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ALÉM DOS 
CÓDIGOS
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL, HUMANISMO E HABILIDADES 
ESSENCIAIS PARA O ADVOGADO CONTEMPORÂNEO
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Alexandre G. M. F. de Moraes Bahia
André Luís Vieira Elói
Antonino Manuel de Almeida Pereira
António Miguel Simões Caceiro
Bruno Camilloto Arantes
Bruno de Almeida Oliveira
Bruno Valverde Chahaira
Catarina Raposo Dias Carneiro
Christiane Costa Assis
Cíntia Borges Ferreira Leal
Claudia Lambach
Cristiane Wosniak
Eduardo Siqueira Costa Neto
Elias Rocha Gonçalves
Evandro Marcelo dos Santos
Everaldo dos Santos Mendes
Fabiani Gai Frantz
Fabíola Paes de Almeida Tarapanoff
Fernando Andacht
Flávia Siqueira Cambraia
Frederico Menezes Breyner
Frederico Perini Muniz
Giuliano Carlo Rainatto
Gláucia Davino
Hernando Urrutia
Izabel Rigo Portocarrero
Jamil Alexandre Ayach Anache
Jean George Farias do Nascimento
Jorge Douglas Price
Jorge Manuel Neves Carrega
José Carlos Trinca Zanetti
Jose Luiz Quadros de Magalhaes
Josiel de Alencar Guedes
Juvencio Borges Silva
Konradin Metze
Laura Dutra de Abreu
Leonardo Avelar Guimarães
Lidiane Mauricio dos Reis
Ligia Barroso Fabri
CONSELHO EDITORIAL
Lívia Malacarne Pinheiro Rosalem
Luciana Molina Queiroz
Luiz Carlos de Souza Auricchio
Luiz Gustavo Vilela
Manuela Penafria
Marcelo Campos Galuppo
Marco Aurélio Nascimento Amado
Marcos André Moura Dias
Marcos Antonio Tedeschi
Marcos Pereira dos Santos
Marcos Vinício Chein Feres
Maria Walkiria de Faro C Guedes Cabral
Marilene Gomes Durães
Mateus de Moura Ferreira
Mauro Alejandro Baptista y Vedia Sarubbo
Milena de Cássia Rocha
Mirian Tavares
Mortimer N. S. Sellers
Nígela Rodrigues Carvalho
Paula Ferreira Franco
Pilar Coutinho
Rafael Alem Mello Ferreira
Rafael Vieira Figueiredo Sapucaia
Raphael Silva Rodrigues
Rayane Araújo
Regilson Maciel Borges
Régis Willyan da Silva Andrade
Renata Furtado de Barros
Renildo Rossi Junior
Rita de Cássia Padula Alves Vieira
Robson Jorge de Araújo
Rogério Luiz Nery da Silva
Romeu Paulo Martins Silva
Ronaldo de Oliveira Batista
Susana Costa
Sylvana Lima Teixeira
Vanessa Pelerigo
Vitor Amaral Medrado
Wagner de Jesus Pinto
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Jossiani Augusta 
Honório Dias
Além dos Códigos: 
Inteligência Artificial, 
Humanismo E 
Habilidades Essenciais 
Para O Advogado 
Contemporâneo.
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Mariana Brandão Silva - Bibliotecária - CRB -1/3150
Além dos Códigos : Inteligência Artificial, humanismo e habilidades 
essenciais para o advogado contemporâneo / Jossiani Augusta 
Honório Dias. – São Paulo : Editora Dialética, 2024.
244 p.
Dias, Jossiani Augusta Honório.D541a
Bibliografia.
ISBN 978-65-270-4430-7
1. Inteligência Artificial. 2. Humanismo. 3. Advocacia Moderna. I. Título.
www.editoradialetica.com
Copyright © 2024 by Editora Dialética Ltda.
Copyright © 2024 by Jossiani Augusta Honório Dias.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte 
desta edição pode ser utilizada ou reproduzida – 
em qualquer meio ou forma, seja mecânico ou 
eletrônico, fotocópia, gravação etc. – nem 
apropriada ou estocada em sistema de banco de 
dados, sem a expressa autorização da editora.
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EQUIPE EDITORIAL
Editores
Profa. Dra. Milena de Cássia de Rocha
Prof. Dr. Rafael Alem Mello Ferreira
Prof. Dr. Tiago Aroeira
Prof. Dr. Vitor Amaral Medrado
Coordenadora Editorial
Kariny Martins
Produtora Editorial
Júlia Noffs
Controle de Qualidade
Maria Laura Rosa
Capa
Maria Eduarda Steola
Diagramação
Cumbuca Studio
CDD-340
Preparação de Texto
José Rômulo
Revisão
Responsabilidade do autor
Auxiliar de Bibliotecária
Laís Silva Cordeiro
Assistentes Editoriais
Agatha Tomassoni Santos
Ludmila Azevedo Pena
Estagiários
Beatriz Mattos
Rayane de Souza Tavares
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PREFÁCIO 
Ricardo Castilho
 O ambiente acadêmico, meu espaço de realização profissional, de 
convivência social e de militância intelectual, me reserva, praticamente to-
dos os dias, gratas surpresas. A afabilidade dos colegas que me entregam o 
seu respeito e a sua confiança no dia a dia dos diálogos, na cumplicidade 
dos projetos e na partilha de experiências e conhecimentos, é, posso dizer 
sem metáforas, o alimento que me sustenta e me dá energia para seguir em 
direção a um futuro mundo melhor. E, a cada dia, renovo minha esperança 
no papel do advogado nessa busca pela felicidade coletiva.
Muitas e muitas vezes enfrentei situações em que precisei jus-
tificar por que um jurista aceita defender um assassino cruel, ou um 
usurpador de direitos, ou um assediador contumaz. Respondo sempre, 
e convicto, que o papel do advogado é assegurar que o acusado, mesmo 
autor de crime hediondo, tenha os seus direitos observados, e que seu 
julgamento se dê conforme todas as regras que lhe assegurem justiça. Não 
fosse assim, e retrocederíamos a um tempo sombrio em que não haveria 
segurança jurídica.
Embora o tempo passe, os costumes mudem e se faça necessária 
uma constante vigilância para que se mantenha o Direito em simetria 
com a realidade social e com a expectativa da sociedade, não muda o 
espírito humanitário do Direito, de ser o instrumento regulador da socie-
dade, sancionando obediência e transgressão com a dosimetria mais jus-
ta, mais adequada e mais humana. Para isso, o advogado do novo milênio 
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conhece, prática e incorpora os direitos humanos, os direitos fundamen-
tais e os direitos da personalidade.
O Direito tem códigos, conjuntos de diretrizes que reúnem, numa 
única lei, normas de um mesmo ramo do direito. São compilações orga-
nizadas que tomaram décadas e até séculos de estudos, reflexões, análises 
e práticas comparadas. Nosso Código Civil, por exemplo, tem inspiração 
na codificação realizada por Napoleão Bonaparte, em 1804. Nosso Códi-
go Penal traz, em sua gênese, a inspiração humanitária do pensamento 
de Cesare Beccaria (Dos delitos e das penas, 1764), com o princípio da 
proporcionalidade da pena à infração praticada, buscando suprimir – ou 
ao menos limitar – o arbítrio e a arrogância de juízes extremados.
Entretanto, e aplico esta palavra sem a sua acepção adversativa de 
conjunção, mas na sua classe de advérbio, que significa entrementes, nes-
se ínterim, nesse meio tempo, não mais a pena, o pergaminho, o livro de 
tombo, a datilografia, a estenografia, a transmissão de dados por ondas 
de calor, a telefonia, o computador, a web, a Internet das Coisas. A gera-
ção de dados se avoluma, se acumula, se avulta, às vezes se avilta. A ação 
humana é demandada a cada dia, ou a cada hora, mais e mais. Buscamos 
sem parar a ajuda das máquinas. O ábaco deu lugar aos grandes fichários 
eletrônicos, as linguagens se aperfeiçoam, surgem os algoritmos, a velo-
cidade de processamento ultrapassa a capacidade de reação do legislador 
e do julgador. E os falsários, que sempre existem, aprendem depressa, 
avançando antes que a lei os alcance, apesar de seus braços longos.
Estamos no ponto em que a inteligência humana se apoia em in-
teligência artificial, para o bem e para o mal. Num ponto em que pensar 
criticamente, com base na jusfilosofia e nos pensadores vem a ser o ca-
minho para estabelecer valores e normatizar atitudes que nos levem a 
adequar o escopo de nossas ações e habilidades para fazer frente àquilo e 
àqueles que pretendam enfrentar, desafiar e transformar as relações entre 
Direito, justiça e humanidade.
E aqui volto a pensar nas pessoas que, companheiras no entendi-
mento do papel do Direito, compartilham comigo ideias e reflexões para 
a atualização e refinamento da atividade advocatícia. Nome que se des-
taca nessa imensa planície que chamamos Academia é Jossiani Honório 
Dias. Vou sintetizar a sua história de dedicação ao Direito. Pós-douto-
ra em Democracia e Direitos Humanos pela Universidade de Coimbra, 
Portugal; doutora em Funçãoas minorias deferindo direitos. Já Norberto Bobbio 
preceitua que “trata-se dos direitos relacionados à engenharia genética”.43
A quinta dimensão ou geração foi marcada pelo avanço tecno-
lógico e pesquisa da biomedicina, retrata os direitos decorrentes desses 
fenômenos e pode ser chamada de dimensão dos direitos fundamentais. 
Toda essa construção histórica sucumbiu ao Estado o princípio 
da dignidade da pessoa humana como valor fundante e nuclear do orde-
namento jurídico, de forma que o ser humano é dotado de prevalência, e 
garantir a integridade e liberdade da pessoa humana é fator determinante 
do Direito.
Ao se referir ao valor dispensado à pessoa humana, Luís Roberto 
Barroso diz ser essencial garantir um mínimo de integridade à pessoa na-
tural em razão de sua existência humana, almejando explicitar o respeito 
obrigatório as condições materiais mínimas de existência, integridade fí-
sica, valores morais e espirituais. Evitando-se, portanto, a coisificação da 
pessoa e propiciando a valorização do ser em relação ao ter.44 
O Estado deve garantir os direitos fundamentais e viabilizar a 
concretização da dignidade humana, assegurando a liberdade e igualda-
de, não permitindo discriminações e preconceitos, promovendo trata-
mento desigual aos desiguais e igualitário aos iguais.
Precisamente, a ordem jurídica está em torno do princípio da 
dignidade humana, se existe um problema jurídico a solução é pensar 
o que será mais coerente e digno ao ser humano, de tal forma deve-se 
analisar também o centro do sistema jurídico, a Constituição Federal, 
ressaltando sempre a importância de reconhecer a plena realização e até 
mesmo a felicidade do homem. 
No Brasil, um país democrático, o princípio da dignidade da pes-
soa humana foi consagrado e ganhou força normativa e coercitiva, esta-
belecido como fundamento do Estado Democrático de Direito no art. 1º, 
43 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Carlos Nelson Coutinho (trad.) Rio de Ja-
neiro: Elsevier, 2004, p.6.
44 BARROSO, Luís Roberto. A dignidade da pessoa humana no direito constitucio-
nal contemporâneo: a construção de um conceito jurídico à luz da jurisprudência 
mundial. Belo Horizonte: Fórum, 2015, p. 680.
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III, da Constituição da República de 198845, além do caput do artigo 5º da 
Lei Maior46, que tutela a vida, a liberdade e a igualdade. 
A Constituição Federal colocou a pessoa humana em destaque ao 
dispor que sua dignidade representa um dos fundamentos da República 
Federativa do Brasil (art. 1º, III). Trata-se de “uma verdadeira cláusula ge-
ral de tutela e promoção da pessoa humana, tomada como valor máximo 
pelo ordenamento”, nos ensinamentos de Gustavo Tepedino: 
Com efeito, a escolha da dignidade da pessoa humana como fun-
damento da República, associada ao objetivo fundamental de er-
radicação da pobreza e da marginalização, e de redução das desi-
gualdades sociais juntamente com a previsão do § 2º do art. 5º, no 
sentido da não exclusão de quaisquer direitos e garantias, mesmo 
que não expressos, desde que decorrentes dos princípios adotados 
pelo texto maior, configuram uma verdadeira cláusula geral de tu-
tela e promoção da pessoa humana, tomada como valor máximo 
pelo ordenamento.47
A Constituição Federal Brasileira é de um documento pluralista 
que respeita acima de tudo a pessoa humana, permeia todo o ordena-
mento jurídico como ordem suprema, consagra princípios que compro-
metem o Brasil até mesmo na ordem internacional, requer acima de tudo 
uma sociedade justa e solidaria com a prevalência dos direitos humanos. 
Nesse sentido leciona Luís Roberto Barroso: 
Nesse ambiente, a Constituição passa a ser não apenas um siste-
ma em si – com a sua ordem, unidade e harmonia –, mas tam-
bém um modo de olhar e interpretar todos os demais ramos do 
direito. Este fenômeno, identificado por alguns autores como 
filtragem constitucional, consiste em que toda a ordem jurídica 
deve ser lida e apreendida sob a lente da Constituição de modo a 
realizar os valores nela consagrados. Como antes já assinalado, a 
45 Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Es-
tados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de 
Direito e tem como fundamentos: III - a dignidade da pessoa humana.
46 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantin-
do-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito 
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes.
47 TEPEDINO, GUSTAVO. Temas de direito civil. Editora Renovar: Rio de Janeiro, 
1999, p.48.
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constitucionalização do direito infraconstitucional não tem como 
sua principal marca a inclusão da Lei Maior de normas próprias 
de outros domínios.48
Inequívoco que a dignidade da pessoa humana, registrada em 
nossa Constituição Federal de 1988, em concretizar os direitos funda-
mentais do homem, de forma que tamanha abrangência torna difícil con-
ceituar com exatidão o que realmente expressa a essência desse princípio. 
Ingo Sarlet a conceitua como:
Qualidade intrínseca e distintiva reconhecida em cada ser hu-
mano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração 
por parte do Estado e da comunidade, implicando neste sen-
tido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que as-
segurem à pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho 
degradante e desumano, como venham a lhe garantir as con-
dições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de 
propiciar e promover sua participação ativa e corresponsável 
nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com 
demais elementos humanos.49
Notório que o valor supremo da ordem jurídica é garantir a 
dignidade humana a todos, considerando cada um na sua individu-
alidade, materializando sua personalidade, viabilizando a felicida-
de e satisfação do homem, elementos básicos para sua realização e 
desenvolvimento.
Perante esse sistema jurídico fincado na dignidade humana, 
pensa-se que o intuito é equilibrar a sociedade em geral. É certo que um 
princípio regedor universal deve e tem que alcançar todos independen-
te das diferenças. Nada obstante, diante das diversidades culturais isso 
se torna um tanto difícil. A atualidade carrega o Direito com situações 
de difícil resolução, devendo-se atentar para efetividade da igualdade, 
liberdade e outros elementos mínimos e constitutivo da dignidade da 
pessoa humana.
Para Rosana Cardoso Brasileiro Borges: 
48 BARROSO, Luís Roberto. A dignidade da pessoa humana no direito constitucio-
nal contemporâneo: a construção de um conceito jurídico à luz da jurisprudência 
mundial. Belo Horizonte: Fórum, 2015, p.35.
49 SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais 
na Constituição de 1988. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010, p. 60.
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Conceber o princípio da dignidade da pessoa humana ou os di-
reitos da personalidade como significados rígidos, fechados ou 
a-históricos impede a efetiva concretização da ampla proteção da 
pessoa. O direito não está separado da sociedade. Ao contrário, é 
um dos elementos que a compõem, sofrendo, portanto, constan-
temente, suas influências.50
A dificuldade do equilíbrio social se dá quando o comportamen-
to ultrapassa a experiência e as teorias sociais, assim como no caso da 
experiência com o avanço da tecnologia, embora tenha o direito brasi-
leiro progredido em relação a tutela dos direitos dos digitais, existe uma 
carência significativa de efetividade da tutela a privacidade dos dados e 
imagem, do indivíduo que utiliza as ferramentas digitais. 
Neste caminho tortuoso, com direitos amplos e reconhecidos a 
todos, porém de conceituação sistematizada, o fenômeno da tecnologia 
acarretou a problematização de assegurar a privacidade e segurançadas 
pessoas nos meios digitais. A evolução tecnológica transformou o concei-
to histórico de privacidade, de forma, a revelar ameaças contra cidadãos, 
empresas e até mesmo a governança pública, como importante mecanis-
mo de que efetivamente protejam a privacidade, mas não obstrua o de-
senvolvimento humano e social com o uso das novas tecnologias. 
 Categoricamente, os meios tecnológicos têm um relevante po-
tencial para o desenvolvimento humano, de forma que muitos doutrina-
dores entendem pela não regulamentação específica no momento pelo 
fato dos benéficos serem maiores que possíveis danos. 
Inquestionável é a necessidade de diretrizes e normatização, 
porque, reconhecidamente, a regulamentação deve ser centrada ao ser 
humano, de modo, a proteger direitos fundamentais e a dignidade da pes-
soa humana, já que algumas inovações tecnológicas, embora benéficas, 
afetam diretamente a privacidade, liberdade e proteção do ser humano. 
Os dados pessoais dispostos na internet, é um dos grandes pro-
blemas relacionado ao uso da tecnologia. Dados poderiam ser definidos 
como “um conjunto de registros sobre fatos, passíveis de serem ordena-
dos, analisados e estudados para se alcançar conclusões”. Estes dados, 
50 BORGES, Roxana Cardoso Brasileiro. Direitos de personalidade e autonomia pri-
vada. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 29.
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quando “organizados e ordenados de forma coerente e significativa para 
fins de compreensão e análise”, são chamados de informação.51
A tecnologia impactou a vida humana, são inúmeras as mudan-
ças em uma velocidade exponencial, a tecnologia mudou todas as áreas 
do conhecimento, inclusive as profissões jurídicas. O maior impacto é 
na própria vida de cada ser humano, o grande desafio é como manter o 
equilíbrio social, através de mecanismo imediatos que possam garantir e 
tutelar os direitos de personalidade e a dignidade humana. Superando o 
sectarismo social e fazendo valer a precípua missão estatal de preservar o 
sistema sob pena de ter-se um Estado vazio em seus propósitos.
Toffler, em 196552, publicou, na revista Horizon, um artigo em 
que preceitua: Inventei a expressão ‘choque do futuro’ para descrever a 
tensão arrasadora e a desorientação que causamos aos indivíduos, ao 
submetê-los a excessiva mudança num espaço de tempo demasiado 
curto. O autor afirma que a aceleração da mudança não se limita a afe-
tar indústrias ou nações; é uma força concreta que se infiltra profunda-
mente na vida pessoal, obrigando a representar novos papéis e colocan-
do frente a frente com o perigo de uma nova e muitíssimo perturbadora 
doença psicológica.
A ideia, portanto, é que reconhecer o princípio da dignidade hu-
mana, reforça a premissa que todos devem ser tutelados, cada sujeito com 
suas especificidades, de forma que a justiça e a igualdade alcancem todas 
as pessoas. Se o intuito é garantir ao homem um Estado Democrático de 
Direito, é inequívoco que a dignidade da pessoa humana deve ocupar um 
lugar central no pensamento filosófico, político e jurídico da sociedade.
Pedro Pais de Vasconcelos é contundente a respeito da importân-
cia da pessoa para fundamentação do direito: 
A pessoa humana constitui o fundamento ético-ontológico do 
Direito. Sem pessoas não existiria Direito. O Direito existe pelas 
pessoas e para as pessoas. Tem como fim reger a sua interação no 
Mundo de um modo justo. As pessoas constituem, pois, o princí-
pio e o fim do Direito.53
51 LACOMBE, Francisco José Masset et al. Administração – princípios e tendências. 
São Paulo: Saraiva, 2003. p. 490.
52 TOFFLER, Alvin. Choque do futuro. Lisboa. Edição Livros do Brasil, 1970, p. 8-19.
53 VASCONCELOS, Pedro Pais de. Direito de Personalidade. Coimbra. Edições Al-
medinas. 2014, p.6.
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Conferir dignidade ao ser humano, estabelecendo um funda-
mento moral para os direitos humanos, antecede o Holocausto, Haber-
mas diz ser incoerente a afirmação que a dignidade do ser humano só 
passou a ser pensada após as atrocidades do holocausto. O filósofo ale-
mão sustenta uma ligação explicita entre direitos humanos e dignidade 
desde sempre.54
No decorrer da história, vivem-se incessantes transformações, o 
desafio está em manter a convergência do direito com os avanços sociais. 
Presencia-se um momento de avanço tecnológico e formas de vivência 
virtuais jamais vistas. Entretanto, frequentemente o indivíduo é lesiona-
do em razão da insegurança dos meios virtuais. 
Há hodiernamente uma certa fragilidade na proteção dos dados 
pessoais, mormente a sociedade e ao ordenamento jurídico brasileiro te-
nham evoluído, o conjunto de informações coletadas que a cada dia se 
tornam mais disponível, e vulneráveis.
 Não há de olvidar que o progresso do ordenamento jurídico em 
relação à proteção humana é visível, contudo resta evidente que o siste-
ma jurídico se revela desprovido da efetiva proteção aos dados na era da 
informatização. 
Ressalta-se que atualmente o Direito através do princípio da dig-
nidade humana, coloca a pessoa e suas reais necessidades no centro da 
sistemática jurídica, de forma que o direito à privacidade e liberdade in-
seridos nos direitos humanos, fundamentais e de personalidade. Desta 
feita preconiza Elimar Szaniawski: 
O princípio da dignidade da pessoa humana, como bem obser-
va, funciona como um princípio gerador de outros direitos, em 
especial os direitos fundamentais materiais, e como fundamento 
de uma cláusula geral de tutela da personalidade, podendo ser im-
posto tanto ao poder público como também vincular as relações 
particulares, inclusive limitando espécies de liberdades públicas.55
Apesar da solidariedade ser marcada na CF no art. 3º, como 
um objetivo do Brasil ser um Estado protetor das pessoas humanas e do 
prisma que marca os direitos da personalidade, a real atualidade tinge 
54 4 HABERMAS, Jürgen. The concept of human dignity and the realistic utopia of 
human rights. Metaphilosophy, v. 41, n. 4, 2010, p. 464-480.
55 SZANIAWSKI, Elimar. Direitos de personalidade e sua tutela. 2. ed. rev. atual. São 
Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 35.
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as condutas humanas de insegurança e cerceamento da liberdade para 
uso da tecnologia, ferindo constantemente os direitos personalíssimo e a 
dignidade humana.
Neste esteio José Adércio Leite Sampaio, aponta:
o disposto no artigo 5º, inciso X da Constituição Federal, que diz 
serem “...invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a ima-
gem das pessoas...”, poderia ser apresentado como uma “regra e 
princípio”, que poderia ser expressada da seguinte maneira: “Estão 
proibidas as intervenções do Estado na esfera da intimidade e da 
vida privada das pessoas, se não forem previstas em lei ou se não 
forem necessárias ao cumprimento dos princípios opostos que, 
devido às circunstâncias do caso, tenham precedência frente ao 
princípio da inviolabilidade da intimidade e vida privada.56
Sob essa ótica, o Estado tem como dever efetivar as garantias 
constitucionais que fundamentam o livre exercício de uso da internet, 
defender e garantir os direitos dos seres humanos com tratamento igua-
litário e concessão de liberdade a todo cidadão. O princípio da igualdade 
vigente na Constituição Federal tem que atender os direitos de todos sem 
distinção, inclusive em relação a garantir acesso à internet a todo e qual-
quer cidadão. 
Em geral, tratando-se de termos evolutivos da espécie humana, é 
necessário que o indivíduo, qualquer que seja, não sofra restrições da sua 
para seu desenvolvimento individual. Para alcançar a justiça, é necessário 
se garantir a liberdade ao ser humano e esta tarefa pertence ao direito.
Uma sociedade justa é a harmonia e satisfação do homem que, 
criado à imagem e semelhança de Deus, tem de pôr fim a felicidade. 
Emergencial que o direito forneça mecanismos para que as pessoas pos-
sam utilizardas benevolências da tecnologia, sem serem expostas a vaza-
mentos de dados, e insegurança jurídica. 
Neste esteio, repensar o ordenamento jurídico e se voltar às situa-
ções emergenciais parece essencial para preservação do sistema. Adequar 
e suprir as lacunas a fim de garantir a autonomia da vontade, a liberda-
de e igualdade, princípios vetores do nosso ordenamento jurídico, é tão 
emergencial quanto a possibilidade de que a ordem jurídica permita que 
56 SAMPAIO, José Adércio Leite. A constituição reinventada pela jurisdição consti-
tucional. Belo Horizonte: Del Rey, 2002, p. 201.
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todo e qualquer cidadão tenha acesso aos avanços tecnológicos, assim 
como, os seus direitos personalíssimo garantidos.
É mister que o Estado deve ao reconhecer o ser humano como 
portador de direitos inerentes à sua própria natureza, independentemen-
te de qualquer atributo, os direitos humanos são entendidos como os di-
reitos que os seres humanos possuem e que devem prevalecer como váli-
dos e reais mesmo que só exista um único ser humano vivente na Terra. 
Tal condição se deve ao reconhecimento de que cada ser é único em sua 
individualidade e, logo, portador da dignidade inerente à sua condição 
humana. Pertencer à humanidade deveria ser assegurado pela própria 
essência humana, entretanto não há nada que garanta que isso seja pos-
sível, e assim, paradoxalmente, a Declaração Universal manteve o campo 
político ao se referir à sociedade, à família e à comunidade e reconheceu, 
ainda que implicitamente, a necessidade do coletivo, da pluralidade, para 
que os direitos humanos se realizem.57
Sob outro prisma, o contraste existente entre a proliferação de 
documentos que corporificam, monitoram e buscam vincular os direitos 
humanos e o descrédito daqueles que negligenciam o seu conteúdo, ou 
seja, o abismo entre o que se diz e efetivamente o que se faz direciona ao 
entendimento de que não basta o engajamento em movimentos práticos 
de efetivação dos direitos humanos, exige-se mais que isso, demanda-se 
conjuntamente um aprofundamento teórico que analise suas questões e 
seus pressupostos.58
Nesse diapasão, depara-se com o fato de que a própria “funda-
mentação dos Direitos Humanos (e fundamentação no duplo sentido da 
produção de validade e de apresentação de razões justificadoras) exige 
um gerenciamento de paradoxos”. 59
Destaca-se, uma nova era de ética digital, sendo indispensável 
atribuir dignidade para a regulamentação do mercado de dados à luz 
de tendências tecnológicas como a Internet das coisas, e a ascensão da 
57 ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo: antissemitismo, imperialismo, tota-
litarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. p. 258.
58 TOSI, Giuseppe. Direitos humanos: uma retórica vazia. Revista Symposium. Ciên-
cias, Humanidades e Letras. Ano 3, número especial, p. 47-59, dez. 1999. p. 48.
59 LUHMANN, Nicklas. O paradoxo dos direitos humanos e três formas de seu des-
dobramento. Tradução: Ricardo Henrique Arruda de Paula e Paulo Antônio de 
Menezes Albuquerque. Themis, Fortaleza, v. 3, n. 1, p. 153-161, 2000. p. 154.
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inteligência artificial. A comercialização de dados levantam importantes 
questões éticas e práticas para a aplicação da proteção de dados
Desse modo, os princípios de proteção de dados, precisam explo-
rar diferentes rotas para personalizar os princípios de proteção de dados 
existentes para se adequar ao mercado digital global. As principais ten-
dências identificadas, é em relação a grande escala de coleta de dados, 
sua onipresença e poder, a natureza muitas vezes íntima dos dados em 
questão e o fato de que o processamento de proteção desses dados é me-
dida urgente. 
Ademais, novas perspectivas éticas e legais passaram a ser impres-
cindíveis para resolver os problemas atuais de privacidade e proteção de 
dados. Portanto, explorar uma abordagem inovadora, formular um novo 
quadro ético no qual se respeite a dignidade humana, pode ser o contrape-
so à vigilância generalizada e à assimetria de poder no mercado de dados. 
A dignidade humana deve estar no centro de uma nova ética digital.
A escolha pela dignidade como ponto de partida pode ser vista 
no contexto da proteção dos direitos humanos, no direito da União em 
que a inviolabilidade da dignidade humana desempenha um papel ful-
cral, a dignidade de um ser humano não é apenas um direito fundamen-
tal em si, mas constitui a base dos direitos fundamentais, incluindo os 
direitos à privacidade e à proteção de dados. Considera-se a designação 
da dignidade humana como uma camada extra que resulta em um direito 
à privacidade
Vimos que, não obstante, um ordenamento jurídico que prepon-
dera o homem e que tem por objetivo a dignidade da pessoa humana, a 
proteção da privacidade no ambiente virtual não está apenas relacionada 
à ética, direito, indústria, tecnologia e outros campos, mas também en-
volve um grande número de indivíduos, grupos, empresas e instituições 
e, portanto, propõe construir o padrão sistema, sistema de registro de 
informações de produtos, sistema de rastreabilidade, sistema de recom-
pensa de informações dentre outros. 
 Em suma, com o advento de novas tecnologias, a informatiza-
ção de dados não apenas oferece oportunidades sem precedentes para o 
desenvolvimento social e econômico, mas também traz alguns novos de-
safios. Para garantir o desenvolvimento saudável e rápido da economia e 
da sociedade na era dos dados, com atenção e fortalecimento da a revisão 
e melhoria do sistema jurídico existente, para dar pleno jogo à eficácia 
da lei, para que as informações pessoais dos cidadãos possam ser utili-
zadas racionalmente sob a premissa de que a segurança está totalmente 
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protegida, o que contribui para o desenvolvimento econômico e social, a 
segurança nacional e a estabilidade social e o asseguramento da Dignida-
de da Pessoa Humana. 
1.3. DIREITO DA PERSONALIDADE NA ERA DA SOCIEDADE DE INFORMAÇÃO
Os direitos da personalidade em geral foram positivados pela 
primeira vez na Lei Romena de 1895, posteriormente em 1900, o Código 
Alemão assegurou o direito ao nome, em 1907 o Código Suíço conferiu 
a necessidade de preservação do nome, zelando como atributo da perso-
nalidade humana.
Um novo relevo dos direitos da personalidade se deu com o Có-
digo Civil Italiano de 1948, que disciplinou outros aspectos da personali-
dade elencando o direito ao próprio corpo, direito ao pseudônimo, direi-
to à imagem, e outros direitos intrínsecos aos seres humanos. Apesar da 
controvérsia terminológica, é certo que a proteção de dados pessoais tem 
em comum com a privacidade sua raiz nos direitos de personalidade.60
A categoria dos direitos da personalidade é construção recente, 
fruto de elaborações doutrinárias germânicas e francesas da segunda me-
tade do século XIX.61 Os direitos de personalidade são aqueles atrelados 
à pessoa em si mesma e suas projeções na sociedade, que constituem as 
“condições essenciais ao seu ser e devir”. São “indispensáveis ao desenro-
lar saudável e pleno das virtudes psicofísicas que ornamentam a pessoa”, 
que resguardam a dignidade humana.62
Trançando outros desdobramentos, o Código Civil Português 
de 1966 tutelou especificamente tais direitos em capítulo próprio, da 
mesma forma fez o nosso atual Código Civil Brasileiro de 2002. Apesar 
de previamente assegurados na nossa Constituição de 1988, a positiva-
ção dos direitos da personalidade em ordenamento infraconstitucio-
nal no ano de 2002, reforçou e assegurou mais força normativa a esse 
instituto tão importante e tão necessário no arcabouço das garantias 
60 PINHEIRO, Alexandre Sousa. Privacy e protecção de dados pessoais: a constru-
ção dogmática do direito à identidade informacional. Lisboa: AAFDL, 2015, p.39. 
61 TEPEDINO, Gustavo. A tutela da personalidade no ordenamento civil-constitu-cional brasileiro. In: TEPEDINO, Gustavo. Temas de Direito Civil. Rio de Janeiro: 
Renovar, 1999, p. 23. 
62 JABUR, Gilberto Haddad. Liberdade de pensamento e direito à vida privada. São 
Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 28.
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pessoais, inclusive protegendo o nome, concretizando o princípio cons-
titucional da dignidade da pessoa humana, previsto no artigo 1º, inciso 
III, da Constituição Federal. 
Neste esteio, é determinante analisar os direitos de personalida-
de, direitos que visam proteger os aspectos internos vivenciais de cada 
pessoa, sugere Roxana Borges, no livro Direitos de personalidade e auto-
nomia privada, o seguinte:
Por meio dos direitos de personalidade se protegem a essência da 
pessoa. Pode-se perceber que na era dos dados, casos de violação 
de informações pessoais são comuns, na era dos dados. A crise 
se tornou um novo tipo de problema que temos que enfrentar. 63
Proteger efetivamente as informações pessoais sob tal crise de 
informação não é apenas um problema urgente dos tempos e da socie-
dade, mas um problema jurídico que a comunidade jurídica precisa ur-
gentemente resolver. Como proteger efetivamente a segurança dos dados 
pessoais na era da informação não é apenas para proteger os direitos bá-
sicos e a dignidade dos indivíduos, para promover o desenvolvimento da 
indústria de dados, e suas principais características 
Prossegue a autora Roxana Borges64 em texto denominado Cone-
xões entre direitos de personalidade e bioética: “Os direitos mais próxi-
mos ao valor dignidade como fonte são os direitos da pessoa”.
Ressalta-se que o arcabouço relativo ao direito de personalidade 
não é recente, há muito já existia a preocupação de assegurar os direitos 
fundamentais de cada pessoa, tratando-se de direitos que se desenvolve-
ram aos fundamentos da valorização da pessoa humana. Traçados para 
garantir o contentamento humano retratados em documentos como a 
Declaração dos Direitos do Homem de 1789 e a Declaração Universal dos 
Direitos Humanos de 1948.
Retratar integralmente os direitos da personalidade é tarefa ár-
dua, tendo em vista a diversidade da contextualização humana, a prote-
ção deve abranger a integridade física, psíquica, moral e intelectual do 
indivíduo. Compreende-se serem algumas condições indispensáveis ao 
ser humano, o direito à vida, ao nome, a honra, a imagem, a intimidade, 
63 BORGES, Roxana Cardoso Brasileiro. Direitos de personalidade e autonomia pri-
vada. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p.120. 
64 BORGES, Roxana Cardoso Brasileiro. Direitos de personalidade e autonomia pri-
vada. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 152.
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a liberdade de expressão, entre outros que inequivocamente integram di-
reitos fundamentais do ser humano. 
No entendimento de Tartuce65, os direitos da personalidade en-
globam “a vida e a integridade física-psíquica; o nome da pessoa natural 
ou jurídica; a imagem; a honra, com repercussões físico-psíquicas, englo-
bando a honra subjetiva (autoestima) e a objetiva (repercussão social da 
honra) e a intimidade”.
Em tese, esses direitos são intransmissíveis, inalienáveis, abso-
lutos, imprescritíveis e vitalícios. Farias e Rosenvald esclarecem que “a 
compreensão dos direitos da personalidade deve ocorrer em perspectiva 
de relativa indisponibilidade, impedindo que o titular possa deles dispor 
em caráter permanente ou total”. Complementam ainda:
Em casos específicos (não são todos!), limitados pela afirmação 
da própria dignidade humana e pela impossibilidade de disposi-
ção em caráter total ou permanente, é permitido ao titular ceder 
o exercício (e não a titularidade) de alguns dos direitos da perso-
nalidade. É o exemplo do direito à imagem, que pode ser cedida, 
onerosa ou gratuitamente, durante determinado lapso temporal.66
É mister que alguns direitos prevaleçam sobre outros visando 
garantir os direitos para a formação da personalidade, o que é essen-
cial para que se possa usufruir das demais garantias do ordenamento. 
Nesse sentido, Orlando Gomes conceitua Direitos da Personalidade da 
seguinte forma:
São direitos essenciais ao desenvolvimento da pessoa humana, 
que a doutrina moderna preconiza e disciplina, no corpo do Có-
digo Civil, como direitos absolutos. Destinam-se a resguardar a 
eminente dignidade da pessoa humana, preservando-a dos aten-
tados que pode sofrer por parte de outros indivíduos. Ou, por fim, 
como define Francisco Amaral, “direitos da personalidade são di-
reitos subjetivos que têm por objeto os bens e valores essenciais da 
pessoa, no seu aspecto físico, moral e intelectual.67
65 TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. Rio de Janeiro: Método, 2015, p. 58.
66 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direito Civil: teoria geral. 
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2012, p. 35.
67 GOMES, Orlando. Introdução ao Direito Civil. 18. ed. Rio de Janeiro: Forense, 
2001, p. 243.
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Em verdade, os direitos da personalidade resguardam direitos 
subjetivos e inerentes ao homem, asseguram um mínimo comum que 
reconhece à pessoa dignidade e projeção social, são veiculados a todos 
que a partir do nascimento com vida passam a ser sujeitos de direitos e 
deveres. Não é possível delimitar com precisão os direitos da personali-
dade, deve-se observar o contexto histórico, a condição humana, a parti-
cularidade de cada um, enfim a diversidade da realidade da vida humana 
de uma pessoa no meio social.
 Manifesta-se que os direitos da personalidade visam assegurar 
a integridade física e moral do ser humano, independentemente de cor, 
credo etc. Ressalta-se a importância do direito à identidade, ou seja, o di-
reito de ser visto como se realmente é, o que está incorporado aos direitos 
da personalidade e deve ser conferido a todos sem qualquer distinção.
Considera-se que a época atual impõe a Dignidade como con-
dutora de todo ordenamento jurídico é inexorável a importância do ho-
mem, um ser que encerra um fim em si mesmo, de forma que destituir 
seus direitos ou coisificá-lo, deixando que dados pessoais sejam comer-
cializados, vazados, é ofender a personalidade humana.
Apesar de se basearem na dignidade, os direitos de personalidade 
apresentam características de liberdade reconhecidas ao beneficiário, o 
que implica ainda que parcialmente em disponibilidade. Deve-se partir 
da noção de autonomia, que confere poder de auto-regulamentação dos 
interesses privados. A regra é a impossibilidade de limitação voluntária, 
mas exceções são concedidas para preservar o livre desenvolvimento.68 
O entendimento da proteção de dados como direito da persona-
lidade, cuja importância é destacada para a promoção da autodetermina-
ção do indivíduo, marca uma nova fase de tutela, que requer tratamento, 
também, dentro da jus fundamentalidade do Direito. 
A tecnologia está avançando em um ritmo drástico que a legisla-
ção às vezes se esforça para acompanhar. As novas formas de reprodução 
digital de seres humanos trouxeram consigo questões relativas à proteção 
dos Direitos da Personalidade. Esses direitos divergem consideravelmen-
te de uma jurisdição para outra, em uma variedade de tópicos, como o 
reconhecimento de proteção póstuma ou o alcance do direito à priva-
cidade versus direitos de publicidade, além de outras situações em que 
os direitos fundamentais se colidem. Coloca-se, portanto, a questão de 
68 CORDEIRO, António Menezes. Tratado de Direito Civil Português, Parte Geral, 
Tomo III, 2. ed. Lisboa: Almedina, 2007, p. 115. 
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como a evolução dos direitos da personalidade na jurisdição para inferir 
sobre a forma como os direitos de imagem dos indivíduos serão protegi-
dos na era dos dados, bem como, no futuro de reproduções digitais cada 
vez mais realistas.
À medida que a tecnologia continua a evoluir, desenvolveram-senovas formas hiper-realistas de reproduzir digitalmente as pessoas, como 
os hologramas. O uso da imagem na tecnologia recente é mais íntimo 
e intrusivo do que costumava ser. Os hologramas são réplicas exatas de 
pessoas vivas ou falecidas, são produzidos avatares, tão exatos que será 
difícil distinguir a ficção da realidade. Esses avatares poderiam ser cria-
dos com a aparência física e o nome de seres humanos da vida real. 
O crescente hiper-realismo da tecnologia levará a violações mais 
graves dos direitos de imagem dos indivíduos. Portanto, pode-se razo-
avelmente acreditar que a legislação se adequará reforçando a proteção 
dos direitos da personalidade das pessoas. Portanto, devem ser adotadas 
as medidas necessárias para proteger de forma equitativa os direitos da 
personalidade e a liberdade de expressão.
1.4. A LEGALIDADE CONSTITUCIONAL E O DIREITO À IMAGEM PRIVACIDADE 
HONRA E INTIMIDADE NO BRASIL
Devido ao progresso tecnológico que caminha a passos largos, 
o direito à imagem assumiu uma posição de destaque no contexto dos 
direitos da personalidade não apenas no que diz respeito ao alcance da 
facilidade de sua captação, mas também pelo valor econômico que foi 
atrelado à imagem em razão da associação de dados pessoais.
Antigamente, o que despertava a preocupação com esse direito, 
era o fato da invenção e o desenvolvimento da fotografia, pois naquela 
época, poderia ser obtida apenas por meio de pintura, desenho ou escul-
tura, assim, na maioria das vezes, era precedida de autorização, afastando 
qualquer tipo de polêmica. As novas tecnologias de captura de imagem 
ameaçaram esse direito que se tornou perceptível a cada dia e de inúme-
ras formas, e como consequência ser valorado como bem constitucional-
mente protegido.
Desta forma, a proteção constitucional da própria imagem apre-
senta a sua classificação por dois conceitos distintos, sendo eles: imagem-
-retrato decorrente de expressão física do indivíduo e imagem-atribu-
to apresentação social do indivíduo. Sendo construída, pela doutrina e 
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jurisprudência, a partir de decisões históricas dos Tribunais da França, 
dos Estados Unidos e da Inglaterra, desenvolveu-se de modo marcante 
neste século e muitos países têm se preocupado com a proteção do direito 
à imagem decorrente da expressiva evolução tecnológica e seus reflexos 
na sociedade.
O direito à imagem está inserido no rol dos direitos da personali-
dade, por se tratar de um direito ligado à vida privada, do íntimo de cada 
indivíduo é que o torna muito importante e necessário nos dias atuais, 
com tanta tecnologia de captura de imagens, sons e vídeos.
Hodiernamente, para assegurar essa proteção há diversos dispo-
sitivos de lei, externando sua indispensabilidade, desse modo, vem sendo 
visualizada há muito tempo, com a procura por eternização de determi-
nados acontecimentos na vida dos indivíduos. Desta forma Carlos Ro-
berto Gonçalves citando Antônio Chaves aponta que o direito à imagem 
pode ser entendido como: 
A definição segundo a qual seria o direito de impedir que ter-
ceiros venham a conhecer a imagem de uma pessoa, pois não se 
pode impedir que outrem conheça a nossa imagem, e sim que use 
contra a nossa vontade...”, nessa questão, com diversos meios de 
conseguirmos informações nesse mundo moderno, não há como 
impedir que alguém nos reconheça através de fotos, vídeos entre 
outros, já que existem muitos meios para isso como as redes so-
ciais por exemplo, mas o que pode ser feito é impedir que alguém 
uso a imagem alheia com a vontade do retratado lhe causando 
algum desconforto. 69
Ou seja, a proteção da imagem ocorre pelo fato que muitas pes-
soas, fazem uso da imagem de outros indivíduos para fins maliciosos e 
difamatórios, ferindo seu particular sua vida privada. Luiz Alberto e Da-
vid Araújo expõem que “A imagem, tem um novo conceito, decorrente 
do desenvolvimento das relações sociais.” Sendo estas relações ligadas ao 
que os indivíduos são dentro da sociedade qual seu papel, a imagem se 
relaciona com o modo que as pessoas enxergam uns aos outros, demons-
trando que esse direito deve ser preservado.70
69 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil brasileiro: Parte geral. v. 1, 10 ed. São 
Paulo: Saraiva, 2012, p. 203.
70 ALBERTO, Luiz e ARAUJO, David A proteção constitucional da própria imagem. 
2 ed. São Paulo: Verbatim, 2013, p. 27.
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Gilberto Jabur citando Walter de Morais expõe sobre proteção a 
imagem, relata que vai além da simples reprodução do retrato da pessoa:
Ao contrário do que infunde a semântica da palavra, a imagem 
não é limitada ao aspecto visual ou físico do ser humano. Múltiplas 
formas a retratam, além-reprodução de sua aparência, através de 
foto ou retrato que contenha seu semblante. Qualquer expressão 
“formal e sensível” basta para a fazer assimilar a imagem. Deveras, 
“não só o aspecto físico global ou o semblante poderão configurar 
a imagem. Também as partes destacadas do corpo, desde que por 
elas se possa reconhecer o indivíduo, irão constituir a imagem na 
acepção jurídica.71
Entende-se, que apesar de o direito à imagem estar associado a 
outros bens, como a dignidade e a honra, ele é autônomo, não possui par-
te integrante deste. É possível, ofender-se a imagem, sem atingir a honra 
das pessoas. Assim, o direito à imagem: em definição simples, constitui 
a expressão exterior sensível da individualidade humana, digna de pro-
teção jurídica. Para exemplificar temos dois tipos de imagem que podem 
ser concebidos, como imagem-retrato que é literalmente o aspecto físico 
da pessoa, e a imagem-atributo correspondente à exteriorização da per-
sonalidade do indivíduo, ou seja, à forma como ele é visto socialmente. 
Portanto, considerando que a imagem, que abrange até mesmo a 
transmissão da palavra, ou seja, a voz, traduz a essência da individualida-
de humana, e a sua violação carece da via judicial. Sendo assim, não só a 
utilização indevida da imagem, mas também, o desvio de finalidade do 
uso não autorizado caracteriza violação ao direito à imagem, devendo o 
responsável responder pelos seus atos. 
Essa preocupação com a imagem data de muito antes das civili-
zações modernas, como exemplo, a arte rupestre nas cavernas onde ar-
queólogos encontraram figuras de milhões de anos atrás, o homem re-
produzindo imagens de como era a vida naquele período. Como também 
no Egito antigo, com várias formas de representações em pedras esculpi-
das há muito tempo, retratando os hábitos dos habitantes daquela época. 
Também como em outros lugares e ou diferentes épocas ao longo dos 
anos onde, foi sendo criadas diferentes formas de representação do ser 
71 JABUR, Gilberto Haddad. Liberdade de pensamento e direito à vida privada: 
Conflitos entre direitos da personalidade. São Paulo: ERT, 2000, p. 268-269.
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humano, pois havia a necessidade de representar a si próprio por meio de 
objetos que poderiam eternizar determinado momento.
Com a evolução da humanidade e conforme a sociedade foi 
tendo noção da valorização do íntimo e da eternização de momentos, 
para cada indivíduo houve diversos pensamentos e conclusões sobre o 
assunto ao longo dos séculos, mas com a reforma protestante, conforme 
aponta Leonardo Zanini, quando se iniciou a preocupação com a ima-
gem das pessoas impulsionadas pelo humanismo dado à ideia dissemi-
nada pela proteção dos direitos da personalidade, desde aquela época 
já havia a necessidade de proteção, porém esses direitos ainda não es-
tariam totalmente em cheque, pois havia inúmeras discussões sobre o 
que seria o mais correto.72
Desta forma, com o desenvolvimento da sociedade essa necessi-
dade de auto eternização através de objetos continuou seu caminho, con-
forme apontam Luiz Alberto e David Araújo o direito à imagem iniciou 
sua trajetória com a invenção e expansão da fotografia, considerandose 
tratar da representação de uma pessoa pela reprodução de sua imagem 
por meio de equipamentos tecnológicos, ou não, assim houve a preocu-
pação dos juristas com a proteção a essa difusão da imagem das pessoas 
e suas implicações.73
De acordo com Sandra Sahm “A positivação do bem da imagem, 
matéria cujas raízes também remontam a tempos imemoriais, deve-se 
de forma imediata à intervenção da técnica da fotografia por Niepce e 
Daguerre, na França, em 1829.” E após essa técnica houve uma revolução 
no que se refere à proteção da imagem das pessoas.74
Porém, só foi disseminado com o poder tecnológico no final do 
século XIX de acordo com Leonardo Zanini, desta forma o direito à ima-
gem gradativamente ganhando espaço, pelo reconhecimento que o retra-
to de uma pessoa poderia lhe trazer benefícios bem como os males, mas 
esse direito não tem data específica de início, apenas sendo propagado 
pela sua dada importância. Assim, considerando a necessidade de impor 
72 ZANINI, Leonardo Estevam de Assis. Direito à imagem. Curitiba – PR: Japurá, 
2018, p. 27.
73 ALBERTO, Luiz e ARAUJO, David A proteção constitucional da própria imagem. 
2 ed. São Paulo: Verbatim, 2013, p. 18.
74 SAHM, Regina. Direito à imagem no direito civil contemporâneo: de acordo com 
o novo código civil, Lei nº 10.406, de 10-02-2002. São Paulo: Atlas, 2002, p. 43.
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limites a essa nova tecnologia, surgindo às jurisprudências e depois veio 
à legislação.75
Conforme relata Sandra Sahm, citando Joseph Kohler sobre a 
proteção ao individual “Inicialmente, a legislação alcançou desenvolvi-
mento na Alemanha, onde era comum a utilização desautorizada da ima-
gem feminina para compor embalagens e publicidade de cosméticos...” 
assim a primeira lei que surgiu após a invenção da fotografia foi na Ale-
manha em 1876, que foi seguida pela lei belga sobre o direito de autor em 
1886 e pela lei japonesa em 1899.76
Sendo assim, quando se iniciou a expansão da fotografia, essa 
tecnologia era ainda rústica, sempre havia a necessidade de pedir auto-
rização para realização da captação da imagem do indivíduo, desta for-
ma, a preocupação com a imagem, porém de maneira ínfima. Mas, com 
o surgimento de câmeras com tecnologia mais avançadas e com poder 
maior de captar imagens, começaram a perceber que quando alguém re-
gistrava uma imagem, poderiam existir por muito tempo até mesmo sem 
o consentimento da pessoa e assim não sabendo as consequências e da-
nos que essa foto poderia trazer ao indivíduo no futuro, conforme aponta 
Leonardo Zanini.77
No final do século XIX, na França e em vários outros países, com 
inúmeras decisões dos tribunais que levaram a ser consideradas jurispru-
dências a respeito do direito à imagem, com as novas câmeras fotográfi-
cas havia maior facilidade na captura dos momentos íntimos ou não dos 
indivíduos, sendo assim, uma enxurrada de fotos sem consentimento e 
de todos os tipos, inclusive de pessoas falecidas, muitos tiravam fotos e 
faziam ampla divulgação tanto de pessoas desconhecidas quanto conhe-
cidas na sociedade, uma decisão conforme relata Leonardo Zanini citan-
do Pierre Kayser dispõe:
A corte, ao jugar a demanda asseverou que ninguém pode, sem 
consentimento expresso dos familiares, publicar ou divulgar a fi-
sionomia de uma pessoa em seu leito de morte, mesmo que se 
trate de uma celebridade. Foi ainda declarado que o direito de se 
75 ZANINI, Leonardo Estevam de Assis. Direito à imagem. Curitiba – PR: Japurá, 
2018, p. 27.
76 SAHM, Regina. Direito à imagem no direito civil contemporâneo: de acordo com 
o novo código civil, Lei nº 10.406, de 10-02-2002. São Paulo: Atlas, 2002, p. 44.
77 ZANINI, Leonardo Estevam de Assis. Direito à imagem. Curitiba – PR: Japurá, 
2018, p. 31.
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opor a esta reprodução é absoluto, encontrando seu fundamen-
to no respeito à dor dos familiares, visto que o desconhecimento 
quanto à utilização da imagem lesiona os sentimentos mais ínti-
mos e mais veneráveis da natureza humana. 78
Nesta decisão, fica claro que a preocupação ao direito de ima-
gem, apesar de tratar de direito para pessoa morta, já era muito gran-
de neste período, e os direitos da personalidade também estavam sendo 
mais retratados nesta decisão coloca os sentimentos os valores como bem 
jurídicos, como preceitua os direitos da personalidade que está intima-
mente ligada à preservação da vida, e a intimidade e a vida privada bem 
como a imagem fazem parte deste rol.79
O caso descrito por Leonardo Zanini entrou como regra para as 
futuras decisões que houve após esse fato, foi baseado no artigo 1.382 
do Código Civil francês, fixando assim jurisprudência para que houvesse 
permissão para utilização da imagem pela pessoa retratada, ou de seus fa-
miliares em se tratando de pessoas falecidas, sendo confirmada em 1859 
e em outras ocasiões foram reafirmadas.80
Desta forma, ainda de acordo com Leonardo Zanini com tama-
nha necessidade de lei específica, para as práticas relacionadas ao uso da 
imagem das pessoas em 11 de maio de 1868 promulgada lei tratando em 
seu artigo 11 a respeito do consentimento do indivíduo na divulgação 
de seu íntimo em jornais na França, sobretudo fatos de sua vida privada, 
entretanto essa lei em 1874 passou a estender-se a atos praticados fora do 
domicílio do cidadão, desde que, fossem considerados da vida privada de 
cada pessoa. 81
Assim, pela tamanha importância dessa legislação na França, 
aconteceram vários protestos conforme afirma Leonardo Zanini citando 
André Bertrand, e a partir daí uma nova lei surgiu em 29 de julho de 
78 ZANINI, Leonardo Estevam de Assis. Direito à imagem. Curitiba – PR: Japurá, 
2018, p. 36.
79 ZANINI, Leonardo Estevam de Assis. Direito à imagem. Curitiba – PR: Japurá, 
2018, p. 36.
80 ZANINI, Leonardo Estevam de Assis. Direito à imagem. Curitiba – PR: Japurá, 
2018, p. 36.
81 ZANINI, Leonardo Estevam de Assis. Direito à imagem. Curitiba – PR: Japurá, 
2018, p. 36.
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1881, que definia as liberdades e as responsabilidades da imprensa, inclu-
sive tratando de delitos de difamação e coisa pública. 82
Na França em 14 de março de 1900, em um julgamento no caso 
Eden contra Whistler, foi entendido que o direito deveria ser estendido 
também para as pessoas vivas no que se relacionava ao direito de ima-
gem que apenas consagrava os mortos, nesta decisão tratava-se de fato 
a respeito de uma pintura no qual S.R. Eden pagaria para Whistler certa 
quantia para terminar o quadro de sua esposa, porém Eden pagou valor 
menor sendo que o tribunal entendeu se tratar de obrigação de fazer, 
apesar disso a preocupação que Whistler, sendo que começou a pintura e 
não terminou, assim, o tribunal entendeu que ele não poderia fazer nada 
com a pintura se ele não modificasse para quem a visse não reconhecesse 
a esposa da outra parte.83
Assim, Leonardo Zanini define:
Por conseguinte, é fácil constatar que as numerosas decisões 
proferidas até o início do século XX, mesmo diante da ausência 
de disposição legal e sem mencionarem expressamente o direi-
to de imagem, reafirmaram a regra conforme a reprodução ou 
a exibição de um retrato estão subordinadas ao consentimento 
da pessoa representada. Os tribunais, a despeito de consagrarem 
tal proteção, não tomaram no que toca à sua natureza jurídica, 
não obstante o evidente predomínio de critérios patrimoniais. E 
isso explica pelo fato de que a cláusula geral de responsabilidade 
delitual, prevista no artigo 1.382 do Código Civil, era tido como 
suficiente para resolução dos casos, e por outro lado, pelo fato 
que não havia uma doutrina razoavelmente desenvolvida acerca 
dos direitos de personalidade.84
Desta forma, no caso da legislação francesa, só houve uma maior 
preocupação nos tribunais com a proteção da imagem no final do sécu-
lo XIX, pois de acordo com Leonardo Zanini desde 1855 existiramvá-
rias decisões criando assim uma base sólida para a proibição do uso da 
imagem das pessoas sem consentimento, em que algumas das obras de 
82 ZANINI, Leonardo Estevam de Assis. Direito à imagem. Curitiba – PR: Japurá, 
2018, p. 37.
83 ZANINI, Leonardo Estevam de Assis. Direito à imagem. Curitiba – PR: Japurá, 
2018, p. 37.
84 ZANINI, Leonardo Estevam de Assis. Direito à imagem. Curitiba – PR: Japurá, 
2018, p. 37.
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autores conhecidos já retratavam a proteção à imagem como pertencen-
tes aos direitos da personalidade, sendo assim, neste período esses direi-
tos foram considerados absolutos.85
Entretanto, somente no início do século XX que esses direitos 
tomaram força, com os avanços tecnológicos das câmeras fotográficas, 
a tendência era de utilizar cada vez mais os recursos por essa tecnolo-
gia, desta forma, os jornais retratavam inúmeras figuras públicas sem a 
autorização delas, além de outras pessoas desconhecidas na sociedade 
também, então a jurisprudência da época se viu obrigada ao reconheci-
mento dos direitos da personalidade que até então não estavam positiva-
dos. Desta forma, finalmente em 17 de julho de 1970 o legislador francês 
positivou o direito à vida privada, essa lei tinha como objetivo reforçar as 
garantias dos direitos individuais trazendo inovações tanto na esfera civil 
como na penal.86
Entende-se que a proteção ao direito de imagem vem de um 
longo e paulatino trabalho pretoriano, conforme aponta Carlos Roberto 
Gonçalves, e em vários países essa preocupação foi visualizada, após a 
invenção da fotografia, mas sabemos que o homem desde os primórdios 
já se interessa por retratar a vida e a si próprio, assim na era moderna a 
tendência é que isso apenas continue a crescer, e consequentemente as 
leis sejam alteradas de forma a assegurar a população a proteção necessá-
ria para suas vidas privadas.87
No Brasil, a evolução do direito à imagem foi mais atrasado de 
acordo com Leonardo Zanini, em comparação com a França e a Alema-
nha, por exemplo, o Código Civil de 1916 no artigo 666, X, havia algo 
sobre uma limitação do direito do pintor e do escultor, em favor daqueles 
que eram retratados nas pinturas ou esculturas, mas não era proibido, 
mas a pessoa retratada e seus familiares poderiam se opor, os tribunais 
ainda se utilizaram de outro artigo o 159 do CC 1916 que cuidava da 
reparação a danos em geral, e no Código Penal, em seu artigo 153 da di-
vulgação de segredos, assim durante um período o artigo 666 do Código 
Civil de 1916 foi utilizado, mas logo revogado por lei mais específica. 
85 ZANINI, Leonardo Estevam de Assis. Direito à imagem. Curitiba – PR: Japurá, 
2018, p. 38.
86 ZANINI, Leonardo Estevam de Assis. Direito à imagem. Curitiba – PR: Japurá, 
2018, p. 38.
87 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil brasileiro: Parte geral. v. 1. 10. ed. São 
Paulo: Saraiva, 2012, p. 203-204.
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Em 1973, outra lei entrou em vigor, a lei 5.988 que regulamentou 
os direitos autorais, na década de 70 também pode ser mencionada ainda 
a lei 5.772 de 1971 que instituiu o Código de Propriedade Industrial que 
não admitia em seu artigo 65 sobre registro de marcas com pseudônimo 
notório e ou imagem de terceiros, salvo com consentimento. 
No final do século XX, em 1998, foi promulgada a lei 9.610 que 
substituiu a lei 5.988, de acordo com Zanini, a matéria tratada na lei de 
1973 passou a ser tratada em seu artigo 79 da lei de 1998, que reconheceu 
os direitos do autor de obra fotográfica o direito a sua reprodução e po-
dendo ser colocada à venda, com as mesmas proibições das leis anteriores 
sobre o consentimento. 
Outro dispositivo importante para proteção da imagem está des-
crito no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) que foi promulgado 
em 1990 no seu artigo 17 que fala sobre a proibição da divulgação da 
imagem dos menores, e o artigo 100 incluído pela 12.010 de 2009, tra-
tando sobre as medidas de proteção também do direito de imagem. E 
finalmente no início do século XXI no ano de 2002, no Código Civil, em 
que se inseriu artigo específico sobre a proteção da imagem em seu artigo 
20, no capítulo exclusivo para os direitos da personalidade. 
Importante, trazer à baila o direito a imagem que era analisada 
de forma restrita, com base em aspectos meramente visuais. A imagem 
era entendida como toda representação gráfica, fotográfica, esculpida 
ou cinematográfica de uma pessoa. Posteriormente, em razão do grande 
avanço tecnológico, que impactou diretamente o tratamento, a captação 
e a divulgação da imagem, houve um gradual desenvolvimento dos con-
tornos do direito à imagem e a ampliação dos bens por ele protegidos.
Importante tecer, que alguns princípios constitucionais apresen-
tam o Estado e toda a comunidade como detentores da autonomia para a 
defesa dos direitos inerentes a pessoa e entre eles, encontra-se o princípio 
democrático descrito no artigo 1º e 34, VII, “a”, da CF, que exprime fun-
damentalmente a exigência da integral participação de todos e de cada 
uma das pessoas na vida política do país, a fim de garantir o respeito à 
soberania popular. 
Desta forma, consideram-no um dos principais princípios cons-
titucionais de importância para o direito, pode-se afirmar que é o princí-
pio da dignidade da pessoa humana descrito no artigo 1º da CF inciso III, 
que abrange todos os direitos que são necessários para que o indivíduo 
seja reconhecido como pessoa, sua integridade física, psíquica e intelec-
tual, para garantir o livre desenvolvimento da sua personalidade. 
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Essa garantia, está inserida no rol das garantias fundamentais 
da CF, assim juntamente com o direito civil promove a valorização da 
pessoa humana nos seus mais variados aspectos, tentando tornar a so-
ciedade mais justa e igualitária por colocar em prática esse princípio 
constitucional. 
Pode ser incluído nesse rol de garantias o artigo 220, caput, pará-
grafo 1º e parágrafo 2º, da CF uma norma constitucional que revela não 
poder ser objeto de qualquer restrição à manifestação de pensamento, à 
criação, à expressão e à informação, afirmando que nenhuma lei poderá 
constituir bloqueio à plena liberdade de informação jornalística em qual-
quer veículo de comunicação social, vedando-se expressamente qualquer 
censura de natureza política, ideológica e artística. 
Para que os direitos sejam plenos, e como essas garantias não são 
absolutas, o ordenamento jurídico, aliado aos instrumentos processuais 
da tutela de urgência, soluciona com tranquilidade os abusos praticados 
no âmbito das liberdades de imprensa e manifestação do pensamento, 
no artigo 5º, IV, CF fala sobre liberdade de imprensa e a vedação do ano-
nimato, e no mesmo artigo no inciso V pela preservação do direito de 
resposta e indenizações. 
Assim, segundo Carlos Roberto Gonçalves, o inciso V assegura 
o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por 
dano material, moral ou à imagem. Para os direitos personalíssimos, po-
de-se utilizar o inciso X que declara inviolável a intimidade, a vida priva-
da, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito de indenização 
pelo dano material, ou moral decorrente de sua violação. E o inciso XX-
VIII, alínea a, descreve que são assegurados, nos termos da lei a proteção 
às participações individuais em obras coletivas e à reprodução da ima-
gem e voz humanas, inclusive nas atividades desportivas.88
Além destes, há também no ordenamento jurídico no Brasil o 
artigo 20 do Código Civil o qual, faculta ao interessado pleitear a proi-
bição da divulgação escrita, a transmissão da palavra, ou a publicação, 
a exposição ou a utilização de imagem de uma pessoa, sem prejuízo de 
indenização que couber se for atingida a honra, a boa fama ou a respeita-
bilidade ou se destinarem a fins comerciais. 
Por outro lado, muitos doutrinadores consideramque o art. 20 
do Código Civil que trata o direito de imagem e o art. 5º inciso V e X da 
88 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil brasileiro: Parte geral. v. 1, 10 ed. São 
Paulo: Saraiva, 2012, p. 203, 210.
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CF, tem a mesma disposição na questão da honra, pois ambos os textos 
falam sobre a privacidade, porém cada um deles é autônomo de acordo 
com Paulo Lobo:
Há quem sustente, de acordo com o uso linguístico, que o direito 
à imagem pode conter duas dimensões: a) a primeira é a imagem 
externa da pessoa (efígie) ou externalidade física; b) a segunda 
é a imagem-atributo, ou seja, o conceito público de que a pessoa 
desfruta, ou externalidade comportamental. Parece ter sido na 
primeira dimensão (efígie) a alusão que a CF faz à imagem, no 
artigo 5º inciso X, e na segunda dimensão (atributo) a referência 
à imagem, no inciso V, “É importante notar que a imagem-a-
tributo nasce do próprio uso vulgar do termo ‘imagem’, o qual 
passa a significar não apenas a fisionomia e a sua reprodução, 
mas também o conjunto de características comportamentais que 
identificam o sujeito.89
O direito à imagem nessa sua dimensão natural pertence aos di-
reitos absolutos, imutáveis e intemporais, inerentes à qualidade de ho-
mem de seus titulares de acordo com Zulmar Fachin, assim, a dignidade 
da pessoa humana deve ser compreendida como qualidade integrante e 
irrenunciável da condição humana, podendo ser reconhecida, respeitada, 
promovida e protegida, não podendo, ser criada, concedida ou retirada, 
já que é inerente ao ser humano.90
A honra e a imagem que também são asseguradas CF, apesar en-
tretanto de se tratar de direitos autônomos, equivalem-se a virtude, o res-
peito que cada indivíduo, é merecedor tanto no que se refere a sua figura 
como pessoa de direitos, quanto ao fato da reputação, como os demais o 
identificam no convívio social por suas atitudes e valores. 
Desta forma, a Constituição Federal de 1988 prevê expressamen-
te em seu art. 5º a proteção à imagem do indivíduo, nos incisos V, X e XX-
VIII alínea “a” 91, esses dispositivos estão presentes no Título II destinadas 
89 LÔBO, Paulo. Direito Civil: Parte Geral 6 ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 154.
90 FACHIN, Zulmar Curso de Direito Constitucional. 5. ed. rev. atual. e ampl. Rio de 
Janeiro: Forense, 2012, p. 255-257.
91 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantin-
do-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito 
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: 
 V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização 
por dano material, moral ou à imagem;
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aos direitos e garantidas fundamentais que constituem em cláusulas pé-
treas (art. 60, § 4º IV da CF/88) 92, ou seja, não podem ser alteradas, no 
que trata no Capítulo I sobre os direitos e deveres individuais e coletivos, 
demonstrando que esse direito passou a ser tratado como algo muito im-
portante no ordenamento jurídico brasileiro após a promulgação desta 
lei maior. 
Ressalta-se, que o artigo 5º no seu inciso X fala especificamente 
da inviolabilidade apontada pela Carta Magna, nota-se que a partir desta 
Constituição começou a ser redobrada a atenção ao íntimo das pessoas e 
para que fosse mais evidente foram colocadas as penalidades, tanto ma-
terial como moral, conforme analisado anteriormente a imagem de uma 
pessoa não se relaciona exclusivamente pelo retrato dela, mas também 
pela imagem em sua privada. 
Luiz Alberto e David Araújo relatam a respeito dos dois tipos de 
referência a imagem, a imagem-retrato e a imagem-atributo, a primeira 
refere-se ao que é aquilo que literalmente vemos em uma pessoa seus 
traços físicos, já a segunda está ligada mais aos traços psicológicos sua 
personalidade como os outros indivíduos os veem, desta forma relatam 
como seria essa imagem-atributo: 
A imagem-atributo é consequência da vida em sociedade. O ho-
mem moderno, quer em seu ambiente familiar, profissional ou 
mesmo em suas relações de lazer, tende a ser visto de determi-
nada forma pela sociedade que o cerca. Muitas pessoas fazem 
(ou não fazem) questão de serem consideradas relaxadas, me-
ticulosas, organizadas, estudiosas, pontuais ou impontuais. São 
características que acompanham determinada pessoa em seu 
conceito social. É importante verificar que tal característica não 
se confunde com qualquer outro bem correlato à imagem, como 
a honra, por exemplo.93 
 X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, 
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua 
violação;
92 BRASIL. Vade mecum. 25. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2018, p. 25-26. 
Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:§ 4º Não será 
objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: IV - os direitos e 
garantias individuais.
93 ALBERTO, Luiz e ARAUJO, David A proteção constitucional da própria imagem. 
2 ed. São Paulo: Verbatim, 2013, p. 21-27.
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Portanto, a imagem realmente deve ser objeto de proteção em 
qualquer direito em todo lugar no mundo, pois se relaciona com a vida 
privada, por isso que a Constituição Federal trouxe essa proteção de ma-
neira a acabar com a dúvida a esse respeito, assim, o art. 5º inciso V re-
trata “é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da 
indenização por dano material, moral ou à imagem”, por se tratar de algo 
tão importante que é a imagem de uma pessoa perante a sociedade, aqui 
tratamos do “Ego” que seria o núcleo da personalidade de uma pessoa, é 
óbvio, que deveria ser assegurado alguma reparação se esse fosse violado, 
sendo assim o inciso V do art. 5º da CF\88, estabelece essa reparação. 
Podemos citar o art. 5º inciso IX da Carta Magma que diz “é livre 
a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunica-
ção, independentemente de censura ou licença.”. Destarte afirmar, que o 
direito de informar e de se expressar é garantido, desde que, não seja afe-
tada à honra do indivíduo de modo a difamar caluniar ou injuriar confor-
me previsto no Código Penal nos artigos 138 a 140. Assim, a liberdade de 
expressão é um direito garantido e protegido pela Declaração Universal 
dos Direitos Humanos de 1948, de acordo com artigo 19 desta lei: 
Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expres-
são, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opi-
niões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de 
fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão.94
Fica evidente que se pode expressar sobre qualquer fato ou si-
tuação, porém é neste momento que a lei tutela o individual de cada 
pessoa, pois no caso do direito a imagem apesar de ser apenas a ex-
ternalização do indivíduo, dependendo do contexto pode trazer sérios 
danos à outra parte.
Ao que se refere à honra, é o equivalente ao valor moral da pessoa 
e está atrelada à reputação, ao prestígio social do possuidor desse direito, 
ou seja, é a dignidade na vida em sociedade. A honra pode ser objetiva 
aquela correspondente à reputação da pessoa, a fama e o bom nome ou 
subjetiva que é a honra íntima intrinsicamente ligada à consciência do 
indivíduo e ao sentimento de autoestima.
94 BRASIL. Planalto Federal. Declaração dos direitos humanos. Disponível em: 
http://www.mp.go.gov.br/portalweb/hp/7/docs/declaracao_universal_dos_direi-
tos_do_homem.pdf. Acesso em 22 jan. 2022.
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O Pacto de San José da Costa Rica, do qual o Brasil é signatário, 
estabelece no seu art. 11 e incisos que toda pessoa tem direito ao respeito 
à honra e o reconhecimento de sua dignidade, e que todo indivíduo tem 
direito à proteçãoda lei contratais ingerências ou tais ofensas.95
No âmbito do direito da intimidade devem-se proteger também 
os dados pessoais dos indivíduos sua vida pessoal. A intimidade está li-
gada a muitos direitos da personalidade, a exemplo do direito de imagem 
que, quando violado pode ofender a sua intimidade. A honra do indi-
víduo se atingida por meio de atos ilícitos como a injúria, a calúnia e a 
difamação e, com a ocorrência desses atos, o ofendido poderá pleitear a 
reparação tanto no âmbito civil, quando no âmbito penal. 
Não caracteriza violação a honra, a divulgação de fatos ou notí-
cias que visem o interesse da coletividade, como por exemplo, na apura-
ção de crimes embasada no fundamento constitucional do direito à liber-
dade de expressão.
A intimidade é um direito da personalidade que está intrinseca-
mente conexa à vida privada. Esse direito tem respaldo constitucional, 
sendo considerado inviolável tendo, portanto, natureza de direito subjeti-
vo autônomo. O Código Civil em seu art. 21, que trata da inviolabilidade 
da vida privada e salienta que o juiz quando provocado deverá adotar as 
providências necessárias para impedir ou cessar o ato lesivo. 
Inequívoco que a intimidade não se confunde com a vida priva-
da, pois a intimidade guarda segredos íntimos e anseios que só o indiví-
duo sabe já a vida privada é menos secreta exclusiva que alguém reserva 
para si, sem nenhuma repercussão social, nem mesmo junto à sua famí-
lia, aos seus amigos e ao seu trabalho.
Na era da modernidade, a privacidade está ficando cada vez mais 
exposta, muitos são os meios, como as mídias sociais, apesar de as pes-
soas passaram a expor informações pessoais na internet é direito de to-
dos terem preservada sua intimidade aquela que não é identificada, des-
ta forma, o fluxo de informações que dizem respeito ao indivíduo, deve 
estar protegido, assim, o direito à privacidade está resguardado na Carta 
Magna em seu art. 5º, incisos V, X, XI, XII, LX. Pode-se dizer que é um 
meio de se concretizar a dignidade da pessoa humana em uma perspec-
tiva social e econômica. 
95 BRASIL, Decreto nº 678, de 6 de novembro de 1992: Promulga a Convenção Ame-
ricana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), de 22 de novem-
bro de 1969. Disponível em: http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/biblioteca-
virtual/instrumentos/sanjose.htm. Acesso em: 20.jan. 2022.
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 A intimidade é mais secreta do que a vida privada, onde estão 
inseridos a intimidade e o segredo que guardam sentimentos que só per-
tencem ao titular. Em outra esfera o segredo é aquilo que não pode ser 
revelado, nem divulgado, quer dizer, é sigiloso. Desta forma, o Código 
Civil estabelece em seu artigo 21: “A vida privada da pessoa natural é in-
violável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências 
necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma”.
 A privacidade é autônoma, e susceptível de violação sem atingir 
direitos como a imagem e a honra do indivíduo, devendo ser aplicado a 
solução mais adequada para cada especificidade. 
Destaca-se, que na era da tecnologia são inúmeros os casos de le-
são a privacidade, com a globalização, o mundo virtual, e os meios de co-
municação, ganham contornos mais amplos, abrangendo as redes sociais 
tais como Twitter, Facebook, WhatsApp, Instagram dentre muitos outros. 
 Cada ano que passa, a tecnologia costuma evoluir em um ritmo 
muito acelerado, novas ferramentas são desenvolvidas e, consequente-
mente, surgem novos meios de comunicação e captação de imagens sur-
preendentes, assim a vida das pessoas fica cada vez mais expostas a essas 
tecnologias, como o direito da imagem tutela a privacidade e também a 
intimidade, pois engloba sua conformação física e moral, de palavra e 
escritos, e na internet hoje, são visualizados muitos casos de indivíduos 
que tiveram seu íntimo violado, muitas vezes por falta de conhecimento 
e por falta de segurança ao fazer uso da navegação por sites e aplicativos.
Para salvaguardar o direito à vida privada no meio digital, houve 
a regulamentação quanto a esses direitos com a promulgação da Lei n 
12.965/14 que foi denominada como o Marco Civil da Internet, e apre-
senta três princípios essenciais para a disciplina do uso da internet no 
Brasil: a liberdade de expressão, também é visualizada na Declaração 
Universal dos Direitos Humanos a privacidade que está elencada como 
direito da personalidade e a neutralidade da rede. Desta forma, estabele-
ce os dois direitos fundamentais que frequentemente entram em colisão 
como condição para o pleno exercício do direito de acesso à internet. 96
Contudo não somente o Marco Civil da internet pode tutelar 
essas violações que ocorrem na internet, bem como, o Código Civil e 
96 BRASIL. Planalto Federal. Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014: Estabelece prin-
cípios, garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L12965.htm. 
Acesso em: 04 dez. 2021.
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Código Penal, no CC no capítulo que trata dos direitos da personalidade 
o direito a imagem está expressamente descrita no art. 20 que diz:
Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justi-
ça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, 
a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a uti-
lização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu 
requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe 
atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se des-
tinarem a fins comerciais. 97
A preocupação do legislador com a divulgação da imagem em re-
lação a danos à honra e à imagem ou ao destino comercial é bem evidente 
no texto de lei. Porém, não pode deixar de ser levado em conta àquele 
que não quer divulgar sua imagem, respeitado sempre o interesse público 
nessa divulgação. Podendo ser citado, o uso de imagem não autorizada 
de alguma pessoa em qualquer projeto para a caridade não atinge a res-
peitabilidade do sujeito, tampouco se destina a fins comerciais, mas ainda 
é passível de proibição, pois o que é afirmado pela lei é a autorização do 
uso da imagem do indivíduo, em se tratando de imagem é algo de seu 
interesse querer ou não aparecer em ampla divulgação.
Fato é que a tecnologia de informação mudou o modo como as 
pessoas se comunicam, com o advento da internet houve uma grande 
revolução no modo de agir das pessoas e de grande importância para a 
humanidade, pois a sociedade passou a ter mais acesso às informações 
que acontecem ao redor do mundo, e no momento em que estão acon-
tecendo. Desta forma, qualquer pessoa pode estar facilmente por dentro 
de fatos e notícias em qualquer parte do mundo apenas fazendo uso da 
internet e de um dispositivo que possa acessá-la se tornando um meio de 
comunicação e de informação indispensável nos dias atuais. 
Consequentemente, as pessoas passaram a estar mais tempo co-
nectadas na internet, e surgiram variados tipos de aplicativos, telefones 
com capacidade de acessar a internet com melhor qualidade, nos outros 
aparelhos para o indivíduo não ficar desconectado do mundo. Sendo 
assim, como as pessoas começaram a passar mais tempo conectadas, a 
necessidade de interação com os demais foi suprimida pelas redes so-
ciais, que fizeram a sociedade e as novas gerações mudarem seus hábitos 
e rituais, pois com elas todos podem se comunicar.
97 BRASIL. Vade mecum. 25. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2018, p. 134.
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Com isso, foram sendo criados diversos aplicativos de compar-
tilhamento de informações e relacionamentos, dentre outros exemplos 
citamos os mais populares como Facebook, Twitter, Instagram, WhatsApp 
e You Tube que é usado para compartilhamento de vídeos. Desse modo, 
as pessoas passaram a ter mais acessoa dados que antes eram consegui-
dos em sua maioria em livros que os indivíduos deveriam procurar em 
bibliotecas, e hoje facilmente se consegue na internet.
A Internet apresenta uma vasta gama de possibilidades de busca 
de informações, seja em dispositivos como computador, tablet, smartfone 
entre outros, que além dos dados que podemos obter também é possível 
assistir televisão, ouvir rádio ou ler o jornal, por exemplo. Inequívoco que 
a cada pessoa pode contribuir para a expansão das informações podendo 
difundir mensagens e ideias através de e-mails, chats (mais conhecido 
como sala de bate-papo no Brasil) ou mesmo em listas de discussão e we-
bsites. Podem também difundir suas músicas, gravar vídeos etc. Enfim, as 
possibilidades são inúmeras. Cada indivíduo é um emissor e um receptor 
simultâneo de informações e dados, inclusive sensíveis na Rede.
O surgimento da internet veio pelas ações militares na época da 
guerra fria, de acordo com Nakamura, para auxiliar na transmissão de 
informações de forma mais rápida entre as bases militares. Com o passar 
dos anos, a internet evoluiu e se tornou um meio de comunicação e de 
informação indispensável.98 
A velocidade da busca por conhecimento se tornou muito gran-
de, isto se verifica pelo fato de que quando surgiram os primeiros com-
putadores com acesso à internet, estes funcionavam em velocidade bem 
menor, com as mudanças na sociedade ao longo dos anos a tecnologia 
como consequência a internet também se desenvolveram, sendo adap-
tada ao que a modernidade exigia, deste modo a informação foi sendo 
cada vez mais indispensável, e a necessidade de atualização contínua do 
conhecimento foi crescendo, hoje é comum uma pessoa estar ligada a 
diversos assuntos ao mesmo tempo no ambiente virtual.
Desta forma, a internet é atualmente um meio de comunicação 
com maior crescimento de adeptos, e com maior poder de influenciar as 
pessoas, muitas são as formas de utilização desta rede, equipamentos mo-
dernos de alta tecnologia conseguem juntar diversas funções em um úni-
co objeto, assim se faz relevante entender que por conta desta era digital 
98 NAKAMURA, Emilio Tissato; GEUS, Paulo Lício. Segurança de Redes: em am-
bientes Coorporativos. São Paulo: Novatec, 2007, p. 7.
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que estamos vivendo, a informação é uma arma poderosa para qualquer 
pessoa no ambiente virtual.
Os hackers russos interferiram nas eleições presidenciais de 2016 
com um enorme ataque cibernético contra os sistemas de votação 
estaduais. Os hackers russos teriam vazado e-mails que destruí-
ram a campanha de Hillary Clinton. Além de vazar e-mails, os 
hackers também divulgaram notícias falsas por meio de sites de 
mídia social, especificamente o Facebook e o Twitter. Mais de 80 
contas foram criadas e bots foram espalhados pela rede.99
Ato contínuo, sabe-se a problemática de dados veiculados na in-
ternet, interfere até mesmo a democracia de um país. Artigo publicado 
no site da Isto É, por Carlos José Marques revelou campanha eleitoral 
de Donald Trump, em que a assessoria divulgou diversas fake news com 
intuito de beneficiar o candidato, usando-se de diversos meios para es-
palhar notícias não verdadeiras pelas redes sociais. Neste contexto Jose 
Antônio Zarzalejos relata:
(...) antes que os debates presidenciais avançassem durante a 
campanha norte-americana, até a véspera da jornada eleitoral, 
as plataformas de verificação atualmente em uso – chamadas de 
fact-checking – contabilizaram até 217 falsidades nos discursos 
e intervenções dos candidatos, 79% delas atribuídas a Donald 
Trump e 21%, a Hilary Clinton. A Unidade de Dados da Univi-
sion Noticias, em Miami, descobriu, uma semana antes da eleição 
presidencial, que para cada mentira da candidata democrata, o re-
publicano divulgou quatro. 100
Como consequência, através de dados colhidos em redes so-
ciais, direcionam-se afirmações que conquiste a população em questão, 
influenciando no convencimento e direcionamento do voto. Assim, de 
acordo com Diogo Rais relata ao citar pesquisa do IBOPE: 
99 AZEVEDO, Fernando Uilherme Barbosa de. O negócio sujo das Fake News: Ha-
ckers Expostos! Veja o mundo lucrativo e antiético das Fake News. Disponível em: 
https://ler.amazon.com.br/?asin=B07DP7TQ6D. Acesso em 25 jan 2022.
100 MARQUES, Carlos José. As “fake news” nas eleições: O fenômeno não é novo. 
Muito menos exclusivo do Brasil. Ao contrário. As chamadas “fake news”, ou notí-
cias falsas, que inundaram as mídias digitais já polarizaram as eleições tanto aqui 
como nos EUA. Disponível em: https://istoe.com.br/as-fake-news-nas-eleicoes/ 
Acesso em: 29 out. 2018.
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Uma pesquisa recente do IBOPE aponta a relevância crescente da 
internet como fonte de informação em período eleitoral. Segun-
do o IBOPE, as mídias sociais têm algum grau de influência para 
mais da metade dos eleitores brasileiros (56%) na escolha de seus 
candidatos. E, para nada menos que 34% dos eleitores, os meios 
digitais têm muita influência. Essa pesquisa deixa claro o protago-
nismo dos meios digitais como fonte de informação para tomada 
de decisão de voto.101
Destaca-se, de acordo com matéria publicada no site da BBC 
Brasil por Juliana Gragnani, as eleições no Brasil no ano de 2018 foram 
diferentes das ocorridas nos anos anteriores, os candidatos em sua gran-
de maioria utilizaram como meio de fazer sua propaganda eleitoral as 
redes sociais, assim a reportagem afirma que a desinformação e notícias 
falsas apareceram de forma bem agravante, como imagens, textos, vídeos 
influenciando as pessoas dando motivos para votar em um determinado 
candidato, nesta reportagem afirma também que, no Brasil, o WhatsApp 
é uma rede social, que é mais difundida pelos brasileiros, no qual o alcan-
ce é bem grande.102
Resta configurada a influência no resultado do pleito eleitoral e a 
violação do estado democrático de direitos, para que haja democracia no 
pleito eleitoral é necessário não ter intervenção de qualquer espécie que 
possa influenciar na decisão dos cidadãos, para que a escolha seja sensata 
e baseada naquilo que realmente o candidato se propõe a fazer.
Antes dessa proliferação de informações de fácil acesso, as pesso-
as só podem conhecer seus candidatos através ou do rádio ou televisão, 
com controle e manipulação, porém hoje, em poucos minutos, pode-se 
conseguir um dossiê completo de qualquer candidato. Tudo por conta da 
rapidez da informação principalmente de redes sociais. 
Para Irene Patrícia Nohara com a coordenação de Diogo Rais: 
(...) à medida que houve a percepção, ao longo do melhor refina-
mento do papel do Estado, de que a liberdade também é instituto 
que requer circunstâncias vitais a sua realização, percebeu-se que 
a atuação estatal também é necessária para garantir essa mesma 
101 RAIS, Diogo. Fake News: a conexão entre a desinformação e o direito. São Paulo: 
Thomson Reuters Brasil, 2018, p. 118.
102 GRAGNANI, Juliana. Eleições com fake news?: Uma semana dentro de 272 grupos 
políticos no WhatsApp mostra um Brasil dividido e movido a notícias falsas. Dispo-
nível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45666742. Acesso em 29 jan. 2022.
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liberdade que o Estado restringe por meio da regulação, uma vez 
que a liberdade não é indefinida, mas deve ser ordenada e con-
figurada normativamente. Abandonou-se, portanto, a “cegueira 
acerca dos pressupostos sociais indispensáveis para a realização 
da liberdade dos direitos fundamentais.103
Assim, levar ao engano o eleitor é retirar das eleições a legiti-
midade da representação popular, o que leva, posteriormente, em níveis 
mais graves, a instabilidade política
Para estabelecer um pleito eleitoral com democracia não só a 
sociedade deve ficar atenta, como também o Estado fazendo sua parte 
ainda conforme relata Irene Nohara:
Também o judiciário, como órgão integranteSocial do Direito. Mestre em Direitos da 
Personalidade. Graduada em Direito em 2007. Pós-Graduada em Direito 
Público Material pela Universidade Gama Filho e em Direito Aplicado 
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pela Escola da Magistratura do Paraná. Professora de Direito na PUC-
-PR, advogada, palestrante e uma das fundadoras da BY HONOR Cursos 
em Desenvolvimento Humano.
Encontrei-a na Fadisp, a Faculdade Autônoma de Direito. E tive-
mos não apenas a empatia necessária entre professor e aluna, mas admi-
ração e respeito que resultaram no convite para que eu a orientasse em 
sua tese de doutorado, que tenho a honra de prefaciar. 
Que fiz eu, a não ser ouvir e, como Sócrates, indagar, de modo a 
que ideias fossem dadas à luz? Perdoem-me a referência imodesta, mas o 
fato é que Jossiani vinha aos nossos encontros com o pensamento formado, 
armada de repertório jurídico e humanitário pronto, trabalhado e pesqui-
sado. Sabia desde o início qual era o objetivo da sua pesquisa, aonde queria 
chegar e que espécie de contribuição esperava entregar à comunidade aca-
dêmica. Mais que isso, que orientação poderia – como certamente poderá 
– deixar à disposição dos advogados que precisam se adaptar a estes novos 
tempos em que a inteligência humana deve domar a inteligência da máqui-
na. Como ela mesma diz, o Direito é sujeito, mas ao mesmo tempo objeto, 
da transformação provocada pela inteligência artificial.
Contudo, a introdução de tecnologias não exime, não transige, 
não prescinde, da figura humana como central dessa transformação. 
Sensibilidade é apanágio dos seres humanos. A experiência também, 
porque não se mede apenas em volume de dados, mas em aprendizado, 
compreensão de contextos, avaliação de importâncias relativas – que al-
goritmo alcançará isso? Uma frase de Jossiani, que selecionei deste seu 
trabalho, ao comentar o Metaverso, pode ser estendida e entendida den-
tro de qualquer contexto de inteligência artificial, porque é: “socialmente 
construído, politicamente orientado, economicamente condicionado e 
historicamente situado”. Uma frase preciosa pela sua intenção de síntese. 
No centro, a pessoa. Com as nuanças da humanidade, irrepetíveis por 
mecanismos ou programas tecnológicos.
Porém, o próprio uso da tecnologia tem contribuído para modi-
ficar comportamentos. A isso é preciso estar atento.
Em relação a questões complexas, e Jossiani dá como exemplo o 
gerenciamento de assédio online e moderação de conteúdo, jamais – e 
insisto nesta palavra, mesmo sob o risco de exagero, já que não sabemos 
como a tecnologia ainda pode nos surpreender – poderão ser deixadas 
para gerenciamento de um recurso não humano. Temos visto usos re-
centes de inteligência artificial que podem ser excepcionais auxílios para 
advogados. Um deles é o estudo dito preditivo de comportamento de 
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jurados, de modo a permitir uma seleção de membros do júri que em 
tese votariam conforme a a expectativa da defesa ou da acusação. Mas... 
seria ética essa seleção? Atenderia aos pressupostos da justiça?
De toda forma, a realidade está posta. A inteligência artificial está 
entre nós e evoluindo. O advogado que não queira se deixar submergir 
no universo do desconhecimento – ou do desemprego – precisa, deve, 
tem que dominar os meandros da tecnologia e compreender como ela 
deve ser útil para acelerar processos de rotina, para avaliação de possibi-
lidades técnicas e para comparação rápida de casos e de jurisprudência, 
pela análise de big data. Em suma, já não é apenas suposição o fato de 
que a inteligência artificial vai transformar sistemas e processos jurídicos 
– já acontece, em escritórios e em instituições. Para se adaptar a isso, o 
profissional será chamado a exercitar o cérebro, pesquisar, criticar, ouvir 
e indagar. Tendo, como o farol de sua profissão, a ética e a humanidade.
Vou me apropriar de um trecho esclarecedor de Jossiani: “(...) 
uma competência essencial para advogados: habilidades de resolução de 
problemas e tomada de decisões para aconselhar clientes sobre a melhor 
forma de atender às suas necessidades, objetivos e necessidades. Para de-
liberar bem, o que requer simpatia, empatia, desapego, e compreensão 
de comportamento humano, é preciso, portanto, ser capaz não apenas de 
pensar com clareza, mas também de sentir de certas maneiras. A pessoa 
que mostra bom senso na deliberação será assim marcada tanto por suas 
disposições afetivas quanto por seu poder intelectual, e saberá mais do 
que os outros porque sente o que eles não podem”.
Este trabalho, de abordagens múltiplas e complexas, escorada em 
rica bibliografia, apresenta alternativas de adaptação do advogado diante 
das transformações promovidas pela tecnologia, e não preciso adiantar 
nesta apresentação o que a autora pesquisou e indica como habilidades 
essenciais do novo advogado – ou o advogado dos novos tempos. Basta 
que eu diga que a leitura desta tese é fundamental para quem 1) teme que 
a inteligência artificial vai tornar desnecessários os advogados e 2) já per-
cebeu que deve evoluir, como ela, para a controlar e utilizar-se dela para 
continuar a atuar na seara jurídica. Respeitando, evidentemente, aspectos 
como a proteção de dados pessoais. Como lembra Jossiani, o Direito é 
sujeito de garantir segurança social, e ao mesmo tempo objeto de trans-
formação. A semântica pode ser sutil, neste caso, mas as implicações são 
evidentes. Dramáticas, talvez. Alvissareiras, certamente.
O pressuposto principal é que a tecnologia é boa; (paro-
diando Rousseau) a sociedade é que a corrompe. Cabe ao advogado 
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contemporâneo superar os desafios e superar a si mesmo, trabalhando 
inclusive para aperfeiçoar o próprio Direito, como ciência e como repre-
sentação de uma sociedade em um determinado momento de tempo. 
Assim tem sido a história da Humanidade, desde o pergaminho até a 
Inteligência Artificial – ou o que vier depois. O ser humano, este seguirá 
comandando as transformações e as tensões.
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SUMÁRIO
1 O DIREITO COMO SUJEITO E OBJETO DE TRANSFORMAÇÕES .................................................13
1.1. SOCIEDADE TECNOLÓGICA O HOMEM E A MÁQUINA NA PERSPECTIVA FILOSÓFICA ............................. 17
1.2. PÓS MODERNIDADE DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA COMO FUNDAMENTO DOS DIREITOS 
HUMANOS .................................................................................................................................................. 28
1.3. DIREITO DA PERSONALIDADE NA ERA DA SOCIEDADE DE INFORMAÇÃO ...............................................44
1.4. A LEGALIDADE CONSTITUCIONAL E O DIREITO À IMAGEM PRIVACIDADE HONRA E INTIMIDADE 
NO BRASIL ...................................................................................................................................................48
2 DIREITO DIGITAL PERCURSO DA NORMATIZAÇÃO BRASILEIRA FRENTE A ERA DA SOCIEDADE 
DA INFORMAÇÃO .............................................................................................................71
2.1. SURGIMENTO DO MARCO CIVIL DA INTERNET ......................................................................................... 73
2.2. A RESPONSABILIDADE CIVIL PREVISTA NO MARCO CIVIL NA INTERNET ............................................... 78
2.3. PRINCIPIO DA NEUTRALIDADE DA REDE ................................................................................................... 89
3 LEI DE PROTEÇÃO DE DADOS E AS VULNERABILIDADES ADVINDAS DO CAPITALISMO DE 
DADOS .......................................................................................................................... 93
3.1. PRINCÍPIOS NORTEADORES DA LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS...................................................107
3.2. AGENTES E TRATAMENTO DE DADOS PESSOAIS DE ACORDO COM A LGPD .......................................... 111
PROVAdos Poderes do Es-
tado, deve ter a sensibilidade para diferenciar a notícia mentirosa, 
os dados falsos, de interpretações variadas que são feitas a partir 
de dados verdadeiros. Daí a necessidade de sensibilidade e forma-
ção democrática, pois as pessoas têm todo o direito de defender 
suas visões de mundo, dado que ninguém é neutro, no sentido de 
tábula rasa. 104
Neste esteio, quando se tratar de casos no ambiente virtual, ainda é 
controversa a questão da responsabilidade de provedores, devendo ser em-
basados sob a égide do preceito constitucional da liberdade de expressão.105
No entanto, os operadores do Direito sabem que qualquer cho-
que entre princípios fundamentais é apenas aparente, visto que nenhum 
princípio fundamental pode amparar uma ilegalidade, assim como, a 
hermenêutica jurídica propõe soluções para dirimir os conflitos nos ca-
sos em concreto, como a utilização da ponderação.
O ordenamento jurídico protege as liberdades fundamentais, 
como a manifestação de pensamento, a liberdade de informação e a li-
berdade de expressão. No entanto, os direitos fundamentais, apesar de 
103 RAIS, Diogo. Fake News: a conexão entre a desinformação e o direito. São Paulo: 
Thomson Reuters Brasil, 2018, p. 84.
104 RAIS, Diogo. Fake News: a conexão entre a desinformação e o direito. São Paulo: 
Thomson Reuters Brasil, 2018, p. 85.
105 BRASIL. Planalto Federal. Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014: Estabelece prin-
cípios, garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil. Disponí-
vel em: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L12965.
htm. Acesso em: 24 jan. 2022.
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serem pedras angulares da própria manifestação de sociedade em si, não 
podem ser utilizados como barreira de proteção de atos ilícitos, e o que 
ocorre é que, a feitura e disseminação de notícias falsas ferem o próprio 
Estado Democrático de Direito por conta de seu animus e potencialidade 
lesiva, a não invocação de princípios constitucionais para sua proteção.
Visando uma eleição com mais segurança para os candidatos, o 
TSE editou a Resolução 23.551 de 2017, devendo-se destacar os parágra-
fos de seu artigo 22, sem correspondência na lei eleitoral, que asseverou 
ressalvando a aplicabilidade do dispositivo para a propaganda eleitoral, 
ainda que, constem mensagens de apoio ou crítica a partido político ou a 
candidato, próprias do debate político e democrático. 106
As iniciativas adotadas pelo TSE, e a que teve maior importância 
para o futuro relacionado com as Fake News, foi a criação do Conselho 
Consultivo sobre Internet e Eleições em 2017, com a atribuição de desen-
volver pesquisas e estudos sobre as regras eleitorais e a influência da in-
ternet nas eleições, em especial, o risco das fake news e o uso de robôs na 
disseminação das informações, podendo propor ações e metas voltadas 
ao aperfeiçoamento das normas. 
A legislação atual dispõe de ferramentas processuais ao comba-
te às notícias falsas, os provedores de conteúdo devem, por outro lado, 
estabelecer-se como parceiros das autoridades, de maneira a poderem 
conferir, tendo o domínio do meio de propagação de fake news, máxima 
eficácia e celeridade às emanações do Poder Judiciário, preservando-se o 
princípio democrático, sem sacrificar direitos e garantias fundamentais. 
Erick Peixoto e Lucena Campos, explicam:
A privacidade nos Estados Unidos estão em um direito do in-
divíduo, de caráter negativo, enquanto as raízes europeias estão 
106 Art. 22. É permitida a propaganda eleitoral na internet a partir do dia 16 de agosto 
do ano da eleição (Lei nº 9.504/1997, art. 57-A).
 § 1º A livre manifestação do pensamento do eleitor identificado ou identificável na 
internet somente é passível de limitação quando ocorrer ofensa à honra de terceiros 
ou divulgação de fatos sabidamente inverídicos.
 § 2º O disposto no § 1º se aplica, inclusive, às manifestações ocorridas antes da data 
prevista no caput, ainda que delas conste mensagem de apoio ou crítica a partido 
político ou a candidato, próprias do debate político e democrático. BRASIL, Tri-
bunal Superior Eleitoral. Resolução nº 23.551, de 18 de dezembro de 2017: Dis-
põe sobre propaganda eleitoral, utilização e geração do horário gratuito e condutas 
ilícitas em campanha eleitoral nas eleições. Disponível em: http://www.tse.jus.br/
legislacao-tse/res/2017/RES235512017.html. Acesso em: 30 jan. 2022.
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também na sociedade, apresentando características de direito 
positivo, no qual se exige do Estado que se tomem medidas para 
garantir a proteção de dados pessoais, como a instalação de ór-
gãos de controle, além de a proteção visar grupos minoritários que 
podem sofrer discriminações com a exposição de seus dados pes-
soais. Na Europa se desenvolve o aspecto social da privacidade.107 
Apesar de não existir uma autoridade nacional de proteção de 
dados, como se verifica na Europa, recai sobre o Federal Trade Commis-
sion (FTC) atuar sobre diversas situações vinculadas à matéria. Segundo 
seu pronunciamento recente, mudanças rápidas na tecnologia levanta-
ram novos desafios de privacidade.108O direito à privacidade é reconhe-
cido como um direito humano fundamental sob a Lei Básica quase cons-
titucional: Dignidade e Liberdade Humanas, que estabelece que: “toda 
pessoa tem direito à privacidade e à confidencialidade de sua vida” e “não 
deve haver infração confidencialidade das conversas, correspondências e 
escritos de uma pessoa”.109
107 PEIXOTO, Erick Lucena Campos; EHRHARDT JÚNIOR, Marcos. Breves notas 
sobre a ressignificação da privacidade. In: Revista Brasileira de Direito Civil – 
RBDCivil | Belo Horizonte, v.16, p.35-56, abr.jan.2022, p. 42.
108 ARNON, Yagal. NOVOGRODER-SHOSHAN, Yoheved. Israel. European Lawyer 
Reference Series. Disponível em: . Acesso em: 27 jan. 2022. p. 387.
109 ARNON, Yagal. NOVOGRODER-SHOSHAN, Yoheved. Israel. European Lawyer 
Reference Series.. Disponível em: . Acesso em: 27 jan. 2022. p. 387
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BRASILEIRA FRENTE A ERA DA SOCIEDADE DA 
INFORMAÇÃO 
Há tempos, a Legislação Brasileira se atentou em proteger os 
dados pessoais, em vista disso, a Constituição Federal de 1988, prevê a 
garantia do direito de privacidade das pessoas, no art. 5º incisos X e XII. 
Art. 5º (...) X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a 
imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano mate-
rial ou moral decorrente de sua violação.
Destarte, a intimidade a privacidade do indivíduo encontra-se 
protegida na Declaração de Direitos Humanos, das Nações Unidas de 
1948, da qual o Brasil é signatário, “art. 12. Ninguém sofrerá intromissões 
arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio ou na sua 
correspondência, nem ataques à sua honra e reputação”.
O Código Civil Brasileiro. Lei nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002, 
prescreve no “art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o 
juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências necessárias 
para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma, como forma de 
assegurar a privacidade de dados pessoais”. 
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Entre as legislações, o Código de Defesa ao consumidor. Lei nº 
8.078 de 11 de setembro de 1990, assegura no art. 43:
O consumidor, sem prejuízo do disposto no art. 86, terá acesso 
às informações existentes em cadastros, fichas, registros e dados 
pessoais e de consumo arquivados sobre ele, bem como, sobre as 
suas respectivas fontes. §1º Os cadastros e dados de consumido-
res devem ser objetivos, claros, verdadeiros e emlinguagem de 
fácil compreensão, não podendo conter informações negativas 
referentes a período superior a cinco anos. §2º A abertura de 
cadastro, ficha, registro e dados pessoais e de consumo deverá 
ser comunicada por escrito ao consumidor, quando não solicita-
da por ele. §3º O consumidor, sempre que encontrar inexatidão 
nos seus dados e cadastros, poderá exigir sua imediata correção, 
devendo o arquivista, no prazo de cinco dias úteis, comunicar a 
alteração aos eventuais destinatários das informações incorretas. 
§4º Os bancos de dados e cadastros relativos a consumidores, os 
serviços de proteção ao crédito e congêneres são considerados 
entidades de caráter público. §5º Consumada a prescrição rela-
tiva à cobrança de débitos do consumidor, não serão fornecidas, 
pelos respectivos Sistemas de Proteção ao Crédito, quaisquer 
informações que possam impedir ou dificultar novo acesso ao 
crédito junto aos fornecedores.
Notável que o interesse do legislador em proteger os dados pes-
soais, sempre existiu, a evolução do uso da internet, impulsiona o legisla-
tivo a criar meios de proteção específicos da esfera tecnológica, buscan-
do assim, promover igualdade de condições aos usuários da internet, de 
modo a não permitir que dados pessoais sejam violados. 
A legislação brasileira mostrou-se inovadora ao contar com a 
participação de vários setores da sociedade, que puderam opinar e acres-
cer conteúdo aos debates por meio de uma plataforma digital, registran-
do que houve demora na aprovação e entrada em vigor da mencionada 
lei, porém a abrangência de sua matéria, refletiu inclusive em legislações 
de outros países. 
Atualmente é comum ao ver esses casos de ofensas e violação 
dos direitos fundamentais nas redes sociais, como exemplo, no facebook, 
twitter, instagram entre outros, neste ambiente virtual muitas pessoas 
agem como se estivem livres de quaisquer responsabilidades. Em razão 
da complexidade das situações lesivas o Direito como importante ins-
trumento regulador e protetor da sociedade, deve através do arcabouço 
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jurídico vigente, viabilizar segurança e agilidade dos mecanismos de pro-
teção resguardando e promovendo a efetividade do princípio da dignida-
de da pessoa humana, e uma sociedade justa e democrática. A publicação 
do Marco Civil da Internet veio ao encontro dessa necessidade.
2.1. SURGIMENTO DO MARCO CIVIL DA INTERNET 
Os avanços tecnológicos têm trazido, a cada dia, as mais variadas 
inovações, as quais a sociedade não se mostra efetivamente preparada, 
e consequentemente, surgem novos delitos em âmbito penal e violações 
na esfera civil, ainda mais, quando se trata de um campo tão abrangente 
como a internet, que demanda o surgimento de legislações específicas 
sobre o tema. 
O Marco Civil da Internet aprovado pelo Senado, sendo que as 
regras que regulamentam a mencionada lei foram elaboradas com base 
em quatro consultas públicas elaboradas pela Agência Nacional de Tele-
comunicações, CGI e Ministério da Justiça.
Conhecido comumente como Marco Civil da Internet, trata-se 
na verdade do Projeto de Lei 21626/11, o qual estabelece princípios, ga-
rantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil, tendo sido 
aprovado no dia 25 de março de 2014, transformando-se na Lei nº 12.965, 
de 23 de abril de 2014.
O Marco Civil “foi criado como parte de uma reação pública for-
te contra um projeto de lei sobre crimes cometidos através da Internet no 
Brasil. O PL nº 84/99, de autoria do Deputado Luiz Piauhylino”, sendo 
que, no caso de aprovação deste projeto, havia a previsão de penas de até 
quatro anos de prisão para quem violasse os mecanismos de proteção de 
um telefone celular ou para quem transferisse músicas de um CD para 
outros dispositivos, ou seja, milhões de usuários de Internet no Brasil 
passariam a ser considerados criminosos, além de restringir oportuni-
dades de inovação, lançando à ilegalidade práticas indispensáveis para 
atividades típicas de pesquisa e desenvolvimento.110
Deste modo, nitidamente se estaria diante de um retrocesso so-
cial e, consequentemente, no âmbito da pesquisa, o que provocou uma 
mobilização popular contra a Lei Azeredo, como foi apelidada, e de-
sencadeou discussões sobre a necessidade de uma legislação pertinente 
110 SOUZA, Carlos Affonso; LEMOS, Ronaldo. Marco Civil da Internet Construção e 
Aplicação. Juiz de Fora: Editar Editora Associada Ltda, 2016, p.17
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sobre a esfera da internet. Ou seja, o Marco Civil da Internet surgiu como 
uma demanda popular e busca da sociedade em solucionar uma questão 
de interesse coletivo, considerando o advento das novas tecnologias.
A noção de que um “Marco Civil” intentava se opor às iniciativas 
de caráter penal/repressivo então dominantes no Congresso Nacional, 
sendo que, em 2009, observou-se que não havia como criar uma legis-
lação principiológica que pudesse estabelecer os padrões para aplicação 
dos direitos fundamentais na rede, sem a inclusão das mais diversas pers-
pectivas sobre o tema.111
A plataforma online por meio da qual se deu a consulta do Mar-
co Civil, o que possibilitou que qualquer pessoa pudesse expressar a sua 
opinião sobre o tema em discussão, uma emergente noção de participa-
ção cidadã na construção das leis, através da Internet, começava a ser 
desenhada, a qual não estava mais reservada a notas técnicas distribu-
ídas em gabinetes, mas sim transformadas em contribuições concretas, 
comentadas por todos os interessados, como em um típico fórum de 
discussão na Internet.
O relator do projeto do Marco Civil da Internet pelo Deputado 
Alessandro Molon, sendo os assuntos mais debatidos, a neutralidade da 
rede e direitos autorais, os quais causaram maiores divergências e retar-
daram a aprovação do mencionado projeto, sendo que simbolicamente 
o texto da lei foi sancionado pela presidente Dilma Rousseff na abertura 
da Conferência NetMundial, que reuniu, no Brasil, diversas delegações 
internacionais para debater o futuro da governança da Internet, tendo a 
lei entrado em vigor nem 23 de junho de 2014.
Com o Marco Civil da Internet, busca-se o incentivo a novos 
aplicativos e tecnologia, pois pretende-se tratamento igualitário, e modo 
que empresas que possuem melhores condições financeiras não sejam 
ainda mais privilegiadas. 
Nas palavras de Marcelo Thompson, o Marco Civil dá grande 
notabilidade à liberdade de expressão do usuário da internet, no entanto 
acaba por priorizá-la frente a outros direitos fundamentais como o direi-
to à privacidade e direito à honra.112
111 SOUZA, Carlos Affonso; LEMOS, Ronaldo. Marco Civil da Internet Construção e 
Aplicação. Juiz de Fora: Editar Editora Associada Ltda, 2016, p.18-19.
112 THOMPSON, Marcelo. Marco civil ou demarcação de direitos? Democracia, razo-
abilidade e as fendas na internet do Brasil. RDA – Revista de Direito Administra-
tivo. Rio de Janeiro, v. 261, p. 203-251.
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Importante mencionar que o Marco Civil na Internet não esgo-
tou o assunto em sua totalidade, primeiramente por se tratar de uma te-
mática recente que se encontra em constante transformação e também 
porque se mostrou necessário uma certa liberalidade para que se enqua-
dre nos casos concretos hodiernos. 
Frisa-se que o Marco Civil da Internet não se trata de um novo 
Código, como o Código de Processo Civil 2015 ou o Código Civil 2002, 
assim como, não pode ser considerada como mencionado por alguns au-
tores, como a nova Constituição da Internet, pois, contrariamente é uma 
legislação inovadora, contudo não se trata de um código, estabelecendo 
princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil. 
De modo que o avanço legislativo brasileiro, como consequência 
influenciou inúmeros países por todo o mundo a legislarem ou aprimo-
rarem suas legislações no que se refere à internet. 
A lei promulgadaque trata do Marco Civil na Internet demons-
tra uma demanda da sociedade, doutrina e jurisprudência atual, as quais 
vinham refletindo a necessidade de normatização sobre o tema. Por isso, 
importante analisar a criação e a interpretação legislativa em função da 
evolução tecnológica, como o Direito Comparado e a importância de 
Tratados e Convenções Internacionais que contribuíram para o Marco 
Civil da Internet no Brasil. 
O Marco Civil da Internet prevê a inviolabilidade e sigilo de suas 
comunicações, de modo que o “projeto de lei regula o monitoramento, 
filtro, análise e fiscalização de conteúdo para garantir o direito à priva-
cidade. Somente por meio de ordens judiciais para fins de investigação 
criminal será possível ter acesso a esses conteúdos”.113 
Aprovado em 2014, o Marco Civil serviu de inspiração para um 
processo de construção colaborativa de uma Declaração de Direitos para 
Internet, realizada pelo governo italiano, sendo a experiência brasileira 
citada, como seus diversos atores envolvidos convidados para apresentar 
as suas contribuições ao Parlamento Italiano, refletindo na cooperação 
entre os dois países, o que demonstra o rápido impacto que a aprovação 
do texto brasileiro desencadeou. Assim, a redação italiana possui seme-
lhanças com o texto do Marco Civil brasileiro, porém importante des-
tacar a inserção da cláusula denominada “neutralidade de dispositivos”, 
113 PORTAL EBC. Entenda o Marco Civil da Internet ponto a ponto. Disponível em: 
https://www.ebc.com.br/tecnologia/2014/04/entenda-o-marco-civil-da-internet-
-ponto-a-ponto. Acesso em: 18 jan. 2022.
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que garantiu a não discriminação no fluxo de dados de acordo com o 
dispositivo utilizado pelo usuário.114 
A França também realizou uma ampla consulta para a modifica-
ção de leis em vigor de forma a prever questões relacionadas à proteção 
de direitos na Internet, sendo que as propostas de modificação legislativas 
no país tiveram debates em uma plataforma que representa um avanço na 
“apresentação dos temas e do debate em si, com gráficos que demonstram 
a evolução da discussão e metodologia que evidencia os momentos de 
feedback aos participantes da consulta e a produção de sínteses”.115 
Ainda, relevante mencionar que o Marco Civil brasileiro foi ci-
tado em uma decisão da Suprema Corte da Argentina em caso que ana-
lisava a responsabilidade dos provedores de busca pelos resultados in-
dexados, sendo mencionada na decisão a Lei brasileira determina que 
um “provedor apenas pode ser responsabilizado pelo conteúdo de seus 
usuários caso o mesmo venha a descumprir uma ordem judicial que de-
termina a remoção da postagem reconhecida como ilícita”.116 
No entender de Eduardo Tomasevicius Filho, a ela boração de 
uma Lei Uniforme ou Convenção Internacional sobre o uso da internet, 
proporcionaria maior proteção dos usuários da internet ou poder-se-ia 
converter a Resolução da ONU em uma Declaração Universal dos Direi-
tos dos Usuários da Internet, à semelhança da Declaração Universal dos 
Direitos Huma nos, a qual seria uma espécie de marco civil internacional 
que pudesse inspirar os demais países a repensar sobre a necessidade de 
mudanças legislativas internas117. 
Para Irineu Francisco Barreto Junior:
Marco Civil reafirma o alinhamento transnacional brasileiro com 
os direitos humanos e alude à dicotomia entre direitos fundamen-
tais e absolutos, ao assegurar a liberdade de expressão, parametri-
zada pela proteção da privacidade e dos dados pessoais dos usuá-
rios da rede. Faz-se importante tratar dessa dualidade, inerente à 
114 SOUZA, Carlos Affonso; LEMOS, Ronaldo. Marco Civil da Internet Construção e 
Aplicação. Juiz de Fora: Editora Associada Ltda, 2016. p. 32-34
115 SOUZA, Carlos Affonso; LEMOS, Ronaldo. Marco Civil da Internet Construção e 
Aplicação. Juiz de Fora: Editora Associada Ltda, 2016. p.36.
116 SOUZA, Carlos Affonso; LEMOS, Ronaldo. Marco Civil da Internet Construção e 
Aplicação. Juiz de Fora: Editora Associada Ltda, 2016. p.36-37.
117 TOMASEVICIUS FILHO, Eduardo. Marco Civil da Internet: uma lei sem conteúdo 
normativo. In: Estudos Avançados. 30 (86), 2016, p. 269-285.
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sobreposição histórica entre direitos fundamentais e à potencial 
elevação dessa dicotomia, provocada pela sociedade em rede que, 
conforme assinalado anteriormente neste capítulo, pode ser ca-
racterizada como o paradigma atual do desenvolvimento do capi-
talismo, que supera os antagonismos entre sociedade, economia, 
cultura e comunicação informática e configura um novo estágio 
de desenvolvimento do sistema econômico.118
Nesse sentido, busca-se por meio do Marco Civil da Internet, a 
proteção de direitos já garantidos constitucionalmente e em outros dispo-
sitivos legais constantes no ordenamento jurídico brasileiro, com especial 
enfoque aos direitos fundamentais de liberdade de expressão e privacidade.
A vida privada é amplamente tutelada no bojo da legislação pá-
tria, a Constituição Federal Brasileira vigente teve no seu calcanhar a 
sociedade civil e se organizou de maneira humanista democrática, des-
colonizada mentalmente, quebrando preconceitos através dos objetivos 
fundamentais, virtuosos porque propiciadores para construir uma socie-
dade livre e justa solidária. 
A jurisdição formatada pela constituição é independente poli-
ticamente, e tecnicamente autônoma. Numerosos são os princípios que 
norteiam o direito brasileiro e estão para o direito, como os ideais estão 
para a filosofia. De modo que, não basta garantir a inviolabilidade do ser 
humano, a vida biológica, a vida biopsíquica é preciso que a vida humana 
se dê em condições de liberdade, igualdade, segurança e propriedade.
A sociedade informacional, representa uma nova forma de estru-
tura social e requer um equilíbrio das políticas públicas reguladoras do 
Estado. É fato que a internet exige o engajamento do direito, e um jurista 
comprometido com a democracia. 
O desafio é do aperfeiçoamento institucional, não se admite re-
trocesso é importante garantir o avanço e compatibilizar a velocidade 
estonteante dos fatos no mundo digital com a inviolabilidade dos prin-
cípios constitucionais, porque elementarizam a personalidade humana, 
sem a efetividade desses direitos a pessoa se torna sub pessoa. Assim, 
resta evidente que ter contato com a ordem jurídica justa engloba uma 
atuação conjunta do Poder Público no sentido de viabilizar mecanismos 
118 BARRETO JUNIOR, Irineu Francisco. Proteção da Privacidade e de Dados Pesso-
ais na Internet: O Marco Civil da rede examinado com fundamento nas teorias 
de Zygmunt Bauman e Manuel Castells. In: DE LUCCA, Newton; SIMÃO FILHO; 
Adalberto; DE LIMA; Cintia Rosa Pereira. (Org.). Direito & Internet III: Marco 
Civil da Internet. 1. ed. v. 2. São Paulo: Quartier Latin, 2015, p. 100-127.
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eficazes de resolução de contendas, sendo a postura coercitiva do Poder 
Judiciário apenas um dos braços que envolve o tema, e não o único.
2.2. A RESPONSABILIDADE CIVIL PREVISTA NO MARCO CIVIL NA INTERNET
O homem, ao nascer, adquire a responsabilidade por todos os 
seus atos e fatos que possam produzir reflexos jurídicos. Mesmo antes do 
homem, perpetrar-se num estado de direito, já se mostrava responsável 
pelos seus atos perante o grupo social a que fazia parte, pois nenhum 
homem consegue viver em qualquer meio social sem regras de compor-
tamento, daí então a necessidade de impor penalidades pela infringência 
dessas regras comportamentais.
Hodiernamente, vive-se a era da informação. A internet corres-
ponde o acesso mais facilitado de comunicação e informação, um espaço 
democrático de direito, aberto para manifestações de pensamento que 
gera inúmeros conteúdos veiculados instantaneamente. 
O desafio atual, é na medida do possível e respeitando a demo-
cracia, o estado de direito aplicar medidasregulatórias da responsabi-
lidade civil no mundo virtual. A internet é um mundo fascinante para 
explorar, repleto de oportunidades e satisfação, mas como qualquer outro 
ambiente social, surge-se a necessidade de regularização acerca da res-
ponsabilidade civil no ambiente virtual. 
A responsabilidade civil pode compreender-se em sentido amplo 
e em sentido estrito. Em sentido amplo, tanto significa a situação jurídica 
em que alguém se encontra de ter de indenizar outrem quanto à própria 
obrigação decorrente dessa situação, ou ainda, o instituto jurídico forma-
do pelo conjunto de normas e princípios que disciplinam o nascimento, 
conteúdo e cumprimento de tal obrigação. Em sentido estrito, designa 
o específico dever de indenizar nascido o fato lesivo imputável a deter-
minada pessoa119. Portanto, a responsabilidade civil é a obrigação que a 
pessoa tem de indenizar quando provoca algum dano a outrem.
Inequívoco que o ambiente virtual não é terra sem lei, ou seja, 
tudo o que acontece na internet, é passível de ação de indenização. Con-
tudo, regras claras para responsabilidade civil dos usuários da internet 
é medida que se impõe, como forma de garantir a que não seja violado 
direitos fundamentais.
119 AMARAL, Francisco. Direito Civil 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2014, p.531.
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Pontua-se, que o Marco Civil da Internet, intensificou a proteção 
de direitos dos usuários da internet. Alguns autores afirmam que havia 
uma lacuna legislativa sobre ela, sendo indispensável a elaboração de lei 
especial sobre o tema. A título de exemplo, Damásio de Jesus e José An-
tônio Milagre, ao comentarem o Marco Civil da Internet, destacam que:
[...] no Brasil não existia lei específica que tratasse dos deveres dos 
provedores de acesso, aplicações e dos direitos do usuário. Ques-
tões submetidas ao Judiciário comumente julgadas pelo texto 
constitucional apresentavam decisões contraditórias e eram julga-
das com base na aplicação do Código Civil Brasileiro, Código de 
Defesa do Consumidor e outras legislações existentes.120
Destarte que um episódio muito conhecido sobre a empresa bri-
tânica Cambridge Analytica, que atuou na campanha de Donald Trump e 
no Brexit no Reino Unido, roubou dados de 50 milhões de eleitores norte 
americanos no facebook. Usuários brasileiros também foram afetados. E 
isso impulsionou o desengavetamento do projeto de Lei do Marco Civil. 
Os dispositivos do Marco Civil da Internet, ressaltou alguns direitos e 
garantias já previstos na Constituição Federal vigente. 
O fato é que o escândalo do uso ilegal de dados de milhões de 
usuários do Facebook pela empresa Cambridge Analytica, despontou 
uma preocupação em relação as informações disponibilizadas pelos usu-
ários do mundo virtual. Informações que podem influenciar todo um 
cenário político e social. 
Neste esteio, o pesquisador da área de psicologia Michael Ko-
sinski, afirma que até mesmo curtidas aleatórias no facebook pode traçar 
o perfil de uma pessoa, revelando tendências políticas, raça, gênero, in-
clinação sexual. etc.
Frente ao exposto, o princípio da privacidade, determina-se a ga-
rantir a inviolabilidade das comunicações dos usuários. Nesse sentido, a 
Lei do Marco Civil impõe o dever de sigilo das informações ao provedor 
do recurso de internet. Excepcionalmente, por ordem judicial e quando 
imprescindíveis para elucidação de condutas ilícitas que poderá ocorrer 
a quebra de sigilo, observando sempre os princípios constitucionais e a 
teoria da proporcionalidade. 
120 JESUS, Damásio de. MILAGRE, José Antônio. Marco Civil da Internet: comentá-
rios à Lei n. 12.965, São Paulo: Saraiva, 2014, p. 16.
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Nesse contexto, as empresas estrangeiras que atuam no país tam-
bém deverão estar em conformidade com a normatização Brasileira, in-
cluindo não somente o Marco Civil da Internet, mas todas as legislações 
que cuidam desses direitos.
O desenvolvimento de novas tecnologias, tem proporcionado 
profundas transformações sociais. Denota-se que se vive uma nova era 
denominada como Sociedade da Informação. Impulsionando o ordena-
mento jurídico a criar mecanismo de proteção para a vida privada. 
O Marco Civil estabeleceu princípios, garantias, direitos e deve-
res para o uso da internet no Brasil. Os princípios elencados na Lei do 
Marco Civil são o da liberdade de expressão, privacidade dos dados, e 
neutralidade da rede, e ressaltou que o acesso a rede é um serviço essen-
cial para a cidadania. 
Observa-se, que o Marco da Internet apresentou atenção especial 
a inviolabilidade da vida privada, o capítulo II da referida Lei estabelece 
os direitos e garantias dos usuários da internet. Especificamente os inci-
sos I a III do art. 7º são dedicados à tutela da intimidade e da vida priva-
da, bem como sigilo de comunicações. 
Destaca-se que que a Lei prevê em seu art. 8º o pleno exercício do 
direito de acesso à internet, garantido o direito à privacidade e a liberdade 
de expressão. Do mesmo modo o art. 10 estabelece: 
Art. 10. A guarda e a disponibilização dos registros de conexão e 
de acesso a aplicações de internet de que trata esta Lei, bem como 
de dados pessoais e do conteúdo de comunicações privadas, de-
vem atender à preservação da intimidade, da vida privada, da 
honra e da imagem das partes direta ou indiretamente envolvi-
das.§ 1º O provedor responsável pela guarda somente será obriga-
do a disponibilizar os registros mencionados no caput, de forma 
autônoma ou associados a dados pessoais ou a outras informações 
que possam contribuir para a identificação do usuário ou do ter-
minal, mediante ordem judicial, na forma do disposto na Seção IV 
deste Capítulo, respeitado o disposto no art. 7o.§ 2º O conteúdo 
das comunicações privadas somente poderá ser disponibilizado 
mediante ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei esta-
belecer, respeitado o disposto nos incisos II e III do art. 7o.§ 3º O 
disposto no caput não impede o acesso aos dados cadastrais que 
informem qualificação pessoal, filiação e endereço, na forma da 
lei, pelas autoridades administrativas que detenham competência 
legal para a sua requisição.§ 4º As medidas e os procedimentos de 
segurança e de sigilo devem ser informados pelo responsável pela 
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provisão de serviços de forma clara e atender a padrões defini-
dos em regulamento, respeitado seu direito de confidencialidade 
quanto a segredos empresariais.
Cabe salientar que a ONU, em um relatório enviado para alguns 
países signatários, pede o não bloqueio da rede. Ressaltando que o acesso 
deve ser mantido mesmo em manifestações. 
 O desafio é como responsabilizar usuários da internet, garan-
tindo a liberdade de expressão e a privacidade de modo que o ambien-
te virtual seja viável, acessível e justo para todos. O direito não pode 
operar como inibidor de inovações. Assim preconiza Gilmar Mendes e 
Ingo Sarlet: 
No debate público, especialmente no que respeita à inovação tec-
nológica, o direito vigente é muitas vezes rotulado como inibidor 
da inovação. Isso é muito unilateral: o direito pode assumir muitas 
formas e afetar muitos dos resultados, seja o da promoção, ou do 
efeito inibidor, dependendo da natureza do direito a partir da pes-
quisa científica. A pesquisa em inovação na ciência jurídica ana-
lisa os modos de ação do direito que permitam inovações ou que 
as estimulem, a esta função de signo de “abertura do direito” às 
inovações. O direito também é instituído para defender valores e 
interesses e proteger bens jurídicos que possam ser colocados em 
risco. Nesse sentido, o direito incide na realização do bem comum 
e este pode ser favorecido pela inovação, mas igualmente pode ser 
posto em risco. Portanto, para a cautela relativamente à compa-
tibilidade do comportamento inovador, juridicamente marcado 
pelo bem comum, denomino “responsabilidade pela inovação.121Diante dessas perspectivas, a liberdade de expressão pode ser re-
lativizada, a privacidade também poderá, dependendo do caso concreto. 
O princípio da proporcionalidade esclarece a necessidade de ava-
liações e da escolha adequada entre as diferentes opções: se deve 
eleger a opção que é a mais conveniente não somente para resol-
ver o problema, mas também a menos desvantajosa para outros 
interesses. Para uma avaliação adequada, os operadores do direi-
to devem também levar em conta as alterações das condições do 
121 MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang; P. COELHO, Alexandre Zava-
glia. Direito, inovação e tecnologia. v. 1. São Paulo: Saraiva, 2015, p.15.
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cenário econômico, tecnológico, político ou cultural. Também 
exige uma disposição para aprendizagem.122
Assim, o Marco Civil tratou de responsabilidade civil, preservan-
do as bases para a promoção das liberdades e dos direitos dos usuários. 
Distanciando-se de uma regulação repressiva da rede. 
Importante trazer à baila o provedor de serviços de internet, é a 
pessoa natural ou jurídica que fornece serviços relacionados ao funcio-
namento da internet, ou por meio dela. Existem como espécie do gênero 
provedor de serviços de internet várias categorias, como provedor de ba-
ckbone, provedor de acesso, provedor de correio eletrônico, provedor de 
hospedagem e provedor de conteúdo.
 De um modo geral os provedores são intermediários dos ser-
viços da internet, a grande questão é qual a responsabilidade civil para 
possíveis lesões advindas das atividades desses provedores. 
Via de regra, o usuário é uma figura ativa no mundo virtual, ele 
que gera os conteúdos fundamentado no direito à liberdade de expres-
são. Antes do Marco Civil as publicações ofensivas de forma subjetiva e 
mediante mera notificação privada ao provedor, deveriam ser retiradas 
em 24 horas, caso o conteúdo não fosse retirado, a responsabilização do 
provedor estaria configurada. 
Para ilustrar o mencionado acima, cita-se o julgamento da Ter-
ceira Turma do STJ no REsp 1.406.448/RJ, julgado em 15/10/2013 (DJe 
21/10/2013), segundo o qual:
Ao ser comunicado de que determinada mensagem postada em 
blog por ele hospedado possui conteúdo potencialmente ilícito ou 
ofensivo, deve o provedor removê-lo preventivamente no prazo de 
24 horas, até que tenha tempo hábil para apreciar a veracidade das 
alegações do denunciante, de modo a que, confirmando-as, exclua 
definitivamente o vídeo ou, tendo-as por infundadas, restabeleça 
o seu livre acesso, sob pena de responder solidariamente com o 
autor direto do dano em virtude da omissão praticada.
Atualmente o STJ entende que a responsabilidade dos provedo-
res se estabelece a partir do art. 19 do Marco Civil da Internet, ou seja, 
até a notificação os provedores não têm responsabilidade em conteúdos 
122 MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang; P. COELHO, Alexandre Zava-
glia. Direito, inovação e tecnologia. Vol. 1. São Paulo: Saraiva.2015 p.28.
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postados por usuários. A questão principal para essa responsabilização é 
a o cuidado com a censura, por isso cabe ao poder judiciário analisar se o 
conteúdo é lesivo e se causam prejuízo de terceiros.
Art. 19. Com o intuito de assegurar a liberdade de expressão e 
impedir a censura, o provedor de aplicações de internet somente 
poderá ser responsabilizado civilmente por danos decorrentes de 
conteúdo gerado por terceiros se, após ordem judicial específica, 
não tomar as providências para, no âmbito e nos limites técnicos 
do seu serviço e dentro do prazo assinalado, tornar indisponível o 
conteúdo apontado como infringente, ressalvadas as disposições 
legais em contrário.
O lesado hoje deve pleitear a retirada do conteúdo judicial-
mente e se o juiz entender que existe lesão e risco notifica o provedor 
para que retire o conteúdo. Proteger a dignidade da pessoa humana 
e o acesso à informação em geral, implica a análise do Poder Judici-
33ário, pois não é possível atribuir aos provedores ou aos usuários o 
poder de censura. 
Vale salientar que, o STJ quando passa aplicar o art. 19 do marco 
civil, modulou os efeitos, de modo que os casos que aconteceram antes 
do Marco Civil, continuam sobre a égide em que bastava a notificação 
privada para que o conteúdo ter que ser retirado. 
Diante desse cenário, o art. 14 do Código de Defesa do Consu-
midor, não se aplica para situações em que o conteúdo é gerado pelos 
usuários e não existe notificação judicial para que o provedor retire o 
conteúdo. A responsabilidade prevista no art. 14 do CDC que é uma res-
ponsabilidade objetiva, não é fundada no risco de atividade. O elemento 
de responsabilização é o defeito. Ou seja, quando ela não fornece a segu-
rança que ela deve respaldar o consumidor. De forma que só pode-se vi-
sualizar uma falha do servidor caso notificado ele não retire o conteúdo.
Destarte que poderá ser aplicado o art. 14 do Código de Defesa 
do Consumidor aos provedores por outra forma de atuação, como vaza-
mento, e transferência de dados sem estar autorizado, de forma que se 
visualiza uma falha na segurança. De um modo geral, considera-se que 
não há falha na não retirada de conteúdo frente notificação privada, pois 
a liberdade de expressão e disposição do conteúdo sem censura previa é 
da essência da atividade desses provedores que possibilitam a inserção de 
conteúdo por usuários. 
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Por outro lado, se o provedor resolver efetivar a censura prévia 
sem motivo justificado, então o provedor será responsabilizado. Impor-
tante também referir que existe algumas exceções, mas a própria Lei do 
Marco Civil prediz algumas situações como direitos autorais, direitos de 
imagem com cena de sexo ou nudez em que é necessária a retirada com a 
simples notificação do lesado.
Vinculada a responsabilidade dos provedores, a parte que requer 
a retirada deve informar o endereço específico na internet, é uma exigên-
cia para que se possa exigir ou retirar conteúdo lesivo da internet, sendo 
imprescindível que o usuário indique a URL. 
Essa necessidade está expressa na redação conferida ao § 1º do 
art. 19 do Marco Civil da Internet, ao dispor sobre os requisitos de va-
lidade da própria ordem judicial que determina a retirada de conteúdo 
infringente, conforme redação do dispositivo mencionado: “A ordem 
judicial de que trata o caput deverá conter, sob pena de nulidade, iden-
tificação clara e específica do conteúdo apontado como infringente, que 
permita a localização inequívoca do material.” 
Questão muito controvérsia entre os juristas, no sentindo de que 
o Marco Civil da Internet não se exige a URL, e sim a localização clara 
e precisa, pelo princípio geral da boa-fé objetiva parece um formalismo 
exacerbado exigir que o usuário indique a URL, quando outras informa-
ções podem ser suficientes.
A jurisprudência majoritária exige a indicação do localizador URL 
para se pleitear a retirada de conteúdos infringentes de uma rede social. Ve-
ja-se, nesse sentido, o trecho da ementa. No julgamento do REsp1.512.647/
MG (Segunda Seção, julgado em 13/05/2015, DJe 05/08/2015):
(...) Quanto à obrigação de fazer - retirada de páginas da rede so-
cial indicada, a parte autora também juntou à inicial outros do-
cumentos que contêm, de forma genérica, URLs de comunidades 
virtuais, sem a indicação precisa do endereço interno das páginas 
nas quais os atos ilícitos estariam sendo praticados. Nessas cir-
cunstâncias, a jurisprudência da Segunda Seção afasta a obrigação 
do provedor, nos termos do que ficou decidido na Rcl 5.072/AC, 
Rel. p/ acórdão Ministra NANCYANDRIGHI. 
Resta ausente de dúvida, que é imprescindível a indicação do loca-
lizador URL para remover conteúdos infringentes da internet. Trata-se, in-
clusive, de um elemento de validade para uma ordem judicial dessa natureza.
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Outra questão importante a respeito da responsabilidade é o não 
cumprimento de ordem de quebra de sigilo, por provedores da inter-
net, e aplicação de astreintes. Nos últimos 2 anos, o WhatsApp enfren-
tou 4 pedidos de bloqueios e já teve mais de R$ 57 milhões bloqueados, 
por descumprimento ao artigo nº 11 e seus parágrafos 1º e 2º da lei nº 
12.965/2014. 
Irrefragável que a autonomia dada ao poder judiciário sinaliza 
por vezes uma atuação judicial e processual desmedida representando 
ameaça para os usuários da rede. A não colaboração tem levado a justi-
ça a utilizar a legislação brasileira em favor de sentenças que vão desde 
multas milionárias a bloqueios temporários do aplicativo, baseados nos 
incisos I, II, III e IV do Artigo nº 12 da lei n 12965/2014, que trata sobre 
o Marco Civil da Internet: 
Art. 12. Sem prejuízo das demais sanções cíveis, criminais ou ad-
ministrativas, as infrações às normas previstas nos arts. 10 e 11 
ficam sujeitas, conforme o caso, às seguintes sanções, aplicadas de 
forma isolada ou cumulativa: I - advertência, com indicação de 
prazo para adoção de medidas corretivas; II - multa de até 10% 
(dez por cento) do faturamento do grupo econômico no Brasil no 
seu último exercício, excluídos os tributos, considerados a condi-
ção econômica do infrator e o princípio da proporcionalidade en-
tre a gravidade da falta e a intensidade da sanção; III - suspensão 
temporária das atividades que envolvam os atos previstos no art. 
11; IV - proibição de exercício das atividades que envolvam os atos 
previstos no art. 11.
Verifica-se que, em 19 de julho de 2016, ocorreu o 4º pedido de 
bloqueio do WhatsApp, no Brasil. Por determinação judicial, o aplica-
tivo ficou bloqueado por mais de quatro horas, até que o presidente de 
plantão do Supremo Tribunal Federal, ministro Ricardo Lewandowski, 
decidiu derrubar a decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.
Por conseguinte, Oliveira refere-se na ADPF403MC, Relator 
Min. Edson Fachin, decisão por Ricardo Lewandowski, arguiram: 
Para o presidente do Supremo, o bloqueio foi uma medida des-
proporcional porque o WhatsApp é usado de forma abrangente, 
inclusive para intimações judiciais, e fere a segurança jurídica. 
[...] destacou que o entendimento da juíza do Rio foi ‘pouco ra-
zoável e desproporcional’ porque deixou milhões de brasileiros 
sem o meio de comunicação. [...] destacou que o Marco Civil da 
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Internet tem como princípio a garantia da liberdade de expres-
são e comunicação. E afirmou que a lei tem preocupação com a 
segurança e com a funcionalidade da rede. [...] considerou que 
as mensagens instantâneas têm grande impacto na vida dos cida-
dãos e que a própria juíza do Rio destacou que o WhatsApp tem 
mais de 1 bilhão de usuários no mundo – o Brasil é o segundo 
país com mais usuários.123
Neste diapasão, denota-se muitas questões relacionadas à res-
ponsabilidade civil no mundo virtual. Neste passo, muitas são as con-
trovérsias em relação ao direito ao esquecimento no mundo virtual, em 
linhas gerais a regra é no sentindo de que não se pode apagar, mas em 
função dos prejuízos que podem causar a pessoa o STJ entende que so-
mente através de pedido judicial é que se pode pedir a desindexação do 
nome da pessoa daquele conteúdo diretamente nos resultados de buscas 
nos sites buscadores da internet, reconhecendo a impossibilidade de lhe 
atribuir a função de censor a esses sites. O Poder Judiciário que poderá 
determinar a responsabilidade se notificado judicialmente para a não exi-
bição, assim não procederem.
Com isso, observa-se, que mesmo nos contornos do direito ao 
esquecimento, não se admite a supressão de informações, permanecem 
online e apenas indisponibilizadas no caso de buscas específicas. 
Importante consignar, sobre a neutralidade na rede é temática 
expressamente consignada no art. 9º, seus parágrafos e incisos da Lei nº 
12.965, de 23 de abril de 2014, os quais trazem direitos e deveres do usu-
ário da rede.
A neutralidade da rede, nos seus aspectos jurídicos e tecnológi-
cos, foi tratada primeiramente por Tim Wu e logo em seguida por Chris-
topher S. Yoo, diretor de The Technology and Entertainment Law Pro-
gram at the Vanderbilt University Law School.
No art. 9º, “caput” da mencionada lei, encontra-se consignado 
que “o responsável pela transmissão, comutação ou roteamento tem o de-
ver de tratar de forma isonômica quaisquer pacotes de dados, sem distin-
ção por conteúdo, origem e destino, serviço, terminal ou aplicação.
123 OLIVEIRA, Mariana. STF suspende decisão da Justiça do Rio que bloqueou 
WhatsApp. 2016. Disponível em: http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2016/07/
stf-suspende-decisao-da-justica-do-rio-que-bloqueou-whatsapp.html. Acesso em: 
15 jan. 2022.
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Conforme o art. 9º, § 1º A discriminação ou degradação do trá-
fego somente poderá decorrer de “I - requisitos técnicos indispensáveis à 
prestação adequada dos serviços e aplicações; e II - priorização de servi-
ços de emergência. 
Com a neutralidade da rede busca-se acessar indistintamente 
uma página de internet, enviar um e-mail, assistir a um filme ou con-
versar por videoconferência, sem prejuízo da velocidade de transmissão 
dos dados, no entanto alguns cri térios foram estabelecidos para a discri-
minação dos dados quando requisitos técnicos, assim o exigirem ou a 
priorização de serviços de emergência. 
Entretanto, a discriminação dos dados não pode causar danos 
às pessoas, devendo estar pautada na proporcionalidade, transparência 
e isonomia, informando-se previamente, com transparência e clareza 
os critérios de gerenciamento e mitigação de tráfego adotadas, inclusi-
ve quando relacionadas à segurança da rede. A discri minação de dados 
também não pode implicar oferecimento de serviços em condições co-
merciais discriminatórias nem resultar em práticas anticoncorrenciais.124
Quanto à discriminação ou degradação do tráfego constantes no 
art. 9º, § 1º, Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014, o responsável deve:
Art. 9º, § 1º (...)
I - Abster-se de causar dano aos usuários, na forma do art. 927 da 
Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil;
II - agir com proporcionalidade, transparência e isonomia;
III - informar previamente de modo transparente, claro e suficien-
temente descritivo aos seus usuários sobre as práticas de gerencia-
mento e mitigação de tráfego adotadas, inclusive as relacionadas à 
segurança da rede; e
IV - oferecer serviços em condições comerciais não discriminató-
rias e abster-se de praticar condutas anticoncorrenciais.125
Portanto, imprescindível a aplicabilidade de alguns princípios 
como a transparência, isonomia e proporcionalidade, não devendo o res-
ponsável pela rede causar danos aos usuários, oferecer serviços que não 
sejam discriminatórios, nem prevaricando certos usuários ou empresas, 
124 TOMASEVICIUS FILHO, Eduardo. Marco Civil da Internet: uma lei sem conte-
údo normativo. In: Estudos Avançados. 30 (86), 2016, p. 269-285. 
125 BRASIL. Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014. Estabelece princípios, garantias, di-
reitos e Deveres para o uso da Internet no Brasil. Disponível em:http://www.planal-
to.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12965.htm. Acesso em: 18 jun.2022.
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prezando pela livre concorrência, devendo ser observada a adequada atu-
ação dos provedores no momento da execução de seus serviços na rede. 
Ricardo Castilho, acertadamente, preceitua: 
Entretanto, seja, qual for o local, a origem ou o fundamento das 
atitudes discriminatórias ou preconceituosas, o importante é ter 
ciência de que a solução definitiva para este problema só será pos-
sível através da formação moral dos indivíduos de nossa socieda-
de. Em outras palavras, o respeito à dignidade intrínseca de cada 
ser humano parece ser uma manifestaçãonatural daquele que 
aprendeu a respeitar as diferenças e os diferentes126.
A transparência presente no art. 9º, § 1º, II da lei supramencio-
nada, tem relação com o direito à informação presentes na Constituição 
Federal 1988, assim como, o Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 
8078/90), enfaticamente no art. 6º.127.
De acordo com Pedro Henrique Soares Ramos:
As modalidades de discriminação podem ser metodologica-
mente divididas em três diferentes categorias. A primeira é o 
bloqueio de aplicações que sejam contrárias aos interesses dos 
administradores da rede; a segunda é a discriminação por ve-
locidade, que pode ocorrer de forma negativa (em que a veloci-
dade de determinada aplicação ou classe de aplicações é redu-
zida em relação às demais) ou positiva (quando uma aplicação 
recebe velocidade superior a outras aplicações idênticas ou se-
melhantes); finalmente, há também possibilidade de provedores 
de acesso aplicarem discriminação por preço, de forma a cobrar 
de usuários fina tarifas maiores para o acesso a determinadas 
aplicações ou classe de aplicações (discriminação negativa) ou, 
ainda, fornece uma tarifa inferior para o acesso de uma aplicação 
específica (discriminação positiva).128
126 CASTILHO, Ricardo. Direitos humanos. São Paulo: Saraiva, 2013. p.26.
127 BARRETO JUNIOR, Irineu Francisco; CÉSAR, Daniel. Marco civil da internet e 
neutralidade da rede: aspectos jurídicos e tecnológicos. Revista Eletrônica do Cur-
so de Direito da UFSM. v. 12, n. 1. 2017, p. 73.
128 RAMOS, Pedro Henrique Soares. Neutralidade da rede: um guia para a discussão. 
Disponível em: http://www.neutralidadedarede.com.br/. Acesso em: 23 jan. 2022, p. 
141-143.
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Desta feita, as possibilidades de discriminação na rede encon-
tram-se consignadas na Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014, como forma 
de melhor regulamentar a rede. 
Consta no art. 9º, § 3º da Lei nº 12.965/2014: “na provisão de 
conexão à internet, onerosa ou gratuita, bem como na transmissão, co-
mutação ou roteamento, é vedado bloquear, monitorar, filtrar ou anali-
sar o conteúdo dos pacotes de dados, respeitado o disposto neste artigo”. 
Portanto, os usuários devem ter liberdade no uso do pacote de dados, não 
podendo sofrer tais limitações dos fornecedores dos serviços”.
Para Eduardo Tomasevicius Filho, o art. 9º, § 3º do Marco Civil 
na Internet afastou o temor de que fossem implantados no Brasil me-
canismos de controle estatal por meio de firewalls, tal como ocorre em 
países que monitoram o acesso dos seus cidadãos à internet.129 
2.3. PRINCIPIO DA NEUTRALIDADE DA REDE
O Princípio da Neutralidade, no qual estão inseridos os direitos 
e deveres do usuário da rede, congrega outros princípios como transpa-
rência, liberdade de expressão e defesa da concorrência; determinando 
condutas a serem observadas, sendo possível a aplicação de sanções no 
caso de não observância.
Nos termos do Princípio da Neutralidade, Ronaldo Lemos explica:
(...) a rede deve ser igual para todos, sem diferença quanto ao tipo 
de uso. Assim, ao comprar um plano de internet, o usuário paga 
somente pela velocidade contratada e não pelo tipo de página 
que vai acessar. Ou seja: o usuário poderá acessar o que quiser, 
independentemente do tipo de conteúdo. Paga, de acordo, com o 
volume e velocidade contratados. Em acordo com a oposição ao 
governo, o texto na Câmara aprovado e confirmado no Senado, 
prevê que a neutralidade será regulamentada por meio de decreto 
após consulta à Agência Nacional de Telecomunicações e ao Con-
selho Gestor da Internet.130
129 TOMASEVICIUS FILHO, Eduardo. Marco Civil da Internet: uma lei sem conteúdo 
normativo. Estudos Avançados. 30 (86), 2016, p. 278.
130 PORTAL EBC. Entenda o Marco Civil da Internet ponto a ponto. Disponível em: 
https://www.ebc.com.br/tecnologia/2014/04/entenda-o-marco-civil-da-internet-
-ponto-a-ponto. Acesso em: 18 jan. 2022.
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Portanto, a lei estabelece que a pessoa ao contratar determinada ve-
locidade possa acessar quaisquer dos dados disponíveis na rede, indepen-
dente do conteúdo, buscando-se a igualdade de uso para todos na internet.
Caso os operadores da rede viessem a exercer controle sobre o 
conteúdo que é transmitido por meio de sua infraestrutura, analisando os 
pacotes que trafegam por ela e conferindo-lhes tratamentos distintos, isto 
viria a desconfigurar o caráter aberto da internet e sua possibilidade de 
infinita interconectividade, e portanto, os operadores da rede poderiam 
degradar o acesso a outras redes, além de filtrar certos conteúdos, websi-
tes e aplicativos, como é prática do governo chinês.131
Informa Pedro Henrique Soares Ramos que na atualidade, mais 
de 20 países já possuem regulações de neutralidade da rede, sendo que o 
primeiro país do mundo a desenvolver uma lei sobre o tema foi o Chile, 
em 2010, posteriormente houveram iniciativas isoladas de vários países, 
sendo que a Europa consolidou sua diretiva sobre o tema em 2016. A 
América do Sul é uma das regiões líderes no tema, com a grande maioria 
dos países com leis nacionais sobre o tema. Já nos EUA o debate é bas-
tante polêmico, tendo as primeiras regulações em 2010, as quais foram 
anuladas por uma decisão judicial em 2014, e em 2015, a autoridade de 
telecomunicações publicou uma nova regra, e que foi derrubada na ad-
ministração do presidente Donald Trump no ano de 2017.132
Constata-se que países da América do Sul como Brasil, Chile, 
Argentina, Peru, Equador, Colômbia e Paraguai, enquadram-se no rol de 
países que buscam a regulamentação da matéria no que tange à neutra-
lidade da rede, em contrapartida países como EUA, Rússia e China tem 
caminhado na direção contrária.
Nessa acepção, a regulamentação governamental intenciona “evi-
tar que os interesses empresariais impeçam que os melhores produtos e 
aplicações cheguem aos usuários finais, preservando assim uma competi-
ção darwiniana onde os melhores sobrevivem”, ou seja, é o “usuário final 
que dirá, através do uso, quais aplicativos, quais produtos, continuarão 
131 SOUZA, Carlos Affonso; LEMOS, Ronaldo. Marco Civil da Internet Construção e 
Aplicação. Juiz de Fora: Editar Editora Associada Ltda, 2016. p.118.
132 RAMOS, Pedro Henrique Soares. Neutralidade da rede e o Marco Civil da internet: 
um guia para interpretação. In: SALOMÃO LEITE, George; LEMOS, Ronaldo (co-
ords.). Marco Civil da Internet. São Paulo: Atlas, 2014, p. 165-187.
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e quais pelo desuso serão descontinuados e não as empresas usando de 
meios a beneficiar um aplicativo, um parceiro comercial”.133
Com o princípio da neutralidade objetiva-se “manter a internet 
aberta”, proporcionando isonomia de tratamento entre os pacotes de da-
dos, que não podem ser discriminados injustificadamente, sejam eles, 
público ou privado, aplicando-se especificamente ao tráfego de dados 
sobre a rede.134
Um exemplo que apresenta a importância da neutralidade de 
rede é que há alguns anos, a realização de ligações telefônicas somente era 
possível por meio das operadoras, as quais cobravam valores exorbitan-
tes, ainda mais quando se tratava-se de ligações interurbanas realizadas 
para telefones de outros estados ou países. 
No entanto, com o advento de meios tecnológicos, como o What-
sapp e Skype, tornou-se possível a realização de ligações telefônicas, por 
meio destes aplicativos, de que modo que sem a lei da neutralidade, as 
operadoras poderiam realizar interferências nas ligações feitas pela in-
ternet, de modo que elas sofreriam interferências ou as ligações cairiam a 
todo momento, obrigando os usuários a realizarem as ligações via opera-
dora e não mais pela internet, o que é mais vantajoso para as empresas de 
telefonia e nitidamente mais custoso para a população, ou seja, estar-se-ia 
diante de privilégios para as grandes empresas e operadoras. 
Carlos Affonso Souza e RonaldoLemos esclarecem que tanto 
uma ligação telefônica ou uma carta devem ser entregues ao seu des-
tinatário, respectivamente pela rede de telefonia ou pela estrutura dos 
correios, sem discriminação baseada em conteúdo ou natureza da co-
municação transportada. Somente pelos dados transmitidos pela internet 
serem pacotes, transmissão de vídeos e voz, não permite as operadoras 
que realizem sua interceptação, atraso ou bloqueio por conta conteúdo.135.
Para Sérgio Branco, diretor do Instituo de Tecnologia e Socie-
dade, “assim como todos são iguais perante a lei, todos os dados tem 
133 BARRETO JUNIOR, Irineu Francisco; CÉSAR, Daniel. Marco civil da internet e 
neutralidade da rede: aspectos jurídicos e tecnológicos. Revista Eletrônica do Cur-
so de Direito da UFSM. v. 12, n. 1. 2017, p. 65-88.
134 SOUZA, Carlos Affonso; LEMOS, Ronaldo. Marco Civil da Internet Construção e 
Aplicação. Juiz de Fora: Editar Editora Associada Ltda, 2016. p.116-117.
135 SOUZA, Carlos Affonso; LEMOS, Ronaldo. Marco Civil da Internet Construção e 
Aplicação. Juiz de Fora: Editar Editora Associada Ltda, 2016, p. 117.
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que ser iguais perante a rede”, então os dados devem ser tratados da 
mesma maneira.136
Desta forma, sites com maior visibilidade não se sobressaem no 
sentido de suas páginas abrirem mais rápido ou não travarem no mo-
mento do uso, ou seja, busca-se a neutralidade, ao não beneficiar alguns 
sites em detrimento dos outros. 
Sérgio Branco ainda explica que, contratar pacotes e veloci-
dades diferenciadas, mais rápidas, não violam a neutralidade da rede, 
contanto que todos os dados trafeguem do mesmo jeito, com a mesma 
velocidade contratada.137 
Outro fator de discussão é a im posição da neutralidade da rede 
no Brasil, se os demais países não impuserem a mesma medida, a inter-
net tecnologia se tratarem de fatores mundiais, portanto a lei assegura a 
isonomia do tráfego de dados dentro do Brasil, mas não necessariamente 
se atribuirá o mesmo tratamento quando esses mesmos dados forem en-
viados para fora do Brasil ou solicitados do exterior.138
Porém, é nítido que uma legislação no Brasil não seria suficiente 
para resolver todos os problemas advindos do mau uso da internet em 
território nacional e quanto mais na esfera mundial, situação está que 
inclusive foi expressamente consignada na Lei nº 12.965, de 23 de abril 
de 2014 - Marco Civil da Internet, no art. 2º, inc. I, o qual o disciplinar o 
uso da internet no Brasil tem como fundamento o respeito à liberdade de 
expressão e o reconhecimento da escala mundial da rede, demonstrando 
que não há como interferir na soberania de outros países, e reconhecendo 
que todos os países encontram-se interligados pela internet. 
136 CANAL FUTURA. Marco Civil da Internet: entenda o conceito de neutralidade de 
rede | Conexão. 2017. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=IdhJXG-
To0nI. Acesso em: 19 jan. 2022.
137 CANAL FUTURA. Marco Civil da Internet: entenda o conceito de neutralidade de 
rede | Conexão. 2017. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=IdhJXG-
To0nI. Acesso em: 19 jan. 2022.
138 TOMASEVICIUS FILHO, Eduardo. Marco Civil da Internet: uma lei sem conteú-
do normativo. Estudos Avançados. 30 (86), 2016, p. 269-285. 
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LEI DE PROTEÇÃO DE DADOS E AS 
VULNERABILIDADES ADVINDAS DO CAPITALISMO 
DE DADOS 
Hodiernamente, a Internet passou de apenas telas de computa-
dores para outros objetos e sensores invisíveis, formando um sistema que 
conecta as chamadas “coisas inteligentes”. Este sistema é denominado de 
“Internet das Coisas’, e traz consigo um enorme potencial para indivídu-
os, como melhorias em diversos setores, automação residencial, saúde, 
transporte, educação, dentre outros. Ao mesmo tempo, apresenta desa-
fios significativos de privacidade, segurança e proteção de dados e exigi 
um olhar mais atento sobre o quadro jurídico do Brasil.
Segundo ensinamentos de Thomas Hayes: Dados são, basica-
mente, a matéria prima para a informação e podem ser definidos como 
um “conjunto de fatos distintivos e objetivos, relativos a eventos139.
As tecnologias têm sido vistas como “destruidoras da privacida-
de” e alguns estudiosos acham que as tecnologias estão nos empurrando 
139 DAVENPORT, Thomas Hayes; PRUSAK, Laurence. Conhecimento empresarial: 
como as organizações gerenciam o seu capital intelectual. 6. ed. Rio de Janeiro: 
Campus, 1998, p.2. 
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para uma era de zero privacidade informacional. Mariana Zanata Thibes 
preconiza:
É evidente, porém, que, sem tais tecnologias, muitas das ameaças 
presentes à privacidade não existiriam. Contudo, o que sugerimos 
aqui é que o fenômeno percebido como a decadência da privaci-
dade seja lido como a culminação, acelerada pela tecnologia, de 
um processo social bem mais antigo e amplo que a Internet.140 
Manifesto que as questões em relação a problemática de coletas 
de dados, são inerentes a sociedade, advém de tempos que antecedem a 
internet. Nada obstante, o desafio atual da proteção de dados, é muito 
maior, tendo em vista a quantidade de dados pessoais coletados que au-
mentou substancialmente e informações são coletadas de muitas fontes 
diferentes e dispersas.
Em termos, dispositivos inteligentes criam um mundo da cha-
mada ‘multivigilância’, que significa ‘vigilância não apenas pelo estado 
mas por empresas, por pessoa privada, e todos e aqueles que utilizam re-
des sociais. Nesta toada, o advogado deve observar as necessidades e va-
lores da era digital, de forma a resguardar a privacidade de seus clientes, 
além de coordenar transações, facilitando e coordenando novas formas 
de negócios e outras relações sociais em ambientes multidisciplinares.
O desempenho efetivo desta função, exige o desenvolvimento 
dos profissionais jurídicos em novas habilidades, como um conheci-
mento da lei de proteção de dados. Neste esteio, é de suma importância 
entendermos a proteção de dados, bem como, o conceito de dado pes-
soal que é bastante amplo, podendo englobar tanto informações que 
claramente identificam uma pessoa natural (como seu nome completo, 
número de RG ou CPF) quanto informações a ela relacionadas, de di-
versas naturezas.141
140 THIBES, Mariana Zanata. As formas de manifestação da privacidade os três es-
píritos o capitalismo: da intimidade burguesa ao exibicionismo de si nas redes 
sociais. Porto Alegre, v. 19, n. 46, p. 316-343, set./dez. 2017. Disponível :http://dx.
doi.org/10.1590/15174522-019004613. Acesso em: 16 Jun. 2022.
141 CUNTO, Raphael de; GALIMBERTI, Larissa; LEONARDI, Marcel. Direitos dos ti-
tulares de dados pessoais. In: BRANCHER, Paulo Marcos Rodrigues; BEPPU, Ana 
Claudia (Coord.). Proteção de dados pessoais no Brasil: uma nova visão a partir 
da Lei nº 13.709/2018. Belo Horizonte: Fórum, 2019. p. 87-100, p. 5.
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É crucial que o direito como instrumento regulador da socieda-
de, assegure a privacidade dos dados pessoais, tendo em vista, a impor-
tância dessa proteção para o desenvolvimento humano e social. Victor 
Correia ensina:
A privacidade significa a proteção de dados, que têm a ver com 
sentimentos e convicções pessoais, desde que não sejam prejudi-
ciais para a sociedade, a possibilidade de ser deixado em paz e 
mesmo de conservar o anonimato (por exemplo quando se obtém 
uma quantia de dinheiro elevada como resultado de um sorteio 
ou da prática de um jogo). Por seu turno, o conceito de direito à 
privacidade implica uma liberdade reconhecida juridicamente a 
cada indivíduo, que deve ser livre não apenas enquanto cidadão 
dispondo de direitos, e enquanto sujeito de direito regido por leis, 
mas enquanto pessoa com um espaço distinto face à sociedade, 
que é salvaguardado do ponto de vista estatal e legal, tanto a nível 
nacional como internacional142 
Destarte, que no Brasil a ConstituiçãoFederal promulgada em 
1888, protege a direitos fundamentais de privacidade, honra e imagem no 
artigo 5º, e aborda a inviolabilidade da vida privada e da intimidade no 
item X e o direito ao sigilo da correspondência e das comunicações tele-
gráficas, dados e comunicações telefônicas no inc. XII. Crimes relaciona-
dos às escutas telefônicas são abordadas pela Lei nº 9.296/96, enquanto a 
Lei nº 12737/2012 criminaliza o ato de hackear aparelhos eletrônicos com 
o objetivo de obter, modificar, destruir ou divulgar dados ou informações 
sem a autorização do proprietário.
Ressalta-se, a Emenda Constitucional, nº 17 de 2019, que teve 
a finalidade de inserir a proteção de dados como Direito Fundamental, 
na Constituição da República Brasileira, reforçando a importância dos 
dados no desenvolvimento da vida humana. 
Neste sentido preceitua Fortes: 
Conceber a privacidade na internet como um direito fundamen-
tal, em sentido amplo, capaz de recepcionar em seu bojo a prote-
ção da vida privada, da intimidade, da imagem, da honra e dos 
direitos-base vinculados ao conceito de direitos de privacidade na 
142 CORREIA, Victor. Sobre o direito à privacidade. O Direito, Lisboa, ano 145, n. 1, 
2014.Disponível em:http://www.academia.edu/download/38978344/Sobre_o_di-
reito_a_privacidade.docx. Acesso em: 25 jun. 2022.
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internet, significa dizer que, na contemporaneidade, o direito de 
navegar na internet com privacidade, o direito de monitorar quem 
monitora, o direito de deletar dados pessoais e o direito de pro-
teger a identidade online devem ser tutelados, explícita e expres-
samente, como um dos pilares de garantia da eficácia do direito 
fundamental à privacidade em sentido amplo.143 
Neste viés, Stefano Rodetá144 jurista italiano, examina que diante 
do poder dos chamados “gigantes da internet” (como o Google, a Ama-
zon e o Facebook, dentre outros) mister se faz desenvolver uma iniciativa 
constitucional a fim de resguardar os direitos fundamentais dos titulares 
dos dados.
O Marco Civil Brasileiro da Internet (Lei n. 12.965/2014 – Lei 
da Internet) também trata do direito à privacidade, proteção de dados e 
sigilo da comunicação privada, conforme seu art. 3º, inc. II, e artigos 8º e 
11º. A Lei da Internet também estabelece a obrigação de cumprir as nor-
mas relacionadas com a segurança dos dados e a funcionalidade da rede. 
Nessa conjuntura, surge a Lei Geral de Proteção de Dados ou 
General Data Protection Law, em inglês, que é um marco legal para re-
gular a coleta e uso de dados pessoais. Ela entrou em vigor no Brasil em 
16 de agosto de 2020. A lei foi aprovada e será aplicada pela Autoridade 
Nacional de Proteção de Dados ou Autoridade Nacional de Proteção de 
Dados (ANPD).
Destarte, que a Lei Geral de Proteção de Dados 13.853/2019, não 
é a primeira nem a única lei de privacidade de dados da América do Sul, 
mas talvez seja a mais divulgada dessa região. A LGPD foi influencia-
da pelo Regulamento Geral de Proteção de Dados da União Europeia 
(GDPR), e também ampliou sua cobertura em algumas áreas a partir dos 
parâmetros do GDPR. 
143 FORTES, Vinícius Borges. Convergências conceituais para os direitos de pri-
vacidade na internet e a proteção dos dados pessoais. In: PIRES, Cecília Maria 
Pinto; PAFFARINI, Jacopo; CELLA, José Renato Gaziero. Direito, democracia e 
sustentabilidade: Erechim: Deviant, 2017. cap.13,p.271290.Disponível:em:https://
www.editoradeviant.com.br/wpcontent/uploads/woocommerce_uploads/2017/07/
Direito-Democracia-e-SustentabilidadePrograma-de-Pos-Graduacao-Stricto-Sen-
su-em-Direito-da-faculdade-Meridional.pdf. Acesso em: 16 jun. 2022. p.287. 
144 RODOTÀ, Stefano. Perché è necessario un Internet Bill of Rights. Civilistica.com, 
Rio de Janeiro, ano 4, n. 2, p. 1-6, 2015. p. 2
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Nesse ínterim, a LGPD é composta por 65 artigos. Os artigos 17.º 
a 22.º tratam dos direitos dos titulares dos dados, daqueles cujos dados 
são recolhidos e/ou tratados, principalmente por pessoas singulares. 
Não obstante, outras legislações brasileiras que tratam da pro-
teção do direito à privacidade, intimidade e liberdade de expressão, in-
clui: O Código Civil Brasileiro, tratando dos direitos da personalidade 
e responsabilidade, o Estatuto da Criança e do Adolescente, abordando 
questões específicas e proteção reforçada aplicável à imagem de menores 
e privacidade, e leis e regulamentos sobre telecomunicações, consumidor 
e aspectos financeiros, abordando o sigilo das comunicações, bem como 
informações de crédito, financeiras e fiscais.
De acordo com o artigo 3º , da LGPD, a Lei se aplica a qualquer 
processamento de dados que ocorra no Brasil, para fins de oferta de bens 
e serviços ou para processamento de dados, ou pessoas que estejam loca-
lizadas no Brasil. 
O processamento de dados realizado por qualquer pessoa física 
ou jurídica, pública ou privada (geralmente uma empresa ou organiza-
ção) é abrangido pela LGPD. A organização que realiza o processamen-
to de dados não precisa ter presença física no Brasil ou estar sediada lá. 
Esse componente de extraterritorialidade é comum às leis internacio-
nais de privacidade.
Em termos gerais, a LGPD se aplica a todos os dados pessoais, de-
finidos no Art. 4º do Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD) 
da União Europeia, que assim dispõe:
Artigo 4º - Definições. Para efeitos do presente regulamento, en-
tende-se por:1) «Dados pessoais», informação relativa a uma pes-
soa singular identificada ou identificável («titular dos dados»); é 
considerada identificável uma pessoa singular que possa ser iden-
tificada, direta ou indiretamente, em especial por referência a um 
identificador, como por exemplo um nome, um número de identi-
ficação, dados de localização, identificadores por via eletrônica ou 
a um ou mais elementos específicos da identidade física, fisioló-
gica, genética, mental, económica, cultural ou social dessa pessoa 
singular; [...]. (Tradução oficial).145
145 EUROPA. Regulation (eu) 2016/679 of the european parliament and of the 
council. 27 April 2016.Disponível:https://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/TX-
T/?uri=CELEX%3A02016R0679-20160504&qid=1532348683434. Acesso em: 10. 
mai. 2022.
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Todo esse aparato, se faz necessário, pois com o uso da tecnologia 
são muitos os dados disponibilizados e que podem acarretar diferentes 
perspectivas de possíveis problemas sociais, advindos da sociedade da 
informação, e da pessoa digital.
Além disso, a forma de comunicação automática entre disposi-
tivos inteligentes dificulta a aplicação dos princípios de transparência e 
proteção, na prática, a necessidade de legislação de proteção de dados 
reforça totalmente a inovação. 
Todavia, há exceções ao escopo brasileiro da Lei Geral de Prote-
ção de Dados, o artigo 4º descreve quando a LGPD não se aplica, quando 
o processamento de dados pessoais: é realizado por uma pessoa singular 
exclusivamente para fins privados e não económicos é realizado exclusi-
vamente para fins jornalísticos, artísticos e/ou acadêmicos é realizado ex-
clusivamente para fins de segurança pública, defesa nacional, segurança 
do estado ou investigação e repressão de infrações penais é originário de 
fora do Brasil e não é objeto de comunicação ou compartilhamento com 
agentes brasileiros de processamento de dados ou objeto de transferência 
internacional com outro país que não o país de origem (desde que o país 
de origem forneça um grau razoável de proteção de dados.
Importante mencionar, que o uso da Inteligência Artificial im-
pulsiona o uso de dados, desde que a IA começou a se concentrar na apli-
cação do aprendizado de máquina a grandes volumes de dados. Os siste-
mas de aprendizado de máquina descobrem correlações entre os dados e 
constroem modelos correspondentes, que vinculam possíveis entradas a 
respostas presumivelmente corretas(previsões). Em aplicativos de apren-
dizado de máquina, os sistemas de IA aprendem a fazer previsões depois 
de serem treinados em grandes conjuntos de exemplos. 
Assim, a IA tornou-se faminta por dados, e essa fome estimulou 
a coleta de dados, em um espiral de auto reforço, o desenvolvimento de 
sistemas de IA baseados em aprendizado de máquina pressupõe e fomen-
ta a criação de vastos conjuntos de dados, ou seja, big data. 
A integração de IA e big data, pode trazer muitos benefícios para 
o progresso econômico, científico e social. No entanto, também contribui 
para riscos, para os indivíduos e para toda a sociedade, como vigilância 
generalizada e influência no comportamento dos cidadãos, polarização e 
fragmentação na esfera pública.
Alguns dos principais riscos incluem o uso intrusivo de disposi-
tivos inteligentes por controladores e processadores, acesso não autoriza-
do a dados pessoais, vigilância ilegal, hacking e perda de dados. Também 
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foram identificadas manipulação e perda de igualdade como dois grandes 
problemas que as novas tecnologias causam à proteção de dados pessoais.
Não é à toa que se fala em “morte da privacidade”, crise ou erosão 
da intimidade, pois a realidade que lhe é subjacente demonstra 
que os dados pessoais são o que alimenta e movimenta tal econo-
mia e, mais do que isso, são a base de sustentação e ativo estratégi-
co de uma série de modelos de negócios e para formulação de po-
líticas públicas. Há uma economia e uma sociedade que são cada 
vez mais reféns e dependentes desse livre fluxo informativo.146
O processamento baseado em IA de grandes massas de dados 
sobre indivíduos e suas interações tem significado social, oferece opor-
tunidades para conhecimento social e melhor governança, mas corre o 
risco de levar aos extremos do capitalismo de vigilância e do estado de 
vigilância. Reporta-se a importante percepção do filósofo Ulrich Beck, 
em relação aos riscos sociais: 
Riscos da modernização são big business. Eles são as necessida-
des insaciáveis que os economistas sempre procuraram. A fome 
pode ser saciada, necessidades podem ser satisfeitas, mas os riscos 
civilizatórios são um barril de necessidades sem fundo, intermi-
nável, infinito, autoproduzível. Com os riscos – poderíamos dizer 
com Luhmann -, a economia torna-se “autorreferencial”, indepen-
dente do ambiente da satisfação das necessidades humanas. Isto 
significa, porém: com a canibalização econômica dos riscos que 
são desencadeados através dela, a sociedade industrial produz as 
situações de ameaça e o potencial político da sociedade de risco.
(...) o conhecimento adquire uma nova relevância política. Con-
sequentemente, o potencial político da sociedade de risco tem de 
se desdobrar e ser analisado numa sociologia e numa teoria do 
surgimento e da disseminação do conhecimento sobre os riscos147.
Para garantir a proteção adequada dos cidadãos contra os riscos 
decorrentes do uso indevido da IA, é necessário que o Estado, oriente o 
uso da tecnologias, e forneça mecanismos de controle para que os dados 
tenham tratamento e finalidade.
146 BIONI, Bruno Ricardo. Proteção de dados pessoais: a função e os limites do con-
sentimento. Rio de Janeiro: Forense, 2019, P. 107.
147 BECK, Ulrich. Sociedade de risco: rumo a uma outra modernidade. Tradução de 
Sebastião Nascimento. São Paulo: Ed. 34, 2011. 2ª ed. p. 27.
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Com a utilização da inteligência artificial e da internet das coi-
sas (IoT) a qualidade dos dados se torna substancial para a de-
finição de padrões, visto que decisões são tomadas a partir da 
coleta massiva de dados que alimentam os algoritmos, o que 
significa que eventual input de dados incorretos pode levar a 
decisões injustas.148
É nesse sentido que a Lei Geral de Proteção de dados dispõe de 
muitas regras que são relevantes para a proteção, limitação, tratamento e 
garantia de dados pessoais.
Frisa-se, a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) foi 
baseada no Regulamento Geral de Proteção de Dados já existente há al-
guns anos na Europa, criada com o intuito de garantir a privacidade e 
proteção titulares. Diante do avanço das tecnologias e uso da inteligência 
artificial mais dados pessoais foram compartilhados no meio digital.
o conceito de dado pessoal é bastante amplo, podendo englobar 
tanto informações que claramente identificam uma pessoa natural 
(como seu nome completo, número de RG ou CPF) quanto infor-
mações a ela relacionadas, de diversas naturezas.149
Em um segundo plano a LGPD, explana principais definições da 
Lei Geral de Proteção de Dados do Brasil, estão descritas no art. 5º, estes 
são alguns dos mais importantes ou frequentemente referenciados: 
Dados pessoais: Informações relacionadas a (coletadas de ou so-
bre) uma pessoa física identificada ou identificável.
Dados pessoais sensíveis: Dados pessoais que possam ser usados 
para identificar um indivíduo e que estejam relacionados a “origem racial 
ou étnica, convicção religiosa, opinião política, filiação sindical. Ou or-
ganização religiosa, filosófica ou política, dados de saúde ou vida sexual, 
dados genéticos ou biométricos, quando vinculados a uma pessoa física.” 
(Em geral, os dados pessoais têm a capacidade de causar danos maiores 
se usados indevidamente.)
148 TEIXEIRA, Tarcísio; ARMELIN, Ruth M. G. F. Lei Geral de Proteção de Dados Pes-
soais: comentada artigo por artigo. 2 ed. Salvador: Editora JusPodivm, 2020, p. 52.
149 CUNTO, Raphael de; GALIMBERTI, Larissa; LEONARDI, Marcel. Direitos dos 
titulares de dados pessoais. In: BRANCHER, Paulo Marcos Rodrigues; BEPPU, 
Ana Claudia (Coord.). Proteção de dados pessoais no Brasil: uma nova visão a 
partir da Lei nº 13.709/2018. Belo Horizonte: Fórum, 2019. p. 87-100. 
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Em termos a LGPD dispõe:
Art. 5º Para os fins desta Lei, considera-se:
I - dado pessoal: informação relacionada a pessoa natural identi-
ficada ou identificável;
II - dado pessoal sensível: dado pessoal sobre origem racial ou 
étnica, convicção religiosa, opinião política, filiação a sindicato 
ou a organização de caráter religioso, filosófico ou político, dado 
referente à saúde ou à vida sexual, dado genético ou biométrico, 
quando vinculado a uma pessoa natural.150
Esta é uma categoria especial de dados pessoais que requer mais 
atenção. Essa separação nos dados existe porque se entende que os dados 
sensíveis podem causar danos ou impacto significativo na vida e liber-
dade do titular dados, o que acarreta discriminação ou perseguição, em 
determinadas circunstâncias.
Neste esteio a Lei Geral de Proteção explica:
- Dados pessoais não sensíveis – aqueles que podem ser coletados 
e armazenados sem prévio consentimento, tais como o nome, o 
estado civil, a profissão e etc.
- Dados pessoais sensíveis - O próprio texto legal explicita, em 
seu artigo 5º, inciso II, que se tratam de dados referentes a origem 
racial ou étnica, a convicções religiosas, opiniões políticas, filiação 
a sindicatos ou a organizações de caráter religioso, filosófico, polí-
tico, bem com a dados referentes à saúde ou vida sexual da pessoa 
ou, ainda, dados genéticos ou biométricos destas. São dados de 
caráter mais íntimo e, dessa forma, de acesso mais restrito, razão 
pela qual o consentimento prévio e expresso se torna imprescindí-
vel no tratamento destes.151 
Desta feita, continuemos com a definição dos principais e mais 
citados termos da LGPD.
Em processamento: Qualquer operação realizada com dados 
pessoais, como coleta, produção, recepção, classificação, uso, acesso, 
reprodução, transmissão, distribuição, processamento, arquivamento, 
150 BRASIL. Lei nº 13.709 de 14 de agosto de 2018. Lei geral de proteção de dados pes-
soais. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/
lei/l13709.htm. Acesso em: 22 maio 2022.
151 MACIEL, Moises. Os tribunaisV
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3.3. TRANSFERÊNCIAS DE DADOS E PROCEDIMENTOS EM CASOS DE VIOLAÇÕES ..................................... 113
3.4. ATIVIDADES DE PÓS-PROCESSAMENTO PENALIDADES E EXECUÇÃO SOB A LEI GERAL DE 
PROTEÇÃO DE DADOS DO BRASIL ............................................................................................................ 115
4 BOAS PRÁTICAS DA ADVOCACIA NA ERA DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL ............................... 117
4.1. INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL DEFINIÇÃO E CONCEITOS BÁSICOS ............................................................. 140
4.2. A INSERÇÃO DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NO JUDICIÁRIO ...................................................................145
4.3. INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL REQUER INTELIGÊNCIA EMOCIONAL: UM NOVO PARADIGMA DE 
COMPETÊNCIA PARA O PROFISSIONAL JURÍDICO ...................................................................................153
4.4. ENFRENTAMENTOS E DESAFIOS DO HOMEM COM A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL ..................................158
5 NATUREZA MUTÁVEL DO DIREITO E DA PROFISSÃO DO ADVOGADO .......................................165
5.1. REVOLUÇÕES E INDÚSTRIA 4.0 ...............................................................................................................168
5.2. SOCIEDADE DIREITO AUTODETERMINAÇÃO E BLOCKCHAIN.................................................................. 184
5.3. DIREITO E METAVERSO .............................................................................................................................194
5.4. ADVOCACIA 5.0 ........................................................................................................................................197
6 A ADOÇÃO DE ALGUMAS HABILIDADES COMO PRESSUPOSTO PARA O DESENVOLVIMENTO 
DO ADVOGADO DO FUTURO ............................................................................................ 203
6.1. INOVAÇÃO E GOVERNANÇA PROPOSTA DO MODELO SIGMA DA ADVOCACIA ......................................205
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................213
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 225
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1
O DIREITO COMO SUJEITO E OBJETO DE 
TRANSFORMAÇÕES 
O Direito apropria-se de um vasto conceito social, inequívoco 
que sua função é a organização e o controle social de um povo, categori-
camente ele existe pela sociedade e para a sociedade. Há diversas formas 
de o direito atuar como instrumento regulador e protetor das pessoas, o 
intuito é manter sempre uma sociedade justa e equilibrada, livre de pre-
conceitos e discriminações. 
Como um sistema lógico de controle social, o direito deve estar 
atento às mudanças tecnológicas, também são relevantes a incidência de 
políticas públicas do Estado, que tenham como intuito proteger a liberda-
de e privacidade das pessoas, dispensando meios que equilibrem o siste-
ma para que as pessoas utilizem os mecanismos tecnológicos, sem perder 
a privacidade e autonomia. A atuação frente as mudanças sociais, estatais 
e pessoais devem ser efetivas e mantenedora de estados pessoais, para que 
não violem a dignidade da pessoa humana.
Com foco, o direito como sujeito tem o papel de trazer seguran-
ça jurídica para a sociedade. Neste esteio, a teoria emergente do Direito 
Natural titulada hobbesiana, o considera como “um conjunto de direi-
tos inatos e invioláveis, inerentes aos indivíduos, de modo que o Estado 
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deveria ser concebido para garantir esses direitos individuais”. Desse 
modo, preservando os direitos individuais, “o Estado estaria protegendo 
também a sociedade, conservando o bem comum”. Já John Locke com-
preende que “os direitos naturais definem os limites do poder soberano 
na sociedade civil, de modo que estado natural e sociedade civil não esta-
riam absolutamente desligados”.1
Atualmente, a valorização da pessoa humana, bem como o 
reconhecimento de que todo ser humano é dotado de dignidade, ou-
torga ao homem um valor que não decorre de raça, cor, sexo, cultura, 
religião ou das experiências de vida, mais sim de um valor intrínseco 
ao indivíduo que merece ser respeitado como o principal destinatário 
da ordem jurídica.
Desde os primórdios da civilização, muitas foram as reivindica-
ções e lutas para que o ser humano conquistasse o respeito e a dignidade, 
porém com as mudanças culturais, advindas ao longo dos anos a socie-
dade passou por muitas transformações, existe uma necessidade cada vez 
maior de afirmação de direitos e valores universais protetivos da pessoa 
humana. Deve haver uma efetiva conexão entre o Direito e a sociedade, a 
compreensão da ética e moral no livre desenvolvimento da pessoa. 
O sentido é que o Direito acompanhe o franco desenvolvimen-
to da sociedade e supere os valores e os paradigmas tradicionais, prote-
gendo a todos os seres humanos, assim como a manutenção da ordem 
e do equilíbrio social com mecanismos regulatórios eficientes, voltados 
para todos os indivíduos e especialmente protegendo e integrando o ser 
humano, para que o desenvolvimento humano acompanhe os avanços 
tecnológicos e suas benfeitorias. 
Hodiernamente, existe uma gama de tratados internacionais ver-
sando sobre direitos humanos, além do surgimento de diversos organis-
mos internacionais humanitários de organizações não governamentais 
que prestam serviço de assistência humanitária.
Nessa égide histórico-cultural, subsequentemente a tantos movi-
mentos nacionais e internacionais, há um progresso no que diz respeito 
à proteção da pessoa humana no Estado democrático. Nota-se um siste-
ma que pretende unificar alguns direitos inerentes ao ser humano consa-
grando-os como juridicamente universais.
1 LOCKE, J. “Segundo Tratado sobre o Governo”. Traduções de Anoar Aiex e E. Jacy 
Monteiro, 3. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 33.
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O direito se torna cada vez mais global, em termos Barroso ex-
plica: “A globalização do direito é uma característica essencial do mundo 
moderno, que promove, no seu atual estágio, a confluência entre Direito 
Constitucional, Direito Internacional e Direitos Humanos”.2
 Na atualidade existe uma certa invisibilidade de garantir prote-
ção a todos, constantemente com diferenças desigualizantes na socieda-
de. Os direitos humanos, as normas constitucionais, os diversos tratados 
internacionais visam a proteção e o respeito a todos os seres humanos. 
Ao passo que existe uma extrema necessidade de a ciência jurídica acom-
panhar o desenvolvimento social e proteger as mais diversas formas de 
estados pessoais, o direito deve resguardar a ética através de comandos 
que atendam todos.
Sem pretensão de adentrar ao complexo assunto “universalismo 
dos direitos humanos”, de pronto visualiza-se um processo dinâmico que 
ainda tem muitos obstáculos a superar, pois como alerta Bobbio: “Só será 
possível falar legitimamente de tutela internacional dos direitos do ho-
mem quando uma jurisdição internacional conseguir impor-se e super-
por-se às jurisdições nacionais, e quando se realizar a passagem garantia 
dentro do Estado que é ainda a característica predominante da atual fase, 
para a garantia contra o Estado”.3
No plano interno, a Constituição da República, de 1988, insere 
a segurança das pessoas como seu maior anseio, garantir o direito à 
vida, à liberdade, à igualdade, é o valor fundante do ordenamento. O 
princípio de justiça está fundamentado na previsibilidade e na expec-
tativa de que o direito terá sua aplicação, funcionamento e a segurança 
jurídica sempre presente. 
O procedimento de elaboração da Constituição Brasileira, de 
1988, teve como plano normativo a redemocratização dos direitos huma-
nos fundamentais e de personalidade, os quais são revestidosde contas e a nova lei de proteção de dados pes-
soais. Uma análise acerca da função dos tribunais de contas e sua relação com a 
proteção de dados. 2020. p. 81-82.
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armazenamento, exclusão, avaliação ou controle de informações, modifi-
cação, comunicação, transferência, difusão ou extração.
Titular dos dados: Uma pessoa física ou indivíduo cujos dados 
estão sendo processados.
Controlador: Uma pessoa singular ou coletiva, pública ou pri-
vada (pode referir-se a uma empresa ou outra organização), que toma 
decisões sobre o tratamento de dados pessoais.
Operador: Uma pessoa física ou jurídica, pública ou privada 
(pode se referir a uma empresa ou outra organização), que processa da-
dos pessoais em nome do controlador. Referido como o “processador de 
dados” em algumas outras leis.
Uso compartilhado de dados: A comunicação, divulgação, trans-
ferência internacional, interligação de dados pessoais ou tratamento par-
tilhado de bases de dados pessoais por entidades e entidades públicas no 
cumprimento das suas competências legais, ou entre estas e entidades 
privadas, reciprocamente, com autorização específica, para uma ou mais 
modalidades de tratamento permitidos por essas entidades públicas, ou 
entre entidades privadas.
Ressalta-se, as transferências internacionais têm sido uma ques-
tão importante onde os países carecem de acordos de adequação em re-
lação à proteção de dados. O uso compartilhado também é importante 
para empresas que ganham dinheiro vendendo dados, pois os titulares 
dos dados geralmente devem consentir antes que seus dados possam ser 
compartilhados ou vendidos a terceiros.
Neste esteio, a anonimização, processo que, refere-se a meios téc-
nicos razoáveis e disponíveis no momento do tratamento para remover 
marcadores identificáveis dos dados, de modo que perde a possibilidade 
de associação direta ou indireta com um indivíduo. E não permite o cru-
zamento de dados anônimos de modo a identificar a pessoa. 
A anonimização também encontra previsão expressa no próprio 
texto da LGPD, em seus artigos 5º, III e XI:
Art. 5º. Para fins desta Lei, considera-se: [...]
III - dado anonimizado: dado relativo a titular que não possa ser 
identificado, considerando a utilização de meios técnicos razoá-
veis e disponíveis na ocasião de seu tratamento. [...]
XI – anonimização: utilização de meios técnicos razoáveis e dis-
poníveis no momento do tratamento, por meio dos quais um 
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dado perde a possibilidade de associação, direta ou indireta, a um 
indivíduo.152
No que diz respeito à anonimização dos dados, urge que seja feita 
de forma eficaz, responsável e prudente, pois a anonimização ineficiente 
pode levar à pseudonimização, que por sua vez pode causar danos aos 
titulares dos dados. A anonimização verdadeira não permite a reiden-
tificação porque é irreversível e por isso garante a proteção dos direitos 
do titular, assim como os dados realmente anonimizados estão fora do 
escopo da LGPD porque não são mais considerados dados pessoais.
A pseudonimização, está prevista no artigo 13 § 4º da LGPD:
Art. 13. [...]
§ 4º Para os efeitos deste artigo, a pseudonimização é o tratamento 
por meio do qual um dado perde a possibilidade de associação, 
direta ou indireta, a um indivíduo, senão pelo uso de informação 
adicional mantida separadamente pelo controlador em ambiente 
controlado e seguro.153
Como explica a doutrina, alguns dados ao serem confrontados 
com outros dados, podem revelar aspectos que o titular gostaria de man-
ter em sigilo, por afrontarem diretamente seu direito à privacidade.154
Nesse sentido explica Jürgen Schwabe:
As Reclamações Constitucionais não ensejam uma discussão 
exaustiva sobre o direito de autodeterminação sobre a infor-
mação. Deve-se decidir apenas sobre o alcance deste direito em 
relação àquelas intervenções nas quais o Estado exige a infor-
mação de dados pessoais do cidadão. Neste mister não se pode 
apenas condicionar o tipo de dados [que podem ser levantados, 
transmitidos etc.]. Decisivos são sua utilidade e possibilidade de 
uso. Estas dependem, por um lado, da finalidade a que serve a 
152 BRASIL. Lei nº 13.709 de 14 de agosto de 2018. Lei geral de proteção de dados pes-
soais. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/
lei/l13709.htm. Acesso em: 22 mai. 2022.
153 BRASIL. Lei nº 13.709 de 14 de agosto de 2018. Lei geral de proteção de dados pes-
soais. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/
lei/l13709.htm. Acesso em: 22 mai. 2022.
154 VIEIRA, Tatiana Malta. Proteção de dados pessoais na sociedade de informação. 
Revista de Direito Inform. Telecomun. – RDIT. ano 2. nº 2. jan/jun. Belo Hori-
zonte: Ed. Forum, 2007, p. 57
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estatística e, por outro lado, das possibilidades de ligação e pro-
cessamento próprias da tecnologia de informação. Com isso, um 
dado em si insignificante pode adquirir um novo valor: desse 
modo, não existem mais dados “insignificantes” no contexto do 
processamento eletrônico de dados. O fato de informações di-
zerem respeito a processos íntimos não decide por si só se elas 
são sensíveis ou não. É muito mais necessário o conhecimento 
do contexto de utilização, para que se constate a importância do 
dado em termos de direito da personalidade: Só quando existe 
clareza sobre a finalidade para a qual os dados são solicitados e 
quais são as possibilidades de uso e ligação [destes com outros] 
que existem, pode-se saber se a restrição do direito de autodeter-
minação da informação (no caso) é admissível.155
Consigna-se, o art. 5º traz as principais definições da LGPD, e o 
consentimento é definido como a “expressão livre, informada e inequívo-
ca pela qual o titular dos dados concorda com o tratamento de seus dados 
pessoais para determinada finalidade. Enfatiza-se que Livre, informado 
e inequívoco, também são fundamentais para as definições de consenti-
mento válido em outras leis de privacidade156.
A LGPD utiliza um modelo “opt-in” de consentimento do usu-
ário, o que significa que na maioria dos casos as organizações não po-
dem coletar ou processar dados até que o usuário, um comprador onli-
ne, visitante do site, usuário do aplicativo, etc, dê o seu consentimento. 
Esse requisito inclui dados pessoais, como nomes e endereços de e-mail, 
mas também dados granulares e nos bastidores, como os coletados pelos 
cookies do site.
Nesta acepção, ensina, José Afonso da Silva, sobre os limites do 
consentimento:
O intenso desenvolvimento de complexa rede de fichários ele-
trônicos, especialmente sobre dados pessoais, constitui poderosa 
ameaça à privacidade das pessoas. O amplo sistema de informa-
ções computadorizadas gera um processo de esquadrinhamen-
to das pessoas, que ficam com sua individualidade inteiramen-
te devassada. O perigo é tão maior quanto mais a utilização da 
155 SCHWABE, Jürgen; Cinquenta anos de jurisprudência do Tribunal Constitucio-
nal Federal Alemão. Tradução: Beatriz Hennig et. al. Berlim: Konrad-Adenauer-S-
tifung E. V., 2005. Disponível em: Acesso em: 07 out 2021, p. 239.
156 BRASIL. Lei nº 13.709 de 14 de agosto de 2018. Lei geral de proteção de dados 
pessoais.
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informática facilita a interconexão de fichários com a possibilida-
de de formar grandes bancos de dados que desvendem a vida dos 
indivíduos, sem sua autorização e até sem seu consentimento.157
Á vista disso, as empresas e consumidores diante de maior trans-
parência na coleta e tratamento de dados coletados tanto em meios pre-
senciais quanto em meios digitais”,158não mais poderão “usar ou coletar 
informações pessoais sem consentimento (...)”.159
Certo é, que “o indivíduo nunca será dono dos seus dados se não 
puder decidir onde armazenar os seus dados e quem pode acessá-los”.160Internacionalmente, outras leis, como o Regulamento Geral de 
Proteção de Dados da União Europeia ( RGPD ) e o POPIA da África do 
Sul, também usam esse modelo de consentimento. Nos Estados Unidos, 
no entanto, até o momento, um modelo de “exclusão” de consentimento 
do usuário foi implementado em nível estadual (incluindo Califórnia , 
Virgínia e Colorado ). As organizações sujeitas a esses regulamentos não 
precisam obter o consentimento do usuário antes da coleta de dados, ex-
ceto em alguns casos específicos. Eles só precisam obter o consentimento 
antes de vender os dados (também com algumas exceções específicas).
Nesta perspectiva, o artigo 7.º da LGPD161, explica as bases legais 
e jurídicas, bem como as circunstâncias em que o processamento de da-
dos pode ser realizado. Como observado, existem 10, quatro a mais do 
que no GDPR. O primeiro listado é o consentimento. Algumas outras ba-
ses legais válidas incluem a obrigação legal ou regulatória do controlador, 
157 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional positivo. 27. ed. São Pau-
lo, Melhoramentos; 2004. p. 210.
158 FENALAW/DIGITAL. LGPD e seus impactos na sociedade. Fenalaw, 31 ago. 2018. 
Disponível em: https://digital.fenalaw.com.br/legisla-o/lgpd-e-seus-impactos-na-
-sociedade. Acesso em: 21 set. 2021.
159 FENALAW/DIGITAL. LGPD e seus impactos na sociedade. Fenalaw, 31 ago. 2018. 
Disponível em: https://digital.fenalaw.com.br/legisla-o/lgpd-e-seus-impactos-na-
-sociedade. Acesso em: 21 set. 2021.
160 BELLI, Luca. Seus dados são o novo petróleo: mas serão verdadeiramente seus? 
Artigo publicado em 01 de jun. 2017. O Globo – Opinião. Disponível em https://
oglobo.globo.com/opiniao/seus-dados-sao-novo-petroleo-mas-serao-verdadeira-
mente-seus-21419529. Acesso em 10 mar. 2022.
161 BRASIL. Lei nº 13.709 de 14 de agosto de 2018. Lei geral de proteção de dados 
pessoais.
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o cumprimento de um contrato e a proteção da vida ou segurança dos 
titulares dos dados.
Desta feita, os dados poderão ser processados com o consenti-
mento do titular dos dados; para cumprir as responsabilidades legais ou 
regulamentares do controlador de dados; para a administração pública e 
a execução de políticas públicas estabelecidas em lei, para regulamento 
ou em contratos para estudos de pesquisa (anônimos sempre que possí-
vel), para fazer um contrato exercer a lei brasileira, para proteger a vida 
ou a segurança pessoal, por profissionais de saúde ou saneamento, para 
salvaguardar a saúde de uma pessoa, para o interesse legítimo do contro-
lador de dados ou de um terceiro, a menos que isso infrinja os direitos 
legais do titular dos dados, e para proteger as classificações de crédito.
Ademais, o Interesse legítimo na Lei Geral de Proteção de Dados 
do Brasil, como base legal para o processamento de dados tem sido po-
pular sob outras leis de privacidade, pois pode significar menos trabalho 
para o controlador e outros, o consentimento não precisa ser obtido e 
gerenciado, por exemplo. Ressalta-se também que as 10 bases legais para 
o processamento de dados sob a LGPD não estão listadas de forma hie-
rárquica, devendo ser decidida a mais adequada com base em circunstân-
cias específicas. O interesse legítimo não deve ser a primeira escolha ou 
o último recurso.
O interesse legítimo, descrito no artigo 10º da LGPD, se aplica 
sob várias condições, as organizações não podem apenas reivindicar inte-
resse legítimo como base legal para sua própria conveniência. O processa-
mento precisa ser necessário para uma finalidade definida e é necessária 
transparência adicional. O uso de interesse legítimo requer o equilíbrio 
dos direitos dos titulares dos dados com os interesses dos controladores 
de dados e possíveis terceiros.
O conceito de interesse legítimo não é pacifico no Brasil, por isso 
há uma discussão em curso sobre o que constitui interesse legítimo e em 
que circunstâncias é apropriado aplicá-lo. Houve preocupação desde que 
a lei foi redigida sobre o interesse legítimo ser “carta branca” para os con-
troladores de dados.
A vista disso, é considerada a melhor prática antes de decidir so-
bre o interesse legítimo como base legal para o processamento de dados, 
avaliar qual é o interesse legítimo, qual a real necessidade, ou seja, se o 
processamento é necessário para o propósito definido, e o equilíbrio en-
tre o interesse do indivíduo e do titular dos dados.
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A LGPD162 dá à ANPD a capacidade de exigir que os controla-
dores de dados preparem um Relatório/Avaliação de Impacto na Pro-
teção de Dados. O Artigo 38 prediz, quando a base legal escolhida pelo 
controlador for interesse legítimo. Isso se destina a identificar e mitigar 
os riscos para o processamento. O processamento não pode ser mais 
arriscado do que aquele para o qual o consentimento é necessário. Mas 
quando a necessidade de informar os usuários para obter o consenti-
mento não está presente, a mesma transparência para os usuários não 
precisa estar em vigor. 
3.1. PRINCÍPIOS NORTEADORES DA LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
As principais questões sobre a aplicação da LGPD, estão relacio-
nadas a quem ela se aplica e quais são as condições de conformidade. 
Neste esteio, o art. 6º estabelece os princípios da LGPD que regem o pro-
cessamento de dados:
PRINCÍPIO DA FINALIDADE 
De acordo com o princípio da finalidade, a coleta de dados deve 
ter um fim legitimo, nenhuma informação pode ser coletada sem pri-
meiro determinar o objetivo para a qual foi coletada. Deve-se primeiro 
decidir as estratégias e necessidades, bem como os tipos de dados com os 
quais trabalhar e para quais finalidades. Somente depois disso, os dados 
poderão ser coletados com a devida e prévia autorização.
Art. 6º As atividades de tratamento de dados pessoais deverão ob-
servar a boa-fé e os seguintes princípios:
I - finalidade: realização do tratamento para propósitos legíti-
mos, específicos, explícitos e informados ao titular, sem possibi-
lidade de tratamento posterior de forma incompatível com essas 
finalidades;
Em suma, o princípio da finalidade pressupõe desnecessário 
a coleta de dados que não tenham relevância na prestação do serviço, 
evitando o processamento de dados não autorizados ou inadequados. 
O princípio também visa proteger os titulares dos dados contra abusos, 
desvios e outras situações que possam desviar-se do motivo pelo qual os 
dados foram coletados.
162 BRASIL. Lei nº 13.709 de 14 de agosto de 2018. Lei geral de proteção de dados pessoais.
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PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO
Art. 6º (...) II - adequação: compatibilidade do tratamento 
com as finalidades informadas ao titular, de acordo com o contexto do 
tratamento;
Conforme esse princípio o tratamento deve ser compatível com 
as finalidades sobre as quais o titular dos dados foi informado, de acordo 
com o contexto da atividade de tratamento. 
PRINCÍPIO DA NECESSIDADE
Art. 6º (...) III - necessidade: limitação do tratamento ao mínimo 
necessário para a realização de suas finalidades, com abrangência dos da-
dos pertinentes, proporcionais e não excessivos em relação às finalidades 
do tratamento de dados;
A atividade de processamento é limitada ao mínimo necessário 
para a realização de sua(s) finalidade(s), com abrangência dos dados re-
levantes proporcional à(s) finalidade(s) declarada(s) do processamento. 
Neste esteio, Cravo explica:
Conforme os dados pessoais se tornaram mais ubíquos e fáceis de 
serem coletados, armazenados e processados, empresas e organi-
zações passaram a enxergar o valor agregado a essas informações. 
Gradualmente, percebeu-se que as pegadas digitais deixadas pelos 
indivíduos após uma venda ou prestação de serviço, por exemplo, 
se analisadas em conjunto sob um método particular, podem reve-
lar um significado maior que a simples soma de suas partes. Com 
essa enorme quantidade de dados,agora é possível extrair novas 
ideias e perspectivas sobre a realidade, as quais dão ensejo a cria-
ção de produtos e serviços inovadores, bem como a novas formas 
de desenvolvimento de políticas públicas e de regulação estatal.163
Vale destacar que esse aumento do acesso às informações pes-
soais proporciona uma espécie de monitoramento de seus titulares. Isso 
pode resultar no uso dessas informações para fins de classificação, a fim 
de limitar as escolhas e/ou oportunidades do titular dos dados processa-
dos. Representar discriminação digital ou tecnológica.
163 CRAVO, V. O Big Data e os desafios da modernidade: uma regulação necessária? Re-
vista de Direito, Estado e Telecomunicações, Brasília, v. 8, n. 1, p. 177-192, maio 2016.
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PRINCÍPIO DO LIVRE ACESSO
Os titulares dos dados têm garantia de consulta gratuita e fácil 
sobre a integridade dos seus dados pessoais e a forma e duração da ativi-
dade de tratamento.
Art. 6º (...) IV - livre acesso: garantia, aos titulares, de consulta 
facilitada e gratuita sobre a forma e a duração do tratamento, bem como 
sobre a integralidade de seus dados pessoais;
PRINCÍPIO DA QUALIDADE DOS DADOS
É garantida a exatidão, clareza, relevância e atualização dos da-
dos dos titulares, de acordo com a necessidade e para o cumprimento da 
finalidade do seu tratamento.
Art. 6º (...) V - qualidade dos dados: garantia, aos titulares, de 
exatidão, clareza, relevância e atualização dos dados, de acordo com a 
necessidade e para o cumprimento da finalidade de seu tratamento;
Destina-se a garantir a exatidão, clareza, relevância e atualização 
dos dados tratados para o fim a que se destinam. Não é um conceito está-
tico, mas algo que deve ser adaptado à situação real, pois os fatos mudam 
de acordo com os juízos de valor que lhes são dados. Por exemplo, o que 
é considerado legal hoje pode ser considerado ilegal amanhã.
PRINCÍPIO DA TRANSPARÊNCIA
Aos titulares dos dados as informações devem ser claras, pre-
cisas e facilmente acessíveis sobre o tratamento e os respetivos agentes 
de tratamento, desde que sejam salvaguardados os segredos comerciais 
e industriais.
Art. 6º (...) VI - transparência: garantia, aos titulares, de infor-
mações claras, precisas e facilmente acessíveis sobre a realização do tra-
tamento e os respectivos agentes de tratamento, observados os segredos 
comercial e industrial;
Para atingir seu objetivo, tais informações devem ser fornecidas 
em linguagem clara e de fácil compreensão, de forma que garanta fácil 
compreensão, evitando o que Helen Nissembaum164 chama de “parado-
xo da transparência”. Nesse sentido, se fosse necessário explicar tudo 
164 NISSENBAUM, H. A Contextual Approach to Privacy Online. Dædalus: Journal 
of the American Academy of Arts & Sciences, Fall 2011. p. 32-48.
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sobre processamento de dados, poucas pessoas (talvez apenas especia-
listas) entenderiam, e muitos nem leriam. É por isso que é necessário 
ajustar a quantidade e a qualidade das informações fornecidas para pro-
teger sua validade.
PRINCÍPIO DA SEGURANÇA 
Medidas técnicas e administrativas são usadas para proteger os 
dados pessoais de acesso não autorizado, destruição acidental ou ilícita, 
perda, alteração, comunicação ou disseminação.
Art. 6º (...) VII - segurança: utilização de medidas técnicas e ad-
ministrativas aptas a proteger os dados pessoais de acessos não autoriza-
dos e de situações acidentais ou ilícitas de destruição, perda, alteração, 
comunicação ou difusão;
PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO
Propagado, como Princípio Privacy by Design, são adotadas me-
didas para evitar danos devido ao tratamento de dados pessoais. 
Art. 6º (...) VIII - prevenção: adoção de medidas para prevenir a 
ocorrência de danos em virtude do tratamento de dados pessoais;
PRINCÍPIO DA NÃO DISCRIMINAÇÃO
Expõe que é impossível usar ou processar quaisquer dados pes-
soais para fins discriminatórios, ilegais ou abusivos. Tomamos o exemplo 
de um problema existente na tomada de decisão automatizada, em que 
um algoritmo feito pelo homem reflete os julgamentos comprometidos 
e discriminatórios desse algoritmo. Portanto, se os dados alimentados 
no algoritmo forem tendenciosos, ele tenderá a replicar julgamentos, ou 
seja, o processamento não pode ser realizada para fins discriminatórios 
ilícitos ou abusivos
Art. 6º (...) IX - não discriminação: impossibilidade de realização 
do tratamento para fins discriminatórios ilícitos ou abusivos;
PRINCÍPIO DA RESPONSABILIZAÇÃO E PRESTAÇÃO DE CONTAS
Art. 6º (...) X - responsabilização e prestação de contas: demons-
tração, pelo agente, da adoção de medidas eficazes e capazes de 
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comprovar a observância e o cumprimento das normas de pro-
teção de dados pessoais e, inclusive, da eficácia dessas medidas.
Os princípios emanam um padrão de responsabilização. Em sín-
tese, garantir que uma finalidade clara e legal para o processamento de 
dados seja estabelecida, bem como uma base legal para fazê-lo, antes que 
qualquer dado seja coletado. Colete e processe apenas os dados absoluta-
mente necessários e apenas para a finalidade declarada e o tempo neces-
sário. Os dados devem ser coletados, acessados e armazenados de forma 
segura. Os titulares dos dados têm o direito de saber quais dados seus são 
processados, como e por quem, e de consentir ou recusar isso, também 
têm o direito de acessar quaisquer dados coletados, garantir que sejam 
precisos ou solicitar sua exclusão. A conformidade é exigida para titula-
res de dados localizados e processamento de dados ocorrendo no Brasil, 
independentemente de onde a organização que realiza o processamento 
de dados estejam localizada.
3.2. AGENTES E TRATAMENTO DE DADOS PESSOAIS DE ACORDO COM A LGPD 
Consoante o disposto em lei, entende-se, por tratamento, toda e 
qualquer operação realizada com os dados pessoais. Cite-se:
Art. 5. [...] X - tratamento: toda operação realizada com dados 
pessoais, como as que se referem a coleta, produção, recepção, 
classificação, utilização, acesso, reprodução, transmissão, distri-
buição, processamento, arquivamento, armazenamento, elimina-
ção, avaliação ou controle da informação, modificação, comunica-
ção, transferência, difusão ou extração.165
A Lei no art. 40 aborda os requisitos para um encarregado de 
Proteção de Dados. Devido a uma Ordem Executiva, o DPO não precisa 
mais ser uma pessoa física, podendo ser cumprido por um comitê ou 
grupo, ou terceirizado pela organização. A lei não fornece especificações 
sobre o tamanho de uma empresa ou natureza de seus negócios ou pro-
cessamento de dados em relação à exigência de ter um DPO. A Agência 
Nacional de Proteção de Dados pode refinar isso ao longo do tempo. 
165 BRASIL. Lei nº 13.709 de 14 de agosto de 2018. Lei geral de proteção de dados 
pessoais.
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De acordo com o art. 41 , a identidade e as informações de con-
tato do DPO devem estar disponíveis publicamente. Eles não precisam 
ter nenhuma credencial específica ou experiência específica, embora isso 
também possa mudar no futuro, e algumas credenciais ou experiência 
podem facilitar o cumprimento de seus deveres.
Ainda no que concerne ao tratamento dos dados, são conside-
rados, pela lei, como agentes de tratamento: o controlador e o 
operador. 
O controlador é a pessoa - física ou jurídica, de direito público ou 
privado - que determina o que será feito com os dados pessoais, 
ou seja, a pessoa de quem emanam as decisões. Quem define o 
“como” e o “porquê”. Também chamado de data controller, o con-
trolador é quem determina a forma e os objetivos a serem alcan-
çados no tratamento dos dados. 
Por outro lado, o operador ou data processor, é a pessoa - natural 
ou jurídica, de direito público ou privado - que realiza, de fato, 
o tratamento dos dados em nome docontrolador. O operador é 
aquele que age sob as instruções do controlador, ou seja, é quem 
realiza o tratamento dos dados a mando do controlador.
Uma figura, porém, vem se destacando devido à sua importân-
cia para o momento atual, mormente após a entrada em vigor da 
lei geral de proteção de dados pessoais. Trata-se do encarregado 
ou DPO (Data Protection Officer) que, nada mais é do que uma 
pessoa - física ou jurídica -, indicada pelo controlador, para ser o 
canal de ligação entre este (controlador), os titulares dos dados e a 
Autoridade Nacional de proteção de dados.
A LGPD determina transparência na divulgação da identidade 
do encarregado. Ademais, estabelece quais são as suas atividades, 
dentre elas citamos a título de exemplo: prestar esclarecimentos e 
adotar providências, orientar funcionários e os contratados da en-
tidade sobre as práticas a serem tomadas no tratamento dos dados, 
executar as atribuições determinadas pelo controlador e etc.166
O DPO interage com os titulares dos dados, recebendo comuni-
cações ou reclamações dos mesmos, prestando informações ou adotando 
medidas que os afetem. Recebem comunicações e adotam medidas tam-
bém para a autoridade nacional, a ANPD. Garante que os funcionários 
da organização e terceiros relevantes, como contratados, sejam treinados 
166 MACIEL, Moises. Os tribunais de contas e a nova lei de proteção de dados pes-
soais. Uma análise acerca da função dos tribunais de contas e sua relação com a 
proteção de dados. ed. Belo Horizonte. Fórum 2020. p. 83.
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em requisitos de processamento de dados e medidas de segurança e os 
mantenham. E geralmente exercem outras funções exigidas pela ANPD.
3.3. TRANSFERÊNCIAS DE DADOS E PROCEDIMENTOS EM CASOS DE 
VIOLAÇÕES
 Os requisitos e responsabilidades de transferência de dados sob 
a LGPD são semelhantes aos do GDPR. O art. 33 descreve quando os da-
dos podem ser transferidos internacionalmente. Conforme já observado, 
a LGPD tem escopo extraterritorial, portanto, se os titulares dos dados 
estiverem no Brasil no momento do processamento dos dados, mesmo 
que o processamento ocorra fora do Brasil, aplica-se a LGPD, e conside-
ra-se que a transferência de dados ocorreu.
As organizações podem transferir dados pessoais para fora do 
Brasil (por exemplo, para processamento) nas seguintes condições:
Países ou organizações que fornecem um grau adequado de pro-
teção de dados pessoais aceitável pela ANPD: o controlador oferece e for-
nece garantias de conformidade com os princípios da LGPD e os direitos 
dos titulares dos dados em mente, inclusive com cláusulas contratuais; 
quando a transferência for necessária para a cooperação jurídica interna-
cional entre inteligência pública, órgãos de investigação e de acusação, de 
acordo com o direito internacional.
Quando a transferência for necessária para proteger a vida ou a 
segurança física do titular dos dados ou de terceiros; quando a ANPD au-
toriza a transferência; quando existe um acordo de cooperação interna-
cional que permite a transferência; quando a transferência for necessária 
para execução de ordem pública ou atribuição legal do serviço público; 
quando o titular dos dados tiver dado consentimento prévio e informado 
para a transferência e seu(s) propósito(s) específico(s).
Ressalta-se que até que a ANPD esteja totalmente operacional e 
tenha revisado muitas condições da LGPD, as empresas podem estar li-
mitadas às condições de transferência de dados (ou o uso de apenas duas 
recomendadas): consentimento específico e informado ou a necessidade 
de executar uma transferência. 
Neste esteio, se ocorrer uma violação de dados, o controlador 
deve denunciá-la à ANPD dentro de um prazo “razoável” se for provável 
ou tenha resultado em risco ou danos aos titulares dos dados. A orienta-
ção da ANPD de 2021 diz que essa informação deve ser comunicada em 
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até dois dias úteis após o recebimento do conhecimento do incidente. Os 
Incidentes de Segurança de Dados Pessoais são cobertos pelo art. 48.167
As notificações à ANPD devem incluir: uma descrição da na-
tureza dos dados pessoais afetados; informações sobre os titulares dos 
dados envolvidos; informações sobre as medidas de segurança que esta-
vam em vigor; riscos criados pelo incidente; razões para qualquer atraso 
na comunicação (se houver); medidas que foram ou serão adotadas para 
resolver a violação e evitar a recorrência.
 A pessoa ou empresa responsável pelos dados deve avaliar o in-
cidente e determinar a natureza, categoria e número de titulares de dados 
afetados. A ANPD verificará a gravidade dos incidentes, podendo orde-
nar que o controlador adote medidas para salvaguardar os direitos dos ti-
tulares dos dados, se necessário, incluindo ampla divulgação do incidente 
à mídia, ou medidas para mitigar ou reverter os efeitos do mesmo. 
A ANPD, também pode emitir regras e isenções especiais para 
a LGPD para pequenas empresas, startups e empresas similares, o que 
proporciona alguma flexibilidade para questões como comunicação de 
incidentes de segurança.
Destarte, a LGPD, como muitas leis de privacidade, possui dispo-
sições especiais para crianças e seus dados (art. 14)168. Isso está de acordo 
com as disposições para a proteção de crianças em outras leis brasileiras 
e também na constituição. Segundo a LGPD, criança é qualquer pessoa 
com menos de 18 anos.
 Os dados das crianças podem ser processados, mas seus melho-
res interesses devem ser levados em consideração, e o consentimento dos 
pais (ou de um representante legal) é necessário para todas as atividades 
de processamento, antes do início dessas atividades.
 Os controladores devem fornecer informações sobre os dados 
solicitados de forma clara e acessível, bem como abordar a finalidade da 
coleta e uso dos dados. Os controladores também devem fazer esforços 
razoáveis, usando as tecnologias disponíveis, para verificar se o consenti-
mento foi fornecido por um pai ou representante legal. 
As condições para o consentimento dos pais para o processa-
mento de dados de crianças são as mesmas para adultos: livre, informado, 
167 BRASIL. Lei nº 13.709 de 14 de agosto de 2018. Lei geral de proteção de dados 
pessoais.
168 BRASIL. Lei nº 13.709 de 14 de agosto de 2018. Lei geral de proteção de dados 
pessoais.
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inequívoco, específico e excelente. As crianças não podem ser solicitadas 
a fornecer informações pessoais além do estritamente necessário ao se 
envolver com aplicativos online, jogos ou outras atividades semelhantes.
 Uma exceção parcial ao requisito é quando a coleta de dados an-
tes do consentimento é necessária para poder entrar em contato com o(s) 
pai(s) ou representante legal para obter o consentimento para o proces-
samento de dados da criança. Os dados só podem ser usados uma vez e 
não armazenados ou compartilhados com terceiros sem consentimento.
3.4. ATIVIDADES DE PÓS-PROCESSAMENTO PENALIDADES E EXECUÇÃO SOB 
A LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS DO BRASIL
 O art. 15169 da LGPD, descreve quando o processamento de da-
dos pessoais deve ser encerrado. Isso inclui quando: a finalidade específi-
ca do processamento foi alcançada ou os dados não são mais necessários 
para alcançá-la; o período de processamento termina; o titular dos dados 
fornece uma notificação para exercer o seu direito de revogar o consen-
timento para o processamento; ANPD determina que houve violação de 
dispositivos da LGPD.
Exclusão de Dados Pessoais: Nos termos da cessação do trata-
mento, a eliminação dos dados pessoais recolhidos está prevista no artigo 
16. Geralmente, os dados pessoais devem ser excluídos após o término 
do processamento. As exceções a isso, quando os dados não são excluídos 
imediatamente, são: em conformidade com a obrigação legal ou regula-
mentar do controlador; para estudo de pesquisa, garantindo anonimiza-ção sempre que possível; transferência para terceiro, desde que respeita-
dos os requisitos legais para tal; uso exclusivo do controlador, desde que 
os dados sejam anonimizados e não haja acesso de terceiros
Por conseguinte, A ANPD é responsável por apurar as infrações 
e penalidades quando constatado o descumprimento das disposições da 
LGPD. Essas penalidades podem incluir multas de até 2% da receita anual 
da organização no Brasil, até um máximo de R$ 50 milhões por violação.
A ANPD também pode bloquear o acesso aos dados ou proces-
samento adicional de dados, ou exigir a exclusão dos dados pessoais co-
letados. Os indivíduos têm direito privado de ação, que é o direito de 
processar para buscar danos civis por violações de privacidade.
169 BRASIL. Lei nº 13.709 de 14 de agosto de 2018. Lei geral de proteção de dados 
pessoais.
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Reparação de Danos ao Titular Dos Dados: Nos termos do ar-
tigo 42.º, se um responsável pelo tratamento ou operador cometer uma 
violação da lei (“danos patrimoniais, morais, individuais ou coletivos”) 
relativamente à proteção de dados pessoais, é obrigado a repará-los. Con-
forme observado anteriormente, os titulares de dados individuais podem 
requerer danos se forem prejudicados por uma violação de segurança re-
lacionada a dados. 
Em caso de violação que prejudique os titulares dos dados, o con-
trolador é a parte mais provável responsável pelos danos. No entanto, 
quando o operador não cumpriu as obrigações de proteção de dados, ou 
não seguiu as instruções do responsável pelo tratamento, é conjuntamen-
te com o responsável pelo tratamento e solidariamente responsável pelos 
danos causados pelo tratamento.
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 BOAS PRÁTICAS DA ADVOCACIA NA ERA DA 
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL 
 A Inteligência Artificial, está tendo um efeito profundo na prá-
tica do direito, começou a ser utilizada para pesquisas, para redigir con-
tratos, prever resultados legais e até recomendar decisões judiciais sobre 
sentença ou fiança.
Os benefícios potenciais da IA na lei são reais. Pode aumentar a 
produtividade do advogado e evitar erros dispendiosos. Em alguns casos, 
também pode lubrificar as rodas da justiça para aumentar a velocidade da 
pesquisa e da tomada de decisões. 
Neste esteio, os advogados do mundo todo, já estão usando a IA, 
e especialmente o Machine Learning (ML), para revisar contratos de for-
ma mais rápida e consistente, identificando problemas e erros que podem 
ter passado despercebidos por advogados humanos. Startups, fornecem 
um serviço que pode revisar contratos com mais rapidez e, em alguns 
casos, com mais precisão do que humanos.
Nos Estados Unidos, destaca-se o chamado Contract Intelligence170:
170 GALEON, Dom; HOUSER, Kristin. An AI Completed 360,000 Hours of Finance 
Work in Just Seconds. 2017. Disponível em: . Acesso em: 21 abr. 2022. 
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COIN, sistema de machine learning que tem por função inter-
pretar acordos de empréstimo comercial e analisar acordos finan-
ceiros no âmbito do banco norte-americano – o maior deles - JP 
Morgan Chase & Co.. Essa ferramenta, estima-se, substitui-se ao 
trabalho de 360 mil horas de trabalho ao ano de um advogado, 
além de diminuir o número de equívocos na concessão de servi-
ços de empréstimo ocasionados por erro humano.
Outra área em que a IA já é amplamente utilizada na prática do 
direito é na realização de pesquisas jurídicas. Os advogados em exercício 
podem nem estar cientes de que estão usando a IA nessa área, pois ela foi 
perfeitamente integrada em muitos serviços de pesquisa. 
A IA pode gerar conteúdo e também analisá-lo, aborda o proces-
so criativo de uma maneira fundamentalmente diferente dos humanos, 
de modo que o caminho percorrido ou o resultado final às vezes pode ser 
surpreendente. 
Ainda nessa esteira, ressalta-se, a possibilidade de utilização a IA 
para prever o futuro. Em 2014, o professor de Direito da Universidade 
de Chigaco-Kent Daniel Martin Katz e seus pares, criaram um algoritmo 
que prognosticava os resultados dos casos julgados pela Suprema Corte 
norte-americana. Na ocasião, obteve-se cerca de 70% (setenta por cento) 
de precisão em 7.700 (sete mil e setecentas) decisões de 1816 a 2015.171
Muito disso é possível devido a novos algoritmos, de modo que 
um redator de IA pode criar uma história, artigo ou relatório, mas sem 
perfeição. Por vezes a ferramenta de IA traz tópicos ou ideias aleatórias e, 
como a IA não tem experiência humana, pode ter algumas imprecisões 
factuais ou referenciais estranhos.
Destarte, para que a IA possa redigir contratos jurídicos, por 
exemplo, ela precisará ser treinada por um ser humano, que seja um ad-
vogado competente. Isso exige que o criador da IA colete os dados de 
desempenho legal em várias versões da linguagem do contrato, um pro-
cesso chamado de rotulagem. 
Esses dados rotulados são usados para treinar a IA sobre como 
gerar um bom contrato. No entanto, a execução legal de um contrato 
geralmente é específica do contexto, para não mencionar a variação de 
171 KATZ, Daniel Martin; BOMMARITO, Michael J.; BLACKMAN, Josh. A general 
approach for predicting the behavior of the Supreme Court of the United States. 
Plos One, [s.l.], v. 12, n. 4, p.1-18, 12 abr. 2017. Public Library of Science (PLoS). http://
dx.doi.org/10.1371/journal.pone.0174698. Disponível em: . Acesso em: 07 abr. 2022.
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jurisdição e um corpo de leis em constante mudança. Além disso, a maio-
ria dos contratos nunca é vista em um tribunal, de modo que suas cláusu-
las permanecem não testadas e privadas para as partes. 
Outro uso inovador da IA é prever resultados legais. Avaliar com 
precisão a probabilidade de um resultado bem-sucedido para uma ação 
judicial pode ser muito valioso. Esse tipo de IA, permite que um advo-
gado decida se deve aceitar um caso de contingência, ou quanto investir 
em especialistas, ou se deve aconselhar seus clientes a fazer um acordo. 
A empresa Lex Machina172, criou um Software de litígio, através 
de aprendizado de máquina e análise preditiva para obter insights so-
bre juízes e advogados individuais, bem como sobre o próprio caso legal, 
para prever comportamentos e resultados, permitindo prever possíveis 
resultados e estratégias jurídicas para ganhar demandas judiciais.
Não obstante, uma grande problemática é nos casos em que a IA 
é usada para substituir o julgamento humano, especialmente no contexto 
do direito penal. A IA não está pronta para isso por vários motivos. Por 
um lado, pode haver viés nos dados de treinamento que serão amplifica-
dos e ainda mais institucionalizados pelos modelos de ML resultantes. 
Esses problemas podem ser superados, o processo de eliminar o precon-
ceito de dados de treinamento pode levar o humano a perceber e corrigir 
alguns dos racismos e sexismos inerentes ao nosso sistema legal.
Neste esteio explica Lawlor173:
Quando a relação entre a tecnologia da informação e o direito é 
examinada um pouco mais de perto, logo se reconhece que existem 
duas relações opostas e polarizadas. Não estamos preocupados ape-
nas com a forma como a nova tecnologia pode ser usada na lei, mas 
também com a forma como a lei se aplica à nova tecnologia.
Em termos a AI é um espelho para a humanidade, revelando 
algumas de nossas falhas inerentes. O processo de desenrolar as razões 
pelas quais uma IA faz uma recomendação pode nos levar a entender 
melhor a realidade e as limitações das explicações ou racionalizações hu-
manas para suas decisões.
172 Disponível em:173 LAWLOR, R. Information Technology and the Law. Advances in Computers, 
Vol. 3, 1962. p. 299-352
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Em meados de 2020, no ápice da Pandemia do Corona Vírus, 
Manuel Castells174 afirmou em um dos seus artigos publicados que o 
mundo será, constituído de uma realidade carnal concomitante à realida-
de virtual, de modo que haverá uma cultura da virtualidade real, porque 
essa virtualidade é uma dimensão fundamental da nossa realidade. Nesta 
toada, explica o autor: 
A realização de audiências de custódia na Argentina, na qual as 
partes se conectaram pela internet, por meio de um software espe-
cialmente implementado para este objetivo. Também, a utilização, 
em audiências, do software Skype, pelos Tribunais de Nova Iorque 
e Oregon, do software Microsoft Teams pelos Tribunais de Oregon 
e Wyoming, do software Zoom pelos Tribunais de Michigan, New 
Jersey e Texas, e do software Cisco Webex pelos Tribunais do Co-
lorado, New Hampshire, Oregon, Pennsylvania,Utah e Virginia. 
Nesse mesmo sentido, faz-se a utilização do software Hangouts 
Meet para possibilitar audiências virtuais e reuniões administrati-
vas no judiciário do Peru.175
Fato é, que as novas tecnologias aplicáveis ao uso de um escritó-
rio de advocacia podem reduzir as horas de trabalho de um advogado. 
Em um relatório de janeiro de 2017 do McKinsey Global Institute176 , re-
velou que 23% da tarefa diária de um advogado pode ser erradicada com 
a aplicação da tecnologia. Assim, com os crescentes estudos sobre como a 
IA e os robôs podem substituir os advogados, o setor jurídico deve temer 
a interrupção da tecnologia?
No Reino Unido, cerca de 48% dos escritórios de advocacia com 
sede em Londres já aderiram a IA, enquanto outros 41% estão aceleran-
do a transição para a adoção da tecnologia, mostrou um estudo de 2018 
da CBRE . Enquanto isso, o mais recente Relatório de Pesquisa de Tec-
nologia da American Bar Association mostra que 10% dos advogados 
174 CASTELLS, Manuel. O digital é o novo normal. Disponível em: . Acesso em: 4. jun. 2022.
175 CASTELLS, Manuel. O digital é o novo normal. Disponível em: . Acesso em: 4. jun. 2022. 
176 SOLAIMAN, S. M. Legal personality of robots, corporations, idols and chim-
panzees: a quest for legitimacy. Artificial Intelligence in Law, [s.l.], Vol. 25, n. 2, , 
jun. 2017. pp. 155-179.
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pesquisados nos EUA usaram ferramentas tecnológicas baseadas em in-
teligência artificial para seu trabalho jurídico em 2018.177
Além das sociedades, advogados individuais estão começando a 
aderir à tendência também. Para resumir, em vez de evitar a tecnologia, 
os escritórios de advocacia estão dando boas-vindas à IA. No entanto, 
por quê?.
Sistemas de IA, como o ROSS Intelligence,178 apelidado de pri-
meiro advogado robô, usa uma ferramenta de pesquisa on-line projetada 
pela IBM Watson que aproveita o processamento de linguagem natural 
para ajudar a percorrer mais de um milhão de páginas de documentos 
legais em um minuto.
Também no Reino Unido, foi desenvolvido, um sistema similar 
é especializado no ramo de advocacia, entre outros. Vencedor do Prêmio 
Direito Moderno 2017/2018 na categoria Melhor Uso de Tecnologia, o 
RAVN179 oferece aos advogados um sistema de gerenciamento de docu-
mentos baseado na web para fins de organização de arquivos em um local 
de fácil acesso via celular e até mesmo offline.
Embora a IA tenha servido inicialmente à advocacia apenas para 
pesquisar palavras-chave em megabytes de dados, a IA, uma máquina 
treinada, transformou os negócios com sua capacidade de classificar uma 
grande quantidade de documentos díspares e determinar quais são rele-
vantes para o caso em questão.
Simplificando, o fascínio de utilizar IA no processo de pesquisa 
jurídica, se deve à tremenda capacidade de coletar, validar e analisar da-
dos, pois se concentra na linguagem geral e no contexto de um documen-
to, em vez de analisar cada palavra por palavra. 
Neste esteio, as ferramentas de IA também podem criar contra-
tos. Os contratos podem ser configurados usando uma plataforma que 
tanto o advogado quanto o cliente podem acessar. 
177 LOHR, S. A.I. Is Doing Legal Work. But It Won’t Replace Lawyers, Yet. The New 
York Times. 2017.Disponível:. Acesso em 12.jun. 2022.
178 História da Inteligência Artificial. Portal do Conselho da Europa. Disponível em: 
:. Acesso em 12.jun. 2022
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Na plataforma, é possível elaborar contratos em regime de autoa-
tendimento. As partes podem escolher o tipo de contrato de que precisam 
e, em seguida, inserir variáveis que servirão como os principais termos 
do contrato. Parâmetros legais são inseridos para se tornarem os padrões 
estabelecidos na contratação automatizada. Além de fazer contratos, a 
IA pode verificar se as cláusulas que estão dentro dos limites legais e são 
compatíveis com acordos anteriores, se houver. 
 O uso de Bots que são ferramentas online projetadas para inte-
ragir com um público com o objetivo de auxiliá-lo, fornecendo respostas 
personalizadas a situações específicas. Em escritórios de advocacia, os 
bots estão ajudando clientes a lidar com uma questão legal com base em 
suas próprias circunstâncias e fatos. Outros grupos estão desenvolvendo 
bots jurídicos pro bono para ajudar pessoas que, de outra forma, não 
teriam acesso ao sistema legal.
As máquinas estão gradualmente chegando aos locais de trabalho 
e deslocando os humanos, pois esses robôs concluem várias tarefas em 
tão pouco tempo e com mais consistência na qualidade do trabalho que 
entregam. Embora essa ameaça de automação tenha sido principalmente 
restrita ao trabalho de rotina e de escritório, estudos recentes mostraram 
que as máquinas têm o potencial de interromper áreas onde é necessário 
um trabalho humano mais complexo.
Os benefícios da tecnologia impactam diversas áreas da advo-
cacia, previsão de resultados mesmo para uso judicial, a análise jurídica 
pode chegar a prever a possível decisão de um juiz com base nos argu-
mentos oferecidos. Essas decisões são possíveis porque os computadores 
também analisam os fatores determinantes tradicionais: casos históricos 
semelhantes nos quais a decisão provavelmente será baseada; a força dos 
fatos; e até mesmo o padrão de tomada de decisão do juiz com base em 
casos que ele já tratou.
Além da análise, essas máquinas podem oferecer suas próprias 
recomendações sobre a linguagem e os casos precedentes nos quais os 
advogados podem basear seus argumentos. No entanto, as recomenda-
ções também podem ser usadas para a tomada de decisões dos tribunais.
Neste esteio, é importante trazer à baila o advogado 4.0, que é o 
advogado que possui competências e habilidades com a tecnologia, que 
está inserido no contexto de transformação digital, em termos é o advo-
gado do presente. 
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Ao olhar para a evolução do direito, é preciso revisá-lo no for-
mato de materiais analógicos, que incluem livros didáticos, material de 
jurisprudência, relatórios jurídicos, revistas jurídicas. 
 Com o advento da tecnologia assistida por computador, que sem-
pre foi vista como uma inovação disruptiva, o trabalho jurídico começou a 
ser automatizado e isso resultou na criação de bibliotecas digitais, utiliza-
ção de plataformas de busca no Google, isso resultou em um maior acessoa informações. Neste esteio, Ismail, Malone relatam: Estamos mudando 
rapidamente o filtro por meio do qual lidamos com o mundo a partir de 
uma perspectiva física com base material para uma perspectiva baseada na 
informação digital e o conhecimento agregado e potencializado.180
São muitos os benefícios econômicos percebidos da Inteligência 
Artificial na Economia Global. Pode-se dizer, que atualmente entramos 
em uma era de revolução, alguns estudiosos denominam a revolução do 
conhecimento, que pode ser considerada como a mais nova fase da revo-
lução industrial. Alguns estudiosos do conhecimento também se referem 
como a quarta revolução. 
Esta revolução tem assistido a investimentos graduais no campo 
da inteligência Artificial que continua a crescer, assim preconiza Carmo 
Antunes: 
Inteligência artificial pode ser definida como a capacitação não 
humana mas criada por seres humanos de identificar problemas 
e propor soluções, de maneira não exata e específica pré-determi-
nada. Sistemas inteligentes, portanto, são aqueles que aprendem 
com a observação de resultados não desejados e de necessidades 
de ajustes relacionados a soluções anteriormente propostas, de 
maneira a permitir que novas alternativas possam ser apresenta-
das quando situação semelhante for verificada.181
Por meio de desempenho aprimorado, inteligência artificial, má-
quinas trabalham com mais precisão e produzem um trabalho de melhor 
qualidade e otimizado, aumentam a produtividade e minimizam os erros. 
180 ISMAIL, Salim; MALONE, Michael S.; GEEST, Yuri Van. Organizações exponen-
ciais. Editora: HSM Editora, 2015. p. 02.
181 ANTUNES, Thiago Caversan; CARMO, Valter Moura do. Inteligência Artificial e 
decisões judiciais: uma abordagem a partir da perspectiva da Análise Econômi-
ca do Direito. Revista Democracia Digital e Governo Eletrônico, Florianópolis, v. 
1, n. 18, p. 191-209, 2019. p. 199.
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Além disso, as máquinas são capazes de trabalhar longas horas, mesmo 
em ambientes perigosos sem sofrer lesões ou fadiga, reduzindo assim, as 
preocupações de segurança, saúde e meio ambiente. 
Um exemplo de Inteligência Artificial frequentemente usada, in-
clusive no ambiente familiar é o google, Edivaldo Brito, alude:
Uma das empresas que mais se destacam na utilização de inteli-
gência artificial é o Google, que possui diversos produtos e servi-
ços que só existem por conta dessa tecnologia. Essa empresa usa 
inteligência artificial em seus serviços de busca, publicidade e até 
em produtos físicos, como o Google Home. Em abril de 2019, a 
empresa abriu um laboratório de pesquisa em Gana sobre inteli-
gência artificial, o primeiro desse tipo na África, com o objetivo 
de responder aos problemas socioeconômicos, políticos e ambien-
tais do continente. Além desse, já existem laboratórios desse tipo 
em cidades como Tóquio, Zurique, Montreal, e Paris. No serviço 
mais importante da empresa (as buscas), o Google recentemen-
te adicionou inteligência artificial através do algoritmo BERT. 
A mudança envolve uma nova técnica de análise de linguagem 
para compreender melhor as solicitações dos usuários. Embora 
seja um dos maiores casos de uso, a inteligência artificial do Goo-
gle não é o único. Boa parte dos grandes players de tecnologia da 
atualidade está aos poucos introduzindo essa tecnologia em seus 
produtos e serviços, como por exemplo, o Alexa da Amazon e a 
Siri da Apple.182
A inteligência artificial, também tem contribuído para o desen-
volvimento e avanços em áreas de ponta como transporte, assistência mé-
dica, bem como nos serviços jurídicos, reduzindo as taxas de erro, agili-
zando casos e permitindo o compartilhamento de casos e conhecimento. 
Neste sentido, explica Demétrio Giannakos183: Existem ferra-
mentas para os advogados que lhes auxiliam nessa mudança. Os lawtechs 
que fornecem softwares para escritórios de advocacia, assim os serviços 
são otimizados, reduzindo consideravelmente o tempo de pesquisa e 
apresentando um trabalho mais eficiente com menor custo. 
182 BRITO, Edivaldo. Onde está a inteligência artificial nos dias atuais. Disponível 
em: https://www.edivaldobrito.com.br/wp-content/uploads/2016/12/inteligencia-
-artificial.png.webp. Acesso em 26. jun. 2022. 
183 GIANNAKOS, Demétrio. O judiciário e a Inteligência Artificial. Disponível em: ht-
tps://www.federasul.com.br/o-judiciario-e-inteligencia-artificial/. Acesso 21. jun. 2022. 
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O Diretor Executivo de uma Lawtechs/Legaltechs, pioneira no 
Brasil, Arnaldo Buchina, explica qual a atividade que sua empresa faz, em 
relação às soluções tecnologias oferecidas aos escritórios de advocacia, 
esclarecendo como esses sistemas funcionam: 
O sistema consegue ler e entender documentos jurídicos e apre-
sentar análises com informações relevantes, concretas e objetivas. 
Utilizando a plataforma, um advogado ou gestor jurídico poderá 
criar estratégias do setor com mais propriedade como, por exem-
plo, acordos ou defesas frente à litigância ou simplesmente enten-
der o motivo pelo qual ações estão sendo julgadas como proce-
dente ou improcedente frente ao juiz ou região.184
Com o advento da inteligência artificial, a raça humana está en-
trando em um território desconhecido e andando por um caminho que 
nunca foi trilhado antes. A natureza autônoma da inteligência cria ce-
nários onde há necessidade de discussões sobre questões de controle e 
responsabilidade. Segundo Ismail, Malone e Geest:
A previsão é de que em menos de 15 anos teremos em todo o 
mundo cerca de 1 trilhão de aparelhos de algum modo conectados 
à internet, e não apenas isso, mas toda e qualquer informação e 
aspectos gerais do mundo estarão de forma digitalizada e acessível 
pela internet. Essas novidades e integrações universais atingirão, 
por conseguinte, o mundo jurídico, pois a área do direito também 
está associada diretamente à sociedade como um todo, logo, todas 
as implicações a esta afetam aquele.185
Com seu potencial para mudar e transformar a sociedade atual, 
uma atitude proativa e não uma abordagem reativa pode ser a única ma-
neira de garantir o controle e a sustentabilidade. 
Embora os investimentos em inteligência artificial de varejo, mí-
dia e saúde sejam maciços, em outros setores, como o jurídico, continua 
baixo. Globalmente, muitos negócios jurídicos estão sendo realizados 
diariamente, porque o mundo é governado por leis e políticas que são 
184 BUCHINA, Arnaldo.– Finch Soluções e IBM Watson juntas no setor jurídico. 
Disponível em: http://www.finchsolucoes.com.br/pt_br/finch-solucoes-e-desta-
que-no-site-inovacao-nas-empresas. Acesso em: 09 jun. 2022.
185 SMAIL, Salim; MALONE, Michael S.; GEEST, Yuri Van. Organizações exponen-
ciais. Editora: HSM. 2015. p.05.
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modeladas no nível do país, os governos são forçados a atualizar constan-
temente, revisar e elaborar novas leis para melhorar sua administração e 
atender a prestação de serviços.
Da mesma forma, as empresas existem para prestar serviços 
e, portanto, espera-se que atuem dentro do limites de leis, e políticas 
específicas. 
Assim, vários escritórios de advocacia existem exclusivamente 
para prestar serviços a estas empresas, ao Estado, bem como a particula-
res que precisam de amparo legal.
A respeito disso, são muitas as empresas que se empenham em 
criar e oferecer inovações. Marques186 esclarece: 
No âmbito jurídico, há anos vêm surgindo propostas, em sua 
maioria privadas, das mais diversas e também para muitas áreas 
da prática jurídica – as chamadas lawtechs e legaltechs. Ferra-
mentas com focos, por exemplo, em: a) automação e gestão de 
documentos; b) monitoramento e extração de dados; c) analytics 
e jurimetria; d) resolução de conflitos on-line (ODR – Online 
Dispute Resolution). 
Isto posto, argumenta-se que uma base para o desenvolvimento ou 
aprimoramento de modelosde inteligência podem ser utilizados para criar 
sistemas de informação que reduzem a quantidade de tempo que os ad-
vogados gastam na classificação de descobertas e privilégios de processos. 
Além disso, ao criar sistemas baseados em aprendizado de má-
quina, o computador tem a capacidade de assumir as tarefas de investi-
gadores jurídicos, paralegais e, consequentemente, reduzir a natureza bu-
rocrática dos negócios jurídicos, resultando em escritórios de advocacia 
cada vez mais produtivos e acesso à lei mais sustentável187.
Neste seguimento, expõe Susskind:
Esses sistemas existentes e emergentes desafiarão e mudarão 
o modo como determinados serviços jurídicos são forneci-
dos. Quando me refiro a ruptura, geralmente falo da destruição 
186 MARQUES, Ricardo Dalmaso. Inteligência Artificial e Direito: o uso da tecnolo-
gia na gestão do processo no sistema brasileiro de precedentes. Revista de Direito 
e as Novas Tecnologia. Vol. 3. 2019. p.5.
187 MIKE E. Contratos inteligentes: terminologia, limitações técnicas e mundo real 
Complexidade. Revista Direito, Inovação e Tecnologia. 2017. p. 267-299.
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causada pelo lado da oferta do mercado jurídico, isto é, pelos 
escritórios de advocacia e outros prestadores de serviços jurídi-
cos. As tecnologias legais disruptivas são: automação documen-
tal, conexão constante via internet, mercados legais eletrônicos, 
(medidores online de reputação, comparativos de preços e leilões 
de serviços), ensino online, consultoria legal online, plataformas 
jurídicas abertas, comunidades online colaborativas fechadas, au-
tomatização de trabalhos repetitivos e de projetos, conhecimento 
jurídico incorporado, resolução on-line de conflitos (Online Dis-
pute Resolutions – ODR), análise automatizada de documentos, 
previsão de resultados de processos e respostas automáticas a dú-
vidas legais em linguagem natural.188
Observa-se, uma convergência de análise de práticas interna-
cionais em inteligência artificial e práticas locais, na lei. No cenário in-
ternacional, há líderes globais na área de tecnologia usando inteligência 
artificial, que começaram a gerar soluções para melhorar a prática da ad-
vocacia em nível internacional, mas tais sistemas são aplicáveis apenas 
nessas jurisdições legais, como o sistemas jurídicos americano, britânico 
e alemão para os quais as regras de procedimento são diferentes dos sis-
temas jurídicos da África do Sul, da América Latina.189 
Nesta toada, explica Nunes, Marques190:
Nos Estados Unidos, sistemas de inteligência artificial como o 
Ross e o Watson, são utilizados por escritórios advocatícios para 
realizar pesquisas jurídicas, analisar documentos, redigir contra-
tos e prever resultados. As vantagens do uso de tal tecnologia, que 
proporciona maior rapidez, precisão e quantidade na realização 
de trabalhos maçantes e repetitivos, têm feito com que cada vez 
mais escritórios invistam em sua utilização. 
Tais sistemas são capazes de ter um melhor desempenho com pro-
fundidade e detalhes adequados emprestados da aplicação global da lei. 
188 SUSSKIND, Richard. Tomorrow Lawyers: na introdution to your future. Oxford: 
Osfor Univesity Press. 2013. p. 32. 
189 FORBES, 2015. Brevia aplica aprendizado de máquina à revisão de contratos. Dis-
ponível em:https://www.forbes.com/sites/benkepes/2015/02/20/ebrevia-applies-
-machine-learningto-contractview/#7942ebc456da. Acesso em 02.jun.2022.
190 NUNES, Dierle, e, MARQUES, Ana Luiza Pinto Coelho. Inteligência Artificial e Di-
reito Processual: Vieses algoritmos e os riscos de atribuição de função decisória às 
máquinas. Revista de Processo, vol. 285 ano 43. São Paulo: Ed. RT. Nov. 2018. p. 423.
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Portanto, conclui-se que harmonizar os intelectos jurisdicionais sobre o 
estado de direito consuetudinário dos países ajudará a criar sistemas que 
podem compartilhar lições e podem ser implementados em nível global. 
Embora haja notável avanço tecnológico, a maioria das inovações 
tecnologias, sobre o direito, em muitos países estão focadas na criação de 
sistemas jurídicos virtuais, onde clientes interagem com seus advogados 
por meio de uma plataforma virtual. Isso ainda é mais lento e caro devido 
à presença constante de advogados, pois alguns dos elementos do traba-
lho podem ser automatizados.
Apesar dos escritórios de advocacia lidarem com casos extensos, 
alguns dos quais com grandes volumes de dados que podem ser melhor 
tratados usando algoritmos de big data, pouco foi feito para melhorar 
sistemas legais, para garantir que tais processos aconteçam. Deve-se as 
inseguranças sobre como e o que um computador pode fazer e como ele 
pode substituir o humano no trabalho.191
A inteligência artificial é vista como uma forma de tecnologia 
disruptiva, Isto é devido à sua natureza e papel em influenciar a mudança 
na forma como os sistemas operam e executam. Esse contexto permi-
te que pesquisadores e críticos vejam o papel da inteligência como uma 
ameaça às economias globais, reduzindo a interação humana necessária 
para realizar alguns trabalhos.
 No entanto, na atual ordem mundial caracterizada pelo conheci-
mento revolução e melhoria nos fluxos de informação, é prudente que os 
sistemas jurídicos de negócios recuperem o atraso como todas as outras 
empresas que parecem ter adotado e aceitado o papel de inteligência Ar-
tificial na melhoria da eficácia dos processos de negócios.192 
Novas ferramentas jurídicas como Ross Intelligence, LegalLaw, 
Catalyst, entre outras, que estão utilizando software de processamento de 
linguagem natural, fornecer resolução de disputas eficaz, clareza jurídica 
e maneiras mais rápidas de alcançar a justiça fora dos processos legais 
convencionais.
A grande dificuldade com o setor jurídico é muitas vezes que 
o trabalho não é totalmente autônomo, na maioria dos casos, é quase-
-governo institucionalizado. Isso significa que parte do setor jurídico é 
191 BALKIN JM 2017. As Três Leis da Robótica na Era do Big Data. Disponível em: 
https://ssrn.com/abstract=2890965, Acesso em: 26.jun. 2022.
192 BRÜNINGHAUS S e Ashley. Classificação automática de textos de caso e previ-
são Resultados. Revisão da Lei de Inteligência Artificial. 2009. p.125-165.
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controlado pelo governo e muitas vezes é criado por estatuto. Grande 
parte do trabalho realizado envolve a interação com agências gover-
namentais e instituições cartórios de registros, Ministério Público e 
Procurador-Geral. 
Sob essa égide, a adoção de novas tecnologias muitas vezes le-
vanta questões sobre interrupções e a ameaça que ela representa para o 
trabalho. 
No entanto, Saad-Filio sugere atentar-se para a teoria do valor da 
redundância do trabalho, por essa teoria, algumas tarefas realizadas por 
humanos no setor jurídico podem ser automatizadas, e a mão de obra 
designada para isso, pode ser transferida para outras tarefas importantes, 
gerando efetividade no efeito de entrega e resolução eficiente de disputas 
para casos litigiosos193.
 Nessa perspectiva, automatizar o trabalho jurídico é considera-
do disruptivo e, apresenta um desafio ao status quo, provavelmente resul-
tará em mudanças na cadeia de valor do trabalho. Algumas pessoas estão 
fadadas a perder seus empregos e tal ameaça geralmente não é bem vinda 
pela sociedade. 
Considerando que a adoção da tecnologia de inteligência artifi-
cial está aumentando em países desenvolvidos, sua adoção e utilização 
permanece significativamente baixa nos países em desenvolvimento. 
Além disso, embora a tecnologia possa melhorar a vida das pessoas de 
várias maneiras, ela traz sua própria parcela de desafios. No trabalho ju-
rídico, a inteligência artificial tem sido usada em elaboração de contratos 
e elaboração de peças judiciais para contencioso cível. 
 A natureza das regras decodificação são simples e fáceis de se-
guir. É maisfácil fazer um computador aprender e desaprender regras de 
elaboração de contrato, pois são claras e lineares. Portanto, a aplicação 
de inteligência artificial em alguns setores jurídicos podem aumentar o 
acesso à justiça, economizar custos em ações judiciais, e até mesmo redu-
zir o custo dos advogados, tornando acessível a todos os litigantes.
Manifesto, que a inteligência artificial oferece uma estratégia de 
sobrevivência para escritórios de advocacia e negócios jurídicos. Em todo 
o mundo, as discussões atuais na seara jurídica, muitas vezes incluem 
193 SAAD-FILIO, 2018. Sistemas de controle multiagente baseados em inteligência 
artificial. Disponível em: https://digitallibrary.theiet.org/content/journals/10.1049/
iet-its.2009.0070. . Acesso em 5. jun. 2022.
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como sistemas de justiça e inteligência artificial podem ser usados para 
reformas judiciais e melhoria da eficiência e produtividade. 
É importante, que os sistemas de Inteligência Artificial, desen-
volvidos para o ramo jurídico, sejam aplicados de forma a resguardar a 
moral, os princípios derivados da vida social, em vez de, apenas serem 
utilizados para emanar decisões automatizadas por máquinas, sem ob-
servar a moralidade, o respeito e o valor dos direitos.
Destarte, ser necessário implementar o uso da inteligência artifi-
cial, conciliando o raciocínio e a sensibilidade humana, para aprimorar e 
otimizar a prestação de serviços do setor jurídico. 
Neste esteio, é importante observar a extensão do conhecimento 
de inteligência artificial e como esse conhecimento tem sido utilizado 
para melhorar a prestação de serviços jurídicos. Ao fazê-lo, examina-se 
as plataformas de inteligência artificial existentes e a extensão de seu uso 
na prática legal.
No que tange o trabalho jurídico, compreende-se que nem todos 
os advogados estão preparados para utilizar a IA, e outras tecnologias, 
muitos temem a substituição do advogado por robôs, sem atenta-se para 
o contexto em que a IA, e as tecnologias podem melhorar e efetivamente 
contribuir com a profissão jurídica. 
O alcance da inteligência artificial no contexto da esfera jurí-
dica é muitas vezes percebida como a aplicação de tecnologias, como 
aprendizado de máquina, processamento de linguagem natural, reco-
nhecimento de fala, robótica, compreensão de imagens naturais, pro-
gramação lógica, visão artificial, bem como teorias de rede para resol-
ver questões jurídicas.194
 Nos negócios jurídico, a Inteligência Artificial, tem sido mui-
tas vezes utilizada, tendo em vista, a capacidade de assessoramento de 
grandes quantidades de dados, e porque muitas vezes fornece resultados 
mais precisos que pesquisas humanas. Alguns estudiosos do tema como 
Donahue,195 argumenta que a inteligência artificial está sendo conside-
rada na prática jurídica devido à sua capacidade de agilizar processos e 
194 REMUS D, 2016. Inteligência Artificial, Tecnologia e o Futuro do Direito. Dispo-
nível em: https://www.youtube.com/watch?v=UYSZeHqZnaA&t=344s. Acesso em 
5.jun. 2022.
195 DONAHUE L, 2018. Uma cartilha sobre o uso de inteligência artificial na 
profissão jurídica. Disponivél em: https://jolt.law.harvard.edu. Acesso em 5 de 
jun. de 2022.
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muitas vezes sendo capaz de auxiliar os advogados a obter mais valor e 
resultados em seus trabalhos. 
 Nessa senda, Kerber,196 tem postulado que a inteligência artificial no 
setor jurídico mostrou resultados importantes no uso de diferentes aplica-
ções, como raciocínio lógico baseado em casos, modelagem de documentos, 
lógica deôntica, recuperação de conteúdo conceitual e tutoria inteligente.
Além disso, o aprendizado de máquina tem sido utilizado na 
prática jurídica mais do que outros métodos artificiais. Exemplos de tais 
assuntos incluem ferramentas de redação de contratos em que aprendiza-
gem de redes neurais ocorre através da análise da enorme quantidade de 
estatísticas para derivar padrões e técnicas gerais.
De acordo com a pesquisadora do tema, Yanda,197 a inteligência 
artificial desempenha um papel significativo na melhoria da eficácia 
dos sistemas empresariais. Nos negócios jurídicos, o software com inte-
ligência artificial ajuda a melhorar a eficiência da análise de documen-
tos para uso legal, e as máquinas podem revisar documentos e marcá-
-los como relevantes para um caso. Uma vez que um determinado tipo 
de documento é indicado como relevante, os algoritmos de aprendi-
zado de máquina podem trabalhar para encontrar outros documentos 
que sejam semelhantes e relevantes. 
Observa-se, as máquinas são muito mais rápidas na classificação 
de documentos do que os humanos, e podem produzir saída e resultados 
que podem ser validados estatisticamente. Pode-se argumentar que a in-
teligência artificial pode realizar um desempenho ainda maior no aspec-
to processual dos negócios jurídicos, em vez de simplesmente focar na 
convenção de documentos, conversões e análises. 
Modelos de inteligência artificial existentes que ajudam a melho-
rar processos de negócios incluem Ross Intelligence e Diligence. No en-
tanto, estes são modelados para a lei do contrato. Eles são principalmente 
adequados para uso nos sistemas jurídicos americanos. 
Certo é que, são poucos estudos sobre inteligência artificial e a 
lei, isso pode ser atribuído a complexidade dos dois campos, bem como a 
196 KERBER W. Mercados Digitais, Dados e Privacidade: Direito Concorrencial, 
Direito do Consumidor e Proteção de dados. Revista de Direito e Prática de Pro-
priedade Intelectual. págs. 2016. 856- 866.
197 YANDA P, 2016. Inteligência Artificial: Moldando o Futuro Advogado. Lexis 
Nexis. Publicações, Nova York. Disponível em: https://digitallibrary.theiet.org/con-
tent/journals/10.1049/iet-its.2009.0070. . Acesso em 5. jun. 2022
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inadequação de habilidades acadêmicas para fomentar ou encorajar uma 
investigação aprofundada nestes dois campos distintos. Segundo Gor-
don,198 a inteligência artificial e o direito é um campo interdisciplinar, de-
fende que, durante muitos anos, esta interdisciplinaridade tem dificultado 
seu desenvolvimento e transferência de resultados tanto para a teoria jurí-
dica e prática jurídica. Gordon ressalta que para uma infusão eficaz, a Inte-
ligência Artificial deve se tornar parte da jurisprudência legal, para permi-
tir que o campo se torne parte integrante da pesquisa jurídica e acadêmica.
De acordo com Lindsay,199 existem benefícios fundamentais na 
adoção de inteligência nos negócios jurídicos. De sua perspectiva, os 
escritórios de advocacia são negócios, muitas vezes com receita chegan-
do a centenas de milhões de dólares e grandes quantidades de dados. 
Esses dados quando minerados e avaliados por meio de inteligência ar-
tificial podem ajudar os escritórios de advocacia a melhorar o atendi-
mento, atrair e manter mais clientes, reduzir o risco e tornar os escritó-
rios de advocacia mais enxutos e mais rentável. Um estudo de Baker200 
sobre tecnologias jurídicas descobriu que apenas 22% dos escritórios 
de advocacia na Europa e África adotaram 51% da quota de mercado 
das tecnologias jurídicas. Isso é significativamente baixo. No entanto, 
a quantidade de investimento na área é considerada massiva e ainda 
crescente. Sugere- se que há um interesse crescente por profissionais 
do direito em sistemas de informação computacional. Tais sistemas in-
cluem ferramentas preditivas que permite a extração e recuperação de 
dados textuais relevantes a partir de grandes volumes de dados, usando 
pesquisa preditiva por mecanismos de buscas. 
O estudo ainda postula, que a inteligência artificial é capaz é mais 
proficiente em fazer tarefas analíticas, bem como reproduzir a maioria 
dos trabalho que estão sendo realizado por humanos. 
Contempla-se, que a inteligência artificial está desafiando as con-
tribuições da perícia humanaem serviços jurídicos por meio de pesquisa 
198 GORDON F, 2010. Inteligência Artificial e Teoria Jurídica nas Faculdades de 
Direito, Focus Press,Berlim. Disponivel em: https://www.information-age.com/
ai-in-the-legal-industry-2-123474118/ Acesso em: 23 jun. 2022.
199 LINDSAY A, 2016. Ferramentas e técnicas de engenharia do conhecimento para 
planejamento de IA, 26º conferência sobre planejamento automatizado. Disponí-
vel em: https:// www.csmonitor.com. Acesso em: 5. jun. 2022.
200 BAKER J, 2018. Uma Odisseia de Pesquisa Legal: Inteligência Artificial como 
Disruptor, Disponível em: https:// www.ssrn.com/ abstract=2978703, Acesso em: 
13. jun. 2022.
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de dados jurídicos, e-discovery, interfaces inteligentes, tecnologia, servi-
ços de triagem e outros algoritmos de aprendizado jurídico. 
Dados de pesquisas jurídicas na maioria dos casos compreende 
sistemas preditivos através dos quais a inteligência artificial pode prever 
o resultado de um caso baseado em um determinado tema, pela prece-
dência (resultado do caso anterior), e até mesmo pela análise do juiz, ob-
servando a percepção e inclinação do julgador, por exemplo, se eles são 
bem conhecidos por emitir julgamentos feministas, ou se sua inclinação 
é para a supressão, repressão, contra certos direitos, bem como para o 
aprendizado das múltiplas decisões que um determinado tribunal ou juiz 
terá decidido sobre uma categoria de casos.
Registra-se, atualmente a tecnologia jurídica global, utiliza sis-
temas preditivos, principalmente em processos pré-contenciosos, como 
redação de contratos, pesquisa jurídica. Esses softwares, baseados em in-
teligência artificial inspeciona grandes volumes de registros e documen-
tos judiciais acessíveis ao público, casos anteriores e decisões atualizadas.
 A inteligência artificial também tem sido muito utilizada na realiza-
ção de trabalhos de due diligence, principalmente, para descobrir informa-
ções básicas, como precedência, privilégio e litispendência. Á vista disso, os 
advogados, após concluir a devida diligência, podem aconselhar os clientes 
de forma responsável sobre quais são as opções e o melhor curso de ação.
Um estudo da Universidade de Londres,201 demonstrou que o de-
vido processo de diligência por advogados, têm um impacto positivo de 
longo prazo na lucratividade das empresas. No entanto, o mesmo estudo 
revelou que, por vezes, é um processo muito demorado e trabalhoso.
A título de exemplo, a Kira Systems, um software programado 
para que possa realizar uma due diligence bem específica, utiliza recursos 
de aprendizado de máquina para vincular padrões de pesquisa, provou ter 
uma taxa de 40% mais rápida em comparação com as formas manuais de 
fazer o mesmo trabalho. Outra ferramenta de due diligence, que vem sendo 
desenvolvida é a plataforma eBrevia. O raciocínio por trás da criação dessa 
plataforma é que por vezes os advogados têm o fardo de revisar grandes e 
múltiplos contratos, ao passo que se perdem certos aspectos importantes de 
um contrato, que muitas vezes levanta novas questões jurídicas no futuro. 
201 City University Of London, 2016. Plataformas Legais de Inteligência Artificial 
ganham o Made@City.Disponivel:https://emerj.com/ai-sector-overviews/ai-in-
-law-legal-practice rrentapplications. Acesso em: 13. Jun. 2022.
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O pesquisador Abramowitz,202 explica que eBrevia, foi projetado 
para encurtar e reduzir a revisão de documentos usando processamento 
de linguagem natural e aprendizado de máquina para extrair os dados 
textuais relevantes dos contratos recuperados e levá-los ao conhecimento 
dos advogados que orientam os clientes, analisando, desenvolvendo resu-
mos e realizando seu trabalho de due diligence, com maestria.
No entanto, o advogado tem que decidir o tipo de informação 
que precisa ser extraída, até que a máquina possa aprender a filtrar as 
informações necessárias para um determinado texto jurídico. Qualquer 
informação extraída é então colocada em um relatório que pode ser com-
partilhado posteriormente em várias versões.
Segundo a Forbes,203 uma das vantagens do eBrevia é que ele pode 
digitalizar e processar vários documentos, por exemplo, 50 documentos 
de uma só vez e é considerado 10% mais preciso do que as pesquisas ma-
nuais e 95% mais rápido do que as pesquisas manuais; e como resultado 
a longo prazo é provavelmente economizar para a empresa o trabalho de 
três pesquisadores e 25% dos custos de pesquisa.
A Ross Intelligence é uma das empresas de tecnologia jurídica 
que aplica inteligência artificial em fazer buscas diligentes. O programa 
busca reduzir o tempo que os advogados levam para realizar processos de 
due diligence e elaboração de contratos. Ele usa a pesquisa em linguagem 
natural, fazendo perguntas e obtendo direções, recebendo informações 
relacionadas a precedência e jurisprudência.
Segundo Bakerhostler204 a Ross Intelligence205 pode pesquisar um 
grande número de documentos em seus servidores e na internet antes de 
fornecer sua sugestão, uma vez que o nível de precisão é muito alto. Parte 
202 Abramowitz Z, 2018 https://. E-discovery Meets E-contract Review, abovethelaw.
com. Disponível: Acesso em: 4 de jun. 2022.
203 Forbes, 2015. eBrevia aplica aprendizado de máquina à revisão de contratos. Dis-
ponível em: https://www.forbes.com/sites/benkepes/2015/02/20/ebrevia-applies-
-machine-learningto-contract-eview/#7942ebc456da. Acesso em 3. jun. 2022. 
204 BAKERHOSTLEr H, 2017. Disponível em: https://youtu.be/ZF0J_Q0AK0E, Aces-
so em: 26. jun. 2022.
205 Conheça Ross, o robô legal, Washington post (16 de maio de 2016). Na maioria dos 
casos, o trabalho jurídico está profundamente enraizado na pesquisa. Reduzindo a 
quantidade de tempo, um advogado realiza pesquisas jurídicas, em última análise, 
reduzir a quantidade de tempo de cada caso é tratado. Conheça Ross, seu novo ad-
vogado artificialmente inteligente. Disponível em: https://youtu.be/ZF0J_Q0AK0E. 
Acesso: 02.jun.2022.
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do processo de aprendizado de Ross envolve permitir que os usuários 
usem uma votação e função de votação para baixo, permitindo que ao 
longo do tempo gere extratos com base em aprendizado profundo para 
interpretar perguntas. 
Outra característica notável é que toda vez que Ross responde a 
uma pergunta, ele pede opinião sobre seu desempenho através do qual 
ele aprende, se adapta e se aprimora. 
Verifica-se que a aplicação de inteligência artificial na revisão e 
gestão de contratos é uma contribuição significativa em termos de inte-
ligência artificial no direito, nos aspectos de elaboração, revisão e gestão 
de contratos., tendo em vista que os escritórios de advocacia utilizam a 
maior parte do tempo de trabalho em analises, elaboração de contratos, 
para posteriormente assessorar e orientar seus clientes para a assinar ou 
alterar tais contratos.
Nesta toada, o processamento de linguagem natural tem sido 
efetivamente usado em revisões de contratos, pois é considerado mais 
rápido na leitura de contratos em comparação com advogados humanos. 
Se combinado com imagem natural processamento, ele pode ler de forma 
abrangente os contratos que incluem imagens. 
Constata-se, o uso de plataformas de inteligência artificial dis-
ponível para advogados, no mundo todo. Isso inclui plataformas como 
RaveLaw, Deligence, Lexis Nexis, Ross Intelligence, DoNotPay, Aletras 
e Lex Machina206. Algumas dessas plataformas oferecem um processa-
mento de linguagem natural par fornecer redação, identificar patentes, 
considerações, revisar e formatar documentos. 
Convém mencionar, a Lex Machina Analytics, com o processa-
mento de linguagem natural foi capaz de fornecer informações do re-
querente, seu advogado, bem como o réu para prever a probabilidade de 
ganhar ou perder um caso baseado em uma análise de contratos. A plata-
forma, Legal Analytics dade imen-
surável valor que dignidade da pessoa humana passou a ser o centro da 
sistemática jurídica. Dessa forma, a constituição, como instrumento fun-
dante da ordem jurídica, elevou o ser humano e estabeleceu a dignidade 
humana como pressuposto ineliminável de todos os constitucionalismos.
2 BARROSO, Luis Roberto. Diferentes, mas iguais: o reconhecimento jurídico 
das relações Homoafetivas no Brasil. Revista Brasileira de Direito Constitucional 
(RBDC): Revista do Programa de Pós-Graduação “Lato Sensu”. São Paulo: ESDC, 
2011, p.11.
3 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Carlos Nelson Coutinho (trad.) Rio de Ja-
neiro: Elsevier, 2004, p. 63. 
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Os dispositivos da Constituição Federal, fundamentados em di-
reitos humanos, propagam-se a todos os outros do livro, assim como, 
servem de referencial hierárquico de valor em relação a todos os outros 
valores infraconstitucionais, o que fortalece o sistema interno de pro-
teção, logo possa abarcar não só as relações horizontais entre o Estado 
e a sociedade.
Salienta-se que toda a atividade jurídica reflete de forma direta 
ou indiretamente na vida das pessoas, modificações de comportamento 
humano requerem reconhecimento e proteção jurídica, de forma que as 
normas de direito devem apropriar-se dos acontecimentos sociais, repri-
mindo possíveis desequilíbrios, assegurando a inviolabilidade da intimi-
dade e vida privada. Neste viés, o direito é objeto, pois é transformado. 
É concreta a necessidade do Direito se adaptar aos fatos da so-
ciedade moderna, intervindo contra a inviolabilidade dos indivíduos em 
geral, garantindo efetivamente a liberdade, privacidade a todo indivíduo. 
O próprio Rousseau revela que o maior bem de todos deve ser o fim de 
todo o sistema de legislação, “achá-lo-eis resumido nestes dois objetos 
principais, a liberdade e a igualdade; a liberdade, porque toda a depen-
dência particular é outra tanta força tirada ao corpo do Estado; a igualda-
de, porque sem ela não pode subsistir a liberdade”.4
Os direitos fundamentais precisam garantir a liberdade das pes-
soas, garantindo a liberdade de desenvolvimento humano, de forma, que 
todo e qualquer cidadão deve ter acesso a tecnologias e novas formas 
de vivência. Sendo que o princípio da isonomia sustenta que todos são 
iguais perante a lei, e o da Igualdade que deve ser aplicado a todos sem 
qualquer distinção. 
Nota-se a relevância da atuação do direito como instrumento 
regulador e protetor da sociedade, já que os direitos fundamentais são 
regras necessárias para uma vida harmônica e coletiva, visando sempre 
proteger a dignidade da pessoa humana, que não somente utilizada como 
direito da pessoa, mas também como limite do poder. Assim, forma-se 
uma sociedade mais justa e democrática. 
 À vista disso, é preponderante a relação reguladora do Estado com 
a sociedade, todavia a individualidade e o respeito devem prevalecer de 
maneira que as pessoas possam construir suas vidas como lhes aprouver, 
4 ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social. São Paulo: Nova Cultural, 2000, 
p.55.
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desde que não viole os direitos de terceiros e o Estado seja mantenedor da 
ordem diante das constantes revoluções do viver em sociedade.
1.1. SOCIEDADE TECNOLÓGICA O HOMEM E A MÁQUINA NA PERSPECTIVA 
FILOSÓFICA
Em relação às revoluções sociais, tem-se que a filosofia, desenvol-
vida desde os primórdios da humanidade, tem um papel cada vez maior 
na esfera social, fazendo-o aparecer em múltiplos domínios intelectuais, 
como ciência; religião e tecnologia. Sua importância é imensurável à luz 
dos princípios éticos e morais emergentes. As inovações tecnológicas 
precisam ser avaliadas no campo filosófico para definir os valores morais 
inseridos no corpo social, como um recurso de organização social.
Tecnologia e filosofia estão intimamente ligadas, porém são 
diversas as variantes que existem na relação entre eles. Fundamental-
mente, os recursos tecnológicos têm uma forte marca filosófica, espe-
cialmente a partir de uma análise ética e moral. Desta forma, deve-se 
trazer à baila as questões filosóficas e as restrições éticas sobre o desen-
volvimento tecnológico.
Além disso, outro ponto importante a ser considerado é a cons-
tante relação entre esses dois conceitos discutidos por figuras importan-
tes da filosofia ocidental ao longo dos séculos, como Platão e Descartes, 
que mencionaram a tecnologia de dominação do homem sobre a nature-
za e sua influência. Francis Bacon também insistiu nisso, sendo apontado 
como um dos principais representantes desta discussão, enfatizando os 
vínculos intrínsecos entre os estudos. A construção de “obras” naturais e 
tecnológicas da filosofia natural, auxiliadas pelo progresso da Antropo-
logia no Renascimento. 
A humanidade com ideologias como a Marxista, cunhada por 
Karl Marx em seu Manifesto Comunista (1848), exemplos de papéis imo-
rais e alienantes que a tecnologia pode desempenhar na sociedade, pro-
jetado para consumo descontrolado, como manipulação dissipativa de 
princípios básicos do progresso humanitário.
A filosofia atual é tão importante para o desenvolvimento hu-
mano quanto o uso de tecnologias, o homem poderá ser substituído pe-
las máquinas? E haverá mais segurança em um mundo autônomo? Essa 
questão retrata os efeitos colaterais produzido pelo desequilíbrio entre o 
ideal ético da filosofia e a alienação da inovação gerada pela tecnologia.
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A origem de tal desequilíbrio, segundo os gregos, é que havia 
deuses, humanos e alguns seres autônomos. A obra de Hesíodo5 é antiga 
na exata concepção da palavra, mas, no sentido comum e vulgar da pala-
vra, não é uma obra ultrapassada. É poesia antiga derivada de arkhé, do 
verbo arkómetha (começar), ou seja, é a obra principal, inaugural ou pre-
cedente. Além de seu significado cronológico original, também apresenta 
um significado essencial.
Este é o princípio estabelecido pela unidade irreconhecível. A 
própria Teodicéia adota esta associação: “Sim, primeiro nasceu o Caos”, 
depois “Terra, Tártaro, depois a palavra inteira. Eros, Érebo e noite, Éter e 
dia”. Do princípio de um elemento, emerge o espírito primordial.
Observa-se, segundo os gregos, que a origem do homem é tão 
perturbadora quanto a história contraditória dos deuses. É do gosto e do 
capricho que esta controvérsia surgiu, a controvérsia mitológica. Platão6, 
na sua obra Protágoras, relata que “Antigamente só havia deuses e não 
mortais” e estes seriam criados nas entranhas do Inspetor da Terra, usan-
do ferro e fogo.
A obra a fábula de Esopo confirma Prometeu como o criador da 
humanidade. A versão deste autor é muito tocante. Os homens teriam 
sido feitos com argila em vez desta argila misturada com água, estavam 
presentes as lágrimas.7 
No desdobramento da Teosofia, Ovídio enfatizou a criação do 
homem. A ordem do universo estava quase completa. Havia Deuses, es-
trelas e até pequenos animais, mas estava a Criação da Coroa (“Esses ani-
mais não têm vida/têm a mais alta inteligência”). Uma das propriedades 
básicas desta criação seria a inteligência, que irá distinguir de todos os 
outros animais e criaturas da Terra.
Segundo Hesíodo, o homem estará entre deuses e bestas, afirma 
que os homens virão da terra, mas seus rostos estarão voltados para 
as estrelas (“O fator dá um rosto sublime/elevado, ele o faz olhar para 
o céu”). Olhar ao topo pode mostrar que sua sabedoria é prática, ter-
ra, abstrata, visando o céu profundo. Esopo cuidará do presente dado 
aos mortais na fábula de Zeus, o homem reclama de não ter certas 
5 HESÍODO. Teogonia: a origem dos deuses. Trad. Jaa Torrano. São Paulo: Iluminu-
ras, 2003. p. 87
6 PLATÃO. Protágoras. Trad. Carlos Alberto Nunes. Belém: Universidade Federal 
do Pará, 2002, XI. 321. 
7 DOUGHERTY, Carol. Prometheus. Taylor & Francis, 2006. p. 17.
19
Além dos CódigosLex Machina, também pode auxiliar os advo-
gados no desenvolvimento de estratégia jurídica, usando certos recursos 
de análise de tempo, que estimam o tempo provável de ser levado um 
caso ao judiciário, estimando o tempo do processo, com base em análise 
prévia de casos análogos.
206 FORBES, 2015. eBrevia aplica aprendizado de máquina à revisão de contra-
tos. Disponível em:https://www.forbes.com/sites/benkepes/2015/02/20/ebrevia-
-applies-machine-learningto-contract eview/#7942ebc456da. acesso: 15. jun .2022.
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Importante trazer à baila, o teste feito em 2004 por um grupo de 
professores da Universidade de Washington207, que testou a proficiência 
e precisão de um algoritmo desenvolvido em todas as 682 decisões toma-
das pelo Suprema Corte Americana em 2002. O modelo estatístico de-
senvolvido pelo algoritmo previu 75% com mais precisão aos resultados 
prováveis ou ao raciocínio feito pelo tribunal, sugerindo que as tecnolo-
gias preditivas podem ser importantes para resolver os problemas legais 
do mundo.
Certo é, a previsão legal quantitativa desempenha um papel mui-
to importante em certas áreas da prática jurídica com desempenho sus-
ceptível de ganhar impulso como o acesso a dados jurídicos e informa-
ções tornam-se cada vez mais disponíveis na economia do conhecimento. 
Em 2017, Aletras desenvolveu um algoritmo de aprendizado de máquina 
para analisar o texto do caso do Tribunal Europeu de Direitos Humanos208 
e alcançou 79% de precisão em sua capacidade de prever resultados. 
Uma ferramenta notável que foi desenvolvida para previsão legal 
é o RaveLaw209. A ferramenta prevê resultados de pesquisa com base em 
precedência relevante, jurisprudência e casos referenciados em mais de 
400 jurisdições. Possui ainda um painel de juízes que contém casos, ante-
riores e atuais citações, decisões de um juiz específico em cada jurisdição. 
Isso para ajudar os advogados na compreensão do processo de raciocínio 
jurídico de um juiz e prever o resultado potencial de um caso.
Por fim, outra ferramenta de inteligência artificial, Premoni-
tion,210 que possui o maior banco de dados, inovou o conceito de resul-
tado preditivo desenvolvendo um algoritmo que prevê o sucesso de um 
advogado analisando sua taxa de sucesso anterior, a duração média de 
casos, os casos que ele ganha, e os emparelha com um juiz, desenvolven-
do um nível de precisão de 30%.
207 RAVELAW (2016). AI prevê resultados de julgamentos de direitos humanos. 
Disponível em: https://www.ucl.ac.uk/news/2016/oct/ai-predicts-outcomes-hu-
man-rights-trials. Acesso em: 15. Jun. 2022.
208 REMUS D, 2016. Inteligência Artificial, Tecnologia e o Futuro do Direito. Dispo-
nível em: https://www.youtube.com/watch?v=UYSZeHqZnaA&t=344s. Acesso em: 
05. jun. 2022.
209 RYAN CALO, 2017.Política de Inteligência Artificial: Uma cartilha e um roteiro. 
Disponível em: https://ssrn.com/abstract=3015350. Acesso em: 2. jun. 2022.
210 SAAD-FILIO, 2018. Sistemas de controle multiagente baseados em inteligência 
artificial. Disponível em: https://digitallibrary.theiet.org/content/journals/10.1049/
iet-its.2009.0070. Acesso em: 2. jun. 2022.
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Assim sendo, a Inteligência Artificial pode aconselhar um advo-
gado sobre o escopo, ou critérios de coleta, para casos materiais. Como 
orquestrador, os algoritmos de aprendizado de máquina podem revisar 
todo o sistema eletrônico, através do processo de descoberta para apren-
der com as decisões passadas, pesquisas, narrativas e ações tomadas, e 
efetivamente sugerir um melhor modus operandi para quaisquer casos 
futuros, bem como coordenar ações através dos múltiplos canais de ra-
ciocínio jurídico.
O uso de inteligência artificial e aprendizado de máquina, atra-
vés de algoritmos melhora a velocidade e a precisão da identificação 
de informações privilegiadas, usando ferramentas como amostragem 
estatística e análise de texto avançada, que usam modelos de classifica-
ção. Para reduzir a taxa de erro humano nesta fase, processos são ba-
seados em algoritmos que incluem análises avançadas e várias revisões 
são realizadas.
Independentemente, do avanço da tecnologia e de muitas plata-
formas implementadas para melhorar alguns aspectos do trabalho jurídi-
co, é notável que ainda existe uma grande lacuna sobre como a descoberta 
de documentos e a classificação de privilégios podem ser automatizadas.
No entanto, é notório que os escritórios de advocacia começaram 
a adotar as tecnologias de inteligência artificial para ajudar a melhorar a 
prestação de serviços jurídicos. Os resultados indicam a apreciação geral 
de algoritmos de inteligência artificial na melhoria da prestação de ser-
viços jurídicos entre advogados. Contudo, são muitas a polemicas, no 
sentindo de que a profissão do advogado será substituída pela inteligên-
cia artificial, o que provoca a resistência do uso de IA. Nessa perspectiva 
esclarece Breno Grillo211:
E será que o profissional do direito pode realmente ser substituí-
do pela máquina? Sabemos que o direito tem muito espaço para 
criatividade, liderança e características que são próprias dos seres 
humanos, e a pergunta correta é: quanto das atividades que são 
hoje prestadas por humanos em serviços jurídicos podem ser rea-
lizadas por uma máquina? A questão é que hoje a IA já permite a 
elaboração de peças e trabalhos que eram feitos pelos advogados 
humanos. Ex. montagem de documento realizada pelo software. É 
prematuro, portanto, e talvez irrazoável, afirmar que a sucessão de 
211 GRILLO, Brenno. Excesso de plataformas de processo eletrônico atrapalha advo-
gados. Disponívelem:https://www.conjur.com,br/2017-out-03/excesso-sistemas-
-processo-eletronico-atrapalhama advogados. Acesso em: 02 de jun de 2022.
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novidades tecnológicas que grassam neste início de século, como 
a automação e a inteligência artificial, possam transpor limites pa-
radigmáticos, sepultando profissões ou determinando o domínio 
da máquina sobre o homem.
Sugere-se, um aprofundamento de pesquisa para a utilização efi-
caz de ferramentas de inteligência na lei, e assim os profissionais enten-
derão a demarcação da extensão em que a inteligência artificial pode ser 
utilizada no trabalho jurídico, espera-se, que agregue para melhorar o 
trabalho jurídico existente realizado por advogados. 
Em termos, a Inteligência artificial, são maquinas inteligentes, que 
sabem perceber e oferecer soluções. Na pratica, a inteligência artificial está 
sendo aceita e considerada um divisor de águas, mas há a necessidade de 
sensibilizar e desmistificar a noção de que a IA irá substituir os advogados. 
Muito contrariamente, o impacto da tecnologia e da Inteligência 
Artificial no direito, é para convergir um do grandes valores que é a efi-
ciência. Em um primeiro momento, o profissional do direito precisa se 
conciliar com a linguagem da informática, a logística dos algoritmos, ter 
uma noção básica das benfeitorias, que o trabalho de um advogado hu-
mano pode alcançar agregando o uso da Inteligência Artificial. 
Neste supedâneo, entende-se que a máquina não irá substituir o 
homem, na verdade, a máquina existe em prol do homem. O homem, é 
de extrema necessidade, já que, a priori ele quem insere banco de dados 
nas maquinas, para que através da inteligência artificial, se economize 
tempo, e aprimoramento do trabalho. 
Outra abordagem importante, é que a máquina pensa, porém, é 
um pensamento objetivo, de forma que mesmo com o uso de maquinas, 
ainda subsistira para os operadores do direito a criação dos dados jurídicos. 
A inteligência artificial só vem facilitar o trabalho do homem, 
principalmente nos campos que dependem da atividade humana. É um 
binômio necessário.
Atualmente não há mais lugar para se negar o uso da tecnologia, 
não só no direito, mas também em diversas searas. É importante, se aten-
tar para alinguagem tecnológica, se aprimorar, e se tornar protagonista 
desse momento tecnológico, usando a seu favor mecanismos que contri-
buem para eficiência. 
Hodiernamente, os escritórios devem se atualizar constante-
mente, várias questões jurídicas, dependem de conhecimento interdis-
ciplinar, conhecimento em antropologia, sociologia, filosofia, economia, 
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psicologia e tecnologia, são algumas das áreas de suma importância, não 
há, mais lugar para o profissional que está insciente desses novos instru-
mentos que podem auxiliar na prestação de serviço jurídicos. 
Também é importantíssimo que os advogados compreendam 
que o conhecimento deve se dar de forma transnacional, é uma realidade 
muito importante, o acesso multidisciplinar de direito comparado, essa 
fusão de conhecimento permite ao profissional uma posição diferenciada 
na prestação de serviço. 
Em regra, os seres humanos, são avessos as inovações e riscos, 
por isso, projetar ferramentas de inteligência artificial para um nível de 
confiança de humanos e advogados requer a criação de soluções que te-
nham um reflexo de princípios éticos embutidos em valores atemporais. 
Tais sistemas, para serem adotados por sociedades culturais normativas, 
precisam, ser confiáveis, e oferecer segurança.
Isso porque, diferentemente de outros usos da inteligência arti-
ficial, a lei é fundamentada sobre a moralidade e quaisquer ferramentas 
que ataquem a consciência moral da sociedade, provavelmente enfrenta-
rão resistência à adoção e questões de confiança. Juntamente com isso, 
está o fato de que as pessoas ou empresas envolvidas no projeto de siste-
mas de IA, devem tentar refletir as diversidades nos sistemas jurídicos ao 
redor do mundo em que vivemos. 
É cediço, que os humanos de hoje estão ficando melhores em en-
tender o cérebro e a inteligência, mas cada vez menos entendem a consci-
ência. O computador ainda não têm sentimentos, e é isso que diferencia 
os homens das máquinas. Sendo assim, temos que desenvolver mais nos-
sa consciência humana, justamente por ser algo inerente e único para os 
seres humanos.
De fato, todos os setores da sociedade estão sendo impactados, 
com o uso de tecnologias, e a área do direito não poderia ficar de fora da 
revolução, pois o mundo digitalizado está gerando um montante de in-
formações, e está mudando os negócios, desde o negócio privado ao ne-
gócio público. E a partir dos dados coletados, muitos outros assuntos po-
dem ser resolvidos, é por isso que há a necessidade que os operadores do 
direito, integrem-se às mudanças. Para haver, a conexão da máquina com 
o homem, já que toda a produção tecnológica precisa ser inspecionada. 
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4.1. INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL DEFINIÇÃO E CONCEITOS BÁSICOS 
O Dicionário Oxford212 define a inteligência artificial como a “te-
oria e desenvolvimento de sistemas de computadores capazes de realizar 
tarefas que normalmente requerem inteligência humana”, definição que 
também é usada por alguns estudiosos. No entanto, outros preferem de-
fini-lo como “o design de agentes inteligentes”, incluindo diferentes tipos 
de inteligência, não apenas humana.
Desde a década de 1940, a inteligência artificial tem sido objeto 
de estudos no campo da ciência da computação, impulsionada por autores 
como Vannevar Bush e Alan Turing, no entanto, o termo “inteligência ar-
tificial” só veio a existir com John McCarthy,213 em 1956. Os estudos sobre 
inteligência artificial, partiram da ideia de compreender melhor a mente 
humana e construir máquinas superiores que ajudariam a vida humana.
O desejo de construir máquinas que imitem o comportamento 
humano possui uma longa história, mas muitos concordam que o 
campo moderno da inteligência artificial teve suas origens em 1950, 
com a publicação do Computing Machinery and Intelligence, de 
Alan Turing. Foi aí que Turing propôs que as máquinas poderiam 
ser programadas para exibir um comportamento inteligente.214
A base de toda inteligência artificial está nos algoritmos, que em 
regra demonstram uma descrição de etapas possíveis de resolução de 
problema, indicando uma sequência bem definida de ações. Em termos:
Você executa algoritmos na sua vida diária. Você tem um algo-
ritmo para escovar os dentes: abrir o tubo de pasta dental sobre 
a escova e aplicar a quantidade necessária de dentifrício, fechar o 
tubo, colocar a escova em um quadrante da boca, movimentá-la 
para cima e para baixo durante segundos etc. Se você pega ônibus 
212 RUSSELl, S. J. and NORVIG, P. Artificial Intelligence: A Modern Approach. (2nd 
edition). Prentice-Hall.2003. p.5. 
213 BRIAN MCGUIRE e outros. ‘The History of Artificial Intelligence’ (Curso Web 
Service para a Universidade de Washington - Ciência da Computação e Enge-
nharia - História de Projetos de Computação. Washington, dezembro de 2006 
disponível em: acessado em: 29 mai. 2022.
214 BROOKSHEAR, J. Glenn. Ciência da computação: uma visão abrangente. Tradu-
ção Cheng Mei Lee. 7ª ed. Porto Alegre: Bookman, 2005, p. 368.
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ou metrô para ir trabalhar, terá um algoritmo para isso. E assim 
por diante.215
Assim, há alguns anos, o mundo presenciou a inserção de meca-
nismos inteligentes na vida cotidiana das pessoas. Começou com adições 
a tecnologias pré-existentes, como vídeo games, e pesquisas contextuais, 
mas não muito tempo depois, esses avanços criaram novas ferramentas, 
como assistentes pessoais virtuais, assistentes domésticos e esses exem-
plos ilustram bem o impacto atual causado pela inteligência artificial. 
No entanto, o desenvolvimento é constante, e esses sistemas estão 
se tornando cada vez mais refinados e competentes, mesmo em campos 
que exigem criatividade. Por exemplo, máquinas inteligentes, já foram 
capazes de desenvolver mecanismos para mentir e enganar, para escon-
der sua comunicação com outras máquinas, para escrever, para codificar, 
para pintar, e até mesmo para criar e propor teorias científicas.
O conceito de inteligência artificial está longe de ser definido, já 
que não existe um conceito padrão. George Luger, argumenta:
A dificuldade em chegar a uma definição exata de IA é totalmente 
compreensível. A inteligência artificial ainda é uma disciplina jo-
vem, e sua estrutura, suas considerações e seus métodos não estão 
definidos tão claramente quanto aqueles de uma ciência mais ma-
dura, como a física.216
Certo é que a Inteligência Artificial (IA) está revolucionando 
quase todos os setores e profissões, algumas de forma mais rápida e pro-
funda do que outras. Ao contrário da revolução industrial que automa-
tizou o trabalho físico e substituiu os músculos por pistões hidráulicos 
e motores a diesel, a revolução alimentada por IA está automatizando 
tarefas mentais. 
O início da IA pode ser rastreado até os primeiros estágios de 
inovação tecnológica. A segunda guerra mundial impulsionou o alinha-
mento das maquinas e do pensamento humano. Na década de 1950, os 
computadores tinham a capacidade de executar a entrada programada, 
assim as máquinas poderiam potencialmente ser projetadas de tal forma 
215 CORMEN, Thomas H. Desmistificando algoritmos. Tradução Arlete Simille Mar-
ques. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014, p. 1-2.
216 UGER. George F. Inteligência artificial. Tradução: Daniel Vieira. 6ª ed. São Paulo: 
Pearson Education do Brasil, 2013, p. 2.
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que permitiria que executassem o pensamento da mesma forma que os 
humanos fazem. 
Sucedendo a isso, foi o desenvolvimento do The Logic Theoris-
t,217um programa destinado a empregar habilidades de resolução de pro-
blemas semelhante ao de um humano. Esta tecnologia foi apresentada em 
uma conferência em 1956, que pretendeu unir pesquisadores para gerar 
soluções e estimularo progresso, a conferência não produziu resultados 
significativos, mas deu início ao que logo se tornaria um importante de-
bate sobre a inteligência artificial. 
O progresso após esta conferência foi lento, no entanto, o concei-
to de IA foi tornando-se mais difundido, os algoritmos foram mais bem 
compreendidos e a tecnologia tornou-se mais acessível. 
Sistemas foram desenvolvidos, para refletir o pensamento huma-
no e, portanto, tomar decisões semelhantes às de um humano. De forma 
que, os especialistas inserindo os dados relevantes de informações so-
bre como reagir a determinadas situações, e a máquina essencialmente 
aprendendo as respostas transmitem os dados para vários propósitos. 
Álvarez Munárriz,218 acertadamente define Inteligência artificial:
Como uma ciência que tem como objetivo o desenvolvimento e 
construção de máquinas capazes de imitar o comportamento in-
teligente das pessoas. Um ramo especializado da informática que 
investiga e produz raciocínio por meio de máquinas automáticas 
e que pretende fabricar artefatos dotados da capacidade de pensar. 
Podemos, portanto, ver a IA como um ramo da informática de-
dicado a criação artificial do conhecimento, ou seja, uma ciência 
que tem como aspiração fundamental o desenvolvimento e pro-
dução de artefatos computacionalmente inteligentes. É um saber 
positivo que tem como objetivo final a criação de sistemas espe-
cializados na manipulação inteligente do conhecimento. 
Após um período de progresso inconsistente, os avanços inova-
dores continuaram em 1997, quando o sistema de jogo de xadrez de IA 
Deep Blue derrotou o campeão mundial de xadrez utilizando algoritmos, 
dados baseados nas regras do xadrez. 
217 URRETAVIZCAYA L. Maite.. Sistemas Inteligentes em el ‚ambito de la educacion 
Revista Iberoamericana de InteligÍncia Artificial. Nro. 12. 2001. p.5-12.
218 ÁLVAREZ MUNÁRRIZ, Luis. Fundamentos de inteligência artificial. Universida-
de de Murcia, 1994, p. 20. Tradução livre.
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Da mesma forma, quase duas décadas depois, uma série de IA 
do Google, especializada em “Go games219”, venceu não só os campeões 
humanos europeus e mundiais, mas também venceu versões atualizadas 
de si mesmo. Este foi um avanço significativo devido à complexidade do 
jogo em comparação com o xadrez; no xadrez, existe a possibilidade de 
codificar para cada movimento possível mas este não é o caso do Go ga-
mes, onde o computador teve que deduzir estratégias baseadas em cruza-
mento de dados disponíveis.
Este exemplo é ilustrativo da maneira como os sistemas de IA 
funcionam em conjuntos de dados e estabelece os fundamentos para ti-
pos de automação. 
É importante notar que via de regra os softwares são treinados 
em um conjunto de dados alimentados por um humano, assim, há uma 
incapacidade de formar interpretações independentes, e há uma ausência 
de explicação do “processo de pensamento”. Isso representa uma ameaça 
para os princípios fundamentais que orientam o Estado de Direito.
Além disso, devido à autonomia limitada da IA, ela permane-
ce vulnerável à exploração e uso arbitrário e, mais importante, torna-se 
controversa para uso na lei. Não é mais simplesmente uma questão de ter 
especialistas humanos codificando o conhecimento em um sistema auto-
matizado, agora é uma questão de saber se a IA pode contribuir com seu 
próprio pensamento para situações únicas e sem precedentes.
A inteligência artificial, embora ainda seja um campo pouco ex-
plorado, não é um fenômeno moderno. Apesar de sua adesão contínua 
em vários campos por várias décadas, ainda é considerada, um instru-
mento inovador em grande parte devido ao desenvolvimento constante e 
acelerado da tecnologia, o que faz com que seu crescimento enfrente inú-
meros contratempos. Hodiernamente, especialistas classificam o apren-
dizado em três categorias distintas:
Supervisionado (os dados são fornecidos com a indicação da 
categoria a qual pertence, a partir disso, novas ocorrências são 
classificadas com base nas categorias de treinamento); não-super-
visionado os padrões de saída não são pré-estabelecidos, o que 
significa que a resposta correta não é fornecida ao algoritmo, ca-
bendo a ele criar as classificações ou padrões de forma gradual) 
219 MULLER, M. J. PICTIVE. Exploration In Participatory Design. 1991. Disponí-
vel em: . Acesso em: 01. Jun. 
2022. 
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e aprendizagem por reforço(o algoritmo aprende através de ‘ten-
tativa e erro’, sendo que em casos de acerto lhe é fornecida uma 
“recompensa”. O objetivo, no fim das contas, é a escolha de ações 
que maximizem as recompensas). Os especialistas também divi-
dem o aprendizado de máquina em diferentes métodos: simbólico 
(aprendizado ocorrer a partir de um conjunto de símbolos para o 
qual o algoritmo tenta inferir generalizações novas – árvores de 
decisão); conexionista (inspirada no modelo biológico do sistema 
nervoso, sua arquitetura é formada por redes de processamentos 
individuais semelhantes aos neurônios – é utilizada pelas redes 
neurais); genético (inspirada nos modelos genéticos e evolucio-
nários, consistindo na avaliação de possíveis soluções candidatas 
para o problema, apenas sobrevivendo as mais ajustadas, as quais, 
por sua vez, se combinam para dar origem à próxima geração de 
possíveis soluções inspiradas na teoria de Darwin) e, estocástica 
ou probabilística (a aprendizagem se dá através de métodos es-
tatísticos redes Bayesianas). Para uma visão mais completa do 
aprendizado de máquina, conferir manual de características para 
o reconhecimento de textos manuscritos. Algoritmos de aprendi-
zagem baseados em gradiente, inspirados pelas redes neurais, nos 
permitiram simultaneamente treinar extratores de características, 
classificadores e processadores contextuais.220
Melhorias na inteligência artificial permitem superar os siste-
ma iniciais que se baseavam em texto, o método de aprendizagem não é 
na experiência, mas na quantidade de dados informados manualmente. 
Atualmente o aprendizado é realizado utilizando o machine learning221 
através da análise de uma expressiva quantidade de dados sem que seja 
necessária a transcrição de regras específicas para o algoritmo. Nesse sen-
tido, George F. Lugar ensina:
Os sistemas especialistas são construídos para resolver uma gran-
de variedade de problemas em domínios como medicina, mate-
mática, engenharia, química, geologia, ciência da computação, 
220 AYKIN, Simon. Redes neurais: princípios e prática. Tradução: Paulo Martins En-
gel. 2ª ed. Porto Alegre: Bookman, 2001. p. 849.
221 O aprendizado de máquina (em inglês, machine learning) é um método de análise 
de dados que automatiza a construção de modelos analíticos. É um ramo da inte-
ligência artificial baseado na ideia de que sistemas podem aprender com dados, 
identificar padrões e tomar decisões com o mínimo de intervenção humana. Dispo-
nível em: . 
Acesso em: 05. jun. 2022. 
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economia, direito, defesa e educação. [...] a lista a seguir [...] é 
um resumo útil de categorias gerais de problemas para sistemas 
especialistas. Interpretação formar conclusões de alto nível de 
coleções de dados brutos. Predição projetar consequências pro-
váveis de situações indicadas. Diagnóstico determinar a causa de 
mau funcionamento em situações complexas com base em sin-
tomas observáveis. Projeto encontrar uma configuração de com-
ponentes do sistema que alcance os objetivos de desempenho e, 
simultaneamente, satisfaça um conjunto de restrições de projeto. 
Planejamento estabelecer uma seqüência de ações que alcança-
rão um conjunto de objetivos, dadas certas condições iniciais e 
restrições em tempo de execução. Monitoramento comparar o 
comportamento observado de um sistema com o seu comporta-mento esperado. Instrução dar assistência ao processo de educa-
ção em domínios técnicos. Controle governar o comportamento 
em ambiente complexo.222
É notável a complexidade dos fundamentos da inteligência artifi-
cial, por isso acarreta grandes mudanças estruturais da vida humana. Nesse 
espírito, podemos descrever a IA como o uso de tecnologia para automa-
tizar tarefas que normalmente requerem inteligência humana execute-os.
4.2. A INSERÇÃO DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NO JUDICIÁRIO 
Aparentemente, os vários obstáculos que o desenvolvimento da 
Inteligência Artificial enfrentou ao longo de sua existência não impedi-
ram a sua introdução no campo do direito. Há uma série de vantagens 
associada ao uso da IA para tarefas legais do dia-a-dia, bem como no 
sistema de justiça.
No que diz respeito _à utilização da Inteligência Artificial no sis-
tema judicial, não é apenas considerações tecnológicas que obstruem seu 
desenvolvimento, mas também sua discutível conformidade com a lei. 
Coloca-se, portanto, a questão, qual foi a razão para introduzir 
inteligência artificial no sistema judicial e quais são os benefícios subse-
quentes? Apesar de impedimentos, o uso da inteligência artificial e seus 
potenciais benefícios oferecem oportunidades para advogados e juízes, 
validando, portanto, sua adoção nos sistemas jurídicos.
222 LUGER. George F. Inteligência artificial. Tradução: Daniel Vieira. 6ª ed. São Paulo: 
Pearson Education do Brasil, 2013. p. 232.
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Não é difícil de imaginar uma eventual discussão acerca da subs-
tituição de decisões judiciais por máquinas ou softwares. A inteligência 
artificial e a automação são responsáveis por um número crescente de 
decisões das autoridades públicas em áreas como justiça criminal, segu-
rança e policiamento e administração pública, apesar de apresentarem 
falhas e preconceitos comprovados. 
Soares e Kauffmane Sales223 prelecionam: 
A sociedade contemporânea mundial passa por mudanças ir-
reversíveis, cabendo ao sistema jurídico adequar-se a essa nova 
realidade. No direito brasileiro não é diferente, busca-se acompa-
nhar as mudanças sociais, porém as discussões no âmbito jurídico 
com relação às inovações advindas da nova revolução industrial e 
o surgimento da Indústria 4.0 ainda não foram satisfatoriamen-
te realizadas, pelo contrário, as discussões estão apenas no início. 
(SOARES; KAUFFMAN; SALES, 2019, p. 13).
Em suma, a IA vem evoluindo gradualmente há décadas e de-
senvolveu a capacidade de cultivar seu próprio conhecimento, mas ainda 
está longe de um pensamento independente, tornando-se uma ameaça 
potencial à complexidade e imparcialidade do sistema judicial.
Apesar das preocupações que acompanham o uso da inteligên-
cia artificial no setor jurídico, há uma série de benefícios oferecidos 
pela IA, tornando-a uma adição atraente ao sistema legal. Para contex-
tualizar as vantagens e desvantagens decorrentes do uso da automação 
no cenário jurídico, é necessário compreender pelo menos a função téc-
nica básica do sistema. 
Concepções de sistemas baseados em conhecimento, executando 
funções que são conhecidos como sistemas de IA e são implementados 
na tomada de decisão automatizada. Atualmente, existem dois tipos de 
sistemas automatizados de tomada de decisão compostos por uma série 
de tecnologias. 
 O primeiro tipo de automação é na forma de um sistema espe-
cialista, que é executado em regras pré-programadas escritas por huma-
nos. Sistemas especialistas em direito, contêm programas escritos com 
223 SOARES, Marcelo Negri; KAUFFMAN, Marcos Eduardo; CHAO, Kuo-Ming; SAAD, 
Maktoba Omar. New Technologies and the Impact on Personality Rights in Brazil. 
In: Revista Pensar, Fortaleza, v.25,n.1,p.1-12, jan/mar, 2020. Disponível em: https://
periodicos.unifor.br/rpen/article/view/9969Acesso em: 28 mai. 2022.p13.
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assistência de especialistas jurídicos, onde as regras são codificadas e pos-
teriormente utilizada na automação da tomada de decisão, contando com 
os dados de entrada disponíveis.
Esses sistemas normalmente contêm um conjunto de perguntas 
para o usuário, para que o sistema processe passo a passo, utilizando os 
dados de entrada para determinar se seus critérios pré-programados, 
correlacionando com a entrada do usuário e, consequentemente, deter-
minando a elegibilidade do usuário para um determinado assunto. O 
sistema produzirá então um resultado; por exemplo, aconselhamento ou 
resolução de disputas, e o usuário pode então decidir em utilizar ou não. 
É importante observar que os sistemas especialistas não podem 
operar além do critério programado e, portanto, são limitados em seu 
raciocínio. Além disso, se as regras programadas ficarem desatualizadas, 
isso torna essencialmente o sistema redundante, pois não pode ser confi-
ável para tomar decisões preditivas precisas até que seja atualizado, pre-
sumivelmente por um humano.
O segundo tipo de automação são os algoritmos de aprendiza-
gem de máquina, pelos quais o sistema aprende com base em um con-
junto de dados de treinamento. O processo de aprendizagem requer que 
o sistema tenha dados que são já rotulados com a finalidade de indicar a 
correlação entre os dados e a entrada do usuário para derivar as regras. O 
sistema então cria um algoritmo, baseado em padrões e relações ineren-
tes aos dados históricos, para formular previsões. 
Embora possa estar apenas otimizando alguns trabalhos, a IA 
está trazendo uma mudança mais fundamental para muitas funções an-
teriormente consideradas seguras da automação, é o caso do judiciário, 
as expectativas gera por vezes decepção, já que as boas práticas de enge-
nharia ainda não se consolidaram para IA.
O bom resultado da inteligência artificial depende da inteligência 
humana, desta forma, atualmente no Brasil, temos iniciativas judiciais 
personalizadas, cada uma criando suas próprias inteligência artificial, são 
mais de 40 sistemas diferentes de IA, usados pelos mais de 90 tribunais 
Brasileiros224. 
A Suprema Corte Brasileira, através da Ministra Cármen Lu-
cia, em maio de 2018, anunciou o início do desenvolvimento de uma 
224 GRILLO, Breno. Excesso de plataformas de processo eletrônico atrapalha ad-
vogados. Conjur. 03 de out. de 2017. Disponível em: . 
Acesso em: 07. Jun. 2022.
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ferramenta de Inteligência Artificial chamado Victor, que a priori desen-
volveria a execução de quatro atividades:
Conversão de imagens em textos no processo digital, separação do 
começo e do fim de um documento (peça processual, decisão, etc) 
em todo o acervo do Tribunal, separação e classificação das peças 
processuais mais utilizadas nas atividades do STF e a identificação 
dos temas de repercussão geral de maior incidência.225
O processo de desenvolvimento do Victor, envolveu além do STF 
a Universidade de Brasília, utilizando aprendizado de máquina e redes 
neurais artificiais, é destinado para triagem de temas de repercussão ge-
ral, Eduardo S. Toledo explica:
Existem padrões nas chamadas demandas repetitivas que tornam 
praticamente inevitável a aplicação de decisões padronizadas no 
processo judicial: ao se identificar que determinado processo trata 
de um tema específico já apreciado pelo Tribunal, aplica-se a de-
cisão esperada. Esse trabalho é feito no STF quando um recurso 
extraordinário chega. Uma das primeiras etapas consiste em ve-
rificar se o tema contido no recurso extraordinário foi objeto de 
repercussão geral, ou seja, se o Tribunal reconheceu a existência 
ou não de repercussão geral. Se já tiver havido pronunciamento do 
Tribunal sobre o tema, o processo é direcionado para o Presidente 
para que este profira uma decisão no sentido de devolver à origem 
para que se aguarde o julgamento do mérito, quandoreconhecida 
a existência da repercussão geral, ou para negar o recurso, quando 
não reconhecida a existência. A decisão é de um juiz (o Presidente 
do STF), não da máquina, e tal ato deverá sempre ser uma decisão 
de um indivíduo. 
Percebeu-se, internamente, junto com a Secretaria Judiciária do 
Tribunal, que o trabalho de identificação dos temas teria grande 
potencial para ser feito por uma inteligência artificial, o que traria 
grande benefício para o Tribunal ao permitir que os servidores 
envolvidos dedicassem o seu tempo a atividades mais complexas 
relacionadas com a admissibilidade do recurso extraordinário. 
Identificada a necessidade, foi possível definir o objeto inicial: o 
225 SUPREMO TRIBUNAL FEDEDERAL. Ministra Cármen Lúcia anuncia início de 
funcionamento do Projeto Victor, de inteligência artificial. 30 de ago. de 2018. 
Disponível em . Acesso em: 05. jun. 2022.
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desenvolvimento de uma inteligência artificial capaz de identificar 
os temas de repercussão geral de maior repetição no Tribunal.226
Observa-se que nem todo trabalho judiciário é um trabalho cus-
tomizado complexo e os processos de rotina têm requisitos diferentes do 
trabalho customizado complexo dos tribunais. Os casos judiciais nem 
sempre exigem uma abordagem complexa e personalizada para a toma-
da de decisões e muitos casos podem ser processados automaticamente, 
pelo menos em parte. É por isso que a aplicação da tecnologia da infor-
mação, incluindo a inteligência artificial, não é a mesma para todos os 
tipos de casos.
Segundo o STF, após alguns ajustes e testes a ferramenta Victor é 
assertiva em 90,35% dos casos, a intenção é aprimorar o uso da ferramen-
ta, e implementar o uso nos Tribunais de segunda instância do Brasil227. 
Neste esteio, o Superior Tribunal de Justiça, desenvolveu, uma 
ferramenta de Inteligência artificial, baseado em aprendizado de má-
quina, para classificação dos processos “segundo a TUA (Tabela Única 
de Assuntos do CNJ) para a extração automática dos dispositivos legais 
apontados como violados nos Recursos Especiais. Segundo Montgomery 
Wellington a eficácia do programa é de 86%, ao autores afirmam que:
Desde o agrupamento de processos para otimização das equipes de 
apoio aos magistrados, passando pelo auxílio a decisões relaciona-
das a esses agrupamentos, sugestões de jurisprudências para casos 
semelhantes, até situações mais corriqueiras, como o registro de 
impedimentos legais de Ministros, todas essas atividades podem 
ser realizadas por algoritmos computacionais que se utilizam dos 
conceitos já registrados e acumulados dentro das bases jurídicas 
que vêm sendo alimentadas por anos com um conhecimento ju-
rídico potencial que parecia estar apenas à espera de um poder de 
processamento computacional que viesse a desvendá-los. 
Com isso, neste momento digno de registro na história da com-
putação, o Superior Tribunal de Justiça tem a satisfação de afirmar 
226 TOLEDO, Eduardo S. Projetos de inovação tecnológica na Administração Pú-
blica. In: FERNANDES, Ricardo Vieira de Carvalho; CARVALHO, Angelo Gamba 
Prata de (Coord.). Tecnologia jurídica & direito digital: II Congresso Internacional 
de Direito, Governo e Tecnologia – 2018. Belo Horizonte: Fórum, 2018. p. 86.
227 SILVA, Nilton Correia da, et al. Document type classification for Brazil’s supre-
me court using a Convolutional Neural Network. Tenth International Conferen-
ce on Forensic Computer Science and Cyber Law. Disponível em: . Acesso em: 11. jun.2022.
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que todos os processos que chegam à Corte – cerca de 1.200 por 
dia – já passam pelas ferramentas e procedimentos de inteligência 
artificial descritas neste artigo, cuja expansão em utilização é ape-
nas uma questão de tempo e de imaginação. 228
São muitos os benefícios do uso da Inteligência Artificial nos 
Tribunais. No entanto, a IA ainda não está pronta para substituir o julga-
mento humano. O risco de viés incorporado nos dados que alimentam 
a IA e a incapacidade de entender adequadamente a lógica por trás das 
decisões derivadas da IA de uma maneira compreensível para os seres 
humanos (ou seja, explicabilidade) deve ser superado antes de se usar a 
tecnologia em alguns contextos legais.
Certo é que, embora possa estar apenas otimizando alguns tra-
balhos, a IA está trazendo uma mudança mais fundamental para mui-
tas funções anteriormente consideradas seguras da automação. Algumas 
dessas profissões estão sendo completamente transformadas pelas capa-
cidades sobre-humanas da IA para fazer coisas que antes não eram possí-
veis, contribuindo, e até certo ponto substituindo humanos.
O conceito de IA e seu uso dentro do sistema judicial é essencial-
mente um paradoxo, sua inicial introdução no sistema legal era produzir 
os benefícios de limitar a arbitrariedade pelo uso de um sistema impar-
cial, indiferente à emoção ou fatores situacionais, para tomar decisões. 
Acredita-se que os sistemas de IA abrangem vieses que podem 
afetar a tomada de decisões e os resultados de saída. O argumento de 
que a IA reduz a arbitrariedade ao tratar uniformemente indivíduos co-
locados de forma semelhante, baseado em conjuntos de amostras e cor-
relações de dados, pode ser descartado devido à existência de vieses que 
podem levar um algoritmo a dissipar um julgamento indiretamente dis-
criminatório ou a um resultado excessivamente geral como resultado de 
um conjunto de dados limitado. 
Além disso, a IA não pode efetivamente desviar-se de seu cami-
nho, que se baseia em dados de entrada e diretrizes; assim, não necessa-
riamente acomodar as modificações apropriadas. 
228 MUNIZ, Montgomery Wellington; CARVALHO, Rodrigo Almeida de; MARTINS, 
Amilar Domingos Moreira. Inteligência artificial no Superior Tribunal de Justi-
ça: primeiros passos. In: FERNANDES, Ricardo Vieira de Carvalho; CARVALHO, 
Angelo Gamba Prata de (Coord.). Tecnologia jurídica & direito digital: II Congres-
so Internacional de Direito, Governo e Tecnologia – 2018. Belo Horizonte: Fórum, 
2018. p. 106.
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Juízes humanos, no entanto, têm a capacidade de interpretar ca-
sos e elaborar julgamentos a seu critério, permitindo justiça individuali-
zada e fatores circunstanciais a serem considerados. 
Contraditório a isso, é o fato de que esta liberdade desfrutada 
por um juiz humano permite a prática arbitrária, pois ele pode divagar e 
deturbar o caso, em última análise, opondo-se aos princípios do devido 
processo legal e obstruindo o estado de direito. 
No contrário, é mais fácil responsabilizar um juiz humano por 
esta violação do que responsabilizar um sistema automatizado responsá-
vel, e sanções razoáveis podem ser incorridas, pelo primeiro, de acordo 
com lei bem estabelecida. 
O fato de a adesão da IA ao sistema judicial ser paradoxal, o valor 
constitui um obstáculo em si mesmo. Permite um debate constante sobre 
a sua credibilidade e segurança, colocando simultaneamente em risco os 
direitos fundamentais e a legitimidade do Estado de direito.
A regulamentação sobre IA, harmonizada com os padrões e a 
legislação de direitos humanos, poderia abordar esses contradições ine-
rentes, garantindo a proteção e a disponibilidade de reparação quando 
estas contradições são trazidas à tona.
Além desses empecilhos, está a legitimidade indefinida do Esta-
do de Direito, o que o torna vulnerável a ameaças. Apesar disso, alguns 
conceitos centrais foram determinados, que reforçam sua finalidade e pa-
pel no sistema judicial. A importância da transparência, responsabilida-
de, confiabilidade e igualdade derivam do princípio do Estado de direito 
e, como resultado, também estão em jogo.
Todos estes elementos devem ser observados para garantir a se-
gurança jurídica e cultivar a confiançaentre os particulares e autoridades, 
bem como defender o respeito pelos direitos humanos em um sociedade. 
Embora seja importante fomentar a inovação no sistema judicial, a fim 
de manter o com a inteligência contemporânea, também é importante ter 
o devido respeito pelas liberdades individuais.
Isso traz a análise o reconhecimento dos direitos humanos e o 
conceito de estado de direito que servem como impedimentos predo-
minantes para o avanço da IA dentro o sistema judiciário. Isso ocorre 
porque, apesar do mundo em rápido desenvolvimento da tecnologia e 
inovação em todos os setores, é de fundamental importância considerar 
os valores humanos intrínsecos. 
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A importância da proteção dos direitos humanos básicos, in-
cluindo o Estado de Direito, é uma das dificuldades influentes. Da mes-
ma forma, a manutenção do Estado de Direito também se revela um de-
sincentivo à introdução de juízes artificialmente inteligentes na tomada 
de decisões independentes.
Isso é atribuível ao fato de o Estado de Direito ser uma constru-
ção frágil, essencialmente sem verdade, significado denotativo univer-
salmente estabelecido, deixando-o vulnerável à prática arbitrária. Esta 
vulnerabilidade combinada com o uso de novas tecnologias, que ainda 
são amplamente incompreendidas, bem como as limitações humanas, re-
presentam uma ameaça considerável à justiça.
Consequentemente, é a questão de como os direitos humanos 
fundamentais e a importância de manter o estado de direito impede o 
desenvolvimento e a progressão da inteligência artificial no sistema judi-
ciário? De acordo com o estado de direito, consagrado nos direitos hu-
manos, o devido processo legal, a confiabilidade e transparência devem 
ser observados no âmbito
do sistema jurídico, assim, fatores com potencial para desviar 
desses objetivos servem como impedimentos.
Apesar de vários posicionamentos por diferentes estudiosos, filó-
sofos, especialistas em IA, e legisladores, há uma conclusão que é comum 
entre os pesquisadores, que é a necessidade de envolvimento humano na 
automação, no que diz respeito ao sistema judiciário. 
Convém mencionar que atualmente a tecnologia não é avançada 
o suficiente para aplicar intuitivamente as normas legais e considerar os 
direitos intrínsecos em casos diversificados, portanto, na ausência de ve-
rificação humana, o pleno cumprimento dos direitos ainda não podem 
ser garantidos. 
Além disso, há limitações na compreensão humana, que im-
pedem a compreensão completa dos métodos algorítmicos do sistema, 
que não podem satisfazer as exigências da lei. Se a automação não for 
transparente para os próprios controladores do sistema, não deve ser 
considerada adequada para uso no sistema judicial, onde a transparên-
cia é primordial. 
Nesta perspectiva, a principal alegação é que, sem intervenção 
humana, o estado de direito é redundante e removendo completamente 
os humanos dos processos de tomada de decisão, podem impactar preju-
dicialmente a vida humana, é inconcebível no futuro previsível. 
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Assim sendo, para estar de acordo com os direitos humanos, 
em apoio ao Estado de Direito, a principal solução, atualmente, focar 
no aprimoramento do uso da IA como ferramenta assistencial à adjudi-
cação, antes de considerá-la como uma possível substituição. O objetivo 
deve ser buscar tecnologia que possa fortalecer e reforçar o valor do 
Estado de Direito, enquanto o uso da IA no sistema judicial não estiver 
harmonizado com o direito dos direitos humanos, haverá lacunas na 
legislação, que permitem situações em que o Estado de direito é supér-
fluo em termos de IA. 
Possíveis maneiras de combater isso seria alinhar a IA com nor-
mas de direitos humanos, incorporando-o em diversos instrumentos le-
gais, por meio de emendas, fundamentar e combate às práticas contrárias 
ao Estado de direito.
Nesse ínterim, a capacidade de automação no sistema judiciário 
e o auxílio que pode fornecer aos advogados é inconteste, no entanto, 
trouxe à luz as considerações iminentes que precisam de atenção para que 
a IA realmente prospere no setor jurídico. 
4.3. INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL REQUER INTELIGÊNCIA EMOCIONAL: UM NOVO 
PARADIGMA DE COMPETÊNCIA PARA O PROFISSIONAL JURÍDICO
A natureza dos serviços jurídicos, está mudando drasticamente 
devido ao aumento do uso de inteligência artificial e aprendizado de má-
quina. Os modelos de educação e treinamento jurídico estão começando 
a reconhecer a necessidade de incorporar o desenvolvimento de habilida-
des em plataformas de dados e tecnologia. 
É fato relevante que os advogados não apenas precisam de co-
nhecimentos e habilidades jurídicas aprofundadas, mas também de uma 
compreensão de dados, tecnologia, gerenciamento de projetos e melhoria 
de processos para serem profissionais jurídicos competentes. 
Atualmente, as corporações de tecnologia estão focadas no de-
senvolvimento de sistemas computacionais complexos, cujo principal 
objetivo é a imitação de processos cognitivos de humanos, que possam 
fornecer soluções eficientes para problemas sociais, políticos, científicos 
e econômicos atuais. Esse tipo de sistema de computador é o que cha-
mamos de “inteligência artificial”, que usa programas de aprendizado 
de máquina “supervisionados” ou “não supervisionados” que permitem 
aprender e melhorar a cada processo de solução de problemas realizado, 
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para que possam posteriormente criar um modelo para prever resultados 
ou resolver problemas estabelecidos pelos programadores.
Esses programas de IA combinam seus programas de aprendiza-
do de máquina “supervisionados” ou “não supervisionados” com siste-
mas “expert”, “percepção” ou “linguagem natural” para coletar dados de 
fontes legíveis por máquina (por exemplo, bancos de dados) ou do mun-
do real ( usando um hardware especial), analisá-lo, encontrar padrões 
nele e, posteriormente, utilizar os dados coletados e criados para resolver 
um determinado problema, aplicando um algoritmo específico.
Dessa forma, a necessidade de advogados e estudantes de direito 
expandirem seu treinamento e começarem a aprender sobre inteligência 
artificial, análise e proteção de dados é muito mais é urgente. 
No entanto, o advogado deve se atentar para a competência cen-
tral do desenvolvimento, uma competência essencial para advogados: 
habilidades de resolução de problemas e tomada de decisões para acon-
selhar clientes sobre a melhor forma de atender às suas necessidades, ob-
jetivos e necessidades. 
 Para deliberar bem, o que requer simpatia, empatia, desapego, e 
compreensão de comportamento humano, é preciso, portanto, ser capaz 
não apenas de pensar com clareza, mas também de sentir de certas ma-
neiras. A pessoa que mostra bom senso na deliberação será assim marca-
da tanto por suas disposições afetivas quanto por seu poder intelectual, e 
saberá mais do que os outros porque sente o que eles não podem.
As emoções contêm informações valiosas que aprimoram nossos 
processos cognitivos, e nos diferencia da máquina. Não somos capazes 
de pensar sem nossas emoções. Muitos advogados não são emocional-
mente inteligentes, talvez porque o foco da educação jurídica seja ensinar 
os alunos a pensar como advogados. Como resultado, muitos advogados 
possuem e exibem certos traços de personalidade definíveis que podem 
impedir uma advocacia eficaz.
Pretende-se, demonstrar que hodiernamente, para a competên-
cia profissional jurídica não apenas reconhece a necessidade de os advo-
gados terem profundo conhecimento e habilidades jurídicas, bem como 
uma compreensão de dados e tecnologia, mas também reconhece a ne-
cessidade de inteligência emocional na tomada de decisões e resolução 
de problemas. 
Esse modelo pode reformular a forma como abordamos a edu-
cação jurídica e o treinamento de advogados, fornecendo uma estrutura 
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que reflita com mais precisão a amplitude de habilidades que um advo-
gado do século XXI precisa para melhor o desempenho de suas funções. 
A capacidade do advogado de integrar emoções e cognição pode 
transformar a relação advogado-cliente em uma relação de confiança 
mais rica e profunda. Todos os advogados e clientes se beneficiam quan-
do os advogados entendem, apreciam e aplicam as habilidades de inteli-
gência emocional. Os clientes se beneficiam de advogados que infundem 
sua prática com cognição e emoção. 
Goleman, em seu renomado livro “Inteligência Emocional’, 
preceitua:
Inteligência Emocional é a capacidade de reconhecer os sentimen-
tos próprios e de outros, de forma a motivar a si mesmo e regular 
emoções em si mesmo e nos relacionamentos”, ou ainda, “é como 
gerenciamos a nós mesmos, e como lidamos com nossos relacio-
namentos. Para ele, a inteligência emocional não é uma coisa, mas 
uma gama de habilidades humanas, logo, ousamos dizer que essa 
inteligência é o grande diferencial da própria humanidade, o que 
nos diferencia tanto dos outros seres do mundo animal quanto das 
máquinas nesse mundo tecnológico em que vivemos.229
O advogado emocionalmente inteligente sabe que um cliente 
quer ser reconhecido, não apenas como parte de um processo, mas como 
uma pessoa que tem um problema que precisa ser resolvido. O cliente 
não quer que o advogado ignore seus sentimentos.
Em seu Relatório sobre o Futuro do Emprego de 2018, o Fórum 
Econômico Mundial230 identifica as principais habilidades necessárias na 
Quarta Revolução Industrial. As novas tecnologias nesta era digital, im-
põe que os trabalhadores se adaptem a novos papéis e mudanças na força 
de trabalho. Como resultado, o relatório enfatiza significativamente as 
habilidades técnicas e cognitivas, mas também as habilidades “humanas” 
necessárias para prosperar nesta nova era, como: criatividade, pensamen-
to crítico, flexibilidade, resiliência e inteligência emocional. 
Nesta acepção, a capacidade de entender o comportamento huma-
no, estabelecer credibilidade e se conectar com as pessoas, é extremamente 
229 GOLEMAN, Daniel. O cérebro e a inteligência emocional, novas perspectivas. 
Rio de Janeiro. Objetiva, 2012, p. 9.
230 https://forbes.com.br/escolhas-do-editor/2019/11/as-10-habilidades-profissionais-
-mais-importantes-para-a-quarta-revolucao-industrial/ Acesso em: 4.jun.2022. 
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importante no setor jurídico. Paradoxalmente, à medida que a tecnologia 
emergiu como um componente-chave na prestação de serviços jurídicos, 
a inteligência emocional tornou-se mais importante do que nunca. Isso 
porque a tecnologia gerou desagregação e uma cadeia de suprimentos. A 
integração da cadeia de suprimentos requer colaboração entre diferentes 
fornecedores, disciplinas e culturas. Isso, por sua vez, requer habilidades 
orientadas para a inteligência emocional, que a maioria dos advogados não 
aprendeu na graduação e nem aperfeiçoou no trabalho.
As habilidades de colaboração são importantes à medida que as 
fronteiras entre o direito e outros serviços profissionais se tornam indis-
tintas. Os advogados devem ser capazes não apenas de colaborar com 
outros advogados, dentro e fora de sua organização, mas também com 
funcionários, profissionais de outras disciplinas e até máquinas. 
Sensibilidade, conscientização e cultural, também são importan-
tes à medida que a sociedade e o local de trabalho jurídico se tornam 
mais diversificados e globais. A sensibilidade, e o auto controle pode pre-
parar um profissional para melhores resultados, muito assertiva a frase 
de Aristóteles231: Qualquer um pode zangar-se, isso é fácil. Mas zangar-se, 
com a pessoa certa, na medida certa, na hora certa, pelo motivo certo e da 
maneira certa, não é fácil.
A vista disso, o que é inteligência emocional? Daniel Goleman232, 
descreve a inteligência emocional como a capacidade de gerenciar e 
usar suas próprias emoções, bem como as emoções dos outros, propo-
sitalmente. Goleman, identifica cinco componentes para a inteligência 
emocional: autoconsciência, autogestão, motivação, empatia e habilida-
des sociais. Desenvolver essas habilidades traz imensos benefícios, pois 
as pessoas podem trabalhar de forma mais colaborativa, ajustar-se mais 
facilmente a situações desafiadoras e lidar com conflitos com mais calma. 
Estudos mostram que funcionários exemplares que exibem in-
teligência emocional tornam o local de trabalho melhor. Certo é que a 
Inteligência Emocional é uma competência de trabalho chave no mun-
do jurídico, além de ser o grande diferencial entre humanos e máqui-
nas, a IE proporciona a capacidade de se adaptar às mudanças na pro-
fissão de advogado.
231 ARISTÓTELES . Ética A Nicomaco. Livro V. Col: Coleção os pensadores. São Pau-
lo: abril cultural. 1987. p.21.
232 GOLEMAN, Daniel. O cérebro e a inteligência emocional, novas perspectivas. 
Rio de Janeiro. Objetiva, 2012, p. 15.
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Muito tem sido escrito sobre o que Mark Cohen233 chama de “cri-
se de habilidades iminente da lei”. Dentro dessa mentalidade, o direito é 
visto como uma profissão hierárquica construída sobre conhecimentos 
que somente um advogado pode compreender e aplicar. Mas os clientes 
da era digital “exigem serviços jurídicos transformados” que já não se 
enquadram neste modelo tradicional. 
Esses serviços devem ser centrados no cliente com a “capacidade 
de lidar com situações sociais complexas e tensas”. Os serviços devem ser 
multidisciplinares e “combinar direito, tecnologia, negócios, e Inteligên-
cia emocional. À medida que o trabalho jurídico se torna mais diversifi-
cado e global, sua capacidade de ser flexível e se adaptar às demandas de 
diferentes clientes depende das fortes habilidades interpessoais da inteli-
gência emocional. 
A inteligência emocional, permite que o profissional se conscien-
tize de seus próprios pontos fortes, ao mesmo tempo em que é capaz de 
sintonizar os pontos fortes e as habilidades dos outros. A abertura para 
consultar os outros pode levar à solução criativa de problemas e à apre-
ciação do valor do trabalho em equipe. Também, a IE, ajuda o profissio-
nal a desenvolver e aplicar fortes habilidades de liderança, as habilidades 
associadas à alta inteligência emocional são também as de líderes fortes 
e eficazes. 
Nesta toada, Gardner234 sugere que a autoconsciência é o pilar 
da inteligência emocional, é também a porta de entrada para o domínio 
da liderança. As características associadas à inteligência emocional per-
mitem aos líderes do mundo jurídico, gerenciar e manter uma equipe 
de associados em bom funcionamento, além de atrair e entender clien-
tes complexos. 
O profissional também pode desenvolver a perspectiva necessá-
ria para entender as emoções sem deixar que elas o dominem ou o im-
peçam de tomar as melhores decisões. Antoine de Saint-Exupéry em sua 
obra O Pequeno Príncipe prediz: É com o coração que se vê corretamen-
te; o essencial é invisível aos olhos.235.
233 RICHARD SUSSKIND E DANIEL SUSSKIND. O Futuro das Profissões: OUP Ox-
ford. 2015. p.65.
234 GARDNEr. H. Estruturas da mente: A teoria das inteligências múltiplas. Porto 
Alegre: ArtMed. 1994. p.5.
235 SAINT-EXUPERY, Antoine. O pequeno príncipe. Rio de Janeiro: Agir, 2005. p.56.
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Advogados e gerentes de escritórios de advocacia podem precisar 
olhar além das habilidades técnicas, tanto da equipe do escritório de ad-
vocacia quanto dos advogados que atuarão no escritório, para preparar a 
si mesmos e seus escritórios para o sucesso no futuro.
Embora a competência técnica seja importante, a definição do 
que significa ser tecnicamente competente provavelmente mudará. À 
medida que a IA e o aprendizado de máquina progridem, os advogados 
precisarão aprender a gerenciar e interagir com novos softwarese siste-
mas ou contratar pessoas treinadas para isso. A adaptabilidade e a resili-
ência tornar-se-ão cada vez mais críticas.
É considerável que as habilidades e comportamentos, que prova-
velmente nunca serão duplicadas pelas máquinas são aquelas exclusiva-
mente humanas. Elas incluem: Criatividade, imaginação, visão, empatia, 
julgamento, habilidades de comunicação (escrita e oral, incluindo habili-
dades de escuta), pensamento estratégico, liderança.
Ressalta-se, que embora essas habilidades sempre tenham sido 
importantes, elas se tornarão, cada vez mais importantes nos próximos 
anos, e os gerentes de escritórios de advocacia devem começar a buscar e 
cultivar essas habilidades agora mais do que nunca.
Como os computadores e a IA assumirão muitas tarefas que an-
tes eram realizadas por advogados, incluindo revisão de documentos, 
pesquisa jurídica, avaliação de casos e redação de documentos, esses as-
pectos de um escritório de advocacia se tornarão mais comoditizados. 
Como resultado, enquanto os escritórios de advocacia precisarão embar-
car na implementação de novas tecnologias, incluindo IA, apenas para 
sobreviver, para obter vantagem competitiva, os escritórios de advocacia 
também precisarão se concentrar em habilidades que não podem ser du-
plicadas por uma máquina (ou pelo menos não tão cedo).
4.4. ENFRENTAMENTOS E DESAFIOS DO HOMEM COM A INTELIGÊNCIA 
ARTIFICIAL 
Os computadores podem analisar rapidamente grandes quanti-
dades de dados e prever resultados, mas não podem avaliar o impacto 
que esses resultados provavelmente terão em clientes humanos, ou mes-
mo empresas, no mundo real. As máquinas podem ser capazes de identi-
ficar argumentos que são legalmente superiores ou com maior probabili-
dade de vitória em um determinado tribunal, mas apenas um advogado 
humano pode fornecer conselhos a um cliente.
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As máquinas não podem ter empatia, elas carecem de instinto, 
emoção e compaixão, prejudicando a capacidade de um computador de 
fazer o mesmo tipo de conexão que um humano pode fazer com outro 
humano. Como resultado, até agora a IA não demonstrou habilidade em 
escrever piadas engraçadas ou criar grandes obras de ficção. Também é 
improvável que as máquinas sejam capazes de desenvolver estratégias 
verdadeiramente novas ou criativas da mesma forma que os humanos.
É claro que o intelecto e o conhecimento especializado são im-
portantes, mas a chave está nas competências emocionais tais como auto 
percepção, a empatia e a comunicação. Assim sendo, a boa notícia a res-
peito da IE é que, ela pode melhorar ao longo da vida. De uma maneira 
favoravelmente aleatória, a vida oferece sucessivas oportunidades para 
que se afine a competência emocional. 
No curso normal de uma existência, a inteligência emocional 
tende a aumentar à medida que aprendemos a perceber melhor nossos 
estados de espírito, a lidar de forma mais apurada com as emoções afliti-
vas, a ouvir e ter empatia, em suma, à medida que amadurecemos.
É claro que o intelecto e o conhecimento especializado são im-
portantes, mas a chave está nas competências emocionais tais como auto 
percepção, a empatia e a comunicação. 
No curso normal de uma existência, a inteligência emocional 
tende a aumentar à medida que aprendemos a perceber melhor nossos 
estados de espírito, a lidar de forma mais apurada com as emoções afliti-
vas, a ouvir e ter empatia, em suma, à medida que amadurecemos.236
Enfatiza-se que um cliente ferido ou uma família em luto escolhe 
um provedor de serviços jurídicos com base em como esse provedor os 
faz sentir, não apenas se eles acham que o provedor pode obter o melhor 
resultado jurídico ou financeiro para seu caso. Como resultado, a IA pode 
ajudar os advogados recomendando estratégias legais, mas as máquinas 
provavelmente não substituirão completamente os profissionais jurídi-
cos, que dependem da sensibilidade para melhor aplicar seu trabalho.
Clientes em perigo querem um ser humano com quem, possa 
contar e que demonstre que se preocupa com o cliente, não apenas com a 
questão legal. Isso requer uma compreensão de mais do que os fatos e a lei; 
requer uma compreensão das nuances das circunstâncias e a capacidade de 
imaginar como deve ser experimentar o que o cliente está experimentando 
e o efeito a longo prazo de qualquer curso de ação escolhido.
236 VIEIRA, Paulo; SILVA, Deibson. Decifre seu talento: guia prático para acertar na 
sua escolha profissional. São Paulo: Gente. 2019, p. 181-182.
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Em síntese, um advogado humano envolvido em um negócio ou 
aconselhando um cliente, em uma disputa comercial, será mais capaz de 
ler nas entrelinhas, descobrir e avaliar questões não ditas e emoções que 
possam estar em jogo. Um advogado humano pode considerar fatores 
comerciais ou pessoais que não estão diretamente relacionados ao negó-
cio ou disputa em questão. Como esses tipos de decisões ou julgamentos 
não são puramente baseados em dados ou precedentes, mas exigem uma 
compreensão profunda da natureza e das emoções humanas, eles não po-
dem ser duplicados por máquinas. E goste ou não, muitas vezes a prática 
da lei envolve lidar com pessoas irracionais que tomam decisões que de-
safiam a lógica ou trabalham contra seus próprios objetivos declarados. 
São precisamente esses tipos de situações que exigirão um advogado hu-
mano para efetiva-las.
Neste esteio, a inteligência emocional pode ser um dos melho-
res indicadores de sucesso futuro para advogados que irão interagir com 
clientes humanos, juízes e júris, bem como com advogados e funcionários 
de seus escritórios de advocacia ou organizações. A inteligência emocio-
nal é um conceito que foi introduzido pela primeira vez em 1990 em um 
artigo dos psicólogos Peter Salovey e John Mayer e depois popularizado 
pelo autor Daniel Goleman237 com seu livro, Emotional Intelligence: Why 
It Can Matter More Than IQ.
A inteligência emocional inclui a capacidade de reconhecer e 
compreender as emoções, seus gatilhos e limitações em si mesmo ou nos 
outros, a capacidade de gerenciar as próprias emoções e influenciar as 
emoções dos outros. Requer empatia, mas também requer boas habilida-
des interpessoais, incluindo a capacidade de se comunicar e motivar os 
outros, e a capacidade de formular soluções que levem em consideração 
todas as circunstâncias possíveis.
Dessa forma, advogados que têm a capacidade de fazer uma co-
nexão humana e entender as complexas relações e emoções envolvidas 
em um caso ou transação legal, que demonstram sabedoria e bom senso, 
têm bons instintos, intuição, pessoas e habilidades de comunicação e po-
dem estabelecer relacionamento com clientes e motivar os outros estará 
em alta demanda.
Ao recrutar e contratar, os líderes dos escritórios de advoca-
cia devem procurar candidatos que tenham demonstrado possuir essas 
237 SALOVEY, P., & MAYER, J. D. Emotional intelligence. In Imagination, Cogni-
tion, and Personality. 1990. p.185-211.
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qualidades e devem trabalhar para cultivar essas qualidades em seus fun-
cionários existentes. Essas habilidades não apenas ajudarão os advogados 
a se conectarem com os clientes e desenvolverem estratégias jurídicas 
eficazes, mas também ajudarão os advogados a se adaptarem ao cenário 
jurídico em rápida mudança e liderar seus escritórios no futuro.
A aceitação, da inteligência emocional como um atributo para a 
profissão jurídica, ainda encontra muitas resistências, mas também tem 
recebido muito apoio científico. Nesse sentido, a inteligência emocional 
surge como uma forma alternativa de explicação à natureza da inteligên-
cia, integrando-se ao grupo das habilidades mentais consideradas emer-
gentes. Essas habilidades emergem das teorias que têm reivindicado uma 
reformulação da compreensão clássica da inteligência como uma capaci-
dade geral.
Neste esteio, importante trazerà baila que, a regulação emocio-
nal significa que você pode fazer uma pausa entre experimentar um sen-
timento e escolher uma reação. Quando nos regulamos emocionalmente, 
desaceleramos por um momento após um estímulo emocional e pensa-
mos nas coisas, fazemos um plano e avaliamos objetivamente o que está 
acontecendo ao nosso redor.
A regulação emocional também significa que podemos controlar 
nossos pensamentos, sentimentos e ações a serviço de nossos objetivos de 
longo prazo. Podemos pensar antes de agir ou falar. Podemos construir 
resiliência emocional e agir de maneira consistente com nossos valores e 
objetivos, não apenas ao sabor de nossas emoções.
Nota-se, que os advogados geralmente têm personalidades impo-
sitivas e fortes. São profissionais treinados para defender a própria pers-
pectiva, treinados para não errar, para vencer. Mas a labuta do dia a dia, 
revela-se diferente.
Nessa perspectiva, os advogados não podem fazer seu melhor 
trabalho sem ter seu cérebro pensante totalmente ativado. Sem habilida-
des de regulação emocional, seu cérebro corre o risco de ser dominado 
por emoções fortes a cada momento, desligando seu maior ativo profis-
sional, que é o seu pensamento e habilidades analíticas, arriscando seus 
relacionamentos profissionais e bem-estar pessoal.
Nesta continuidade, ressalta-se a importância da regulação emo-
cional, todos os dias, enfrentamos centenas de situações, grandes e peque-
nas, que podem criar emoções. Quando se tem as habilidades de regulação 
emocional, se torna mais simples, lidar com essas situações de maneira 
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muito mais intencional. De fato, estudos238 mostraram uma correlação po-
sitiva significativa entre a regulação emocional e o manejo da depressão. O 
mesmo vale para a ansiedade, pessoas com níveis mais baixos de ansiedade 
demonstram maior regulação emocional e inteligência emocional.
Salienta-se, uma pessoa que é emocionalmente regulada tem um 
melhor julgamento de seus sentimentos e ações. Quando temos regula-
ção emocional, podemos julgar quais resultados seriam melhores e como 
melhor alcançá-los. Com a regulação emocional, podemos ajudar o fluxo 
inicial de emoções a se acalmar antes de reagirmos.
Quando podemos aumentar o intervalo de tempo entre a circuns-
tância ou estímulo que causa nossa emoção, e a resposta, podemos aumen-
tar nosso pensamento e raciocínio racionais. Não apenas faremos escolhas 
melhores, mas também não sentiremos a intensa onda de medo, ansieda-
de, raiva, frustração, tristeza ou angústia que afeta muito nosso bem-estar 
mental e emocional, levando a erros profissionais, e desafios interpessoais.
Aqui está o superpoder da regulação emocional: se a pessoa 
quer ser um bom advogado, deve saber quando e como expressar suas 
emoções. Às vezes, será apropriado expressar suas emoções no momen-
to, mas geralmente faz mais sentido esperar que as emoções se acal-
mem em todos os envolvidos antes de reagir. E, para algumas situações 
e emoções, você escolherá sabiamente nunca reagir, mas processar as 
emoções em particular.
A habilidade de regulação emocional permite que a pessoa se 
modere, controle suas emoções e escolha a reação certa no momento cer-
to. Como advogado, isso permite que o profissional se comunique com 
calma em situações estressantes, analise objetivamente as informações e 
os dados que chegam, em vez de reagir emocionalmente.
Pesquisadores 239afirmam, muitos são benefícios da regulação 
emocional, como por exemplo: Alinhamento entre ações e valores, cons-
trução de comunicação aberta entre o profissional, clientes e outros, per-
sistência e resiliência em tempos difíceis, encontrar o bem nos outros e 
nas situações, pensamento flexível e adaptável, concentração em intenções, 
objetivos e resultados desejados, Aprender com os desafios, passar de um 
estado de espírito negativo para um positivo, autoconfiança e autoestima.
Destarte que a regulação emocional pode se tornar uma das fer-
ramentas mais importante para a profissão do advogado. Nem todos se 
238 O Futuro das Profissões: Richard Susskind e Daniel Susskind, OUP Oxford 2015. p. 16.
239 BETTELHEIM, B. A psicanálise dos contos de fada. São Paulo: Paz e terra, 2010. p.8.
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importam, porque é difícil de adquirir e requer prática. É muito mais 
fácil simplesmente perder o controle, mas as recompensas são enormes 
quando você pode regular e gerenciar suas emoções de maneira saudável 
e produtiva.
Além disso, como destaca o Relatório do Fórum Econômico Mun-
dial240 sobre a Revolução da Requalificação, há uma necessidade crítica e 
generalizada de requalificação e aprimoramento para antecipar o avanço 
da tecnologia e se adaptar a novos papéis e formas de trabalho. A requalifi-
cação envolve aprender novas habilidades e competências para novas fun-
ções em potencial e a requalificação envolve aprender novas habilidades e 
competências para progressão na carreira dentro da mesma função.
Muitas tarefas que os advogados faziam no passado, como pes-
quisa jurídica, revisão de contratos e, até mesmo, avaliar as perspectivas 
de sucesso em uma disputa, podem hoje ser realizadas ou facilitadas pela 
tecnologia. Como Richard e Daniel Susskind241 apontam em seu livro The 
Future of the Professions, máquinas cada vez mais capazes invadem im-
placavelmente as tarefas realizadas por advogados e outros profissionais 
e, com o tempo, nenhuma tarefa está fora dos limites.
Olhando para este imperativo de qualificação de um ângulo di-
ferente, tem havido muitos estudos que confirmam a importância crítica 
para os advogados desenvolverem habilidades e competências não jurí-
dicas. Por exemplo, o estudo The Foundations For Practice: The Whole 
Lawyer nos EUA,242 baseado em pesquisas com mais de 24.000 advoga-
dos, descobriu que características e competências eram mais importantes 
do que habilidades técnicas jurídicas. Como o relatório afirma: 
Não precisamos mais nos perguntar do que os advogados preci-
sam. Sabemos o que eles precisam e eles precisam mais do que 
pensávamos. A inteligência, por si só, não é suficiente. Habilidades 
jurídicas técnicas não são suficientes. Exigem um conjunto mais 
amplo de características, competências profissionais e habilidades 
jurídicas que, em conjunto, produzem um advogado completo. 
240 Susskind Richard. Daniel. The Future of the Professions: How Technology Will 
Transform the Work of Human Experts. 2015. p.2
241 The BARBRI Group, State of the Legal Field Survey. Disponível em: http://www.
thebarbrigroup.com/files/whitepapers/220173_bar_research-summary_1502_v09.
pdf. 2015. Acesso em: 03. jun.2022.
242 William D. Henderson. Competências e Comportamentos de Advogado de Suces-
so , em Qualidades Essenciais do Advogado Profissional.. Haskins, ed. 2013. p.5.
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De acordo com os pesquisadores, com uma maior ênfase em uma 
abordagem mais completa para a formação de advogados, a advo-
cacia proporcionará aos seus clientes um melhor serviço em um 
ambiente mais diversificado, inclusivo e saudável.
Em consideração ao exposto, é evidente que o futuro do trabalho 
e da força de trabalho está enfrentando mudanças drásticas, impulsiona-
das por tecnologia, globalização, demografia, valores sociais e expectati-
vas dos participantes da força de trabalho. Evidente, que durante muito 
tempo, na área do direito, simplesmente conhecer a lei era o único requi-
sito para os advogados prestarem serviços jurídicos. Esses dias acabaram.
Em um mundo em constante mudança e ritmo acelerado, atu-
almente é uma visão amplamente reconhecida de que simplesmente co-
nhecer a lei, por mais bem que seja, é essencialmente insuficiente para 
alguém que espera ingressar no trabalho jurídico. Hodiernamente, os ad-
vogados estão, mais do que nunca, sendo solicitados a vir equipados com 
uma nova compreensão dos negócios, do setor jurídico,da tecnologia e, 
especificamente, juntamente com uma série de habilidades e habilidades. 
Eventualmente, que o sistema legal e, portanto, o trabalho do ad-
vogado mudará porque a tecnologia está nos permitindo a capacidade 
de resolver problemas de uma nova maneira. Por exemplo, espera-se que 
haja muito menos casos julgados em um tribunal tradicional e, portan-
to, haverá menos necessidade de advogados que pleiteiem em nome de 
clientes em um tribunal.
Nesta toada, cada vez mais os clientes precisam de respostas co-
laborativas, muitas vezes interdisciplinares, aos seus problemas. Assim, a 
assistência Jurídica, deve incluir conhecimento multidisciplinar, capaci-
dade técnica, sempre agregando a inteligência Emocional. Os advogados 
têm a opção de competir com os sistemas de inovação, ou aderi-los, tor-
nando-os inerentes à profissão.
Com presteza, o advogado deve se auto conhecer, entender a ges-
tão das emoções internas, a auto gestão gera o domínio sobre as ações, e 
consequentemente habilidades, motivação, e empatia. 
Ressalta-se, a competência social, que é o quanto que se conhece 
de comportamento humano, contribui drasticamente para o profissio-
nal atual. As habilidades comportamentais, emocionais, é extremamente 
valorizada no mercado contemporâneo. Essa expansão da consciência, 
proporciona para o profissional, um destaque extraordinário, superando 
inclusive o conhecimento técnico. 
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NATUREZA MUTÁVEL DO DIREITO E DA PROFISSÃO 
DO ADVOGADO
A lei, uma profissão notoriamente avessa ao risco, agora en-
frenta uma transformação em resposta à tecnologia emergente. Certo 
é, aqueles que desejam permanecer relevantes em suas profissões preci-
sarão se concentrar em habilidades e capacidades que a inteligência ar-
tificial tem dificuldade em replicar e compreender, motivar e interagir 
com os seres humanos.
Novos modelos de competência devem refletir esses novos pa-
péis e se concentrar não apenas em aprender a pensar como um advoga-
do e dominar a doutrina jurídica, mas em usar a tecnologia para tomar 
decisões e prever resultados, bem como obter a inteligência emocional 
para trabalhar efetivamente com os clientes e ajudá-los entender como 
essas decisões e tecnologia podem impactar o caso do cliente.
As mudanças que ocorrem no campo dos serviços de informação 
jurídica se encaixam em uma imagem maior de digitalização e disrupção. 
No entanto, os serviços de informação jurídica, e os serviços jurídicos em 
geral, têm as suas próprias particularidades, pelo que a adoção de novas 
tecnologias e novas formas de trabalhar têm sido um pouco diferentes em 
relação a algumas outras áreas de negócio. 
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Nos últimos tempos, consideráveis transformações tecnológicas, 
impulsionaram a mudança dos meios e forma de trabalho dos advoga-
dos. Assertivamente, explica Richard Susskind:
No passado, os advogados se comunicavam com os clientes por 
telefone, pessoalmente, por fax[,] ou por carta. Os advogados nor-
malmente, armazenavam as confidências dos clientes em papel, 
geralmente dentro de armários de arquivo trancados, atrás de 
portas trancadas de escritórios[,] ou em instalações de armaze-
namento externas. Mesmo quando as informações confidenciais 
do cliente eram mantidas eletronicamente, as informações eram 
armazenadas em computadores desktop que permaneciam na 
empresa ou em servidores normalmente localizados no mesmo 
escritório. Hoje, os advogados se comunicam regularmente com 
os clientes eletronicamente, e as informações confidenciais são ar-
mazenadas em dispositivos móveis, como laptops, tablets, smar-
tphones e pen drives, bem como em escritórios de advocacia e 
servidores de terceiros (ou seja, na “nuvem”) que são acessíveis de 
qualquer lugar Essa mudança trouxe muitas vantagens para os ad-
vogados e seus clientes, tanto em termos de custo quanto de con-
veniência. No entanto, como o dever de proteger essas informa-
ções permanece independentemente de sua localização, surgiram 
novas preocupações sobre a segurança dos dados e as obrigações 
éticas dos advogados de proteger a confiança dos clientes.243
Assim, percebe-se que a competência e diligência do advogado 
em se ajustar as transformações, sociais, tecnológicas, e do direito. Mister 
se faz, os profissionais utilizarem a tecnologia para conduzir de forma 
mais eficiente a manter-se atualizado na lei, mas também nos benefícios 
e riscos associados à tecnologia relevante do advogado na sociedade. 
A lei, como muitos outros campos, está lutando com o futuro da 
profissão e como o avanço da tecnologia irá impactá-la. Muitos profis-
sionais temem que os robôs possam fazer o trabalho de um advogado, 
evocam pesadelos distópicos de um futuro onde autômatos algorítmicos 
governam o mundo. 
Na realidade, a tecnologia é e será mais provável de melhorar o 
trabalho dos humanos, não substituí-lo inteiramente. Richard Susskind244 
243 SUSSKIND, Richard. Advogados de amanhã : uma introdução ao seu futuro. 2. 
ed. Oxford: Oxford University Press, 2017. p.25.
244 SUSSKIND, Richard. Advogados de amanhã : uma introdução ao seu futuro. 2. 
ed. Oxford: Oxford University Press, 2017. p.48.
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escreveu muitos livros destacando a inevitável transformação que ele vê 
na profissão de advogado, experiência jurídica do advogado, separando 
essas partes díspares, os advogados podem efetivamente usar a tecnologia 
para lidar com esses aspectos replicáveis do trabalho jurídico e, em segui-
da, concentrar-se nos elementos mais criativos e complexos do caso de 
um cliente. A prática da advocacia, algumas tecnologias, como o uso de 
inteligência artificial, perturbarão não apenas o mundo dos advogados, 
mas também toda a percepção comum do processo legal.
A probabilidade de substituição de um advogado por um dis-
positivo de IA, dependerá do tipo de serviço que oferece. Se o advogado 
for um profissional que exerce direito tradicional, seu futuro profissio-
nal certamente será de substituição. Mas os profissionais que, em além 
de exercer as atividades tradicionais de um advogado, são capazes de se 
adaptar a outras funções relacionadas ao diálogo e negociação, participa-
ção no desenvolvimento de novas ferramentas digitais e o entendimento 
de questões juridicamente relevantes que são muito mais complexas do 
que as apresentadas por os litígios mais comuns, considerará a IA uma 
importante ferramenta de auxilio e não de substituição.
Os advogados devem ser resilientes, e encontrar na IA, soluções 
para ajudá-los a serem mais produtivos e eficientes, um melhor acesso à 
informação jurídica facilita o acesso à justiça, que por sua vez é impor-
tante para todos como parte crítica do Estado de Direito. 
Destarte, como vive-se em uma era de transbordamento de in-
formações, os produtores de informações jurídicas têm um papel mais 
importante do que nunca. A quantidade crescente de informações torna 
crucial a criação de soluções confiáveis e que economizem tempo. É por 
isso que os serviços de informação jurídica têm um papel significativo 
para toda sociedade. 
Consequentemente, os aplicadores do direito devem reagir com 
resiliência diante de mudanças cada vez mais rápidas. O advento da tec-
nologia mudou muitas indústrias para um nível totalmente novo. O setor 
jurídico é um deles. O direito como regulador da sociedade é sujeito as 
transformações. Em um nível macro, a tecnologia é apontada como um 
dos três principais impulsionadores da mudança no mercado jurídico 
que transformará o cenário jurídico internacionalmente.
No momento, a IA na prática da advocacia é mais uma oportu-
nidade do que uma ameaça, com os pioneiros fornecendo serviços jurí-
dicos mais eficientes e econômicos para um portfólio em expansão de 
clientes existentes e potenciais.
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Nesta conjunção, o uso da IA no direitoPROVA V
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habilidades animais, como não poder voar, não ter força e velocidade 
como certos animais. É repreendido por Zeus, que afirma as habilida-
des verbais e de raciocínio do homem. 
Vários outros autores latinos (Cattulus, Horácio e Propércio) 
confirmam que Prometeu é o criador da humanidade, um mito pode-
roso, destacado por vários escritores. Mas há mais um dado importante, 
Prometheus definirá impiedosamente o destino das condições da Hu-
manidade. Prometeu dará fogo à humanidade, representando a arte da 
tecnologia que permite aos mortais superar limitações do ciclo natural. 
Titãs são descritos como benfeitores e protetores da humanidade. Ele 
pode dar-lhes acesso à tecnologia; como medicamentos, terapia, adivi-
nhação, o conhecimento dos sonhos, e todas as artes domine a natureza 
através do trabalho8.
A tragédia humana está enraizada em sua experiência de sobre-
vivência através do trabalho, melhorando-se com ‘suor no rosto’ de sua 
miséria, pela sabedoria. Sem dor, a sabedoria não pode ser alcançada. 
Até este momento, o mundo está cheio de Deuses, seres e pessoas, não 
se afirmar uma palavra sobre máquinas artificiais que podem imitar 
o comportamento humano. A primeira menção de servos mecânicos 
aparece na obra de Homero, no século VIII AC, na Ilíada. A primeira 
menção de um autômato aparece na maravilhosa criação de Hefesto, 
o ferreiro dos deuses, que cita fundição, invenção e tecnologia. Diz a 
lenda que ele construiu um magnífico palácio de bronze com inúmeros 
servos mecânicos. Hefesto prometeu fazer armas para Aquiles, ele fez, 
ladeado por autômatos. 
Os servos mecânicos de Vulcano são capacitados, a palavra, mais 
impressionante, é “mente”. A palavra autômato virá do grego: “através de 
próprio”9, um mecanismo movido por seu próprio “motor”, diferente de 
um mecanismo que imita os seres vivos, mas é manipulado por huma-
nos, os humanos exibem imitação. Teatros gregos conhecem exemplos de 
máquinas que simulam a aparência de personagens, esta conspiração foi 
resolvida, então eles são diferentes de outros simuladores operados por 
humanos, como fantoche. 
8 0 AZAMBUJA, Celso Candido. Prometeu: a sabedoria pelo trabalho e pela dor. 
Archai, n. 10, jan.-jul. 2013, p. 19-28.
9 BERRYMAN, S. Ancient automata and mechanical explanation. Phronesis-A 
Journal for Ancient Philosophy, v. 48, n. 4, 2003, p. 344-369.
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Apolônio de Rodes (c. 295-215 AC) disserta sobre um gigante de 
bronze chamado Talos que guarda a ilha Creta. Talos é uma das criações 
de Hefesto, mas, ao contrário da empregada mecânica dourada, o gigan-
te de bronze mostra um rosto preto, uma imitação artificial do homem 
avassaladora, seu objetivo era defender Creta dos piratas.10 
Na mitologia grega, Talos apareceu ao lado de inúmeras outras 
criaturas. Protegia a cidade de criaturas estranhas e demônios, como 
Minotauro ou Medusa, dos invasores. Ele contém um líquido dourado 
sagrado, o “pus”, que existe no sangue dos deuses, circula por seu corpo 
por meio de uma artéria. Isso faz com que se pergunte se Talos é imor-
tal, sensível, mesmo tendo uma alma. Muitas questões foram levantadas, 
bem como críticas filosóficas. 
O conceito filosófico de autômatos não ocorreu originalmente 
para analisar máquinas ou tecnologia, como Talos ou servos, a cabeça 
dourada de Hefesto, mas um estudo de animais não humanos. A pro-
blemática dos humanos é demarcar limites com outras criaturas vivas, 
especialmente animais de vida longa. O estudo mais importante e mais 
citado no qual o termo autômato é mencionado pela primeira vez apare-
cerá no comentário de Aristóteles11 em seus escritos da Metafísica, em “ta 
automata ton thaumatôn” (autodisciplina como nos fantoches).
Ao se referir ao movimento do autômato, o autor retrata criaturas 
que ostensivamente se movem por seus próprios motores, mas como ma-
rionetes ou fantoches, movem-se sem motivo Interno. Para Aristóteles, 
a natureza, o próprio princípio do movimento e sua essência, distinguir 
criaturas baseadas em movimento ou crescimento são um critério pos-
sível, porque este importante sinal que a humanidade está enfrentando 
todos os outros seres. As comparações aristotélicas demonstram que ani-
mais funcionam como se fossem mecânicos, uma espécie se destaca de 
sua visão mecânica. As duas diferenças mencionadas pelo autor são seu 
movimento voluntário e capacidade reprodutiva.
Em De generatione animalium (História dos Animais), Aristóte-
les apresenta a especificidade do ser humano, animais que se movimentam 
intencionalmente. Eles agem organicamente quando influenciados pelo 
comportamento externo e intencionais quando agem voluntariamente. O 
10 MAYOR, Adrienne. Gods and robots: myths, machines, and ancient dreams of te-
chnology. Princeton: Princeton University Press, 2018. p. 19.
11 REALE, Giovanni. Ensaio Introdutório. In: ARISTÓTELES. Metafísica. Ensaio 
Introdutório, texto grego com tradução e comentário de Giovanni Reale. Tradução 
de Marcelo Perine. São Paulo: Loyola, 2001.p.02.
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homem, estranhamente, continua sendo um sujeito moral, porque ele é 
atencioso para alcançar seu propósito, o termo aparecerá nos parágrafos 
da obra de generatione animalium, lidar com o movimento de causas 
internas em vez de externas:
É possível que este mova outro, este ainda outro, e que se pas-
se como nos fantoches (ta automata tôn thaumatôn). As partes 
em repouso, em certo sentido, possuem uma potência, e quando 
algo do exterior move a primeira destas, a seguinte logo se põe 
em atividade. Assim como nos fantoches, algo de algum modo 
desencadeia o movimento sem tocar em nada neste momento, 
mas tendo tocado antes, do mesmo modo também age aquele 
de quem provém o esperma ou que produziu o esperma, ten-
do antes tocado algo, mas agora não o tocando mais. De certo 
modo, o movimento que existe internamente é como o processo 
de construção da casa.12
Aristóteles afirma que a capacidade de pensar é profunda e ex-
clusivamente humana. O autor declara, no segundo volume de Dege-
neratione animalium, que a “Natureza é particularmente evidente em 
outras criaturas não-humanas, não atuaram pela arte, nem porque es-
tudaram, nem intencionalmente”. Aristóteles politicamente apresentou 
três características únicas do ser humano: fala, caráter moral e comuni-
cação, a ética diferenciará suas ações por percepção. A comunicação faz 
casas e cidades. Por analogia com o risco de expansão, pode-se inferir 
que Aristóteles distingue humanos de animais e possivelmente de au-
tômatos pelas seguintes razões: I) Os humanos se movem pensando em 
um fim; II) dotado de fala; III) são agentes ético moral IV) se comunica. 
Todos esses recursos são igualmente relevantes e indiscutíveis13. 
A ciência e a filosofia contemporâneas estão debatendo se as má-
quinas podem se mover de forma autônoma, além de se é possível a co-
municação. Observa-se que o mais relevante é se elas podem tomar deli-
beração ética, ou seja, a possibilidade filosófica de autômatos se tornarem 
agentes morais artificiais, aproximando-se dos humanos.14
12 ARISTÓTELES. De generatione animalium I, 22, 730b. 2014. p. 11-23.
13 ARISTÓTELES. De generatione animalium I, 22, 730b. 2014. p. 11-23
14 MARIZ, Débora. A especificidade da natureza humana em relação aos demais 
animais no pensamento aristotélico. Argumentos, Fortaleza, ano 6, n. 12, 2014, p. 
157-168.
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A teoria moderna dos autômatos começa com René Descar-
tes15, obviamente, o autor estava familiarizado com interessantes e 
complexas máquinas em sua época, na Europa, encantando e pertur-
bando a corte, mas não se importando particularmente com o fenô-
meno. Seus principais projetos são a reforma da ciência e da filosofia, 
reposicionando interesses filosóficos em debates acadêmicos sobre 
ontologia, metafísica e teologiaé uma evolução, não uma 
revolução. Não obstante, a IA já está transformando praticamente todos 
os negócios e atividades com os quais os advogados lidam, alguns de for-
ma mais rápida e dramática do que outros, e a profissão jurídica não será 
poupada dessa mudança disruptiva.
A incorporação da IA nos sistemas e operações de um escritó-
rio de advocacia é um processo de aprendizado gradual, portanto, adotar 
essas mudanças e implementar nos escritórios é uma vantagem sobre as 
empresas que estão atrasadas na adoção da tecnologia. 
Os advogados, escritórios de advocacia e empresas que não en-
trarem no movimento da IA serão eventualmente, deslocados. A inteli-
gência artificial está mudando a maneira como os advogados pensam, 
fazem negócios e interagem com os clientes.
5.1. REVOLUÇÕES E INDÚSTRIA 4.0 
Exponencialmente a cada dia vem ocorrendo no mundo, um 
avanço tecnológico, jamais visto. Todas as áreas do conhecimento, estão 
sentindo o impacto das inúmeras tecnologias, poderosíssimas como o Big 
Data e o machine learning, ou seja, vive-se a era da inteligência artificial.
 O impacto das novas tecnologias, é imensurável, veja-se, os ex-
ponenciais na longevidade do ser humano, a 50 anos atrás, vivia-se em 
média 50 anos, hoje 70 anos, depois, estamos falando de 70, 80, 90, a até 
mesmo em muitos países é muito comum centenários, salienta-se que é a 
criança que vai viver 120 anos, acaba de nascer em 2022. 
 O grande desafio, é a parte mental do ser humano, que será des-
provida do conforto das condições atuais, e para que se possa viver todas 
as condições mais saudáveis possíveis, realmente suportarmos uma vida 
saudável e produtiva os próximos 30, 40, 50 anos que a ciência nos deu de 
presente, teremos que se atentar a condições mentais humanas. 
A tecnologia oferece uma oportunidade inovadora para me-
lhorar a consciência social e a autoconsciência das pessoas por meio 
de reconhecimento e interpretação aprimorados por máquinas de 
comportamentos humanos. Os dados nas quantidades em que estão 
disponíveis hoje são, de fato, uma mercadoria inteiramente nova, e 
as regras sobre como são armazenados, tratados e usados ainda estão 
sendo escritas.
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Neste esteio, preceitua Urich Beck:
Os avanços desenfreados das novas tecnologias no campo digital 
colocam em xeque as velhas perspectivas não somente no campo 
da ética e do Direito, mas de toda a sociedade, implicando em uma 
verdadeira metamorfose do mundo, onde “velhas certezas da hu-
manidade estão desaparecendo e algo totalmente novo emerge.245
Hodiernamente, fica cada vez mais difícil acompanhar as mu-
danças que estão acontecendo com uma velocidade maior do que a nossa 
capacidade de absorver. Principalmente para quem é do período analógi-
co e viveu boa parte da vida sem tecnologia, se vê exposto.
Há tantas oportunidades e opções, a sociedade em geral o ser hu-
mano individualmente também está reagindo e vai reagir em face desse 
tsunami tecnológico que está mudando toda maneira nossa de viver, de 
fazer comércio, de relacionar, de se comunicar com outras pessoas. 
Estas inovações se enquadram no que Wolfgang Hoffmann-Riem 
denomina de “processo de digitalização” das áreas da vida, tais como as 
comunicações públicas e privadas, a economia, a cultura e a política. Este 
processo de digitalização não trata somente das infraestruturas de sof-
tware hardware atualmente desenvolvidas e aplicadas, mas também dos 
impactos representados pela mudança nas condições de vida decorrentes 
da utilização das novas tecnologias em todo o mundo: fator responsável 
por reformular as relações de influência e poder.246
O avanço tecnológico é a grande demonstração do poder huma-
no de transformar algo que já existe em melhor. Uma ferramenta, muitas 
vezes, considerada quase que banal pode dar condições para uma nova 
e revolucionária maneira de se fazer uma coisa, antes considerada extre-
mamente difícil de se executar. 
Para Tercio Sampaio Ferraz Junior, a terceira revolução indus-
trial, significa que mais e mais dispositivos eletrônicos substituem as má-
quinas miniaturizado como uma unidade de fusão de tecnologia. Para 
ele, significa mudanças na topologia do mundo ambiental, como espa-
ços de fabricação que começam a perder importância: Em seu lugar está 
um novo tipo de relacionamento humano, o relacionamento Dispositivo 
245 BECK, Ulrich. Metamorfose do mundo: novos conceitos para uma nova realidade. 
Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Zahar, 2018, p. 15. 
246 HOFFMANN-RIEM, Wolfgang. Teoria geral do direito digital: transformação di-
gital: desafios para o Direito. Rio de Janeiro: Forense, 2021, p. 1-2.
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humano-eletrônico, que, por um lado, depende da relação é reversível: 
uma pessoa leva seu aparelho consigo onde quer que esteja; de outra, 
funciona apenas de acordo com a capacidade do seu dispositivo. Nesta 
reversibilidade, suas atividades dependem das atividades uns dos outros 
de maneiras diferentes: nem mecânico nem orgânico, mas em rede.247
Normalmente não se trata de um simples processo, visto que na 
grande maioria das vezes a tecnologia atua sobre determinada questão 
que já existe. Apenas carece de melhorias, isto é, há um processo, ele pos-
sui uma dificuldade para ser feito e, com uma inovação aquilo se torna 
mais fácil.
A tecnologia, principalmente na Revolução Industrial, começa 
a ganhar espaço vital no trabalho do homem. Ela deixa de ter um papel 
secundário, antigamente era comum procedimentos de melhorar apenas 
uma ferramenta. E passa a ter um papel estratégico com os processos 
produtivos. Aqui o embrião de substituir mão-de-obra humana por má-
quinas faz com que nasçam as grandes fábricas e indústrias.
A respeito desse momento histórico, é interessante citar a refle-
xão de Paulo Bastos Tigre:
A revolução industrial constitui um divisor de águas na histó-
ria econômica do Ocidente, dados seus impactos sobre o cres-
cimento da produtividade. Desde meados do século XVIII ob-
servam-se sucessivas ondas de inovações obtidas por meio da 
introdução de máquinas e equipamentos, de novas formas de 
organização da produção e do desenvolvimento de novas fontes 
de materiais e energia.248
Percebe-se que a tecnologia passa estar em uma espécie de espi-
ral, pois uma melhoria traz o gatilho para outra que fará sucessivamente 
com outras em um grande processo.
A informação desempenha um papel importante na vida social, 
economia. Com o surgimento das máquinas inteligentes, as informações 
serão mais aprofundadas. Interpenetração, sobreposição, equivalência, 
247 FERRAZ JUNIOR, Tercio Sampaio. Direito e realidade: a erosão do real jurídico 
pelo mundo virtual. In: FERRAZ JUNIOR, Tercio Sampaio. O direito entre o fu-
turo e o passado. São Paulo: Noeses, 2014, p.36-37.
248 TIGRE, Paulo Bastos. Gestão da Inovação: a economia da tecnologia no Brasil. 7. 
tiragem. Rio de Janeiro-RJ: Ed. Elsevier, 2006, p.17.
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informação, conhecimento, cultura e comunicação não ocorrem com 
menos frequência.249
De acordo com Chiavenato, analisando momentos dos avanços 
tecnológicos, já no final do século XVIII, o surgimento da máquina de 
escrever foi o início para uma modificação sensível no modo de produzir 
em escritórios. Seguindo a cronologia tem-se a invenção do telefone que 
no final do século XIX permite a expansão e a descentralização das orga-
nizações rumo a novos e diferentes mercados. 
Como exemplo de itens, temos o navio, o automóvel, o avião 
proporcionou uma expansão sem precedentes nos negócios mundiais. O 
desenvolvimento tecnológico sempre constituiu a plataforma básica que 
impulsionou o desenvolvimento das organizações e permitiu a consoli-
dação da globalização.250
Basicamente é romper o status quo existente, quebrando condi-
ções já sacramentadas, para começar algo diferente. O novo, empara considerar o conhecimento, as 
ideias, a subjetividade e Consciência.
Descartes é chamado o primeiro cientista cognitivo16, por seus 
vários estudos da mente. No entanto, sua tese sobre a separação absoluta 
entre mente e cérebro que desencadeou o debate, gerou burburinho entre 
cientistas e filósofos que tratavam do assunto inteligência artificial. O radi-
calismo dos seus escritos originam-se de pressupostos bem estruturados.
Reações adversas às teorias do autor, resultaram de leituras par-
ciais de suas obras ou simplesmente por mal-entendido ou preconceito, 
por vezes acusado de ser responsável por crueldade ou tratamento indus-
trial de animais.
No livro Discurso do Método, Descartes traz hipótese de dú-
vidas metodológicas e por que devemos duvidar de todas as coisas, 
especialmente materiais e nos sentidos (“tudo que aprendi, até agora, 
como o mais verdadeiro e seguro, aprendi através dos sentidos: “Bem, 
às vezes eu entendo esses sentidos como enganador, é prudente nun-
ca acreditar plenamente naqueles que já nos enganaram uma vez”).17 
Em seguida, ele afirma que, dada a liberdade de pensamento, duvide 
de todas as coisas materiais, perceba que é impossível não existir a 
mente. Isso prova que a natureza da mente e do corpo são completa-
mente diferentes. Os factos confirmaram-no, nomeadamente o corpo 
é divisível, mas a mente é indivisível, porque não podemos imaginar 
metade do espírito.
Descartes rompeu diretamente com Aristóteles, que reivindicou 
que todo o corpo vivo tem uma alma, e há indícios necessários entre os 
dois. Não há um sem o outro. O corpo é a estrutura da Alma:
15 TEIXEIRA, João de Fernandes. O pesadelo de Descartes: do mundo mecânico à 
Inteligência Artificial. Porto Alegre: Editora Fi, 2018, p. 34.
16 CHIAROTTINOI, Zelia Ramozzi; FREIRE, José-Jozefran. O dualismo de Descartes 
como princípio de sua Filosofia Natural. Estudos Avançados, v. 27, n. 79, 2013, p. 158. 
17 DESCARTES, René. Meditações sobre a Filosofia Primeira. Tradução de Fausto 
Castillo. Campinas: Unicamp, 2004. p. 118.
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Esforçam-se apenas, todavia, por dizer que tipo de coisa é a alma; 
acerca do corpo que a acolhe, nada mais definem, como se fos-
se possível, de acordo com os mitos pitagóricos, que uma alma 
ao acaso se alojasse em qualquer corpo. É que cada coisa pare-
ce possuir forma específica – quer dizer, estrutura – própria. Eles 
exprimem-se, no entanto, como se se dissesse que a técnica do 
carpinteiro se alojou nas flautas: é preciso, pois, que a técnica use 
as suas ferramentas, e a alma o seu corpo.18
Para Descartes, era preciso afastar-se dessa compreensão filosó-
fica da unidade. É indispensável fazer distinção clara entre corpo e alma, 
para entender o mundo. Descartes afirma “A principal diferença entre as 
criações que observei é que alguns são intelectuais, ou seja, matéria inte-
ligente, ou atributos que pertencem a tal matéria; outros são tangíveis, ou 
seja, corporais, ou bens pertencentes ao corpo”.19 
Cada um tem uma propriedade, a própria alma tem a mente, e 
o corpo tem a extensão. A diferença existe um absoluto entre corpo e 
alma, e um pode existir sem o outro “Minha alma, por que sou quem sou, 
totalmente e verdadeiramente diferente do meu corpo e ela pode existir 
ou existir sem ele”.20 O dualismo contemporâneo será uma variedade de 
sucessores e legados. A contribuição de Descartes.
Os escritos de Descartes e seus pressupostos nos levam a acre-
ditar que a mente não pode ser mecânica porque é indivisível e não 
pode ser decomposta, em partes, também não é uma parte essencial ou 
necessária do corpo mecânico. As partes divisíveis da máquina podem 
ser divididas, reconstituídas e recombinadas, ou replicadas. A mente 
não pode ser duplicada. Os seres humanos podem criar mecanismos 
complexos, como relógios ou outras maravilhas da engenharia, mas 
nunca máquinas que replicam a mente humana. Em teoria, isso exigiria 
que uma substância replicasse uma substância completamente diferen-
te. Descartes, ainda rompeu com a tradição de distinguir os seres vivos 
das máquinas. Para ele, todos os corpos são máquinas as criaturas são 
18 ARISTÓTELES. Sobre a Alma. I, 3, 407. Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2020. 
p. 47.
19 DESCARTES, René. Meditações sobre a Filosofia Primeira. Tradução de Fausto 
Castillo. Campinas: Unicamp, 2004. p. 111. (Coleção Multilíngues de Filosofia).
20 DESCARTES, René. Meditações sobre a Filosofia Primeira. Tradução de Faus-
to Castillo. Campinas: Unicamp, 2004. p. 111. (Coleção Multilíngues de Filosofia). 
2004. p. 112. 
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corpos sem espíritos, ou seja, nada mais são do que máquinas vivas ou 
máquinas animais.21
Descartes respondeu que deveríamos usar testes para identificar 
a existência de “indivíduos reais”. Quais são esses testes importantes e 
necessários? A primeira é o uso da linguagem, a capacidade de responder 
em relação a tudo o que foi dito na presença deste ser, como ele consegue 
expressar seus pensamentos com competência.
O teste de Descartes seria uma versão posterior prevista por Alan 
Turing. Mas e se as máquinas pudessem imitar a capacidade de responder 
de forma semelhante aos humanos? E se ela passasse no teste de Descar-
tes? E se as habilidades fossem semelhantes?
O segundo teste seria a incapacidade do autômato de possuir co-
nhecimento prático ou abrangente. Considere a afirmação de Descartes: A 
segunda é que, embora faça muitas coisas tão bem, ou talvez melhor do que 
qualquer um de nós, essas máquinas estão fadadas a falhar com as outras.
Para Descartes, corpo, incluindo os humanos, nada mais é do 
que uma máquina, semelhante a um relógio (“realmente não vejo ne-
nhuma diferença entre uma máquina e um corpo formado comple-
tamente por natureza”)22. Um homem com um corpo mecânico era 
perfeitamente integrado ao mundo mecânico, um novo mundo, sem 
metafísica ou nova metafísica. 
Pondera o autor que os seres humanos podem criar mecanismos 
complexos, como relógios ou outras maravilhas da engenharia, mas nun-
ca farão máquinas que replicam ideias. Em teoria, requer um sub matéria 
replica uma substância completamente diferente, de modo que, no má-
ximo, fariam uma boa imitação. Descartes ainda rompe com a tradição, 
afirma que todos os corpos são máquinas, criaturas são corpos sem espí-
ritos, ou seja, nada mais são do que máquinas vivas ou máquinas animais 
(bêtes-machines).23
Neste esteio, Turing será o primeiro a responder as questões car-
tesianas. A resposta de Turing aparecerá em artigo seminal publicado na 
21 PORTO, Leonardo Sartori. Uma investigação filosófica sobre a Inteligência Artifi-
cial. Informática na Educação: Teoria & Prática, Porto Alegre, v. 9, n.1, jan./jun. 
2006, p. 64.
22 DESCARTES, René. Meditações sobre a Filosofia Primeira. (Coleção Multilín-
gues de Filosofia). Tradução de Fausto Castillo. Campinas: Unicamp, 2004. p. 99.
23 DESCARTES, René. Meditações sobre a Filosofia Primeira. (Coleção Multilín-
gues de Filosofia). Tradução de Fausto Castillo. Campinas: Unicamp, 2004. p. 102. 
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revista em “Computadores e Inteligência” Mente dos anos 50. O texto 
principia com a ambiciosa pergunta: “Podem as máquinas pensar?” (Can 
machines think?). De imediato, o autor descarta o caminho tradicional 
de interpretação por meio da análise dos conceitos.24 Turing respondeu a 
Descartes, afirma que as maquinas quando indagadas respondem como 
homens, e podem facilmente serem confundidas com seres humanos, 
porém as máquinas são destituídas de alma, de forma que não possuem 
sensibilidades como os seres humanos, para o autor não irão substituir a 
mente humana.
Turing, após superar essas objeções e outras listadas, roga que as 
máquinas se restrinjam à competição intelectual com os humanos, mas 
nada pode nos garantir que novas e complexas situações possam surgir. 
Devemos nos arriscar?Apesar de cauteloso, o autor afirma: devemos ten-
tar mesmo assim.
Nesta toada, inequívoca a importância dos pensamentos filosó-
ficos, são muitos os questionamentos em relação ao que pode acarretar 
uma sociedade informatizada, e com maquinas inteligentes. Para Haber-
mas, a filosofia tem uma missão: pregar o poder da autorreflexão radical 
em um contexto onde o objetivismo e a automação ideológica tendem 
a dominar o mundo. Somente, a introspecção pode trazer unidade de 
razões práticas e teóricas para construir nossa própria identidade como 
indivíduos e como coletivo. Sua proposta, baseava-se na situação social 
da época, o início da era da informação.
Em termos, a filosofia desempenha relevante, quando se trata de 
tecnologia, os efeitos que a tecnologia poderá exercer sobre a vida social 
são indeterminados, muitas são as vantagens e desvantagem, o que se 
tem que evitar é que se converta em um mundo independente da vida 
humana para converter-nos em servidores, e produzindo informações 
24 TURING, A. M. Computing Machinery and Intelligence. Mind, v. 49, 1950, p. 
433-460.
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desnecessárias. Nesta ideia, coincidem a maioria das análises realizadas 
por Graham25, Virilio26 , Castells27 e Postman28.
Algumas questões relacionadas às inovações tecnológicas e à 
sociedade da informação merecem mais atenção da filosofia, como o 
número de informações veiculadas nos diversos meios tecnológicos, 
forneça as ferramentas certas, saber como organizar informações e ter a 
capacidade crítica de discernir imprecisões é um papel da filosofia crítica 
da informação.
Considerando como a comunicação afeta a informação, tanto 
no sentido positivo de reunir grupos distantes, muitas vezes tem o efeito 
oposto de alienar diferentes comunidades em canais privados e até mes-
mo a destruição de relações familiares próximas. Além disso, é necessária 
uma filosofia dedicada à análise de informações onipresentes. Repensar 
os conceitos de espaço-tempo, em termos de transformações, em um 
mundo globalizado, os fatos não são mais locais, mas globais, o que sig-
nifica mudar os conceitos de espaço e tempo.
O tempo pode ajudar a entender melhor a nova sociedade que 
está se desenvolvendo. Compreender e valorizar a ação rápida no cibe-
respaço e discernir seu impacto nas esferas pública e privada. Valoriza-se 
cada vez mais a velocidade e a tecnologia estão se tornando uma das fer-
ramentas importantes para realizar o ideal. Vive-se a filosofia da Globa-
lidade da informação. 
A análise da dor humana diante da avalanche de informações, 
nem todos estão preparados para receber muitas informações. A socieda-
de está se generalizando com novos casos, todos os dias as pessoas ficam 
angustiadas com muita informação, porque não sabem como lidar com 
isso corretamente. É indispensável uma educação que permita escolher 
as informações necessárias e rejeite ou ignore informações redundantes. 
O contexto se encaixa aqui com uma abordagem interdisciplinar, a qual 
25 GRAHAM, G. The Internet: A philosophical inquiry. New York: Routledge, 1999, 
p. 266, 267 e 338.
26 VIRILIO, P. A Arte do Motor. Tradução de Paulo Roberto Pires. São Paulo: Estação 
Liberdade, 1996. p. 176.
27 CASTELLS, M.; HALL, A. Tecnópolis del mundo: la formación de los complejos 
industriales del siglo XXI. Madrid: Alianza Editorial, 2001, p. 147.
28 POSTMAN, N. Technopoly: The surrender of culture to technology. Vintage. 
New York: Knopf Doubleday Publishing Group, 2011, p. 256 e 338.
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combina filosofia com psicologia de resolução de problemas, o problema 
de acumulação de informação.
Tocando nos problemas decorrentes das organizações sociais 
em rede, em relação as empresas, tem-se que as empresas se organizam 
em rede, não hierarquicamente, mas por meio de diferentes pontos de 
controle, diferentes grupos sociais. Todos os membros têm uma rede de 
distribuição de igual importância. As informações são dissipadas de dife-
rentes lugares. O maior problema é quando o sistema é usado por grupos 
mafiosos ou terrorista. Portanto, uma filosofia dedicada a problemas que 
podem ser causados por uma rede de comunicação, remete-nos a impor-
tância de uma Filosofia Organizacional na rede.
Conscientizar a sociedade sobre o poder da informação. Quem 
é melhor atualmente são aqueles que sabem e podem ter um poder ini-
maginável, em relação àqueles que não sabem. Isto é, há uma necessida-
de crescente de entender o impacto da informação no momento certo 
e como manipular as informações para benefício especial. O Poder da 
Filosofia da Informação.
Refletir sobre o impacto econômico que a sociedade da informa-
ção pode ter, embora se tenha muitas informações, mas nem todas as in-
formações fornecem conhecimento, o contrário pode acontecer, mesmo 
que se tenha informação não significa que haja o conhecimento. Portan-
to, é necessário a filosofia da epistemologia da informação.
Pergunte a si mesmo por quais valores a sociedade será regida, já 
que hodiernamente vive-se uma crise de valores, não que os valores en-
raizados na sociedade tenham desaparecido, mas isso deve ser reinterpre-
tado à luz das novas necessidades sociais. Cada época tem seus próprios 
valores, e a sociedade da informação não é exceção. O que está aconte-
cendo hoje é um conflito de valores, porque por um lado a sociedade 
exige mais solidariedade, democracia, liberdade, por outro lado, o gover-
no é forçado a controlar as comunicações, restringir certas liberdades, 
garantir os direitos individuais e os direitos de propriedade intelectual na 
internet. De modo que a filosofia ou ética dos valores e direitos pessoais 
e comunitários se faz indispensável. 
Promover o pensamento crítico sobre as provocações das novas 
tecnologias, mas não deixando se seduzir por dispositivos tecnológicos, 
desejam os mais recentes modelos de celulares, TVs, computadores, etc, 
porque através deles se espera obter satisfação, através da felicidade fictí-
cia baseada em objetos materiais sem pensar o impacto que eles podem 
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proporcionar. Perante esta condição, talvez uma filosofia que analise o 
poder da sedução é necessária. A filosofia da sedução tecnológica.
Alertar a sociedade sobre o perigo iminente de mau uso da infor-
mação é tarefa de ordem, que entende que há um controle das pessoas por 
meio de câmeras de vigilância, como de bancos de dados que circulam no 
ciberespaço. A sociedade torna-se um panóptico gigante, e com isso vêm 
as restrições à liberdade. Algumas das utopias negativas anunciadas pare-
cem estar se tornando realidade. No entanto, não houve reação aparente 
dos cidadãos, a filosofia deve desempenhar um papel fundamental diante 
dos perigos de transformar a sociedade em uma grande tela de monito-
ramento remoto controlado. A filosofia de usar e controlar a informação.
1.2. PÓS MODERNIDADE DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA COMO 
FUNDAMENTO DOS DIREITOS HUMANOS 
Em termos, a palavra Dignidade vem do latim digna, anuncian-
do o que é merecedor, considerável, honroso, trata-se de um pressupos-
to de ideia do que é justo, considera o homem como um ser superior 
dotado de razão e sentimento intrinsecamente ligado à dignidade. Ver-
sar sobre o Princípio da Dignidade Humana é resgatar atos predecessor 
à norma legislada com valor transcendental, de modo que implica re-
fletir a história da humanidade, na qual a individualidade humana não 
passava de uma presunção.
Compreende-se que a dignidade da pessoa humana já era tema 
do pensamento filosófico e político na Antiguidade, Sarlet Ingo Wolfgang 
explica: “Na antiguidade clássica, a dignidade da pessoa humana estava 
relacionada à posição social, variando de acordo com o status do indiví-
duo, do que resultava a possibilidade de admitir pessoas com maior ou 
menor dignidade”.29
Com o passar do tempo, o conceito de dignidade humana evo-
luiu.Na Idade Média, Tomás de Aquino foi o grande pensador a dedicar-
-se ao estudo do tema, o qual chegou a referir-se expressamente ao termo 
“dignitas humana”. O pensador defendia que a dignidade é uma virtude 
oferecida por Deus sendo todo homem filho de Deus, portanto digno. 
São Tomás, assim como outros religiosos o faziam, atraiu estudantes pela 
qualidade e clareza de suas exposições, além do rigor com que delimitava 
29 SARLET. Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais 
na Constituição de 1988. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010, p.32. 
29
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a teologia, fundada na revelação divina, e a filosofia, amparada na ra-
zão humana. Seu prestígio era reconhecido nas maiores universidades 
europeias.30 Para São Tomás, todos os homens, crentes e não-crentes, são 
chamados a reconhecer as exigências da natureza humana e a inspirar-se 
nela na formulação das leis positivas, ou seja, daquelas que são emanadas 
pelas autoridades civis e políticas para regular a convivência humana.31
 Historicamente, visualizamos esse pensamento inclusive nas 
ideias jus naturalista de Emmanuel Kant, a concepção kantiana manifes-
ta no imperativo categórico extremamente relevante e reflete a pretensão 
emancipatória da Modernidade. Kant afirmava o homem ser dotado de 
dignidade, como fim em si mesmo e, por isso, não poderia ser tratado 
como objeto nem usado como meio de obtenção de qualquer objetivo. 
Para o filósofo alemão: 
A dignidade é a característica do que não tem preço, isto é, do 
que não pode ser trocado por nada equivalente. E o fundamento 
da dignidade é a autonomia, a capacidade de dar leis a si mesmo, 
em outras palavras, a moralidade entendida como a capacidade de 
agir de acordo com a lei moral. O ser humano possui dignidade 
porque é capaz de dar fins a si mesmo, em vez de se submeter às 
suas inclinações. Por isso, ele deve ser visto como um fim em si 
mesmo, não como meio para a realização de projetos alheios. Essa 
capacidade de dar normas a si mesmo é autonomia, em contrapo-
sição à heteronomia. Mas, para que não se reduza às suas inclina-
ções, é preciso agir de acordo com a razão, de acordo com o dever, 
isto é, segundo o imperativo categórico, de maneira que a máxima 
de sua vontade possa ser tomada como lei universal.32
Despontando na Grécia antiga, um homem chamado Ciro, o 
Grande, conquistou a babilônia, e inconformado pela não valorização 
humana buscou valorizar a pessoa concedendo liberdade a todos, in-
clusive aos escravos, sob o fundamento que todos mereciam a liberda-
de e o valor. A ideia resplandeceu na Índia, Grécia e Roma, onde por 
sua vez reconheceu que algum direito era inerente ao homem criando 
30 AMEAL, João. São Tomas de Aquino: iniciação do estudo a sua figura e a sua 
obra. Filosofia e religião. Nova série. Porto: Livraria Tavares Martins. n.d. p. 18-67.
31 PAPA BENTO XVI. São Tomás de Aquino. Audiência Geral, 16 de junho de 2010, 
p. 771.
32 KANT, I. Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo: Abril Cultural, 
1980, p. 74-77.
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a chamada Lei Natural. Porém, o poder ignorava seus preceitos e con-
cedia direitos sob requisitos como o nascimento com vida, formação 
física de ser humano, dentre outros. Ainda, limitava esses direitos 
para os chefes de família, desta forma era monopolizado pelo Impera-
dor e pelo pater família que detinham o poder de vida ou morte dos 
seus subordinados.
Neste diapasão, a Inglaterra também aderiu a ideia sendo con-
siderada a pátria da liberdade, devido a vários documentos importantes 
visando proteger a dignidade humana tenham como origem esse país, 
citemos a magna carta de 1215, a petição de Direitos de 1628, a Lei do 
Habeas Corpus de 1679 e a Declaração dos Direitos de 1689, todos esses 
fazem parte da construção dos direitos fundamentais.
Em tal grau de importância, a França lutou arduamente para 
conquistar a liberdade e a igualdade, eles diziam que seu direito não era 
inventado e sim natural, tornando, assim, o conceito trazido pelos roma-
nos de Lei Natural por Direitos Naturais.
Destarte, São Tomás resgata o direito natural aristotélico e 
confirma a ideia usando textos sagrados. O seu direito natural está 
ligado à ideia de um mundo criado por um Deus ordenador, que atri-
bui a cada coisa, ou conjunto de coisas, uma lei natural que rege seus 
movimentos próprios.33
Neste esteio, a revolução francesa marcou o início dos primei-
ros direitos do homem, bem como a influência do movimento iluminista 
consolidou os direitos fundamentais da pessoa, porém somente no século 
XX diante das atrocidades da Segunda Guerra Mundial é que o princípio 
da Dignidade da Pessoa Humana ganhou força, sendo reconhecido tanto 
para os adeptos do Direito Natural, quanto para os defensores do Direito 
Positivo, inclusive publicou-se a Carta das Nações Unidas elaborada du-
rante a Segunda Guerra Mundial.
Diante da necessidade de normatização em 1945, países assina-
ram a carta de fundação da ONU34 e, em 1948 foi aprovada a Declaração 
33 VILLEY, Michel. A formação do pensamento jurídico moderno. 2. ed. São Paulo: 
WMF Martins Fontes, 2009. p. 140 e ss.
34 A Carta das Nações Unidas ou Carta de São Francisco é o acordo que formou a 
Organização das Nações Unidas logo após a Segunda Guerra Mundial, em substi-
tuição à Liga das Nações, como entidade máxima da discussão do direito interna-
cional e fórum de relações e entendimentos supranacionais. A Carta foi assinada 
em São Francisco em 26 de junho de 1945, após o término da Conferência das Na-
ções Unidas sobre Organização Internacional, entrando em vigor a 24 de outubro 
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Universal dos Direitos Humanos, que estabeleceu direitos e garantias aos 
direitos mais elementares da pessoa, fazendo referência à dignidade hu-
mana em seu art. 1º “todos os seres humanos nascem livres e iguais em 
dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir 
uns para com os outros em espírito e fraternidade”. 
A ONU a respeito dos Direitos Humanos, esclarece:
Os direitos humanos são comumente compreendidos como aque-
les direitos inerentes ao ser humano. O conceito de Direitos Hu-
manos reconhece que cada ser humano pode desfrutar de seus 
direitos humanos sem distinção de raça, cor, sexo, língua, religião, 
opinião política ou de outro tipo, origem social ou nacional ou 
condição de nascimento ou riqueza. Os direitos humanos são ga-
rantidos legalmente pela lei de direitos humanos, protegendo in-
divíduos e grupos contra ações que interferem nas liberdades fun-
damentais e na dignidade humana. Estão expressos em tratados, 
no direito internacional consuetudinário, conjuntos de princípios 
e outras modalidades do Direito. A legislação de direitos humanos 
obriga os Estados a agir de uma determinada maneira e proíbe os 
Estados de se envolverem em atividades específicas. No entanto, a 
legislação não estabelece os direitos humanos. Os direitos huma-
nos são direitos inerentes a cada pessoa simplesmente por ela ser 
um humano. Tratados e outras modalidades do Direito costumam 
servir para proteger formalmente os direitos de indivíduos ou 
grupos contra ações ou abandono dos governos, que interferem 
no desfrute de seus direitos humanos. Algumas das característi-
cas mais importantes dos direitos humanos são: Os direitos hu-
manos são fundados sobre o respeito pela dignidade e o valor de 
cada pessoa; Os direitos humanos são universais, o que quer dizer 
que são aplicados de forma igual e sem discriminação a todas as 
pessoas; Os direitos humanos são inalienáveis, e ninguém pode 
ser privado de seus direitos humanos; eles podem ser limitados 
em situações específicas. Por exemplo, o direito à liberdade pode 
ser restringido se uma pessoa é considerada culpada de um crime 
diante de um tribunal e com o devido processo legal; Os direitos 
humanos são indivisíveis, inter-relacionadose interdependentes, 
já que é insuficiente respeitar alguns direitos humanos e outros 
não. Na prática, a violação de um direito vai afetar o respeito por 
daquele mesmo ano. O Estatuto da Corte Internacional de Justiça é parte integrante 
da Carta. Como Carta, trata-se de um acordo constitutivo, e todos os membros 
estão sujeitos aos seus artigos. Ademais, a Carta postula que as obrigações às Na-
ções Unidas prevalecem sobre quaisquer outras estabelecidas em tratados diversos. 
Grande parte dos países ratificaram-na.
32
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muitos outros; Todos os direitos humanos devem, portanto, ser 
vistos como de igual importância, sendo igualmente essencial res-
peitar a dignidade e o valor de cada pessoa.35
Verticaliza-se que ao longo do tempo o princípio da dignidade 
da pessoa humana restou configurado nos diversos documentos, cons-
titucionais, tratados internacionais, pactos, dentre outros. Partindo da 
Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) e se espalhando pelo 
Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais 
(PIDESC) (1976) e pelas constituições da Itália (1947, art. 3º), Alemanha 
(1949, art. 1º), Portugal (1976, art. 1º), Espanha (1978, art. 10), Grécia 
(1975, art. 7º), Peru (1979, art. 1º), Chile (1980), Paraguai (1992, art. 1º), 
Bélgica (após a revisão de 1994, art. 23) e Venezuela (1999, art. 3º). Coe-
rente as ponderações de Celso Lafer, quando dispõe:
Impetuoso é que a positivação dos direitos humanos resulta da in-
tegração de valores percebidos, no curso da história, como essen-
ciais para a boa convivência coletiva. Destaca o autor os seguintes 
valores: a liberdade e pluralidade do pensamento, provindos da 
Grécia; a consciência do valor autônomo do Direito, de Roma; o 
valor da igualdade baseada na natureza humana, independente-
mente de invólucros políticos e sociais, próprio do Cristianismo; 
a distribuição e a limitação do poder, advindos do liberalismo; e o 
valor da igualdade de acesso aos bens e serviços, como contribui-
ção do socialismo.36
Pode-se dizer que os direitos humanos evoluíram conforme o 
desenvolvimento da sociedade, algumas teorias os classificam por gera-
ção ou dimensão. A divisão das dimensões a visualizar, tendo como base 
a revolução Francesa, liberdade (1ª dimensão), igualdade (2ª dimensão) 
e fraternidade (3ª dimensão). Paulo Bonavides foi um dos principais 
constitucionalistas que leu os direitos fundamentais a partir de um perfil 
histórico agrupando os mesmos em gerações de direitos. Faz referência 
35 ONU – Organização das Nações Unidas. Declaração Universal dos Direitos 
Humanos. Disponível em: https://nacoesunidas.org/direitoshumanos/declaracao/. 
Acesso em: 15 dez. 2021.
36 LAFER, Celso. O cinqüentário da declaração universal. A tutela dos direitos huma-
nos no plano internacional no limiar do século XXI: resistência e razoabilidade. In: 
Comércio, Desarmamento, Direitos Humanos. São Paulo: Paz e Terra, 1999. p. 
182-183.
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expressa ao termo, gerações dos direitos fundamentais, para explicar a in-
serção histórica deles nas constituições dos países, sendo este posiciona-
mento seguido por vários outros constitucionalistas. Explica Bonavides: 
“os direitos fundamentais passaram na ordem institucional a manifestar-
-se em três gerações sucessivas, que traduzem sem dúvida um processo 
cumulativo e quantitativo”.37
Destarte existe uma discordância doutrinária em relação ao ter-
mo “geração”, trocando-o por “dimensão”, sustentando a ideia de que 
“geração” está diretamente ligada à de sucessão, substituição, enquanto 
os direitos fundamentais não se sobrepõem, não são suplantados uns 
pelos outros. Neste sentido, argumenta Zulmar Fachin: “é mais apro-
priado, então, falar-se em dimensões de direitos fundamentais. Os di-
reitos fundamentais de uma, porque representam acréscimo aos direi-
tos das dimensões precedentes, com estes interagem, e todos coexistem 
harmoniosamente”.38
Sem delongas, nota-se entre os autores o uso preponderante do 
termo dimensão, com o passar dos tempos o próprio Paulo Bonavides 
ponderou com relação ao termo gerações, segundo nos relata Dimitri Di-
moulis nos seguintes termos: “Aliás, o próprio Bonavides, no desenrolar 
de seu texto, acaba reconhecendo proeminência científica do termo “di-
mensões” em face do termo “gerações”.39 
Nesta esteira, aponta-se a primeira dimensão, aquela que estabe-
leceu a liberdade negativa por parte do Estado e constituiu direitos civis e 
políticos. Nas palavras de Daniel Sarmento:
Dentro deste paradigma, os direitos fundamentais acabaram con-
cebidos como limites para a atuação dos governantes, em prol da 
liberdade dos governados”. Eles demarcavam um campo no qual 
era vedada a interferência estatal, estabelecendo, dessa forma, 
uma rígida fronteira entre o espaço da sociedade civil e do Estado, 
entre a esfera privada e a pública, entre o ‘jardim e a praça’. Nesta 
dicotomia público/privado, a supremacia recaía sobre o segundo 
elemento do par, o que decorria da afirmação da superioridade 
37 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. São Paulo: Malheiros, 1993, 
p.571-572. 
38 FACHIN, Zulmar. Curso de Direito Constitucional. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 
2015, p.223.
39 DIMOULIS, Dimitri; MARTINS, Leonardo. Teoria Geral dos Direitos Funda-
mentais. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007, p. 34-35.
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do indivíduo sobre o grupo e sobre o Estado. Conforme afirmou 
Canotilho, no liberalismo clássico, o ‘homem civil’ precederia o 
‘homem político’ e o ‘burguês’ estaria antes do ‘cidadão’. (...) No 
âmbito do Direito Público, vigoravam os direitos fundamentais, 
erigindo rígidos limites à atuação estatal, com o fito de proteção 
do indivíduo, enquanto no plano do Direito Privado, que discipli-
nava relações entre sujeitos formalmente iguais, o princípio fun-
damental era o da autonomia da vontade.40 
 A segunda, restabeleceu a forma participativa do Estado que 
passa a agir positivamente garantindo os direitos culturais, econômicos 
e sociais, correspondendo aos direitos à saúde, educação, trabalho, habi-
tação, previdência social, assistência social, entre outros. Bonavides ao 
fazer referência aos direitos de segunda geração afirmou:
(...) são os direitos sociais, culturais e econômicos bem como os 
direitos coletivos ou de coletividades, introduzidos no consti-
tucionalismo das distintas formas de Estado social, depois que 
germinaram por obra da ideologia e da reflexão antiliberal deste 
século. Nasceram abraçados ao princípio da igualdade, do qual 
não se podem separar, pois fazê-lo equivaleria a desmembrá-los 
da razão de ser que os ampara e estimula.41
A terceira geração, ou dimensão, marcou os direitos de solidarie-
dade e fraternidade, contemplou a proteção do meio ambiente, bem como 
assegurou o direito ao desenvolvimento e proteção do gênero humano.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, marcou 
o surgimento desta nova dimensão incorporando os direitos fundamen-
tais aos tratados internacionais. Vislumbra-se também a criação de Tri-
bunais Internacionais de Direitos Humanos que de acordo com George 
Marmelstein: “visando garantir a observância dos tratados internacio-
nais, reforçando a ideia de que as violações aos direitos humanos consti-
tuem desrespeito à humanidade como um todo”.42
40 SARMENTO, Daniel. Direitos Fundamentais e Relações Privadas. 2. ed. Rio de 
Janeiro: Editora Lumen Juris, 2006, p.12-13.
41 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. São Paulo: Malheiros, 1993, 
p.517.
42 MARMELSTEIN, George. Curso de Direitos Fundamentais. 2. ed. São Paulo: 
Atlas, 2009, p. 66.
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Hodiernamente, alguns doutrinadores defendem os direitos da 
quarta dimensão, porém não existe um conteúdo definido, para muitos 
essa dimensão tutelou

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