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2 “No âmbito do espírito, e especialmente nas constelações familiares espirituais, tudo depende de até que ponto nos deixamos ser guiados, até que ponto entramos em sintonia com um movimento espiritual que nos atinge e ao qual nos rendemos”. Bert Hellinger 3 1. ALÉM DO MÉTODO “O detalhamento dos passos metódicos da constelação não visa proporcionar o ensino de uma técnica, mas à compreensão dos processos importantes para o trabalho”. Jakob Robert Schneider Até agora percebemos que constelar é muito mais do que aplicar um método. Sophie diz que quem escolhe seguir por este caminho, precisa vivenciar as Ordens do Amor e a Postura Fenomenológica em sua vida. É um caminho de desenvolvimento pessoal, de crescimento. Quando se escolhe aplicar as ordens do amor diariamente em sua vida, mais da metade dos recursos necessários para ser um constelador estão presentes. Seria muito pouco, se apenas nos atentássemos ao passo à passo do processo “constelar”, como se seguíssemos uma receita de bolo. Portanto, quando você for constelar, abandone todas as informações teóricas, e se coloque pleno e inteiro à disposição do campo, à serviço do sistema do cliente, sem julgamentos ou teorias pré-estabelecidas. Espere. Espere mais um pouco. Talvez essa seja a parte mais difícil. Somente então, perceba se há algo que você, como constelador possa fazer. Esteja sempre participando de grupos, trabalhando suas próprias questões pessoais e profissionais, para que sua visão possa ser cada vez mais clara e sem os embotes do seu sistema familiar. 2. PREPARAR-SE Antes de mais nada é imprescindível estar centrado. É importantíssimo que o facilitador encontre formas diárias de se manter conectado com o presente e com o seu corpo e suas percepções. Técnicas respiratórias para acalmar a ansiedade e a agitação do dia, devem ser levadas em conta, sempre que for efetuar um trabalho de constelação. Meditação, relaxamento, visualização, qualquer dessas abordagens são importantes para que o facilitador desenvolva disciplina mental para que possa conduzir as constelações. A postura do facilitador é quase meditativa, em estado de espera e observação. Esses exercícios auxiliam a não deixar que a mente comece a fazer julgamentos do que se mostra na constelação. “A constelação familiar é caracterizada como um método fenomenológico. Ela é um caminho onde se preserva a maior isenção possível com respeito ao saber anterior, um método 4 destituído de intenções, aberto a uma realidade que se revela por si mesma. O não-saber é uma virtude que pertence apenas a quem sabe. Nessa medida, a abordagem fenomenológica exibe dois trilhos paralelos, o saber e o não-saber, a intenção e a ausência de intenções, o que pode ser aprendido e o que está aberto à percepção de uma realidade (fenômeno-) e à atribuição de um significado, ao entendimento racional (logia).” Jakob R. Schneider comunicação com o guia interno é um bom caminho para quem está começando. Quanto mais rápida e confiante for esta comunicação, o direcionamento do trabalho também o será. Também aqui cabe ao facilitador reconhecer, através do guia, da sua intuição, ou de qualquer tomada de consciência, o que realmente é informação do campo ou questões suas, do seu sistema familiar e que ainda não foi integrado, curado, ou trabalhado internamente. Pois se isso ocorrer é necessário a interrupção da constelação (item importante mencionado nas Ordens da Ajuda, módulo anterior). Também faz parte dessa etapa a concordância com tudo como é, ao SIM à tudo como é, principalmente aos destinos dos clientes e de seus sistemas familiares. Na medida que eu me abro a esse SIM, me sintonizo cada vez mais com o movimento do espírito e à Vida. Isso pode ser feito antes do atendimento individual ou do grupo. 3. NO GRUPO Lembra que você está no SIM à tudo como é. Coloca teus pais atrás de você, sintoniza com as consciências coletivas de todos do lugar: cidades, estados, país. Coloque-se disponível, à serviço da vida e dessas consciências. Talvez seja importante honrar internamente o que aconteceu ali, a história do local e do povo. Conforme as pessoas vão chegando para participar do grupo, sintoniza com seus com pais e suas consciências coletivas. Nessa fase você pode levar seus clientes e participantes a experimentar o centramento. Convide-os para que coloquem os pés bem firmes no chão e que sintam seu corpo, que soltem os braços e as pernas, no caso dessas estarem cruzadas. E ensine-os a respirar, a relaxar durante alguns segundos. Isso faz com que a sua sintonia com eles melhore e já direciona o grupo/pessoa para o estado de presença. Você também pode conduzir uma pequena meditação, como por exemplo, imaginar os pais atrás de cada, assim como seus avós, etc. Ou conduzir qualquer outra meditação que você entenda ser relevante, como uma forma de centramento. 5 3.1 Contato com o cliente “Não é uma pessoa que senta do teu lado, é todo um sistema, é uma consciência familiar”. Brigitte Champetier Ribes Uma constelação geralmente começa quando o terapeuta convida o cliente a sentar-se no seu lado. A maneira como o cliente deixa seu lugar no grupo diante do olhar de todos e senta- se ao lado do terapeuta é um dado importante que fornece a primeira informação sobre sua disposição e energia para resolver sua questão. Temos, então, o campo que o cliente carrega com todas suas informações, e a partir daí, terapeuta e participantes já se sintonizam com ele. Cada pessoa que senta ao lado do terapeuta é um mundo de informações, portanto é necessário alguns instantes para que o terapeuta volte a centrar-se, em silêncio. Isso pode levar algum tempo, e o cliente nesse momento não tem o que fazer, a não ser permanecer em silêncio também. A primeira aproximação é silenciosa. Se o cliente começa logo a falar, expondo sua questão ou comentando seus sentimentos atuais ou passados, o terapeuta lhe recomenda que primeiro respire tranquilamente, talvez de olhos fechados, aguarde um momento. Esse silêncio pode ser breve ou mais extenso. Silenciosamente o cliente toma contato com sua vida, seus campos de relação, sua necessidade, seu futuro, etc. O terapeuta se sintoniza com o cliente, sua família, seu destino, e também ao campo maior (consciência espiritual) onde se inserem. O terapeuta abandona as ideias, julgamentos e se abre ao que virá, deixando-se conduzir pelo campo do cliente, seu destino e pelas forças necessárias para a solução. Nesse processo, seja ele rápido ou não, afloram no terapeuta as primeiras percepções importantes. Ele observa a fisionomia do cliente, às vezes surge um semblante de pessoa mais velha ou mais nova, ou um ar deprimido, ou percebe que a cabeça do cliente está erguida demasiadamente e pede para ele baixar um pouco. Talvez o cliente comece a chorar silenciosamente, surjam respirações diferentes, às vezes no primeiro contato, ele ri com o terapeuta e vem com diálogos distraídos. Aqui neste primeiro contato também surgem as transferências do cliente em direção ao terapeuta (relação terapêutica de transferência e contratransferência vista no módulo passado). É importante o terapeuta identificar esses jogos psicológicos e sair imediatamente do papel, para que ambos possam, como adultos, olhar as soluções sistêmicas. 6 3.2 A Questão Muitas vezes o cliente, quando senta ao lado do terapeuta, fica perdido em suas próprias ideias, como se tivesse em um transe. É importante o terapeuta não começar nenhum trabalho se o cliente estiver nesse lugar. Somente quando o cliente olhar para o terapeuta é que o trabalho pode ser iniciado. É nesse momento que ele se volta para o presente e como “adulto” pode olhar sua questão. O trabalho é melhor quando o cliente formula com clareza o seu problema ou o quedeseja obter na constelação. Isso acontece quando, por exemplo, numa só frase a questão é colocada e entendida por todos. Aqui não cabem justificativas, lamentações, condições, etc. Necessidades claras e poderosas podem ser expressadas ao terapeuta com o olhar franco, enquanto que um olhar que se desvia frequentemente resulta em imprecisão nos sentimentos e na declaração do problema. Exemplos de necessidades claras: “Sofro de depressão há anos”, “desde que meus pais morreram vivo brigando com minha irmã”, “tenho câncer”, “nosso filho é hiperativo e nos preocupa”, “tenho dificuldade em prosperar financeiramente”, “Minha relação com meus pais não é boa”, etc. Às vezes, um participante declara que está ali por vontade de sua esposa ou então expressa um desejo vago, como: “gostaria de ser mais livre”, “quero me encontrar melhor e ficar mais consciente de mim”, essas necessidades não tem força suficiente para uma constelação. Se o cliente insiste em contar muitas histórias, e não se consegue um diálogo curto, é importante interromper. Às vezes nem constelar naquele dia. O terapeuta também pode conduzir o cliente para a real necessidade por trás desses temas vagos. Se ele percebe que uma questão, embora seja vaga, envolve muito sentimento, ele pode colocar o cliente em contato com algo essencial do sistema familiar. Por exemplo, se um cliente diz: “não consigo encontrar meu lugar na vida”, o terapeuta pode perguntar “você foi criada com seus pais?” – “sim” – “É casada e tem filhos?” – “sim” – “Tem uma profissão?” – “sim”, “Então, quem será que não encontrou seu lugar na vida?”. Aqui pode revelar-se outro membro desse sistema como um filho extraconjugal do pai, com quem não existe contato ou à mãe, já que muito cedo foi dado à adoção. Por trás de um desejo de ser livre, esconde-se às vezes o desejo de morte, já que é a única verdadeira liberdade. “Você quer morrer?”, o terapeuta pode perguntar. Muitas vezes a resposta é afirmativa. A forma como um cliente expressa sua disposição de fazer a constelação e formula sua questão depende também da atitude do terapeuta. A coragem e a disposição do terapeuta para abrir-se ao destino do cliente, seja ele qual for, reforçam nele a confiança e a abertura. A 7 capacidade do terapeuta para distinguir o que é essencial e a atitude interna compreensiva e aberta em relação aos acontecimentos da família do cliente também tem um peso. 3.3 Coleta de Informações do Sistema As constelações não requerem muitas informações. É importante, inclusive, reduzir as informações, ficando com o que realmente é essencial. Uma boa forma de perceber se uma informação é essencial é a força que ela tem. Essa força muitas vezes é sentida quando a atenção dos participantes e do terapeuta é prendida ao receber a informação. O que importa são os fatos e não as vivências e interpretações do cliente. De princípio, as informações mais importantes são todas aquelas que têm relação com as Ordens do Amor. Por exemplo: informações sobre o círculo de pessoas da família do cliente: pais, irmãos, avós, tios (todas as pessoas vistas no primeiro módulo que fazem parte do sistema familiar) = PERTENCIMENTO. Aqui a pergunta é sempre: Quem pertence a esse sistema? O que aconteceu com algum desses membros? Acontecimentos importantes: mortes precoces, morte de bebês, mudanças importantes de residência, separação dos pais, doenças graves, vícios gerais, suicídio, injustiças, exclusões, etc. A partir das informações iniciais é que o terapeuta pode escolher quais elementos são essenciais para configurar a constelação. Na configuração inicial se coloca apenas as pessoas/elementos chaves e, se durante a constelação, novas informações surgirem, pessoas podem ser adicionadas ao campo. Muitas vezes, quando estão faltando pessoas, os próprios representantes informam através de sinais corporais. 3.4 A Constelação em si Depois que o terapeuta tem as informações para dar início à constelação, ele pode optar por escolher as pessoas que irão representar os elementos do sistema do cliente, ou pedir que o próprio cliente escolha. É interessante que nessa escolha, as pessoas que irão representar estejam disponíveis para isso. Muitas vezes num grupo, aparecem pessoas novas, por exemplo, que não querem participar de uma constelação. Devemos respeitar esse movimento. A partir da escolha dos representantes, eles se posicionam em pé, dentro do espaço determinado pelo terapeuta. Não há mais necessidade do cliente posicionar os representantes como acontecia nas constelações anteriores. O próprio representante em sintonia com o campo 8 do cliente vai encontrar o seu lugar em relação aos outros elementos, mostrando assim a desordem sistêmica. Começa então uma fase mais ou menos longa, de silêncio e de centramento, onde o cliente observa os fenômenos da representação e o terapeuta, em sintonia com todos do campo e com o cliente, também observa. Aqui Bert fala da postura fenomenológica, da ação na não- ação, sem intenção, sem medo. 3.5 Representantes “Ser representante é um presente. Quanto mais disponível você está para o outro, mas você recebe para o seu sistema familiar”. Brigitte Champetier Ribes O papel dos representantes é tão importante quanto do terapeuta. É importante por sua qualidade, sensibilidade e abertura às percepções tão sutis, que vão além do ego. Depende do representante a chegada da informação para que a constelação tenha força de cura. Portanto, é interessante lembrar os representantes de estarem centrados, em silêncio interno, numa postura quase meditativa, braços soltos (sem estar cruzados), olhos abertos, e que relaxem e confiem em seu corpo. Há alguns níveis de representação. Surgirão, nos grupos, pessoas que, talvez, já estejam acostumadas a frequentar grupos de constelação onde muitas vezes o movimento caminha mais para o psicodrama do que para o movimento do espírito. Esse tipo de representação também ocorre quando o representante está preso em suas próprias questões, traumas, dores, e emoções secundárias. Normalmente você percebe que os movimentos são rápidos, bruscos, com alta dose de emoção. Quando isso acontecer, você pode pedir para o representante se centrar mais, respirar, esperar, observar, ou trocar de representante. O movimento do espírito é lento, muito lento, é como se o corpo fosse arrastado por uma força externa. Surgem emoções, mas elas não tomam conta do representante. As informações recebidas são basicamente relacionadas às desordens sistêmicas e o próprio movimento do representante já é em direção à solução. 9 3.6. Sobre as frases As frases curadoras têm efeitos na alma dos clientes. Elas possuem um caráter quase ritualístico e metafórico que sinalam a desordem existente em um dado momento ou o reforço de uma ordem que se reestabelece. E costuma responder a algumas necessidades fundamentais em um trabalho de constelação. Elas deixam explícito o óbvio de maneira em que o cliente integre o que surgiu à luz por diferentes canais de comunicação, tornando-se mais consciente. Por exemplo, uma vez incluído um membro que foi excluído podemos pedir para o cliente repetir a frase “Agora te vejo”. As frases provocam a reação emocional necessária para liberação da energia estagnada em seu corpo. Por exemplo, quando colocamos o cliente em frente aos seus pais e pedimos que repita a frase “Obrigado pela Vida, agora a tomo pelo preço que custou a vocês”. Às vezes eles afirmam exatamente a realidade para que o cliente se dê conta da desordem sistêmica, por exemplo, quando uma mãe, que não gosta do pai de seu filho diz ao representante do filho “querido filho, não te amo como você é, amo apenas a sua metade quem vem de mim”. Talvez, ela se negue a falar a frase e isso fará com que provoque em seu corpo uma reação. Podemos então conduzi-la ao movimento de cura pedindopara ela repetir a frase “querido filho, te amo inteiro, com a metade que vem de mim e a metade que vem de seu pai”. Se uma frase aflora em sua mente, pode-se verificar se é apropriada e se tem um bom efeito. Tome o tempo suficiente para decidir sobre o que sugerir. Diga a frase silenciosamente para si mesmo e observe sua reação física. Como se sente? Como está respirando? Imagine o cliente dizendo esta frase para a pessoa que está no momento, à sua frente. Essa frase apoia o movimento? Algumas vezes são exatamente as pequenas e curtas frases que tocam os sentimentos mais profundos. A experiência total do cliente que quase não pode ser expressa através de palavras, flui em sua essência com a simples afirmação: “papai”, por exemplo. As frases servem para constatar realidades que nunca foram explicitadas no relacionamento; para oferecer impulsos em direção a uma solução; permitir emergir sentimentos ou para finalizar acontecimentos do passado. Por exemplo, “você é meu pai e eu sou sua filha”, fortalece o pertencimento interno do cliente ao seu sistema familiar. Outro exemplo é quando houve abusos, talvez a frase apropriada seja “foi demais, sou pequena demais para isso”. Quando uma família é constelada, origina-se um campo de força que está presente nessa família. O constelador entra nesse campo e ligado a ele chega a uma solução. Sem essa conexão não tem como chegar às frases certas. As frases são simples e se dirigem diretamente para a alma, por isso não podemos seguir um roteiro ou scrip de frases. 10 3.6.1 Tipos de frases Nas constelações utilizamos duas espécies de frases de solução: as que descobrem um vínculo de destino e as que desatam um vínculo de destino. As frases descobridoras têm um efeito liberador, porque nelas vem à luz numa vivência de espanto, muitas vezes muito tocante, o vínculo de destino que até agora determinou a vida, e porque elas exprimem a concordância com o amor que causou a vinculação ao destino. Tais frases são, por exemplo: “Mamãe, por você vou encontrar sua irmã na morte, e então você pode ficar com papai”, ou: “Querido vovô, você perdeu tudo; eu também não conservo nada, então fico perto de você”. As frases que liberam honram o destino das pessoas conectadas, contemplam seu amor e deixam o destino com aqueles que o devem carregar — e geralmente já o carregaram. Assim, uma filha poderia dizer à noiva abandonada por seu pai: “Vejo sua dor, mas não posso tirá-la de você; deixo sua dor e sua raiva com você e com papai”. Nesse processo, o terapeuta fica atento a que a pessoa envolvida, enquanto diz as frases liberadoras, mantenha o contato do olhar com a pessoa com a qual está envolvida pelo destino, pois com frequência ela procura desviar o olhar e com isso conservar os sentimentos que mantêm o enredamento. O terapeuta deve verificar com cuidado se a pessoa simplesmente repete as frases ou se estas são também acertadas para ela e a tocam. Se não alcançam o que é adequado, é preciso procurar outras frases. Se o terapeuta sente que as frases são acertadas, mas não toca, ele precisará talvez lançar mão de mais alguma coisa na dinâmica do sistema. Quanto menos frases, melhor. A fala em demasia, parece dissipar a energia que move os representantes para a cura. 3.7 Encerramento da constelação Bert fala que existem dois tipos de encerramento: - o que dá a sensação de encerramento, ao chegar a um lugar onde o desenrolar é bonito, como uma “foto final”; - o que deixa tudo aberto depois do início de um movimento poderoso de cura, criando a sensação de que “algo se colocou em movimento”, embora pareça, ao final da constelação que ficou faltando um fechamento. A ideia de que a constelação acaba é uma ilusão. A constelação inicia um movimento profundo de cura e de ordenação na consciência coletiva do cliente. Algumas vezes se nota que ao encerrar a constelação, algo já mudou dentro da alma do cliente, vemos em seu rosto isso. 11 Mas na grande maioria, muitas coisas ainda ficam mexendo, leva dias, às vezes mais tempo para que a constelação “encerre” de fato. Algumas dicas de quando a constelação está pronta para ser encerrada: - quando se chega à algum limite do terapeuta; - quando os representantes ficam cansados e os movimentos param; - ou o cliente não consegue acompanhar a constelação; - quando o terapeuta não sente mais ou quando a situação fica muito confusa e não se mostra mais nenhum traço que poderia desvincular; - quando o caminho para a solução e o essencial já se revelou; etc. Encerrar a constelação também implica em dispensar os representantes. Alguns terapeutas fazem disso um ritual, por exemplo, dizendo: “aqui nos recolhemos”, “cada um pode voltar ao seu lugar”, ou pede que o cliente agradeça os representantes. Geralmente esse processo é rápido e as pessoas não possuem dificuldade em sair de seus “papéis”. Também o terapeuta fica liberado e volta para o estado de centramento e vazio. TEXTO: O NOVO NAS CONSTELAÇÕES FAMILIARES, por Bert Hellinger Ficou claro desde o início, que nas constelações familiares os representantes sentem como as pessoas reais. A partir das experiências das constelações resultaram certos padrões ou ordens do amor. Por exemplo, sabemos que, via de regra, os filhos precisam estar diante dos pais de acordo com a sequencia da idade e que parceiros anteriores dos pais possuem importância especial. Portanto, algumas ordens do amor foram encontradas através das constelações familiares. Eu as descrevi, sendo possível trabalhar com elas. Podemos, por exemplo, refletir com a sua ajuda sobre qual seria o passo seguinte. Porém com o passar do tempo, ficou claro que a alma e o espírito, quando concedemos espaço a eles, podem ir mais longe e encontrar ainda outras soluções totalmente diferentes. Com o decorrer do tempo pudemos fazer as seguintes observações em relação às constelações familiares: muito frequentemente o ajudante pode se recolher e deixar o que está acontecendo seguir o seu curso, porém não se torna passivo. Permanece inteiramente presente. De repente sabe o que precisa ser feito. Então interfere. O ajudante permanece conectado com o que está acontecendo e age na hora certa, mas não através do raciocínio, e sim em sintonia com um movimento do espírito. Muitos ajudantes se assustam com isso, pois não estão mais seguros de como algo continua. Precisam se entregar a algo maior. 12 O que surgiu de novo foi principalmente o fato de observarmos que, quando concedemos espaço ao representante para que este possa se entregar aos movimentos da alma, novas dimensões da ajuda se revelam. Quando nos entregamos a isso, permanecemos em movimento. Quem se detém fica paralisado e a alma se retrai diante dele. Por isso o trabalho é um constante desafio. Está longe do fim e nem pode chegar a ele, pois a alma jamais se detém, encontra-se em fluxo. O que há de especial aqui é o fato de o ajudante entrar em sintonia não apenas com o cliente, mas para além dele, também com sua família, seu destino, sua morte e com algo que aponta uma direção para o cliente. Por isso, o ajudante se contém por inteiro. Quando entra em sintonia com o cliente dessa maneira e quando encontra igualmente sintonia consigo mesmo, com seus limites e com o movimento de sua alma, pode, em consonância com sua alma e do cliente dizer ou fazer algo decisivo. O que acontece nas constelações é misterioso. Como é possível que pessoas inteiramente estranhas, que não têm a mínima ideia da família ou da pessoa que representam, de repente, reajam como essa pessoa e assumam os seus sentimentos, tipo de comportamento e até os seus sintomas físicos? Descrevo agora o que se passa comigo quando trabalho com alguém. O cliente me contou algo e eu escutei sem prestar atenção. Não queria escutar exatamente o que dizia. Eu não queria saber exatamente o que ele dizia. Portanto,eu não escuto assim, concentrado, mas de maneira que, ao mesmo, tempo, olho para algo maior. E, de repente, ele diz uma palavra e então me desperto. A palavra aqui foi guerra civil, o pai na guerra civil. De repente, entre tudo o que ele me disse, existe uma palavra que me atinge. Nessa palavra está a energia. Então, quando deixo essa palavra agir em mim, sinto quais as pessoas de que necessito para a constelação. No decorrer das constelações familiares o cliente escolhe, dentre os participantes, representantes para os membros de sua família que são importantes, portanto, para o pai, a mãe, os irmãos, etc. Então, concentrado e a partir de se sentimento interno coloca-os, uns em relação aos outros. Antes o cliente deve preparar-se para fazê-lo concentrado e também se expor internamente à dor, à tristeza e ao desafio que se originam do trabalho. Às vezes alguém está impedido de fazê-lo, porque talvez, lhe falte uma permissão de sua família. Ele tem que sentir internamente se os membros de sua família podem concordar que ele o faça. Eles concordam com mais facilidade quanto mais ele puder assegurar-lhes internamente que o faz com respeito perante eles e que procura uma boa solução para todos. Os representantes que forem escolhidos colocam-se à disposição. Isso é um serviço para o cliente. Não é nada fácil. Pois, tão logo os representantes estejam na constelação, sentem 13 como as pessoas que representam. Pode ser que até de maneira dramática. Em parte, sentem até sintomas físicos. Portanto, é necessária uma certa coragem para entregar-se a isso. Mas é um serviço de amor. E, naturalmente, aprende-se muito quando a gente se entrega a isso. Porque, então, sente-se quanta força repousa nessas constelações familiares. O campo de força está em conexão com outros campos de força, por exemplo, com a família verdadeira. Por isso, os representantes, quando aí penetram, sentem como as pessoas reais. O terapeuta penetra junto nesse campo de força. Mas ele não pode mexer nele, nem permanecer muito tempo ali. Mas penetrando nele, liga-se com todo o campo de força, portanto, com todo o sistema que a ele pertence, principalmente com aqueles que estão excluídos. Naturalmente, cada um também traz algo de si na representação, porém mais de sentido humano em geral, de forma que isso não atrapalha. É muito raro que isso atrapalhe. Se um representante permanece completamente preso em seu próprio sentimento, não pode entrar no campo de força. Isso se nota imediatamente. Então o trocamos. Quando o terapeuta entra dessa forma, o sistema o presenteia com uma visão da solução. Isso vem bem de repente, como um raio. Ele compreende de uma só vez o essencial. Isso ele não concebe, lhe é presenteado. Mas deve confiar nesse campo. Ele emerge repentinamente, é aplicado e tem efeito imediato. A emoção entre os atingidos é o sinal de que algo essencial foi tocado. Depois o terapeuta se retira e deixa à família o seu próprio campo e a sua própria alma. Como terapeuta, sei que a constelação não depende de mim, mas de algo que vem à luz através da mesma, e eu me exponho àquilo que vem à luz, assim como é. É, portanto, fundamentalmente um método muito comedido. Eu trabalho com o que se mostra. Mas então, com engajamento total. Para tanto, assumo também a minha parte da responsabilidade. Daquilo que vem à luz resulta, então, cada passo para uma solução, quando existe uma solução. Trabalho com as forças que se mostram no sistema, na família, com as forças positivas. Tento mobilizá-las e torná-las úteis para o cliente. Então, depende do cliente estar preparado e também ser capaz de aderir a esse movimento e completar aquilo que se mostra como solução. Isso é, às vezes, muito difícil. Provavelmente tem a ver com o fato de que uma família é um campo de força. Rupert Sheldrake fala dos campos morfogenéticos. Isso quer dizer que nesse campo de força continuam agindo, como compulsão, certos padrões que estavam ali antes, de maneira que eles se repetem. Ele vê, por exemplo, as leis da natureza como recordações do princípio, quando algo se formou. Essa recordação tem uma ressonância e continua agindo e se repetindo. Provavelmente também é assim nas famílias que certos padrões se repetem. Da força do campo 14 não existe nenhum impulso que rompa isso. Para rompê-lo, necessita-se poder sair desse campo, talvez penetrar em um nível mais elevado e dali iniciar o novo e expor-se a ele corajosamente. ortanto, é importante que o cliente saiba que aqui se trata de um processo vivo, no qual se exige dele um passo de crescimento. Por isso, depende também de que ele seja suficientemente forte e corajoso para expor-se a isso. Trata-se de processos de crescimento. Através desse trabalho algo começou a crescer. Esse crescimento necessita de tempo. Muitos clientes têm interesse em uma cura rápida e transferem o resultado para algo externo, por exemplo, encontrar um terapeuta ou um médico que os cure. Eles transferem a responsabilidade da cura a alguém que está fora. E os clientes que esperam a sua cura do terapeuta, de que ele, por assim dizer, faça isso para ele têm a menor chance de cura. Cura é uma dádiva. Onde ela dá certo ou onde o alívio é alcançado, é uma dádiva. E onde se trata de grandes destinos, de vida ou morte ou de emaranhamentos e culpa, aí não se pode ir de acordo com um plano rumo à uma cura. Não se pode, tampouco, alcançar o resultado procedendo de acordo com um padrão. Aqui, onde a cura e solução têm êxito, existem forças em ação que vão além do individual. Importante nesse trabalho é a “desdramatização”. Tanto quanto possível, guio o que acontece de volta ao habitual. Isso é o que cura, antes de tudo. Não me oriento por reflexões tais como: isso está certo ou errado. Isso seria muito fácil. Examino o que faço pelo efeito em minha alma. Portanto, prender-se a regras fixas não faz justiça à plenitude do que acontece. Realmente, tenho certas imagens de como poderia ser, mas na prática, cada constelação é diferente. Nas constelações familiares procede-se sistemicamente. Por isso, terapeutas que já estavam acostumados a tratar de pessoas têm certas dificuldades de adaptação. No procedimento sistêmico trata-se de conseguir enxergar o completo e o todo. Por isso, olho primeiro para aqueles que estão excluídos do sistema, para os membros da família aos quais é negado o reconhecimento ou para aqueles aos quais é negado o amor. O meu coração pertence imediatamente à eles, posso fazê-los entrar. Portanto, aqui não se solicita tomar partido por indivíduos, mas tomar partido pelo todo. As constelações familiares são resultado da atitude fenomenológica. Vista a partir da filosofia, atitude fenomenológica significa que alguém se retrai e que está sem intenção, sem medo e sem amor, no sentido de que queira ajudar alguém de qualquer maneira. O acontecimento em si fica fora do terapeuta, acontece algo fora dele. Retraindo-se, ele não intervém no que acontece. Esse tipo de reserva cria o espaço no qual podem vir à luz os movimentos decisivos. 15 Também na teoria filosófica do conhecimento ou na teoria da comunicação existe a ideia de que o saber baseia-se em informação. Entretanto, aqui vemos que existe também um outro saber, que não se baseia em comunicação, mas sim em participação. E, ao meu ver, essa participação é em uma alma comum. Que aquilo que designamos como nossa alma não podemos designar assim, pois nossa alma nos liga à nossa família e, para além da família, com a grande alma, como a denomino. Nela, todos estão ligados entre si, com efeitos, cientes. Nas constelações familiares, esse saber tem efeito nos participantes e principalmente no terapeuta, se ele o permitir. Se o terapeuta ainda estiver preso à filosofia de que o saber se baseia em comunicação e acha que deve primeiro fazer muitas perguntas a cada um dos indivíduos, antes de começara atuar, então perdeu o contato com essa grande alma. Assim que o terapeuta se introduz nesse campo de força, chegam-lhe os conhecimentos de que ele necessita. O terapeuta está em harmonia com o campo de força quando ele renuncia a qualquer intenção pessoal, também à intenção de curar e à intenção de mudar um destino. Ele reconhece o que vem à luz e acontece naquele momento, sem intenção e sem temor. É permitido ser exatamente assim como é, isto é muito importante. Isso significa também que o terapeuta se purifica internamente de intenções e ideias de poder. Nesse caso, o processo interno é retrairmo-nos da multiplicidade dos fenômenos e de tudo o que sabemos para um centro vazio. Quanto mais dramático algo parece, quanto mais se trata de vida e de morte, tanto mais é necessário que o terapeuta se recolha a esse centro vazio. Quanto mais profundidade ele o puder fazer, tanto mais ímpeto tem aqui o que diz. O que vem desse centro tem um efeito direto, pois vem da harmonia com os poderes que sustentam. O segredo do caminho das constelações consiste em que se progrida deixando para trás tudo o que foi até então. Sempre que se queira fixar algo, ele se perde. A imagem da família em uma constelação continua agindo quando a deixamos para trás. É parte de um movimento, e esse movimento deve continuar. Também o que aparece nela como solução é somente um passo inicial. Quem se entrega às constelações familiares, no decorrer do tempo se aprofunda sempre nessa atitude. Fazendo esse trabalho e entregando-se a ele, será levado, pelo próprio trabalho, a este centro. Por isso, para o terapeuta, ele tem necessariamente um efeito purificador e enriquecedor. Aqui a morte não o amedronta, pois para ele a vida é uma das partes do ser. Portanto, a vida não é o maior, senão o ser, do qual a vida emerge e no que torna a submergir. 16 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E SUGESTÕES DE LEITURA HELLINGER, Bert. A Fonte não Precisa Perguntar pelo Caminho. Goiânia: Atman, 2002 HELLINGER, Bert. Constelações Familiares, o Reconhecimento das Ordens do Amor. São Paulo: Cultrix, 2001 RIBES, Brigitte Champetier de. Empezar a Constellar. Madrid: Gaia, 2010 SCHNEIDER, Jakob Robert. A Prática das Constelações Familiares. Patos de Minas: Atman, 2007