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violência doméstica flaviainocencio.com.br@flavia_inocencio Este material foi desenvolvido com a finalidade de aproximar a Psicologia da letra fria da lei, facilitando a compreensão da Lei Maria da Penha pelos Profissionais da Psicologia e como podem acolher quem vivenciou situações de Violência Doméstica e Familiar. Ana Flávia Inocencio Camargo CRP 08/21105 CRP 08/21105 @flavia_inocencio /psicologaflaviainocencio SUMÁRIO 1. História da Maria da Penha e o contexto de criação da lei 2. Caracterização da Violência Doméstica de acordo com a Lei Maria da Penha 3. Os 5 tipos de violência: física, psicológica,sexual, patrimonial e moral 4. O ciclo da violência 5. O que faz a mulher não denunciar a agressão? 6. Como a Gestalt-Terapia compreende o fenômeno da Violência Doméstica 7. Atendimento com as mulheres 8. Trabalho da Psicologia com homens autores de Violência Doméstica 9. Ações na Comunidade 10. Consequências da Violência Doméstica 11. Perfil do autor de violência 12. Mitos sobre a Violência Doméstica 13. Perguntas para identificar se a mulher está em risco CRP 08/21105 @flavia_inocencio /psicologaflaviainocencio HISTÓRIA DA MARIA DA PENHA E CONTEXTO DE CRIAÇÃO DA LEI A Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006) existe há 14 anos e é a principal legislação brasileira de enfrentamento da violência contra a mulher. A lei foi criada para prevenir e coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher em conformidade com o artigo 226, §8º, da Constituição Federal e os tratados internacionais ratificados pelo Estado brasileiro, sendo eles: Convenção de Belém do Pará, Pacto de San José da Costa Rica, Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem e Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher. A lei foi inspirada na Maria da Penha Maia Fernandes, uma biofarmacêutica que sofreu várias agressões de seu marido, inclusive a tentativa de homicídio que a deixou paraplégica. Maria da Penha não recebeu a devida proteção das autoridades brasileiras e, devido a isso, recorreu à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (OEA). A Organização dos Estados Americanos reconheceu as deficiências da legislação brasileira e determinou que o Brasil tomasse as medidas necessárias, uma delas, foi a criação da legislação que ficou conhecida como Lei Maria da Penha. Em setembro de 2006 a lei entrou em vigor e a violência contra a mulher deixou de ser tratada como um crime de menor potencial ofensivo. Além disso, a lei também acabou com as penas pagas em cestas básicas ou multas. Resumo da Lei Maria da Penha: https://www.institutomariadapenha.org.br/lei-11340/resumo-da-lei-maria-da- penha.html https://www.institutomariadapenha.org.br/lei-11340/resumo-da-lei-maria-da-penha.html https://www.institutomariadapenha.org.br/lei-11340/resumo-da-lei-maria-da-penha.html CRP 08/21105 @flavia_inocencio /psicologaflaviainocencio CARACTERIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA DE ACORDO COM A LEI MARIA DA PENHA Art. 5º. Configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: I- No âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; II- No âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; III- Em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual. Assim, quem pode praticar a violência, então? 1) Segundo a Lei Maria da Penha, a violência pode partir de maridos, companheiros, namorados (ex ou atuais) e que morem ou não na mesma casa que a mulher. 2) A Lei Maria da Penha aplica-se tanto a relações heterossexuais como a casais de mulheres. 3) Mas a Lei Maria da Penha não se restringe às relações amorosas, ou seja, também vale para a violência cometida por outros membros da família, como pai, mãe, irmão, irmã, padrasto, madrasta, filho, filha, sogro, sogra - CRP 08/21105 @flavia_inocencio /psicologaflaviainocencio desde que a vítima seja uma mulher, em qualquer faixa etária. 4) A Lei Maria da Penha também se aplica quando a violência doméstica ocorre entre pessoas que moram juntas ou frequentam a casa, mesmo sem ser parentes, como um cunhado ou cunhada. Em resumo, a violência doméstica e familiar pode ser praticada por qualquer pessoa que tenha ou teve relação íntima e de afeto com a vítima, independentemente do sexo dessa pessoa. Embora apareçam como maioria nas pesquisas, os autores de violência não são apenas homens. CRP 08/21105 @flavia_inocencio /psicologaflaviainocencio OS 5 TIPOS DE VIOLÊNCIA: FÍSICA, SEXUAL, PSICOLÓGICA, MORAL E PATRIMONIAL As formas de Violência Doméstica e Familiar contra a mulher estão previstas no art. 7º, da Lei nº 11.340/2006. São elas: A Violência Física é entendida como qualquer conduta que ofenda a integridade ou saúde corporal da mulher. De acordo com o site “Relógios da Violência”, a cada 7.2 segundos, uma mulher é vítima de violência física. O Supremo Tribunal Federal decidiu que a ação penal em casos de crime de lesão corporal praticado contra a mulher no ambiente doméstico é incondicionada, isto é, o Ministério Público pode mover as ações independentemente de representação da vítima, da mulher querer ou não. Exemplos: bater; espancar; atirar objetos, sacudir ou apertar os braços; estrangulamento ou sufocamento; lesões com objetos cortantes ou perfurantes; ferimentos causados por queimaduras ou armas de fogo. A Violência Psicológica é entendida como qualquer conduta que cause dano emocional e diminuição da autoestima da mulher. Que prejudique e perturbe o seu pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões. A violência psicológica é a forma mais subjetiva das violências, e por isso, é a mais difícil de ser identificada. Na maioria das vezes acontece só na presença do homem e da mulher o que dificulta a identificação por outras pessoas. Além disso, ela é negligenciada e vista como menos grave que a violência física, por exemplo. As marcas deixadas pela violência psicológica são diferentes das marcas deixadas pela violência física, porém, são marcas que ficam no psicológico da mulher, na sua autoestima, na sua visão sobre si mesma, na sua confiança em si mesma. É violência como as outras formas e deve ser tratada como tal. CRP 08/21105 @flavia_inocencio /psicologaflaviainocencio Exemplos: ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, desconsiderar a opinião ou decisão da mulher, tentar fazer a mulher ficar confusa ou achar que está louca, controlar tudo o que ela faz, exploração e limitação do direito de ir e vir, tirar a liberdade de crença. A Violência Sexual é outra forma de violência doméstica e familiar prevista na Lei Maria da Penha e pode ser praticada de diversas maneiras, É caracteriza como: qualquer conduta que constranja a mulher a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaças, coação ou uso da força. Impedir que a mulher use qualquer método contraceptivo ou ainda que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição. Muitos homens ainda pensam que por estarem casados/namorando/em união estávela mulher é obrigada, por conta do relacionamento, a manter relações sexuais mesmo que ela não tenha vontade. Quando o homem força essa relação sexual, é uma maneira de demonstrar poder sob a mulher, sendo caracterizada como violência sexual. Exemplos: forçar relações sexuais quando a mulher não quer ou quando estiver dormindo ou sem condições de consentir, obrigar a mulher a fazer atos sexuais que causam desconforto ou repulsa, obrigar a mulher a fazer sexo com outras pessoas, impedir o uso de métodos contraceptivos, limitar ou anular o exercício dos direitos sexuais e reprodutivos da mulher, como forçá-la a engravidar ou forçar o aborto quando ela não quiser. A Violência Patrimonial é entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total dos objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos da mulher. Exemplos: destruição de bens materiais e objetos pessoais; usar o dinheiro da mulher para ter controle sobre ela; esconder documentos, trocar as CRP 08/21105 @flavia_inocencio /psicologaflaviainocencio senhas do banco sem avisar, negar acesso ao dinheiro do casal. Muitas pessoas ainda não reconhecem essas atitudes como violência patrimonial, o que torna a identificação mais difícil. A Violência Moral é entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria, crimes previstos no Código Penal. Exemplos: fazer críticas mentirosas, distorcer e omitir fatos para deixar a mulher em dúvida sobre a sua memória e sanidade, xingar a mulher, desvalorizar a mulher pela sua maneira de se vestir, ofender a reputação da mulher, humilhar a mulher publicamente; expor a vida íntima do casal para outras pessoas, acusar publicamente a mulher de cometer crimes, inventar histórias e/ou falar mal da mulher para os outros com o intuito de diminuí-la perante amigos e parentes. CRP 08/21105 @flavia_inocencio /psicologaflaviainocencio O CICLO DA VIOLÊNCIA É possível observar nos casos de violência contra a mulher um ciclo, com atitudes que costumam se repetir, cada vez com maior violência e menor intervalo entre as fases. Cada caso tem a sua especificidade, porém, a psicóloga norte-americana Lenore Walker, identificou que as agressões em um contexto conjugal ocorrem na forma de um ciclo que é constantemente repetido. Todo relacionamento abusivo não é permeado de atos violentos 24 horas por dia, 7 dias da semana. A violência, geralmente, segue um padrão de agressão que pode ser identificado na maioria dos relacionamentos abusivos. São identificadas 3 etapas: aumento de tensão, ataque violento e "lua de mel". Aumento da tensão: Nessa etapa, o homem demonstra-se tenso e irritado, humilha a mulher e faz ameaças. Acontecem situações que deixam a mulher em alerta, geralmente caracteriza-se pela existência de violência psicológica e moral; a mulher sente-se apreensiva em relação ao homem; tenta acalmá-lo, fica aflita e evita qualquer comportamento que possa “provocá-lo”. A vítima tenta encontrar motivos para justificar a violência, “ele estava nervoso por conta do trabalho”; “ele estava estressado e cansado e acabou descontando em mim”; “ele bebeu um pouco além do que está acostumado”. Ataque violento/ Ato de violência: A segunda etapa é caracterizada pela explosão do homem, a falta de controle chega ao limite e leva ao ato violento. A tensão acumulada na fase anterior gera os outros tipos de violência. A mulher sente medo, raiva, solidão, pena de si mesma, vergonha, confusão. Geralmente, é nessa fase que a mulher procura ajuda de profissionais ou familiares e toma a decisão de registrar a ocorrência. Lua de mel/ Arrependimento e comportamento carinho: Por fim, na terceira fase, o homem se mostra arrependido e amável para conseguir a reconciliação. Demonstra vergonha e diz que aquilo não voltará a se repetir. A mulher se sente feliz por perceber os esforços e pelas mudanças no CRP 08/21105 @flavia_inocencio /psicologaflaviainocencio comportamento do homem e lembra-se dos momentos bons que passaram juntos. Há uma fase mais tranquila, até acontecerem situações que levam, novamente, ao aumento de tensão e o ciclo volta para a fase 1. Conhecer e entender sobre o Ciclo da Violência contribui para compreender o que leva cada mulher a continuar nesse relacionamento violento. Serve também para entendermos que não é tão simples romper com um relacionamento abusivo, o homem não é violento o tempo inteiro, muitas vezes, a mulher ainda mantém um sentimento de amor pelo homem e dá mais atenção para a terceira fase do ciclo. CRP 08/21105 @flavia_inocencio /psicologaflaviainocencio O QUE FAZ A MULHER NÃO DENUNCIAR A VIOLÊNCIA? Depois de estudarmos sobre o Ciclo da Violência, é possível compreendermos que existem muitos fatores que contribuem para que uma mulher tolere a situação de violência doméstica ou familiar, alguns deles: - risco de rompimento da relação; - medo de que o parceiro cumpra as ameaças de morte ou suicídio; - vergonha e medo de procurar ajuda; - sensação de fracasso e culpa na escolha do par amoroso; - receio de sofrer discriminação e preconceito; - esperança de que o comportamento do parceiro mude, de que ela possa ajudar ou de um tratamento milagroso; - isolamento da vítima, que se vê sem uma rede de apoio adequada (família, trabalho e suporte dos serviços públicos); - despreparo da sociedade, das próprias famílias e dos serviços públicos para tratar esse tipo de violência; - obstáculos que impedem o rompimento (disputa pela guarda dos filhos, boicote de pensões alimentícias, chantagens e ameaças); - dependência econômica de algumas mulheres em relação a seus parceiros, bem como falta de qualificação profissional e escolar; - fundamentalismo ou impedimentos de cunho religioso; - preocupação com a situação dos filhos, caso se separe do companheiro. CRP 08/21105 @flavia_inocencio /psicologaflaviainocencio COMO A GESTALT-TERAPIA COMPREENDE O FENÔMENO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA A Gestalt-terapia possui uma base humanista, isso significa dizer que, acredita-se nas potencialidades humanas, bem como na capacidade de autorregulação, na responsabilidade pelas escolhas e na tomada de consciência. Na relação terapêutica não há um sentimento de superioridade entre o psicoterapeuta e a pessoa atendida, isso favorece a sensação de acolhimento e respeito ao sofrimento dessa pessoa. As mulheres que sofrem Violência Doméstica podem apresentar sentimentos ambíguos com relação ao autor da violência, o homem é visto como uma figura de afeto e desejo em alguns momentos, e nas situações de violência, o amor se transforma em raiva e medo. A postura do Gestalt-terapeuta precisa ser neutra, colocar-se entre parênteses para compreender a forma como a mulher enxerga esta violência e proporcionar uma reflexão acerca de suas crenças, para que ela mesma encontre as suas próprias respostas. A função do profissional de Psicologia não é impor a violência como algo inaceitável, pois cada pessoa possui sua subjetividade, onde cada um possui percepções diferentes para a mesma situação. Os casos de Violência Doméstica podem ser compreendidos a partir da Gestalt-terapia como situações que acontecem na fronteira de contato. Não há um ajustamento criativo saudável, e sim um contato tóxico. Pode-se perceber uma ausência de autossuporte e de conscientização sobre a situação. Muitas mulheres que passam por situações de violência não encontram em si mesmas suporte suficiente para tomar alguma decisão e sair dessa relação. O objetivo do trabalho é promover uma awareness para que aconteça uma tomada de consciência a respeito do queessa relação, esse homem e esta forma de se relacionar significam para essa mulher. CRP 08/21105 @flavia_inocencio /psicologaflaviainocencio No início desse trabalho o psicoterapeuta assume a função de heterossuporte até o momento em que a mulher consiga recuperar seu próprio suporte. É possível inferir a presença do mecanismo neurótico disfuncional da introjeção, onde a mulher incorpora as normas e atitudes do homem sem de fato fazer a assimilação, dessa forma, os conteúdos não são realmente dela. É comum a mulher se sentir desqualificada pelo homem, ter sentimentos de inferioridade, insignificância e fragilidade. Para a Gestalt-terapia é característica do mecanismo neurótico da retroflexão a desvalorização de si própria. Há mulheres que acreditam que não são capazes de reconstruir sua vida sem o companheiro e que não vão conseguir viver sem eles, isso indica o mecanismo da confluência. A deflexão também aparece quando a mulher evita o contato com o meio e se esquiva. Esse mecanismo pode ser percebido quando a mulher se exclui do convívio social e perde o interesse de fazer as atividades que realizava. CRP 08/21105 @flavia_inocencio /psicologaflaviainocencio ATENDIMENTO COM AS MULHERES A atuação da Psicologia com as mulheres que sofrem/sofreram Violência Doméstica precisa ser pautada na escuta, no acolhimento e no cuidado. É necessário que a/o psicóloga/o tenha uma postura acessível e de aceitação, acolhendo a mulher e respeitando a sua individualidade. É importante frisar que cada mulher precisa ser vista na sua individualidade, mas alguns objetivos de trabalho podem ser comuns na maioria dos casos, como: realizar acolhimento, oferecer um ambiente seguro e confiável para a mulher atendida; estimular o resgate da autoestima e do empoderamento da mulher; orientar a mulher sobre os seus direitos; realizar um trabalho articulado com a rede de proteção; e compreender a violência como um fenômeno multidimensional. Além disso, essa escuta precisa ser qualificada, livre de julgamentos e conselhos, em um ambiente tranquilo e seguro. O profissional vai precisar ter paciência e aprender a lidar com a frustação. O ritmo do trabalho com mulheres que passam por situações de violência pode ser mais lento e marcado por altos e baixos. Mesmo durante o tratamento as mulheres podem reatar o relacionamento com o homem. O primeiro passo da psicoterapia com essas mulheres é ajudá-la a enxergar a situação como uma violência de fato. Muitas mulheres possuem dificuldade para olhar para a situação como uma violência. É a partir do momento que a mulher reconhece que a situação vivenciada é uma violência, que faz parte de uma relacionamento abusivo que traz sofrimentos, ela poderá ter a capacidade de encontros os recursos adequados para sair dessa situação. CRP 08/21105 @flavia_inocencio /psicologaflaviainocencio TRABALHO DA PSICOLOGIA COM HOMENS AUTORES DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA Para prevenir e coibir a violência contra a mulher, é necessário que se realize um trabalho também com os homens que praticam as violências, não basta somente atuar com as mulheres. Uma das formas de se trabalhar com os homens que praticam/praticaram Violência Doméstica e Familiar são os grupos reflexivos. Alguns dos objetivos dos grupos reflexivos são: discutir sobre a construção social da identidade de gênero, sobre o machismo, sobre a igualdade e respeito da diversidade de gênero; ajudar os homens a assumirem a responsabilidade pela violência praticada; reconhecerem que seus atos são/foram violentos; promover uma reflexão sobre os direitos e deveres individuais e coletivos. O trabalho em grupo permite que os homens tenham consciência de seus atos, pensem em outras formas de agirem no seu contexto familiar. Além disso, o grupo serve como um espelho para os participantes, cada participante pode se reconhecer no relato dos outros. Caso esse trabalho seja feito somente com as mulheres de forma isolada, não teremos condições de romper com o ciclo da violência. Pois a mulher pode conseguir romper com aquele relacionamento violento, mas esse homem vai continuar se relacionando com outras mulheres. É importante frisar que o viés desses grupos precisa ser educacional e reflexivo, e não punitivo. CRP 08/21105 @flavia_inocencio /psicologaflaviainocencio AÇÕES NA COMUNIDADE Até aqui falamos sobre o trabalho com as mulheres que sofrem Violência Doméstica e Familiar e o trabalho com os homens que praticam essas violências, entretanto, para além dessa atuação, também são importantes ações na comunidade de forma geral. Essas ações possuem o objetivo de promover uma conscientização sobre a Violência Doméstica e Familiar; desmitificar o assunto e coibir os preconceitos com as mulheres que passaram por situações de violência doméstica e também os preconceitos com os homens que são autores de violência doméstica. CRP 08/21105 @flavia_inocencio /psicologaflaviainocencio CONSEQUÊNCIAS DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA Cada forma de violência gera prejuízos nas esferas do desenvolvimento físico, cognitivo, social, moral, emocional ou afetivo. Cada mulher vai sentir e reagir de uma maneira diferente diante da Violência Doméstica e Familiar, mas é possível perceber algumas consequências que acabam sendo comuns entre as mulheres, por exemplo: geralmente elas se tornam pessoas tristes, desestimuladas, sentem medo, possuem autoestima baixa, tem problemas de saúde (depressão, ansiedade). As mulheres que passaram por situações de violência doméstica, frequentemente, também passam a desenvolver uma auto-percepção de incapacidade, de inutilidade e perdem a valorização de si mesma e do amor próprio. Algumas mulheres também vivem em um estado constante de medo, acreditando que a qualquer momento podem sofrer agressões novamente. Algumas consequências para a mulher pode ser visíveis, como lesões corporais, gravidez indesejada, uso de álcool e drogas. Já no nível psicológico, as principais consequências podem ser: sentimento de culpa, baixa autoestima, depressão, tentativas de suicídio, dificuldade no convívio social, afastamento de familiares e amigos. Além das consequências vivenciadas pelas mulheres, os filhos do casal também acabam sendo vítimas dessa violência, podendo ser crianças reprimidas, retraídas, traumatizadas, inseguras, com medo e até mesmo violentas. CRP 08/21105 @flavia_inocencio /psicologaflaviainocencio PERFIL DO AUTOR DE VIOLÊNCIA Nos casos de Violência Doméstica e Familiar o autor de violência pode ser o marido, namorado, noivo, tio, irmão, não havendo a necessidade de o relacionamento ser atual. Além disso, não é obrigatório que o autor de violência resida na mesma casa da vítima para a Violência Doméstica e Familiar contra a mulher ser caracterizada. Sendo assim, não existe um “perfil” do autor de violência contra a mulher, ela pode ser praticada por qualquer homem, e até por qualquer mulher, independentemente da idade, classe social, religião, raça, escolaridade e orientação sexual. CRP 08/21105 @flavia_inocencio /psicologaflaviainocencio MITOS SOBRE A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 1. Violência Doméstica somente se configura quando há agressão física. Existem outras formas de Violência Doméstica conforme o artigo 7º da Lei, são elas: Violência Psicológica, Moral, Sexual e Patrimonial. 2. Mulheres independentes financeiramente não sofrem Violência Doméstica. Mulheres ricas e escolarizadas muitas vezes sofrem em silêncio, sentem medo e vergonha de denunciarem. A independênciafinanceira não impede que a mulher sofra Violência Doméstica. Muitas pessoas ainda acreditam nesse mito. 3. O álcool e as drogas são as causas da Violência Doméstica. O consumo de drogas pode favorecer a emergência das condutas violentas, mas não é a causa. Há pessoas que usam álcool e drogas e não são violentas em suas relações, e há pessoas violentas que não fazem o uso de álcool e drogas. Eles são apenas fatores que podem contribuir para a eclosão do episódio de violência, e muitas vezes são usados como justificava. 4. A mulher provoca o homem, por isso é responsável pela violência. Ninguém pede para ser agredido e nem merece sofrer uma agressão, independentemente, de algo que falou ou fez. Todas as pessoas têm o direito de viverem sem sofrer violência e ninguém deve ser responsabilizado pela violência que sofreu. CRP 08/21105 @flavia_inocencio /psicologaflaviainocencio 5. Só mulheres sofrem Violência Doméstica. Estatisticamente o número de mulheres que sofre Violência Doméstica é maior que o número de homens. Contudo, também há homens que são vítimas de Violência Doméstica e acabam não denunciando por vergonha e medo do que a sociedade vai falar dele. 6. Para utilizar a Lei Maria da Penha, o agressor tem que ser marido da vítima ou morar na mesma casa. A lei abrange todas as relações íntimas de afeto e/ou de parentesco e/ou de convivência no mesmo ambiente familiar. Podem ser relações atuais ou passadas e independem do tempo de convivência e de contato físico. 7. Para acabar com a violência, basta proteger as vítimas e punir os agressores. O trabalho tanto com a pessoa que sofreu a violência quanto com a pessoa que praticou a violência são importantes no combate e prevenção da Violência Doméstica. 8. Existe um perfil de vítima ou do autor da violência É importante compreender que não existem padrões e perfis de vítima ou agressor. Toda mulher pode sofrer violência doméstica e familiar, independentemente de classe, idade, nível educacional, da mesma forma que qualquer homem pode ser autor de Violência Doméstica. 9. Sempre é possível “retirar a queixa”? A vítima só poderá renunciar nos crimes em que, para a ação penal ter continuidade, dependerá da sua vontade, já que existem crimes que são CRP 08/21105 @flavia_inocencio /psicologaflaviainocencio considerados tão graves que a ação penal existirá, independentemente da vontade dela (Ação Penal Pública Incondicionada). São exemplos de crimes em que pode haver renúncia: ameaça, injúria, calúnia e difamação. Por outro lado, são exemplos de crimes em que não pode haver renúncia: estupro e lesões corporais de qualquer natureza. Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público. CRP 08/21105 @flavia_inocencio /psicologaflaviainocencio PERGUNTAS PARA IDENTIFICAR SE A MULHER ESTÁ EM RISCO Seu companheiro(a) ou familiar... - vigia e/ou controla o que você faz? - costuma demonstrar ciúmes com frequência? - a proíbe de visitar familiares e de manter relações de amizade? - a critica por qualquer coisa que faz, veste, come ou pensa? - a proíbe, ou atrapalha, de trabalhar e/ou estudar? - a xinga ou humilha diante de familiares ou amigos? - briga com você ou a critica sem motivos aparentes? - a ameaça, faz chantagens e/ou a acusa de coisas que você não fez? - controla o dinheiro e a obriga a prestar contas, mesmo quando você trabalha? - já chegou a destruir seus objetos pessoais, de valor sentimental e/ou objetos da casa? - diz que se você não for dele não será de mais ninguém, ameaçando-a caso o abandone? - a atinge emocionalmente, fazendo com que você se isole e tenha vergonha de contar a alguém sobre a violência vivenciada? - faz questão de lhe contar que tem arma de fogo ou a exibe para você? - já chegou a agredi-la fisicamente (bater, empurrar, chutar, beliscar, puxar o cabelo etc.)? - já a agrediu (física ou verbalmente) diante de seus filhos? - já a agrediu ou agrediu outro membro da família? - já a agrediu utilizando objetos ou utensílios domésticos? - a faz sentir culpada pela violência sofrida? - a obriga a manter relações sexuais contra sua vontade ou se envolver em atos sexuais que você não aprecia? - as brigas e as agressões estão ficando mais frequentes e mais graves? CRP 08/21105 @flavia_inocencio /psicologaflaviainocencio ARTIGOS BECKER, Danielle Nogara. Gestalt-terapia e Violência Doméstica contra Mulheres. Monografia submetida como exigência parcial para a obtenção do grau de Especialista em Psicologia Clínica- Abordagem Gestalt-terapia. Instituto Gestalten. Florianópolis, 2007. CALDATTO, Eliana Maria. Olhar gestáltico sobre o fenômeno da violência sexual. Monografia apresentada como requisito final à obtenção do título de especialista em Gestalt-terapia. Instituto Gestalten. Florianópolis, 2003. FERRAZ, Caroline Souza; SOUSA, Fábio Batista. Violência Doméstica contra a mulher: Um olhar da Gestalt-terapia. Revista Conexão Eletrônica. Três Lagoas, Volume 15, Número 1, 2018. FONSECA, Paula Martinez; LUCAS, Taiane Nascimento Souza. Violência Doméstica contra a mulher e suas consequências psicológicas. TCC (Graduação) - Curso de Psicologia, Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. Bahia, 2006. FORTI, Beatriz; MARTINO, Mariane Fernandes; POSSOBON, Rafaela Francisca Sniquer. Dependência emocional de mulheres e a permanência em relacionamentos abusivos. TCC (Graduação) - Curso de Psicologia, Faculdade de Americana- FAM, Americana, 2018. HABKA, Isadora de Castro. A experiência do homem acusado de violência doméstica que participou de um grupo reflexivo para homens à luz da Gestalt-terapia. TCC (Graduação) - Curso de Psicologia, Centro Universitário de Brasília- Uniceub, Brasília, 2017. MACARINI, Samira Mafioletti; MIRANDA, Karla Paris. Atuação da psicologia no âmbito da violência conjugal em uma delegacia de atendimento à mulher. Pensando Famílias, Porto Alegre, v. 22, jan/jul. 2018. MACHADO, Sabrina Prado; MACEDO, Maria Luisa Wunderlich dos Santos. O olhar da Gestalt-terapia sobre a Violência contra as Mulheres. Boletim CRP 08/21105 @flavia_inocencio /psicologaflaviainocencio Entre SIS, Santa Cruz do Sul, v.4, n.1, 2019. MONTEIRO, Fernanda Santos. O papel do psicólogo no atendimento às vítimas e autores de violência doméstica. TCC (Graduação) - Curso de Psicologia, Centro Universitário de Brasília- Uniceub, Brasília, 2012. MOREIRA, Karine Santos; TOMAZ, Renata Silva Rosa. Grupo Reflexivo: Um relato de experiencia sobre uma estratégia de enfrentamento contra a violência doméstica. Centro Universitário de Anápolis- UniEvangélica. Anápolis, 2019. LEIS E RESOLUÇÕES Lei nº 10.778/2003- Estabelece a notificação compulsória, no território nacional, do caso de violência contra a mulher que for atendida em serviços de saúde públicos ou privados. Lei nº 11.340/ 2006- Lei Maria da Penha. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. Lei nº 13.931/2019- Altera a Lei nº 10.778, para dispor sobre a notificação compulsória dos casos de suspeita de violência contra a mulher. Lei nº 13.984/2020- Altera o art. 22 da Lei nº 11.340 para estabelecer como medidas protetivas de urgência frequência do agressor a centro de educação e de reabilitação e acompanhamento psicossocial. Nota Técnica do CFP, de 29 de novembro de 2016- Orientação profissional em casos de violência contra a mulher: casos para a quebra de sigilo profissional. Resolução nº 8, de 7 de julho de 2020- Estabelece normas de exercícioprofissional da psicologia em relação às violência de gênero. Conselho Federal de Psicologia CRP 08/21105 @flavia_inocencio /psicologaflaviainocencio LIVROS CARVALHO, Maria Cristina Neiva; FONTOURA, Telma; MIRANDA, Vera Regina (org.). Psicologia Jurídica: Temas de Aplicação II. 1ª ed. (ano 2009). Curitiba: Juruá, 2011. DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 12 ed. rev. Atual. E ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2017. FREITAS, Caroline. Marcas do Tempo: Dez anos da Lei Maria da Penha e a violência contra a mulher no Espírito Santo. Espírito Santo: Livro- reportagem, 2016. PAIXÃO, Rosa Maria F. de B. Falcão da. Violência doméstica contra a mulher: Reflexões acerca do cuidado. Garanhuns: Independently Published, 2018. RAMOS, Jô. Violência Contra Mulheres: Dê um basta! Rio de Janeiro: Batel, 2012. ROVINSKI, Sonia Liane Reichert. Dano psíquico em mulheres vítimas de violência. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004. SITES https://www.ibdfam.org.br/ https://www.justicadesaia.com.br/ https://agenciapatriciagalvao.org.br/ https://www.relogiosdaviolencia.com.br/ https://crppr.org.br/violencia-contra-as-mulheres/ https://dossies.agenciapatriciagalvao.org.br/violencia/ https://www.institutomariadapenha.org.br/violencia-domestica/ciclo-da- violencia.html https://www.ibdfam.org.br/ https://www.justicadesaia.com.br/ https://agenciapatriciagalvao.org.br/ https://www.relogiosdaviolencia.com.br/ https://crppr.org.br/violencia-contra-as-mulheres/ https://dossies.agenciapatriciagalvao.org.br/violencia/ https://www.institutomariadapenha.org.br/violencia-domestica/ciclo-da-violencia.html https://www.institutomariadapenha.org.br/violencia-domestica/ciclo-da-violencia.html flaviainocencio.com.br@flavia_inocencio https://facebook.com/psico- https://instagram.- Sobre mim: Sou Ana Flávia Inocencio Camargo, sou Psicóloga (CRP 08/21105), Gestalt-tera- peuta e acadêmica do curso de Direito. Durante a graduação de Psicologia, fiz estágio curricular obrigatório no Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher e Vara de Crimes Contra Crianças, Adolescentes e Idosos. Fiz também estágio no Centro de Referência e Atendimento à Mulher- CRAM Maria Mariá. Espero que esse material tenha te ajudado a entender um pouco melhor sobre a Violência Doméstica e Familiar. Convido você a acompanhar meu trabalho em meu site e redes sociais: Site: flaviainocencio.com.br Instagram: flavia_inocencio Facebook: psicologaflaviainocencio https://www.instagram.com/flavia_inocencio https://www.facebook.com/psicologaflaviainocencio