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A IMPORTÂNCIA DA LUDICIDADE NA EDUCAÇÃO ESPECIAL INCLUSIVA1 Marina Aparecida Tavares de Oliveira2 Declaro que o trabalho apresentado é de minha autoria, não contendo plágios ou citações não referenciadas. Informo que, caso o trabalho seja reprovado por conter plágio pagarei uma taxa no valor de R$ 199,00 para a nova correção. Caso o trabalho seja reprovado não poderei pedir dispensa, conforme Cláusula 2.6 do Contrato de Prestação de Serviços (referente aos cursos de pós-graduação lato sensu, com exceção à Engenharia de Segurança do Trabalho. Em cursos de Complementação Pedagógica e Segunda Licenciatura a apresentação do Trabalho de Conclusão de Curso é obrigatória). RESUMO Na vida de cada criança, brincar é um componente essencial. Quando adequadamente concebidas, estas atividades podem ter um impacto positivo nos alunos inclusivos. No entanto, o processo de inclusão apresenta uma infinidade de desafios no ambiente escolar. Durante a fase de adaptação na escola, o apego emocional do aluno a jogos, brinquedos e atividades pode facilitar essa transição. Além disso, construir um bom relacionamento entre o aluno inclusivo e o seu professor de apoio é crucial para promover a lealdade à escola e facilitar a socialização com os pares. Brincar também pode ter um impacto positivo no comportamento da criança durante a sua exposição inicial ao ambiente escolar. A inclusão de alunos em salas de recursos ou com professores de apoio coloca diversos desafios aos educadores. Esse tema é de grande importância tanto no sistema regular de ensino quanto no desenvolvimento das habilidades motoras, cognitivas e afetivas das crianças crucial estabelecer uma conexão emocional diária e promover a autoconfiança com todas as crianças. O objetivo deste exame é explorar a importância da brincadeira na promoção da inclusão das crianças nas escolas regulares e os obstáculos que podem surgir. Para atingir esse objetivo, foi empregada uma abordagem bibliográfica, contando com o conhecimento de especialistas na área. Artigos e livros relevantes foram examinados para compreender o assunto, o que é indispensável para fornecer uma interpretação subjetiva e criteriosa desta questão. Palavras-chave: Brincar, inclusão, escola, educação inclusiva. ABSTRACT In every child's life, play is an essential component. When properly designed, these activities can have a positive impact on inclusive learners. However, the inclusion process presents a multitude of challenges in the school environment. During the adjustment phase at school, the student's emotional attachment to games, toys, and activities can facilitate this transition. Additionally, building a good relationship between the inclusive student and their supportive teacher is crucial for fostering loyalty to the school and facilitating socialization with peers. Play can also have a positive impact on a child's behaviour during their initial exposure to the school environment. Including students in resource rooms or with support teachers poses several challenges for educators. This topic is of great importance both in the regular education system and in the development of children's motor, cognitive and affective skills, crucial to establish a daily emotional connection and promote self confidence with all children. The aim of this exam is to explore the importance of play in promoting the inclusion of children in mainstream schools and the obstacles that may arise. To achieve this goal, a bibliographic approach was employed, relying on the knowledge of specialists in the field. Relevant articles and books have been examined to understand the subject, which is indispensable to provide a subjective and judicious interpretation of this issue. Keywords: Play, inclusion, school, inclusive education 1 Artigo científico apresentado ao Grupo Educacional IBRA como requisito para a aprovação na disciplina de TCC. 10 2 Discente do curso Profop-2 L-educação especial-fibmg 1 INTRODUÇÃO A presente pesquisa tem como objetivo compreender o valor do lúdico no processo de inclusão de crianças na escola regular, analisando-o como um recurso pedagógico essencial para o desenvolvimento cognitivo, social e emocional dos estudantes com necessidades educacionais especiais (NEE). A ludicidade, quando utilizada de forma intencional, possibilita que a aprendizagem se torne significativa, pois permite que o aluno expresse suas emoções, explore o meio e construa conhecimentos de forma prazerosa e dinâmica (BROUGÈRE, 2004; KISHIMOTO, 1994). A justificativa deste estudo está vinculada à necessidade de fortalecer práticas pedagógicas que respeitem as singularidades de cada estudante. Brincadeiras, jogos e atividades lúdicas podem potencializar a socialização e a aprendizagem, assegurando que crianças com deficiência ou transtornos do desenvolvimento sejam inseridas de forma efetiva no contexto escolar. Como afirmam Corrêa do Natal et al. (2023), a ludicidade estimula a autonomia, a criatividade e a empatia, elementos centrais para uma inclusão consolidada. Outro ponto relevante é que, embora existam avanços nas políticas públicas de inclusão, ainda persistem desafios relacionados à formação docente, à escassez de materiais adaptados e à resistência em lidar com a diversidade (VIEIRA, 2022). Isso evidencia a urgência de desenvolver metodologias inovadoras que utilizem o lúdico como mediador entre teoria e prática, promovendo um ambiente educacional inclusivo e equitativo. Nesse sentido, surge a seguinte questão norteadora: quais benefícios a ludicidade pode oferecer aos estudantes com necessidades educacionais especiais no ambiente escolar? Para responder a essa indagação, foram traçados os seguintes objetivos: • Objetivo geral: analisar a importância da ludicidade no processo de inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais. • Objetivos específicos: • Explicar os conceitos de ludicidade, educação especial e escola inclusiva; • Compreender como o lúdico pode ser utilizado como prática pedagógica no ensino de alunos com NEE; • Refletir sobre o papel do professor como mediador na utilização de recursos lúdicos. Metodologicamente, trata-se de uma pesquisa bibliográfica, desenvolvida a partir da análise de autores clássicos e contemporâneos que discutem a ludicidade, a educação especial e a inclusão escolar (PIAGET, 1975; VYGOTSKY, 1998; BRASIL, 1996; VIEIRA, 2022; CORRÊA DO NATAL et al., 2023). Optou-se por esse método por possibilitar uma análise crítica e comparativa das contribuições teóricas já consolidadas, permitindo identificar convergências e lacunas no debate. Assim, o estudo pretende demonstrar que a ludicidade é um instrumento capaz de transformar a escola em um espaço acolhedor, participativo e justo, assegurando a todos os alunos o direito a uma aprendizagem significativa. A relevância desta pesquisa está na possibilidade de subsidiar educadores, psicopedagogos e gestores escolares com estratégias efetivas, reforçando práticas pedagógicas inclusivas e fortalecendo a formação cidadã. Além disso, é importante ressaltar que o brincar é um direito assegurado às crianças pela Convenção sobre os Direitos da Criança (ONU, 1989) e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que reconhecem o lúdico como parte essencial do desenvolvimento humano. No contexto educacional inclusivo, esse direito assume caráter ainda mais significativo, pois possibilita que crianças com diferentes habilidades participem de forma equitativa das experiências escolares, fortalecendo vínculos e construindo aprendizagens compartilhadas. Nesse sentido, a ludicidade deve ser entendida como um princípio pedagógico e não apenas como estratégia auxiliar. Para Huizinga (2001), o jogo é um fenômeno cultural universal, presente em todas as sociedades, sendo parte constitutiva da experiência humana. Quando integrado ao processo educativo, transforma-se em elemento de mediação, capaz de aproximar teoria e prática, razão e emoção, indivíduo e coletivo. Assim, a escola, ao incorporar o brincar de maneiraintencional e planejada, amplia as oportunidades de aprendizagem e inclusão. A pesquisa também se justifica pela necessidade de sensibilizar e capacitar professores para utilizarem recursos lúdicos no ensino. Muitos educadores, embora reconheçam a importância do brincar, ainda encontram dificuldades em implementar atividades inclusivas por falta de formação ou pela carência de materiais pedagógicos adaptados (Mantoan, 2003). Dessa forma, refletir sobre o papel do professor mediador é crucial, uma vez que este atua como facilitador das interações e promotor da participação de todos os alunos, independentemente de suas condições. Outro aspecto relevante refere-se ao impacto social da ludicidade. Ao promover experiências de cooperação, respeito e empatia, os jogos e brincadeiras contribuem para combater o preconceito e as barreiras atitudinais ainda presentes no espaço escolar. Desse modo, o lúdico ultrapassa o campo estritamente pedagógico e se constitui como prática humanizadora, fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva. Assim, a presente investigação pretende contribuir com o debate acadêmico e pedagógico sobre a importância da ludicidade na educação especial inclusiva, apresentando reflexões que possam subsidiar a prática docente, fortalecer as políticas públicas educacionais e oferecer novas perspectivas de atuação escolar. Ao valorizar o brincar como ferramenta de ensino e inclusão, este estudo busca reafirmar a escola como espaço de todos e para todos, comprometida com a diversidade e com a formação cidadã. 2 DESENVOLVIMENTO 2.1 A ludicidade no processo educacional A ludicidade ocupa lugar central no desenvolvimento humano, especialmente na infância, sendo considerada elemento essencial para a aprendizagem. Piaget (1975) destaca que o jogo é uma das principais formas de assimilação da realidade, uma vez que permite à criança reconstruir simbolicamente suas experiências, experimentando e ressignificando o mundo à sua volta. Para o autor, brincar não é apenas passatempo, mas um modo de estruturar o pensamento e desenvolver habilidades cognitivas fundamentais. Brougère (2004) complementa que o lúdico deve ser entendido como fenômeno cultural e social, que se manifesta por meio de práticas coletivas e individuais. Assim, quando introduzido no ambiente escolar, o brincar possibilita a construção de vínculos, a troca de experiências e o desenvolvimento da autonomia. Kishimoto (1994), por sua vez, reforça a ideia de que os jogos e brinquedos podem ser usados como recursos pedagógicos que estimulam a imaginação, a criatividade e a capacidade de resolução de problemas. Na Educação Especial Inclusiva, a ludicidade tem papel ainda mais relevante, pois promove não apenas a aprendizagem formal, mas também a socialização, a autoestima e a valorização das diferenças. Segundo Vygotsky (1998), a brincadeira favorece a criação de uma “zona de desenvolvimento proximal”, isto é, um espaço no qual a criança consegue realizar atividades mais complexas com o auxílio de colegas e professores. Dessa forma, o lúdico se constitui como ponte entre o nível real de desenvolvimento do estudante e seu potencial de crescimento. 2.2 Educação especial e escola inclusiva: fundamentos e desafios A legislação brasileira, especialmente a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996) e a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), assegura o direito de todas as crianças à educação em escolas regulares. No entanto, Vieira (2022) aponta que, apesar dos avanços, a inclusão ainda enfrenta entraves relacionados à falta de infraestrutura, carência de materiais pedagógicos adaptados e insuficiente formação dos professores para lidar com a diversidade. A escola inclusiva pressupõe a reorganização do espaço escolar, de forma a atender às necessidades de cada estudante, respeitando suas singularidades. Nessa perspectiva, a ludicidade surge como instrumento fundamental, pois facilita a construção de vínculos afetivos, promove a interação entre alunos com e sem deficiência e possibilita o acesso ao currículo de maneira mais dinâmica e significativa (CORRÊA DO NATAL et al., 2023). Assim, o lúdico não deve ser visto como algo acessório, mas como estratégia pedagógica que integra ensino e inclusão. 2.3 O lúdico como estratégia pedagógica de inclusão A utilização de jogos, brincadeiras e atividades lúdicas na escola regular possibilita o desenvolvimento integral dos alunos, contemplando aspectos cognitivos, motores, sociais e emocionais. Segundo Kishimoto (1994), o jogo é uma forma de linguagem que ajuda a criança a compreender o mundo, expressar sentimentos e elaborar hipóteses. No contexto inclusivo, essa linguagem se mostra ainda mais necessária, pois possibilita a participação ativa de alunos que, em muitos casos, encontram barreiras para se expressar por meios tradicionais de ensino. Piaget (1975) defende que o jogo estimula a inteligência ao provocar situações de conflito cognitivo que levam o sujeito a buscar soluções criativas. Para os estudantes com NEE, essas situações podem se traduzir em oportunidades de superação de limitações e de desenvolvimento de novas habilidades. Além disso, as atividades lúdicas permitem a personalização do ensino, uma vez que podem ser adaptadas de acordo com as necessidades de cada aluno, tornando a aprendizagem mais equitativa. Na prática escolar, isso pode se concretizar em atividades como dramatizações, músicas, histórias infantis, jogos de tabuleiro adaptados, dinâmicas em grupo e recursos digitais acessíveis. Corrêa do Natal et al. (2023) destacam que, quando o lúdico é intencionalmente planejado, promove a autonomia, a cooperação e a empatia, valores fundamentais para a construção de um ambiente verdadeiramente inclusivo. 2.4 O papel do professor mediador O professor desempenha papel essencial na aplicação da ludicidade em contextos inclusivos. Para Vygotsky (1998), o docente atua como mediador, criando oportunidades para que a criança avance de seu nível de desenvolvimento real para o potencial. Isso implica que o professor deve organizar atividades lúdicas de forma a favorecer a participação de todos, garantindo que as diferenças sejam valorizadas como parte do processo educativo. Entretanto, como aponta Vieira (2022), muitos educadores ainda não possuem formação suficiente para trabalhar com práticas inclusivas, o que compromete a qualidade da aprendizagem. A sobrecarga de trabalho, a falta de recursos materiais e a resistência a mudanças metodológicas também dificultam a inserção efetiva da ludicidade no cotidiano escolar. Por isso, a formação inicial e continuada dos professores precisa incluir reflexões e experiências sobre o uso de jogos, brincadeiras e recursos lúdicos como ferramentas pedagógicas inclusivas. 2.5 Desafios e possibilidades da ludicidade na inclusão escolar Os principais desafios para a implementação da ludicidade em ambientes inclusivos são: Escassez de recursos adaptados: muitas escolas carecem de materiais pedagógicos acessíveis, como jogos em braile ou softwares inclusivos. Formação docente limitada: professores muitas vezes não recebem preparo adequado para aplicar metodologias lúdicas inclusivas. Preconceito e resistência: a visão estigmatizada sobre a deficiência ainda é uma barreira à participação plena dos alunos. Falta de tempo pedagógico: a pressão por resultados imediatos pode levar à desvalorização de práticas lúdicas. Apesar dessas barreiras, as possibilidades são amplas. Quando bem aplicadas, as atividades lúdicas favorecem o desenvolvimento de competências socioemocionais, cognitivas e motoras, estimulam a socialização entre pares e fortalecem o vínculo entre professores e alunos. Mais do que uma metodologia, a ludicidade deve ser entendida como filosofia de ensino, capaz de transformar a escola em espaço inclusivo, criativo e democrático (BROUGÈRE, 2004; CORRÊA DO NATAL et al., 2023). 2.6 A ludicidade na perspectiva das famílias Um aspecto muitas vezes negligenciadoé a participação das famílias no processo de inclusão. Pais e responsáveis, quando envolvidos, podem contribuir para potencializar os efeitos das práticas lúdicas. Brincadeiras em casa, jogos de interação familiar e atividades recreativas comunitárias reforçam o que foi trabalhado na escola. Segundo Almeida (2007), a família é o primeiro espaço de socialização da criança, e sua colaboração é fundamental para o desenvolvimento integral. No contexto inclusivo, essa parceria fortalece o vínculo entre escola e comunidade, permitindo maior compreensão das necessidades do aluno. Além disso, o diálogo entre professores e famílias pode resultar em adaptações mais eficazes, visto que os responsáveis conhecem de perto as potencialidades e dificuldades da criança. Assim, a ludicidade se estende para além da sala de aula, configurando-se como elemento central da vida cotidiana do estudante. 2.7 Experiências práticas em escolas de Minas Gerais No cenário educacional mineiro, algumas iniciativas já vêm demonstrando a força da ludicidade para promover inclusão. A Escola Estadual Professora Paulina de Melo Porto, em Patos de Minas, por exemplo, desenvolveu em 2025 um projeto interdisciplinar que utilizou jogos digitais, contação de histórias e atividades motoras adaptadas como estratégia para integrar alunos com deficiência e transtornos do espectro autista (ALMEIDA et al., 2025). Os resultados mostraram que a participação dos estudantes aumentou, houve melhoria na socialização e maior interesse nas atividades escolares. Professores relataram que o uso de dramatizações, músicas e desenhos coletivos ajudou a reduzir barreiras atitudinais e incentivou a cooperação entre alunos com e sem deficiência. Tais experiências reforçam que a ludicidade, quando bem planejada, pode se tornar prática pedagógica transformadora, aproximando a escola da realidade de seus alunos e efetivando o direito à inclusão. 2.8 Ludicidade e tecnologias digitais inclusivas Nos últimos anos, as tecnologias digitais se consolidaram como ferramentas pedagógicas fundamentais, inclusive no campo da inclusão escolar. Softwares educativos, aplicativos interativos e jogos digitais acessíveis permitem que alunos com NEE participem de atividades personalizadas, ampliando seu engajamento e favorecendo a autonomia. Segundo Lima e Mioto (2007), os recursos tecnológicos, quando associados a metodologias lúdicas, podem criar ambientes de aprendizagem mais atrativos e interativos. Tablets, por exemplo, podem ser usados para jogos de memória adaptados; computadores com leitores de tela possibilitam o acesso de alunos com deficiência visual a conteúdos multimídia; e aplicativos com tradução em Libras favorecem a comunicação de estudantes surdos. Além disso, a gamificação — uso de elementos de jogos em contextos educativos — tem se mostrado promissora para motivar estudantes, pois transforma tarefas em desafios e premiações. Corrêa do Natal et al. (2023) destacam que a ludicidade digital, quando planejada, amplia as oportunidades de aprendizagem e reduz barreiras de acesso ao currículo. 2.9 Ludicidade e desenvolvimento socioemocional Outro aspecto essencial é o impacto da ludicidade no desenvolvimento socioemocional dos alunos. Brincadeiras cooperativas, dramatizações e dinâmicas de grupo contribuem para fortalecer valores como solidariedade, respeito e empatia. Almeida (2007) enfatiza que as interações sociais em situações lúdicas permitem à criança aprender a lidar com frustrações, desenvolver resiliência e aprimorar a capacidade de se colocar no lugar do outro. Isso é particularmente importante em ambientes inclusivos, nos quais o convívio com a diversidade pode gerar situações de preconceito ou exclusão. Assim, ao criar experiências lúdicas que envolvem todos os estudantes, o professor promove a construção de vínculos positivos, fortalece a autoestima e combate as barreiras atitudinais que ainda persistem no ambiente escolar. 2.10 A ludicidade no contexto das políticas públicas educacionais A inserção do lúdico como prática pedagógica inclusiva também precisa ser entendida à luz das políticas públicas. A legislação brasileira já reconhece o direito à educação inclusiva (BRASIL, 1996; BRASIL, 2008), mas pouco explicita sobre o uso de metodologias lúdicas. A Declaração de Salamanca (1994) reforça que a inclusão deve ser assegurada não apenas pela matrícula, mas também por práticas pedagógicas significativas. Nesse sentido, a ludicidade representa uma estratégia capaz de materializar o princípio da equidade. Mantoan (2003) defende que a escola inclusiva precisa romper com modelos tradicionais e adotar metodologias inovadoras que garantam a participação de todos. O brincar, nesse contexto, é elemento capaz de aproximar teoria e prática, rompendo com a lógica do ensino meramente conteudista. Portanto, pensar a ludicidade como direito educacional é fundamental para que políticas públicas contemplem de forma efetiva a diversidade de estudantes brasileiros. 2.11 A ludicidade na perspectiva interdisciplinar Outro ponto de destaque é a possibilidade de integrar a ludicidade às diferentes áreas do conhecimento. Em aulas de Matemática, jogos de tabuleiro e desafios podem estimular o raciocínio lógico; em Ciências, experimentos lúdicos aproximam teoria da prática; em Língua Portuguesa, dramatizações e contação de histórias desenvolvem linguagem e expressão. Huizinga (2001) lembra que o jogo é um fenômeno cultural universal, que atravessa todas as dimensões da vida humana. Assim, sua presença no currículo escolar não deve se restringir às séries iniciais ou à Educação Infantil, mas também ser valorizada nos anos finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio. Ao assumir caráter interdisciplinar, o lúdico deixa de ser uma prática isolada e se transforma em eixo integrador de experiências educativas, promovendo aprendizagens significativas em diferentes contextos. 2.12 A ludicidade como prática de inclusão social Por fim, é importante destacar que a ludicidade não contribui apenas para a inclusão escolar, mas também para a inclusão social. Brincadeiras coletivas, jogos cooperativos e projetos comunitários permitem que alunos com deficiência participem ativamente de atividades culturais, esportivas e de lazer, ampliando sua integração na sociedade. Freire (2009) lembra que a educação é ato político e que todo processo de ensino deve estar comprometido com a transformação social. Nesse sentido, a ludicidade é uma prática emancipatória, pois promove a vivência da cidadania e da diversidade. A escola, ao valorizar o brincar, fortalece não apenas a aprendizagem, mas também a construção de uma sociedade mais justa, solidária e democrática. 3 CONCLUSÃO A presente pesquisa teve como finalidade analisar a importância da ludicidade no processo de inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais (NEE) em escolas regulares. A partir da revisão bibliográfica e da análise de experiências práticas, verificou-se que o brincar, os jogos e as atividades lúdicas constituem recursos pedagógicos fundamentais, capazes de favorecer o desenvolvimento cognitivo, social, motor e emocional das crianças. Os objetivos propostos foram atingidos: inicialmente, discutiram-se os conceitos de ludicidade, educação especial e escola inclusiva; em seguida, analisou-se de que forma os recursos lúdicos podem ser utilizados como prática pedagógica no ensino de alunos com NEE; por fim, refletiu-se sobre o papel do professor mediador e sobre os desafios e possibilidades do uso do lúdico. Constatou-se que a ludicidade amplia as possibilidades de ensino, estimula a socialização entre pares e contribui para a construção de uma escola mais inclusiva e equitativa. Entretanto, os resultados também evidenciam desafios persistentes, como a falta de formação continuada para os professores, a escassez de materiais adaptados e as barreiras atitudinais presentes no espaço escolar. Tais fatores comprometem a efetividade da inclusão e reforçam a necessidade de investimentos em políticas públicas consistentesque assegurem condições reais de aprendizagem para todos os estudantes. Nesse contexto, conclui-se que a ludicidade não deve ser vista como mera atividade recreativa ou como prática acessória ao currículo escolar, mas sim como princípio pedagógico essencial. O brincar é direito da criança, previsto em documentos legais como a Convenção sobre os Direitos da Criança (ONU, 1989) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Negar o acesso ao lúdico é, portanto, restringir oportunidades de desenvolvimento e de cidadania. Do ponto de vista pedagógico, o estudo reforça a necessidade de que os professores assumam papel ativo como mediadores da aprendizagem, planejando atividades lúdicas de forma intencional, acessível e inclusiva. Isso implica não apenas conhecer diferentes recursos e metodologias, mas também ter sensibilidade para adaptar práticas ao perfil de cada turma e de cada estudante. Do ponto de vista social, a ludicidade tem impacto direto na construção de valores como respeito, cooperação e empatia. Jogos coletivos, atividades artísticas e projetos interdisciplinares contribuem para combater o preconceito e promover uma cultura escolar mais democrática e humanizadora. Assim, ao valorizar o brincar, a escola também contribui para a formação de cidadãos críticos, solidários e capazes de conviver com a diversidade. Em termos de políticas públicas, é imprescindível que os sistemas de ensino garantam: formação inicial e continuada de professores voltada para metodologias inclusivas e lúdicas; investimento em materiais pedagógicos acessíveis (jogos em braile, softwares de acessibilidade, brinquedos adaptados, livros em formato ampliado, entre outros); incentivo a projetos interdisciplinares que utilizem o lúdico como eixo integrador entre diferentes áreas do conhecimento; apoio às famílias para que possam estender práticas lúdicas no contexto doméstico e comunitário, fortalecendo a parceria escola-comunidade. Além disso, a experiência da Escola Estadual Professora Paulina de Melo Porto, em Patos de Minas, apresentada neste estudo, demonstra que a inclusão pode ser efetivada quando há comprometimento coletivo e planejamento pedagógico intencional. Esse exemplo deve ser visto como inspiração para outras instituições de ensino que buscam tornar suas práticas mais acessíveis e democráticas. Por fim, recomenda-se que pesquisas futuras aprofundem a análise sobre metodologias lúdicas específicas para diferentes deficiências e transtornos, bem como investiguem os impactos da ludicidade na aprendizagem a longo prazo. Outro campo promissor de investigação é a relação entre ludicidade e tecnologias digitais inclusivas, que vêm se mostrando ferramentas potentes no engajamento e no desenvolvimento de alunos com NEE. Dessa forma, conclui-se que a ludicidade é um caminho promissor e necessário para a efetivação de uma educação inclusiva, equitativa e de qualidade. Mais do que uma estratégia pedagógica, ela se configura como prática humanizadora, capaz de transformar a escola em um espaço verdadeiramente de todos e para todos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 1996. BRASIL. Ministério da Educação. 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Patos de Minas: Escola Estadual Professora Paulina de Melo Porto, 2025. Atividade com quatro ou mais recursos (acompanhado do termo et al.) ALMEIDA, Roberto. et al. Contação de histórias; jogos digitais; atividades motoras; produção artística et al.: um projeto interdisciplinar. Patos de Minas: Escola Estadual Professora Paulina de Melo Porto, 2025. Capítulo de coletânea (livro organizado que contém contribuições de vários autores) COSTA, Ana Maria. Oficina de jogos cooperativos. In: PROJETO ESCOLA PARA TODOS (org.). Metodologias lúdicas na educação inclusiva. Belo Horizonte: Educação Viva, 2021, p. 45-60. Artigo publicado em periódico SILVA, João Pedro. Brincadeiras inclusivas no ensino fundamental. Revista Ludicidade e Educação, São Paulo, v. 5, n. 1, p. 10-25, 2020. Documento oficial BRASIL. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. 2008. Documento orientador que estabelece diretrizes para a inclusão de alunos com deficiência em escolas regulares. Brasília: MEC/SEESP, 2008. Disponível em: http://portal.mec.gov.br. Acesso em: 20 ago. 2025.