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Apostila de Filosofia

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Prévia do material em texto

1 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
 
Curso de Psicologia 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Professor: Adelmo Senra Gomes 
adelmoprofessor20161@gmail.com 
 
2016.1 
 
 
F I L O S O F I A 
(SDE0007) 
(Textos Complementares) 
2 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
CALENDÁRIO ACADÊMICO 2016.1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 QUARTA-FEIRA 
 
 
MAR 
09 
16 
23 
30 
 
 
ABR 
06 
13 
20 
27 (AV 1) 
 
 
MAI 
04 
11 
18 
25 
 
 
JUN 
01 
08 (AV 2) 
15 
22 (AV 3) 
29 (Término) 
3 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
 
 
 
 
Ementa da disciplina 
 
Unidade 1 - Mito e Razão 
1.1. Mito e Razão; 
1.2. Os pré-socráticos: a unidade e a multiplicidade; 
1.3. Os Sofistas e Sócrates: o problema da linguagem e da Verdade. 
Unidade 2 - O Problema do Conhecimento na Filosofia Antiga e Medieval 
2.1. Platão: a reminiscência e a transcendência das Ideias; 
2.2. Aristóteles: a questão do Ser e a imanência das Formas; 
2.3. A Filosofia Medieval - a questão dos Universais. 
Unidade 3 - O Problema do Conhecimento na Filosofia Moderna 
3.1. A revolução científica moderna: do mundo fechado ao Universo Infinito; 
3.2. Descartes e o racionalismo moderno; 
3.3. Locke e Hume: da fundação à radicalização do empirismo. 
 
4 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
O QUE É FILOSOFIA? 
“A palavra filosofia é grega. É composta por duas outras: philo e sophia. Philo deriva-
se de philia, que significa amizade, amor fraterno, respeito entre os iguais. Sophia 
quer dizer sabedoria e dela vem a palavra sophos, sábio. 
Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber. 
Filósofo: o que ama a sabedoria, tem amizade pelo saber, deseja saber. 
Assim, filosofia indica um estado de espírito, o da pessoa que ama, isto é, deseja o 
conhecimento, o estima, o procura e o respeita. ” (CHAUI, 1995, p. 19) 
"Filosofia é a desinteressada busca da verdade." (João Ricardo MODERNO) 
O QUE É FILOSOFAR? 
Filosofar significa ir além do óbvio, do banal, do imediato. Filosofar é buscar, 
pela razão, as causas últimas, a realidade, o que, de fato, se encontra por trás de 
tudo. Filosofar é, primeiramente, construir questões corretas, adequadas para, em 
seguida, tentar respondê-las da mesma forma. 
 
COMEÇANDO A FILOSOFAR 
Reflita, por exemplo, sobre as mensagens abaixo: 
 
 
 
“Se Deus criou as pessoas para amar, e as coisas para cuidar, por que amamos as 
coisas e usamos as pessoas?” (Bob MARLEY - 1945-1981) 
 
 
5 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
RECORDAÇÃO 
Os períodos históricos 
 
Até o presente momento, a História divide-se em cinco períodos, a saber: 
1º) Período pré-histórico (ou, pré-história) – até o ano 4.000 a.C. 
2º) Período antigo (ou, Antiguidade) – de 4.000 a.C. até 476 d.C. (Queda do Império Romano do 
Ocidente); 
3º) Período medieval (ou, Idade Média) – de 476 d.C. até 1453 (Tomada de Constantinopla pelos 
Turcos); 
4º) Período moderno (ou, Idade Moderna) de 1453 até 1789 (Revolução Francesa); 
5º) Período contemporâneo (ou, Idade Contemporânea) – de 1789 até os dias atuais. 
 
O NASCIMENTO DA FILOSOFIA 
(Caderno “Convite à Filosofia” – págs. 32 a 34) 
Tales de Mileto (624/25 – 556/58 a.C.) 
 
“Os historiadores da Filosofia dizem que ela possui data e local de nascimento: 
final do século VII a.C. e início do século VI a.C., nas colônias gregas da Ásia 
Menor (particularmente as que formavam uma região denominada Jônia), na 
cidade de Mileto [atual Turquia]1.” (p. 32) 
Para alguns historiadores a Filosofia se desenvolveu entre os gregos a partir da 
influência e da sabedoria de alguns povos orientais – esta é a chamada teoria 
“orientalista”. Egípcios (entre 3200 a.C. a 32 a.C.), 
assírios (1200 a.C. a 612 a.C.), caldeus (612 a. C a 539 a.C.) e babilônicos 
(1894 a.C. a 539 a.C.)2 foram as principais influências. 
Contudo, povos antecessores aos gregos 
também os teriam influenciado. Por 
exemplo: a civilização cretense minoica 
(2700 a.C. a 1420 a.C.)3 entre outras. 
A Filosofia, portanto, teria nascido pelas transformações que os 
gregos impuseram aos conhecimentos e à sabedoria desses povos 
(CHAUI, p. 32). Por exemplo, da agrimensura egípcia os gregos 
desenvolveram a aritmética e a geometria; da astrologia dos caldeus e babilônicos desenvolveram a 
astronomia e a meteorologia; da genealogia persa desenvolveram a história e dos mistérios religiosos 
orientais de purificação da alma desenvolveram uma espécie de psicologia ou as teorias filosóficas 
sobre a natureza e o destino da alma humana (adaptado de CHAUI, p.32-33). 
Contudo, nem todos os historiadores aceitaram as teses “orientalistas” a respeito do surgimento a 
Filosofia. Muitos, sobretudo nos séculos XIX de nossa era, passam a falar da Filosofia como sendo 
um “milagre grego” (CHAUI, p. 33). 
 
1 As chaves foram acrescentadas pelo professor da matéria. 
2 Todos os períodos, relativos às civilizações mencionadas, são aproximações históricas. 
3 Idem. 
6 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
Estudos recentes demonstraram que, de fato, os gregos sofreram a influência de civilizações e culturas 
orientais, porém, impuseram a essas influências mudanças qualitativas tão profundas que, à primeira 
vista, pareceriam originais. CHAUI (p.34) cita quatro dessas importantes mudanças: 
1. Com relação aos mitos (a humanização dos deuses, a divinização do homem; a racionalidade à 
narrativa sobre a origem das coisas, dos homens, das instituições humanas (como o trabalho, as leis, 
a moral)); 
2. Com relação aos conhecimentos os gregos transformaram em Ciência (conhecimento racional, 
abstrato e universal) aquilo que eram elementos de uma sabedoria prática para o uso direto da vida – 
da agrimensura egípcia à matemática; da astrologia a uma astronomia e assim sucessivamente; 
3. Com relação à organização social e política os gregos desenvolveram a Política (de polis, que, 
em grego, significa “cidade organizada por leis e instituições). Aos gregos cabe, por exemplo, o 
mérito da separação entre o poder político e outras formas tradicionais de autoridade: a do chefe de 
família e a do sacerdote ou mago; 
4. Com relação ao pensamento os gregos desenvolveram e privilegiaram a ideia de razão, ou 
racionalidade, como uma forma de pensamento sistemático que segue necessariamente regras, normas 
e leis universais [...]. 
 
7 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
PRINCIPAIS ÁREAS DA FILOSOFIA 
 
a. Filosofia do Conhecimento 
O que é o conhecer? “[...] conhecer é o que tem lugar quando um sujeito 
(chamado cognoscente) apreende um objeto (chamado ‘objeto do 
conhecimento’ e, para abreviar, simplesmente ‘objeto’.)” (MORA, Tomo I, 
p. 539) 
Alguns autores concebem um ramo específico na filosofia do conhecimento: 
a epistemologia (do grego ἐπιστήμη [episteme] - conhecimento, ciência; 
λόγος [logos] - estudo de), ou seja a reflexão filosófica a respeito dos conhecimentos e métodos 
propostos pela Ciência (também conhecida como filosofia das ciências). 
 
O QUE É CONHECIMENTO? PROPOSTA DE DEFINIÇÃO 
Definiríamos o conhecimento com um sistema4 de 
representações mentais (ideias) derivado do que é factual (real) 
e/ou racional (este último, por exemplo, pela lógica e/ou pela 
matemática). Tal sistema objetivaria a máxima, e verdadeira, 
compreensão do objeto abordado. O conhecimento, portanto, éuma tentativa humana de apreensão, de apropriação (sujeito 
cognoscente) de algum objeto cognoscível, real e/ou racional. 
 
REFLEXÃO 
“VENDE-SE CONHECIMENTO” 
(Adelmo Senra Gomes) 
Vivemos atualmente num mundo em que quase tudo (pessoas, relações interpessoais, a natureza, o 
conhecimento, a felicidade e etc) é transformado em “coisa”, reificado; transformado em mercadoria 
cobiçável, consumível. Somos alienados pelas diversas mídias de massa a valores mercantilistas, 
imediatistas; a um “ethos” estúpido e egoísta do tipo: “o dinheiro compra tudo, inclusive a felicidade”; 
“acumular riquezas materiais é o principal sentido da existência”; “não existem limites para quem 
pode pagar”; “ter ou aparentar ter, e não ser”; “a aparência, a imagem, é mais importante que a 
essência, que o conteúdo”; “o único prazer possível é o sensível (ou seja, via corpo), imediato e 
‘ilimitado’, e não o espiritual; “o normal é pensar e agir de forma individualista e não coletivamente”; 
“a liberdade deve ser absoluta: sem responsabilidades, regras ou limites”; “se desejo tenho direito e 
posso”; e etc etc etc... Neste sentido, então, é imprescindível perceber que o conhecimento, 
especificamente, não é uma coisa, não é uma mercadoria que se compra, que se possa adquirir em 
“suaves prestações mensais”. O conhecimento é fruto de um esforço pessoal, de uma atitude honesta, 
dedicada e disciplinada de construção, de busca e de crescimento. Lembre-se: vivemos a era do 
conhecimento e essa mesma sociedade de mercado que nos aliena de tal forma a nos 
transformar/deformar em “adoradores ávidos de coisas, de fetiches compráveis, irá também, 
cinicamente, cobrar-nos conhecimentos (e não apenas diplomas = coisas) quando de nossas tentativas 
de nela nos inserir. Pense nisso... 
 
4 Um sistema é um “conjunto de elementos, materiais ou ideais, entre os quais se possa encontrar ou definir alguma 
relação; disposição das partes ou dos elementos de um todo, coordenados entre si, e que funcionam como estrutura 
organizada.”(AURÉLIO) 
8 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
“Atualmente recebemos uma enxurrada de 
“informações” que não propiciam a 
construção de conhecimentos...” Por quê? 
 
 
 
9 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
b. Metafísica (da forma grega “tá metá tá physicá” – “as coisas que estão após as coisas físicas”) 
Para Aristóteles a “filosofia primeira”, pois investiga “os primeiros princípios e 
as causas mais elevadas”. “A filosofia, diz Aristóteles – tem tantas partes quantas 
substâncias há; assim, a parte que trata da substância natural é a ‘física’, uma 
‘filosofia segunda’. Acima dessas partes, há uma ciência na qual se estuda o que 
é enquanto é e não nenhuma espécie ou forma particular desse ser. O que é 
enquanto é tem certos princípios, que são os ‘axiomas5’, e estes se aplicam a toda 
substância como substância e não a este ou àquele tipo de substância.” (MORA, 
Tomo III, p. 1945) 
“No século XVII, o filósofo alemão Jacobus Thomasius considerou que a palavra 
correta para designar os estudos da metafísica ou Filosofia Primeira seria a palavra 
ontologia. Ou, o estudo do “ser.” O Ser é o que é realmente e se opõe ao que 
parece ser, à aparência. Assim, ontologia significa: estudo ou conhecimento do 
Ser, dos entes ou das coisas tais como são em si mesmas, real e verdadeiramente. 
Contudo, a tradição filosófica consagrou a palavra metafísica e não “ontologia”, 
porque Aristóteles, ao definir a Filosofia Primeira, também afirmou que ela estuda 
os primeiros princípios e as causas primeiras de todos os seres ou de todas as essências, estudo que 
deve vir antes de todos os outros, porque é a condição de todos eles. Metafísica, nesse caso, quer 
dizer: aquilo que é condição e fundamento de tudo o que existe e de tudo o que puder ser 
conhecido.” (texto adaptado a partir de CHAUI, 2000, p. 266-7) 
 
QUESTÕES METAFÍSICAS 
 
OS UNIVERSAIS NA FILOSOFIA MEDIEVAL6 
“Um universal é uma propriedade ou uma relação que pode ser exemplificada por 
um número de coisas particulares diferentes; cada coisa branca é um exemplar ou 
um espécime da propriedade da brancura, e cada coisa quadrada é um exemplar da 
propriedade de ser quadrado. As coisas abrangidas por um universal são 
semelhantes em alguns aspectos.” 
(BLACKBURN, 1994, p. 395) 
 
 
 
5 Axioma é uma premissa imediatamente evidente que se admite como universalmente verdadeira sem exigência de 
demonstração. Exemplo: Uma reta pode ser traçada de um ponto para outro qualquer. 
6 Vide item na página . 
10 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
c. Filosofia Moral - “ Se alguma área da filosofia tem a pretensão de ser ‘prática’, é a filosofia moral. 
Ela trata de algumas das mais tocantes e controversas questões da vida. Contudo, 
enquanto os filósofos procuram descobrir como devíamos viver, a filosofia moral é 
mais bem compreendida como a tentativa de pensar crítica e reflexivamente sobre certo 
e errado, bom e mau.” (LAW, 2008, p. 101) 
 
ÉTICA e MORAL 
 
Professor e Filósofo Mario Sérgio Cortella 
“Ética (do grego “ethos” que quer dizer “costume”) - Conjunto de valores e princípios 
que as pessoas utilizam para decidir três questões básicas da vida: quero, devo, posso. 
“Ora, tem coisa que quero mas não devo, que devo mas não posso ou que posso mas 
não devo”. Não existe ninguém sem uma ética própria. O que existe são pessoas com 
valores e princípios contrários à ética vigente. Essas são chamadas de antiéticas. A ética não é relativa. 
Ela busca a universalidade, o que não significa que ela não possa mudar com o tempo. 
Moral (do latim “mos”, moris”, que é “relativo aos costumes” ou “maneira de se comportar”) – É a prática 
de uma ética. É a ação de decidir, escolher e julgar segundos valores e princípios éticos vigentes. 
Neste sentido, portanto, imoral é todo aquele que decide, escolhe e julga contrariamente aos valores 
e princípios vigentes (ou seja, à ética vigente). Amoral, por sua vez, são todas aquelas pessoas que 
não podem decidir, escolher e julgar. Por exemplo, as crianças e os loucos (no direito chamados de 
incapazes). A moral, esta sim, é relativa, pois enquanto exteriorização de uma ética, depende de uma 
série de injunções e circunstâncias reais.” 
“A transcendência do Homem sobre a natureza7 
Isto significa também que um mesmo ato poderá ser considerado moralmente digno ou não, 
dependendo dos espaços, lugares e tempo, em que este for submetido e praticado. Justamente aqui 
encontramo-nos no outro campo: a ética. A ética, diferentemente da moral, é a discussão dos atos 
morais. Será o debate para a criação do conjunto de regras que irão nortear o comportamento de um 
indivíduo em um determinado lugar. Podemos dizer, portanto, que a ética é a transcendência do ser 
humano sobre a sua natureza, pois no momento em que o homem começa a escolher, a deliberar, a 
criar, a pensar por si mesmo em diferentes perspectivas, é que ele se faz como ser humano. Ao 
contrário de um animal, como um gato ou cachorro, que não deliberarão outras formas de conviver a 
não ser a que seus instintos aclamarem. 
Moral e Ética 
Podemos concluir que a moral, diferentemente da ética, é a prática e o agir. Este agir, apesar de estar 
condicionado a regras implícitas, é uma deliberação própria de cada um. Será sempre o próprio sujeito 
que na hora de fazer uma escolha, refletirá se agirá conforme os valores estabelecidos ou não. A 
moral, ao contrário do que se pensa, não é o olhar escravizador do outro ou o radar de trânsito 
limitando a velocidade dos carros, mas sim a elucubração própria do ser perante a uma dada 
circunstância. Portanto, quanto mais uma sociedadenecessita da explicitação destes valores, tanto 
menos moralmente evoluída ela será. 
Já a ética é a teorização da moral. É a discussão dos valores existentes que regem e norteiam 
determinada sociedade ou grupo de indivíduos. É a discussão sobre as mais variadas formas de se 
viver em conjunto. A ética como verdade absoluta em banners corporativos é inexistente. Ela não se 
 
7 http://galaxia.blog.br/a-diferenca-entre-moral-e-etica/ 
11 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
faz com enumerações e hierarquia de padrões de comportamentos que precedem os indivíduos. Mas 
sim, é construída pelos próprios indivíduos por meio da discussão sobre as mais diversas e melhores 
formas de conviverem entre si.” 
 
d. Filosofia da Mente – “O que é a mente? A questão reside no âmago da filosofia da 
mente e, apesar dos esforços de alguns dos maiores filósofos e cientistas do mundo, 
continua sendo profundamente desconcertante. A filosofia da mente é um dos ramos 
mais ativos da filosofia, no que se realizaram alguns do mais interessantes e recentes 
avanços.” (LAW, 2008, 123) 
 
O enigma da consciência 
Somos todos conscientes de uma rica vida mental interna, repleta de emoções, pensamentos e 
sensações. Mas como esse reino consciente se relaciona com o mundo físico? Minha mente consciente 
está além do que se passa fisicamente? Ou é ela própria física? 
 
O Dualismo mente e corpo – “Qual a relação entre nossas mentes conscientes e 
nossos corpos físicos? Segundo o ‘dualismo substancial’, mente e corpo são 
substâncias diferentes. Mas o que é substância? Uma substância, diferentemente de 
uma propriedade, é algo logicamente capaz de existir por si só, independente de 
outras substâncias. [Esta apostila] é uma substância; [ela] pode existir independente de outras coisas. 
Mas seu peso não é; o peso não pode existir sem [a apostila]. O peso é uma mera propriedade das 
substâncias a que pertence. 
 
Segundo o dualista substancial, a mente é uma substância por si 
mesma. René Descartes (p.276-9)8, talvez o mais conhecido dos 
dualistas substanciais, acreditava que ele é uma substância ‘pensante’, 
capaz de existir independente de qualquer corpo físico. Algumas 
religiões aderem a uma forma de dualismo substancial, afirmando 
que, após a morte, a alma deixa o corpo para residir em algum tipo de 
domínio não-físico. 
Os materialistas, em contraposição, acreditam que há apenas um tipo 
de substância – a substância material. Uma maneira óbvia de ser 
materialista é insistir que a própria mente é um objeto material. Um 
óbvio candidato a ser esse objeto seria o cérebro. A 
cientista Susan Greenfield, da Universidade de Oxford, afirmou: ‘Você é o seu 
cérebro.’[...] 
Outros materialistas, conhecidos como behavioristas9 lógicos, creem que a mente 
nada mais é que um conjunto de disposições físicas complexas pertencentes a uma 
 
8 Vide página 42. 
9 Behaviorismo – da palavra inglesa behavior – comportamento. Escola da psicologia nascida nos EUA, no início do 
século XX, a partir dos trabalhos do psicólogo John Watson (1878-1958). Para o pensamento behaviorista o único e 
possível objeto de estudo e pesquisa científico da psicologia é o comportamento observável. Este, por sua vez, seria 
determinado por uma relação causal: Estímulo→Resposta Comportamental. 
12 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
substância material – o corpo. Ter uma mente é tender a se comportar de várias maneiras complexas. 
Sentir dor, por exemplo, é apenas estar propenso a contorcer-se, chorar etc. 
Como até um objeto físico pode ter essas disposições físicas, nada impede que um objeto físico possua 
uma mente. Supor, como o dualista substancial, que a minha mente é ‘algo’ adicional que existe além 
do corpo material e suas várias propensões comportamentais é, para o behaviorista lógico, introduzir 
na ‘máquina’ um ‘fantasma’ inteiramente mítico e supérfluo.” (LAW, 2008, p. 125-6) 
 
A questão do Inconsciente 
A partir dos trabalhos do famoso médico neurologista e psicólogo Sigmund Freud 
(1835-1930), cogita-se a possibilidade de existência de um “lado oculto” da nossa 
mente: o inconsciente. Tal lado seria, segundo os psicanalistas, 
bastante influente em nossa vida psíquica consciente (desejos, 
sentimentos, pensamentos, comportamentos), por vezes até 
determinando-a sem que ela se dê conta. Muitos filósofos 
contemporâneos vêm se dedicando à análise das proposições e teorias 
freudianas. 
 
e. Filosofia da Religião – “Talvez a filosofia da religião possa ser sintetizada na 
pergunta: ‘O que significa dizer ‘‘Deus existe’’? Ela indaga como Deus é; como 
podemos saber sobre Deus; e como devemos compreender a linguagem e a crença 
religiosas. [...] (LAW, 2008, p. 139) 
 
Questões interessantes 
1ª. (O problema do livre arbítrio humano) Segundo o dogma judaico-cristão, principalmente, Deus 
seria “Onipotente, Onipresente e Onisciente”. Em função desse primeiro dogma, 
outro seria consequente, a ideia de Deus como “Senhor da História”. Ora, se Deus 
teria todas essas características seria o Homem livre? Ou seja, o chamado “livre 
arbítrio” seria uma possibilidade humana? 
 
2ª. (O problema do mal) “Deus é tipicamente descrito como perfeitamente bom, 
onipotente e onisciente. Se isso for verdade, podemos supor que Deus não só 
quer eliminar o mal, como é capaz disso e sabe como fazê-lo. Mas isso suscita a 
pergunta: então, por que o mal existe? Seria porque Deus não existe?” (LAW, 
2008, p.153) 
 
“Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu sou o Senhor, que faço todas estas 
coisas.” (Bíblia, Livro de Isaías, cap. 45) 
 
3ª (Fé10 e razão) “Muitas vezes se afirma que fé e razão são fundamentalmente 
opostas. No entanto, o fideísmo – a concepção de que a fé está acima da razão em 
 
10 Citarei, para reflexão, a definição de fé dada pelo Apóstolo Paulo: “A fé é a garantia dos bens que se esperam, a prova 
das realidades que não se vêem.” Bíblia de Jerusalém: Livro de Hebreus 11:1 
13 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
questões de crença religiosa – nem sempre assumiu essa forma. Fé envolve confiança 
e compromisso, mas não irracionalidade.” (LAW, 2008, p. 157) 
 
“Se sou capaz de apreender Deus objetivamente, não tenho fé; mas como não posso 
fazê-lo, devo ter fé.” (Kierkegaard) 
 
 
 
f. Filosofia Política – “Filosofia política é o estudo de como 
organizamos nossas sociedades – modo como 
realmente o fazemos e o modo como poderíamos 
fazê-lo para torná-las melhores. Todos conhecem 
conceitos-chave da política: liberdade, igualdade, 
justiça, direitos etc. O desafio da filosofia política é 
descobrir o que esses termos de fato significam e o que podemos fazer 
para colocá-los em prática de modo articulado. 
 
“As pessoas estão confundindo desejo como Direito” (CORTELLA) 
 
“[...] a vida de um homem num estado de natureza é sórdida, brutal e curta” 
 
“Liberdade, Igualdade e Justiça: trinômio impossível?” 
 
 
g. Estética11 
“O termo estética, em filosofia, “designa qualquer análise, investigação 
ou especulação que tenha por objeto a arte e o belo, [...]. 
‘Do lado do artista e da obra, a estética busca compreender como se dá a 
realização da beleza; do lado do espectador e receptor, busca interpretar a 
reação à obra de arte sob a forma do juízo de gosto ou do bom gosto. 
Como seu nome indica, a estética se ocupa preferencialmente com a expressão da sensibilidade e da 
fantasia do artista e com o sentimento produzido pela obra sobre o espectador ou receptor.” [...] 
Podem-se distinguir cinco conceitos fundamentais de Belo [...]:1º. o Belo como manifestação do 
Bem (teoria platônica – ‘É o bem que dá beleza a todas as coisas’ - Plotino); 
2º. o Belo como manifestação da verdade (para Hegel, o Belo define-se 
como a aparição sensível da Ideia’. Isto significa que beleza e verdade são a 
mesma coisa e se distinguem somente porque enquanto na verdade a Ideia 
tem a sua manifestação objetiva e universal, no Belo ela tem a sua 
manifestação sensível); 3º. o Belo como simetria (teoria aristotélica – 
Segundo Aristóteles o Belo é constituído pela ordem, pela simetria e por uma grandeza capaz de ser 
abraçada no seu conjunto por um só golpe de vista); 4º. o Belo como perfeição sensível (Kant definiu 
como: "o que agrada universalmente e sem conceitos" - Crít. do Juízo, § 6); 5º. o Belo como perfeição 
expressiva (definido por todas as teorias que consideram a arte como expressão. Croce disse: "Parece-
 
11 O texto deste item foi elaborado e adaptado a partir de: ABBAGNANO, 1982 e, CHAUI, 2011. 
14 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
nos lícito e oportuno definir a beleza como expressão bem-
sucedida, ou melhor, como expressão pura e simples, pois a 
expressão, quando não é bem-sucedida, não é expressão" (Estética, 
4a ed., 1912, p. 92). 
 
 
 
15 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
Mito 
 
“A palavra mito vem do grego, mythos, e deriva de dois verbos: 
do verbo mytheyo (contar, narrar, falar alguma coisa para outros) 
e do verbo mytheo (conversar, contar, anunciar, nomear, 
designar). Para os gregos, o mito é um discurso pronunciado ou 
proferido para ouvintes que recebem como verdadeira a narrativa, 
porque confiam naquele que narra; é uma narrativa feita em 
público, baseada, portanto, na autoridade e confiabilidade da pessoa do narrador. E essa autoridade 
vem do fato de que ele ou testemunhou diretamente o que está narrando ou recebeu a narrativa de 
quem testemunhou os acontecimentos narrados.” [...] (CHAUI, 1995, p.28) 
[...] o mito narra a origem das coisas por meio de lutas, alianças e relações sexuais entre forças 
sobrenaturais que governam o mundo e o destino dos homens. Como os mitos sobre a origem do 
mundo são genealogias, diz-se que são cosmogonias e teogonias. 
A palavra gonia vem de duas palavras gregas: do verbo gennao (engendrar, gerar, fazer nascer e 
crescer) e do substantivo genos (nascimento, gênese, descendência, gênero, espécie). Gonia, portanto, 
quer dizer: geração, nascimento a partir da concepção sexual e do parto. Cosmos [...] quer dizer 
mundo ordenado e organizado. Assim, a cosmogonia é a narrativa sobre o nascimento e a organização 
do mundo, a partir de forças geradoras (pai e mãe) divinas. 
Teogonia é uma palavra composta de gonia e theos, que em grego, significa: as coisas divinas, os 
seres divinos, os deuses. A teogonia é, portanto, a narrativa da origem dos deuses, a partir de seus 
pais e antepassados. 
Qual é a pergunta dos estudiosos? [...] A Filosofia, ao nascer, é, como já dissemos, uma cosmologia, 
uma explicação racional sobre a origem do mundo e sobre as causas das transformações e repetições 
das coisas; para isso, ela nasce de uma transformação gradual dos mitos ou de uma ruptura radical 
com os mitos? Continua ou rompe com a cosmogonia e a teogonia? 
Duas foram as respostas dadas. 
A primeira delas foi dada nos fins do século XIX e começo do século XX, quando reinava um grande 
otimismo sobre os poderes científicos e capacidades técnicas do homem. Dizia-se, então, que a 
Filosofia nasceu por uma ruptura radical com os mitos, sendo a primeira explicação científica da 
realidade produzida pelo Ocidente. 
A segunda resposta foi dada a partir de meados do século XX, quando os estudos dos antropólogos e 
dos historiadores mostraram a importância dos mitos na organização social e cultural das sociedades 
e como os mitos estão profundamente entranhados nos modos de pensar e de sentir de uma sociedade. 
Por isso, dizia-se que os gregos, como qualquer outro povo, acreditavam em seus mitos e que a 
Filosofia nasceu, vagarosa e gradualmente, do interior dos próprios mitos, como uma racionalização 
deles. 
Atualmente consideram-se as duas respostas exageradas e afirma-se que a Filosofia, percebendo as 
contradições e limitações dos mitos, foi reformulando e racionalizando as narrativas míticas, 
transformando-as numa outra coisa, numa explicação inteiramente nova e diferente. 
Quais são as diferenças entre Filosofia e mito? Podemos apontar três como as mais importantes: 
1. O mito pretendia narrar como as coisas eram ou tinham sido no passado imemorial, longínquo e 
fabuloso, voltando-se para o que era antes que tudo existisse tal como existe no presente. A Filosofia, 
16 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
ao contrário, se preocupa em explicar como e por que, no passado, no presente e no futuro (isto é, na 
totalidade do tempo), as coisas são como são; 
2. O mito narrava a origem através de genealogias e rivalidades ou alianças entre forças divinas 
sobrenaturais e personalizadas, enquanto a Filosofia, ao contrário, explica a produção natural das 
coisas por elementos e causas naturais e impessoais. 
O mito falava em Urano, Ponto e Gaia; a Filosofia fala em céu, mar e terra. O mito narra a origem 
dos seres celestes (os astros), terrestres (plantas, animais, homens) e marinhos pelos casamentos de 
Gaia com Urano e Ponto. A Filosofia explica o surgimento desses seres por composição, combinação 
e separação dos quatro elementos - úmido, seco, quente e frio, ou água, terra, fogo e ar. 
3. O mito não se importava com contradições, com o fabuloso e o incompreensível, não só porque 
esses eram traços próprios da narrativa mítica, como também porque a confiança e a crença no mito 
vinham da autoridade religiosa do narrador. A Filosofia, ao contrário, não admite contradições, 
fabulação e coisas incompreensíveis, mas exige que a explicação seja coerente, lógica e racional; 
além disso, a autoridade da explicação não vem da pessoa do filósofo, mas da razão, que é a mesma 
em todos os seres humanos.” (CHAUI, 1995, p. 30-1) 
 
“Na época contemporânea, prevaleceu o estudo do mito como elemento possível e, de todo modo, 
ilustrativo da história humana, ou de certas formas ou fases na história de uma comunidade humana. 
Desse ponto de vista, [...], um mito pode ser algo como um ‘pressuposto cultural’. Não importa então 
que um mito seja ‘fabricado’ e que o ‘conteúdo’ – em geral sob forma narrativa – de um mito seja 
‘falso’, isto é, que não corresponda a nada que tenha efetivamente acontecido. [...] 
Entretanto, não se pode contrapor sequer a ‘verdade histórica’ do mito – ou o ‘mito 
como realidade histórica’ – a sua verdade ‘real’. Historicamente falando, é real tudo 
o que ocorreu numa comunidade humana, ou, pelo menos, tudo o que contribui para 
o entendimento das estruturas sociais e culturais dessa comunidade. Por 
conseguinte, os mitos são ‘reais’ enquanto ‘historicamente reais’.” Essas ideias 
retratam a mito e a sua função cultural, teoria proposta pelo filósofo Ernest 
Cassirer. 
 
Os mitos atuais 
 
Na atualidade podemos perceber formas variantes de mitos. Por 
exemplo, o mito do “salvador da pátria”, do “super-homem”, dos 
“seres perfeitos” etc. Diferentemente do passado, a 
contemporaneidade experimenta o fenômeno das diferentes mídias 
de massa; veículos extremamente eficientes para difundir e 
manipular tais mitos. A questão é: com quais finalidades e 
objetivos? 
 
 
17 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
Razão 
“Origem da palavra razão12 
 
Na cultura da chamada sociedade ocidental, a palavra razão origina-se de duas 
fontes: a palavra latina ratio e a palavra grega logos. Essas duaspalavras são 
substantivos derivados de dois verbos que têm um sentido muito parecido em 
latim e em grego. 
Logos vem do verbo legein, que quer dizer: contar, reunir, juntar, calcular. 
Ratio vem do verbo reor, que quer dizer: contar, reunir, medir, juntar, separar, 
calcular. 
Que fazemos quando medimos, juntamos, separamos, contamos e calculamos? Pensamos de modo 
ordenado. E de que meios usamos para essas ações? Usamos palavras (mesmo quando usamos 
números estamos usando palavras, sobretudo os gregos e os romanos, que usavam letras para indicar 
números). 
Por isso, logos, ratio ou razão significam pensar e falar ordenadamente, com medida e proporção, 
com clareza e de modo compreensível para outros. Assim, na origem, razão é a capacidade intelectual 
para pensar e exprimir-se correta e claramente, para pensar e dizer as coisas tais como são. A razão é 
uma maneira de organizar a realidade pela qual esta se torna compreensível. É, também, a confiança 
de que podemos ordenar e organizar as coisas porque são organizáveis, ordenáveis, compreensíveis 
nelas mesmas e por elas mesmas, isto é, as próprias coisas são racionais. 
Desde o começo da Filosofia, a origem da palavra razão fez com que ela fosse considerada oposta a 
quatro outras atitudes mentais: 
 
1. ao conhecimento ilusório, isto é, ao conhecimento da mera aparência das coisas 
que não alcança a realidade ou a verdade delas; para a razão, a ilusão provém de 
nossos costumes, de nossos preconceitos, da aceitação imediata das coisas tais como 
aparecem e tais como parecem ser. As ilusões criam as opiniões que variam de pessoa 
para pessoa e de sociedade para sociedade. A razão se opõe à mera opinião; 
 
2. às emoções, aos sentimentos, às paixões, que são cegas, caóticas, desordenadas, 
contrárias umas às outras, ora dizendo “sim” a alguma coisa, ora dizendo “não” a 
essa mesma coisa, como se não soubéssemos o que queremos e o que as coisas são. 
A razão é vista como atividade ou ação (intelectual e da vontade) oposta à paixão 
ou à passividade emocional; 
 
3. à crença religiosa, pois, nesta, a verdade nos é dada pela fé numa revelação 
divina, não dependendo do trabalho de conhecimento realizado pela nossa 
inteligência ou pelo nosso intelecto. A razão é oposta à revelação e por isso os 
filósofos cristãos distinguem a luz natural - a razão - da luz sobrenatural – a revelação; 
 
 
12 CHAUI, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, p. 71-6) Obs.: Imagens, negritos e itálicos acrescidos pelo professor 
da matéria. 
18 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
4. ao êxtase místico, no qual o espírito mergulha nas profundezas do divino e 
participa dele, sem qualquer intervenção do intelecto ou da inteligência, nem da 
vontade. Pelo contrário, o êxtase místico exige um estado de abandono, de 
rompimento com a atividade intelectual e com a vontade, um rompimento com o 
estado consciente, para entregar-se à fruição do abismo infinito. A razão ou consciência se opõe à 
inconsciência do êxtase. 
 
A atividade racional e suas modalidades13 
 
A Filosofia distingue duas grandes modalidades da atividade racional realizadas pela razão subjetiva 
ou pelo sujeito do conhecimento: a intuição (ou razão intuitiva) e o raciocínio (ou razão discursiva). 
A atividade racional discursiva, como a própria palavra indica, percorre uma realidade ou um objeto 
para chegar a conhecê-lo, isto é, realiza vários atos de conhecimento até conseguir captá-lo. A razão 
discursiva ou o pensamento discursivo chega ao objeto passando por etapas sucessivas de 
conhecimento, realizando esforços sucessivos de aproximação para chegar ao conceito ou à definição 
do objeto. 
A razão intuitiva ou intuição, ao contrário, consiste num único ato do espírito, que, de uma só vez, 
capta por inteiro e completamente o objeto. A intuição é uma visão direta e imediata do objeto do 
conhecimento, um contato direto e imediato com ele, sem necessidade de provas ou demonstrações 
para saber o que conhece. 
 
A intuição 
A intuição é uma compreensão global e instantânea de uma verdade, de um objeto, de um fato. Nela, 
de uma só vez, a razão capta todas as relações que constituem a realidade e a verdade da coisa intuída. 
É um ato intelectual de discernimento e compreensão, como, por exemplo, quando um médico, graças 
ao conjunto de conhecimentos que possui, faz um diagnóstico em que apreende de uma só vez a 
doença, sua causa e o modo de tratá-la. Os psicólogos se referem à intuição usando o termo insight, 
descrevendo-o como o momento em que temos uma compreensão total, direta e imediata de alguma 
coisa, ou o momento em que percebemos, num só lance, um caminho para a solução de um problema 
científico, filosófico ou vital. [...] 
A intuição racional pode ser de dois tipos: intuição sensível ou empírica e intuição intelectual. 
A intuição sensível ou empírica é o conhecimento que temos a todo o momento de nossa vida. 
Assim, com um só olhar ou num só ato de visão percebemos uma casa, um homem, uma mulher, uma 
flor, uma mesa. Num só ato, por exemplo, capto que isto é uma flor: vejo sua cor e suas pétalas, sinto 
a maciez de sua textura, aspiro seu perfume, tenho-a por inteiro e de uma só vez diante de mim. 
A intuição empírica é o conhecimento direto e imediato das qualidades do objeto externo 
chamadas de qualidades sensíveis: cor, sabor, odor, paladar, som, textura. É também a 
percepção direta de formas, dimensões, distâncias das coisas percebidas. É o conhecimento 
imediato de nossos estados internos ou mentais que dependem ou dependeram de nosso contato 
sensorial com as coisas: lembranças, desejos, sentimentos, imagens. 
A intuição sensível ou empírica é psicológica, isto é, refere-se aos estados do sujeito do conhecimento 
enquanto um ser corporal e psíquico individual - sensações, lembranças, imagens, sentimentos, 
desejos e percepções são exclusivamente pessoais, variando de pessoa para pessoa e numa mesma 
 
13 CHAUI, M. Convite à filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2011. p. 83-8. 
19 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
pessoa em decorrência de variações em seu corpo, em sua mente ou nas circunstâncias em que o 
conhecimento ocorre. 
Assim, a marca da intuição empírica é sua singularidade: por um lado, está ligada à singularidade 
do objeto intuído (ao “isto” oferecido à sensação e à percepção) e, por outro, está ligada à 
singularidade do sujeito que intui (aos “meus” estados psíquicos, às “minhas” experiências). A 
intuição empírica não capta o objeto em sua universalidade e a experiência intuitiva não é transferível 
para um outro objeto. 
 
A intuição intelectual difere da sensível justamente por sua universalidade e necessidade. Quando 
penso: “Uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo”, sei, sem necessidade de provas ou 
demonstrações, que isto é verdade e que é necessário que seja sempre assim, ou que é impossível que 
não seja sempre assim. Ou seja, tenho conhecimento intuitivo do princípio da contradição. Quando 
digo: “O amarelo é diferente do azul”, sei, sem necessidade de provas e demonstrações, que há 
diferenças. Vejo, na intuição sensível, a cor amarela e a cor azul, mas vejo, na intuição intelectual, a 
diferença entre cores. Quando afirmo: “O todo é maior do que as partes”, sei, sem necessidade de 
provas e demonstrações, que isto é verdade, porque intuo uma forma necessária de relação entre as 
coisas. 
A intuição intelectual é o conhecimento direto e imediato dos princípios da razão (identidade, 
contradição, terceiro excluído, razão suficiente), os quais, por serem princípios, não podem ser 
demonstrados (pois para demonstra-los precisaríamos de outros princípios, e para demonstrar 
estes outros princípios precisaríamosde outros, num processo interminável que nos impediria 
de saber com certeza a verdade de um princípio). Alguns filósofos afirmam também que 
conhecemos por intuição as ideias simples, isto é, aquelas que não são compostas de outras e não 
precisam de outras para serem conhecidas. Justamente porque não dependem de outros 
conhecimentos ou de outras ideias, as ideias simples são apreendidas num ato intuitivo. No entanto, 
como a intuição pode ser o ponto final de um processo de conhecimento, ela é também a apreensão 
intelectual das relações necessárias entre as ideias e entre os seres e entre as ideias e as coisas de que 
são ideias. 
 
A razão discursiva: dedução, indução e abdução 
 
A intuição pode ser o ponto de chegada, a conclusão de um processo de 
conhecimento, e pode também ser o ponto de partida de um processo 
cognitivo. O processo de conhecimento, seja o que chega a uma intuição, 
seja o que parte dela, constitui a razão discursiva ou o raciocínio. 
Ao contrário da intuição, o raciocínio é o conhecimento que exige provas 
e demonstrações e se realiza igualmente por meio de provas e 
demonstrações das verdades que estão sendo conhecidas ou investigadas. 
Não é só um ato intelectual, mas são vários atos intelectuais internamente ligados ou conectados, 
formando um processo de conhecimento. 
Um caçador sai pela manhã em busca da caça. Entra no mato e vê rastros: choveu na véspera e há 
pegadas no chão; pequenos galhos rasteiros estão quebrados; o capim está amassado em vários 
pontos; a carcaça de um bicho está à mostra, indicando que foi devorado há poucas horas; há um 
grande silêncio no ar, não há canto de pássaros, não há ruídos de pequenos animais. 
20 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
O caçador supõe que haja uma onça por perto. Ele pode, então, tomar duas atitudes. Se, por todas as 
experiências anteriores, tiver certeza de que a onça está nas imediações, pode preparar-se para 
enfrentá-la: sabe que caminhos evitar, se não estiver em condições de caçá-la; sabe que armadilhas 
armar, se estiver pronto para capturá-la; sabe como atraí-la, se quiser conservá-la viva e preservar a 
espécie. 
O caçador pode ainda estar sem muita certeza se há ou não uma onça nos arredores e, nesse caso, 
tomará uma série de atitudes para verificar a presença ou ausência do felino: pode percorrer trilhas 
que sabe serem próprias de onças; pode examinar melhor as pegadas e o tipo de animal que foi 
devorado; pode comparar, em sua memória, outras situações nas quais esteve presente uma onça, etc. 
Assim, partindo de indícios, o caçador raciocina para chegar a uma conclusão e tomar uma decisão. 
Temos aí um exercício de raciocínio empírico (baseado nos dados sensoriais ou na experiência 
sensível) e prático (um pensamento que visa uma ação), ou seja, um exame de vários sinais que 
permitem a alguém fazer uma inferência. Isto é, tirar uma conclusão com base nos dados conhecidos. 
Esse raciocínio, por ser empírico caracteriza-se pela singularidade ou individualidade do sujeito do 
conhecimento (no caso, um caçador) e do objeto do conhecimento (no caso, uma situação em que há 
sinais ou indícios de uma onça). 
Quando, porém, um raciocínio se realiza em condições tais que a individualidade psicológica do 
sujeito e a singularidade do objeto são substituídas por critérios de generalidade e universalidade, 
temos a dedução, a indução e a abdução. 
 
A dedução 
Dedução e indução são procedimentos racionais que nos levam do já conhecido ao ainda não 
conhecido, isto é, permitem que adquiramos conhecimentos novos graças a conhecimentos já 
adquiridos. Por isso, se costuma dizer que, no raciocínio, o intelecto opera seguindo cadeias de razões 
ou os nexos e conexões internos e necessários entre as ideias ou entre os fatos. 
A dedução consiste em partir de uma verdade já conhecida (seja por intuição, seja por uma 
demonstração anterior) e que funciona como um princípio geral ao qual se subordinam todos os casos 
que serão demonstrados a partir dela. Em outras palavras, na dedução parte-se de uma verdade já 
conhecida para demonstrar que ela se aplica a todos os casos particulares iguais. Por isso também se 
diz que a dedução vai do geral ao particular ou do universal ao individual. O ponto de partida de uma 
dedução é ou uma ideia verdadeira (ou definição) ou uma teoria verdadeira (isto é, um todo 
sistemático de definições e demonstrações baseadas em princípios verdadeiros e procedimentos 
corretos), e a finalidade do processo dedutivo é assegurar a inferência de conclusões novas e 
verdadeiras, obtidas com base na definição do objeto ou na teoria já existente. 
Por exemplo, se definirmos o triângulo como uma figura geométrica cujos ângulos internos somados 
são iguais à soma de dois ângulos retos, dela deduziremos todos os diferentes triângulos possíveis 
(equilátero ou isósceles, retângulo, etc.), todas as propriedades de todos os triângulos possíveis e toda 
propriedade de cada um dos tipos possíveis de triângulos. Se tomarmos como ponto de partida as 
definições geométricas do ponto, da linha, da superfície e da figura, deduziremos todas as figuras 
geométricas possíveis. 
No caso de uma teoria, a dedução permitirá que cada caso particular encontrado seja conhecido, 
demonstrando que a ele se aplicam todas as leis, regras e verdades. Ou seja, a dedução é um 
procedimento pelo qual um fato ou objeto particular é conhecido por inclusão numa teoria geral. [...] 
Costuma-se representar a dedução pela seguinte fórmula: 
21 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
Todos os x são y (definição do objeto ou teoria geral sobre um conjunto de objetos); 
A é y (caso particular); 
Portanto, A é x (dedução). 
Ela também pode ser expressa numa figura: 
 
[Exemplos: 
1. Todos os homens (x) são mortais (y); 
Sócrates (A) é homem (x); 
Portanto, Sócrates (A) é mortal (y). 
2. Todos os metais (x) são bons condutores de eletricidade (y); 
O mercúrio (A) é um metal (x); 
Portanto, o mercúrio (A) é bom condutor de eletricidade (y). 
A razão oferece regras especiais para realizar uma dedução e, se tais regras não forem respeitadas, a 
dedução será considerada falsa.] 
 
A indução 
A indução realiza um caminho inverso ao da dedução. Com a indução, partimos de casos particulares 
iguais ou semelhantes e procuramos a lei geral, a definição geral ou a teoria geral que explica e 
subordina todos esses casos particulares. A definição ou a teoria são obtidas no ponto final do 
percurso. E a razão também oferece um conjunto de regras precisas para guiar a indução. Se tais 
regras não forem respeitadas, a indução será considerada falsa. 
Por exemplo, colocamos água no fogo e observamos que ela ferve e se transforma em vapor; 
colocamos leite no fogo e vemos também que ele se transforma em vapor; colocamos vários tipos de 
líquidos no fogo e vemos sempre sua transformação em vapor. Induzimos desses casos particulares 
que o fogo possui uma propriedade que produz a evaporação dos líquidos. Essa propriedade é o calor. 
Verificamos, porém, que os diferentes líquidos não levam sempre o mesmo tempo para evaporar; 
cada um deles, portanto, deve ter propriedades específicas que os fazem evaporar em tempos 
diferentes. Descobrimos, porém, que o tempo para acontecer a evaporação não é o fato que precisa 
ser observado e sim quanto de calor cada líquido precisa para começar a evaporar, pois é essa a causa 
dos diferentes tempos para a evaporação. Se considerarmos a água nosso padrão de medida, diremos 
que ela ferve e começa a evaporar a partir de uma certa quantidade de calor e que é essa quantidade 
de calor que precisa ser conhecida. 
Como a água foi escolhida para servir de padrão, diremos que a quantidade de calor é de 100 graus 
centígrados [ao nível do mar]. 
Podemos, a seguir, verificar um fenômeno diferente. Vemos que água e outroslíquidos, colocados 
num refrigerador, endurecem e congelam, mas que, no caso do vapor, cada líquido se congela ou se 
solidifica em tempos diferentes. Procuramos, novamente, a causa dessa diferença e descobrimos que 
depende tanto de certas propriedades de cada líquido quanto da quantidade de frio que há no 
22 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
refrigerador. Percebemos, finalmente, que é essa quantidade que devemos procurar e, se tomarmos a 
água como padrão, diremos que ela se congela a zero graus centígrados [ao nível do mar]. 
Com essas duas séries de fatos (vapor e congelamento), descobrimos que os estados dos líquidos 
variam (evaporação e solidificação) em decorrência da temperatura ambiente (calor e frio) e que cada 
líquido atinge o ponto de evaporação ou de solidificação em temperaturas diferentes. Com esses dados 
podemos formular uma teoria da relação entre os estados da matéria - sólido, líquido e gasoso - e as 
variações de temperatura, estabelecendo uma relação necessária entre o estado de um corpo e a 
temperatura ambiente. Chegamos, por indução, a uma teoria. 
A dedução e a indução são conhecidas com o nome de inferência, isto é, concluir alguma coisa com 
base em outra já conhecida. Na dedução, dado X, (definição ou teoria), infiro (concluo) a, b, c, d 
(casos particulares). Na indução, dados a, b, c, d, infiro (concluo) X. 
 
O falsificacionismo de Karl Popper 
 
“O filósofo Karl Popper (p.332) oferece uma solução radical para o ‘problema da indução’ de Hume 
(p. 180-5) e para a dúvida que ele lança sobre as teorias científicas. Segundo ele, a ciência não se 
baseia na indução, avançando na verdade através da ‘falsificação’ de teorias. [...]” 
 
Suponha que acredito que todos os cisnes são brancos. Então, numa viagem à Nova 
Zelândia, vejo um cisne preto. Essa observação falsifica – torna inverídica – minha 
teoria original de que todos os cisnes são brancos.” (LAW, 2088, p. 186) 
 
“Na medida em que uma afirmação científica fala sobre a realidade deve ser falsificável; 
e na medida em que não é falsificável, não fala sobre a realidade.” (Popper) 
 
 
A abdução 
O filósofo norte-americano Peirce considera que, além da dedução e da indução, a razão 
discursiva ou raciocínio também se realiza numa terceira modalidade de inferência, 
embora esta não seja propriamente demonstrativa. Essa terceira modalidade é chamada 
por ele de abdução. 
A abdução é uma espécie de intuição, mas que não se dá de uma só vez, indo passo a passo para 
chegar a uma conclusão. A abdução é a busca de uma conclusão pela interpretação racional de sinais, 
de indícios, de signos. É uma inferência da melhor 
explicação possível a partir das evidências disponíveis.14O 
exemplo mais simples oferecido por Peirce para explicar o 
que seja a abdução são os contos policiais, o modo como os 
detetives vão coletando indícios ou sinais e formando uma 
teoria para o caso que investigam. 
Segundo Peirce, a abdução é a forma que a razão possui 
quando inicia o estudo de um novo campo científico que 
ainda não havia sido abordado. Ela se aproxima da intuição do artista e da adivinhação do detetive, 
 
14 Vide à frente, entre os filósofos da modernidade, o método do filósofo inglês empirista John Locke. 
23 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
que, antes de iniciarem seus trabalhos, só contam com alguns sinais que indicam pistas a seguir. Os 
historiadores costumam usar a abdução. 
De modo geral, diz-se que a indução e a abdução são procedimentos racionais que empregamos para 
a aquisição de conhecimentos, enquanto a dedução é o procedimento racional que empregamos para 
verificar ou comprovar a verdade de um conhecimento já adquirido. 
 
ANALISE O ESQUEMA A SEGUIR 
 
 
 
Intuição, Indução, dedução ou abdução? “O cisne 1 é branco. O cisne 2 é branco. O cisne 3 é 
branco. O cisne 1000 é branco. Logo, todos os cisnes são brancos.” 
 
 
 
24 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
Os pré-socráticos: a unidade e a multiplicidade 
 
 
“O mundo tem uma racionalidade, o Homem pode descobri-la.” 
 
“Os Pré-Socráticos foram os primeiros Filósofos gregos 
que viveram entre os séculos VII a V a.C. [...] À 
semelhança de Sócrates conhecem-se apenas notícias e 
fragmentos das suas obras, que só chegaram até nós porque 
foram citados ou copiados em obras de Filósofos 
posteriores. 
“A filosofia pré-socrática se caracteriza pela 
preocupação com a natureza do mundo exterior. O 
nascimento da filosofia na Grécia é marcado pela 
passagem da cosmogonia para a cosmologia. A 
cosmogonia, típica do pensamento mítico, é descritiva e 
explica como do caos surge o cosmos, a partir da geração 
dos deuses, identificados às forças da natureza. Na cosmologia, as explicações rompem com a 
religiosidade: a arché (principio) não se encontra mais na ordem do tempo mítico, mas significa 
princípio teórico, enquanto fundamento de todas as coisas. Daí a diversidade de escolas filosóficas, 
dando origem a fundamentações conceituais (e portanto abstratas) muito diferentes entre si.”15 
Os filósofos pré-socráticos foram considerados como pessoas desprendidas das preocupações 
materiais do dia a dia e que se dedicavam apaixonadamente à contemplação da natureza. Tinham 
então como principal objetivo viverem para contemplarem a natureza. Foram simultaneamente poetas 
e profetas, quer se trate de Anaximandro, de Parménides, de Heráclito ou de Empédocles. Para estes 
Filósofos a aparência era manifestação do ser, que o aparecer era o desabrochar em plena luz 
do ser que se mostrava, e era por isso que ser e aparecer estavam tão intimamente ligados, pois 
o aparecer nunca tinha cortado a sua ligação com o ser. Se estes Filósofos tinham então como 
preocupação fundamental a natureza, Sócrates por seu lado interessava-se mais pelos problemas do 
ser humano e da sociedade, pois considerava que explicar a origem e a verdade das coisas através de 
objetos materiais era absurdo. Sócrates passou uma vida a ridicularizar aqueles que pensavam saber 
qualquer coisa que não fosse de natureza espiritual.”16 
 
 
15 Disponível em: < http://pt.slideshare.net/jorgemiklos/a-teoria-do-conhecimento-antiguidade-e-idade-mdia>. 
16 http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/escola/socrates/presocraticos.htm. Os negritos são do 
professor. 
25 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
A escola Jônica 
 
“Caracteriza-se sobretudo pelo interesse pela physis, pelas teorias sobre a natureza.” (MARCONDES, 
p. 31) 
 
Tales de Mileto17 (624/25 – 556/58 a.C.) 
 
Tales provavelmente nada escreveu. Por isso, do seu pensamento só restam 
interpretações formuladas por outros filósofos que lhe atribuíram uma ideia básica: 
a de que tudo se origina da água. A physis, então, teria como único princípio esse 
elemento natural, que se encontra presente em tudo. Segundo Tales, a água, ao se 
resfriar, torna-se densa e dá origem à terra; ao se aquecer transforma-se em vapor e 
ar, que retornam como chuva quando novamente esfriados. Desse ciclo de seu 
movimento (vapor, chuva, rio, 
mar, terra) nascem as diversas formas de vida, 
vegetal e animal. 
Não há dúvida de que esse pensamento logo 
esbarra em dificuldades. O que são, por 
exemplo, o calor e o frio de que depende o 
movimento da água, se é esta a origem única de 
todas as coisas?”18 
 
“A maior parte dos primeiros filósofos considerou como princípios de todas as coisas unicamente os 
que são da natureza da matéria [...] Quanto ao número e à natureza desses princípios, nem todos 
pensam da mesma maneira. Tales, o fundador de tal filosofia, diz ser a água (e épor isso que ele 
declarou também que a terra assenta sobre a água), levado sem dúvida a essa concepção por observar 
que o alimento de todas as coisas é úmido e que o próprio quente dele procede e dele vive (ora, aquilo 
donde as coisas vêm é, para todas, o seu princípio). Foi desta observação, portanto, que ele derivou 
tal concepção, como ainda do fato de todas as sementes terem uma natureza úmida e ser a água, para 
todas as coisas úmidas, o princípio da natureza.” (Aristóteles, Metafísica, I, 3) 
 
 
17 Mileto - antiga cidade da Ásia Menor, no sul da Jônia, situada junto à foz do rio Meandro. 
18 História do Pensamento, 1987, Editora Nova Cultura Ltda, vol. 1, p. 21. 
26 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
A escola Italiana 
 
“Caracteriza-se por uma visão de mundo mais abstrata, menos voltada para uma explicação 
naturalista da realidade, prenunciando em certo sentido o surgimento da lógica e da metafísica, 
sobretudo no que diz respeito aos eleatas.” (MARCONDES, p. 31) 
 
Pitágoras de Samos19 (571/70-497/96 a.C.) 
 
“‘E, de fato, tudo o que se conhece tem número. Pois é impossível pensar ou 
conhecer algumas coisas sem aquele.’ (Filolau) 
 
Nasceu numa ilha próxima a Mileto - Samos. Pouco se sabe sobre a vida de 
Pitágoras, havendo, até mesmo, muitas lendas associadas a ela. Sabe-se, entretanto, 
que ele foi para Crotona (na Itália), onde deu origem a um movimento não só 
intelectual, mas também político e religioso, que teve influência no pensamento grego posterior. 
Pitágoras não deixou obras escritas, e é difícil distinguir as ideias que lhe são próprias, ou mesmo 
próprias do início do movimento por ele originado, daquelas que foram já frutos do desenvolvimento 
de seus ensinamentos, apresentadas por Filolau de Crotona (século V a.C.) e Arquitas de Tarento 
(século IV a.C.) -filósofos pitagóricos de cuja obra existem fragmentos. Há, entretanto, algumas 
noções que marcaram a proposição e o desenvolvimento do pensamento pitagórico: a noção de 
número, a noção de harmonia e a noção de alma. 
 
Na busca da compreensão dos fenômenos do mundo, Pitágoras, como os primeiros pensadores jônios, procurou 
explicar como se compunham o mundo e as coisas nele existentes e, tal como eles, chegou a um elemento como 
base de todos os fenômenos, só que, nesse caso, esse elemento era o número. Para os pitagóricos, o universo e 
todos os seus fenômenos eram formados por números: 
[...] os chamados pitagóricos consagraram-se pela primeira vez às matemáticas, fazendo-as progredir, e penetrados 
por estas disciplinas, julgaram que os princípios delas fossem os princípios de todos os seres. Como, porém, 
entre estes, os números são, por natureza os primeiros, e como nos números julgaram (os pitagóricos) aperceber 
muitíssimas semelhanças com o que existe e o que gera, de preferência ao fogo, à terra e à água [...] além disso, 
como vissem nos números as modificações e as proporções da harmonia e, enfim, como todas as outras coisas lhes 
parecessem, na natureza inteira, formadas à semelhança dos números, e os números as realidades primordiais do 
Universo, pensaram eles que os elementos dos números fossem também os elementos de todos os seres, e que 
o céu inteiro fosse harmonia e número. (Aristóteles, Metafísica, I, 5) 
 
O número, assim, não era visto como um símbolo, mas 
sim como o elemento que compunha a estrutura dos 
fenômenos da natureza; descobrir como se constituíam 
esses fenômenos era descobrir a relação numérica que 
eles expressavam: ‘Pois a natureza do número dá 
conhecimento, é guia e mestre para cada um, em tudo o que 
lhe é duvidoso e desconhecido. Se não fosse o número e a 
sua essência, nada das coisas seria manifesto a ninguém, 
nem em si mesmas, nem em suas relações com outras’ (Filolau, Fragmento 11). Como afirma 
Farrington (1961), essa concepção de número envolvia mais que matemática, ela constituía, 
 
19 Samos - ilha grega no leste do mar Egeu. 
27 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
também, física; o número era o elemento que compunha o universo e era associado a elementos 
geométricos: 
 
Chamavam Um ao ponto, Dois à linha, Três à superfície e Quatro ao sólido, de acordo com o número mínimo de 
pontos necessários para definir cada qual dessas dimensões. Os pontos, para eles, tinham tamanho; as linhas, altura, 
e as superfícies, profundidade. [...] A partir de Um, Dois, Três e Quatro podiam construir um mundo. Não é 
estranho, pois, que dez, a soma destes números, tenha um poder sagrado e onipotente. (p. 37) 
 
Na base desse mundo estava, assim, o um, a unidade: ‘O um (unidade) é o princípio de tudo’ 
(Filolau, Fragmento 8). Entretanto, diferentemente dos primeiros jônios que acreditavam que da 
unidade surgia a multiplicidade dos fenômenos, para os pitagóricos essa unidade inicial era 
formada por dois princípios opostos: na união de um par fundamental de opostos - o limitado 
e o ilimitado - estava a origem do universo. O limitado e o ilimitado davam origem a uma unidade, 
ao uno - que estava na base de todas as coisas -, e, ao mesmo tempo, representavam outros pares de 
opostos (ímpar-par, por exemplo), que compunham os fenômenos do universo. Dessa forma, os 
números pares são associados ao ilimitado, os números ímpares ao limitado, mas a unidade, 
que tem o poder de transformar os pares em ímpares e os ímpares em pares, é composta de 
duas naturezas: do par e do ímpar. É assim que Thomson (1974b) se refere à concepção proposta 
por Pitágoras, que, vendo na unidade a base de todas as coisas, vê a própria unidade como uma 
dualidade: 
 
O que é inovador e revolucionário é o postulado de que o número é a substância primordial. O par original, o 
limitado e o ilimitado, representa o número sob os seus dois aspectos: par e ímpar. Como substância material, o 
número possui extensão. A forma como este agregado de quantidades foi constituído não é perfeitamente 
esclarecida, mas parece que se assimilava o ilimitado ao vazio e que a primeira unidade absorvia uma porção do 
ilimitado, limitando-o assim e simultaneamente dividindo-se em dois. Renovando-se o mesmo processo, dois 
engendram três e assim em seguida. (Thomson, 1974a, p. 115) 
 
A compreensão desse universo composto e formado por números implicava, então, o 
reconhecimento dos opostos presentes na própria unidade, mas opostos que se fundiam na 
unidade, que se harmonizavam; intimamente relacionada à noção de número como constitutivo dos 
fenômenos, desenvolveu-se a noção de harmonia. Pitágoras teria chegado à noção de harmonia por 
meio da música, teria descoberto a relação entre o comprimento das cordas e o som que elas 
produziam ao vibrar, o que tornava possível entender o som por meio de uma relação matemática. 
Estendida ao universo todo, a noção de harmonia significava a união de elementos opostos, a 
possibilidade de ‘concordar’ o que era ‘discordante’, de junção de desiguais em um único todo 
harmônico. Nos fragmentos da obra de Filolau, a harmonia encontra-se assim caracterizada: 
 
As relações entre a natureza e a harmonia são as seguintes: a essência das coisas, que é eterna, e a própria natureza, 
admitem, não o conhecimento humano e sim o divino. E o nosso conhecimento das coisas seria totalmente 
impossível, se não existissem suas essências, das quais formou-se o cosmos, seja das limitadas, seja das ilimitadas. 
Como, contudo, estes (dois) princípios não são iguais nem aparentados, teria sido impossível formar com 
eles um cosmos, sem a concorrência da harmonia, donde quer que tenha esta surgido. O igual e aparentado 
não exige a harmonia, mas o que não é igual nem aparentado, e desigualmente ordenado, necessita ser unido por 
tal harmonia que possa ser contido num cosmos.(Fragmento 6) 
 
Harmonia é a unidade do misturado e a concordância das discordâncias. (Fragmento 10) 
 
28 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
O número e a harmonia presidiam todo o universo pitagórico e tornavam esse universo 
cognoscível. Pode-se dizer que eram, ao mesmo tempo, a condição de existência do universo, a 
condição de possibilidade de conhecimento e a expressão de conhecimento verdadeiro: 
 
[...] Se não fosse o número e a sua essência, nada das coisas seria manifesto a ninguém, nem em si mesmas, nem 
em suas relações com outras. [...] Nem a natureza do número nem a harmonia abrigam em si a falsidade. Pois ela 
não lhes é própria. (Filolau, Fragmento 11) 
 
Inevitável, então, que as noções de número e harmonia fundamentassem o conhecimento produzido 
pelos pitagóricos nas mais diferentes áreas: na música (estudaram os intervalos harmônicos e as 
escalas musicais); na astronomia (procuraram determinar o número e o movimento orbital dos 
planetas e chegaram - possivelmente Filolau - a afirmar que a Terra era um planeta móvel); e, 
especialmente, na matemática. Os pitagóricos desenvolveram um conhecimento matemático já 
produzido pelos egípcios e babilônios e elaboraram uma completa teoria dos números. Ronam (1987, 
p. 75-76) destaca alguns traços e descobertas dessa teoria: a utilização de números figurados 
(representação dos números por meio de figuras geométricas); o estabelecimento de números 
‘perfeitos’ (‘iguais aos seus divisores separados, quando somados’, por exemplo: 6 = 1+2+3); o 
estabelecimento de números ‘amigáveis’ (‘dois números em que cada um é igual à soma dos fatores 
do outro’, por exemplo o par 220 e 284, possivelmente descoberto por Pitágoras e o único conhecido 
na Antiguidade)20; o estudo das médias aritmética, geométrica e harmônica. Ronam (1987) destaca, 
também, o envolvimento dos pitagóricos no estudo das figuras geométricas e aponta como sua mais 
importante contribuição no campo da 
matemática o desenvolvimento do 
conhecimento decorrente do teorema 
atribuído a Pitágoras, que conduziu aos 
números irracionais21, bastante 
problemáticos para a própria concepção 
pitagórica, que via na unidade o elemento 
constitutivo de todo o cosmo: 
 
De todo o conhecimento matemático atribuído aos pitagóricos, o mais importante foi decorrente do teorema de 
Pitágoras: o fato de que nem toda quantidade pode ser expressa por números inteiros. Porque, embora o lado maior 
ou hipotenusa de um triângulo retângulo possa ter seu comprimento expresso em números inteiros, na maioria das 
vezes isso não acontece; se pode ou não, depende dos comprimentos dos outros lados. [...] Esse fato assustou os 
pitagóricos e também os matemáticos posteriores, uma vez que ameaçava a ideia de ser a geometria o fundamento 
da matemática, mas conduziu a um trabalho mais cuidadoso e, desse modo, agiu como estimulante. (Ronam, 1987, 
p. 77) 
 
Intimamente relacionada a essa concepção matemática e física, a teoria dos números iniciada por 
Pitágoras continha um aspecto místico; ao número era associado um poder extraordinário, pode-se 
dizer divino. E alguns números, em particular, manifestavam esse poder, como é o caso do número 
 
20 Números amigáveis são pares de números onde um deles é a soma dos divisores do outro. Por exemplo, os divisores 
de 220 são 1, 2, 4, 5, 10, 11, 20, 22, 44, 55 e 110, cuja soma é 284. Por outro lado, os divisores de 284 são 1, 2, 4, 71 e 
142 e a soma deles é 220. Fermat descobriu também o par 17.296 e 18.416. 
21 Números irracionais são os números reais que não são racionais, isto é, o conjunto de números irracionais é o 
complemento do conjunto de números racionais. Exemplos de números irracionais são: √2 = 1,4142135 ...; √3 = 
1,7320508 ... Um número irracional bastante conhecido é o número π (PI) = 3,1415926535... 
29 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
dez e sua representação geométrica, que por várias razões, entre elas a de ser a soma dos quatro 
primeiros números, tinha um significado especial: 
 
Devem-se julgar as obras e a essência do número pela potência do número dez (que está na década). Pois ela é 
grande, completa tudo e causa tudo, princípio e guia da vida divina e celeste, como também da humana. (Filolau, 
Fragmento 11) 
 
Esse caráter místico não se desenvolveu independentemente do que se pode considerar como a 
concepção físico-matemática do universo; ao contrário, associado a ela, deixou marcas no 
conhecimento produzido pelos pitagóricos, como pode ser ilustrado por este trecho, no qual 
Aristóteles se refere a esses pensadores: 
 
Se nalguma parte algo faltasse, supriam logo com as adições necessárias, para que toda a sua teoria se tornasse 
coerente. Assim, como a década parece um número perfeito e parece abarcar toda a natureza dos números, eles 
afirmam que os corpos em movimento no universo são dez. E como os (corpos celestes) visíveis são nove, por isso 
conceberam um décimo, a Anti-Terra. (Aristóteles, Metafísica, I, 5) 
 
O conhecimento e a religião estavam também intimamente relacionados: o 
conhecimento, revestido do caráter de doutrina a ser revelada somente aos 
membros do grupo religioso e, então, de objeto de reflexão, de meditação, 
era o caminho para a salvação. Esse era um dos aspectos que 
caracterizavam o movimento religioso iniciado por Pitágoras e que ao 
mesmo tempo o distinguia do orfismo22, com o qual tinha muitas bases em 
comum. Tal como os órficos, os pitagóricos concebiam corpo e alma como 
distintos, e a alma como imortal; entretanto, para eles, a purificação da 
alma imortal seria atingida por meio do conhecimento das coisas e do 
universo. A purificação plena, porém, exigia um longo percurso, e, assim 
como·os órficos, os pitagóricos supunham que a alma transmigrava e que a sua purificação plena 
implicava a sua libertação final do corpo; dessa forma, com a purificação plena, a alma liberta do 
corpo - sua prisão temporária - voltaria à vida divina que originalmente partilhara. 
O conhecimento parecia ter também, para os seguidores de Pitágoras, um papel no 
estabelecimento de uma vida social harmônica. As concepções políticas de Pitágoras e de seus 
primeiros seguidores têm sido assunto de controvérsia: Pitágoras tem sido apresentado ora como 
defensor da aristocracia fundiária, ora como defensor de uma democracia comercial, posição que 
pode ser ratificada pelo fato de ele ser um estrangeiro em Crotona. Apesar dessa controvérsia, sabe-
se que, por algum tempo, os pitagóricos detiveram o poder político em Crotona e em algumas outras 
cidades. E se o pensamento de um pitagórico posterior pode indicar traços do pitagorismo inicial, 
pode-se supor que o conhecimento era visto como um instrumento importante na resolução dos 
problemas sociais: 
 
 
22 Orfismo - (mais raramente orficismo) (grego antigo: Ὀρφικά) é o nome dado a um conjunto de crenças e práticas 
religiosas originárias do mundo grego helenista bem como pelos trácios, associada com a literatura atribuída ao poeta 
mítico Orfeu, que desceu ao Hades e voltou. Desenvolveu-se por volta dos séculos VII e VI a.C. Segundo Thomson 
(1974b), o orfismo teve sua origem na Trácia; nascido entre os camponeses, desenvolveu uma teogonia muito semelhante 
à de Hesíodo e expandiu-se, com facilidade, nas colônias gregas da Itália e Sicília. Os órficos acreditavam na imortalidade 
da alma, na transmigração da alma até que atingisse a salvação, na iniciação religiosa e nos cultos sagrados dedicados a 
Dionísio como meios de purificação. 
30 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
Quando se conseguiu encontrar a razão, esta aumenta a concórdia fazendo cessar a rebelião. Já não há lugarpara 
a competição, pois reina a igualdade. Por seu intermédio podemos reconciliar-nos com nossas obrigações. Devido 
a ela, recebem os pobres dos poderosos e os ricos dão aos necessitados, pois ambos confiam em possuir mais tarde 
com igualdade. Regra e obstáculo dos injustos, faz desistir os que sabem raciocinar, antes de cometerem injustiça, 
convencendo-os de que não podem permanecer ocultos quando voltarem ao mesmo lugar; aos que não 
compreendem, revela-lhes a sua injustiça, impedindo-os de cometê-la. (Arquitas, Fragmento 3) 
 
Com o movimento originado por Pitágoras, a elaboração do pensamento racional alcança um 
maior poder de abstração. Livre dos aspectos místicos, a noção de número fornecia o instrumental 
necessário para que se pudesse ir além dos elementos sensíveis, permitia abstrações com as quais se 
poderia compreender o que é fundamental na natureza, sem que isso implicasse que o conhecimento 
obtido não se referisse à própria natureza - o número, em última instância material, era a estrutura das 
coisas. Aristóteles, em uma das vezes que se referiu aos pitagóricos, ressaltou esta característica: 
 
Os que são chamados pitagóricos recorrem a princípios e a elementos ainda mais afastados que os dos fisiólogos. 
A razão é que eles buscam os princípios fora dos sensíveis. [...] No entanto, de nada mais discutem e de nada mais 
tratam senão da natureza. Dão geração ao céu, observam o que se passa nas suas diferentes partes e respectivas 
modificações e revoluções, e em tais fenômenos eles esgotam os princípios e as causas, como se partilhassem a 
opinião dos outros fisiólogos, para quem o ser é tudo o que ê sensível, e contido no que chamamos céu. (Aristóteles, 
Metafísica, I, 8) 
 
A noção de número, ligada à existência dos fenômenos, não afastava necessariamente do contato 
direto com os objetos de estudo (como parecem indicar os estudos sobre a música, por exemplo) e, 
em função de suas características próprias - elemento não sensível -, implicava a valorização da razão 
na produção de conhecimento. 
Alguns autores (Hirschberger, 1969; Brun, s/da) apontam, entre os seguidores de Pitágoras, dois 
grupos: os que se ativeram aos aspectos religiosos e místicos da sua concepção e os que se ativeram 
aos aspectos científicos e filosóficos. Independentemente disso, a concepção de Pitágoras, com suas 
diferentes facetas, exerceu influência significativa sobre o pensamento grego que se desenvolveu 
posteriormente.”23 
 
 
 
23 Adaptado de ANDERY, M.A.P.A. et al. Para compreender a ciência: uma perspectiva histórica. 16ª ed. Rio de 
Janeiro: Garamond, 2012, p. 40-6 (os negritos são meus). 
31 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
Heráclito de Éfeso24 (535-475 a.C.) – “O obscuro” – Corrente “Mobilista” – “Tudo passa!” 
 
“A rota para cima e para baixo é uma e a mesma” 
(Heráclito) 
 
“Heráclito concebia o universo e todos os seus fenômenos como uma unidade: 
‘Conjunção o todo e o não todo, o convergente e o divergente, o consoante e o 
dissoante, e de todas as coisas um e de um todas as coisas’ (Fragmento 10). Entretanto, 
a afirmação de que ‘tudo é um’ (Fragmento 50) assume em sua concepção um caráter completamente 
novo: a unidade só existe enquanto processo, a unidade, vista não como algo que permanece na 
imutabilidade, só permanece enquanto movimento de transformações contínuas: ‘O deus é dia, 
noite, inverno, verão, guerra, paz, saciedade, fome; mas se alterna como o fogo, quando se mistura a 
incensos, e se denomina segundo o gosto de cada’ (Fragmento 67). Havia no mundo uma lei, uma 
racionalidade – logos – que dirigia seu movimento constituindo a sua unidade – ‘De todas (as coisas) 
o raio fulgurante dirige o curso’ (Fragmento 64) 
Era o fogo que permitia esse fluir, esse movimento: ‘Por fogo se trocam todas (as coisas) e fogo 
por todas, tal como por ouro mercadorias e por mercadorias ouro’ (Heráclito, Fragmento 90). O fogo 
assumia, assim, o papel de elemento primordial: o elemento que possibilitava a transformação, que 
expressava a lei que regia o universo. Como ressalta Thomson (1974b, p. 138), o fogo, aqui, 
representa ‘muito mais do que o fenômeno material conhecido sob esta designação: ele é o vivo, 
inteligente, o divino’, e só pode ser considerado como elemento primordial porque expressa essa 
lei, que 
 
é simbolizada com exatidão pelo elemento cujo movimento contínuo é manifesto e cujo contato transforma tudo. 
Mas não é mais que um símbolo. A realidade que ele envolve é uma abstração. Assim, em Heráclito, a substância 
primordial a da cosmologia milesiana perde todo o valor concreto para se tornar numa ideia abstrata. (Thomson, 
1974b, p. 136-137) 
 
Na medida em que o fogo tudo transformava e tudo se transformava em fogo, não havia 
oposição entre a unidade e a multiplicidade; todo fenômeno era ao mesmo tempo uno e múltiplo: 
‘Nos mesmos rios entramos e não entramos, somos e não somos’ (Heráclito, Fragmento 49a). Os 
fenômenos podiam ser assim concebidos porque continham em si opostos que se encontravam 
em perpétua tensão, em perpétua busca de equilíbrio, em que, a cada momento, predominava 
um dos polos dos contrários em tensão; era essa tensão dos opostos constituintes de um mesmo 
fenômeno que o mantinha ao mesmo tempo diverso e uno, que o mantinha em constante 
movimento, em constante transformação: ‘As (coisas) frias esquentam, quente esfria, úmido seca, 
seco umedece’ (Heráclito, Fragmento 126). Essa mudança, porque era busca de equilíbrio, era 
ordenada e expressava a harmonia presente em todos os fenômenos da natureza. Mas não se 
tratava, aqui, da visão de harmonia apresentada pelos pitagóricos, que envolvia a dissolução da 
oposição na, por assim dizer, constituição da unidade. Mas, sim, tratava-se exatamente de uma 
harmonia na qual a oposição persistia: ‘Não compreendem como o divergente consigo mesmo 
concorda; harmonia de tensões contrárias, como de arco e lira’ (Heráclito, Fragmento 51). Tratava-
se então de reconhecer a tensão de opostos que coexistiam em cada fenômeno e que constituíam a 
 
24 Éfeso - cidade greco-romana da Antiguidade situada na costa ocidental da Ásia Menor, próxima à atual Selçuk, 
província de Esmirna, na Turquia. Foi uma das doze cidades da Liga Jônia durante o período clássico grego. 
32 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
sua unidade; era de forças opostas, em constante 
luta, que se operava, a um só tempo, a diversidade 
e a unidade - que o dia se fazia noite e a noite se 
tornava dia, que tornava a água do mar potável e 
impotável, que atribuía o valor da saúde somente 
em face da doença, o do repouso somente em face 
da fadiga. 
O universo dessa forma concebido era eterno: sem começo - não havia um momento no qual 
tivesse se originado - e sem fim - era fruto de perpétua transformação: ‘Este mundo, o mesmo de 
todos os (seres), nenhum deus, nenhum homem o fez, mas era, e será um fogo sempre vivo, 
acendendo-se em medidas e apagando-se em medidas’ (Fragmento 30). Se a noção de eternidade, ao 
significar ausência de início, distinguia Heráclito dos milesianos, distinguia-o de Parmênides ao 
significar também movimento, pois, apesar de ambos suporem um universo eterno, para Heráclito 
isso não implicava um universo imóvel, ao contrário, a eternidade era decorrente de um 
movimento contínuo. O movimento, sim, era a única característica imutável do universo: ‘O 
mesmo é em (nós?) vivo e morto, desperto e dormindo, novo e velho, pois estes, tombados além, são 
aqueles e aqueles de novo, tombados além, são estes’ (Fragmento 88). 
Para Heráclito, estas características do universo não se apresentavam de pronto aos homens: a 
‘Natureza ama esconder-se’ (Fragmento 123), o que tornava o conhecimento

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