrar em sintonia não apenas com o 
cliente, mas para além dele, também com sua família, seu destino, sua morte e com algo que 
aponta uma direção para o cliente. Por isso, o ajudante se contém por inteiro. Quando entra 
em sintonia com o cliente dessa maneira e quando encontra igualmente sintonia consigo 
mesmo, com seus limites e com o movimento de sua alma, pode, em consonância com sua alma 
e do cliente dizer ou fazer algo decisivo. 
O que acontece nas constelações é misterioso. Como é possível que pessoas 
inteiramente estranhas, que não têm a mínima ideia da família ou da pessoa que representam, 
de repente, reajam como essa pessoa e assumam os seus sentimentos, tipo de comportamento 
e até os seus sintomas físicos? 
Descrevo agora o que se passa comigo quando trabalho com alguém. O cliente me 
contou algo e eu escutei sem prestar atenção. Não queria escutar exatamente o que dizia. Eu 
não queria saber exatamente o que ele dizia. Portanto,eu não escuto assim, concentrado, mas 
de maneira que, ao mesmo, tempo, olho para algo maior. E, de repente, ele diz uma palavra e 
então me desperto. A palavra aqui foi guerra civil, o pai na guerra civil. De repente, entre tudo 
o que ele me disse, existe uma palavra que me atinge. Nessa palavra está a energia. Então, 
quando deixo essa palavra agir em mim, sinto quais as pessoas de que necessito para a 
constelação. 
No decorrer das constelações familiares o cliente escolhe, dentre os participantes, 
representantes para os membros de sua família que são importantes, portanto, para o pai, a 
mãe, os irmãos, etc. Então, concentrado e a partir de se sentimento interno coloca-os, uns em 
relação aos outros. Antes o cliente deve preparar-se para fazê-lo concentrado e também se 
expor internamente à dor, à tristeza e ao desafio que se originam do trabalho. 
Às vezes alguém está impedido de fazê-lo, porque talvez, lhe falte uma permissão de 
sua família. Ele tem que sentir internamente se os membros de sua família podem concordar 
que ele o faça. Eles concordam com mais facilidade quanto mais ele puder assegurar-lhes 
internamente que o faz com respeito perante eles e que procura uma boa solução para todos. 
Os representantes que forem escolhidos colocam-se à disposição. Isso é um serviço para 
o cliente. Não é nada fácil. Pois, tão logo os representantes estejam na constelação, sentem 
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como as pessoas que representam. Pode ser que até de maneira dramática. Em parte, sentem 
até sintomas físicos. Portanto, é necessária uma certa coragem para entregar-se a isso. Mas é 
um serviço de amor. E, naturalmente, aprende-se muito quando a gente se entrega a isso. 
Porque, então, sente-se quanta força repousa nessas constelações familiares. 
O campo de força está em conexão com outros campos de força, por exemplo, com a 
família verdadeira. Por isso, os representantes, quando aí penetram, sentem como as pessoas 
reais. O terapeuta penetra junto nesse campo de força. Mas ele não pode mexer nele, nem 
permanecer muito tempo ali. Mas penetrando nele, liga-se com todo o campo de força, 
portanto, com todo o sistema que a ele pertence, principalmente com aqueles que estão 
excluídos. 
Naturalmente, cada um também traz algo de si na representação, porém mais de 
sentido humano em geral, de forma que isso não atrapalha. É muito raro que isso atrapalhe. Se 
um representante permanece completamente preso em seu próprio sentimento, não pode 
entrar no campo de força. Isso se nota imediatamente. Então o trocamos. 
Quando o terapeuta entra dessa forma, o sistema o presenteia com uma visão da 
solução. Isso vem bem de repente, como um raio. Ele compreende de uma só vez o essencial. 
Isso ele não concebe, lhe é presenteado. Mas deve confiar nesse campo. Ele emerge 
repentinamente, é aplicado e tem efeito imediato. A emoção entre os atingidos é o sinal de que 
algo essencial foi tocado. Depois o terapeuta se retira e deixa à família o seu próprio campo e a 
sua própria alma. 
Como terapeuta, sei que a constelação não depende de mim, mas de algo que vem à luz 
através da mesma, e eu me exponho àquilo que vem à luz, assim como é. É, portanto, 
fundamentalmente um método muito comedido. Eu trabalho com o que se mostra. Mas então, 
com engajamento total. Para tanto, assumo também a minha parte da responsabilidade. 
Daquilo que vem à luz resulta, então, cada passo para uma solução, quando existe uma 
solução. Trabalho com as forças que se mostram no sistema, na família, com as forças positivas. 
Tento mobilizá-las e torná-las úteis para o cliente. Então, depende do cliente estar preparado e 
também ser capaz de aderir a esse movimento e completar aquilo que se mostra como solução. 
Isso é, às vezes, muito difícil. Provavelmente tem a ver com o fato de que uma família é um 
campo de força. 
Rupert Sheldrake fala dos campos morfogenéticos. Isso quer dizer que nesse campo de 
força continuam agindo, como compulsão, certos padrões que estavam ali antes, de maneira 
que eles se repetem. Ele vê, por exemplo, as leis da natureza como recordações do princípio, 
quando algo se formou. Essa recordação tem uma ressonância e continua agindo e se repetindo. 
Provavelmente também é assim nas famílias que certos padrões se repetem. Da força do campo 
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não existe nenhum impulso que rompa isso. Para rompê-lo, necessita-se poder sair desse 
campo, talvez penetrar em um nível mais elevado e dali iniciar o novo e expor-se a ele 
corajosamente. 
ortanto, é importante que o cliente saiba que aqui se trata de um processo vivo, no 
qual se exige dele um passo de crescimento. Por isso, depende também de que ele seja 
suficientemente forte e corajoso para expor-se a isso. Trata-se de processos de crescimento. 
Através desse trabalho algo começou a crescer. Esse crescimento necessita de tempo. Muitos 
clientes têm interesse em uma cura rápida e transferem o resultado para algo externo, por 
exemplo, encontrar um terapeuta ou um médico que os cure. Eles transferem a 
responsabilidade da cura a alguém que está fora. E os clientes que esperam a sua cura do 
terapeuta, de que ele, por assim dizer, faça isso para ele têm a menor chance de cura. 
Cura é uma dádiva. Onde ela dá certo ou onde o alívio é alcançado, é uma dádiva. E onde 
se trata de grandes destinos, de vida ou morte ou de emaranhamentos e culpa, aí não se pode 
ir de acordo com um plano rumo à uma cura. Não se pode, tampouco, alcançar o resultado 
procedendo de acordo com um padrão. Aqui, onde a cura e solução têm êxito, existem forças 
em ação que vão além do individual. 
Importante nesse trabalho é a “desdramatização”. Tanto quanto possível, guio o que 
acontece de volta ao habitual. Isso é o que cura, antes de tudo. Não me oriento por reflexões 
tais como: isso está certo ou errado. Isso seria muito fácil. Examino o que faço pelo efeito em 
minha alma. Portanto, prender-se a regras fixas não faz justiça à plenitude do que acontece. 
Realmente, tenho certas imagens de como poderia ser, mas na prática, cada constelação é 
diferente. 
Nas constelações familiares procede-se sistemicamente. Por isso, terapeutas que já 
estavam acostumados a tratar de pessoas têm certas dificuldades de adaptação. No 
procedimento sistêmico trata-se de conseguir enxergar o completo e o todo. Por isso, olho 
primeiro para aqueles que estão excluídos do sistema, para os membros da família aos quais é 
negado o reconhecimento ou para aqueles aos quais é negado o amor. O meu coração pertence 
imediatamente à eles, posso fazê-los entrar. Portanto, aqui não se solicita tomar partido por 
indivíduos, mas tomar partido pelo todo. 
As constelações familiares são resultado da atitude fenomenológica. Vista a partir da 
filosofia, atitude fenomenológica significa que alguém se retrai e que está sem intenção, sem 
medo e sem amor, no sentido de que queira ajudar alguém de qualquer maneira. O 
acontecimento em si fica fora do terapeuta, acontece algo fora dele. Retraindo-se, ele não 
intervém no que acontece. Esse tipo de reserva cria o espaço no qual podem vir à luz os 
movimentos decisivos. 
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Também na teoria filosófica do conhecimento ou na teoria da comunicação existe a 
ideia de que o saber baseia-se em informação. Entretanto, aqui vemos que existe também um 
outro saber, que não se baseia em comunicação, mas sim em participação. E, ao meu ver, essa 
participação é em uma alma comum. Que aquilo que designamos como nossa alma não 
podemos designar assim, pois nossa alma nos liga à nossa família e, para além da família, com a 
grande alma, como a denomino. Nela, todos estão ligados entre si, com efeitos, cientes. 
Nas constelações familiares, esse saber tem efeito nos participantes e principalmente 
no terapeuta, se ele o permitir. Se o terapeuta ainda estiver preso à filosofia de que o saber se 
baseia em comunicação e acha que deve primeiro fazer muitas perguntas a cada um dos 
indivíduos, antes de começara atuar, então perdeu o contato com essa grande alma. Assim que 
o terapeuta se introduz nesse campo de força, chegam-lhe os conhecimentos de que ele 
necessita. 
O terapeuta está em harmonia com o campo de força quando ele renuncia a qualquer 
intenção pessoal, também à intenção de curar e à intenção de mudar um destino. Ele reconhece 
o que vem à luz e acontece naquele momento, sem intenção e sem temor. É permitido ser 
exatamente assim como é, isto é muito importante. Isso significa também que o terapeuta se 
purifica internamente de intenções e ideias de poder. 
Nesse caso, o processo interno é retrairmo-nos da multiplicidade dos fenômenos e de 
tudo o que sabemos para um centro vazio. Quanto mais dramático algo parece, quanto mais se 
trata de vida e de morte, tanto mais é necessário que o terapeuta se recolha a esse centro vazio. 
Quanto mais profundidade ele o puder fazer, tanto mais ímpeto tem aqui o que diz. O que vem 
desse centro tem um efeito direto, pois vem da harmonia com os poderes que sustentam. 
O segredo do caminho das constelações consiste em que se progrida deixando para trás 
tudo o que foi até então. Sempre que se queira fixar algo, ele se perde. A imagem da família em 
uma constelação continua agindo quando a deixamos para trás. É parte de um movimento, e 
esse movimento deve continuar. Também o que aparece nela como solução é somente um 
passo inicial. 
Quem se entrega às constelações familiares, no decorrer do tempo se aprofunda sempre 
nessa atitude. Fazendo esse trabalho e entregando-se a ele, será levado, pelo próprio trabalho, 
a este centro. Por isso, para o terapeuta, ele tem necessariamente um efeito purificador e 
enriquecedor. Aqui a morte não o amedronta, pois para ele a vida é uma das partes do ser. 
Portanto, a vida não é o maior, senão o ser, do qual a vida emerge e no que torna a submergir. 
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E SUGESTÕES DE LEITURA 
 
 
 
HELLINGER, Bert. A Fonte não Precisa Perguntar pelo Caminho. Goiânia: Atman, 2002 
 
HELLINGER, Bert. Constelações Familiares, o Reconhecimento das Ordens do Amor. São Paulo: 
Cultrix, 2001 
 
RIBES, Brigitte Champetier de. Empezar a Constellar. Madrid: Gaia, 2010 
 
SCHNEIDER, Jakob Robert. A Prática das Constelações Familiares. Patos de Minas: Atman, 2007

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