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Aula 01: Relações interpessoais “... a vida é a arte do encontro embora haja tanto desencontro pela vida...” (Samba da benção, Vinicius de Moraes) “Há uma coisa terrível neste mundo: todos têm suas razões.” (A regra do jogo, Jean Renoir) “... é impossível ser feliz sozinho...” (Wave, João Gilberto) Relações interpessoais são os contatos entre seres humanos. Elas ocorrem em todos os meios – familiar, educacional, profissional, social – e pode acontecer entre: a) uma pessoa e outra – marido e mulher por exemplo; b) entre membros de um grupo – empregados e chefes, numa empresa; e c) entre grupos numa organização – grupos de estudo numa classe. Nossa vida é pautada por nossas relações interpessoais. Diferente dos demais animais, o homem é uma criatura consciente de seus instintos e é capaz de sobrepujá-los. Pode fazer escolhas dando preferência a um aspecto da consciência em detrimento de outro. Isso amplia imensamente a complexidade das relações humanas, uma vez que somos dotados de uma imensurável diversidade emocional. As circunstâncias que motivam a interação humana são variadas, porém, por unanimidade, é sempre estabelecida uma relação de troca. Troca de afeto, atenção, dinheiro, confiança, respeito. Qualquer relacionamento envolve expectativas, responsabilidades, decepções, vantagens. O fato de envolver ao menos duas pessoas já faz desse envolvimento algo maravilhoso e difícil. Ter de conviver (e até mesmo depender) de outro indivíduo pode não ser confortável para todos e eventualmente, encontramos pessoas que escolhem a solidão por ter outras prioridades em suas vidas. Vivemos em sociedade. Estamos imersos em um contexto que nos influencia, modifica e, pode-se dizer, nos constitui. Este jogo social tem regras complexas, extremamente mutáveis e dimensões quase intermináveis de aspectos, detalhes e particularidades com as quais lidamos cotidianamente. “Pessoas convivem e trabalham com pessoas e portam-se como pessoas, isto é, reagem às outras pessoas com as quais entram em contato: comunicam-se, simpatizam e sentem atrações, antipatizam e sentem aversões, aproximam-se, afastam-se, entram em conflito, competem, colaboram, desenvolvem afeto. Essas interferências ou reações, voluntárias ou involuntárias, intencionais ou não-intencionais, constituem o processo de interação humana, em que cada pessoa na presença da outra pessoa não fica indiferente a essa situação de presença estimuladora. O processo de interação humana é complexo e ocorre permanentemente entre pessoas, sob forma de comportamentos manifestos e não-manifestos, verbais e não-verbais, pensamentos, reações mentais e/ou físico- corporais.” (Moscovici, 2011) O processo de interação humana, o contato social, a “arte do encontro” é o foco central dos estudos de desenvolvimento interpessoal. E é fácil perceber que tem grande importância para o sucesso de quase toda atividade profissional a compreensão das formas como são desenvolvidas relações interpessoais. Há, por certo, algumas posições profissionais em que alguém pode até, em um primeiro olhar, acreditar que trabalha “de forma técnica” ou “atua sozinho e não em equipe” e que o resultado de seu trabalho não tem ou sofre influência de outros. Qualquer análise menos apressada porém, mostrará que esta atividade profissional aparentemente isolada está, na verdade, cercada de interações cotidianas como relatórios, reuniões, treinamentos, contatos telefônicos entre outros. Por outro lado, o imenso conjunto de transformações tecnológicas, culturais, sociais e políticas (para reduzir esta lista de dimensões a um mero essencial) a que chamamos globalização traz, em seu âmago, o desenvolvimento de novos, inéditos e intensivos eventos de encontros sociais. A sociedade global coloca-nos em contato social mais rápido, com mais frequência e qualidade. Convivemos de mais formas, mais horas por dia, com mais pessoas, com mais geografias que nunca em emails, chats, redes sociais e webcams. Somos desafiados por novos contextos de interação interpessoal para os quais não trazemos tradições culturais bem assentadas que possam nos auxiliar sob a forma de “educação informal ou familiar”. “Assim, um olhar, um sorriso, um gesto, uma postura corporal, um deslocamento físico de aproximação ou afastamento constituem formas não-verbais de interação. Mesmo quando alguém vira as costas ou fica em silêncio, isto também é interação – e tem um significado, pois comunica algo aos outros. O fato de ‘sentir’ a presença do outro já é interação” (Moscovici, 2011) Abordagens psicológicas sobre as relações interpessoais No contexto deste estudo relações interpessoais são quaisquer interações que acontecem entre pessoas. Como uma percebe a outra, o que uma faz à outra, o que espera da outra, o que pensa e como reage às ações da outra. Nosso alvo são as questões superficiais, ou seja, eventos conscientes de nossa vida cotidiana ao invés dos processos psicológicos inconscientes de níveis profundos. A humanidade demonstra grande fascínio sobre este tema das relações interpessoais. Elas são combustível para a origem de mitos, contos, lendas, poemas, novelas, peças teatrais e canções, entre tantas outras produções culturais. Percebemos este nosso interesse em relações interpessoais nas conversas informais que temos quase diariamente sobre o que alguém fez, falou ou ainda como reagiu a tal fato. O significado completo das complexas relações humanas não é evidente mas compreendemos de forma ampla e rápida um número surpreendente de ações, atitudes e sentimentos. É por esta razão que a psicologia tem posição única em relação a outras ciências: o “conhecimento intuitivo” pode alcançar notável profundidade e extensão quando se trata de comportamento humano. As pessoas quase sempre sabem evitar fazer algo que foi pedido a elas, ou reconhecer quando alguém está zangado ou feliz. Podemos até criar explicações plausíveis para causas deste ou aquele comportamento ou sentimento. O ser humano comum tem um grande e profundo conhecimento de si mesmo e das outras pessoas. Conhecimento que, embora não descrito formalmente ou sequer verbalizado permite que se interaja com outros de forma mais ou menos adaptativa. Em contraste a todo este conhecimento intuitivo, natural e de senso comum, a ciência das relações humanas é uma das que teve desenvolvimento mais tardio. Podemos alegar que “como sabemos tanto sobre nós mesmos, não há porque desenvolver teorias ou observações sistemáticas sobre o óbvio” ou “o estudo científico destruiria as vagas e boas ilusões que temos sobre nós mesmos”. “Tendo os problemas interpessoais como eixo central (sem desconsiderar outros processos como a ansiedade, a percepção e a cognição), a história registra dois grandes movimentos na Psicologia, não restritos exclusivamente à prática terapêutica: o Treinamento Assertivo (TA), que ganhou destaque nos Estados Unidos, e o Treinamento de Habilidades Sociais (THS), que se iniciou na Inglaterra sendo considerado hoje mais abrangente que o primeiro.” (Del Prette, 2008) Apesar do entendimento intuitivo que todos temos sobre relações interpessoais, elas são tão desafiadoras e psicologicamente significativas quanto os fenômenos mais profundos e incomuns da psiquê humana. O estudo de seus componentes e mecanismos nos permite compreender motivações alheias e nossas próprias reações, habilitando-nos a promover intervenções conscientes, com causa e efeito determinados. E esta percepção e habilidade são os elementos básicos para desenvolvimento da competência interpessoal. A inteligência nas relações interpessoaisPodemos definir competência como um conjunto de habilidades que permitem que um indivíduo resolva problemas ou dificuldades, crie produtos ou gere novos problemas. Inteligência não é uma competência simples, mas complexa e multifacetada. Inteligências múltiplas Para que possamos estudar a inteligência, podemos dividi-la em dimensões. Gardner (1983) criou um modelo de inteligências múltiplas. Para elaborar seu modelo, ele criou alguns critérios para que uma dada capacidade fosse considerada uma inteligência. Os critérios que Gardner adotou foram: • Potencial prejuízo a partir de dano cerebral, (e.g.: capacidades lingüísticas e Acidente Vascular Cerebral); • Existência de gênios, ou indivíduos eminentes com habilidades especiais onde se pode observar tal capacidade isolada ou prejudicada; • Um conjunto de operações identificável. (e.g.: música consiste da sensibilidade para melodia, harmonia, ritmo, timbre e estrutura musical); • Uma história de desenvolvimento diferente para cada indivíduo e uma natureza definível de desempenho especialista; • Uma história evolutiva para seu desenvolvimento (e.g.: formas de inteligência espacial em mamíferos ou inteligência musical em pássaros); • Testabilidade a partir de distinções psicométricas susceptíveis de confirmação e re-testagem com múltiplos instrumentos; e • Suscetibilidade para ser codificada em um sistema de símbolos. (e.g.: aritmética, mapas e expressão lógica). O modelo de Gardner Seguindo estes critérios, o modelo de inteligências múltiplas de Gardner definiu as seguintes seis dimensões para inteligência: Corporal capacidades de controlar e orquestrar os movimentos do corpo. São exemplos a dança ou esportes; Espacial relacionada às capacidades de compreender o mundo visual com precisão. São exemplos a pintura, escultura, cartografia; Linguística o domínio de palavras, idiomas e sua exploração. São exemplos os poetas, escritores e linguistas; Matemática capacidade de confrontar objetos e abstrações e compreender suas relações e princípios. São exemplos os cientistas e filósofos; Musical habilidade de compor, executar e reconhecer padrões musicais. São exemplos os músicos, maestros e críticos de música; e Pessoal capacidades de compreensão dos comportamentos e reações humanas. São exemplos os políticos, psicoterapeutas e professores. Inteligência pessoal O modelo de inteligências múltiplas inicialmente proposto por Gardner sofreu diversas revisões. Adicionalmente, outros autores elaboraram modelos alternativos para estudar determinados aspectos da inteligência. Não há um modelo consensual que possa ser utilizado em qualquer contexto. Estamos entretanto, nos estudos desta disciplina, interessados especificamente na inteligência pessoal. É este tipo de inteligência que exerce maior influência nas relações interpessoais. Podemos dividir inteligência pessoal em dois subtipos: intrapessoal e interpessoal. A inteligência intrapessoal é a capacidade de conhecimento de si mesmo, a habilidade de perceber suas emoções e sentimentos e utilizar esse conhecimento para orientar seu próprio comportamento. A inteligência interpessoal é caracterizada pela capacidade de perceber o outro, seu temperamento, suas reações, seus diferentes estados de ânimo e motivações ou intenções. São características da inteligência interpessoal a cooperação, facilidade de fazer amigos, tratar bem de negócios, mediação de disputas, apreciar a companhia de outras pessoas, percepção aguçada das situações sociais e das intenções de terceiros, facilidade de associação e relacionamento. Percepção pessoal Desenvolver habilidades de percepção pessoal é chave para um bom desempenho em relações interpessoais. Saber ouvir, observar e ler a nós mesmos e a outros indivíduos ou grupos é o ponto de partida para que possamos desenvolver nossa inteligência pessoal. "O processo de interação humana é complexo e ocorre permanentemente entre pessoas, sob forma de comportamentos manifestos e não manifestos, verbais e não verbais, pensamentos, sentimentos, reações mentais e/ou físico-corporais." (Moscovici 2011) Auto-percepção Nos estudos sobre o comportamento humano é oportuno lembrar o famoso aforismo grego: “Conhece-te a ti mesmo”. Segundo a tradição ele estaria inscrito na entrada do Oráculo de Delfos e teria sido criado por uma de suas pitonisas. O desenvolvimento de habilidades de auto-percepção é fundamental no contexto das relações interpessoais. Encontraremos em nossos semelhantes as mesmas expectativas, medos e reações que temos. Para a compreensão da complexa dinâmica das relações interpessoais, o caminho mais próximo é a auto-percepção. Percepção interpessoal Que são as habilidades relacionadas ao entendimento de nossos contextos sociais, envolvendo outros indivíduos e grupos. Aspectos da percepção pessoal Há um grande número de aspectos que influenciam o processo de percepção dos encontros sociais e relações interpessoais. Agrupamos estes aspectos em três conjuntos. O primeiro grupo são os aspectos ligados a dimensões pessoais, ou seja, o que sentimos, buscamos e o que acreditamos. Neste grupo estão também todos os nossos limites negativos como ceticismos, ódios e impotências. Agrupamos na dimensão situacional os elementos que formam o contexto no qual se dá a interação social. Estão aqui características como ruídos, iluminação, recursos de conforto físico (e.g.: cadeiras, mesas), disponibilidade de alimentação, presença de outras pessoas, o tipo de local (público/privado). A dimensão cultural envolve características como idiomas, sotaques, vocabulário técnico e não técnico, aparência (e.g.: maquiagem, cabelo, vestes), valores morais ou normas de procedimentos. São fatores que podem favorecer ou dificultar nossa percepção da interação social e, assim, alterar de forma ampla nossas reações, sentimentos e inclinações. É preciso buscar feedback junto ao interlocutor para validar nosso entendimento. E, por vezes, somente encorajando-o teremos estabelecido um clima de confiança para que ele exponha pontos de vista. Em grupos, o posicionamento do interlocutor é questão crítica. Ela é capaz de definir os graus de credibilidade do grupo em relação ao discurso. Assertividade e transmissão de sentimento de auto-eficácia são também chave para o desenvolvimento bem sucedido da interação social. Aula 02: A ética nas relações interpessoais "A ética é a estética de dentro." (Le Livre de Mon Bord, Pierre Reverdy) “Chamamos de Ética o conjunto de coisas que as pessoas fazem quando todos estão olhando. O conjunto de coisas que as pessoas fazem quando ninguém está olhando chamamos de Caráter.” (Oscar Wilde) “Eu sou a última pessoa que você procuraria por um conselho sobre ética, o que significa que você já perguntou a todas as outras pessoas. Ninguém lhe deu a resposta que você queria.” (House, M.D.) Não podemos saber se um dia os seres humanos viveram de forma isolada. Em todos os registros históricos e pré-históricos nos encontramos inseridos em grupos, organizações sociais com maior ou menor complexidade. Somos basicamente um “ser gregário” mas, de forma ainda mais ampla, somos um “ser social”. O homem, originalmente um ser natural como outros, rompeu o padrão de intercâmbio imediato e instintivo estabelecido com a natureza, para dar seus primeiros passos na direção da construção de si mesmo como um novo ser. Um ser gregário, social mas essencialmente um ser ético. Ética Pode-se dizer que um grupo se estabelece como sociedade quando desenvolve, para além da mútua cooperação entre seus membros,um conjunto de preceitos comuns, regras e expectativas que regulam a associação entre seus indivíduos. Sem observar este conjunto de atitudes e comportamentos recomendáveis e esperados, um indivíduo não é aceito em um grupo. Se repentinamente deixa de atendê-las é punido e, se insiste em desrespeitá-las, será certamente excluído. Estes padrões de comportamento podem estar formalmente descritos. Em uma sociedade podem existir instituições criadas e mantidas especialmente para estimular, reforçar e auditar o cumprimento destes padrões. Estamos, neste caso, falando de leis. As leis entretanto, não nascem espontaneamente a partir de um processo criativo. Elas refletem de forma objetiva um conjunto mais amplo e básico de padrões sociais. São ideias, comportamentos e atitudes muitas vezes intuitivas que têm origem na própria trama do tecido social. O ser social não se relaciona com a natureza a partir do instinto: não toma só porque precisa; não mata porque tem raiva; precisa mediar seu comportamento a partir das expectativas sociais. É no processo histórico a partir do qual nos tornamos seres sociais que são criadas possibilidades do homem se comportar como um ser ético: a partir das mediações que são construídas socialmente. A ética tem então sua gênese no processo de construção do ser social. Abordagens das questões éticas A ética direciona o comportamento do homem. Seja no contexto social ou individual, prescreve deveres para obtenção de valores. Não se limita apenas a juízos de valor, mas impõe diretrizes consideradas essenciais e obrigatórias pela sociedade. Este conjunto de preceitos morais deve nortear todo o comportamento social e, em especial, a conduta profissional do indivíduo. Eles contribuem para a formação da consciência profissional com hábitos de integridade e probidade que, em último grau, são reforçados no contexto jurídico: o contexto das leis, que objetiva, sintetiza e formaliza a ética de um grupo social. Conduta eticamente correta Moral Chamamos moral o conjunto de normas que regulam o comportamento humano em sociedade. Estas normas são normalmente adquiridas no convívio cotidiano, na educação formal ou até mesmo pela tradição. A moral é a ciência “do bem e do mal”, “dos deveres e das virtudes”, “dos costumes humanos”. Está sempre relacionada à sociedade e tem caráter obrigatório. É bastante comum encontrarmos o termo ética como sinônimo de moral. De fato, costumes ou hábitos sociais não são separados de uma ética individual. E ética pode ser definida como “a área da filosofia que se ocupa do estudo das normas morais nas sociedades humanas”. A ética é, então, o “aspecto científico” da Moral. A Moral disciplina o comportamento do homem. Trata de costumes, deveres e modo de proceder dos homens para com os outros homens, segundo a justiça e a equidade natural. São motivações éticas, uma “moral teórica”, que fazem com que a sociedade estabeleça suas regras morais, ou a “moral prática”. A prática da ética A ética no mundo contemporâneo tem como objetivo a manutenção, em um nível de excelência, das relações interpessoais entre culturas e povos, sejam elas privadas, públicas ou profissionais, elevando o respeito às individualidades, às culturas dos povos e etnias, estejam eles dentro ou fora do nosso convívio. Em nossa sociedade, todos os indivíduos são motivados a agir eticamente em seu cotidiano. Isso não significa porém, que a maioria tenha hábito de refletir sobre suas ações éticas. Não faz parte da vida cotidiana do cidadão comum indagar criticamente sobre os valores que reproduzem, sobre seu sentido e sobre a razão de repetirem o mesmo comportamento moral sem perguntar sobre ele. Atualmente um grande conjunto de profissões tem seu próprio código de ética profissional, um conjunto de normas de cumprimento obrigatório, derivadas da ética, frequentemente incorporadas à lei pública. Nesses casos, os princípios éticos passam a ter força de lei; note-se que, mesmo quando esses códigos não estão incorporados à lei, seu estudo tem alta probabilidade de exercer influência, por exemplo, em julgamentos nos quais se discutam fatos relativos à conduta profissional. Ademais, seu não cumprimento pode resultar em sanções executadas pela sociedade profissional, como censura pública e suspensão temporária ou definitiva do direito de exercer a profissão. Os fenômenos da Globalização e da revolução tecnológica trazem novos elementos para a questão das relações humanas. Estabelecemos novos meios através dos quais expandimos as formas de interação com outros indivíduos. Estes novos tipos de interação (e.g.: email, redes sociais, chat, vídeo-chamada) coexistem com os “tradicionais” criando mais oportunidades de convívio social. Mas há ainda os chamados relacionamentos virtuais, o convívio com grupos ou pessoas que você jamais conheceu, cuja interação se dá exclusivamente através de meios digitais. Precisamos construir esta ética globalizada e conduzi-la a este papel, para reger e conduzir todas essas éticas sociais e pessoais que regem, desde tempos primórdios, a raça humana pelos caminhos da história. Direitos humanos “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.” (Declaração Universal dos Direitos Humanos, Artigo 1º) Direitos humanos são direitos e liberdades a que qualquer pessoa tem direito só por ser humano. No contexto do fim da segunda guerra mundial, em 1948, foi publicada a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Adotada pela Organização das Nações Unidas (ONU) a Declaração Universal dos Direitos Humanos teve como ideia garantir um conjunto básico de direitos e liberdades válidos em qualquer território, independente de sua organização política. Ainda hoje, passados mais de 60 anos de sua publicação, organizações por todo o mundo lutam pela observância dos direitos por ela garantidos. No Brasil, que passou recentemente por um período de exceção democrática (1964- 1984), o tema direitos humanos tem sido muitas vezes associado de forma confusa, à Segurança Pública. É muito comum ouvirmos que os “direitos humanos” são usados para bandidos e é por isso que a situação está como está (em termos de segurança pública). Parte de uma cultura instaurada que tem raízes históricas talvez mais profundas que o recente período ditatorial, a resistência da opinião pública aos serviços de segurança pública mistura-se com a história da observância dos direitos humanos em nosso país. Produto do autoritarismo vigente no país entre 1964 e 1984 e da manipulação, por ele, dos aparelhos policiais, esse velho paradigma maniqueísta cindiu sociedade e polícia, como se a última não fizesse parte da primeira. (Balestreri, xxxx) Por um lado os serviços de segurança pública foram, ao longo dos anos sendo caracterizados como forças institucionais de repressão, por outro a militância pelos direitos humanos foi caracterizada como um movimento “de esquerda”, uma visão maniqueísta e irreal que é equivocada e eivada de preconceito. Não há direito humano sem segurança pública. São exatamente os serviços de segurança pública que formam a primeira linha de defesa no resguardo dos direitos e liberdades da população. Os profissionais de segurança pública são, necessariamente, cidadãos com especiais habilidades éticas, com conhecimento específico de legislação que representam a sociedade civil de forma qualificada. Um verdadeiro policial, ciente de seu valor social, será o primeiro interessado no “expurgo” dos maus profissionais, dos corruptos, dostorturadores, dos psicopatas. Sabe que o lugar deles não é polícia, pois, além do dano social que causam, prejudicam o equilíbrio psicológico de todo o conjunto da corporação e inundam os meios de comunicação social com um marketing que denigre o esforço heróico de todos aqueles outros que cumprem corretamente sua espinhosa missão. Por esse motivo, não está disposto a conceder-lhes qualquer tipo de espaço. (Balestreri, xxxx) Aula 03: Competência interpessoal As interações sociais envolvem os mais diversos objetivos. Interagimos socialmente para transmitir uma opinião, informar sobre um aspecto, solicitar uma ação ou comportamento, supervisionar a execução de uma atividade, estabelecer um limite, agradecer um ato... Uma lista que é limitada apenas pela criatividade. Ao longo de apenas um dia de trabalho podemos compilar centenas interações para os mais diversos fins. Uma pessoa com razoável competência interpessoal mantém bom desempenho em atingir os objetivos de seus encontros sociais. Esta taxa de sucesso não deve, entretanto, ser considerada de forma isolada. Alguém sempre poderá não conseguir atingir seus objetivos devido a outros fatores e, ainda assim, ser considerado competente. Competência interpessoal e Competência técnica Assim, a maneira pela qual um gerente, advogado, médico faz as perguntas (tendo ou não estabelecido um ‘clima’ psicológico favorável e uma relação de confiança) pode influenciar as informações que recebe. Neste exemplo, a competência interpessoal (processo) é tão importante quanto a competência técnica de formular as perguntas adequadas (conteúdo das perguntas). (Moscovici, 2011) O exercício profissional abrange o domínio de um variado conjunto de aspectos ou habilidades. Podemos entretanto, para fins de estudo e compreensão, dividir este conjunto em dois grandes grupos de competências: técnica e interpessoal. Competência técnica É quase sempre rápido e fácil descobrir como desenvolver competência técnica para um determinado cargo: manuais técnicos, palestras, documentação de procedimentos, estudo formal, livros ou laboratórios de prática. Mas como desenvolver competência interpessoal? “... as pessoas socialmente competentes são as que contribuem na maximização de ganhos e na minimização de perdas para si e para aquelas com quem interagem. Assim, considerado a dimensão pessoal e os contextos situacional e cultural, o desempenho socialmente competente é aquele que – fundado na coerência entre os subsistemas afetivo, cognitivo e conativo – expressa uma leitura adequada do ambiente social, ou seja, decodifica corretamente os desempenhos esperados, valorizados e efetivos para o indivíduo em sua relação com os demais.” (Del Prette, 2008) Competência interpessoal Competência interpessoal envolve um conjunto quase interminável de características inerentes ao comportamento humano. Podemos agrupá-las da seguinte forma: Percepção ou seja, a capacidade de captar aspectos relevantes ao encontro social. Estes aspectos envolvem tanto a dimensão pessoal (e.g.: sentimentos, crenças, gostos), quanto a situacional (e.g.: local onde se estabelece a interação, posição do interlocutor, outros participantes) e a cultural (e.g.: idiomas, valores morais, educação formal); Habilidade que envolve domínio dos mecanismos através dos quais se dá o encontro social e seus processos cognitivos. É, para além da compreensão dos aspectos da interação social, a capacidade de se colocar, de ver vários ângulos ou aspectos da mesma situação e atuar de forma diferenciada, experimentando novas condutas (e.g.: criar alternativas, entender um ponto de vista diferente do seu, participar de uma dinâmica inédita); e Solução que envolve o alcance de uma solução tal que as pessoas continuem trabalhando juntas de forma pelo menos tão eficiente quanto antes do encontro social. É o encaminhamento no qual o desenrolar da interação pessoal resulta em graus aceitáveis de satisfação cognitiva e afetiva (e.g.: conseguir se expressar de forma clara, entender um ponto de vista realmente diferente do seu, conseguir ajuda para realização de uma atividade). “Competência interpessoal é a habilidade de lidar eficazmente com relações interpessoais, de lidar com outras pessoas de forma adequada às necessidades de cada uma e às exigências da situação.” (Moscovici, 2011) Auto-eficácia Bandura (in Moscovici, 2008) definiu auto-eficácia como a crença do indivíduo sobre a sua capacidade de desempenho em atividades específicas. O senso de auto-eficácia afeta “o quê” fazemos influenciando nosso processo de escolha, o estabelecimento de metas, esforço despendido, persistência e perseverança frente às adversidades e os níveis de ansiedade que experimentamos na realização de atividades. Indivíduos com alto senso de auto-eficácia desenvolvem mais estratégias cognitivas e metacognitivas, persistem por mais tempo do que aqueles com baixo senso de auto- eficácia. Em contrapartida aqueles que enfrentam dificuldades podem desenvolver baixos níveis de auto-eficácia que afetarão suas capacidades de desempenho. A auto-eficácia tem relação direta com a competência interpessoal. Além do aspecto interno da auto-confiança para o enfrentamento dos desafios nos contextos sociais com os quais lidamos no exercício profissional há a imagem que transmitimos para o grupo e cada um dos indivíduos. Competência social e Habilidades sociais O desenvolvimento de habilidades sociais, da competência social, leva à melhora de qualidade de vida, progresso social e desempenho profissional dos indivíduos. Pessoas competentes socialmente conseguem se integrar com maior facilidade nos contextos sociais e lidar de forma satisfatória com as demandas de suas interações, evitando ou suportando melhor situações difíceis ou estressantes. Cada contexto social que experimentamos requer domínio de diferentes habilidades. É necessário variarmos continuamente nosso desempenho e para tal precisamos o tempo todo entender, alterar e adaptar nossas respostas. Mas a lista de habilidades sociais a serem desenvolvidas parece quase interminável, em face da complexidade do comportamento humano e da diversidade de contextos nos quais se dá o encontro social. “... é preferível falar em classes e subclasses de habilidades sociais em diferentes graus de complexidade. As classes mais complexas são compostas por diversas habilidades e estas, por sua vez, podem ser subdivididas em novas subclasses variando, portanto, das mais complexas ou molares às mais específicas ou moleculares.” (Del Prette, 2008) Assim, a habilidade “coordenar um grupo” requer habilidades como “direcionar o grupo para a tarefa” e “estimular o envolvimento e participação de todos”. E estas três habilidades demandam, por sua vez, outras como “lidar com tensões e administrar conflitos”. As habilidades moleculares como “elogiar”, “resumir” ou “incentivar” são componentes daquelas mais complexas. Podemos entender as habilidades molares como classes funcionais mais amplas de ações e reações (e.g.: fazer pedidos, iniciar conversação, expressar desagrado, manter conversação). As habilidades moleculares são definidas como componentes topográficos dessas ações, ou seja, a forma do comportamento. As habilidades moleculares incluem as verbais (e.g.: conteúdo da fala, uso de perguntas, uso de expressões particulares), não verbais (e.g.: contato visual, postura, meneios de cabeça, gesticulação), paralinguísticos (e.g.: volume da voz, entonação, velocidade, clareza) e mistos (e.g.: autoridade/liderança, humor/formalidade, afetividade). Modelosde habilidades sociais Há diversos sistemas/modelos que, com foco específico em um dado contexto interacional, mapeiam habilidades molares e suas componentes até habilidades moleculares oferecendo assim mapas para o desenvolvimento de atividades como treinamentos e avaliações. O próprio processo de desenvolvimento de um modelo de habilidades sociais para um determinado contexto interacional promove melhor compreensão de suas situações. Del Prette (2008) propõe uma taxonomia de sete conjuntos de habilidades sociais distribuídos em quatro níveis de acordo com o quadro abaixo: A u to m o n it o ri a HS de comunicação • Fazer e responder perguntas • Pedir feedback • Gratificar/elogiar • Dar feedback • Iniciar, manter e encerrar conversação HS de civilidade • Dizer por favor • Agradecer • Apresentar-se • Cumprimentar • Despedir-se HS assertivas, direito e cidadania • Manifestar opinião, concordar, discordar • Fazer e aceitar e recusar pedidos • Desculpar-se, admitir falhas • Interagir com autoridade • Estabelecer relacionamento afetivo e/ou sexual • Encerrar relacionamento • Expressar raiva/desagrado e pedir mudança de comportamento • Interagir com autoridades • Lidar com críticas HS empáticas • Parafrasear • Refletir sentimentos • Expressar apoio HS de trabalho • Coordenar grupo • Falar em público • Resolver problemas, tomar decisões e mediar conflitos • Habilidades sociais educativas HS de expressão de sentimento positivo • Fazer amizade • Expressar a solidariedade • Cultivar o amor Cuja coluna mais a esquerda contém o conjunto de habilidades que compreendem o automonitoramento, através do qual observamos, descrevemos, interpretamos e regulamos nossos sentimentos, pensamentos e comportamentos nos diversos contextos de interação social que experimentamos. No desenvolvimento de nossa competência social é necessário alcançar um equilíbrio no domínio de habilidades dos diversos grupos, observando sempre Automonitoria. É ela que norteará nossos esforços para que estejamos preparados a lidar com os desafios de relacionamento interpessoal de nosso cotidiano. Não há como desenvolver todas as habilidades sociais de forma homogênea. Não há quem esteja preparado para qualquer contexto de interação interpessoal. Eles serão sempre multifacetados e por isso enfrentaremos novos desafios a cada dia. Mas este aprendizado contínuo é boa parte daquilo que nos move e torna nossa vida interessante. Aula 04: Liderança “A única definição de líder é alguém que possui seguidores. Algumas pessoas são pensadoras. Outras, profetas. Os dois papéis são importantes e muito necessários. Mas, sem seguidores, não podem existir líderes.” (Peter Drucker) “Liderança é a capacidade de exercer influência sobre pessoas.” (Vergara, 1999) Liderança é: • habilidade de motivar e influenciar; • atuação ética e positiva; • condução de uma ou mais pessoas; • formar uma equipe a partir de um grupo; e • capacidade de gerar resultados. Ou, como diz Minicucci (2009): “Liderança é a influência interpessoal exercida numa situação, por intermédio do processo de comunicação, para que seja atingida uma meta.” Veremos ao longo desta aula como o foco da liderança é o indivíduo e como o líder transforma, a partir de sua atuação, grupos de indivíduos em equipes. Veremos também como as equipes dependem de seus líderes para alcançar seus objetivos e como os líderes são formados: as características que compõem a competência para liderança. Liderança x Gerência O Gerente administra - O Líder inova. O Gerente conserva - O Líder desenvolve. O Gerente se apoia em sistemas - O Líder em pessoas. O Gerente conta com controles - O Líder em confiança. O Gerente faz certo as coisas - O Líder faz a coisa certa. (Revista Fortune) Gerente é um profissional encarregado de um processo, atividade ou tarefa de uma organização. Seu escopo gerencial está normalmente associado a metas, objetivos que podem ser de várias dimensões (e.g.: qualidade, custo, prazo). Para atingir os objetivos com os quais estão comprometidos, os gerentes administram um conjunto de recursos que podem ser humanos, materiais, físicos ou financeiros. Administrar recursos significa utilizá-los da melhor forma possível para atingir metas. Gerenciar é uma função ou cargo de caráter administrativo. Ainda que ligada a contextos operacionais ou processos produtivos, setores que não são “de apoio” ou “meio”, verifica-se o caráter administrativo da gerência na gestão de seus recursos. Nas organizações de trabalho os gerentes podem ser nomeados independentemente de possuírem ou não habilidades necessárias. Para cumprir suas metas, uma vez investidos do cargo terão que fazer com que pessoas, seus recursos humanos, executem atividades, tarefas. O poder que a organização lhes oferece é o comando, uma posição de superioridade hierárquica sobre este grupo de pessoas: autoridade de mando e obediência. Cada organização de trabalho e contexto de atuação media este poder de forma diferente. Um processo produtivo formalizado, com uma sequência de atividades pré- definidas, um regulamento ou regimento interno, uma descrição funcional, são alguns dos instrumentos que orientam e regulam a atuação dos gerentes. Mas, apesar de estar investido do poder e representá-lo junto ao grupo, um chefe pode nunca exercer um papel de liderança. O foco no indivíduo Liderar é a habilidade de lidar com pessoas. É ser capaz de influenciá-las a agirem de forma a conseguir obter resultados através de suas atitudes e comportamentos. Esta atuação precisa ser planejada, coordenada e monitorada. Precisa ser transmitida para o grupo com um grau de clareza que permita o correto entendimento não só do que se deve fazer, mas como, quando, onde e porquê. Quando cada integrante do grupo desempenha suas tarefas de forma ordenada, integrando seus produtos a atividades de outros membros de forma colaborativa, com sentimento de time, está formada uma equipe. E seu gerente é um líder. As equipes são formadas para atingir objetivos. Quando lideradas de forma eficiente, há planejamento, causa e consequência em todo seu contexto operacional. Podemos dizer, portanto, que o líder serve aos propósitos da equipe. Sem ele, não haveria a dimensão de organização necessária para o cumprimento das metas. O trabalho de um grupo sem liderança eficiente se perde. O líder mais eficaz é o que melhor satisfaz as necessidades de seus seguidores. Neste ponto é importante destacar a diferença entre liderança e poder. Uma pessoa pode ter poder e não desempenhar liderança. É o caso do sujeito que emprega força física, pressão social, pressão de lei ou pressão de autoridade para mandar. Da mesma forma, a pessoa pode ser líder e não ter poder estabelecido. É o caso do cidadão comum, que assume a postura de líder de uma comunidade mesmo sem ser, necessariamente, presidente de uma associação comunitária estabelecida. Os cargos gerenciais nem sempre são ocupados por líderes. Seria excelente contar com um gerente que é um líder. Na verdade é o que as organizações normalmente desejam. Costa et alli (XXXX) propõe uma tabela comparativa entre características do gerente e do líder: Gerente Líder principal objetivo é controlar o que se faz na empresa principal objetivo é catalisar mudanças essenciais à empresa gerencia através de ordens facilitador, gerando aprendizagem fazer certo as coisas fazer a coisa certa voltado para ocurto prazo voltado para o longo prazo pensa em termos de manutenção pensa em termos de inovação limita e define de forma estrita a área de atuação dos subordinados potencializa o poder das pessoas abrindo espaços para sua atuação concentra-se em “como” concentra-se em “o que” e “por que” é elemento natural de estruturas hierárquicas e piramidais é elemento essencial e natural de estruturas alternativas (em redes) enfoca a administração, o presente enfoca o desenvolvimento, o futuro dá o ritmo, somente dentro da empresa dá o tom e a direção, dentro e fora da empresa Tabela 1 - Gerente x Líder (Costa et alli, XXXX) Esta comparação é interessante como referencial. Nem sempre os líderes têm as características descritas nesta tabela. Mas que não seja esquecido: o líder administra e influencia pessoas, não apenas organiza processos e dá ordens. Tipos de Liderança: definições clássicas Tradicionalmente são conhecidos os seguintes tipos de liderança: Liderança autocrática Também chamada autoritária ou diretiva. A liderança tem foco em tarefas. O líder toma decisões individuais, desconsiderando a opinião dos liderados. Ele determina providências e técnicas para execução das tarefas a partir de critérios desconhecidos para o grupo. Além da tarefa que cada um deve executar, o líder determina impositivamente qual companheiro de trabalho deve auxiliar e como a tarefa deve ser realizada. O líder é dominador e pessoal nos elogios e críticas ao trabalho de cada membro. Liderança democrática Também conhecida como participativa ou consultiva. Este tipo de liderança tem foco nas pessoas e há participação dos liderados no processo decisório. As diretrizes são debatidas e decididas pelo grupo, estimulado e assistido pelo líder. O próprio grupo esboça providências para atingir o alvo solicitando, quando necessário, aconselhamento técnico ao líder que sugere alternativas para o grupo escolher. As tarefas ganham novas perspectivas com o debate. A divisão das tarefas fica ao critério do próprio grupo e cada membro pode escolher os seus próprios companheiros de trabalho. O líder procura ser um membro normal do grupo. Ele é objetivo e limita-se a fatos nas suas críticas e elogios. Liderança liberal ou Laissez faire Aqui as pessoas têm mais liberdade na execução dos seus projetos, indicando possivelmente uma equipe madura, auto dirigida e que não necessita de supervisão constante. Pode ser também um indício de liderança negligente ou fraca, onde o líder deixa passar falhas e erros sem corrigi-los ou até mesmo sem percebê-los. Liderança paternalista O líder e a equipe têm relações interpessoais similares às de pai e filho. Pode ser confortável para os liderados e evitar conflitos, mas não é o modelo adequado num relacionamento profissional, pois numa relação paternal, o mais importante para o pai é o filho, incondicionalmente. Em uma relação profissional, o equilíbrio deve preponderar e os resultados a serem alcançados pela equipe são mais importantes do que os indivíduos que a formam. Aula 05: Liderança na atualidade Atualmente o líder é considerado um ponto nevrálgico dentro de uma organização. Ele é responsável pelo desenvolvimento da equipe. O líder incentiva e motiva o grupo na busca do objetivo comum. O sucesso depende, muitas vezes, da atitude do líder. Uma liderança mal conduzida pode trazer consequências negativas para a organização e o grupo como um todo. Entende-se que o líder deve cuidar também para que o ambiente de trabalho seja saudável e que as metas/objetivos sejam alcançadas por todos, assim como a recompensa pelo êxito atinja todos. Outros tipos de liderança A evolução das teorias que estudam a liderança começa a considerar as situações, a figura do líder, as habilidades e competências do líder, e mesmo as relações entre líder e liderados. Entende-se que a liderança se desenvolve como um processo de influência interpessoal, ou seja, em um contexto que estabelece entre pessoas, e não somente com as qualidades de um líder. O conceito de liderança passa a envolver um papel não apenas de dominação ou controle, mas um papel assumido, conscientemente ou não, pela pessoa do líder. E que a liderança, seja de qualquer tipo, será importantíssima no atingimento das metas do grupo e/ou das pessoas. Percebemos assim, outros tipos de liderança que aparecem em alguns cenários. Seu estudo é importante para compreensão do funcionamento dos grupos, assim como para que seus objetivos e metas sejam alcançados. Um grupo de trabalho atingirá com mais rapidez ou eficácia seus objetivos se contar com um líder que o oriente. A liderança coercitiva É obtida através da coerção, da violência, que pode ser verbal ou física. Aqui a relação entre o líder e seus liderados é instável. Uma vez que a liderança se apóia em um equilíbrio limite, qualquer alteração no contexto pode levar a uma ruptura. A liderança controladora É mais sutil que a coercitiva porém, geralmente, utiliza manipulação emocional e material. Não existe confiança nas pessoas, mas a crença de que os indivíduos são incompetentes e não possuem vontades. Comumente o líder é uma pessoa centralizadora e os liderados assumem uma postura de acomodação e desinteresse. A liderança orientadora É aquela que possibilita relacionamentos informais, facilitando a compreensão, propiciando uma maior integração e, portanto, reduzindo a frequência dos comportamentos competitivos das pessoas. Facilita o crescimento profissional, amplia os relacionamentos, agiliza a comunicação, havendo uma valorização do ser humano. Mas há uma tendência ao exagero, ao ‘paternalismo’ que pode gerar dependência. A liderança integradora Acredita que todo indivíduo possui capacidade para contribuir no alcance dos objetivos, dá importância à criação de condições para identificação e envolvimento das pessoas, supre a necessidade do reconhecimento, promove o aumento da auto- estima, estimula potencialidades e inovações. Neste estilo de liderança os membros têm possibilidades de praticar feedbacks (exercício de dar e receber), envolver-se e integrar-se no grupo, buscar autoconhecimento e autocontrole, se responsabilizar e se comprometer, bem como cooperar e respeitar. É estabelecida uma relação simétrica onde não existe dependência nem independência, mas uma interdependência entre líderes e liderados. Outros dois tipos frequentemente citados são as lideranças carismática e inspiradora. Elas apresentam, entretanto, aspectos que remontam a características inatas dos líderes, o que não nos interessa nesta disciplina. Nosso interesse são características e habilidades que podem e devem ser aprendidas e trabalhadas por quaisquer pessoas que precisem, por força do trabalho (e também por seu desejo), ser líderes (e.g.: agentes de segurança, bombeiros). Habilidades dos líderes Uma habilidade é um conhecimento posto em prática. É a realização objetiva de um conceito teórico através de atitudes e comportamentos. Entre as habilidades necessárias aos líderes destacamos: � Habilidade para observar, perceber mensagens não-verbais contidas nos comportamentos. O bom observador é paciente, busca os detalhes, usa de discrição e respeita a privacidade; � Habilidade para escutar. Quando você deixa o outro falar, este tem a possibilidade de estruturar seu pensamento, refletir e, talvez, chegar a novas considerações. Além disso, a fala tem um papel terapêutico. O líder que escuta tem grandes chances de se tornar uma pessoa significativa para aquele que ele está ouvindo; � Habilidade para falar. A boa fala demonstra aexistência de compreensão; � Envolvimento. Colocar-se no lugar do outro no momento em que o problema se apresenta ou é apresentado. Demonstrar ao outro que há um compartilhar de valores; � Compreensão. O líder compreende o que move o liderado e percebe suas fraquezas e pontos fortes; � Ética e coerência. O líder serve de modelo aos liderados. Demonstra coerência de comportamentos e pensamentos e atitude ética, o que tem muita importância do ponto de vista emocional e social; � O líder dá e recebe feedback. Esta habilidade é importantíssima. Isso determina a qualidade da comunicação entre líder e liderados. O líder deve ser capaz de receber feedback e não se “destruir” por isso. Pelo contrário, aquilo que é dito por seus liderados, sobre seu comportamento e/ou discurso, deve ser usado em seu próprio benefício, no sentido de que servirá de matéria prima para uma melhor atuação; e � Habilidade para orientar. Este requisito sintetiza todos os demais: um líder deve ser capaz de orientar. Resumindo tudo aquilo que ele foi capaz de fazer com todas as habilidades listadas anteriormente, o líder é capaz de orientar seus liderados na realização de uma meta. Há várias outras habilidades desejáveis a um líder. A lista apresentada não é extensiva pois tem como objetivo ampliar o entendimento dos conceitos de liderança apresentados. Sugerimos o exercício de estendê-la com base em seu contexto de atuação profissional: quais habilidades você deve desenvolver para liderar? E seu líder, quais habilidades deve ter? Aula 06: Desenvolvendo a liderança Podemos desenvolver a liderança? De forma geral entendemos liderança como um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes. Conhecimentos e habilidades técnicas são facilmente aprendidos e incorporados pelo treinamento em uma sala de aula. As atitudes são mais difíceis. E é nas atitudes que se identifica o líder. As atitudes precisam ser mudadas e incorporadas no treinamento diário, também fora de uma sala de aula, na vida real. Para Minicucci (2009), as principais características de um líder considerado eficaz são: 1. Sensibilidade situacional – ele sabe interpretar a situação; 2. Habilidade de gestão situacional, que é a competência para mudar uma situação ou, se necessário, de reformulá-la; 3. Capacidade de mudar o estilo de liderança conforme as circunstâncias, ou seja, flexibilidade de estilo, adaptabilidade; 4. Por último, e não menos importante: é preciso que ele aja, que atue. Ou seja, que ele exerça a gestão situacional. Para ser líder é preciso, portanto, construir ou aprimorar sua capacidade de ouvir o outro, se sensibilizar com ele e ser capaz de analisar cada situação e com isso poder mudar. É preciso ouvir mais do que discursar. O líder precisa ser capaz de perceber a situação e entender seus seguidores. Não é tarefa simples. Flexibilidade para mudar, alterar. Admitir um possível erro e voltar de onde começou. Muitos não conseguem em suas próprias vidas particulares e continuam repetindo erros que já foram vivenciados. Uma pessoa rígida, inflexível não tem condições de liderar com eficácia. É possível, contudo, conhecer e desenvolver todas estas habilidades. E mudar atitudes. Isso fará toda diferença no clima organizacional. Liderar é um exercício que exige autoconhecimento e constante aprimoramento de habilidades e competências. A liderança no trabalho e o clima organizacional Todos os líderes são valorizados no mercado de trabalho. O líder pode estar em qualquer grau da hierarquia de qualquer organização. Ele está à frente de seus pares. Um líder é capaz de fato de criar o ambiente até para os momentos mais difíceis. A liderança é essencial para o trabalho em equipe. Com uma liderança eficaz, os liderados se destacam, pois são valorizadas as qualidades individuais no grupo. Cada integrante da equipe é chamado a colocar suas habilidades a serviço do grupo. Para exercer a liderança com eficácia numa corporação, o bom líder precisa ter em mente que tudo começa nas pessoas, que o trabalho depende delas e que um ambiente positivo tem a possibilidade de gerar melhores resultados do que um ambiente negativo. Liderar positivamente é internalizar esta magia no seio da equipe, de modo a contagiar toda a organização. Liderar é pedir o comprometimento de todos da equipe a partir de seu próprio exemplo. Um bom líder motiva seus seguidores a executarem suas atribuições, comprometendo-se com os resultados. O líder gera, junto com seu grupo de trabalho, um ambiente progressivo que gera resultados superiores, pois sabe criar em torno de si um clima aberto e seguro para que as pessoas troquem idéias e experiências. Com essa atitude, desperta maior senso de participação e valores comuns. Faz com que cada um sinta que seu envolvimento é extremamente importante; que sua contribuição é respeitada e levada em conta. Este é o maior estímulo que um profissional em qualquer nível pode receber para desempenhar suas atividades de maneira satisfatória. É fundamental que o líder se preocupe com os outros e com o mundo que o cerca e que tente fazer algo a este respeito. Desta forma o clima organizacional será beneficiado e os resultados do trabalho serão verificados por todos e pelo público externo. Clima organizacional Percebemos nosso ambiente de trabalho de diversas formas e reagimos a suas flutuações consciente ou inconscientemente. Nossa atuação profissional é influenciada pela percepção da atmosfera psicológica que percebemos. Ficamos assim às vezes mais e outras vezes menos dispostos a interagir, realizar e intervir. O clima organizacional está intimamente ligado com a motivação dos membros da organização, seja ela qual for: uma empresa, um quartel ou um hospital. Quando a motivação está adequada, o clima também estará, proporcionando a satisfação das pessoas em termos interpessoais. Quando a motivação está em baixa, seja por frustração de algumas necessidades, por falta de entrosamento entre as pessoas do grupo, seja por uma liderança mal conduzida, o clima organizacional tende a ser baixo, podendo gerar um ambiente hostil: pessoas se comportando de maneira agressiva, demonstrando desinteresse pelo trabalho e pelos outros, apatia, depressão, etc (Chiavenato, 2011) Segundo Chiavenato (op.cit.) é preciso compreender o ajustamento ou desajustamento das pessoas no grupo. Um bom ajustamento denota saúde mental e pode ser verificado na observação das seguintes três características: 1. A pessoa se sente bem consigo mesma; 2. A pessoa se sente bem com o grupo; e 3. A pessoa é capaz de enfrentar as demandas da vida e das situações. Desempenhamos nossas atividades profissionais sempre sob a influência desta percepção que temos do ambiente de trabalho. E neste desempenho profissional, nesta interação com o meio, acabamos por causar nós mesmos influência sobre esta atmosfera psicológica. O conceito de clima organizacional revela a influência do aspecto ambiental sobre a motivação dos participantes. O clima organizacional nos influencia e nós o influenciamos continuamente. Este ciclo de influências faz com que diversas das características culturais da organização em que trabalhamos sejam repetidas e, portanto, reforçadas. Todos têm influência sobre o clima organizacional. Os líderes têm, entretanto, influência determinante no estabelecimento de um clima favorável ao bom desempenho profissional. Práticas de liderança transformadora O resultado de uma equipe depende do tipo de liderança exercido. Uma liderança paternalista criará um grupo fraco e sem autoconfiança. Uma liderança coercitivaou controladora provavelmente criará um grupo com medo e sem possibilidade de ousar, inventar para superar qualquer obstáculo. Uma liderança liberal provavelmente criará um grupo sem objetivos definidos e sem consciência de suas próprias capacidades. A liderança autoritária talvez traga resultados, mas cansa e desmotiva seus seguidores. Assim que possível, eles deixarão a equipe. Liderança é a busca de desenvolvimento constante. Um bom líder nunca pára de estudar e de escutar. Não desiste de sua equipe e acredita na mesma. Tem uma meta clara e o planejamento de um caminho a seguir. Consegue persuadir seus seguidores de que aquele é o melhor caminho e de que eles são capazes de caminhar juntos. A liderança transforma. O líder é um agente de transformação. Ele tem consciência de que todos são importantes, cada um em suas diferenças, construindo-se, desse modo, uma grande espiral de potencialidades, numa dinâmica ampla e abrangente. O líder influencia ou transforma seguidores e também se deixa influenciar por eles. O líder consegue assim liberar o potencial de motivação dos colaboradores mais do que os próprios acreditavam. Esse líder propõe padrões de desempenho desafiadores e consegue fazer com que aqueles que o seguem atinjam desempenhos mais elevados. Nem sempre, é importante ressaltar, o líder leva o grupo a uma meta que é considerada positiva. A história da humanidade está cheia de exemplos que nem precisam de grandes explicações. Podemos pensar nos líderes nazistas ou mesmo no líder de uma seita bastante conhecida nos Estados Unidos (Jim Jones), que levou à morte centenas de pessoas, homens, mulheres e crianças. O estudo da liderança e dos líderes tem, entretanto, como objetivo aparelhar agentes de transformação que tenham como objetivo um mundo melhor e mais justo e que são capazes de levar seus seguidores a caminharem com ele nesta direção. Aula 07: O profissional da segurança pública e a ética Podemos dividir o conjunto de competências para um dado exercício profissional em três grupos: Cognitivas que requerem o desenvolvimento do pensamento por meio da investigação e organização do conhecimento. Habilitam os indivíduos a pensar de forma crítica e criativa, posicionar-se, comunicar-se e estar consciente de suas ações. Para ser analista de sistemas é necessário conhecer programação de computadores; um médico entende com profundidade a fisiologia humana; um profissional de segurança conhece as leis e regulamentos aplicáveis de sua área de atuação; Operacionais que prevêem a aplicação do conhecimento teórico em prática responsável, refletida e consciente. São relacionadas à prática efetiva das atividades laborativas. Assim, uma bailarina precisa ter domínio de seu corpo; um professor de ensino presencial utiliza com fluência o discurso verbal enquanto um bombeiro tem, por vezes, que utilizar força física e habilidade; e Atitudinais que visam estimular a percepção da realidade, por meio do conhecimento e do desenvolvimento das potencialidades individuais: conscientização de sua pessoa e da interação com o grupo. Compreendem posicionamentos ou comportamentos esperados no exercício profissional. Assim, espera-se de uma recepcionista educação no trato pessoal; de um vendedor que ele crie oportunidades de negócio e de um guarda municipal que tenha comportamento ético. Como vemos nos exemplos acima, cada área de ocupação profissional terá especial foco para cada um destes grupos de competência. Mas todas as profissões utilizam competências de cada um destes grupos. Por mais que uma ocupação profissional demande habilidades cognitivas extremamente específicas, (e.g.: controlador de vôo precisa conhecer rotas aéreas), serão também necessárias habilidades atitudinais (e.g.: manutenção de serenidade) e operacionais (e.g.: visão espacial). Competências atitudinais na segurança pública Nos profissionais das áreas de segurança pública, o foco das competências atitudinais está na ética. Suas dimensões envolvem tanto o encontro entre os direitos humanos e a eficiência policial quanto a preservação de um comportamento ético ainda que diante de dilemas éticos. A Secretaria Nacional de Segurança Pública propõe o seguinte Mapa de Competências dos Profissionais de Segurança Pública: Cognitivas Operativas Atitudinais Analisar cenários que possibilitem compreender a realidade brasileira em relação à criminalidade, a violência e a necessidade da prevenção. Descrever o sistema de Segurança Pública. Compreender a necessidade de uma gestão integrada e comunitária do sistema de segurança Pública. Descrever o papel da instituição a que pertence dentro do sistema de segurança pública. Estabelecer um panorama sobre o sistema jurídico vigente no país, essencialmente no que é pertinente aos ramos do direito aplicáveis à atuação do profissional de segurança pública. Relacionar a utilização da força e da arma de fogo aos princípios de legalidade, necessidade e proporcionalidade. Proteger pessoas Demonstrar controle emocional. Demonstrar segurança. Manusear armas letais e não-letais. Dominar técnicas de autodefesa. Dominar técnicas de primeiros socorros. Transmitir mensagens via rádio. Selecionar equipamento de acordo com o tipo de ocorrência. Usar equipamento de proteção individual. Manejar equipamentos Resistir à fadiga psicofísica. Praticar exercícios físicos. Manter condicionamento físico. Relacionar-se com a comunidade. Prestar serviços assistenciais à comunidade. Trabalhar em equipe e múltiplas equipes ao mesmo tempo. Levantar informações sobre o local da ocorrência. Isolar local. Prever socorro de vítimas. Tirar informações sobre a ocorrência. Entrevistar pessoas. Arrolar testemunhas. Conduzir à autoridade policial as partes envolvidas no crime. Elaborar documentos pertinentes à ocorrência. Elaborar relatórios; Cumprir determinações judiciais Produzir estatística Manter-se atualizado. Manter ética profissional. Cumprir normas e regulamentos internos. Agir com civilidade e respeito. Demonstrar desenvoltura. Demonstrar criatividade. Demonstrar paciência. Demonstrar perspicácia. Demonstrar coragem. Demonstrar disciplina. Manter boa apresentação. Demonstrar firmeza de caráter. Agir com bom senso Agir discretamente Agir com iniciativa Agir com imparcialidade Onde se identifica que cerca de dois terços das competências atitudinais estão ligadas à ética. Lealdade Segundo Tourinho (in Del Prette, 2008), lealdade é fator importantíssimo no relacionamento entre os funcionários de uma empresa. Existem porém, lealdades boas e lealdades ruins. No rol das boas lealdades estão as situações onde se é leal sem desrespeitar os outros ou a ética e seus valores. São lealdades ruins contextos em que sua manifestação se dá em ações antiéticas. São os princípios e valores de um indivíduo leal que vão ditar o tipo de lealdade que ele estabelece. É a direção de seus próprios princípios que vai colocá-los em suas respectivas categorias. Poder No comportamento organizacional, poder é definido como a capacidade de conseguir que alguém faça algo que você quer que seja feito, ou a capacidade de fazer as coisas acontecerem do modo que você quer. (SHERMERHORN JR & HUNT & OSBORN, 1999). “Como resultado de sua posição na organização das diferentes maneiras de apropriar-se dos “efeitos desejados” ou dos “resultados pretendidos” o supervisor se sustenta em três bases de poder: o poder de recompensa, o poder coercitivo e o poder legítimo.” (Milioni,1990). Na forma de recompensa, poder é a compensação através de elogios, mais tempo para o lazer, gratificação financeira ou qualquer outra forma através da qual aquele que detém o poder reforça o comportamento definindo-o como sucesso. O poder coercitivo é baseado na punição efetiva ou na perspectiva de punição, através da qual os comportamentos indesejáveis ou intoleráveis são desestimulados. São exemplos da manifestação deste tipo de poder descontos em rendimentos, suspensão de privilégios ou atribuição de atividades menos nobres. O poder legítimo, ou autoridade formal, é aquele em que valores éticos e culturais são plenos e suficientes para que o trabalhador reconheça o “direito de mando” de seu superior hierárquico. O poder afeta o caráter dos indivíduos, corrompe-o, modifica o comportamento e dissolve valores éticos. O tímido torna-se expansivo, o humilde arrogante. Como uma droga alucinógena, o poder seduz e torna sedutor o indivíduo nele investido. A luta pelo poder em organizações de trabalho resulta primariamente na destruição de seus valores mais significativos e não raro na ruptura da coesão organizacional e eventual destruição do grupo. Valores e princípios deontológicos; valores sociais Motivação Segundo Soto (2005), motivação é um impulso básico que conduz o indivíduo a uma determinada atividade, tal motivação surge de desejos internos de se conseguir algo. Para Soto (2005, p.118), “[a motivação] origina um estado energizador que impulsiona o organismo à atividade iniciando, guiando e mantendo a conduta até que alguma meta (objetivo, incentivo) seja conseguida ou a resposta seja bloqueada”. Deontologia Os códigos de deontologia estabelecem regras e obrigações essenciais que se colocam a profissionais de uma área de atuação compondo um quadro jurídico de referência que define, com precisão, a natureza das modalidades da atuação profissional. Eles determinam princípios e valores que devem nortear as atitudes e comportamentos que os trabalhadores devem assumir dentro e fora da organização. Toda profissão impõe deveres e responsabilidades a quem exerce. A deontologia é, etimologicamente, a ciência dos deveres. Ela compõe uma estratégia de propor e transmitir uma ética. Seu objetivo é fazer com que os profissionais predisponham-se a aderir a um sistema de valores que associe eficácia e respeito pelas pessoas e pelas liberdades fundamentais dentro e fora do exercício profissional. Em Segurança Pública quando falamos em Deontologia também estamos falando em controle das organizações e das ações de seus profissionais. Não é algo tão simples. Muitas das regras previstas nos códigos de Deontologia se superpõem às normas de conduta profissional e as regras jurídicas, resultando em um sistema complexo de controle profissional. A Ética no relacionamento com o outro/cliente cidadão Grupos Um Grupo é um sistema de relações sociais. Pode-se dizer que existe um Grupo quando duas ou mais pessoas possuem: a) certa interdependência; b) certa unidade que pode ser reconhecida. Os elementos do Grupo não só atuam uns sobre os outros reciprocamente como também atuam juntos de uma forma mais ou menos uniforme. Pessoas juntas por si só não formam um Grupo. Há famílias que vivem sob o mesmo teto, mas não convivem juntas. O Grupo forma um sistema aberto de interação no qual os elementos têm um objetivo comum. As características de um Grupo podem ser verificadas quando os participantes se reúnem: a) por uma razão comum; b) desenvolvendo papéis; c) desenvolvendo simpatias, apatias e antipatias; d) desenvolvendo normas e valores éticos; e) elaborando componentes normativos que passam a exercer ação uns sobre os outros; e/ou f) formando uma estrutura organizacional. Conviver com outras pessoas com algum objetivo comum portanto, leva a formação de valores éticos, que precisam ser compartilhados. Não está se falando aqui somente de casamento ou trabalho, como é comum as pessoas pensarem. Quando vivemos em sociedade, estamos juntos com um objetivo comum: construir uma sociedade melhor para todos. Quando um Grupo se estabelece, os fenômenos grupais passam a atuar sobre as pessoas individualmente e sobre o Grupo, ao que chamamos de processo grupal. A fidelidade de seus membros, o grau de aderência às regras de manutenção do grupo, é chamada de coesão grupal. Grupos com baixo grau de coesão tendem a se dissolver. Os indivíduos chegam a um grupo com necessidades interpessoais específicas e identificadas, não consentindo em integrar-se até que certas necessidades fundamentais são satisfeitas pelo grupo. (SCHUTZ, 1966) identifica três necessidades interpessoais básicas para esse processo de integração: necessidade de inclusão, de controle e de afeição. A necessidade de inclusão define-se pela ansiedade experimentada pelo membro novo de um Grupo quanto a se sentir aceito, integrado, valorizado por aqueles aos quais se junta. Esta é uma fase importante para estabelecer confiança e sentimento de “pertencer”, resultando em aumento da estima e confiança pessoal. Uma vez satisfeita a necessidade de inclusão, a atenção do indivíduo se dirige para a influência e o controle, consistindo na definição, pelo próprio indivíduo, de suas responsabilidades no grupo e também as de cada um dos que o formam, ou seja, sentir-se responsável por aquilo que constitui o grupo, suas estruturas, suas atividades, seus objetivos, crescimento e progresso. Satisfeitas as primeiras necessidades, de inclusão e controle, o indivíduo confronta-se com as necessidades emocionais, de afeição, que consiste em obter provas de ser valorizado, estimado e respeitado pelo grupo, não apenas pelo que tem a oferecer, mas pelo que é como ser humano. Os motivos individuais são importantes para a adesão ao grupo, mas as diferenças individuais serão admitidas desde que não interfiram nos objetivos centrais do grupo ou suas características básicas. Os objetivos do grupo irão sempre prevalecer aos motivos individuais e, quanto mais o grupo precisar garantir sua coesão, mais ele impedirá manifestações individuais que não estejam de acordo com seus objetivos. Aula 08: Qualidade de vida Bem estar e qualidade de vida sempre foram temas discutidos pelos seres humanos. Ao longo da história, porém, estes conceitos tiveram diferentes conotações. Atualmente o tema tem importância vital no estudo dos indivíduos e dos grupos. “De 1966 até 2002, segundo pesquisa ao MEDLINE (sigla em inglês para Sistema Online de Busca e Análise de Literatura Médica (Medical Literature Analysis and Retrieval System Online), foram encontrados mais de 50.000 artigos publicados referentes ao tema ‘quality of life’ ou ‘life quality’, sendo a maioria destes publicados após 1987, com um crescimento expressivo desde 1990.” (Kluthcovsky e Takayanagui, 2007) Qualidade de vida (QV) é um termo amplo. Envolve uma grande e variável quantidade de aspectos mas tem como principal referência o indivíduo: como ele se percebe no contexto social em que está imerso. É o grau de satisfação e adequação da relação entre o sujeito e a sociedade que determina sua QV. O que define a Qualidade de vida A qualidade de vida de uma dada pessoa será necessariamente avaliada através de fatores subjetivos. Relacionamos o termo com o juízo que fazemos de nossa situação social. Construímos esta opinião tanto a partir de fatores concretos como situação financeira, familiar e emocional quanto de critérios abstratos como vitórias e frustrações pelas quais passamos cotidianamente. A noção e percepção de qualidade de vida varia a cada pessoa. Sofre influência dolugar em que vivemos, dos hábitos que desenvolvemos e do estilo de vida que mantemos. Apesar da subjetividade e quantidade de fatores relacionados à qualidade de vida, é possível avaliá-la de forma a estabelecer comparações. Em 1995 a Organização Mundial de Saúde (OMS) criou um instrumento para avaliar a QV de forma transcultural e internacional. Este instrumento (WHOQOL-100) é um questionário de levantamento composto por 100 perguntas. O WHOQOL-100 avalia a qualidade de vida a partir de seis domínios que são subdivididos em 24 aspectos. A tabela a seguir enumera estas dimensões da QV e nos dá uma ideia da multidimensionalidade de fatores que influenciam em sua análise. Domínio Aspectos Físico 1. Dor e desconforto 2. Energia e fadiga 3. Sono e repouso Psicológico 4. Sentimentos positivos 5. Pensar, aprender, memória e concentração 6. Auto-estima 7. Imagem corporal e aparência 8. Sentimentos negativos Nível de independência 9. Mobilidade 10. Atividades da vida cotidiana 11. Dependência de medicação ou de tratamentos 12. Capacidade de trabalho Relações sociais 13. Relações pessoais 14. Suporte (apoio) social 15. Atividade sexual Ambiente 16. Segurança física e proteção 17. Ambiente no lar 18. Recursos financeiros 19. Cuidados de saúde e sociais: disponibilidade e qualidade 20. Oportunidades de adquirir novas informações e habilidades 21. Participação em, e oportunidades de recreação/lazer 22. Ambiente físico: (poluição/ruído/trânsito/clima) 23. Transporte Aspectos espirituais 24. Espiritualidade/religião/crenças pessoais Este questionário está disponível em diversos idiomas. A versão em português foi desenvolvida pelo Grupo de Estudos em Qualidade de Vida da UFRGS. A OMS desenvolveu ainda o WHOQOL-BREF, um questionário com apenas 26 questões que permite utilização em pesquisas de maior escala, além de outras versões para utilização em contextos específicos como o WHOQOL-HIV BREF ou o WHOQOL-SRPB. Qualidade de vida no trabalho “O tempo de trabalho não poderá mais ser a medida do valor de troca, nem o valor de troca a medida do valor econômico.” “O salário não poderá mais ser função da quantidade de trabalho, nem o direito a uma renda ser subordinado à ocupação de um emprego.” Ambas em: http://vinculando.org/brasil/conceito_trabalho/crise.html O estabelecimento de uma profissão e a capacidade de se empregar e manter-se empregado são dois dos fatores que marcam o fim da adolescência e a entrada no mundo adulto em nossa sociedade. É no trabalho que passamos boa parte das horas de nossas vidas. É no trabalho que empregamos boa parte de nossas energias e é dele que vem o reconhecimento (ou não) de nossa atuação como adultos. Muitas vezes falamos de ex-marido, ex-esposa, antigos vizinhos e até ex-amigos. Com muita raridade falamos que um sujeito é um ex-médico, um ex-policial ou ex- bombeiro. A escolha da profissão marca nossa vida de maneira definitiva. E associamos ao sucesso profissional considerável parte de nosso juízo de valor sobre o sucesso pessoal. Diversos dos aspectos de nossa qualidade de vida estão relacionados à ocupação profissional. A forma como exercemos nosso trabalho, como somos por ele remunerados e seu significado social são apenas alguns fatores relacionados à atividade profissional que claramente têm grande influência na qualidade de vida. Desde o surgimento da chamada Administração científica no início do Século XX, são consideradas relevantes as questões relacionadas ao bem estar do trabalhador. “O principal objetivo da administração deve ser o de assegurar o máximo de prosperidade ao patrão e, ao mesmo tempo, o máximo de prosperidade ao empregado.” (Taylor, 1911) O foco das teorias de Taylor não era o trabalhador. Em sua ótica predominam questões essencialmente econômicas relacionadas à produtividade e lucratividade. As atuais escolas de administração incorporaram uma notável quantidade de fatores humanistas em relação às propostas do Taylorismo. É, entretanto, interessante notar o estabelecimento de uma relação direta com o trabalhador desde o primeiro momento das teorias administrativas. Os métodos do Taylorismo tiveram enorme influência na estruturação do trabalho no contexto do desenvolvimento industrial ocorrido no século passado. Suas teorias são ainda de grande importância. Abordagens administrativas posteriores revêem situações criadas pela aplicação de diversas de suas normas. Assim, por volta da década de 1930, a Escola das Relações Humanas propõe um novo conjunto de teorias administrativas buscando conhecimento sobre as atividades e sentimentos dos trabalhadores além do estudo sobre a formação de grupos. O momento era então de grave crise econômica. A época da chamada Grande depressão criou um ambiente de questionamento favorável ao surgimento das novas teorias administrativas com ênfase no ser humano. Elas abordavam aspectos psicológicos e o bem-estar dos trabalhadores como determinantes de seu desempenho e, consequentemente, dos resultados da organização. O termo Qualidade de Vida no Trabalho surge na década de 50, na Inglaterra, a partir dos estudos de Eric Trist e colaboradores, do Tavistock Institute, pretendendo analisar a relação indivíduo-trabalho-organização. Esses pesquisadores desenvolveram uma abordagem administrativa baseada na satisfação do trabalhador com seu ambiente de trabalho: o chamado Sistema Socio-técnico. Ele agrupa o indivíduo, o trabalho e a organização e, através de análise e reestruturação de tarefas, busca melhorar a produtividade, reduzir os conflitos e tornar a vida dos trabalhadores menos penosa. “Segundo os pesquisadores do Tavistock, a tecnologia não deve ser considerada como dado ao se estudarem os problemas de interação social dos trabalhadores, assim como os sistemas de produção não devem ser desenhados sem que sejam examinadas as conseqüências sociais decorrentes.” (Medeiros, 2002) A partir dos anos 1950 os estudos acadêmicos sobre o tema Qualidade de Vida no Trabalho ganham impulso. Surgem diversas abordagens genericamente chamadas de Escola Comportamental. Pesquisadores como Herbert Simon, Abraham Maslow e Frederick Herzberg estudavam a motivação humana buscando explicações sobre o comportamento individual dos trabalhadores. Em sua Teoria do Equilíbrio Organizacional, Simon (1997) propõe o equilíbrio no processo de reciprocidade entre empregado e organização para que o trabalhador se sinta satisfeito e a empresa tenha um bom desempenho. A Teoria da Hierarquia das Necessidades, desenvolvida por Maslow (1943), dispõe as necessidades humanas em uma hierarquia de importância, do nível mais baixo ao mais elevado: fisiológicas e biológicas (básicas para a sobrevivência); de segurança (estabilidade); sociais (integração no grupo); de estima (auto-estima e reputação) e de auto-realização (crescimento pessoal contínuo). A Teoria dos Fatores de Motivação e Higiene, de Herzberg (1987), cria dois conjuntos de fatores que explicam a motivação humana: os higiênicos e os motivadores. Os higiênicos, ou de manutenção, são aqueles compõem o ambiente de trabalho (e.g.: condições físicas, salário, relacionamentos interpessoais). Os fatores motivacionais, por outro lado, dizem respeito ao conteúdo do cargo e à natureza das tarefas desenvolvidas pelo indivíduo, como oportunidades de exercer a criatividade, possibilidade de crescimento profissional e reconhecimento. Segundo Herzberg, fatores higiênicos, quando atendidos de forma adequada, não asseguram satisfação para os funcionários: apenas evitam o descontentamento. Mas caso não sejam atendidos geram
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