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RESUMO DE CIVIL I Bibliografia utilizada: PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: introdução ao direito civil, teoria geral do direito civil. 23. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2009. Sumário 1 TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL ....................................................................... 5 1.1 Evolução histórica ................................................................................................. 5 1.2 Codificação do Direito Civil .................................................................................... 5 1.3 Movimento da descodificação ............................................................................... 6 1.4 Constitucionalização do Direito Civil ..................................................................... 6 1.5 Código Civil de 2002 ............................................................................................. 7 1.6 Vetores do Código Civil ......................................................................................... 8 2 PESSOA................................................................................................................... 8 3 PERSONALIDADE JURÍDICA ................................................................................. 8 4 PESSOA NATURAL ................................................................................................. 9 a. aquisição de personalidade jurídica ........................................................................ 9 b. nascituro: teorias ..................................................................................................... 9 c. capacidade .............................................................................................................. 9 d. legitimação .............................................................................................................. 9 e. incapacidades ....................................................................................................... 10 f. cessação da incapacidade ..................................................................................... 11 g. morte ..................................................................................................................... 12 h. comoriência ........................................................................................................... 12 5 PESSOA JURÍDICA ............................................................................................... 13 5.1 Espécies .............................................................................................................. 13 5.2 Concessão de personalidade .............................................................................. 14 5.3 Entes despersonalizados .................................................................................... 14 5.4 Desconsideração da personalidade jurídica ........................................................ 14 5.5 Desconsideração inversa .................................................................................... 14 6 DIREITOS DA PERSONALIDADE ......................................................................... 15 6.1 Características .................................................................................................... 15 6.2 Classificação ....................................................................................................... 15 7 DOMICÍLIO ............................................................................................................. 17 7.1 Conceito .............................................................................................................. 17 7.2 Domicílio da pessoa natural: classificação .......................................................... 17 7.3 Domicílio da pessoa jurídica ................................................................................ 17 8 BEM JURÍDICO ...................................................................................................... 18 8.1 Conceito .............................................................................................................. 18 8.2 Classificação ....................................................................................................... 18 8.3 Benfeitorias ......................................................................................................... 20 9 TEORIA DO FATO JURÍDICO ............................................................................... 21 9.1 “Mundo” dos fatos e “Mundo” do Direito .............................................................. 21 9.2 Fenômeno da juridicização .................................................................................. 21 9.3 Planos do “Mundo” jurídico .................................................................................. 21 9.4 Classificação dos fatos jurídicos ......................................................................... 22 10 NEGÓCIO JURÍDICO........................................................................................... 23 10.1 Conceito ............................................................................................................ 23 10.2 Elementos ......................................................................................................... 23 a) Manifestação da vontade ...................................................................................... 23 a.1) Teorias ............................................................................................................... 24 a.2) Formas de manifestação da vontade ................................................................. 25 b) Objeto.................................................................................................................... 25 10.3 Classificação .................................................................................................... 26 a) bilateral e unilateral ............................................................................................... 26 b) oneroso e gratuito ................................................................................................. 26 c) formal e não formal ............................................................................................... 26 d) entre vivos e causa mortis ..................................................................................... 27 11 TEORIA DAS INVALIDADES ............................................................................... 27 11.1 Plano da validade .............................................................................................. 27 11.2 Espécies de nulidade ........................................................................................ 27 11.3 Nulidade absoluta .............................................................................................. 27 a) Hipóteses/Causas ................................................................................................. 27 11.4 Anulabilidade ..................................................................................................... 29 a) Hipóteses .............................................................................................................. 29 11.5 Defeitos do negócio jurídico .............................................................................. 29 11.5.1 Erro................................................................................................................. 29 11.5.2 Dolo ................................................................................................................ 30 11.5.3 Coação ...........................................................................................................30 11.5.4 Estado de perigo ............................................................................................ 31 11.5.5 Lesão .............................................................................................................. 31 11.5.6 Fraude contra credores .................................................................................. 32 11.6 Diferenças entre fraude contra credor e à execução ......................................... 33 11.7 Diferenças entre nulidade e anulabilidade......................................................... 34 12 PLANO DA EFICÁCIA .......................................................................................... 34 12.1 Efeitos jurídicos ................................................................................................. 34 12.2 Elementos acidentais ........................................................................................ 34 12.3 Termo ................................................................................................................ 34 b) contagem dos prazos ............................................................................................ 35 12.4 Condição ........................................................................................................... 35 a) suspensiva ............................................................................................................ 35 b) resolutiva ............................................................................................................... 35 12.5 Encargo ............................................................................................................. 35 13 REPRESENTAÇÃO ............................................................................................. 36 13.1 Conceito ............................................................................................................ 36 13.2 Espécies ............................................................................................................ 36 5 1 TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL 1.1 Evolução histórica * A colonização portuguesa trouxe consequências no meio jurídico; no Imperialismo, se utilizava os ordenamentos portugueses * Depois da independência, nosso país passa a se questionar se seria necessária uma codificação no âmbito do Direito Civil * 1800 – Código Civil Comercial: regulava as relações entre os comerciantes mercan- tilistas * Por muito tempo se pensou que o CC Comercial seria suficiente, somente após longo tempo se preocupou em regular a vida civil, e não só mercantil, e foi assim que veio a codificação (houveram várias tentativas de codificação) 1.2 Codificação do Direito Civil * 1916: aprovação do 1º Código Civil: por Clóvis Beviláqua; 1917: entra em vigor o CC * lei centralizadora, capaz de regular a vida civil do nascimento até a morte; * ideia de que seria completo, prevendo todas as situações jurídicas possíveis → sis- tema fechado, de subsunção (aplicava-se a lei sobre a situação concreta, trazendo a solução sem a utilização de valores ou princípios constitucionais) * espelhava a sociedade da época: patriarcal, preocupações individuais, não sociais → público separado do privado: sem intervenção estatal * predominava a autonomia da vontade, a liberdade dos privados nos atos negociais, o acordado entre as partes era encarado como lei * a intervenção estatal nos negócios era mínima, devido à separação entre Estado e sociedade * estrutura inspirada no CC alemão e francês, também outros europeus, mas sem esquecer as características da sociedade brasileira da época * Dividido em duas partes: → Parte geral: conceitos e institutos de base para a parte especial 6 *Exemplos: capacidade civil, fatos jurídicos, bens, prazos... → Parte especial: dirigia-se a regular modalidades de relações jurídicas; * refletia a sociedade da época, centrada na família * dividida em 4 livros, dos quais: I – Direito de Família: casamento, filiação, regime de bens, inferioridade da mulher II – Direito das coisas: propriedade, posse, uso, usucapião (entre pessoa e coisa, não entre pessoa e pessoa) → 2ª maior valorização: propriedade III – Direito das obrigações: contratos, responsabilidade civil (relação somente entre particulares); relações mercantis aparecem somente no Código Civil Comercial IV – Direito das sucessões: direitos advindos em decorrência da morte; herdeiros, su- cessão, legado, testamento (ordem patrimonial) 1.3 Movimento da descodificação * com as mudanças da sociedade surgiram movimentos críticos ao CC, pedindo sua reforma (alteração) ou que fosse feito um CC novo * maior intervenção estatal nas relações privadas * mudança no tratamento da mulher (criação do Estatuto da Mulher Casada e da lei do divórcio) * muitas leis especiais foram necessárias para acompanhar as mudanças sociais * a legislação estava ultrapassada e com artigos revogados, mesmo que tacitamente (argumento base para se fazer um novo CC) * na década de 70 surgiu o projeto do atual CC (mantinha-se o CC de 1916 em vigor) 1.4 Constitucionalização do Direito Civil * nossa atual Constituição adotou papel importante em toda a discussão, deixando muito clara a intervenção estatal nas relações privadas 7 * preocupação com as relações privadas na CF de 88: dispositivos que geraram nova interpretação no CC Exemplo: dignidade da pessoa humana → tutelada em toda e qualquer relação jurí- dica, seja no âmbito negocial, familiar, etc * tutela constitucional do consumidor: prazo para criação de um Código do Consumi- dor * ideia de proteger o menos favorecido → isonomia formal e material * a CF de 88 também trouxe regras de Direito de Família Exemplo: união estável (a família não se constitui mais só pelo casamento), filhos iguais * proliferaram-se as leis especiais; CF intensificou o processo de descodificação do Civil 1.5 Código Civil de 2002 * depois de mais de 20 anos de tramitação, é aprovado o CC de 2002, revogando o CC de 1916 e quase todo o Código Comercial (atual Código Empresarial) * unificação das obrigações civis e empresariais (antigas relações mercantis) * manteve a inspiração nos Códigos alemão e francês, e adicionou inspiração italiana * mantida a divisão de parte geral e especial * na parte especial, são 5 livros (com uma nova ordem, mais lógica), dos quais: I – Direito das obrigações II – Direito da empresa III – Direito das coisas IV – Direito de família V – Direito das sucessões * é um código de direito privado, apesar da nomenclatura de CC 8 1.6 Vetores do Código Civil * 3 vetores (caminhos a serem seguidos) básicos → dados pelo organizador do CCB, Miguel Reale, e juristas convidados - Operabilidade/Concretude: o CC deve ser uma ferramenta operacional para os que manejam com o Direito; estabelecer institutos de forma a melhor visualizá-los Exemplos: * divisão entre prescrição e decadência, em relação ao CC de 1916; * cláusulas gerais: trazem enunciados abertos, que precisam ser completados com os princípios, de modo a acompanhar a evolução social; * Art. 113: boa-fé nos negócios jurídicos → relações com a ética + dever de não causar dano a outrem (Exemplo: divulgar dados) - Socialidade: destaca-se a solidariedade social, de modo que não se deve a infringir por contratos, por exemplo, em que uma parte é beneficiada e outra é prejudicada, não cumprindo o contrato sua função social - Eticidade: evidenciado pelos Arts. 113, 187, 422 → trata do princípio da boa-fé 2 PESSOA * são todos aqueles sujeitos que sãomerecedores de tutela jurídica. 3 PERSONALIDADE JURÍDICA * aptidão genérica que os sujeitos possuem de adquirir direitos e estarem submetidos a deveres; sem personalidade jurídica não há proteção de direitos, nem seu exercício ou titularidade. 9 4 PESSOA NATURAL * todo ser humano é pessoa natural. a. aquisição de personalidade jurídica Art. 1º: o legislador objetiva destacar a personalidade jurídica, a qual se adquire ao nascer com vida (Art. 2º). b. nascituro: teorias Que proteção merece o nascituro (feto)? - Teoria natalista: o nascituro não tem direitos até nascer com vida; - Teoria condicionalista: expectativa de personalidade; merece assim o nascituro direitos; - Teoria concepcionista: proteção de direitos desde a concepção. Obs.: exemplos nos Arts. 1609 (parágrafo único), 1779, 542, 1798. c. capacidade *Para aquisição de direitos e para exercê-los por si mesmo, diretamente ou por inter- médio (pela representação), ou com a assistência de outrem. *Capacidade de direito (de gozo, de aquisição): todos têm, atualmente, no sentido de que se não há capacidade, não há personalidade. A capacidade de gozo é restrita quando se defrontam direitos personalíssimos, recusados em condições especiais. *Capacidade de fato (de exercício, de ação): nem todos têm, que é a aptidão para exercer o direito por si próprio. Quando esta se faz deficiente, tem-se a incapacidade d. legitimação *exigência da lei; só é analisada excepcionalmente quando a lei exigir (para preencher um requisito excepcional para a validade de um negócio, por exemplo) 10 *Exemplos: Art. 1647, III: consentimento ou anuência do cônjuge; caso não haja, o contrato não será válido por falta de legitimação e. incapacidades *Restrição ao poder de agir; toda incapacidade no direito brasileiro só pode ser defi- nida por lei; não se confunde com impedimento. A incapacidade resulta da coincidên- cia da situação de fato em que se encontra um indivíduo, e a hipótese jurídica da capitis deminutio (diminuição de capacidade) definida na lei. *Os atos dos considerados incapazes são considerados ineficazes *Extensão da incapacidade (maior ou menor profundidade da redução do discerni- mento) – capitis deminutio: Lei nº 13.146/2015 altera a redação dos artigos 3º e 4º do CC - Absolutamente incapazes: estes são inaptos ao exercício das atividades da vida civil, têm direitos, podem adquiri-los, mas não são habilitados a exercê-los. Os abso- lutamente incapazes estabelecem relação indireta com a vida jurídica, através do ins- tituto da representação (Art. 3º). a) Incapacidade absoluta dos menores b) Incapacidade absoluta do enfermo ou deficiente mental c) Impossibilidade, ainda que temporária, de expressão da própria vontade * a, b e c revogados, o artigo 3º passa a ser: “Art. 3º: são absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos.” - Relativamente incapazes: incapazes relativamente à prática de certos atos ou ao modo de exercê-los (art. 4º). O exercício de seus direitos se realiza com a sua pre- sença, mas devem ser assistidos. a) Incapacidade relativa dos menores: maiores de 16 e menores de 18. b) Incapacidade relativa dos ébrios habituais e dos viciados em tóxicos: caso em que o vício atinge o estado de habitualidade que gera a fraqueza mental. 11 c) Incapacidade relativa dos deficientes mentais e dos excepcionais: são os incomple- tamente desenvolvidos e os deficientes mentais, que nem têm a mente íntegra, nem são enfermos e retardados. Revogado pela Lei nº 13.146 d) Incapacidade relativa dos pródigos: a prodigalidade é uma espécie de alienação mental, são pessoas que não controlam gastos e que põe em risco sua fortuna (vicia- dos em jogos, por exemplo). * o artigo 4º passa a vigorar com a seguinte redação: “Art. 4º: São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exer- cer: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; IV – os pródigos. Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação es- pecial.” * o inciso III adveio do artigo 3º, passando estes sujeitos de absolutamente incapazes para relativamente incapazes f. cessação da incapacidade * Cessação da incapacidade dos menores (Art. 5º): - ao completar 18 anos - pela emancipação a) voluntária: concessão pela vontade dos pais b) judicial: iniciativa do emancipando tutelado c) legal 1. Pelo casamento 2. Pelo emprego público efetivo 12 3. Pela colação de grau em curso de ensino superior 4. Pela economia própria g. morte - natural (Art. 6º) * abertura da sucessão: efeito imediato pós-morte * o patrimônio é distribuído aos herdeiros * herança jacente: não há herdeiros (o patrimônio é transferido ao Estado por um curador) * atestado de óbito: o médico declara a causa da morte; é a comprovação do término da existência do sujeito - presumida (Art. 7º) * não possibilidade de comprovar a extinção física do sujeito; * não se encontra os restos mortais (ex: acidente aéreo); * desaparecimento (com procedimento prévio de ausência); * o sujeito não é encontrado, mas provavelmente morreu (ex: guerras); * sempre a justiça declara a morte; * processo de ausência (Arts. 22 – 39) para desaparecidos: é possível abrir a suces- são provisória e usar de seu patrimônio, decorrido dez anos de ausência, é decretada a morte presumida do sujeito. h. comoriência (Art. 8º) * são casos em que morre mais de uma pessoa da mesma família, ao mesmo tempo, é que não é possível precisar a hora da morte de cada um * ordem de vocação hereditária: os herdeiros necessários (descendentes, ascenden- tes) concorrem com o cônjuge 13 5 PESSOA JURÍDICA * são entidades em que a Lei empresta personalidade, capacitando-as a serem sujei- tos de direitos e obrigações. Não possuem realidade física. Podem ter relações com direito privado, mas não são sujeitos de direito privado. 5.1 Espécies → Art. 40 a. De direito público - Interno (Art. 41, 43): a administração direta: União, Estados, Distrito Federal e Mu- nicípios; e a administração indireta: autarquias, fundações públicas. - Externo (Art. 42): ONU, UNESCO, FAO, etc. Pessoas regidas pelo direito interna- cional público e Estados estrangeiros. b. De direito privado *são as corporações (associações e sociedades civis e comerciais) e as fundações particulares, bem como as empresas individuais de responsabilidades limitas (unipes- soal; Art. 44). - Associações (Art. 53 – 61): composta por pessoas; não tem fins lucrativos, mas religiosos, morais, culturais, desportivos ou recreativos (Ex.: igrejas, clubes de futebol, clubes desportivos, etc). Algum valor quando arrecado deve ser reinvestido. Deve ter estatuto interno. - Sociedades: composta por pessoas; têm fins econômicos e visam lucro, que deve ser distribuído entre os sócios. (Ex.: escritórios contábeis, escritórios de engenharia e advocacia, etc). Deve ter um contrato social (ou em sociedade anônima um estatuto). - Fundações (Art. 62 – 69): organização que se constitui a partir do destino do patri- mônio de alguém, fixando uma finalidade (que não pode ser lucrativa). Têm objetivos externos, estabelecidos pelo instituidor, pode se dar a vontade dos fundadores por uma escritura pública ou por testamento. 14 5.2 Concessão de personalidade- Pública: decorre de lei - Privada (Art. 45): após o registro civil de seu estatuto ou contrato Obs.: a obrigação é individual, não se distribui aos sócios. 5.3 Entes despersonalizados *relação interna dos sujeitos que compõem uma organização Exemplos: condomínio, massa falida, espólio (conjunto patrimonial pós-morte; é re- presentado pelo inventariante) 5.4 Desconsideração da personalidade jurídica *ocorre em sociedade anônima ou limitada *é um fenômeno temporário *não extingue a pessoa jurídica *atingindo a personalidade de um sócio, os outros e a sociedade não devem ser atin- gidos *ocorre em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade (patrimônio particular passa a ser patrimônio da pessoa jurídica; desvia a finalidade do exercício da personalidade jurídica) ou pela confusão patrimonial (entre o patrimônio dos sócios e da sociedade); (Art. 50) 5.5 Desconsideração inversa *o sócio reduz seu patrimônio pessoal, transferindo-o para a sociedade que participa *deve-se requerer, a fim de dividir o patrimônio (caso de divórcio, por exemplo) ou quitar dívida, o afastamento da pessoa jurídica, para que o patrimônio seja de titulari- dade do sócio 15 6 DIREITOS DA PERSONALIDADE (Arts. 11-21) 6.1 Características a) Intransmissibilidade: o direito é só da pessoa natural, não se pode transmitir a ou- trem b) Inalienabilidade: a titularidade é exclusiva do sujeito, não se pode vender direitos. Exceção: direito do autor (ex: BBB, Facebook), em que é possível precificar e vender o direito autoral c) Direito Absoluto: pode determinar que cesse ou se indenize quando há interferência na personalidade jurídica do outro (efeito erga omnes: para todos); impõe que todos devem respeitar d) Imprescritível (Direito Perpétuo): a lei não estabelece prazo para exercer o direito, não se extingue por não-uso e) Extrapatrimonialidade: não se pode quantificar direitos (precificar); há exceção, como a do direito autoral supra f) Vitalício: os direitos da personalidade são inatos e permanentes, acompanhando a pessoa desde seu nascimento até sua morte 6.2 Classificação *o rol não é taxativo: não faz referência a todos os direitos de personalidade, pois está em constante construção a) Corpo: disposição de suas partes, em vida ou para depois da morte, para finalida- des científicas ou humanitárias, subordinado contudo à preservação da própria vida ou de sua deformidade. Disposto nos Arts. 13, 14 e 15: “Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou con- trariar os bons costumes. Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de trans- plante, na forma estabelecida em lei especial. Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte. Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo. 16 Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica.” b) Privacidade: a vida privada é inviolável, o sujeito a divulga se quiser; no entanto, é diferente o tratamento para pessoas públicas (e seus filhos), inerente à maior exposi- ção. “Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer ces- sar ato contrário a esta norma.” c) Honra: é muito subjetiva; pertence à pessoa natural. * a integridade psicológica é afetada *Exemplo: inserção indevida no SPC “Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da persona- lidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei. Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau.” d) Imagem: * pode vir a ser lesado, gerando o direito de indenizar * casos de exposição indevida (mesmo de pessoas públicas, que são mais expostas, há limites) * se não autorizada a veiculação da imagem, não poderá ser utilizada * se for usada a imagem com dano: pleitear indenização * se for usada a imagem sem dano: pleitear remuneração “Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pes- soa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais. Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes.” e) Nome: elemento designativo do indivíduo e fator de sua identificação na sociedade (Art. 16 – 19); - Prenome: designa o indivíduo; * Exemplo: João * se expuser o sujeito à situação vexatória, deve pedir judicialmente para trocar 17 * é dever de quem registra impedir tal situação; no entanto, tem-se o caso da transe- xualidade, que é um fator legitimador para troca de prenome (mesmo sem mudança de sexo) - Sobrenome: característico de sua família, transmissível hereditariamente, ou pela combinação do sobrenome materno e paterno. * Exemplo: Silva; ou: Silva Pereira - Pseudônimo: usado por literatos e artistas ao firmar e divulgar suas obras (Art. 19); * Exemplo: Pseudônimo: Anitta Nome civil: Larissa de Macedo Machado 7 DOMICÍLIO * Art. 70 - 78 7.1 Conceito *lugar onde o sujeito vai praticar relações jurídicas 7.2 Domicílio da pessoa natural: classificação a) legal ou necessária (Art. 76): têm domicílio necessário (para estes sujeitos, a lei impõe o local para seu domicílio) e seus domicílios são: - incapaz: o do seu representante ou assistente - servidor público: o lugar em que exercer permanentemente suas funções - militar: onde servir, e, sendo da Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar imediatamente subordinado; o do marítimo, onde o navio estiver matriculado - preso: o lugar em que cumprir a sentença b) voluntário (Art. 78): resultante do foro de eleição quando ocorre um negócio jurídico, em contratos (ex: eleito foro da comarca de Esteio para dirimir conflitos do presente contrato) c) profissional (Art. 73): o lugar onde exerce suas funções é dado como domicílio, somente para essas relações jurídicas 7.3 Domicílio da pessoa jurídica - de direito público (Art. 75): União: o Distrito Federal; Estado: a capital; Municípios: o lugar onde funcione a administração municipal; 18 - de direito privado e outras: o lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e administrações, ou onde elegerem domicílio especial no seu estatuto ou atos consti- tutivos (Art. 75, IV). 8 BEM JURÍDICO 8.1 Conceito: todo objeto de uma relação jurídica, característica essencial de toda e qualquer relação jurídica; objeto não é necessariamente uma coisa material (um cré- dito pode o ser, bem como os direitos) 8.2 Classificação a) considerados em si mesmo - Imóvel: bem que não pode ser transportado, que não pode ser locomovido, sob pena de alterar sua substância (Art. 79) * vinculado ao solo por ação da natureza ou do homem * bem como parte: vinculado ao bem, partes fixas (ex: casa → janela, porta, telhado, parede)* o direito que se tem sobre o bem vinculado (como o direito de propriedade), é con- siderado um bem jurídico imóvel (Art. 80) * se houver somente transitoriedade, não há perda do status de bem imóvel Exemplo: retirar as partes fixas (porta, janela), ou imóvel que é retirado do solo, mas que continua dependendo dele, não os transformará em bem móvel, só se a retirada for definitiva (Art. 81) - Móvel: se movem por conta própria ou força alheia, sem alterar sua substância. (Art. 82) * animais são considerados bens móveis; são chamados de semoventes * Art. 83: Consideram-se móveis para os efeitos legais: I - as energias que tenham valor econômico; II - os direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes; III - os direitos pessoais de caráter patrimonial e respectivas ações. 19 * Art. 84: os materiais destinados a alguma construção (portas, janelas, etc) enquanto não forem empregados ou após o prédio ser demolido (retirada definitiva), são consi- derados móveis; - Fungível: todo bem móvel que pode substituído por outro da mesma espécie, qua- lidade e quantidade (Art. 85) - Infungível: bem único, insubstituível *infungibilidade por natureza: imóveis * Exemplo: contrato de locação que exige infungibilidade: a cadeira (fungível por na- tureza), se marcada com logomarca é infungível - Consumível: bens móveis cujo uso importa destruição imediata da própria coisa, se destrói após a utilização (Art. 86) * Exemplos: comida, giz - Inconsumível: são os que proporcionam reiterados usos sem se destruir. * Exemplos: vestido, sapato - Divisível: podem fracionar-se sem alterar sua substância (Art. 87) * Exemplos: papel, porções de arroz, dinheiro - Indivisível: não podem ser divididos * Exemplo: mesa, cadeira * bem naturalmente divisível (Art. 88): pode tornar-se indivisível por determinação da lei ou por vontade das partes (Exemplo: parcelamento de uma conta) - Singular: são todas as coisas que embora reunidas, se consideram independentes das demais (Art. 89) 20 * Exemplo: livro de Civil - Coletivo: são as coisas que se encerram agregadas em um todo. * Exemplo: biblioteca, massa falida, espólio b) reciprocamente considerados (Art. 92) - Principal: existe por si, independente de outro * Exemplo: solo, crédito, joia - Acessório (diferente de parte integrante): são as coisas cuja existência pressupõe a de um bem principal. * Exemplo: árvore, som de um carro c) considerados em relação ao sujeito - Público: bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito pú- blico interno (Art. 98) * Exemplo: rios, praças, edifícios e terrenos destinados a serviço de administração governamental, patrimônio de pessoas jurídicas de direito público (Art. 99) - Privado: todos os outros bens não considerados públicos são particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem 8.3 Benfeitorias (Art. 96) - Necessárias: indispensável à manutenção do bem - Úteis: melhorias que proporcionam melhor utilização do bem ou para atingir o fim específico do bem (Exemplo: casa que vira restaurante) - Voluptuárias: de embelezamento, para deixar o bem mais aprazível (exemplo: jar- dim, piscina) 21 9 TEORIA DO FATO JURÍDICO 9.1 “Mundo” dos fatos e “Mundo” do Direito * “Mundo” dos fatos: comportamento que não reflete no ordenamento jurídico; não interessa ao Direito 9.2 Fenômeno da juridicização * A inclusão de comportamentos “de fato” no mundo jurídico é chamada de juridiciza- ção → situações que passam a interessar o direito * Estabelece característica e conteúdo que justifica por que a situação está sendo incluída no mundo jurídico, bem como o seu efeito jurídico * fenômeno: a norma descreve uma situação jurídica, e quando a situação (o fato) se encaixa na norma, tem-se a juridicização (e a forma que o efeito jurídico poderá ser gerado) * Exemplo: contrato de doação → João receberá o bem se passar na OAB (fato comum) → João não passou na OAB, logo João não receberá o bem → O contrato não gerará efeito, mas a juridicização ocorreu (no momento em que o fato comum de passar na OAB interessou e foi incluída ao mundo jurídico) * situação fática que pro Direito existe, após o fenômeno da juridicização, passa a se chamar fato jurídico → para isso, o fato deve incidir da norma 9.3 Planos do “Mundo” jurídico * fato jurídico: ingressa no plano da existência * efeitos estão no plano da eficácia * todos fatos ingressam na existência, mas não na validade Existência Validade Eficácia * elementos * requisitos * efeitos 22 9.4 Classificação dos fatos jurídicos Ilícito Lícito Situações tipificadas como merecedoras de sanções → sanções/indenizações: ordem pecuniária no Dir. Civil – situa- ções que o ordenamento repudia; in- fringe o dever de não causar dano à ou- trem (causa efeito indenizatório) Fato jurídico Fato jurídico em sentido estrito → aquela situação jurídica que decorre de eventos da natureza, que independem da interação humana; Exemplo: chuva, nascimento, planta que nasce, terra movida pelo vento Ato fato → identifica-se a participação humana, mas o ordenamento não va- lora o elemento vontade ou intenção, mas estabelece efeitos jurídicos; Exemplo: descoberta, independente de quem descobriu Ato jurídico → fato jurídico no qual há a conduta humana, há a valoração da manifestação da vontade (capacidade relevante), mas a vontade é descrição do que a lei estabelece, não há mani- festação do conteúdo; conduta + efeito jurídico determinado; Exemplo: levan- tar a mão em um leilão Negócio jurídico: exige a participação humana e a valora. Se diferencia do ato jurídico porque há espaço de com- posição do conteúdo. Fazer uso da autonomia privada – condições, cláusulas – a lei dá esse espaço de composi- ção; Exemplo: contratos, casamento (espaço para esco- lha do regime de bens), testamento (espaço para desti- nar parte dos bens) Ingressam no plano da validade pelo requisito de valoração da vontade 23 10 NEGÓCIO JURÍDICO 10.1 Conceito * Há vontade humana, mas há espaço para autodeterminação do conteúdo * A lei apresenta os elementos limitadores, mínimos, mas as pessoas podem estabe- lecer negócios de acordo com sua vontade, estabelecendo regras e condições ao mesmo (princípio da autonomia privada) Ex: contrato de compra e venda: a lei prevê que haja manifestação da vontade de ambas as partes, mas não estabelece como se dará entrega ou pagamento, por exem- plo 10.2 Elementos Sempre o negócio jurídico vai exigir dois elementos: a) Manifestação da vontade (de um ou vários sujeitos): não existe negócio se não houver participação humana manifestando vontade - manifestação externada: resultado diferente do que o sujeito pretendia inicial- mente - pode haver conflito entre a intenção da manifestação da vontade (o que o sujeito realmente quer) e a manifestação da vontade externada (o que o sujeito demons- trou erroneamente querer) Ex.: Em uma feira de antiguidades, o indivíduo vê um quadro com características de tal autor, sendo assim, o compra e paga um preço considerável, por acreditar que é de tal autor, apesar de não estar escrito que dele o era. Em casa, constata que é uma réplica da obra. Intenção: comprar a obra original do tal autor (manifestação da vontade) Resultado: comprou uma réplica da obra (manifestação da vontade externada) 24 a.1) Teorias - Vontade: toda vez em que num negóciojurídico a manifestação da vontade do su- jeito acaba estabelecendo um conflito entre a sua intenção (vontade interna do sujeito) e a sua declaração (vontade externada do sujeito), o que vai predominar é a intenção. Ex.: em seguimento ao exemplo anterior, se a intenção do sujeito era comprar a obra original de tal autor, e assim não ocorreu, pode desfazer o negócio. * Art. 112 do CC adota esta teoria - Declaração: toda vez em que num negócio jurídico a manifestação da vontade do sujeito acaba estabelecendo um conflito entre a sua intenção e a sua declaração, o que vai predominar é a vontade declarada (externada), porque segundo essa teoria, se não for assim, não teremos segurança jurídica; esta indica que você assume o risco de erro, então deve certificar-se antes. Ex.: em seguimento ao exemplo anterior, se a intenção do sujeito era comprar a obra original de tal autor, e assim não ocorreu, não pode desfazer o negócio, pois deveria ter se certificado se a obra era realmente do autor tal antes de comprá-la. - Confiança: toda vez que em um negócio jurídico existir, haverá um conflito entre a vontade interna e declarada para solucionar este conflito, a análise a ser feita deve ser direcionada ao receptor da manifestação da vontade, ou seja, deve-se analisar se aquela manifestação de vontade gerou confiança no receptor. Se a manifestação foi capaz de gerar confiança no receptor, o que foi manifestado é o que vai preponderar, se não foi capaz de gerar confiança, o que foi manifestado não vai preponderar. * O direito do consumidor adotou esta teoria Ex.: um celular é vendido em um site por R$ 20,00, sendo que seu preço de mercado é R$ 2000,00. Você compra, e após confirmar o pagamento, recebe um e-mail imedi- atamente cancelando, informando que foi um erro, e desse modo, não chega a gerar cobrança. Então, deve-se analisar se gerou confiança no consumidor. É possível afir- mar que não gerou, pois é muito distante o preço de mercado do ali anunciado, com 25 supostamente um desconto de 100 vezes, o que se torna passível de desconfiança, assim, podendo-se desfazer o negócio. a.2) Formas de manifestação da vontade - Expressa: Verbal: regra geral, mas não absoluta, os negócios para o CC são meramente verbais Escrita: somente quando a lei assim exigir - Tácita: identifica-se condutas do sujeito, caracterizadoras de uma manifestação de vontade do sujeito Ex.: levantar a mão em um leilão - Silêncio: naqueles casos em que o sujeito não expressa sua vontade, nem por es- crito, nem verbalmente, nem por condutas, ele deveria manifestar a vontade, mas fica em silêncio. Pode ser feita uma proposta a ele, e fica estabelecido que caso ele se manifeste, fica resolvida com a sua concordância. Art. 111 do CC (não se admite ma- nifestação de vontade pelo silêncio quando a lei exigir que ela seja expressa). O si- lêncio é uma exceção, não a regra. Ex.: o sujeito recebe uma correspondência contendo um cartão de crédito que o banco estava lhe ofertando, e alguns dias depois já chegava o boleto de pagamento das taxas do cartão. Silêncio como: Negativa (discordância) → não desbloquear, nem utilizar o cartão Concordância → desbloqueá-lo e usá-lo b) Objeto: não existe negócio jurídico se não houver um objeto. Este não deve ser reduzido a coisa material, pode ser também uma prestação de serviço. É um tema tratado pela doutrina, não há uma única classificação. 26 10.3 Classificação Manifestação existente no negócio: a) bilateral e unilateral - bilateral: a manifestação de vontade advém de no mínimo dois sujeitos, cada um ocupando um polo da relação. Ex: o locador cede o bem e o locatário se dispõe a pagar o aluguel dele - unilateral: a manifestação parte a partir de um polo da relação, se dirige a um de- terminado objetivo, mas não depende do outro polo para gerar efeitos. Ex.: quero vender um tablet (já deve gerar efeitos, como manter a proposta); quando alguém (que virá a ser o outro polo) quiser comprar, o negócio passará a ser bilateral b) oneroso e gratuito - oneroso: há ganho e perda patrimonial das partes Ex.: na venda de um tablet, há a perda patrimonial do tablet de quem vende, mas também há ganho patrimonial em dinheiro ao recebimento do pagamento; de modo inverso ocorre com quem o compra - gratuito: uma parte tem vantagem, enquanto a outra tem diminuição patrimonial Ex.: em um contrato de doação, ao doar um bem reduzo meu patrimônio, mas a outra parte terá um ganho patrimonial c) formal e não formal - formal: por imposição legal tem que seguir uma forma, e quando a lei exigir, tem que ser por escrito (por instrumento particular ou público) - não formal: a lei não exige forma específica - diferença entre não formal e não solene: não solene é um termo utilizado pela doutrina, mas não é sinônimo de não formal; há casos em que é necessária uma so- lenidade, como no testamento, e este é formal 27 d) entre vivos e causa mortis * Art. 134 - entre vivos: gera efeitos, independentemente da morte de qualquer uma das partes - causa mortis: depende da morte para gerar efeitos 11 TEORIA DAS INVALIDADES 11.1 Plano da validade * Deve preencher os requisitos tidos por imprescindíveis para que o negócio seja ca- paz de gerar efeitos. Se preenchê-los, ingressará no plano e será considerado válido. 11.2 Espécies de nulidade - nulidade absoluta: decorre da infração a determinados requisitos exigidos por lei, nasce inválido, e assim sempre será, nunca gerará efeitos; não é passível de corre- ção, deverá ser realizado um novo negócio Ex.: negócio realizado por absolutamente incapaz sem representante é um negócio nulo, mesmo que após o representante concorde, não será válido - anulabilidade: não tem causas tão graves quanto as de nulidade; o vício pode ser corrigido; nasce inválido, e não necessariamente, mas pode vir a se tornar um negócio jurídico válido, sem precisar realizar um novo negócio Ex.: negócio realizado por relativamente incapaz sem seu assistente é anulável, mas se este concordar, será convalidado 11.3 Nulidade absoluta a) Hipóteses/Causas * No Arts. 104,166 e 167 estão definidas as hipóteses/causas de nulidade. Art. 104 28 → Analisar: I – a manifestação da vontade; II – o objeto; III – a forma. Art. 166 → Analisar: I – sem representação o negócio é nulo; II – o objeto, que não pode ser impossível (impossibilidade física ou jurídica), deve ser lícito (não contraria a lei, a moral e os bons costumes), determinado (gênero, quanti- dade e espécie) e determinável (não tem espécie); III – o consenso entre as partes, o motivo do negócio pode gerar nulidade (não é recepcionado pelo ordenamento); IV – a forma (vide Artigo 108), só deve ser escrito quando a lei exigir; V – a solenidade, se o negócio for solene, não poderá deixar essa de ser cumprida; VI – condutas proibidas, que não podem ser infracionadas; VII – doação inoficiosa, quando há herdeiros necessários, se doar mais de 50% do patrimônio, o que exceder é nulo. Art. 167 Simulação gera nulidade; a simulação se constitui toda vez que um negócio busca encobrir a verdadeira intenção das partes, o objetivo do negócio, no intuito de burlar a lei e buscar proveito a pelo menos um dos participantes do negócio; → Analisar se: I – aparenta conferir direitos a quem não os tem; II – cria-se uma aparência de negócio, uma situação jurídica que não existe; 29 III – a data é modificada para beneficiar-se. 11.4 Anulabilidade a) Hipóteses * De acordo com o Art.171, o negócio é considerado anulável por: I – incapacidade relativa do agente; II – vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores. 11.5 Defeitos do negócio jurídico 11.5.1 Erro * Art. 138 a) Conceito: o sujeito tem uma falsa compreensão da realidade, que é criada por ele mesmo, não existindo má fé da outra parte, o sujeito decide constituir o negócio, pois acredita em uma realidade inexistente. b) Pressupostos: - erro deve ser substancial: tem que atingir a essência do negócio - análise do sujeito: o sujeito no caso concreto não tem como identificar a realidade, se ele tivesse ciência da realidade, jamais teria realizado o negócio c) Hipóteses: - erro quanto a pessoa: quando o sujeito ao vincular um negócio jurídico acredita que a parte com quem está se vinculando seja um sujeito determinado e depois ele se certifica que não era) - erro quanto ao objeto: acredita-se que o objeto era um, mas na verdade era outro. Ou o sujeito acredita que adquiriu um bem que funcionasse de um determinado modo 30 e apesar de ser o que ele buscava, este não tinha a totalidade das funcionalidades desejadas) - erro vinculado à lei d) Erro de cálculo: sempre que atinja o cálculo, esse erro permitirá somente a retifi- cação (corrigir), não gerará a anulabilidade e) Efeitos: a parte prejudicada pode requerer a anulação do negócio, e este poderá ser considerado inválido 11.5.2 Dolo * Art. 145 a) Conceito: o sujeito acredita numa realidade que na verdade não existe, mas este não age com erro, porque essa falsa percepção advém de uma falsa conduta da outra parte b) Pressupostos: - o dolo tem que ser a causa efetiva para ser invalidado * dolo acidental: só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental quando, a seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo - o dolo pode advir de ação ou omissão c) Dolo de terceiro: apesar de não ser beneficiado pelo negócio, cria no sujeito a falsa percepção; se o beneficiado pelo negócio ter ciência do dolo teremos vício inva- lidante, caso contrário só direito a perdas e danos d) Efeitos: o efeito é a anulação, salvo nas hipóteses de acidental ou por terceiro; pode-se pleitear perdas e danos 11.5.3 Coação * Art. 151 31 a) Conceito: o sujeito para obtenção de um negócio ameaça a parte ou terceiro de sua família gerando temor no sujeito, o qual só aceita a constituição do negócio em decorrência desta ameaça; para verificar se foi causado temor no sujeito, vai exigir que se analise as características pessoais do sujeito, questões envolvendo a sua idade e condição intelectual. b) Pressupostos: - existência da ameaça: tem que ser uma ameaça que repercuta no sujeito e seja uma ameaça de acusação de dano, seja a ele próprio ou a terceiro (este terceiro deve ser membro da sua família ou tenha vínculo efetivo com o coagido) - analisar as características pessoais do coagido: idade e condição intelectual, pois isso pode refletir na interpretação de que isso se constitui uma ameaça c) Coação por terceiros: o beneficiado pelo negócio não tem ciência d) Coação x Exercício do Direito: obrigar o sujeito a realizar o negócio sob alguma punição e) Efeitos: o sujeito que constituiu o negócio em decorrência da coação pode buscar a anulabilidade deste negócio. O legislador também reconhece o direito a perdas e danos, mesmo quando não for autorizada a invalidade. 11.5.4 Estado de perigo * Art. 156 a) Conceito: quando necessário para salvar a si ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa. 11.5.5 Lesão * Art. 157 32 a) Conceito: pode surgir em negócios jurídicos onerosos e bilaterais. Ao se estabele- cer entre as partes envolvidas vantagens e desvantagens, pode nascer um desequilí- brio entre as prestações das partes. Há lesão toda vez que uma parte assumir uma prestação manifestamente desproporcional à prestação da outra parte. b) Pressupostos: - Concomitantemente ao nascimento do negócio jurídico. - Negócio bilateral e oneroso - Prestação manifestamente desproporcional → Objetivo. - Premente necessidade (o sujeito precisa daquele negócio, sob pena de ter algum prejuízo econômico) ou inexperiência → pressuposto subjetivo. - Se todos estes pressupostos estiverem presentes, haverá lesão. c) Forma de convalidação: todo negócio anulável pode ser convalidado (corrigir o vício e transformar o negócio inválido em válido, passível de gerar efeitos e ser um negócio jurídico perfeito. 11.5.6 Fraude contra credores * Art. 158 a) Conceito: relação obrigacional entre pelo menos dois sujeitos, tendo o devedor que cumprir com a prestação objeto do vínculo, e este tem de ter patrimônio. No entanto apesar de ter patrimônio, ele decide que não pagará, e está ciente que só perderá bens se os tiver. Então, o mesmo buscará terceiro para transferir seus bens, reali- zando com este um negócio a fim de se colocar em um estado de insolvência (quando o sujeito tem mais dívida do que patrimônio), b) Pressupostos: - existência de uma relação obrigacional, na qual o sujeito devedor deve pagar sua dívida ao credor 33 - este sujeito devedor, realiza com um terceiro um negócio jurídico gratuito ou oneroso, ou uma remissão de dívida, no intuito de tornar-se insolvente ou aumentar a sua in- solvência já existente - o credor tem que ser quirografário (aquele credor que não tem nenhuma garantia especial de cumprimento do devedor, a única garantia é o patrimônio deste); já o cre- dor com garantia é aquele sujeito que tem obrigação com o devedor, mas tem garantia de hipoteca, pois exigiu dele, ou por imposição legal tem preferência c) Efeitos: o credor da obrigação pode prever a Ação Pauliana * Ação Pauliana: é uma ação mediante o credor quirografário, o qual vai poder judici- almente requerer a invalidade do negócio realizado com terceiros, demonstrando ao juiz os pressupostos probatórios de que ouve fraude contra credor, e com isso possi- bilitando ao juiz determinar que o bem transferido venha até o processo e que seja pega a dívida ao credor. 11.6 Diferenças entre fraude contra credor e à execução Fraude contra credor Fraude à execução Anulável: atinge o plano da validade Ineficaz: atinge o plano da eficácia Exige ação pauliana Não a exige; o juiz reconhece nos autos Se configura antes que haja demanda judicial Após demanda judicial em relação ao débito Fraude à execução: Processo de conhecimento: credor coloca suas contas a exame do juiz, pra prova de que o devedor não o pagou Sentença contra o deve- dor transita em julgado Título executivo extraju- dicial Processo de execução Devedor aliena bem a terceiro: fraude à execução 34 11.7 Diferenças entre nulidade e anulabilidade Nulidade Anulabilidade Causas: Art. 166, 167 Causas: Art. 171 Insanáveis Sanáveis (verificação, revisão, inércia) Não gera efeito jurídico, pode gerar efeito fático Pode vir a tornar-se válido Efeito declaratório da decisão, pois não gera efeitos jurídicos Efeito desconstitutivo da decisão A parte interessada, o juiz, o MP e o ju- diciário podem reconhecer de ofício (in- dependentemente do requerimento da parte) A parte interessada deve ingressar judi- cialmente (o judiciário não reconhece de ofício) Reconhecida em qualquer grau de juris- dição Processo específico, não é possível re- conhecimento em qualquergrau de ju- risdição 12 PLANO DA EFICÁCIA 12.1 Efeitos jurídicos * Nem sempre gerará efeitos imediatos após ingressar no plano da eficácia 12.2 Elementos acidentais - termo - condição - encargo * Interfere na eficácia: depende de um evento para gerar efeitos, pode passar os efei- tos de imediatos a futuros, ou começar/deixar de gerá-los 12.3 Termo * Todo aquele evento futuro e certo que poderá proporcionar o início da eficácia do negócio ou o término da mesma 35 a) inicial ou final * Arts. 131 e 135 - inicial: efeito será futuro, ainda não há eficácia - final: independente de existir termo inicial ou não; é eficaz durante determinado tempo, após este, cessam-se os efeitos b) contagem dos prazos * Art. 132 * Período dentro do qual gera efeitos o negócio * Início ou final, se cair em dia não-útil, deverá ser realizado o efeito no próximo dia útil * Os dias são contados um por um, e as horas minuto a minuto 12.4 Condição * Art. 121 * Evento futuro e incerto a) suspensiva: os efeitos ficam suspensos enquanto o evento não se implementar, quando assim o fizer, será eficaz b) resolutiva: todo evento futuro e incerto caso se implemente, extinguirá a eficácia do negócio → o negócio existe, é valido e eficaz, mas se a condição resolutiva (disso- lutiva) ocorrer, não gerará mais efeitos 12.5 Encargo * Art. 136 * Visto como um ônus (= encargo) estabelecido em um negócio jurídico gratuito 36 * Ônus não é sinônimo de obrigação, não pode se forçar seu cumprimento ou pleitear indenização por descumprimento; encargo estabelecido e não cumprido extingue o negócio, não gerando mais efeitos 13 REPRESENTAÇÃO * Art. 115 13.1 Conceito * Por imposição legal ou necessidade, o sujeito será representado por um terceiro, o qual tem legitimidade para agir em nome de outrem 13.2 Espécies - legal: só há quando a lei estabelece; imprescindível para a validade do negócio - convencional: acordo de vontades