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Direito do consumidor Prof. Thiago Ferreira Cardoso Neves, Prof. Marcos de Souza Paula Prof. Alexandre Ferreira de Assumpção Alves Descrição O Direito do Consumidor e as relações de consumo. Propósito Compreender os institutos, conceitos e regramentos do Direito do Consumidor e sua aplicação e relevância no estudo de disciplinas e cursos variados, a fim de que todos os profissionais possam entender o enquadramento das relações de consumo também em suas atividades. Preparação Tenha em mãos, para o estudo deste tema, o Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/1990), a fim de auxiliá-lo no acompanhamento dos conteúdos dispostos. Objetivos Módulo 1 Noções gerais sobre Direito do Consumidor Compreender as relações de consumo, os sujeitos que as integram e seus princípios fundamentais. Módulo 2 Vícios e fatos dos produtos e serviços Diferenciar os vícios e fatos do produto e do serviço, bem como as responsabilidades deles advindas. Módulo 3 Relações contratuais e práticas abusivas Identificar as características básicas dos contratos de consumo e as possíveis práticas abusivas. Módulo 4 Publicidade e responsabilidade civil Identificar quais são os agentes que respondem civilmente pela publicidade enganosa ou abusiva. O Direito do Consumidor é o ramo do Direito que tem como propósito estudar e disciplinar as relações de consumo, isto é, as relações entre consumidor e fornecedor, que são submetidas ao Código de Defesa do Consumidor – Lei nº 8.078/1990. O Código de Defesa do Consumidor foi criado com o objetivo de equilibrar as relações existentes entre consumidores e fornecedores, que se caracterizam, fundamentalmente, pela existência de um desequilíbrio entre os sujeitos envolvidos. Temos, comumente, em uma relação de consumo, uma parte mais forte, que é o fornecedor, na medida em que possui o conhecimento técnico acerca da produção, da circulação e do funcionamento dos produtos e serviços comercializados, e tem maior poder econômico, com mais recursos para a defesa dos seus direitos, e mais conhecimento jurídico, pois está acostumado com as demandas judiciais. Em contrapartida, tem-se, do outro lado, a parte mais frágil que, por essa razão, precisa de mais proteção, que é a figura do consumidor. O Código de Defesa do Consumidor traz princípios e regras tendo como objetivo equilibrar essa balança, conferindo aos consumidores direitos e garantias para protegê-los de condutas abusivas que, eventualmente, possam ser praticadas por fornecedores. As ferramentas empregadas pelo Código de Defesa do Consumidor serão examinadas ao longo dos módulos, cuja compreensão exige a análise de diversos conceitos relevantes para a estrutura do Direito do Consumidor. Introdução 1 - Noções gerais sobre Direito do Consumidor Ao final deste módulo, você será capaz de compreender as relações de consumo, os sujeitos que as integram e seus princípios fundamentais. Ligando os pontos Você sabe o que é Direito do Consumidor? Conhece o Código de Defesa do Consumidor? Sabe como ele pode ser aplicado e em quais situações? O Direito do Consumidor é um ramo do Direito especializado nas relações de consumo entre um consumidor (podendo ser um grupo de indivíduos ou uma coletividade) e um fornecedor (também se admitindo uma pluralidade), cada parte num dos polos da relação jurídica. Para dar segurança à identificação da relação de consumo, existe o Código de Defesa do Consumidor. Para entender como ele se aplica, veja uma situação hipotética. Após intensa campanha realizada pela Associação Beneficente Mães de Branquinha, Deodoro adquiriu trinta camisas da associação para ajudá- la em suas obras de caridade. A associação fabricava as próprias camisas de forma artesanal (costureiras graciosamente se prontificaram a elaborar as camisas) e as vendia na loja da associação. Deodoro distribuiu as camisas entre sua família e alguns amigos, mas todos foram surpreendidos por problemas diversos, tais como: O tecido encurtou na primeira lavagem. A mulher de Deodoro passou a ter problemas de pele, tendo sido atestado que era decorrente do uso da camisa, potencializado pelo suor. Algumas camisas rasgaram porque o tecido não tinha a elasticidade necessária. Deodoro se sentiu lesado por ter adquirido as camisas que tantos problemas deram a ele e a sua família, além do custo com o tratamento dermatológico de sua esposa. Nenhuma das camisas deixou de ter algum problema de fabricação. Deodoro propôs, no juizado especial cível, uma ação de responsabilidade por vício do produto em face da vendedora e essa, em contestação, alegou que não poderia ser responsabilizada pelos danos que o adquirente teve em razão de não ser fornecedora para os fins do Código de Defesa do Consumidor. Segundo a ré, o fornecedor é um empresário que atua sempre com finalidade lucrativa e, como tal, a associação não teria essa qualidade. Também asseverou a ré que todo o valor apurado com a venda das camisas foi diretamente empregado em ações assistenciais, não havendo sequer condição de pagar qualquer ressarcimento a Deodoro. Após a leitura do case, é hora de aplicar seus conhecimentos! Vamos ligar esses pontos? Questão 1 Você leu no enunciado da situação hipotética que Deodoro adquiriu as camisas para uso próprio, de sua família e de amigos. Caso Deodoro tivesse adquirido as camisas e, ao invés de doá-las a terceiros, realizasse uma venda, sua posição perante o Código de Defesa do Consumidor seria de A consumidor, pois adquiriu as camisas, independentemente de realizar posteriormente qualquer ato que não o torne destinatário final. B consumidor, pois é uma pessoa física que realizou um negócio jurídico com uma pessoa jurídica. C fornecedor, pois não adquiriu as camisas como destinatário final, realizando outra operação em seguida, de venda das camisas a terceiros. Parabéns! A alternativa C está correta. A alternativa C identifica corretamente o fornecedor a partir do conceito de consumidor, a contrário sensu (art. 2º da Lei nº 8.078/90). Não é considerado consumidor a pessoa que adquire produto não sendo o destinatário final dele, caso das camisas que Deodoro revendeu. As demais alternativas estão erradas porque contrariam o conceito de consumidor, ampliando sua incidência aos revendedores, limitando-o a pessoas físicas, ou aplicando o conceito finalista de consumidor ao fornecedor, caso da alternativa E. Questão 2 Consta do caso hipotético que Deodoro adquiriu camisas. O Código de Defesa do Consumidor utiliza termos genéricos para designar o objeto da relação jurídica (produto e serviço), de modo que possam ser identificados, no caso concreto, quando se está diante de uma relação de consumo. Acerca do conceito legal de produto, para fins de incidência do CDC, assinale a única alternativa correta. D consumidor, pois é permitido ao adquirente de qualquer produto sua revenda, desde que seja de forma varejista, como procedeu Deodoro. E fornecedor, pois adquiriu as camisas como destinatário final, tenha ou não havido revenda. A Produto é qualquer bem que tenha passado por processo de montagem, criação ou construção. B Produto é qualquer bem, material ou imaterial, proveniente ou não de atividade inventiva e que possa ser objeto de fabricação industrial. C Produto é qualquer bem que tenha passado por processo de transformação, conversão ou adaptação. Parabéns! A alternativa D está correta. Com base no art. 3º, § 1, da Lei nº 8.078/1990. Todas as demais alternativas são falsas por estarem em desacordo com a disposição legal. Registra-se que o conceito de produto na relação consumerista independe de ter sido fabricado no Brasil, ser oriundo ou não da indústria, ter ou não natureza corpórea ou ainda ser in natura ou ter passado por algum processo de alteração de suas características originais. Questão 3 No caso proposto, você verificou que a da Associação Beneficente Mães de Branquinha alegou em sua defesa que o fornecedor,para reclamar a sua existência. D O consumidor, após o seu aparecimento, poderá exigir o reparo independentemente de prazo. E O consumidor só poderá reclamar de vícios ocultos em relação a produtos adquiridos por meios remotos. 3 - Relações contratuais e práticas abusivas Ao final deste módulo, você será capaz de identificar as características básicas dos contratos de consumo e as possíveis práticas abusivas. Ligando os pontos Você sabe o que é uma prática abusiva? E boa fé? Como saber se um contrato apresenta cláusulas que protegem o fornecedor ou o consumidor? O Código de Defesa do Consumidor tutela de modo bem detalhado a relação contratual de consumo, partindo do pressuposto que o consumidor é a parte mais fraca ou vulnerável na relação jurídica, sob os aspectos econômico, técnico e jurídico. O princípio da vulnerabilidade do consumidor (art. 4º, I, do CPC) é um norte tanto na formulação da política nacional de relações de consumo quanto paradigma na formulação e interpretação das normas consumeristas. No campo da proteção contratual, o CDC não se limita a proteger o consumidor apenas no momento da contratação e enquanto o contrato estiver vigente. A tutela começa desde a fase pré-contratual, exigindo do fornecedor que observe parâmetros legais para a formulação da oferta (informações corretas, claras, precisas, ostensivas, entre outras exigências) e que ela integra o contrato que vier a ser firmado (boa-fé objetiva). Também garante o CDC o direito de o consumidor pleitear a devolução de eventual sinal que tiver sido pago se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento à oferta, apresentação ou publicidade. Ainda na fase pré-contratual, o CDC dispõe sobre a publicidade na oferta de produtos e serviços, coibindo a publicidade enganosa ou abusiva e invertendo, em favor do consumidor, o ônus da prova da veracidade e correção da informação ou comunicação publicitária ao patrocinador. Vamos ver como isso se aplica a um caso hipotético? Assis Valinhos, professor universitário, recebeu através de mensagens de correio eletrônico a oferta da Editora Mesópolis Ltda. de aquisição de uma coleção com 12 (doze) volumes pelo custo total de R$ 3.000,00 (três mil reais), dividido em 6 (seis) parcelas de R$ 500,00 (quinhentos reais), cada. Mesmo não tendo enviado qualquer resposta à oferta da Editora Mesópolis Ltda. ou feito qualquer contato por outro canal, Assis Valinhos recebeu em sua residência 2 (dois) volumes da coleção e, ato contínuo, um boleto de cobrança da primeira das seis parcelas do valor da coleção completa. Também para sua surpresa, Assis Valinhos percebeu que no boleto de cobrança foi incluído no valor total da primeira parcela, a adesão a um clube de descontos, informação que sequer fazia parte do instrumento de oferta e sobre a qual ele não foi consultado. Junto com o boleto, Assis Valinhos recebeu uma descrição do clube, valor da adesão em parcela única, e do desconto promocional, relação de afiliados e outras vantagens, segundo a fornecedora dos livros. Assis Valinhos decidiu não pagar o boleto de cobrança em razão das circunstâncias em que recebeu os livros da coleção, isto é, sem solicitação prévia; também ignorou a oferta quanto à adesão ao clube de descontos. Após a leitura do case, é hora de aplicar seus conhecimentos! Vamos ligar esses pontos? Questão 1 Você leu no enunciado da situação hipotética que Assis Valinhos decidiu não pagar o boleto de cobrança em razão das circunstâncias em que recebeu o produto, isto é, sem solicitação prévia. Na hipótese de Assis Valinhos ter pagado o boleto de cobrança, mas a fornecedora não lhe ter enviado os volumes restantes ou ter interrompido o envio antes da remessa do último volume, assinale a única alternativa correta que indica a(s) conduta(s) que o CDC dá ao consumidor neste caso. A Assis Valinhos deverá exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta. B Assis Valinhos poderá exigir a remessa dos livros restantes, nos termos da oferta, aceitar outro produto ou rescindir o contrato. C Assis Valinhos poderá exigir a remessa dos livros restantes ou rescindir o contrato. D Assis Valinhos deverá interpelar a fornecedora para que esta se manifeste, quanto ao envio dos demais livros ou quanto a rescisão do contrato, à sua escolha. E Assis Valinhos deverá rescindir o contrato com direito à restituição de quantia paga, Parabéns! A alternativa B está correta. A alternativa B contém as opções que o consumidor tem em caso de o fornecedor de produtos se recusar a dar cumprimento à oferta, nos termos do art. 35 da Lei nº 8.078/90. As demais alternativas são falsas porque não contemplam todas as opções que o consumidor possui ou contêm texto contrário ao dispositivo legal citado. Questão 2 O texto informa que Assis Valinhos recebeu um boleto de cobrança no qual foi incluído, ao valor da primeira parcela, a cobrança, em parcela única, da adesão a um clube de descontos, informação que sequer fazia parte do instrumento de oferta. Com base nesta constatação e nas disposições do CDC, assinale a única alternativa correta. monetariamente atualizada, e recebimento de perdas e danos. A A conduta da fornecedora é abusiva, pois condicionou o fornecimento de outro produto – a adesão ao clube de descontos – à venda da coleção de livros, sem que Assis Valinhos tivesse a opção de decidir sobre um ou outro. B A conduta da fornecedora não é abusiva, pois a prática mercadológica autoriza que os fornecedores adotem estratégias de marketing para conquistar seus clientes, dentro dos parâmetros de livre concorrência. C A conduta da fornecedora é abusiva, pois a fornecedora deveria enviar o boleto de cobrança com o valor parcelado da adesão ao clube de descontos, e não em parcela única. D A conduta da fornecedora não é abusiva, pois a adesão ao clube trará benefícios ao consumidor Parabéns! A alternativa A está correta. Com base no art. 39, caput, I, da Lei nº 8.078/1990. A conduta da fornecedora é abusiva porque condicionou o fornecimento de produto (coleção de livros) ao fornecimento de outro produto (adesão ao clube de descontos), sem que Assis Valinhos tenha solicitado o primeiro produto e sido informado no instrumento da oferta sobre o segundo produto ou tivesse se manifestado quanto ao desejo de recebê-lo. As demais alternativas são falsas por estarem em desacordo com o dispositivo do CDC citado. Questão 3 No caso proposto, você verificou que Assis Valinhos recebeu dois volumes da coleção sem ter solicitado e, ato contínuo, um boleto de cobrança de uma das seis parcelas do valor da coleção completa. Tendo em vista as disposições do Código de Defesa do Consumidor, você considera que a conduta da fornecedora foi correta, considerando as práticas comerciais entre fornecedores e consumidores? Assis Valinho deve pagar o boleto de cobrança, considerando que ele recebeu uma parte do produto? Você deverá fundamentar suas respostas. Digite sua resposta aqui Chave de resposta Espera-se que você explique que o envio ao consumidor, sem solicitação prévia, de qualquer produto – no caso, dois volumes da pelas vantagens que auferirá junto aos fornecedores afiliados a ele. E A conduta da fornecedora é abusiva, pois ela deveria ter enviado a adesão ao clube de descontos sem qualquer cobrança adicional, incluindo seu custo no valor da parcela da coleção de livros. coleção – é uma prática comercial expressamente vedada ao fornecedor, como estabelece o caput do art. 39, III, da Lei nº 8.078/1990. Logo, a conduta da fornecedora foi ilícita e ela realizou uma prática abusiva no mercado de consumo. Por se tratar de um envio não autorizado, Assis Valinhos não está obrigado a pagar nenhuma quantia, mesmo que tenha recebido parte do produto. O CDC, em seu art. 39, parágrafo único, considera que, nesse caso, o produto remetido ao consumidor equipara-se à amostra grátis, inexistindo qualquer obrigação de pagamentodo boleto de cobrança. Contratos Relações contratuais e práticas comerciais dos fornecedores Os contratos são a principal fonte da qual nascem as relações de consumo. Isso significa que as relações de consumo surgem, na maioria dos casos, de contratos que são celebrados entre consumidor e fornecedor. Excepciona-se essa regra nos casos de consumidor por equiparação ou bystander, em que a relação surge de um evento causador de danos, que atinge diversas pessoas, inclusive aquelas que, no momento do fato, não tinham um contrato com o fornecedor. Mas, à exceção dessas hipóteses, a relação consumidor-fornecedor é eminentemente contratual. Ocorre, contudo, que a celebração de um contrato de consumo reclama certas cautelas, especialmente para o fornecedor, tendo em vista a vulnerabilidade do consumidor. Tem-se, nas relações contratuais de consumo, uma menor liberdade das partes, pois o CDC impõe limitações visando proteger aquele que é mais fraco. Assim, ao anunciar produtos e serviços e, portanto, fazer sua oferta para contratação, exige-se do fornecedor inúmeros requisitos, tanto de caráter positivo, quanto negativo, veja:  Requisitos de caráter positivo  Requisitos de caráter negativo Os requisitos de caráter positivo dizem respeito a requisitos e elementos que devem conter em uma oferta ou contrato. São aqueles que não podem ser empregados pelo fornecedor, sob pena de invalidade ou até mesmo de responsabilização por danos que vier a causar. Assim, e durante este conteúdo, imprescindível se faz a análise da oferta, da publicidade, das práticas comerciais abusivas e dos contratos em si, dando ênfase às chamadas cláusulas abusivas e aos contratos de adesão. Oferta Ofertar é oferecer; oferecer para contratar. Consiste a oferta no primeiro passo para a contratação, pois é por meio dela que uma pessoa leva ao conhecimento de outra a intenção de celebrar um contrato. Por meio da oferta, então, faz-se uma proposta de contratar, proposta essa que, no âmbito de uma relação de consumo, é comumente pública e dirigida a um número indeterminado de pessoas. Mas, como é voltada a indivíduos vulneráveis, a oferta de consumo deve cumprir certas condições.  Assim, prevê o art. 31, do CDC, que a oferta deve ser clara, precisa, ostensiva e em língua portuguesa, informando as características, as qualidades, a quantidade, a composição, o preço, a garantia, os prazos de validade e a origem, entre outros dados do produto ou serviço, bem como esclarecendo sobre eventuais riscos que apresentem à saúde e à segurança dos consumidores. Além disso, preenchendo os requisitos mínimos de uma proposta, a oferta vincula o fornecedor, que fica obrigado a cumpri-la. Segundo o art. 30, do CDC, a proposta ou publicidade suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação que evidencie tratar-se de uma oferta de contratar, obriga o fornecedor nas condições ofertadas. Com efeito, se a oferta consistir em uma proposta inequívoca, transmitindo ao destinatário não apenas a intenção de contratar, mas as condições do negócio, como o objeto, o preço e o prazo para pagamento, obrigará o fornecedor a contratar nos termos divulgados. Caso o fornecedor se recuse a cumpri-la, poderá o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha, o cumprimento forçado da oferta feita; aceitar outro produto ou serviço equivalente; ou rescindir o contrato, caso ele tenha sido celebrado em desconformidade com a publicidade, com direito à restituição de eventuais valores pagos, corrigidos monetariamente, sem prejuízo do direito à indenização por eventuais danos e prejuízos sofridos. Por fim, ainda no tocante à oferta, os fabricantes e importadores devem assegurar a oferta de peças e componentes de reposição enquanto permanecer a fabricação ou importação de determinado bem e, após o fim desta, também assegurar a existência e disponibilidade da coisa por um período razoável de tempo, assegurando que os consumidores tenham direito a reparos e trocas. Publicidade A publicidade é a ferramenta de anúncio e divulgação de produtos e serviços. Feita com o objetivo de estimular o consumo, a publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor possa identificar que está sendo submetido a ela, a fim de que não seja induzido subliminarmente à aquisição de bens. Tem o Código de Defesa do Consumidor, então, uma destacada preocupação com a publicidade. Isso porque nos tempos atuais, com a profusão dos meios de comunicação, a publicidade é uma importante ferramenta de convencimento e de indução do consumidor a adquirir produtos e serviços. Nessa esteira, o CDC prevê expressamente, em seu art. 37, que é proibida toda a publicidade enganosa ou abusiva. Publicidade enganosa, como já tivemos a oportunidade de observar anteriormente neste conteúdo, ao tratarmos do direito básico do consumidor à proteção contra propagandas enganosas ou abusivas, é aquela que induz o consumidor a erro, fazendo-o adquirir um produto que não quer, não precisa ou que não atende às finalidades anunciadas. Relembrando Quanto à publicidade abusiva, também explicada anteriormente, é aquela discriminatória, que aproveita a fragilidade e a deficiência do consumidor, ou que o exponha a um risco para a sua vida, saúde ou segurança. Pelo direito de arrependimento, o consumidor que adquire um produto ou serviço a distância tem o direito de, até sete dias após o recebimento da coisa, se arrepender e devolvê-la, mediante a restituição de eventuais valores pagos. Trata-se, pois, de um eficaz instrumento de proteção contra a publicidade enganosa ou abusiva porque o consumidor, submetido a essa forma de propaganda, pode ser induzido a comprar um produto ou serviço que não quer ou que não precisa, de modo que lhe deve ser assegurado o direito de devolver o bem após recebê-lo e ter contato físico com ele, pois é só nesse momento que o consumidor tem a exata ciência e dimensão do que adquiriu. Práticas abusivas Seguindo o regramento das práticas comerciais dos fornecedores, em que o Código de Defesa do Consumidor estabeleceu os requisitos e as condições para a oferta e a forma como deve ser feita a publicidade, o legislador também trouxe um extenso rol de condutas que não podem ser praticadas, pois se caracterizam como abusivas. O referido rol, previsto no art. 39, do CDC, é meramente exemplificativo, de maneira que, além das condutas previstas na lei, outras poderão se caracterizar como abusivas, desde que violem os princípios das relações de consumo, os direitos básicos do consumidor ou às demais disposições da lei de consumo que regulam as práticas comerciais. Em verdade, o legislador se preocupou em destacar as mais comuns. Dentre elas, contudo, há as que são praticadas de maneira mais reiterada, razão pela qual merecem observação em destaque, o que faremos nos itens a seguir. Práticas e cláusulas abusivas nas relações de consumo No vídeo a seguir o professor traz um olhar especial acercas das abusivas práticas no que se refere às relações de consumo. Conceito de venda casada Prática comum entre os fornecedores de produtos e serviços é a venda casada, que significa condicionar a venda de um produto ou serviço à compra conjunta de outro produto ou serviço.  A contratação de conta corrente bancária em que o banco embute um seguro é um exemplo da prática. Ou mesmo um cheque especial, que é um contrato separado. Situação idêntica ocorre com os cartões de crédito, que igualmente costumam inserir um seguro contra roubo ou furto do cartão. Outro exemplo comum é das compras de eletrônicos em que o comerciante obriga a contratação da garantia estendida. Enviar ou entregar produto ou serviço sem solicitação do consumidor Corriqueira é a prática de enviar para o consumidor produtos ou serviços que não foram solicitados. É o caso de editoras de jornais e revistas que enviam para degustação alguns exemplares para o consumidor, o que também ocorre,com certa frequência, em aeroportos, nos quais existem stands de venda desses produtos em que os funcionários verdadeiramente atacam o consumidor. Após a entrega do produto, o fornecedor-vendedor pede dados pessoais, até mesmo de cartão de crédito, do consumidor, sob o argumento de que é um mero cadastro, ou que pode ocorrer o cancelamento a qualquer tempo, o que se sabe, pela prática do dia a dia, que é uma afirmação inverídica, dada a enorme dificuldade de posterior rescisão do contrato. Ainda sobre essa prática, não se pode deixar de lembrar dos cartões de crédito que são enviados sem solicitação, conduta essa que, inclusive, já foi reconhecida na jurisprudência dos tribunais como abusiva, sujeitando a administradora do cartão de crédito ao dever de indenizar por danos morais, como se vê, por exemplo, da súmula 532 do Superior Tribunal de Justiça. Atenção! Nesses casos, conforme disposição do próprio Código de Defesa do Consumidor, qualquer produto enviado sem solicitação é considerado amostra grátis, e não pode ser cobrado do consumidor. Orçamento prévio Executar serviço sem a apresentação prévia de um orçamento Também comum é a prática de alguns fornecedores de não apresentarem, previamente, à elaboração do serviço, um orçamento para que o consumidor possa avaliá-lo e aprová-lo ou não. Veja-se que não se trata apenas de um direito do consumidor, de exigir o orçamento prévio, mas um dever do fornecedor de apresentá-lo, e se não o fizer, não poderá exigir do consumidor o pagamento daquilo que ele não aprovar. Atenção! Há que se observar que, pelo princípio da boa-fé, examinado anteriormente neste conteúdo, o consumidor não pode, maliciosamente, se aproveitar do fato de que não houve apresentação do orçamento prévio para se recusar a pagar e, assim, se beneficiar do serviço prestado. No entanto, a ausência de orçamento prévio permitirá ao consumidor recusar o pagamento do preço dado, caso, por exemplo, seja superior à média do mercado, obrigando o fornecedor a revisar o valor, bem como não poderá ser obrigado a pagar por serviços que não tenham direta relação com aquilo que pretendia. Por exemplo, o consumidor que, levando o seu carro para uma troca de óleo do motor, é surpreendido com um preço exorbitante, além da cobrança de outros serviços não informados previamente. Evidentemente não poderá ele ser obrigado a pagar pelo valor, que deverá ser revisto. Todas essas práticas descritas nos itens anteriores são abusivas e inválidas, e sujeitam os fornecedores a sanções e responsabilidades pelos danos que vierem a causar. Contratos de adesão A prática comercial no mercado de consumo exige rapidez e eficiência. Na maioria dos casos, os produtos e serviços são oferecidos em massa, atingindo um enorme número de consumidores. Veja-se, a propósito, o caso da prestação de serviços de fornecimento de energia elétrica, gás, água e esgoto, ou mesmo serviços de telefonia móvel e fixa. São milhões de consumidores que celebram diariamente esses contratos. Por essa razão, é difícil, ou até mesmo impossível, para o fornecedor elaborar, para cada consumidor, um contrato individualizado. Os fornecedores, então, criam um contrato-padrão, uma única minuta aplicável a todas as pessoas que desejam contratar, conferindo mais rapidez e simplicidade ao processo de contratação. Esses contratos nada mais são do que contratos de adesão, que assim são chamados porque os consumidores simplesmente aderem às cláusulas desses contratos. Os contratos de adesão se caracterizam pela sua imutabilidade ou pela dificuldade de alterar as cláusulas. São contratos em que não se dá à parte o direito de discutir suas cláusulas, ou se dá apenas o direito de discutir algumas delas. Isso, contudo, não os tornam inválidos, desde que observem as exigências da lei. Assim, deve o fornecedor dar ao consumidor a oportunidade de tomar conhecimento prévio do conteúdo do contrato, disponibilizando, antes da sua assinatura, a minuta para que o consumidor possa avaliá-la e decidir se deseja, ou não, contratar. A não entrega prévia ao consumidor faz com que não se possa exigir dele, posteriormente, o cumprimento do contrato. Trata-se, inequivocamente, de uma decorrência dos princípios da boa-fé, da informação e da transparência. Além disso, deverão os contratos serem escritos em termos claros, para que o consumidor, leigo, possa ter a exata compreensão dos seus direitos e das suas obrigações. Também deverão ser escritos com caracteres ostensivos e legíveis, com fonte não inferior ao tamanho doze, para facilitar sua leitura. Disso se percebe que as malfadadas “letras miúdas” não são válidas e, uma vez presentes, não podem obrigar o consumidor ao seu cumprimento. Há que se observar, ainda, que toda e qualquer cláusula que importe em limitação ou restrição a algum direito do consumidor deve ter destaque em relação às demais, devendo, preferencialmente, ser redigida em fonte maior, negritada e sublinhada. Por fim, no caso de existir dúvida sobre o entendimento de alguma cláusula, esta deverá sempre ser interpretada da maneira mais favorável ao consumidor, e nunca em seu prejuízo. Cláusulas abusivas Questão extremamente sensível no âmbito dos contratos de consumo diz respeito à abusividade das cláusulas. Como observamos ao longo dos módulos, o Código de Defesa do Consumidor tem como propósito equilibrar a balança da relação de consumo, protegendo o consumidor, que é a parte mais fraca dessa relação. Com esse propósito, o legislador não conferiu uma ampla liberdade para as partes contratantes estabelecerem o que quiserem, e da forma que bem entenderem, as cláusulas contratuais. Há requisitos e limites que devem ser observados, especialmente pelo fornecedor, sob pena de se ter reconhecida a invalidade da cláusula, ou até mesmo do contrato, sem prejuízo da existência de um dever de indenizar no caso de eventual dano causado ao consumidor. Além disso, o próprio Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 51, prevê exemplos de cláusulas que, por si só, são consideradas abusivas e, portanto, nulas de pleno direito, não sendo exigíveis o seu cumprimento pelo consumidor, podendo o juiz reconhecer essa invalidade de ofício, isto é, sem a necessidade de o consumidor a alegar. Em relação a essas cláusulas, merecem destaque aquelas que estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade. O equilíbrio das relações de consumo foi uma preocupação constante do legislador quando da edição do Código de Defesa do Consumidor. Por isso, previu-se expressamente que qualquer cláusula que imponha um desequilíbrio nas relações entre consumidor e fornecedor, conferindo a este uma vantagem exagerada, é abusiva e, portanto, nula. O que se pode perceber é que não está proibida a obtenção de vantagem pelo fornecedor. E nem poderia. A comercialização de produtos e prestação de serviços é uma atividade econômica e, como tal, exercida com o propósito evidentemente lucrativo. O que está vedado, então, é o lucro exagerado em detrimento do consumidor, a existência de prestações claramente desequilibradas, violando, assim, a boa-fé e a equidade, que nada mais são do que a justiça da relação. Essa hipótese prevista na lei é a mais corriqueira, e leva a inúmeras discussões perante o Judiciário. É preciso destacar, ainda uma vez, que as cláusulas mencionadas no art. 51, do Código de Defesa do Consumidor, são apenas exemplificativas, assim, é possível que se reconheça a abusividade de outras cláusulas não previstas na lei, e que violem os direitos e as garantias assegurados aos consumidores no CDC ou em outras leis. Por fim, é preciso observar que a nulidade de uma cláusula abusiva não leva, necessariamente, à invalidação do contrato. Como regra, reconhecida a invalidade da cláusula, tem-se a sua exclusão do contrato, mantendo-se incólumes as demais cláusulasexistentes. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 José recebeu em sua casa, sem solicitar, um cartão de crédito. Um mês após desbloqueá-lo, recebeu uma fatura cobrando anuidade. Sobre a cobrança, responda: Parabéns! A alternativa A está correta. O envio de produto sem solicitação consiste em prática abusiva, devendo ser considerado como uma amostra grátis. Nesse sentido, a cobrança da anuidade pelo serviço é inválida, sendo, contudo, válidas as eventuais cobranças por despesas contraídas com o uso do cartão, sob pena de haver enriquecimento sem causa do consumidor. Questão 2 Lojas Brasil anunciou, pela internet, a venda de um celular de última geração pelo valor de R$500,00 (quinhentos reais). Após concluir a compra, o consumidor recebeu mensagem de que não seria enviado o produto porque o seu preço era, na verdade, de R$1.000,00 (mil reais), havendo um erro na publicidade. De acordo com o CDC, é legítima a justificativa do fornecedor? A Ela é inválida, pois se trata de uma prática abusiva. B Ela é válida, porque José não exerceu o direito de arrependimento em 7 dias. C O envio do cartão é indevido, mas ao desbloqueá-lo é válida a cobrança. D O envio do cartão é válido. E Ela é válida, porque o cartão veio bloqueado. A Sim, pois ele não está obrigado a cumprir com a oferta veiculada na internet. B Sim, porque o consumidor, pela boa-fé, tinha a obrigação de comparar o preço em outros sites e perceber que houve um erro na oferta. Parabéns! A alternativa C está correta. A oferta, suficientemente precisa, obriga o fornecedor. Além disso, o preço cobrado não era irrisório, sendo crível que o consumidor acreditasse que se tratava de uma promoção, razão pela qual não se pode falar em má-fé. 4 - Publicidade e responsabilidade civil Ao final deste módulo, você será capaz de identificar quais são os agentes que respondem civilmente pela publicidade enganosa ou abusiva. Ligando os pontos C Não, porque a oferta, suficientemente precisa, obriga o fornecedor. D Não, porque a hipótese é de vício do serviço e o fornecedor responde por ele. E Sim, porque o consumidor foi imediatamente notificado. Você sabe o que é uma propaganda abusiva? Consegue diferenciar a propaganda abusiva da propaganda enganosa? Para entendermos esses conceitos na prática, vamos analisar o caso Yakult. No início da década de 1990, a Yakult S.A. divulgou um anúncio sobre seu produto, com o slogan “bom para a boquinha, bom para a barriguinha”, além da mensagem “todo dia é bom”. O Estado de São Paulo ajuizou ação civil pública em face da Yakult S.A., alegando a ocorrência de publicidade enganosa e abusiva. O Estado pediu, em sede liminar, (i) a retirada imediata do anúncio; (ii) a elaboração de contrapropaganda com a tarja “condenação judicial” em todos os meios de comunicação utilizados para a publicidade original, pelo mesmo prazo de duração, alertando o público de que não se deveria ingerir “Yakult” em dosagem desaconselhável (mais de um frasco por dia) e frisando que o produto não tem propriedade terapêutica ou medicinal e (iii) multa pecuniária por dia de atraso, tanto em relação ao cumprimento da ordem de retirada da propaganda como em relação à eventual demora na feitura da contrapropaganda. No curso do processo, o PROCON realizou estudo técnico da bebida anunciada, concluindo que esta não tinha efeito terapêutico e que, na verdade, o consumo de mais de um frasco por dia podia causar problemas intestinais. Além disso, o PROCON recebeu reclamação de um consumidor alegando que, por conta da publicidade, sua filha menor ingeriu quantidades maiores do que o recomendável e acabou hospitalizada. A Yakult S.A. e o Estado de São Paulo chegaram a um acordo, homologado em juízo, pelo qual a primeira se comprometeu a veicular nova mensagem publicitária, retirando qualquer ideia de que o “Yakult” fosse remédio ou tivesse qualquer propriedade terapêutica e esclarecendo que se tratava de simples alimento. A empresa também se comprometeu a retirar das mensagens publicitárias a expressão “é bom para a barriguinha”, bem como qualquer ideia de dosagem. Após a leitura do case, é hora de aplicar seus conhecimentos! Vamos ligar esses pontos? Questão 1 O Código de Defesa do Consumidor proíbe a veiculação de publicidade abusiva. Com base no art. 37, §2º do CDC, qual das alternativas abaixo daria sustento à tese de que o anúncio do “Yakult” era abusivo? Parabéns! A alternativa D está correta. Dentre os exemplos de propaganda abusiva que o próprio Código de Defesa do Consumidor estabelece, o que mais se aproxima do caso em tela é a exploração do público infantil, tendo em vista que a publicidade e o produto eram direcionados às crianças. Questão 2 Imagine que o consumidor cuja filha ficou hospitalizada em função do consumo exagerado decidisse propor uma ação individual, pedindo indenização por danos morais em razão da propaganda. Quem poderia ser responsabilizado civilmente nessa hipótese? A Natureza discriminatória. B Incitação à violência. C Exploração do medo ou da superstição. D Exploração da deficiência de julgamento e experiência da criança. E Desrespeito a valores ambientais. A Yakult S.A. apenas. B Agência de publicidade apenas. C Diretor da Yakult S.A. apenas. Parabéns! A alternativa E está correta. O Código de Defesa do Consumidor prevê a responsabilidade solidária de todos aqueles que causem dano ao consumidor (art. 7º, parágrafo único e 25, §1º do CDC). Além disso, segundo o Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária, o anunciante e a agência são solidariamente responsáveis por eventual infração que o anúncio venha a gerar. Questão 3 Como advogado, você foi consultado a explicar porque, além de abusiva, a propaganda tinha sido considerada enganosa pelo autor da ação civil pública. O que você responderia? Digite sua resposta aqui Chave de resposta Nesse caso, a propaganda é enganosa por induzir o consumidor a erro. O anúncio sugeria que o produto tinha propriedades terapêuticas ou que poderia ser ingerido com maior frequência. Portanto, o anúncio também se enquadra como propaganda enganosa, nos termos art. 37, §1º do CDC. D Yakult S.A. diretamente, e a agência de publicidade, subsidiariamente. E Yakult S.A. e a agência de publicidade, solidariamente. Publicidade enganosa versus publicidade abusiva Uma diferença importante entre a relação de consumo e a relação paritária está na formação do contrato. No Código Civil, a oferta de determinada coisa ou serviço pode ou não vincular o ofertante, a depender dos termos em que é elaborada (art. 429). Por exemplo, o anúncio de um carro usado com a ressalva de que a oferta poderá ser retirada posteriormente, sem obrigar o anunciante. No Código de Defesa do Consumidor, toda publicidade ou informação sobre determinado produto ou serviço vincula o fornecedor, bastando que o consumidor aceite os termos da proposta elaborada (art. 30). Além disso, a lei consumerista diferencia publicidade enganosa de publicidade abusiva, que são duas espécies de publicidade ilícita. Vejamos: Publicidade enganosa (art. 37, §1º do CDC) A publicidade enganosa é aquela que induz o consumidor a erro, ou seja, a uma falsa percepção das características do produto ou do serviço. Também se admite a publicidade enganosa por omissão, que induz ao erro por ausência de determinada informação. Publicidade abusiva (art. 37, §2º do CDC) A publicidade abusiva é aquela que, independentemente de ser verdadeira ou não, contraria princípios ou valores da ordem jurídica. O próprio CDC traz como exemplos a propaganda discriminatória, a que incita a violência ou a que explora a inexperiência do público infantil. Importante ressaltar que, na publicidade enganosa, não é necessário que o consumidor prove que foi efetivamente enganado ou prejudicado, bastando que exista o perigo de indução ao erro. Sendo assim, cabeao  fornecedor o ônus de provar a veracidade das informações veiculadas na publicidade (art. 38). Responsabilidade civil dos agentes da publicidade Responsabilidade Civil dos agentes de publicidade Veja a seguir a responsabilidade civil dos agentes de publicidade. O Código de Defesa do Consumidor prevê sanções de natureza penal, administrativa e civil contra o fornecedor que se utiliza de propaganda abusiva ou enganosa. A lei prevê como tipo penal a conduta de fazer ou promover a publicidade enganosa ou abusiva, desde que o agente saiba ou deva saber do caráter ilícito da campanha (art. 67). Como medida administrativa, temos a contrapropaganda, que é a imposição de promover nova publicidade, esclarecendo o consumidor de que a anterior era enganosa ou abusiva. A contrapropaganda serve para preservar o direito do consumidor à informação e evitar o surgimento de danos a partir da publicidade. No âmbito civil, incidem as normas de responsabilidade objetiva do fornecedor, isto é, independentemente da prova da culpa. A lei prevê a solidariedade entre o anunciante, dono do produto ou serviço, e a agência publicitária, que elabora a mensagem que chega até o público (art. 7º, parágrafo único). Em alguns casos, a jurisprudência também admite a responsabilidade do veículo de comunicação (TV, rádio, site  etc.), normalmente quando este tem condições de conhecer o caráter enganoso ou abusivo da publicidade. CONAR Nos anos 1970, o setor brasileiro de publicidade manifestava preocupação com o tema da censura dos meios de comunicação. Assim, os profissionais do ramo se organizaram para promover a autorregulamentação do setor, garantindo a liberdade de expressão no meio publicitário. Surgiu assim o Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária (1978), que é um contrato firmado entre associações publicitárias que se obrigam a seguir os princípios éticos ali previstos. Lista de matérias censuradas na edição 106 do jornal Movimento, no ano de 1977. Esse Código de Autorregulamentação também prevê que o anunciante e a agência publicitária são responsáveis pela infração que o anúncio venha a gerar. Também o veículo de comunicação é responsável sempre que a exibição do anúncio contrariar normas regulamentadoras do setor e demais normas jurídicas aplicáveis. Para evitar a responsabilidade, o veículo deve adotar mecanismos de controle na recepção de anúncios (art. 45). Dois anos após o surgimento do Código de Autorregulamentação, foi criado o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (CONAR), constituído por profissionais da publicidade e de outras áreas. Logomarca do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária. O CONAR é uma organização não governamental sem fins lucrativos, que tem o objetivo declarado de promover a liberdade de expressão publicitária. Além disso, o CONAR recebe denúncias contra a publicidade irregular, feitas por consumidores, autoridades e associados. Após análise, verificada a irregularidade, o Conselho pode recomendar a alteração ou a suspensão da campanha publicitária. Embora não tenham natureza jurisdicional, as decisões do Conselho normalmente são respeitadas pelos agentes publicitários. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Entre os princípios da publicidade comercial previstos no Código de Defesa do Consumidor, estão o princípio da veracidade e o da não abusividade. Decorre destes princípios a proibição da publicidade enganosa e da publicidade abusiva. Assinale a opção que diferencia corretamente estas noções: A A publicidade enganosa é lícita desde que o fornecedor demonstre a ausência de prejuízo ao consumidor, enquanto a publicidade abusiva é ilícita independentemente de dano. Parabéns! A alternativa C está correta. O Código de Defesa do Consumidor proíbe tanto a publicidade enganosa quanto a publicidade abusiva. A diferença entre elas é que a publicidade enganosa induz o consumidor a erro quanto ao produto ou serviço (CDC, art. 37, §1º), ao passo que a publicidade abusiva, embora não induza a erro, atinge valores e princípios da ordem jurídica (CDC, art. 37, §2º). Questão 2 Acerca do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (CONAR), assinale a alternativa correta: B A publicidade abusiva é lícita desde que o fornecedor demonstre a ausência de prejuízo ao consumidor, enquanto a publicidade enganosa é ilícita independentemente de dano. C A publicidade enganosa induz o consumidor a erro quanto ao produto ou serviço, enquanto a publicidade abusiva viola princípios ou valores da ordem jurídica. D A publicidade enganosa é aquela discriminatória de qualquer natureza, enquanto a publicidade abusiva é aquela que incita o consumidor à violência. E A publicidade enganosa é proibida apenas no âmbito do Código Civil, enquanto a publicidade abusiva é proibida tanto no Código Civil como no Código de Defesa do Consumidor. A O CONAR é uma pessoa jurídica de direito público vinculada ao Ministério da Cultura e tem como objetivo promover a liberdade de expressão publicitária. Parabéns! A alternativa D está correta. O CONAR é pessoa jurídica de direito privado, isto é, não governamental. Dentre seus objetivos está o de defender a liberdade de expressão publicitária. O CONAR recebe eventuais denúncias de consumidores, de consumidores, autoridades ou associados, podendo recomendar a alteração ou a suspensão do anúncio irregular. Integram o Conselho não apenas publicitários, mas também profissionais de outras categorias. Considerações finais As relações de consumo têm uma grande densidade social. Todos somos consumidores, e diariamente celebramos ou executamos um contrato de consumo. Desde o acordar, quando abrimos a torneira da pia ou acendemos a luz do quarto (tem-se a execução de um contrato B O CONAR é uma autarquia vinculada ao Ministério das Comunicações e tem como objetivo promover a liberdade de expressão publicitária. C O CONAR é uma organização internacional que tem como objetivo atender denúncias de consumidores, autoridades ou associados, recomendando a alteração ou a suspensão do anúncio irregular. D O CONAR é uma organização não-governamental que busca promover a liberdade de expressão no meio publicitário, recebendo eventuais denúncias contra a publicidade irregular. E O CONAR é uma organização não governamental à qual só podem se associar profissionais formados em Publicidade. de prestação de serviço de fornecimento de água e luz), até o dormir, ou no período entre sair de casa e chegar do estudo ou do trabalho, durante todo o dia celebramos um contrato de consumo. Por essa razão, faz-se importantíssimo compreender o regime legal que rege essas relações, conhecendo-se os direitos e deveres que temos, a fim de que possamos nos conduzir, no dia a dia, da melhor forma possível. Assim, importante destacar que consumidor é todo aquele que adquire, para uso próprio e de sua família, bens (produtos e serviços) comercializados por fornecedores. Dada a sua condição de vulnerabilidade, o consumidor goza de proteção quanto aos defeitos porventura existentes, venham eles, ou não, a causar danos. Pela mesma razão, deve o consumidor ser protegido de práticas comerciais abusivas e, tendo-se em mente que as relações consumeristas são notadamente contratuais, também de cláusulas inseridas nos contratos que se caracterizem pela abusividade, devendo- se, neste último caso, dar-se especial atenção aos contratos de adesão, que não são passíveis de modificação pelo consumidor. Além disso, tivemos oportunidade de ver que o fornecedor de produtos e serviços está vinculado a toda oferta efetuada no mercado. Nesse sentido, surge a responsabilidade pela publicidade enganosa e abusiva, espécies diferentes de publicidade ilícita. Em paralelo à disciplina do CDC, o CONAR atua como órgão de verificação e controle de publicidades ilícitas, sempre com atenção à liberdade deexpressão e aos interesses do consumidor. Podcast Para encerrar, ouça um resumo dos principais tópicos abordados neste conteúdo.  Explore + Confira agora o que separamos especialmente para você! Confira o artigo O comércio eletrônico e o direito do consumidor, na edição 64 da Revista EMERJ online. Para aprofundar seus conhecimentos sobre a prescrição e decadência no direito do consumidor, vale a leitura do texto: Prescrição e decadência no direito do consumidor: o fim da polêmica, disponível na edição 69 da Revista EMERJ online. Visite o site do CONAR e veja os principais casos de publicidade irregular analisados desde a formação do Conselho. Referências CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2014. CÓDIGO BRASILEIRO DE AUTO-REGULAMENTAÇÃO PUBLICITÁRIA e SEUS ANEXOS - CONAR. São Paulo, 1978. Consultado na internet em: 4 abr. 2022. FRANÇA, M. A. de C. Publicidade abusiva e enganosa. Acordo judicial. Veiculação de publicidade corretiva. Revista de Direito do Consumidor, vol. 4. São Paulo, out-dez./1992. GRINOVER, A. P. et al. Código brasileiro de defesa do consumidor comentado pelos autores do anteprojeto. v. I. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011. GRINOVER, A. P. et al. Código brasileiro de defesa do consumidor comentado pelos autores do anteprojeto. v. II. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011. KONDER, C. N.; BANDEIRA, P. G. Contratos. In: TEPEDINO, Gustavo (Org.). Fundamentos do Direito Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2020, vol. 5. MARQUES, C. L. Contratos no código de defesa do consumidor: o novo regime das relações contratuais. 6. ed. São Paulo: RT, 2011. MARQUES, C. L.; BENJAMIN, A. H. V.; MIRAGEM, Bruno. Comentários ao código de defesa do consumidor. 4. ed. São Paulo: RT, 2013. NERY JUNIOR, N. O regime da publicidade enganosa no Código Brasileiro de Defesa do Consumidor. Doutrinas Essenciais de Direito do Consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais, vol. 3, abr./2011. Consultado na internet em: 28 mar. 2022. SOUZA, S. C. de; WERNER, J. G. V.; NEVES, T. F. C. Direito do consumidor. Rio de Janeiro: Forense, 2018. Material para download Clique no botão abaixo para fazer o download do conteúdo completo em formato PDF. Download material O que você achou do conteúdo? Relatar problema javascript:CriaPDF()para efeito de aplicação do Código de Defesa do Consumidor, é um empresário que atua sempre com finalidade lucrativa e, como tal, ela, por ser associação, não teria essa qualidade. Na sua opinião, procede a argumentação trazida ao processo pela Associação Beneficente Mães de Branquinha? Você deverá fundamentar sua resposta. Digite sua resposta aqui Chave de resposta Espera-se que você explique que não se sustenta a defesa apresentada por Associação Beneficente Mães de Branquinha. Eis que o Código de Defesa do Consumidor não é restritivo quanto ao conceito de fornecedor em seu art. 3º. Segundo a norma, “fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados”. Assim, por se tratar a associação de uma pessoa jurídica de direito D Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. E Produto é qualquer bem material, móvel ou imóvel. privado, conforme disposição do art. 44, I, do Código Civil, não importa se tem ou não finalidade lucrativa ou a finalidade assistencial de suas ações. Ela deverá ser considerada parte legítima na ação que lhe foi proposta por Deodoro. Conceito de consumidor As relações de consumo são formadas por dois sujeitos: o consumidor e o fornecedor. A exata identificação e a definição dessas duas figuras são importantíssimas para que se possa entender em que casos é aplicável o chamado regime jurídico consumerista. Com isso dizemos que só são aplicáveis os princípios e as regras do Direito do Consumidor e, consequentemente, o Código de Defesa do Consumidor (CDC), quando estiverem presentes na relação, concomitantemente, um consumidor e um fornecedor. O primeiro e principal sujeito a ser identificado e conceituado é o consumidor. Sua definição é encontrada no art. 2º do CDC, segundo o qual: “Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final”. Atenção! É importante observar, a partir do conceito mencionado, que pode ser qualificado como consumidor tanto uma pessoa física (ou natural) quanto uma pessoa jurídica. Então, mesmo as pessoas jurídicas podem se caracterizar como consumidoras. Nada obstante, essa caracterização reclama o atendimento de um requisito essencial: ser destinatário final dos produtos e serviços adquiridos ou utilizados. Isso significa que, para a caracterização de um consumidor, é preciso que ele seja um destinatário final dos produtos e serviços comercializados por um fornecedor, retirando os bens do mercado ou da cadeia de fornecimento. Mas, não basta, para essa caracterização, que se retire, pura e simplesmente, os bens do mercado. É preciso que essa retirada se dê com um propósito específico, a saber, o uso dos produtos e serviços para a satisfação pessoal e familiar do consumidor. Disso se conclui que o Código de Defesa do Consumidor adotou, para a definição da figura do consumidor, a chamada teoria finalista. Por essa teoria, consumidor é aquele que está posicionado na ponta da cadeia de fornecimento, retirando o produto ou serviço do mercado para a satisfação dos seus interesses pessoais ou familiares. Há que se levar em consideração, então, a finalidade para a qual o produto ou serviço é adquirido. Como consequência, aquele que adquire um bem ou um serviço e o reinsere no mercado ou na cadeia de fornecimento, como o faz um intermediário, por exemplo, ou quando o emprega na produção ou circulação de outros bens, não é considerado consumidor. Assim, consumidor é aquele que adquire o produto ou serviço para uso seu e de sua família. É o caso do indivíduo que compra uma televisão para assistir em sua casa, ou compra um alimento para a refeição de sua família. De modo contrário, aquele que adquire uma coisa para revender, para produzir outros bens ou para empregar em sua atividade econômica, não pode ser considerado como consumidor. Exemplo As pessoas que compram um carro ou imóvel com o propósito de revendê-lo por um preço mais alto (adquirindo, portanto, com intenção especulativa); que adquirem um tecido para fazer uma roupa e a revender; ou que compram uma mesa ou uma televisão para colocar em seu estabelecimento comercial, tornando seu negócio mais atrativo para a clientela, não são consideradas consumidoras, na medida em que não adquirem os bens ou serviços para o atendimento dos interesses pessoais ou familiares, mas sim com a intenção de explorar uma atividade econômica e obter lucros. A consequência disso é que tais pessoas não poderão invocar o Código de Defesa do Consumidor, gozando dos benefícios que a lei protetiva confere, inclusive em um processo judicial. Sem prejuízo de tudo o que se disse, a jurisprudência dos tribunais tem flexibilizado essa regra, reconhecendo a qualidade de consumidor mesmo quando o adquirente dos bens não for propriamente o destinatário final dos produtos e serviços. Isso ocorrerá nos casos em que estiver presente outro importante elemento caracterizador do consumidor: a vulnerabilidade. Estando o sujeito em uma posição de vulnerabilidade perante o fornecedor, vulnerabilidade essa que pode ser fática ou técnica (quando da verificação da maior capacidade técnica da outra parte no que toca aos produtos e serviços comercializados), jurídica (representada pelo pouco conhecimento jurídico da pessoa) ou econômica (quando a pessoa for economicamente mais frágil que o fornecedor), será ele considerado consumidor, ainda que esteja adquirindo um bem para empregar em sua atividade. Trata-se da chamada teoria finalista temperada ou mitigada. Exemplo Uma humilde costureira adquire uma máquina de costura de uma poderosa multinacional para produzir roupas para vender. Ao constatar um defeito na máquina, após a compra, poderá ela invocar o Código de Defesa do Consumidor para a proteção dos seus interesses e direitos, pois, embora tenha comprado o equipamento para o exercício de sua atividade econômica e, consequentemente, com fins lucrativos, ela se encontra em uma inequívoca posição de vulnerabilidade e fragilidade perante o fabricante, na medida em que não tem o conhecimento técnico acerca do processo produtivo da máquina, não sendo possível identificar de imediato, quando da compra, um defeito de fabricação, bem como é economicamente mais fraca que o fabricante. Para finalizar a identificação da figura do consumidor, tem-se ainda a figura chamada de consumidor por equiparação ou consumidor bystander, previsto no parágrafo único, do art. 2º, do Código de Defesa do Consumidor, assim como nos arts. 17 e 29 da mesma lei. Todas as pessoas que tenham intervindo na relação de consumo, que sejam vítimas de um mesmo evento (ainda que não tenham adquirido um produto ou serviço) e que tenham sido expostas a práticas abusivas de fornecedores são consideradas consumidoras. Inúmeros são os casos práticos que esclarecem essa questão. Acompanhe três exemplos a seguir: A seguir, fique com um vídeo que irá complementar seu entendimento sobre o assunto: Quem pode ser consumidor?  A explosão do Shopping Osasco, em 1996, que ocasionou a morte e os ferimentos de diversas pessoas que transitavam pelo shopping e que estavam próximas a ele. Mesmo não adquirindo nenhum produto do shopping, ou mesmo não estando dentro dele, todas as vítimas desse evento se caracterizam como consumidoras por equiparação.  A pessoa que tem um empréstimo contratado em seu nome mediante o uso de documento falso por um estelionatário. Mesmo não sendo correntista do banco, a vítima é considerada consumidora por equiparação, podendo invocar as disposições do Código de Defesa do Consumidor para a defesa dos seus interesses.  As pessoas expostas à publicidade abusiva veiculada, por exemplo, em televisão. Ainda que não venham a adquirir o produto ou serviço, elas são reconhecidamente consumidoras, podendo postular indenização por eventuais danos sofridos, e tendo por fundamento o CDC, em razãoda exposição àquela propaganda, como no caso de comerciais com apelo discriminatório.  Neste vídeo o professor Thiago Neves auxilia nossos estudos compartilhando suas considerações sobre o consumidor. Conceito de fornecedor, produto e serviço O segundo importante sujeito a ser identificado em uma relação de consumo é o fornecedor. Não é possível existir uma relação consumerista sem que existam, concomitantemente, as figuras do consumidor e do fornecedor. Enquanto o consumidor é definido no art. 2º do CDC, o fornecedor está descrito em seu art. 3º. Segundo o dispositivo legal, “fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços”. Da redação da lei é possível perceber que é ampla a caracterização de um fornecedor, cuja qualificação não se limita às atividades descritas no disposto legal transcrito. Diz-se, em termos jurídicos, que o rol previsto na lei é meramente exemplificativo, isto é, o legislador quis demonstrar, por meio de exemplos, as atividades exercidas comumente pelos fornecedores. Mas a caracterização de um fornecedor não se restringe às hipóteses legais. De maneira simples e objetiva, fornecedor é toda pessoa que comercializa produtos ou presta serviços, de modo habitual, mediante remuneração direta ou indireta. Exige-se, portanto, que haja uma habitualidade, isto é, a prática de uma atividade de modo reiterado, como uma profissão ou um meio de vida, com a respectiva remuneração, que não precisa se dar diretamente. Ainda para a qualificação do fornecedor, não importa se é pessoa física ou jurídica, ou uma pessoa de Direito público (por exemplo, um ente da federação) ou de Direito privado (particular). O que se mostra relevante para a sua caracterização é ser, ou não, um vendedor de produtos ou prestador de serviços. Com efeito, é irrelevante se o fornecimento de produtos e serviços é feito por uma empresa ou por uma pessoa física que habitualmente exerce determinada atividade, ou até mesmo por uma pessoa de Direito Público, como um hospital público que presta serviço de saúde. Verificando-se a habitualidade do exercício da atividade e a remuneração (no caso dos serviços públicos, por meio dos impostos e, assim, indiretamente), tem-se a caracterização do fornecimento. Também estão inseridos na cadeia de fornecimento e, portanto, caracterizam-se como fornecedores, os fabricantes e os produtores de bens, os construtores e os meros exercentes de atividade de montagem e colocação de peças. Enfim, são fornecedores todos aqueles que, de alguma maneira, comercializam bens e prestam serviços aos destinatários finais (consumidores). Ainda sobre a correta identificação da figura do fornecedor, o mesmo art. 3º, do Código de Defesa do Consumidor, define o que é produto e serviço para melhor caracterizar a atividade do fornecedor. Compare: Na dicção da lei, produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. De acordo com a previsão legal, portanto, considera-se produto todo bem que se caracterize, física ou juridicamente, como móvel, a exemplo dos aparelhos eletrônicos, móveis e utensílios para casa, veículos e tudo o mais que seja passível de ser movido, transportado e transferido, assim como os imóveis, compreendidos os apartamentos, as casas, os terrenos e afins. Também é irrelevante que o bem tenha existência física para a sua caracterização como produto. Logo, um bem digital, como um livro eletrônico ou um arquivo de música, por exemplo, é igualmente considerado produto. Quanto ao serviço, qualquer atividade que exija trabalho e esforço humano assim se caracteriza como tal, estando inseridas nesse conceito as atividades bancária, financeira, creditícia e securitária. Nessa esteira, as atividades que consistem em montagem, lavagem e limpeza, entrega de coisas, construção e tudo o mais que exigir uma ação humana que não consista na venda de um bem são serviços. Devemos observar, no entanto, que estão excluídas do conceito de serviço, para fins de definição de fornecedor em uma relação de consumo, as atividades decorrentes de relação de trabalho. Isso significa que o empregado não é um prestador de serviço do empregador, sendo o seu vínculo trabalhista, regido pela CLT, e não de consumo. Princípios da relação de consumo Produto  Serviço  Exclusão  Princípios fundamentais das relações de consumo Ultrapassada a fase introdutória de definição do Direito do Consumidor e do seu alcance, com a identificação do consumidor e do fornecedor, essenciais para a caracterização de uma relação de consumo, imprescindível se faz analisar os princípios que fundamentam e estruturam as relações de consumo, e que estão previstos, em sua maioria, no art. 4º do Código de Defesa do Consumidor. Iremos concentrar nossas atenções sobre os quatro princípios fundamentais que norteiam essas relações, a saber:  Vulnerabilidade  Boa-fé  Transparência  Informação Princípio do reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor Como já observado no item Fornecedor, a vulnerabilidade é um elemento caracterizador do consumidor. Por essa razão, o reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor está na essência do seu sistema de proteção. Nas relações comuns, reguladas pelo Direito Civil, a presunção é de que as partes estejam em posição de “pé de igualdade”, isto é, pressupõe-se uma igualdade entre as pessoas. Diferentemente, no âmbito do Direito do Consumidor, o pressuposto é o de que o consumidor esteja em uma posição de inferioridade perante o fornecedor, uma vez que se presume a sua vulnerabilidade. A vulnerabilidade do consumidor se desdobra em vulnerabilidade fática ou técnica, econômica e jurídica. Compare: Pela vulnerabilidade fática ou técnica, o consumidor não detém o mesmo conhecimento técnico do fornecedor, não possuindo o controle e o conhecimento acerca dos meandros da fabricação, produção e comercialização dos produtos e serviços. Pela vulnerabilidade econômica, reconhece-se que o consumidor não tem os mesmos recursos econômicos do fornecedor. Pela vulnerabilidade Jurídica, as repercussões do reconhecimento têm grande relevância prática. Pense, por exemplo, no caso de um defeito de fabricação de um carro. Como poderia o consumidor enfrentar o fabricante, que detém todo o conhecimento técnico sobre os meios de fabricação, um alto poder econômico e uma ampla experiência jurídica, na medida em que comumente enfrenta processos judiciais e tem condições de contratar os melhores advogados? Por isso, faz-se necessário o reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor para que ele faça jus aos benefícios concedidos pelo Código de Defesa do Consumidor, particularmente no âmbito de um processo judicial. Vulnerabilidade Fática ou Técnica  Vulnerabilidade Econômica  Vulnerabilidade Jurídica  No exemplo dado, o consumidor não tem meios econômicos nem técnicos de comprovar a eventual falha na fabricação, de maneira que caberá à montadora de veículos provar que não existiu falha na fabricação e que o veículo está em perfeito funcionamento. Esse dever que se impõe ao fornecedor, especialmente no âmbito de um processo judicial, em que é ele que tem o ônus de provar a inexistência de defeitos nos produtos, é uma decorrência da vulnerabilidade do consumidor. Assim, deve-se reconhecer a situação de vulnerabilidade do consumidor para lhe conferir um tratamento protetivo, equilibrando a balança da relação entre as partes no âmbito do Direito do Consumidor. Princípio da boa-fé Um dos mais importantes princípios norteadores das relações de maneira geral, inclusive as de consumo, é o da boa-fé. Por ele, impõe-se ao consumidor e ao fornecedor um atuar ético, probo e honesto, desde o momento das negociações para contratar,quando da contratação, bem como depois da conclusão do negócio. Devem as partes, pois, agir com lisura e honestidade, não buscando levar vantagens indevidas umas sobre as outras, assegurando o equilíbrio da balança econômico- financeira dos contratos. Nas tratativas e negociações, devem o consumidor e o fornecedor buscar realizar e atender aos interesses legítimos de cada um, bem como aos fins sociais de toda contratação, não causando danos ou prejuízos um ao outro, assim como a terceiros. O descumprimento do princípio da boa-fé pode levar ao fim do contrato, pela violação a esse importante dever de comportamento, sem prejuízo do direito a eventuais perdas e danos sofridos pela sua não observância. Do princípio da boa-fé emanam também os chamados deveres anexos ou correlatos, que estão diretamente associados à necessidade de um agir honesto e probo, como o dever de transparência e de informação, que se consubstanciam em verdadeiros princípios, como veremos a seguir. Princípio da transparência Como decorrência da boa-fé temos o princípio da transparência. A necessidade de se comportar eticamente, de modo honesto e probo, reclama das pessoas a máxima transparência quando da celebração de negócios. As partes devem, desde as negociações, agir com transparência, esclarecendo suas intenções e expectativas, assim como devem buscar explicitar todos os aspectos do negócio que será celebrado, a fim de que ambos possam entender e refletir sobre a necessidade e vontade de concretizar, ou não, a negociação. O descumprimento desse dever de transparência também pode levar ao término da relação, por culpa daquele que não foi transparente e, logo, honesto e probo, sem prejuízo de eventual direito à indenização por danos e prejuízos sofridos em decorrência da obscuridade ou ocultação de um fato relevante, cuja revelação poderia, por exemplo, fazer com que a parte desistisse de contratar. Princípio da informação Outro importante e inafastável princípio existente nas relações de consumo é o da informação, consistindo também em uma consequência lógica dos princípios da boa-fé e da transparência. Com esse princípio, particularmente voltado aos fornecedores, busca-se minimizar a vulnerabilidade fática e técnica do consumidor. Uma vez que o consumidor não conhece os meandros da fabricação e comercialização dos produtos, impõe-se ao fornecedor informar e esclarecer todos os aspectos e as características da coisa comercializada, como componentes, qualidade e riscos, a fim de que o consumidor possa ter pleno conhecimento daquilo que lhe está sendo ofertado e oferecido. Também se impõe ao fornecedor o dever de informar todos os elementos e aspectos do negócio, tais como: preço, condições de pagamento, prazo de entrega e de garantia, entre outros, visando dar ao consumidor todos os subsídios para que ele faça a compra consciente. O dever de informação também permanece na fase pós-contratual, isto é, após a contratação. Exemplo Veja-se, a propósito, os famosos casos de recall de veículos. Todo fornecedor, sabendo da existência de um defeito de fabricação do produto que o torne perigoso, impróprio ou mesmo prejudicial ao uso, deverá informar a todos os consumidores, impondo-se a ele, ainda, o dever de reparar o problema. Igual dever se impõe no caso de medicamentos e outros produtos que possam ser prejudiciais à vida e à saúde. Verificando-se eventual risco que fosse, no momento da fabricação e comercialização, desconhecido, deve o fornecedor não apenas informar os consumidores como também as autoridades competentes. Assim como nos demais casos, a violação do dever de informação pode acarretar o desfazimento do contrato, além da possibilidade de reparação por perdas e danos sofridos. Direitos do consumidor Direitos básicos do consumidor O Código de Defesa do Consumidor também prevê a existência de direitos básicos dos consumidores, isto é, aqueles direitos mínimos e essenciais a todos os consumidores e que devem ser respeitados e observados por todos os fornecedores. Nesse propósito, o legislador apresentou um extenso rol de direitos, que correspondem a deveres a ser cumpridos pelos fornecedores. Apenas com o cumprimento desses deveres estarão os consumidores minimamente protegidos, mantendo- se, então, equilibrada a balança dessa relação. Proteção da vida, da saúde e da segurança do consumidor O primeiro direito básico do consumidor é o da proteção da vida, da saúde e da segurança do consumidor contra o fornecimento de produtos e serviços que lhe sejam nocivos. É direito do consumidor ter acesso apenas a bens que não lhe causem dano ou quando estes, em sua essência, forem naturalmente nocivos, de ser informado dos riscos. O referido direito, portanto, tem como propósito resguardar a incolumidade física do consumidor em face dos riscos provocados por produtos e serviços, especialmente aqueles que sejam perigosos. A comercialização destes últimos, no entanto, não está proibida. Atenção! Sabemos que há a possibilidade de venda de venenos, pesticidas, produtos inflamáveis, entre outros. No entanto, quanto a estes, o direito ora estudado impõe aos fornecedores que os comercializem adotando todas as medidas de cautela, a fim de minimizar os riscos de dano. Violado esse direito e, assim, causando danos ao consumidor, o fornecedor responderá por eles, devendo ressarcir integralmente a vítima do evento. Direito à educação acerca do adequado consumo e da liberdade de escolha e igualdade na contratação Por meio desse direito, compete ao Poder Público e aos fornecedores, via propagandas e campanhas educativas, informar sobre o adequado consumo de bens e serviços, a fim de permitir aos consumidores exercerem livremente o seu poder de escolha e de decisão acerca da necessidade e da utilidade de se contratar e, portanto, de adquirir e consumir determinado produto ou serviço. Informação clara e transparente sobre produtos e serviços Com a previsão desse direito é possível perceber a especial atenção que o Código de Defesa do Consumidor deu à informação. O direito à informação também consiste em um princípio norteador das relações de consumo. O dever de o fornecedor informar, de maneira ampla, clara e transparente, sobre todos os aspectos do negócio e dos produtos e serviços postos no mercado se revela como um direito do consumidor de ser informado. A informação, na forma como prevista no art. 31, do CDC, deve ser correta, clara, precisa, ostensiva e em língua portuguesa; esclarecendo- se as características, as qualidades, as quantidades, a composição, o preço, a garantia, os prazos de validade e a origem, entre outros, dos produtos e serviços. Cumpre observar que, conforme previsto no art. 30, do Código de Defesa do Consumidor, toda informação veiculada pelo fornecedor em sua publicidade ou propaganda o obriga, de modo a ter que cumpri-la em sua integralidade. Proteção contra publicidade enganosa e abusiva e contra práticas ou cláusulas abusivas Uma questão extremamente sensível é a da publicidade enganosa e abusiva. Publicidade enganosa é aquela que, na forma do art. 37, § 1º, do CDC, tem conteúdo inteiro ou parcialmente falso e que possa induzir o consumidor ao erro. Por outro turno, e consoante o art. 37, § 2º, do CDC, é abusiva a publicidade discriminatória, que incite à violência ou ao medo, que se aproveite da inexperiência do consumidor, como uma criança ou um idoso, por exemplo, e que possa levá-lo a se comportar de modo perigoso à sua saúde ou segurança. Portanto, é direito do consumidor ser protegido contra essas formas indevidas de publicidade, dada a sua prejudicialidade, cujo desrespeito pode, inclusive, caracterizar os crimes previstos nos artigos 67 e 68, do Código de Defesa do Consumidor, e as penas podem variar, respectivamente, de três meses a um ano de detenção e seis meses a dois anos de detenção. Da mesma maneira, confere-se ao consumidor o direito de ser protegido contra as práticase cláusulas abusivas descritas nos artigos 39 e 51, do Código de Defesa do Consumidor, e que uma vez caracterizadas podem levar à imposição de sanções aos fornecedores, como o dever de cessar a conduta e indenizar os consumidores, e de reconhecimento de nulidade das cláusulas do contrato, com a sua consequente exclusão. Direito ao reequilíbrio econômico-financeiro do contrato Os contratos de consumo comumente são de trato sucessivo ou de prestação continuada, prolongando-se no tempo. São contratos que não terminam com a prática de um único ato, como uma compra e venda, por exemplo, em que a entrega da coisa com o pagamento do preço leva à sua conclusão. É comum termos contratos que vão sendo executados continuadamente, como o de plano de saúde, o de prestação de serviço de fornecimento de luz, água, gás, telefone e televisão a cabo, em que não se celebra um contrato por mês, mas ao contrário, tem-se um único contrato que vai sendo cumprido e executado mensalmente. Em tais casos, não é incomum ter-se a ocorrência de eventos posteriores que levam a uma disparidade das prestações, isto é, uma desproporção entre o preço pago e o serviço que é prestado. Nesses casos em que, após a celebração do contrato, verifica-se a ocorrência de um fato que leve a esse desequilíbrio, tornando excessivamente oneroso o cumprimento do contrato, é direito do consumidor postular a sua revisão, a fim de restabelecer as bases econômicas, reequilibrando economicamente a relação. O referido direito decorre das chamadas teorias da onerosidade excessiva ou da quebra da base econômica do contrato. Tal direito à revisão também se aplica aos casos em que, desde o momento da celebração do negócio, tem-se esse desequilíbrio, especialmente quando o fornecedor, aproveitando-se da necessidade do consumidor e de sua inexperiência, estabelece desde a origem prestações desproporcionais. Trata-se da aplicação, na hipótese, da chamada teoria da lesão. Direito à reparação integral dos danos O fornecedor, quando do abastecimento de seus produtos e serviços, pode acarretar danos, materiais ou morais, ao consumidor. O dano material é aquele que atinge os bens do sujeito, o seu patrimônio, reduzindo-o. O dano moral, por outro turno, é aquele que atinge os chamados direitos da personalidade do indivíduo, que são aqueles direitos inerentes à pessoa, isto é, direitos que decorrem da própria condição de pessoa, como o nome, a imagem, a honra, a privacidade e a integridade física e psíquica. Uma vez violados o patrimônio e/ou a personalidade do consumidor, tem ele direito à sua plena reparação. No caso dos danos materiais, a reparação consiste no restabelecimento econômico daquilo que foi perdido. Exemplo Se o consumidor adquiriu um telefone celular que, ao recarregar a bateria, superaqueceu e explodiu, destruindo o aparelho e a mesa em que estava apoiado, terá o consumidor o direito a obter o valor dos bens destruídos. No caso dos danos morais, a reparação consiste em uma compensação. Isso porque uma ofensa à honra, por exemplo, não admite uma recomposição daquilo que foi perdido, pois os direitos da personalidade não são quantificáveis economicamente. Não existe um valor determinado para a honra, a imagem, a privacidade ou o nome da pessoa. Por isso, a indenização por dano moral tem um caráter compensatório, visando, então, compensar monetariamente a vítima pelo sofrimento que lhe foi causado. Exemplo O banco que insere indevidamente o nome do consumidor em um cadastro restritivo de crédito (como o SPC e o SERASA) terá que indenizar o consumidor, estando o valor sujeito a variações a partir de inúmeras condições a serem definidas pelo juiz em um processo judicial. Direito de acesso a órgãos judiciais e administrativos Para a mais ampla e efetiva proteção do consumidor, o Código de Defesa do Consumidor lhe assegura o acesso aos órgãos judiciais e administrativos. Assim, uma vez violado um direito ou interesse do consumidor, poderá ele se socorrer, por meio de ações judiciais, ou de petições a órgãos administrativos, para ver seus danos reparados, bem como a cessação das condutas que violem seus direitos. Atenção! Para tal, asseguram-se inúmeras garantias aos consumidores, como, por exemplo, o acesso gratuito e sem a necessidade de advogados nos Juizados Especiais, anteriormente chamados de Juizados de Pequenas Causas, e em órgãos administrativos, como o PROCON. A facilitação da defesa dos direitos do consumidor na esfera judicial, inclusive com a inversão do ônus da prova Como visto no item anterior, garante-se aos consumidores o amplo e irrestrito acesso aos órgãos judiciais e administrativos. Mas esse amplo acesso não é, por si só, suficiente para que o consumidor possa ter a efetiva proteção de seus direitos. Além do acesso em si, é preciso assegurar outros direitos que confiram ao consumidor a possibilidade de demonstrar o direito que alega ter. Assim, inúmeros outros direitos são assegurados ao consumidor, notadamente no âmbito dos processos judiciais, como, por exemplo, a inversão do ônus da prova, que impõe ao fornecedor o encargo de provar que agiu conforme a lei, não violando os direitos do consumidor. Atenção! Em uma ação em que o consumidor reclama que o produto adquirido tem um defeito de fábrica, caberá ao fornecedor provar que não existe o defeito, ao invés de se colocar sobre os ombros do consumidor o ônus de provar que o defeito existe. Tendo em vista a sua vulnerabilidade, é mais difícil para o consumidor comprovar esse fato, de modo que se transfere para o fornecedor esse encargo de produzir a prova em contrário. Direito à adequada e eficaz prestação de serviços públicos Ao Poder Público se impõe o dever de prestar inúmeros serviços, diretamente ou indiretamente, neste último caso, por intermédio de concessionárias e permissionárias de serviços públicos. Esses serviços públicos podem ser os mais variados, como saúde, educação e segurança, e o fornecimento de água, luz, gás e esgoto. Em todos eles, se exige a sua adequada e eficaz prestação, de modo que não sendo prestados a contento, ou causando danos ao consumidor, fará ele jus à prestação adequada, exigindo do Poder Público que sejam prestados adequadamente, pelo que chamamos de tutela específica, para obrigar o fornecedor a cumprir com a sua obrigação, assim como terá direito à respectiva reparação pelos danos que sofrer. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 O consumidor sempre se caracteriza: A Pela venda de produtos ou serviços a um destinatário final. B Pela venda de produtos ou serviços a um comerciante. C Pela aquisição de produtos ou serviços para uso seu e/ou de sua família. D Pela aquisição de produtos ou serviços para revenda. E Pela venda de produtos ou serviços a pessoas naturais. Parabéns! A alternativa C está correta. O Código de Defesa do Consumidor adotou a teoria finalista para a caracterização do consumidor, em que se considera consumidor aquele que retira o produto da cadeia de consumo com a finalidade de atender aos interesses seus e de sua família. Questão 2 São direitos básicos do consumidor: Parabéns! A alternativa D está correta. O Código de Defesa do Consumidor conferiu aos consumidores diversos direitos básicos. Dentre eles está o direito de ver reparados integralmente os danos materiais e morais que sofrer, restaurando o seu patrimônio, no primeiro caso, e compensando a lesão aos seus direitos da personalidade, no segundo caso. A Devolver imotivadamente produtos adquiridos pela Internet no prazo de 30 dias. B Ser incluído indevidamente nos cadastros restritivos de crédito. C Exposição a propagandas enganosas ou abusivas. D Reparação integral por danos materiais e morais. E Ser assistido por Defensor Público, já que todo consumidor é hipossuficiente. 2 - Vícios e fatos do produto e serviço Ao final deste módulo, você será capaz de diferenciar os víciose fatos do produto e do serviço, bem como as responsabilidades deles advindas. Ligando os pontos Quais são as responsabilidades dos fornecedores nos casos de produtos e serviços com defeito ou em desconformidade com o prometido na venda? O que diz o Código do Consumidor? A responsabilidade do fornecedor perante o consumidor (seja aquele que adquiriu o produto ou foi usuário do serviço ou os consumidores por equiparação) pode ter sua fonte no “fato do produto”, no “vício do produto”, no “fato do serviço” ou no “vício do serviço”. Todas estas expressões são típicas do direito do consumidor e não encontram paralelo em outras áreas do direito privado, como no direito civil ou no direito empresarial. Os danos ao consumidor (estéticos, patrimoniais ou extrapatrimoniais) podem advir de um mau funcionamento do produto ou da má prestação do serviço. Quando se diz que o produto ou o serviço é ruim, no que se refere à responsabilidade do fornecedor no CDC, o sentido é que ele não está em conformidade com o que o legislador espera no mercado de consumo (exemplo: que haja segurança para o consumidor na sua utilização, que não tenha defeitos ou vícios – ocultos ou aparentes – que impeçam ou dificultem seu funcionamento, que a quantidade contratada seja de fato a fornecida; que a qualidade seja respeitada, entre outras razões). Em todos os casos de desconformidade do produto ou do serviço – mesmo sem circunstâncias mais graves que atinjam a saúde ou a integridade física do consumidor – o CDC responsabiliza o fornecedor independentemente da comprovação de dolo ou culpa (responsabilidade objetiva), exceto para os profissionais liberais, no tocante à prestação de serviços (art. 14, § 4º, da Lei nº 8.078/90). Vamos ver um exemplo hipotético. Como será que o CDC trataria o caso abaixo? Imobiliária Assis Brasil Ltda. adquiriu três veículos automotores fabricados por Xapuri do Brasil S/A para serem utilizados por seus empregados no transporte de clientes e deslocamentos urbanos. Ainda dentro do prazo da garantia contratual, dois dos três veículos passaram a apresentar problemas de desempenho. Um deles (veículo 1) teve problemas com os pneus originais de fábrica que tiveram sua aderência com o pavimento reduzida em caso de chuvas, ainda que o veículo não estivesse em alta velocidade. O outro (veículo 2) apresentou problemas no controle do ar-condicionado, cujo comando não respondia adequadamente à ação, de modo que ou o veículo ficava quente e abafado, mesmo com o ar ligado ou ficava frio demais. A proprietária do veículo teve que solicitar a assistência técnica por várias vezes e a situação persistia. No caso dos pneus, que afinal foram trocados, houve um acidente com um dos corretores em razão da baixa aderência, gerando uma derrapagem do veículo. Após a leitura do case, é hora de aplicar seus conhecimentos! Vamos ligar esses pontos? Questão 1 Você leu no enunciado da situação hipotética que o veículo 1 apresentou problemas com seus pneus, pois estes tiveram sua aderência com o pavimento reduzida em caso de chuvas, ainda que o veículo não estivesse em alta velocidade. De acordo com a nomenclatura adotada pelo CDC no tocante à responsabilidade civil do fornecedor e o caso descrito, assinale a única alternativa correta. A A situação com os pneus constitui vício do serviço, pois é obrigação do fabricante do veículo empregar componentes originais adequados e novos, ou que mantenham as especificações técnicas do fabricante dos pneus. B A situação com os pneus constitui vício do produto, pois a perda de aderência ao pavimento faz com Parabéns! A alternativa C está correta. A única alternativa correta é a letra C, pois o enunciado descreve um problema relacionado ao veículo 1, que atinge a segurança do consumidor, já que os pneus perdem a aderência com o pavimento em caso de chuva, podendo ocasionar acidentes com o veículo, como de fato ocorreu a derrapagem (art. 12, § 1º, II). As demais alternativas são falsas porque afirmam que o problema com os pneus se refere a outras categorias jurídicas estranhas ao conceito de fato do produto. Questão 2 O texto informa que o veículo 2 tinha problemas com o ar- condicionado, eis que o comando não funcionava corretamente, ora com aquecimento, ao invés de resfriar, ora com super-resfriamento. De acordo com a nomenclatura adotada pelo CDC no tocante à responsabilidade civil do fornecedor e o caso descrito, assinale a única alternativa correta. que se tornem impróprios ao consumo. C A situação com os pneus constitui fato do produto, pois este é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera, haja vista a perda de aderência ao pavimento em caso de chuva. D A situação com os pneus constitui fato do serviço, pois o serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar. E A situação com os pneus constitui tanto fato do produto quanto vício do serviço, sendo o primeiro quanto a fabricação defeituosa dos pneus e o segundo quanto a sua instalação no veículo, que não foi apropriada. A A situação com o ar-condicionado constitui vício do serviço, eis que decorre de sua instalação Parabéns! A alternativa D está correta. Com base no art. 18, caput, da Lei nº 8.078/1990. O mau funcionamento do comando do ar-condicionado veicular atinge sua qualidade, tornando-o inadequado em razão do aquecimento ou do super-resfriamento, Todas as demais alternativas são falsas por estarem em desacordo com a disposição legal, associando a narrativa a outras categorias jurídicas estranhas ao conceito de vício do produto. Questão 3 No caso proposto, você verificou que os pneus do veículo 1 tinham problema de aderência e o comando do ar-condicionado do veículo 2 não funcionava adequadamente. Sendo certo que o fabricante dos veículos não é o mesmo dos pneus nem do ar-condicionado e que estes inadequada pelo fabricante. B A situação com o ar-condicionado constitui fato do produto, pois o defeito no comando do ar- condicionado coloca em risco a condução do veículo e seus passageiros. C A situação com o ar-condicionado constitui tanto fato do produto quanto vício do produto, porque, ao mesmo tempo em que coloca em risco a operação do veículo, também atinge sua qualidade, diminuindo seu valor. D A situação com o ar-condicionado constitui vício do produto, pois atinge a qualidade do produto, tornando-o inadequado ao consumo a que se destina. E A situação com o ar-condicionado constitui fato do serviço, pois a utilização não fornece a segurança que consumidor dele pode esperar. produtos foram adquiridos pelo fabricante para utilização do processo de fabricação dos veículos, indaga-se: perante a Imobiliária Assis Brasil Ltda. quem deverá responder pelos danos que ela sofreu? Você deverá fundamentar sua resposta. Digite sua resposta aqui Chave de resposta Espera-se que você explique que, na hipótese de fato e de vício do produto, a responsabilidade do fabricante é objetiva e solidária perante o consumidor, ainda que ele não tenha fabricado nem os pneus nem o ar-condicionado. Assim, independentemente de o consumidor provar que o fabricante agiu com dolo ou culpa, ele poderá ser demandado, com fundamento no art. 12, caput, do CDC, para o fato do produto (“O fabricante, [...] respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos”), e no art. 18, caput, do CDC, para o fato do serviço (“Os fornecedores de produtos de consumo duráveis [...] respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam”). Vícios e fatos do produto e do serviço Matéria de grande importância no estudo do Direito do Consumidor é a que diz respeito aos vícios e fatos doproduto ou do serviço e suas respectivas consequências. No fornecimento de produtos e serviços não é incomum que estes apresentem defeitos que impeçam a sua utilização, de modo parcial ou total, ou mesmo que causem repercussões mais graves, vindo a provocar danos ao consumidor. Neste momento, tem-se a incidência das disposições do Código de Defesa do Consumidor que visam examinar, regular e solucionar essas situações, com os seus correspondentes efeitos sobre as pessoas do consumidor e do fornecedor. Tipos de vícios Vícios do produto ou do serviço O vício é o defeito menos grave, aquele que não compromete a segurança do produto ou do serviço e que não causa danos ao consumidor. O vício é, pois, inerente apenas ao produto ou serviço, sem repercussões externas mais graves, consistindo tão somente no defeito que causa o mau funcionamento do produto ou serviço. Exemplo No caso da televisão que não produz imagens, de telefone que não faz ou recebe chamadas, ou da geladeira que não gela. O vício, entretanto, nem sempre se revela tão facilmente. Em alguns casos, ele sequer é visto a olho nu ou é perceptível claramente, surgindo, muitas vezes, apenas com o uso prolongado do produto ou do serviço. Nesse sentido, pode o vício ser oculto ou aparente, veja: Vício aparente É aquele de imediata e fácil percepção e constatação. É aquele que uma vez entregue o produto ou terminada a execução do serviço, é percebido desde logo, com o seu simples uso, ou com uma “passada de olhos”, mesmo sem o conhecimento técnico. Vício oculto É aquele defeito que o consumidor não percebe a sua existência desde logo, com a simples utilização do produto ou do serviço. Trata-se daquele defeito que ainda não se manifestou, embora já seja existente.Ou seja: é aquele que preexiste, mas que só se manifesta em um momento posterior. Trazendo exemplos para os dois tipos de vício, respectivamente, podemos citar: Como vício aparente, ilustra-se o exemplo do farol de um carro 0Km que, ao sair da garagem da concessionária ou agência, está quebrado. Podemos citar também o de uma camisa que, ao ser retirada da bolsa da loja, está com a manga rasgada.  Para exemplificar o vício oculto, temos um carro que tem um sistema de calefação defeituoso. Desde o momento da compra o defeito já existia, mas nunca foi percebido pois, comprado no verão, o consumidor apenas utilizava o refrigerador. Ao chegar o inverno e tentar utilizar o aquecedor, percebe que ele não funciona. A referida diferenciação, como veremos no item Responsabilidade dos fornecedores pelos vícios do produto ou do serviço, tem importante repercussão no momento da responsabilidade do fornecedor e do prazo para reclamar a existência do vício. Ainda no tocante aos vícios, o legislador os diferenciou entre vícios de qualidade e vícios de quantidade, que examinaremos em tópicos separados, para uma melhor compreensão. Vício de qualidade Está atrelado diretamente ao dever de qualidade do produto ou do serviço, ou seja, ao fornecedor se impõe o dever de colocar no mercado produtos de perfeita qualidade, que cumpram a finalidade a que se destinam e à oferta e publicidade feitas. Assim, vício de qualidade é aquele que torna o produto ou serviço impróprio para o fim a que se destina, reduzindo o seu valor, e que tenha, ainda, uma disparidade ou não conformação com as informações constantes da publicidade, do recipiente ou da embalagem. Exemplo O caso da televisão que não tem os recursos anunciados; do telefone celular que, embora tenha associado a ele um serviço de telefonia móvel com acesso à internet, não consegue estabelecer uma conexão; ou mesmo da máquina de lavar com secadora que não seca as roupas. Vício de quantidade É aquele que decorre, necessariamente, de uma disparidade real e quantitativa em relação às indicações que constam do recipiente, do invólucro, da embalagem ou da publicidade. Exemplo A caixa de suco em cuja informação consta a quantidade de um litro, mas apenas tem quinhentos mililitros dentro; do papel higiênico cuja embalagem anuncia um rolo com dois metros de comprimento, mas tem apenas um metro e meio; o do invólucro da embalagem de carne que anuncia um peso de quinhentos gramas, mas tem apenas quatrocentos. Responsabilidade dos fornecedores por vícios Responsabilidade dos fornecedores pelos vícios do produto ou do serviço Constatada a existência de vício de qualidade e de quantidade do produto ou do serviço, todos os integrantes da cadeia de consumo são responsáveis pelo reparo. Tem-se, pois, na expressão jurídica, uma responsabilidade solidária entre todos, abrangendo o fabricante, o produtor, o distribuidor e o comerciante, enfim, todos os que participaram da cadeia até a chegada do produto ou do serviço às mãos do consumidor. Essa responsabilidade solidária confere ao consumidor o direito de exigir a solução para o vício de qualquer um dos integrantes da cadeia, individual ou conjuntamente. Isso significa que ele poderá reclamar apenas do fabricante o respectivo reparo do defeito, assim como poderá responsabilizar também o comerciante juntamente com o fabricante, e até mesmo apenas o comerciante. Trata-se de uma escolha a ser feita pelo consumidor, que não está obrigado a demandar em face de algum deles especificamente. A responsabilização dos fornecedores, entretanto, depende de manifestação do consumidor, que deve ocorrer dentro de um prazo previsto no Código de Defesa do Consumidor, sob pena de se perder o direito de reclamar o vício e, consequentemente, a solução para o problema do defeito existente. Na forma do art. 26, do CDC, a reclamação da existência do vício aparente deve ser feita no prazo de 30 dias, quando o produto ou o serviço for não durável (como no caso de produtos e serviços consumidos imediatamente ou perecíveis), e 90 dias quando o produto ou serviço for durável. Exemplo Para produtos duráveis podemos pensar em aparelhos eletrônicos, eletrodoméstico, móveis, veículos etc. Esses prazos consistem, inequivocamente, em uma garantia legal, isto é, verificado o defeito no produto, o consumidor tem esses prazos para reclamar, sem prejuízo da garantia contratual, cujo prazo se conta a partir do término do prazo da garantia legal. Ainda sobre o tema, é preciso recordar que os vícios aparentes são aqueles de fácil e imediata constatação, de maneira que a contagem do referido prazo se dá no exato momento em que o produto é entregue ou o serviço é prestado, ainda que o consumidor desatento não o perceba de imediato. Tratando-se de vício oculto, o prazo para reclamar a sua existência só se inicia no momento em que se constatar a existência do defeito. Nesse caso, questão relevante a ser observada é sobre eventual existência de prazo para o surgimento/a manifestação do vício. O Código de Defesa do Consumidor não prevê um prazo específico para o surgimento do defeito. Isso, contudo, não significa que não exista um prazo, sendo, pois, eterno. Para que o consumidor tenha direito a reclamar o vício oculto, é preciso que ele se manifeste dentro do prazo de vida útil do produto ou serviço, o que deve ser verificado em cada caso. Exemplo Imagine uma geladeira que, aparentemente, esteja em perfeito funcionamento. No entanto, seis meses depois da compra, ela começa a não gelar. Por certo, não é normal que uma geladeira comece a apresentar defeitos com apenas seis meses de uso, pois não é esse o prazo de vida útil para um bem dessa natureza, o que nos leva a concluir que ela tinha um vício oculto. Assim, o prazo de 90 dias para reclamá-lo será contado a partir do momento em que a geladeira não mais começar a funcionar adequadamente. Diferentemente, imagine que a geladeira já tivesse 20 anos de uso quando do surgimento do problema. Nesse caso, não é crível que o defeito decorra de um vício oculto de fabricação, pois é natural que após tantos anos de uso, pelo desgaste natural das peças, o bem comece aapresentar defeitos. Assim, não terá o consumidor direito de reclamar o reparo, pois o defeito, por certo, não se caracteriza como um vício oculto, um defeito de fabricação, na medida em que já ultrapassou o prazo de vida útil da coisa. Feita a reclamação aos fornecedores, faz-se necessário identificar quais são suas responsabilidades. O Código de Defesa do Consumidor prevê obrigações distintas para os fornecedores no caso de vício do produto e de vício do serviço, diferenciando, ainda, quanto ao produto, se o vício é de qualidade ou de quantidade. Por essa razão, examinaremos, para fins didáticos, separadamente cada uma das hipóteses. Responsabilidade por vício de qualidade do produto Feita a reclamação junto ao fornecedor, nos prazos anteriormente descritos, nasce para ele a obrigação de sanar o vício, reparando o defeito apresentado. O Código de Defesa do Consumidor impõe ao fornecedor, nesse caso, um prazo para que efetue o reparo, que é de 30 dias a contar da reclamação e da entrega do produto defeituoso, como se extrai do art. 18, § 1º da lei. Em não sendo reparado o defeito no prazo de 30 dias, poderá o consumidor exigir, alternativamente:  A substituição do produto por outro da mesma espécie em perfeitas condições de uso.  A restituição imediata da quantia paga para a compra do bem, corrigida monetariamente.  Em terceiro e último caso, poderá ser solicitado o abatimento proporcional do preço. Trata-se, como dito, de uma opção do consumidor, que poderá escolher livremente de quais das alternativas pretende se utilizar, não podendo o fornecedor se recusar a acatar a escolha feita. Sem prejuízo do que foi dito, haverá casos em que o consumidor não precisará esperar o prazo de 30 dias para que o fornecedor repare o vício, podendo, então, requerer imediatamente alguma das alternativas que estão à sua disposição. Isso será possível quando o defeito for tão grave que a substituição das partes defeituosas possa comprometer a qualidade ou a característica do produto, diminuir o seu valor ou se se tratar de um produto essencial. Pense-se em um carro 0Km adquirido em uma concessionária. Com dois meses de uso, o veículo apresenta um grave defeito no motor, cujo reparo exija a desmontagem da peça para a substituição de componentes internos. É induvidoso que, nesse caso, fazer o referido reparo em um carro novo irá comprometer a sua qualidade, além de desvalorizá-lo. Em hipóteses tais, poderá o consumidor pleitear a substituição não só do motor, mas do próprio carro. Nos casos em que o consumidor optar pela substituição do bem, e o fornecedor não tiver um outro novo, em perfeitas condições para entregar, terá o consumidor o direito à substituição do produto por um de outra espécie, marca ou modelo, mas terá que complementar o preço, caso seja mais caro, ou fará jus à devolução da diferença, se o novo produto for mais barato. É o caso do celular defeituoso que o comerciante não tem, em seu estoque, outro idêntico para fazer a substituição. Poderá o consumidor, então, optar por levar outro de modelo diverso, inclusive de qualidade superior e de maior valor, mas terá que arcar com a diferença de preço. Não há, portanto, ao contrário do que muitos pensam, o direito à troca por outro modelo mais caro e sem nada pagar. Por fim, em quaisquer dos casos, tendo o consumidor sofrido algum dano em decorrência do vício, poderá ele requerer, cumulativamente à opção feita, a respectiva indenização, tanto material quanto moral. Sobre essa hipótese, imagine que o consumidor tenha adquirido um celular, que é sua forma de contato pessoal e profissional. Após um mês de uso regular, o celular simplesmente para de funcionar, não sendo mais o consumidor acessado por seus clientes, fazendo-o perder diversas oportunidades de negócio. Nesse caso, poderá o consumidor pleitear a substituição do aparelho por outro novo, em perfeito estado, além da indenização pelos danos sofridos em decorrência da perda dos negócios, o que, no entanto, deverá ser comprovado pelo consumidor. Responsabilidade por vício de quantidade do produto Verificado que o conteúdo líquido da embalagem é inferior às indicações nela constantes, terá o consumidor, imediatamente à observação do conteúdo a menor, também alternativas a serem exercidas. Veja-se que, ao contrário do que ocorre com o vício de qualidade, o vício de quantidade confere ao consumidor o direito imediato à correção, haja vista que, nesse caso, não há um defeito que necessite de um prazo para ser reparado. Constatando o consumidor que a quantidade indicada no rótulo, na embalagem ou mesmo na propaganda é superior ao que efetivamente consta do recipiente, ele terá o direito de requerer, de modo imediato: 1. O abatimento proporcional do preço; 2. A complementação do peso ou da medida; 3. A substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo e que tenha a quantidade prometida ou anunciada; 4. A restituição imediata da quantia paga, corrigida monetariamente. Em quaisquer dos casos, e em perfeita observância ao direito básico de reparação integral dos danos, poderá o consumidor também requerer, cumulativamente, indenização pelos danos materiais e morais. Responsabilidade por vício de qualidade e quantidade do serviço O Código de Defesa do Consumidor tratou conjuntamente das alternativas que o consumidor tem à sua disposição, seja o vício de qualidade, seja de quantidade. Verificado que o serviço possui vício de qualidade que torne impossível o seu consumo ou diminua o seu valor, por não atingir a finalidade a que se destina, ou vício de quantidade decorrente da disparidade com as indicações constantes da oferta ou da publicidade, terá o consumidor o direito de exigir, alternativamente, de quaisquer dos integrantes da cadeia de fornecimento, o seguinte: 1. Quando possível, a reexecução dos serviços, sem custo adicional; 2. A restituição imediata da quantia paga, corrigida monetariamente; 3. O abatimento proporcional do preço. No tocante às referidas alternativas, uma observação precisa ser feita. Caso o fornecedor não possa reexecutar o serviço, é possível que um terceiro indicado por ele, ou pelo próprio consumidor, o reexecute, o que se dará por conta do fornecedor, que assumirá os riscos da má- execução. Por fim, em todos os casos, poderá, ainda, o consumidor requerer a reparação por danos materiais e morais eventualmente sofridos em decorrência do defeito do serviço. Fatos do produto ou serviço O fato do produto ou do serviço é o acidente de consumo, é o defeito grave de segurança que causa dano ao consumidor, como o celular que superaquece e explode, ferindo a pessoa, ou da tampa da garrafa de refrigerante que, devido a uma pressão inadequada do gás, rompe batendo nos olhos do consumidor. Não se trata, pois, como no vício, de um mero defeito de funcionalidade ou de quantidade que impede ou reduz o uso do produto ou do serviço, mas sim de uma falha de segurança, especialmente no processo de fabricação, que provoca um acidente. Então, ao contrário do que ocorre no vício do produto ou do serviço, que pode ser de qualidade ou de quantidade, o fato do produto ou serviço é um defeito de segurança, quando não oferece ao consumidor a segurança que dele se espera, e acaba por lhe causar um dano material ou moral. O dano decorre, pois, diretamente do produto, não consistindo em uma mera repercussão do defeito, como ocorre no vício do produto ou do serviço, em que eventuais danos decorrem reflexamente dele. Quanto à responsabilidade dos fornecedores, estas diferem no caso de fato do produto ou de fato do serviço, possuindo um regime diferenciado a partir de cada caso, o que passaremos a examinar separadamente. Responsabilidade dos fornecedores por fatos Responsabilidade dos fornecedores por fato do produto e fato do serviço Como visto, o Código de Defesa do Consumidor diferencia os casos de fato do produto e de fato do serviço, inclusive noque toca aos fornecedores responsáveis pelos danos causados pelo defeito de segurança, a revelar um regime distinto do vício do produto ou do serviço. É isso que passaremos a examinar nos tópicos seguintes. Fato do produto O acidente de consumo por defeito de segurança do produto pode decorrer de quatro causas: Falha na concepção A falha de concepção diz respeito ao projeto do produto. Antes da fabricação propriamente dita, o fabricante projeta a coisa. Um erro no projeto pode acarretar um defeito no bem, tornando-o inseguro. Verificada a falha na concepção, responderá o fabricante pelos danos que causar ao consumidor. Falha na produção A falha na produção ou fabricação propriamente dita do produto implica que o processo seja defeituoso, ocorrendo uma falha na construção, montagem ou manipulação, levando ao surgimento de um defeito que pode acarretar danos ao consumidor. Estes levam à responsabilização do fabricante. Falha no acondicionamento A falha no acondicionamento consiste na ideia de que um produto mal acondicionado, como um alimento, por exemplo, pode causar danos graves à vida ou à saúde dos consumidores, caracterizando-se, pois, inequivocamente como um fato do produto. Falha de informação A falha de informação se caracteriza pela informação insuficiente ou inadequada sobre a utilização e os riscos do produto, fazendo com o que o consumidor, por não estar informado sobre como utilizar a coisa, ou sobre eventuais cautelas que precisa ter, sofra um acidente de consumo. Em quaisquer hipóteses, ocorrendo o dano material ou moral, responderão solidária e conjuntamente o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador. Então, poderá o consumidor responsabilizar qualquer um desses fornecedores, individual ou conjuntamente. Exclui- se dessa cadeia de responsabilização, no entanto, os intermediários, assim como o comerciante, e isso porque as falhas mencionadas estão diretamente atreladas ao processo produtivo, do qual o comerciante não tem o total conhecimento e controle. O comerciante, salvo nas hipóteses em que também for o fabricante do produto, não conhece os meandros e detalhes da fabricação, não tendo controle sobre o processo produtivo. Por essa razão, só pode ser responsabilizado excepcionalmente, nas hipóteses expressamente previstas no Código de Defesa do Consumidor, a saber: 1. quando o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados, ou quando o produto for fornecido sem identificação clara desses sujeitos, caso em que, para que se cumpra plenamente o direito do consumidor à integral reparação dos danos, deve-se permitir a responsabilização do comerciante, uma vez que, se ele não puder ser responsabilizado, e o fabricante não puder ser identificado, o consumidor não conseguirá se ressarcir; e 2. quando o próprio comerciante não conservar adequadamente um produto perecível, hipótese em que sua responsabilidade decorrerá de ato próprio seu, como no caso em que, por sua negligência, não coloca o alimento no refrigerador, levando ao seu apodrecimento que causou mal ao consumidor. Nesses casos, o comerciante responderá juntamente com o fabricante, caso o consumidor, mesmo diante das dificuldades de identificação, possa encontrá-lo. Há que se observar que em todos esses casos de responsabilidade dos fornecedores por danos que causem aos consumidores por defeito de segurança, esta será objetiva, isto é, sem a necessidade de prova da culpa ou do dolo do fornecedor. Isso significa que o consumidor não precisará provar, quando de eventual ação judicial indenizatória, que o fornecedor agiu com imperícia, imprudência ou negligência, ou mesmo que agiu intencionalmente para que o defeito existisse e acarretasse o dano. Assim, o fornecedor responsável só poderá afastar sua responsabilidade se provar que não fabricou o produto ou não o colocou no mercado; que não existe o defeito que levou ao acidente de consumo; ou que o acidente decorreu de um fato exclusivo de um terceiro ou do consumidor que, por exemplo, conectou o aparelho eletrônico em uma tomada que estava em curto- circuito, levando à explosão do produto. Fato do serviço O acidente de consumo por defeito de segurança do serviço pode decorrer de duas causas:  Falha na prestação do serviço  Falha de informação Com efeito, se o prestador de serviço o prestar inadequadamente, acarretando um acidente de consumo e causando danos ao consumidor, responderá por essa má-prestação. Exemplo O caso do cabelereiro que, ao cortar o cabelo do cliente, lhe decepa a orelha; ou do mecânico que substitui inadequadamente as pastilhas de freio do carro do cliente, causando um acidente. Tem-se, por outro lado, a falha na informação quando o prestador de serviços deixa de informar, ou informa insuficiente ou inadequadamente ao consumidor, dos riscos daquele serviço. Exemplo No caso da dedetização em que a dedetizadora não informa claramente quais cautelas o consumidor deve ter para não se intoxicar durante e após o serviço ser executado. Em todos esses exemplos, o prestador de serviço responderá objetivamente, isto é, independentemente de o consumidor provar que ele agiu com dolo ou culpa, restando ao fornecedor de serviços, para afastar a sua responsabilidade, provar que não existiu o defeito na prestação do serviço (ou seja, que ele foi prestado corretamente, inclusive no tocante à informação), ou que houve culpa exclusiva do próprio consumidor ou de terceiro. A exceção se dará nos casos de prestação de serviço por profissional liberal, como um marceneiro, um pintor, um eletricista ou um contador. Nessas hipóteses, a responsabilidade desses profissionais por fato do serviço depende da prova da culpa pelo consumidor, isto é, caberá ao consumidor provar que o profissional agiu com negligência, imperícia ou imprudência, ou intencionalmente para a ocorrência do acidente e, consequentemente, do dano. Responsabilidade pelo fato do produto ou serviço A seguir, o professor Thiago Neves fornece seus entendimentos acerca do assunto. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1  Na hipótese de fato do produto, cujo defeito provoque um acidente de consumo causando danos ao consumidor, poderá ser responsabilizado o: Parabéns! A alternativa C está correta. No caso de fato do produto, a regra é que a responsabilidade se limite aos integrantes da cadeia de produção e fabricação, excluindo-se o comerciante, na medida em que ele não participa da criação e fabricação do produto, não sabendo as suas falhas. Nada obstante, na hipótese de o fabricante não ser identificado ou não estar identificado claramente, responderá o comerciante juntamente com ele. Questão 2 Nos casos de vício oculto do produto: A Fabricante perfeitamente identificado e o comerciante. B Comerciante tão somente. C Fabricante sem a perfeita identificação e o comerciante. D Comerciante e o terceiro que sofreu o dano junto com o consumidor. E Fabricante perfeitamente identificado, comerciante e terceiro que sofreu dano junto com o consumidor. A O consumidor não pode reclamar, pois apenas os vícios aparentes obrigam o fornecedor a repará-los. Parabéns! A alternativa B está correta. O vício oculto é aquele não identificável imediatamente. Nesse caso, nasce para o consumidor o direito de reclamá-lo no momento do seu aparecimento, o que deverá ser feito no prazo de 30 ou 90 dias, se, respectivamente, o bem for não durável ou durável. Cumpre observar que o aparecimento do defeito, para viabilizar a exigência de reparo, deve ocorrer dentro do prazo de vida útil do bem, que não é determinado pela lei. B O consumidor poderá exigir o reparo a partir do momento do seu aparecimento, tendo um prazo de 30 ou 90 dias, após o surgimento do vício, para reclamar junto ao fornecedor, a depender se o bem for não durável ou durável. C O consumidor terá um prazo de até 10 anos, a partir da compra,