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OSCE: Ginecologia e Obstetrícia 1) Vaginite (Candidíase é a mais comum) A) Definição: infecção da vagina e vulva, caracterizada por um processo inflamatório. Essa inflamação pode ser causada por diversos fatores, sendo as infecções as causas mais comuns. No entanto, alterações hormonais, irritações químicas e reações alérgicas também podem desencadear a vaginite B) Sinais e sintomas: • Prurido vaginal e vulvar, que pode ser intenso e levar a escoriações por coçadura. • Corrimento vaginal esbranquiçado, grumoso, com aspecto de "queijo cottage" ou "leite talhado". • Geralmente inodoro. • Pode apresentar ardor, queimação vulvar e irritação. • Dispareunia (dor durante a relação sexual). • Disúria externa ou terminal (ao final da micção). • As manifestações clínicas intensificam-se no período pré-menstrual. • Ao exame físico: eritema e edema da pele dos lábios e vulvar, com possíveis fissuras e maceração. A vagina pode estar eritematosa e o colo do útero, sem alterações. Placas brancas podem estar aderidas à mucosa do colo uterino e vagina. C) Diagnóstico: O diagnóstico se baseia no quadro clínico típico e no exame a fresco. • pH vaginal ácido (tem DM tipo 2), pois diabetes descompensada é um fator de risco importante. • Uso de medicações: Questionar sobre o uso de antibióticos, corticoides, contraceptivos hormonais combinados e terapia de reposição hormonal. • Hábitos de higiene e vestuário: Perguntar sobre o uso de roupas apertadas, sintéticas, umidade local (ex: biquíni molhado), duchas vaginais e sabonetes íntimos em excesso. • Outras comorbidades e estados de imunossupressão: Verificar a presença de HIV, outras doenças imunossupressoras, obesidade ou estresse. • Histórico de tratamento: Avaliar os tratamentos anteriores utilizados, suas doses, duração e a resposta da paciente para identificar possíveis resistências. • Padrão dos sintomas: O fato de os sintomas intensificarem no período pré-menstrual corrobora o diagnóstico de candidíase. No exame físico: • Reafirmar a presença dos sinais clássicos da candidíase (eritema, edema, corrimento grumoso). • Buscar fissuras ou maceração da vulva, que podem ser indicativos de inflamação mais intensa. • Avaliar a presença de balanopostite no parceiro, caso haja sintomas, o que justificaria o tratamento do parceiro 2. Qual o tratamento que você prescreveria para esta paciente, considerando a recorrência e a comorbidade? Para casos de candidíase recorrente, o tratamento é mais prolongado e visa a supressão dos episódios. Considerando o histórico da paciente de DM tipo 2 e episódios frequentes: • Fluconazol 150 mg, VO, nos dias 1, 4 e 7 de uma semana, seguido de uma terapia de supressão com Fluconazol 150 mg, VO, uma vez por semana, por 6 meses. • Se a paciente não melhorar com este esquema (o que pode sugerir infecção por espécies de Candida não-albicans como C. glabrata ou C. tropicalis, mais comuns em pacientes diabéticas ou imunossuprimidas), o tratamento indicado seria ácido bórico 600 mg/dia, por via vaginal, por 7 dias. 3. Quais orientações adicionais você daria para tentar prevenir novos episódios? Além do tratamento medicamentoso, orientações sobre manejo de fatores de risco são cruciais. • Controle rigoroso do Diabetes Mellitus: Fundamental para reduzir a incidência e recorrência de candidíase, já que o diabetes descompensado é um fator de risco significativo. • Higiene e vestuário: ◦ Evitar roupas muito apertadas e de tecido sintético que aumentam a umidade e o calor local. Preferir roupas íntimas de algodão. ◦ Evitar duchas vaginais e higiene excessiva com sabonetes perfumados, que podem alterar o pH e a flora vaginal. ◦ Manter a região genital seca e ventilada. • Estilo de vida: ◦ Manter uma alimentação saudável, com atenção à ingestão de carboidratos, que pode influenciar a quantidade de glicogênio vaginal, favorecendo o crescimento de Candida. ◦ Gerenciamento do estresse. ◦ Prática de atividade física regular. o Pegadinha Clássica de Prova: Não investigar o controle da doença de base (diabetes) ou hábitos de vida (como alimentação rica em carboidratos ou vestuário) como fatores que contribuem para a recorrência. o Em resumo, o manejo da candidíase, seja aguda ou recorrente, requer uma abordagem holística que vai além da medicação, englobando o controle de fatores de risco e a educação da paciente sobre hábitos de vida. Pensando na prevenção, imagine a vagina como um jardim: para que ele prospere com as "flores" (bactérias benéficas), é preciso controlar as "pragas" (fungos) e garantir que o solo (pH e ambiente vaginal) esteja sempre equilibrado e não excessivamente úmido ou rico em nutrientes para os indesejados. 2) Vaginose Bacteriana A) Definição: A Vaginose Bacteriana (VB) é uma alteração na flora vaginal normal, onde há uma redução dos lactobacilos produtores de peróxido de hidrogênio e um supercrescimento de bactérias anaeróbicas. É uma vaginose, não uma vaginite, porque não apresenta sinais inflamatórios proeminentes como hiperemia, prurido ou dor. B) Sinais e sintomas: • Corrimento vaginal homogêneo, geralmente acinzentado ou claro, com volume aumentado e aderido às paredes vaginais e ao colo. • Caracteristicamente apresenta odor fétido, frequentemente descrito como "cheiro de peixe", que se intensifica após o coito ou durante a menstruação. • Pode ser sem odor ou prurido. • Ao contrário das vaginites, a VB não cursa com hiperemia, edema ou prurido significativos. • Não há muitas células inflamatórias. C) Diagnóstico: O diagnóstico é clínico-laboratorial e pode ser confirmado pela presença de três dos quatro Critérios de Amsel: 1. pH vaginal > 4,5: É o critério mais sensível (80-90% dos casos), mas o menos específico. 2. Corrimento vaginal homogêneo, cinzento, cremoso e aderido às paredes vaginais e ao colo. 3. Teste de Whiff (ou teste de amina) positivo: Liberação de odor de peixe após a adição de 1 a 2 gotas de hidróxido de potássio (KOH) a 10% à secreção vaginal. 4. Presença de clue cells (células-chave) no exame microscópico a fresco: São células epiteliais vaginais recobertas por bactérias (Gardnerella vaginalis), tornando seu contorno granuloso e impreciso. o No exame a fresco, observa-se poucos leucócitos. o A presença de clue cells é o critério mais específico, mas pode estar ausente em até 40% dos casos. D) Fatores de risco: • Práticas de higiene excessivas (ex: depilação excessiva, uso de sabonete íntimo e duchas vaginais) que alteram a flora local. E) Tratamento: • O tratamento é indicado somente para mulheres sintomáticas. • Exceções: Mulheres grávidas (mesmo assintomáticas) e mulheres que serão submetidas a procedimentos pélvicos invasivos (como inserção de DIU ou histeroscopia) devem ser tratadas. • Esquemas terapêuticos: o Metronidazol 2 g VO, dose única. o Metronidazol 500 mg VO, a cada 12 horas, por 7 dias. o Para casos de recorrência: Metronidazol 250 mg, 2 comprimidos VO, 2x ao dia, por 10 a 14 dias. o Em gestantes no primeiro trimestre: Clindamicina 300 mg VO, 2x ao dia, por 7 dias. • Tratamento do parceiro sexual: Não é necessário. • Pegadinha: O parceiro não precisa ser tratado, ao contrário de algumas ISTs. F) Diagnóstico diferencial: • Candidíase Vulvovaginal. • Tricomoníase. • Corrimento vaginal fisiológico. G) Complicações: • Vaginose bacteriana recorrente. • Em gestantes, o não tratamento pode estar associado a complicações obstétricas. H) Outros pontos importantes: • É uma das principais queixas na Atenção Primária à Saúde (APS). • Muitas vezes, se assintomática, a própria vagina é capaz de reequilibrar a flora sem necessidade de tratamento. • O pH vaginal é um critério sensível, mas pode ser influenciado por fatores como sangramento, duchas e coito. I) OSCE: • OSCE 1: Caso Típico de Vaginose Bacteriana Sintomática o História: Uma paciente de 32 anos, Maria, procura a unidade de saúde com queixa de corrimento vaginal cinza e homogêneo há 5 dias, acompanhado de um odor forte, semelhante a peixe, que piora após as relações sexuais. Nega prurido, dor ou ardência. o Exame Físico: Você observa um corrimento aumentado, acinzentado e aderido às paredes vaginais e ao colo do útero. o Sua tarefa: 1. Qual a principal hipótese diagnóstica? Vaginose Bacteriana. A paciente Maria apresenta queixas clássicas de vaginose bacteriana: • Corrimento vaginal cinza e homogêneo. • Odor forte, semelhante a peixe, que piora após relações sexuais. O odor fétido deve-se à putrescina e cadaverina, compostos liberados pelo metabolismo anaeróbio. A piora do odor após o coito e durante a menstruação ocorre porque ambos alteram o pH vaginal, que é alcalino, favorecendo a liberação das aminas voláteis. • Ausência de prurido, dor ou ardência, o que é típico de vaginose (e não de uma vaginite com processo inflamatório intenso). • Ao exame físico, o corrimento está aumentado, acinzentado e aderido às paredes vaginais e ao colo do útero, sem sinais de inflamação nas paredes vaginais ou ectocérvice 2.Descreva os testes laboratoriais rápidos (critérios de Amsel) que podem ser realizados no consultório para confirmar o diagnóstico e os resultados esperados. O diagnóstico da vaginose bacteriana é confirmado pela presença de três dos quatro critérios de Amsel: 1. Corrimento vaginal fino, homogêneo, branco-acinzentado: Espera-se que este critério esteja presente, conforme a queixa da paciente 2. pH vaginal > 4,5: Espera-se encontrar um pH alcalino, ou seja, superior a 4,5. A vaginose bacteriana decorre da alteração na microbiota vaginal que resulta na perda de lactobacilos, levando à alcalinização do pH. 3. Teste das aminas (Whiff test) positivo: Espera-se que, ao adicionar uma gota de hidróxido de potássio (KOH) a 10% à secreção vaginal em uma lâmina, ocorra a liberação de um odor de peixe podre 4. Células indicadoras (clue cells) no exame microscópico (exame a fresco): Espera-se observar células epiteliais vaginais com a membrana recoberta por bactérias, apresentando aspecto granular e bordos não nítidos 3. Qual o tratamento de escolha para Maria? Metronidazol 500 mg, por via oral, a cada 12 horas, por 7 dias. • Como segunda opção, também é possível utilizar Metronidazol gel vaginal 100 mg/g, 1 aplicação à noite, por 5 dias. É importante ressaltar que não há indicação de tratamento para o parceiro sexual neste caso o Pegadinha Clássica de Prova: Prescrever tratamento para o parceiro sexual de Maria, o que não é indicado para vaginose bacteriana. • OSCE 2: Vaginose Bacteriana em Contexto Específico o História: Uma paciente de 25 anos, Carla, com diagnóstico de vaginose bacteriana assintomática há 2 meses, retorna à consulta para discutir a inserção de um Dispositivo Intrauterino (DIU). Ela nega qualquer sintoma vaginal. o Exame Físico: Ao exame, você observa um corrimento esbranquiçado, homogêneo e com discreto odor. Não há sinais de inflamação. Você confirma o diagnóstico de vaginose bacteriana pelos critérios de Amsel. o Sua tarefa: 1. Qual a conduta que deve ser adotada antes da inserção do DIU? Justifique. A conduta que deve ser adotada antes da inserção do DIU é o tratamento da vaginose bacteriana, mesmo que assintomática. Embora a vaginose bacteriana assintomática geralmente não exija tratamento, o Ministério da Saúde (MS) recomenda o tratamento em mulheres que serão submetidas à inserção de Dispositivo Intrauterino (DIU), isso se deve ao fato de que a vaginose bacteriana pode alterar o microambiente cervicovaginal, favorecendo a ascensão de bactérias para o trato genital superior. O uso de DIU aumenta o risco de Doença Inflamatória Pélvica (DIP), especialmente nas semanas subsequentes à colocação (maior risco até 20 dias após a inserção). Pacientes com infecção assintomática por agentes como clamídia e gonococo tendem a apresentar DIP sintomática após a inserção do DIU. Embora a vaginose bacteriana não seja uma IST, ela é uma alteração da microbiota que pode preceder a DIP e, nesse contexto, o tratamento é crucial para reduzir o risco de infecções ascendentes e complicações como a DIP e o tratamento seria o mesmo para a vaginose bacteriana sintomática: Metronidazol 500 mg, VO, a cada 12 horas, por 7 dias 2. Considerando a condição da paciente, quais orientações você daria em relação à higiene vaginal para tentar prevenir futuras alterações da flora? • Evitar duchas vaginais: As duchas podem desequilibrar a microbiota vaginal normal e alcalinizar o pH, o que favorece a proliferação de bactérias anaeróbias. • Evitar higiene excessiva: O uso de sabonetes perfumados ou em excesso na região vaginal pode alterar o pH e a flora natural. • Cuidados com o coito: O sêmen é alcalino e a ejaculação vaginal frequente pode alterar o pH vaginal, favorecendo o desequilíbrio da flora. • Evitar umidade e calor excessivos na região genital: Embora alguns fatores de vestuário não tenham evidência científica robusta para candidíase, manter a região seca e ventilada é geralmente benéfico para a saúde vaginal. Preferir roupas íntimas de algodão e evitar roupas muito apertadas ou sintéticas pode ajudar a manter um ambiente vaginal equilibrado o Pegadinha Clássica de Prova: Não tratar a paciente por ser assintomática. O tratamento é mandatório antes de procedimentos invasivos para prevenir complicações. o Em resumo, imagine a flora vaginal como um delicado ecossistema. Assim como um jardim precisa do equilíbrio certo de luz solar, água e nutrientes para as plantas benéficas prosperarem, a vagina necessita de um pH adequado e um ambiente equilibrado. Duchas vaginais e certos hábitos podem ser como um desequilíbrio químico no solo, favorecendo o crescimento de "ervas daninhas" (bactérias indesejadas) em vez das "flores" (lactobacilos benéficos). 3) Doença Inflamatória Pélvica (DIP) A) Definição: A Doença Inflamatória Pélvica (DIP) é uma síndrome infecciosa do trato genital feminino superior, que envolve o útero (endometrite), as tubas uterinas (salpingite), os ovários (oophorite) e/ou as estruturas pélvicas adjacentes (parametrite, abcessos tubo-ovarianos). É frequentemente causada pela ascensão de microrganismos do trato genital inferior. B) Sinais e sintomas: • Dor pélvica de intensidade variada, geralmente no hipogástrio. O quadro pode ter início durante ou após a menstruação. • Dor à palpação uterina e/ou anexial ao toque bimanual. • Dor à mobilização do colo uterino (sinal do candelabro). • Corrimento vaginal ou endocervical anormal e/ou purulento (pode estar presente ou ausente). • Febre (temperatura axilar > 37,5 °C ou retal > 38,3 °C) e calafrios. • Dispareunia (dor durante a relação sexual). • Pode haver metrorragia (sangramento uterino irregular). • Outros sintomas: Astenia, distensão abdominal, náuseas e vômitos, massa ou espessamento anexial. • Colo uterino pode estar edemaciado, eritematoso e friável. C) Diagnóstico: O diagnóstico da DIP é clínico, baseado em anamnese detalhada e exame físico minucioso. A suspeita de DIP deve ser investigada em qualquer mulher sexualmente ativa que apresente dor abdominal baixa e/ou dor pélvica. • Critérios Diagnósticos (Critérios de Hager ou do CDC): o São necessários três critérios maiores + pelo menos um critério menor OU um critério elaborado. o Critérios Maiores (os 3 clássicos): ▪ Dor no hipogástrio (dor pélvica infrapúbica). ▪ Dor à palpação dos anexos (dor anexial). ▪ Dor à mobilização do colo uterino. o Critérios Menores: ▪ Temperatura axilar > 37,5 °C ou retal > 38,3 °C (febre). ▪ Conteúdo vaginal ou secreção endocervical anormal e/ou purulenta. ▪ Massa pélvica. ▪ Leucocitose no hemograma (>5 leucócitos/campo de imersão em material de endocérvice). ▪ Proteína C reativa (PCR) ou velocidade de hemossedimentação (VHS) elevadas. ▪ Comprovação laboratorial de infecção cervical por gonococo, Chlamydia ou Mycoplasma. o Critérios Elaborados (não obrigatórios para o diagnóstico inicial, mas confirmam): ▪ Evidência histopatológica de endometrite. ▪ Presença de abscesso túbulo-ovariano ou de fundo de saco de Douglas em exame de imagem (USG pélvica/transvaginal ou TC/RM). ▪ Laparoscopia com evidência de DIP. • Exames complementares (subsidiários): o Beta-HCG sérico: É o exame mandatório inicial e o primeiro a ser pedido para afastar gestação ectópica (principal diagnóstico diferencial) e outras complicações obstétricas. o Ultrassonografia (USG) pélvica e transvaginal: Avalia a presença de coleções ou abscessos pélvicos. O principal achado é a presença de uma pequena quantidade de líquido na trompa (hidrossalpinge), podendo ou não ter líquido livre na pelve. o Hemograma completo, PCR, VHS (para avaliar leucocitose e inflamação). o Bacterioscopia para vaginose bacteriana. o Cultura de material da endocérvice ou testes de biologia molecular (PCR) para clamídia e gonococo (principais agentes etiológicos). o Urinocultura e exame qualitativode urina (se houver sintomas urinários). o Tomografia Computadorizada (TC) ou Ressonância Magnética (RM): Para casos mais complexos, avaliar coleções pélvicas, localização e extensão do processo. o Videolaparoscopia: Método diagnóstico e terapêutico. D) Fatores de risco: • Idade jovem. • Múltiplos parceiros sexuais e práticas sexuais desprotegidas. • História de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), especialmente por Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae (os agentes etiológicos mais comuns). • Uso de Dispositivo Intrauterino (DIU), especialmente se associado a ISTs ou inserção recente (usuárias de DIU de cobre são mencionadas em um exemplo). • História prévia de DIP (doença com caráter recidivante). • Procedimentos invasivos ginecológicos recentes, como curetagem uterina, biópsia de endométrio, histeroscopia, parto cesárea, extração manual da placenta. • Vaginites e vaginoses recorrentes. • Duchas vaginais e uso de tampões. E) Tratamento: O tratamento deve ser instituído na fase aguda da doença e, muitas vezes, é empírico, direcionado aos agentes etiológicos mais prováveis. • Tratamento Ambulatorial (para casos leves a moderados): o Ceftriaxona 500 mg IM, dose única. o Doxiciclina 100 mg VO, 2 vezes ao dia, por 14 dias. o Metronidazol 500 mg VO, 2 vezes ao dia, por 14 dias. • Critérios para Internação Hospitalar: o Suspeita de abscesso túbulo-ovariano. o Gravidez (qualquer estágio). o Ausência de resposta ao tratamento ambulatorial em 72 horas (ou 3 dias). o Incapacidade de tolerar medicação oral ou não aderência ao tratamento ambulatorial. o Quadro abdominal grave, com defesa muscular ou dor à descompressão. o Febre alta persistente (> 37,5 °C axilar ou > 38,3 °C retal). o Pegadinha: Não internar paciente com DIU e DIP, especialmente se houver abscesso ou não melhora. O DIU pode ser mantido inicialmente com o tratamento, mas a falha terapêutica ou presença de abscesso pode indicar a remoção. • Orientações Adicionais: o Convocação, avaliação e tratamento dos parceiros sexuais (dos últimos 60 dias). o Aconselhamento sobre sexo seguro e oferta de preservativos. o Notificação do caso. o Oferecer testes rápidos para outras ISTs (HIV, Hepatite B e C, Sífilis) e vacinação contra Hepatite B. F) Diagnóstico diferencial: • Gravidez ectópica (principal). • Apendicite aguda. • Torção ovariana. • Cisto ovariano roto ou cisto de corpo lúteo hemorrágico. • Endometriose e Adenomiose. • Miomatose uterina. • Infecção do trato urinário (ITU), incluindo pielonefrite e cálculo renal. • Outras causas de dor pélvica crônica, como síndrome da congestão pélvica, aderências pélvicas, síndrome do intestino irritável. G) Complicações: • Infertilidade (aumenta o risco a cada episódio de DIP). • Gravidez ectópica (sequela de infecção, devido à obstrução tubária). • Dor pélvica crônica. • Abscesso túbulo-ovariano. • Síndrome de Asherman (se houver endometrite grave com formação de sinéquias). H) Outros pontos importantes: • A DIP tem um caráter recidivante, tornando a história clínica prévia crucial. • Sinusorragia (sangramento durante o ato sexual) é uma queixa que deve levar à suspeita de cervicite ou câncer de colo de útero. • A confirmação laboratorial dos agentes etiológicos nem sempre é necessária, pois a abordagem é muitas vezes sindrômica. • Mnemônico PALM-COEIN: É um mnemônico para as causas de Sangramento Uterino Anormal (SUA) e pode ser útil para organizar os diagnósticos diferenciais ginecológicos de dor pélvica. Embora a DIP não seja classificada dentro do PALM-COEIN, algumas das suas condições diferenciais são. I) Dois modelos de OSCE: • OSCE 1: Caso Clínico de DIP Aguda o História: Lídia, 23 anos, refere dor tipo cólica há 24 horas, inicialmente em fossa ilíaca direita (FID) e agora em todo o abdômen inferior, de forte intensidade. Não houve melhora com analgésicos comuns. Nega febre. Refere corrimento vaginal amarelado há uma semana. Seus ciclos são regulares e a DUM foi há 20 dias (possível atraso menstrual). Faz uso ocasional de preservativo. o Exame Físico: PA: 140x90 mmHg, PR: 80 bpm. Abdômen doloroso à palpação superficial e profunda, principalmente em FID e hipogástrio. Descompressão dolorosa em FID. Exame especular: conteúdo vaginal aumentado, amarelado; colo sem lesões, hiperemiado, dando saída a secreção amarelada pelo orifício externo. Ao toque bimanual: dor à mobilização do colo; útero de características normais, doloroso à mobilização; palpa-se uma massa de 3 cm em fundo de saco lateral direito, bastante dolorosa. o Sua tarefa: 1. Quais as hipóteses diagnósticas mais prováveis neste momento? • Doença Inflamatória Pélvica (DIP) com possível Abscesso Tubo-Ovariano (ATO): Lídia apresenta diversos sinais e sintomas clássicos de DIP. A dor pélvica recente, o corrimento vaginal amarelado, a dor à mobilização do colo uterino e a dor à palpação dos anexos ao toque bimanual são considerados critérios maiores para o diagnóstico clínico de DIP. A presença de uma massa palpável e dolorosa em fundo de saco lateral direito (3 cm) sugere fortemente a formação de um abscesso tubo-ovariano, que é uma complicação da DIP. A hiperemia do colo com secreção mucopurulenta pelo orifício externo também é indicativa de cervicite, que precede a DIP. O uso ocasional de preservativo é um fator de risco para ISTs, que são os principais agentes etiológicos da DIP. • Gravidez Ectópica Rota: A DUM (data da última menstruação) há 20 dias levanta a possibilidade de atraso menstrual e, consequentemente, de gravidez. Em pacientes em idade reprodutiva com dor abdominal/pélvica, a gravidez ectópica é um diagnóstico diferencial crucial e de alta gravidade, especialmente se houver suspeita de ruptura. • Torção Ovariana: A dor pélvica súbita e intensa, acompanhada de uma massa anexial palpável e dolorosa, são características que também se alinham com a torção do ovário. • Apendicite Aguda: Embora seja uma condição não ginecológica, a dor inicial em fossa ilíaca direita (FID) com descompressão dolorosa (sinal de irritação peritoneal) faz da apendicite um importante diagnóstico diferencial em casos de dor abdominal aguda no quadrante inferior direito. 2. Qual a conduta imediata para Lídia, incluindo os exames a serem solicitados e a prioridade? A conduta imediata para Lídia deve priorizar a estabilização clínica e a exclusão/confirmação das causas mais graves, especialmente a gravidez ectópica. Os exames a serem solicitados e suas prioridades são: 1. Analgesia: Deve ser administrada para alívio da dor intensa. 2. Dosagem de beta-hCG (fração beta da gonadotrofina coriônica humana): É o exame mandatório inicial para descartar gravidez, especialmente em casos de amenorreia secundária ou suspeita de gravidez ectópica. Sua positividade direciona a investigação para complicações gestacionais. 3. Ultrassonografia Transvaginal (USGTV) e/ou Abdominal: É o exame de imagem de escolha para avaliar o útero, anexos, endométrio, presença de massas pélvicas (como a massa anexial palpada), e líquido livre na cavidade, auxiliando no diagnóstico diferencial entre DIP (abscesso tubo-ovariano, hidrossalpinge), gravidez ectópica e torção ovariana. 4. Hemograma completo: Para avaliar a presença de leucocitose (indicativa de processo infeccioso/inflamatório, como na DIP) e anemia (no caso de sangramento, como em uma ruptura de gravidez ectópica ou cisto ovariano). 5. Exame a fresco da secreção vaginal e pH vaginal: Para auxiliar na caracterização do corrimento e confirmar a Vaginose Bacteriana ou Tricomoníase, que são fatores de risco para DIP. O pH vaginal geralmente estará > 4,5 na tricomoníase e na vaginose bacteriana. 6. Cultura para gonococos e pesquisa de clamídia: Embora o diagnóstico de DIP seja clínico na maioria das vezes, a identificação dos agentes etiológicos (Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatissão os mais comuns) é importante para tratamento direcionado e seguimento. 7. Tomografia Computadorizada (TC) de Abdômen com contraste: Pode ser considerada se a ultrassonografia for inconclusiva ou se houver forte suspeita de apendicite ou outras causas extraginecológicas. 8. Iniciar antibioticoterapia empírica para DIP: Dada a alta suspeita clínica (dor, dor à mobilização do colo, dor anexial, corrimento anormal), o tratamento deve ser iniciado imediatamente para prevenir complicações tardias graves como infertilidade, gravidez ectópica e dor pélvica crônica. A escolha entre tratamento ambulatorial ou hospitalar dependerá da avaliação de critérios de gravidade, mas a urgência em iniciar é ressaltada. 3. Se Lídia evoluísse com hipotensão e queda do nível de consciência, qual seria a principal hipótese e a conduta de emergência? Se Lídia evoluísse com hipotensão e queda do nível de consciência, a principal hipótese seria choque hipovolêmico por hemorragia. Neste cenário, a principal causa a ser considerada, especialmente com a possibilidade de gravidez, seria uma gravidez tubária rota ou, menos comum, a ruptura de um cisto ovariano hemorrágico. A conduta de emergência seria: 1. Medidas de estabilização hemodinâmica: Iniciar imediatamente a reposição volêmica vigorosa, com administração de fluidos intravenosos. 2. Laparotomia/Laparoscopia imediata: Diante da instabilidade hemodinâmica, a intervenção cirúrgica de urgência é mandatória para identificar e controlar a fonte do sangramento. A via laparoscópica é preferencial quando disponível e o cirurgião tiver experiência, mas a laparotomia é a via de escolha em casos de instabilidade grave ou quando a laparoscopia não é possível. o Analogia para solidificar o entendimento: Imagine o corpo de Lídia como um sistema de alarme de incêndio sofisticado. A dor pélvica e o corrimento são como as primeiras fumaças e o cheiro de queimado – são os sinais de alerta iniciais que indicam que algo está errado no "edifício" (trato reprodutivo). O médico, como um bombeiro, precisa rapidamente investigar a origem dessa fumaça com os "equipamentos" certos (exames como beta-hCG, ultrassonografia, hemograma) para determinar se é um pequeno foco (como uma infecção simples, a DIP) ou algo mais grave e explosivo (como uma gravidez ectópica rompida). Se a fumaça se espalha rapidamente e o "edifício" começa a balançar (hipotensão e queda de consciência), isso é um alarme de emergência total, indicando que a vida está em risco. Nesse ponto, não há tempo para investigação detalhada, e a prioridade é a ação imediata para conter o "incêndio" (cirurgia de emergência e estabilização da paciente), pois cada segundo conta para salvar o "edifício". o Pegadinha Clássica de Prova: Não solicitar Beta-HCG como o primeiro exame mandatório, pois a gravidez ectópica é um diferencial crucial em pacientes com dor pélvica e atraso menstrual. A descompressão dolorosa e a massa anexial sugerem um quadro agudo grave. • OSCE 2: Manejo de DIP e Orientações o História: Ana, 25 anos, com queixa de dor pélvica moderada há 48 horas, com piora progressiva. Relata corrimento amarelado abundante há cerca de uma semana. Está menstruada há 3 dias. Usuária de DIU de cobre há dois anos. Nega febre, mas refere calafrios. o Exame Físico: Afebril, bom estado geral. Exame especular: conteúdo amarelado espesso fluindo pelo orifício do colo uterino. Fio do DIU visível. Ao toque vaginal: dor hipogástrica, dor à mobilização do colo e à palpação dos anexos. o Sua tarefa: 1. Com base nos critérios diagnósticos de DIP, quais critérios maiores e menores estão presentes neste caso? O diagnóstico clínico da Doença Inflamatória Pélvica (DIP) baseia-se na presença de três critérios maiores somados a pelo menos um critério menor, ou pela presença de um critério elaborado. No caso de Ana, os seguintes critérios estão presentes: • Critérios Maiores presentes: ◦ Dor no hipogástrio (ou dor pélvica infrapúbica): Ana refere "dor tipo cólica há 24 horas" que "ocupa todo o abdômen inferior" e é "doloroso à palpação superficial e profunda, principalmente em FID e hipogástrio" ◦ Dor à palpação anexial: Ao toque bimanual, "palpa-se uma massa de 3 cm em fundo de saco lateral direito, bastante dolorosa" e "útero de características normais, doloroso à mobilização". A dor à palpação dos anexos é um critério maior. ◦ Dor à mobilização do colo uterino: O exame de toque bimanual de Ana revela "dor à mobilização do colo". • Critérios Menores presentes: ◦ Secreção vaginal e/ou endocervical purulenta: Ana refere "corrimento vaginal amarelado há uma semana". Ao exame especular, observa-se "conteúdo vaginal aumentado, amarelado; colo sem lesões, hiperemiado, dando saída a secreção amarelada pelo orifício externo". ◦ Massa pélvica: Ao toque bimanual, "palpa-se uma massa de 3 cm em fundo de saco lateral direito, bastante dolorosa". ◦ Embora Ana refira "calafrios", ela "nega febre" e é "afebril" ao exame físico. Portanto, o critério de febre (temperatura axilar > 37,5 °C ou oral > 38,3 °C) não é preenchido. A presença dos três critérios maiores e de dois critérios menores confirma o diagnóstico clínico de DIP. 2. Descreva o tratamento ambulatorial completo para Ana. Dado o quadro clínico de Ana, que apresenta sintomas de DIP e não demonstra critérios para internação hospitalar imediata (como gravidez confirmada, estado geral grave com vômitos e febre alta, ou dificuldade de exclusão de emergência cirúrgica inicial, embora essa avaliação seja dinâmica), o tratamento inicial preconizado é ambulatorial com antibioticoterapia de amplo espectro. A monoterapia não é recomendada devido à diversidade de agentes etiológicos envolvidos, sendo a associação de antibióticos a conduta ideal para cobrir os principais patógenos como Neisseria gonorrhoeae, Chlamydia trachomatis e anaeróbios. O esquema terapêutico ambulatorial recomendado é: • Ceftriaxona: 500 mg, via intramuscular (IM), em dose única. • Doxiciclina: 100 mg, via oral (VO), duas vezes ao dia (a cada 12 horas), por 14 dias. • Metronidazol: 500 mg, via oral (VO), duas vezes ao dia (a cada 12 horas), por 14 dias. É importante ressaltar que a doxiciclina é contraindicada durante a gravidez. Como Ana tem um possível atraso menstrual (DUM há 20 dias), a dosagem de beta-hCG é um exame mandatório inicial para descartar gravidez. Se a gravidez for confirmada, o esquema antibiótico precisará ser ajustado. Em relação ao DIU de cobre, a retirada não é necessária no início do tratamento da DIP. Apenas se não houver melhora clínica após 48 a 72 horas do início da antibioticoterapia é que a remoção do DIU deve ser considerada. 3. Quais orientações adicionais você forneceria a Ana e a seu parceiro sexual para o manejo da condição e prevenção de futuras ISTs? Para o manejo adequado da condição e a prevenção de futuras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), as seguintes orientações são cruciais para Ana e seu parceiro: • Tratamento do Parceiro Sexual: O parceiro sexual de Ana (dos últimos 60 dias) deve ser convocado para aconselhamento, avaliação e possível tratamento. O tratamento do parceiro só deve ser realizado se houver confirmação da infecção. • Abstinência Sexual: Ana deve praticar abstinência sexual até a completa resolução clínica da DIP. • Uso Consistente de Preservativos: Aconselhar sobre sexo seguro e a importância do uso regular e correto de preservativos em todas as relações sexuais para prevenir futuras ISTs. O uso ocasional, como relatado por Ana, é um fator de risco. • Testagem para Outras ISTs: Oferecer testagem para outras ISTs, como HIV, sífilis e hepatites B e C, e rastrear a presença de gonococo e Chlamydia trachomatis, que são os agentes etiológicos mais comuns da DIP. • Notificação: O caso deve ser notificado, quando indicado, conforme as diretrizes de saúdepública. • Acompanhamento Médico: Agendar um retorno ambulatorial para seguimento na primeira semana após o início do tratamento. A melhora clínica deve ser observada nos 3 primeiros dias. Em caso de piora, exames de imagem adicionais ou internação podem ser necessários. • Informação e Educação: Fornecer informações claras sobre a doença, seus riscos (como infertilidade, gravidez ectópica e dor pélvica crônica), e a importância da adesão ao tratamento e das medidas preventivas. o Analogia para solidificar o entendimento: Imagine o sistema reprodutor de Ana como uma casa. A cervicite e a DIP são como um incêndio que começou na entrada (colo do útero) e se espalhou para os cômodos superiores (útero, tubas, ovários). O corrimento é a fumaça visível, e a dor é o alerta do alarme de incêndio. O tratamento ambulatorial é como chamar os bombeiros para conter o fogo localmente com extintores potentes (os antibióticos). O parceiro precisa ser avaliado porque ele pode ser um "incendiário" assintomático, ou seja, portar a mesma infecção e causar um novo incêndio. As orientações adicionais, como o uso de preservativos e o retorno para avaliação, são como medidas de segurança pós-incêndio: garantir que o fogo foi apagado, verificar se não há focos remanescentes e instalar alarmes mais eficazes (preservativos) para evitar novos incidentes e proteger a "estrutura" da casa (a saúde reprodutiva de Ana) a longo prazo. o Pegadinha Clássica de Prova: Acreditar que a presença do DIU exige sua remoção imediata como primeira medida no tratamento da DIP ambulatorial. A remoção do DIU não é uma conduta obrigatória na apresentação inicial da DIP, especialmente se a paciente está estável. O tratamento com antibióticos deve ser iniciado. 4) Exame Colpocitológico (Papanicolaou) A) Definição: O Exame Citopatológico do Colo Uterino, conhecido como Colpocitologia Oncótica ou Papanicolaou, é o método universal de rastreamento para o câncer de colo uterino e suas lesões precursoras. Trata-se de um exame simples, de baixo custo e fácil reprodutibilidade. Ele avalia as células da endocérvice (epitélio colunar/glandular), ectocérvice (epitélio escamoso estratificado) e, crucialmente, a Junção Escamo-Colunar (JEC), também chamada de zona de transformação, que é o local de maior incidência das lesões neoplásicas induzidas pelo HPV. B) Sinais e sintomas: Como é um exame de rastreamento, a maioria das pacientes submetidas ao Papanicolaou é assintomática. Entretanto, na presença de lesões precursoras ou câncer de colo uterino em estágios mais avançados, os sintomas podem incluir: • Sinusorragia (sangramento durante ou após as relações sexuais). • Corrimento vaginal fétido, aquoso e contínuo. • Sangramento genital irregular. • Dor pélvica. • Queda do estado geral e emagrecimento (em casos avançados). C) Diagnóstico: • Indicação e Periodicidade do Rastreamento: o Deve ser indicado para mulheres dos 25 aos 64 anos que já tiveram atividade sexual. o Os dois primeiros exames devem ser realizados com intervalo anual. o Se ambos os resultados forem negativos, os próximos exames devem ser realizados a cada 3 anos. o Pode ser interrompido aos 64 anos se a mulher tiver pelo menos dois exames negativos consecutivos nos últimos cinco anos e sem história prévia de doença neoplásica pré-invasiva. o Gestantes podem e devem realizar o exame. • Coleta: Realizada por meio do exame especular, com a rotação de 360° da espátula de Ayre e/ou do cytobrush para amostra citológica. • Adequabilidade da amostra: Avaliada como satisfatória ou insatisfatória (se material acelular/hipocelular, presença de hemácias, leucócitos, contaminantes, ou fixação inadequada). o Se insatisfatória, a paciente deve repetir o exame em 6 a 12 semanas, com correção do problema, se possível. • Representatividade da amostra: Um exame satisfatório deve ter representatividade de pelo menos dois epitélios: células escamosas, células glandulares e/ou células metaplásicas da JEC (a presença destas é um indicador de qualidade da coleta). o Se não houver representação de dois desses epitélios, repetir a coleta em 1 ano. • Interpretação e Conduta de Acordo com os Resultados (Mnemônico da Conduta): o ASC-US (Atipias em Células Escamosas de Significado Indeterminado, possivelmente não neoplásicas): ▪ 25 a 30 anos: Repetir citologia em 1 ano. ▪ 30 anos ou mais: Repetir citologia em 6 meses. ▪ Se o novo exame for normal, retornar ao rastreamento habitual (a cada 3 anos). Se a nova coleta apresentar ASC-US ou lesão mais grave, encaminhar para colposcopia. ▪ Pegadinha: São necessários dois exames com ASC-US para indicação de colposcopia. o LSIL (Lesão Intraepitelial Escamosa de Baixo Grau – NIC I): ▪ Menos de 25 anos: Repetir citologia em 3 anos. ▪ 25 anos ou mais: Repetir citologia em 6 meses. o HSIL (Lesão Intraepitelial Escamosa de Alto Grau – NIC II e III), ASC-H (Atipias em Células Escamosas em que não se Pode Excluir Lesão de Alto Grau), AGC (Atipias em Células Glandulares): ▪ Colposcopia está indicada imediatamente. ▪ AGC: Consideradas mais graves. Além da colposcopia imediata, realizar nova coleta para análise citopatológica do canal endocervical (cytobrush ou curetagem de canal). Se colposcopia sem lesão visível, realizar USG transvaginal para avaliar espessura endometrial (especialmente > 35 anos, ou com SUA ou células endometriais no preventivo) e, se anormal, estudo anatomopatológico endometrial (biópsia aspirativa ou histeroscopia). • Colposcopia: Exame visual do colo uterino e vagina com magnificação. o A identificação de vasos atípicos é um importante preditor de neoplasia invasora. o O Teste de Schiller (aplicação de lugol) é usado para direcionar a biópsia: áreas que não coram com o lugol (iodo negativo = Schiller positivo) são suspeitas, pois as células neoplásicas têm menos glicogênio. • Biópsia (Diagnóstico Histológico): É o padrão-ouro para o diagnóstico definitivo das Neoplasias Intraepiteliais Cervicais (NICs). D) Fatores de risco: • Infecção pelo Papilomavírus Humano (HPV) (principal fator). • Iniciação sexual precoce. • Múltiplos parceiros sexuais e/ou parceiro com múltiplos parceiros. • Tabagismo. • Imunossupressão (ex: HIV). • Baixos indicadores de saúde e condições socioeconômicas precárias. E) Tratamento: • Lesões de alto grau (NICs II e III): Devem ser tratadas por métodos excisionais (como a conização), pois apresentam risco de progressão para câncer invasor. • Lesões de baixo grau (NIC I): Têm alta taxa de regressão espontânea. O manejo é, em geral, conservador, com acompanhamento citopatológico e colposcópico. • O tratamento do carcinoma cervical invasor (Estágios Ib3, por exemplo) é individualizado e pode incluir cirurgia (histerectomia radical), radioterapia e/ou quimioterapia, conforme o estadiamento clínico. F) Diagnóstico diferencial: • Cervicites (inflamação do colo uterino, que pode causar sangramento ao toque e corrimento, confundindo com lesões). • Pólipos endocervicais (massas benignas que podem causar sangramento e leucorreia, sendo por vezes confundidos com câncer de colo). • Condições benignas, como ectopia (mácula rubra), que é uma condição fisiológica onde a JEC está evertida. G) Complicações: • Progressão de lesões de alto grau para câncer de colo uterino invasor se não tratadas. • É importante lembrar que as NICs (Neoplasias Intraepiteliais Cervicais) são restritas ao epitélio e não invadem a lâmina basal, portanto, não há possibilidade de metástases. H) Outros pontos importantes: • A JEC (Junção Escamo-Colunar) é o principal local de surgimento das lesões neoplásicas no colo uterino. • A localização da JEC varia com a idade e o estado hormonal: em mulheres na menacme, a JEC é geralmente evertida ou ao nível do orifício externo; após a menopausa,a JEC tende a "entrar" para o canal endocervical, e o orifício externo pode estenosar, dificultando a coleta do preventivo. • Não é recomendado fazer o preventivo se houver corrimento vaginal patológico, pois isso pode prejudicar a visibilidade e a interpretação das células cervicais. • Pegadinha: O rastreamento populacional com Papanicolaou não é indicado antes dos 25 anos. Se for realizado por algum motivo e vier com resultado de ASC-H, a conduta é a mesma para as outras idades (colposcopia com biópsia). I) Dois modelos de OSCE: • OSCE 1: Idade de Início do Rastreamento e Conduta o História: Manuela, 22 anos, nulípara, veio para sua primeira consulta ginecológica. Nega queixas e faz uso de contraceptivo oral combinado há 3 anos, com boa adaptação ao método. Gostaria de fazer o exame preventivo do câncer de colo uterino. o Sua tarefa: 1. Qual a conduta adequada em relação à solicitação do exame citopatológico para Manuela? Justifique sua resposta com base nas diretrizes do Ministério da Saúde. A conduta adequada em relação à solicitação do exame citopatológico para Manuela é não realizar o exame neste momento. De acordo com as diretrizes do Ministério da Saúde, o rastreamento do câncer de colo uterino por meio do exame citopatológico (Papanicolaou) é recomendado para mulheres a partir dos 25 anos de idade que já iniciaram a atividade sexual. Manuela tem 22 anos, ou seja, está abaixo da idade recomendada para o início do rastreamento populacional. A não recomendação do rastreamento antes dos 25 anos se deve à alta taxa de eliminação espontânea do Papilomavírus Humano (HPV) em mulheres jovens, que é o principal agente relacionado às lesões precursoras do câncer de colo do útero. Além disso, os métodos utilizados para tratar alterações precursoras nessa faixa etária podem levar a complicações futuras, como parto prematuro e aborto. Se, por alguma razão, um exame fosse realizado em uma paciente com menos de 25 anos e apresentasse um resultado de Lesão Intraepitelial de Baixo Grau (LSIL) ou Atipias em Células Escamosas de Significado Indeterminado (ASC-US), a conduta seria apenas repetir o exame em 3 anos, sem indicação de colposcopia ou repetição em intervalo menor. 2. Cite um fator de risco importante para o câncer de colo uterino. Infecção persistente pelo Papilomavírus Humano (HPV). Especificamente, as cepas de alto risco do HPV, como os tipos 16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56 e 58, estão diretamente relacionadas ao desenvolvimento das Neoplasias Intraepiteliais Cervicais (NICs) e do carcinoma invasor. o Pegadinha Clássica de Prova: Realizar o exame de Papanicolaou imediatamente por solicitação da paciente. O rastreamento de rotina no Brasil começa a partir dos 25 anos. • OSCE 2: Conduta em Resultado de Citologia Anormal o História: Camila, 30 anos, traz o resultado de seu último Papanicolaou que indica "Lesão Intraepitelial de Baixo Grau (LSIL)". Ela está muito ansiosa e preocupada com a possibilidade de câncer. o Sua tarefa: 1. Explique a Camila o significado do resultado de LSIL de forma clara e objetiva. Camila, o resultado de "Lesão Intraepitelial de Baixo Grau (LSIL)" na sua citologia indica que foram observadas pequenas alterações nas células do colo do seu útero. Essas alterações são classificadas como de baixo grau, o que significa que são leves e, na maioria dos casos, são sugestivas de uma condição chamada NIC I (Neoplasia Intraepitelial Cervical Grau I). É muito importante que você saiba que LSIL não é câncer. Na verdade, as evidências científicas mostram que a maioria das lesões de baixo grau tem resolução espontânea, ou seja, o seu próprio corpo é capaz de eliminá-las sem a necessidade de um tratamento invasivo. Não há uma associação necessária com a progressão para câncer invasor ao longo do tempo. 2. Qual a conduta recomendada pelo Ministério da Saúde para o caso de Camila, incluindo a periodicidade do próximo exame? Para o seu caso, Camila, sendo uma paciente de 30 anos com diagnóstico de LSIL na citopatologia, o Ministério da Saúde recomenda uma conduta conservadora inicial. Você não precisará fazer uma colposcopia de imediato. A orientação é repetir o exame citopatológico (Papanicolaou) em 6 meses. • Se o resultado do segundo exame ainda mostrar a lesão, ou seja, ela persistir, então a colposcopia com biópsia será indicada para uma avaliação mais aprofundada. • Se o segundo exame vier negativo, será necessário um terceiro exame em mais 6 meses. Se este também for negativo, você poderá retornar à rotina de rastreamento trienal (a cada 3 anos). 3. Qual é o método padrão-ouro para o diagnóstico definitivo das lesões intraepiteliais cervicais? 4. O método padrão-ouro para o diagnóstico definitivo das lesões intraepiteliais cervicais (como NIC I, NIC II e NIC III) é o exame histopatológico (biópsia). Isso significa que, para confirmar a gravidade da lesão, é necessário coletar uma pequena amostra de tecido da área alterada do colo do útero e analisá-la em laboratório sob microscópio. A colposcopia é um exame importante que permite visualizar o colo do útero em detalhes e guiar a biópsia para a área suspeita. o Pegadinha Clássica de Prova: Encaminhar imediatamente para biópsia ou tratamento excisional. Para LSIL em mulheres acima de 25 anos, a conduta inicial é repetir a citologia em 6 meses, observando a tendência de regressão espontânea da lesão. o Imagine o rastreamento para o câncer de colo de útero como a inspeção de um jardim. O exame de Papanicolaou é como olhar o jardim de cima, identificando áreas onde as "plantas" (células) parecem um pouco diferentes. Em um LSIL, é como se algumas "plantas jovens" estivessem um pouco fora do lugar. Em vez de arrancar tudo de uma vez, a abordagem do Ministério da Saúde é dar um tempo, como observar um canteiro por alguns meses. Muitas vezes, essas "plantas" voltam ao normal sozinhas. A biópsia, por outro lado, é como pegar uma amostra do solo e das plantas para analisar em laboratório, a fim de ter certeza do que está acontecendo e decidir o melhor plano de manejo para o seu jardim. Analogia Final para o Entendimento dos Exames Ginecológicos: Pense no corpo feminino como uma orquestra sinfônica, onde cada instrumento (órgãos, hormônios, flora microbiana) toca uma parte para criar a melodia do ciclo menstrual e da saúde reprodutiva. • Quando a orquestra está desafinada, gerando sintomas como corrimento, dor ou sangramento anormal, é como se houvesse um ruído na melodia. • Os exames ginecológicos são como as ferramentas do maestro e dos técnicos de som: o O Exame Físico (inspeção, toque) é o ouvido apurado do maestro, que tenta identificar qual instrumento (órgão) está com problemas e qual o tipo de ruído (sinal/sintoma). o O Papanicolaou é como uma gravação rápida e barata de partes específicas da orquestra (colo do útero) para detectar se algum músico está tocando algo potencialmente destrutivo (lesões precursoras de câncer) antes mesmo que o ruído seja audível no palco. o O Teste do pH, Whiff-test e Exame a Fresco para vaginite/vaginose são como testes rápidos de afinação de certos grupos de instrumentos (flora vaginal), para ver se há um desequilíbrio na harmonia local. o A USG (Ultrassonografia) e RM (Ressonância Magnética) são como câmeras de alta resolução que permitem ver a estrutura física dos instrumentos (útero, ovários, tubas) em detalhes, identificando problemas maiores como miomas, cistos ou abscessos. o A Biópsia é o padrão-ouro, como uma análise minuciosa da partitura musical do instrumento suspeito, confirmando se a anomalia é séria e qual sua exata natureza. Essas ferramentas, usadas em conjunto com a escuta atenta (anamnese) e o conhecimento da "música" normal (fisiologia), permitem ao médico não apenas identificar o problema, mas também escolher a melhor "intervenção" para que a orquestra volte a tocarem harmonia.