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Téchne - Concreto não conforme

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CAPA 
 
Concreto não conforme 
Concretos fornecidos podem não estar atingindo a resistência à compressão pedida nos projetos estruturais. Polêmica 
envolve construtores, concreteiras, projetistas e laboratórios 
Por Renato Faria 
 
Um espectro ronda as obras brasileiras. Há uma queixa generalizada de 
construtores de diversas regiões do País quanto ao concreto entregue nos 
canteiros. Segundo eles, o material entregue não estaria atingindo a 
resistência característica à compressão exigida nos projetos estruturais. As 
suspeitas recaem diretamente sobre as concreteiras, fornecedoras do 
material. Em sua defesa, essas empresas lembram que falhas podem ocorrer 
em etapas do processo de controle tecnológico que fogem à sua alçada, mas 
que poderiam comprometer a qualidade da avaliação da resistência do 
concreto. Da falta de cuidados na moldagem de corpos de prova à baixa 
confiabilidade de alguns laboratórios brasileiros, apontam, vários fatores 
poderiam alterar o resultado final que chega ao construtor (ver também na 
seção Como Construir como receber concreto e moldar corpos de prova). Essas 
são algumas das faces de um problema complexo e polêmico, que envolve 
construtores, concreteiras, projetistas e laboratórios, que vem crescendo há 
alguns meses e que permanece sem solução. 
 
Notificações de concreto abaixo da resistência não são novidade em nossa história recente, conforme lembram profissionais 
da área. "Alguns anos atrás, nosso escritório teve uma quantidade absurda de consultas sobre concretos que chegavam às 
obras com resistência abaixo da especificada", conta o projetista estrutural José Roberto Braguim, da OSMB Projetos e 
 
 
 
 
Para moldagem dos corpos de 
prova, a norma determina que 
seja coletado concreto do 
terço médio do caminhão-
betoneira, entre 15% e 85% 
do descarregamento do 
material 
Após a moldagem, o corpo de 
prova deve ser corretamente 
identificado para permitir 
adequada rastreabilidade. 
Durante o período de cura, deve 
ficar protegido das intempéries. 
 
Laboratórios com equipamentos calibrados e pessoal 
capacitado são fundamentais para garantir 
credibilidade do controle da qualidade do concreto 
Consultoria. Segundo a superintendente do Comitê Técnico de Cimento, Concreto e Agregados da Associação Brasileira de 
Normas Técnicas (CB-18/ABNT), Inês Battagin, o que aconteceu é que algumas concreteiras estavam adicionando escórias e 
outros materiais no concreto sem conhecer suas potencialidades. Com a regulação da situação, por meio de normas 
técnicas, a situação melhorou e se estabilizou. "Depois disso, apesar de não ter havido uma piora, o problema persiste e 
começa a incomodar", avalia Braguim. 
Via crucis 
Quando a baixa resistência de um determinado lote de concreto é identificada, começa um longo e extenuante caminho 
para o construtor. Se a qualidade e idoneidade do laboratório responsável pelas análises são reconhecidas por todas as 
partes, os resultados são enviados para o projetista estrutural, que os irá analisar e dar seu veredicto. Dependendo da 
resistência obtida, do tipo de elemento estrutural afetado e dos coeficientes de segurança estrutural adotados, ele poderá 
autorizar o prosseguimento normal da obra. Caso contrário, procede-se à extração de testemunhos da própria estrutura para 
confirmação do resultado. Também é possível que sua posição seja revisada - e até contestada - por um consultor 
independente. Só depois que os envolvidos chegarem a um acordo, e isso pode demorar, é que começa efetivamente a 
etapa operacional do processo. As intervenções vão de simples reforços de pilares ou vigas à necessidade de demolição de 
pilares localizados sob diversos pavimentos já executados. 
Os atrasos de cronograma podem até inviabilizar economicamente um empreendimento. "Hoje as margens de lucro são 
muito apertadas. Em casos assim, podemos enfrentar desde prejuízos financeiros decorrentes de um retrabalho pontual até 
o comprometimento da rentabilidade do empreendimento, se ele atrasar mais de dois meses", afirma Paulo Sanchez, diretor 
presidente da Sinco Construtora, de São Paulo. 
Para deixar claro para os projetistas estruturais o que fazer nessas situações, a Abece (Associação Brasileira de Engenharia e 
Consultoria Estrutural) elaborou um texto com os procedimentos mais adequados para quando os profissionais se 
depararem com o problema. Um exemplo abordado é quando um consultor estrutural externo é chamado e apresenta uma 
proposta com a qual o projetista "titular" da obra não concorda. "Isso pode gerar problemas éticos", afirma Braguim, que 
também é membro da Abece. A recomendação, nesses casos, é de que as partes interessadas elaborem um documento 
conjunto tornando claros os limites das responsabilidades de cada um dos profissionais envolvidos no problema. O texto da 
Abece traz ainda orientações para questões de natureza comercial e técnica. 
Implicações jurídicas 
A comunidade técnica tem usado a expressão "concreto não conforme" ao se referir ao produto que não atende ao 
fck definido pelo projetista. Essa definição de não conformidade, contudo, não está completamente correta. A norma "NBR 
12.655:06 - Concreto - Preparo, Controle e Recebimento" diz que a resistência característica à compressão (fck) é o "valor de 
resistência à compressão acima do qual se espera ter 95% de todos os resultados possíveis de ensaio da amostragem feita 
conforme [o item] 6.2.2". Ou seja, se até 5% dos resultados ficarem abaixo do fck, o concreto é considerado conforme. "O 
fornecedor estaria cumprindo o previsto em norma técnica e, portanto, não estaria infringindo nem o Código Civil nem o 
Código de Defesa do Consumidor", explica o perito Paulo Grandiski, membro titular do Ibape-SP (Instituto Brasileiro de 
Avaliações e Perícias de Engenharia). 
Todavia, isso não exime a concreteira de suas responsabilidades. Grandiski explica que, quando o problema surge e o 
calculista considera necessário um reforço pontual ou a demolição e reexecução de parte da estrutura, é dever da 
fornecedora arcar com os custos do reparo. "A concreteira pode ser condenada a ressarcir os danos causados à construtora 
por fornecer concreto abaixo do especificado", conclui Grandiski citando o artigo 427 do Novo Código Civil. 
São poucas as querelas entre construtores e concreteiras que vão parar na justiça. Os construtores reconhecem que as 
fornecedoras de concreto se mostram prestativas e arcam com todos os custos decorrentes de um material de baixa 
resistência. Mas isso não parece satisfazê-los. "O que a gente vê é que as concreteiras não se importam em pagar pelos 
reparos. Parece-me que elas incluem no preço do concreto o custo de recuperação da estrutura, correndo riscos de forma 
planejada", afirma Cláudio Burgos, coordenador de contratos da Jotagê Engenharia, de Salvador. 
Wagner Lopes, presidente da Abesc (Associação Brasileira das Empresas Prestadoras de Serviços de Concretagem), defende 
as empresas associadas da entidade. "Com certeza não é assim que trabalham nossas associadas, que investem grande parte 
de seus recursos em capacitação dos seus funcionários, automatismo de seus sistemas e modernização de seus 
laboratórios", afirma Lopes. "O bem mais valioso para uma empresa prestadora de serviços de concretagem é a confiança 
dos seus clientes", justifica. 
Da central ao laboratório 
Efetivamente, a responsabilidade da concreteira é zelar pela qualidade do preparo do 
concreto e de seu transporte até o local de obra. Sua função é saber selecionar os insumos - 
cimento, areia, agregados, aditivos e água -, conhecer a fundo o comportamento desses 
materiais, estar atenta à calibração de seus equipamentos, fazer a dosagem correta e garantir 
o transporte e aentrega adequados do concreto na obra. Fernando Jardim Mentone, da 
Abratec (Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Construção Civil) ressalta que, 
no País, os agregados não têm qualidade homogênea. "Eles recebem um rápido tratamento e 
já vão para a central de dosagem. Até que ponto uma coincidência de fatores não está 
levando a uma queda de resistência?", questiona. Da mesma forma, a qualidade do cimento 
também pode interferir na resistência do concreto. 
Mas a maior desconfiança gira em torno do consumo de cimento para a produção do 
concreto. "Nos três últimos casos em que atuei, ficou muito claro no controle estatístico total, 
ou seja, de todos os caminhões da mesma central, que a concreteira centra o valor de 
dosagem no valor limite do fck, quando deveria centrar no valor fcj aos 28 dias, um valor bem 
maior", relata Grandiski. Quem é que ganha nesse processo, levando no limite? É a 
concreteira, que está fazendo economia de cimento", opina o perito. 
Wagner Lopes, da Abesc, afirma que as empresas associadas à entidade controlam 
rigorosamente a qualidade dos insumos. "Os associados rastreiam todos os processos críticos 
cumprindo as normas da ABNT, como a NBR 12.654, a NBR 7.212, entre outras", afirma 
Lopes. "A vida de um concreteiro é fazer ensaios, confrontando os resultados dos materiais 
componentes do concreto que estão sendo usados com as resistências obtidas nos corpos de 
prova." 
Problemas com o não atendimento do fck podem estar relacionados, ainda, com falhas no 
processo de controle tecnológico. Há procedimentos normalizados, e que devem ser 
seguidos, para a coleta do concreto e a moldagem do corpo de prova. Além disso, é 
imprescindível o cuidado no armazenamento e no transporte dessas peças. Os corpos de 
prova são elementos sensíveis, principalmente nas primeiras horas de idade, e qualquer 
descuido pode alterar sua resistência característica à compressão. Para comprovar falhas 
nessa etapa, será necessário realizar a extração de testemunhos da estrutura já executada - 
medida dispendiosa e cara. 
Outro elo da cadeia que tem sido questionado é o dos laboratórios responsáveis pelas 
análises dos corpos de prova. Poucos no País são acreditados pelo Inmetro (Instituto Nacional 
de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial), ou seja, seguem os requisitos da norma 
ABNT NBR ISO/IEC 17.025 e se submetem a auditorias periódicas. O maior obstáculo é arcar 
com os investimentos necessários para a capacitação laboratorial exigida pelo órgão nacional. "Esta acreditação se iniciou 
em 2000 no Brasil e realmente começou a ser implementada a partir de 2005, portanto é bastante recente", afirma Antônio 
Sérgio Ramos da Silva, engenheiro do laboratório Concreta, de Salvador. A empresa, que há nove anos possui a certificação 
de qualidade ISO 9000, deve se tornar, em 2010, o segundo laboratório acreditado pelo Inmetro na região Nordeste. 
 
Demora na entrega e no 
descarregamento do 
concreto podem afetar a 
qualidade do material que irá 
para a estrutura 
 
Centrais dosadoras de 
concreto devem conhecer a 
fundo o comportamento dos 
materiais usados na 
produção do concreto 
Silva também se mostra preocupado com o índice de concretos com resistência abaixo do 
fck. Ele relata que já trabalhou numa obra em que se teria configurado, de fato, a não 
conformidade do fornecimento do concreto: "Em uma situação específica, tivemos mais 
de 30% de resultados inferiores ao fck estabelecido pelo projetista estrutural". 
Por enquanto, o problema continua sem soluções. Inês Battagin acena com a 
possibilidade de revisão das normas técnicas, principalmente a NBR 12.655, de 2006. Ela 
conta que, na época em que esta versão estava sendo discutida, as noções de cálculo 
estatístico de recebimento do concreto chegaram a ser abordadas à luz de normas 
estrangeiras. "A conclusão a que se chegou é que nós não estávamos prontos para 
colocar em nossa norma o que se estava fazendo lá fora", relata. "Nossa realidade é 
diferente e o concreto dosado em central é uma pequena parcela do total usado no País." 
Com o debate atual, e o envolvimento de tantas partes interessadas, ela acredita que o 
conhecimento técnico sobre o tema amadureceu e a sociedade estaria pronta para repensar esses pontos da norma. 
Controle estatístico 
A não conformidade de fornecimento do concreto se dá apenas quando mais de 5% do volume entregue na obra ficam 
abaixo da resistência de projeto (fck). Confira como é feito o cálculo. 
 
 Causas 
Da central de dosagem do concreto ao laboratório que realiza o ensaio, são muitos fatores que podem contribuir para que se 
obtenha um valor de resistência do concreto abaixo da esperada. Confira algumas delas: 
 
De preferência, o transporte 
deve ser feito ainda na fôrma. 
Laboratório é local ideal para a 
desenforma da amostra 
 
 Na prática 
Confira o relato de alguns casos de obras que tiveram problemas com o fornecimento do concreto. Os nomes das empresas 
e dos empreendimentos foram preservados a pedido das fontes. 
Equação de regressão 
Reforço era desnecessário e a construtora ficou com prejuízo 
O calculista especificou concreto de fck = 18 MPa para a estrutura, acima dos blocos de fundação. Era a primeira 
concretagem, e do pilar de maior responsabilidade da obra. O resultado maior de resistência à compressão, aos 28 dias, deu 
17,5 MPa. Para que a obra não fosse paralisada, o calculista exigiu que fosse feito reforço desse pilar. Para decidir quem 
arcaria com a conta, foi extraído corpo de prova aos 212 dias, cuja resistência devidamente majorada em 10%, compôs uma 
série com os maiores valores dos corpos de prova rompidos aos três, sete e 28 dias. Com essa série de quatro pontos foi 
calculada uma equação de regressão pelo método dos mínimos quadrados. Substituindo nessa equação a idade de 28 dias, 
foi obtido fcj = 18,12 MPa, provando que o concreto fornecido estava conforme o pedido, devendo a construtora arcar com o 
reforço, que se mostrou desnecessário. 
Processo em andamento 
Construtora cobra pelos dias parados para fazer o reforço 
Construtora implantou sistema de controle total no recebimento do concreto dosado em central utilizado nas concretagens 
de pilares (dois caminhões) e lajes do andar-tipo (sete caminhões). O concreto ensaiado revelou-se com resistência abaixo da 
especificada, motivo pelo qual houve a necessidade de reforçar os pilares de dois pavimentos. A extração e análise de corpos 
de prova testemunhos da estrutura, feita por conceituado Instituto de Pesquisas, comprovou a necessidade dessas 
intervenções. O ressarcimento das despesas - que inclui, além do custo do concreto, os dias parados da obra - está sendo 
cobrado via processo judicial. 
Demolição controlada 
Concreteira pagou demolição e nova concretagem de pilares 
Numa obra com nove torres residenciais de 26 pavimentos mais um prédio comercial, várias concretagens entre novembro e 
dezembro de 2008 apontaram valores de resistência abaixo da especificada em projeto. Todos os resultados não aprovados 
automaticamente pela obra foram submetidos ao projetista de estruturas para análise. Num determinado trecho, não houve 
aceitação pelo calculista, que projetou reforços. Enquanto esse trabalho transcorria, a obra seguia seu curso. No momento 
da resposta do projetista, várias outras lajes já haviam sido executadas acima da que estaria em estudo. Houve a 
necessidade de demolição controlada e reexecução dos pilares. Os custos, segundo a construtora, foram arcados pela 
concreteira sem questionamentos. 
Atraso no cronograma 
Concreteira arcou com custos de reexecução de pilares e atraso 
Uma obra residencial de grandes dimensões conta com uma central dosadora dentro docanteiro. A demanda diária de 2 mil 
m³ de concreto é complementada por outras duas empresas, que entregam o material em caminhões-betoneira. Até o 
fechamento desta edição, pelo menos 12 pilares, dimensionados com fck de 35 MPa, precisaram ser reforçados. Além disso, 
um tubulão, projetado com 1 m de diâmetro e fck = 20 MPa, precisou ser demolido e reexecutado. Segundo o laboratório, 
nos ensaios aos sete dias e 18 dias obtiveram-se resistências de 1,3 MPa e 6,6 MPa, respectivamente. Segundo o construtor, 
imediatamente começou a demolição do elemento estrutural, que durou quatro dias. A concreteira bancou o retrabalho, 
mas a construtora ficou com o atraso de 20 dias no cronograma da obra. 
 Diferenças de controle 
Atualmente, especialistas reconhecem que é quase impossível acompanhar adequadamente a qualidade da execução da 
estrutura sem ensaiar todos os caminhões-betoneira e sem realizar o mapeamento da concretagem. Mas a NBR 12.655:06 
admite o chamado "controle parcial" do concreto usado na estrutura. Veja as diferenças. 
Controle total 
Faz-se o ensaio de dois corpos de prova de cada betonada empregada na estrutura. Além disso, realiza-se o mapeamento do 
lançamento do concreto ao longo da estrutura, de modo que seja rastreável a região onde cada lote de concreto foi 
empregado. 
 
Controle parcial 
É o procedimento feito sem o completo mapeamento do lançamento do concreto ou em que são ensaiados exemplares de 
apenas algumas betonadas. 
 
Ensaios simplificados 
Pesquisadores estão estudando um novo método de ensaio que poderá, no futuro, fazer parte 
dos procedimentos de controle tecnológico do concreto. O francês Michel S. Lorrain, professor 
do Instituto Nacional de Ciências Aplicadas de Toulouse, esteve no mês de outubro em Curitiba 
para apresentar, no 51o Congresso Brasileiro do Concreto, o desenvolvimento de suas 
investigações sobre o Pull-out Test, ou Ensaio de Arrancamento. Procedimento simplificado, o 
ensaio consiste na verificação da força necessária para arrancar uma barra metálica aderida a 
um corpo de prova. As pesquisas mostram que existe uma forte correlação entre esta força de 
arrancamento e a resistência à compressão do concreto. A vantagem é que, sendo menos 
complexo e mais barato que os tradicionais ensaios de rompimento de corpos de prova, seria 
possível aos construtores realizar mais testes e acompanhar mais facilmente a evolução da 
resistência do concreto. Quando os conhecimentos sobre o assunto estiverem consolidados, 
pesquisadores acreditam que o ensaio possa ser normalizado, inclusive pela ABNT. Coordenada 
pela professora Mônica Pinto Barbosa, do Departamento de Engenharia Civil da Unesp 
(Universidade Estadual de São Paulo) Ilha Solteira, uma rede de pesquisadores brasileiros também está investigando o Pull-
out Test. Participam da iniciativa a UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), a PUC (Pontifícia Universidade 
 
Católica) Campinas e o Cefet-MG (Centro Federal de Educação Tecnológica). 
Dúvidas frequentes 
O que o construtor deve fazer quando os resultados dos ensaios de resistência dos 
corpos de prova ficam abaixo do fck determinado em projeto? 
Promover uma reunião, imediatamente, com a concreteira e a empresa de controle 
tecnológico do concreto para verificar a confiabilidade do resultado. Se o consenso for de 
que o valor é confiável, deve-se comunicá-lo ao projetista. 
Até que ponto é possível confiar nos resultados de ensaios de concreto realizados antes 
dos 28 dias? 
Sou cético com relação a isso. Hoje é comum moldar corpos de prova para rompimento 
aos sete dias. Acho um desperdício de tempo, dinheiro e energia, porque ninguém toma 
uma providência prematuramente, a não ser a própria concreteira. A construtora e o 
projetista só tomam a decisão aos 28 dias. Por isso acho inócua qualquer iniciativa 
antecipada. 
Quais os cuidados necessários na coleta do concreto e na moldagem do corpo de prova? 
O objetivo é que o concreto coletado represente o total do volume. A norma diz que se deve coletar o material do terço 
médio do caminhão-betoneira. Mas em concretos com slump baixo, construtores e concreteiros querem se ver livres da 
concretagem o mais rápido possível. Por isso, em comum acordo, podem adicionar mais água à mistura depois da coleta do 
material para moldagem do corpo de prova, gerando resultados diferentes. Dessa forma, por precaução, eu sugeriria moldar 
o corpo de prova mais para o final, no último terço. 
Por que os testes de aceitação do concreto não conseguem antecipar a baixa resistência dos corpos de prova? 
O teste de slump dá a certeza de que o concreto tem o mesmo traço, a mesma dosagem. Se houver um erro na central, ela 
pode enviar um concreto de 20 MPa no lugar de um de 40 MPa com o mesmo slump. 
Qual a margem de tolerância para a baixa resistência do concreto para que o calculista libere a estrutura, mesmo com 
valores abaixo do fck? 
Há trabalhos de doutorado que mostram que resultados até 10% abaixo do fck de projeto não merecem um investimento 
maior com diagnóstico, recálculo e todo o trabalho que envolve o reparo. Desde que isso não se repita com muita frequência 
na obra. 
Quais os elementos estruturais mais sensíveis à baixa resistência do concreto? 
São os elementos submetidos à compressão, ou seja, os pilares. Em algumas vigas com esforços cortantes grandes, o 
concreto também pode ser importante, mas nunca como um pilar em compressão. 
O desvio-padrão pode ser um parâmetro para avaliação, pelo construtor, da qualidade dos serviços da concreteira? 
Sem dúvida. Não apenas é um parâmetro para o construtor avaliar a qualidade e a eficiência da concreteira, como é um 
parâmetro de sobrevivência para a empresa: quanto menor for seu desvio-padrão, mais competitiva ela é. Vale consultar os 
valores previstos em norma técnica. 
 Debate 
A revista Téchne procurou reunir todos os lados envolvidos na polêmica discussão sobre concretos que não atendem à 
resistência característica à compressão estipulada em projeto. Representantes de construtoras, de concreteiras, projetistas 
estruturais, laboratórios, peritos e acadêmicos compareceram ao debate sobre o tema realizado na sede da Editora PINI, em 
 
Paulo Helene, professor da Escola 
Politécnica da USP e consultor 
especialista em concreto, tira 
dúvidas sobre concretos com 
baixa resistência 
São Paulo, no final de setembro. A coordenação do debate foi feita pelo engenheiro civil Ercio Thomaz, pesquisador do IPT e 
autor do livro "Tecnologia, Gerenciamento e Qualidade na Construção Civil" (PINI, 2001). 
Luiz, como as construtoras veem o problema do concreto que não atende a resistência à compressão determinada em 
projeto? 
Luiz Lucio - A gente tem falado sobre esse assunto quase todo dia. E quem consome mais concreto está tendo mais 
problemas ainda. As concreteiras se mostram solícitas para resolver o problema. Mas a solução não é tão simples depois que 
os problemas acontecem. Não adianta assumir a responsabilidade pelo problema da resistência, fazer a demolição do pilar 
ou da laje. Mas e o problema por que passamos: o tempo perdido, o desgaste, a desconfiança? 
Paulo e Luiz, quantas de suas obras tiveram problemas com baixa resistência? 
Paulo Sanchez - Todas as minhas obras hoje têm problemas. 
Lucio - Não são 100%, mas isso é o que me preocupa mais. Porque se fossem todas as obras, eu mandaria ensaiar tudo e 
acabou. 
Sanchez - Eu mando ensaiar 100% dos caminhões que chegam às minhas obras. Eu mando os resultados para o projetista e 
ele aprova. Eu tenho que ter um documento que aprove, com o cálculo, o não atendimento da resistência de projeto. A 
burocracia que estamos enfrentando é muito grande. Em cada obra, eu tenho problemas com um, dois ou três caminhões,mas eu sempre tenho. 
Mentone, que problemas podem ocorrer no processo de controle tecnológico? 
Fernando Mentone - O que eu acho fundamental em qualquer processo é a questão da rastreabilidade. Quando temos um 
corpo de prova com resultado baixo, sempre nos perguntamos se aquilo está correto. Então, procuramos atacar aquelas que 
podem ser as causas. Será que não trocaram o corpo de prova? Nós, por exemplo, na Concremat, colocamos etiquetas de 
código de barras. Nós também dobramos o número de fôrmas e só transportamos as amostras dentro delas, para fazer a 
desenforma no laboratório, um ambiente mais adequado. Mesmo assim pode haver problemas? Sim. Mas a gente procura 
atacar. 
Arcindo, qual a campeã de reclamações a respeito da qualidade do concreto? 
Arcindo Vaquero y Mayor - Não tenho a menor ideia. No Brasil nós fazemos 30 milhões de metros cúbicos de concreto por 
ano. Desse total, é pouco provável que se faça tudo errado. Nesse grupo, há empresas multinacionais gigantes cujo negócio 
principal é o concreto: Holcim, Lafarge, Supermix. São empresas sérias, que mexem com concreto há muitos anos. 
Sanchez - As concreteiras são excelentes. As empresas com que trabalhamos são as "top" de mercado. Mas por que no aço 
nós atingimos a excelência no recebimento e no concreto a gente não consegue? 
Paulo Grandiski - Há uma resolução do Inmetro que obriga o aço a já sair certificado de fábrica. Ou seja, a fábrica é obrigada 
a ensaiar. Não existe obrigação legal equivalente na área de concreto. 
Péricles Brasiliense Fusco - No processo de produção do aço, faz-se a coleta do material ainda líquido e se faz a análise 
química dele. Se houver necessidade, ele é corrigido. Além disso, tem a segunda parte: depois de o aço ser produzido, ele é 
testado dentro da fábrica. Como isso é absolutamente impossível com o concreto, não se pode comparar uma coisa com 
outra. 
Inês Battagin - Em nenhum lugar do mundo se faz isso. 
Juan, qual o índice médio de não atendimento do fck vocês têm observado nas obras em que participam? 
Juan Gadea - Estamos com uma obra que empregará 16 mil m³ de concreto. A quantidade de caminhões que deu abaixo do 
fck estipulado foi 1,1%. Em outra obra de que participei, foram utilizados 210 mil m³ de concreto. Fizemos o controle de 100% 
dos caminhões, com rastreamento. Controle total. A porcentagem de não atendimento do fck andou na casa dos 2%. Em 
nenhum caso foi necessário fazer quaisquer tipos de reforços, todos os concretos passaram. 
Fusco - É preciso entender porque esses números apareceram assim. Suponha que a central dosadora vá preparar um 
concreto pedido pelo cliente com, por exemplo, fck 40 MPa. Se a central dosadora centra a dosagem do concreto de modo 
que o valor da resistência média de seu concreto seja o valor da resistência característica pedido pela construtora, ou seja, 
40 MPa, metade dos resultados ficará abaixo do fck e metade ficará acima. São 50% de rejeição. Então, qual a solução para 
qualquer tipo de indústria? É para isso que existe o conceito de resistência de dosagem. É preciso desviar para cima a 
resistência média do concreto produzido, para um determinado valor que irá gerar, de fato, uma quantidade desprezível de 
rejeições. São os 5% que aparecem na norma 
Sanchez - Todas as obras apresentam não conformidade com relação ao concreto, isso é certo. Então, vamos para o nosso 
lado: eu recebo um concreto com resistência 34 MPa, abaixo dos 35 MPa especificados. Aí eu tenho que pegar esse valor e 
levar para o calculista avaliar. Ele aprova. Quase sempre aprova. Isso deve estar dentro desses 5%. Em nenhuma obra eu tive 
que fazer demolições, mas isso não é nenhuma maravilha. Nós só queremos entender, deste lado aqui, o seguinte: o que é 
admissível? O que está na norma? 
Grandiski - Concretos com resistências mais baixas que o fck de projeto estão previstos nas normas. Provavelmente deve dar 
esse valor de 5%. Do ponto de vista técnico, está tudo correto. Só que tem uma coisa: eu vi alguém falando erradamente que 
o construtor tem que engolir esses 5% de resultados sem reclamar. Aí eu não concordo. A Justiça Brasileira não concorda. 
Arcindo - Nós levamos em consideração todo um histórico do comportamento de todos os materiais. É a única forma que 
nós temos de fazer concreto: se eu entendo como os materiais funcionam ao longo do tempo, eu consigo me balancear. Eu 
tenho alguns instrumentos para mexer, de maneira que a resistência de dosagem seja a resistência média do concreto. O 
conhecimento desses materiais é fundamental. Outra coisa é fazer com que o desvio-padrão seja o menor possível, para que 
eu tenha a maior segurança possível de que os resultados estão variando muito pouco em torno da média. Isso é processo. 
Outra coisa que eu preciso calibrar é a minha qualidade dos ensaios. Eu não posso fazer um diagnóstico errado por que o 
ensaio dentro da concreteira foi feito errado. 
José Roberto Braguim - Só para polemizar um pouquinho, na grande maioria dos casos em que eu participei como consultor 
em análises de não conformidades, na hora em que a construtora pergunta para a concreteira o que aconteceu, não há 
resposta. A concreteira recebe um lote de insumos do concreto que altera nossa produção, mas essas informações não 
chegam para nós. Nós ficamos com um ponto de interrogação enorme. 
Grandiski - Vale a pena lembrar que a ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland) teve a coragem, no final do ano 
passado, de coibir a má qualidade do cimento de algumas empresas. Verdade que eram não associadas, mas, na fonte, havia 
cimentos não conformes; e muitas das situações eram aberrantes. 
Inês - A ABCP teve o cuidado de colher as amostras no varejo e mandar ensaiar no IPT para se ter neutralidade no processo. 
Com isso, conseguiu mostrar o que não estava bom. Dessas empresas que foram denunciadas, muitas saíram do mercado e 
outras melhoraram a qualidade de seus produtos para se adequar. Foi um verdadeiro saneamento. 
A Abesc tem algum sistema de notificações de não conformidade? 
Arcindo - Não, não tem. 
A entidade atende as reclamações sobre as concreteiras? Como isso é feito? 
Arcindo - Quando o problema chega ao nosso conhecimento, ele vai para o primeiro homem da companhia. Seja a 
Votorantim, seja a Polimix, qualquer empresa. Qualquer tipo de dificuldade: não atendimento de resistência, comerciais, de 
entrega, de qualquer ordem. Nós também temos um comitê técnico que se reúne para tratar de melhores práticas, seja para 
produção, seja para entrega. 
Que fatores podem levar à execução de uma estrutura com má qualidade? 
Gadea - Um problema grave que encontramos é o carregamento imediato. Termina-se de concretar a estrutura e se faz dela 
uma rua de acesso para caminhões-betoneira, para fazer descarga de materiais. São cargas altíssimas. As estruturas foram 
calculadas para cargas altíssimas, mas só depois dos 28 dias, e não é isso o que ocorre. Outro problema é a cura. É algo 
dantesco. Termina-se a concretagem em uma fábrica no Mato Grosso do Sul, sob um sol de 41ºC, e se deixam passar duas 
horas ou três horas até iniciar a cura. Não adianta depois reclamar de fissuração. 
Quais as consequências do concreto não conforme no que tange à deformabilidade da estrutura? 
Braguim - Essa questão está sendo bastante frequente quando o concreto é aplicado em lajes ou vigas. Normalmente, nesses 
elementos estruturais, que estão sujeitos apenas à flexão simples, o dimensionamento não é comandado pela resistência. 
Mas acontece um aumento da deformabilidade. Mas para isso existem muitas soluções. A mais criativa delas seria substituir 
o revestimento de piso por um graute de alta resistência com aderência planejada. 
E o que pode ser feito para que não afete a durabilidade? 
Braguim - O que tem sido feito é o seguinte:quando um concreto abaixo da resistência especificada é usado em qualquer 
elemento estrutural, e se isso implica perda de qualidade em relação à durabilidade, eu especifico que esse elemento seja 
revestido com uma argamassa sintética à base de epóxi. Essa argamassa tem capacidade de diminuir muito a agressividade 
do meio sobre o elemento estrutural. 
Como está sendo feito o escoramento remanescente nas obras? 
Braguim - Esse é um assunto que, no meu ponto de vista, foge muito ao controle do projetista estrutural. O que eu faço, e 
todos fazem, é especificar claramente no projeto qual é o esquema de escoramento. Isso está sendo aplicado, inclusive, 
numa obra que estamos fazendo na qual as concretagens ocorrem a cada quatro dias. A obra avança numa velocidade 
espantosa, com cinco pavimentos escorados, mais meio pavimento escorado. E a obra está sendo toda instrumentada e nós 
estamos fazendo o acompanhamento de sua evolução. 
Os laboratórios têm qualidade de equipamentos e aferições confiáveis? 
Mentone - Os laboratórios têm uma vantagem que a concreteira não tem. Há um sistema independente que julga a 
capacidade e a competência dos laboratórios em executar determinados ensaios. Esse sistema de acreditação é ligado ao 
Inmetro. O laboratório pode pedir essa acreditação junto ao Inmetro, que exigirá o atendimento a 24 itens de uma norma 
chamada NBR ISO 17.025. Mas nem todos os laboratórios são acreditados, e esse é um dos problemas da Abratec. Quando a 
entidade foi fundada, só aceitávamos os laboratórios acreditados. Nós deixamos de ser tão restritivos e passamos a exigir 
apenas que os que entrassem se comprometessem a se acreditar em dois anos. Poucos se acreditaram e a Abratec está 
restrita a um número pequeno de laboratórios. Eles podem errar, mas a probabilidade é menor, pois são auditados com 
certa periodicidade. 
Grandiski, já existe jurisprudência para casos que envolvam esse tipo de problema entre concreteiras e construtoras? 
Grandiski - Quando chega ao poder judiciário, a briga deixa de estar na área técnica para chegar na área jurídica. E nessa 
área, isso está consolidado. O CDC (Código de Defesa do Consumidor) já tem quase 20 anos e traz a Teoria da 
Responsabilidade Objetiva. Todos interpretam que o artigo 927 do Novo Código Civil abrange o segmento da Construção 
Civil. Nossas atividades normalmente implicam risco para terceiros. E, para convencer o juiz sobre esses famosos 5%, tenho 
usado bastante a análise de regressão, em que eu pego a série de resultados de corpos de prova de três dias, sete dias, 28 
dias e a data em que foi extraído o corpo de prova e faço algumas adaptações. As concreteiras exigem, por exemplo, que ao 
valor final do testemunho extraído se acrescente 10%. A curva, o juiz entende. A gente mostra qual seria a curva normal de 
crescimento. Então se tira o valor que o concreto deveria apresentar aos 28 dias para aquela série, e não por estatística. 
Quais as consequências, para o construtor, da entrega de concreto com resistência abaixo da especificada? 
Sanchez - No caso da estrutura, você tem primeiramente a análise pelo calculista daquele resultado que você recebeu. Ele 
pode passar ou não passar. O concreto não conforme pode "se transformar" em conforme. Se não passar, nós vamos para as 
tratativas. Essa é uma incógnita total para o empreendimento. Pode ir desde um prejuízo financeiro pelo retrabalho pontual 
até uma conjuntura final que pode inviabilizar a rentabilidade do empreendimento. Obra parada por um ou dois meses 
acaba com a rentabilidade do incorporador naquele empreendimento. As margens são muito pequenas. 
Lucio - Não adianta ter contrato, cláusulas disso e daquilo, porque elas não vão compensá-lo pelo prejuízo. Se você tiver um 
prestador de serviço com problema, é mais fácil tirá-lo da obra e colocar outro no lugar do que discutir o problema com ele. 
Isso acaba se arrastando dentro da obra. No caso do concreto, ainda bem que as empresas são prestativas, senão estaríamos 
mortos. O negócio imobiliário ficou muito financeiro. Então, hoje, qualquer detalhe é crucial para o construtor e 
incorporador. 
Grandiski - De fato, hoje a construção civil é um problema mais financeiro do que técnico. É o que vejo na prática, são poucas 
brigas na justiça. Na prática, é feita a seguinte conta: pagar, por exemplo, R$ 12 mil para reforçar o pilar vale mais a pena do 
que ficar com a obra parada por quatro dias, uma semana. 
E quais as soluções? 
Inês - Eu acho que a solução para o problema de não conformidade é mexer nas normas. O que eu consegui enxergar ao 
longo desse tempo que nós temos trabalhado é que muita gente não sabe o conteúdo das normas. Infelizmente, essa é uma 
realidade. Eu tenho feito o possível para chamar o maior número de pessoas para tomar parte nas discussões. Fico muito 
triste quando vejo que o número é bastante reduzido. Chamo os construtores para colocar nas normas efetivamente tudo o 
que precisa ser colocado. Atualmente vamos revisar a norma de extração de testemunhos de estruturas, estamos já 
discutindo a criação de um texto-base adequado. Precisamos das construtoras nas discussões. Na revisão da norma NBR 
12.655, houve presença maciça das pessoas, representantes de empresas envolvidas na questão. Nós conseguimos dar para 
a sociedade um documento que reflete o que a sociedade quer. Nós precisamos continuar fazendo isso. 
Quando o problema do não atendimento do fck começou? 
Fusco - Começou quando a Abece sentiu que algo precisava ser feito. Analisando o problema, cheguei à conclusão que a 
última folha, com as páginas 17 e 18, da NBR 12.655 precisa ser inteiramente trocada. O que está aqui não vale. Quando se 
descobriu que se precisava determinar o desvio-padrão do concreto dentro de cada caminhão, desapareceram os critérios 
de controle dessa norma. 
E que sugestões o senhor apresenta? 
Fusco - Primeiro, o controle total, verificando a resistência característica do concreto de cada betoneira. No caso do controle 
parcial - sem mapeamento da estrutura ou sem o controle de todos os caminhões - é preciso fazer uma avaliação estatística 
pela fórmula que ainda está aqui na página 17 da norma. 
O senhor admite a hipótese de não se fazer o mapeamento? 
Fusco - Não. 
Braguim, e do ponto de vista dos projetistas, o que pode ser feito? 
Braguim - Com relação ao projeto, não vejo nada em que se possa mexer. O arcabouço de pensamento em relação ao 
estabelecimento de segurança do projeto está muito bem formado. Existe muita coerência no que se faz quanto à 
segurança. Até acho que deveríamos diminuir o coeficiente de ponderação, porque o Brasil é um país pobre, haveria espaço 
para reduzir alguma coisa. 
Fusco - Quando me questionaram se o Brasil construía melhor do que a Alemanha para adotar coeficientes de segurança 
menores do que lá, minha resposta foi clara: não. Eu diminuo os coeficientes de segurança porque este é um País onde 
crianças morrem de fome. A segurança é uma necessidade social em todos os seus sistemas materiais. Nós estamos 
conformados com baixa segurança em vários sistemas materiais, então vamos deixar menor segurança no sistema estrutural, 
porque se aumentar a segurança não vai ser bom para o País como um todo. 
Braguim - Outra coisa é com relação às concreteiras. Essas empresas têm uma quantidade absurda de ensaios, 30 milhões de 
metros cúbicos. É necessário, do meu ponto de vista, transformar esse conjunto de dados em informação. É muito diferente 
ter um banco de dados e tirar daí uma informação útil. Eu acho que se poderia iniciar um planejamento para que todas essas 
informações de posse das concreteiras sejam divulgadas e possam servir de base de análise para empresas de projeto e 
construtoras. 
Gadea - Para mim, é fundamental levantar estatísticas para saberse estamos dentro dos 5%. Nas poucas vezes que medi, o 
índice ficou muito abaixo dos 5%: numa obra dava 1,2%, em outra 2%. Estavam bem abaixo, parece que estava normal. 
Outro aspecto: quando a não conformidade ocorre, passar imediatamente para o calculista. E quando isso ocorre, é 
fundamental que se façam notificações à Abesc. O controle de recebimento de materiais também é importantíssimo. Num 
determinado dia, em uma de nossas obras, que usava concreto autoadensável, a maior parte dos caminhões foi rejeitada. 
Muitos dias depois ficamos sabendo que mudaram a areia usada no concreto. Não houve um controle da areia. O controle 
dos materiais é fundamental assim como é fundamental que as construtoras recebam da concreteira um atestado que 
fornece agregados não reativos. 
Mentone - Sobre a avaliação do crescimento da curva de resistência, pode-se dizer que existe uma norma brasileira que 
permite fazer um ensaio rápido. Ela orienta que se aqueça o corpo de prova, e a partir disso se obtém uma curva que 
permite projetar o resultado. Mas, particularmente, eu acho muito difícil usá-la. Há uma variação muito grande de curvas de 
crescimento. Eu não sei se é mudança do tipo de cimento, de finura, cada um cresce de um jeito. No final, que projeção se 
pode fazer? Sobre os laboratórios, a Abratec pode fazer pouco porque são poucos os associados. O que recomendamos é o 
seguinte: exerça seu poder de compra, exija que o laboratório contratado melhore. O que a associação pode fazer é auxiliá-
lo nesse aprimoramento. Há quem diga que os laboratórios formam um cartel, mas não é isso o que acontece. A NBR ISO 
17.025 é uma norma do Inmetro, se o laboratório obedecê-la, estará acreditado. 
Lucio - Uma questão que poderíamos repensar é diminuir o número de normas. A Inês tem toda razão em pedir a presença 
das pessoas, mas as pessoas são muito demandadas. E não há ninguém disponível na equipe. Nós assumimos múltiplas 
funções dentro da empresa. Eu fico triste quando não podemos mandar ninguém para discutir a norma. Seria importante 
criar uma norma única para concreto, com tudo lá. Também temos que debater boas práticas. O projetista tem que ir para a 
obra, tem que ver o que nós estamos fazendo. 
Sanchez - Eu tenho uma ideia clara sobre por que estamos aqui. Na hora que recebo uma betoneira na obra com resistência 
abaixo da especificada, tenho um concreto não conforme. De um lado da mesa há o cliente, do outro, o fornecedor. Nós, 
construtores, não gostaríamos de receber esse concreto. A pergunta vai direto para as empresas que nos fornecem 
concreto: eu posso receber o concreto como a indústria automobilística recebe um freio do carro? Ela recebe um freio, se dá 
problema ela rastreia, sabe o lote etc. Eu quero que a concreteira me diga o que fazer quando ela entrega um concreto de 30 
MPa quando eu pedi um de 35 MPa. Porque uma betoneira, em mil que eu recebo, pode dar um problema sério. 
Grandiski - A norma me parece hoje imperfeita. O concreto que dá abaixo da resistência, mas está dentro do limite de 5% é 
conforme, pois isso está previsto em norma. Mas há uma responsabilidade da concreteira de corrigir o problema. Ou por 
reforço, ou por qualquer coisa que o valha. A NBR 12.655, versão de 1993, introduziu o conceito de controle total. Depois 
veio a versão 2006, em vigor hoje, que não obriga o controle total e não fala em rastreabilidade compulsória. Minha 
sugestão é que se imponham os dois. 
Arcindo - Nós, da Abesc, nunca tivemos um relacionamento tão bom com os Sinduscons (Sindicato da Indústria da 
Construção Civil) do Brasil inteiro. O mesmo com os laboratórios. Também nunca participamos de tantas normas. Nós 
também nunca vendemos um metro cúbico sem um contrato que não nos responsabilizasse pelo concreto que fazemos. O 
que eu acho que falta é um problema de comunicação. Sabemos que os 5% dos resultados podem ficar abaixo do fck. Mas 
nós percebemos que isso pode ser um problema enorme, nós entendemos. Temos que trabalhar em conjunto, com norma, 
comitê, Sinduscon, para deixar isso claro e evitar esse tipo de coisa. Porque a única coisa que nós temos para oferecer é 
concreto. A pior coisa que nos pode acontecer é dar resultado baixo. Sobre as informações das concreteiras, creio que 
possamos passar todas as informações necessárias. 
Fonte: Revista Téchne. Ed. 152

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