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O Ambiente e as Doenças do Trabalho Unidade 2 - Riscos Ambientais e os Programas de Segurança Sumário CLIQUE NO CAPÍTULO PARA SER REDIRECIONADO Riscos ambientais Agentes físicos Agentes químicos Agentes biológicos Agentes ergonômicos Agentes relacionados a riscos de acidentes Acidente de trabalho Identificação e análise de riscos Identificação de riscos Técnica de incidentes críticos What-If Causa e efeito Análise e avaliação de riscos Análise preliminar de riscos Análise de modos de falha e efeitos Análise de árvore de falhas 6 18 Sumário CLIQUE NO CAPÍTULO PARA SER REDIRECIONADO Serviços de saúde ocupacional e segurança do trabalho SESMT Dimensionamento Cipa Estruturação e dimensionamento Processo eleitoral Programas de saúde ocupacional e da segurança do trabalho PCMSO PGR PCMAT Referências 29 40 49 Objetivos Definição Explicando Melhor Você Sabia? Acesse Resumindo Nota Importante Saiba Mais Reflita Atividades Testando Para o início do desenvolvimento de uma nova competência; Se houver necessidade de se apresentar um novo conceito; Algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; Curiosidades indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se form necessarias; Se for preciso acesar um ou mais sites para fazer dowload, assistir videos, ler textos, ouvir podcast; Quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últimas abordagens; quando forem necessárias observações ou complementações para o seu conhecimento; As observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; Textos, referências bibliográficas e links para aprofundamento do seu conhecimento; Se houver a necessidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou discutido sobre; Quando alguma atividade de autoaprendizagem for aplicada; Quando o desenvolvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas. @faculdadelibano_ 1 Riscos ambientais O Ambiente e as Doenças do Trabalho Capítulo 1 Riscos ambientais Objetivos Olá. Nesta competência, você será capaz de compreender os riscos ambientais. A presença de riscos de maior ou menor grau varia entre as atividades laborais e cabe aos profissionais de segurança e saúde ocupacional aplicarem os conhecimentos técnicos aliados aos aspectos legais de forma integrada. E então? Motivado? Vamos lá! Antes de o trabalho ser o responsável por sustentar o homem e sua família, ele é, também, um importante instrumento de contentamento pessoal. É a partir do trabalho que o homem expressa sua criatividade, exercita seu potencial analítico e formula pensamentos, alocando valor à sua rotina diária. Além disso, em função de seus horários de trabalho, o sujeito estipula sua rotina diária, organiza suas atividades, institui hábitos, faz vínculos e se torna membro de uma sociedade. Entretanto, o espaço, os instrumentos, as máquinas, as posições durante o trabalho e outros itens do ambiente organizacional colocam o trabalhador em situações que podem interferir na sua integridade física. A prevenção dessas situações é algo que está ao alcance dos homens, já que, uma de nossas características de superioridade em relação aos demais seres vivos é a capacidade de raciocinar e prevenir, ou seja, pensar e identificar prováveis falhas antes que elas ocorram. Competem aos gestores, técnicos, tecnólogos e engenheiros desenvolver um roteiro para eliminar ou minimizar tais situações. “Risco” é um termo comum em diferentes campos do conhecimento, podendo ter definições variadas de acordo com o contexto no qual está aplicado. Pode ser definido como toda e qualquer variável presente ao ambiente de trabalho capaz de alterar e/ ou condicionar a capacidade produtiva do indivíduo, causando ou não agressão ou depressões à saúde deste: mobília, utilização do espaço físico e áreas, ambiente térmico e suas variáveis; prescrição e conteúdo das tarefas, relações interpessoais, informações, O Ambiente e as Doenças do Trabalho Riscos ambientais Capítulo 1 maquinaria, ferramentas e a intervenção sobre elas (BARBOSA FILHO, 2011). Os riscos podem ser observados sob dois pontos de vista: quantitativo e qualitativo. Do aspecto quantitativo, então, é a probabilidade de ocorrer o acidente, enquanto da perspectiva qualitativa é o perigo decorrente da situação. Não existe uma forma única de classificar os riscos, esta varia de acordo com o autor. Além disso, a ISO 31000 de 2009 trata sobre sistemas de gestão de riscos, estabelecendo princípios e diretrizes e, em seu item 2.1, caracteriza risco como efeito da incerteza nos objetivos. Também expressa risco, em termos de uma combinação de consequências de um evento, bem como a probabilidade de ocorrência associada. A partir desta normalização, o risco pode ser definido como sendo a combinação da probabilidade e da gravidade ou da exposição com a gravidade dos efeitos à saúde, tal como expresso pelas fórmulas a seguir. Risco = probabilidade de ocorrência do dano x gravidade do dano. Risco = exposição x gravidade dos efeitos à saúde. Segundo a ISO, ainda, convém considerar as características dos ambientes para analisar os riscos. Essas características de trabalho são os aspectos presentes nos ambientes. Na segurança do trabalho, risco conceitua-se como uma ou mais natureza passível de causar um dano. Segundo a NR-9, riscos ambientais são: Os agentes físicos, químicos e biológicos existentes nos ambientes de trabalho que, em função de sua natureza, concentração ou intensidade e tempo de exposição, são capazes de causar danos à saúde do trabalhador. (BRASIL, 2019) A Portaria n.° 1.069, de 23 de setembro de 2019, apresenta os procedimentos referentes ao embargo e à interdição, unindo o apresentado na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e na NR. Essa portaria define embargo e interdição como medidas de urgência, cabendo aos Auditores Fiscais do Trabalho (AFT) determinarem sua necessidade. O AFT analisará o risco, de forma fundamentada, a partir de sua consequência e probabilidade, O Ambiente e as Doenças do Trabalho Riscos ambientais Capítulo 1 de forma separada. No que tange à consequência, classifica-se em: morte, severa, significativa, leve e nenhuma. Com relação à probabilidade, pode ser: provável, possível, remota e rara. Segundo a NR-9, riscos ambientais são os agentes físicos, químicos e biológicos existentes nos ambientes de trabalho que, em função de sua natureza, concentração ou intensidade e tempo de exposição, são capazes de causar danos à saúde do trabalhador. Entretanto, alguns autores, bem como a legislação sobre mapa de riscos, consideram, ainda, fatores ergonômicos e mecânicos (de acidentes), que, apesar de não serem considerados na referida norma, também precisam ser estudados na avaliação do ambiente de trabalho. Agentes físicos Os riscos físicos são aqueles causados por fatores com propensão de alterar as características no local que, no instante subsequente, poderá causar agressões a quem estiver no ambiente. Pode-se caracterizar os riscos físicos em três condições: necessidade de um meio de transmissão para lastrar o efeito nocivo; capacidade de ação mesmo que não haja contato direto com a fonte; e resulta, na maior parte dos casos, em lesões imediatas e crônicas. A gravidade e a existência dos riscos físicos se dão em função da concentração a qual o colaborador está exposto, ou seja, uma máquina que emite ruído pode não ser prejudicial a um colaborador, ao mesmo tempo que pode resultar em surdez progressiva ou instantânea. Dessa forma, entende-se que depende da exposição. Com relação a Definição Segundo a NR-9, agentes físicos são as diversas formas de energia a que possam estar expostos os trabalhadores, tais como: ruído, vibrações, pressões anormais, temperaturas extremas, radiações ionizantes, radiações não ionizantes, bem como o infrassom e o ultrassom (BRASIL, 2019, p. 2). O AmbienteDiário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, p. 23911, 1940. BRASIL. Lei n.° 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, p. 14809, 1991. BRASIL. Portaria n.° 1471, de 24 de setembro de 2014. Altera as Portarias n° 593, de 28 de abril de 2014, e n.° 1.297, de 13 de agosto de 2014. Ministério de Estado do Trabalho e Emprego. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, p. 101, 2014. BRASIL. Portaria n.° 1892, de 9 de dezembro de 2013. Altera o Anexo II do Quadro II da Norma Regulamentadora nº 7. Ministério de Estado do Trabalho e Emprego. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, p. 149, 2013. BRASIL. Portaria n.° 247, de 12 de julho de 2011. Altera a Norma Regulamentadora n.º 5. Ministério de Estado do Trabalho e Emprego. Secretária de Inspeção do Trabalho. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, p. 82, 2011. BRASIL. Portaria n.° 261, de 18 de abril de 2018. Altera o item 18.21– Instalações Elétricas – da Norma Regulamentadora n.º 18 (NR-18) – Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção. Ministério de Estado do Trabalho e Emprego. Secretária de Inspeção do Trabalho. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, p. 51-52, 2018. 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Natal: Ministério da Educação, 2009.e as Doenças do Trabalho Riscos ambientais Capítulo 1 isso, os limites de tolerância para a exposição aos agentes físicos são estabelecidos pela NR-15. Agentes químicos Como apresentado nos riscos físicos, os riscos químicos também podem resultar em danos àqueles colaboradores que não tenham contato direto com o agente. São considerados riscos químicos aquelas substâncias que podem adentrar o organismo do colaborador por via respiratória ou que, em decorrência da exposição, possa ser absorvido pelo organismo por contato ou ingestão. Além disso, tais substâncias podem alterar a composição do ambiente, e incluem os elementos pertencentes à área da toxicologia, que é a ciência responsável por analisar as implicações danosas resultantes das interações de substâncias químicas. Segundo a NR-9, são considerados agentes químicos as substâncias, compostos ou produtos que possam penetrar no organismo pela via respiratória, nas formas de poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases ou vapores, ou que, pela natureza da atividade de exposição, possam ter contato ou ser absorvidos pelo organismo através da pele ou por ingestão (BRASIL, 2019, p. 2). Você Sabia? Poeiras são partículas sólidas dispersas no ar, cujo diâmetro é maior que 0,5 µm. Fumos são partículas sólidas resultantes da condensação de gases, dispersas no ar, com diâmetro maior que 1 µm. Névoas são partículas líquidas dispersas no ar; neblinas são partículas líquidas cujo diâmetro é menor que 0,5 µm. Por fim, gases são elementos que, em temperatura normal, estão em estado gasoso (PEIXOTO, 2011). O Ambiente e as Doenças do Trabalho Riscos ambientais Capítulo 1 Os agentes químicos podem estar presentes nos ambientes organizacionais em diferentes estados: gasoso, líquido, sólido ou, ainda, partículas suspensas no ar (denominados “aerodispersoides”). Agentes biológicos Os riscos biológicos são aqueles ocasionados por agentes biológicos inseridos nos processos de trabalho, ou seja, microrganismos presentes no ambiente de trabalho que podem penetrar no organismo por diversas formas, tais como contato, ingestão ou vias respiratórias. Segundo a NR-9, consideram-se agentes biológicos as “bactérias, fungos, bacilos, parasitas, protozoários, vírus, entre outros” (BRASIL, 2019, p. 2). Além disso, incluem-se nesta categoria situações decorrentes da falta de higienização dos locais de trabalho, por exemplo, em consequência da presença de animais transmissores de doenças (ratos e moscas). Diversas doenças podem ser resultantes de riscos biológicos, entre as quais é possível destacar tuberculose, malária e febre amarela. Essas doenças podem ser enquadradas como doenças profissionais, desde que o colaborador esteja exposto aos microrganismos no decorrer de sua função laboral. Agentes ergonômicos Os riscos ergonômicos são decorrentes de fatores fisiológicos e psicológicos relacionados ao exercício laboral. Tais fatores podem alterar o organismo e o estado emocional dos colaboradores, interferindo em sua saúde, segurança e produtividade. O risco ergonômico tem relação com o termo “ergonomia” que, por sua vez, consiste no estudo da adaptação do trabalho às características dos sujeitos, de modo a permitir o máximo de conforto, segurança e bom desempenho do exercício de sua profissão. Assim, segundo Paganella (2011, p. 17), considera-se risco ergonômico “qualquer fator que possa interferir nas características psicofisiológicas do trabalhador, causando desconforto ou afetando sua saúde, como levantamento de peso, ritmo excessivo de trabalho, monotonia, repetitividade, postura inadequada, dentre outros”. O Ambiente e as Doenças do Trabalho Riscos ambientais Capítulo 1 Estes, ainda, podem provocar problemas de caráter psíquico e físico nos colaboradores, tendo em vista que resultam em danos no organismo e no estado emocional, danificando seu rendimento, saúde e segurança. Como consequências de riscos ergonômicos podemos citar: lesões por esforços repetitivos (LER) e distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT), cansaço físico, dores musculares e de coluna, hipertensão arterial, alteração do sono, diabetes, doenças nervosas e do aparelho digestivo etc. Assim, entende-se que os riscos ergonômicos podem assumir as mais diversas formas e particularidades, variando desde posição inadequada para desempenho laboral até inadequações de maquinários às características do colaborador. Agentes relacionados a riscos de acidentes Os riscos de acidentes são causados em decorrência da existência de chances de dano, ou seja, situações que expõem o colaborador a possibilidades de sofrerem lesão. Esse risco pode ser denominado, ainda, como aqueles que ocorrem em função de agentes mecânicos. Todos os agentes analisados até aqui têm potencial de causar acidentes? O que difere estes dos mecânicos? Nesse caso, são consideradas situações imprevistas ou em decorrência de desastre ou falta de atenção que possa causar dano ao colaborador. Os agentes favoráveis a riscos de acidentes são caracterizados como aqueles de atuação específica aos postos de trabalho, ação nos usuários diretos do agente e que, caso ocorram, resultem em lesões imediatas e agudas, na maioria dos casos. Assim, estão inclusos nesta classificação todos os fatores que podem apresentar dano ao colaborador e que tenham relação com o ambiente de trabalho, tais como materiais cortantes, posicionamento inadequado de equipamentos, falhas no arranjo físico, falta de sinalização, falhas no sistema elétrico e/ou na estrutura física. O Ambiente e as Doenças do Trabalho Riscos ambientais Capítulo 1 Acidente de trabalho Quando abordamos os riscos dos ambientes de trabalho, estamos lidando diretamente com aspectos de saúde individual e coletiva. Segundo a NR-3, considera-se grave e iminente risco, toda condição ou situação de trabalho que possa causar acidente ou doença com lesão grave ao trabalhador. Para auxiliar na assimilação, apresento a você um quadro contendo tais exemplos. QUADRO 1 Classificação de riscos e exemplos de agentes FONTE Elaborado pela autora (2020). O Ambiente e as Doenças do Trabalho Riscos ambientais Capítulo 1 A partir do Quadro 1 é possível ter uma visão sintetizada sobre os tipos dos riscos e seus exemplos. Todos os riscos apresentados podem resultar em um acidente de trabalho (AT) ou um incidente. Acerca disso, diferentes legislações abordam a definição de AT, conforme veremos a seguir: I) Decreto n.° 3.048, de 6 de maio de 1999, do Regulamento da Previdência Social: Define como acidente de qualquer natureza ou causa aquele de origem traumática e por exposição a agentes exógenos (físicos, químicos e biológicos), que acarrete lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, a perda, ou a redução permanente ou temporária da capacidade laborativa (BRASIL, 1999, p. 10). II) Lei n.° 8.213, de 24 de julho de 1991, dos Planos de Benefícios da Previdência Social (vide Lei n.° 13.135, de 17 de junho de 2015): Define acidente de trabalho como o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço de empresa ou de empregador doméstico, ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho (BRASIL, 1991, p. 6). Entretanto, além das definições legais, existe a definição sob perspectiva prevencionista, que qualifica acidente de trabalho como qualquer evento não programado que descontinue o fluxo normal do trabalho, passível de provocar danos físicos e/ou funcionais, morte do colaborador ou, ainda, perdas materiais e econômicas à organização e ao meio ambiente. Explicando Melhor O que diferencia o conceito de AT visto nas legislações frente à visão prevencionista é que, legalmente, acidente é definido em casos nos quais ocorra lesão física, enquanto do ponto de vista da prevenção, englobam-sedanos materiais, tempo para investigar e implantar medidas corretivas. O Ambiente e as Doenças do Trabalho Riscos ambientais Capítulo 1 É importante diferenciar, também, acidente de incidente. Incidente é uma ocorrência que, sem ter resultado em danos à saúde ou à integridade física de pessoas, tinha potencial para causar tais agravos. Vamos adotar como exemplo a queda de um andaime. Se a queda acontece próxima a um colaborador e o este sai a tempo sem sofrer lesão, podemos classificar como incidente, entretanto, se esse andaime cai sobre um colaborador e ele sofre a quebra de um osso, já consideramos como acidente. Para fins de leis sobre Previdência Social, consideram-se acidente do trabalho: doença profissional (aquela decorrente do exercício do trabalho) e doença do trabalho (decorrente das condições do trabalho). Não são abrangidas como AT as doenças degenerativas e referentes a grupo etário, bem como adquiridas em regiões nas quais ela se desenvolva e as doenças que não interferem na capacidade laboral. Além disso, algumas situações são equiparadas a AT, sendo elas: relacionado ao trabalho que contribua diretamente para dano ao colaborador; em decorrência de agressão física ou ofensa física intencional; em função de imprudência, desabamento, inundação, incêndio e outros; resultado de contaminação acidental durante exercício laboral. Em alguns casos, onde o acidente ocorre fora do local e horário de trabalho, pode ser considerado AT desde que tenha sido na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da empresa, na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar prejuízo ou proporcionar proveito ou em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo, quando financiada por esta dentro de seus planos para melhor capacitação da mão de obra, independentemente do meio de locomoção utilizado, incluindo veículo de propriedade do segurado. Outro ponto importante com relação a acidentes de trabalho é a emissão de Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), regulamentada pela Lei n.° 5.316, de 14 de setembro de 1967, de caráter obrigatório. A CAT garante ao trabalhador acidentado o direito de reconhecimento do acidente sofrido, independentemente da gravidade. O Ambiente e as Doenças do Trabalho Riscos ambientais Capítulo 1 A CAT deve ser preenchida em seis vias (ao Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, ao serviço de saúde que atende o colaborador, ao colaborador, à empresa, ao sindicato e à Delegacia Regional do Trabalho), nos seguintes casos: I) todos os acidentes de trabalho; II) todas as doenças ocupacionais profissionais ou do trabalho; III) todas as suspeitas de doenças ocupacionais profissionais ou do trabalho. O prazo para preenchimento e divulgação da CAT à Previdência Social é de um dia útil após a ocorrência, com exceção de morte, em que deve ser feito imediatamente. Frente ao apresentado, é de fundamental importância que as organizações desenvolvam mecanismos para gerenciar os riscos de seus ambientes, sendo essa gestão um ponto central da estratégia organizacional. O principal aspecto está relacionado à identificação dos riscos inerentes às atividades, devendo estar integrado ao contexto cultural dos ambientes de trabalho. Saiba Mais Que tal conhecer um pouco mais sobre a ISO 45001? A normativa sobre Sistemas de Gestão de Saúde e Segurança do Trabalho (SST) fornece orientações para que os ambientes laborais sejam mais seguros e saudáveis, evitando lesões e problemas de saúde aos colaboradores. Recomendo, então, a leitura da matéria Destrinchando a ISO 45001. O Ambiente e as Doenças do Trabalho Riscos ambientais Capítulo 1 Resumindo E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste Capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que os profissionais da segurança e saúde ocupacional precisam ser capazes de identificar os riscos, a fim de minimizá-los, buscando a melhoria do ambiente e dos métodos de trabalho, levando ao ambiente de trabalho a implantação de uma cultura prevencionista e colaborativa no desenvolvimento da segurança ocupacional de todos os envolvidos. Os riscos podem ser agrupados em: ambientais (físicos, químicos e biológicos), de acidentes e ergonômicos. Como exemplo, pode-se citar ruído e vibrações como físico, produtos químicos e poeira como agente de risco químico e bactérias e fungos na categoria biológicos. Com relação a riscos ergonômicos, há o levantamento manual de cargas e posturas inadequadas; já com relação a risco de acidentes, as máquinas sem proteção e animais peçonhentos. A importância de conhecer e saber identificar esses riscos está em evitar possíveis acidentes, bem como incidentes. Vimos que acidente e incidente são expressões comuns, que se diferem pela ocorrência (acidente) ou não (incidente) de lesão ao trabalhador. Os acidentes de trabalho são consequências de atos ou condições inseguras que geram perdas tanto ao colaborador quanto ao empregador e, em decorrência disso, merecem a devida atenção na sua prevenção, que ocorre controlando e minimizando os riscos. Frente ao apresentado nesta Unidade, fica claro, então, que considerar as condições de trabalho de forma integrada é de extrema importância para a proteção, o desenvolvimento e a melhoria contínua da qualidade de vida dos colaboradores em vários aspectos, minimizando riscos e evitando acidentes. @faculdadelibano_ 2 Identificação e análise de riscos O Ambiente e as Doenças do Trabalho Capítulo 2 Identificação e análise de riscos Objetivos Nesta competência, você aplicará os conhecimentos obtidos sobre riscos ambientais, de forma a gerenciá- los a partir de técnicas de gestão, incluindo identificação e análise de riscos. A aplicação desses conhecimentos é fundamental para a melhoria das condições de trabalho e, consequentemente, da produtividade. Está curioso para este aprendizado? Vamos continuar aprendendo juntos! A possibilidade de situações não desejadas e não previsíveis no ambiente de trabalho é algo que preocupa desde os gestores aos próprios colaboradores, não é mesmo? Para evitar tais situações, é importante que sejam desenvolvidos mecanismos para gerenciá-las. Para que as ações do gerenciamento sejam eficazes, é preciso que sejam realizados estudos iniciais envolvendo os riscos dos ambientes de trabalho, a fim de investigar incansavelmente todas as situações passíveis de ocorrer. A partir desse estudo, é possível estimar com maior precisão as chances de cada situação acontecer e quais efeitos serão decorrentes destas. Entretanto, apesar de ser de fundamental importância, ainda há falta de consenso nas organizações sobre as terminologias e os conceitos adotados para esta temática. Isso resulta em análises individualizadas, ou silos, que dificultam o gerenciamento integrado dos riscos ou, ainda mais grave, resulta em um gerenciamento superficial. As técnicas de gestão de riscos podem ser aplicadas em vários locais de trabalho, nos mais diferentes tipos de ambientes e setores, bem como nos níveis de gerenciamento (do operacional ao estratégico), tendo em vista a importância de prevenir os riscos. É essencial que, além do gerenciamento, seja mantido um histórico organizacional, de O Ambiente e as Doenças do Trabalho Identificação e análise de riscos Capítulo 2 modo a permitir um monitoramento contínuo do ambiente de trabalho, bem como das decisões que vêm sendo tomadas neste contexto. O processo de gestão de riscos pode ser desenvolvido a partir de etapas propostas pela norma AS/NZS 4360: 2004, que guia a gestão de riscos e, inclusive, foi adotada para a ISO 31000. Reflita Até aqui, ficou clara a gravidade dos riscos dos ambientes de trabalho, não é? Então, antes de darmos continuidade, vamos refletir. Quanto custa um acidente de trabalho para uma organização? O que representa,para um gestor, os riscos do ambiente de trabalho? E para o trabalhador, o que significa um risco no ambiente de trabalho? Como é possível gerenciar esses riscos? FIGURA 1 Etapas a serem desenvolvidas para o gerenciamento de riscos FONTE Adaptada de Mattos e Másculo (2011). O Ambiente e as Doenças do Trabalho Identificação e análise de riscos Capítulo 2 A aplicação dessas etapas pode ser feita por qualquer organização, independentemente do tipo e porte. Conforme a Figura 1, existem etapas a serem desenvolvidas, e elas se relacionam entre si. É importante que o processo de gestão tenha início logo depois da ocorrência do acidente, pois, com o passar do tempo, o local e os dados podem ser alterados. É recomendado, ainda, que sejam feitos registros fotográficos do local, coletados depoimentos dos envolvidos para posterior preparação do relatório do acidente, indicando os motivos e as indicações de correção e melhoria. Ademais, a adoção de mecanismos para identificar, analisar e avaliar os riscos deve ser considerado investimento por parte dos empregadores, tendo em vista que, além das melhorias do ambiente de trabalho, esses investimentos vão garantir a produtividade dos colaboradores, reduzindo os riscos e, consequentemente, os acidentes e as doenças profissionais. Identificação de riscos A identificação dos riscos consiste, como o nome indica, em identificar onde, quando, como e por que determinadas situações acontecem ou podem acontecer. Parte-se do princípio do ininterrupto questionamento, procurando os motivos do acidente e suas analogias com o ambiente de trabalho. Inicialmente, para que os riscos sejam gerenciados de forma adequada, é imprescindível que sejam mapeados e documentados os processos para os quais se almeja identificar os riscos adjuntos. Assim, para que seja possível aplicar qualquer uma das técnicas de investigação é necessário adquirir e minutar determinados dados essenciais para a averiguação, como: • Dados sobre o colaborador que sofreu o acidente (nome, função, idade, cargo, lesão, parecer médico). • Informações sobre o atendimento (socorros iniciais adotados, hora, descrição e testemunhas). • Registro do histórico do colaborador no que tange à segurança do trabalho (treinamentos, acidentes anteriores, uso dos equipamentos de proteção etc.). O Ambiente e as Doenças do Trabalho Identificação e análise de riscos Capítulo 2 Após o acontecimento de um acidente ou incidente, prontamente, deve-se começar o procedimento de averiguação de riscos para impedir que eventos desta natureza voltem a ocorrer. A investigação deve sempre contar com a participação do Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT) e da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa) e, se indispensável, com profissionais externos, caso os profissionais internos não sejam satisfatórios. Ferramentas adequadas devem ser utilizadas para a coleta de informações que auxiliem neste processo de identificação dos riscos. Existem várias técnicas de identificação, sendo as mais comuns: técnica de incidentes críticos, análise What-If e de causa e efeito, entre outras que são identificadas na literatura, mas não serão abordadas neste material. Técnica de incidentes críticos É uma técnica operacional, de caráter qualitativo, a ser aplicada na fase operacional, a fim de identificar incidentes. Por incidente, entende-se qualquer situação insegura que possa resultar em acidente de trabalho. Assim, essa técnica consiste em uma forma de identificar erros e condições inseguras que colaboram para o acontecimento de acidentes (sem lesões), sobretudo nos casos em que se almeja identificar perigos sem a utilização de metodologias mais robustas e, ainda, quando o tempo é restrito. O objetivo dessa técnica é detectar tais situações e tratar os riscos que estas representam. Para tal, é necessário que sejam entrevistados uma quantidade significativa de colaboradores, envolvendo todos os setores da empresa, de forma a representar as diferentes intervenções. A amostra dos entrevistados precisa ser feita de forma aleatória para garantir representatividade, bem como para que não haja tendências nas respostas e estas sejam o mais abrangente possível. No decorrer da aplicação dessa técnica, o investigador questiona um grupo de colaboradores e solicita que cada um lembre e descreva atos ou condições inseguras que tenham percebido no ambiente de trabalho. O Ambiente e as Doenças do Trabalho Identificação e análise de riscos Capítulo 2 É importante que essa técnica seja aplicada de forma periódica e que, a cada aplicação, sejam mudados os entrevistados, a fim de identificar novas áreas-problema, ou seja, novos incidentes críticos. What-If A análise What-If que, em português, significa “e... se”, consiste em uma técnica especulativa, de caráter qualitativo e geral, de simples emprego e muito benéfica, como abordagem inicial para identificação e detecção de riscos, em qualquer etapa do projeto ou processo, bem como em serviços. Baseia-se em metodologias de brainstorming, que consistem em jogos de perguntas, objetivando identificar “o que” poderá acontecer (decorrências indesejadas) e “se” determinado fato der errado (perigo). Além disso, é desenvolvida a partir de dinâmicas de grupo. Para aplicação, são organizadas reuniões entre duas equipes (guia/ questionadora e colaborativo), e estas vão desenvolvendo perguntas sobre procedimentos, instalações e processos da organização. Para que seja eficaz, é preciso que a equipe conhecedora e familiarizada (denominada guia ou questionadora) organize, anteriormente à reunião, itens para guiar a discussão. Os itens para guiar a discussão devem ser formados com perguntas iniciando com o termo “e se” (eis a justificativa para o nome da técnica), tal como: e se houver interrupção no fornecimento de energia? E se houver superaquecimento no equipamento? As respostas dessas perguntas guiarão as discussões sobre os riscos existentes. É sugerido que essa análise seja empregada para avaliar a implicação à continuação operacional de equipamentos, espaços e integrações, no que diz respeito a serviços múltiplos de manutenção, sobretudo aqueles pertinentes às particularidades de elétrica e instrumentação. Além disso, a aplicação periódica pode apresentar bons resultados no que diz respeito à atualização de riscos. O Ambiente e as Doenças do Trabalho Identificação e análise de riscos Capítulo 2 Causa e efeito A análise de causa e efeito é conhecida por diferentes nomenclaturas na literatura, podendo ser um diagrama de causa e efeito, diagrama de Ishikawa, espinha de peixe, entre outros. Essa ferramenta da qualidade é apresentada na ISO 31.010 como norteadora do processo de análise de riscos. Esta ferramenta auxilia na organização do brainstorming para a identificação das possíveis causas de determinado problema, ou seja, os possíveis riscos de certas situações. Para construir o diagrama, parte-se do princípio que o acidente (efeito) não é resultante de uma única causa, mas decorrente de um conjunto de fatores (situações) que desencadeiam o processo. Para preenchimento das causas, é importante que sejam reunidos colaboradores que opinem sobre os fatores que possam ter resultado no acidente em questão. Para aplicar essa técnica, inicialmente, é necessário selecionar o problema que será analisado (acidente). Então, delimita-se uma linha horizontal com um retângulo ao final. Nesse retângulo, será escrito o problema. Ao longo da linha horizontal são desenhadas linhas diagonais, representando as causas, como pode ser visto na Figura 2. Após o desenho da figura, inicia-se o debate com as pessoas envolvidas a partir de brainstorming, que consiste em um processo demorado. Entretanto, como é o “coração” dessa ferramenta, é preciso que seja feito de forma focada, para que os detalhes também sejam considerados na análise. No decorrerdo debate, as causas identificadas vão sendo agrupadas em categorias. Ao final, caso necessário, essas causas podem ser elencadas de acordo com a importância ou gravidade. Na Figura 2 são apresentados os grupos para relacionar as causas, quais sejam: materiais, meio ambiente, máquina (equipamentos), mão de obra, método (forma de desenvolver o trabalho) e medida (indicadores). Esses grupos podem ser adaptados de acordo com o contexto organizacional apresentado, ou seja, não necessariamente todos esses grupos terão causas relacionadas ao que está sendo analisado. O Ambiente e as Doenças do Trabalho Identificação e análise de riscos Capítulo 2 Análise e avaliação de riscos A partir da identificação dos riscos feita com as técnicas do item anterior, é importante, então, que sejam compreendidos, criticados e estimados o nível de criticidade de cada risco, ou seja, que sejam analisados. É importante que a avaliação seja tanto quantitativa quanto qualitativa. Ao quantificar, comprova-se o controle da exposição ou inexistência do risco, dimensiona a exposição e subsidia-se o equacionamento das medidas de controle. Dessa forma, técnicas de análise e avaliação de riscos constituem em desenvolver atividades orientadas para quantificar a perda máxima provável decorrente do risco, ou seja, permite quantificar a probabilidade de ocorrer um risco e suas consequências, bem como a gravidade destas. Existem diferentes técnicas para analisar os riscos, das quais serão apresentadas aqui: análise preliminar de riscos (APR), análise de modos de falha e efeitos (AMFE) e análise de árvore de falhas (AAF). Análise preliminar de riscos A APR consiste em uma técnica qualitativa para análise inicial, sendo utilizada para identificar fontes de perigo, analisar consequências e propor medidas corretivas simples. É comumente aplicada na fase de projeto ou desenvolvimento de projetos e processos. FIGURA 2 Exemplificação da estrutura de aplicação de um diagrama de causa e efeito. FONTE Elaborada pela autora (2020). O Ambiente e as Doenças do Trabalho Identificação e análise de riscos Capítulo 2 A forma mais usual de desenvolver uma APR é a partir da organização dos dados em um quadro, conforme apresentado no Quadro 2. O primeiro passo para tal consiste em identificar quais atividades organizacionais serão analisadas. Selecionada a atividade, inicia-se o processo com a identificação dos riscos desta; e, em seguida, as causas do risco. A partir disso, é possível constatar as consequências do risco e sua causa. Para propor a categoria do risco, pode-se analisar aspectos como frequência, grau da consequência ou a combinação dessas duas categorias. Por fim, a última coluna (ou último item a ser analisado) consiste na identificação das ações para a situação em questão. A aplicação da APR auxilia a eleger os espaços da instalação, onde devem ser desenvolvidas as metodologias mais detalhadas para analisar riscos, ou seja, atua como precursora de outras análises. Ademais, também pode ser utilizada como mecanismo de monitoramento e revisão geral para processos operacionais em andamento, desvendando aspectos que podem ser imperceptíveis no cotidiano. Análise de modos de falha e efeitos A AMFE é uma metodologia hábil de engenharia que identifica, qualifica e investiga as falhas de componentes específicos e como estas estão distribuídas. Na área de segurança do trabalho, vem sendo aplicada em situações específicas, como fontes de QUADRO 2 Exemplificação da estrutura de aplicação de uma APR FONTE Elaborado pela autora (2020). O Ambiente e as Doenças do Trabalho Identificação e análise de riscos Capítulo 2 risco e análise ergonômica do trabalho. O procedimento é semelhante a outras técnicas, sendo desenvolvido a partir da organização de uma equipe que irá examinar o produto ou processo em questão no que diz respeito a funcionalidades, falhas prováveis, efeitos e causas. A partir desta caracterização, os riscos são avaliados desde o estabelecimento de indicadores que, então, serão calculados para que sejam selecionados os riscos de maior prioridade. Frente ao apresentado, entende-se que, o foco está nas falhas e nos efeitos destas sobre os componentes de um sistema, sendo, portanto, uma metodologia objetiva e com foco localizado. Com base nesta análise, são definidas as medidas para suavizar tais riscos, promovendo maior confiança ao produto/processo. Análise de árvore de falhas A AAF é uma ferramenta dedutiva, de caráter quali ou quantitativo, que tem por finalidade analisar riscos a fim de determinar a probabilidade de ocorrência de eventos finais. Para seu desenvolvimento, inicialmente, é identificada e selecionada uma falha (ou efeito) e, então, desta, são desdobradas falhas básicas ou eventos primários. É bastante utilizada, tendo em vista que é aberta, ou seja, aceita diferentes justificativas para os acidentes, identificando e relacionando-os com falhas existentes no ambiente organizacional. O método adotado é de dedução e parte da premissa que determinada falha ou um grupo de falhas resultou no acidente. O resultado dessa análise são sistemas organizados a partir de uma representação gráfica, que é estruturada como uma árvore lógica e, para tal, são utilizadas simbologias específicas advindas da álgebra booleana. Além disso, é possível calcular a frequência e a probabilidade de ocorrência de cada componente e, então, aplicar tais probabilidades para identificar as ações necessárias. Saiba Mais Quer ver a aplicação de uma das técnicas abordadas? Recomendamos o acesso à seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Aplicação da análise preliminar de risco para identificação de riscos ergonômicos nas atividades de professores do ensino fundamental II. O Ambiente e as Doenças do Trabalho Identificação e análise de riscos Capítulo 2 Resumindo E então, conseguiu aprender? Para conferirmos se isso aconteceu, vamos fazer uma breve revisão sobre o que vimos. Partindo do pressuposto de que já sabemos os principais agentes causadores de riscos presentes nos ambientes de trabalho e que, caso não sejam tomadas precauções, podem denegrir a saúde e a integridade física dos colaboradores, vimos nesta competência as técnicas de gestão desses riscos. A gestão de riscos é um método ativo, continuado e imprescindível para o bom gerenciamento de qualquer organização. Além disso, fornece subsídios para a tomada de decisões. Assim, conhecer os agentes, quantificar e qualificá-los e, principalmente, estabelecer medidas de controle à exposição a eles é condição basal para que as atividades profissionais sejam desempenhadas com qualidade. Entre as técnicas existentes, vimos aqui a técnica de incidentes críticos, What- If e causa e efeito para a identificação de riscos e, no que tange à análise e à avaliação, vimos APR, AMFE e AAF. Cabe a empresa, no que diz respeito a seus gestores, selecionarem e adotarem essas técnicas, a fim de ter um maior controle acerca dos fatores que interferem em seus processos. Ademais, a falta de consenso na prática resulta em uma gestão de riscos em silos, ou seja, isoladamente, fazendo com que cada área da organização use expressões diferentes, o que dificulta o gerenciamento, bem como a participação de todos os envolvidos no ambiente organizacional. Ficou claro, a partir desta competência, então, que adotar mecanismos para identificar, analisar e avaliar os riscos deve ser considerado investimento por parte dos empregadores, tendo em vista que, além das melhorias do ambiente de trabalho, esses investimentos vão garantir a produtividade dos colaboradores, reduzindo os riscos e, consequentemente, os acidentes e as doenças profissionais. @faculdadelibano_ 3 Serviços de saúde ocupacional e segurança do trabalho O Ambiente e as Doenças do Trabalho Capítulo 3 Serviços de saúde ocupacional e segurança do trabalho Objetivos Olá. Nesta competência, você será capaz de entender os serviçosde saúde e medicina do trabalho e suas funcionalidades. Consta em lei que qualquer organização que possua trabalhador deve cumprir as obrigatoriedades deste contexto, e a efetividade da garantia da segurança do trabalho relaciona-se ao comprometimento da alta administração. E então? Animado? Vamos lá! Em decorrência dos riscos ambientais, as organizações buscaram definir meios para fazer o controle e reduzir seus custos com acidentes e doenças ocupacionais, para que se mantivessem competitivas. Nesse contexto, a temática da segurança e saúde no trabalho é acatada como estratégia organizacional, tendo em vista que sua ação está diretamente relacionada ao fator principal da produtividade: a mão de obra. A efetividade das medidas relacionadas à segurança do trabalho relaciona-se com o nível de envolvimento e empenho da alta Administração, que precisa encaminhar e acompanhar o sistema de gestão de riscos, estabelecendo diretrizes para a implementação e o monitoramento das medidas de gerenciamento dos riscos e controle interno, perseguindo, assim, o alcance dos principais objetivos. Grande parte das empresas no Brasil tem isenção de constituir formalmente os serviços relacionados à saúde ocupacional e segurança do trabalho, tendo em vista que não possuem mais que 20 ou 50 colaboradores, tal como preconiza a legislação sobre formação de Cipa e SESMT. Consta em lei que qualquer organização que possua trabalhador deve cumprir as obrigatoriedades deste contexto. Ou seja, apesar de não O Ambiente e as Doenças do Trabalho Serviços de saúde ocupacional e segurança do trabalho Capítulo 3 ser obrigada a ter profissionais especializados, caberá ao gestor as responsabilidades sobre saúde e segurança de seus colaboradores. Assim, nesta competência, veremos esses serviços instituídos em normas regulamentadoras específicas. Em casos nos quais se faz necessário, o grupo de profissionais da área de segurança do trabalho de uma organização é estruturado a partir de uma equipe multidisciplinar. Esta compõe o SESMT, definido pela NR- 4, que envolve os seguintes profissionais: • Técnico de segurança do trabalho. • Engenheiro de segurança do trabalho. • Médico do trabalho. • Enfermeiro de segurança do trabalho. • Auxiliar em enfermagem do trabalho. Além do SESMT, as organizações precisam instituir sua Cipa, conforme preconiza a NR-5. A Cipa é formada por representantes do patrão e dos funcionários, tendo por missão cooperar para que as ações do SESMT sejam prevencionistas. A seguir, abordaremos cada um desses serviços. SESMT É de responsabilidade do SESMT agendar mensalmente as informações atuais de acidentes de trabalho, doenças ocupacionais e agentes de insalubridade. Tais informações precisam fornecer subsídios sobre a tipologia do acidente, localidades, datas e horários, entre outras informações que possam ajudar a avaliar os acontecimentos. Segundo o inciso XXII do art. 7 da Constituição Federal, é direito do trabalhador a “redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança” (BRASIL, 1988). Ademais, apesar da CLT já citar a existência desse tipo de serviço nos ambientes organizacionais, o SESMT só foi constituído oficialmente em 1972 com a publicação de uma portaria sobre a formação técnica nesta área, tornando obrigatória a sua existência em empresas, com mais de 100 colaboradores. Essa legislação fez com que o Brasil fosse o primeiro país a constituir tal serviço em O Ambiente e as Doenças do Trabalho Serviços de saúde ocupacional e segurança do trabalho Capítulo 3 suas empresas, tornando possível melhorar a imagem do país frente ao alto índice de acidentes de trabalho perante o cenário internacional. Dessa forma, a legislação foi um marco entre um período de equívocos e o período assertivo da abordagem dos assuntos referentes à segurança do trabalho e à saúde do colaborador. O item 4.1 da referida norma expressa a obrigatoriedade da implantação do SESMT a empreendimentos particulares e públicos que tenham funcionários administrados sob o regime da CLT. Este programa tem por alvo agenciar a saúde e resguardar a integridade do colaborador em seu ambiente laboral. Para garantir que o SESMT tenha qualidade no atendimento aos colaboradores, o Ministério do Trabalho exige que este tenha seu registro protocolado no órgão local, que é feito a partir do Sistema SESMT a partir da Portaria n.° 559, de 2 de junho de 2016. Para cadastro no sistema é necessário informar os dados da organização (número de colaboradores, jornadas de trabalho e grau de risco), a quantidade e quais profissionais fazem parte, bem como seus respectivos horários de trabalho. Esse sistema tem como objetivos: I) Auxiliar a comunicação entre o órgão responsável e a organização. II) Melhorar a agilidade do procedimento de registro. III) Acelerar casos de atualização cadastral. IV) Conferir os requisitos da NR-4 antes de efetivar SESMT. V) Possibilitar uma fiscalização mais adequada a partir das informações disponibilizadas no sistema. O SESMT pode ser composto por quatro classes de profissionais (médico do trabalho, engenheiro de segurança do trabalho, enfermeiro do trabalho, técnico de segurança do trabalho e auxiliar ou técnico em enfermagem do trabalho), sendo que o seu dimensionamento está disciplinado no quadro II da mencionada NR-4. O engenheiro de segurança, o médico e o enfermeiro do trabalho necessitarão dedicar, ao menos, três horas (tempo parcial) ou 6 horas (tempo integral) por dia para as ações do SESMT, conforme o dimensionamento estabelecido no Quadro II. A norma estabelece, ainda, as atribuições dos profissionais que compõem os SESMT. Entre as competências é importante ressaltar algumas: O Ambiente e as Doenças do Trabalho Serviços de saúde ocupacional e segurança do trabalho Capítulo 3 • Aplicar os conhecimentos a todos os componentes do ambiente de trabalho (desde colaborador à máquina). • Deliberar os equipamentos de proteção necessários tanto de cunho individual quanto de caráter coletivo. • Garantir que o estabelecido em todas as NRs seja cumprido. • Promover integração contínua com a Cipa, bem como apoiar, treinar e atender conforme for necessário. • Realizar atividades de sensibilização, educação e direcionadoras a partir de campanhas. • Tirar dúvidas dos colaboradores e torná-los conscientes sobre riscos, acidentes de trabalho e doenças. O SESMT será avaliado a cada seis meses por uma comissão formada por representantes das organizações, do sindicato de trabalhadores e da delegacia do órgão competente ou de acordo com o estabelecido em convenções. É imprescindível que o SESMT tenha integração constante com a Cipa, atuando como mecanismo multiplicador. Esses serviços devem desenvolver estudos, analisar as demandas dos colaboradores e estabelecer soluções, tanto para a correção quanto para a prevenção. Além disso, como parte integrante deste serviço, tem-se o ambulatório, que deve ser de responsabilidade do médico do trabalho que, por sua vez, deve ser o coordenador do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO). De modo geral, fica evidente que a presença dos profissionais do SESMT nas empresas é de fundamental importância, tanto para a integridade dos colaboradores como para o sucesso das organizações e do bem-estar da sociedade, uma vez que esses profissionais, por meio de seu conhecimento científico, serão os responsáveis pela modificação das características de trabalho, bem como da promoção de maior qualidade de vida nos ambientes laborais. Dimensionamento Outro ponto importante a ser destacado é que é possível que uma organização tenha um SESMT centralizado, que atenderá a um grupo de empreendimentos de sua propriedade O Ambiente e as Doenças do Trabalho Serviços de saúde ocupacional e segurança do trabalho Capítulo 3 nos casos em que a distância entre o empreendimento no qual o SESMT está localizado e os demais não ultrapasse cinco quilômetros.Para dimensionar o SESMT, aplica-se o item 4.2 da NR-4. O processo de dimensionar o SESMT está vinculado à gradação do risco da atividade central e à quantidade de colaboradores do local, conforme os anexos I e II da referida NR. O Quadro I aborda o código, a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) e o grau de risco (GR) para fins de dimensionamento do SESMT, conforme exemplificado no Quadro 3. De posse do grau de risco, é necessário ter informações acerca da quantidade de colaboradores para, então, dar continuidade ao dimensionamento a partir da observação do Quadro II, também constante na NR-4. QUADRO 3 Exemplificação do Quadro I da NR-4 FONTE Elaborado pela autora com base em Brasil (2016). O Ambiente e as Doenças do Trabalho Serviços de saúde ocupacional e segurança do trabalho Capítulo 3 A quantidade de profissionais a compor o SESMT é dada pela relação grau de risco x número de colaboradores. A NR-4 apresenta, ainda, alguns apontamentos com relação ao dimensionamento do SESMT, sendo eles: • Não se consideram estabelecimentos os canteiros de obras e as frentes de trabalho com menos de 1.000 funcionários e localizados no mesmo estado, território ou Distrito Federal. • Em casos onde 50% ou mais dos colaboradores atuem em atividade com grau superior ao da atividade principal, o dimensionamento é feito a partir do maior risco. Cipa A Cipa é responsável pelos assuntos de segurança e saúde na organização, sendo formada por trabalhadores. Foi criada em 1944, porém instituída legalmente pela NR-5, que define condições para dimensionamento, obrigatoriedades e condicionantes para seus membros. Devem constituir e manter em funcionamento as “organizações privadas, públicas, sociedades de economia mista, órgãos da administração direta e indireta, instituições QUADRO 4 Fragmento do II da NR-4 FONTE Elaborado pela autora com base em Brasil (2016). O Ambiente e as Doenças do Trabalho Serviços de saúde ocupacional e segurança do trabalho Capítulo 3 beneficentes, associações recreativas, cooperativas, bem como outras instituições que admitam trabalhadores como empregados (BRASIL, 2019, p. 1). É possível estabelecer três objetivos principais desta comissão: prevenir acidentes e doenças do trabalho, controlar os riscos e propor sugestões para acabar ou neutralizar os riscos. Uma das formas de incentivar e motivar para alcançar tais objetivos é a partir de campanhas educativas. Ademais, na referida NR são instituídas as responsabilidades de empregador e colaboradores. Ao empregador cabe o papel de promover aos componentes da Cipa os caminhos necessários para desempenharem suas pertinências, avaliando tempo satisfatório para a execução dos trabalhos constantes no plano de trabalho. Já aos colaboradores, cabe participar da eleição de seus representantes; colaborar com a gestão da Cipa; indicar à Cipa, ao SESMT e ao empregador situações de riscos e apresentar sugestões para melhoria das condições de trabalho; e observar e aplicar FIGURA 3 Exemplificação de uma campanha de sensibilização da Cipa FONTE Tavares (2009). Nota A diferença básica entre a Cipa e o SESMT é que este é composto, exclusivamente, por profissionais especialistas em segurança e saúde no trabalho, enquanto a Cipa é uma comissão partidária constituída por empregados, normalmente, leigos em prevenção de acidentes. O Ambiente e as Doenças do Trabalho Serviços de saúde ocupacional e segurança do trabalho Capítulo 3 no ambiente de trabalho as recomendações quanto à prevenção de acidentes e de doenças decorrentes do trabalho. Qualquer ação referente à Cipa deve ser formalizada e, a documentação referida, deve estar disponível para que seja fiscalizada. Além disso, a participação de todos é extremamente necessária para que os resultados esperados sejam alcançados. Estruturação e dimensionamento A estruturação da Cipa é feita a partir de um processo eleitoral interno, conforme requisitos estabelecidos pela respectiva norma regulamentadora, sendo formada por representantes do patrão e dos funcionários, de acordo com o dimensionamento previsto no Quadro I da NR-5. O representante dos empregados e do empregador é conhecido como “cipeiro”, e é importante que ele esteja em comunicação frequente com o empregador, a fim de FIGURA 4 Estruturação da Cipa FONTE Elaborada pela autora (2020). auxiliar o SESMT e os colaboradores. Dessa forma, o cipeiro exerce papel importante nas ações de prevenção da empresa. Além dos membros escolhidos por indicação de empregador e empregados (presidente, efetivos e suplentes), a Cipa é formada por um secretário. A quantidade de membros a compor a Cipa vincula-se ao agrupamento de setores econômicos pela Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), que consta no Quadro II da NR- 5, bem como a quantidade de colaboradores. Diferentemente do dimensionamento do SESMT, aqui, O Ambiente e as Doenças do Trabalho Serviços de saúde ocupacional e segurança do trabalho Capítulo 3 inicialmente, identificamos o CNAE no Quadro II e o grupo no qual essa atividade está inserida e, então, consulta- se o Quadro I. É importante destacar que, nos casos em que a empresa não tem obrigatoriedade de constituir a Cipa, exige-se que seja designada uma pessoa com treinamento específico de 20 horas para exercer as atribuições dessa comissão. Processo eleitoral A estruturação da Cipa se dá a partir de processo eleitoral. Para que ele ocorra, é necessário que, 60 dias antes de findado o mandato atual, o empregador fixe um edital por 15 dias. Este possibilitará que todos que tenham interesse se inscrevam e, aqueles interessados, terão garantia de emprego até a eleição. A eleição deverá ocorrer no prazo de 30 dias antes de findado mandato, com voto secreto e durante os turnos de trabalho. Os membros eleitos terão sua posse protocolada com o prazo de um dia útil e passarão por treinamento de 20 horas. Então, a empresa protocolará no Ministério do Trabalho em até 10 dias: cópias das atas da eleição (de instauração e de posse), o calendário das reuniões anuais (devem ser 12 entre o início e o fim do mandato). Depois de protocolado, não é possível cancelar, exceto em casos nos quais a empresa encerra suas atividades. FIGURA 5 Fragmento do Quadro I da NR-5 FONTE Elaborado pela autora com base em Brasil (2019). O Ambiente e as Doenças do Trabalho Serviços de saúde ocupacional e segurança do trabalho Capítulo 3 Resumindo E então, conseguiu entender os dois serviços de segurança do trabalho e saúde ocupacional apresentados? Ficou claro? Para lhe ajudar a fixar, vamos ver uma breve explicação do contexto geral apresentado nesta Unidade, ok? O SESMT de uma organização foi instituído a partir da NR-4, sendo composto por profissionais técnicos da área de saúde, segurança e engenharia, com foco prevencionista, cujo dimensionamento ocorre em função do grau de risco da atividade desenvolvida e da quantidade de colaboradores. Sua principal atribuição consiste em aplicar a ciência técnica para garantir a integridade física e psicológica dos colaboradores, bem como cuidar da qualidade do ambiente laboral nos mais variados empreendimentos e organizações. O outro serviço existente é a Cipa, regulamentada pela NR-5, que consiste em uma comissão formada por representantes do patrão e dos funcionários. Essa comissão tem como incumbência a atenção com a saúde e a integridade física dos colaboradores, bem como de todas as pessoas que interagem com o ambiente laboral. Entre as atividades acatadas pela Cipa, podem ser destacadas ações de sensibilização dos colaboradores, em todos os níveis (da alta administração ao chão de fábrica). Sem esse trabalho de sensibilização, as ações tomadas para promover a segurança do ambiente acabam encontrando barreiras para sua eficiência, tendo em vista que o foco principal destas é o próprio colaborador. Saiba Mais Quer saber umpouco mais sobre este tema? Recomendamos o acesso ao guia de perguntas e respostas do Sistema SESMT. Este documento tem por finalidade auxiliar as organizações a cumprir com as obrigatoriedades dos itens 4.17 da NR-4, sendo disponibilizado pelo Governo Federal no ano de 2016. @faculdadelibano_ 4 Programas de saúde ocupacional e da segurança do trabalho O Ambiente e as Doenças do Trabalho Capítulo 4 Programas de saúde ocupacional e da segurança do trabalho Objetivos Caro aluno, nesta competência você será capaz de conhecer os programas relacionados à saúde ocupacional e à segurança do trabalho. Esses programas são de caráter obrigatório, sendo o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) e o Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) a todas as empresas, e o Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção (PCMAT) àquelas da construção civil. Está curioso para saber mais sobre eles? Vamos lá! FIGURA 6 Trabalho FONTE Freepik O reconhecimento do papel do trabalho na determinação e evolução do processo saúde-doença tem implicações éticas, técnicas e legais, que refletem na organização e no provimento de atitudes voltadas à saúde da classe trabalhadora. O Brasil é caracterizado por uma vasta quantidade de legislações e, ao mesmo tempo, um alto O Ambiente e as Doenças do Trabalho Programas de saúde ocupacional e da segurança do trabalho Capítulo 4 índice de descumprimento destas. O Ministério do Trabalho e Emprego (TEM), a partir da Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT), e levando em consideração o art. 200 da CLT, aprovou as normas regulamentadoras. Mas isso você já sabe, não é? A legislação referente às NRs passaram por uma inovação no fim de 1994 e, então, tornou-se obrigatória às organizações, o que diz respeito tanto à elaboração quanto à implementação de dois programas: PCMSO e PGR. Além desses programas, outro de destaque nas legislações brasileiras é o PCMAT, instituído pela NR-18. A elaboração dos três programas, além de suas respectivas obrigatoriedades, é extremamente importante para a organização. Eles ajudam na proteção de possíveis afastamentos, acidentes de trabalho, diminuição de condições insalubres e, se bem empregados, provocam aspectos positivos em fatores econômicos da organização. Diante disso, a elaboração e implementação destes permite, de certa forma, proteção tanto para a empresa quanto para seus gestores (contratantes) e colaboradores, evitando acidentes e proporcionando, consequentemente, melhor qualidade de vida no ambiente de trabalho. PCMSO A NR-7 estabelece a obrigatoriedade de elaboração e implantação por parte de todos os empregadores e instituições que admitam trabalhadores como empregados do PCMSO, com o objetivo de promoção e preservação da saúde do conjunto dos seus trabalhadores. Sua existência jurídica é assegurada, em âmbito de legislação, pela última atualização da Portaria n° 1.031, de 6 de dezembro de 2018. Essa NR define ser de caráter obrigatório elaborar e implementar este programa a todos os locais com colaboradores, tendo em vista promover e preservar a saúde. O PCMSO tem caráter preventivo para a saúde dos trabalhadores, sendo desenvolvido a partir da avaliação do ambiente de trabalho para contextualização do processo O Ambiente e as Doenças do Trabalho Programas de saúde ocupacional e da segurança do trabalho Capítulo 4 produtivo e dos riscos de cada setor da organização. Em seguida, são analisadas informações e desenvolvidas ações de saúde, bem como promovidas atividades como palestras e treinamentos, além da obrigatoriedade de exames médicos. De modo geral, pode-se definir como objetivos do PCMSO: • Identificar antecipadamente, promover o monitoramento e controle de situações passíveis de denegrir a saúde do colaborador. • Buscar a promoção e preservação da saúde dos colaboradores no ambiente de trabalho. • Estabelecer monitoramento e diagnóstico preventivo de possíveis riscos à saúde dos colaboradores. • Buscar solucionar e melhorar os locais laborais e as formas de execução de ações rotineiras, tendo por embasamento as situações de risco identificadas. • Promover ações de sensibilização para os colaboradores no que tange à seriedade do aspecto preventivo para a conservação da qualidade de vida. • Criar um histórico de caráter informacional a partir de dados de exames médicos. Dessa forma, entende-se que esse programa envolve exames médicos e análises clínicas tanto individuais quanto coletivos, e, após análise destes, serão definidas medidas preventivas, a fim de reduzir os riscos. Organizações com grau de risco 1 e 2 que tenham até 25 colaboradores, e organizações com grau de risco 3 e 4 com até 10 colaboradores não têm obrigatoriedade de possuir um médico na coordenação, porém isso não torna facultativa a elaboração do PCMSO. O PCMSO pode passar por alterações a qualquer momento, seja de forma completa ou parcial, sempre que forem identificadas mudanças nos riscos ocupacionais, em função de mudanças nos processos/ ambientes de trabalho; ou por novas descobertas da ciência médica, em relação a efeitos de riscos existentes; mudança de critérios de interpretação dos exames; ou, ainda, reavaliações do reconhecimento dos riscos. O PCMSO é um documento que não precisa ser homologado ou registrado nas Delegacias Regionais do Trabalho (DRTs). Ele é arquivado no estabelecimento à disposição da fiscalização. O Ambiente e as Doenças do Trabalho Programas de saúde ocupacional e da segurança do trabalho Capítulo 4 PGR O PGR foi estabelecido pela NR-9, na Portaria n.° 8.873, de 23 de julho de 2021, como sendo obrigatória, visando concretizar o processo de gerenciamento de riscos da organização. Assim, torna-se obrigatório que a empresa elabore o seu PGR, tendo como finalidade consolidar as informações para que se preserve a saúde e a integridade dos trabalhadores no ambiente de trabalho. Os principais objetivos do PGR são: • Evitar que aconteçam riscos ocupacionais. • Identificar os possíveis perigos e agravantes que possam existir na empresa e que possam prejudicar a saúde do trabalhador. • De acordo com os riscos identificados, adotar medidas de prevenção. • Especificar qual o nível do risco ocupacional. • Realizar o monitoramento dos riscos ocupacionais. Analisando os objetivos do PGR podemos concluir que esse programa procura identificar os riscos e eliminá-los, com a finalidade de garantir uma máxima proteção. A empresa, ao adequar-se ao PGR, está cumprindo a lei e, além disso, adquirindo uma maior credibilidade frente ao mercado, pois demonstra que a empresa se dedica aos cuidados dos seus funcionários e da sua equipe, o que gera, consequentemente, a ideia de que também cuida bem dos seus clientes. Para que se implemente o PGR, é necessário considerar não somente as medidas que devem ser adotadas para preservação dos riscos, mas em conjunto, seguir um programa dinâmico que deve contar com um acompanhamento de todos os fatos que Você Sabia? A NR-9 antes tratava do PPRA (Programa de Prevenção de Riscos Ambientes), no entanto, em 2022, houve a transição do PPRA para o PGR, sendo este último mais completo e abrangente, pois incluiu os riscos de acidentes e ergonômicos que não haviam sido estabelecidos no primeiro programa. O Ambiente e as Doenças do Trabalho Programas de saúde ocupacional e da segurança do trabalho Capítulo 4 podem incorrer em riscos no ambiente de trabalho para o trabalhador. Assim, para que o PGR seja colocado em prática, é necessário adotar as seguintes medidas: 1.Identificação dos fatores de risco. 2. Adoção de medidas de proteção. 3. Monitoramento da saúde ocupacional. 4. Realização de um acompanhamento contínuo. O PGR deve ser elaborado por todos os empregadores que possuam empregados celetistas em seu quadro, com a exceção de: • Microempreendedor Individual. • Microempresas e empresas de pequeno porte. O Relatório doPGR pode ser guardado tanto em formato físico, quando em digital. O que vale salientar é que o empregador deve garantir um amplo e irrestrito acesso a esse documento aos fiscais e aos empregados. PCMAT O setor da construção civil é um dos principais ramos de atividade do país, diretamente ligado ao desenvolvimento econômico, pois promove incrementos capazes de elevar o crescimento. O desenvolvimento econômico aliado à construção civil se dá tanto pela valorização das atividades, pela elevada geração de empregos, como também pelo efeito multiplicador de renda e sua interdependência estrutural. Saiba Mais No meio digital, o governo federal disponibilizou um website onde se pode fazer o login e cadastrar a empresa, inserindo todos os dados do PGR nesse sistema, permitindo que se tenha um melhor controle sobre o programa de gerenciamento de riscos O Ambiente e as Doenças do Trabalho Programas de saúde ocupacional e da segurança do trabalho Capítulo 4 Entretanto, as condições de trabalho deste importante setor econômico, normalmente, são precárias, o desenvolvimento sociocultural dos colaboradores, geralmente, é baixo e a quantidade de riscos a que são expostos é elevadíssima. Em função disso, são inúmeros os acidentes de trabalho. Dessa forma, a NR-18 é crucial, pois define as diretrizes administrativas, de planejamento e organização, tendo por finalidade estabelecer medidas preventivas acerca das condições de trabalho na construção civil. Sua existência jurídica é assegurada, em nível de legislação ordinária, no inciso I do art. 200 da CLT, e sua última atualização pela Portaria n° 261, de 13 de abril de 2018. A necessidade de atender aos requisitos desta norma não tira a obrigação de cumprimento das demais normas regulamentadoras e outras legislações vigentes. Nenhum colaborador pode permanecer no canteiro de obras sem que estejam sendo cumpridas todas as disposições da referida norma e, antes do início da obra, é necessário que seja comunicado à DRT informações como endereço, tipo, data de início e previsão de término e a quantidade de colaboradores prevista. Segundo a referida NR, todos os estabelecimentos com, no mínimo, 20 colaboradores são obrigados a elaborar e cumprir o PCMAT, que deve ser elaborado por um profissional da segurança do trabalho. Este programa consiste em uma carta de recomendações sobre as ações necessárias para promover as condições adequadas nas obras, devendo ser vastamente estudado no decorrer da implantação. Além disso, sempre que necessário (ou for conveniente), precisa ser atualizado. Entre as possíveis atualizações, estão informações relacionadas a prazos, aparecimento de tecnologias e equipamentos mais recentes, modificações projetais ou na relação mão de obra e equipamento. Os documentos estruturantes do PCMAT são: memorial sobre as características do ambiente; projeto de implantação das medidas de proteção; prazos e datas de implantação das medidas; layout do ambiente e estimativa dos locais de vivência, e, programa de sensibilização sobre segurança do trabalho. O Ambiente e as Doenças do Trabalho Programas de saúde ocupacional e da segurança do trabalho Capítulo 4 Ademais, nesses casos, o mapa de riscos do estabelecimento deverá ser realizado por etapa de execução dos serviços, devendo ser revisto sempre que um fato novo e superveniente modificar a situação de riscos estabelecida. É necessário que este documento seja exibido a todos os colaboradores, sendo evidenciada sua seriedade e, sobretudo, sua função de definir critérios de segurança, tendo em vista que não é possível um PCMAT ser eficaz se todos não o compreenderem. Os critérios de segurança serão advertidos e colocados em destaque a partir da realização de campanhas consecutivas, durante ações da Cipa e no decorrer da implantação do PCMAT. A cada nova fase da construção, ele deve ser frisado e recordado. Outro ponto importante é que o colaborador deve receber os treinamentos pertinentes no momento de sua admissão, após receber os devidos equipamentos de proteção, para que seja alertado sobre suas atividades, tendo o atestado de saúde para garantir que tenha aptidão para determinada atividade. É de responsabilidade do contratante monitorar as atividades desse colaborador, averiguando o devido implemento, tanto dos princípios passados como da legislação em vigência, alertando-o em caso de falhas, inadimplência ou distração. Saiba Mais Quer conhecer mais um desses programas? Recomendo o acesso ao PPRA do campus Araraquara da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), disponibilizado em banco de dados on-line. O Ambiente e as Doenças do Trabalho Programas de saúde ocupacional e da segurança do trabalho Capítulo 4 Resumindo E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste Capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que entre os programas de segurança exigidos pelo Ministério do Trabalho e Emprego, a partir das NRs, encontram-se o PCMSO, o PGR e o PCMAT, sendo os dois primeiros de caráter obrigatório a todas as organizações que tenham colaboradores sob o regime da CLT, e o último específico à indústria da construção civil, que também tenha colaboradores sob o regime da CLT. O PCMSO, instituído pela NR-9, tem por objetivo evitar e identificar antecipadamente, desenvolver monitoramento e controle de possíveis agravos ao bem-estar do funcionário. Consiste em um programa que aponta mecanismos e comportamentos a serem seguidos pelas organizações em decorrência dos riscos do ambiente de trabalho. O PGR, instituído pela NR-9, tem em vista identificar as condições do ambiente de trabalho, bem como estabelecer as medidas de prevenção necessárias, sendo de responsabilidade do empregador, independentemente do número de colaboradores ou do nível de risco de suas atividades. O PCMAT, instituído pela NR-18, tem como finalidade o estabelecimento de medidas de caráter administrativo, de planejamento e organização para promover meios de segurança preventiva nos ambientes de trabalho da construção civil. O Ambiente e as Doenças do Trabalho Referências ARAÚJO, J. P. Absenteísmo e presenteísmo em uma instituição federal de ensino superior. 2012. Dissertação (Mestrado em Ciências da Saúde) – Universidade de Brasília, Brasília, 2012. BARBOSA FILHO, A. N. Segurança do trabalho & gestão ambiental. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2011. BARROS, S. S. Análise de riscos. Curitiba: IFPR, 2013. BARSANO, P. R.; BARBOSA, R. P. Segurança do trabalho: guia prático e didático. São Paulo: Saraiva, 2018. BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [1988]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/constituicao/ constituicao.htm Acesso em: 28 mar. 2022. BRASIL. Decreto n.° 3.048, de 6 de maio de 1999. Aprova o Regulamento da Previdência Social, e dá outras providências. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, p. 50, 1999. BRASIL. Decreto-Lei n.° 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova as Consolidações da Lei do Trabalho. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, p. 11937, 1943. BRASIL. ENIT – ESCOLA NACIONAL DA INSPEÇÃO DO TRABALHO.Inspeção do trabalho. SST – NR. Disponível em:https://enit.trabalho.gov. br/portal/index.php/seguranca-e-saude- no-trabalho/sst-menu/sst- normatizacao/sst-nr-portugues?view=default. Acesso em: 15/01/2020. BRASIL. Lei n.° 10.803 de 11 de dezembro de 2003. Altera o art. 149 do Decreto-Lei n.° 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, para estabelecer penas ao crime nele tipificado e indicar as hipóteses em que se configura condição análoga à de escravo. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, p. 1, 2003. O Ambiente e as Doenças do Trabalho Referências BRASIL. Lei n.° 2.848 de 7 de dezembro de 1940. Código Penal.