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TUTORIAL 5 - MÓDULO 2.1 1)Entender a resposta imune frente a infecção viral 2)Estudar o mecanismo imunológico e a sorologia que diferencia a hepatite B Resposta imune x vírus A célula infectada Existem quatro principais efeitos de uma infecção viral em uma célula: (1) morte, (2) fusão das células para formar uma célula multinucleada, (3) transformação maligna, e (4) nenhuma mudança morfológica ou funcional aparente. A morte da célula provavelmente ocorre devido à inibição da síntese de macromoléculas. A inibição da síntese de proteínas celulares do hospedeiro frequentemente ocorre primeiro e é provavelmente o efeito mais importante. A inibição da síntese de DNA e RNA pode ser um efeito secundário. É importante observar que a síntese de proteínas celulares é inibida, mas a síntese de proteínas virais ainda ocorre. Por exemplo, os poliovírus inativam um fator de iniciação (IF, de initiation factor) necessário para que o mRNA celular seja traduzido em proteínas celulares, mas os mRNAs dos poliovírus possuem um local particular de ligação ao ribossomo que os permitem ignorar o IF e, ainda assim, sintetizar proteínas virais. Uma característica de infecções virais em uma célula é o efeito citopático (CPE, de cytopathic effect). Essa mudança na aparência da célula infectada normalmente começa com arredondamento e escurecimento da célula, culminando em lise (desintegração) ou formação de células gigantes. A infecção por certos vírus causa transformação maligna, que é caracterizada por crescimento descontrolado, sobrevivência prolongada e mudanças morfológicas, como áreas focais de células arredondadas e empilhadas. A infecção de células acompanhada de produção viral pode ocorrer sem mudanças morfológicas ou mudanças funcionais intensas. Essa observação destaca a grande variação na natureza da interação entre o vírus e a célula, variando da destruição rápida da célula até um relacionamento simbiótico no qual a célula sobrevive e multiplica-se, independentemente da replicação do vírus. Paciente infectado Os estágios de uma infecção viral típica são os mesmos descritos para uma infecção bacteriana no Capítulo 7, isto é, um período de incubação durante o qual o paciente é assintomático, um período prodrômico durante o qual ocorrem sintomas não específicos, um período específico da doença durante o qual ocorrem sintomas e sinais característicos, e um período de recuperação durante o qual a doença diminui e o paciente recupera sua saúde. Em alguns pacientes, a infecção persiste e um estado carreador crônico ou uma infecção latente ocorre Por exemplo, disseminação pessoa a pessoa ocorre pela transferência de secreções respiratórias, saliva, sangue ou sêmen e pela contaminação fecal de água e de alimentos. A transferência de sangue, tanto por transfusão quanto pelo compartilhamento de agulhas durante uso de drogas intravenosas, pode transmitir vários vírus (e bactérias). Os sinais e sintomas da maioria das doenças virais indubitavelmente são o resultado da morte de células pela inibição da síntese macromolecular induzida por vírus. A morte das células infectadas por vírus resulta em perda de função e nos sintomas da doença. Entretanto, existem algumas doenças que não são ocasionadas pelos danos ou pela destruição causados pelo vírus em células infectadas. Existem outras doenças nas quais a morte celular por ataque imune possui um papel importante na patogênese. Tanto células T citotóxicas quanto anticorpos possuem um papel considerável na imunopatogênese. A imunopatogênese é o processo pelo qual os sintomas de uma doença viral são causados pelo sistema imune, em vez da morte de células pelo vírus. As células T citotóxicas estão envolvidas na patogênese da hepatite causada pelos vírus das hepatites A, B e C. Esses vírus não causam CPE (Efeito citopático), e o dano aos hepatócitos é resultado do reconhecimento de antígenos virais na superfície dos hepatócitos pelas células T citotóxicas. (o dano hepático vem principalmente da resposta imune, em especial da ação das células T CD8⁺ citotóxicas, que reconhecem hepatócitos infectados e os destroem.) A patogênese imunomediada também ocorre quando complexos vírus- anticorpo-complemento se formam e são depositados em vários tecidos. Isso ocorre nas infecções pelo vírus da hepatite B, nas quais imunocomplexos exercem um papel importante na produção da artrite característica dos estágios precoces da hepatite B. Resposta imune As defesas do hospedeiro contra vírus dividem-se em duas grandes categorias: (1) não específicas, das quais as mais importantes são as interferonas e as células natural killer; e (2) específicas, incluindo imunidade humoral e imunidade celular. As interferonas constituem uma precoce primeira linha de defesa, ao passo que a imunidade humoral e a imunidade celular são efetivas apenas posteriormente, pois são necessários vários dias para induzir os braços humoral e celular da resposta imune. As interferonas α e β constituem um grupo de proteínas produzidas pelas células humanas em resposta a uma infecção viral (ou após a exposição a substâncias indutoras). São citocinas antivirais — proteínas sinalizadoras produzidas por células infectadas ou imunes para avisar outras células da presença do vírus e montar uma resposta de defesa. Elas inibem a multiplicação dos vírus bloqueando a síntese de proteínas virais por dois mecanismos principais: um é uma ribonuclease que degrada o mRNA, e o outro é uma proteina-cinase que inibe a síntese de proteínas. Tipos de interferonas: IFN-α (alfa): produzida principalmente por leucócitos. IFN-β (beta): produzida principalmente por fibroblastos e células epiteliais. Ambas são chamadas de interferonas tipo I e são induzidas diretamente por vírus. IFN-γ (gama): produzida por linfócitos T ativados (CD4⁺ Th1 e CD8⁺) e células NK. É chamada de interferona tipo II e não é induzida só por vírus, mas por antígenos em geral. Função principal: potencializar a imunidade celular → ativa macrófagos, aumenta a expressão de MHC I e II, ajudando na apresentação de antígenos. Os indutores mais fortes dessas interferonas são vírus e RNAs de fita dupla. A indução não é específica para um vírus em particular. Muitos vírus de DNA e RNA são indutores competentes, embora eles difiram em sua eficiência. A descoberta de que o RNA de fita dupla, mas não RNA de fita simples ou DNA, é um bom indutor levou à hipótese de que um RNA de fita dupla é sintetizado como parte do ciclo replicativo de todos os vírus indutores. Essa extensa lista de indutores evidencia que a indução dessas interferonas não é específica. Similarmente, sua ação inibidora não é específica para nenhum vírus em particular. Entretanto, eles são específicos quando se considera a espécie hospedeira em que funcionam (i.e., interferonas produzidas por células humanas são ativos em células humanas, mas são muito menos efetivos em células de outras espécies). A interferona induz um estado antiviral dentro da célula não infectada. Ela se liga à superfície da célula não infectada e induz a produção de três proteínas que permanecem inativas até que um vírus infecte aquela célula. Essas proteínas são a oligo A sintase, a ribonuclease e a proteína cinase. Quando um vírus infecta aquela célula, moléculas de RNA de fita dupla (dsRNA) são sintetizadas como parte do ciclo replicativo viral. O dsRNA ativa a oligo A sintase, que sintetiza oligo A, que, por sua vez, ativa a ribonuclease, a qual degrada mRNAs virais (e celulares). O dsRNA também ativa a proteína cinase que fosforila o fator de iniciação 2 (eIF-2). Esse fenômeno inibe a síntese de proteínas, tanto virais quanto celulares.A célula morre sem que haja produção de progênie viral, dessa forma limitando a dispersão da infecção. Células natural killer Células natural killer (NK) são uma parte importante das defesas inatas contra células infectadas por vírus. Elas são chamadas de células “natural” killer porque são ativas sem a necessidade de serem expostas ao vírus previamente e não são específicas para nenhum vírus. As células NK são um tipo de linfócito T, mas não possuem um receptor para antígenos. Elas reconhecem células infectadas por vírus por meio da ausência de proteínas do complexo de histocompatibilidade principal (MHC) de classe I na superfície das células infectadas. Elas matam células infectadas por vírus por meio da secreção de perforinas e granzimas, que causam apoptose da célula infectada. Imunidade ativa A imunidade ativa, na forma de anticorpos e células T citotóxicas, é muito importante para a prevenção de doenças virais. A primeira exposição ao vírus, causando tanto uma infecção não aparente quanto uma doença sintomática, estimula a produção de anticorpos e ativação de células T citotóxicas. O papel que os anticorpos e células T citotóxicas têm na recuperação dessa primeira infecção é incerto e pode variar de vírus para vírus, mas é evidente que eles possuem um papel essencial em proteger contra a doença quando expostos ao mesmo vírus em algum momento no futuro. Como um anticorpo inibe os vírus? Existem dois mecanismos principais. O primeiro é a neutralização da infectividade do vírus pela ligação do anticorpo a proteínas da superfície externa do vírus. Essa ligação tem dois efeitos: (1) ela pode impedir a interação do vírus com o receptor celular, e (2) ela pode ligar as proteínas virais e estabilizar o vírus para que o desnudamento não ocorra. Como resultado, o vírus não consegue se multiplicar. Além disso, um vírus coberto por anticorpos é mais rapidamente fagocitado do que um vírus normal, um processo similar ao efeito de opsonização dos anticorpos em bactérias. Os anticorpos não degradam a partícula viral; vírus inteiros infecciosos podem ser recuperados por meio da dissociação de complexos vírus- anticorpos. Anticorpos incompletos, também chamados de “bloqueadores”, podem interferir na neutralização e formar imunocomplexos, que são importantes na patogênese de certas doenças. Resumindo de forma bem simples: • Anticorpos não destroem o vírus, apenas o neutralizam temporariamente. • Alguns anticorpos são incompletos e não conseguem neutralizar → podem até ajudar a formar imunocomplexos. • Imunocomplexos = defesa que sai do controle → podem causar doença. Anticorpos que interferem na aderência (adsorção e penetração) dos vírus à superfície celular são chamados de anticorpos neutralizantes. Observa-se que um anticorpo neutralizante é direcionado contra as proteínas de superfície do vírus, normalmente as proteínas envolvidas na interação do vírus com receptores da superfície da célula hospedeira. Anticorpos formados contra componentes internos do vírus (p. ex., o antígeno do cerne do vírus da hepatite B) não neutralizam a infectividade do vírus. O segundo mecanismo principal é a lise das células infectadas por vírus na presença de anticorpos e complemento. O anticorpo liga-se a novos antígenos vírus- específicos na superfície da célula e então se liga ao complemento, que enzimaticamente degrada a membrana celular. Como a célula é morta antes que uma produção completa do vírus ocorra, a disseminação do vírus é significativamente reduzida. A lise de células infectadas por vírus também é causada por linfócitos T citotóxicos. Essas células T CD8 positivas reconhecem antígenos virais apenas quando eles são apresentados em associação com proteínas do MHC de classe I (ver Cap. 58). Eles matam células infectadas por vírus por três métodos: (1) pela liberação de perforinas, que formam cavidades na membrana celular de células infectadas; (2) pela liberação de enzimas proteolíticas, chamadas de granzimas, no interior da célula infectada, que degradam o conteúdo celular; e (3) pela ativação da proteína FAS, que causa morte celular programada (apoptose). Mecanismo imunológico e a sorologia que diferencia a hepatite B Muitos vírus causam hepatite. Destes, cinco vírus de relevãncia médica são comumente descritos como “vírus da hepatite”, uma vez que seu local principal de infecção é o fígado. Os cinco vírus são o vírus da hepatite A (HAV, hepatitis A virus), vírus da hepatite B (HBV, hepatitis B virus), vírus da hepatite C (HCV, hepatitis C virus), vírus da hepatite D (HDV, hepatitis D virus, deltavírus) e vírus da hepatite E (HEV, hepatitis E virus). Observe que esses vírus pertencem a diferentes famílias virais; alguns são vírus de DNA, enquanto outros são vírus de RNA, alguns são envelopados, enquanto outros são não envelopados. Eles são apresentados em conjunto devido à sua capacidade de infectar hepatócitos, uma vez que possuem proteínas em sua superfície que reagem com os receptores dessas células. Observe também que eles não são citotóxicos (ou seja, eles não matam os hepatócitos diretamente). A morte dos hepatócitos é mediada por células T citotóxicas sensibilizadas contra antígenos virais apresentados na superfície destas células em associação com proteínas do complexo de histocompatibilidade principal (MHC) de classe I. O HBV é um vírus pequeno da família Hepadnaviridae, com envelope, capsídeo em forma de icosaedro e um DNA circular incompleto. Ele precisa usar as enzimas da célula hospedeira (e uma transcriptase reversa própria) para completar e replicar esse DNA. O envelope contém uma proteína, chamada de antígeno de superfície (HBsAg), a qual é importante para o diagnóstico laboratorial e para a imunização. Além do HBsAg, há dois outros antígenos localizados no cerne do vírus: o antígeno do capsídeo (HBcAg) e o antígeno e (HBeAg).* O antígeno do capsídeo, como sugerido pelo nome, se localiza no nucleocapsídeo viral e forma o cerne do vírion, ao passo que o antígeno e é solúvel, sendo liberado de células infectadas na corrente sanguínea. O antígeno e é um importante indicador de transmissibilidade. Diagnóstico sorológico Em relação ao diagnóstico sorológico, quando o HBsAg, Anti-HBc total e Anti-HBs tem como resultado não reagente interpreta-se que o indivíduo não teve contato prévio com o HBV e por isso está susceptível a infecção pelo mesmo. Entretanto, quando o HBsAg tem como resultado não reagente e o Anti-HBc total e Anti-HBs reagente significa que houve i munização após infecção pelo HBV. Já o HBsAg e o Anti-HBc total não reagentes e o Anti-HBs reagente traduz-se que há imunização após vacinação contra o HBV. E por fim, para considerar o indivíduo infectado, os testes sorológicos devem possuir os seguintes resultados: HBsAG e Anti-HBc total reagentes e Anti-HBs não reagente HBsAg (Antígeno de Superfície da Hepatite B) Este é o primeiro marcador a se tornar detectável no sangue após a infecção pelo HBV, geralmente aparecendo de 1 a 10 semanas após a exposição, muitas vezes antes mesmo do surgimento de sintomas. O que significa? Sua presença indica infecção ativa pelo HBV. Pode estar presente tanto na hepatite B aguda (infecção recente) quanto na hepatite B crônica (infecção persistente por mais de 6 meses). É o principal marcador para o diagnóstico da infecção. Anti-HBc (Anticorpo contra o Antígeno do Core da Hepatite B) Este anticorpo é produzido em resposta ao HBcAg, o antígeno do core (núcleo) do vírus. É um marcador crucial que indica contato prévio ou atual com o vírus selvagem da hepatite B. Importante: ele não é produzido em resposta à vacinação. Existem doistipos principais de Anti-HBc: Anti-HBc IgM: É o primeiro anticorpo da classe IgM a surgir. Sua presença é um forte indicativo de infecção aguda ou recente pelo HBV. Em alguns casos, pode reaparecer durante reativações da hepatite B crônica. Anti-HBc IgG: Surge logo após o IgM e geralmente persiste por toda a vida. Indica contato passado com o vírus. Se o HBsAg estiver presente, sugere infecção crônica. Se o HBsAg for negativo e o Anti-HBs (ver abaixo) for positivo, indica cura da infecção (cicatriz sorológica). Anti-HBc Total: Detecta tanto o IgM quanto o IgG. Um resultado positivo para Anti-HBc total, na ausência de HBsAg e Anti-HBs, pode indicar uma infecção passada resolvida, infecção crônica com níveis de HBsAg indetectáveis (rara), ou um resultado falso-positivo, necessitando de investigação adicional. Esses anticorpos NUNCA aparecem após a vacinação, porque a vacina só contém o antígeno de superfície (HBsAg). Portanto: • Anti-HBc total reagente (+): significa que a pessoa foi exposta naturalmente ao vírus (infecção passada ou atual). • Anti-HBc total não reagente (–): significa que nunca houve contato natural com o HBV (se houver anti- HBs positivo, a imunidade é só vacinal). Importante: O Anti-HBc, seja IgM ou IgG, não confere imunidade protetora por si só. HBcAg (Antígeno do Core da Hepatite B) Embora o Anti-HBc seja um marcador fundamental, o HBcAg (antígeno do core) em si não é detectável no soro sanguíneo através dos exames laboratoriais de rotina. Ele está presente dentro das células do fígado (hepatócitos) infectadas, mas não circula livremente no sangue em quantidades detectáveis. HBeAg (Antígeno 'e' da Hepatite B) Este antígeno é uma proteína viral que, quando presente no sangue, geralmente indica que o vírus está se replicando ativamente. O que significa? Sua presença está associada a uma alta carga viral (grande quantidade de vírus no sangue) e, consequentemente, a uma maior infectividade (maior capacidade de transmitir o vírus a outras pessoas). É um marcador importante para avaliar a fase da infecção e a necessidade de tratamento em portadores crônicos. Anti-HBe (Anticorpo contra o Antígeno 'e' da Hepatite B) Este anticorpo é produzido pelo sistema imunológico em resposta ao HBeAg. O que significa? O aparecimento do Anti- HBe, geralmente acompanhado do desaparecimento do HBeAg (um processo chamado soroconversão HBeAg/Anti- HBe), costuma indicar uma redução significativa na replicação viral e, portanto, menor infectividade. Em pacientes com hepatite B crônica, a soroconversão para Anti-HBe é frequentemente um sinal de melhor prognóstico, embora o vírus ainda possa estar presente. Anti-HBs (Anticorpo contra o Antígeno de Superfície da Hepatite B) Este é o anticorpo protetor contra o vírus da hepatite B. Ele é direcionado contra o HBsAg. O que significa? Sua presença indica imunidade à hepatite B. Essa imunidade pode ser adquirida de duas formas: Após a recuperação de uma infecção aguda pelo HBV: O Anti-HBs surge após o desaparecimento do HBsAg, sinalizando cura e proteção contra futuras infecções. Após a vacinação bem-sucedida contra a hepatite B: A vacina contém o HBsAg (ou partes dele), estimulando o corpo a produzir Anti-HBs e conferindo proteção sem que haja infecção. Um nível adequado de Anti-HBs no sangue (geralmente ≥10 mUI/mL) é considerado protetor. No caso do tutorial: Esse perfil é compatível com • Infecção ativa pelo HBV (porque o HBsAg está positivo). • Sem imunidade protetora ainda (anti-HBs negativo). • O anti-HBc positivo mostra que a exposição foi natural (não vacinal). Fisiopatologia da hepatite B O acesso do HBV aos hepatócitos é mediado pela ligação ao receptor polipeptídico cotransportador de taurocolato de sódio. Em vez de replicar o DNA diretamente a partir de um molde de DNA, os hepadnavírus dependem da transcrição reversa (efetuada pela DNA- polimerase) do DNA de hélice negativa de um RNA “pré-genômico” intermediário. A seguir, o DNA de hélice positiva é transcrito a partir do molde do DNA de hélice negativa pela DNA-polimerase dependente de DNA e é convertido no núcleo do hepatócito a um DNA circular covalentemente fechado, que funciona como molde para o RNA mensageiro e o RNA pré-genômico. As proteínas virais são codificadas pelo RNA mensageiro, enquanto as proteínas e o genoma são acondicionados em vírions e secretados pelo hepatócito. Os hepadnavírus são os únicos vírus que produzem DNA genômico por transcrição reversa utilizando um RNA viral como molde. (Observa-se que esse tipo de síntese de DNA RNA-dependente é similar, no entanto apresenta diferenças em relação ao processo nos retrovírus, nos quais o RNA genômico é transcrito em um DNA intermediário.) Na infecção crônica pelo HBV se desenvolve um estado portador em que a progênie continua a ser produzida. Nesse estado portador, a maior parte do DNA circular do HBV é encontrada livre no núcleo na forma de epissoma. Uma pequena quantidade de DNA do HBV é integrada ao DNA da célula hospedeira. Ainda não é claro como o DNA epissomal do HBV é mantido no estado portador por muitos anos. Transmissão Os três principais modos de transmissão são pelo sangue, durante o intercurso sexual, e de forma perinatal, da mãe para o filho. A observação de que acidentes com agulhas podem transmitir o vírus indicam que somente pequenas quantidades de sangue são necessárias. A infecção pelo HBV é especialmente prevalente em usuários de drogas https://www.resumosmedicina.com.br/blog/anti-hbs-o-guia-definitivo-sobre-anticorpos-diagnostico-e-imunidade https://www.resumosmedicina.com.br/blog/anti-hbs-o-guia-definitivo-sobre-anticorpos-diagnostico-e-imunidade intravenosas. O rastreamento do sangue para a presença do HBsAg tem diminuído de maneira considerável o número de casos de hepatite B associados à transfusão. Entretanto, devido ao fato de a transfusão sanguínea ser um procedimento moderno, deve haver outra rota natural de transmissão. O HBV pode ser encontrado no sêmen e em fluidos vaginais, de forma que a transmissão sexual é provavelmente importante. A transmissão da mãe para o filho durante o parto é outra importante rota natural de infecção. A transmissão transplacentária, se ocorrer, é rara. Não há evidência de que a transmissão do HBV possa ocorrer durante a amamentação. Observa-se que os vírus envelopados, como o HBV, são mais sensíveis ao ambiente que os vírus não envelopados, e são transmitidos de maneira mais eficiente por contato íntimo (p. ex., contato sexual). Os vírus não envelopados, como o HAV, são muito estáveis e são bem transmitidos no ambiente (p. ex., transmissão fecal-oral). Patogênese e imunidade Após entrar no sangue, o vírus infecta os hepatócitos, e os antígenos virais são apresentados na superfície das células. Células T citotóxicas medeiam um ataque imune contra os antígenos virais, e ocorrem inflamação e necrose. O ataque imune contra antígenos virais em hepatócitos infectados é mediado por células T citotóxicas. A patogênese da hepatite B é provavelmente o resultado da lesão celular, uma vez que o HBV por si só não induz efeito citopático. Os complexos antígeno- anticorpo causam a maioria dos sintomas precoces (p. ex., artralgias, artrite e urticária) e algumas das complicações em hepatites crônicas (p. ex., glomerulonefrite, crioglobulinemia e vasculite). Cerca de 5% dos pacientes adultos com HBV se tornam portadores crônicos do vírus. Por outro lado, 90% dos recém- nascidos se tornam portadores crônicos quando infectados (ver a seguir). Um portador crônico é alguém que apresenta HBsAg persistente no sangue por 6 meses ou mais. O estado de portador crônico é atribuídoà infecção persistente dos hepatócitos, que resulta na presença prolongada de HBV e HBsAg no sangue. O principal fator a determinar se uma pessoa se cura da infecção ou se torna portador crônico é a adequação da resposta por células T citotóxicas. O DNA do HBV existe principalmente na forma de um epissoma no núcleo de células persistentemente infectadas; um pequeno número de cópias do DNA do HBV é integrado ao DNA da célula. Uma alta taxa de carcinoma hepatocelular (CHC) ocorre em portadores crônicos. Achados clínicos Muitas infecções pelo HBV são assintomáticas e são detectadas somente pela presença de anticorpos ao HBsAg. O período médio de incubação para a hepatite B é de 10 a 12 semanas, o qual é muito mais longo que o da hepatite A. A aparência clínica da hepatite B aguda é similar à da hepatite A. Entretanto, em relação à hepatite B, os sintomas tendem a ser mais graves, e hepatite com risco de vida pode ocorrer. A maioria dos portadores crônicos é assintomática, mas alguns apresentam hepatite crônica ativa, que pode levar à cirrose e à morte. Além de achados relacionados ao fígado, são observadas manifestações extra-hepáticas da infecção pelo HBV. Na infecção aguda, podem ocorrer sintomas semelhantes à doença do soro, como febre, erupção cutânea e artralgias. Na infecção crônica pelo HBV, podem ocorrer neuropatias, glomerulonefrite e poliarterite nodosa (uma vasculite de artérias pequenas e médias). Autoanticorpos, como crioglobulinas e fator reumatoide, podem ser detectados. Pacientes coinfectados com HBV e vírus da imunodeficiência humana (HIV) podem apresentar dano hepático aumentado se o HIV for tratado antes do HBV. Isso ocorre devido à “reconstituição imune”, que ocorre quando o HIV é tratado com sucesso, levando ao aumento do dano nos hepatócitos pela restauração das células T citotóxicas competentes. Por essa razão, sugere-se que o HBV seja tratado antes de tratar o HIV. Mecanismo do aumento de bilirrubina direta na hepatite B 1. O HBV infecta hepatócitos, causando inflamação e lesão celular (principalmente mediada pelo sistema imune). 2. A inflamação interfere no transporte da bilirrubina conjugada do interior do hepatócito para os canalículos biliares. 3. Resultado: a bilirrubina conjugada se acumula no sangue, levando a hiperbilirrubinemia direta e icterícia. Observação: Diferente de doenças hemolíticas, onde a bilirrubina indireta predomina, na hepatite viral o aumento é predominantemente direto. Diagnóstico laboratorial Os dois testes sorológicos mais importantes para o diagnóstico precoce da hepatite B são os testes para HBsAg e para anticorpos do tipo IgM contra o antígeno do capsídeo. Ambos surgem precocemente no soro do paciente acometido. O HBsAg aparece durante o período de incubação e é detectado na maioria dos pacientes durante o pródromo e a doença aguda. Ele cai até níveis indetectáveis durante a convalescença na maioria dos casos; sua presença prolongada (pelo menos 6 meses) indica o estado de portador e o risco de hepatite crônica e carcinoma hepático. O anti-HBs não é detectável durante o estado de portador crônico. Observa-se que o anti- HBs está, de fato, sendo produzido, mas não é detectável nos testes laboratoriais, uma vez que se liga à grande quantidade de HBsAg presente no sangue. O anti-HBs também é produzido durante o estado agudo da doença, mas não é detectável, uma vez que está ligado a complexos antígeno-anticorpo. Tipos de interferonas: Mecanismo do aumento de bilirrubina direta na hepatite B