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Gestão de Tecnologia e Inovação para Engenharia Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Paulo Renato Pakes Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Luciene Oliveira da Costa Granadeiro Fontes de Inovação na Empresa • Introdução; • Fontes de Conhecimento para a Inovação; • Desenvolvimento Tecnológico Próprio; • Inovação Aberta e Inovação pelo Usuário; • Transferência de Tecnologia; • Conhecimento Tácito e Conhecimento Codificado; • Propriedade Intelectual; • Fontes de Inovação na Indústria Brasileira. • Apresentar conceitos sobre fontes de conhecimento para a inovação, desenvolvimen- to tecnológico, inovação aberta, transferência de tecnologia, conhecimento tácito e codifi cado, propriedade intelectual e fontes de inovação da indústria brasileira. OBJETIVO DE APRENDIZADO Fontes de Inovação na Empresa Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Fontes de Inovação na Empresa Introdução A literatura sobre inovação mostra que a tecnologia não é apenas exógena e nem totalmente endógena à empresa. Ou seja, o conhecimento da organização é estru- turado mediante diferentes fontes de tecnologia e de aprendizado, que podem ser de origem externa ou interna, e que são utilizadas pelas organizações para lançar novos produtos, melhorar processos, adotar novos métodos de gestão organizacional e aumentar a competitividade. Nesta unidade, iremos identificar as diversas fontes de tecnologia utilizadas pelas empresas, discutir suas características, oportunidades e limitações, bem como levantar seus impactos potenciais sobre a competitividade. Fontes de Conhecimento para a Inovação As fontes de inovação são geralmente classificadas segundo a origem da infor- mação e do conhecimento utilizado. As fontes internas se referem às atividades rea- lizadas dentro da organização que são explicitamente voltadas ao desenvolvimento de produtos e processos, inclusive aquelas voltadas à simples obtenção de melhorias incrementais por meio de programas de qualidade, treinamento de recursos huma- nos e aprendizado organizacional (TIGRE, 2014). Já as fontes externas se referem às atividades empresariais que envolvem a busca e aquisição de conhecimentos técnicos por meio de (OCDE, 2005): 1. aquisição de informações codificadas, a exemplo de manuais, software, livros e revistas técnicas, vídeos etc.; 2. contratação de consultorias especializadas; 3. obtenção de licenças de fabricação de produtos e processos; e 4. compra de tecnologias embutidas em máquinas e equipamentos. A seleção de diferentes fontes de tecnologia está associada às características da tecnologia em si, às escalas produtivas, às capacitações existentes e às estratégias adotadas pelas empresas. O Quadro 1 sumariza as principais fontes de tecnologia utilizadas nas empresas. Quadro 1 Fontes de Tecnologia Exemplos Desenvolvimento tecnológico próprio P&D, engenharia reversa, participação em redes de pesquisa. Contratos de transferência de tecnologia Licenças e patentes, contratos com universidades e centros de pesquisa. Tecnologia incorporada Máquinas, equipamentos e software embutido. Conhecimento codificado Livros, manuais, revistas técnicas, internet, feiras e exposições, software aplicativo, cursos e programas educacionais. 8 9 Fontes de Tecnologia Exemplos Conhecimento tácito Aprendizado cognitivo, contratação de RH experiente, consultores, informações de clientes e fornecedores, estágios e treinamento prático. Aprendizado cumulativo Processo de aprender fazendo, usando, interagindo, etc. devidamente documentado e difundido na empresa. Fonte: Tigre (2014) Desenvolvimento Tecnológico Próprio É possível dividir as atividades de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) em: pesquisa básica, em que o foco é o avanço científico; pesquisa aplicada, que visa à solução de problemas práticos; e desenvolvimento experimental, voltado à geração de produtos, serviços e processos. A pesquisa básica é geralmente de longo prazo e seus resulta- dos são incertos, sendo assim evitada pela grande maioria das empresas. Entretan- to, destaca-se que seus resultados podem proporcionar avanços tecnológicos para a sociedade em longo prazo, e por isso são geralmente assumidos por instituições de pesquisa sem fins lucrativos e financiadas pelo Estado (OCDE, 2005). Ao centrar seus esforços nas etapas finais do processo de inovação, as empresas procuram reduzir as incertezas das atividades de P&D. A pesquisa empresarial visa principalmente ao desenvolvimento de novos produtos, ao aperfeiçoamento de pro- dutos existentes, à melhoria de processos produtivos e à introdução de inovações organizacionais. Estima-se que, na fase de pesquisa aplicada, na qual um projeto básico é transformado em um produto comercial, os investimentos em tecnologia sejam até dez vezes maiores do que na fase de concepção básica. Isso ocorre por- que a transformação de uma planta piloto ou protótipo em processos e produtos comercializáveis requer atividades complexas, como adequação da ideia às neces- sidades do mercado, busca e seleção de fornecedores, definição de processos de fabricação, desenvolvimento da rede de serviços aos clientes, obtenção de licenças junto a órgãos governamentais, registro de marcas e patentes e outras medidas práticas essenciais para o sucesso do novo produto ao mercado (TIGRE, 2014). Nos países desenvolvidos, ao contrário do que ocorre em países em desenvolvi- mento, a maior parte das atividades de P&D é realizada por empresas. Ainda assim o Estado exerce um papel fundamental na expansão do conhecimento e da base científica necessária para que o setor produtivo desenvolva tecnologias aplicadas, principalmente por meio da montagem de infraestrutura, do financiamento e da concessão de incentivos fiscais para a inovação. Os projetos de P&D nas empresas podem ter origem tanto na área de vendas, através da identificação de novas demandas do mercado (demand pull), quanto nas áreas técnicas que buscam oportunidades tecnológicas para inovar (technology push). As empresas mais orientadas para o mercado, nas quais a área comercial tem maior peso nas decisões estratégicas, costumam correr menos riscos. As áreas 9 UNIDADE Fontes de Inovação na Empresade vendas costumam avaliar melhor as necessidades de seus clientes e o potencial do mercado nacional e internacional do que aquelas mais orientadas para tecnolo- gia. Por outro lado, empresas que vendem para mercados mais sofisticados e inten- sivos em tecnologia tendem a atribuir mais autonomia às áreas técnicas na definição de projetos de P&D e estão mais sujeitas às incertezas (FIGUEIREDO, 2011). Importante! O orçamento de P&D de uma empresa varia muito em função de sua estratégia tecno- lógica e do setor de atividades em que atua. As empresas que desenvolvem atividades formais de P&D são geralmente de grande porte, embora também existam pequenas empresas inovadoras, principalmente em novos segmentos industriais. Os esforços de P&D são geralmente medidos pelo percentual desses gastos em relação ao faturamento da empresa. Os setores de aeronáutica, farmacêutico e de microeletrônica costumam gastar mais de 10% de seu faturamento em atividades de P&D, enquanto setores menos dinâmicos tecnologicamente investem em média menos de 1%. Você Sabia? Um tipo particular de atividade de P&D realizada nas empresas é a engenharia reversa, uma fonte de tecnologia amplamente utilizada tanto em países desenvolvi- dos quanto nos países em desenvolvimento. Consiste na reprodução funcional de produtos e processos lançados originalmente por empresas inovadoras sem trans- ferência formal de tecnologia. A engenharia reversa é mais do que uma cópia, pois determinados componentes ou etapas de produção podem estar protegidos por pa- tentes ou segredo industrial. Para que a nova versão seja competitiva, é necessária capacitação tecnológica para compreender e modificar a tecnologia original, por meio do desenvolvimento de novas rotas, da substituição de componentes patente- ados e da solução de problemas de forma independente. Por fim, cabe apresentar também a formação de consórcios e redes de P&D, que tem sido uma tendência mundial diante da maior complexidade científica, da convergência tecnológica e dos altos custos das atividades de pesquisa. À medida que diferentes tecnologias convergem, a exemplo do que vem ocorrendo no cha- mado complexo eletrônico, nenhuma empresa consegue reunir internamente todas as competências necessárias para desenvolver novos produtos. Assim, precisam recorrer a alianças estratégicas para complementar suas competências e dividir os custos e riscos inerentes às inovações. A cooperação pode ocorrer tanto entre em- presas em uma determinada cadeia produtiva para desenvolver tecnologias comuns aos seus negócios como também entre empresas concorrentes, principalmente em soluções tecnológicas básicas típicas de uma fase pré-competitiva. Tradicionalmente, as empresas multinacionais concentram suas atividades de desenvolvimento tecnológico em suas matrizes e as subsidiárias mantêm pouca capacitação ou autonomia para inovar. Mais recentemente, entretanto, observa-se uma tendência das corporações globais de integrar subsidiárias em outros países no processo de geração de novas tecnologias. Isso se deve principalmente ao alto custo e à falta de disponibilidade de recursos humanos em grande escala, além da necessidade de adaptar produtos a mercados específicos (TIGRE, 2014). 10 11 Inovação Aberta e Inovação pelo Usuário Os custos crescentes de P&D, associados a ciclos de vida do produto cada vez mais curtos, têm levado algumas empresas a lançar programas de inovação aberta (open innovation) e inovação pelo usuário. O termo Open Innovation, em português, Inovação Aberta (IA), surgiu com o autor Chesbrough (2003). Em seu livro “Open Innovation: The New Imperative for Creating and Profiting from Technology”, o autor aborda os obstáculos para as empresas manterem-se inovadoras utilizando apenas seus recursos internos. Assim, Chesbrough (2003) expõe observações sobre a experiência de algumas empresas em utilizarem novas formas de gerar inovação tecnológica, diante disso, propõe um novo modelo de geração de inovação – o modelo Open Innovation. Autores como Dosi (1988), Freeman (1999), dentre outros, já destacavam a interação entre partes externas e os membros internos da empresa como forma de prospectar possibilidade de desenvolvimento de novos conhecimentos e inovação. O modelo IA, em definição mais recente de Chesbrough et al. (2014, p. 17), é caracterizado como “um processo de inovação distribuído com base em gestão de fluxos propositais de conhecimento através das fronteiras organizacionais, utilizan- do mecanismos pecuniários e não pecuniários em conformidade com o modelo de negócio da organização”. Contrapõe-se, portanto, à inovação fechada, que trata o P&D internamente, e passa a explorar as transferências de conhecimento através dos limites físicos das organizações (HUIZINGH, 2011). A figura 1 retrata o conceito clássico de funil de inovação de Chesbrough (2003), o qual divide o processo IA em três etapas principais: (a) projetos de pesquisa; (b) desenvolvimento; e (c) comercialização. Novos mercados Mercado atual Novos produtos/serviçosLimites da empresa Ciência e Tecnologia Projetos de pesquisas Pesquisa Desenvolvimento Comercialização Figura 1 – Funil de Inovação (Open Innovation) Fonte: Adaptado de Chesbrough, 2003 Na fase de pesquisa, as empresas buscam ideias, conceitos, parcerias e proje- tos de fontes tecnológicas e científicas. Esse modelo enfatiza o fato de que opor- tunidades externas têm de ser bem exploradas, permitindo o desenvolvimento da inovação através da exploração de tecnologias e recursos (CHESBROUGH, 2007). 11 UNIDADE Fontes de Inovação na Empresa Por sua vez, na etapa de desenvolvimento, novas oportunidades, parcerias e projetos podem surgir. Esse estágio funciona como um filtro para os projetos, que pode ser endereçado a mercados atuais ou novos e pode resultar em acordos de licenciamen- to, produtos e serviços projetos de desenvolvimento, iniciativas de transferência de tecnologia e de capital de risco. Por fim, na fase de comercialização, canais de negó- cios externos são explorados para gerar valor para a organização (OLIVEIRA, 2017). Sendo assim, compreende-se que a IA torna as fronteiras das empresas cada vez mais permeáveis aos ambientes que a circundam, favorecendo suas funções de ne- gócios e de gestão, minimizando a inércia organizacional e adaptabilidade ao meio ambiente, possibilitando, com isso, a criação de valor e vantagem competitiva para o negócio (HUANG et al., 2013). A Inovação Aberta parte dos seguintes pressupostos (TIGRE, 2014): 1. Por maiores que sejam as organizações de P&D, a maioria dos bons pro- fissionais da área está fora da empresa; 2. Fontes externas de tecnologia podem agregar valor ao negócio, o que não desobriga a empresa de ter um P&D forte; 3. Uma empresa não precisa ser inventora de uma tecnologia para comercializá-la; 4. Ser o primeiro a inovar não garante sucesso no mercado, pois o mais im- portante é ter um modelo de negócio; 5. Pode ser mais lucrativo licenciar para terceiros uma tecnologia desenvol- vida internamente, mas sem uso imediato, do que tentar explorá-la sem contar com uma estrutura comercial ou modelo de negócio apropriado. Importante! Redes de Inovação aberta incluem a prestação de serviços técnicos, a aquisição ou trans- ferência de tecnologia e o estabelecimento de alianças estratégicas e consórcios de pes- quisa. A pioneira nesse processo foi a Procter & Gamble, que mantém redes de coopera- ção em áreas relacionadas com sua ampla linha de produtos abrangendo embalagens, design, distribuição, modelos de negócios, modelos de marketing, métodos de pesquisa de mercado, licenciamento de marcas e pesquisa tecnológica em diferentes áreas. Em seus sites de relacionamento, a empresa lista suas demandas por inovação e oferece tec- nologias para terceiros. Você Sabia? Uma variante desse processo é a inovação pelo usuário, que parte da ideia de que muitos produtos e serviços são desenvolvidos ou aperfeiçoados por clientes duranteo processo de implementação e uso. Isso ocorre porque os produtos são originalmente desenvolvidos de forma genérica e, quando usuários individuais se defrontam com problemas particulares não compartilhados com outros usuários, eles precisam fazer modificações, ou mesmo desenvolver produtos inteiramente novos para atender suas necessidades. Frequentemente, usuários compartilham 12 13 suas ideias com fabricantes, levando-os a incorporá-las em seus produtos. Isso in- clui inovações na forma de usar um produto, na prestação de serviços associados, na configuração de tecnologias e no desenvolvimento de novas tecnologias propria- mente ditas (TIGRE, 2014). Transferência de Tecnologia O processo de transferência de tecnologia envolve diferentes formas de transmis- são de conhecimentos, incluindo contratos de assistência técnica, em que a empre- sa obtém ajuda externa para iniciar o processo produtivo, solucionar problemas ou lançar novos produtos, obtenção de licenças de fabricação, utilização de patentes e marcas registradas e a aquisição de serviços técnicos de engenharia (TIGRE, 2014). A comercialização de tecnologia via licenciamento é uma atividade mais interna- cional do que doméstica, já que as empresas procuram evitar o fomento de concor- rentes diretos nos mercados em que atuam. As empresas que obtêm licenças sem a necessária capacitação tecnológica buscam compensar a falta de competitividade por meio da obtenção de vantagens competitivas locacionais, menores custos de aluguéis e mão de obra, logística eficiente, acesso privilegiado a determinados mer- cados ou fontes exclusivas de matérias-primas e recursos minerais. Esses fatores podem compensar deficiências tecnológicas, garantindo a sobrevivência de peque- nas indústrias regionais. A compra de uma tecnologia mais avançada permite que a empresa inove em processos ou produtos. Porém, não havendo um esforço próprio para adaptar e aperfeiçoar a tecnologia adquirida, o ganho de eficiência é de “uma vez só”, sem produzir efeitos dinâmicos na produtividade. Uma tecnologia não permanece es- tável ao longo do tempo e, por isso, o licenciamento precisa vir acompanhado de um esforço interno para absorvê-la e aperfeiçoá-la, visando garantir sua evolução. Na maioria dos casos, é necessário adaptar a tecnologia adquirida às condições locais em termos de disponibilidade e custos de fatores de produção, necessidades dos clientes, escala produtiva e cultura organizacional. A disponibilidade interna de recursos humanos qualificados para conduzir programas de qualidade, introduzir melhorias contínuas e adaptar seus produtos e processos às mutantes necessidades da demanda é fundamental para promover uma efetiva transferência de tecnologia. Importante! As universidades e os centros de pesquisa representam uma fonte de tecnologia na qual o conhecimento gerado não tem necessariamente o objetivo comercial. As relações universidade-empresa vêm crescendo, mas esbarram em diferentes práticas e vocações institucionais que dificultam a cooperação. Você Sabia? 13 UNIDADE Fontes de Inovação na Empresa Conhecimento Tácito e Conhecimento Codificado A natureza do conhecimento utilizado em atividades econômicas é usualmente dividida em codificada e tácita. O conhecimento codificado é apresentado sob a forma de informação, por meio de manuais, livros, revistas técnicas, software, fórmulas matemáticas, documentos de patentes, bancos de dados etc. A codifi- cação permite que o conhecimento seja transmitido, manipulado, armazenado e reproduzido. Já o conhecimento tácito envolve habilidades e experiências pesso- ais ou de grupo, apresentando um caráter mais subjetivo. Tal conhecimento difi- cilmente é passível de transmissão objetiva e, portanto, não pode ser facilmente transformado em informação. O conhecimento tácito permite a diferenciação da capacitação entre diferentes empresas, pois constitui uma vantagem competitiva única. A forma mais comum de se adquirir conhecimento tácito é através da ges- tão do conhecimento, da acumulação de experiência e da contratação de consul- tores e profissionais de outras empresas (FIGUEIREDO, 2011). O conhecimento codificado é mais fácil de transferir, mas sua rápida evolução limita seus benefícios para quem não adquire a capacitação necessária para aprender a deco- dificar o conhecimento. A codificação cria a possibilidade de transformar informação em mercadoria, mas seu valor será muito limitado para aqueles que não têm a capacitação necessária para compreender e utilizar produtivamente o conhecimento (TIGRE, 2014). Propriedade Intelectual O valor de uma determinada tecnologia geralmente depende das condições de apropriabilidade, ou seja, da possibilidade de o inventor ou inovador manter exclu- sividade sobre a tecnologia por um determinado período de tempo. Tal controle é geralmente exercido através da propriedade intelectual sobre bens imateriais, por meio de patentes. Em alguns casos, a tecnologia não é patenteável, e a proteção é mantida por segredo industrial. Uma tecnologia facilmente imitável leva os rendi- mentos monopolistas de uma inovação a quase zero (TIGRE, 2014). A propriedade intelectual (PI) é essencialmente um direito outorgado pelo Estado por meio de leis específicas, por um prazo determinado, e que permite ao seu detentor excluir terceiros de sua comercialização. A PI abrange a propriedade industrial, copyrights e domínios conexos. A propriedade industrial é o regime de proteção conferido às invenções, modelos de utilidade, desenhos industriais, mar- cas e denominações de origem (TIGRE, 2014). Uma patente de invenção é concedida no caso de o objeto possuir os requisitos de novidade, atividade inventiva e aplicação industrial, levando em consideração não apenas a ideia tal como foi expressa, mas sua aplicação prática. 14 15 O modelo de utilidade se refere mais a um detalhe de funcionamento, ou de uti- lização, do que, propriamente, de estética ou configuração. Trata-se de um disposi- tivo ou forma nova conferida a um objeto conhecido visando aumentar ou facilitar sua capacidade de utilização. Por exemplo, uma nova engrenagem em um isqueiro ou um novo dispositivo para abertura de uma lata constitui um modelo de utilidade passível de ser patenteado. O desenho industrial (design) é um bem material que se exterioriza pela for- ma ou pela disposição de linhas e cores de um objeto suscetível de utilização. A diferenciação do produto através de design exclusivo é muito importante para a competitividade de indústrias de bens de consumo e produtos embalados para o usuário final. Os produtos precisam ser constantemente redesenhados de forma a incorporar um visual mais atualizado, seguindo tendências culturais, novos padrões estéticos, mudanças de hábitos do consumidor, uso de novos materiais e compo- nentes que ganham a preferência do mercado. O design original é passível de ser protegido pelas leis de propriedade industrial. As marcas registradas conferem uma identidade ao produto, permitindo sua identificação pelo consumidor. Desenvolver uma marca forte requer grandes inves- timentos em propaganda e marketing, mas pode ser uma boa alternativa para fugir da competição por preços, típica dos produtos sem uma identidade marcante. Por fim, o direito autoral é o regime de proteção conferido especificamente a cria- ções literárias, artísticas e científicas. O registro de direito de autor de uma obra original confere o direito exclusivo de utilizar, fruir e dispor da obra, ou seja, de impedir que terceiros copiem o que foi criado. Importante! A propriedade intelectual é regida por vários acordos internacionais, desenvolvidos a partir da Convenção da União de Paris e da Convenção de Berna, ambas de 1883. Atualmente, o acordo internacional mais importante é o Trade Related Aspextos of Intellectual Rights Including Trade in Counterfeit Goods (TRIPS), criado em 1994 pela Organização Mundial de Comércio. Você Sabia? Fontes de Inovação naIndústria Brasileira O estudo do comportamento inovador da empresa brasileira nos ajuda a enten- der o processo de desenvolvimento industrial do país. A literatura internacional está focada essencialmente na experiência dos países avançados nos quais as atividades de P&D constituem a principal fonte de aquisição de tecnologia. Já no Brasil, as tendências apontadas nas últimas versões da Pesquisa de Inovação Tecnológica do IBGE (PINTEC) indicam que a expensão das atividades inovativas tem se dado com base em outras fontes de tecnologia. No Brasil, a aquisição de 15 UNIDADE Fontes de Inovação na Empresa máquinas e equipamentos, a realização de treinamentos e de projetos industriais tem sido as atividades inovativas mais relevantes. Por outro lado, as atividades internas de P&D vêm perdendo importância. O Gráfico 1 apresenta o grau de importância atribuída para as atividades inovativas pelas empresas que responde- ram à última PINTEC (IBGE, 2016). Figura 2 – Importância relativa das atividades inovativas para a realização de inovações Fonte: IBGE, 2016 Assim como no período anterior (de 2009 a 2011), verificou-se no intervalo 2012-2014 um padrão baseado no acesso ao conhecimento tecnológico através da incorporação de máquinas e equipamentos, que figura como a atividade considera- da de importância alta ou média para 72,5% das empresas inovadoras pertencentes ao âmbito da pesquisa, seguida da atividade, frequentemente complementar, de treinamento (62,3%) e da aquisição de software (33,8%). No período de referência anterior (2009-2011), essa participação foi de 73,5% para aquisição de máquinas e equipamentos, 59,5% para treinamento e 33,2% para aquisição de software. 16 17 Apesar de atribuir menor importância relativa às atividades de P&D, o cruza- mento com dados factuais da PINTEC revela que as empresas brasileiras estão inovando mais: no período 2012 a 2014, do universo de 132.529 empresas com 10 ou mais pessoas ocupadas, 47.693 implementaram produtos ou processos no- vos ou significativamente aprimorados, perfazendo uma taxa geral de inovação de 36,0%. Houve uma diferença foi de 0,3 ponto percentual acima do verificado no triênio 2009-2011, quando então a taxa havia sido de 35,7%. O principal objetivo dos esforços tecnológicos das empresas brasileiras é acom- panhar a dinâmica competitiva, por meio do lançamento de novos produtos, assim como pela adaptação de produtos existentes às necessidades do mercado, aos pa- drões mais rígidos de qualidade e maior aderência a normas técnicas internacionais. Já a demanda por tecnologias de processos e mudanças organizacionais reflete a necessidade de reduzir custos de produção, de buscar soluções para problemas am- bientais, e promover o aumento da produtividade do trabalho. Importante! O registro de propriedade intelectual vem perdendo importância relativa no país, pois apenas 7,2% das empresas que inovaram depositaram pedidos de patentes em 2008. Tal tendência sugere que políticas de estímulo à disseminação das fontes abertas de conhecimento podem constituir alternativas mais promissoras para o desenvolvimento tecnológico do que restringir a circulação de inovações por meio da concessão de direitos de propriedade intelectual. Você Sabia? 17 UNIDADE Fontes de Inovação na Empresa Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Interdisciplinaridade em Ciência, Tecnologia e Inovação PHILIPPI JUNIOR, A.; NETO, A. J. S. Interdisciplinaridade em Ciência, Tecnologia e Inovação. São Paulo: Manole, 2010. (e-book) Gestão da inovação e do conhecimento POSSOLI, G. E. Gestão da inovação e do conhecimento. InterSaberes: São Paulo, 2012. 172 p. (e-book) Inovação em produtos e serviços PAIXÃO, M. V. Inovação em produtos e serviços. InterSaberes: São Paulo, 2014. 184 p. (e-book) Leitura Manual de Oslo OCDE. Manual de Oslo. https://bit.ly/2n8EOK6 18 19 Referências CHESBROUGH, H. W.; BOGERS, M. Explicating open innovation: clarifying na emerging paradigm for understanding innovation. New Frontiers in Open Innovation. Oxford: Oxford University Press, Forthcoming, pp. 3-28, 2014. CHESBROUGH, H. Open innovation: The new imperative for creating and profiting from technology. Harvard Business Press, 2003. CHESBROUGH, H. Business model innovation: it’s not just about technology anymore. Strategy & leadership, v. 35, n. 6, p. 12-17, 2007. DOSI, G. Sources, procedures, and microeconomic effects of innovation. Journal of economic literature, pp. 1120-1171, 1988. FIGUEIREDO, P. N. Gestão da Inovação: Conceitos, métricas e experiências de empresas no Brasil. Rio de Janeiro: LTC, 2011. HUIZINGH, E. K. Open innovation: State of the art and future perspectives. Technovation, v. 31, n. 1, p. 2-9, 2011. INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Pesquisa de Inovação Tecnológica – PINTEC. 2014. Disponível em: <https://biblioteca.ibge.gov.br/vi- sualizacao/livros/liv99007.pdf>. Acesso em jun. 2019. OLIVEIRA, L. S. et al. Analysis of determinants for Open Innovation implementation in Regional Innovation Systems. RAI Revista de Administração e Inovação, v. 14, n. 2, pp. 119-129, 2017. OCDE. Manual de Oslo. 3. ed. FINEP/OECD, 2005. TIGRE, P. B. Gestão da Inovação: A economia da tecnologia no Brasil. 2. ed. Elsevier: Rio de Janeiro, 2014. 275 p. 19