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1 ANA LAURA CORRÊA DÉBORAH DIAS GONÇALVES ELLEN CARLA P. M. TEIXEIRA GABRIEL JOSÉ ANGELO ALVES LUIZ GULHERME A. DE SOUZA MARIA RITA DE C. P. DA SILVA MARINNA SILVA SANTOS PATRICIA MATEUS LIMA RAFAELLA M. M. SANTOS RUI APARECIDO A. DO CARMO Direito Canônico na Igreja Católica Trabalho apresentado ao Curso de graduação em Direito, Faculdade de Talentos Humanos, como requisito parcial da disciplina História do Direito e do Pensamento Jurídico. Orientador: Antonio Ricardo da Cunha Uberaba - MG 2013 2 INDICE INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 4 1. DIREITO CANÔNICO .......................................................................................... 5 1.1 NORMATIVIDADE GERAL ECLESIÁSTICA ................................................. 5 2. DA JURISDIÇÃO ECLESIÁSTICA ....................................................................... 5 2.1 ORIGENS DAS COMPETENCIAS DOS TRIBUNAIS ECLESIÁSTICOS ...... 5 2.2 COMPETENCIAS NA ÉPOCA DO APOGEU (SÉCULOS X - XVI) ............... 7 3. FATOS HISTÓRICOS INFLUENTES NO DIREITO CANÔNICO ......................... 7 3.1 CRUZADAS .................................................................................................. 7 3.2 INQUISIÇÃO ............................................................................................... 11 3.3 JOANA D’ARC ............................................................................................ 13 3.4 REFORMA E CONTRARREFORMA........................................................... 14 3.5 CONCÍLIO DE TRENTO ............................................................................. 17 4. FONTES DO DIREITO ....................................................................................... 18 4.1 IUS DIVINUM .............................................................................................. 19 4.2 A LEGISLAÇÃO CANÔNICA ...................................................................... 19 4.3 O COSTUME .............................................................................................. 21 4.4 PRINCIPIOS RECEBIDOS DO DIREITO ROMANO ................................... 21 4.5 ENCÍCLICAS .............................................................................................. 21 4.6 CONCILIOS ................................................................................................ 22 5. DOUTRINAS E MÉTODOS ................................................................................ 22 5.1 O ENSINO E A DOUTRINA ........................................................................ 22 5.3 DECRETISTAS E DECRETALISTAS .......................................................... 23 6. CÓDIGO CANÔNICO ........................................................................................ 23 6.1 O CÓDIGO DE 1917 ................................................................................... 23 6.2 O CÓDIGO DE 1983 ................................................................................... 24 6.3 TEMAS ....................................................................................................... 24 6.4 A ESTRUTURA DO CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO ............................ 26 3 7. RENUNCIA PAPAL ............................................................................................ 27 7.1 FUNÇÕES PAPAIS ..................................................................................... 27 7.2 CONCLAVE ................................................................................................ 28 8. ESTADO ECLESIÁSTICO E ESTADO LAICO ................................................... 28 8.1 VATICANO.................................................................................................. 28 8.2 TRATADO DE LATRÃO .............................................................................. 29 8.3 ESTADO LAICO ......................................................................................... 30 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 33 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 34 4 INTRODUÇÃO A importancia do estudo do Direito Canonico dá-se por suas caracteristicas peculiares. Diferente das noções juridicas consuetudinárias de outros povos, o Direito Canônico estruturou-se de maneira religiosa, assumindo o caráter de uma instituição. Tal instituição é hoje a mais influente no mundo: a Igreja Católica. A doutrina católica influenciou o destino dos povos de todos os continentes desde o inicio da Idade Média. Essa propagação fez com que o direito imposto pelo catolicismo afetasse o cotidiano de bilhões de pessoas, sendo estas fiéis ou não. A coação e a coerção exercida pela inquisição fizeram com que o Direito Canônico impregnasse nas culturas de todos os povos colonizados pelos europeus, fazendo com que este direito se tornasse a base do que hoje são nossos costumes jurídicos. Responsável pela doutrinação do direito, como ciência, em universidades e pela divulgação dos sistemas romanistas por todo o mundo, a Igreja Católica merece ser estudada não só como instituição religiosa, mas também como a principal instituição histórico-jurídica da humanidade. 5 1. DIREITO CANÔNICO 1.1 NORMATIVIDADE GERAL ECLESIÁSTICA Constituída também como corpo social e visível, a Igreja precisa de normas: para que se torne visível sua estrutura hierárquica e orgânica; para que se organize devidamente o exercício das funções que lhe foram divinamente confiadas, principalmente as do poder sagrado e da administração dos sacramentos; para que se componham, segundo a justiça inspirada na caridade, as relações mútuas entre os fiéis, definindo-se e garantindo-se os direitos de cada um; e finalmente, para que as iniciativas comuns empreendidas em prol de uma vida cristã mais perfeita, sejam apoiadas, protegidas e promovidas pelas leis canônicas. As leis canônicas, por sua natureza, exigem ser observadas. Por isso, foi empregada a máxima diligência para que na preparação do Código se conseguisse uma precisa formulação das normas e que estas se escudassem em sólido fundamento jurídico, canônico e teológico. O direito canônico, que faz parte da realidade sacramental da Igreja, não pode deixar de ter o mesmo fim da mesma: ser instrumento de salvação eterna para cada fiel. O direito canônico é um grande instrumento para a salvação, que é conseguido pelo homem quando entra em comunhão com Deus e com os outros. Disso deriva a funcionalidade que é realizada pela comunhão na única fé, nos sacramentos, na caridade e no governo eclesial. 2. DA JURISDIÇÃO ECLESIÁSTICA A influência do direito canônico sobre os direitos da Europa Ocidental explica- se em parte pela extensão da competência dos tribunais eclesiásticos, não apenas relativamente aos membros do clero, mas também, na Idade Média, em relação aos leigos. 2.1 ORIGENS DAS COMPETENCIAS DOS TRIBUNAIS ECLESIÁSTICOS 6 Os Cristãos encontraram nos ensinamentos de Cristo alguns princípios a seguir no caso de se levantarem diferenças entre eles. Assim, segundo as Epístolas de São Paulo é aconselhado procurar a conciliação em caso de desacordo entre Cristãos e, havendo fracasso, recorrer à arbitragem da comunidade cristã; a excomunhão, ou seja, a exclusão do membro que não se submete à decisão da comunidade, é a sanção suprema. Vivendonuma clandestinidade, os Cristãos deviam evitar a intervenção dos juízes romanos não cristãos; ao mesmo tempo, deviam submeter-se à autoridade disciplinar dos seus chefes religiosos, os padres e os bispos. O poder jurisdicional da Igreja tem, portanto, uma dupla origem: arbitral e disciplinar. A partir de 313, Constantino favoreceu o desenvolvimento da jurisdição episcopal. Permitiu às partes submeterem-se voluntariamente à decisão do seu bispo, isto é, intervolentes, dando à decisão episcopal o mesmo valor da decisão de um julgamento. Em matéria penal, os imperadores romanos reconheceram, nos séculos lV e V, a competência dos bispos para todas as infrações puramente religiosas ou espirituais, isto é, para tudo aquilo que se dissesse respeito à fé, ao dogma, aos sacramentos, à disciplina no seio da igreja. Os canonistas dirão mais tarde: a matéria a clavibus, aquela que diz respeito << às chaves >> da Igreja. Em relação aos clérigos (isto é, aos eclesiásticos: padres, bispos, etc.), aparece no século V o privilegium fori, “privilégio de foro” ou “de clerezia”, em virtude do qual estes só podem se julgados em quaisquer matérias, penais ou civis (com reserva de algumas exceções), pelos tribunais da Igreja. Esta regra, inicialmente limitada, foi ampliada nos séculos VI e VII e permanecem em vigor durante toda e Idade Média. Na época carolíngia, em virtude de uma confusão crescente entre o espiritual e o temporal, a igreja atribui-se certa competência nas questões temporais que se relacionassem, mais ou menos diretamente, com matérias a clavibus, sobretudo com aquelas que dissessem respeito aos sacramentos. Foi assim que os tribunais eclesiásticos se tornaram os únicos competentes para todas as questões relativas ao casamento. Finalmente, constituindo o casamento um sacramento, os tribunais a possibilidade de conhecer um largo domínio de poder jurisdicional, mesmo em 7 relação aos leigos. Laicos entregam toda a jurisdição aos tribunais eclesiásticos no domínio desta matéria. E desde então, toda uma série de matérias conexas, em relação direta ou indireta com o casamento, entra na competência jurisdicional da Igreja, nomeadamente: legitimidade dos filhos, divórcio, ruptura de esponsais, rapto, etc. 2.2 COMPETENCIAS NA ÉPOCA DO APOGEU (SÉCULOS X - XVI) Nesta época, as jurisdições laicas estão em plena decadência na sequência do enfraquecimento do poder real pelo feudalismo. A Igreja, na maior parte da Europa Ocidental, atinge o seu apogeu e teve. 3. FATOS HISTÓRICOS INFLUENTES NO DIREITO CANÔNICO Para que se conheça, de fato, o Direito Canônico é necessário que se construa um paralelo com a história da instituição responsável por esse código jurídico. Portanto, deve-se ter uma noção que alguns fatos históricos causados por motivos religiosos influenciarem no Direito Canônico. Dentre muitos movimentos que ascenderam desde a fundação da Igreja Católica, os que mais repercutiram no Código Canônico, foram: a) Cruzadas; b) Inquisição; c) Joana D’Arc ; d) Reforma e Contrarreforma; e) Concilio de Trento. 3.1 CRUZADAS As cruzadas foram movimentos militares de orientação cristã que marcharam da Europa Ocidental até a Terra Santa (nome pelo qual era conhecida a região da Palestina) e à cidade de Jerusalém, que se encontravam sobre domínio dos turcos muçulmanos a fim de conquistá-las e mantê-las sob domínio cristão. 8 Essas expedições foram feitas em nome de DEUS com o apoio da Igreja Católica, e durou do Século XI até o século XVI. O termo Cruzada surgiu porque seus participantes se consideravam soldados de Cristo, distinguidos pela cruz aposta a suas roupas. A empreitada constituía uma mistura de guerra, peregrinação e penitência: os guerreiros cruzados, conhecidos também como "peregrinos penitentes", acreditavam que seus pecados seriam perdoados caso completassem a jornada e cumprissem a missão divina de libertar locais sagrados, como a Igreja do Santo Sepulcro. Durante o período das cruzadas foram também criadas as ricas e poderosas ordens de São João de Jerusalém (ou ordem dos hospitalários) e a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão (ou ordem dos Cavaleiros Templários) que tinham o dever de escoltar e oferecer abrigo aos peregrinos que marchavam em direção à terra Santa. As cruzadas não apresentavam motivos exclusivamente religiosos. Mercadores emergentes viram nas Cruzadas uma oportunidade de ampliar seus negócios, abrindo novos mercados e obtendo lucro ao abastecer os exércitos que atravessavam a Europa a caminho do Oriente. Outro objetivo era unificar as forças da cristandade ocidental, divididas por guerras internas, e concentrar suas energias contra um inimigo comum, os chamados "infiéis muçulmanos". Nesse período de quase dois séculos, oito Cruzadas foram lançadas, embora duas delas jamais tenham chegado a Jerusalém. A Quarta desviou-se do seu objetivo original para atacar os cristãos ortodoxos de Constantinopla - que não reconheciam a autoridade do papa -, saqueando a cidade no ano de 1203. Já a Quinta conseguiu conquistar partes do Egito, mas bateu em retirada sob a pressão do inimigo antes de atingir a Palestina. As cruzadas foram ao todo oito. 3.1.1 Primeira Cruzada (1096-1099) O movimento foi instigado pelo papa Urbano II, que, no Concílio de Clermont (1095), pediu a ação de líderes cristãos para afastar o perigo muçulmano. Sem esperar uma segunda ordem, camponeses, religiosos e aventureiros partiram da França numa expedição improvisada que terminou em fracasso. Enquanto isso, a 9 Cruzada "oficial", formada por quatro grupos seguindo rotas diferentes, chegou a Constantinopla, de onde marchou para Jerusalém, conquistada em julho de 1099. 3.1.2 Segunda Cruzada (1147-1149) Conflitos constantes entre as várias colônias cristãs instaladas no Oriente levaram o papa Eugênio III a lançar uma nova Cruzada para restaurar a ordem na região. Mas mudanças políticas no mundo islâmico permitem ao príncipe Saladino, um de seus maiores líderes, unificar a Síria e o Egito sob domínio turco, reforçando sua posição militar. Em 1187, os muçulmanos retomaram Jerusalém e cerca de 16 000 cristãos foram vendidos como escravos. 3.1.3 Terceira Cruzada (1189-1192) Com a Europa frustrada pela perda de Jerusalém, o papa Clemente III organiza a campanha para reconquistar a cidade. Vários ataques são lançados, sem sucesso. Em 1191, os reis cristãos que lideravam a expedição negociam um acordo com o inimigo: Jerusalém permanece sob domínio turco, mas os cristãos têm acesso ao Santo Sepulcro. 3.1.4 Quarta Cruzada (1202-1204) Desde que se tornou papa, em 1198, Inocêncio III pregava uma nova Cruzada para recuperar Jerusalém. Mas a expedição que partiu de Veneza em 1202 tinha como objetivo principal atacar Constantinopla, que - depois de aderir à Igreja Ortodoxa - já não reconhecia a autoridade papal. Constantinopla foi ocupada e saqueada pelos cruzados em 1203. Mas eles foram expulsos da cidade no ano seguinte. 3.1.5 Quinta Cruzada (1218-1221) Atacar o Egito era cogitado desde a Terceira Cruzada, para conquistar posições que pudessem ser barganhadas com os muçulmanos em troca da devolução de Jerusalém. Assim, a Quinta Cruzada concentrou-se em tomar o porto 10 egípcio de Damietta, em 1219. Mas a falta de reforços obriga os cruzados a desocupar a cidade. E a missão fracassa. 3.1.6 Sexta Cruzada (1228-1229) Em 1228, Frederico II, imperador da Alemanha, chegou à Terra Santa e, por casamento, tornou-se rei de Jerusalém, negociandoa recuperação do controle sobre a cidade. Mas novos conflitos internos enfraqueceram os cruzados, que, em 1243, foram expulsos da região. No ano seguinte, os turcos voltaram a tomar Jerusalém. 3.1.7 Guerreiro Cruzado Sua proteção era a cota de malha, vestimenta feita com pequenas argolas de metal encadeadas, que demorava cinco anos para ser confeccionada e pesava mais de 10 quilos, cobrindo o peito, as costas e os braços. O capacete tinha uma viseira removível. O escudo trazia a cruz, que também enfeitava o manto de tecido branco usado sobre a cota de malha. Sua principal arma era a espada, eventualmente empunhada com as duas mãos. 3.1.8 Sétima Cruzada (1248-1254) Liderada por Luís IX, rei da França, que, mais tarde, seria canonizado como São Luís, a expedição buscava retomar os ideais religiosos da Primeira Cruzada. Permaneceu quatro anos na Síria, mas sem sucesso. Em 1268, o sultão Baibars, que conseguira reunificar a Síria e o Egito, expulsou mais uma vez os cruzados da Terra Santa. 3.1.9 Guerreiro Muçulmano Sua cota de malha era mais leve que as dos cruzados, dando maior mobilidade. A cabeça era protegida por um capacete pequeno e sua espada - a famosa cimitarra - possuía lâmina curva, facilitando o manuseio a cavalo. Arqueiros de grande habilidade, disparavam flechas certeiras mesmo sobre montarias a 11 galope. Outra arma característica era a maça, bloco de ferro com pontas aguçadas, preso a um cabo de madeira ou a uma corrente. 3.1.10 Oitava Cruzada (1270-1291) Luís IX, preso pelos muçulmanos, foi libertado depois de pagar resgate e, em 1270, desembarcou em Cartago (Túnis). Ali, o sultão local prometeu converter-se e ajudar os franceses. Em vez disso, ele voltou-se contra os cristãos, que tiveram sua posição enfraquecida com a morte de Luís IX no mesmo ano. Em 1291, o reino franco deixa de existir no Oriente. 3.2 INQUISIÇÃO O Tribunal do Santo Oficio ou Santa Inquisição foi um método de censura encontrado pela Igreja católica para reprimir todos aqueles que eram contra os dogmas eclesiásticos. Aqueles que professavam uma doutrina diferente da católica, conhecidos como hereges, eram entregues ao Estado, que em conjunto com a Igreja os condenavam e puniam. O Tribunal do Santo Oficio não foi montado inesperadamente, mas sim a cada vez que a Igreja sofria um confronto de difícil controle. Por isso , ele se subdivide em : a) Inquisição Medieval: voltada contra as heresias cátara1 e valdense2 nos séculos XII e XIII e nos séculos XIV e XV; b) Inquisição espanhola: instituída em 1478 por iniciativa dos reis Fernando e Isabel; visando principalmente aos judeus e muçulmanos, tornou-se poderoso instrumento do absolutismo dos monarcas espanhóis até o século XIX, a ponto de quase não poder ser considerada instituição eclesiástica; c) Inquisição Romana: (também dita "o Santo Oficio"), instituída em 1542 pelo papa Paulo III, em vista do surto do protestantismo. 1Catarismo: movimento cristão dualista surgido no sul da França e norte da Península Itálica. 2Valdenses: denominação cristão para aqueles que seguiram Pedro Valdo, comerciante de Lyon que pregou aos pobres sem ser sacerdote. 12 A Inquisição acabou oficialmente no século XIX, sendo Espanha o ultimo Estado a abdicá-la,porém o Sistema Inquisitório alterou as práticas jurídicas até hoje utilizadas. 3.2.1 Inquisidores Também chamado "Tribunal do Santo Ofício", criado para combater as heresias cometidas pelos cristãos confessos, e por muçulmanos vindos do Oriente. Foi iniciada em Verona sob Papa Lúcio III no ano de 1184, inspirado em escritos de Santo Agostinho, fortaleceu-se sob o Papa Inocêncio III (1198-1216) e o Concílio de Latrão (1215), de 1231 a 1234. Gregório IX multiplicou pela Europa os Tribunais de Inquisição, presidido por inquisidores permanentes. Todos os inquisidores deveriam ser doutores em Teologia, Direito Canônico e também Direito Civil; deveriam ter no mínimo 40 anos de idade ao serem nomeados. 3.2.2 Metodologia Inquisitorial Qualquer pessoa poderia denunciar um herege para um monge. Os acusados não poderiam ter ninguém para lhes defender, uma vez que as testemunhas ou advogados também poderiam ser acusados por estarem encobrindo e ajudando um herege. Eles eram apresentados sozinhos aos inquisidores, se confessassem o crime à sentença era dada. Caso houvesse a negação por parte do acusado , procediam-se os seguintes passos: 1º) ameaça de morte por empalamento; 2º) confinamento com grilhões em cela escura; 3º) pressão psicológica por parte dos inquisidores; 4º) tortura física ( feita com instrumentos como a virgem de ferro,gaiola de suspensão, máscaras da infâmia, mesa do estiramento, entre outros) As sessões de torturas eram assistidas por um inquisidor , a fim de que quando o acusado confessasse a heresia, a mesma já seria documentada oficialmente, para que acusado fosse sentenciado rapidamente. As sentenças, normalmente consistiam em execução em praça pública, punição física ou 13 confiscamento de todos os bens e utilização de uma cruz amarela para a identificação dos hereges. 3.2.3 Sistema Inquisitorial A Inquisição criada na Idade Média usada para repreender aqueles que eram contra a Igreja e os Estados a ela aliado, deixou de herança o caráter investigativo do sistema jurídico atual. O Sistema Inquisitorial implica que a maioria dos membros do tribunal trabalhem na investigação do caso em questão. E o juiz deixa de ser um mero espectador, para ser uma parte da investigação. 3.3 JOANA D’ARC No contexto histórico da guerra dos cem anos (1337-1453) travada entre França e Inglaterra, nasce, em 1412, Joana D’Arc , camponesa que mais tarde seria considerada uma heroína francesa. Filha mais nova de Jacques D'Arc e Isabelle Romée, quando criança, já era responsável por ajudar seu pai a cuidar do rebanho de carneiros e cumprir tarefas domésticas. Mesmo analfabeta Joana foi educada sob os princípios da fé católica e frequentemente deixava o campo para poder rezar na igreja do vilarejo de Domrémy. Aos doze anos, afirmava ouvir vozes divinas de São Miguel, Santa Catarina de Alexandria e Santa Margarida de Antioquia. Segundo ela, entre as mensagens recebidas estavam recomendações para que procurasse o príncipe Carlos VII, libertasse a cidade de Orléans, que estava em poder dos ingleses, e coroasse Carlos VII como soberano da França. Com dezesseis anos, obedecendo às mensagens, Joana solicita uma escolta para acompanhá-la até o príncipe. Ela viaja, então, portando roupas masculinas, a Chinon, onde o delfim está escondido e é recebida graças aos esforços de Baudricourt, capitão da guarnição real. Depois de ouvi-la, Carlos VII faz com que ela seja submetida ao interrogatório e avaliações de bispos e cardeais. Apenas depois de várias entrevistas, o delfim finalmente convence-se do seu discurso e concede- lhe um exército de cinco mil homens. Surpreendentemente, ela enfrenta os ingleses 14 no cerco de Orléans e os derrota em 8 de maio de 1429. É o início de uma série de campanhas vitoriosas, que resultam na coroação de Carlos VII em 17 de julho de 1429 na catedral de Reims. Na primavera de 1430, pressionada pelo exército e o setor da nobreza que apoiava Carlos VII, Joana retoma a campanha militar na tentativa de libertar a cidade de Compiègne, dominada pelos borgonheses, aliados dos ingleses. Por não ouvir mais as vozes que a orientava, Joana chega a cogitar voltar para casa, contudo opta por continuarlutando. Em um ataque à Paris ela é ferida, presa e entregue aos ingleses para que fosse julgada pelo tribunal da Santa inquisição. Após meses de julgamento, Joana D’Arc foi condenada a ser queimada viva, no dia 30 de maio de 1431, pelos crimes de heresia e feitiçaria. Após a execução na praça Vieux Marché, suas cinzas foram jogadas no rio Sena, para que não se tornassem objeto de culto. Depois de 25 anos, o papa Calixto III reabre o processo de Joana D'Arc e reconhece sua inocência. Séculos depois, em 1909, Joana é beatificada. Em maio de 1920, o papa Bento XV a proclama santa. Atualmente, Joana D'Arc é considerada Santa Padroeira da França. 3.4 REFORMA E CONTRARREFORMA 3.4.1 Reforma Protestante A mudança de mentalidade europeia causada pelo movimento renascentista influenciou também o campo religioso no inicio do século XVI. A sociedade começou a questionar e a criticar o comportamento da Igreja Católica. A corrupção do clero, a ignorância e a amoralidade dos padres abalaram a confiança da população nos representantes da Igreja. As regras religiosas estavam sendo desrespeitadas resultando em uma perda da identidade da Igreja que vinha ocorrendo desde o fim da Idade Média. A simonia e a venda de indulgências, que eram práticas comuns no meio religioso, começaram a ser duramente criticadas pelos cristãos. Além disso, escândalos de membros da Igreja que desrespeitavam o celibato ficavam cada vez mais frequentes aumentando o descontentamento dos fiéis. 15 Enquanto a burguesia comercial estava insatisfeita, pois seu trabalho e a sua visão capitalista era condenado pelos clérigos, a nobreza estava descontente com a interferência do papa nas questões políticas. O fortalecimento das monarquias nacionais e o consequente surgimento de um sentimento nacionalista fez com que os reis enxergassem a igreja como uma entidade estrangeira que não tinha o direito de intervir em outros territórios. Nesse contexto, a Reforma Protestante não foi motivada por fatores resultantes puramente da contestação dos dogmas católicos, mas sim por um conjunto de interesses políticos, ideológicos e culturais. Uma das primeiras contestações concretas aos abusos cometidos pelos representantes da Igreja Católica veio do monge alemão Martinho Lutero, que mais tarde iria romper com o catolicismo fundando uma nova religião, baseada na interpretação individual da bíblia: o luteranismo ou protestantismo. Martinho Lutero nasceu em 1483 na cidade de Eisleben. Inicialmente, Lutero planejava construir uma carreira jurídica, até que em 1505 perdeu repentinamente um amigo e pouco tempo depois foi quase atingido por um raio em uma tempestade. Esses acontecimentos foram determinantes para a entrada de Martinho no mosteiro dos eremitas agostinianos em Erfurt, onde dedicou seu tempo à busca pela salvação. Para Lutero, a salvação era obtida pela fé dada, gratuitamente, por Deus e não pelas práticas defendidas pela Igreja, como as boas ações, missas e outros sacramentos. Martinho Lutero destacou-se na vida monástica e em 1507 foi ordenado sacerdote. Pouco tempo depois, tornou-se professor de teologia na cidade se Wittenberg. Em seus estudos, Lutero teve como referência Guilherme de Occan, Duns Scotus e Santo Agostinho. Em 31 de outubro de 1517, diante da venda das indulgências por João Tetzel, Lutero afixou à porta da Igreja do castelo de Wittenberg as Noventa e Cinco Teses, nas quais questiona várias práticas abusivas dos clérigos, marcando o inicio da reforma protestante. As teses eram um convite para que os teólogos repensassem o comportamento questionável dos representantes religiosos e propunham a fundação do luteranismo. Em seu texto, Lutero condenou com veemência a venda de indulgências (perdão pelos pecados), o culto a imagens e a corrupção dentro da Igreja, além de se manifestar favorável à revogação do celibato. 16 Em pouco tempo, as teses espalharam-se pela Europa, resultando em um novo conjunto de normas e condutas cristãs desvinculado do papado. Em resposta à repercussão da atitude de Lutero, em 1520, a bula papal Exsurge Domine deu-lhe sessenta dias para retirar seus escritos ou ser excomungado, mas estudantes e professores universitários queimaram a bula e um exemplar da lei canônica publicamente. Desse modo, Martinho foi excomungado e depois considerado, pelo imperador espanhol Carlos I, criminoso. 3.4.2 A Contrarreforma Na tentativa de barrar o avanço do protestantismo, que se difundia na Europa conquistando inúmeros seguidores, a primeira iniciativa da Igreja foi punir os rebeldes. Contudo, a reforma já estava consolidada. Diante disso, os papas Paulo III (1534-1549), Paulo IV (1555-1559), Pio V (1566-1572) e Xisto V (1585-1590) lideraram um movimento de moralização do clero e de reorganização administrativa da Igreja que ficou conhecido como Contrarreforma. Nesse contexto, medidas relevantes foram tomadas objetivando restabelecer a confiança dos fiéis no catolicismo e amenizar os efeitos e a influência do Luteranismo. Em 1540, o papa Paulo III aprovou a criação da Ordem dos Jesuítas ou Companhia de Jesus, cujos integrantes eram os jesuítas. Estes foram encaminhados aos continentes africano, americano e asiático com o objetivo de catequizar os nativos. Escolas religiosas também foram criadas. Cinco anos depois, o papa convocou uma reunião de bispos, na cidade de Trento, na Itália, para traçar um plano eficiente de reação. O Concílio de Trento foi realizado entre os anos 1545 e 1563 e definiu uma nova postura para a Igreja, mas sempre reafirmando sua doutrina tradicional. Assim, o Concílio reiterou pontos fundamentais da crença católica, como a questão da salvação humana, que dependeria da fé e das boas obras rejeitando a predestinação defendida por Lutero. A fonte de fé era a Bíblia que deveria ser interpretada, exclusivamente, pelos clérigos e os dogmas que também seriam transmitidos para os fiéis por estes. Além disso, a Igreja também reafirmou que no ato da eucaristia ocorria a presença de Cristo, crença rejeitada pela doutrina protestante. Ficou determinada a elaboração 17 de um catecismo, a criação de seminários para a formação adequada dos sacerdotes e manutenção do celibato sacerdotal. As medidas mais severas tomadas pelo Concílio de Trento foram sem dúvida o retorno da inquisição (Tribunal do Santo Ofício) e a criação do índice de livros proibidos (Index Librorium Proibitorium). Enquanto a Inquisição objetivava condenar e punir os hereges, o índice de livros proibidos mantinha o controle cultural nas mãos da igreja. A intolerância religiosa resultou em guerras e perseguições em muitos países da Europa. Os conflitos entre católicos e protestantes continuaram por muitas décadas e tiveram como consequência mais devastadora à Guerra dos Trinta Anos, que envolveu metade do continente europeu. Em 1648 as fronteiras político-religiosas foram definitivamente fixadas com a Paz de Westfália marcando o final do período da Reforma. 3.5 CONCÍLIO DE TRENTO Concílio de Trento é o nome de uma reunião convocada pelo papa Paulo III em 1546 na cidade de Trento, na área do Tirol italiano. Com o surgimento e consequente expansão do protestantismo, profundas modificações atingiram a Igreja Católica. Uma reação a tal expansão, vulgarmente denominada “Contra-Reforma”, foi guiada pelos papas Paulo III, Júlio III, Paulo IV, Pio V, Gregório XIII e Sisto V, buscando combater a expansão da Reforma Protestante. Além da reorganização de várias comunidades religiosas já existentes, outras foram criadas, dentre as quais a Companhia de Jesus ou Ordem dos Jesuítas,tendo como fundador Santo Inácio de Loyola. O Concílio tinha como objetivo estreitar a união da Igreja e reprimir os abusos. Em tal concílio, os teólogos mais famosos da época elaboraram os decretos, que depois foram discutidos pelos bispos em sessões privadas. Interrompido diversas vezes, o concílio durou 18 anos e seu trabalho foi concluído somente em 1562, tendo realizado 25 sessões plenárias em três períodos diferentes (1545 a 1547; 1551 a 1552; 1562 a 1563), quando afinal suas sessões foram solenemente promulgadas em sessão pública. 18 Para opor-se ao protestantismo, o Concílio emitiu numerosos decretos disciplinares e especificou claramente as doutrinas católicas quanto à salvação, os sete sacramentos (como por exemplo, confirmou a presença de Cristo na Eucaristia), o cânone bíblico (reafirmou como autêntica a Vulgata) e a tradição, a doutrina da graça e do pecado original, a justificação, a liturgia e o valor e importância da Missa (unificou o ritual da missa de rito romano, abolindo as variações locais, instituindo a chamada "Missa Tridentina"), o celibato clerical, a hierarquia católica, o culto dos santos, das relíquias e das imagens, as indulgências e a natureza da Igreja. Regulou ainda as obrigações dos bispos. Foram criados seminários nas dioceses como centros de formação sacerdotal e confirmou-se a superioridade do papa sobre qualquer concílio ecumênico. Foi instituído o "Index Librorum Prohibitorum", um novo Breviário (o Breviário Romano) e um novo Catecismo (o Catecismo Romano). Foi reorganizada também a Inquisição. Ao contrário dos concílios anteriores, foi estabelecida neste a supremacia dos papas, tendo o papa Pio IV que ratificar suas decisões. As primeiras nações a aceitarem incondicionalmente as resoluções do concílio foram Portugal, Espanha, Polônia e os Estados Italianos. A França, dividida pelas lutas entre católicos e protestantes, demorou mais de meio século para aceitar oficialmente as normas e dogmas instituídos pelo Concílio, sendo o último Estado europeu a fazê-lo. Na altura da promulgação das decisões do Concílio de Trento, as ideias protestantes já haviam se espalhado por toda a Europa Ocidental e Setentrional, e o propósito do concílio tridentino, de reafirmar as doutrinas tradicionais e reorganizar o predomínio católico foram seguidas de reações distintas: uma na área teológica e outra na área vivencial. Um dos papas teria confessado que Deus permitiu a revolta protestante por causa dos pecados dos homens, “especialmente dos sacerdotes e prelados”. A cristandade a partir daí permaneceria definitivamente dividida entre católicos e protestantes, sem mencionar a divisão anterior, ocorrida em 1054 entre Igreja Cristã e Igreja Ortodoxa Grega. 4. FONTES DO DIREITO 19 A principal fonte do Direito Canônico é a vontade de Deus da forma que está revelada nos livros sagrados, especialmente nas Sagradas Escrituras. Este direito divino é completado por atos de caráter legislativo que emanam das autoridades constituídas da Igreja Católica (concílios e papas) e pelo costume. 4.1 IUS DIVINUM O direito divino é o conjunto das regras jurídicas que pode ser extraído da Sagrada Escritura (Antigo e Novo Testamento), bem como dos Escritos dos Apóstolos e Doutores da Igreja (sobretudo Santo Ambrósio, São Jerônimo, Santo Agostinho e São Gregório de Naziano). A doutrina patrística, isto é, a doutrina dos Patres, dos Doutores da Igreja, expõe a explicação autorizada da Sagrada Escritura. Através do ius divinum, o direito oriental e o direito grego exerceram grande influência na formação do direito canônico. O Antigo Testamento foi redigido pelos Hebreus entre os séculos XV e V a.C., assim o antigo direito hebraico constitui uma das fontes históricas do direito canônico. O Novo Testamento e os Atos dos Apóstolos refletem a doutrina de Cristo, que era amplamente influenciada pela evolução das religiões, da filosofia e do direito no mundo helenístico do século IV ao século I. 4.2 A LEGISLAÇÃO CANÔNICA É constituída pelas decisões das autoridades eclesiásticas. Estas decisões formam a fonte viva do direito canônico. Conhecem um desenvolvimento considerável, pelo menos até o século XVI. Estas decisões foram muitas vezes reunidas sob a forma de compilações de coleções canônicas. Distinguem-se os decretos dos concílios e os decretos dos Papas. 4.2.1 Os Decretos Os decretos (ou cânones) são as decisões dos concílios. Segundo os cânones 337 e 341 do Código de Direito Canônico, um concílio ecumênico (ecumênico: universal, ou seja, toda a Igreja Católica) é uma reunião de todos os 20 bispos da Igreja para refletir sobre pontos de doutrina e de disciplina que precisam ser esclarecidos, promulgar dogmas, corrigir erros pastorais, condenar heresias e, em suma, dirimir sobre todas as questões de interesse para a Igreja. É convocado e presidido pelo papa ou por algum bispo. Não é necessário o papa estar presente para a realização de um concílio, mas para o concílio ser válido é preciso a sua confirmação. Foram 21 os concílios ecumênicos. O primeiro concílio ecumênico reuniu-se em Nicéia em 325, e chamado Nicéia I, realizado pelo Papa São Silvestre I. O concílio mais longo (com duração de 18 anos) foi o da Contra-Reforma de Trento, realizado pelos Papas Papa Paulo III, Papa Júlio III, Papa Marcelo II, Papa Paulo IV e Papa Pio IV. O último concílio a ocorrer foi o Vaticano II (1962-1965), realizado pelos Papas João XXIII e Paulo VI. 4.2.2 As Decretais As decretais são os escritos dos papas, respondendo a uma consulta ou a um pedido emanado de um bispo ou de uma alta personagem eclesiástica ou laica. São, como os reescritos dos imperadores romanos, decisões dos papas, complementares dos decretos dos diversos concílios, tendendo nomeadamente a dar a explicação autorizada e a indicar as modalidades de aplicação dessas regras conciliares. De fato, o poder legislativo no seio da Igreja passou progressivamente, em larga medida, dos concílios para os papas. Uma das mais antigas decretais é a do Papa Sirício (384-399) aos bispos da Gália. Elas foram muito numerosas na época do apogeu do papado, nos séculos XII a XIV. Não houve muitas decretais entre 891 e 1049, do mesmo modo que não houve nessa época qualquer concílio ecumênico. A legislação canônica conhece, portanto um declínio na mesma época da legislação laica. Atualmente, os Papas fazem ainda constituições pontificais, que são verdadeiras leis da Igreja. Mas dirigem-se aos bispos através de encíclicas. Uma vez que o Papa foi declarado infalível pelo concílio de 1870, as suas diretivas gozam de um grande alcance. 21 4.3 O COSTUME O costume a que se chama jus non scriptum (direito não escrito), na doutrina romanística da Baixa Idade Media, não desempenha um papel considerável na evolução do direito canônico, em razão da abundância das regras jurídicas escritas. Na Idade Média, os canonistas construíram alguns princípios para reconhecer o caráter obrigatório do uso jurídico; para ser válido, o costume canônico deve obedecer, então, as seguintes condições: ser seguido há certo tempo (30 anos pelo menos), ser razoável (isto é, não ofender a razão), ser legítimo (isto é, ser conforme ao direito divino, aos decretos e ao ensino autorizado pela Igreja). Em certa medida, o costume foi muitas vezes consagrado pela jurisprudência dos tribunais eclesiásticos como fonte local do direito, mas raramente como fonte geral do direito canônico. 4.4 PRINCIPIOS RECEBIDOS DO DIREITO ROMANO O direito romano constituiu o direito supletivodo direito canônico. A Igreja Católica desenvolveu-se no Império Romano. Depois da queda do Império no Ocidente, ela continuou a viver segundo o direito romano. Aplica-o na medida em que ele não é contrário ao ius divinum, aos decretos e as decretais. Assim o direito canônico recebe do direito romano uma grande parte da sua teoria das obrigações e os elementos essenciais do seu processo civil. 4.5 ENCÍCLICAS Encíclica significa, denotativamente, “cartas circulares”, pois estas eram enviadas pelos bispos aos seus colegas de uma mesma região, para assegurar a unidade entre a doutrina e a vida eclesiástica. Esse termo restringiu-se às mensagens dirigidas pelo papa, em forma de carta, a toda a Igreja Católica: "aos patriarcas, primazes, arcebispos, bispos e outros ordinários (comuns) em paz e em comunhão com a Sé apostólica". Normalmente, uma encíclica é designada pelas suas primeiras palavras a partir do texto em latim. O seu objetivo é, de forma genérica, ensinar sobre algum 22 tema doutrinal ou moral, avivar a devoção, condenar os erros ou informar aos fiéis sobre os eventuais perigos para a fé. 4.6 CONCILIOS Um concílio é uma reunião de autoridades eclesiásticas com o objetivo de discutir e deliberar sobre questões pastorais, de doutrina, fé e costumes (moral). Os concílios podem ser ecumênicos, plenários, nacionais, provinciais ou diocesanos. O primeiro concílio ocorreu em Jerusalém, conforme pode ser lido no livro dos Atos dos Apóstolos, quando os Apóstolos se reuniram para tratar sobre os temas que estavam dividindo os primeiros cristãos: de um lado os judaizantes (judeus convertidos) e do outro os gentios (os convertidos não-judeus). 5. DOUTRINAS E MÉTODOS 5.1 O ENSINO E A DOUTRINA O ensino do direito canônico na Idade Média dava-se junto á teologia, sendo estudado e aplicado por clérigos. Seu desenvolvimento aflorou no século XII influenciado pelo Decreto de Graciano, com isso levou a formação de escolas especializadas em suas doutrinas e ensinamentos. As universidades que mais se destacaram em transmitir esse ensinamento foram as das cidades de Bolonha, Montipeller, Toulousse e Orleães. Com a evolução do dos métodos de ensino do Direito Canônico surgiram duas correntes diferentes de pensamento: os Decretistas e os Decretalistas. 5.2 DECRETO DE GRACIANO Por volta de 1140, Graciano, um monge teólogo, reuniu aproximadamente 3800 textos de caráter juridico-religioso e propôs, em uma obra de seis volumes, a unificação do direito canônico através da análise desses textos. Essa obra foi denominada de Decretum. 23 Essa obra abrange documentos como bulas papais, canons pertencentes a concílios e a própria Bíblia Católica. A dimensão deste decreto é tão ampla que foi responsável pela união do direito da Igreja na Alta e Baixa Idade Média. E dela surgiram duas correntes responsáveis pela sistematização do Direito Canônico, permitindo que este fosse estudado em universidades e ensinado não só a clérigos, mas a laicos também. 5.3 DECRETISTAS E DECRETALISTAS Baseados no Decreto de Graciano, as universidade medievais dotaram o Direito Canônico de unidade e especialidade, separando-o da teologia. Sua importância foi tão grande, que ao contrário do direito Romano, ele se manteve em evolução. Subdividindo os estudiosos canonistas em : a) Decretistas: surgem no século XII, devem seu nome ao fato de se dedicar ao estudo do Decreto de Graciano Entre os mais famosos, destacam-se Paucapalea, Bandinelli e Juan Sémeca. b) Decretalistas: surgem nos séculos XII e XVI, assim chamados por terem se dedicado principalmente ao estudo das decretais. Destacam-se Bernardo de Botono, Vicente de Espanha e Sinaldo Fiesco. 6. CÓDIGO CANÔNICO O Código de Direito Canônico é o conjunto ordenado das normas jurídicas do direito canônico que regulam a organização da Igreja Católica Romana, a hierarquia do seu governo, os direitos e obrigações dos fieis e o conjunto de sacramentos e sanções que se estabelecem pela contravenção das mesmas normas. Na prática é a constituição da Igreja Católica. 6.1 O CÓDIGO DE 1917 Até 1917 a Igreja Católica era regida por um conjunto disperso e em código unificado de normas jurídicas tanto espirituais como temporais. O Concílio Vaticano I fez referência à necessidade de realizar uma compilação onde se agrupassem e ordenassem essas normas, se eliminassem as que já não estavam em vigor e se codificassem as restantes com ordem e clareza. 24 As ligeiras compilações efetuadas pelos papas Pio IX e Leão XIII resultaram insuficientes, Teriam de esperar até que Pio X criasse em 1904 uma comissão para a redação do Código de Direito Canônico. Após doze anos de trabalho, seria o Bento XV que promulgaria o Código em 27 de maio de 1917. O Código entrou em vigor em 19 de maio de 1918. O Código de Direito Canônico de 1917 é conhecido pelos seus dois principais impulsionadores, como Código Pio – Beneditino. O novo código passou a formar um corpo único e autêntico para toda a Igreja Católica de rito latino, criando uma comissão de interpretação do mesmo no ano da sua promulgação que, desde então, era a única competente para esclarecer as dúvidas que poderiam surgir e cujos ditames têm o valor de uma interpretação autêntica sobre qualquer dos cânones do código. 6.2 O CÓDIGO DE 1983 Em 25 de janeiro de 1983 o Papa João Paulo II promulgou o novo Código, que entrou em vigor em 27 de novembro do mesmo ano. Igualmente nomeou o novo órgão de interpretação do texto, denominado Pontifícia Comissão, para a interpretação autêntica do Código de Direito Canônico, com as mesmas funções que tinha a anterior comissão de interpretação. Em 1988, mediante a constituição apostólica Pastor Bonus, esta comissão transformou-se no Pontifício Conselho para os Textos Legislativos, com umas competências mais amplias e articuladas. Paralelamente, com a convocatória do Concílio Vaticano II foi abandonada a codificação oriental e começou-se uma nova codificação do direito oriental, que terminou em 1991 com a promulgação do Codex Canonum Ecclesiarum Orientalium, ou Código dos Cânones das Igrejas Orientais. Este Código veio completar a codificação na Igreja Católica, ao estar em vigor para as Igrejas sui iuris católicas de rito oriental. 6.3 TEMAS Os temas principais tratados pelo CDC de 1983 são: 1. O papel do Romano Pontífice e do Colégio Episcopal. 2. A organização da Cúria Romana, seus conselhos, congregações e tribunais; as funções da Secretaria de Estado e do Sínodo permanente. 25 3. As regras para a constituição das associações de fiéis, das sociedades de vida apostólica, dos institutos de vida consagrada, das prelazias pessoais e das administrações apostólicas. 4. A organização da igreja nacional. A estrutura das dioceses, arquidioceses, das prelazias, abadias territoriais, administrações apostólicas, prelazias pessoais, dos ordinariatos militares, eparquias, das províncias e regiões eclesiásticas, das conferências episcopais, dos sínodos diocesanos, dos concílios provinciais e plenários, dos cabidos metropolitanos e das paróquias. 5. A organização das dioceses; o papel dos vigários episcopais, dos vigários gerais e dos vigários judiciais no governo da diocese; o papel do Arcebispo e suas funções na administração da província eclesiástica; a organização da Igreja Católica de Rito Oriental - os patriarcas, os eparcas e exarcas e a liturgia específica dessas igrejas. 6. Os critérios para a definição de "sede vacante" e de "sede impedida".7. As obrigações e os direitos dos bispos, dos párocos e dos fiéis. 8. As regras sobre o dízimo; uma obrigação de todos, e o seu modo de utilização. 9. As atribuições dos ministros ordinários e extraordinários da Eucaristia. 10. As exigências para ser padrinho de Batismo, Crisma e Matrimónio. 11. A idade mínima para o presbiterato e para o episcopado; as normas para os seminários. 12. Quem pode celebrar os sacramentos; a Comunhão em duas espécies - libação e intinção. 13. Regras sobre o Batismo; o Batismo fora da Igreja; o Batismo de não católicos; o Batismo por imersão, infusão e aspersão. 14. O Matrimónio com não católicos; impedimentos matrimoniais; os divorciados e a Igreja; a situação do padre casado. 15. Os casos de excomunhão de leigos e clérigos. 16. Outras punições canónicas a leigos e clérigos. 17. Quem não pode receber os sacramentos. 18. Regras sobre a Confissão; a confissão anual. 26 19. Sobre o Colégio Cardinalício (cardeais-diáconos, presbíteros e bispos); sobre o Consistório; sobre a eleição do Papa e sobre o governo temporário da Igreja. 20. Regras sobre as ordens religiosas; normas sobre o hábito eclesiástico. 21. Os tipos de sacramentais, as orações e os objetos sagrados; o ritual do exorcismo. 22. Os tribunais eclesiásticos e os processos judiciais. 23. Tipos de leis canónicas; promulgação de leis; dispensa de leis; tipos de penas - o perdão e a extinção das penas. 6.4 A ESTRUTURA DO CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO O Código de Direito Canônico em vigor se divide em sete livros: Livro I- Das Normas Gerais Trata das Leis e Costumes eclesiásticos, dos Decretos Gerais e Instruções, dos Estatutos e Regimentos, dos Ofícios Eclesiásticos. Livro II- Do Povo de Deus Trata das obrigações e direitos de todos fiéis (clérigos e leigos), das Associações de fiéis, da estrutura hierárquica da Igreja, da organização interna das igrejas particulares, dos Institutos e Sociedade religiosas e seculares. Livro III- Do Múnus de Ensinar da Igreja Trata do Ministério da Palavra, da Ação Missionária, da Educação escolar, dos Meios de Comunicação Social e dos Livros. Livro IV- Do Múnus de Santificar da Igreja Trata dos Sacramentos, do Culto Divino, do Culto dos Santos e das Imagens Sagradas, dos lugares e tempos sagrados. Livro V- Dos Bens Temporais da Igreja Trata da aquisição, administração, alienação dos bens eclesiásticos em geral. Livro VI- Das Sanções na Igreja Trata dos delitos e das penas em geral, do processo penal, da aplicação e cessação da penas, dos diversos tipos de delitos. Livro VII- Dos Processos Trata dos diversos foros e tribunais, das partes no processo, ações e exceções, do julgamento das causas e dos recursos, dos processos para as 27 declarações de nulidade do matrimônio e das ordenações. Trata ainda dos processos administrativos e dos recursos nestes processos. 7. RENUNCIA PAPAL A renuncia do papa foi um dos eventos mais marcantes da segunda década do século XXI. Na história da Igreja Católica, o Papa Bento XVI é o sétimo a renunciar. A renúncia, aqui, é um conceito eclesiástico, porque inclui a aceitação da deposição do Trono de Pedro, sem resistência aos inimigos que obrigam o pontífice a sair. A renúncia de um papa está prevista no Código de Direito Canônico em vigor , e estabelece que o papa pode deixar o Trono de Pedro , desde que por vontade própria , como fez Joseph Ratzinger: Cân.332 - §2. Se acontecer que o Romano Pontificie renuncie ao seu múnus, para a validade se requer que a renúncia seja livremente feita e devidamente manifestada, mas não que seja aceita por alguém. Quando o Papa renuncia, ele deixa de assumir o título de bispo de Roma, vigário de Jesus Cristo, sucessor do príncipe dos apóstolos. Sumo pontífice da Igreja Universal, primaz da Itália, arcebispo metropolitano da Província Romana e soberano do Estado da Cidade do Vaticano, passando a ser chamado de Bispo Emérito de Roma. 7.1 FUNÇÕES PAPAIS O Papa é o bispo de Roma, chefe de estado da cidade do Vaticano e líder mundial da Igreja Católica. Seu cargo é vitalício, e sua autoridade descende diretamente de Jesus Cristo. Entre suas funções e deveres está manter integridade e fidelidade do deposito da fé; se dedicar à Expansão do catolicismo e da fé cristã pelo mundo; nomear cardeais e eleger bispos; canonizar santos e criar dioceses; intervir em questões administrativas do Vaticano e da Igreja Católica em todo o mundo; trabalhar pelo diálogo inter-religioso e pela defesa dos direitos humanos. 28 7.2 CONCLAVE Com o início do Conclave, os cardeais seguem em cortejo da Capela Paulina, onde se reúnem inicialmente, até a Sistina, onde ocorrem as votações. Em seguida, as portas são fechadas, as chaves retiradas, e o isolamento é assegurado pelo cardeal Camerlengo no interior, e pelo prefeito da Casa Pontifícia no exterior. Três cardeais assistentes são escolhidos para auxiliar o Camerlengo – eles são trocados a cada três dias. Os eleitores ficam isolados em celas particulares e se reúnem na Capela Sistina duas vezes por dia para votar – caso não um nome não obtenha dois terços dos votos na primeira votação. Além deles, ficam alojados nos arredores da Capela Sistina apenas o Secretário do Colégio Cardinalício o Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias, com dois Cerimoniários e dois religiosos adscritos à Sacristia Pontifícia; um eclesiástico escolhido pelo Cardeal Decano ou pelo Cardeal que o substitua, para lhe servir de assistente; além de alguns religiosos de diversas línguas para as confissões, dois médicos para eventuais emergências e pessoas responsáveis pela alimentação e limpeza. Os cardeais não têm o direito de votar em si mesmo e devem, um de cada vez, prestar juramento de respeito ao voto secreto e de aceitar o resultado. No momento da eleição, ficam na capela apenas os eleitores, o Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias e o eclesiástico escolhido para fazer aos cardeais eleitores a segunda das duas meditações. Eles juram igualmente que aquele entre eles que for eleito não renunciará jamais a reivindicar a plenitude dos direitos de pontífice romano. 8. ESTADO ECLESIÁSTICO E ESTADO LAICO 8.1 VATICANO O tratado de Latrão, de 1929, que criou a cidade-estado do Vaticano, a descreve como uma nova criação (preâmbulo e no artigo II) e não como um vestígio dos muito maiores Estados Pontifícios ( 756-1870), que anteriormente abrangiam a 29 região central da Itália. A maior parte deste território foi absolvido pelo Reino de Itália em 1860 e a porção final, ou seja, a cidade de Roma, com uma pequena área perto dele, dez anos depois, em 1870. A cidade do Vaticano é um Estado eclesiástico ou teoccratico- monarquico, governado pelo bispo de Roma, o Papa. A maior parte dos funcionários públicos são todos os clérigos católicos de diferentes origens raciais, étnicas e nacionais. É o território soberano da Santa Sé (Sancta Sedes) e o local de residência do Papa, referido Palácio Apostólico. Os Papas residem na área, que em 1929 tornou-se Cidade do Vaticano, desde o retorno de Avignon em 1377. Anteriormente, residiam no Palácio de Latrão na colina celio no lado oposto de Roma, local que Constantino deu ao Papa Milcíades em 313. A assinatura dos acordos que estabelece o novo estado teve lugar neste último edifício dando origem ao nome Tratado de Latrão, pelo qual é conhecido. 8.2 TRATADO DE LATRÃO O Tratado de Latrão, "tratado de Santa Sé", "tratado deRoma - Santa Sé" é um dos pactos lateranenses de 1929 feito entre o Reino de Itália e a Santa Sé, ratificado em 7 de junho de 1929, dando fim à "Fronteira Ferroviária" Em 756, Pepino, o rei dos francos, deu ao Papa um grande território no centro de Itália. a existência destes Estados Pontifícios terminou quando, em 1870, as tropas do Rei Vítor Emanuel II entraram em Roma e incorporaram no Reino de Itália está parte do território. Em 13 de março de 1871, Vítor Emanuel II ofereceu como compensação ao Papa Pio IX uma indenização e o compromisso de mantê-lo como Chefe do Estado do Vaticano, um bairro de Roma onde ficava a sede da Igreja. O Papa, porém, recusa-se a reconhecer a nova situação e considera-se prisioneiro do poder laico, dando início assim à Questão Romana. Embora tenha negado inicialmente a proposta do Governo italiano, a Igreja aceita estas condições em 11 de fevereiro de 1929, por meio do Tratado de São João de Latrão ou simplesmente Tratado de Latrão, que criou um novo estado, assinado pelo ditador fascista Benito Mussolini, então chefe do Governo italiano, e o cardeal Pietro Gasparri, secretário de Estado da Santa Sé. Este Tratado formalizou 30 a existência do Estado do Vaticano (cidade do Vaticano), Estado soberano, neutro e inviolável, sob a autoridade do papa, e os privilégios de extraterritorialidade do palácio de Castelgandolfo e das três basílicas de São João de Latrão, Santa Maria Maior e São Paulo Extramuros. Por outro lado, a Santa Sé renunciou aos territórios que havia possuído desde a Idade Média e reconheceu Roma como a capital da Itália. O acordo também garantiu ao Vaticano o recebimento de uma indenização financeira pelas perdas territoriais durante o movimento de unificação da Itália. O documento estabeleceu normas para as relações entre a Santa Sé e a Itália, reconheceu o catolicismo como religião oficial desse país, instituiu o ensino confessional obrigatório nas escolas italianas, conferiu efeitos civis ao casamento religioso, aboliu o divórcio, proibiu a admissão em cargos públicos dos sacerdotes que abandonassem a batina e concedeu numerosas vantagens ao clero. O Vaticano emite selos e moeda [metálica] própria e conta com todos os serviços próprios de um país independente, como uma central telegráfica, estação de rádio (Rádio Vaticano), um jornal (L'Osservatore Romano) e a rede ferroviária, interligada à ferrovia italiana. Com base na Convenção de Barcelona, de 1921, pode dispor também de uma frota marítima com bandeira própria. A Constituição de 2001, que substituiu à de 1929, e foi promulgada pelo Papa João Paulo II, estabelece, entre outros artigos: que o Papa é o soberano absoluto, concentrando em si os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, os quais, em caso de falecimento do Pontífice, passam ao Colégio Cardinalício até a eleição do sucessor; que a bandeira oficial do Vaticano é amarela e branca, em vertical, tendo, ao centro o escudo com as chaves entrecruzadas sobre as quais se encontra a tiara papal. 8.3 ESTADO LAICO Conhecido também como Estado Secular ou Estado Leigo é o conceito de um Estado oficialmente neutro às questões religiosas, não apoiando nem se opondo a nenhuma religião, e não privilegiando determinado cidadão de determinada religião em detrimento dos demais cidadãos das demais religiões. 31 O Estado secular deve garantir e proteger a liberdade religiosa e filosófica de cada cidadão, evitando que alguma religião exerça controle ou interfira em questões políticas. Difere-se do estado ateu - como era a extinta URSS - porque no último o estado se opõe a qualquer prática de natureza religiosa. Entretanto, apesar de não ser um Estado ateu, o Estado Laico deve respeitar também o direito à descrença religiosa. Vale ressaltar que um Estado Secular não implica a eliminação da religião; o Estado Laico deve garantir a liberdade religiosa, respeitando os traços religiosos culturais e da tradição do povo. O conceito do Estado Secular implica ainda que, em hipótese alguma, nenhum dos três poderes podem nortear suas decisões por alguma doutrina religiosa. Tais decisões devem ser norteadas apenas pela lei. A constituição federal no Brasil estabelece em seu artigo 19, I o seguinte: É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I – estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou suas representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público. Com base nesta disposição, o Estado brasileiro foi caracterizado como Estado Laico. Esta corrente ideológica surgiu no fim da Idade Média e início da Idade Moderna onde podemos constatar o Alerta de alguns filósofos e pensadores da época para a necessidade do Estado Laico. A afirmação de Max Weber de que "Deus é um tipo ideal criado pelo próprio homem", demonstra a ânsia por deixar de lado a forte influência religiosa percebida na Idade Média, em busca do fortalecimento de um Estado laico. Nicolau Maquiavel, também defendia a separação de Igreja e Estado. Em seu livro “O Príncipe” Maquiavel questiona o domínio da igreja sobre o Estado e faz menção ao estado laico criticando a moral cristã mas fazendo uso dela quando disse: "mais conveniente seguir a verdade efetiva da coisa do que a imaginação desta" ele queria a separado da Igreja do Estado mas não queria que o Estado se separasse da Igreja. O Estado tem que ter e seguir sua ética e moral e não a moral da Igreja, porem o príncipe (político com mandato) deve lutar para manter a moral e a fé do povo pois é de vital importância para a manutenção da paz no Estado. 32 Muito embora a corrente Laicista tenha nascido muito antes, o primeiro grande exemplo de Estado Laico da história foram os Estados Unidos da América, podendo-se dizer que foram inclusive, a personificação do Estado Laico proposto por Maquiavel, uma vez que apesar de o Estado Americano não ter uma religião oficial e não permitir que as religiões se intrometam nos assuntos e decisões governamentais, este sofre grande influência da religião protestante. 33 CONSIDERAÇÕES FINAIS O Direito Canônico é o código jurídico e religioso que rege os Estado do Vaticano e as comunidades eclesiásticas em todo o mundo. È impossível estudar os sistemas jurídicos sem mencioná-lo, uma vez que o poder da Igreja é atemporal, pois o cristianismo é considerado a religião universal. O direito canônico católico é o direito da Igreja reunida sob a autoridade do Papa, seu chefe visível. A Igreja se considera a si mesma como a Igreja de Jesus Cristo e atribui as suas ordenações jurídicas vigência para todos os batizados. O direito canônico participa da natureza geral do direito, distinguindo-se por sua característica de ser direito de Igreja, isto é, de uma sociedade sobrenatural de instituição divina, a qual se edifica mediante a Palavra e o Sacramento, e é chamada a transmitir a Salvação aos homens. O direito canônico é colocado ao serviço desta missão da Igreja e é por isso um direito sagrado que se distingue claramente do civil, embora conserve o caráter geral do direito. Assim como qualquer outro sistema jurídico religioso, o direito canônico retira suas regras de princípios divinos, revelados nos Testamentos bíblicos. Sua principal diferença com os outros sistemas, é que a Igreja Católica diferenciou o direito religioso do regime religioso. Portanto, ela admite o direito laico na vida dos ecumênicos. Nos últimos 2000 anos, esse sistema se modificou a fim de se adaptar aoscostumes e formas de cada povo que o adotou. Mas nunca perdeu sua finalidade principal : manter as normas e a autoridade da Santa Igreja. Direito Canônico é o direito estabelecido por Deus e pela Igreja para sua regulamentação. 34 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GILISSEN, John: Introdução Histórica ao Direito. 2ª. ed. Tradução de A. M. Hespanha e L. M. Macaísta Malheiros.Lisboa:Fundação Calouste Gulbenkian, 1995. CARMO, Octávio. 296 encíclicas na história da Igreja. Jul. 2009. Disponível em: <http://www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/noticia.PL?&id=74017>. Acesso em: 31 mar. 2013. WIKIPEDIA. Encíclicas. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Enc%C3%ADclica> Acesso em: 31 mar. 2013. FOLHA ONLINE. O que é encíclica? Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/papa-enciclica.shtml> Acesso em: 31 mar. 2013. WIKIPEDIA. Concílio ecumênico. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Conc%C3%ADlios_ecum%C3%A9nicos_cat%C3 %B3licos#Da_Igreja_Cat.C3.B3lica> Acesso em: 31 mar. 2013. WIKIPEDIA. Concílio. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Conc%C3%ADlio> Acesso em: 31 mar. 2013. INFO ESCOLA. Concílio de Trento. Abr. 2010. Disponível em: <http://www.infoescola.com/historia/concilio-de-trento/> Acesso em: 31 mar. 2013. PORTAL SÃO FRANCISCO. Concílio de Trento. Disponível em: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/contra-reforma/concilio-de- trento.php>. Acesso em: 31 mar. 2013. VERITATIS SPLENDOR. Conceito,surgimento, finalidade e surgimento do Dir. Canônico. Disponível em : http://www.veritatis.com.br/direito- 35 canonico/nocoes-gerais/640-o-que-entendemos-por-direito-canonico. Acesso em 13/04/2013. VERITATIS SPLENDOR. Noções Gerais do Dir. Canônico. Disponível em http://www.veritatis.com.br/direito-canonico/nocoes-gerais/637-conceito- surgimento-finalidade-e-usufruto-do-dir-canonico. Acesso em 13/04/2013.
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